Revista Sotaques nº4 Setembro

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Setembro| 2014 Nº 04 | Gratuito

Um coração com duas pátrias As mulheres de D. Pedro O Meu Portugal

Pedro, o elo da união luso-brasileira


Editorial Pedro, o elo da união luso-brasileira A revista Sotaques não tem complexos edipianos. Nesta edição de Setembro mostramos que o legado de D. Pedro está mais vivo do que nunca, e que prestar-lhe uma homenagem é valorizar uma certa ideia de união luso-brasileira, de um espírito de comunhão de valores objectivos, que sobreviveu à passagem do tempo. D. Pedro é um paradoxo. Não era o príncipe herdeiro, mas acabou por ser rei, foi o primeiro Imperador do Brasil, liderando a cisão com a coroa portuguesa e, no entanto, acorreu à sua pátria de origem, combatendo as forças miguelistas e tornando-se no monarca português mais amado da História na cidade do Porto. Nesta edição desvendamos as múltiplas facetas de D. Pedro. Por um lado, traçamos um percurso de um homem singular, culto, lembrando a influência que as mulheres tiveram na sua trajectória pessoal, repassando curiosidades sobre a sua existência ou o modo como as artes o retrataram para a posteridade. Continuamos a olhar também para o presente. Para artistas das mais variadas áreas que se destacam nesta eterna ligação luso-brasileira, que todos os dias dá novos e criativos frutos. Caro leitor, leia esta edição histórica da revista Sotaques. Nela homenageamos o pai de todos nós : um monarca que levou na alma e no coração duas pátrias, duas bandeiras, e que nos juntou muito mais do que nos dividiu.

António Bernardini

Editor: António Bernardini Diretores: Rui Marques e António Bernardini Colaboradores Portugal - Rui Marques , Arlequim Bernardini , António Granja , Fátima Gonçalves ,Gonçalves Guerra ,António Santos Brasil - Paulo César , Hernany Fedasi

Revista Sotaques Brasil Portugal Tel. 351 917 852 955 - 351 916622513 antonio.sotaques@gmail.com - rui.sotaques@gmail.com www.sotaques.pt - www.facebook.com/sotaques


Índice

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D.Pedro, um coração do tamanho do Porto A iconografia de D. Pedro Pedro IV na qualidade de rei de Portugal Um coração com duas pátrias “1822”crónica da independência de um país As mulheres de D. Pedro Dandy : O Cavalheiro Perfeito Hino da Independência do Brasil Parque da Independência, símbolo da identidade brasileira Monumento à Independência do Brasil O Meu Portugal Sete curiosidades sobre D. Pedro


Capa

Um coração do tamanho do Porto 4


As gentes do Porto têm uma ligação profunda a D.Pedro. Nenhum rei é tão querido na cidade, nenhum lutou tanto por ela, nenhum lhe deu tanto esforço e sacrifício como ele, doando-lhe o seu coração e devolvendo-lhe o mais prezado bem para os portuenses – a sua autonomia. Os sinais da presença de D. Pedro na cidade estão à vista de todos. Na sala de visitas, que é a Praça da liberdade, ergue-se a estátua em honra de D.Pedro IV de Portugal e I do Brasil. Da autoria escultor francês Célestin Anatole Calmels, a primeira pedra do monumento foi posta em 9 de Julho de 1862. Foi inaugurado em 19 de Outubro de 1866 e as suas dimensões são as seguintes: 10 metros de altura e cinco toneladas de bronze. É uma estátua de bronze que apresenta D. Pedro vestido com a farda de caçadores 5 e uma espécie de sobrecasaca, que era o seu traje habitual. Na mão direita segura a Carta Constitucional de 1826 e, na esquerda, segura as rédeas do cavalo. No pedestal de Bronze são representados dois episódios determinantes na vida do Rei Soldado. Numa visualizamos o desembarque do Mindelo, com o rei a entregar a bandeira a Tomás de Mello Breyner e, na segunda, vemos a entrega do coração de D. Pedro à Igreja da Lapa. Esta imagem é um pretexto para nos deslocarmos uns metros mais acima, à portuense Igreja da Lapa, próxima à Praça da República. Após a libertação do Porto, o rei fez questão de visitar a cidade, participando em várias cerimónias civis e religiosas – numa delas o presidente da câmara entregou as chaves do Porto à rainha , numa iniciativa que concluiu com uma acção de graças e um “Te Deum” . Por testamento é também nesta Igreja que, em 1835, o seu coração foi depositado. O órgão do monarca chegou ao Porto em Fevereiro de 1835 – recorde-se que o rei morrera em Queluz em Setembro de 1834. A necessidade de conservar o coração obriga a uma delicada operação que requer a participação de seis pessoas. Para remover a placa de cobre pregado na porta de madeira que fecha o monumento é necessário usar uma chave de cerca de 15 centímetros e outras quatro até passar a grade onde estão a urna, o estojo e o vaso de prata dourada com o recipiente de vidro que conserva o coração em formol. Mas o coração não está apenas na Igreja da Lapa – faz parte das armas da cidade do Porto. Com efeito, a 12 de Janeiro de 1837, através de um decreto do escritor Almeida Garrett e assinado pela rainha D. Maria, adicionava a iconografia do brasão da Invicta. Nesse documento determinava-se que “as armas sejam esquarteladas com as do reino e tenham ao centro, num escudete de púrpura o coração de oiro de D.Pedro, sobrepojadas por uma coroa de duque, tendo por timbre o “Dragão negro das antigas Armas dos senhores Reis destes reinos” e junte aos seus títulos o de Invicta.” Foi uma homenagem extraordinária e eterna

de uma cidade tem D. Pedro no coração.

Texto Rui Marques

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Capa

IndependĂŞncia do Brasil 6


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Capa

A iconografia de D. Pedro

Figura carismática por excelência, o rei D. Pedro foi objecto de uma intensa projeção artística. Desde pinturas a monumentos, poucos reis foram retratados de forma tão duradoura como aquele que se tornou no primeiro Imperador do Brasil.

Inevitavelmente para falarmos da dimensão simbólica do rei, temos de referir o retrato a óleo de “ O grito de Ipiranga : independência ou morte” do pintor Pedro Américo. Curiosamente, a célebre frase “ Independência ou morte” foi proferida pelo rei ao receber uma carta das Cortes portuguesas, e não nas margens do rio Ipiranga. Outras curiosidades desta pintura histórica são o facto dela ter sido encomendada pela família real ao artista, em 1888, por D.Pedro II para fazer parte do Museu do Ipiranga, atual Museu Paulista. Também há outras discrepâncias entre o quadro e a realidade: por exemplo, D. Pedro ia montado numa mula e não num cavalo, nenhum dos seus acompanhantes, nem ele, iam vestidos com traje de gala como aparecem retratados, o pintor Pedro Américo surge na pintura, apesar de ter nunca ter estado no cenário original, e a célebre Casa do grito que faz parte do quadro, não existia. Seja como for, a obra de Pedro América perdura como memória futura de um momento histórico. Os monumentos dedicados a D. Pedro ocupam espaços nobres de algumas das principais cidades portuguesas e brasileiras. No Porto, em plena Avenida da Liberdade, ergue-se a Estátua de D.Pedro da autoria do francês Anatole Càmels, enquanto em Lisboa, no Rossio, foi criada por outro artista francês, Elias Robert - ambos os monumentos foram construídos por artistas franceses e liberais, e em ambos o monarca tem na mão a carta constitucional . 8

No Rio de Janeiro, na Praça Tiradentes, existe igualmente uma estátua equestre de D.Pedro, mandada construir por D.Pedro II para homengear a independência brasileira, com o projecto a ser da autoria do artista brasileiro João Maximiniano Mafra, e as estátuas de bronze da responsabilidade do francês Louis Rochet. A inauguração do monumento ocorreu em 30 de Março de 1862, e nela participaram cerca de 600 músicos dirigidos pelo maestro Francisco Manuel da Silva. Na cerimónia foi cantado o hino nacional, composto por D. Pedro I. No conjunto estão representadas as Províncias brasileiras da época, bem como os principais rios Amazonas, S. Francisco, Paraná e Madeira . Nas alegorias figuram índigenas e outras figuras como gargolas e outras figuras decorativas. Outro monumento incontornável é o parque da Independência em S. Paulo. No seu interior encontramos o Monumento da independência, a casa do grito onde está a cripta com os restos mortais de D. Pedro I - se exceptuarmos o coração que está na Igreja da Lapa, no Porto - os jardins franceses ou o Museu Paulista também conhecido como Museu do Ipiranga. D. Pedro como é fácil de constatar é uma das personalidades mais fascinantes da História de Portugal e do Brasil. E a sua iconografia é riquíssima à imagem do que foi a sua vida . Texto António Santos


Pedro I e a coroa imperial do Brasil. 9


D.Pedro

Pedro de Alc창ntara em torno de 1808. 10


Pedro, PrĂ­ncipe Real de Portugal, Brasil e Algarves, 1817. 11


D.Pedro

Pedro I por volta do mesmo perĂ­odo da Constituinte de 1823. 12


Pedro I com o exemplar da Constituição brasileira de 1824 13


D.Pedro

Pedro IV na qualidade de rei de Portugal, envergando a Banda das TrĂŞs Ordens. 14


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D.Pedro

Litografia da morte de Pedro I.

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D.Pedro

Monumento onde se encontra o coração, no interior da Igreja da Lapa - Porto em Portugal . 18


Túmulo de Pedro I na Capela Imperial, subsolo do Monumento à Independência, no Ipiranga, cidade de São Paulo, Brasil. 19


Ilha dos Amores

Esta edição está marcada pela figura singular de D. Pedro e pela cidade do Porto. Duas realidades que se alimentam mutuamente – sem a coragem de D. Pedro, a História do Porto não seria a mesma, a defesa intransigente dos portuenses da sua liberdade e autonomia não seria tão importante ; por outro lado, o Porto conquistou o coração de D. Pedro, que o deixou na cidade, e ficou intimamente ligado ao rei libertador. Os poetas Gonçalves Guerra e Bernardino Guimarães percorrem poeticamente esses dois Universos, tão unidos pela história, que não podem ser entendidos separadamente – sem D. Pedro, não existiria este Porto, e sem o Porto, D. Pedro nunca teria a importância histórica que teve e a aura de herói romântico que deixou para a posteridade.

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Um coração com duas pátrias Bate o coração de D. Pedro nas margens do Ipiranga Grita, grita, grita Esta é a minha pátria Bate também na Invicta, o coração do libertador Um coração de guerreiro pulsa, violentamente, pela pradaria da memória Bate ao ritmo de duas Nações E sangra com o amor E a dor do Porto Tem a força de dois corações Tem duas Nações no interior Que homem é este que separa, unindo Que vence Continentes e Fronteiras Que defende o sangue do Brasil e de Portugal Que homem é este ? De onde vem ? Para onde vai ? Bate, bate, forte e violentamente Um coração com duas pátrias Um coração libertador Poema Gonçalves Guerra

O Imperador & Rei em monumento na cidade do Porto, em Portugal; Uma personalidade euroamericana que marcou para sempre a história política de duas nações separadas por um oceano. 21


Literatura

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Literatura

“1822”crónica da independência de um país O escritor e jornalista brasileiro, Laurentino Gomes, autor do aclamado “1808” sobre a fuga da corte de D.João VI, escreveu uma crónica sobre a independência do Brasil. Nasceu assim “1822”, uma obra que nos relata a improvável sucessão de acasos que mudaram a História das relações luso-brasileiras para sempre. Impressiona a quantidade e qualidade deste livro. Após uma rigorosa investigação, o escritor Laurentino Gomes apresentou um misto de ensaio histórico e de romance, com figuras tão heróicas como contraditórias no epicentro dos acontecimentos, com D. Pedro a assumir, logicamente, o papel principal. Afinal porque é que o Brasil se tornou independente nesta data ? A resposta em forma de livro é dada por “1822”, abrindo um leque de novas questões sobre a independência brasileira que outros romancistas, jornalistas e historiadores devem abordar em futuras investigações. Em teoria, nada fazia suspeitar que esse seria o ano da viragem histórica. A fuga de D. João VI para Portugal, levando as riquezas brasileiras, e deixando D. Pedro como príncipe regente, inviabilizava à partida qualquer movimento independentista. Porém como diria o poeta português Fernando Pessoa “ Deus cria, o homem sonha, a obra nasce”. E os homens sonharam ...... Para o historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda, pai do músico e escritor Chico Buarque, numa tese citada nesta obra, a revolução liberal portuguesa acelerou a independência. Por um lado, porque forneceu às elites brasileiras uma legitimidade natural para exigir a liberdade face a Portugal, por outro pois fez aumentar o sentimento patriótico brasileiro, e a percepção de que tinham de se afirmar como reino independente. Se acrescentarmos a estes factores, outros como as convicções anti-esclavagistas de D. Pedro e de outras figuras como José Bonifácio ou a fortíssima personalidade do príncipe regente, compreendemos a evolução dos acontecimentos. Era inevitável,apesar de todos os constrangimentos, a separação entre o Brasil e Portugal. Lê-se “1822” como uma crónica jornalística e histórica, como uma reportagem sobre a mais improvável das independências. Fruto de um sonho, mas também de uma convicção, que ultrapassou todos os obstáculos e triunfou. Texto Rui Marques

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D.Pedro

As mulheres de D. Pedro As mulheres marcaram a vida de D. Pedro. Da impetuosa mãe, a espanhola Carlota Joaquina às esposas Maria Leopoldina e D. Amélia até à mais famosa amante, Domitília, Marquesa de Santos, o sexo feminino foi uma constante na vida do monarca. Figura truculenta, Carlota Joaquina foi retratada no cinema brasileiro no filme “ Carlota Joaquina, princesa do Brasil”, cabendo à atriz Marieta Severo desempenhar o papel da Infanta de Espanha que se casou com D.João VI. A relação entre o futuro casal real – devido à inesperada morte do herdeiro, D. José – foi, no mínimo, tumultuosa e começou a deteriora-se logo na noite de núpcias, com relatos de que a então adolescente – tinha 14 anos –terá mordido o seu marido no leito matrimonial. De resto, a rainha era conhecida no Palácio de Queluz como a “ megera de Queluz”, o que revela o grau de animosidade que havia contra ela. Conspirou até para que D.João VI fosse deposto, rebeldia que obrigou o rei a ordenar o seu confinamento em Queluz, longe dos olhares da corte. Curiosamente Carlota Joaquina que, aparentemente, viveu com desagrado a ida para o Brasil, terá sido a inventora da capirinha. No livro “ Histórias secretas dos reis portugueses” do escritor Alexandre Borges, é avançada essa tese. A Imperatriz Leopoldina, a rainha que teve mais filhos legítimos com D. Pedro I – sete – era nora da rainha espanhola e revela que “baixou os olhos como não querendo voltar a vê-la; as marcas da varíola, o corte de cabelo, cordões e mais cordões de pérolas e pedras preciosas enroladas em seus cabelos, pendendo de seus cachos gordurosos como cobras”. Carolina Josefina Leopoldina de Habsburgo-Lorena era uma bela mulher como podemos ver pelos retratos da época e, ao contrário de Carlota, amou profundamente o Brasil. A princesa austríaca era invulgarmente culta e avançada para o seu tempo : trouxe para a corte muitos cientistas, botânicos e, por exemplo, acompanhou D. Pedro, durante as lua-de-mel, em caçadas em Jacarepaguá. Teve igualmente uma acção crucial na independência do Brasil: quando o rei foi a São Paulo tentar apaziguar os ânimos dos movimentos a favor da independência, nomeou-a princesa regente e chefe de Estado. Sabendo que Portugal estava a planear desenvolver uma acção contra o Brasil, Leopoldina convocou o Conselho de Estado a 2 de Setembro de 1822, que decretou a Independência do Brasil. Quando D. Pedro regressou disse-lhe “ o pomo está maduro, colhe-o senão apodrece”, incentivando-o a avançar definitivamente para a separação de Portugal.

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Carlota Joaquina de Bourbon 27


D.Pedro

Também se deve a ela, contam os cronistas, a idealização da bandeira do Brasil. Uma bandeira que misturava a cor verde da família Bragança e o amarelo dos Habsburgos. A rainha Leopoldina morreu a 11 de Dezembro de 1826, no Palácio de São Cristoval. Nos últimos anos da sua vida, as desavenças entre a rainha e D. Pedro tornaram-se patentes e a causadora da crise de matrimónio era Domítilia de Castro , Marquesa de Santos, amante do rei: numa carta trágica, Leopoldina contou à sua irmã, Maria Luísa, que D. Pedro queria que a amante estivesse ao lado da rainha num beija-mão da corte. Filha do açoriano João de Castro Canto e Melo, visconde de Castro e da escolástica Bonifácia Ribas, pertencente a uma tradicional família paulista, casou-se aos 15 anos com o Alferes Felício Mendonça. Este batia-lhe, espancava-a e, em 1819, chegou a esfaqueá-la duas vezes. Conheceu D. Pedro antes da proclamação da independência. D. Pedro comprou uma moradia para a amante no bairro de Estácio, no Rio de Janeiro, próximo da corte. Em 1826 adquiriu para ela a célebre Casa Amarela no número 293 da atual Avenida de D. Pedro II. Paulatinamente Domitília foi ascendendo na Corte: primeiro tornou-se camarista da Imperatriz Leopoldina, Viscondesa e Marquesa de Santos. O fim da ligação com o rei, ter-se-á precipitado pela fúria que sentiu ao saber que a sua própria irmã tinha um caso com o monarca. Também o segundo casamento real, com D. Amélia, foi acordado com a condição de Domítilia ser afastada da corte e de D. Pedro. O Imperador incumbiu o seu embaixador, o Marquês de Barbacena de encontrar na Europa uma nova rainha que fosse “ de bom nascimento, bela, virtuosa e culta”. A tarefa não foi fácil: foram rejeitadas oito princesas até que foi escolhida D. Amélia, Duquesa de Leuchenberg. Apesar de não ter uma linhagem particularmente distinta – embora o pai fosse enteado de Napoleão – mas era muito bem proporcionada e bela, além de culta. D. Pedro rompeu com a Marquesa de Santos instituindo, num gesto de redenção, a ordem da rosa cujo lema é “ Amor e Fidelidade”. Amélia de 17 anos e D. Pedro, 30. A tradição diz que D. Pedro ao confirmar a beleza da rainha, ao chegar ao Rio de Janeiro, terá desfalecido – a bordo do barco vinha o Marquês de Barbacena e a pequena Maria da Glória, a futura rainha D. Maria de Portugal, e filha da Imperatriz Leopoldina. D. Amélia exerceu uma profunda influência na corte: na adopção do protocolo europeu e do francês como língua oficial, mas também na educação dos filhos de D. Pedro. Após a abdicação de D. Pedro, o casal real viajou pela Europa e instalou-se em Paris. D. Pedro regressou a Portugal para lutar contra o seu irmão D. Miguel. Com o triunfo das forças liberais, a família instala-se em Portugal. Maria

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Maria Leopoldina de テ「stria 29


D.Pedro

DomĂ­tilia de Castro - Marquesa de Santos 30


A morte de D.Pedro com tuberculose, em 1834, leva a que D. Amélia se reclua no Palácio das Janelas Verdes. Dedicou-se à caridade e à educação da filha, que morreu precocemente da mesma doença que vitimara o pai. D. Amélia morreu em 1873, aos sessenta anos, e os seus restos mortais jazem, desde 1982, no Monumento da independência do Brasil, em São Paulo. Até essa data o corpo jazia ao lado do irmão de D. Pedro, D. Miguel, no Panteão dos Braganças em Lisboa. Estas são as mulheres que mais influenciaram a vida de D. Pedro. Teve mais amantes e mais filhos. Mas estas mulheres – Carlota Joaquina, Leopoldina, D. Amélia e a Domitília, Marquesa de Santos – moldaram, profundamente, o carácter do primeiro Imperador do Brasil. Texto António Santos

Amélia de Leuchtenberg 31


Moda

Dandy : O Cavalheiro Perfeito 32


Dandy A primeira metade do século XIX foi o cenário de uma das mais significativas revoluções no vestuário masculino. Enquanto D. Pedro (I do Brasil e IV de Portugal) nascia, tornava-se imperador do Brasil, soltava o Grito do Ipiranga e regressava a terras lusitanas para coroar a sua filha, em Inglaterra surgia um movimento que redefiniria, até aos dias de hoje, a moda para homem, o conceito de masculinidade e as maneiras de um cavalheiro: o dandismo. O dandy apareceu, pela primeira vez, na época da Regência britânica e caracterizava-se por ser um homem que, não pertencendo necessariamente à nobreza, se devotava a um estilo de vida dedicado ao ócio e cuja aparência devia ser nada menos do que perfeita. Eram homens de bom gosto, elegantes, que ocupavam grande parte do seu tempo a cuidar da imagem. É a eles que devemos a crescente sobriedade do traje masculino, no qual inseriram as inspirações retiradas das fardas militares e uma paleta cromática reduzida e neutra. Davam grande importância à qualidade das matérias-primas, do corte e da confeccção. São a génese do fato. O arquétipo do dandy foi George Brummell, também conhecido como Beau Brummell (que é como quem diz Belo Brummell). Pertencendo ao círculo de amigos do Príncipe George (futuro George IV) e dispondo de uma avultada herança, Brummell era um fashionista por excelência, influenciando tendências durantes vários anos até à sua decadência, devido ao vício no jogo. Os seus levées (ritual popular entre as monarquias, especialmentea francesa, em que os nobres e convidados especiais assistiam ao acordar do rei e o viam vestir-se) eram um acontecimento social naquela altura, muito concorridos por todos os cavalheiros que desejavam aprender a arte de bem-trajar com o mestre Brummell. Neste evento, ficou famosa a pilha de gravatas desfeitas, já que o dandy rejeitava qualquer gravata se não conseguia dar o nó perfeito à primeira. Estes homens povoam os romances de Jane Austen e até Eça de Queirós se inspirou neles, sendo o exemplo mais flagrante Carlos da Maia. Ao longo da história, outros dandies, tal como Lord Byron, Oscar Wilde, Charles Baudelaire ou Andy Wharol, tornaram-se figuras relevantes no mundo intelectual, ligando o dandismo às artes, à literatura e à filosofia, mas mantendo a conexão essencial com a imagem. Texto António Granja

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Moda

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Música

Hino da Independência

do Brasil

O Hino da Independência foi composto por Evaristo da Veiga e a sua música é de Dom Pedro I. Segundo diz a tradição, a música foi composta pelo Imperador às quatro horas da tarde do mesmo dia do Grito do Ipiranga, 7 de setembro de 1822, quando já estava de volta a São Paulo vindo de Santos.2 Este hino de início foi adotado como Hino Nacional, mas quando D. Pedro começou a perder popularidade, processo que culminou em sua abdicação, o hino, fortemente associado à sua figura, igualmente passou a ser também desprestigiado,3 sendo substituído em 1831 pela melodia do atual Hino Nacional, que já existia desde o mesmo ano de 1822.

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Hino da Independência Já podeis, da Pátria filhos, Ver contente a mãe gentil; Já raiou a liberdade No horizonte do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil. Os grilhões que nos forjava Da perfídia astuto ardil... Houve mão mais poderosa: Zombou deles o Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil. Não temais ímpias falanges, Que apresentam face hostil; Vossos peitos, vossos braços São muralhas do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil. Parabéns, ó brasileiro, Já, com garbo juvenil, Do universo entre as nações Resplandece a do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil.

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D.Pedro

Parque da IndependĂŞncia, sĂ­mbolo da identidade brasileira 38


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D.Pedro

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Inaugurado em 1988, o Parque da Independência de São Paulo é o símbolo vivo da Nação brasileira. Localizada no Bairro de Ipiranga, desdobra-se num conjunto de monumentos que evocam a memória de D. Pedro. Nas margens do rio Ipiranga, a grande Nação brasileira começou a sua caminhada entre os países livres e independentes. Como a História dos povos se faz – só se pode fazer – através do exercício da memória, este Parque é um mosaico cultural que representa a grandeza do Brasil. O Museu da Ipiranga ou Museu Paulista é uma das principais atracções. Constituído por uma série de colecções de objectos, tem no célebre quadro “ Independência ou morte” do pintor Pedro Américo, a sua principal obra-prima. Tem em acervo mais de 125.000 objectos e foi projectado pelo arquitecto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. Por sua vez, o Monumento à Independência foi idealizado pelos italianos Ettore Ximenes, escultor, e Manfredo Manfredi, arquiteto, por ocasião do primeiro centenário da independência, e inaugurado ainda incompleto em 1922. Apenas foi finalizado quatro anos depois – na sua cripta jazem os restos mortais do rei D.Pedro I, D. Leopoldina e D. Amélia. O parque Independência tem uma dimensão extraordinária : 184.830 m² de área total,dividida em 51.960 m² de pisos impermeáveis, 124.500 m² de vegetação, subdividida em bosque (32.200 m²); relvado (67.900 m²); área (24.400 m²); e 4.500 m² de fonte e córrego e 3.870 m² de edificações. No Parque da Independência reúnem-se as duas grandes riquezas do Brasil: a sua História, as suas grandes figuras, e a beleza natural que encontramos em todos os Estados brasileiros. Texto Paulo César

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D.Pedro

Riacho do Ipiranga, cruzando o Parque da IndependĂŞncia, onde foi proclamada a independĂŞncia brasileira em 1822. 42


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D.Pedro

Monumento Ă IndependĂŞncia do Brasil 44


O Monumento à Independência do Brasil, também chamado de Monumento do Ipiranga ou Altar da Pátria, é um conjunto escultórico em granito e bronze. Localiza-se na cidade brasileira de São Paulo, às margens do Riacho do Ipiranga, no sítio histórico onde Pedro I, primeiro imperador proclamou o país do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 7 de setembro de 1822. Foi idealizado e executado pelos italianos Ettore Ximenes, escultor, e Manfredo Manfredi, arquiteto, por ocasião do primeiro centenário da independência, e inaugurado ainda incompleto em 1922, tendo sido finalizado quatro anos mais tarde. É parte integrante do conjunto urbanístico do Parque da Independência, onde se encontra também o edifício-monumento erguido em 1890, que hoje abriga o Museu do Ipiranga, além da Casa do Grito. Em sua cripta está instalada a Capela Imperial, construída em 1952 para abrigar os restos mortais de Dom Pedro I (embora o seu coração tenha ficado na Igreja da Lapa, no Porto), de sua primeira esposa, a imperatriz D. Leopoldina de Habsburgo, e também de sua segunda esposa, a imperatriz D. Amélia de Leuchtenberg. Dom Pedro I e D. Amélia foram trasladados do Panteão dos Braganças em Lisboa, e D. Leopoldina foi transladada do Convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro. O conjunto é tombado nas três esferas do poder executivo.

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Cr贸nica

O Meu Portugal 46


Quero partilhar com o mundo como é este Meu Portugal onde nasci e que aprendi a Amar. Comenta-se que é um país apaixonante pelo clima, pela história ou até pela gastronomia. Para mim é apaixonante, não pelo passado que viveu, ou pelo presente que vive ou mesmo pelo futuro que viverá; é apaixonante pelas pessoas que nele vivem. Sim, o Português reclama de tudo e, ainda acrescenta, “Isto vai cada dia pior, eu já avisei... Ninguém faz nada…” Mas este também é o português que fraseia no dia-a-dia: “Há um problema? Dá-se um jeito…” e “Onde comem 2, comem 3”. Quero falar deste cidadão do mundo que me deixa cheia de orgulho em pertencer a esta nação. Do passado fica a Saudade. No presente nasce a capacidade de resiliência e a esperança de um amanhã melhor. Do Futuro, que ainda ninguém conhece, fica a certeza de que daremos o nosso melhor. O português reclama, mas luta. Reclama mas ajuda quem precisa, é solidário, é lutador, é sonhador, é inovador e destemido. Eu pertenço a esta geração de Portugueses que se recusa a baixar os braços e a aceitar tudo, tal e qual nos é oferecido. Faço parte da geração que questiona, que pergunta: “Porque não fazer de forma diferente?”, “E porque não?”, “É agora que arrisco tudo, certo?”, etc. Este povo que luta, destemido, pois sabe que consegue mais e melhor, é o meu povo, é a minha nação. Sou natural de PORTUGAL e cidadã do Mundo. “Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade e do Mundo...” Fernando Pessoa Texto Joana Gouveia

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D.Pedro

Sete curiosidades sobre D. Pedro O sete é o número mágico quando falamos de D.Pedro : a 7 de Setembro de 1822, o príncipe regente proclamava, nas margens do Rio Ipiranga, a emancipação do Brasil do controlo da Monarquia portuguesa. Lembramos sete curiosidades sobre a vida do rei que a opinião pública provavelmente desconheça. 48


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- O nome – Rei com várias coroas D. Pedro ou Pedro de Alcântara é um nome Pelas incontáveis ligações familiares , D. fácil de fixar. O mesmo não podemos dizer Pedro chegou a ser o legítimo monarca do seu nome completo : Pedro de Alcântada Grécia, de Espanha e de Portugal ra Francisco António João Carlos Xavier de Paula em momentos da sua vida. Porém, as vicissitudes Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Ci- históricas levaram-no a abdicar dos seus direitos priano Serafim de Bragança e Bourbon . dinásticos - A descendência numerosa D. Pedro teve 18 filhos: oito legítimos sete e com a Imperatriz Leopoldina e um com a rainha D.Amélia - e dez ilegítimos cinco com a sua amante mais célebre, a Marquesa de Santos, um com a Baronesa de Sorocaba, irmã daquela, dois com uma francesa chamada Noemy Thierry, um com a uruguaia Maria Del Carmen, um com outra amante francesa, Clement Saísse e um com a monja portuguesa Ana Augusta.

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- Um rei melómano e criativo D. Pedro estudou música desde muito jovem e compôs diversas obras de mérito. São exemplos disso uma das versões do Hino da independência, o Hino da Carta - que foi o Hino nacional português até 1910 - uma missa, um Te Deum e diversas Sinfonias, além do Hino da Maçonaria . Também tocava vários instrumentos como violino, piano, fagote, Lundu, cravo, violão. Aprendeu com os melhores mestres como o grande músico e compositor português Marcos Portugal

– O grito de Ipiranga que não foi dado em Ipiranga. Momento simbólico, por excelência, o célebre grito de Ipiranga, segundo várias testemunhas, não foi proferido naquele local, mas anteriormente quando o rei gritou “ Independência ou morte”, numa reacção irada a uma carta das Cortes portuguesas

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– D. Pedro, o anti-esclavagista . Poucos Monarcas, no século XVIII, se manifestaram de uma forma tão veemente contra o esclavagismo. Para a posteridade deixou-nos uma frase forte e convicta “ eu sei que o meu sangue é da mesma cor que a dos negros” .

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– O rei morreu no Palácio de Queluz aos 35 anos. Fragilizado pela tuberculose, D. Pedro faleceu a 24 de Agosto de 1835, na mesma cama onde tinha nascido

Texto António Santos

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D.Pedro

Entrega do coração de Dom Pedro IV à cidade do Porto

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