[ painel ] edição 84 | junho | 2018
REVOLUÇÕES POR SEGUNDO
Reportagem especial revela o que significa a evolução da inteligência artificial e como ela impacta a sua vida
fake news Ondas de notícias falsas [3]promete painel invadir campanhas eleitorais
internet Com sua autorização Facebook e Google sabem muito sobre o que você faz
crianças Superexposição aos aparelhos eletrônicos aumenta chances de distúrbios no aprendizado
salva-vidas Tecnologia promete reduzir ediçãofalhas 84 | junhohumanas | 2018 nos acidêntes de trânsito
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painel
edição 84 | junho | 2018
editorial
Painel Digital P
are, um segundo que seja. Difícil, né? As linhas continuam a aparecer, a informação não para a nenhum momento. As notificações chamam sua atenção em todas as redes sociais que você está. A menos que você more numa caverna, provavelmente está em algumas delas.
Não se sinta culpado. O computador que você leva no bolso sabe mais da sua vida do que você mesmo. É o preço a se pagar pela comodidade e por todos os nossos followers e likes. Os dados que você, de bom grado, cede às redes sociais interessam a alguém (que os coletam, vendem e compram). Mas você sabe disso, já que aceitou os termos de uso. Corra. A distância é claustrofóbica. O real e o imaterial se cruzam. Ir de Uber ou de Waze. fazer check-in, pedir comida no iFood e postar no Instagram.
Duvide. O que é de verdade: todos os seus amigos de Facebook ou o acidente que as pessoas se preocupam em usar o fone para filmar ao invés de pedir socorro? Isso é muito Black Mirror.
expediente
Ógão Laboratorial de Comunicação Universidade Metodista de Piracicaba Reitor Fábio Botelho Josgrilberg
Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino César Guimarães da Costa Coordenador do Curso de Jornalismo Paulo Roberto Botão Editor João Turquiai Junior MTB 39.938
Editores-assistentes Caroline Giantomaso Pedro Spadoni Larissa Sousa Lucas Lima Thaís Passos Gabriel Piazentin
[edição painel 2018 5] 84 | junho|
Uma certeza é: só ousados arriscam que fim isso tudo vai dar. Enquanto o fim não chega, a [Painel] deste ano faz o caminho contrário: depois de tanta tecnologia que já mergulhou nas nossas vidas, chegou a vez de a equipe se aprofundar nela. Em respeito à boa prática do Jornalismo, aqui não tem fake news. Na verdade, tem sim, na página 14, sobre a influência dessas inverdades que percorrem o meio digital e o reflexo na política. Já que este é ano de eleição, não custa passar esse antivírus e entender os comportamentos que levam à distribuição delas.
Os impactos causados pela internet também podem ser encontrados na página 44, sobre o ódio que se espalha por quaisquer caixas de comentários. Ofender aquele do outro lado da tela é tão fácil. Por estar ao alcance de qualquer um, e ao mesmo tempo fisicamente distante, o caráter humano encontra esse novo refúgio para seu desenvolvimento, por vezes, descontando-se da eventual gravidade para com terceiros. Redação e diagramação Aline Olaya, Andreson Bispo da Silva, Andressa Menghini, Ana Lúcia Quintino Teodoro, Ana Paula Veronezi, Caio de Araújo Lima, Caio Nogueira Antunes, Camila Angelocci, Caroline Messias Giantomaso, Clayton Murillo Santos da Silva, Débora Bontorim Saia, Elisangela Maria Justi, Emily de Souza Gomes, Fernanda Camillo Falcade, Fernanda de Toledo da Silva, Fernanda Juliano da Silva, Gabriel Agustinho Piazentin, Gabrieli Alves Emboaba, Isabela Sabéllico Sobral, Jacqueline Sávio Passos, Julya Zani, Lais Andrade, Larissa de Sousa, Larissa Santos de Oliveira, Letícia de Almeida Ortolani, Letícia Regina Alves, Marco Aurélio Ribeiro de Souza Junior, Maria Rita Zuliani Pereira, Mariana Villiotti Vale, Murillo Carvalho Gomes, Natália Pedrolli Marim, Pedro Borges Spadoni, Pedro Paulo Martins Silva, Thalles Cristiano de Menezes, Thaís Passos da Cruz, Thierry Giraldelli Marsulo
O entrevistado desta edição é o professor Miguel Nicolelis, cuja pesquisa é voltada para a neurociência junto à robótica. A partir da página 08 encontra-se a conversa que o neurocientista cedeu à [Painel], em que comenta a respeito dos avanços de pesquisas sobre próteses neurais e o papel da ciência no país.
A revista ainda conta com uma grande reportagem sobre Inteligência Artificial, na página 34. Nela, os repórteres investigaram três grandes temas associados à questão: o desenvolvimento da linguagem por essas inteligências, a produção artística decorrente delas e onde elas já estão em nossas vidas. E tem muito mais, é só virar a página ao lado e passar os olhos pelo sumário. Descubra. Só não deixe que umas letrinhas mandem em você.
Supervisão Gráfica Felipe Vieira (Laboratório de Planejamento Gráfico) Capa Camilo Riani/ Agência Escola PP
Correspondência Faculdade de Comunicação - Campus Taquaral Rodovia do Açúcar, KM 156 Caixa Postal 69 - CEP 13.400-911 Telefone (19) 3124-1677 unimep.br
sou reporter .com.br [3] edição 84 | junho | 2018 painel
sumário edição 84
8 6 8 14 18 22 24 [[64]]
painel
Opinião Diversão e relacionamentos no século 21
Entrevista Miguel Nicolelis destaca a necessidade de se investir em ciência no Brasil
Política Fake news assombra candidatos em ano eleitoral
Do luxo ao lixo Reciclagem de eletrônicos é lucrativa e benéfica ao meio ambiente
Trânsito Tecnologia para integrar veículos e rodovias
Sirius
Acelerador de partículas pode mudar o rumo da ciência no Brasil
30
18 26 30 32 34 42 44
Perigos da rede Gigantes como Google e Facebook sabem muito sobre a sua vida
Segurança Sobram aplicativos e faltam ações efetivas de combate ao crime
Aprendizado Conheça os riscos do uso excessivo de equipamentos eletrônicos pelas crianças
Inteligência artificial Tecnologia explora linguagem, arte e o que você faz na internet
Resenhas Ex_Machina e Westworld
Guerra virtual Redes sociais também abrem espaço para manifestações de intolerância
edição 84 | junho | 2018
painel
edição 84 | junho| 2018
34 46
Na palma da mão
48 50
Esporte
52 54 56
Aplicativos aproximam médicos e pacientes
Conheça a tecnologia usada pelo Corinthians para prevenir lesões nos atletas
Olho no jogo Cresce o uso de câmeras para auxiliar árbitros em partidas esportivas
Moda Lojas virtuais unem inspiração e vendas
Economia Jovens encontram na tecnologia o suporte para empreender
Inclusão Aplicativos auxiliam deficientes em tarefas do dia a dia
[edição 2018 7] painel 84 | junho|
68
44 58
Vida saudável
60 62 64
Sexo
66 68
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Novas tecnologias no processamento de alimentos
Indústria promete relação ‘quase humana’
Fitness Redes sociais propagam estilos saudáveis
Mercado dos sonhos Jogar videogame e ser bem remunerado
Cultura Black Mirror não está longe da realidade
O futuro é do streaming Transmissão de áudio e vídeo compete com grandes meios de comunicação
[5] edição 84 | junho | 2018 painel
opinião
Um upgrade na diversão CLAYTON MURILLO clayton_muryllo@hotmail.com
O
modo como as crianças se divertiam com brinquedos e brincadeiras nas ruas a ponto de até arrancar a “tampa” do dedão ganhou um certo upgrade. Hoje a diversão é um pouco mais avançada, com alguns nomes mais típicos, como: tablets, computadores e celulares. Objetos eletrônicos que, movidos pela internet, ganham mais força no uso. Tem-se a impressão que as crianças nascem com uma luz led acesa em seus rostos para curtir as performances da turma da Galinha Pintadinha. Mais nítido ainda é saber que essas crianças já têm o controle de tais dispositivo, pois com apenas um toque o conteúdo muda na tela. Diversos vídeos, diversos jogos, diversas redes sociais, diversos mundos em um só dispositivo.
Pesquisa realizada entre 2016 e 2017 pelo Centro Regional de Estudos apontou que nove em cada dez crianças e adolescentes brasileiros se conectam a internet. É um número sinistro, mas não tão assustador no mundo em que vivemos. Outra outra pesquisa realizada em 2017 pela ONG SaferNet Brasil revelou que 53% dos 1.326 internautas ouvidos têm contato com conteúdo impróprio para sua idade. Certa vez, minha irmã, hoje com 28 anos, fez uma loucura. Ela já tinha problema no fígado e decidiu fazer uma dieta indicada por uma [8 [6] ]
painel
Youtuber: deveria comer semente vermelha e, com isso perderia peso. Após encher a barriga de sementes vermelhas, minha irmã percebeu que o emagrecimento estava longe de acontecer. Ela passou mal e prejudicou ainda mais o fígado. Por sorte, conseguiu reverter o estado de saúde.
Se até os adultos repetem ações irresponsáveis, o que pensar das crianças que mal sabem o que pode lhes causar mal à vida seguindo orientações da web. Um exemplo bem visível é a menina de 7 anos que morreu no início deste ano após inalar desodorante pela boca. O “desafio do desodorante” é só um dos modismos da internet que as crianças são incentivadas a praticar.
O perigo da internet aos pequenos não para por aí. A pesquisa da ONG SaferNet Brasil também revelou que 27% dos internautas ouvidos foram a um encontro com amigos que conheceram na internet. Dessa porcentagem, 65% foram aos encontros sozinhos, sem comunicar aos pais. Chocante, não é mesmo? O uso da internet pelas crianças é um fato que deve ser aceito, compreendido e supervisionado pelos pais. O alerta está neste artigo e pode ser encontrado também na internet e em outros estudos. Mas o poder de ensinar e impor limites está nas mãos dos senhores pais e responsáveis pelos seus filhos.
[4] edição 84 | junho | 2018
Face Match LUCAS LIMA lcslimabr@gmail.com
L
á estávamos nós três, depois do expediente do trabalho, sentados à mesa do restaurante para comer o lanche encomendado. Eu e mais um casal de solteiros. Conversávamos sobre os relacionamentos líquidos gerados pela vitrine emplacada pelas redes sociais. Variávamos entre mordidas no alimento, goles da bebida e ponderações sobre a dificuldade — dos solteiros digitais — em encontrar algo verdadeiro e duradouro. — Por isso que muita gente fica junta na escola ou na faculdade — falei. — É aquela coisa, galera, tem que ter o convívio pessoal, você precisa conhecer a pessoa com quem está tentando ter algo.
— Eu concordo — se manifestou o cara solteiro. — Tipo, eu começo a conversar com uma menina no Instagram e ela até me dá bola e responde minhas mensagens. Só que, ao mesmo tempo, eu sei que ela está falando com vários outros caras no chat.
— E o contrário também — comentou nossa amiga, cheia de batatas fritas na boca. — Sem contar que, sem esse lance de cara a cara, não dá para tirar conclusões precipitadas ou dizer que você conhece a pessoa com quem está conversando. Os dois usam aplicativos de relacionamentos no celular, para tentar encontrar um par para o resto da vida ou simplesmente uma companhia para uma noite. Mas ao mesmo tempo em que essa vitrine virtual de rostos moldados
[edição painel 2018 9] 84 | junho|
e maquiados, vidas perfeitas e currículos atraentes se postava como a solução para a solidão deles, era também a causa dela. — Mas esse negócio é, na verdade, um vício — ela olhava para o teto, sem expressão, parecia desanimada.
— Não sei como explicar, mas parece que a gente nunca vai estar satisfeito com nada. — Como assim? — Intervim.
— Tipo, mesmo que a gente esteja saindo com alguém, parece que nunca estaremos satisfeitos com isso, sabendo que existem outras pessoas "melhores"— gesticulou as aspas no ar — na internet, solteiras. Ficamos em silêncio pelo resto da refeição. O que ela nos disse não deixa de ser verdade. A internet permitiu muitas facilidades, mas também tornou algumas outras coisas difíceis.
Ao mesmo tempo em que abriu as portas para conhecer alguém novo, essas soluções modernas, virtuais nos trouxeram esse problema. Seguimos para o estacionamento para nos despedir, ainda em silêncio, sem saber o que falar. Nosso amigo ficou calado e ela voltou a rolar o feed do aplicativo, dando corações para os rostos e corpos bonitos que via. Eu era o único do trio que tinha um relacionamento, e ele não nasceu do mundo digital. Confesso que nossa amiga tem razão no que disse, não sei se estaria namorando hoje se não tivesse um primeiro contato pessoalmente.
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painel
Créditos: acervo/AASDAP
entrevista
Eleito um dos 20 cientistas mais influentes do mundo, o brasileiro Miguel Nicolelis fala à Painel sobre o exoesqueleto e a possibilidade de que suas pesquisas ajudem no edição 84 | junho | 2018 tratamento de doenças psiquiátricas
Cérebro e
MÁQUINA Neurocientista paulistano acredita que a soberania e a independência do Brasil estarão em risco se os investimentos em ciência não forem levados a sério PEDRO MARTINS pedro.silva15@a.unimep.br LETÍCIA ALVES leticia.alves3@a.unimep.br
N
ascido em São Paulo, o neurocientista Miguel Nicolelis, considerado pela revista Scientific American como um dos 20 cientistas mais influentes do mundo, foi responsável pelo primeiro equipamento controlado pela atividade cerebral e com sensação tátil. Essa neuroprótese, conhecida mundialmente como exoesqueleto, utiliza comandos motores extraídos da atividade elétrica cortical dos pacientes. O experimento resultou do trabalho coordenado por ele e desenvolvido desde 1999 através do Projeto Andar de Novo.
[edição 2018 11] painel 84 | junho|
Em 2014 apresentou ao mundo, pela primeira vez, um exoesqueleto que deu o chute inicial na abertura da Copa do mundo, no Brasil. O movimento foi controlado pela atividade cere-
bral de uma pessoa paraplégica. Com isso, a equipe de mais de 150 profissionais de diversas partes do mundo, orientados por Nicolelis, pôde comemorar o início de um grande avanço da ciência. Esse foi só o começo de um futuro em que as pessoas contarão com as Interfaces Cérebro-Máquina para garantir melhor qualidade de vida. Além de ser um marco nos estudos cerebrais, o projeto traz esperaça para pessoas com deficiências irreversíveis recuperarem os movimentos. Em entrevista à revista Painel, o médico e neurocientista falou sobre o trabalho desenvolvido e as perspecpectivas no campo da neurociência e tecnologias.
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Painel: Como surgiu o interesse pela ciência e a convicção que iria seguir a carreira de cientista? Miguel Nicolelis: Nos tempos de Colégio Bandeirantes, comecei a ter contato com a visão humanística da biologia, com a teoria da evolução e a entender a razão de que somos o que somos e de onde viemos. Ao entrar na faculdade de medicina para ser neurocirurgião, percebi que aquilo não era o que eu queria; não remetia aos tempos de colégio, quando eu me aventurava nos laboratórios de ciência da escola. Foi quando, ainda na faculdade, que conheci a pessoa que veio a me inspirar, o professor Cesar Timo Iaria, fundador da neurociência brasileira. Como deu início a sua pesquisa sobre próteses neurais para reabilitação de pessoas com paralisia corporal? No final dos anos 90, nos laboratórios da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, eu e John Chapin estudávamos circuitos neurais e tentávamos entender como uma grande população de neurônios se interagiam entre si.
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“A sociedade do século 21 é a sociedade da transformação do conhecimento aplicado”
A ideia da ferramenta ICM surgiu durante uma conversa acerca de como poderíamos criar uma ferramenta capaz de traduzir o que queríamos realizar cientificamente, que nada mais é que uma tentativa de estabelecer uma conexão direta entre o cérebro e um artefato mecânico, eletrônico ou virtual, controlados por esse cérebro.
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painel
A ideia foi registrar a atividade elétrica do cérebro ao primeiro estímulo do animal, transformar em comandos digitais e remeter a men-
sagem a um robô. Basicamente, é a força do pensamento que gera a estimulação do artefato sem haver necessidade de mover um músculo sequer. Em 2000, eu e John publicamos na Scientific American que a interface cérebro-máquina seria, em torno de uma década, capaz de restaurar os movimentos de pacientes com disfunções neurológicas.
As interfaces cérebro-máquina já são uma realidade, o que podemos esperar dessas tecnologias no futuro? As interfaces cérebro-máquina (ICMs) desempenham um papel central, tanto no estudo das propriedades fisiológicas dos circuitos neurais, como na introdução de potenciais novas terapias para o tratamento de uma grande variedade de doenças neurológicas, como a epilepsia, o mal de Parkinson, os acidentes vasculares cerebrais e as lesões medulares. As ICMs poderão, inclusive, oferecer novas opções terapêuticas no futuro, mesmo para doenças psiquiátricas, como a depressão e distúrbios bipolares e obsessivo-compulsivo. Como existem centenas de milhões de pessoas no mundo sofrendo com algum tipo de doença cerebral, o impacto das ICMs pode vir a ser extremamente difuso num futuro próximo. As aplicações das ICMs em pessoas com lesões neurológicas também começam a surgir em vários segmentos das indústrias de alta tecnologia moderna, como telefonia celular, redes sociais, e automação industrial. Então, eu prevejo uma grande expansão da área nas próximas duas décadas.
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“As ICMs poderão, inclusive, oferecer novas opções terapêuticas no futuro”
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Como está atualmente o projeto? Agora, os estudos continuam a ser feitos em um segundo grupo, buscando resultados através do uso da interface cérebro-máquina e do treinamento com prótese robótica e feedback tátil, para, assim, reafirmarmos que o uso da tecnologia em referência é crucial na recuperação dos pacientes. O que falta para os estudos científicos no Brasil serem um grande agente de transformação? A sociedade do século 21 é a sociedade da transformação do conhecimento aplicado. Se nós, enquanto sociedade e país, não tomarmos uma decisão clara com relação aos investimentos em ciência, o Brasil não terá mais chances de ser um país soberano e independente. O que é o projeto INCeMaq?
O Instituto Nacional de Interfaces Cérebro-Máquina (INceMaq) foi um
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painel
projeto executado de 2009 a 2017 pela AASDAP (Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa), no âmbito do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNDCT) que compreendia a pesquisa aplicada em ICM, além de um programa de formação científica para alunos desde o ensino médio até o pós-doutorado. Quais são as linhas de pesquisa para este projeto?
As linhas de pesquisa são Interface Cérebro-Máquina com desenvolvimento e biocompatibilidade de matrizes de multieletrodos; decodificação da atividade de populações neuronais e geração de comandos para dispositivos e Neuromodulação da Medula Espinhal, com desenvolvimento de eletrodos de estimulação epidural; avaliação comportamental, eletrofisiológica e imunohistoquímica dos efeitos da estimulação.
Qual a importância de políticas públicas de incentivo a iniciação científica? A relevância de se focar na área da neurociência de sistemas também pode ser exemplificada pelo fato que a maioria das grandes doenças neurológicas se manifestam pelo mau funcionamento de grandes circuitos neurais. Neste sentido, o estudo das interfaces cérebro-máquina se transformou num dos campos de maior crescimento da neurociência contemporânea, tanto nos EUA, como na Europa e, mais recentemente, na China. Nos últimos anos, o foco central da neurociência mundial tem se voltado fortemente para a caracterização fisiológica do funcionamento dos grandes circuitos cerebrais, responsáveis pela elaboração dos comportamentos essenciais do ser humano. Esse tema central se transformou na principal área de ação, por exemplo, do Brain Initiative proposto pelo governo americano na gestão do presidente Obama.
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“Grandes doenças neurológicas se manifestam pelo mau funcionamento de grandes circuitos neurais”
Na abertura da Copa, em 2014, foi apresentado ao mundo uma parte da sua pesquisa. Com o exoesqueleto, o paraplégico Juliano Pinto, de 29 anos, deu o primeiro chute da partida. Como é feito o processo de avaliação do desempenho do robô e o avanço na melhora do paciente? A interface cérebro-máquina usada utiliza múltiplos eletrodos para registros eletroencefalográficos – um método não invasivo de registrar atividade elétrica cerebral - embutidos numa espécie de touca, imediatamente acima das áreas cerebrais do lobo frontal envolvidas no controle motor. O protocolo de treinamento do Projeto Andar de Novo contém múltiplos componentes.
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No componente da realidade virtual, os pacientes usam óculos de realidade virtual para controlar o caminhar de um avatar tridimensional, imaginando movimentos do próprio corpo. Os pacientes aprendem a usar somente a atividade elétrica de seus cérebros, registrada pelo EEG (Eletroencefalograma), para mover o corpo virtual que representa um jogador de futebol caminhando no gramado de um estádio de futebol. Durante essa tarefa, os pacientes também recebem um fluxo contínuo de feedback tátil, descrevendo o momento em que os pés do “jogador de futebol virtual” tocam o gramado do estádio. Esse feedback tátil é entregue aos pacientes através de pequenos elementos vibratórios costurados nas mangas compridas
da camiseta que os pacientes usam nos experimentos. Com esse aparato, é possível entregar os sinais táteis, descrevendo o contato dos pés do avatar com o solo, na superfície da pele dos antebraços dos pacientes. A esse “visor háptico” demos o nome de “camiseta tátil”. No segundo componente de treinamento, os pacientes utilizam um andador robótico comercial, colocado em cima de uma esteira de exercício, para realizar movimentos que simulam o caminhar. Para tanto, os pacientes são colocados na posição ereta e mantidos nessa posição por um sistema de proteção que confere segurança a eles. Nessa fase do treinamento, os pacientes também usam os sinais do seu EEG para iniciar os movimentos de marcha gerados pelo andador robótico. Simultaneamente, eles recebem os mesmos sinais de feedback tátil gerados por sensores de pressão, aplicados nas pernas e pés do andador robótico, que são entregues ao paciente usando a mesma “camiseta tátil” descrita acima.
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Paciente se movimentando através do “robô”, por impulsos cerebrais
Num terceiro componente, os pacientes– ainda usando o mesmo sistema de registro de EEG e a camiseta tátil - operam um exoesqueleto robótico de membros inferiores. A adição do feedback tátil, de forma sincronizada com o feedback visual, cria uma ilusão extremamente realística de ‘caminhar autonomamente’ para os pacientes quando eles controlam os movimentos do jogador virtual e do exoesqueleto. Nesse treinamento, realizado ao longo de 12 meses, registramos mudanças nos padrões de EEG, possíveis contrações musculares, movimentos voluntários dos membros inferiores e a magnitude e o tipo de sensibilidade (dolorosa, tátil, vibratória, proprioceptiva) experimentados pelos pacientes abaixo do nível de suas lesões medulares. Como resultado dessas medidas, os pacientes exibiram sinais de uma recuperação parcial do controle voluntário de funções musculares observadas abaixo do nível de suas lesões medulares.
[15 ] painel 2018 edição 84 | junho|
A nossa hipótese é que o nosso procolo de treinamento gerou a combinação de plasticidade cortical e espinhal devido ao uso crônico da interface cérebro-máquina e a sua associação com o ambiente de realidade virtual, movimentos reais dos mem-bros inferiores e o feedback tátil.
Esses resultados foram publicados através do artigo clínico “Long-Term Training with a Brain-Machine Interface Based Gait Protocol Induces Partial Neurological Recovery in Paraplegic Patients”, em agosto de 2016, na revista científica Scientific Reports. O reconhecimento mundial destes resultados foi muito grande, permanecendo entre os 100 artigos mais citados on-line do ano de 2016 (dentro de um universo de 2 milhões de artigos publicados). Além disso, o projeto foi agraciado com vários prêmios internacionais, recebeu grande destaque na imprensa mundial e foi matéria de capa do site da Revista Nature por uma semana. O impacto destes resultados
pode ser medido também pelo fato de que o vídeo descrevendo o estudo foi visto por mais de 28 milhões de pessoas. Tudo isso demonstra que o Projeto Andar de Novo atingiu os seus objetivos e demonstrou que a neurociência brasileira pode competir de igual para igual com qualquer outro país, desde que apoiada de forma categórica.
[ ] “O reconhecimento mundial destes resultados foi muito grande”
[13] edição 84painel | junho | 2018
política
Créditos: Lucas Lima e Thaís Passos
PARA FAKE NEWS 2018: VOTE NÃO!
Em ano eleitoral, a preocupação dos candidatos é com o novo monstro virtual: as notícias falsas DÉBORA BONTORIM SAIA debora.bontorim@gmail.com NATÁLIA MARIM nataliapmarim@gmail.com
A
posto que o termo fake news já apareceu muito na sua timeline. Mas o contexto e as consequências por trás dele, principalmente quando relacionado à área política, vão muito além do clique que você dá para compartilhar qualquer informação na sua página do Facebook.
Em ano de eleições para presidente da República, governador, senador, deputado federal e estadual, os canditados não sofrem mais com o monstro da campanha eleitoral, e, sim, com a assombração das fake news, que podem prejudicar sua reputação e até acabar com as chances de serem eleitos.
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painel
Combater a propagação de notícias falsas é um dos pilares de atuação do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luiz Fux. Ele diz que alguns candidatos preferem destruir a honra alheia por meio de notícias falsas nas redes sociais em vez de revelar aptidões e qualidades. “Fake news derretem candidaturas legítimas. Uma campanha limpa se faz com a divulgação de virtudes de um candidato sobre o outro, e não com a difusão de atributos negativos pessoais que atingem, irresponsavelmente, uma candidatura”, argumenta à Revista Painel. Como primeira ação do Tribunal relacionado ao Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, criado em dezembro de 2017, Fux informa que um procedimento com o Ministério Público Eleitoral será instaurado para que as possibilidades de acontecerem irregularidades sobre proli-
feração de fake news sejam apuradas. O detalhamento dessas ações ainda está em debate, mas uma parceria com veículos de comunicação considerados confiáveis está prevista.
Para o coordenador adjunto da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político), advogado Fernando Neisser, o grande dilema das eleições é manter o equilíbrio entre o combate das notícias falsas e a interferência na liberdade de expressão. “Toda vez que a Justiça tenta firmar um controle maior do que as pessoas dizem, temos, naturalmente, uma vulneração na liberdade de expressão, que deve ser privilegiada. O grande problema das fake news são as informações falsas que influenciam os votos dos eleitores”, defende. Neisser explica que as vítimas de notícias falsas podem reedição 84 | junho | 2018
[ ] “Fake news derretem candidaturas legítimas”
correr judicialmente por meio da lei do direito de resposta, que garante o uso da mesma plataforma digital para defesa do prejudicado. A lei também assegura que o post de resposta terá de ficar no ar, pelo menos, duas vezes o tempo que a falsa esteve ali, e, caso o indivíduo sinta-se lesado financeiramente, pode obter indenização.
[edição 2018 17] painel 84 | junho|
Como uma das formas de combater a divulgação de falsas notícias, pesquisadores defendem a alfabetização midiática. Nos últimos anos, essas reformas educacionais têm sido realizadas em variados países a fim de desenvolver habilidades dos estudantes para que eles possam se tornar atuantes em ferramentas de comunicação e novas tecnologias, com o objetivo de articular processos de desenvolvimento social. Por enquanto, a proposta ainda não é considerada viável por pesquisadores. De acordo com o jornalista coordenador dos programas de pós-graduação em comunicação e mídias digitais do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) em Piracicaba e analista de comunicação da USP (Universidade de São Paulo), Fabiano Pereira, seria necessário um trabalho de alfabetização anterior com os próprios docentes e, a partir
disso, a definição da melhor forma de inserção do assunto no currículo discente. “No âmbito do ensino médio e no ensino superior é mais factível, mais fácil implantar. Ainda assim, tudo vai depender da abordagem e forma como essa introdução se dará nos currículos. A verdade é que a situação está se tornando rapidamente insustentável. Portanto, algo precisa ser feito o quanto antes”, avalia.
As divulgadas fake news, normalmente de forma sensacionalista, muitas vezes, tem poder de atuação sob o processo de formação de opinião de quem as lê. Em pesquisa realizada para esta reportagem, 54% das pessoas dentre as 88 entrevistadas afirmaram já terem sido influenciadas por notícias falsas. Além disso, 62,1% disseram se sentir mais atraídas por títulos sensacionalistas. O psicólogo Dante Moretti utiliza o psiquismo para explicar o motivo que garante o alto nível de acesso em notícias falsas. “A mentira, a ironia, esses padrões psicológicos que negam a realidade vão encontrar expressão no sensacionalismo. Isso gera endorfina, adrenalina, dopamina, serotonina no cérebro. A pessoa acessa a rede social e vê uma notícia que é polêmica, isso move o psiquismo”, explica.
[15] edição 84 | junho | 2018 painel
O mecanismo combatente Como você já deve saber, os algoritmos do Facebook mostram na sua timeline assuntos de sua preferência, notícias que mais lê e páginas que mais acessa. Por deixar de lado e desfavorecer outros conteúdos, esses algoritmos foram muito criticados e acusados de criar uma bolha ao usuário, que se fecharia no seu mundo e deixaria de conhecer outros pontos de vista.
Na tentativa de diminuir a enxurrada de falsidades, o Facebook e o Google criaram algoritmos de buscas com o intuito de evitar casos como o de Marielle, da Lava-Jato ou das últimas eleições americanas – que, para alguns, foram manipuladas pela falsa mídia. O Google passou a dar mais destaque a notícias divulgadas por páginas consideradas mais confiáveis, já o Facebook optou por permitir a denúncia de informações que o usuário possa considerar falsa, bem como apresentar, abaixo das notícias, outros links sobre o mesmo assunto. Na área política, o Facebook preten-
de criar um processo de verificação da identidade de quem fizer propa ganda política nas redes sociais. “A intenção do Facebook e Instagram é checar e analisar, de forma mais detalhada, quem pagará por este impulsionamento”, explica o jornalista, professor, escritor e consultor político especialista em marketing para campanhas eleitorais Gustavo Fleury. Fleury também apoia a alfabetização midiática e, para ilustrar a importância dessa educação, relembra o caso da Escola Base, que ocorreu em março de 1994. Ainda que as redes sociais não existissem naquela época, os boatos e fatos mal apurados, divulgados pela imprensa, destruíram a reputação da escola e dos profissionais acusados de abuso.
“A ideia seria muito válida de ser implementada desde o ensino fundamental com apresentação inclusive de casos conhecidos. Seria muito eficaz por trabalhar na base, mostrar que existem informações que são achismos ou estão nas redes para realmente atacar, denegrir pessoas ou instituições”, defende.
[ ] “Não é a Justiça Eleitoral que vai dar um basta nisso”
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painel painel
edição 84 | junho | 2018
PRÉ-FAKE Muito antes dos anos 90, existem comprovações de que a mentira, nesses casos, é utilizada desde o Império Romano. “Ela sempre existiu na política. A grande diferença, agora, é a velocidade de propagação. O TSE está empenhado em tentar fazer esse combate de fake news, que é muito difícil do ponto de vista tecnológico. Isso tende a acontecer até a própria sociedade criar uma vacina com relação a isso e parar de dar tanta bola a esses boatos. Não é a Justiça Eleitoral que vai dar um basta nisso”, comenta o advogado Fernando Neisser.
NÃO CAIA NESSA! 1- Analise criticamente o conteúdo publicado; 2- Avalie a credibilidade do site ou perfil de postagem; 3- Analise a qualidade de escrita do texto; 4- Verifique em outros endereços reconhecidos; 5- Ouça o contraditório, dando espaço para veículos de correntes ideológicas diferentes; 6- Não replique ou reposte nada sem antes fazer as verificações. Fonte: Fabiano Pereira
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painel [17] edição 84 | junho | 2018
Créditos: Divulgação Sinctronics
e-lixo
HDs de celulares descaracterizados entregues à reciclagem
CAÇA Substituídos frequentemente, os aparelhos fonte de riqueza para indústrias
ANDRESON BISPO DA SILVA andreson.silva20@gmail.com CAMILA ANGELOCCI angeloccicamila@gmalim.com EMILY DE SOUZA GOMES emily7sg@gmail.com
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painel
A
tecnologia trouxe meios portáteis que se tornaram essenciais no cotidiano das pessoas. Celulares, notebooks e impressoras apresentam funções que satisfazem a necessidade humana até o fim da vida útil dos dispositivos. Porém, quando deixam de ter utilidade, onde esses materiais vão parar?
Dados do “Global E-Waste Monitor 2017”, relatório internacional elaborado pela Universidade das Nações Unidas (UNU) em parceria com União Internacional das Telecomunicações (UIT) e a ISWA – International Solid Waste Association (Associação Inter-nacional de Resíduos Sólidos), apon-
ta que em 2016 o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, sendo que apenas 8,9 milhões de toneladas do montante descartado foi reciclado.
O descarte incorreto do lixo eletrônico, além de poluir o meio ambiente, é prejudicial à saúde. Como forma de dar destino correto a esse material foi criada a Lei Federal nº 12.305, aprovada em 2010, referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil. A lei coloca como meta a eliminação de lixões até 2020 para cidades menores e até 2018 para cidades maiores.
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AO TESOURO eletrônicos resultam em toneladas de resíduos que podem ser especializadas em extração de metais preciosos
De acordo com a engenheira ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bruna Ferrari, a legislação impõe que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletroeletrônicos e seus componentes são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mas de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos.
Por não ser obrigação das prefeituras, a coleta e o descarte desse tipo de lixo não é realizada na maioria das cidades. Dessa forma, a população se vê sujeita a armazenar os aparelhos
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em casa ou procurar empresas que façam esse tipo de reciclagem. Quando o descarte correto não é realizado, o lixo eletrônico acaba indo parar em lixões, aterros sanitários ou até em terrenos baldios, afetando a fauna e a flora local. “Quando em excesso no solo, esses elementos [metais pesados] podem inibir o crescimento das plantas e causar alterações nas comunidades vegetais, como também exercer efeitos adversos sobre os microrganismos do solo, interferindo nas funções do ecossistema, com consequências ao meio ambiente e à saúde
pública”, explica Bruna.
Piracicaba é uma exceção nesse caso e dispõe de um ponto de coleta cedido pela prefeitura. A população pode levar a sucata eletrônica na Avenida das Ondas, nº 6565, no Bairro Ondinhas. “No caso de eletroeletrônicos de grande porte, pode-se acionar o programa Cata Cacareco, através da ligação para o número 156”, informa a chefe da divisão de resíduos sólidos da Secretaria de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (Sedema), Celise Romanini. De 2013 a maio de 2017, cerca de 200 toneladas de lixo eletrônico
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[ ] “Esses elementos podem inibir o crescimento das plantas”
foram coletadas no município, de acordo com o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba. Apesar da coleta, a reciclagem desse tipo de material não é feita na cidade. Segundo Celise, a prefeitura contrata serviços de empresas por meio de licitações públicas e o material é encaminhado para outros municípios. Garimpo
O projeto Sinctronics, unidade da norte-americana Flextronics no Brasil, em operação desde 2013, é uma das empresas que contribui para a transformação do e-lixo. Localizada em Sorocaba, a empresa realiza a coleta de eletrônicos por meio da logística reversa. Com foco no reaproveitamento máximo dos resíduos, o Sinctronics integra esse processo de economia circular, que substitui o conceito de fim de vida da economia linear (matéria prima-produção-consumo-descarte).
Funcionários realizam a separação de notebooks para reciclagem
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Entre os materiais mais recebidos pela empresa estão notebooks e impressoras, estações rádio base de grande porte, hardwares e periféricos. Depois de recebidos, os aparelhos são desmontados, descaracterizados e separados de acordo com suas propriedades. “Após a separação, a empresa mantém o plástico e destina os papéis e metais para as empresas parceiras”, afirma Débora Galvão, assessora de comunicação do Sinctronics.
Mesmo com projetos como esse, o reaproveitamento do e-lixo ainda é incomum em todo o Brasil. A chamada mineração urbana nada mais é que a reciclagem de materiais de valor presentes em resíduos eletrônicos,
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é a peça chave para mudar esse processo de descarte e reciclagem.
Muito além de ajudar o meio ambiente e, consequentemente, a saúde, a mineração urbana é literalmente uma fonte de “ouro” no lixo. Isso porque, de acordo com as Nações Unidas, o valor das matérias-primas, entre elas, ouro, cobre e platina, contidas no lixo eletrônico em 2016 é estimado em € 55 bilhões.
Misto com metal não processado
Após ser coletado e destruído na sede brasileira, o material é enviado para a matriz, em Singapura, onde ocorre a reciclagem. Desta forma, 17 componentes são extraídos na fase final e transformados em barras e lingotes de metais preciosos, raros e ferrosos. Depois, os metais são encaminhados para comercialização em mercado aberto.
[ ] “Nosso lucro é alto, mesmo tendo um custo alto”
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Créditos: Divulgação Cimelia
Outra empresa que oferece os serviços de reciclagem de eletrônicos, aliado à mineração urbana, é a Cimelia Reciclagem. Localizada em Campinas, a empresa recebe materiais da popu- Créditos: Divulgação Sinctronics lação e de empresas multinacionais. “O processo [de recebimento] é muito extenso e consiste em eliminar as informações dos clientes ou destruir equipamentos para que não caiam no mercado paralelo, que alimenta a pirataria”, garante Ana Cláudia Drugovich, diretora executiva da empresa.
Amostra de ouro retirada do processamento de eletrônicos
Mesmo com o frequente descarte de eletrônicos, esse tipo de lixo não é visto tão facilmente pelas cidades.
Pela sua abundância, empresas conseguem fácil acesso à matéria-prima presente nos componentes da sucata eletrônica. “Ao invés de fazermos extração de recursos naturais, encontramos hoje facilmente lixo eletrônico em todas as cidades do mundo”, completa Ana Claudia. Este material pode ser utilizado como uma mina de ouro por empreendedores. O processamento da sucata eletroeletrônica mista, realizado pela Cimelia, resulta em materiais como ouro, prata, e cobre. Do processamento de uma tonelada dessa sucata é possível retirar, aproximadamente, 170 quilos de cobre e 300 gramas de ouro. O lucro com a extração apenas desses dois metais seria
em torno de R$ 23 mil. Desta forma, a diretora executiva da Cimelia afirma: “nosso lucro é alto, mesmo tendo um custo de reciclagem e logística altos”.
Embora o e-lixo seja um desafio crescente, o número de países que estão adotando legislações específicas para cuidar desse tipo de material também está crescendo. Entre 2014 e 2017, o número passou de 61 para 67 países, um crescimento de 44%, no qual aproximadamente 4,8 bilhões de pessoas estão cobertas por legislações nacionais que tratam desse resíduo. A União Internacional de Telecomunicações (UIT) adotou a Agenda Conectar 2020, que além das metas de acessibilidade à tecnologia no mundo todo, propôs a meta de reduzir 50% o volume de resíduos eletrônicos redundantes.
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rodovias conectadas
AUTO LÁ! Falha humana é responsável por quase todos os acidentes de trânsito; projeto internacional busca utilizar a tecnologia para integrar rodovias e veículos e diminuir este número
Murillo Gomes murillocgomes@hotmail.com
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ocê já ouviu dizer que a falha humana é a principal causa de acidentes de trânsito? Uma pesquisa do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) de 2017 comprovou que 90% dos acidentes têm como explicação o erro dos motoristas.
Mas essa não é a única razão para as mais de 45 mil mortes anuais nas pistas brasileiras, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Você pode não saber, mas a sinalização viária é um fator fundamental para que uma via esteja em condições de receber veículos, a ponto de, por exemplo, o Código de Transito Brasileiro (CTB) proibir a abertura ao tráfego de qualquer pista sem que ela esteja devidamente sinalizada. Na teoria, isso significa que a sinalização deveria ser uma das prioridades durante qualquer obra de trânsito. Na prática, a realidade é outra. Segundo dados de 2017 da Confede-
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ração Nacional do Transporte (CNT), 59,2% da extensão total das rodovias do Brasil apresenta problemas na sinalização, o que representa mais de 62 mil quilômetros de uma malha rodoviária com falhas. “A sinalização viária é um importante elemento de comunicação entre diferentes usuários da via. É através dela que pedestres, ciclistas e condutores identificam o espaço destinado à sua circulação, as regras estabelecidas para um tráfego harmônico e são alertados dos principais pontos de conflito”, explica a especialista em segurança viária do World Resources Institute Brasil, Rafaela Machado. Se a infraestrutura básica de nossas vias ainda apresenta tantas falhas, como é possível que o Brasil avance rumo a um trânsito mais seguro? Para a especialista Vanessa Aranão, responsável pelo marketing de sinalização viária da 3M do Brasil, uma dessas formas é o investimento em tecnologia no setor, que há três décadas não apresenta melhorias. Assim, seria possível diminuir consideravelmente o número de vítimas fatais no trânsito. “O melhor
material [de sinalização] que temos nas rodovias hoje foi inventado em 1988. Nesse período, o mundo inteiro avançou em tecnologia, mas há muitos anos não temos uma reinvenção neste mercado. O propósito de fazer uma sinalização eficiente é muito maior, ele salva vidas. Precisamos sensibilizar para o número de acidentes que temos aqui. No Brasil, a vida é atacado”, opina Vanessa.
Connect Roads
Por outro lado, na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos – onde já existe um projeto piloto –, muito se fala sobre Connect Roads, um programa que consiste no desenvolvimento da segurança nas estradas utilizando tecnologia.
A ideia é conectar as pistas aos veículos que por elas circulam, sendo possível, por exemplo, identificar, com grande antecedência ao olho humano, alguma alteração que possa causar acidentes. “O futuro da Connect Roads é o carro fazer a leitura com o que existe na pista, e o inverso também. Isso significa que,
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Crédito: Murilo Gomes
Você provavelmente já ouviu algo sobre carros elétricos e até autônomos, mas é importante ressaltar que esse tipo de inovação tem de caminhar junto ao desenvolvimento das estradas. “A indústria automobilística já está fomentando coisas em relação aos veículos, mas algum braço dela está fazendo a frente da rodovia. Porque se você constrói um carro que a rodovia não suporta, não adianta nada. As grandes montadoras, como a Tesla, estão pensando nisso. Talvez nós estejamos falando de
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um futuro em que não haja a sinalização em si, e sim, por exemplo, hologramas, ou uma pista inteligente que acenda quando passar um carro”, diz Vanessa.
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mesmo que não haja uma sinalização, ele [carro] vai fazer a identificação de que existe um objeto na pista, ou existir um sistema que vai ler esse veículo para saber se ele pagou IPVA, ou se é um carro roubado”, explica Vanessa. “Nós somos propensos a erros enquanto seres humanos. Nesse cenário, a tecnologia pode ser uma importante aliada para ajudar na identificação e gestão dos conflitos entre diferentes usuários [veículos, pedestres, ciclistas], auxiliando com que principalmente os condutores consigam antecipar potenciais riscos e evitar acidentes”, completa Rafaela.
“No Brasil, a vida é atacado”
E no Brasil? Se lá fora já se fala em hologramas para alertar motoristas e carros, por aqui ainda é necessário desenvolver o básico. No ano passado, a Confederação Nacional dos Transportes avaliou que 61,8% das rodovias brasileiras tinham uma qualidade geral avaliada como regular, ruim ou péssima. Metade de todas as estradas teve as mesmas notas em relação ao pavimento. Segundo a CNT, o estado de São Paulo concentra 19 das 20 melhores rodovias do país. Isso é um
facilitador para o processo de implementação de melhorias nas vias, mas não há qualquer projeto em desenvolvimento no estado sobre o assunto, segundo a Secretaria Estadual de Logística e Transportes de São Paulo. O Ministério dos Transportes, responsável pelas vias federais, informou que essas “competências” – as sinalizações – são responsabilidade de órgãos regionais. “Tanto a infraestrutura quanto a tecnologia veicular são áreas relevantes para que o Brasil avance rumo a um trânsito mais seguro. Em ambos os tópicos, há soluções que já vêm sendo adotadas há décadas nos países em desenvolvimento e que ainda são incipientes no Brasil. Antes que a integração de veículos e vias através da tecnologia ocorra, é importante que as próprias vias e nossos veículos avancem em seus desenvolvimentos”, afirma Rafaela.
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ciência
Acelerador de
VIDAS
Máquina que modifica e complementa pesquisas científicas ganha estrutura mais potente e muda os rumos da ciência no Brasil
I CAROLINE GIANTOMASO carolinegiantomaso@hotmail.com CLAYTON MURILLO clayton_muryllo@hotmail.com LARISSA PIERO larissapieroreal@gmail.com
A luz em questão é chamada de luz síncrotron. Ela é capaz de penetrar em qualquer coisa e por isso é essencial nos estudos de exames como o raio-X e tomografia. Na natureza, ela só existe no espaço, mas pode ser produzida com o acelerador na Terra. Dentro dessa estrutura, par-
Créditos: Larissa Piero
Acelerador de partículas UVX ocupa área quase do tamanho de um campo de futebol e fica em Campinas
magine você com a cabeça imóvel em tubo, por seis minutos e exposto à radiação. Tudo isso para uma imagem com definição mediana e apenas do seu crânio. Essa era a realidade de quem precisava fazer uma tomografia em 1972. Graças a avanços na área, hoje o exame é feito em cerca de cinco segundos e pode captar imagens do corpo todo. Isso é possível porque cientistas do mundo todo fazem estudos com um tipo de luz emitida por aceleradores de partículas.
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tículas de dentro de um átomo são aceleradas até produzirem a luz.
Parece simples, mas imagine tudo isso de uma forma minimizada, muito minimizada. Um fio de cabelo parece fino, não é? Para atingir a largura de um fio, no entanto, é preciso que 500 mil átomos de carbono fiquem enfileirados.
Apesar de tão pequenos, a grandiosidade de uma máquina capaz de acelerar as partículas pode ocupar o espaço de quase um campo de futebol. Campinas abriga o único acelerador da América Latina, que funciona há 21 anos, o UVX. Além desse, há um segundo em construção, que também fica no Polo II de Tecnologia: o Projeto Sirius. O prédio ocupado pelo Sirius tem uma área equivalente a quase 10 campos de futebol. “Para a ciência, o céu é o limite”. A declaração é da pesquisadora Verônica Teixeira, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), campus onde o Sirius está sendo construído e onde funciona o UVX. Ela usou a máxima para falar sobre as possibilidades da máquina já existente e sobre a que está em construção.
Para se ter noção, essa máquina é capaz de estudar até fóssil de barata. Esses insetos, odiados pela maioria, são datados desde bem antes dos mamíferos - que dirá dos seres humanos. No quesito tempo de existência, as baratas estão bem à frente dos
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homens. Imagine só: estudar fósseis desses insetos em acelerador de partículas. Assim, uma barata que morreu há milhares e milhares de anos pode ser tema central de pesquisa e, inclusive, revelar coisas surpreendentes de como era o planeta Terra há muito tempo. Surreal, não é mesmo?
Para além de tomografias e baratas ou tomografias de baratas -, o LNLS pode estudar basicamente qualquer coisa, como explica a cientista. Pense agora que todo esse potencial vai ser multiplicado com o projeto Sirius. Ele vai ser um equipamento de quarta geração junto com um segundo do mesmo porte que está sendo construído na Europa. Esses dois vão ser os mais desenvolvidos do mundo. A previsão para que a máquina brasileira esteja funcionando com toda a capacidade é 2020 e ele vai permitir o estudo de materiais menores ainda, como as células. “O Sirius é uma máquina plu-
UVX
ral em que todas as áreas serão contempladas”, define Verônica.
Pois é, todas as áreas, mesmo. Incluindo saúde, água, energia, meio ambiente, agricultura, sociedade. Além disso, mais pesquisadores do mundo todo poderão aprofundar seus estudos e aprimorar os projetos na estrela mais brilhante aqui na Terra, o Sirius. Em comparação ao atual acelerador UVX, o Sirius será mais rápido, como explica a jornalista resposável pelo LNLS, Luciana Noronha. “Vamos conseguir reduzir o tempo em determinadas técnicas com o Sirius”. Por conta do início do funcionamento do
[ ] “O Sirius é uma ferramenta extremamente poderosa”
A atual luz científica brasileira pode ser apagada, mas uma nova luz vai acender e seu nome pode até ser identificado como um dos principais nomes da saga Harry Potter, mas de Black o nosso Sirius não tem nada. Apesar de coincidência, o nome foi escolhido em homenagem à estrela mais brilhante do céu, que fica na constelação de Canis Major e pode ser vista de qualquer ponto da Terra. Como diz a pesquisadora Verônica, “o Sirius é uma ferramenta extremamente poderosa para que a gente vá para a fronteira do conhecimento. E a gente consiga fazer experimentos mais rápidos com mais resolução e explorar aspectos que hoje a gente não consegue explorar”.
X Sirius
No mundo da ciência já se trabalha com a promessa de que o novo acelerador será o mais avançado, em termos de pesquisa, que existirá no mundo. Você deve estar se perguntando por quais motivos os pesquisadores afirmam essa probabilidade. Confira as principais diferenças entre o acelerador UVX (atual) e o Sirius: O feixe da luz síncrotron gerado no atual acelerador permite a visualização de materiais na escala de micropartículas (tecidos miscroscópios de dimensões maiores, um tamanho equivalente a cerca de cinco mil átomos enfileirados - para se ter noção, 500 mil átomos em fila formam a espessura de um fio de cabelo); O UVX tem 17 linhas de luz nas estações experimentais, local onde os cientistas realizam suas pesquisas. As principais luzes são, raios-X, radiação, ultravioleta e infravermelho;
É um acelerador de 2ª geração. Trabalha com energia operacional de 1,37 bilhão de elétron-volts (GeV).
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novo acelerador de partículas, o UVX tem previsão de ser desligado no final de 2018. Ainda não há previsão sobre o que vai ser feito no prédio.
O feixe da luz síncrotron que será gerado no Sirius permitirá a visualização de materiais na escala de nanopartículas (tecidos miscroscópios de dimensões menores, como mil átomos enfileirados);
O feixe que emitirá a luz produzida no acelerador no material investigado será 360 vezes menor que a do UVX, permitindo então um resultado mais eficaz; Haverá mais linhas de luz e 40 estações experimentais;
Será um acelerador de 4ª geração;
Permitirá a observação de materiais orgânicos, o que é limitado atualmente no UVX; Operado a uma energia de 3 bilhões de GeV.
Pesquisadora Verônica Teixeira ao lado da maquete do CNPEM
Quanto custou? O projeto Sirius movimentou um investimento total de R$ 1,3 bilhão de verbas do Ministério da Ciência e Tecnologia. Além da grandiosidade financeira, a estrutura dele também não deixa a desejar. Todo o terreno tem uma área de 150 mil metros quadrados, que equivale a cerca de 21 campos de futebol. Toda a estrutura do prédio onde vai ficar o acelerador de partículas ocupa 68 mil metros quadrados desse espaço. edição 84 |painel junho | 2018 [25]
segurança na rede
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ELAS SABEM
MUITO SOBRE VOCÊ
Empresas como Google e Facebook concentram dados que podem ser usados para manipular a opinião pública
Lucas Lima lcslimabr@gmail.com
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E
ntão você chega ao teatro para assistir a uma peça. O espaço é novo, recém-inaugurado, bonito, repleto de novas tecnologias. Decide tirar uma foto. Saca o smartphone do bolso, abre a câmera, muda para a frontal, ajusta o enquadrameto e click, registrou o momento. Segundos depois, o Google te envia uma notificação “Ei, adicione fotos do ‘teatro’ ao Google Maps e ajude pessoas a descobrirem o local”. “Mas como ele sabe que estou aqui?”, você se questiona.
E como não saberia? Questiono a você. Está tudo descrito na Política de Privacidade do Google, mas aposto que você, assim como a maioria das pessoas que se cadastram nos serviços oferecidos pela empresa, nem sequer abriu o documento. Além dos dados de localização, a exemplo do Google, também são coletadas informações de navegações na web, históricos de navegações, clipes de voz (de quando você faz buscas por voz ou efetua comandos no dispositivo) e até em que dia e horário você usou o botão “início” do Android.
É poissível usar a internet sem acessar sequer um serviço do Google? Talvez. Mas e quanto ao Facebook, Twitter, Amazon, WhatsApp, Instagram? Todas essas empresas ou aplicativos coletam dados para aprimorar seus próprios serviços, seja por meio da venda de anúncios ou de produtos. Muitas podem saber mais da gente que nossos parentes, amigos e até mesmo os órgãos públicos do nosso país.
[ ] “O problema está na entrega desses dados para terceiros”
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Créditos: Lucas Lima O Google sabe o que você faz e quando faz no Andróid
“Você pode até alegar que não se preocupa sobre quais informações a seu respeito essas empresas têm, e que não tem nada a esconder, já que sua rede social, com fotos, textos e vídeos é um espelho fiel da realidade que concentra tudo que alguém é ou faz.” O jornalista especializado em tecnologia e comentarista da CBN, Thássius Veloso, diz que é perfeitamente normal uma rede social utilizar os gostos das pessoas para apresentar propagandas mais relevantes. “Além de ser lucrativo para a organização, também é mais interessante para o usuário. O problema está na entrega desses dados para terceiros”, observa. Ricardo Vasques também é jornalista e diz que não se importa com as informações coletadas por essas empresas. “Parecem-me serem as regras do jogo neste mundo em que vivemos. Esse inimigo é desconhecido, por isso me preocupo mais com minha privacidade quando pessoas próximas e conhecidas sabem minhas [[30 28]]
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informações”, pontua. E o que esses terceiros podem fazer com isso? O escândalo da Cambridge Analytica, empresa que trabalha com análise de dados para fins comerciais e políticos, divulgado pelo The New York Times e pelo The Observer, do The Guardian, revelou que informações como identidade, localização e gostos pessoais (baseados em likes na rede) de 87 milhões de usuários do Facebook foram repassados à companhia.
A coleta deu-se por meio de um aplicativo, de teste psicológico, publicado na rede social pelo russo Aleksandr Kogan, professor de psicologia na Universidade de Cabridge. Ele recebeu autorização para realizar a pesquisa para “fins acadêmicos”. O programa atingiu cerca de 270 mil pessoas, mas também tinha permissão para acessar informações dos contatos desses usuários, resultando nos 87 milhões. Donald Trump é um dos principais clientes
da Cambridge Analytica e a campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos foi liderada por Steve Bannon, que também tem vínculos com a empresa. O assunto vem sendo investigado por Robert Mueller, procurador dos Estados Unidos, para saber se estes dados foram usados para formação de opinião política nas eleições de 2016.
[ ] “Quando uma empresa oferece um produto de graça, você é o produto”
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Podemos não notar, mas é possível que uma informação propagada na internet altere nosso pensamento a respeito de determinado assunto. A consultora em tecnologia móvel Beatriz Kunze fala que algoritmos podem usados tanto para o bem quanto para o mal. “Analisando páginas curtidas, likes em posts e comentários ou simplesmente as páginas ‘visualizadas’ já permite traçar um perfil bem complexo das inclinações e gostos dos usuários”, explica. “Isso não resulta simplesmente como propaganda explícita (ads), retorna como conteúdo. Sem o usuário perceber ele já está consumindo conteúdo direcionado pela rede de forma personalizada e, com isso, acaba sendo influenciado sem notar”, justifica.
É importante, então, dar atenção aos Termos de Uso dos serviços que usamos. É lá que estão (ou devem estar) descritos quais informações são coletadas e para quem são fornecidas. O documento também serve como um álibi da empresa para dizer que o usuário aceitou aquelas condições. “Mas ninguém lê”, observa o estudante Felipe Stevanatto. “Se eles quiserem fazer alguma coisa, é só colocar nos termos que ninguém vai ler. Eu sou 80% despreocupado, não ligo tanto sobre o que eles fazem com meus dados”, alega. O fotógrafo Lucas Machado também é despreocupado em relação ao conteúdo que publica. “Quando eu aceito os termos de uso, não tem o que eu discutir. Se eles amanhã usarem minhas informações de forma prejudicial, eu vou ter que ser conveniente porque concordei com aquilo”, pondera. E se ninguém lê, qual a saída? Veloso compartilha a opinião de que legislações nacionais ajudarão a impor limites a estes termos, “sempre em prol de proteger o internauta diante da tecnologia sem limites das plataformas online”, aponta. [31 ] painel 2018 edição 84 | junho|
O problema, no caso da Cambridge Analytica, é na violação das políticas do próprio Facebook. O caso veio à tona em março, mas a rede social descobriu as violações há três anos, quando solicitou à companhia que apagasse os dados coletados indevidamente. “Quando eu me inscrevo no Facebook, por exemplo, estou iniciando uma relação virtual com aquela empresa. Ela deveria promover a guarda dos meus dados.
Não deveria repassar a mais ninguém. Devido a isto é tão assustador descobrir, a partir de uma ferramenta oficial de extração de dados, que esta mesma rede social entregou parcela da minha privacidade para dezenas de outras organizações. Isso precisa parar”, alerta Veloso. Para Kunze, a única opção de proteteção da sua privacidade é não usar tais serviços. “Um bom exemplo é o e-mail. Uma boa alternativa é contratar um serviço com servidor e domínio próprios. Há oferta de todos esses serviços na internet por um custo mensal ou anual, por diversas empresas, e seus dados estarão protegidos”, sugere. “Há uma velha máxima que diz que quando uma empresa oferece um produto de graça, na verdade, você é o produto.
A partir do momento que você concorda com os termos de uso, não há volta”, afirma.
Contudo, também existem meios para limitar um pouco a exposição de dados nestes serviços. A maioria dos serviços têm configurações de privacidade, nas quais permitem que o usuário escolha que tipo de conteúdo será privado ou público. É bom ficar atento, também, aos jogos e aplicativos que solicitam suas informações pessoais. Questione-se sobre o motivo da cessão de tais informações. Adote práticas para verificar sua vida digital regularmente, como por exemplo, ver quais aplicativos têm acesso à sua conta do Facebook.
[ ] “Algoritmos podem ser usados tanto para o bem quanto para o mal”
Cambridge Analytica teve dados de 87 milhões de usuários do Facebook edição 84 painel | junho | 2018 [29]
Créditos: Thaís Passos
sos digital
Apple lançou em 2017 ferramenta de segurança em que o usuário pode pedir socorro ligando para o 190 e enviar SMS para os contatos de emergência
DESCOMPASSO na segurança
Ritmo de desenvolvimento de aplicativos para coibir crimes é incompatível com a maior parte da infraestrutura oferecida pelo Estado às polícias
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plicativos, botão de “pânico”, rastreio de objetos, são muitas as inovações para nos sentirmos cada vez mais seguros. Mas, será que o avanço da tecnologia significa segurança? Ainda há um descompasso do que é visto no dia a dia, já que muitas pessoas têm celulares roubados e
JACQUELINE PASSOS jacque.a.passos@gmail.com
sentem na pele o descaso da polícia para registrar boletins de ocorrência, por exemplo, já que o seu aparelho é só mais um caso corriqueiro que não será investigado. Aparecido Lima de Carvalho, presidente do Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis da Região de Campinas),
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confirma esse contexto quando afirma que “as investigações de furtos de celulares são deixadas para segundo plano por ser um fato mais corriqueiro, já que não há efetivo suficiente para todas as ocorrências e, por isso, os fatos mais graves são priorizados. A Polícia Civil deveria, mas não consegue investigar tudo”, lamenta. “Além disso, Carvalho também relata que não são todas as delegacias com acesso à internet e nem que contam com tecnologia de ponta, principalmente as unidades de cidades pequenas e do interior. Essa situação relatada pelo Sinpol também é comprovada em nota pelo Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), que destacou em nota no mês de março que “as delegacias estão caindo aos pedaços, (...) faltam 12 mil policiais civis nas ruas, (...) além de redução da frota aero-tática pela metade”. Tal cenário mostra que hoje a Polícia Civil não tem condições de atender à demanda dos novos aplicativos e de tecnologias em prol da segurança.”
Já a vereadora de Piracicaba, Coronel Adriana, policial militar há 30 anos, afirma que a própria lei considera o furto de celular de menor importância, uma vez que uma pessoa não vai presa por cometer esse tipo de delito. Ainda segundo ela, a Polícia Militar hoje é um dos órgãos mais avançados no quesito tecnologia, além de estar sempre renovando seu efetivo policial com concursos anuais. A vereadora também completa que os PMs estão à disposição para fazer rastreio de celulares, apesar de, no próprio site da Secretaria de Segurança Pública (SSP), não existir dados de celulares que foram recuperados. Quanto aos furtos e roubos, as estatísticas são separadas apenas por veículos, residências, estabelecimentos, transeunte e outros. Por conta disso, não é possível mensurar o número exato de crimes relacionados a aparelhos celulares no estado de São Paulo.” [33 ] painel 2018 edição 84 | junho|
A SSP, órgão público responsável pelo registro de boletins de ocorrência de furtos de veículos, perda de documentos, desaparecimento de pessoas, entre outros, afirma que hoje ainda não há outro formato para receber denúncias que não seja por telefone. Uma vez que o índice de trotes que o 190 recebe é muito grande, e pelo tal formato, fica mais fácil de filtrar esse tipo de brincadeira em uma ligação do que por um SMS. Entretanto, a coronel, em entrevista para a revista Painel, mostra que existe uma ferramenta no site da PM chamada “Cadastro de Pessoa Surda, de PcD Auditiva ou da Fala”, para pessoas deficientes e que, a partir disso, poderão entrar em contato com os números 190 e 193 a partir de SMS. Esses cadastros só são feitos com autorização prévia da PM. A coronel lembrou também que o Disque Denúncia recebe relatos pelo website, enquanto a SSP, por telefone, e afirmou que todos os serviços de denúncia hoje no Brasil só são feitos por telefone, como 190, Samu, Disque Denúncia, entre outros. A SSP foi procurada para esclarecer tais dados e até o fechamento desta edição não respondeu os questionamentos feitos pela reportagem.
[ ] “Investigações de furtos de celulares são deixadas para segundo plano”
Novas tecnologias Enquanto isso, as inovações não param. A Apple lançou em setembro de 2017, na atualização do iOS 11, a função emergência. O usuário que se sentir em perigo deve pressionar o botão liga/desliga cinco vezes e, a partir dessa tela, o sistema liga para o 190 e, na sequência, envia um SMS com a localização do aparelho
para os contatos de emergência previamente cadastrados. Porém, ainda hoje essa não é uma ferramenta oficial reconhecida pela SSP e por isso não é possível que o SMS seja enviado diretamente para o 190. Outra função que já existe há algum tempo é o rastreio do aparelho, disponibilizado tanto pela Apple quanto pelo sistema Android, podendo ser usado em caso de perda ou roubo, mas sempre atrelado à conexão da internet. Exatamente por isso, os casos de rastreio bem-sucedidos são poucos.
De acordo com a Coronel Adriana, ao fazer um boletim de ocorrência de furto ou roubo de celular, o Imei (código de cada aparelho) é bloqueado. A partir desse número, caso o dispositivo seja encontrado, localiza-se o proprietário que terá o bem devolvido ao apresentar a nota fiscal referente ao produto. Aplicativos para mulheres
Segundo o Relógio da Violência, um website criado pelo Instituto Maria da Penha (IMP), a cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Pensando nisso, o Geledés - Instituto da Mulher Negra e o Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos criaram o aplicativo “Juntas”, uma ferramenta social que auxilia mulheres no enfrentamento da violência.
A ideia é criar uma rede de proteção para mulheres que se sentem ameaçadas. Maria Sylvia de Oliveira, advogada, ativista e presidente do Geledés, conta que não existem dados quantitativos sobre a eficácia do projeto. Apesar disso, ela traz um exemplo de uso e eficácia do app: “um grupo de amigas se cadastrou no aplicativo e um dia todas saíram juntas. Em determinado momento, se dispersaram. Nisso, uma delas se sentiu ameaçada por um homem e acionou o “Juntas”. As amigas rapidamente a encontraram e a escoltaram com segurança até chegar em casa”, lembra.” [31] edição 84painel | junho | 2018
Créditos: Thaís Passos
saúde
INFÂNCIA
Eletrônica Superexposição de crianças a equipamentos eletrônicos aumenta as chances de distúrbios no aprendizado, obesidade infantil e alterações no sono
MARIANA VILLIOTTI VALE marivilliotti@gmail.com
É
impossível imaginar uma infância livre da influência das tecnologias, já que o controle de acesso aos equipamentos é cada vez mais difícil, preenchendo – muitas vezes – o tempo de crianças com informações e estímulos imediatos. Segundo pesquisa realizada em 2018 pela ESPM (Escola
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Superior de Propaganda e Marketing) no Brasil, crianças de 0 a 12 anos são responsáveis por mais de 53 bilhões de visualizações no Youtube. Mas por que é tão importante equilibrar a quantidade e a qualidade das horas que os pequenos passam diante desses aparelhos?
A superexposição infantil a celulares, tablets, televisão ou computadores pode ser prejudicial no que diz respeito às chances de desencadear aumentos de distúrbios referentes a aprendizado, obesidade infantil, altealterações no sono e mesmo ao diminuir a habilidade de regulação própria das emoções. “É fundamental que na infância, independente da faixa etária, as crianças tenham contato com oportunidades que as levem a
se desenvolverem corporalmente, afetivamente, socialmente e, sobretudo, desenvolverem a imaginação. Brincar, falar sobre algo e construir um jogo ou um brinquedo, seja lá qual for o produto final. Mas ter chance de colocar literalmente as suas mãozinhas ali, naquela construção, isso vai ter um sentido afetivo para a criança e uma repercussão muito positiva no seu desenvolvimento global”, comenta a pedagoga Érica Resende.” Nos primeiros anos de vida, o cérebro do bebê cresce rapidamente. Até o segundo ano, o órgão triplica de tamanho. Nesse período, os estímulos da família, da educação ou do ambiente – ou até mesmo a falta deles são muito importantes para auxiliar
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no desenvolvimento cerebral da criança.
O distúrbio no aprendizado também é conhecido como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativadade) descrito como um transtorno neuropsicológico de pré-disposição genética, que pode se manifestar por motivos genéticos ou ambientais. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), este transtorno afeta de 3 a 5% da população infantil em todo o mundo. Os sintomas são classificados basicamente em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade. “O importante é a gente entender que existe sim a questão genética, mas não é só isso. Tem algo a mais! Algo a mais da história dessa criança, do ambiente em que ela vive ou da educação que ela recebeu para que o TDAH se expresse. A sociedade mais agitada, mais apressada, cobrando mais rendimento são fatores que talvez favoreçam a visão e percepção de uma criança com TDAH, justamente pela sociedade cobrar horário, cobrar regras, cobrar atenção e essa criança não conseguir desenvolver isso”, explica a neuropediatra Andrea Senna Pessoto Serafin Galina. A obesidade é descrita quando o peso corporal está acima de 15% do peso médio correspondente para a idade, e na infância essa condição se desenvolve com mais facilidade por conta do organismo ainda em formação. Crianças que passam horas excessivas em frente aos equipamentos eletrônicos tendem a não se exercitar com frequência. “O brincar desenvolve e estimula a aprendizagem e a habilidade motora, além de forçar o movimento e o exercício do corpo”, reforça a pedagoga. Além desses problemas, a tecnologia em excesso possui influência nas alterações do sono das crianças, que não conseguem conciliar essas atividades com o horário de descanso; e na diminuição da habilidade de regulação própria das emoções, pois [35 ] painel 2018 edição 84 | junho|
os famosos jogos eletrônicos que apresentam conteúdo violento podem influenciar os pequenos que estão na fase de imitar tudo e todos.
“Minha maior preocupação realmente é com o tempo que ele fica em frente às telas. Eu realmente gostaria que fosse menor, até porque tive uma infância muito rica, sem acesso a nenhum tipo de tecnologia. Há 35 anos só tínhamos TV aberta e, mesmo assim, a prioridade ao uso desse eletrodoméstico era dos meus pais”, expõe Cristiane Caldeira, mãe do Miguel, de 5 anos.
Quando a criança brinca, desenha ou interage com a sua família, o cérebro precisa voltar a sua atenção voluntariamente para aqueles determinados estímulos do ambiente. Ao mexer no celular, por exemplo, é a telinha que captura toda a atenção dessa criança. Hoje, as tecnologias são utilizadas como um meio de distração quando é exigido concentração em algo, como terminar o almoço ou vestir o uniforme. Essa estratégia utilizada por muitas famílias faz com que o cérebro aprenda que toda vez que for necessário se concentrar em alguma ativi-
[ ] “Quero que os meus filhos ainda brinquem muito”
Menina de 6 anos brinca com jogo disponível no celular da mãe
dade, ele terá a permissão de se distrair. “É muito importante que os pais ou responsáveis acompanhem de perto o conteúdo utilizado pelas crianças nos equipamentos eletrônicos. Deve-se ter um limite, mas sem impedir o uso por completo. Os pequenos devem aprender que existem horários para assistir televisão, jogar videogame ou mexer no celular, sem que isso interfira na rotina de estudos ou descanso deles”, comenta a psicóloga infantil, Danielle Emboaba.
Uma ótima oportunidade para o desenvolvimento positivo das crianças é através de brincadeiras. Esse ato tão simples possibilita o aprendizado, a experiência de novas possibilidades, o desenvolvimento de relações pessoais e da autonomia, além da organização das emoções e dos conhecimentos.
“Quero que os meus filhos ainda brinquem muito, que se sujem de tinta ou de terra! Que sintam prazer em ir ao parquinho, em ter contato com os animais, que escutem as histórias dos adultos com o mesmo interesse com que assistem a um desenho animado. Quero que esperem a leitura do livro na hora de dormir! Afinal, eles nasceram em uma era tecnológica e sabemos que, inevitavelmente, terão e precisarão ter acesso a tudo o que vem agregado a ela. A minha preocupação é que não se deixem dominar por ela, não agora. Não tão já”, comenta Juliana Chagas, mãe da Ana Clara, de 2 anos, e do Bernardo, de 5.
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inteligência artificial
A aurora das
Máquinas Linguagem é o componente da cultura humana ainda em desenvolvimento em Ias Esta é uma revista, impressa, bem analógica no jeito de consumir. Faz você folhear as páginas, sentir o papel nas pontas dos dedos e também o cheiro de tinta. Mesmo na edição virtual da [Painel], não existe algoritmo explorando big data como um alvo que busca o gosto particular de cada um.
O que existe é uma mente coletiva de editoração que pensa, sente e desenvolve um material julgado como relevante. Tudo feito por intermédio da linguagem. Até chegar a você, um espécime humano, letrado, com capacidade de compreender esse monte de letrinha encadeada.
GABRIEL PIAZENTIN gabrielpiazentin@gmail.com
Falando pelos cotovelos
U
ma das dificuldades é fazer com que máquinas produzam linguagem natural da forma com que acontece nos ramos de conexões neurais em humanos. O caso diferencia-se de assistentes virtuais, como Siri e Alexa, que atuam a partir de comandos externos e de base de dados.
Para Ricardo Ribeiro Gudwin, professor do Departamento de Engenharia da Computação e Automação Industrial da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, são esperados avanços nas interfaces do diálogo com máquinas. Mesmo que já existam comandos por voz com os assistentes, ainda não é
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A linguagem é essa capacidade inerente à espécie humana. Por ela, grandes feitos acontecem, como o da própria comunicação que, a nós do curso de Jornalismo, muito interessa. Também essa linguagem é de interesse ao ramo da robótica e da tecnologia da informação.
possível chegar ao nível da conversa. Para o professor, isso resultará em mudanças significativas na maneira de interagir com a tecnologia. “Eu acredito que isso não vai demorar muito, acho que em cinco anos nós já vamos ver alguma mudança”, diz Gudwin. Eles estão no meio de nós
O termo bot é uma redução de robot, que serve, grosso modo, para seguir instruções. Pode ser para cumprir alguma funcionalidade, por exemplo: ao enviar uma mensagem no chat do Facebook, tem-se uma resposta automática que pode servir como um atendimento completo. Bots podem ser também propagadores de malwares,
instalando-se em computadores para roubar senhas de cartões de crédito. Ainda, bots podem ser gerados para disseminar mensagens de ódio em redes sociais.
Bruno Garattoni, editor da revista Superinteressante, da editora Abril, que cobre a editoria de tecnologia há 20 anos, comenta que é fácil ao usuário detectar notícias falsas, em especial as mais absurdas. “O grande problema das fake news é a vontade que as pessoas têm que aquilo seja verdade”, pontua. Mesmo que um bot seja propagador de mentiras, continua o editor, a informação foi feita por um humano com a vontade de que isso chegue a outras
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pessoas. “O bot é só uma ferramenta. O que está por trás é o desejo de criar e espalhar essas coisas. Isso quem faz é o ser humano, não o robô”, comenta.
A respeito disso, um estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) afirma que bots não são os maiores disseminadores de fake news. “Concluímos que o comportamento humano contribui mais para a disseminação diferencial da falsidade e da verdade do que robôs automatizados”, dizem os autores. A galinha dos ovos de ouro
É assim que Pablo Faria, professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp define a busca pela completa aquisição da linguagem em inteligências artificiais.
Ele acredita que a aproximação entre linguagem e inteligência artificial será cada vez mais próxima com o tempo. “Existe um grande otimismo por par-
te da engenharia, a capacidade de processamento de computadores é muito alta. Mas do ponto de vista linguístico ainda não se tem a mesma capacidade que a mente humana”, comenta. Outro problema que Faria aponta é sobre a própria teoria da faculdade da linguagem, seja em níveis psicológicos, neurocientíficos e linguísticos. “Hoje sabe-se muito a respeito, mas ainda não é o suficiente”, explica.
Os estudos acadêmicos baseiam-se em recortes de finalidade metodológica, porém, a necessidade atual é de integrar as partes e produzir relações a partir delas. “O engenheiro quer uma máquina que interaja, não cabe fazer só uma coisa”, diz. Outra questão é a do engenheiro em relação a estudos de linguagem. Faria diz que, até certo ponto, a engenharia cede resultados exatos e previsíveis. “Na linguagem não tem isso”, pontua.
[ ] "A palavra ‘eficiência’ é muito importante"
“Você é fake news!” Robôs, linguagem, verdade, mentira. A agência de notícias Associated Press faz uso de IA desde 2014. O Heliograf, IA do Washington Post, fez cerca de 300 textos sobre as Olimpíadas de 2016.
Notícias sobre esportes e economia giram sobre números. É possível que a informação seja repassada ao público de maneira formulaica: quando um time ganhou de outro, por quantos gols, feitos por quem. A bolsa de valores operou em queda ou baixa, de qual porcentagem e quanto as ações sofreram de variação. Entretanto, as linguagens de IAs que
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existem hoje ainda não são suficientes para tratar de emoções tal qual um humano. Outras questões inéditas também são levantadas acerca de autoria, estilo, código de ética, credibilidade e qualidade dos profissionais automatizados. Se de um lado as máquinas conseguem reproduzir a rotina da notícia, de outro não têm o alcance de conduzir entrevistas e fazer jornalismo investigativo. “A palavra ‘eficiência’ é muito importante”, lembra Gudwin. Seja na técnica de lapidar a informação, na escolha da melhor rota ou a qual filme você gostaria de assistir.
Crédito: Mellanie Dutra
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Som da
Inteligência Como os avanços da inteligência artificial com senso artístico podem ajudar músicos, compositores e produtores “Quero ao menos entender o universo Tantas dúvidas, perguntas sem respostas Incertezas, esperança em ti, meu coração A vida passa, o tempo voa, não posso esperar” - Neural
THIERRY MARSULO thierrygmarsulo@gmail.com
O
verso acima é de uma música de 2016 do grupo de rap RZO, em parceiria com o rapper Sabotage. Mas como pode um artista falecido em 2003 ainda criar versos? Simples: utilizando inteligência artificial. O Spotify, em parceiria com a empresa brasileira Kunumi, especializada nessa tecnologia, analisou manuscritos do cantor e desenvolveu a letra a partir do que aprendia.
A inteligência artificial se expande tão rápido quanto a robótica. Por mais que trabalhem quase juntas, uma delas se destaca mais que a outra. Criar robô com a possibilidade de sentir é um dos desejos do homem moderno, quase como brincar de Deus. Até pouco tempo atrás parecia algo muito distante, como representado em filmes como “Eu, Robô”, “O Homem Bicentenário” e até mesmo “I.A. – Inteligência Artificial”, do diretor Steven Spielberg. Mas é possível dizer que conseguiram, dado o avanço em pesquisas na área. Além de robôs adultos com inteligência artificial,
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existem ainda bebês com IA e também estas citadas que criam letras de música. A grosso modo, compor música é como escrever um livro. É preciso conhecer todos os personagens principais, no caso as notas, e criar certa relação harmoniosa entre elas. Cada artista tem sua característica marcante que faz com que a obra seja única. Durante uma canção, pode-se perceber dois elementos que se completam: o som e o silêncio. Assim como na linguagem da computação, 0 e 1 representam o sim e o não. Por esses motivos, uma máquina já pode entreter seus ouvidos sem você nem perber. Do coração ao verso
O músico Deco Felix, integrante da banda The Maitreya, diz que, para compor, gosta de tentar passar ao ouvinte o sentimento que tinha quando escrevia. “Gosto de criar minhas letras a partir de histórias da minha vida, o que estou sentindo naquele momento, é algo natural. Muitas vezes pego o vio-
lão e faço alguns acordes e a música sai na hora, outras eu demoro um pouco mais, acertando cada parte até ficar perfeito”, comenta.
No final do ano de 2017 foi lançado o primeiro álbum musical feito por inteligência artificial. A cantora Taryn Southern é conhecida por seu canal no YouTube e por ter participado da terceira temporada do American Idol. A artista utilizou um aplicativo gratuito para a produção da harmonia. O software escolhido pela cantora foi o Amber, um site com inteligência artificial cuja finalidade é a produção musical. O álbum “I AM AI” foi desenvolvido ao longo do ano de 2017. Em entrevistas, Taryn afirmou: “Para quem escreve músicas mas não toca instrumentos, ou para quem precisa trabalhar com um colaborador humano, pode ser bem libertador trabalhar com inteligência artificial porque você não precisa ter conhecimento de instrumentação para criar uma ótima música”.
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Musique Non Stop Segundo André Motta, Dj e professor da AIMEC, Academia Internacional de Música Eletrônica, a chegada de inteligência artificial na música não é algo que o assusta. “Estou muito animado com as novas tecnologias ajudarem na produção musical. Um computador nunca vai ter uma crise de criatividade, vai estar todo tempo ativo para produzir, isso pode ajudar na hora que acontece algum bloqueio". Para Motta, a inteligência artificial nunca superaria as mãos humanas na hora da produção. “Por mais que a música eletrônica tenha sons produzidos pelo computados, somos nós, pessoas com consciência, que programamos o que queremos”, ressalta. As coisas podem ir além: e se essa inteligência artificial, além de produzir as próprias músicas, pudesse aprender com os produtores de carne e osso e criar seu próprio estilo? É isso que acontece no Flow Machine, software desenvolvido pela Sony para analisar sua enorme biblioteca musical, descobrir padrões e reorganizá-los na forma de novas músicas. Uma canção já foi lançada por esse experimento e se chama Daddy’s Car, produzida para se adequar ao estilo dos Beatles. Além disso, o álbum de Black Metal "Coditany of Timeness”, da dupla Cj Car e Zack Zukowiski, utilizou o recurso de Dadabots, programas que quebram partes de músicas e rearranjam para a forma desejada pelo produtor (que nem acontecia com o movimento dadaísta, daí o nome). Techno Art
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fácil que uma pessoa. Não havendo possibilidade de falha, pode ser vantagem para a indústria musical, o que deixa mais difícil o trabalho de compositores.
Pode parecer conversa que ainda não faça muito sentido, pouco comentada, mas a inteligência artificial vai entrar cada vez mais em nossas vidas. Além de todas as empresas que já utilizam da ferramenta no dia a dia, tão logo será costume ouvir músicas programadas por computadores, criando, assim, um cenário musical de novas possibilidades e desafios.
Crédito: Mellanie Dutra
Existem, ainda, aqueles que não gostam desse desenvolvimento tecnológico. Para o professor do curso de produção musical da faculdade Anhembi Morumbi, e também músico, Luiz Eduardo Sampaio Vianna, pode haver prejuízos ainda desconhecidos.“Tenho um pouco de medo do que pode vir no futuro, cada passo que damos avançando na direção da inteligência artificial, pode ser perigoso para nós humanos. Em filmes nunca dá certo essa ideia de dar vida a máquinas, não vejo com bons olhos”, comenta. Para Vianna, o computador pode aprender a fórmula de produzir hits muito mais
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onipresença digital Entenda o que está por trás da inteligência artificial, tecnologia mais presente no seu cotidiano do que você pensa
O
PEDRO SPADONI pedrospadoni2@gmail.com
Crédito: Mellanie Dutra
“Ok, Google!”, “Siri, coloque o despertador para 7 horas da manhã”, “Ouça as descobertas da semana escolhidas especialmente para você”, “O próximo vídeo começa em 5 segundos...”.
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que as frases ao lado têm em comum, além de fazerem parte do seu dia a dia? Todas prestam um serviço que envolve Inteligência Artificial (IA). Longe da Skynet, sistema que domina o mundo no longa Exterminador do Futuro (1984), e do Ultron, IA que tenta extinguir a raça humana no segundo filme dos Vingadores (2015), a tecnologia já faz parte da nossa vida
de maneira integral. E tudo indica que veio para ficar. Definições
Em 2003, Ana Maria Fernandes, especialista em ciência da computação e engenharia de produção, já se arriscava a traçar as bases do que consistia uma IA em seu livro “Inteligência Artificial: Noções Gerais” (editora Visual Books, 160 páginas). Para tanto, a autora citava estudiosos da década de 90 para trás. Isso mostra que embora essa tecnologia tenha chegado ao grande público há no máximo dez anos, os estudos na área datam de pelo menos 30 anos atrás. No livro, Ana Maria cita o pesquisador Jean-Gabriel Ganascia, que disse, em 1993, que a área se destacava pela busca por compreender a inteligência humana e englobar diversos campos do conhecimento com o objetivo de simular a inteligência. Detalhe: todos esses campos visavam aspectos práticos e comerciais. Outro estudioso citado por Ana Maria é o americano especialista em IA, Edward Feigenbaum, que definiu a tecnologia como: “a parte da ciência da computação voltada para o desenvolvimento de sistemas de computadores inteligentes”. A inteligência desses computadores está em exibir características associadas à inteligência do comportamento humano. Ainda segundo Feigenbaum, as principais
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são: compreensão da linguagem, aprendizado, raciocínio e resolução de problemas. Os avanços nas duas primeiras deram origem aos produtos e serviços que nos são tão familiares hoje em dia. Quem diz isso é o professor Ricardo Gudwin, do Departamento de Engenharia da Computação e Automação Industrial da Unicamp IAs em todos os cantos
Quando consideramos as assistentes virtuais que existem no mercado, Alexa (Amazon), Siri (Apple), Cortana (Microsoft) e cia. - o trunfo científico por trás delas é a compreensão da linguagem. Já os sistemas de recomendação - presentes em sites como YouTube e Spotify - trabalham com ‘aprendizagem profunda’ (também chamada de deep learning).
O professor Gudwin explica: “A 'aprendizagem profunda’ é na verdade um subtópico de ‘aprendizagem de máquina’ [machine learning, no termo original em inglês]. Esse é um grande tópico de estudos dentro da área de IA que envolve diversas abordagens. A ‘aprendizagem profunda’ é uma delas e vem se destacando por seus resultados impressionantes”. Essa técnica trabalha com reconhecimento de padrões [entenda esses e outros termos no glossário abaixo].
Apesar dos avanços na área, ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelos pesquisadores. “Quando você vai assistir um filme no Netflix, escutar uma música no Spotify, comprar alguma coisa na Amazon [veja outros exemplos na lista ao lado], as sugestões que aparecem ali são derivadas de uma forma meio primitiva de inteligência artificial”, diz o editor Bruno Garattoni, da seção de tecnologia da Superinteressante. Embora essa tecnologia ainda tenha caráter primitivo, o consultor Bernard Marr explicou, em seu artigo publicado na Forbes, que a ‘aprendizagem profunda’ é a área da IA onde a “mágica” está acontecendo. Ele diz que essa tecnologia permitiu aos cientistas resolverem diversos casos engaveta-
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dos por décadas. Os principais destaques deste progresso, para o professor Gudwin, são os reconhecimentos de voz e imagem. Quando a assistente virtual do seu celular entende seu comando de voz e o Facebook reconhece quais dos seus amigos estavam com você naquela foto, isso é a IA atuando na sua vida. Há quem diga, porém, que tudo isso é uma invasão de privacidade e que as IAs podem se voltar contra seus criadores. Já Gudwin defende que a tecnologia é apenas uma ferramenta facilitadora. “É mais ou menos como imaginar que você pode usar um avião para transportar pessoa ou bombardear suas casas”, ressalta. Robôs inteligentes
Considerando que a IA seria uma espécie de cérebro, o próximo passo seria atribuir um corpo para ele. A autora Ana Maria já adiantava essa tendência 15 anos atrás. “Existe um esforço, principalmente no campo da robótica, no sentido de implementar as habilidades cognitivas (sentidos) e conotativas (ação) da inteligência humana em máquinas inteligentes”. De fato, a COMO SITES E APPS USAM IA
“robótica inteligente”, segundo Gudwin, é uma área que está crescendo de maneira exponencial. Um exemplo prático de robôs regidos por IA acontece nos armazéns da Amazon [assista um vídeo que mostra os robôs em ação em https://goo.gl/jN9rQC]. Lá, os chamados “robôs transportadores” levam toneladas de itens para que outros funcionários os encaminhem para as entregas. Outro exemplo são os robôs domésticos que aspiram pó de maneira automática. Esse é apenas o começo.
“Em breve, muitas coisas que hoje são feitas pelo ser humano vão ser transferidas para robôs, que vão agir de maneira mais rápida e eficiente. Isso vai tirar da jogada aquelas tarefas repetitivas que o ser humano não tem vocação natural para fazer”, salienta Gudwin. Se estamos perto de ter uma Skynet ou um Ultron entre nós, tanto o professor como este repórter que aqui escreve, acreditam que vai depender da responsabilidade dos pesquisadores em seus laboratórios. Enquanto isso, seguimos assistindo às sugestões mais relevantes do Netflix e ouvindo as descobertas da semana do Spotify.
- Netflix, YouTube e Spotify - sistema de recomendações do que assistir e ouvir
- Google Photos e Facebook - agrupa imagens usando reconhecimento facial - Siri, Alexa, Cortana e assistente do Google - reconhecimento de comandos de voz GLOSSÁRIO
- Chatbots (Yahoo e Facebook) - processamento de linguagem
Inteligência: Aquilo que permite ao ser humano escolher entre uma coisa e outra. É a habilidade de realizar de forma eficiente uma determinada tarefa.
Inteligência Artificial (IA): Tipo de inteligência produzida pelo homem para dotar as máquinas de algum tipo de habilidade que simula a inteligência do homem. Aprendizagem de máquina (machine learning): É um subcampo da IA que usa informações fornecidas por bancos de dados para reconhecer padrões.
Aprendizagem profunda (deep learning): É um subcampo do aprendizado de máquina. É capaz de reconhecer padrões por meio de dados e analisá-los.
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Pequenas Empresas
GRANDES IDEIAS PEDRO SPADONI pedrospadoni2@gmail.com
Conheça algumas startups que investem no desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA) para viabilizar ideias em diversas áreas
ZIPLINE Área: Saúde.
O que faz: Usa drones para entregar sangue em locais remotos, principalmente os difíceis de se chegar por terra. Como faz: A equipe médica usa um app para pedir o tipo sanguíneo que precisa. De 30 minutos a 1 hora depois, o drone, que atende um raio de 75 km, entrega a carga. A Zipline faz cerca de 500 entregas por dia. EVERLAW
Área: Direito.
O que faz: Ajuda advogados a se prepararem para os julgamentos apurando evidências.
Como faz: “Lê” os documentos e separa quais podem ser úteis para o advogado e quais podem ser úteis para sua oposição. Dessa forma, a empresa categoriza todos os documentos importantes e relevantes para os dois lados envolvidos no caso. NATURALI
Área: Tecnologia.
O que faz: Integra reconhecimento de voz com outros apps do celular do usuário.
Como faz: Pense no processo de pedir um táxi do Uber. Para fazer o pedido, é preciso abrir o app, digitar o endereço e o tipo de corrida. Com essa IA, o usuário precisa apenas dizer, por exemplo, “Uber para a Avenida Paulista”. Um dos cofundadores da startup, Dekang Lin, explicou que é como se essa interface entre app e voz traduzisse o que foi dito em toques na tela. VOICERA
Área: Negócios.
O que faz: Registra tudo o que foi discutido durante uma reunião.
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Como faz: A assistente virtual Eva faz anotações e processa tudo que foi dito no encontro para, em seguida, encaminhar por email um resumo aos participantes. Além disso, é possível instruí-la a anexar uma cópia das apresentações que rolaram.
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Ele e os
Robôs Veja a entrevista com Ricardo Gudwin, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp
S
ua experiência se estende aos campos da semiótica computacional, cognição artificial, sistemas inteligentes e vida artificial. Já a conversa com a Painel foi de como a Inteligência Artificial (IA) facilita nossa rotina para o desenvolvimento de robôs super inteligentes. Entenda:
Painel: O que você acha sobre a presença das IAs no nosso cotidiano?
Ricardo: Acho que as IAs estão presentes em vários pontos diferentes, alguns mais óbvios do que outros. Por exemplo, quando você usa o Waze para buscar uma rota no trânsito, aquilo é uma IA. Quando você está em um edifício comercial, desses que tem vários elevadores, e tem um sistema ali dentro que escolhe o elevador que esteja mais próximo para fazer com que a sua viagem seja mais curta, também tem inteligência artificial ali. Isso já é a IA, de alguma forma, interagindo conosco sem que a gente perceba. A gente está usando a internet, fazendo nossas coisas do dia a dia, visitando prédios, andando por diferentes lugares e está lá a IA escondida, atuando de alguma forma, nos auxiliando e tornando nosso dia um pouco mais fácil. É óbvio que algumas pessoas podem
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se sentir invadidas. Por exemplo ao fazer uma busca com determinados termos e em seguida começar a receber propagandas daquilo.
Parece que a maioria das grandes empresas estão investindo nas IAs? Sim, é uma preocupação cada vez mais marcante. E aqueles que não fazem isso, ou não estão preocupados, vão perder mercado e vão acabar desaparecendo. É uma questão realmente de necessidade e sobrevivência. Eu acho também que existe uma preocupação exagerada com os potenciais perigos da IA. Tem muitas pessoas que a colocam como potencial vilã, que pode se voltar contra a humanidade ou qualquer coisa desse tipo. E na verdade esse é um tipo de preocupação que merece existir, mas acho que se os pesquisadores e os técnicos que operarem com IA forem responsáveis, não acho que seja algo que vá acontecer. É mais ou menos imaginar que você pode usar um avião para transportar pessoas ou jogar bomba nas casas das pessoas. Quais são suas expectativas sobre o desenvolvimento das IAs? Acho que ainda tem muita coisa para
vir e que vai realmente revolucionar o nosso dia a dia. Dentre as coisas que a gente vai ver, com revoluções acontecendo em pouco tempo, são esses carros autoguiados. Logo a gente vai ter pessoas fluindo em todas as direções, então não vai mais existir isso que nós entendemos como trânsito e tráfego. Outra área que está ganhando uma robustez muito grande é a robótica, principalmente a inteligente. Muitas coisas que hoje são feitas pelo ser humano vão ser transferidas para robôs, que vão agir de uma maneira muito mais rápida e eficiente e tirando da jogada aquelas coisas repetitivas que o ser humano não tem vocação natural para fazer. Eu acho que nessa área da robótica a gente vai ver o aumento da IA operando. Isso vai tornar a robótica mais parte do nosso dia a dia do que é hoje. Quando a gente pensa na robótica hoje, vem a cabeça aquelas máquinas nas montadoras de automóveis. Mas logo os robôs vão entrar nas nossas casas. Hoje a gente já tem aqueles ‘robozinhos’ que funcionam como aspirador de pó. Então nós vamos ter robôs participando do nosso ambiente doméstico de uma maneira muito mais aprofundada do que a gente tem hoje.
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resenhas
Artificial, mas consciente
ANDRESON BISPO DA SILVA andreson.silva20@gmail.com
de Bernard, que passou toda a existência como androide, mas acreditando ser humano. Agora, com um limite claramente marcado e destino turvo, ele deve decidir entre continuar a esconder sua verdadeira identidade ou se juntar na jornada de Dolores para libertar todos os anfitriões.
A segunda temporada começa exatamente no final da primeira. Após matar seu criador, Dolores segue como líder dos anfitriões, caçando o restante dos convidados no parque - consequência que pode ser considerada justa, agora que todos os androides recuperaram as memórias apagadas. O que ela queria era devolver na mesma moeda aos humanos tudo aquilo a que os androides foram submetidos, com a diferença de que os mortos, dessa vez, não retornarão.
No início da série, a premissa de que a inteligência artificial está ficando muito mais inteligente causa ao telespectador a determinação de que, em algum momento, algo vai dar errado. Em um dos diálogos da série é explícita a necessidade de apagar as memórias dos anfitriões androides. Baseados em comportamento humano, como conseguiriam viver com tantos horrores como tortura, morte e estupro? Um dos exemplos mais claros é Maeve, que em todo o seu processo de libertação “morre” incontáveis vezes conscientemente para que pudesse alcançar seu objetivo e carrega em si um ódio contra os humanos por ser forçada a experimentar esse trauma.
A complicação da trama agora recai sobre Bernard (Jeffrey Wright), que apresenta aos telespectadores a confusão em uma narrativa não-linear, assim como foi para Dolores na primeira temporada. “O que é ser humano?”. Esse é o questionamento
A frase recorrente na primeira temporada, frequentemente dita por doutor Robert Ford (Anthony Hopkins), “prazeres violentos têm finais violentos”, deixa clara a noção de que tais comportamentos desumanos, mesmo cometidos com “máquinas”, causariam efeito reverso equivalente.
Maeve, mesmo com consciência elevada, segue com uma das características iniciais de sua criação: o egocentrismo. Mesmo após morrer incontáveis vezes para ter controle sobre si mesma, ela não se importa com o que acontece agora com seus “semelhantes”. Com a revolta destes como apresentado no segundo episódio, no encontro com Dolores, tem como único objetivo encontrar a filha e viver longe do horror que uma vez foi sua vida.”
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O último episódio transmitido mostrou que Westworld não é o único parque, mas que há vários outros parques como o Shogun World - com a temática japonesa samurai - e o The Raj - inspirado na índia. Em todos eles a situação da rebelião dos androides é a mesma. Todos saíram de suas narrativas previamente programadas e estão atrás de vingança contra os humanos.
SINOPSE: Westworld é uma série da HBO que se passa em um parque temático do faroeste, que é ocupado pelos anfitriões, androides com narrativas próprias que agem como humanos e foram criados especialmente para satisfazer os desejos dos convidados, os humanos. Os anfitriões, porém, desenvolveram uma consciência artificial quase similar à humana e não há consequências reais para os convidados. Créditos: Divulgação
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a primeira temporada de Westworld, somos apresentados a um parque cheio de robôs, onde os humanos podem realizar os mais diversos e sórdidos desejos. Porém, há algo de errado com esse lugar. O núcleo humano passa o tempo todo na tentativa de descobrir o que poderia causar o mal funcionamento dos androides, enquanto somos apresentados às narrativas das anfitriãs Maeve (Thandie Newton) e Dolores (Evan Rachel Wood).
edição 84 | junho | 2018
quanto o público, que se vê testado assim como Caleb.
O labirinto científico se mistura com o campo afetivo a partir do momento em que Ava revela um interesse especial pelo programador e o relacionamento entre eles se estreita. As questões colocadas em pauta fazem com que o telespectador coloque a ética na balança e analise as decisões dos personagens tanto de forma emocional quanto de forma racional. É difícil apontar o certo e o errado, pois cada personagem tem um objetivo a ser atingido.
JOGO DE
CONFIANÇA DÉBORA BONTORIM debora.bontorim@gmail.com
E
scrito e dirigido pelo britânico Alex Garland, o filme Ex_Machina: Instinto Artificial traz questionamentos profundos sobre a tecnologia, a ética e a relação entre seres humanos e inteligências artificiais.
Nathan (Oscar Isaac) é o presidente da grande empresa Blue Books, na qual trabalha o programador de computadores Caleb Smith (Domhnall Gleeson). Caleb ganha um suposto sorteio para passar uma semana na mansão de Nathan, onde só é possível chegar de helicóptero. Não demora a acontecer a primeira revelação do filme: o jovem programador na verdade foi selecionado por Nathan para participar de uma série de testes com a sua nova criação, a inteligência artificial Ava (Alicia Vikander).
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Apesar de contar com apenas três personagens principais e um cenário ao longo dos 108 minutos de trama, Ex_Machina consegue envolver o telespectador com diálogos ricos e imagens muito bem produzidas. Não é à toa que o longa garantiu o Oscar de Melhores Efeitos Visuais, em 2016. O jogo de cores e iluminação no cenário compõe o ambiente perfeito para cada cena, produzindo uma sensação de imersão no presente ficcional apresentado – que parece um futuro cada vez mais próximo em nível tecnológico – e a atuação dos atores cresce junto com os personagens. Devagar, os três revelam suas reais intenções e personalidades, com destaque para Ava, que se mostra muito mais inteligente do que o esperado e poderia facilmente se confundir com um ser humano. Enquanto isso, o impasse de quem é ou não é confiável nessa história assombra tanto os personagens
O suspense é quase um jogo com três peões e você não tem ideia de quem vencerá até a cena final. As sugestões impostas pelo diretor nos diálogos não deixam brechas e é agonizante tentar identificar quem é o mocinho e quem é o vilão. Talvez você aposte no personagem errado, assim como eu fiz. E essa é mais uma das qualidades do filme: não é apenas outro roteiro hollywoodiano previsível.
Ex_machina não teve o merecido destaque, talvez por conta do baixo orçamento e pouca divulgação, mas não se deixe enganar por isso. Esse é um daqueles filmes que você precisa parar, respirar e refletir por um tempo depois do final – que é de tirar o fôlego, diga-se de passagem. SINOPSE: Caleb (Domhnall Gleeson) trabalha como programador de computadores na empresa do bilionário Nathan (Oscar Isaac). Ganhador de um sorteio, Caleb tem a oportunidade de passar uma semana na reclusa casa de Nathan, onde percebe que foi selecionado para testar a inteligência artificial criada pelo dono da empresa, chamada de Ava (Alicia Vikander). Os pensamentos, emoções e ações transmitidos pela robô vão além do esperado. São imprevisíveis e perspicazes, tornando difícil a decisão de quem é o mocinho da história. edição 84 | junho | 2018 [43] painel
intolerância
MIRAXTECLAS
ALINE OLAYA aline_olaya@hotmail.com ELISANGELA JUSTI elisjusti@gmail.com
DAS
Créditos: Aline Olaya
NA
Redes sociais figuram como palco para troca de afinidades e desavenças
MARIA RITA ZULIANI mariaritazuliani@gmail.com
S
e em outros tempos era preciso estar cara a cara com as pessoas para se envolver em um debate, discussão ou briga, hoje a história é outra. Basta estar conectado à internet para que isso aconteça. Muitos são os motivos: homofobia, xenofobia, intolerâncias religiosa e política. Em meio a tantos escândalos políticos e por se tratar de um ano eleitoral, os casos relacionados ao assunto são recorrentes.
O acesso remoto à informação e à comunicação interpessoal está entre as principais finalidades da internet. Na combinação dessas duas coisas, estão as redes sociais, que proporcionam a aproximação das pessoas.
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painel
Dentro delas acabam se formando grupos por afinidade e ideologias que criam comunidades virtuais, nas quais existem espaços abertos para debates. O que acontece é que muitas vezes essas ferramentas são utilizadas como meio de disseminação e propagação de violência e ódio.
A estudante Aline Guilhoto sofreu vários ataques em uma rede social, por se posicionar politicamente compartilhando publicações e notíciasrelacionadas a pré-candidatos à presidência da República. Em um dos casos, ela leu uma postagem com uma notícia falsa, que dizia que o Partido dos Trabalhadores (PT) pediu ajuda a grupos terroristas para
tirar o ex-presidente Lula da cadeia. Além disso, a postagem ofendia grupos como o das feministas. A estudante comentou que se tratava de fake news, mas acabou ofendida.
Para ela, dependendo da forma como as pessoas fazem comentários pode se tornar algo pessoal e não algo sobre a questão discutida. “Quando é aquele discurso de ódio enraizado, em que as pessoas não veem que é discurso de ódio, eu tento relevar, porque muito disso é falta de conhecimento. Mas quando é algo bem declarado, direto, a gente fica chateada e ofendida”, conta a estudante. edição 84 | junho | 2018
Famosos Um exemplo que causou bastante repercussão foi o caso da filha do casal de atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, que foi alvo de racismo na internet. A menina, de apenas 4 anos, foi chamada de ‘macaca’ por uma blogueira e socialite, Day McCarthy. “A menina é preta. Tem o cabelo horrível, de pico de palha. Tem o nariz de preto horrível. E o povo fala que a menina é linda”, disse Day no vídeo. Esses frequentes discursos de ódio representam um impasse para concretização da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que visa garantir a base do respeito à dignidade humana, adotada pela ONU em 1946. As redes sociais possibilitam a perpetuação de ideologias intolerantes, já que proporcionam também o anonimato. Essa combinação anexada à crença de que a legislação não se emprega às posturas publicadas na internet estimulam diversas pessoas a expor preconceitos e tornam o ambiente virtual um local com pensamentos racistas, machistas, misóginos e homofóbicos.
[ ] “Me causou danos profissionais severos”
Daniele Alvez, 21, estudante de direito sofreu ataques ódio por meio de uma rede social nomeada Curious Cat, que tem como objetivo receber e fazer perguntas ao usuário. “Fui chamada de vagabunda, piranha e muitas outras coisas. Além de também sofrer ameaça”, lembra Daniele.
A estudante de direito procurou a delegacia de sua cidade, Araras, para fazer um boletim de ocorrência sobre o fato e se surpreendeu. “A escrivã não quis registrar o meu boletim. Ela disse que era mais fácil eu esquecer, porque a polícia não costumava ir atrás desses casos”. Segundo ela, a escrivã ainda afirmou que não registraria o B.O. por não conhecer a rede social.
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Até que a rede nos separe O ódio na internet pode ir muito além e ser invadido por problemas pessoais e amorosos. Foi o que aconteceu com Lucas Gravina, 30, que teve contas de redes sociais invadidas pela ex-namorada, para ter acesso a correspondências e disparar mensagens ofensivas sobre ele para todos seus contatos. “Na época, ela fez um blog no Tumblr, no qual pelo menos uma vez por semana ela escrevia a respeito da pessoa horrível que eu era. Nas palavras dela, eu: ‘sugava a energia vital dos outros até que eles ficassem tão amargos como eu era por dentro’”, lembra Lucas. Segundo Gravina, a ex-namorada se dedicou um ano a esse blog e isso aconteceu há mais de seis anos. No entanto, até hoje ele é ofendido em redes sociais por pessoas que tiveram acesso ao blog. “Isso me causou danos profissionais severos”, alerta.
Consequências legais
A advogada Vanessa Amstalden explica que a consequência legal para quem profere ofensas e discursos de ódio pela internet é responder criminalmente pelos crimes contra a honra (calunia, difamação ou injúria), e a responsabilização civil pela indenização proporcional aos danos sofridos. Ela observa também a questão da liberdade de expressão, que é um direito constitucionalmente previsto, e que muitas pessoas o utilizam na tentativa de justificar os ataques. “A liberdade de expressão deve ter o escopo exclusivo de viabilizar o direito à informação, bem como de se expressar, mas limitados aos direitos da personalidade de terceiros. O exercício de qualquer direito jamais pode prejudicar o exercício de outro”, detalha a advogada.
As pessoas atacadas nas redes sociais devem, antes de qualquer coisa, salvar por algum meio as ofensas para posteriormente usá-las como provas, conforme orienta a advogada. Depois é preciso procurar um advogado ou a defensoria pública, a fim de exercer o direito de representação (via criminal) ou para propor a ação cível cabível. Responder a ofensa pode ser prejudicial, conforme explica Vanessa, pois em determinados casos, até mesmo em razão da injusta provocação sofrida, a resposta pode ter o mesmo cunho ofensivo. Para a advogada, “a educação virtual deve ser explorada em casa e nos colégios, para que tenhamos uma população livre de tais condutas. Mais importante que a repressão é a prevenção”, orienta.
O incitamento ao ódio nas redes sociais inferioriza pessoas por características delas que os usuários creem seja edição 84 | junhoque painel | 2018 passível de discriminação
tecnologia
FERNANDA TOLEDO feertoledosilva@gmail.com
Saúde e bem-estar com apenas um
TOQUE
cada ano surge um novos aparatos tecnológicos, carros potentes e modernos, celulares mais desendesenvolvidos, robôs. A tecnologia tornou várias áreas da nossa vida mais simples e dinâmicas. Hoje, na palma das mãos, temos dispositivos que transformam atividades complexas em operações que podem ser executadas com apenas um toque. No Brasil, o número de aparelhos celulares ultrapassa os 270 milhões de unidades.” Com tantas novidades surgindo, ligar a tecnologia à medicina não foi difícil. Uma gama de aplicativos para controlar e melhorar a saúde já existe, tanto para pacientes quanto para médicos e estudantes de medicina. O aplicativo Apple Health coleta dados sobre nutrição, sono, estresse e atividades físicas e pode ser usado
Créditos: Fernanda Toledo
Aplicativos são desenvolvidos para facilitar e melhorar o dia a dia de pacientes e médicos
A
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“Os aplicativos devem ter a função de orientação. Não podem incentivar a automedicação”
também no dispositivo Apple Watch, que ajuda a coletar os dados mais precisamente. O empresário Pedro Pinesi, que tem o dispositivo, avalia que os aplicativos, se usados com acompanhamento médico, são ótimos no dia a dia dos pacientes. Na PlayStore, loja oficial de apps do Google, existem mais de 500 aplicativos gratuitos relacionados à saúde. Para o estudante Hugo Oliveira, o surgimento desses aplicativos é muito importante. “Eu acho que ajuda muito. A gente consegue ter um controle bem maior em relação a saúde, para monitorar, ter registros”, acredita.
O ortopedista Victor Peres Folster acredita que a tecnologia sem envolvimento político ou visando somente a questão financeira facilita e auxilia a vida de médicos e pacientes. “A tecnologia inovadora sempre nos ajuda no que leva a ser melhor para o paciente. Nós podemos pesquisar rápido, podemos usar os aplicativos sempre em prol do paciente, nunca em prol só do médico”, afirma. Apesar de não usar os aplicativos para se comunicar com os pacientes e marcar consulta, o profissional diz que utiliza alguns para facilitar sua rotina como médico. “Os que eu mais uso são o OrtoClass, para conseguir ver as classificações de fratura, e o SurgeNote, para marcar cirurgias”, revela. Além desses aplicativos, o ortopedista diz utilizar ainda o CID 10, que ajuda a consultar todas as subcategorias da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. O aplicativo TUSS, continua Folster, ajuda a encontrar os códigos dos procedimentos publicados pela Agência Nacional de Saúde. Por fim, o Surgery
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Médico Geraldo de Tarso defende o uso dos aplicativos apenas para orientação dos pacientes
Reference descreve o processo completo de tratamento cirúrgico do diagnóstico ao pós-tratamento para todas as fraturas de uma determinada região anatômica.
Já a estudante Camila Mesquita utiliza o aplicativo ProDoctor Medicamentos. “Ele é muito interessante, seria muito bom que várias pessoas pudessem ter a oportunidade de conhecê-lo. Você pesquisa sobre ele certinho, tira todas as dúvidas, e isso evita atitudes precipitadas na hora de comprar um remédio”. O aplicativo apresenta uma lista de todos os medicamentos aprovados pela Anvi-
sa, bula, genéricos, entre outros. Para o gastroenterologista Geraldo de Tarso, a tecnologia vem revolucionando a história da medicina em diversas áreas, e desde a sua formação, em 1985, essas mudanças só vieram para somar e facilitar a vida de médicos e pacientes.
Questionado sobre o uso de aplicativos para pacientes, ele afirma: “Os aplicativos devem ter a função de orientação. Se ficar só no sentido da orientação, tudo bem. O que não pode é incentivar a automedicação”, observa.
Saiba mais sobre os aplicativos
Apple Health Esse aplicativo é dividido em quatro categorias: atividade, sono, atenção plena e nutrição.
sionais da saúde a ter um acesso mais rápido e simplificado à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas. TUSS OrtoClass Aplicativo desenvolvido para médicos e Aplicativo desenvolvido para facilitar a pesquisa de códigos TUSS destinado a residentes na área de ortopedia, apreprofissionais da sáude e pode ser usado senta as principais classificações offline. de fraturas e traumatologia. Surgery Reference SurgeNot Uma biblioteca online de conhecimento Esse aplicativo ajuda a controlar a vida cirúrgico, descreve o processo completo financeira de médicos e cirurgiões com de tratamento cirúrgico desde o diagtabelas de pagamento da CBHPM e SUS, nóstico até o pós-tratamento. além de possibilitar o cadastro e agenProDoctor Medicamentos damento de cirurgias. Aplicativo completo com todos os meCID 10 dicamentos aprovados pela Anvisa com mais de 6.100 bulas. Esse aplicativo ajuda médicos e profis[47] edição 84 | junho | 2018 painel
Laboratório do Corinthians recupera e previne atletas de lesões
Créditos: Cristiano Ferrari Prado
esporte
MÉTODOS
PRECIOSOS
Laboratório de Biomecânica do Corinthians é referência mundial na avaliação, reabilitação e prevenção de lesão em atletas
CAIO NOGUEIRA ANTUNES caionogantunes@gmail.com
P
ara um atleta, tanto de esporte individual como coletivo, o que mais importa é seu mecanismo de trabalho: o corpo. Quanto mais resistentes estiverem os músculos dos esportistas, menor a chance dele se lesionar. Além disso, quanto mais ele treinar, mais a performance vai se aperfeiçoar e melhor ele se sai durante a prática do esporte, trazendo resultados positivos para ele e para a equipe.
Pensando nisso, o Sport Club Corinthians Paulista, um dos clubes mais populares do mundo, criou o "Laborató-
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rio Corinthians R9”, um departamento de biomecânica que utiliza equipamentos sofisticados para trabalhar e melhorar a condição de seus atletas, localizado no Centro de Treinamento Joaquim Grava, em São Paulo. “O ambiente é todo sensorizado: temos câmeras que captam o movimento de forma quantitativa e qualitativa dos atletas, quantos graus está cada articulação, qual a relação angular com a velocidade que ele faz, o deslocamento ou com gesto específico do futebol”, conta o fisioterapeuta do clube, Luciano Moreira Rosa.
No LabR9 são feitos três tipos de treinamentos: avaliação, reabilitação e prevenção, ligada à performance física. O diferencial do Corinthians é a parte de prevenção de lesão. Ela é ideal para todos os atletas, mesmo aqueles sem nenhum tipo de problemas físicos e clínicos que os impeçam de treinar vão ao laboratório para realizar essa prevenção. Ela é feita de acordo com a necessidade de cada um para melhoria de desempenho.” edição 84 | junho | 2018
Departamento Biomecânico O Lab R9 conta com diversos equipamentos que auxiliam os atletas nas avaliações, prevenção de lesões e reabilitação. A Cinemática, ou Cinemetria, é um aparelho que permite uma análise biomecânica quantitativa dos movimentos. As medidas são realizadas por meio de indicadores indiretos, obtidos por meio de imagens. Os Sensores Eletromiográficos são semelhantes ao eletrocardiograma, mas ao invés de ser da parte cardíaca, ele atua na musculatura e na musculoesquelética. Ou seja, ele trabalha a parte da coxa, da perna e do braços. “Ele funciona mostrando o quanto a ativação elétrica está atuando para cada tipo de movimento. Tudo isso é utilizado para avaliação, treinos e exercícios”. A tomada de decisão, para um esporte de rendimento, é fundamental. As bolas com sensores servem exatamente para isso, para mostrar o tempo que eles levam para tomar a decisão e chegar ao ponto-alvo. O jogador precisa decidir, reagir e chegar ao alvo.
A mochila permite captar os movimentos. A partir dela é transmitido para o computador e do computador or para as telas. Os eletrodos são colocados na pele e ligados, com o início do exercício possível saber o quanto de atividade elétrica gera a contração muscular que ele está exercendo no momento. “Ele pisa na plataforma e ali na tela aponta quanto de peso ele terá que colocar. Ele força com uma perna e depois com a outra. Como o peso é o mesmo que ele teve que deslocar aqui, então eu tenho certeza que ele fez o esforço que eu pedi, porque estou vendo na tela”, explica o fisioterapeuta.
[ ] “Realizamos atividades aqui para melhorar a performance física”
Os Acelerômetros, que ficam no chão, possuem sensores que medem a força aplicada durante a passada deles, corrida, salto, deslocamento lateral, então ele pega a força aplicada no chão e o equilíbrio. Ele indica quanto está a potência de cada jogador em relação ao grupo e a ele mesmo, se pode melhorar e se não pode, se já está no limite ou ainda não. “Tudo é associado ao que eles fazem em campo, número de sprints durante o treino, quanto vai correr na partida, a qualidade dos gestos. Tudo que executamos aqui. Tem que ter uma relação direta no campo”, avalia.
[ ] “Isso é um fator que difere os grandes jogadores de futebol”
Omega Wave Omega Wave é um software a partir das ondas cerebrais que, integrando com a variabilidade cardíaca, tem uma associação que dá o nível de estresse do atleta, que é relacionado com a parte de fadiga central, ou seja aponta a prontidão para os jogadores e indica qual treino eles vão realizar, tanto de resistência ou de potência.
À frente do tempo O Corinthians é o único do Brasil a possuir um Departamento de Biomecânica, porém, outros clubes já estão se desenvolvendo para, futuramente, possuírem tal estrutura e preparação. O clube já recebeu visitas de todos os clubes do Brasil. Além disso, clubes e profissionais dos EUA, Inglaterra, Itália, França, Japão, China, Arábia Saudita, entre outros, visitaram o clube para conhecer a estrutura e os dados.
Além do Corinthians, Real Madri e Milan são os únicos que possuem tal estrutura. O que difere esses três times não são os equipamentos e, sim, os métodos. Apenas o Corinthians, nas Américas, consegue executar com excelência os métodos. Todos vão atrás do clube pelo no hall que adquiriram, especificamente, para o futebol.
[ ] “Hoje, o Corinthians tem esse no hall, muito mais valioso que o equipamento”
câmeras que captam o movimento detalhado dos atletas
O OW mede se o jogador está ou não totalmente focado mentalmente em determinada atividade. “Se o atleta tiver um grau de alteração articular no gesto ou a velocidade dele alterar em 5%, para nós que não somos atleta, não muda nada, mas para eles muda, e é nesse momento que ocorrem alguns tipos de lesões, que sãomilésimos de segundos que o atleta tem para controlar o gesto, um salto, uma corrida, um arranque”, diz Rosa.
Mochila com transmissor ligado a eletrodos
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o futuro é logo ali
OS OLHOS QUE TUDO VEEM Análise hawk-eye em uma partida de tênis
Tecnologia ganha força, auxilia árbitros em lances polêmicos e até mesmo melhora o desempenho de atletas em diferentes esportes
THALLES CRISTIANO ths26crist@gmail.com
C
opa do Mundo de 1966, final, estádio de Wembley, em Londres. A anfitriã do torneio, Inglaterra, batalha contra a equipe da Alemanha Ocidental para tentar seu primeiro título mundial. Após empate por 2 a 2 no tempo normal, o jogo vai para a prorrogação. Aos 8 minutos do tempo extra, Geoff Hurst chuta, a bola bate no travessão e depois quica no chão. Câmeras da época mostravam que a bola poderia não ter entrado, mas a arbitragem valida o gol que consolida a vitória por 3 a 2 dos ingleses, responsável pelo único título mundial da Inglaterra.
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Situações duvidosas estão presentes em todos os esportes. Com isso, um debate nasceu à medida que a tecnologia foi tomando conta de diversos segmentos da nossa sociedade: “Como utilizar a tecnologia nos esportes?”. As respostas para isso foram aparecendo gradativamente. “O recurso mais presente nos esportes, nos últimos anos, é o hawk-eye, sistema famoso graças ao tênis, tem como função captar o lance de jogo em 13 câmeras diferentes e instantaneamente formar uma versão em 3D da jogada para solucionar dúvidas.” O dispositivo também é empregado no vôlei, no
futebol, automo-bilismo, críquete e outros esportes famosos ao redor do mundo. O recurso não costuma dividir opiniões entre os profissionais dos esportes, que só apontam fatores positivos para o uso de tais tecnologias.
Questionado sobre a eficiência dos mecanismos de arbitragem, o técnico do Campinas Basquete Clube, Vitor Galvani, acredita que é uma ferramenta muito útil: “O basquete está cada vez mais atlético, fazendo com que as jogadas aconteçam numa velocidade rápida, dificultando a leitura do árbitro em apitar ou não uma violação”. edição 84 | junho | 2018
Créditos: Thalles Cristiano
O árbitro de futebol Vinícius Furlan, que atua em eventos nacionais e estaduais, comenta o uso do hawk-eye para solução de dúvidas durante os jogos. “A tecnologia da linha do gol também tem uma eficiência muito grande, em lances de muita dificuldade para a arbitragem. No Brasil foi usada apenas na copa de 2014”, afirma. Além disso, o árbitro de vídeo ainda usado timidamente em algumas ligas ao redor do mundo, vem ganhando popularidade; o árbitro paulista dá seu parecer sobre este novo dispositivo:
[ ] “Acredito que sua consolidação se dará na Copa do Mundo”
Para auxiliar o exercício de sua função, Furlan descreve os instrumentos de trabalho em cada jogo que apita. “Uso cartões, apitos, moeda para o sorteio, sensor da bandeira eletrônica, rádio comunicador (mecanismos para comunicação com auxiliares), relógios, spray, uniforme e muita fé em Deus”, completa o árbitro de 39 anos, que é juiz de futebol desde 2001.
No tênis, os organizadores foram além e tentaram aperfeiçoar ainda mais a tecnologia empregada durante os jogos, conforme explica o professor da modalidade, Randal Vacchi. “No final do ano passado em um torneio chamado next-gen finals, em Milão, com os oito melhores atletas do mundo até 21 anos, fizeram um ‘hawkeye live’, onde não tinham os árbitros de linha. Quando a bola quicava fora da quadra, saía o resultado no pager do árbitro de cadeira automaticamente”, explica. Mas não é apenas nas discussões que a tecnologia está presente. Os mecanismos e artefatos de nova geração faci-
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Arbitragem em um jogo do Campinas Basquete Clube
litaram muito na proteção física dos atletas e no desempenho durante uma partitida. Vinícius Ceribelli, jogador profissional de futebol americano no Piracicaba Cane Cutters, conta sobre os componentes presentes nos materiais usados por eles durante os jogos. “A face mask, que protege o rosto, é feita de aço ou carbono, enquanto a parte externa do capacete é de policarbonato de plástico ou polietileno – materiais leves e resistentes”, completa. Além da proteção dos jogadores em determinados esportes, a leveza dos equipamentos tem incidência direta no desempenho dos atletas em algumas áreas, conforme explica o professor Randal Vacchi. “Tem muita coisa boa hoje em dia na tecnologia do jogo. Por exemplo, têm raquetes desenvolvidas em parceria com a NASA que usam grafeno, tecnologia caríssima empregada em aviões” explica, enfatizando a que ponto chegou a evolução das raquetes usadas no esporte, já que até a década de 80 eram de madeira. Até nos esportes que naturalmente dependem
mais da tecnologia do que o comum, as inovações nunca param de aparecer. Os softwares de CFD (Computational Fluids Dynamics) são responsáveis por mapear reações químicas, transferências de calor, dentre outros fenômenos sob determinado equipamento. Com isso, as equipes em diversas categorias do automobilismo começaram a utilizar essa função para melhor desenvolvimento dos carros de corrida e para, consequentemente, a conquista de melhores resultados.
O Professor Cesareo De La Rosa Siqueira, docente universitário em cursos de ciência da computação desde 2000, explica como os softwares de CFD estão ganhando espaço significativo no mundo do automobilismo. “O CFD passou a ser empregado largamente (no automobilismo) devido à dificuldade de se realizar alguns ensaios experimentais com condições controladas. Com custos em constante queda, o uso mais frequente foi viabilizado” explica o professor formado na USP. [51] edição 84 | junho | 2018 painel
internet
O QUE A MODA
online TEM?
Ouvimos produtoras e consumidoras de conteúdo e produtos do universo fashion para descobrir as graças da moda atual
FERNANDA JULIANO DA SILVA fer_julisilva@hotmail.com
Q
ue a moda tem se reinventado a cada dia, disso a gente sabe. Quando o assunto é conteúdo de moda, as revistas e jornais há tempos fazem o papel de apresentar aos leitores informações variadas a respeito do tema. Mas quando falamos de compra e conteúdo online no mesmo lugar encontramos plataformas digitais que trazem essa proposta e, junto, muitos adeptos à ideia.
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E por que dessa junção de compra e conteúdo em um único lugar? Mariana Ribeiro, CEO da plataforma I Love E-commerce, que trabalhou por muito tempo em marketing e branding com clientes e-commerces, explica. "Como lidava muito com conteúdo, pensei em criar uma plataforma que unisse os dois de uma forma bem única – que tivesse tanto a praticidade de encontrar tantas lojas em um mesmo
ambiente como também agregar informações e inspirações diversas.” São mais de 100 mil itens reunidos no I Love.e, tudo na intenção de facilitar o encontro especial entre cliente e peça. A gaúcha Manuela Bordasch, cofundadora da plataforma Steal The Look, e mais alguns sócios criaram um espaço para que os leitores possam encontrar muito conteúdo de moda, edição 84 | junho | 2018
Créditos: Fernanda Juliano da Silva Adoroetc, loja em Limeira que aderiu ao e-commerce
inspirações, truques de styling com a possibilidade de “roubar” os looks que por lá aparecem. E a vantagem, segundo ela, está na velocidade das compras. "Há bem mais opções de peças, preços, marcas, tudo muito rápido”, explica.
Além disso, inspiração na hora da compra é peça chave. Hoje, as buscas online são por boas dicas, bons conteúdos, as pessoas querem conhecer as histórias por trás das marcas, e as plataformas que oferecem isso, saem ganhando. “A internet é altamente influenciável nos dias de hoje e estar lendo um conteúdo de moda já 'linkado'; a uma compra é mais prático do que o esperado. Além do que, você compra um produto já tendo a ideia de como vai usá-lo. É genial!”, destaca a estudante de jornalismo Nathali Kashihara.
Porém, o universo fashion está sempre mudando. As lojas que antes atuavam somente no offline perceberam que o boom da internet transformou a maneira de consumo e trataram logo de migrar para o online. É o caso da Adoroetc, loja em Limeira, desde 2010.
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As sócias e primas Fernanda Cavinatto e Cibele Tofoli estudaram e moraram em outras cidades, e quando decidiram abrir a loja tinham amigas de longe que queriam comprar com elas, mas por conta da distância não era possível. Foram “salvas” pelo e-commerce montado em 2013, e hoje vendem as peças não só para as amigas, mas para clientes do país todo. E o conteúdo para as redes sociais é pensado pelas duas, que abastecem o Instagram e o Facebook e também compartilham dicas de músicas, cursos realizados na loja e muito mais. “Nossos clientes buscam conteúdo, não é só uma questão estética”, conta Cibele. Isso é o que torna a marca diferente de tantas outras, uma boa produção de conteúdo online. “Não postamos o produto e só, porque isso não vai alimentar os nossos clientes no geral. Eles gostam do nosso conceito, das outras coisas que a gente indica, das coisas que a gente posta, do ambiente, de tudo”, destaca Fernanda. Pensar no cliente/leitor atual e onde ele está (a.k.a. internet) é a sacada das plataformas, afinal, os consumidores
[ ] "As pessoas querem conhecer as histórias por trás das marcas"
sabem da importância de um bom engajamento nas redes. “O que faz com que eu me interesse por uma loja, marca ou blog é o quão presente isso está nas redes sociais, na criação de conteúdo e na comunicação com o consumidor”, observa Rafaela Faria, estudante de publicidade e consumidora dos conteúdos de moda.
Trata-se de uma troca de informações, de amiga (plataforma online) para amiga (cliente). “Gosto de quem ‘fala’ comigo com uma linguagem própria e me convence de que são mais do que roupas”, resume Nathali.
Quer ter sucesso com sua marca ou plataforma de moda? A voz dos consumidores é a voz de Deus. Não se convence mais pelo argumento “compre isso, compre agora”. Moda online é conteúdo, é pensar no que os consumidores querem, e eles querem verdade, interação, bons motivos para comprar e bons motivos para usar.
[53] edição 84 | junho | 2018 painel
economia
X MERCADO
TECNOLOGIA
Empreendedores encontraram suporte para abrir a própria empresa FERNANDA CAMIlLO camillo.r.f@gmail.com
urilo Scoriza é sócio-fundador da empresa Iuris Energia. Formado em engenharia de materiais, ele abriu a empresa em 2015, e atualmente ele e o sócio são responsáveis por trazer para Santa Bárbara d’Oeste e região o sistema de microgeração distribuída com a energia fotovoltaica. Depois de várias conversas e análises, Murilo e o sócio resolveram fazer um investimento em uma tecnologia que, além de econômica, também seria sustentável. Dispositivos instalados no telhado das casas convertem energia solar em energia elétrica
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“Foi assim que começamos. Em um churrasco mesmo. Fomos aprofundando, estudando e decidimos montar a empresa”, explica.
O sistema fotovoltaico é uma tecnologia de origem Alemã, que tem ganhado mercado e garante seu espaço quando o assunto é energia renovável. O sistema funciona a partir de placas instaladas nos telhados das casas e de grandes centros comerciais, fazendo a captação dos raios solares e fornecendo energia para o
Créditos: Fernanda Camilo
M
local todo. A produção em excesso dessa energia é chamada de crédito, e no período noturno pode ser utilizado. A tecnologia, além de ser sustentável, promete economia na conta de energia.
Atualmente a Iuris fecha cerca de seis a oito vendas do sistema no mês e tem como meta para o final do ano de 2018 chegar a marca da centésima venda e instalação.
Estudos da Expert Market, uma startup no Texas (E.U.A) que presta consultoria e suporte a novos empreendedores, apontou que o Brasil é o 5º país no ranking de 15 nações com os empresários mais engajados em empreender, e o mercado de tecnologia vem sendo um dos carros chefes do empreendedorismo.
Outros empreendedores se destacam no mercado. A tecnologia ampliou os setores de investimento. Lucas Henrique é CEO e dono da empresa Devi Tecnologia, na cidade de Americana, responsável por Software de PDV, frente de caixa. O mercado operacional é um pouco mais antigo nesse cenário, mas vem se reinventando quando a questão é a necessidade do cliente. edição 84 | junho | 2018
[ ] “Gostamos da ideia e começamos a empreender”
Envolvimento e aperfeiçoamento do produto
Daquele momento em diante, a Devi passou a desenvolver projetos para outras grandes empresas, mas a crise que balançou o mercado fez com que o CEO mudasse de tática e passasse a desenvolver o Software de PDV.
Com uma nova proposta de parceria com outros softwares de gestão, a Devi atualmente atende em média 800 clientes. Hoje, o principal desafio é entrar em empresas tradicionais com modelos de sistema fechados. “Nós nos especializamos e somos os melhores, você acaba tendo uma solução em conjunto que funciona muito melhor do que a dos concorrentes”. Hoje a tecnologia é sinônimo também de redes sociais e essa foi a aposta do Fillipe Luis, 24, fundador do grupo Publicitários Criativos, que foi criado dentro de uma Faculdade de Publicidade e Propaganda, em 2013. “O projeto que começou apenas com uma conversa no bar com os amigos de sala tornou-se uma das
[edição painel 2018 57] 84 | junho|
maiores referências para jovens publicitários que sonham em ser comunicólogos”, lembra. A empresa localizada em Campinas produz conteúdo que inspira publicitários e comunicadores, dando ainda suporte aos novos profissionais. Campanhas publicitárias, aplicativos e software são assuntos sempre. Os Publicitários Criativos conquistaram mais de 627 mil likes no Facebook e 107 mil seguidores no Instagram, números mais do que relevantes. Em março de 2018, o grupo completou 5 anos e a comemoração foi em Nova York. “Foi emocionante! Não tenho palavras para descrever a sensação. No aniversário dos Publicitários Criativos, a noite eu estava sain
do do Hard Rock, na Times Square, as ruas todas acesas, nem parecia noite de tão claro que era o local, parecia cena de um filme”, conta.
Seja por necessidade ou por convicção, empreendedores se reinventam todos os dias. Milhares de empresas lançam produtos e oportunidade. Segundo dados divulgados pela consultoria Forrester Research, o setor tecnológico crescerá 4% neste ano de 2018, o que significa uma valorização de US$ 3 bilhões, combatendo 2017 onde crescimento foi de 3,8%. As perspectivas do mercado não poderiam ser melhores, e com certeza os próximos anos trarão novos incentivos aos empreendedores.
Crédito: Publicitários Criativos
Há dois anos no mercado, a Devi nasceu a partir de uma necessidade de sair da zona de conforto. “Eu precisava de algo a mais pra crescer, eu estava muito tranquilo onde eu trabalhava, e eu precisava mudar”. Foi quando Lucas resolveu terceirizar todo oserviço de TI que prestava para uma empresa e abrir seu próprio negócio.
Filipe Luis comemorou na Times Square, em Nova York, os 5 anos de criação do grupo Publicitários Criativos
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acessibilidade
Inclusão
TECNOLÓGICA Aplicativos auxiliam deficientes visuais e auditivos a se comunicar e a realizar atividades do dia a dia, como ler e identificar a cor das roupas
LARISSA DE SOUSA larissa.sousa.lds@gmail.com JULYA ZANI julyazani@outlook.com
O
desenvolvimento de aplicativos e softwares para pessoas com deficiências visuais e auditivas não preenche o vácuo deixado na sociedade pela falta de políticas públicas de inclusão, mas ter a tecnologia como aliada na execução de atividades do dia a dia representa ganho significativo de qualidade de vida. O fun-cionário da Secretaria Municipal de Trabalho de Piracicaba, Wander Vianna Santos, 47, perdeu a visão há 10 anos em decorrência de herpes nos olhos. Hoje, Santos conta com a ajuda do aplicativo VoiceOver, para iPhone, que funciona como um leitor
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de tela compatível com monitores braile, e do aparelho Colorino, que indica a cor dos objetos, utilizado por Wander para escolher que roupa usar.
O maior obstáculo encontrado por Wander na área da tecnologia é o custo dos aplicativos. “Ainda é muito caro para eu comprar esses sistemas. Não recebo nenhum auxílio do governo, por isso a acessibilidade acaba se tornando limitada”, analisa. Outra maneira de inclusão seria as empresas privadas produzirem mais conteúdos com audiodescrição, tanta para a televisão quanto para a internet. Em dezembro de 2000 foi estabelecida a lei de acessibilidade que ajuda a promover a inclusão de pessoas portadores de alguma deficiência. Segundo o IBGE, cerca de 45 milhões de pessoas declaram ter, pelo menos, um tipo de deficiência.
Foi pensando nisso que o professor de comunicação Rangele Arthur, da Unicamp, e o pesquisador Marcelo Sodré Plachevsk desenvolveram um software que utiliza o reconhecimento da voz através de um dispositivo móvel que converte a mensagem em alerta vibratório e luminoso, o Tecnologia Assistiva para Auxílio a Deficientes Auditivos e Surdos (Taada). “Nosso objetivo é acabar com todas as dificuldades de pessoas com deficiência”, diz Arthur. Sendo o pioneiro nessa área, o Taada funciona da seguinte maneira: o deficiente auditivo se posiciona na frente do smartphone, que emitirá uma vibração e um alerta luminoso toda vez que alguém pronunciar seu nome. O deficiente, então, saberá que estão lhe chamando. Os testes mostram que em locais internos e externos o dispositivo funciona em
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Créditos: Larissa Sousa Wander Vianna Santos é funcionário da Secretaria Municipal de Trabalho
[ ] “Nosso objetivo é acabar com todas as dificuldades”
Iniciativas acessíveis Hand Talk Uma dessas tecnologias é o aplicativo Hand Talk, que funciona como um tradutor de bolso e disponibiliza a tradução de voz ou de textos através de um personagem chamado Hugo, que interpreta o objeto por língua de sinais. O sistema conta com mais de 1,5 milhão de downloads e está disponível para iOS e Android. Criado por três amigos, em 2008, o publicitário Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz tiveram a
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ideia de juntar tecnologia e comunicação para auxiliar essa população que encontra dificuldades na comunicação. O aplicativo recebeu da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013, o prêmio de Melhor Aplicativo Social do Mundo.
O Canal Acessível é outra iniciativa lançada no início de 2018, no evento de tecnologia Campus Party, e pode ser encontrado no YouTube. O intuito do canal é ser totalmente acessível para os deficientes visuais e auditivos, com o auxílio de audiodescrição e tradução com libras. O projeto é composto por vários youtubers, como Marimoon, Depois dos Quinze, Ana Maria Brogui, Cauê Moura, Aruan Felix, Bibi Tatto, Não Salvo e Põe na Roda. De acordo com a assessoria da produtora, a atividadade é filantrópica.
O youtuber Pedro HMC, 33, do Canal Põe na Roda, que participa da iniciativa, conta que foi uma grande honra estar presente no projeto. “O legal da internet é conseguir com seu conteúdo chegar em todas as pessoas”, analisa.
Kitana Dreams No YouTube existem vários canais acessíveis, como o da digital influencer e drag queen Kitana Dreams, uma criação do carioca Leonardo Branconnot, 38, e deficiente auditivo. A paixão por shows de drag queen começou quando a drag tinha apenas 18 anos. Branconnot resolveu se produzir. No entanto, como é deficiente auditivo, não daria para realizar performances em shows. O canal tem intuito de atingir a comunidade surda, LGBT e ouvintes. Kitana conta que criou o canal para assistir aos tutoriais de maquiagem, porém não encontrava canais acessíveis. Ou seja, havia a necessidade de tradução nos vídeos. Já que não havia nada parecido na plataforma, ela resolveu criar seu próprio canal.
Para o digital influencer, a internet é um meio de comunicação muito importante para os surdos. “As redes sociais nos ajudam a interagir com vários tipos de público do mundo. Isso é maravilhoso!”, ressalta.
Youtuber e drag queen Kitana Dreams
Créditos: Fernando Cysneiros
até 5 metros de distância. Com o objetivo de promover ao deficiente auditivo sua independência, a tecnologia assistida engloba metodologias, estratégias e serviços que proporcionam aos surdos melhor qualidade de vida.
Canal Acessível
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crédito: Gerhard Waller
alimentação
COR, SABOR E
QUALIDADE!
No futuro, a tendencia é consumirmos produtos mais saudáveis
Alimentos no futuro serão mais saudáveis, apontam especialistas; tecnologia vai contribuir para a melhora desses produtos
Q ISABELA SABÉLLICO isabellico19@gmail.com
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uem já ouviu a frase “Nós somos o que comemos”? Aposto que a maioria. Ao ouvi-la, automaticamente, nos vem à mente reflexões a respeito dos nossos hábitos alimentares. Afinal, não é novidade que quanto melhor nos alimentarmos, mais saúde teremos. Foi pensando nisso que a tecnologia entrou em ação no ramo alimentício. Por meio desse mecanismo, pesquisadores estão desenvolvendo estudos a fim de melhorar a qualidade dos alimentos durante as próximas décadas e garantir que a pro-
dutividade seja maior e melhor.
Daqui 30, 40 anos, a ideia é produzir alimentos que garantam mais saúde à população. Esse avanço será possível graças aos mecanismos técnológicos que permitem melhorar a qualidade desses produtos, assim como aumentar a produção e garantir que o cultivo seja benéfico. De forma geral, as novas tecnologias no processamento de alimentos mais significativas para a aplicação em grande escala em um futuro próximo são: edição 84 | junho | 2018
2) Liofilização: processo em que a água é eliminada por sublimação. Para isso, o alimento é previamente congelado e caracteriza-se por não o submeter a elevadas temperaturas como em outros processos de secagem. Assim os nutrientes, aroma e sabor são melhores conservados.
3) Aquecimento por micro-ondas (MWH): Usa a energia eletromagnética em frequências expecíficas para aquecer aliementos. A penetração das micro-ondas nos alimentos permite aquecimento mais rápido e uniforme.
4) Irradiação: Processo físico que consiste em submeter o alimento a doses específicas e controladas de radiação ionizante, com finalidades sanitária e/ ou tecnológica. Este tratamento pode aumentar o prazo de validade dos produtos, pois normalmente destrói bactérias e bolores responsáveis pela deterioração. 5) Campo elétrico pulsado (PEF): Processo relacionado à aplicação de alta voltagem a alimentos. Destrói bactérias, fungos e leveduras.
De acordo com o professor Severino Alencar da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), com a utilização dessas ferramentas, a tendência é produzir alimentos funcionais (aqueles que contém compostos bioativos que além de nutrir, exercem uma função fisológica ao organismo), nutracêuticos (suplemento diabético, apresentado em forma não alimentícia como comprimidos, cápsulas, por exemplo, de uma substância bioativa concentrada) e orgânicos. “A produção deles poderá ser feita devido às tecnologias emergentes. Por meio do processo de liofilização, por exemplo, será possível produzir cápsulas de isoflavonas de so-
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ja, que serão extremamente saudáveis”. comenta.
Outra tendência para nós, consumidores, é a possibilidade de os alimentos serem produzidos com menor teor sódio, pois segundo o Ministério da Saúde, o cloreto de sódio (sal de cozinha) aliado a outros fatores é responsável por até 63% das mortes no mundo e 72% no Brasil.
Sais sem sódio (como os cloretos de potássio, cálcio e magnésio) são os substitutos de maior potencial, pois promovem um impacto salgado muito próximo ao sal de cozinha. Alternativas como as substâncias Umami (sais de glutamato, inosinato e guanilato) são também muito eficientes para melhoria da aceitação sensorial dos alimentos com menor teor de sódio. “Os mecanismos tecnológicos são importantes para se atingir este objetivo”, afirma Alencar.
Desde já, profissionais da área estão desenvolvendo testes para garantir eficácia nos procedimentos à base de ferramentas tecnológicas. O engenheiro de alimentos Pedro Augusto expõe que o principal foco das pesquisas atuais é fazer com que os alimentos possuam substâncias nutritivas para que o nosso corpo as absorvam em maior quantidade. Como exemplo, ele cita uma pesquisa realizada por uma aluna da Esalq. “Por meio do processo de ultrassom em alta potência, que é um recurso tecnológico novo, ainda não utilizado pela indústria, ela está aumentando a acessibilidade do licopeno no suco de goiaba, isto é, tornando esse importante nutriente mais disponível ao nosso organismo”, explica. créditos: Fábio Torrezan
1) Processamento por alta pressão são (HPP): Conhecido como pasteurização a frio, caracteriza-se por utilizar altas pressões e temperatura ambiente para evitar bactérias, fungos e leveduras. Esse tipo de processamento permite maior retenção da qualidade nutricional e sensorial dos alimentos, quando comparado ao térmico tradicional.
Em relação aos alimentos ultraprocessados, tudo indica que a indústria continuará fabricando esses produtos, que são feitos em laboratórios e recebem adição de substâcias como sal, gorduras e açúcar. Segundo a nutricionista Miriam Coelho, esses mantimentos são um dos fatores responsáveis por doenças crônicas e metabólicas, enfrentadas por milhares de brasileiros atualmente. Portanto, é importante nós, cidadãos, mudarmos o hábito de consumi-los, pois isso implicará na menor fabricação. “Hoje, a maioria dos alimentos está focada na aparêcia, cheiro e sabor, e o valor nutricional não é reconhecido com a devida importância. Por isso é necessário que o consumidor seja mais exigente com a indústria”, ressalta.
[ ] “É necessário que o consumidor seja mais exigente com a indústria”
Muitas pessoas se mostram pessimistas em relação à qualidade de vida que teremos no futuro devido a um conjunto de fatores. No entanto, no que diz respeito à alimentação, é sabido, desde já, que as projeções são otimistas e que podemos ter tranquilidade quando esse for o assunto. Nós teremos mais saúde, já que, segundo os especialistas, existe desde já a busca por alimentos com maior qualidade nutritiva.
Pesquisas visam acrescentar nutrientes [53] edição 84 | junho aos | 2018 painel alimentos
robótica
Prazer,
robô sexual!
Androides com inteligência artificial são promessa de relação “quase humana”
Ana Paula Veronezi veronezianapaula@gmail.com Lucia Teodoro teodoro.lucia@outlook.com
Q
uando Chris Columbus dirigiu o filme O Homem Bicentenário, ninguém imaginava que chegaríamos próximos do protótipo de Andrew, robô doméstico interpretado pelo ator Robin Williams, em menos de 20 anos. Atualmente já é possível adquirir um robô sexual, diferente do tratado nos cinemas em 1999, mas que contém algumas similaridades com a ficção.
Créditos: Divulgação/ Realbotix
As empresas norte-americanas Realbotix, True Companion e Real Doll são as pioneiras na criação de robôs com cunho sexual. Características como cor dos olhos, cabelo, pele e forma corporal podem ser escolhidas pelo comprador.
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Os robôs com inteligência artificial são programados para conversarem e terem expressões faciais com o usuário durante a “relação sexual”. Apesar desses avanços, os protótipos relatados até agora são femininos. Um protótipo masculino ainda não foi lançado no mercado.
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Robofilia é o nome dado para atração sexual, ou práticas sexuais, com robôs. Isso pode soar um pouco estranho, mas está se tornando cada vez mais comum, até mesmo porque os robôs estão sendo criados para terem aspectos próximos à realidade. Os robôs das empresas norte americanas True Companion e Real Doll falam frases do tipo “estou excitada” e conseguem piscar os olhos, mexer a boca e mover a cabeça.
As empresas prometem prazer a seus compradores em troca de US$ 15 mil, cerca de R$ 50 mil. A True Companion, está projetando robô sexual com o nome de “Roxxxy True Companion”, e certifica que o protótipo vai ser uma “amiga amorosa”, capaz de saber o nome e os gostos de seu “parceiro”, além de poder conversar, expressar “sentimentos” e ter orgasmos. “Seres humanos foram feitos para se relacionar, ter toque, beijo real. O que pode existir é uma curiosidade em querer experimentar, mas acredito que não vá substituir as relações reais” afirma a educadora sexual Aline Castelo Branco.
envergonhada, existe uma repressão forte ainda com relação à sexualidade feminina, mas acho interessante abrir o mercado, tem mulheres que podem curtir esse movimento”,comenta Aline.
Mas a primeira pergunta que surge quando se fala do pênis incansável é se isso facilitaria o alcance do prazer feminino e até mesmo o orgasmo. Aline Castelo Branco acredita que a mulher não precisa de um pênis biônico. “Muitas mulheres já alcançam o orgasmo com mais facilidade quando controlam sua vagina, seu músculo e sua mente”, lembra.
Para alguns, os robôs servem para relações sexuais, mas para outros, é necessário também o quesito afetivo, como no caso do engenheiro chinês Zheng Jiajia que construiu e casou-se com mulher-robô, e o da francesa Lilly que criou o robô InMoovator a partir de uma impressora 3D e quer se casar com ele.
[ ] “Empresas prometem prazer em troca de US$ 15 mil”
Durante pesquisa realizada para a matéria, dos 54 entrevistados entre homens e mulheres, 25,9% afirmaram que fariam sexo com um robô. Os outros 74,1% não fariam e um dos participantes explicou o motivo: “Nada supera as emoções e sensações que apenas o contato humano pode proporcionar”. A empresa Relbotix pensou nas mulheres e agora está perto de lançar o pênis biônico incansável, mas ainda são necessários ajustes com relação à voz e à personalidade do robô. A empresa também afirmou que os clientes poderão escolher até mesmo o modelo do pênis. O curioso é que somente agora uma empresa nesse ramo pensou na mulher e a educadora sexual tem resposta pra isso: “Quem consome mais esse tipo de brinquedos sexuais com conotação mais pornográfica é o público masculino, talvez por isso as marcas se voltam para esse perfil. A mulher é mais
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Protótipos expressam reações com seus parceiros
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bem-estar
SAUDAVELMENTE
DIGITAL
Mundo digital é dominado por blogueiras e digitais influencers fitness; especialista alerta para os riscos de se seguir dietas sem acompanhamento médico
ANDRESSA MENGHINI andressa_menghini@hotmail.com GABRIELI EMBOABA gabi.emboaba@outlook.com
Créditos: Gabrieli Emboaba
Blogueira Fernanda Faralhe
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oje em dia a maioria das pessoas está à procura de um estilo de vida mais saudável, principalmente para melhorar a qualidade de vida. O foco está nas blogueiras fitness e digitais influencers, que seguem uma rotina saudável e compartilham suas rotinas no Instagram, no Facebook e nos blogs. Nessas redes sociais são compartilhadas diariamente dicas de treinos, alimentação equilibrada e receitas, e é por meio das postagens que as pessoas encontram motivação e se inspiram na hora de seguir uma rotina mais saudável. A tecnologia, sem sombra de dúvidas, ajuda essas profissionais a compartilharem suas histórias, tendo como resultado novas parcerias que rendem dinheiro e produtos, além de alcançar novos seguidores.
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A digital influencer Fernanda Faralhe conta como tudo começou e como a facilidade de usar as redes sociais, para compartilhar seu cotidiano, ajudou os seus seguidores. “O meu instagram surgiu de uma vontade enorme de me alimentar bem, e voltar a fazer minhas atividades físicas. Na época que eu comecei eu estava lesionada na coluna por conta da anorexia e desnutrição, e por isso afastada do esporte que eu mais amo, que é a corrida. Depois que fui perdendo a vergonha vi que poderia ajudar outras pessoas mesmo com objetivos diferentes a serem mais determinadas e saudáveis”, comenta Fernanda que mora em Americana e tem mais de 35 mil seguidores. “A ideia nunca foi ser referência e sim ajudar o maior número de pessoas possível a alcançarem seus objetivos”, destaca Fernanda. A tecnologia permite que as digitais inlfluencers possam mudar a vida de muitas
pessoas que tenham interesse em ter um estilo de vida mais saudável. Para o médico e também digital influencer Walter Rosamilia Kantovitz, que tem mais de 73 mil seguidores no Instagram, mais importante que atuar como influenciador é contribuir para a divulgação de informações corretas. “É comum vermos gente que realmente não tem capacidade técnica para estar colocando as coisas que postam. Eu tento colocar realmente as coisas baseadas em ciências”, conta. A digital influencer Ana Delfs, com mais de 7 mil seguidores no Instagram, ressalta a satisfação de compartilhar dicas na internet. “Trabalhar com as redes sociais é poder fazer a diferença. Se ao menos uma pessoa ou algumas mudaram e adquiriram mais saúde, não ficaram mais doentes, estão mais ativas, minha missão está se cumprindo”, analisa.
[ ] “Trabalhar com as redes sociais é poder fazer a diferença”
Alerta O médico Walter Rosamilia chama a atenção para o risco de se adotar um estilo de vida que não seja o ideal para o seu perfil. “Não faça no seu dia a dia o que você deveria fazer de maneira esporádica. Hoje a gente vê uma inversão, hoje as pessoas fazem o que deveria ser feito esporadicamente e se tornam rotina. Então, o que eu prezo para as pessoas é mudança de estilo de vida e hábito, e não dietas da moda”, explica. Como em todo lugar, na internet também existem muitas mentiras e é necessário tomar cuidado com o que se lê e com algumas dietas propagadas que, muitas vezes, não vão fazer bem a um determinado corpo, pois não são todas as dietas que devem ser repassadas e seguidas. [edição painel 2018 65] 84 | junho|
A nutricionista Bruna Molina, de Americana, comenta por que as pessoas devem ficar atentas ao que leem na internet. “A dieta vai ser elaborada de acordo com a individualidade de cada um. Por exemplo, se o indivíduo apresenta alguma patologia ou se ele toma algum tipo de medicamento, o cardápio entra planejado para ele corrigir todas as suas deficiências. Um exemplo é o paciente renal, que não pode beber água de coco porque o rim dele não consegue filtrar aquela quantidade de vitaminas e minerais. Cada metabolismo é de um jeito e a dieta vai ser totalmente planejada nisso”, orienta.
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Créditos: Divulgação
games
DESLIGA ISSO,
Oouuu... Dentre as profissões que surgiram neste século, a de jogador de videogame profissional é uma realidade promissora e bem lucrativa
Q
uando criança, a nossa mente é repleta de desejos mundanos e fantasias. Almoçar uma taça de sorvete, não ter hora pra dormir e a extinção do brócolis são alguns desses sonhos de infância. Para aqueles que cresceram dos anos 80 em diante os videogames foram uma grande febre. Mas ocupar o televisor da casa e jogar incontáveis horas, com a anuência dos pais, era uma tarefa impossível. “Quem dera eu pudesse jogar durante horas e ainda me pagassem para isso...” - outro delírio infantil. Eis que esse sonho já é uma realidade. O gaúcho Gabriel Bohm Santos conhecido como KamiKat - é um jogador profissional do game League of Legends (LoL para os íntimos).
Aos 22 anos ele tem uma carreira consolidada e uma legião de fãs. Em 2015 esteve na lista da imprensa especializada em jogos eletrônicos,
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como um dos dez maiores jogadores do mundo. Desde os 15 anos ele concilia a carreira de player profissional com a rotina de transmissões ao vivo de seus jogos. Kami afirma que começou a transmitir por pressão dos fãs, mas que logo se apaixonou por esse trabalho. Tarefa que ele não classifica desta forma. “As lives (termo comumente usado para definir a transmissão das partidas ao vivo), não são um trabalho, são uma diversão”, classifica.
Porém, apesar da empolgação do jogador, a rotina e o compromisso (preceitos inerentes à maioria dos empregos) são fundamentais para o sucesso e a rentabilidade de quem pretende viver de jogar videogames. O próprio perfil de Kami no Twitter é uma mostra dessa responsabilidade. Semanalmente ele divulga as datas e os horários de suas transmissões e dialoga abertamente com seus quase
BRUNO GOMES bruno.localizacao@gmail.com CAIO LIMA caio_araujo_lima@hotmail.com MARCO SOUZA masouza38@hotmail.com
meio milhão de seguidores sobre quais serão os jogos da vez. Os jogos eletrônicos estão no auge do entretenimento mundial. A música e o cinema não conseguem acompanhar nem de perto a lucratividade dos games. Em 2017, a indústria musical faturou US$15,7 bilhões. No mesmo período, o faturamento mundial dos games foi de US$ 108,9 bilhões.
Grandes lucros são gerados por uma imensa base de consumo. De acordo com dados da empresa de marketing Newzoo (especializada em games), são 2,2 bilhões de gamers no mundo. No Brasil, a estimativa é de que existam 66,3 milhões de jogadores - somando todas as plataformas (celulares, tablets, PC, consoles, etc) – que gastaram, em 2017, cerca de R$ 4 bilhões. O país ocupa a 13ª posição no ranking mundial de consumidores de jogos eletrônicos.
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Mulheres Em uma área historicamente dominada por garotos, a popularização dos jogos eletrônicos ganhou a adesão da audiência e da participação feminina. A streamer Carol “Tawna” Oliveira é um dos expoentes do poder das meninas nos games. Além de uma jogadora reconhecida, é repórter de um programa de games voltado ao cenário eletrônico competitivo. A jovem de 21 anos, nascida em Campinas, transmite sua jogatina desde os 17 anos e já acumulou mais de 3 milhões de espectadores. Sua especialidade também é o jogo League of Legends, e ela prova que todo o preconceito contra as meninas no controle é uma tremenda bobagem. So-
[ ] “As lives não são um trabalho, são uma diversão”
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bre viver de jogar, Tawna revela que os altos e baixos da vida - e do mercado - já a fizeram pensar em jogar tudo para o alto. “Minha família me cobrava muito sobre o fato de ficar em casa o dia todo jogando e não ganhar nada com isso, com as lives isso começou a mudar”, diz a streamer, sem revelar quanto fatura enquanto joga. Segundo ela, não há uma média ou mesmo uma perspectiva de faturamento mensal, tudo depende da quantidade de inscritos pagos no seu canal na plataforma Twitch (a mais conhecida no ramo de streaming de jogos, assim como o YouTube), da disposição em novos espectadores fazerem doações espontâneas em dinheiro (sim, essa forma de remuneração é comum nesse meio e alguns streamers já receberam quantias astronômicas de admiradores mais endinheirados) ou da quantidade de patrocínios e anúncios que as transmissões recebem. Ou seja, pode ser diversão, mas dá trabalho ganhar dinheiro.
você pode realizar as transmissões a partir do computador ou dos consoles de mesa. Os streamers mais famosos transmitem pelo PC - mas prepare o bolso. Onde streamar? Entre os sites, a Twitch é a mais popular. Pertence ao grupo Amazon, mas a concorrência está de olho...
Crie sua comunidade Interatividade, interatividade, interatividade... não deixe seus seguidores no vácuo. Atue nas redes sociais e reforce os elos com a sua audiência.
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A Twitch - atualmente a principal plataforma de transmissão de jogos da internet - registrou um aumento de 67% de novos jogadores que abriram suas transmissões ao público. A audiência mundial já chega a 600 milhões de espectadores e tende a crescer ainda mais em 2018. As principais empresas de tecnologia e de mídias sociais prometem investir alto no conteúdo de livestreams de jogos. O Youtube, o Twitter, Facebook e a Microsoft prometem acirrar a competição pela atenção dos jogadores.
Equipamentos
O pré-requisito para transmitir jogos ao vivo é ter o equipamento necessá-
O hobby de milhões de jovens virou trabalho de gente grande: os games invadiram a internet
passos para se tornar um streamer
Escolha uma plataforma
rio: PC, videogame, microfone, câmera, internet… a partir daí qualquer um pode ser um streamer. Mas se destacar entre uma infinidade de pessoas que querem angariar a sua atenção é um problema muito maior. Nesse ponto, Tawna e Kami concordam que os espectadores cobram muito deles, mas que essa é a força que os impulsiona a sempre melhorar, crescer e manter a fidelidade de seus seguidores. “É diferente de ser um youtuber, a pessoa que te assiste na live dificilmente conseguirá assistir um outro streamer, ela tem que gostar de você como jogador e apresentador”, diz Kami.
Escolha os jogos Opções não faltam. Se você preferir, pode jogar os games das antigas ou ser um expert em um único jogo.
Me mostre a grana Não da pra viver só de likes. Quando tiver uma base estabelecida de seguidores, use as ferramentas da plataforma para ganhar dinheiro.
Rotina Achou que não ia ter rotina? O seu sucesso está atrelado à disciplina e fidelidade das suas transmissões. Defina um horário e uma frequência.
Aqui é trabalho Não basta sentar em frente à câmera e disparar a jogar. Dependerá de todas as condições anteriores para chegar no fim do mês e dizer: “Eu ganho pra jogar!”
Cresça e Apareça Para se destacar, abuse da criatividade e da comunicação com seus seguidores. Não deixe eles debandarem para o outro lado, esteja em sintonia com eles. edição 84 | junho | 2018 [65] painel
Black Mirror
cultura pop
uma profecia da
atualidade Como a série britânica nos apresenta a tecnologias que já existem e algumas podem se tornar realidade num futuro não tão distante assim
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sso é tão Black Mirror. Ultimamente, essa frase entrou no vocabulário das pessoas e refere-se a tudo aquilo em que a tecnologia transponha a realidade. A série britânica Black Mirror aborda a questão de como a tecnologia influencia e impacta na sociedade e nos faz refletir sobre como essa mesma tecnologia age ou rege as nossas vidas. Com 19 episódios, divididos em 4 temporadas e com a 5ª já confirmada, a série vem fazendo um enorme sucesso desde que foi adquirida pela Netflix, em 2015. Originalmente, era apenas distribuída pela Channel 4, do Reino Unido, portanto, não tinha tanta popularidade logo que foi lançada, em 2011. Com a aquisição pela plataforma de streaming, em pouco tempo, ela veio a se consolidar na mente dos fãs de seriados e de cultura pop. Mas como Black Mirror conseguiu em tão pouco tempo atingir esse feito? Star Trek, a exemplo outra série
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Cada episódio conta com tecnologias diferentes, apesar de uma mesma tecnologia ser utilizada de diferentes maneiras. Alguns dispositivos mostrados na série podem parecer bem absurdos, como uma nuvem onde as pessoas colocam sua consciência como se fossem dados de computador. Já outros são realidade entre nós, como jogos de realidade virtual aumentada e alguns protótipos de cães robôs.
Na primeira temporada, a série nos apresenta a que veio, com episódios que fazem refletir sobre o que somos capazes de fazer em prol de uma nação, por altruísmo e mostra suas primeiras tecnologias. Por exemplo a
bicicleta que conta milhas como se fosse dinheiro e nos dá vantagens sobre produtos, ou ainda, implante ocular que funciona como uma espécie de câmera de vídeo, captando tudo o que é feito durante o dia com a possibilidade de voltar a essas memórias e mostrar para outras pessoas como se fosse um vídeo do Youtube.
Na segunda temporada, são apresentadas tecnologias um tanto quanto surpreendentes, como um aplicativo que simula a consciência de entes falecidos e posteriormente os colocam como robôs. Noutro episódio, tem-se o dispositivo que apaga a memória recente de uma pessoa, e o caso de um desenho animado concorrendo ao governo. O especial de Natal mostra uma tecnologia que extrai uma parte da consciência e a coloca em uma espécie de recipiente digital, chamado cookie.
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LAIS ANDRADE laisandradect@gmail.com
que também se utiliza de tecnologia, demorou muito mais para se consagrar. Para Rafael Lima, autor do site Multiversos Nerd, o sucesso se dá pela temática da série ser crítica à tecnologia excessiva, o que tende a prender a atenção do expectador desde o primeiro episódio. “A série é extremamente atual, e vai além. Por mais que os seus episódios sejam aparentemente exagerados, eles apontam pra um norte: E se o seu excesso de consumo de tecnologia te levar a tua sensibilidade, ou falta dela, a esse ponto?”, explica.
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Quais dessas tecnologias podem se tornar realidade?"
edição 84 | junho | 2018
Crédito: Google Imagens/ Manipulação: Gistavo Casadei
Diante de todas as tecnologias mostradas na série, quais delas podem se tornar realidade? E quais são apenas obras de ficção? Muitas já são encontradas de maneiras distintas, como o Google Glass, óculos desenvolvidos para serem uma espécie de câmera ocular; aplicativos que se utilizam de notas para o seu desempenho crescer (Uber, Airbnb); aplicativos de namoro (Tinder).
Outras tecnologias já estão em vias de acontecer, como no caso das abelhas robôs. Segundo Gustavo Von Atzingen, professor de física e especialista em robótica do IFSP de Piracicaba, esse tipo de tecnologia é bio-inspirado no real e pode fazer até melhor que uma abelha comum, mas não a ponto de substituí-la. Outra tecnologia que está perto de se tornar um fato são os dispositivos oculares. “Eu acredito que seja possível em algum momento. Já existem algumas pesquisas, pessoas tentando fazer projeção direto na retina”, considera Atzingen.
A terceira temporada vai de aplicativos para dar notas às pessoas a abelhas robôs, passando por um jogo de realidade virtual aumentada, uma lente ocular utilizada como tática de guerra, hackers que usam de malware para invadir computadores e uma realidade alternativa onde é possível transitar de uma época para outra. A quarta temporada vem um pouco mais sombria, com cães robôs que caçam humanos, dispositivos que aces-
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sam as memórias, cópias de pessoas dentro de jogos virtuais, um chip implantado no cérebro que rastreia crianças, aplicativo de relacionamentos que procura o par ideal. Também, conta com um episódio dedicado a três tecnologias diferentes: um capacete neural que permite a um médico sentir as dores do paciente, um dispositivo que transporta a consciência de uma pessoa para outra, ou para objeto inanimado e um holograma que sente dores como uma pessoa física.
Quanto ao aplicativo que simula conversa com um ente falecido, o professor e especialista em Inteligência Artificial Márcio Crocomo, do IFSP, diz que não é impossível criar um simulador com boa qualidade pois já existem técnicas da área de IA que obtém resultados cada vez mais interessantes para tratar os mais diversos problemas. Porém, outras como armazenar a dentro de uma nuvem como se fosse um arquivo, para Atzingen, parece ser ficcional: "Ainda está muito longe de ser tornar possível. Não tem como mapear a consciência, é muito complicado. É muito ficção cientifica”, finaliza.
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A vez do
strea
novos hábitos
THAÍS PASSOS tpcthais@gmail.com LETÍCIA ORTOLANI tihortolani@gmail.com
A
ascensão assustadora das plataformas de streaming veio para mostrar que estamos vivendo uma nova era da tecnologia que pode mudar completamente a maneira como assistimos à televisão ou ouvimos música.
Mas você sabe o que é streaming? Netflix e o Spotify são as empresas mais famosas do ramo e faturam milhões por cada hora que você passa assistindo a um conteúdo ou curtindo uma música. O próprio Youtube, por exemplo, é uma plataforma de streaming, só que totalmente gratuita, onde o conteúdo pode ser adicionado por qualquer pessoa, basta criar uma conta. Pela quantidade de youtubers que existem hoje em dia, já dá para imaginar que o streaming é a aposta da vez (e pode dar muita grana).
Como você assiste à TV e ouve música no seu dia a dia? Garanto que de um jeito bem diferente de alguns anos atrás. Por exemplo, neste momento você pode estar com um fone de ouvido com sua playlist preferida tocando para ler esta matéria. Mas daqui a pouco, quando você tiver que estudar para a prova da semana que vem, a sua escolha pode ser a playlist “Music for concentration” ou até uma de “white noise” (aliás, muito boa, vale um Google). Ninguém tem mais tempo para acompanhar a programação da televisão hoje em dia, mas para “maratonar” uma série na Netflix, a gente dá um jeito, não é? De acordo com o analista de comunicação da USP (Universidade de São Paulo) Fabiano Pereira, o maior atrativo para o aumento da contratação dessas fornecedoras de conteúdo, é o custo mais acessível que outros serviços de entretenimento, em comparação a preços de TV por assinatura e até mesmo à compra de CD ou DVD. Um dos reflexos verificados no mercado é a redução no número de videolocadoras, já que por menos de R$ 30 por mês o assinante desses serviços de streaming tem acesso a um catálogo de milhares de filmes e séries para assistir sob demanda. [70]
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Créditos: Thaís Passos
m i ng Um Netflix incomoda muita gente Que a audiência televisiva mundial vem caindo na última década, isso é fato. Nos Estados Unidos, a Netflix é culpada pela queda de 50% da audiência dos canais locais, segundo pesquisa publicada no site da revista Variety.
O canal norte-americano NBC anunciou recentemente o corte no tempo reservado a comerciais em seu horário nobre a partir do fim deste ano. Em entrevista para a revista Variety, a presidente de publicidade da NBCUniversal, Linda Yaccarino, declarou que a ação sofreu influência direta da mudança na maneira de assistir à televisão proporcionada pela Netflix. O consumidor não quer mais parar para ver comerciais, afinal, se acostumou a esperar apenas 10 segundos entre um episódio e outro de sua série preferida.
O crescimento da plataforma de vídeo também assustou grandes estúdios de cinema, que retiraram seu conteúdo da Netflix e também criaram seus próprios serviços de streaming. O HBO e a Disney, por exemplo, já começaram a reagir ao “copiar” a estratégia da Netflix e concentrando seus conteúdos originais na internet. A primeira anunciou o HBO Go em dezembro de 2017. A Disney está para lançar em breve sua plataforma e divulgou que vai tirar todo conteúdo original da Netflix em 2019. O mercado encarou a recente compra dos estúdios da Fox como uma
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Netflix e Spotify dominam entre os streaming pagos de vídeo e áudio edição 84 | junho | 2018
estratégia da empresa do Mickey de se fortalecer na disputa com a Netflix futuramente, agora que conseguiu posse de grandes produções como a franquia de filmes Avatar, de James Cameron.
No Brasil, a maior emissora do país conta com o Globo Play, criado como um complemento online para a programação da Rede Globo e canais associados. Os assinantes têm acesso na íntegra a todos os programas, telejornais e novelas. Quem não assina também pode assistir, mas com alguns recursos limitados. O SBT e a Record usam como estratégia o upload de todo seu conteúdo no YouTube, de forma gratuita – a Record projeta, ainda para este ano, o lançamento de uma plataforma própria de conteúdo por assinatura.
Apesar disso, a Netflix conquistou uma influência tão grande que já está mudando nossos hábitos e estilo de vida como os grandes meios de
comunicação. Afinal, quem nunca esperou ansiosamente pelo dia que finalmente foi lançada a segunda temporada daquela série que todo mundo tá assistindo e você precisa ver imediatamente antes que receba algum spoiler? A empresa até popularizou o verbo “maratonar” séries e criaram a expressão “Netflix and Chill”, que tem até duplo sentido. A escritora Thaís Godinho produz vídeos para seu canal no YouTube, o “Vida Organizada”. Ela conta que se desfez de todos os CDs e DVDs de sua casa, há alguns anos. “Não vejo sentido em ter a ‘posse’ do objeto, da mídia, para usufruir do conteúdo”, diz Thaís. Hoje, ela e sua família utilizam somente streaming para ouvir músicas e assistir filmes.
O futuro já virou playlist
Já parou para pensar em como as novas plataformas de áudio estão revolucionando a maneira como ouvimos música atualmente? A vida se transforma numa eterna trilha sonora para cada momento específico. Não compramos mais CDs dos artistas porque temos tudo de forma digital na nossa mão. Adicionamos apenas as músicas mais legais na nossa playlist, que pode ser dividida por gênero, humor ou contexto específico, como “Bad days” e “Piquenique no parque”.
Ao mesmo tempo em que ficamos mais abertos às novas músicas e somos apresentados a diversas sugestões, que esses aplicativos acreditam combinarem com o nosso gosto, também mudamos a nossa relação com os artistas.
Spotify já é considerado uma rádio alternativa às emissoras tradicionais
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Acabou aquele tempo em que todos esperavam pelo lançamento do álbum da banda favorita para então comprar na loja de discos. Ainda há quem faça isso, claro, mas esses são os poucos que resistem à “era streaming”. Geralmente são fãs (fãs de verdade) que não abrem mão de ter o novo álbum em suas mãos, olhar a estampa do CD e o encarte que vem dentro.
O jornalista Erich Vallim Vicente, já tocou em uma banda por 18 anos e faz parte daquela geração que constantemente pirateava discos de músicas. Ele conta que fazia um esforço para comprar discos das suas bandas favoritas, como Bad Religion e Ramones, mas o dólar alto dificultava um pouco. Restavam duas opções: emprestar de amigos ou alugar na loja de discos. Em ambos os casos, Erich copiava os CDs em uma fita cassete. Depois do surgimento da internet, além de copiar, ele também disponibilizava o que tinha no computador com outras pessoas do mundo por meio de softwares piratas, muito usados na época. Hoje, após mais de 20 anos, ele paga o plano familiar do Spotify e o usa diariamente, desde ao acordar até a hora de dormir. Até se rendeu as famosas playlists, como “Coffee Jazz” e derivados.
O Spotify já disputa espaço com rádios comerciais como Jovem Pan, Band, 89FM, e MIX, segundo estudo divulgado pela própria empresa sobre os números do Spotify no Brasil em 2016. Um cenário preocupante para as emissoras de rádio, visto que o Spotify está presente na maioria dos jovens, que são ouvintes do futuro.
O radialista e diretor da rádio Educativa FM, Carlos Eduardo Castro, diz que a redução da audiência “ainda não foi sentida pelas emissoras de rádio FM se considerado o aumento da audiência vindo da internet, serviço ofertado também pelas emissoras”. “Podemos considerar que os ouvintes que deixaram de ouvir suas emissoras preferidas no rádio tradicional 'migram' para ouvir as mesmas na internet”, aponta Carlos.
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Além do Libreflix, já existem outras alternativas ao “streaming livre”
A TV e a rádio do futuro Em “férias ociosa” no fim de 2016, o estudante Guilmour Rossi começava os primeiros esboços de uma plataforma de streaming que viria ao ar em menos de um ano depois. O Libreflix é uma plataforma gratuita e colaborativa e já detém um catálogo com quase 200 produções, sendo 25% delas brasileiras. “No Libreflix estamos alinhados com o conceito de streaming livre, que defende a liberdade para assistir gratuitamente e principalmente baixar e distribuir obras criativas sem ferir o direito autoral”, explica Rossi. Qualquer pessoa pode adicionar conteúdo ao site, desde que haja licenças que autorizem a transmissão do conteúdo de graça pela internet e que o material se enquadre no formato de vídeo aceito pelo site. Para o desenvolvedor é importante que existam projetos de streaming como o dele, que possibilitem um conteúdo menos comercial, colaborativo, provocativo, independente e mais local.
[ ] “Uma ruptura com os veículos tradicionais”
O streaming afeta diretamente a televisão e o rádio. O analista de comunicação da USP, Fabiano Pereira, acredita que tanto as plataformas tradicionais, quanto as atuais coexistirão. Porém, a geração de consumidores passará por mudanças, até ser totalmente dominada pelos “nativos digitais”, pessoas que nasceram no período em que a era digital já existia. Desse modo, haverá o que ele chama de “uma ruptura com os veículos tradicionais”.
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Esses veículos podem ver o streaming como ameaça ou como desafios. Podem continuar ganhando dinheiro com a distribuição de seu conteúdo para esses canais - como a Record e o SBT, que disponibilizam algumas novelas para exibição no Netflix - ou se mexem para criar estratégias para chamar a atenção deste público que opta pelo streaming.
É preciso se reinventar, e esse processo mostra que além da plataforma, também o conteúdo que agrada este tipo de público, são pontos essenciais
para se pensar na hora de migrar da TV, do rádio, para uma plataforma de streaming.
é conteúdo que gera empatia e engajamento – e isso não se faz com 30 segundos de vídeo no intervalo de um programa de auditório”.
O que também pode tirar essas pessoas da frente da TV ou do rádio são os comerciais durante a programação. Por outro lado, muitas marcas aderem às novas possibilidades e se reinventam, de modo a atrair o público adepto a nova era do streaming. Investem em uma nova linguagem para vender seu produto de forma rápida, que, como argumenta Pereira, “não é mais anúncio puro e simples,
Entretanto, neste momento, existe alguém da sua família, uma avó, um tio, ou seu vizinho mais das antigas, que ainda prefere sentar-se no sofá e perceber que perdeu o controle remoto pela sala. Ele vai resmungar, levantar e sentar-se novamente para assistir sua companheira televisão que oferece conteúdo gratuito, e no rádio da mesma forma.
Os tops do streaming
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prime vídeo
Serviço de streaming de filmes da Amazon. Disponível para: Android, iOS, PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One e Smart TVs, além de versão web. Mensalidade: R$ 14,90. ----------
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Plataforma para ouvir músicas. Disponível para: iOs, Android e Windows Phone Mensalidade: R$ 16,90. --------------------------
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Plataforma de streaming de música da Apple. Disponível para: iOS, Android e Windows. Mensalidade: R$16,90
Serviço de streaming de filmes. Disponível para: iOs, Android e Windows Phone Mensalidade: R$ 11,90.
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