Revista Sotaques Brasil Portugal Nº 26

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fevereiro /marรงo 2020 Nยบ26|Gratuito

LITTERIS


Sotaques

ÍNDICE

Colaboradores Portugal: Arlequim Bernardini , António Almeida Santos, Bárbara Bernardini , António Proença, Jon Bagt , Rosangela Herbert e Cristina Bernardini. Colaboradores Brasil: Hernany Fedasi, Hebert Júnior , Pablo B.P. Santos , Rô Mierling, Laercio Lacerda , Diego Demetrius Fontenele , Alex Gomes , Marlus Alvarenga e Daniel Canhoto .

Revista On-line Sotaques Brasil Portugal Propriedade: Atlas Violeta Associação Cultural ISSN: 2183-3028 - Tel. 351 917 852 955 antonio.sotaques@gmail.com - www.sotaques.pt

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LITTERIS Quantos livros irei ler nesta década? Poderemos, nós, marear por um mundo de versos, poemas, parábolas, estrofes, rimas, pontos, vírgulas, grafias, prosas que compõem a nova safra de escritores luso-brasileiros. A nossa missão, para os próximos dez anos, passa por fomentar a parceria entre os mais experientes e o mais novos escritores lusófonos, que juntos fazem renascer a literatura contemporânea portuguesa. O saber não ocupa espaço: o cérebro humano funciona como um disco externo de alta capacidade. Quanto mais lemos, mais informação adquirimos e melhor nos formamos como seres humanos. Entramos numa nova década, que traz consigo novos sonhos, novas palavras e novas formas de escrever e comunicar, seja através de um livro físico em papel ou via um tablet ou mesmo smartphone. Ler é, sem dúvida, o melhor alimento para o nosso cérebro.

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Literatura

PANAPANÁS DIEGO DEMETRIUS FONTENELE

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Panapanás voando entre gravatás Enchem o céu de cor Imagos bebendo o doce néctar No cálice das flores Aproveitando a efemeridade Da sua curta vida. Desfilam a beleza Da roupa recém-adquirida. Beleza nas escamas das asas E nas folhas que formam A coroa do rei das Bromélias. E enquanto vejo a revoada Desejo apenas que uma dessas Borboletas pouse em meu dedo Me traga um pouco de sorte Um acorde de amor para minha canção.

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EVEZEL E A FANTASIA CINZ PABLO B.P. SANTOS

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É curioso o fato de como a escrita reivindica seu posto na vida de algumas pessoas, caso do autor graduado em música, Eduardo Heldt Urban, mais conhecido pelo seu pseudônimo “Evezel”. Escrita e música são umas das habilidades artísticas presentes na vida do autor, com duas obras publicadas, “Origem do além” e seu mais recente, “A valsa eterna”, ambas do universo fantasioso a qual se apoia, com temas que vão de mitologia, astrologia, até morte e ocultismo, assim descrito pelo próprio escritor.

ZENTA

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SOTAQUES: é difícil não notar a grande voz que foi dada aos animais e a natureza nas páginas iniciais de “A valsa eterna”. Tendo como exemplo o contexto ambiental atual brasileiro, o que podemos extrair da obra para reflexão? EVEZEL: a principal lição, acima de tudo, é que tudo o que é finito segue um ciclo. Seja o molde de um rochedo através das eras pelas águas, seja o nascimento de uma planta ou até mesmo a morte dos animais. Precisamos estar cientes de que nossa humana consciência é mais elevada do que a de outros seres vivos e que, com isso, podemos fazer bom uso dela. SOTAQUES: como pioneiro da exobiologia, tendo relevantes pesquisas sobre vida além da terra, o cientista Carl Sagan já poetizava a ideia de que somos feitos de poeira estelar. Analisando a proposição, para Sirius, o que é Deus, e como essa composição química nos une a ele?

detentores do monopólio comercial; para você, como o governo poderia ser mais justo? EVEZEL: em relação ao comércio, eu acredito que regularizando pouco, de uma forma que fique justa para o empregador e para o empregado, já teríamos um certo avanço e que esse maniqueísmo entre patrões vs empregados, com isso, cessaria, de uma vez por todas. SOTAQUES: assim como os empreendimentos de sucesso entre a família de Sirius e Sophia, há alguma história a qual se orgulhe e queira compartilhar? EVEZEL: baseei muito do que molda os pais de Sirius e os de Sophia também, por que não?, da história de vida dos meus pais. Mas não sei se esse é o momento certo de contar, pois essa história, por si só, já renderia outro bom livro.

EVEZEL: não afirmo nada com essa resposta, mas uma válida suposição, ao menos para mim, é a de que Deus é a unidade de tudo e de todos, mas o que seria isso, afinal? Eu não sei dizer... mas tento brincar com essa ideia através de meus livros, seja criando uma entidade ou transformando Deus em um elemento químico. Talvez ele seja a esperança para uns, talvez outros nem acreditem nele, mas o seu principal propósito seria, pelo menos para mim, a compreensão de que somos diferentes e que precisamos todos aceitarmos nossas diferenças. SOTAQUES: é claro que, para os protagonistas da trama, o conhecimento é a única ferramenta capaz de desequilibrar os

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SOTAQUES: como você disse, a ficção fantástica, no Brasil, ainda é uma grande ilha a ser explorada; quais autores do meio você nos sugere para leitura? EVEZEL: existem muitos ótimos autores a serem lidos do gênero, aqui, no Brasil. Deixo aqui a recomendação de Jadna Alana, Letícia P. S. , Lucas de Lucca, Karen Soarele, Raphael Draccon, Carolina Munhóz, Eduardo Spohr, Affonso Solano. Opção é que não falta e, é claro, além destes existem muitos outros. Histórias de brasileiros para brasileiros para qualquer gosto dentro da fantasia. SOTAQUES: a respeito do processo de escritor, como prepara o terreno para a inspiração, e quem é a sua influência, direta, quando escreve? EVEZEL: eu gosto de dizer que minha inspiração vem através do estudo. Gosto de escrever sobre assuntos que domino ou estudo bastante, como é o caso da Cosmogênese de Blavatsky e os doze signos do zodíaco em Origem do Além, quanto a Antropogênese teosófica em A Valsa Eterna. É claro que sou um ávido apreciador das belas (e não tão belas assim) artes e, com isso, a trilogia “O Refúgio da Arte” está chegando. SOTAQUES: o chamado “bookstagram” está em alta; desde pessoas resenhando livros, sugerindo lançamentos das editoras, ou até postagens com montagens criativas, e seu perfil está repleto delas. Quais são as inspirações, e como é o processo de edição? EVEZEL: sigo muitos igs literários para me inspirar, sejam brasileiros ou gringos e, com alguns deles, inclusive, fiz até certa amizade e consegui trocar umas figurinhas, como dizem por aí. O processo de montagem era simplesmente cansativo, com horas no Photoshop dedicadas exclusivamente à uma única foto. Por isso parei com elas, demandavam muito do meu tempo e, agora, prefiro tirar fotos mais simples, mas que ainda falem sobre literatura. SOTAQUES: dando uma olhada em seu perfil do instagram (@Evehimself), é interessante acompanhar um padrão que se renova a cada fase, sob o que chamamos de call to action, no marketing, e palheta de cores. Quando surgiu o interesse de utilizar essas estratégias para impulsionar sua imagem? Evezel: o instagram, em especial, é uma rede social de fotos e é preciso, como qualquer outra coisa da vida, observar o que dá certo e o que não dá certo na plataforma. Apenas fui tentando ousar coisas diferentes e mantive o que dava certo. Hoje está daquela maneira, sempre seguindo uma métrica. O famoso “feed organizado”.

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Sotaques

Sotaques: já são dois livros publicados na conta; “A origem do além” e “A valsa eterna”. Há alguma obra em processo de escrita? Sobre o que é o tema? EVEZEL: sim, a trilogia “O Refúgio da Arte” está sendo escrita. Já estou finalizando o primeiro e já escrevi metade do segundo volume (chamado Galeria Egotista) e pretendo publicar o primeiro nesse ano de 2020. É uma fantasia que tem a arte como tema central. SOTAQUES: algo que é bastante comum e, às vezes, de sucesso, são as colaborações musicais; achas que na escrita é algo que vale a pena? EVEZEL: sim, mas não só no musical. Hoje em dia só com muita sorte para escrever um livro e obter sucesso. Eu, por exemplo, com Origem do Além, encomendei 18 ilustrações exclusivas do livro e, ainda por cima, fiz um jogo e toda a trilha sonora deste para divulgar a história. É preciso fazer o possível para atrair a atenção dos leitores, hoje em dia. Basta usar das armas que tem.

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Literatura

Gard Blue, James Turrell, 1968

AZUL INSTANTÂNEO Pedro vale

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É preciso viver sem paixões. Mergulhar no absoluto anonimato, Permanecer morto ou vivo até ao fim. Aclamar o tumulto escuro e bruto. Encenar o drama clemente e lento. Sentir um amor ideal por anjos nebulosos. Descobrir um novo fundo de poesia e aguardar Uma voz que nos ordene docilmente: - Não te movas, nem te inquietes, Nem traias o que Ainda não És.

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Portugal

Glass tears, Man Ray, 1932

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Literatura

Hoje acordei com uma andorinha no estômago. A noite era de tempo limpo e sono. Sabia a quebra milenar, cabelo solto. Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte. O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune. Gineceu. Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me Espantou a inocência. A circular impressão se revelara. Tal como no meu estômago, assim uma viaandorinha, se alongava, qual Fita emprestada, distraidamente, no ar.

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Literatura

CAMINHOS ELIANE TONELLO

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Dos caminhos que cruzei Cabral por ali passou Avistou horizontes e mares Com maravilhas brasileiras se deparou Embarcações cortaram as águas Na busca do futuro promissor A dor depositada nas profundezas O amor a ferida curou Em cada canto da terra brasileira Ficou estampada a cultura da terra mãe Atrai nações inteiras Memórias que na fonte eternizou O mestre da poesia é Fernando Camões o guardião Revolucionários do céu de anil Que até hoje louvamos com fervor.

Publicada na coletânea da APP 2017 - Lisboa/Portugal

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Literatura

INSPIRAÇÕES DANIEL CANHOTO 20


A poesia é a “magia” que, tênue, se percebe, mas que não se vê. É a narração do que, concreto, não se pode reproduzir. É contar aquilo que não se conta, nem se pinta, que não é abstrato por natureza, mas o é aos sentidos humanos. É, ainda, a abstração do que nos é abstrato. É a arte que, por sua vez, é resquício da Arte, e Arte não nos é compreensível. A Arte é ciência suprema, que, aos homens, não se revela. Nós a percebemos como se víssemos somente seu vulto efêmero por detrás de um vidro turvo. Como se ouvíssemos o seu grito longínquo e não bem o discerníssemos. Em nossos sentidos ela é como a sensação do vento. A Arte pertence ao divino e nos dopamos de nirvana ao registrar algumas de suas fagulhas. Poesia que chamamos é um simples relato humano duma Arte metafísica que não possuímos nem sequer conhecemos. A palavra poética, meramente escrita, não pode criar um homem, um animal, um vegetal, um objeto... A poesia pode apenas explicar o inexplicável, o sentimento que não, de fato, sentimos. O poeta é apenas homem, o que cria, não pulsa, nem é palpável. A poesia é nada mais que imitação da Arte, da criação. É a semelhança do divino entre os homens. Às vezes ela é um milagre. Uma garotinha inocente, mirrada, irreverente... Uma santa. Corre livre por aí, se arrisca, se enfia em cada canto! Diz coisas absurdas, mas, gente, ela é só um criança, perdoem-na. O que pode ela fazer? Ela faz perguntas que, mesmo inocentes, nenhum outro se atreveria a dizer e que nem nós mesmos nos fazemos. Ela é livre. Pula os muros das escolas para colher margaridas, e nos encontra, perfumada de flores, nos pede colo. Não resistimos aos seus encantos. Corremos pelas ruas, atrasados, cheios de incumbências, enquanto ela dança em meio aos carros, faz das buzinas uma trilha, e dança. A vemos assim, sempre distante da nossa realidade, mas acabamos, sabe-se lá porquê, nos reconhecendo, nos conhecendo nela. Não quero ter os pássaros presos em gaiolas. Não quero ter a poesia presa em livros. Presa em poemas. Quero ver os pássaros animando estes céus, para que eu tenha a consciência daquele azul. Eu quero ver a poesia voando por aí, viva, em cores, pousando em estáticas estátuas cinzentas. Quero ver os pássaros pousarem em minha janela, recitarem seus sonetos pela manhã, me trazendo a consciência de que um milagre, um dia novo surgiu. Quero viver o milagre de ter, pousado em minhas mãos, um pássaro. Quero ter um encontro informal, outrossim, sagrado com a poesia. Quero ter a sensação de quase possuí-la-me. À flor que nasceu no meio do meu caminho árido, dei o nome de poesia. Por ela ser viva em cores, no meio de todo o cinza. Porque se a apanharmos, ela morre. Por ela ter espinhos. Ela é bela. À flor que nasceu na morte cinza da calçada, dei o nome de poesia. Porque ela é luz visível em meio a trevas. Porque ela nasceu no caos, ela nasceu do caos, mas permanece, santa. Ela é um grito brando em nossos ouvidos. Quase um canto, inaudível, distante e indecifrável. Nada nos é, mas muitas coisas nos parece. Os magos que conheço são crianças inocentes, mulheres castas e homens solitários. Criaturas mágicas são pássaros, flores, borboletas... À magia que conheço chamam de poesia. Poetas parecem alquimistas. Objetos mágicos não conheço e creio que a poesia, na verdade, é viva exclusivamente, mas já ouvi falarem de livros, origamis, espelhos, canetas, penas... Já vi um poema, tão puro, que não fora escrito, mas nem por isso era poema em potencial. Era a luz do Sol que, passando pelo vidro da janela, se convertia em luzes multicoloridas que repousavam numa folha em branco sobre a escrivaninha (literalmente falando). A poesia que eu conheço é a magia inocente, casta (santa) e solitária. Talvez seja um jeito brando de falar sobre a loucura.

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Literatura Quanto à inspiração, a vejo vinda de coisas simples, nem sempre belas, mas quase sempre transformo tudo em coisas terríveis e escrevo com pesar, pervertendo a leveza que me trouxe as palavras à ponta dos dedos e sujando tudo de más recordações. Noutras vezes, a inspiração vem de um paradoxo, como uma fixação particular, por me prender em suas ideias. Às vezes é como um labirinto. O que mais me fascina num paradoxo é o fato dele nos trazer o incômodo e, ao mesmo tempo, o jogo de pensar, buscar uma solução, entender o enigma. Por outro lado, a existência do paradoxo em si já é atraente. Si faço isso com palavras, percebo nelas uma natureza lúdica; as palavras podem até não fazer muito sentido, mas causam uma confusão interessante que podemos chamar de arte. Porém, o que mais me inspira é o abstrato. São ideias abstratas que nos fazem pensar e traduzi-las. Uma ideia abstrata chega ao escritor, que a interpreta de seu modo, ou seja, sempre serão diferentes as palavras de cada escritor sobre uma ideia abstrata; as compreensões e impressões de um texto dessa natureza sempre serão distintas de um leitor a outro. Então tenho um texto infinito. E precisamos falar da ideia do clichê, o terror de muitos. Ele vem duma “ideia poética” formada sobre um assunto, isto é, uma cansativa repetição de pensamentos, frases ou estratégias de escrita e o vemos em diversas metáforas e comparações. Como exemplo, temos as flores, às quais sempre recorremos quando o assunto é o amor, além de explorarmos a Lua, as estrelas... Não quero insinuar que essas coisas não nos sirvam mais, eu mesmo, por exemplo, uso as flores, mas temente do clichê de compará-las nas metáforas de todos os tempos. Como numa brincadeira de bem-mequer, as flores, poéticas e lúdicas em sua existência, antes mesmo de um dia se tornarem palavra escrita, já eram poesia nos nossos sentidos. Gosto de coisas lúdicas. São coisas sobre a qual é fácil de escrever, às vezes basta descrever, pois elas próprias já são poéticas. O lúdico simplesmente existe, não precisa de muitas explicações. Não pede para ser compreendido.

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Voltando às coisas terríveis, sempre escrevo sobre a morte. Ela fala sobre o fim. Pode esse ser o fim do sofrimento, o começo dele; o fim de tudo ou o começo... Depende de como você entende a morte, de como a interpreta. Ninguém de fato a entende, pois nós, do lado de cá, nunca a vimos, então falar sobre a morte é falar de algo novo, porém, algo que conhecemos. É um jogo com peças que podem assumir infinitas formas, depende de com nós as arranjamos. A idéia da morte é como um quarto escuro, temos consciência da existência dele, mas queremos saber o que escondem aquelas trevas, entretanto temos medo de adentrar no cômodo penumbroso. É bem aí que a imaginação começa a atuar. O que você imagina, com todos os seus medos e superstições, que habita o interior desse quarto escuro? Contudo, diante dessas coisas que tenho dito, a inspiração quase sempre me vem do vácuo, do vazio. Um abismo sem fim; uma tela branca, pronta para ser pintada com as cores que eu quiser usar, para pintar a forma que eu quiser pintar e posso ainda pintar uma tela vazia; é como sentimentos únicos, pensamentos que você não pode dividir com ninguém, segredos que não pode contar a ninguém; como a ilusão e a alienação. Posso escrever sobre a alienação. A minha loucura. A loucura é como um mundo totalmente único, diferente de tudo que você conhece. Eu pinto a minha loucura quando ela é tudo o que possuo dentro de uma cela de paredes brancas. E a loucura é como a própria tela branca, tudo pode acontecer ali, qualquer coisa. Vejo a tela em branco, qualquer coisa, qualquer acidente... O vazio, o paradoxo abstrato, a morte ou a vida. No fim, posso ser cômico, contraditório, confuso, esclarecedor, trágico... O que for, desde que seja algo novo e belo, e belo pode ser o feio visto com novos olhos, novo pode ser o velho, o clichê. Posso ser propositalmente clichê ou (já que tudo que é clichê um dia não o foi) reencontrar seus encantos. E vamos fechar isso com chave de ouro e com clichê, pois, droga, até a palavra “clichê” já virou um clichê.


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Literatura

LITERATURAR, VERBO TRANS ALEX G. SILVA

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SITIVO DIRETO

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Literatura

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“Ser ou não ser?”, frase que faz muitos se perguntarem e refletirem sobre a própria existência. De certa forma, todos existimos, mas será que todos nós realmente “somos”? O que é existência? Primeiramente, o principal ponto deste texto é falar sobre o papel da Literatura na sociedade, por isso que é interessante deixar claro antes de começarmos. Segundamente, todos que existem, “literaturam”? a partir deste ponto, quero deixar mais claro ainda a importância da Literatura para aqueles que não literaturam. Literaturar, verbo criado por mim, transitivo direto, pode ser entendido como um processo de escrita com base em algum gênero literário. Poema, prosa, o que for, basta apenas um toque de lírica e uma pitada de imaginação, só isso, e você começa a se portar como um ser pensante, crítico, produtor. Literaturar é muito maior do que simplesmente escrever. É integrar-se no meio social, por isso a questão levantada anteriormente se todos somos parte de uma existência ou se só parte de um mecanismo já implantado há muitos anos, que é reto, objetivo, prático. Quem escreve tem voz. Quem não escreve, pode ser ouvido e falar por outros que literaturam. Guimarães Rosa deu voz a muitos que não a tinham. Falava de um jeito cortês, simples, colocado em uma folha do jeito “bão”, sertanejo, do mulato, assim como anteriormente reconhecido em Jeca Tatu, ou internalizado por Macabéa, com Clarice, se formos exemplificar por marginalizados. Guimarães mostrou a todos que a sociedade existe, o interior, o caipira. Todos são importantes, mas nem todos sabem ou entendem desta importância. Isso é ruim. Pensar e poder argumentar sobre o que está pensando te coloca em lugares onde sua voz é alta, clara e ouvida. Isso não quer dizer que, num país tão grande como este, que todos e em todas as classes sociais têm ou devem seguir esse preceito de que escrever é a única forma de ser alguém. Na verdade, não é, mas claro que tem maior poder quem consegue ir atrás desse poder. Muitos escritores utilizam a palavra por um bem comum. É complicado escrever e ler. Exige prática. Olavo Bilac mesmo já disse que Beniditino, longe, no aconchego do claustro, escrevia, suava, sofria. Muitas vezes até a música mostra esse lado difícil e sofrido de alcançar e ter voz por meio da letra. Elas podem mostrar muitas coisas e representar muita gente, nem todo mundo escreve textos, mas escrevem música também. Na música “Não troco”, de Hungria, a letra fala sobre o processo de crescimento pessoal, além de que o autor “não troca” os bens conseguidos posteriormente ao sucesso pelas raízes que o levaram ser grande. Tudo está ligado ao fato de ter uma voz e ter alguém que saiba usá-la. No poema, prosa, música, seja lá qual for o meio, a literatura está aí representada, pronta para ser literalizada. E de volta à primeira frase deste texto, “Ser ou não ser?” Shakespeare foi e ainda é um dos maiores artistas que esse mundo já viu. Suas obras, como Romeu e Julieta, renderam muitas críticas e muito sobre o que falar. É inegável o sucesso no mundo todo. Os textos de Shakespeare fizeram com que muitas pessoas se inspirassem e se motivassem de todas as formas, principalmente em processos de escrita. Com isso, milhões ao redor do mundo começaram a criar suas próprias identidades por meio das palavras e, consequentemente, a responsabilidade como um ser existente, com voz, com garra, pensamento e base argumentativa. Um ser pensante, que busca, que descobre, que imagina e que faz outro imaginar, que faz sangrar sem ver o sangue e faz doer sem ferir. Isso é literaturar, ser alguém, saber ouvir e falar quando realmente souber se expressar, existir.

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LITERATURA E CINEMA: O PRAZER DO PROIBIDO NA ANDRÉ EM LAVOURA ARCAIC MARLUS ALVARENGA 28


Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles eram bons, é porque o corpo tinha luz. E se os olhos não eram limpos é que eles revelavam um corpo tenebroso. (NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica, 1975)

(Frame do filme Lavoura Arcaica)

AS COLEÇÕES ÍNTIMAS DE CA 29


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(Frame do filme Lavoura Arcaica)

Embrulhado entre folhas, com os pés na terra e os pulmões cheios do cheiro de árvores molhadas: um convite de criança, um desejo de suspirar, em terra úmida, as sensações de um pueril corpo trêmulo. Seiva bruta de menino novo, em ninho familiar conservador, corria pelo corpo pueril de André (na tradução pro cinema, vivido pelo ator e diretor Selton Mello), em colapso, epilético. O personagem da obra Lavoura Arcaica (adaptação fílmica de 2001 executada por Luiz Fernando Carvalho em tradução coletiva do literário para o cinema, de obra homônima de Raduan Nassar, de 1975) é também um grande colecionador de itens peculiares dentro dessa montagem que marca, no percurso desde O Quatrilho (1995), uma nova estética no cinema brasileiro. É no meio da colônia relida e idealizada pelo autor que surge esse romance proibido, carnal, religioso, vulgar, visceral, incestuoso. O cinema literário – que compreende as montagens a partir de intercâmbios estéticos, traduções coletivas e relações dialógicas de obras literárias inspiradoras, como roteiros adaptados a partir de obras de artes anteriores (segundo os pesquisadores Lemuel Gandara e Augusto Jr, da Universidade de Brasília) – surge com muita força sob a necessidade de expandir a literatura para além de outras mídias, excedendo o papel da escrita. É de tamanha relevância a construção dessas montagens, que existem categorias que focam em premiar esse tipo de roteiro (adaptado) de maneira específica, pelos riscos em se executar a obra da obra.

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André, desde criança, é um colecionador nato de passagens ao seu redor, no mundo de quinquilharias coloniais esboçadas em rendas, tecidos brancos quarando ao sol, lamurias de mãe, de irmãs e irmãos. Em meio a um contexto conservador que envolve a família aos comandos do pai (Raul Cortez) em um cenário religioso extremista, onde a casa é o templo de manutenção desse espectro da família, o jovem cresce com amor e medo. Amor pela irmã Ana (Simone Spoladore) e medo pelo sentimento que se desenvolvera quando ambos, adolescentes, se aproximam dentro desse espaço proibido. A obra fílmica, tal qual o livro, é narrada sob a optica do jovem pródigo: e a narrativa religiosa está encharcando os lençóis de toda a trama, na pauta de que o bom filho a casa torna. André usa das metáforas mais variadas para suprir seu tesão pelo pecado incestuoso, vertendo de um linguagem rebuscada para poetizar sua narração: na coleção mais lúdica desse escuro poço: no pano murcho dessas flores, nessa orquídea amarrotada, neste par de ligas cor-de-rosa, nesta pulseira, neste berloque, nessas quinquilharias todas que eu sempre pegava com moedas roubadas do pai (fala de André a Pedro (Leonardo Medeiros), irmão mais velho, narrando sua coleção de objetos reunidos das prostitutas que frequentou). É a caixa de Pandora da família obtusa, tradicional e muda pelo carrasco do cristianismo terrível. A esperança (da salvação) é a última que morre.

Em meio a essas perturbações – e uma fotografia colorizada em tons de sépia, outonais, delicada; mas ao mesmo tempo, nauseante – o observador André nos presenteia com um mundo familiar rodeado de poéticas sobre os alimentos que os circulam, tradicionalmente, pela casa. Desde o pão doce do “preferido da mãe” (Juliana Carneiro), a coalhada de pano, o vinho austero, os figos doces palpados e sexuais, os frutos suculentos do quintal, o mel da puberdade assistida, o pão da partilha na mesa posta ao lado do pai. Dulcifiquemo-nos! Café com leite, manteiga, carne assada, melões, melancias, uvas, laranjas, tangerinas, amoras... A orgia das amoras assassinas. O vermelho nas pontas dos dedos: sexo, dor, masturbação, epilepsia. Um azedar das faces desconfiadas e amarguradas dos irmãos à mesa. Azedo como os rumos dessa história. Em uma fábula que recria as antigas parábolas sobre homens famintos e reis excêntricos, nenhuma delas consegue exasperar o ar pesado das narrativas de André. Há o peso de ser e viver quem se é. E fugir não vai levar a nenhum lugar, pois a casa maculada o espera para a dança final. Para ilustrar tal passagem, abaixo segue um poema oração que redigi, como forma de extrapolar a tela, a pele, o desejo – o pecado desejado:

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(Frame do filme Lavoura Arcaica)

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A DANÇA D’ANA MARLUS ALVARENGA

quadris de serpente e turbilhões de volúpias volúpias de veneno entorpecente caindo caindo pelo seio da terra molhada da vulva pronta pronta de pecado de pecar pecado prometido prometendo prometendo nunca mais ser deus nunca mais ser dos seus nunca mais despir as fitas das quinquilharias dos dedos úmidos de deus dos seus dedos nos meus na mucosa familiar o vinho na saia da menina que cai cai pela dança pelo sexo pelo teso medir medir o perdido tempo danado dana dana minha irmã d’ana irmã minha dana meu falo oracional no sepulcro de folhas dana sete copos finais e o corpo no chão dana o infértil solo do pai a o o o o o

foice do pai pau do pai vermelhar sem ter zumbido de cana de açúcar mel do sangue meu amarelar

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KAH GRIGORI:O REAL ATRAVÉS DAS LENTES PABLO B.P. SANTOS

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A arte e sua faceta diversa nos rodeia por qualquer caminho que seguirmos; fotografia, literatura, música, pintura, dança e afins. Emprestar sua perspectiva de vida pode mudar como alguém se sente consigo mesmo, sendo isso o que a Kah Grigori, fotógrafa, videomaker, graduanda em Psicologia e Criadora de Mídias Digitais, anda trabalhando com seu público. Com numerosos seguidores nas redes sociais, a fotógrafa trabalha com registro, edição e divulgação de conteúdos digitais bem como projetos voltados à autoestima de mulheres através da fotografia.

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SOTAQUES: é interessante o modo a qual a foto, com o tempo, tem se ajustado e aprimorado ao nosso mundo desenfreado e globalizado. Como as redes sociais têm ressignificado a fotografia? KAH GRIGORI: as redes sociais, assim como outras questões relacionadas à tecnologia, ressignificaram muitas partes do processo; uma delas é que antes você comprava um filme, fazia doze fotos, saberia se ficou boa após a revelação, e havia poucas pessoas para mostrar. E se o clique ficasse bom, você se achava a pessoa mais criativa do universo. Hoje você já consegue ver o trabalho de pessoas no mundo inteiro trabalhando com temáticas diversas. O conceito de criatividade muda; o que você acha que faz uma coisa super diferente, descobre que não é bem assim, ou o que você acha muito interessante, é apenas interessante para um grupo seleto de pessoas, e a arte é apreciada de maneiras diferentes. Descobre-se muita coisa nessa possibilidade de se comunicar com o mundo inteiro através das redes sociais.

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SOTAQUES: diante da sua formação acadêmica, psicologia, como funciona o processo de trabalho da autoestima? KAH GRIGORI: acredito que, em termos simples, poderíamos chamar de autoestima uma avaliação (positiva ou negativa) que cada um faz de si mesmo. No processo desse trabalho, nós mexemos em alguns pontos relevantes para uma melhoria desta autoavaliação, entre eles a autoaceitação e autoconfiança junto a uma rede social de pessoas com esse interesse em comum, todas em diferentes fases dele e sendo exemplo para as demais. Na Psicologia temos atividades similares denominadas de “avaliação e intervenção em grupos”. SOTAQUES: a sociedade ainda insiste em nos jogar determinados padrões, seja no intuito de obter lucro, ou empoderar o nome de uma marca. De acordo com a sua visão, por que as pessoas temem em aceitar a diversidade?


KAH GRIGORI: a meu ver, a diversidade é uma construção social, o que significa que as distinções não existem em si mesmas. Somos nós quem construímos os grupos de parâmetros e segmentos para medir o belo e o feio, o errado e o correto e até mesmo o comum e o estranho. Aí entram as relações humanas, que são, essencialmente, relações de poder. E, quem tem poder, o tem sobre algo ou alguém. Ao longo da história, uma determinada maioria entra em acordo que suas características são superiores às demais e, sendo maioria, acabam validadas pelo seu grupo, e utilizam disto como um posto de superioridade sobre os demais, e lutam para manter tudo assim para manutenção de seu ego.

SOTAQUES: Beleza é de caráter subjetivo, contudo, pressionadas pelo padrão perfeito, as pessoas tendem a editar e corrigir a imagem, seja afinando a cintura, diminuindo o tamanho do nariz, ou utilizando filtros que limpam sinais, manchas de pele e afins. Qual a sua opinião a respeito, e como lida com isso no dia a dia do trabalho? KAH GRIGORI: as pessoas que me procuram, atualmente, normalmente já sabem: a proposta é sempre “me permita emprestar os meus olhos para mostrar que você é magnífica, com tudo isso que chama de defeitos”. Sempre há a opção de manipular digitalmente a maioria das características de uma pessoa, e eu o faço em trabalhos com outras demandas sem problemas, mas, ao fazê-lo com a imagem de alguém que, por pressão social, comprou a ideia de que sua beleza não é válida, reforçamos esta construção. Com esse trabalho trocamos o “eu seria bonita se mudasse isto” para um “caramba, não é que eu sou, mesmo, um arraso!?”

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SOTAQUES: mulheres com obesidade, câncer, depressão e ansiedade são uma das suas clientes. Qual a importância de contribuir para com a visibilidade das minorias, e como tem sido a repercussão? KAH GRIGORI: as mulheres que estão passando por um momento difícil no âmbito do psíquico, provavelmente não revelarão isto nas fotos. Isto porque a depressão, a ansiedade, o luto, a ideação suicida e tantas outras coisas, não necessariamente tem cara. Para estas pessoas, o trabalho é mais um momento para dar atenção a si mesmas, ter um momento que seja para se amarem e se valorizarem e, quem sabe, aliviarem seu sofrimento, ainda que um pouco. Para as mulheres cuja processo de aceitação é físico, o impacto é muito diferente, pois não é exclusivamente da fotografada. Mulheres com diversos manequins, com perda de cabelo pela luta contra o câncer, com idade acima de 50 anos, com diversos tons de pele, todos os dias mostram para outras mulheres como elas, que dá pra ser feliz e se sentir bem se você se aceitar e se amar. E fazer parte do processo que leva isso para essas mulheres é gratificante. Todas as vezes que eu recebo mensagens de uma dessas mulheres, que elas me contam suas histórias, eu ganho mais força para continuar tentando alcançar mais delas, ainda que elas não cheguem a ser fotografadas. Mas que, minimamente, se sintam representadas, onde estiverem no mundo SOTAQUES: o que o processo fotográfico representa para você, e quando surgiu a inclinação para tal arte? KAH GRIGORI: hoje, a fotografia para mim é uma forma de guardar e mostrar para o mundo as coisas que estou vendo, e manter elas ali para sempre. Emprestar meus olhos para que outras pessoas vejam o que eu vi da forma que eu vi. Usar a lente com olhos que eu possa emprestar para quem não estava lá, ou para quem não pode ver de onde eu estava vendo. Eu acho que, desde muito pequena, sempre fui muito apaixonada pela fotografia,

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pois tinha uma nec também, se desse a tinha essa vontade queria registrar p equipamento fotogr isso.

SOTAQUES: deve ser conseguir boas ima

KAH GRIGORI: varia quando ela não tem um ambiente pouco muito com ela ante é. No ensaio, falo vontade, faço graç ótimos e, em pouco

SOTAQUES: qual a r você?

KAH GRIGORI: norma sempre que estou v pessoas interessad experiência comigo fazer parte dele,


cessidade de guardar aquilo que eu estava vendo, como se a memória não fosse suficiente. E, as costas para determinado lugar, determinada situação, acabava ali, e não teria mais. Sempre e; tudo o que eu achava interessante, de objetos a paisagens a certos horários do dia, eu para guardar aquilo para mim de alguma forma. Então fotografo desde antes de saber o que é um ráfico. Com os primeiros celulares que tive acesso, as primeiras tecnologias, já fazia muito

r comum, no seu trabalho, receber pessoas tímidas; como consegue deixá-las calmas para agens?

a de pessoa para pessoa. Normalmente, já dá para ter uma ideia sobre a timidez de alguém, m uma noção sobre as vestimentas ou o tipo de ensaio. Se ela parecer muito acanhada, sugiro movimentado para que ela foque em mim, sem muita preocupação com os demais olhares. Converso es do dia para dar dicas, conforme a personalidade dela e as fotos mostrem fielmente quem ela o bastante, vou usando frases positivas pra ela saber que está fazendo tudo certo e ficar à ça pra conseguir uns sorrisos e faço algumas poses pra ela espelhar-se. Os resultados são os minutos, já dá para sentir que a modelo está mais solta.

região onde seus trabalhos de fotografias são realizados, e como podemos entrar em contato com

almente, atendo na capital, Brasília, e regiões metropolitanas do Distrito Federal. Mas, viajando para outros estados, deixo todos os meus contatos informados previamente para que das no meu trabalho, e que residam em outra localidade, não percam a chance de ter essa o. O jeito mais simples de conhecer um pouco desse projeto, e entrar em contato comigo para é através do meu perfil no Instagram: @kah_grigori ou do e-mail grigorikah@gmail.com .

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Literatura

“Livro Branco”

O Jeremias caçava palavras . Trabalhava n Colava uma por uma em páginas tenras. As emoções e sensações de Jeremias. Num dia livro e eis que todos os significados se l

MICROCONTO JON BAGT

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numa biblioteca com um postigo. palavras presas não libertavam as a de neblina, o arquivista fechava o libertaram da guilhotina de papel‌

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Música

TELMO PIRES “ATRAVÉS DO FADO” ARLEQUIM BERNARDINI

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Música

“SÓ O MEU CANTO” É o novo single do fadista Telmo Pires, sendo a letra de sua autoria e música composta em parceria com a pianista de jazz alemã Maria Baptist. O poema deste fado dá conta da “nossa inquietude e ambições, ao querer chegar sempre mais depressa, mais além, e ao aceitar que não somos donos de nada, só de nós próprios”, nas palavras do autor. “Só o meu canto” refere ainda que o essencial já está connosco, vem dentro de nós. Seja a nossa intuição, a nossa voz interior que nos mostra o caminho certo. Para Telmo Pires "a alma portuguesa criou o Fado para atravês dele , ter melhor consciência de si própria." Este tema do novo disco lançado internacionalmente pela reconhecida editora alemã Traumton Records especializada em Jazz, editora dos álbuns de Telmo Pires desde 2004.

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TELMO PIRES

é cantor, poeta, compositor e um dos poucos homens no panorama international do fado. Nascido em Bragança, cresceu na Alemanha e regressou à capital do Fado em 2011 onde gravou o álbum “FADO PROMESSA” em 2012, seguido por “SER FADO” – lançado em 2016. A energia duma estrela do rock, a interpretação cheia de lucidez, capaz de embalar os sentidos mais despertos, ou de acordar as atenções mais distraídas, Telmo tem reunido consenso nos seus concertos, em salas um pouco por todo o mundo, ao sentar na mesma plateia adeptos e desconhecedores de fado, rendidos a uma genuína e surpreendente intensidade fadista. Ao cantar despe-se de artifícios e apresenta-se nu e cru: voz e guitarra, viola e baixo. Um corpo condutor, abandonado sob a luz de um projetor, brilha em finíssimos fios de vida e de relações que sustentam aqueles que o aplaudem de pé. Puro é somente ele. Uma voz que reclama um tom denso onde já antes grandes mestres desenharam outras estórias. No palco, um corpo só, abandonado na musicalidade impar do fado, são a versão honesta desta manifestação artística ancestral. Mas não é triste nem solitário. É uma alma que em palco entrega o peito à bala. É um fado que está vivo e grita alegria, com a mesma energia de quem viaja no folclore minhoto ou se espreguiça no fado de Lisboa. O fado nasce em Portugal mas espalhase pelo mundo em vozes de embaixadores que se curvam perante plateias de pé. Telmo Pires é um desses casos, com a diferença de quem se afirma em contra corrente minimal.

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Literatura

DEIXA CLAREAR ANA CAROLINA

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Literatura

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(REJEIÇÃO DO SENTIR) Sabem o que é coragem? Coragem é deixarmo-nos chorar num mundo que se envergonha de mostrar as suas próprias lágrimas.

(O QUE FICA POR ENTREVER) Eles continuam a dizer-me o quanto me esquecerei de mim para me tornar na pessoa que estou destinada a ser. Eles continuam a avisar-me que eu ainda não vi nada e que eu sentirei dez mil erupções a acontecer no meu âmago e compreenderei que os milagres emergem da destruição. Eles riem-se do quanto eu caio. “Para erguer-te, tu deves”, eles sussurram-me. Eles dizem-me que eu não sou nada, que eu nasci com um propósito maior “Ser nada é poder ser tudo”. E tombam no desvanecimento.

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Música

UMA TRANSA NO CORAÇÃO DO BANDA RELÊ E HOMENAGEIA NOMES DA MÚSICA BRASILEI MARLUS ALVARENGA

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O BRASIL OS GRANDES IRA

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Música

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Múltiplas inquietações ocorrem no espaço político e cultural do Brasil – e entendemos que é uma agitação mundial, dos ventos de mudanças porvir – que continua gerando um cenário muito rico e promissor de artistas novos, que resistem em todos os nichos artísticos. A Transa – nome que a banda escolheu por representar o álbum emblemático homônimo de Caetano Veloso, lançado em 1972 – tem, como desejo motriz reler e compreender, em partes, esses processos musicais quais revolucionaram a música em língua portuguesa, recriando espaços que precisam ser revisitados. Nascida no Cerrado brasiliense, na capital do poder político brasileiro, a Transa é um projeto que busca, acima de tudo, reviver e homenagear a obra orgânica e espetacular dos artistas nacionais vivos, ou que já nos deixaram. Atualmente, no cenário nacional, muito se tem discutido sobre o nosso papel – dos artistas – como agentes propulsores da arte brasileira, em sua essência, para o próprio Brasil. A Transa visa mostrar que de rock ao axé baião, do samba ao indie, nossos artistas sempre estiveram na vanguarda da produção latino americana, produzindo sons que reverberam no mundo, como identidade cultural do país.

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Música

Fotos: Igor Canêdo

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Em meados 2018, em meio a um cenário lotado de intervenções políticas, econômicas e artísticas conturbadas, os amigos Luan Alcântara (guitarra e arranjos) e Marlus Alvarenga (voz e acompanhamentos) decidiram que em breve deveriam produzir algo juntos musicalmente. A arte era urgente. Ocupar espaços com ela, um legado necessário.

O engenheiro baiano Luan é guitarrista há dez anos, à frente dos covers de Arctic Monkeys e The Strokes (Age of Machines) em Brasília, possuindo uma carreira consolidada como músico e sempre ligado nos sons nacionais. O poeta e multiartista brasiliense Marlus estudou música quando adolescente, flertou com o teatro, encenou e dirigiu peças e musicais na UnB (Universidade de Brasília) e já cantou em bandas autorais e covers desde Smashing Pumpkins a Chico Buarque, estando por três anos na companhia da cantora Clara Telles no show (RE) Verso, em Brasília. Para acompanhar na bateria, o músico Keslle (EMB) traz frescor e técnicas novas, vindas de diversas influências. No contrabaixo, Lucas “Bira”, traz linhas de aprofundamento, groove e swing que a música brasileira precisa na sua dinâmica, com expertise e educação de um músico que estuda e gosta do som que faz.

A banda Transa, depois de uma longa temporada de ensaios, estreou com repertório de Caetano Veloso no evento de encerramento do Zepelim (Zepelim: Última Chamada) e encabeça o projeto Cerrado Tropical, que teve sua primeira edição na Blitz Lounge e Bar, mas é uma festa itinerante. Atualmente a banda tem ensaiado novos voos, inserindo no projeto outros artistas, como Belchior, Gonzaguinha e Jards Macalé.

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Música

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Portugal

PAULO BETTI NOS PALCOS PORTUGUESES ARLEQUIM BERNARDINI

60 Fotos: Mauro Kuri


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Portugal

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Portugal

PAULO BETTI NOS PALCOS PORTUGUESES COM "AUTOBIOGRAFIA AUTORIZADA", 'Autobiografia Autorizada' é um monólogo escrito e protagonizado por Paulo Betti. O espetáculo, que marca a comemoração dos 40 anos de carreira de Paulo Betti, foi construído pelo próprio actor, que se inspirou nos textos e nas colagens que escreveu durante a adolescência, e ainda nas colunas de opinião semanais que escreveu durante quase trinta anos para o Jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, cidade onde cresceu. A peça recebeu um aplauso inequívoco e unânime da crítica no Brasil, bem como nomeações para o prémio Shell de melhor texto e do Prémio Faz Diferença (O Globo). O espetáculo é uma amálgama do Brasil profundo, inspirada pela inusitada história de superação de Paulo Betti e percorre um trajeto impressionante entre a ruralidade e o urbanismo que marcam a vida do actor, recuando à vaga de imigração italiana no Brasil que teve seu ápice no periodo entre 1880 e 1930. Paulo Betti, o actor que deu vida a inúmeras e inesquecíveis personagens nas novelas da Globo, conta em palco e na primeira pessoa, a forma como a mãe, uma 64


, A HISTÓRIA DA SUA VIDA NUMA NARRATIVA CRUA, DIVERTIDA E EMPOLGANTE. camponesa analfabeta que deu à luz quinze filhos se mudou para a cidade grande e de como essa mudança afetaria para sempre a sua vida e o seu futuro. A esquizofrenia do pai, as dificuldades e as superações transformam-se agora em palco num testemunho do ator, autor e diretor, que interpreta múltiplas personagens como o pai, a mãe, o avó e muitos outros e conduz o público numa viagem alucinante, divertida e cheia de emoção pelos caminhos da vida de Betti. «A minha fixação pela memória da infância e adolescência, passada num ambiente inóspito e ao mesmo tempo poético, talvez mereça ser compartilhada com o intuito de provocar emoção, riso, entretenimento e entendimento», comenta o actor que com humor, poesia e dor, mergulha na vida dos seus pais e avós e emerge com uma peça divertida e emocionante e que reafirma a importância do ensino público e do trabalho social para a valorização do ser humano e que - depois de uma tournée de sucesso pelo Brasil, chega em Janeiro aos palcos portugueses onde vai passar por todo o continente e ilhas.

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Brasil

HOSPEDAL - HOSPEDAGEM SO PARA CICLOVIAJANTES HERNANY FEDASI

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É uma iniciativa que surgiu com a necessidade de facilitar hospedagem solidária para pessoas que viajam de bicicleta, conhecidos popularmente de cicloviajante ou cicloturista. Essa rede colaborativa começou primeiro com a intenção de atender somente os cicloviajantes brasileiros e estrangeiros que estavam cicloviajando pelo Brasil, mas com o passar do tempo, essa rede foi aumentando de volume, e hoje com parceria de Casas de Ciclistas, atende também cicloviajantes do mundo todo que estão passando pelos países da América do Sul. Para se tornar anfitrião HOSPEDAL, basta enviar nome completo, nome da cidade / estado / país onde mora e telefone para contato. Esses dados serão adicionados em uma lista de anfitriões que será disponibilizada em nossas redes sociais quando for necessário ou quando o cicloviajante solicitar. Venha fazer parte dessa rede solidária!

OLIDÁRIA

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Brasil

PARATY CIDADE LITERÁRIA HEBERT JÚNIOR

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Paraty é uma pequena cidade com montanhas como pano de fundo na Costa Verde do Brasil, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. O seu centro colonial português possui ruas calcetadas e edifícios dos séculos XVII e XVIII da altura em que funcionava como um porto, durante o ciclo do ouro brasileiro. Entre os seus pontos de referência arquitetónicos encontra-se a Capela de Santa Rita à beira-mar, uma igreja caiada construída em 1722.

Fotos: Hebert Júnior 70


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A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) é um festival literário lançado no ano de 2003 e realizado pela Associação Casa Azul. Acontece anualmente na cidade fluminense de Paraty. A FLIP é considerada um dos principais festivais literários do Brasil e da América do Sul. O financiamento é assegurado por um sistema hierarquizado de patrocinadores e é conduzido pela organização sem fins lucrativos Associação Casa Azul. Além de palestras, também são realizadas discussões, oficinas literárias e eventos paralelos para crianças (Flipinha) e jovens(Flipzona). O sucesso mundial desde seu ano de fundação se deve, principalmente, ao envolvimento e participação ativa de autores de vários países reconhecidos internacionalmente. O festival foi idealizado pela editora inglesa Liz Calder, da Bloomsbury, que morou no Brasil e agenciou diversos autores brasileiros, tomando como modelo o festival literário de Hay-on-Wye, no Reino Unido[2]. O festival é associado com outros semelhantes, tais como o Festival Internacional de Autores, em Toronto, Canadá, e o Festivaletteratura Mantova na Itália, para mostrar a interculturalidade na literatura.

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THARSO ARAÚJO LITTERIS LAERCIO LACERDA

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Modelos: Ana Modezejewski e

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Tharso Araújo |

Fotos e Edição: Laercio Lacerda |Locação: Praça da Mat


PRAÇA MARECHAL DEODORO A Praça Marechal Deodoro, mais conhecida como Praça da Matriz, é um espaço público e histórico da cidade de Porto Alegre, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Está localizada no coração da cidade, no Centro Histórico, e existe desde os primórdios da capital A primeira menção que há do local da praça remonta ao ano de 1753, quando ali foi construído um cemitério. Seu lado sul foi o primeiro a ser ocupado, construindo-se ali a Igreja Matriz. Em consequência disso, seu nome passou a ser Praça da Matriz. Pouco tempo depois, em 1772, aparece no primeiro mapa da pequena povoação que era Porto Alegre em seus primórdios, como Praça do Novo Lugar. Quando a capital da capitania foi transferida de Viamão para Porto Alegre, a praça foi escolhida para abrigar o Palácio do Governador, concluído em 1789, passando a ser conhecida também como Praça do Palácio da Presidência. Ao lado do Palácio, apareceu em 1790 a Casa da Junta ou da Real Fazenda e, entre 1837 e 1839, ao lado da Matriz, a primeira Capela do Divino Espírito Santo. Estabelecendo-se lentamente, a praça até 1840 não passava de uma elevação erodida, sem qualquer adorno. Nessa década foram então construídas as primeiras calçadas, e na segunda metade do século XIX, passada a agitação causada pela Revolução Farroupilha, quando a cidade foi sitiada por dez anos, outros edifícios importantes foram sendo construído no seu entorno, como o Palácio do Ministério Público, a sede da Sociedade Bailante, a primeira hidráulica da cidade, a primeira sede da Intendência municipal, o Theatro São Pedro e seu edifício gêmeo (este sede da Câmara Municipal) e a Junta Criminal.

triz Porto Alegre

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Em 1858, seu nome foi alterado para Praça Dom Pedro II, por ocasião da visita do Imperador à capital da província. Logo depois foi instalado um chafariz, com estátuas de mármore, que simbolizavam os grandes rios da Bacia do Guaíba, hoje transferidos para a Praça Dom Sebastião, e resolveu-se dar início à arborização. Entretanto, uma fotografia tomada após 1870 mostra apenas poucas palmeiras. O ajardinamento só foi empreendido de fato entre 1881 e 1883, incluindo 20 oliveiras vindas de Portugal. Em 1885 recebeu o Monumento ao Conde de Porto Alegre, depois removido para a praça que leva seu nome, a Praça Conde de Porto Alegre. Em 11 de dezembro de 1889, um decreto municipal alterou o nome do logradouro para Praça Marechal Deodoro, que conserva até os dias de hoje.[1] Em 1896, o antigo Palácio do Governo foi demolido para dar lugar a uma sede mais ampla e luxuosa, o atual Palácio Piratini.

Em 24 de outubro de 1914 foi inaugurado o Monumento a Júlio de Castilhos, em homenagem ao grande estadista gaúcho Júlio de Castilhos. O monumento, em bronze, construído na gestão do governador Carlos Barbosa, foi criado pelo escultor Décio Villares. Cercam a figura central do governante diversas personificações de virtudes, como a Coragem e a Prudência, e de valores e instituições, como a Educação e o Civismo. Assim como muitas construções de Porto Alegre, o Monumento sofreu ao longo do tempo com atos de vandalismo e de depredação. Pouco depois, a antiga Matriz era demolida para a

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FAMO ÓSCA

ARLEQUIM BERNA

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OSOS CELEBRAM A NOITE DE ARES NO PARQUE NASCENTE

ARDINI

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ClĂĄudia Jacques e Belmiro Costa

Marta Flores

Andreia Dinis

RĂşben Rua


ÓSCARES 2020 No dia 9 de fevereiro, o Parque Nascente celebrou a emblemática noite de Óscares com a 13ª edição da Red Carpet Night. Disco Glam foi o tema que marcou a grande festa, onde não faltou música, animação, brilho e muito glamour! Ângelo Rodrigues

Jani Gabriel

Ângelo Rodrigues, Andreia Dinis, Rúben Rua, Jani Gabriel e Cláudia Jacques foram as estrelas da noite. As figuras públicas presentes mostraram os seus melhores looks e arrasaram na passadeira vermelha.

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Portugal

Carol Curry

ร ngelo Rodrigues e Clรกudia Jacques 98


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