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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Agosto/2015 • Edição 03

Não vejo vantagem em ser

professor

A fala de Reginaldo Alberto de Almeida, diretor da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de Sâo Paulo), traduz o sentimento de muitos professores que atuam na rede pública de ensino. A profissão tem seus altos e baixos: orgulho de fazer parte do desenvolvimento de um aluno versus a não valorização pelo governo. Página 3

Energia Limpa Projeto “Pedal Sustentável”, do professor José Carlos Armelin, une ciclismo, mecatrônica e música. Com um sistema acoplado ao pneu da bicicleta é possível gerar energia a cada pedalada e alimentar diversos tipos de equipamentos eletrônicos. Página 09

Luta pela medalha

Novos empreendedores O Brasil tem cerca de 4,6 milhões de mocroempreendedores individuais. De acordo com o Sebrae, 37% dos microempresários ativos no mercado abriram suas empresas impulsionados pelo

Aperfeiçoados pelo intercâmbio Buscando aperfeiçoamento profissional e acadêmico muitos alunos recorrem ao intercâmbio universitário. O programa do governo federal Ciências Sem Fronteiras concedeu em 2014, 77.806 bolsas. Estudantes comentam os benefícios e dificuldades enfrentadas. Página 5

O Gigante nunca dormiu Em 2013 a população brasileira, insatisfeita, foi às ruas protestar e reivindicar direitos. O gigante - que somos nós, o povo brasileiro - nunca esteve adormecido. Não foi a primeira vez que a população buscou mostrar a insatisfação. Para professores, o descontentamento existe e não é exclusivamente dos brasileiros. Página 7

simples desejo de trabalhar de maneira independente. Conheça os pontos de vista de jovens que conseguiram obter sucesso e também de quem se deu mal. Página 6

Atletas brasileiros de Taekwondo treinam em Piracicaba e sonham com a medalha olímpica para superar a falta de estrutura e incentivo do esporte no país. De acordo com professores do esporte, no ‘país do futebol’, falta distribuição de recursos e categorias de base. Página 16

Direto da

Membros do Coletivo Piracema, buscam a forma de alimentação orgânica para evitar o consumo de produtos contaminados por venenos agrícolas. O

Roça

Coletivo conta com o Direto da Roça, grupo que há dois anos busca aproximar o agricultor familiar orgânico local do consumidor. Página 15

FUNK O universo por trás do senso comum Apesar de ser um dos ritmos mais ouvidos no Brasil o Funk ainda sofre do “ódio gratuito” e vê no preconceito um obstáculo a ser superado. Confira o depoimento de quem trabalha no meio e um ensaio fotográfico para desmistificar o gênero que mais atrai pessoas para os bailes no país. Página 10


EDITORIAL

O árduo trabalho de educar o futuro do país

É

Jornal de Classe edição 03 • Agosto/2015 EXPEDIENTE Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) Reitor: Gustavo Jacques Dias Alvim Diretor da Faculdade de Comunicação e Informática: Belarmino Cesar Guimarães de Costa Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão Orientador de Conteúdo e Editor Responsável: Wanderley Florêncio Garcia (MTB MG-06.041) Orientação de Fotografia: Joyce Guadagnucci Editores Assistentes: Luana Marcela Schimidt e Vanessa Cristina Zumesteen Editor Assistente de Imagem: Wellington Lima Repórteres e Diagramação: Andressa Cristina Rosa, Carolina Busolin Carettin, Caroline Metler, Daniela Boaventura de Moraes, Felipe César de Caires, Gabriela Morilia, Gabriela Tome Biasini, Isabela Andia, Jéssica Talita Jurgensen Vaz, Joel Felipe Horácio, Julia Hortenci Pereira, Luana Marcela Schimidt, Marina Casini Mattus, Nathalia Aparecida Salvador, Thiago Asheley Peres, Vanessa Cristina Zumesteen, Wellington Adriano Costa Lima Projeto Gráfico e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) Versão digital: soureporter.com.br Correspondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rod. Do Açúcar, Km 156 - Cx. Postal 68 – Tel.: (19) 3124.1676 E-mail: wfgarcia@unimep.br

de conhecimento de todos que os professores que atuam na rede estadual de ensino não têm o reconhecimento que deveriam. Podemos até arriscar dizer que eles não têm reconhecimento algum. Porém, as dificuldades enfrentadas por esses profissionais não param por ai. Além da falta de estrutura da maioria das escolas públicas, os professores sofrem com a falta de segurança, a intolerância dos alunos e muitas vezes ameaças e agressões. Trabalhar com educação exige dedicação do profissional. Em abril deste ano, por exemplo, alguns professores do estado do Paraná foram agredidos pela polícia ---na praça próxima à assembleia legislativa, onde havia a votação--- em votação na Assembleia Legislativa do Paraná. Os protestos foram contra o projeto de lei que promovia mudanças no custeio do Regime Próprio da Previdência Social dos servidores estaduais. Na manhã da votação, os servidores tentaram chegar até a Assembleia para participar da sessão. Os professores foram barrados por um cordão policial e houve confronto; vários professores ficaram feridos. No local da manifestação, bombas, bala de borracha, cachorros, entre outros ---outras ferramentas de coerção policial---, estavam prontos. Prontos para machucar os manifestantes. O professor é – um dos pilares que ajudam na melhoria da sociedade? --o pilar da sociedade, um profissional fundamental para a formação do ser humano. É preciso lutar por seus direitos, por melhores condições de trabalho e mais dignidade para essa classe. O devido reconhecimento aos professores não pode ser cobrado só do governo, mas também de toda a sociedade.

Vozes da liberdade Gabriela Tome Biasini

gabrielatomeb@gmail.com

M

ahatma Gandhi, idealizador e fundador do moderno Estado indiano, disse em certa ocasião “estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza”. Há exatamente 51 anos, o Brasil sofreu um golpe militar, que durou 21 anos. Entre mortos e desaparecidos, foram divulgados os nomes de 434 pessoas, cidadãos que lutaram por um país melhor e que não fecharam os olhos e a boca para as atrocidades que se colocavam a sua frente. Eram homens e mulheres que tiveram força para lutar por liberdade. Hoje, ao completar 30 anos de redemocratização, cidadãos pedem a intervenção militar. E chegaram ao extremo de solicitar a volta da ditadura. Esse regime deposita todo poder do Estado em um único indivíduo, é antidemocrático onde não existe participação da população. Principalmente para os jornalistas, esse regime é sinônimo de tortura, morte e perda, pois somos defensores da liberdade, sobretudo da liberdade de expressão, do direito de cada um ser e falar o que acha certo, mesmo que ninguém concorde. Não devemos, jamais, nos esquecer de todas as lutas diárias travadas durante o período do regime militar no país, de todas as mortes e desaparecimentos. Não podemos calar nossas vozes nem as vozes que nos ensinaram a não desistir de sonhos, mesmo que eles pareçam impossíveis. Pedir a intervenção do exército é o mesmo que ignorar todos os povos que lutaram por liberdade e países melhores e democráticos. Independentemente de ser de esquerda ou de direita, é necessário sermos defensores da liberdade, que demorou para ser conquistada e não deve ser descartada por qualquer motivo imaginável. As vozes que clamaram e clamam por esse direito, nunca devem cessar. Segundo Robert Brasillach, “só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la”. Ditadura nunca mais.

Uma ameaça foi detectada Wellington Lima

wellingtonlimago@gmail.com

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ados recentes divulgados pela União Internacional das Telecomunicações, órgão vinculado a ONU, mostram que 3,2 bilhões de pessoas ao redor do mundo estão conectadas à internet. Isso é quase metade da população do planeta acessando o mesmo ambiente, lendo os mesmos conteúdos, cruzando a fronteira do espaço e do tempo e criando uma dependência virtual que cresce a cada segundo. Cada vez mais o ser humano depende da máquina, dos sistemas virtuais e da tecnologia para viver o dia-a-dia. Tarefas simples como uma lista de supermercado, hoje, é feita virtualmente; assim

como tarefas mais complexas como uma transação bancária de alto valor também é feita quase que totalmente pela internet. Andy Clark em seus estudos apontava que o ser humano chegaria ao ponto de viver como ciborgues, ou seja, uma mescla de matéria orgânica e inorgânica, homem e máquina. Isso já acontece. Talvez não da forma idealizada pela ficção científica, como os androides do filme “Eu, Robô”, mas através do tão superestimado smartphone – para começar. O homem vem utilizando dos meios virtuais para criar uma extensão do próprio corpo e mente. Clark explica em detalhes como o a “mente estendida” funciona na prática e esse “fenômeno”

pode ser visto de forma clara através das redes sociais. Independente de ser certo ou errado, o fato é que as pessoas depositam toda sua memória e história em mídias físicas e virtuais, por exemplo as fotografias de uma viagem, o vídeo de um aniversário... Coisas que apenas o cérebro humano seria capaz de guardar, hoje vem sendo armazenada em HDs cada vez maiores e mais potentes. Deixando de lado o ponto positivo desse fenômeno – a praticidade no armazenamento e compartilhamento de conteúdo, aponto para o lado que mostra o quanto as pessoas vem vivendo vidas cada vez mais superficiais, deixando de se aprofundar em momentos e experiências para armazenar o mais rápido possível toda

a informação assimilada em qualquer situação. É provável que o tempo das “selfies” esteja vivendo seu ague, entretanto, um estudo mais detalhado se faz necessário a partir do momento em que entregamos toda a capacidade humana às máquinas, desde as simples tarefas até as nossas próprias memórias. O próximo passo desse fenômeno relativamente novo é o que já vimos em diversas teorias: a inteligência artificial. O quão isso é perigoso ou útil para a humanidade só irá aparecer daqui há um tempo, mas é importante que as “autoridades” no assunto comecem a fazer suas projeções de futuro para que o tiro não saia pela culatra e toda a criação tecnológica se volte para os criadores, nós.


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Professoras estaduais contam como gostam da profissão e acreditam num futuro melhor pela educação Joel Felipe Horácio jofeho@hotmail.com

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ar aulas não é uma tarefa fácil. São necessários vários anos de estudo para desempenhar o ofício de professor e é preciso habilidade para conseguir atender aos mais diversos tipos de pessoas. A professora Marlene Guiselini Benedetti dá aula há 44 anos. Aos 69, é professora de história, há 20 anos, da ETEC Trajano Camargo, em Limeira. Para desempenhar bem sua função, Benedetti acredita que é fundamental ter liberdade para poder trabalhar diversos conteúdos de formas diferentes com seus alunos. Além disso, a docente defende que é importantíssimo que seus alunos sejam desprendidos dos pais: “temos que ajudar o aluno a procurar seu caminho e desenvolver sua autonomia. Às vezes sinto que é como um trabalho voluntário: dou ferramentas para que o estudante se solte de proteções paternais; tanto que, quando há desavenças, gosto de resolver o problema diretamente com ele ou ela”. “Nunca quis ser professora, foi uma coisa que aconteceu”. Reflexiva, a profissional contou que gostaria de ter seguido carreira acadêmica em pesquisa. Apesar da afirmação, revela que busca sempre fazer seu melhor porque gosta dos alunos e consequentemente da sua profissão. Satisfação Uma grande recompensa pelo empenho em seu trabalho é a conquista do sucesso pelo aluno: “A similaridade entre professora e mãe é que ambas querem que o filho/ aluno se dê bem”, aponta Marlene. Buscando o sucesso dos estudantes, a também educadora Angela Maria Sia, atual vice-diretora da escola estadual Prof.º. Lázaro Duarte do Páteo, acredita que cabe aos profissionais direcionarem seus alunos na busca de um futuro melhor. “Como educadora, mostrar para as crianças e adolescentes outras visões; de que há muito a se fazer na vida. É através da educação que eles podem escolher um futuro melhor para eles, para a cidade e para o país”.

Dificuldade Momentos antes da entrevista, a vice-diretora Angela Maria Sia teve que substituir a atendente da recepção, que estava consertando uma impressora. Para ela, faltam funcionários no setor administrativo e diz que o corte de verba e de funcionários foram os golpes mais sentidos na escola.

Diferentemente de Guiselini, Sia, que atua na escola Lázaro há quase 15 anos, sempre quis ser professora. Sorridente, conta que sempre gostou de ler e tomou facilmente a decisão de cursar letras, idealizando a profissão e buscando fazer sua parte quanto à “transformação do mundo pela educação”. Marlene acredita que o problema do Brasil é não tratar a educação como prioridade e as dificuldades que a educadora enfrenta vêm com isso – muitas vezes a falta de maturidade por parte dos alunos faz com que estes não tenham total noção da importância das aulas. “Na escola, quando o ambiente é de ‘time’, quando há respaldo por parte da coordenação e direção na tomada de decisões ou medidas mais drásticas, é possível desenvolver melhor o trabalho”. Emitindo opinião que complementa a da professora da ETEC de Limeira, Sia acredita que a geração atual está habituada a obter coisas de maneira fácil, pois os pais costumam satisfazer praticamente todas as vontades dos filhos, fazendo com que eles “lutem pouco pelo que querem”. Além disso, a educadora diz que a mídia também contribui para isso, transmitindo ideias de que a vida é muito fácil. Por isso, segundo a professora, que se diz assustada com a situação, os alunos têm dificuldade em entender que para estudar é necessário esforço e dedicação. Já na função de vice-diretora, Angela conta que ficou surpresa com suas muitas novas tarefas. “Quando você fica na sala de aula, o mundo fica mais fechado. Agora, além de estar voltada para a parte do aluno, tem as questões administrativas e um maior envolvimento com o público responsável pelos alunos”.

O que me leva a continuar é que temos alunos e famílias que acreditam na transformação do mundo através da educação” Angela Maria Sia

Marlene leciona para turma do 3º ano do ensino médio

Joel Felipe

Giz, força...coração!

Greve por salário e condições de trabalho “Não vejo vantagem nenhuma em ser professor, hoje: é uma profissão desvalorizada, tendo em vista que estamos em greve há mais de 50 dias e o governo alega que não está tendo greve”. É assim que Reginaldo Alberto de Almeida, Diretor da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) Subsede-Limeira inicia a entrevista que concedeu ao Jornal de Classe. Professor de matemática e física desde 1990, Reginaldo aponta que os profissionais formados em nível superior recebem, em média, 75% a mais do que os professores: “O PNE (Plano Nacional de Educação) prevê equiparação de salários dos professores formados com os demais profissionais de nível superior. É preciso que tenhamos esse aumento para o piso se equiparar aos demais profissionais”. A média salarial do profissional de nível superior é de R$ 4,2 mil. A dos professores estaduais, R$ 2,4 mil – a Apeoesp quer a equiparação ao longo de cinco anos.

Reginaldo explica que outra reivindicação importante é a redução da quantidade de alunos por sala de aula, sendo que atualmente há salas no estado com 40, 50 e até 80 alunos matriculados – o sindicato requer que esse número se limite por volta de 25. De acordo com o diretor da subsede, o governo estadual não cumpre com a lei 11.738/2008, que institui piso salarial nacional dos professores e que regula que a jornada do professor em sala de aula seja de dois terços do tempo total por semana, ou seja, entre 26 e 27 horas com os alunos para uma carga de 40 horas. Entre os motivos que levaram à greve, o decreto estadual 61.132/2015 – que define, entre outras normas, reajuste zero e redução de pagamentos em horas extras para todos os funcionários públicos do estado. Apesar disso, houve reajuste de 4,7% para o governador, vice e os secretários estaduais. “Desde o ano passado estávamos nos

reunindo e cobrando ações por parte do governador, alertando-o que poderia haver greve para 2015. Além disso, professores da ‘Categoria O’ possuem contratos vergonhosos: não podem faltar mais que duas vezes ao ano e têm que, obrigatoriamente, ficar por 200 dias sem dar aulas.” O diretor enfatiza que o governo estadual vem adiando a negociação salarial, alegando que havia necessidade de se aguardar a definição do orçamento anual para que a possibilidade de reajuste fosse analisada. Reginaldo diz que a data base para discussão do assunto era prevista para março e foi adiada para julho. “A nossa greve, considerada legal, é a única em que o governo desconta salário dos grevistas”. Houve corte de verbas para as instituições de ensino públicas, inclusive diminuição de um coordenador por escola, além de cortes nas diretorias de ensino, segundo o professor de física e matemática. Para ele, a greve estadual

não existiria caso houvesse mais estrutura e condições de trabalho. “O conteúdo é igual para o estado inteiro, não há o mínimo de atenção para relacionar o conteúdo com diversos cotidianos no estado”. Com fala franca e sucinta, o profissional expõe a atual opinião após quase três décadas exercendo a função: “Acho que a tendência não é melhorar. Tenho já 26 anos de magistério. Já gostei muito de dar aula, em meus dez anos iniciais. Achava que poderia melhorar, acreditava que os governos se interessariam em contribuir com a educação”, finaliza. A Secretaria Estadual de Educação posicionou-se em nota dizendo que “o salário inicial de um professor da Educação Básica, que leciona para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio numa jornada de 40 horas semanais, é de R$ 2.415,89, valor 26% maior do que o piso nacional. Em quatro anos, houve aumento de 45%”. Joel Felipe

Além dos livros, cadernos de anotação são materal para os professores


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ONDE ESTÃO OS

ESTAGIÁRIOS

vanessazumstein@hotmail.com

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número de estudantes matriculados no ensino superior dobrou em 10 anos, porém a quantidade de alunos fazendo estágio é muito baixa: cerca de 10% deles conseguem ingressar no mercado de trabalho durante o período da graduação. Para o presidente da Associação Brasileira de Estágios, Carlos Henrique Mencaci, as vagas não correspondem à demanda, “Dos mais de 7 milhões de alunos do ensino superior, apenas pouco mais de 10% conseguem um estágio, é preciso incentivar a abertura de vagas pelas empresas. Afinal, o estágio é a principal porta de inserção dos jovens no mercado de trabalho”, diz. Mencaci ressalta os benefícios da contratação de estagiários: dispensa em encargos sociais trabalhistas como INSS, FGTS e 13º salário, isenção de multas rescisórias e mão de obra sem vícios, capaz de ser moldada conforme a visão, missão e valores da organização. “É uma justa troca para incentivar e ampliar os programas de estágios em todo país” afirma. A estudante do 3º semestre de Pedagogia da Unimep, Isabela Souza, procura uma oportunidade de ingressar no mercado por meio de estágio e não consegue. “Acredito que o estágio é uma porta aberta para o meu crescimento e desenvolvimento por trabalhar a prática, pedagogia é um curso que tem muita teoria, ingressar num estágio no início da graduação me proporcionaria um adicional de conhecimento”, pontua. A estudante conta que confere todas as oportunidades divulgadas pela Central de Estágio da Universidade, mas sempre se depara com vagas para alunos do 4º semestre em diante. Isabela está disposta a deixar o emprego que tem para ingressar num estágio. Estudante do 9º semestre de Psicologia na Unimep, Juliana Rocha conta que encontrou estágios com remuneração dos muito baixa e isso a impediria de custear os estudos. Assim, optou por um emprego numa área diferente e que pudesse ser conciliado com um estágio voluntário semanal. Juliana fala também da importância para o aluno em iniciar a carreira durante a graduação, “O estágio foi importante para que eu pudesse compreender muitos conceitos teóricos vivenciando-os na prática, além de me ajudar a decidir sobre qual área eu gostaria de atuar”. Letícia Campos, estudante do 5º semestre da Faculdade de Educação Física de Sorocaba – FEFISO, iniciou seu estágio no 3º semestre do curso. “Uma das minhas dificuldades foi que a maioria das empresas queriam um estagiário com experiência, o que não faz muito sentido”, conta. A estudante diz que o estágio foi bom para o seu rendimento na faculdade, melhorando sua desenvoltura e entendimento de conteúdos teóricos.

Pesquisa aponta que apenas 10% dos alunos matriculados no ensino superior estão atuando na profissão escolhida durante a graduação

Isabela Souza está sempre de olho nas oportunidades fornecidas pela Central de Estágios, mas até agora não conseguiu um estágio

Vanessa Zumstein

Vanessa Zumstein

TEMOS VAGAS! A maioria de nossos alunos já trabalha e muitas vezes a estabilidade e a remuneração fazem com que o estudante permaneça em seu emprego, afinal precisa custear seus estudos

Central de Estágios da Unimep e Centro de Integração Empresa-Escola falam sobre a demanda de vagas e alunos

A

supervisora do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) em Piracicaba, Marisa Cury, explica que as ofertas de estágio são divulgadas através do site www.ciee.org.br, onde os estudantes podem se cadastrar para concorrer às vagas. Marisa dá dicas para o aluno se destacar entre os demais candidatos, “O aluno deve investir em si próprio, fazendo cursos para se aprimorar, como línguas e informática”. A supervisora aponta a importância de iniciar um estágio paralelo à graduação, “Além de experiência prática, possibilidade de efetivação ao término do estágio e remuneração

que auxilia nas despesas do estudante, o estagiário pode aprimorar a teoria oferecida em sala de aula” diz. A Unimep tem cerca de 11 mil alunos na graduação e destes, aproximadamente 1,3 mil fazem estágio (sem incluir os estágios obrigatórios em alguns cursos). Segundo a coordenadora da Central de Estágios, Suellen Estevam Bortolotti, de 2013 para 2014 houve um crescimento de 41% no número de estagiários, fechando o ano passado com 2.425 alunos estagiando. “Devemos considerar que a maioria de nossos alunos já trabalha e muitas vezes a estabilidade, remuneração e outros benefícios faz com

que o estudante permaneça em seu emprego, afinal precisa custear seus estudos” comenta Bortolotti. Segundo ela, as empresas tendem a selecionar estudantes da metade do curso em diante, mas lembra que isso não é regra. Ela orienta os estudantes a manterem-se conectados às notícias e oportunidades, atualizar o currículo, adaptá-lo para cada oportunidade, destacando informações que tenham mais paridade com os requisitos da vaga pleiteada. Além disso, devem se cadastrar nos sites das empresas de seu interesse e em agências ou agentes de integração como o CIEE.

LEI DO ESTÁGIO O presidente da Associação Brasileira de Estágios (ABRES), Carlos Henrique Mencaci, destaca alguns pontos da, Lei do Estágio (11.788/2008): Qualquer aluno, a partir de dezesseis anos pode ser estagiário e a contratação é regulamentada através do Termo de Compromisso, onde deve constar que o estudante está coberto por um seguro de acidentes pessoais. O estágio pode ser obrigatório ou não. Sendo o estágio não obrigatório, desenvolvido como atividade opcional, as horas são acrescidas à carga horária regular. A jornada de estágio é de no máximo seis horas diárias e 30 horas semanais, o tempo máximo de permanência na mesma empresa é de dois anos, a menos que se trate de um aluno portador de deficiência. Já o estágio obrigatório se caracteriza por ser definido no projeto do curso, sendo sua carga horária exigida para obtenção do diploma. A Lei do Estágio, pode ser lida na integra no site da ABRES www. abres.org.br, na aba “legislação”.


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ESTUD NDO FORA tencial que a oportunidade possui de melhorar a vida do estudante a curto, médio e longo prazo”, conclui.

Jéssica Jurgensen

jessica.talita@hotmail.com

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intercâmbio é procurado por alunos que visam novas experiências profissionais e estudantis, sendo incentivado por instituições especializadas, universidades e por programas do governo federal, como é o caso do Ciências Sem Fronteiras. De acordo com dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no ano de 2014, 77.806 bolsas foram implantadas. Deste montante, 61.534 bolsas para a graduação sanduíche no exterior que é uma modalidade em que o estudante do Ensino Superior cursa um determinado período da faculdade fora do país de origem e, posteriormente, retorna para finaliza-la no Brasil. Entre os cursos permitidos pelo programa, os que mais realizam o intercâmbio são Engenharias e demais áreas tecnológicas, seguidos de Biologia, Ciências Biomédicas e de Saúde e Indústria Criativa. Os países mais procurados pelos estudantes são Estados Unidos, Reino Unido e França. Bruno Barreto, 22, é estudante de Engenharia Florestal na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e participa do programa Ciências Sem Fronteiras. Atualmente, Barreto está na Austrália e comenta sobre como é estudar fora do país. “É uma experiência maravilhosa. A estrutura, o comprometimento das pessoas, a educação, praticamente tudo é superior ao Brasil”, afirmou o universitário. O Ciências Sem Fronteiras busca, por meio do intercâmbio, expandir e internacionalizar a ciência e a tecnologia. De acordo com o site oficial do programa, são previstas 101 mil bolsas de estudos em quatro anos para que seja possível que estudantes da graduação e da pós realizem estágios no exterior. Entre os benefícios oferecidos estão a mensalidade de bolsa, auxílio-instalação, auxílio material didático, passagens áreas e seguro saúde. Os valores do benefício variam de acordo com as modalidades do programa e o país destino. A bolsa possui duração de 12 meses podendo ser, posteriormente, estendida. Os valores de cada bolsa, assim como demais informações sobre o programa, podem

ser vistos pelo site cienciasemfronteiras.gov.br. O intercâmbio pode ser realizado ainda por parcerias entre faculdades ou instituições especializadas no assunto. Marilia Vianna Borges, 21, é estudante de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e, atualmente, realiza o intercâmbio por meio da parceria de sua universidade com outra em Portugal. “A minha universidade tem parceria com a da Beira Interior, em Portugal. Eu precisei enviar vários documentos para a universidade de Portugal, entre eles meu histórico, com a minha média global, notas e outras informações. Então dependendo do meu desempenho eu seria aceita ou não pela universidade”, explicou a universitária. Vida no exterior: e agora? Marilia comenta sobre o que a motivou a escolher o país destino. “Sempre quis conhecer a Europa, e tinha medo de não passar no teste do Inglês, apesar de já ter o curso. O português me pareceu mais seguro, por isso tentei em Portugal”, finalizou Marilia. Para sentir segurança ao realizar um intercâmbio é necessário o preparo na língua nativa do país destino ou ter no mínimo domínio em inglês. A professora de inglês Tabata Talita Jurgensen afirma que o intercâmbio é uma forma interessante de conhecer novas culturas, perspectivas, conhecimentos e opiniões, além de ser

um modo de inserção em uma sociedade altamente globalizada, o que amplia horizontes. No momento de realizar intercâmbio, o preparo é fundamental. “É bom que o aluno tenha ao menos um conhecimento mínimo, para tirar um bom proveito da experiência, mas quanto mais conhecimento tiver a respeito da língua mais rica será a experiência”, conclui Tabata. Renata Fonseca Lima é Gerente de Recursos Humanos e relata que saber um idioma além do nativo, é bem visto pelas organizações. “O intercâmbio irá contribuir para um desempenho mais abrangente, o que pode ajudar na resolução de problemas e conhecer outro idioma é ter uma ferramenta de comunicação universal. As empresas, atualmente, têm interesse em diversificar seu ramo de atuação com a contratação desses profissionais”, conclui a especialista. Adaptação Morar e estudar em outro país apresenta dificuldades, já que é preciso passar por adaptações climáticas, culinárias e linguísticas, além de ter de se acostumar a viver longe da família e amigos. Pollyanna Dibbern Asbahr, 23, é ex-estudante de Gestão Ambiental na UFSCAR e comenta a mudança. “As principais dificuldades ao chegar a outro país, acredito eu, sejam a adaptação ao modo de vida, horários, clima, costumes e a comunicação. As regras

mudam, o clima é outro, a alimentação, utensílios e uso de recursos são diferentes. A saudade também surge já nos primeiros dias”. Por que intercâmbio? A escolha do intercâmbio vem por diversas maneiras. Vinicius Pedroso de Moraes, 20, é estudante de Letras e Tradução na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e foi recentemente para o Japão. “Queria expandir meus horizontes e realizar um sonho de infância”, afirma ao explicar o porquê de sua escolha e complementa falando sobre a experiência: “O intercâmbio pode ajudar as pessoas em múltiplas áreas. Desde aprendizado de línguas até trabalho e ética. A experiência é fantástica!”, completou o jovem. Já Marilia conta que fazer intercâmbio nunca foi um sonho, na verdade a estudante foi encorajada pelos pais. “Meus pais sempre tiveram esse sonho, então fui muito incentivada por eles. Hoje, aqui em Portugal, me sinto feliz com a experiência e acho ela fundamental para crescer, criar responsabilidades e amadurecer nas situações difíceis enquanto não se tem aquele porto seguro que é a família. A gente também aprende a valorizar e amar as pessoas que ficaram no Brasil”, conclui. Com os diferentes programas de intercâmbio, mudam as condições. Diferente de Vinícius que o programa era específico para o Japão, o de

Bruno Barreto dá a chance de escolher o local destino. “Escolhi a Austrália porque estudaria numa das melhores universidades do mundo na minha área, o que valorizaria ainda mais o meu currículo. Além disso, se fosse pra escolher um destino para conhecer, a Austrália provavelmente seria o mais difícil, já que é muito caro. Por isso, aproveitei a oportunidade para juntar três aspectos positivos com uma só decisão”, afirmou o universitário. Desafio que vale a pena A ex-universitária Pollyanna ressalta que o intercâmbio deve ser mais incentivado devido as experiências que proporciona e a importância que passa a ter na vida de quem o realiza. “O intercâmbio trata-se de uma atividade desafiadora, enriquecedora e que permite além de aprendizado acadêmico e profissional, muitas conquistas pessoais. A prática do intercâmbio lhe permite ver e sentir o mundo com outro olhar, de outra perspectiva, e com isso, se compreende mais sobre a vida”, justificou a recém formada. Em meio a tantos aspectos positivos que a experiência proporciona, muitos esquecem o objetivo que os levou até o país: estudar. Por isso Barreto acrescenta que é importante valorizar a oportunidade. “Acredito que mais importante do que incentivar o intercâmbio é ensinar aos candidatos o valor que essa oportunidade tem e o po-

Gringos no Brasil Stefanie Horstmann é estudante de administração e, ao contrário dos demais estudantes citados, é alemã e veio fazer intercâmbio no Brasil, onde estudou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira. “Eu procurei fazer algo em outro país para conhecer novas pessoas e por querer ver como é trabalhar em outro país”, conta Stefanie. A jovem alemã realizou o intercâmbio por meio da Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales, conhecido atualmente apenas como AISEC, recebendo orientações a respeito da viagem e dos estudos. Tal programa oferece quatro opções de intercâmbio: cidadão global, talentos globais, jovens talentos e hospede um intercambista. A estudante comenta que o mais interessante de realizar o intercâmbio foi notar as diferentes formas de trabalhar e estudar de um país para o outro. “Não houve dificuldades reais. As pessoas foram realmente legais, me ajudaram muito e foi fácil trabalhar com eles”, justificou Stefanie. A alemã conta ainda que o intercâmbio deve ser incentivado por todo o mundo. “O intercâmbio faz com que abra a mente. Você consegue conhecer novas pessoas e ver como elas trabalham. Além de aprender uma nova língua e visitar outro país”, conclui a universitária. Mercado de Trabalho Grande parte dos jovens que realizam intercâmbio acreditam que será um ponto favorável no momento da contratação em uma empresa. A gerente Renata afirma que o mercado de trabalho ainda não está totalmente apto para contratar um funcionário que tenha tido uma preparação ou formação internacional, mas afirma que é um ponto favorável para o candidato. “É um fator relevante, pois o funcionário que passou por esta experiência possui contato com outras pessoas e culturas, o que pode ajudar na construção de um networking internacional que é um fator importante em cargos com maior responsabilidade dentro de grandes empresas”, justificou Renata.

A prática do intercâmbio lhe permite ver e sentir o mundo com outro olhar, de outra perspectiva e com isso, se compreende mais sobre a vida Intercâmbio não significa apenas estudo; Marilia aproveita o tempo na Europa para conhecer Paris

Pollyanna em meio às lembranças de seu intercâmbio na Alemanha; postais e livros fazem parte da bagagem de volta


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economia

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Negócios

independentes Wellington Lima

wellingtonlima90@gmail.com

A ideia surgiu durante uma madrugada, quando Isabela Sandoval, aos 18 anos, percebeu que possuía peças demais em seu guarda-roupa. O primeiro anúncio foi feito na internet horas depois e em poucos minutos a primeira oferta chegou. Desde então, a jovem não parou mais e hoje gerencia uma loja física e virtual que, além de atender a cidade de Rio Claro e região, faz entregas para quase todos os estados brasileiros.

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sabela faz parte dos cerca de 4,6 milhões de microempreendedores individuais que atuam no Brasil. Os dados, divulgados pelo Portal do Empreendedor, também apontam que só o estado de São Paulo concentra 25% desses empresários, o que corresponde a mais de um milhão de microempresas abertas por pessoas físicas. Esses números mostram um crescente interesse por parte da população em sair da rotina de um trabalho assalariado para se aventurar no mundo dos negócios empresariais. Estudante de design de interiores, Isabela foi impulsionada pelo desejo de fugir da rotina cansativa como funcionária de alguma empresa e se lançou no mercado com uma loja de roupas voltada para o público “indie”. “Depois que terminei a escola e vi meus amigos começando a trabalhar, percebi

que não queria isso. Foi então que, depois que vendi minha primeira peça de roupa na internet, vi que a ideia poderia dar certo. Esse foi o primeiro passo para construir a Bixo Grillo”, relata Isabela. Esse também foi o caso do técnico em informática Renato Sanches, 26, que há nove meses abriu uma microempresa que presta serviço de assistência técnica em domicílio. Para o técnico, trabalhar por conta o daria mais tempo para se dedicar a outros projetos pessoais. “Passar oito horas por dia em um escritório me tomaria um tempo que eu poderia estar gastando em outras coisas. Assim, me veio a ideia de trabalhar por conta e vi na assistência técnica particular uma rotina mais interessante que a das grandes empresas”, comenta Renato. De acordo com o último levantamento do Sebrae, 37% dos microempresários

ativos no mercado abriram suas empresas impulsionados pelo simples desejo de trabalhar por conta, que é o caso de Renato. Outros 26% se lançam no ramo empresarial após identificarem uma oportunidade de negócio. O Sebrae, que é referência quando o assunto é abertura e gerenciamento de negócios e empresas, oferece diversos cursos para capacitar o novo empresário no mercado de trabalho. A concorrência por um espaço ao Sol é grande e muitas vezes o preparo prévio antes de colocar o projeto em prática é o que vai garantir o sucesso ou aproximar o empresário do fracasso. Para a fundadora da Bixo Grillo o estudo foi fundamental. A microempresária comenta que apesar da pouca idade, “quando se tem um objetivo é preciso bastante preparo para alcança-lo”, além de que “o preparo e o estudo não terminam quando o negócio é aberto, mas sim é aprimorado para que o serviço oferecido ao cliente seja sempre melhorado”. Segundo o Portal do Empreendedor, 22% das empresas fecham no primeiro ano por falta de preparo principalmente na hora da formação da carteira de clientes. Atendimento, serviço prestado, divulgação e fidelidade são fundamentais na hora de conquistar a clientela. Esse foi um dos motivos que dificultaram a vida do técnico em informática quando começou a oferecer seu trabalho. “Foi complicado porque hoje é muito fácil saber usar o computador.

Aos 18 anos, Isabela colhe os frutos de determinação e organização com sua loja de roupas

Difícil recomeçar

Cidadãos com mais de 40 anos encontram dificuldade em voltar ao mercado de trabalho Gabriela T. Biasini

gabrielatomeb@gmail.com

N

a última década, o comportamento do emprego formal no Brasil foi instável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a criação de vagas formais, que em abril

de 2003 era de 154.024, em abril deste ano foi de -97.828. Pessoas com idade mais avançada reclamam deste cenário pela dificuldade em se recolocar no mercado de trabalho, mesmo tendo um ou mais diplomas universitários. Para o analista de Recursos Humanos, Roberto Sarto, existem diferenças sobre o

mercado de empresas grandes e pequenas. Segundo Sarto, empresas multinacionais são fechadas para o perfil de trabalhador com mais de 40 anos. “Já as empresas pequenas costumam dar oportunidades, mas estas pessoas têm que se sujeitar com salários e benefícios menores”, explica. A maioria das pessoas que

Muitas vezes uma pesquisa na internet já resolve o problema”, comenta. Quando a dificuldade está na relação com o cliente, vale tudo para conquistar a fidelidade das pessoas. Renato passou então a oferecer diferenciais no serviço prestado que chamavam a atenção do público

alvo. O técnico passou então “a oferecer brindes, serviços extras, e isso abriu as portas para garantir a confiança dos clientes” que tem hoje. Se o assunto é dinheiro, todo cuidado é pouco. Tanto para Isabela, com sua loja de roupas, como para Renato, com seu serviço de infor-

mática, o preparo e o estudo antes e depois de abrir uma empresa é fundamental para o sucesso. Além da parte técnica é importante que se tenha prazer no trabalho realizado. “O fracasso é mais comum quando a pessoa não tem paixão pelo que faz”, finaliza Renato.

Quando a “coisa” NÃO dá certo Empresas são abertas diariamente, porém, nem todas conseguem se manter no mercado empresarial. De acordo com o Sebrae, os principais motivos para o fechamento de uma empresa são a falta de planejamento prévio, a má gestão empresarial e a ausência de comportamento empreendedor. Os três motivos foram os responsáveis pelo fechamento da empresa de Fábio César, 30, que em 2014 precisou parar as atividades de seu pequeno negócio. “No começo as dificuldades parecem te bater no rosto, mas, quando se tem um comportamento de empresário, você nem sente. Infelizmente, não foi o meu caso”, comenta. Fábio teve sua empresa do setor alimentício aberta em

2012, investiu muito capital, porém, viu seus planos irem por água abaixo quando, após quase dois anos de abertura, não conseguiu reaver a quantia investida. “Eu estudei bastante antes de abrir minha lanchonete. Quis fugir das grandes franquias e parti com a coragem

não conseguem colocação, neste caso especifico, são as que ficaram paradas por mais de cinco anos. Uma das justificativas dada pelas empresas, segundo Sarto, para a não contratação dessa mão de obra geralmente é focada no grau de experiência do profissional e na falta de condições em remunerá-lo de forma adequada. Ainda de acordo com Sarto, existe uma faixa etária limite com que as empresas costumam trabalhar, e tudo depende da função que exercem dentro destas corporações. “Gerentes podem ser mais velhos, já analistas não podem ter mais de 40. O pretexto das

empresas é que profissionais há muito tempo parados são considerados desatualizados sobre os programas e softwares recentes”, explica o analista. Formada pela Universidade Paulista (Unip) a psicóloga de 42 anos, Cristiane Novello, relata que mesmo depois de diversos estágios na área, não consegue encontrar um emprego. Segundo Cristiane, seus estágios contam pouco. “As clínicas onde busquei oportunidades alegam que precisam de pessoas com mais experiência, exigindo até comprovação de experiência na Carteira Profissional”, informa a psicóloga. Por conta de um desejo pes-

“Aprendi com meus erros e acho que logo estarei pronto para recomeçar”

e o dinheiro. Hoje, trabalhando como gerente em um restaurante, vejo como o planejamento foi insuficiente para ter meu lucro e seguir em frente com meu projeto”, declara Fábio. Apesar das dificuldades enfrentadas, o “ex-empresário” diz que não desistiu. Hoje Fábio gerencia um restaurante de médio porte e diz que com a experiência adquirida dos erros e acertos, pretende investir em um negócio muito em breve. Uma pesquisa do Portal do Empreendedor aponta que apesar da frustração e perda financeira, 45% dos microempresários planejam voltar a empreender, 25% deles como autônomos gerenciando o próprio negócio e 20%sendo donos de outras empresas.

soal e dessa falta de espaço no mercado de trabalho, Cristiane pensa em abrir seu próprio consultório, mas ainda não o fez por conta das despesas que teria. Desempregada, a psicóloga não consegue dinheiro suficiente para arcar com as despesas da montagem do consultório e regularização da documentação juntos aos órgãos governamentais. Abrir o próprio negócio está sendo a alternativa encontrada pelos cidadãos com mais de 40 anos que não conseguem voltar ao mercado. Roberto Sarto recomenda que essas pessoas busquem dicas de como voltar a trabalhar tendo ideias inovadoras e diferenciadas.


política

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MANIFESTAÇÕES E PROTESTOS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA DA DEMOCRACIA BRASILEIRA Thiago Peres

thiagoperes87@gmail.com

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gigante acordou. Assim diziam os cartazes nas manifestações que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas em 2013. O fato é que, se olharmos para trás, o gigante – que somos nós, o povo brasileiro – nunca esteve adormecido. Esta não é a primeira vez que a população sai às ruas para mostrar insatisfação. Há quem acredite que o brasileiro é um povo pacato, mas na realidade a história brasileira é construída com extrema violência, por parte de um processo de dominação de força e econômica, que vai da época colonial chegando aos domínios das elites atuais. “Ao longo desse período, foram produzidas manifestações populares reivindicando seus espaços e injustiças”, afirma o professor e historiaor Sérgio Barbieri. Na perspectiva histór ica, des de o pr imeiro

momento da República foi proposta a construção de um processo democrático, ainda que com participação limitada da população. No entanto, as instabilidades políticas do país contribuíram para diversas manifestações populares. A insatisfação é um reflexo inerente à própria dinâmica política e econômica do país. “Não dá para dizer que está todo mundo satisfeito com o processo político, no Brasil essa contradição é muito presente”, diz o professor Fernando Albuquerque, doutor em Ciências Sociais e Políticas. As insatisfações que geram os movimentos populares “é uma característica do próprio processo democrático”, acrescenta. O descontentamento existe e não é exclusividade dos brasileiros, a insatisfação é algo bastante natural e comum, não só no Brasil, destaca o professor de Ciência Política da Unicamp, Wagner Romão. “É raro encontrar alguém plenamente satisfeito com a ação do Estado ou dos políticos”, diz. Na década de 80, as “Diretas Já” foram um dos mais importantes movimentos

civis do Brasil. Mais de um milhão e meio de pessoas se reuniram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, para declarar apoio ao movimento que no final da década culminou na redemocratização do país e o voto direto nas eleições presidenciais. O professor e militante petista Leandro Eliel vê os movimentos e protestos como um forte fator de interferência da população na política. “Povo na rua tem uma capacidade de pressão sobre os setores políticos impressionante, sem sombra de dúvidas”. Seja por “20 centavos” ou pelos direitos cívicos, as manifestações não se fazem de maneira homogênea e nem sempre são incentivadas por anseios populares. Em determinados momentos, elas são motivadas por caráter muito particular de uma determinada classe. Cada grupo ou indivíduo protesta de acordo com seus interesses. Barbieri cita a Independência como um momento em que havia muitos interessados no processo. “A Independência para alguns significava liberdade política e comercial, até para o povo que, de maneira geral,

passou longe deste processo, em uma sociedade escravagista representava alguma esperança de liberdade”, conclui. Pesquisas É preciso fazer uma análise contextual para entender melhor a essência dos movimentos. Wagner Romão vê nas pesquisas de opinião uma ferramenta importante para verificar como variam os motivos da insatisfação. Uma das variantes analisadas pelas instituições é o perfil de cada participante, dados

“Povo na rua tem uma capacidade de pressão sobre os setores políticos impressionante.”

como idade, escolaridade e aporte financeiro são informações que dizem muito a respeito de cada manifestação. Para Eliel, algumas vezes basta observar as imagens para responder quais são os grupos manifestantes. “Se você olhar, por exemplo, os protestos de março e abril deste ano, é difícil encontrar um negro, setores populares participando, ou seja, é uma classe média extremamente elitizada que está indo para a rua”, comenta. As manifestações recentes abrangem uma geração que precisa compreender melhor sua função na própria consolidação da democracia. Eliel ressalta que os jovens devem participar mais da política do país. “Antigamente a juventude era muito mais politizada, engajada partidariamente, tinha uma militância muito mais ativa do que hoje”, diz. Aos mais jovens é fundamental entender que o papel do cidadão não deve ficar restrito apenas às eleições. Embora o voto seja o fundamento das democracias modernas, a participação política vai muito além, existem outras formas legítimas de se exer-

cer as liberdades políticas próprias da democracia. “O filósofo (Jacques) Rousseau defende uma democracia participativa, ou seja, é a necessidade que o próprio indivíduo tem de participar ativamente da política. Como se faz isso? Através dos movimentos sociais, populares, sindicais, partidos políticos. O envolvimento nas instâncias políticas é fundamental”, afirma Albuquerque. O brasileiro tem sido participativo no embate político do país, na luta por um ideal ou pelo questionamento de uma determinada realidade, contudo, na opinião de Barbieri, o Brasil ainda carece de maturidade política, de organizações civis com menos pretensões político-partidária para avançarmos em direção a um exercício melhor de cidadania. Segundo o professor, isso só será possível quando todos os componentes da sociedade tiverem condições para participar de maneira igual. “Sem igualdade econômica e de oportunidades, a participação social democrática não poderá ser exercida em plenitude legitima”.

As principais manifestações políticas do Brasil

1848

Revolução Praieira Rivalidade criada entre os partidos Liberal e Conservador. Os praieiros exigiam voto livre e democrático, liberdade de imprensa e trabalho para todos, inspirados nas revoluções populares de 48, na Europa.

1893

Revolução Federalista

Levante contra o governo de Floriano Peixoto, luta entre os maragatos (antiflorianistas) x pica-paus (governistas). Houve batalha terrestre e marítima. Ao final, os governistas saíram vencedores.

1932

Revolução Constitucionalista O Estado de São Paulo se rebelou contra a ditadura Vargas. Inicialmente reinvindicação elitista paulista, ganhou força popular. Mesmo com a derrota paulista, o levante foi um marco na luta pela democracia no país.

1964

Golpe de 64 Com apoio das classes conservadoras, setores da classe média e ampla participação feminina, líderes civis e militares derrubaram o presidente João Goulart.

1983

Diretas Já Movimento de intensa participação da sociedade (lideranças estudantis, sindicatos, artistas, intelectuais e religiosos) que propunha o fim da Ditadura Militar e a volta das eleições diretas para o cargo de presidente.

1992

Caras Pintadas Movimento estudantil que pedia o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, baseado em denúncias sobre corrupção e suas medidas econômicas impopulares. Em 29 de dezembro, Fernando Collor renunciou ao cargo.

2013

2015

Movimento Passe Livre

Protestos contra Dilma

No dia 6 de junho o movimento inicialmente motivado pelo aumento das tarifas do transporte coletivo se desencadeou numa série de manifestações contra a corrupção, baixa qualidade dos serviços públicos, nem a Copa do Mundo (que seria realizada no país em 2014) escapou.

As manifestações marcaram o pedido de impeachment de Dilma, meses depois de assumir a presidência para o seu segundo mandato. Impulsionados pela crise econômica e os escândalos de corrupção na Petrobrás. Em março, houve protestos em 185 municípios e de acordo com a Polícia Militar de cada estado, quase dois milhões de pessoas foram às ruas.


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entrevista

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Nas

Grades do Ensino

Caroline Metler

carolinemetler@outlook.com

D

Luana Schimidt

urante 24 anos Roberto da Silva ficou confinado em instituições do estado. Foram 14 unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) e 7 presídios. Aos 17 anos saiu da Febem, onde passou por dificuldades em enfrentar a vida com liberdade. Pouco tempo depois começou a praticar diversos crimes e foi condenado a 36 anos de prisão. Na cadeia começou a estudar direito e tornou-se um autodidata para advogar em causa própria. Com bons resultados, conseguiu reduzir a pena a um quinto da condenação. Por 12 anos foi pregador da Igreja da Unificação do reverendo Moon, lugar em que estudou teologia. Aos 33 anos de idade, voltou para escola regular. Com o supletivo completo formou-se em pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso e depois mestre e doutor pela USP. Agora, Roberto da Silva é responsável pela área de Metodologia Científica da Universidade Santana. Ele deu uma palestra na Unimep em 11 de março de 2015 e concedeu uma entrevista ao Jornal de Classe e à TV Unimep. Confira os principais trechos.

Quais foram os artigos que o levaram a parar nas instituições? Por questões relacionadas à sobrevivência. Porque isso acontece hoje em dia, meninos e meninas que ficam em abrigo até os 18 anos, depois cessa a responsabilidade do Estado e a maioria não tem família, não tem casa, não tem uma estrutura de apoio e acaba ficando na rua, o local de sobrevivência. Qualquer coisa que se faça em termo de sobrevivência é caracterizada como crime. O que você aprendeu nessas instituições? Tudo o que eu aprendi, eu aprendi no mundo da vida. Onde eu menos aprendi foi em sala de aula. Por isso hoje minha ênfase é trabalhar as pedagogias não escolares. As pessoas podem aprender pelo caminho do amor, com a pessoa certa, na hora certa, mas quando nem sempre isso é possível, você aprende pelo caminho da dor também. Qual é o seu conselho para um jovem que está no mundo do crime? Recuso-me aceitar em dar conselhos para jovens. Primeiro porque nessa fase da vida o conselho não entra na cabeça. As pessoas que [os adolescentes] devem ouvir são os pais, professores e os responsáveis por eles. Se esses meninos e meninas já fizeram essa opção é porque falhou a orientação que precisava ser feita, faltou apoio, faltaram exemplos, e a presença da pessoa que seja capaz de influenciá-los. Quem já adentrou este

caminho, vai viver o que o caminho oferece. Eu costumo dizer que não são as pessoas que escolhem o caminho e sim o caminho que escolhe as pessoas, e aquilo que a pessoa vai vivenciar depende menos da vontade dela e mais do que o caminho pode oferecer. Os caminhos estão mais ou menos configurados. Escolher determinados caminhos, certas experiências, são inevitáveis, assim como certas dores, certos traumas e uma série de sofrimentos. Para [uma] menina, por exemplo, a questão da gravidez na adolescência... são caminhos sem volta. Os meninos que enfrentam a dependência química, o uso de drogas e o homicídio. Os anteceden-

Escolher determinados caminhos, certas experiências, são inevitáveis, assim como certas dores.” tes criminais, envolvimento com a polícia, com o crime vai acompanhar a pessoa pela vida inteira. Então eu não tenho essa preocupação em poupar o adolescente e o jovem do sofrimento, ele é inerente o próprio caminho que ele escolhe. O que as pessoas precisam ter é estrutura para suportar o

caminho. As pessoas saem ao final “arrebentadas”, “imprestáveis” como ser humano, então manter a lucidez, saúde mental, autoestima nesses caminhos, é muito difícil para estas pessoas. Você sofre ou já sofreu preconceitos por ser um ex-detento?

Depois que a gente se mostra bem-sucedido e capaz de vencer todas as adversidades, as pessoas se inibem em manifestar qualquer tipo de preconceito e discriminação. Já sofri antes, como sofre qualquer pessoa dita desqualificada. A pessoa pode ter o estoque de vida que for, mas se ela tiver habilidades e competências e que sejam úteis socialmente, ela não sofre preconceitos. Você viu regras erradas na FEBEM, nos abrigos e nas cadeias? Para você o que tem que mudar? Não é só questões de regras, certas instituições talvez hoje não façam mais sentido em existir, mas para

elas não existirem a sociedade tem que incorporar outros tipos de valores, por exemplo, abrigos para crianças. Em Piracicaba existem 5 abrigos, estimando 20 crianças por abrigo, temos 100 crianças. Não existem 100 famílias em Piracicaba que possam receber essas crianças? Esse é o tipo de regra, de convivência social e convenção social, que a sociedade tolera e é muito conivente com isso. Não faz sentido manter essas crianças nessas condições. Talvez tenha alguns tipos de atos mais graves, que tenha maior repercussão e cause maior poluição social. Talvez em algum desses casos se justifique a privação da liberdade desses adolescentes, mas para a maioria e no interior no estado de São Paulo, isso tem sido a regra geral. Para o adolescente em plena fase de desenvolvimento, esse momento da privação da liberdade qualquer que seja o tempo, é extremamente danoso. Como é que se quer educar o sujeito para uma vida de liberdade, de autonomia, emancipação mantendo-os presos ou presas? No universo adulto não dá para se falar que não deveriam existir prisões, porque a realidade não permite, ou melhor, isso é um tipo do mal necessário. Essa forma de tratamento, é possível mostrar que há alternativas. Não são exatamente regras escritas, mas são convenções sociais que se estabeleceram formas preferenciais que a sociedade escolheu para tratar determinados problemas que tem se mostrado equivocadas.


Energia

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N

Ao trocar o carro pela “bike musical”, José Carlos Armelin consegue gerar até 50w de energia elétrica por meio de sua invenção

equipamento geralmente usado por esportistas, que permite pedalar mesmo com a bicicleta parada, acoplado a um gerador elétrico que transforma as pedaladas em

Esportistas 150 watts

32”

humana pudesse ser usado”, conta o inventor. Vida sustentável Adepto do transporte em duas rodas ou coletivo há anos, Armelin incentiva a diminuição do uso de automóveis. “Deixar o carro na garagem faz uma grande diferença ambiental em questão de energia”, afirma. O professor vai a todos os lugares com sua bicicleta musical, desde distâncias pequenas até distâncias maiores. “Quando preciso, utilizo o ônibus ou o avião”, conta. “O

automóvel foi feito para facilitar a mobilidade, mas precisa ser usado com sabedoria. É comum gastar um tanque de combustível para se locomover. O que as pessoas não levam em consideração ou não sabem é que a energia contida ali é equivalente a três meses de consumo de uma casa”, afirma. Mas nem tudo são flores. Abdicar do uso do automóvel como meio de transporte também tem consequências negativas. “Acabo perdendo alguns eventos sociais. Se por exemplo, eu tiver algum

evento em Piracicaba. Se não tiver ônibus, ou outra pessoa para andar comigo de bicicleta, eu não vou”, admite. Armelin deixa bem claro que o ideal por trás de sua invenção é mudar a cultura das pessoas. “Estamos acostumados a receber tudo pronto do estado. Transporte público, energia elétrica, petróleo. Acabamos esquecendo que podemos ‘nos virar’ por nós mesmos”, provoca. De acordo com ele, devemos resgatar o passado, onde não existiam tais facilidades. “A mudança está em nossas pernas”, finaliza.

CO2Zero: Música sustentável O Professor José Carlos Armelin explica que quando criou o protótipo para seus alunos, acabou mais uma vez unindo a música ao pedal. “Na época, eu tocava em uma banda. Com a criação do pedal, decidi migrar a ideia para a música”, lembra. Em 2008, nascia a banda CO2Zero, pontapé inicial para que o ‘Pedal Sustentável’ ganhasse vida própria. “As duas coisas nasceram praticamente juntas. A banda foi a primeira usuária do Pedal, e este sempre foi a fonte de energia para a banda”, explica. O professor recorda que quando surgiu, a CO2Zero (nome escolhido com inspiração no Protocolo de Kyoto) era vista como loucura. O público não entendia a relação das bicicletas com a música. “No começo, ficávamos acanhados em nos apresentar”, explica. Além do engenheiro, a

banda conta com a participação de um químico ambiental, um autônomo e um administrador de empresa, que abraçaram a causa da Educação Ambiental. Com o passar do tempo, os músicos puderam perceber que o diferencial de usar as bicicletas do Pedal Sustentável era o que

te do projeto Pedal Sustentável, embora tenham nascido juntos. Para o professor, as duas iniciativas são formas diferentes de disseminar a cultura da energia renovável e com o aprimoramento dos geradores, a banda também foi beneficiada. “A CO2Zero ganhou com essa evolução. Viajamos até o Rio de Janeiro para um evento, e as bicicletas usadas no show foram instaladas na hora. Não levamos nenhuma”, aponta Armelin. Com um álbum independe gravado e de distribuição gratuita nos shows, a banda ‘canta a ecologia’, com músicas que incentivam práticas sustentáveis como a reciclagem e a carona solidária. “Todas as músicas são autorais. Depois de compormos nove, decidimos ir ao estúdio e financiamos o disco com o dinheiro dos shows”, conta o professor. acervo da banda

A mudança está em nossas pernas

eletricidade. Esta configuração foi obtida depois de muito estudo de Armelin para aperfeiçoar a ideia. “Com a mudança do alternador automotivo para o sistema com rolo de treino que uso hoje, obtive mais de 95% de eficiência energética”, explica. A quantidade de energia produzida depende da capacidade física de cada ‘pedalador’. Um atleta, pode gerar 5 vezes mais eletricidade do que uma pessoa sedentária por exemplo. “Com essa eficiência, consegui fazer com que o máximo da capacidade

QUANTA ENERGIA É POSSÍVEL GERAR PEDALANDO?

Atletas 250 watts

que

Foto: Gabriela Morilia

gmorilia@unimep.br

Iniciantes 50 watts

9

m ve

Gabriela Morilia

as primeiras pedaladas, uma música começa tocar. Por onde passa, a ‘bike musical’ chama a atenção dos pedestres e motoristas. Como é possível um rádio tocar em uma bicicleta? Quem tem a resposta para esta e outras perguntas é o professor José Carlos Armelin, inventor da ‘engenhoca’ capaz de fazer qualquer bicicleta gerar energia elétrica. Foi pensando em uma maneira de ilustrar para seus alunos como é possível gerar energia limpa, que o professor natural da cidade de Santa Bárbara d’Oeste criou a iniciativa chamada hoje de ‘Pedal Sustentável’. Ele conta que em um final de semana de 2007 juntou três paixões: ciclismo, mecatrônica e música. Armelin acoplou um gerador elétrico, feito a partir de um alternador de automóveis à roda da bicicleta, gerando energia suficiente para fazer um rádio funcionar. “Levei para a sala de aula para falar de sustentabilidade. Não precisei falar muita coisa, os alunos já ficaram vidrados. A partir daí compreendi que eu não precisava falar, era muito mais efetivo mostrar”, diz. Foi a partir desta demonstração que surgiu a iniciativa (na época sem nome) Pedal Sustentável. Para Armelin, foi a realização de um sonho de infância. “Aos 10 anos de idade, encontrei um dínamo perdido em um sítio da família. Levei para casa e o coloquei na bicicleta, e com isso fiz acender um pequeno farol”, conta. Para ele, esta acabou sendo a motivação necessária para seguir a carreira de engenheiro elétrico e mecânico que abandonou para tornar-se professor. A invenção funciona através de um rolo de treino,

sustentabilidade

marcava e cativava o público. “As pessoas não se lembram das músicas que cantamos ou quais roupas nós estávamos usando. Mas todos se recordam das bicicletas gerando energia sustentável”, afirma o baterista e idealizador da ideia. Hoje, a banda é independen-


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cultura

Funk

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O universo por trás do senso comum O ritmo é um dos mais ouvidos no Brasil e ainda sofre preconceito; leia depoimentos de quem vive essa realidade

Andressa Cristina

andressacrosa@hotmail.com

Felipe Caires

felipe.caires@live.com

“N

ã o n a m oro e nem penso em namorar. Sei que nenhum homem aceitará minha condição de trabalho”. Maysa Longhino sabe que ser dançarina de funk traz dificuldades, principalmente para as mulheres, em função do preconceito que existe contra o estilo e seus profissionais. Por mais que seja frequentemente combatido, essa visão está longe de ser erradicada. Ainda que escondido sob uma versão mais palatável e massificada do gênero – representada por “funkeiros” de sucesso como Anitta, Naldo Benny, MC Guimê e Valesca Popozuda –, o funk continua forte. Por mais que massificado e manipulado pela indústria cultural brasileira, o gênero não morrerá tão cedo. É o que afirma a professora universitária e mestre em Comunicação Social, Ana Camilla Negri, que explanou que a indústria musical tem um ciclo próprio, que envolve adaptação e renovação. “Veja o sertanejo, por exemplo, ele passou por diversas modificações culturais até chegar no que é hoje”, apontou. De acordo com a professora, essa mudança ocorre no processo de identificação entre o pú-

blico e as composições. “Para atingir o maior número de pessoas possível, o produto dessa cultura de massa precisa de adequar. Então, as letras passam a ter menos identificação com o dia a dia da favela, menos palavrões e mais conteúdo universal”, explicou. Preconceito Tentar combater o ‘ódio gratuito’ despejado contra o estilo musical é um trabalho constante para pessoas que vivem nesse meio. O senso comum que as pessoas têm sobre o assunto o caracteriza como vulgar, chulo e pobre. Mas, são raras as vezes em que alguém realmente parou para analisar o outro lado. A respeito das músicas que fazem apologias às drogas e ao sexo, Mc Will, funkeiro em Piracicaba há quatro anos, explicou que não tem

Os homens só se importam com peito e bunda, mas eu não vejo um problema nisso’’

nada contra esse tipo de som, mas entende sua necessidade. “Eu canto aquilo que o povo quer ouvir, senão o baile não vai para a frente”, disse. Segundo o funkeiro, o ritmo é o estilo musical mais famoso do país. “É o ritmo que arrasta maior público. Como qualquer outro estilo, começou com preconceito, assim como ocorreu com o rock e o sertanejo. Mas o funk já está incluso no Brasil... Eu não sei se é uma cultura muito boa, mas é uma cultura”, afirmou. Na vida pessoal, o Mc informou que sua profissão não o atrapalha, pelo contrário, ele comentou que sua autoestima melhorou, que possui várias oportunidades de trabalho fora do ramo e que não tem problemas para encontrar uma mulher para se relacionar. “Sou sempre muito respeitado e as pessoas me tratam muito bem em qualquer lugar que eu vou”, garantiu. Apesar do ônus, Maysa garante que ama ser dançarina. Ao ser confrontada com a ideia de que os homens a veem apenas

como objeto, a dançarina é clara: “Eu sei que, quando estou ali rebolando, ninguém vê a Maysa Longhino dançarina profissional. Os homens só se importam com peito e bunda, mas eu não vejo um problema nisso, afinal, estou fazendo o que amo”. As performances provocantes de Maysa relatam exatamente a realidade dos bailes e evidenciam a liberdade de expressão cultural do público – tanto de homens quanto de mulheres. A dança sensual das mulheres é marca registrada do gênero musical e muitas vezes pode ser confundida com promiscuidade e insinuação sexual.

contrariar conceitos e valores já formados”, argumentou. A assistente social ainda opinou que a família tem total responsabilidade pelo comportamento dos adolescentes. “A família é responsável por incentivar o jovem a buscar caminhos positivos, impor limites, acolher o jovem nas dificuldades e ensiná-lo a abraçar oportunidades. Se algo falha nesta base, acredito que ele terá mais dificuldade em amadurecer e se impor”, ressaltou Helga. Por outro lado, Hellen Alves, de 14 anos, defende que o funk também tem seu lado bom. “Sou fã de funk e me inspiro muito nos Mc’s Will, Lon, Biel, Taz, Gui e Daleste (já falecido). Procuro tirar as coisas boas deles, como o fato de lutarem para crescer na vida”, declarou. Na opinião da estudante, existem muitas letras boas no funk e que todo mundo

Polêmica A assistente social Helga de Souza Rentero acredita que o conhecido “pancadão” não influencia na formação dos jovens. “Não creio que o jovem seja influenciado apenas pelo que ouve. É influenciado pelo meio em que vive e pelo grupo ao qual pertence. Se tiver um bom embasamento familiar, não será a música que o fará

Eu não sei se é uma cultura muito boa, mas é uma cultura”

devia conhecê-las. “Dá para fazer danças e rimas. O funk é uma cultura, mas tem muito preconceito”, falou. Perigo Outro problema que o funk enfrenta devido ao preconceito é a dificuldade na realização de eventos: a maioria ocorre de maneira informal e perigosa. A secretária de Cultura de Limeira, Gláucia Bilatto, explicou os desafios que esse tipo de evento implica. “Os bailes funk em Limeira são uma manifestação cultural espontânea, sem controle da Prefeitura. Por exemplo, um carro estacionado com som alto em uma rua pode ser o núcleo de um baile funk, mesmo que ele não seja oficial”, reforçou. Todavia, a secretária orientou que existem formas de combater irregularidades do gênero, através da criação de grupos de assistência à periferia. “Atualmente, estudamos a criação do Conselho Municipal da Juventude, que deve ir nas periferias e conversar com jovens sobre diversos tópicos de seu cotidiano, como o funk, os relacionamentos amorosos, as drogas, a gravidez na adolescência, etc. A Secretaria de Cultura também está aberta para receber discussões sobre o tema e organizar eventos, mediante solicitação dos interessados”, salientou Gláucia. Foto: Felipe Caires

Toda a atenção do baile se volta para as performances sensuais dos dançarinos. O público forma um círculo e assiste às “vítimas” serem provocadas pelos profissionais.


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cultura

11 Fotos: Felipe Caires


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diversidade

Luana Schimidt

Jornalismo.luanaschimidt@gmail.com

“M

e lembro de quanto sofri, a partir do momento em que fui ganhando percepção do mundo à minha volta. Fui percebendo que nunca me identifiquei com o gênero ao qual era me imposto”, contou Isabelly de Carvalho. Ela, mulher transexual, nasceu Wellington de Carvalho e sempre teve acesso a informação apenas na escola. “As respostas a questionamentos internos, eu não tinha. Me lembro de quando as outras crianças sonhavam com um brinquedo novo que viam na TV. Eu sonhava em ter cabelos longos, roupas femininas, e tudo que era único e exclusivamente do universo feminino”, explicou. As referências de Isabelly, na época, eram as professoras, que davam conhecimento sobre o mundo que a cercava. “Era fascinante e eu queria ser como elas”. E Isabelly se tornou. Na adolescência descobriu que poderia “readequar” o corpo à sua real identidade de gênero e passou a tomar hormônios femininos. “Meu maior desafio foi, e ainda é, quebrar barreiras”, contou. Segundo ela, ser transexual de forma geral é muitas vezes ter que deixar de lado o brinquedo de criança, perder amigos, perder abraços, as vezes até de um pai ou de uma mãe. Ser transexual para Isabelly, é perder fases importantes da vida, como a escola, o colegial, a faculdade e ter a vida como principal professora. “Eu batalho por sobrevivência. Muitas vezes, as transexuais são consideradas a lepra da sociedade. Muitas vezes já borrei a maquiagem por uma amiga que se foi, ter uma história inacabada. É como voltar todos os dias de uma guerra viva e não me

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MEU NOME É

ISABELLY A história da transexual que conseguiu o direito do nome social

faltar machucados à serem mostrados”, falou. De acordo com ela, alguns enxergam como exagero ou vitimismo. “Eu vejo como clamor de respeito à dignidade humana”. Isabelly é servidora pública de Limeira. Ela foi a primeira a conseguir o respeito do nome social, inclusive, no crachá de identificação, no ano passado. “Confesso que de início fiquei meio apreensiva se caso recebesse um ‘não’ por parte da Prefeitura de Limeira”, falou. Isabelly é engajada nas questões transexuais que envolvem o município. Ela também é coordenadora do CAD (Centro de Apoio à Diversidade) de Limeira. “Não houve basicamente nenhum tipo de resistência por parte da administração da prefeitura em respeitar meu pedido”, ressaltou. Ela baseou o pedido na Lei Estadual 1.948/2001, que garante os direitos LGBT’s (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) em São Paulo. Ela quer agora uma lei municipal que impeça a discriminação “para que não haja nenhum tipo de retrocesso”. A inclusão do nome social de travestis e transexuais tem como objetivo reconhecer a legitimidade da identidade desses grupos e promover o maior acesso a todas as áreas da sociedade. Na Prefeitura de Limeira, foram duas solicitações de servidores, para receber o nome social no crachá. Espaços Sobre os espaços que os travestis e transexuais vem

Isabelly trabalha como arrecadadora do pedágio Limeira/Cordeirópolis

Eu sonhava em ter cabelos longos, roupas femininas, e tudo que era único e exclusivamente do universo feminino”

ganhando, alguns avanços já estão sendo notados, como algumas portarias nos parâmetros nacional e estadual, como na área da saúde pública. O uso do nome social já é obrigatório no Brasil na rede pública de saúde desde 2009 e na educação desde este ano. As portarias foram emitidas pela Secretaria de Direitos Humanos e Minorias da Presidência da República A resolução 11/2015 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT garante que o campo de orientação sexual e identidade de gênero tanto quanto ao nome social em BO (Boletim de Ocorrência) nas delegacias, o que garante a facilitação e mapeamento de crimes

Fotos: Luana Schimidt

transexuais sofrem os mais diversos tipos de barbáries dentro do sistema carcerário”, explicou. Ainda de acordo com ela, o movimento luta pela integridade dessas pessoas nos presídios, como celas separadas para mulheres transexuais. “O sentimento de revolta faz parte da natureza humana. Verônica tem que pagar por seus eventuais crimes, não podemos confundir sentimentos de vingança com justiça. E a questão é outra e vai muito além do caso Verônica”, ressaltou. Verônica Bolino foi presa no dia 10 de abril, por suspeita de tentar matar uma vizinha idosa. Depois, no domingo, 12, arrancou a dentadas a orelha de um carcereiro dentro de um distrito policial. Preconceitos Isabelly acredita que não se mede caráter por aparência. Ela ressaltou que não é criminosa e também não é um fetiche sexual. “Não sou uma aberração. Eu tenho família, eu tenho amigos, tenho sonhos. Sou apenas uma mulher transexual que sonha com um futuro mais digno e homofóbicos e transfóbicos. igual para todos”. “Ao meu ver, estamos longe de acabarmos com toda exclusão que sofremos. Cabe a nós, travestis e transexuais, nos apo- Denúncias de derarmos dessas resoluções e partir para o enfrentamento, homofobia dobraram cobrando e pedindo para que elas sejam de fato aplicadas”, Segundo dados da concluiu Isabelly. Secretaria de Direitos Humanos do Estado de Polêmicas São Paulo do DepartaO caso da travesti, Verô- mento LGBT, entre 2011 nica Bolino, que foi agredida e 2012 o aumento de por policiais militares e civis denúncias homofóbicos no mês de abril, em São Paulo, serve, segundo Isabelly, reportadas pelo poder para ajudar nos avanços do público federal ao lonmovimento, como garantir go do período aumenrespeito à identidade de gê- tou em 107,61%. No nero de pessoas que estão ano de 2011 foram 197 privadas de seus direitos de denúncias reportadas. ir e vir. “Assim como Verô- Já em 2012, 409. nica, várias outras mulheres


inovação

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Tecnologia nas bibliotecas Fotos: Carolina Carettin

Mesmo com o avanço das tecnologias da informação, as bibliotecas apresentam atraso ao se adaptar aos novos formatos

Carolina Carettin

carol.carettin@hotmail.com

S

egundo o Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2009, 88% dos municípios do Estado de São Paulo tinham bibliotecas públicas. Mesmo sendo um número alto, 91% não possuem serviços para pessoas com deficiência visual e 92% não prestam serviços para pessoas com outras deficiências. Como fazer da biblioteca um local de fomento a novas ideias e pensamentos? E como trazer crianças e jovens - que já nascem inseridos num mundo extremamente tecnológico – para as bibliotecas? A maioria dos jovens frequentam esses locais para estudos em grupo ou pelo espaço destinado à informática. Em São Paulo, 65% das bibliotecas tinham internet, mas somente 26% disponibilizam esse serviço aos usuários. Em Araras, 14 equipamentos são disponibilizados à população de aproximadamente 120 mil habitantes. “Portando o cartão da biblioteca, o visitante pode usar o laboratório de informática com uma hora de internet por dia, podendo imprimir até quatro folhas”, explica a bibliotecária Sônia

Em Araras, 14 computadores estão disponíveis para uso na Biblioteca Municipal Martinico Prado

Brufatto. Em Piracicaba, a relação computador por habitantes é ainda menor. São nove computadores do programa Acessa São Paulo para mais de 290 mil pessoas. O acesso à internet faz parte de uma adaptação que as bibliotecas tiveram de fazer ao longo dos anos. As chamadas TICs, tecnologias de informação e comunicação, “já fazem parte do dia-a-dia

dessas instituições desde meados dos anos 70”, afirma a professora Zaira Zafalon, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Em decorrência do processo de uso das TICs as bibliotecas precisaram se remodelar quanto à oferta de produtos e serviços. O que antes era somente presencial e pessoal, passa a ter um

componente diferenciado: continua sendo pessoal e especializado, mas mediado pelas redes de informação”, explica. Século XXI No Brasil, segundo o site Universia, várias instituições disponibilizam seu acervo online, como a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da Universidade de São

Paulo (USP). “Essa inclusão, para a área de Ciência da Informação, já não é mais novidade, mas necessidade”, afirma Zaira. A professora explica que esse modelo de biblioteca é extremamente válido. “Se estamos numa sociedade nas quais os produtos e serviços já são, inclusive, em acesso mobile, isso também tem que acontecer com as bibliotecas”.

No condado de Bexar County, no Texas, EUA, a implantação das TICs foi além. O local abriga a primeira biblioteca pública sem livros impressos, segundo reportagem de O Globo. O acervo da Bibliotech – junção das palavras biblioteca e tecnologia - tem cerca de dez mil obras que podem ser acessadas via internet. Se a pessoa não tiver um dispositivo em que possa ler o livro digital, pode utilizar os equipamentos disponíveis na sede física: são 800 e-readers, sendo 200 especiais para crianças; 48 computadores; 10 laptops e 40 tablets; que podem ser emprestados. A cidade de Medellin, na Colômbia, apostou nas “parque bibliotecas”, chamadas assim por oferecem diversos serviços como treinamento empresarial, instrução cívica, construção da memória coletiva, galeria de arte, área de jogos para crianças e uma área externa. Além disso, utilizam as TICs e se voltam para o atendimento da comunidade. O blog Tapete Urbano compara a iniciativa colombiana com os CEUs (Centro Educacional Unificado), presentes em várias cidades do Estado de São Paulo. Porém, destaca que na Colômbia o grande salto ocorreu no acesso às bibliotecas, com a reformulação do sistema de transportes.

Senta que lá vem história A

Felício Thomaz é o contador de histórias da Hora do Conto que recebe em média 80 crianças por dia

s crianças recebem atenção especial nas bibliotecas públicas. Segundo a FGV, 29% das unidades brasileiras têm a Hora do Conto, um momento de contação de histórias infantis. Em Araras, o professor Felício Thomaz é quem realiza a atividade na biblioteca municipal, que tem espaço separado com ilustrações do Sítio do Pica-Pau Amarelo nas paredes. Para ele, mesmo com atividades de extensão, as bibliotecas não conseguem chamar a atenção de crianças e jovens. “Talvez algumas promoções ou a atualização de acervo trouxessem mais público, mas a formação de leitores vai um pouco além. Temos a tão propalada deficiência cultural e a vida da biblioteca

é apenas mais um item nesse quesito. As necessidades de sobrevivência se sobrepõem as da leitura”, explica. Na Biblioteca Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, em Piracicaba, foram 400 encontros realizados em 2014. Assim como em Araras, a biblioteca recebe visitas monitoradas de escolas da cidade. “Recebemos escolas todos os dias, que participam da Hora do Conto e visitam os outros espaços”, afirma a diretora da biblioteca Rosana Oriani, que trabalha no local há 30 anos. Mesmo sendo os equipamentos culturais mais presentes nos municípios do Brasil, segundo os dados apresentados pelo IBGE/ Munic, em maio de 2010, as bibliotecas públicas tendem

a ser uma extensão da escola onde o aluno poderá fazer pesquisas e trabalhos escolares ou encontrar um livro que precise ler para determinada disciplina. Essa ideia da biblioteca municipal como continuação da escola se dá pela falta de bibliotecas escolares no país. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2008, o Ministério da Educação (MEC) é o maior comprador de livros do mundo. Os livros são distribuídos pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), porém o programa não oferece auxílio e informações sobre a organização e catalogação do acervo, por exemplo. Além disso, nem todas as escolas têm infraestrutura necessária para abrigar as obras.


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saúde

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Depressão em curso

Segundo a OMS, doença atinge cerca de 400 milhões de pessoas - 7% da população mundial nathalia.salv@gmail.com

“A

pesar de nunca ter me cortado (sintoma comum entre os suicidas), já pensei em muitas maneiras de morrer. Em momentos de surto, costumo me bater e me arranhar. No meu computador, tenho um arquivo em texto onde planejo minha morte, na espera do dia em que eu realmente tenha coragem para levar isso a diante”. A citação acima faz parte do relato de um jovem universitário, que preferiu não se identificar. Para ele, assumir que possui um problema, algo que o torna diferente daquilo que a sociedade espera de você, quase sempre é encarado com preconceito. Mesmo que a causa seja uma doença: a depressão. “Não somos vistos como doentes, mas sim como carentes, mimados ou infantis”, diz. Sintomas Atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas (7% da população mundial) sofrem de depressão, doença psiquiátrica que causa diversos sintomas, como: insônia, alterações de apetite, tristeza, dor e angústia. Em alguns casos mais graves, pode levar o paciente à morte, causada por suicídio ou por outros fatores, em consequência da doença.

Em agosto do ano passado o jornal O Estado de S. Paulo realizou um estudo sobre o aumento do número de mortes decorrentes da depressão, tendo como base dados de mortalidade disponibilizados pelo Datasus. E o resultado é alarmante: em 16 anos, os números aumentaram 705%. Suicídio O comportamento suicida não é algo que surge da noite para o dia. É algo crescente e que recebe influência de diversas variáveis, como fatores familiares – histórico de depressão e suicídio na família –, traumas, dificuldades – elementos estressores – e questões sociais. “É algo que vai sendo construído, mas que possui um gatilho”, diz Gisleine Vaz, doutora em psicologia e professora na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Para ela, uma forma de identificar se alguém próximo de você está desenvolvendo comportamento suicida, é observar os 3 Ds (Depressão, Desespero e Desesperança). Os três juntos podem levar a pessoa a querer tirar a própria vida, pois o indivíduo vê na morte a solução de seus problemas. A técnica em enfermagem Raíza Peccioli, trabalha em um hospital no setor de clínica médica e cirurgia. Ela conta que já atendeu

já pensei em muitas maneiras de morrer”

Foto: Clarice Alves

Nathalia Salvador

muitos pacientes com depressão, e que a doença geralmente está relacionada a outros transtornos, como o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Dentre essa parcela de pacientes, muitos eram universitários que tentaram suicídio. Peccioli, que também é universitária, dá sua opinião sobre por que tantos jovens sofrem com a doença. “A cobrança antes não era tão intensa. Às vezes, a pessoa começa o curso e se sente frustada, mas tem medo de trancar a matrícula para não desapontar os pais”, fala. Em momentos de crises, muitas vezes o que o jovem com depressão quer é apenas alguém para lhe fazer companhia, mesmo que ele não consiga expor seus sentimentos para essa pessoa. “Mas parece que ninguém percebe, ou acha que é frescura”, diz Juliélen Lambert, estudante do 5º semestre de Rádio, TV e Internet. “Eu não consigo estudar ou me concentrar quando estou em crise. Tudo o que quero é chorar”. Tratamento Segundo dados da OMS (Agência Mundial de Saúde), atualmente a depressão já é a doença mais incapacitante, pois afeta as diversas esferas da vida do indivíduo. Portanto, o apoio da família e dos amigos é um dos principais fatores no

Depressão é a doença mais incapacitante

tratamento, pois o indivíduo com depressão tem uma grande sensação de abandono. Também é necessário que o paciente entenda seus problemas e tenha vontade de superá-los. Que passe a ter esperança novamente, pois a depressão é a vida sem sentido. Essas questões são tratadas durante sessões de psicoterapia, onde são abordadas não apenas questões emocionais e comportamentais, mas também cognitivas. Para Gisleine Vaz, a depressão é um problema social, que começa na infância e vai sendo construída ao longo da juventude. “A sociedade não dá a oportunidade de escolha, de pensar e descobrir coisas que fazem sentido”, fala. Portanto, para ela, a melhor forma de combater a depressão é durante a educação infantil, ensinando a criança a entender que ela pode sim fazer a diferença, que ela é importante não apenas para as pessoas que a cercam, mas para a humanidade. Aos universitários – e a todas as pessoas com d­e pressão – pedir ajuda não é um ato de vergonha, e sim de coragem. Coragem de admitir que possui um problema e que quer superá-lo. “A depressão é a sensação de abandono”, diz Gisleine.

Em Busca do Equilíbrio Foto: Júlia Hortenci

Meditação usada como terapia para encontrar o equilíbrio do corpo e do espírito causados pelo dia-a-dia

Símbolo OM: se refere à vibração natural do universo. O OM é o reflexo da realidade absoluta. Esse mantra é o nome de Deus.

O Buda está presente nas salas de meditação e simboliza a prosperidade e felicidade.

Julia Hortenci Pereira

julia_hortenci_23@hotmail.com

N

o início do ano foi publicada, no jornal cientifico Frontiers in Psychology, uma pesquisa feita pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) revelando que a prática da meditação é um preventivo de doenças neurológicas e degenerativas, pois ajuda a retardar a perda da matéria cinzenta do cérebro que é causada pelo avanço da idade. A meditação é uma pratica que relaxa e descarrega o corpo, é tentar não se preocupar com nada especifico, como explica o biólogo Danilo Delgado, de 27 anos, que pratica meditação desde os 14: “Os sons de fora vêm, são ouvidos, mas não se desenvolve raciocínios ou lembranças sobre eles”. A prática da meditação é de extrema importância para o corpo humano, pois relaxa a mente, e consequentemente, o corpo, depois de um dia agitado de trabalho, ou até para se preparar para ter esse dia, e então, se torna mais fácil lidar com os problemas que

O grupo liderado pelo professor Thierry Alexadre G. B. Denardo se reúne aos sábados em ambiente relaxante para meditação no fundo da loja “Balaio Zen“ na cidade de Rio Claro-SP, rua 7, Santa Cruz

aparecem no dia-a-dia e não se preocupar com situações futuras controlando a ansiedade. Para Thalles Ribeiro, consultor ambiental de 25 anos, que iniciou a prática há pouco mais de 6 meses, o maior objetivo é a compreensão obtida pelo praticante. “A meditação tem ajudado em áreas como: ansiedade, medo e tristeza. Fora a maior tolerância a desconfortos”, comenta. De acordo com Danilo, a pratica de meditação poupa

o cérebro de desgastes do cotidiano, entrando em um nível de paz e espiritualidade avançados, descansando e repousando por alguns minutos o cérebro que sofre degradações diárias, por conta de problemas e preocupações. Essa sensação de relaxamento causada nos meditadores, explica, de certa forma, o resultado da pesquisa realizada pela UCLA. Além das mudanças psicológicas, que são diversas, os alunos também ressaltaram

diferenças físicas. “A meditação ajuda a lembrar do quão ruim está a sua postura e o estado de tensão dos seus músculos”, explica Danilo. Ele pratica meditação desde os 14 anos, depois de ler um livro tibetano, que ensinava como meditar e quais os benefícios. Ele conta que a meditação virou uma pratica tão comum no seu dia-a-dia, que acabou virando parte da pessoa que ele é. “Quando eu volto a meditar com freqüência, percebo que as coisas

passam a importar menos e a mente fica mais clara. É como passar um desfragmentador de disco no cérebro.” Porém, como meditar? Há uma maneira correta para isso? Existem muitos cursos e aulas na internet ensinando como meditar, porém, a verdade é que não existe uma maneira certa de fazer isso, cada um faz da forma que lhe faz bem. Danilo, por exemplo, conta que se senta ou ajoelha, fecha os olhos,

respira profundamente uma primeira vez, e depois respira normalmente. “Eu permito todo o pensamento que vier, mas assim que eu percebo que ele está se desenvolvendo demais, eu respiro de novo, para me soltar dele e fico nessa seqüência de me esquivar de pensamentos e ficar o maior tempo que eu puder imóvel”, completa. O terapeuta Evaldo Mazer, que trabalha há anos dando aulas que levam como base a meditação explicou que a prática não tem uma receita correta, que muitas vezes é possível meditar sem ao menos perceber que faz isso. “Tudo o que pode tirar a mente da agitação pode ser considerado meditar. Por exemplo: pescar é uma forma de meditar”, explicou. Muitos acreditam que meditação é uma pratica que não faz tanta diferença, e que pode, inclusive ser difícil de se fazer, mas é simples, às vezes o fazemos sem nem perceber. “Meditação é uma coisa muito simples, mas o ocidente tem mania de mistificar qualquer técnica que venha do Oriente”, exclamou Danilo.


saúde

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Do que a

roça dá

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Já se perguntou de onde vêm os alimentos que vão parar na sua mesa? Muitas vezes, o que se consome é fruto de intervenções que oferecerem riscos à saúde e, por isso, alternativas que exaltam a alimentação orgânica surgem para mudar essa realidade Fotos: Isabela Andia

Isabela Andia

andia.isabela@gmail.com

B

uscar formas de alimentação alternativas é a principal forma de evitar produtos contaminados pelos venenos agrícolas. É isso que defende o Coletivo Piracema, de Piracicaba, que conta com o Direto da Roça, um grupo de consumo responsável que vem se desenvolvendo há dois anos que tem como objetivo de aproximar o agricultor familiar orgânico local do consumidor, com o propósito de proporcionar segurança alimentar e facilitar o acesso a alimentos de qualidade e com conhecimento da forma de produção. Leonardo Magnin, membro do Coletivo explicou que a plataforma funciona por meio de pedidos semanais, nos quais o consumidor opta por uma cesta inteira ou meia cesta com conteúdos pré-definidos e divulgados nas redes sociais. “Isso é legal porque facilita o sistema e é uma maneira de o consumidor confiar no agricultor e naquilo que ele está produzindo. Se o agricultor está produzindo alface, por exemplo, não precisará produzir aquilo que o consumidor quer, mas sim aquilo que é da época.” Segundo ele, o modelo descende de alternativas similares aplicadas na França,

O que são orgânicos? Alimentos orgânicos são aqueles que utilizam, em todos os seus processos de produção, técnicas que respeitam o meio ambiente e visam a qualidade do alimento. Desta forma, não são usados agrotóxicos, nem qualquer outro tipo de produto que possa causar algum dano à saúde dos consumidores.

Fran Lodde, Mari Pedrozo e Leonardo Magnin, membros do Coletivo Piracema, com Carolina Perencin, idealizadora da Casa Nômade e sua “food bike”

que desmistificam o acesso caro ao produto orgânico. “Temos a ideia de que o orgânico sempre será caro. O Direto da Roça vem para contrariar tudo isso e mostrar que consumindo alimentos da época se gasta menos do que em um varejão convencional”, pontuou. Magnin acredita em “vários arranjos locais formando um arranjo global e não em uma solução

“A exposição aos agrotóxicos (...) contribui para o aumento das chances de desenvolvimento de algum tipo de câncer”

única para o mundo todo. Essa é uma microssolução para não consumirmos alimento com veneno.” Além de integrar as cestas da iniciativa, os produtos orgânicos também se transformam em alimentos processados. A Casa Nômade, projeto que funciona em parceria com o Coletivo Piracema e se apoia no Direto da Roça, prepara pães, bolos, massas,

risotos e outras receitas a partir dos ingredientes. “A Casa nasceu dentro das paredes do coletivo mas optou por oferecer seus produtos na rua, no formato de uma ‘food bike’ (em alusão ao famoso ‘food truck’, caminhão de alimentos, em tradução livre)”, contou a idealizadora Carolina Perencin. De acordo com ela, por partilhar do mesmo conceito do Direto da Roça, o cardápio é sazonal e depende da disponibilidade natural dos ingredientes.

De

olho no prato

N

esse ano, motivado pelas discussões que giram em torno do Dia Mundial da Saúde, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) publicou documento que explicita seu posicionamento acerca do uso de agrotóxicos no Brasil. Brasil, aliás, que desde 2008 se mantém imbatível na primeira posição do ranking mundial de consumo do veneno agrícola em seu sistema agrário e fica com o segundo lugar quando o assunto é produção mundial de transgênicos, abaixo apenas dos Estados Unidos. A liberação do uso de sementes transgênicas foi uma das ações responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking: o cultivo de sementes geneticamente modificadas exige o uso de grandes quantidades de veneno. O documento ressalta os riscos dos agrotóxicos à saúde, em especial por sua relação com o desenvolvimento

de câncer. O objetivo é fortalecer iniciativas de regulação e controle dessas substâncias que promovam a redução progressiva e sustentada do uso de agrotóxicos e a substituição do modelo agrícola dominante pela produção de base agroecológica. Para a médica e nutricionista Thais Arthur, “a exposição aos agrotóxicos utilizados na agricultura tradicional aliada a outros fatores, como o sedentarismo, o consumo em excesso de açúcares e gorduras e o tabagismo, contribui para o aumento das chances de desenvolvimento de algum tipo de câncer”. O Inca recomenda criar políticas de controle e combate desses produtos, cujos fabricantes são isentos de impostos, para proteger a saúde da população. Apoia o consumo de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos, e reivindica políticas públicas que apoiem a agroecologia com mais recursos.

Cultivo orgânico permite que os alimentos mantenham suas propriedades naturais, em detrimento da agricultura convencional, que utiliza-se de agrotóxicos em sua produção

O que diz o Inca?

Produtos que integram as cestas orgânicas montadas pelo Direto da Roça

“Ainda podem estar presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos, devido ao processo de bioacumulação. Portanto, a preocupação com os agrotóxicos não pode significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras, que são alimentos fundamentais em uma alimentação saudável e de grande importância na prevenção do câncer. O foco essencial está no combate ao uso dos agrotóxicos, que contamina todas as fontes de recursos vitais, incluindo alimentos, solos, águas, leite materno e ar. Ademais, modos de cultivo livres do uso de agrotóxicos produzem frutas, legumes, verduras e leguminosas, como os feijões, com maior potencial anticancerígeno”, afirma a nota.


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turismo/esporte

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Passeios mais acessíveis em Piracicaba Um dia de lazer com os filhos sem gastar muito é o desejo de muitos pais

Daniela Boaventura

danielaboaventura.db@gmail.com

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iracicaba possui vários lugares turísticos com preço acessível e diversão garantida para toda a familia, diversos passeios que atraem moradores da cidade e região. O Parque da Rua do Porto é um dos pontos turísticos mais conhecidos e frequentados. Oferece uma pista de caminhada de 2Km, parquinho infantil e passeio de pedalinho com duração de 15 minutos aos sábados, domingos e feriados, das 9h ás 17h. “Gosto muita da Rua do Porto e venho alguns finais de semana com a minha namorada para relaxar, caminhar e fazer exercício na academia ao ar livre. Toda vez aproveitamos para comer peixe em um restaurante da Rua do Porto, além de gastar pouco, por volta de R$ 80,00, saímos satisfeitos.” Diz Adriano Zaukauskas, 20, morador de Piraicaba. Proximo ao Parque outro atrativo que chama bastante atenção, especialmente das crianças, é o Trenzinho que oferece um passeio autoguiado de áudio em Português e Inglês que apresenta os pontos turísticos e conta um pouco da história da cidade. O percurso tem duração de 20 minutos, funciona aos sábado, domingos e feriados, o valor do ingresso é de R$ 5,00. Para Thomas Frias,8 anos

o passeio de barco foi melhor do que o do Trenzinho, “Achei o Trenzinho parado. Gostei do passeio de barco, vi o Rio Piracicaba de perto eno final do passeio o motorista quase fez o barco virar de brincadeira. Deu frio na barriga.” A duração do passeio é de 15 minutos com saída do

“Achei o Trenzinho parado. Gostei do passeio de barco, vi o Rio Piracicaba de perto eno final do passeio o motorista quase fez o barco virar de brincadeira. Deu frio na barriga.”

píer da Rua do Porto indo até a Ponte do Morato. Instalado em 1887 o Museu da Água “Francisco Salgot Catillon”, foi a primeira Estação de Captação e Bombeamento de água da cidade. Os turistas podem ter acompanhamento de guia local por meio de agendamento para conhecer melhor o museu, com entrada gratuita. “O passeio no elevador Panorâmico é legal e a vista da cidade é bonita, mas para ir com frequência não tem graça. O interessante desse passeio é levar alguma pessoa de fora que ainda não conhecem a cidade”. Sugere a professora Cristiane Rodrigues, 40 e moradora de Piracicaba. A prefeitura de

Piracicaba construiu o Elevador Panorâmico em 2013 na ponte “Caio Tabajar Esteves de Lima”, ao lado do Parque Mirante. A visita pode ser feita de sexta-feira, sábado, domingo e feriado. Um lugar turistico que faz Viviane Teixeira ir quase todos os finais de semana com seus filhos é o Zoologico que abriga aproximadamente 422 animais, sendo avês, mamíferos, répteis e animais exóticos anexado ao Mundo da criança, “Toda vez que pergunto para os meus filhos onde eles querem passear, na hora respondem Zoloogico e Paraiso da criança. Passamos a tarde toda brincando e de vez em quando fazemos um pique nique ou comemos algodão doce e pipoca que são vendidos nos carinhos em frente ao estabelecimento. Costumo gastar R$30,00 para comer e a entrada é gratuita, então vale a pena”. O Paraiso tem uma área de 23 mil m² arborizadas e mais de 30 brinquedos, como o gira – gira, escorregador, cavalinhos, escada horizontal, gangorra, balanço, casa do Tarzan, castelo entre outros atrativos. Passear em Piracicaba com a família e gastar pouco é possível, a maioria dos pontos turísticos e lugares de lazer custam entre R$5,00 á R$15,00 por pessoa e oferecem uma ótima diversão e satisfação. Basta você escolher um passeio e curtir com a família.

Em busca do ouro Atletas brasileiros de Taekwondo superam a falta de estrutura do esporte de alto rendimento no país em busca de um sonho: uma medalha olímpica

Marina Mattus

marinamattus@bol.com.br

E

ncarando a falta de estrutura, disputas políticas e o despreparo das confederações, os atletas de Taekwondo que representam o país, treinam em Piracicaba e apesar de todas as dificuldades buscam uma vaga nas Olimpíadas. A pouco tempo de receber o maior evento esportivo do mundo o cenário no Brasil é precário, não só no desenvolvimento das categorias de base, mas também em seu alto rendimento. Esportistas de renome internacional, lu-

t a m diariamente por incentivo, patrocínio e o crescimento do esporte. Incluído no programa olímpico em 2000, na edição de Sydney, o Taekwondo é um dos esportes brasileiros que trazem no seu desenvolvimento a dificuldade de organização. Considerado uma das maiores instalações esportivas privadas de combate do Brasil, o Centro de Alto Rendimento – Dojan Nippon, comandado pelo técnico Frederico Mitooka, traz grandes nomes do esporte a Piracicaba, que além de lutarem no tatame, combatem uma luta diária: a falta de profissionalismo das confederações. O técnico já representou a cidade e também o Brasil como atleta. Seu maior interesse no esporte é a oportu-

nidade de ter a dedicação e a capacidade própria acima da cor da pele, religião e status social. No quarto ciclo olímpico como técnico, Mitooka diz que o problema está nos governos e nas confederações. “Nem que você queira fazer direito, o sistema não permite. Não adianta criar leis, critérios e incentivos fiscais, nada acontece da forma que deve ser. Vivemos no país do faz de conta e é muito difícil limitar seu potencial de trabalho”. Apesar de levar na bagagem títulos expressivos no contexto nacional e internacional, como campeão Pan Americano de 2014, vice-campeão do World Grand Prix 2013, Campeão

Brasileiro 2013, tetracampeão brasileiro universitário, melhor atleta brasileiro universitário no Taekwondo de 2011, Guilherme Cezário Felix, um dos atletas que buscam a classificação para os Jogos Olímpicos de 2016, não possui estabilidade no esporte, seja na remuneração ou com patrocínios. “A dificuldade financeira é um grande problema, temos garantia só por um ano, com as bolsas governamentais e salários de algumas instituições, que precisam ser renovados anualmente e os patrocínios ocorrem mais por permuta, sendo um sistema que é fácil de ser quebrado”, destaca o atleta.

Arcando com todas as despesas dos materiais de treinamento, Felix recebe ajuda do governo, por representar a Marinha do Brasil a e o bolsa atleta federal. Segundo ele, na maioria das vezes é essa única a ajuda de custo que os atletas possuem para manter a vida esportiva. O atleta explicou que existem bolsas de variados tipos e esferas, a federal é dividida na categoria estudantil, nacional, internacional, olímpica e pódio, ou seja, a categoria vai depender do desempenho do profissional. Os recursos disponíveis nos estados e municípios dependem da legislação do local. Em Piracicaba, os atletas recebem ajuda de custo e a estrutura do centro esportivo. Apesar dos programas serem em esferas munici-

pais, est adu ais e federais, Felix comenta que nem sempre é possível ter mais de uma bolsa. “Há leis que não permitem o acúmulo, algo que discordo, pois atleta é um trabalho e não deve viver na subsistência”, destaca o atleta. Também na luta por uma vaga na delegação brasileira para as Olimpíadas, o octacampeão baiano, JosyHenrique Cruz, vê a profissionalização do esporte como uma das grandes dificuldades dos atletas. “Infelizmente os esportes olímpicos não são

vistos como profissão, essa é a primeira dificuldade. Não somos contratados, não possuímos direitos trabalhistas e terminamos sobrevivemos de recursos chamados ajuda de custo”, explica Cruz, também conhecido como Baiano. Luta mundial Realidade no Brasil, a falta de estrutura não é um privilégio só do nosso país, apesar de todas as dificuldades enfrentadas por atletas brasileiros, o lutador John Jairo Maduro escolheu o centro esportivo de Piracicaba para treinar e buscar também sua vaga nas Olimpíadas, representando seu país de origem, Aruba. “Apesar de tudo, a Confederação do Brasil dá mais apoio do que a do meu país”, comenta

o atleta, que também tem a dificuldade financeira como maior obstáculo. “Não é só falta de dinheiro para me manter, é também para viagens e competições. Acredito que haja dinheiro sim, mas existem sempre desculpas, eles cedem o mínimo.” Considerado ‘país do futebol’, o Brasil não possui olhos profissionais para o desenvolvimento do esporte. Má distribuição de recursos, atletas em busca de intuições privadas para treinamento qualificado, falta de categorias de base, de calendários bem definidos e de critérios para escolha de atletas são as reclamações dos

Piracicaba reúne talentos como Guilherme Cezário Félix

profissionais. Mesmo com todas as barreias, eles não desistem do esporte. “Acredito também que o esporte pode dar muitas oportunidades para quem o busca, assim, não vou desistir até encontrar a minha”, acredita Felix, possível medalhista olímpico em 2016. A reportagem entrou em contato com a CBTKD (Confederação brasileira de Taekwondo), questionando quais as principais dificuldades para manter um esporte de alto rendimento, as estruturas oferecidas pelo governo federal e se funcionam, na prática, e os planejamentos traçados para uma boa atuação da modalidade nas Olimpíadas. A assessoria da instituição não retornou até o fechamento dessa edição. Expectativa Os atletas acreditam que o Taekwondo trará retorno ao Brasil nas Olimpíadas. Para Guilherme Felix, o esporte fará história com uma ou duas medalhas. “A exemplo dos Jogos Pan Americanos de 2007 e da Copa do Mundo do ano passado, mesmo com problemas de estruturação e organização, quando os jogos começarem, tudo vai ocorrer bem e será mais um evento histórico”.


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