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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Setembro/2015 • Edição 04

E o lixo, José?

Reinaldo Diniz

A criação da Central de Resíduos Sólidos em Piracicaba (SP) traz uma série de conflitos entre o Poder Público e defensores do Meio Ambiente. Para o ambientalista Paulo Figueiredo, ou querem que o lixo desapareça ou não cuidam das questões ambientais do município. Outros municípios da região adotam medidas para adequação ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Neste mix sobre o tema, é possível conferir reportagem fotográfica sobre o trabalho em uma cooperativa de reciclagem. Pág 6 e 7

FEMINICÍDIO

INDEPENDENTES

PIRACICABANA

O número de mulheres assassinadas no Brasil aumentou 230% nos últimos 30 anos. Lei aprovada em maio tipificou o feminicídio com homicídio qualificado. Pág 13

Festivais fortalecem culturas regionais e promovem intercâmbio e estímulo entre o público e a música das bandas “de garagens”. Pág 15

Gastronomia, turismo e cultura são os carroschefes de quem quer conhecer as belezas da terra do Nhô Quin, ou simplesmente, “o lugar onde o peixe para”. Pág 16

A economia está em

Kamila Vallis

Arlete Moraes

crise ?

Idas e vindas Nos últimos anos, o número de carros em Piracicaba (SP) subiu quase 60%. Já o número de motocicletas aumentou em 150%. Os dados são do Boletim de Mobilidade Urbana divulgado no fim do ano passado pelo Observatório Cidadão da cidade. Pág 12

Um olhar abrangente sobre a crise econônica e política, observando outros momentos de turbulência na história brasileira. Págs 4 e 5


EDITORIAL

Lixo, um problema de todos

O

lixo certamente é um problema para todos. Constantemente vimos nos noticiários, o resultado do acúmulo do lixo: emissão de gases tóxicos e as terríveis enchentes. Este último, destruidor de lares e famílias. Em Piracicaba, cidade conhecida pelas suas belezas, a administração pública tem consciência destes resultados e elabora projetos para que não ocorram. Mas existem contradições entre o poder público e conselhos supervisores do meio ambiente, já que a Prefeitura criou uma Central de Resíduos Sólidos, mas estão aprovando um aterro sanitário no mesmo local. Poderia seguir o exemplo da Alemanha, em que lixo doméstico produzido no país é transformado em dinheiro. Já os confrontos ocorridos nos últimos anos no Islã, trouxe uma ligação radical do país, um dos mais religiosos do mundo, com o terrorismo. A explicação para isso, pode ser conferida na entrevista exclusiva com o ex-pró-reitor da Unicamp (Universidade de Campinas), Mohamed Mostafa Habib. Contudo, podemos dizer que são mais de quinze reportagens instigantes de diferentes temas, escritas e apuradas, durante um semestre, pelos alunos-repórteres que se dedicaram em trazer o melhor conteúdo para vocês, leitores. Boa leitura!

Jornal de Classe edição 04 • Setembro/2015

EXPEDIENTE Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) Reitor: Gustavo Jacques Dias Alvim Diretor da Faculdade de Comunicação e Informática: Belarmino Cesar Guimarães de Costa Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão Orientador de Conteúdo e Editor Responsável: Wanderley Florêncio Garcia (MTB MG-06.041) Orientação de Fotografia: Joyce Guadagnucci Editores Assistentes: Reinaldo Diniz e Wesley Justino Editor Assistente de Imagem: Larissa Walti e Camilla Senna Repórteres e Diagramação: Alessandra Postali, Amanda C. Conceição, Ana Carolina Brunelli, Ana Pimentel, Arlete Moraes, Beatriz Martins Graziano, Caroline Neves, Fernando do Carmo, Homero de Carvalho, João Guilherme de Paula, Júlia Godinho, Kamila Vallis, Larissa Lojó, Larissa Walti, Letícia Castro, Reinaldo Diniz, Tainá Marchi, Thaís Alves, Thais Leite de Campos, Wesley Justino, Yasmin Obrownich Projeto Gráfico e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) Versão digital: soureporter.com.br Correspondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rod. Do Açúcar, Km 156 - Cx. Postal 68 – Tel.: (19) 3124.1676 E-mail: wfgarcia@unimep.br

A moça na ponte Wesley Justino

lelijto@hotmail.com

E

ra inverno, mas assim como na bolsa de valores de Nova York no crash de 29, o tempo enlouquecera. Fazia um calor de mais de 27 graus. Uma jovem, no auge dos seus 25 anos, veio desfilando ao encontro de uma avenida movimentada, mas no meio do caminho havia uma ponte. Em suas mãos, para aliviar o calor, uma pequena lata de refrigerante era dona do seu toque. Ao passar pela ponte, jogou a lata avermelhada aquela, com letras brancas garrafais e símbolo- para muitos- do capitalismo selvagem. Vi a cena e calei-me. Quando tocou o fio d’agua, parecia ter ouvido o estrondo como a bomba de Hiroshima. A jovem passou esvoaçando seus cabelos e parando o trânsito. Buzinas, cantadas grosseiras e lá se foi. Numa pesquisada rápida consegui chegar num numero assustador: Se aquele objeto não for apanhado por ninguém, o cilindro metalizado demorará 1000 anos para sumir; sumir como aquela jovem sumiu no horizonte da avenida. Desde as primeiras civilizações, o ser humano provou ser uma “máquina de idealizações”. Descobriu o fogo, fez a arca, o arco e a flecha. Inventou a pólvora, a bomba, o avião. Fez Quéops, Quéfren e Miquerinos. Tem uma tal 9º estupenda sinfonia feito por um homem chamado Beethoven. Michelangelo pintou Criação de Adão e mostrou, na arte, o quanto o homem é próximo de alguma divindade. O humano construiu o Hubble que está, desde 1990, ajudando cientistas a descobrirem o que existe além

de nossa vista ao olharmos para o céu. O homem tripulou Apollo com tecnologias de última geração na época (hoje, concluímos que aquilo foi quinquilharia perto de um smartphone) e na lua deixou sua pegada. Fez e faz arranha céus a perder de vista. Construiu uma ilha em Dubai, fez do cerrado a capital de um país. O ser humano é mesmo um ser magnífico. Mas algumas coisas parecem que não se encaixam diante de tanta grandiosidade. Os grandes gestos de transformação parecem que conseguem cegar e aniquilar as pequenas atitudes. Atitudes que consideramos tão triviais, mas que, feitas em larga escala, podem causar problemas tão sérios quanto os grandes gestos. Na era do fast food, da internet, da sociedade liquida de Bauman tudo fica impensável. Não há mais tempo para plantarmos uma árvore, não há possibilidade de trocar carro para a bicicleta. Não existe mais espaço na agenda para, ao invés de um telefone, marcarmos um café da tarde. Criticar os problemas do país virou hobby, a culpa é sempre do Estado. Mas não sabemos nem qual a função que cada poder exerce. Participar da vida política na cidade é o papel do animal político, como bem define Aristóteles. Preservar e continuar cultivando pequenos gestos, ajudará a transformar a realidade à nossa volta. O pequeno faz parte da cadeia na construção do grande. Para que o ser humano continue na luta pela evolução, devemos contribuir respeitando o próximo para vivermos em harmonia, preservando o que a natureza nos oferece e nos comprometendo a ser cada dia mais um agente da mudança.

Maioridade penal: equilíbrio entre punição e educação Arlete Moraes

armantunesmoraes@gmail.com

O

assassinato do cardiolog ist a James Gold na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, chocou a população pela brutalidade como foi cometido: o ciclista levou várias facadas que culminaram, horas depois, em sua morte. O assassinato de Gold foi motivado pelo desejo por uma bicicleta, mas poderia ter sido por um celular, como foi o caso do crime de latrocínio que matou o estudante Victor Hugo Deppman, em 2013. Não existem limites, nem motivações específicas para os crimes. O adolescente que o pratica não tem medo da polícia e nem da punição que irá receber. É uma visão distorcida de quem não parece temer pela sua integridade e, muito menos, pela vida alheia. Antes do choque provocado pelo crime da Lagoa, no dia 31 de março, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Camêra dos Deputados aprovou a proposta do deputado Benedito Domingos (PP – DF) sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Uma comissão especial revisou o texto que, aprovado pelo plenário da Câmara, seguirá para o senado, onde terá de

ser votado duas vezes. Mas a história não é tão simples assim: além das opiniões divergentes e das muitas propostas em destaque no momento, o que o Brasil precisa discutir com urgência são as formas de punição e os impactos que elas podem causar na sociedade. O debate não pode se reduzir a estipular um limite para um adolescente ser responsabilizado criminalmente. É necessário ir mais a fundo e refletir sobre como estamos lidando com o problema. Segundo a lei atual, o adolescente que pratica ato infracional recebe medidas socioeducativas e não cumpre a pena na prisão, mas em unidades de ressocialização como é o caso, da Fundação Casa, em São Paulo. O menor pode ficar detido por três anos, pois, até os 17, está sob a tutela do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Mas, se entre os jovens que recebem medidas socioeducativas, são poucos os que conseguem se reintegrar à sociedade, o que diremos das cadeias? Já podemos concluir que elas não estão tornando ninguém melhor e sim devolvendo, indivíduos ainda mais revoltados, para a sociedade. Não se pode afirmar entretanto, que as penalidades existentes hoje conseguem

resolver o problema, pois internar adolescentes em celas superlotadas onde existem denúncias de abusos e agressões praticadas pelos próprios funcionários é fingir que estamos resolvendo o dilema com diplomacia. Na prática, esses jovens não têm condições de se reabilitarem num ambiente conturbado como os existentes nas unidades da antiga Febem. Contudo, reduzir a maioridade e mandar esses jovens para a cadeia também não irá resolver o problema. Se nas casas de internação a situação é degradante, na cadeia, se levada em conta a possibilidade de convívio com outros criminosos, isso pode ser ainda pior. Talvez essas medidas resolvessem o problema se os locais fossem adequados para receber e reeducar esses jovens. Mas até agora o que temos visto são condições nas quais nenhum ser humano poderá sair melhor, pelo menos enquanto não aniquilarmos a corrupção dentro desses centros e de quem fiscaliza essas unidades. Punição apenas não adianta. Mas isso não significa dar apoio a impunidade. Quem comete crime deve ser responsabilizado por isso. Deve chegar ao ponto de compreender o que fez e de conse-

guir se arrepender disso. A punição não pode ser um prêmio, mas também não deve ser o inferno sem esperanças de recuperação que é hoje. Encontrar o equilíbrio é que é o difícil. Se quisermos melhorar a situação do país, se de fato nos incomodamos com as mortes violentas que acometem inocentes, devemos radicalizar: repensar a estrutura das cadeias, recriar nossa polícia e reavaliar nossa forma de punir, sem deixar que a impunidade tome conta. Existem, entre os defensores dos direitos humanos, advogados, políticos, mães e pais de vítimas, várias propostas para resolver o problema. O que todos têm em comum é a necessidade de investir em educação, não apenas dentro desses locais, como medida de reabilitação, mas nas comunidades vitimadas pelo crime organizado, onde crianças perdem o rumo e o tráfico, as drogas e a violência tomam conta. Entretanto, precisamos também, investir em segurança e para isso, a polícia precisa estar melhor preparada, se tornar mais inteligente e eficaz que as facções criminosas porque, é justamente a falta de confiança, que faz muitos adolescentes se envolverem com a criminalidade.


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política

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A mídia e a política

Portal GGN

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A

mudança na maneira como as pessoas se comunicam e transmitem as informações tem provocado uma alteração na formação da opinião pública. Isso se deve, principalmente, ao desenvolvimento da internet e das redes sociais. A comunicação e a divulgação de um fato se tornam instantâneas, as ferramentas são mais modernas e oferecem novas possibilidades de uso, a opinião é elevada a novos padrões de valorização e pessoas de diferentes classes, culturas e localidades podem se integrar na rede. O sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, comentou essa situação em entrevista à redação do Jornal de Classe. Segundo o profissional, a comunicação passou a ter um papel horizontal entre os cidadãos. “Eles intercambiam informações e dão suas próprias versões e opiniões sobre os fatos. Isso é um processo que está em pleno desenvolvimento”. O jornalista Luis Nassif concorda com a questão. “A internet permite que todos se manifestem no mesmo espaço tecnológico,

na mesma plataforma, e há uma radicalização muito grande de opiniões, de esquerda e direita, governo e oposição”, defendeu. A discussão foi levantada a partir da percepção de que o governo brasileiro passa por uma crise, essencialmente de aceitação pública e que, mesmo com a reeleição de Dilma, a sociedade passou a se voltar contra a presidente e sua forma de governar. E a opinião da sociedade se mostrou forte na estabilização da administração

arb e

afpostali@gmail.com

Luis Nassif

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Alessandra Postali

pública. Para Nassif, o que acontece é uma conspiração política. “Temos uma articulação muito bem feita em todos os jornais. É uma briga política, não jornalística”, disse. Ele ressaltou, ainda, que a intenção é destruir o Partido dos Trabalhadores (PT) e ‘sangrar’ para paralisar totalmente o governo e impedir uma vitória de Lula em 2018. “Se não há uma notícia nova, se requenta uma velha, e qualquer coisa vira um fato informativo”. Explicando a mudança, de certa forma, repentina de opinião da população quanto à qualidade do governo, Coimbra disse que a presidente fez uma escolha típica de uma governante com seu perfil, “fundamentalmente administrativo-técnica e

É uma briga política, não jornalística”

Ped

Profissionais envolvidos com opinião, política e jornalismo comentam cobertura na crise do governo brasileiro

pouco política”. Para ele, Dilma tentou consertar, de uma vez só, o que ela e “muitas outras pessoas” consideram o problema essencial da economia brasileira – os déficits fiscais elevados. “Ela resolveu fazer uma correção abrupta e muito forte, que gera um ônus que ela aceitou pagar, de perder popularidade e aprovação e as pessoas começarem a achar que ela é uma má governante”. Nesse ambiente de insatisfação, a internet

A produção da informação ainda segue o padrão vertical” Marcos Coimbra

exerce papel importante na democracia, dando voz a todos. Possibilitou o crescimento do ativismo social, por exemplo. “Aumentou exponencialmente e multiplicou-se muito essa movimentação depois da internet e, fundamentalmente, das redes sociais”, afirmou Coimbra. Grandes manifestações tiveram nas redes sociais o gancho para sua formação, desde eventos como a Primavera árabe, até os protestos de 2013, feitos principalmente por jovens em diversas cidades do Brasil. Mas a disseminação de informações falsas e modificadas e a influência de muitas pessoas na formação da opinião pública pode atrapalhar seus benefícios. “O jornalismo vai ter que retomar o seu papel de mediador em algum momento”, afirmou Nassif. Ele disse ainda que a velha mídia está em crise, mas continua sendo fonte confiável de informações. “Se fôssemos

Por trás do prontuário

pensar em um perfil de Facebook, elas ainda são grandes na discussão dos fatos”. E Coimbra concorda, dizendo que o que prevalece ainda é a recirculação de informações que se originam nos meios de comunicação tradicionais. “A produção da informação ainda segue o padrão vertical. É a circulação que se tornou horizontal, com os próprios cidadãos se envolvendo na produção do noticiário”. A multipluralidade de opiniões nessa rede pode ser organizada e baseada nos veículos tradicionais. Para Nassif, “o jornalismo deve ser mediador e as faculdades de comunicação assumem um papel cada vez mais importante, não só para ensinar novas ferramentas tecnológicas, como para recuperar os princípios do jornalismo, de respeito à informação, reduzir o excesso de sensacionalismo e ter a capacidade de ouvir os dois lados”.

Falta de estrutura e equipamentos dificultam atuação profissional Tainá Marchi

taina.marchi@gmail.com

N

o imaginário coletivo, o servidor público é aquele que não desempenha muitas tarefas, tem um bom salário e benefícios garantidos. Mas a realidade do serviço público é múltipla. Ao contrário desse imaginário, o servidor trabalha muito, em alguns casos, devido ao excesso de burocracia e ao acúmulo de funções. A sobrecarga, os problemas de infraestrutura e a falta de suprimentos para o trabalho leva o servidor a “matar um leão por dia”. Desmotivado pelo ambiente e pela remuneração, muitos profissionais servem a rede pública por amor ao que fazem e para ajudar ao próximo. Na prefeitura Municipal

de Mogi Guaçu, assistentes sociais e dentistas reclamam da baixa remuneração. A assistente social Luceli Muniz Coffani do Cras (Centro de Referência em Assistência Social) Zona Sul, reclama da falta de contratação de novos funcionários. A unidade conta com três assistentes sociais, uma delas é coordenadora e não faz visitas domiciliares. Apenas duas profissionais atendem mais de 1,8 mil famílias, o que torna o trabalho árduo e cansativo. Há um carro para as visitas, mas sem um motorista. “Para a quantidade de famílias que atendemos, seria necessário pelo menos mais duas assistentes sociais, sem contar o tempo que perdemos no trajeto”, desabafa. O trabalho do assistente social é voltado principal-

mente para a população que se encontra em situação de vulnerabilidade social. Porém, o centro nunca teve um psicólogo para atender usuários. ”O que a gente precisa com mais urgência aqui é o psicólogo, só que já faz cinco anos que a prefeitura fala que vai abrir concurso e até agora nada”, afirma Coffani. Apesar das dificuldades, Luceli não pensa em abandonar a carreira, e garante que ama o que faz e que sente prazer em ajudar as pessoas. “O sentimento de poder estar ajudando e ver os resultados do meu trabalho são imensuráveis”. O dentista Henrique Villas Boas relata que os materiais do CEO (Centro de Especialidades Odontológicas) onde atende permitem fazer o serviço básico, e que no pas-

Villas Boas atende no CEO de segunda,quarta e sexta -feira no período da manhã e terça e quinta- feira à tarde

Fotos: Tainá Marchi

O CRAS Zona Sul inaugurado em 2009, atualmente atende cerca de 1,8 mil famílias.

sado faltaram equipamentos. “Acontece que na prefeitura você não pode simplesmente querer uma coisa e ir lá e comprar, tem toda uma burocracia, por esse motivo que temos que trabalhar apenas com o necessário”, relata. Villas Boas também atende em consultório para completar a renda, mas não tem planos de parar de atender como funcionário público, e ainda ressalta: “Trabalha bastante, isso é desgastante, tem que realmente gostar do que faz, é uma área bastante concorrida”. Mas não é só na rede pública que funcionários encontram dificuldades no exercício da profissão. Na Maternidade de Campinas, que realiza em média 800 partos por mês, os problemas vão desde a má conservação dos equipamentos até a

exaustão dos funcionários. É o que relata a enfermeira Thaís Muller Dias Grós: “como trabalha muita gente, o pessoal não tem cuidado, se eles esquecem de tirar o equipamento do paciente, ele [o material] acaba caindo no chão e estragando e até repor ficamos sem”. A falta de cuidado de alguns enfermeiros pode ser atribuída ao alto nível de exaustão a que se pode chegar quando a demanda do hospital está muito grande. Para Thaís, o mais d-ifícil é dar a notícia da morte de uma criança para os pais. “Chega uma hora que já não tem mais o que você fazer, você faz a medicação, faz a massagem cardíaca, e o bebê não reage, e quando você chega para dar a notícia, os pais acabam te culpando”, relata.

A assessoria de imprensa da prefeitura de Mogi Guaçu afirmou que a quantidade de assistentes sociais na unidade do Cras é compatível com a quantidade de famílias atendidas e o atendimento com psicólogo ocorre em outra unidade da cidade, sendo assim não há previsão para novas contratações na unidade da Zona Sul. A respeito da baixa remuneração, a prefeitura diz que os salários são equivalentes ao piso salarial de cada profissão. Já a assessoria de imprensa da Maternidade de Campinas declarou que o quadro de funcionários atende a demanda. E está em análise a contratação de novos enfermeiros e técnicos em enfermagem, para que não ocorra a intensificação dos turnos de trabalhos ou a redução dos trabalhadores por turnos ou por serviços.


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economia

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Afinal,

crise

estamos em

Arlete Moraes

O panorama atual do país apresenta várias questões mas, sejam elas econômicas ou políticas, o importante é estar bem informado e compreender como essas discussões afetam sua vida a médio e a longo prazo

Nos últimos meses, a pesquisa de preços é a principal aliada dos consumidores na hora de ir às compras

Amanda C. Conceição

amanda.00acc@gmail.com

Arlete Moraes

armantunesmoraes@gmail.com

N

as décadas de 80 e 90 o Brasil viveu um dos períodos mais conturbados de sua economia com a inflação chegando a 80% ao mês e os preços de vários produtos dobrando de um mês para outro (veja no infográfico 1 e 2). Agora, esse velho problema volta a incomodar a população, que é a mais atingida. De acordo

com dados divulgados na projeção do Boletim Focus no dia 25 de maio, a inflação ficará na casa dos 8,37% ao ano em 2015, tendo em vista que a meta do governo é de 4,5% e o teto da meta é 6,5%. Inflação é o aumento constante e generalizado dos preços. Na prática, significa que o poder de compra da moeda retraiu e que o poder aquisitivo dos brasileiros está menor. A dona de casa Vanusa Nogueira tem sentido esses impactos na hora de ir às compras: “Eu

a inflação em 60 anos A inflação é uma velha conhecida dos brasileiros. Não é de hoje que ela incomoda a sociedade e preocupa o governo. O gráfico ao lado ilustra os avanços e retrocessos dos índices inflacionários nos últimos sessenta anos e o infográfico, na pg. 5, relembra os planos econômicos criados para tentar conter a inflação neste período e seus resultados.

fazia uma compra de duzentos e cinquenta reais, para duas pessoas, e dava para o mês inteiro. Agora não dá mais!”. A funcionária pública, Suzana Vinhas, também percebeu que de um ano para cá, os preços do leite, arroz, feijão, café e do pão de forma aumentaram significativamente: “Eu não admito desperdício em casa” afirma ela, que tem usado o bom senso como não alternativa para não ficar no vermelho. Em 2008, para amenizar os efeitos da crise econômi-

ca internacional, o governo adotou uma política fiscal expansionista: aumentou os gastos públicos e incentivou, com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o consumo de produtos da linha branca. Porém, essas medidas, apesar de terem surtido efeitos positivos na época, já não são suficientes para o cenário atual em que, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2015 é de 0,9%. Além disso, a taxa de desemprego aumentou para 6,9% em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 24 de abril. O desemprego não chegava a essa porcentagem desde maio de 2011 e, em junho de 2013, a taxa não chegava a 6,4%. Com o aumento dos preços e a diminuição do poder de compra, outras dificuldades surgem na organização do orçamento doméstico, uma delas está justamente em conseguir guardar dinheiro: “Estou deixando de depositar um valor que eu sempre depositava” explica Nogueira. Para o economista, professor da Unimep e diretor administrativo da Agência das Bacias PCJ, Ivens de Oliveira, essa dificuldade era previsível, tendo em vista que, quando um país passa por um processo inflacionário, cria-se uma reação em cadeia onde aumento dos preços, desemprego e dificuldades em poupar dinheiro se inter-relacionam: “Já se tem trabalhado desde o ano passado que 2015 seria um

ano de recessão”. A recessão econômica se caracteriza quando o crescimento do país passa a retroceder, ou seja, “andar para trás” que, no momento atual, tem se aplicado a todas as áreas da economia. De acordo com Oliveira, um dos fatores que podem ser atribuídos ao aumento da inflação atual é a demanda, ou seja: existe uma procura superior à oferta. Neste aspecto, o economista destaca o setor de serviços como principal vilão. A dona de casa Nogueira também notou esse aumento e passou a tomar providências em relação a isso: “Deixei de ir ao cabeleireiro, de fazer as unhas para não ter gastos extras”. Outro ponto destacado por Ivens é o aumento salarial acima da inflação, que não acompanhou a produtividade. Como exemplo, podemos citar as empresas e principalmente, a indústria. Os chamados preços administrados – preços controlados pelo governo que não estavam sendo repassados para o consumidor - também contribuíram para alavancar os índices de inflação. Esse repasse pode ser constatado na conta de luz e nos preços da gasolina. Nesse cenário de incertezas, a melhor alternativa é planejar as despesas e colocar na “balança” se realmente é necessário gastar neste momento ou se esses gastos podem ser adiados. A projeção para 2016, segundos os economistas é que o governo tenha um controle maior da inflação e que o país consiga manter-se dentro das metas, porém, neste ano, será praticamente impossível.


economia

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A economia na história brasileira

Medidas adotadas Plano de Estabilização Monetária

Mal. Castelo Branco

Jânio Quadros

Mal. Costa e Silva

João Goulart Panorama do País A inflação alta e o ritmo de crescimento do país era cada vez menor.

General Médici

Medidas adotadas Plano Trienal

General Geisel

Golpe Militar

Panorama do País A inflação atingira patamares extraordinários obedecendo a um processo de elevação constante, que ganhou ritmo a partir de 1962. O Brasil atingiu elevados índices de desenvolvimento econômico chegando a taxas de crescimento de 8 a 9% ao ano. Esse período ficou conhecido como o “Milagre brasileiro”. Mas a partir de 1974 a inflação voltou a subir aliada a recessão e ao desemprego que ajudaram a desgastar a imagem do governo. Medidas adotadas Plano de ação econômico. Investimento na propaganda e na exlataçãodo patriotismo, política repressiva e incentivo ao capital estrangeiro.

General Figueiredo

Os Planos Econômicos Plano de estabilização Monetária: Lançado em 1958, o plano tinha como objetivo reduzir as taxas de inflação sem prejudicar a continuidade do Plano de Metas. O programa seria desenvolvido em duas fases: “transição e reajustamento” e “Estabilização”. Tratava-se de uma política anti-inflacionária gradual porque se fosse imediata, poderia colocar em risco a política desenvolvimentista do país. Em razão das reações contrárias ao plano, o programa foi abandonado em agosto de 1959. Plano trienal: Foi divulgado em 30 de dezembro de 1962 e tinha como objetivo reduzir o aumento de preços no país num período de três anos. Assim como assegurar uma taxa de crescimento da renda nacional de 7% ano, alcançar uma taxa de inflação de 5% a 6% ao ano no terceiro ano do plano. Plano de ação econômico do governo: Criado para reduzir o aumento de preços e estabilizar o mercado brasileiro, teve início em 1 de agosto 1964. O governo adotou uma política recessiva cortando gastos públicos, aumentado impostos e fazendo o controle salarial além de reduzir empréstimos às empresas privadas. O milagre brasileiro: os militares investiram na propaganda e na exaltação do patriotismo para demonstrar que o Brasil era um país que crescia vertiginosamente e se tornava uma potência mundial. O clima de estabilidade provocado pela política repressiva adotada pelos militares também contribuiu para entrada de capital estrangeiro no país, mas as medidas de incentivo prejudicaram principalmente, as pequenas empresas nacionais que começaram a falir. O desemprego cresceu de forma desordenada e os trabalhadores foram os mais prejudicados. Plano cruzado: Foi criado em 1986 pelo então ministro da fazenda Dilson Funaro. O cruzado era uma valorização da antiga moeda (um cruzado equivalia a mil cruzeiros). Neste plano as medidas ado-

1985 - 1990

tadas pelo governo incluíam o congelamento dos preços, antecipação do salário, correção automática do salário para controlar a inflação e a criação da tablita, um índice de correção diária que tinha como objetivo diminuir os valores das dívidas a serem pagas. Plano Bresser: Foi implantado em 16 de junho de 1987 e as principais medidas para desacelerar a inflação foram o congelamento de salários, preços e aluguéis por três meses adotando como medidas o aumento dos impostos e das tarifas públicas. Plano verão: foi aplicado em 15 de janeiro de 1988, quando a inflação atingia índices assustadores. As características desse plano foram o congelamento de produtos e a política de austeridade nos gastos públicos. Plano Collor: Apostando no slogan “Um único tiro contra o tigre da inflação” o plano apresentava quatro medidas para resolver o problema: congelamento de preços e salários, substituição do cruzado novo pelo cruzeiro, bloqueio de contas correntes e depósitos em cadernetas de poupança com valor superior a 50 mil cruzeiros, reforma administrativa do Estado e controle de déficit público. A inflação caiu de 84,3% para zero nos primeiros dias, mas no final de 1990 chegou a 17% ao mês. A recessão se aprofundou e o PIB caiu. Plano Real: O Real se tornou moeda oficial do Brasil no dia 1de julho de 1994, durante o mandado do presidente Itamar Franco. O principal objetivo da nova moeda era conter a hiperinflação. E sua implantação ocorreu em três etapas: a primeira foi o reajuste das contas públicas, mediante um corte no orçamento. Na segunda etapa, foi implantada de forma provisória a Unidade Real de valor (URV), que funcionava da seguinte forma: cada real valia uma URV, que por sua Vaz valia 2.750 cruzeiros reais, a antiga moeda. Passado o período de adaptação e algumas crises a nova moeda provocou a estabilidade da inflação.

Tancredo Neves

José Sarney

1990 - 1995

Panorama do País Inflação descontrolada, dívida externa e interna crescendo vertiginosamente, aumento de problemas como a miséria e a violência, aumento do desemprego e crescimento negativo do PIB. Medidas adotadas Plano cruzado e a criação da “tablita”, plano verão, Cruzado 2 e plano Bresser. Déficit comercial provocado pelo aumento das importações em detrimento das exportações, falta de produtos no mercado e o consequente pagamento de ágio pelos consumidores culminou no fracasso do programa. Em 87 o governo criou o Cruzado II, os resultados foram insatisfatórios. Em janeiro, a inflação atingiu 16,2% e chegou a 20,1% em abril. Com o fracasso dos dois planos foi implantado o plano Bresser. A inflação, no entanto, continuava a subir.

F. Collor de Mello

Itamar Franco

2010 - 2018

1995 - 2010

Panorama do País As denúncias relativas à corrupção durante o governo de Collor culminaram em seu Impeachment em 1962. Num cenário de inflação crescente e insatisfação popular, Itamar Franco assume o poder e adota junto com o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o Plano Real.

Medidas adotadas Plano Collor Fernando H. Cardoso Plano Real

Panorama do País Com o sucesso do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso candidata-se e vence as eleições em 1994. Fernando H. Cardoso Em 1999 o Brasil foi atingido por uma grave crise econômica que começou a se desenrolar com 1997 com o Luíz I. Lula da Silva desemprego atingindo índices alarmantes. Em janeiro de 1999 a inflação voltou a subir. Em 2003, Lula assumiu a presidência e a economia teve recuperação. O governo conseguiu manter a estabilidade econômica, mas foi afetado por várias denúncias relativas à corrupção.

Dilma Roussef Panorama do país: Dilma Rousseff assume e continua as políticas de distribuição de renda dos governos Lula. No entanto, a economia desacelera e a inflação começa a subir no fim de seu primeiro mandato, gerando uma grande crise política, intensificada por denúncias de corrupção na Petrobras.

Professor da Unimep avalia economia e política brasileiras O professor de política da Unimep, Fernando Albuquerque Ferreira da Silva concedeu entrevista à equipe do Jornal de Classe e falou sobre os desafios do governo para lidar com os problemas realacionados à crise política e à situação ecônomica do país. Qual a atual situação do governo em meio à crise política? A situação é muito complicada, porque você tem uma crise econômica e uma crise política, então não podemos analisar as duas separadamente porque estão fundamentalmente relacionadas. Estamos vivendo hoje um processo de crise econômica, que vai gerar desemprego e diminuir o poder de compra. E uma crise política, com o enfraquecimento do cenário atual e uma disputa muito grande no Congresso. Então a questão é muito mais complexa do que se imagina. Como é que a gente sai dessa? Não sei. Acho que há a necessidade de reinventar o país, pensar em alternativas para a política e a economia. Hoje se fala muito da questão da reforma política, que é um elemento que precisa estar presente no debate. Precisamos trazer esses elementos econômicos e políticos para o dia a dia. As manifestações sinalizam certa insatisfação da população em relação à própria conjuntura econômica e política que estamos vivendo. O que vai acontecer?! Não sabemos. Por que os maus resultados e derrotas do governo estão aparecendo ao mesmo tempo? São questões que não vem de agora. A crise econômica está acontecendo desde 2008, nos Estados Unidos, e a questão política também. Nos incomodamos muito quando o econômico é afetado. A crise política estava presente no enfraquecimento do próprio PT e no projeto político do partido. Qual sua leitura sobre as manifestações anti-governo?

Para a história da política nacional, o que representam os escândalos da Petrobrás, a operação Lava Jato, após outro escândalo que foi o Mensalão? É complicado dizer o que representa tudo isso. Na década de 70, havia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que defendia a ética na política. O quadro da corrupção no Brasil é muito grande, as questões da Lava Jato e da Petrobrás são processos de corrupção e não cabem no cenário político. Temos que nos posicionar contra. Parece-me que a corrupção está muito presente no nosso dia a dia, quando a gente sempre quer levar vantagem em algumas relações. E agora como a gente trabalha com isso? Temos que retomar o discurso que o Betinho fazia: sem ética na política não dá! ceição

Panorama do País O governo realizou empréstimos no exterior e incentivou a entrada de capital estrangeiro no país. Com isso, a dívida externa cresceu e aumentou a concentração de renda, a desigualdade social e a inflação.

1964 - 1985

a C Con

Juscelino Kubitschek

1961 - 1964

Amand

1955 - 1960

Não podemos analisar as duas (crises) separadamente, porque estão fundamentalmente relacionadas”. Fernando Albuquerque

A princípio, eu sou a favor de todo tipo de manifestação, pois acredito que é ela que consolida o processo democrático. Mas, temos que tomar cuidado com o quê está por trás do protesto. Atualmente existem vários tipos de manifestações acontecendo. Você tem aqueles “fora PT”, em um processo de criminalização do partido. E aqueles que, de certa forma, defendem a possibilidade de um terceiro turno: “o PSDB perdeu a eleição, então vamos fazer uma nova eleição para tirar o PT”. Além disso, há aqueles que fazem a própria critica econômica e aqueles que querem a volta de um governo militar. Você tem de tudo ali de dentro.

O quão forte é Eduardo Cunha? Qual o papel do PMDB hoje? É o presidente da Câmara. Querendo ou não, determina até o que vai ser votado e discutido na Câmara. O PMDB sempre foi aquele partido que esteve em uma situação muito cômoda. Hoje, se tem o vice-presidente, que é o grande articulador político, do PMDB. Os presidentes do Senado e da Câmara são do PMDB também. Existe um número muito grande de representantes e deputados desse partido, que hoje é uma força política que pode decidir, ou não, pelo papel que representa os caminhos do governo, daqui em diante. Hoje, a Dilma, enquanto presidente, está refém do PMDB.

O que o governo deve fazer para tentar amenizar os impactos dos resultados negativos? O que está sendo feito hoje é o suficiente? O que se faz hoje é um grande dilema, porque não está claro, em nível de governo, qual é a proposta que ele tem. Hoje, se discute a necessidade de uma reforma política, mas não se diz nem para onde e nem para quê. Particularmente, eu acho que pensar na reforma política é um caminho: a questão da representação partidária e o papel dos deputados. Agora, estamos meio sem rumo. Albuquerque possui Graduação em Formação de Psicologos pela Universidade Católica de Petrópolis (1982), Mestrado em Educação, área de concentração em Filosofia da Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (1992) e Doutorado em Ciências Sociais, área de concentração em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998). Atualmente, é Professor da Escola de Engenharia de Piracicaba e da Universidade Metodista de Piracicaba.


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meio ambiente

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Instalação de Central de Resíduos gera polêmica em Piracicaba

Criação de espaço para resíduos envolve entidades ambientais, poder público e justiça; ambientalista critica

Thais Alves

Thais Alves

tifalves@unimep.br

Parceria Pública Privada

A

Central de Resíduos Sólidos no bairro Palmeiras em Piracicaba, que funciona em fase de teste, está causando bastante discussão entre ambientalistas e entidades que defendem o meio ambiente. De acordo com o representante do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), Paulo Jorge Moraes Figueiredo, a aprovação desse sistema de tratamento é absolutamente equivocada, pois foi feita uma separação, primeiro aprovaram o biodigestor e agora estão aprovando no mesmo local um aterro. “Segmentaram algo que teria o impacto ambiental sinérgico muito maior do que está sendo proposto em pequenos pedaços. Isso é uma prática bastante comum para pessoas que querem escamotear ou querem não cuidar das questões ambientais dos seus empreendimentos”, explicou. Em maio desse ano, aconteceram duas audiências públicas (28 em Piracicaba e 29 em Iracemápolis, convocadas pelo Consema – Conselho Estadual de Meio Ambiente), para discussão do Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental). Segundo os documentos a central de resíduos terá a capacidade de receber 400 toneladas/dia, que é a quantidade de resíduos gerado em Piracicaba. E a longo prazo pode passar a receber cerca de 2000 toneladas/dia. A imprensa vinculou informações de que a central atenderia mais de 30 cidades. Questionados pela Promotora Alexandra Facciolli Martins, representante do

Lixo na região central de Piracicaba: atualmente resíduos são encaminhados para Paulínia

MP (Ministério Público), a empresa que produziu o Eia-Rima negou a informação. No dia 30 de maio foi aprovado um Projeto de Emenda à Lei Orgânica para que os lixos de outros municípios pudessem ser tratados em Piracicaba. O vereador Paulo Camolesi, foi contra a aprovação, segundo sua assessoria, a justificativa para sua posição foi por não existir os estudos, tanto da usina quanto do aterro para essa nova demanda. “Nosso encaminhamento foi de que o projeto fosse adiado até que esses novos laudos fossem apresentados, mas houve encaminhamento contrário feito pelo líder de governo na Câmara. Dessa forma, então, votamos contra o projeto, por entender que ele não está de acordo com os estudos realizados e não

tinha como objetivo o bem comum de nossa população”, ressaltou a assessoria. Tem sido comum no Brasil, centrais de resíduos de tratamento particulares, que recebem resíduos de vários lugares, como por Reinaldo Diniz

Ambientalista e membro do Conama Paulo Figueiredo

exemplo Piracicaba que atualmente envia seus resíduos para Paulínia. Para o ambientalista Paulo Figueiredo, essa ação também é absolutamente equivocada. “Deveria ser proibido o envio de resíduos de uma cidade para outra, a menos em situações muito especificas, como um município muito pequeno, que não teria como fazer um esquema de tratamento, aí poderia criar umas regras”, explica. O ambientalista acredita que cada cidade deve gerenciar seu próprio resíduo, uma vez que não há qualquer justificava para uma comunidade viver com os resíduos de outra comunidade, pois terá o tráfego de veículos, vários caminhões circulando. Se der um problema no deposito, no instrumento de gestão, é população onde o

sistema está implantado que vai sofrer, são os rios daquela região que serão afetados. “Isso não tem sentido em uma região como a de Piracicaba, com áreas agrícolas, cada município deve tratar dos seus resíduos de forma exemplar”, disse Paulo. Paulo Figueiredo cita como referência a Convenção de Basiléia, que é um conjunto de regramento internacional de controle de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e seu depósito, a qual o Brasil aderiu. E uma das regras da convenção é que os resíduos devem ser tratados por quem gerou, ele é de responsabilidade de quem o gerou. “Deixar seus resíduos para outro gerenciar é imoral no meu ponto de vista e no ponto de vista ambiental uma catástrofe”, disse o ambientalista.

Desde 2007 quando o aterro da cidade entrou em processo de encerramento, todo seu resíduo é exportado para uma área particular em Paulínia. E através de uma PPP (Parceria Pública Privada), a gestão de resíduos do município passou a ser de responsabilidade da empresa Piracicaba Ambiental. Um dos itens que compõe o contrato entre a Prefeitura e a Empresa terceirizada é o da construção de uma central de resíduos, incluindo o novo aterro sanitário. O funcionamento total da central estava previsto para agosto de 2014, entretanto, o MP alegou diversas irregularidades na parceria, que indicaram improbidade administrativa, o que atrasou o processo. Entre as acusações estavam o direcionamento do edital para que apenas uma empresa estivesse apta a vencê-lo, a falta de uma de uma agência reguladora do lixo para ajudar na formulação do contrato e o não cumprimento de alguns aspectos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos. A central comporta uma triagem para separação de material reciclado e uma usina para produção de biogás, que já funcionam em fase de teste, segundo informações da Engenheira da Piracicaba Ambiental Paula Regina Doriguello. Quanto ao aterro, ainda está em processo de licenciamento para ser construído. A reportagem tentou entrar em contato com o Ministério Público para saber quais medidas foram tomadas em relação a instalação da central de resíduos, mas até o fechamento da matéria não houve retorno.

Municípios se unem na busca pela sustentabilidade Consórcios Municipais criam soluções e tecnologias para alcançar meta imposta pela PNRS Fernando do Carmo

fcarmo1988@gmail.com

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rocurando se adequar com a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), os municípios estão se unindo a fim de buscar tecnologias e soluções que visam prevenir e reduzir a quantidade de resíduos sólidos, por meio do incentivo ao consumo sustentável, aumento da reciclagem e do reaproveitamento, assim como o destino correto de rejeitos em aterros sanitários. É o caso do Consimares (Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos), na qual as oito cidades que integram o consórcio desenvolvem projetos para a “gestão integrada” dos resíduos sólidos da RMC (Região Metropolitana de Campinas), que juntas, geram em média 750 toneladas de resíduos domésticos por dia.

O consórcio iniciou em 2010, e hoje é presidido pelo prefeito de Nova Odessa, Benjamim Bill Vieira de Souza, que teve a oportunidade de ir até a Alemanha, aprender como o país lida com seu lixo doméstico. “É incrível como o lixo doméstico tem potencial econômico para eles, lá (Alemanha) uma cidade ‘briga’ pelo lixo do outro, e com isso transformá-lo em dinheiro...”, explicou Bill. Segundo o superintendente do Consimares, Valdemir Ravagnani, a maioria dos projetos do consórcio ainda está em fase de estudos, mas já foi capaz mostrar aos responsáveis pela área ambiental de cada cidade do consórcio, a necessidade de reaproveitar e a possibilidade, num futuro próximo, obter lucro com estes resíduos. “Com a PNRS, a palavra ‘lixo’ some do vocabulário da questão ambiental. Agora passa ser chamado de

resíduo sólido tudo aquilo que pode ser reaproveitado e até gerar um retorno econômico e ambiental, ou é rejeitos, que devem ser enviados aos aterros sanitários”, contou Ravagnani, ao explicar uma das primeiras medidas imposta da legislação, que era o fim dos “lixões” em todas as cidades brasileiras até o final de 2014. Para Ravagnani, o artigo 9 da PNRS é um dos mais importante, pois nele que se define as prioridades de encontrar uma solução para os resíduos. No artigo, as

prioridades para o gerenciamento dos resíduos devem seguir a ordem de “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.” Apesar da maioria dos projetos estarem na fase de estudos, algumas ideias já tiveram o início prático. Na cidade de Nova Odessa, por exemplo, a administração municipal tem uma parceria com uma cooperativa de catadores, que fica responsável pelo recolhimento e reaproveitamento dos materiais recicláveis na cidade. Outra medida adotada foi a implantação de um “Ecoponto”,

Com a PNRS, a palavra ‘lixo’ some do vocabulário da questão ambiental.

um espaço onde a população pode levar materiais recicláveis, entulho de construção civil, madeiras e móveis usados, restos de poda, óleo de cozinha embalado em garrafa PET, roupas usadas, aparelho eletrônicos e pneus. Segundo a Diretoria de Licenciamento e Fiscalização Ambiental de Nova Odessa, Aryhane Massita, o Ecoponto diminui o descarte irregular e desenfreado de resíduos pela população, mas ainda gera custo para o município. “Os materiais que a cooperativa não recicla, como madeiras e restos de construção civil, a prefeitura tem que pagar para uma empresa triturar e dar um fim sustentável para este material”, contou Aryhane.

Ainda de acordo com o superintendente, uma solução que gera muita polêmica e discussão é a “logística reversa”, na qual a responsabilidade “pós-consumo” dos produtos é do fabricante, importador e distribuidor. São eles que deverão encontrar uma maneira de recolher os resíduos gerados por seus produtos e encontrar uma solução seguindo as prioridades do artigo 9 da PNRS. “É por isso que uma política como essa demora muito tempo para ser totalmente efetiva. Os fabricantes ficam brigando na justiça por anos, alegando que não há meios de recolher esses resíduos, sendo que, em alguns países de primeiro mundo isto já funciona”, contou Ravagnani.


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retrato

VIDA RECICLADA

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Jornal de Classe retrata nesta edição, o trabalho daqueles que passam separando cerca de 170 toneladas de materiais reciclados. Cada cooperado do Reciclador Solidário tem sua história, e mostrá-las por meio de um ensaio fotográfico foi o desafio da reportagem. Em meio a diferentes tipos de animais e insetos transmissores de doenças, eles exercem, durante dez horas por dia, o sinônimo da palavra cooperação: ajudar. “Todos fazem os trabalhos juntos”, ressaltou a vice-presidente da entidade, Lucélia Lemos. Segundo apurado pelo JC, os cooperados recebem por mês R$ 1.100,00. “O pessoal não quer trabalhar registrado. Trabalhamos com amor”, afirmou Lucélia. Textos e fotos: Reinaldo Diniz (redveira@unimep.br)

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entrevista

Islã:

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além do preconceito

Os confrontos no Oriente Médio levantam dúvidas sobre vínculo que existe entre o Estado Islâmico e o Islã. O conhecimento de detalhes desse cenário ajuda afastar a intolerância Wesley Justino

lelisjto@hotmail.com

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ascido no Egito e radicado no Brasil, o engenheiro agrônomo e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (Universidade de Campinas), Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, desconstrói a relação existente entre o terrorismo com muçulmanos. Em uma entrevista ao Jornal de Classe, Mohamed esclarece que as disputas políticas e geopolíticas são as verdadeiras responsáveis pela violência no Oriente Médio, e que o interesse de outros países em recursos naturais pode colocar o Brasil como foco de disputas. Com mais de duas centenas de trabalhos em periódicos de circulação internacionais, Habib foi pesquisador durante 6 anos da National Research Central. É também o atual presidente da Associação Islâmica de Campinas. O que é a religião para um muçulmano? Em geral, a religião é um instrumento espiritual que conecta o ser humano com o sagrado, para sentir-se seguro e protegido. A religião islâmica é uma religião divina, e monoteísta, que tem como fonte o Livro Sagrado “Al-Corão” que é um tratado de informações e de conhecimentos referentes quanto a Deus nosso Criador e a nossa relação com Ele, quanto às relações do homem com a sociedade, direito e deveres, normas e regras que devemos usar em nosso cotidiano. A segunda fonte de ensinamento islâmico é representada pela tradição e pelas orientações do Profeta Muhammad. O Islã é uma religião monoteísta, ou seja, adoramos a um único Deus. A partir do Abraão surgiram três religiões através de três descendentes, Moisés trazendo a religião judaica, Jesus Cristo a cristã e o profeta Muhammad a islâmica. Ou seja, a maioria da humanidade confessa o código monoteísta, iniciado pelo patriarca Abraão. Porque há associação entre o Islã e o terrorismo? Essa é uma parte da recente campanha contra os muçulmanos para justificar as intervenções bélicas promovidas por países centrais em países que têm reservas petrolíferas, como Iraque, Líbia e outros. Para tal, a grande mídia é sempre usada nestas campanhas difamatórias. O poder econômico faz aliança, ou simbiose, com a mídia. De onde a grande imprensa recebe dinheiro e se sustenta? É sempre do capital e de governos. Propagandas e comerciais pagam fortunas. Isso é um acordo de poder. Usam novelas, noticiários falsos e programas preparados especialmente

para atingir este tipo de finalidade. A grande mídia é representada por grandes grupos que têm infraestrutura e poderosos para poder influenciar e manipular a sociedade e a opinião pública. E a outra parte, porque ligam o terror com o islamismo? Essa é outra questão, e falamos agora sobre o petróleo. Hoje, as grandes potências evitam invadir algum país com o exército, prática comum no passado. Hoje fazem acordo, contratos. Dominam pacificamente; porém quando precisar podem usar a força. Pacificamente é quando tem acordos e assinam contratos de concessão. Quando o lado fraco não aceita este tipo de conchavo e recusa assinar, eles usam a força. Mas como usar a força? O mundo normalmente não aceitaria e não deixaria. De fato, por isso eles partem para as campanhas difamatórias, satanizando, não apenas os governantes, mas também a própria sociedade e assim fica fácil de destruir a sua imagem e até invadir as suas terras e dominar os seus recursos; é o colonialismo moderno. No plano de expansão territorial norte-americana, por exemplo, eles não podiam apresentar o índio nos seus filmes de “cowboy” como um ser humano comum. Como iriam justificar a matança e os massacres contra esses nativos das Américas? Então vendiam a imagem do índio com uma criatura inferior, satanizada e colocavam o mocinho americano como herói, loirinho, simpático. Dentro dos Estados Unidos, o governo convencia a própria sociedade civil de que a expansão era uma questão religiosa, espiritual. Deus tinha dado para eles a orientação de se expandirem pela América. É o famoso “Destino Manifesto”, que permanece até hoje para justificar todas as guerras e invasões cometidas. Mas especificamente sobre o Islã, onde começa a ligação com o terror? Essa estratégia de rotular o outro de terrorista teve início na segunda Guerra Mundial. Hitler, quando invadiu os países vizinhos, pedia nos seus discursos para que o exército matasse todos os “terroristas” italianos. Os italianos, que na terra deles, lutavam contra o invasor e se defendiam dos nazistas, eram chamados por Hitler de terroristas. Essa é a linguagem do opressor. Na história moderna, devido ao petróleo árabe e o interesse do Ocidente, qualquer movimento contra esses interesses também é considerado terrorista. Iraque era governado por um ditador amigo do Ocidente. Desde os anos 80, o Ocidente rotulava os muçulmanos xiitas de terroristas; porém com a morte

de Saddam fizeram acordo com xiitas e os curdos do norte do Iraque e formaram um governo fraco, o qual aceitou um acordo com os americanos para concessão do petróleo por 50 anos como pagamento da divida resultante da guerra. Tornou-se tudo oficial. Agora não precisam mais colocar exército, O governo xiita também aceitou outro projeto norte americano de separar o norte do Iraque e juntá-lo a um pedaço do território da Síria para formar um novo país, para os curdos. Esse novo país teria um terço do petróleo iraquiano. Com o tempo, os sunitas que estavam no poder na época do Saddam se rebelaram, pois antes o Iraque estava bem de vida, embora num regime de ditadura, mas nenhuma criança morava na rua, nenhuma criança não tinha escola, ninguém morria de fome, não tinha problema de atendimento médico, toda atividade econômica era muito forte. Mas havia regras ditatoriais? Havia sim. E você acha que essas ações para o “bem” justificam regras ditatoriais? Os povos orientais do antigo mundo têm as suas culturas e os seus modos de governar. Iraque é um país que tem várias facções religiosas, vida tribal de diferentes tribos e que foi formado através de uma iniciativa britânica na implantação do estado moderno. Até a Primeira Guerra Mundial havia tribos governando, cada um o seu pedaço, e cada uma tinha sua comunidade. E se vivia bem um com o outro; tinha cristãos, judeus e muçulmanos. Quando a Inglaterra ganhou a Primeira Guerra com seus aliados e derrubaram o governo turco Otomano, eles criaram os estados novos, no papel, na régua. E um deles era o Iraque. Então, os governantes tem que ser autoritários para terem controle, o modelo

ocidental de democracia não se aplica facilmente quando você tem essa vida tribal. Para se governar através de um modelo Ocidental com parlamento, executivo, judiciário tem que ter mão de ferro. E Saddam conseguiu, com mão de ferro, levar o Iraque como país de economia forte, mas não havia liberdade de expressão. Lá era ordem, disciplina, regras rígidas. Hoje tem essa democracia Ocidental no Iraque? Não. Hoje tem uma guerra civil e um país totalmente desestruturado, porque a vida tribal está se manifestando. Os sunitas, vendo que EUA não honraram o compromisso de democratizar o país, vendo um governo xiita fraco que está aceitando as exigência do ocidente, e observando o projeto de fragmentar o país, saem num movimento de rebeldia, de violência e de luta armada em defesa da integridade da sua pátria e do seu povo. No lado vizinho tem a Síria, que é o único país dali que tem apoio e vínculo com China e Rússia. O ocidente mobilizou jovens muçulmanos de vários países para desestabilizar o governo sírio, mas não conseguiram. A ONU fechou os olhos, mas a Rússia vetou a decisão de invadir a Síria. Com o veto, o ocidente não conseguiu fazer na Síria o que fizeram no Iraque e na Líbia. O Bashar Assar, além de derrota-los, se submeteu a um processo de reeleição e ganhou. Hoje é um presidente reeleito, num país abalado. Com essa reeleição o Ocidente perdeu a moral. Os jovens que foram levados à Síria, vários morreram e os sobreviventes lá foram abandonados. Esses se juntaram aos militantes rebeldes do Iraque e decidiram formar o chamado “Estado Islâmico” que hoje luta pela criação de um sistema de califado, sem dúvida é um retrocesso. Obviamente, nenhum povo ou governante árabe aceita isso, e todos fecham acor-

Para se governar através de um modelo Ocidental com parlamento, executivo e judiciário tem que ter mão de ferro. E Sadam conseguiu.” dos para combater esse grupo de rebeldes. Por isso, esse grupo adquiriu o carimbo de “terrorista” e o chamado “Estado Islâmico” idem. Na verdade, todos esses grupos com slogans religiosos, são movimentos de ideologias puramente políticas e, muitas vezes pouco conhecem a verdadeira religião islâmica, a religião da paz e da harmonia social. Eles usam o simbolismo islâmico e os valores islâmicos para sustentar uma luta contra o imperialismo norte americano e o europeu. Portanto é uma luta política, não religiosa. Quem os financia? Quem financiava aqueles que entraram na Síria era Inglaterra e EUA, quem armava era EUA. Quem armou o novo exercito iraquiano foram os EUA. Portanto, armas e munições desses grupos rebeldes são armas, na maioria das vezes, americanas. Sobre financiamento, não sei dizer com precisão, porém, instituições anti-imperialistas podem estar financiando estes grupos. O ex-presidente da Indonésia, Abdul Rahman, atribui o radicalismo islâmico não apenas “à falta de respeito e identidade própria, mas também a uma enorme falha das lideranças muçulmanas modernas”, onde os homicidas falam em nome do Islã e a maioria pacifica não os desafia... Essa falha eu chamaria de erros drásticos no molde de governar esses estados de maioria muçulmana. Os governos desses países são, na maioria, autoritários, que não querem que a população se manifeste para nada, nem a favor nem contra. O ocidente, por sua vez prefere tal situação, pois daria parceiros e simbiontes durante um bom tempo. Ou seja, não é de interesse do Ocidente dominante ter países detentores de petróleo vivendo em democracia. E nos países ditos democráticos, no Brasil, por exemplo, há repúdio desses atos? Há sim. Todas as comunidades islâmicas no Ocidente se manifestam contra os atos cometidos por esses grupos rebeldes. Todos nós, pedimos e desejamos que o Oriente Médio volte a viver em

paz através das leis internacionais. Mas acontece que o Ocidente dominante desrespeita as leis internacionais e, com isso perde a moral nesse tipo de reivindicação. Inclusive a própria ONU não é uma instituição democrática, basta um voto de veto que bloqueia todos os votos do mundo inteiro. E não pense que o Ocidente é verdadeiramente democrático, não há democracia absoluta. Na doutrina do Islã não deve haver uma separação entre a “vida mundana” e a “espiritual”, isso, na construção da sociedade, não atrapalha o desenvolvimento de um país? Ao contrário, ela liberta. Porque a legislação islâmica, no modo de governar, tem o princípio da justiça e igualdade dos direitos, mas tudo tem que ser feito honestamente. Ninguém deve enganar o outro, explorar ou roubar. Os 10 mandamentos estão bem detalhados no código islâmico. Então todo atraso dos países dito islâmicos é porque não estão seguindo às leis islâmicas? Sim, não estão seguindo a religião. Pegam as legislações da opressão e deixam Deus de lado. No Islã há a legislação da punição, mas antes dela tem a do dever do governante. Se eles não executarem esse dever, devem ser os primeiros a serem punidos. Existe preconceito contra o islamismo no Brasil? Tem, mas é muito pouco, pois o Brasil é um país abençoado, com a maior diversidade étnica, religiosa e espiritual no mundo. Então, não tem, por enquanto, problemas sérios. Mas que há um projeto para satanizar a imagem do muçulmano há. Enquanto tem petróleo no Oriente Médio isso vai continuar, então, conta mais uns 50, 60 anos com esse tipo de campanha até esgotar o petróleo, daí eles vão procurar outro recurso natural importante. E quais são os recursos naturais que a ciência atestou ser importante para o desenvolvimento humano para hoje e para o futuro? Água e diversidade biológica. Qual o maior país detentor de água e diversidade biológica? Brasil? Esse tem que se cuidar.


cidadania

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De olhos bem

ABERTOS Observatório Cidadão de Piracicaba monitora dados da Prefeitura e colabora na compreensão das políticas públicas

Larissa Walti

lwalbuquer@unimep.br

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que somente em 13% das conferências o poder público disse o que ia fazer com as propostas dos cidadãos; 89% das audiências públicas acontecem em horário comercial; e 12% das propostas da população para o Orçamento Participativo referentes aos anos de 2013 e 2014 foram executadas.

a Walt i

Orçamento Participativo Segundo o presidente da Associação de Moradores dos Bairros do Distrito de Tupi, Carlos José Marco da Silva, o Orçamento Participativo é uma das mais importantes ferramentas de participação social, pois esse mecanismo permite a participação da população e de seus órgãos representativos na elaboração do orçamento público da cidade, porém conta com uma baixa adesão. “O que vejo, é o descrédito que caiu ao O.P. Você convida sua comunidade a participar, que prontamente atende seu apelo e vai às reuniões para solicitar aquilo que acha necessário. Essas mesmas pessoas terão depois que passar seu sábado de manhã participando de um congresso para escolher as principais demandas de cada região (nosso

Lariss

m grupo de pessoas e entidades de Piracicaba resolveu fiscalizar o que o poder público tem feito e o que não tem feito na cidade. Dessa iniciativa, nasceu o Observatório Cidadão de Piracicaba, um site que tem o objetivo de instrumentalizar a sociedade para melhor compreensão e participação nos processos das políticas públicas locais, divulgando dados e análises de forma clara para o maior número de cidadãos. O site tem dois anos e meio e é formado por diversas entidades, entre elas Ongs, universidades e a OAB (Ordem dos advogados do Brasil) de Piracicaba. O membro do Observatório Cidadão de Piracicaba, Renato Morgado, comentou que o site trabalha com três grandes linhas de ação: monitoramento das políticas públicas, elaboração de propostas de políticas públicas e educação para participação e um controle social – educação para a cidadania. Morgado é coordenador de projetos do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), uma das entidades que participa do Observatório. Ele conta que as ações são desenvolvidas por meio dos indicadores de “Meio Ambiente”, “Participação Social”, “De Olho nas Metas” e de “Transparência Pública”. Em debate realizado na Unimep pelo curso de Jornalismo da universidade, dia 12 de maio, Morgado citou que uma das formas de monitorar o poder público é observar os Portais da Transparência da Prefeitura e da Câmara, que são obrigados pela Lei da Transparência de 2009 a apresentar informações sobre a execução orçamentária e financeira. “De tempos em tempos a gente entra nos sites, analisa se a Prefeitura e a Câmara estão cumprindo a legislação e divulga essa avaliação para a sociedade”, explicou. O Observatório fez um estudo em dezembro do ano passado avaliando as informações disponibilizadas aos cidadãos pelo Portal da Transparência da Prefeitura de Piracicaba. Em 16 critérios analisados apenas 44% responderam integralmente aos quesitos propostos pela Legislação. Já no Portal da Transparência da Câmara dos Vereadores, entre 20 indicadores analisados, 40% cumpriram plenamente as informações necessárias. Outros estudos divulgados pela entidade mostram

povo já não gosta de política). Ai todo esse serviço que você solicitou, não é feito e nem é dada uma justificativa para a não realização da obra. Assim, você desestimula a participação popular”, declarou Silva. Nesse tempo de atividade, o Observatório Cidadão de Piracicaba já conseguiu atingir cerca de seis mil pessoas através de palestras, cursos, oficinas, mesas-redondas, debates e distribuição de cartilhas. “Essas atividades estimularam mais pessoas para participar dos deba-

tes públicos, mas também instrumentalizaram mais as pessoas que já participavam. Apenas para citar um caso, um líder de bairro passou a solicitar informações à Prefeitura sobre sua região, utilizando a Lei de Acesso à Informação, e relatou que aprendeu isso em um dos nossos cursos”, comentou Morgado. Participação popular Em relação à participação popular nas políticas públicas de Piracicaba, Renato

Morgado, membro do Observatório Cidadão de Piracicaba, acredita que a população da cidade está mais interessada na vida política e está mais ativa no controle e fiscalização do poder público do que alguns anos atrás. “O Observatório tem contribuído com esse processo de estímulo e capacitação, o que tem sido extremamente gratificante. É importante relativizar o senso comum de que o brasileiro participa pouco e de que não tem interesse pelas questões coletivas. Somos um país que possui muitas associações, movimentos sociais e cidadãos, que buscam participar de diversas maneiras do debate público”. Thiago Brito, membro da JSOL (Juventude, Socialismo e Liberdade), coletivo que atua dentro do movimento estudantil participa do Fórum dos Movimentos Sociais

de Piracicaba, um projeto que tem como objetivo a comunicação entre ONGs e coletivos que atuam em diversas frentes das políticas públicas. Ele cita como exemplo REAJA Piracicaba que em dezembro de 2012 realizou atos públicos contra os aumentos abusivos de 66% no salário dos vereadores. “Vejo uma grande participação [da população] nas políticas públicas municipais. Um exemplo disso é a quantidade de instituições que existem em Piracicaba, que pensam em mobilidade, Transparência Pública, Meio Ambiente, Orçamento Participativo, grupos de apoio a criança e adolescente e de Direito a Minoria”, explica Brito. Já Antonio Oswaldo Storel, representante da Pasca (Pastoral do Serviço da Caridade), uma das entidades que fazem parte do Observatório, critica a baixa participação da sociedade civil nos Conselhos Municipais, que devem ter representantes do poder público e da sociedade civil. “São vários os fatores que se conjugam e que inibem a efetiva participação popular nos Conselhos de Políticas Públicas. O primeiro e mais importante é realmente a falta de informação e formação em cidadania. As pessoas não sabem com clareza do que se trata e não possuem a consciência cidadã para usar as prerrogativas que os instrumentos constitucionais oferecem (artigo 14 da Constituição Federal, por exemplo). Além disso, existe ainda a disposição (ou falta de) do Poder Executivo para estimular e respeitar essa participação”, observa Storel.

É importante relativizar o senso comum de que o brasileiro participa pouco e de que não tem interesse pelas questões coletivas Renato Morgado, coordenador de projetos do Imaflora e representante do Observatório Cidadão de Piracicaba


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cidadania

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Profissão?

Vlogger! João Guilherme de Paula

joaoguilherme94@gmail.com

Vlog nada mais é do que um blog em alguma plataforma de vídeo na internet, como YouTube, Vimeo e Dailymotion com o intuito de ser postado na internet com informações pessoais do vlogger, que é a expressão usada para quem tem esse tipo de canal. Com o lançamento do site YouTube, em 2005, o hábito de ver vídeos na internet se tornou mais comum, de modo que vloggers disseminassem seu trabalho de uma maneira melhor, devido a facilidade que a plataforma apresenta na reprodução de vídeos. No Brasil, vloggers começaram a ganhar espaço na mídia em 2010, devido às melhorias tecnológicas, como, por exemplo, a expansão da banda larga no país, que foi um dos principais fatores que acarretou o sucesso dessa “profissão” pouco explorada. Desde então, canais de diversos segmentos, como

moda, música, jogos online e esportes vêm sendo criados. Como uma das consequências dessa expansão, o termo youtuber virou sinônimo de vlogger. No YouTube, anúncios publicitários são exibidos antecedendo seus vídeos, gerando renda para o site a qual é repassada de acordo com a cada clique dado nas propagandas para os “vlogueiros” que se afiliam a empresa. Além disso, vem se tornando comum que grandes empresas se interessem por youtubers, abrindo possibilidades de fechamentos de contratos de publicidade. Cauê Moura, dono do canal Desce a Letra e Pc Siqueira, primeiro vlogger que recebeu destaque da mídia brasileira e dono do canal “maspoxavida”, são dois exemplos. O sucesso dos vlogs depende, além do conteúdo abordado e do carisma do vlogger, de equipamento de qualidade para a produção dos vídeos. Equipamentos esses que são muitas vezes

financiados com o retorno obtido a partir da empresa do Google. A edição também contribui para alavancar os views, curtidas e inscrições no canal. Bel Rodrigues, 21, formada em publicidade e propaganda é idealizadora do canal “Algum Infinito”, que tem como foco principal reviews e recomendações de livros que lê, além dos que recebe de editoras e de inscritos do canal. Temas como culinária e cultura também são abordados em seus vídeos. Bel já teve seis blogs privados e a ideia de fazer o vlog partiu de “uma conversa com um amigo (também youtuber) de madrugada. Ele falou para eu me arriscar a falar sobre as coisas que gosto”, disse a vlogueira. Vlog “inicialmente é um hobbie e depois de algum tempo, caso dê certo, você passa a ganhar com isso e acaba tornando-se uma profissão. Gravo toda semana, de três a quatro vídeos dependendo do dia”, contou Bel, que tem 60 mil inscritos

Ilustração: Gustavo Momesso

Sabe aquelas pessoas que fazem sucesso na internet? Fazer um vídeo de si mesmo, além da diversão, pode ser visto como atividade profissional, pois além da fama, os ‘vlogueiros’ podem obter retorno financeiro

e mais de 1 milhão e 300 mil visualizações no canal do YouTube há um ano e meio. Julia C. Forti, 18, dedica-se em tempo integral ao vlog sobre de beleza feminina batizado com seu próprio nome. “Sempre posto três vídeos por semana. É um processo longo, cheio de detalhes até a finalização e postagem do vídeo.”, conta. No vlog, que completou dois anos e há um o tem como profissão, Julia, faz tutorias de maquiagem, dá dicas sobre moda e fala curiosidades do próprio dia-a-dia. Para o vlog, que tem mais de 85 mil inscritos e 3 milhões e 900 mil visualizações no canal do You Tube, Julia diz que o que vive no dia-a-dia traz criatividade para a produção de novos conteúdos. Segundo Bel Rodrigues, sua melhor memória como vlogueira, até agora, foi na Bienal de 2014 em São Paulo. “Senti na pele o que era estar em contato direto com meu público, recebi um carinho absurdo”. Para Julia, “o vlog proporciona todos os dias a oportunidade de conhecer,

Inicialmente é um hobbie e depois de algum tempo, caso dê certo, você passa a ganhar com isso” lidar e ajudar de certa forma, pessoas. Sempre tento absorver o máximo possível das sugestões e da interação do público em cada vídeo”, comentou. Mas, como em toda profissão, vlogueiros também estão expostos a dificuldades. Comentários maldosos e quebra de privacidade são alguns dos obstáculos que

fazem parte do “lado ruim” da ocupação. “A pior parte, inicialmente, era ter que lidar com comentários maldosos, até porque estamos na internet, onde algumas pessoas criam coragem e fazem coisas que jamais fariam pessoalmente. Mas depois de um tempo, você aprende a ignorar e a filtrar as críticas construtivas”, comentou Bel. A vlogueira apontou, ainda, que o receio e o preconceito que muitas empresas tem a relação ao YouTube achando que a plataforma não é uma mídia tão eficaz, também atrapalha seu trabalho. Em contrapartida o feedback e reconhecimento por parte do público são os pontos positivos da “carreira”. “A melhor parte é receber o carinho e o reconhecimento do público, isso não tem preço”, falou Julia. Atualmente, a tendência desse mercado aponta para o crescimento, visto que cada vez mais a internet se consagra como o meio de propagação de informações mais versátil e eclético, deixando para trás a televisão e outros meios de comunicação.

Sinais de inclusão

Ana Pimentel

ana.santos.pimentel@gmail.com

A busca pelo aprendizado através das mãos

Yasmin Obrownich

yasmin.ovidal@hotmail.com

O

uso de intérpretes tem sido obrigatório em instituições de ensino e em locais públicos desde 2002, após a aprovação da lei n° 10.436. Com isso, a procura pelo curso de libras tem aumentado consideravelmente, assim como a busca por profissionais qualificados. Os grandes responsáveis por isso são os próprios deficientes auditivos, que lutam para ingressar em universidades e também buscam por melhores oportunidades no mercado de trabalho. Porém a exclusão social de pessoas surdas ainda é uma triste realidade, especialmente em cidades do interior, e a escassez de professores qualificados dificulta ainda mais uma mudança nesse quadro. Flávia Miranda Inácio, tem anacusia profunda (perda auditiva, parcial ou total), e conta que desde criança não escuta nada no ouvido direito e no esquerdo possui apenas 30% de audição. “Eu acho que nós que somos deficientes unilaterais, somos mais prejudicados, ainda mais que tenho um pouco de déficit de atenção. Tive que quase brigar na faculdade, pois não entendia nada que

Procura por cursos de libra tem aumentado, porém exclusão ainda é realidade

uma professora falava, pedi que me trocassem de sala”, explica Flávia, que atualmente cursa Recursos Humanos na Universidade Celso Lisboa, no Rio de Janeiro. Professora e intérprete de libras há 20 anos, Alvina Figueiredo diz que a maior dificuldade em ministrar libras é conseguir transmitir

o ensino da língua portuguesa. “Os surdos entram para escola tardiamente e isso prejudica o entendimento deles”, explica a professora. Com o aumento de alunos surdos no curso superior, muitas universidades começaram a oferecer intérpretes de libras nas aulas em cursos de graduação. Porém ainda

há muitos casos em que o próprio aluno precisa conseguir um interprete para acompanhá-lo durante as aulas, não sendo um serviço fornecido pela instituição. Professora de libras na universidade Anhanguera Educacional e também coordenadora do projeto de libras na Escola Estadual Professor

Antonio Mello Cotrim, em Piracicaba, Gediane Bueno, conta que a diferença entre a linguagem falada e a utilizada pelos surdos se deve à forma de comunicação, porém a compreensão é a mesma. “A língua oral possui estrutura gramatical, a de libras também possui”,comenta. A interação em sala de aula

dos alunos surdos com os ouvintes acontece de forma natural. Segundo Gediane, os estudantes ouvintes se interessam por libras a fim de aprender a se comunicar melhor com o deficiente auditivo. Diorginis Henrique Jovelli Pinho, estudou com um aluno surdo na escola Mello Cotrim, e achou a experiência fascinante, porém tinha muita dificuldade para se comunicar com ele. “A língua sempre foi a maior dificuldade, não sou fluente em libras, tampouco conduzo uma conversa. Por isso, sempre que precisava falar algo, pedia ajuda à intérprete ou a algum aluno que falasse melhor do que eu”. Na escola há um projeto para inclusão de surdos que conta com a presença de intérpretes, possibilitando o contato dos alunos ouvintes com libras e os instigando a aprenderem a se comunicar através da linguagem dos sinais. Segundo a coordenadora do projeto, Gediane Bueno, há também a sala de recurso DA (deficientes auditivos), que auxiliam os alunos surdos com dificuldades em acompanhar o andamento da classe. “Libras é a primeira língua de um surdo, não o português, por isso que o surdo tem maior facilidade em aprender”. - finaliza Gediane.


saúde

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Vacina do HPV: “Proteção para meninas e saúde para mulheres” Segundo levantamento da Secretária de Saúde de Piracicaba, em 2015, mais de oito mil garotas devem ser vacinadas

Thais Campos

Thais Leite de Campos

thaislcampos95@gmail.com

A

meta da Campanha de Vacinação contra HPV deste ano, em Piracicaba, é vacinar 80% das meninas com idade entre nove e 13 anos, pessoas que já tomaram a primeira dose anteriormente e mulheres de até 27 anos portadoras de HIV. O principal objetivo da campanha é prevenir infecções virais causadas por essa DST e, consequentemente, o câncer de colo de útero. A primeira dose foi aplicada em março e a segunda será realizada em setembro. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil possui índices invejáveis de cobertura vacinal. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que o vírus HPV tipos 16 e 18, cobertos pela vacina, estão presentes em mais de 70% dos casos de câncer de colo de útero diagnosticados no país. É o terceiro tumor mais frequente na população feminina brasileira, atrás apenas do câncer de mama e do colorretal (intestino e reto), e o quarto responsável por mortes de mulheres no Brasil.

As reações desta vacina são iguais a quaisquer outras, como por exemplo: dor e edema local e febre”

Vacina do HPV é sinônimo de proteção e deve ser aplicada em meninas a partir dos nove anos.

A vacinação é realizada em três etapas. A segunda dose deve ser aplicada seis meses após a primeira, já a terceira e última depois de sessenta meses (cinco anos) da aplicação inicial. Para portadores de HIV, os intervalos são diferentes, a segunda dose é aplicada apenas dois meses após a primeira e a terceira depois de seis meses, pois esse público tem maior probabilidade de desenvolver câncer no colo de útero. Segundo o secretário de Saúde de Piracicaba, Pedro Mello, a vacina é eficaz e fundamental, pois é a primeira oferecida no Brasil que é capaz de prevenir algum tipo de câncer. No primeiro ano de campanha o resultado da primeira dose foi positivo, porém com a desinformação e divulgação errônea na mídia e em redes sociais houve uma queda na procura pela segunda dose. “É importante que as meninas na faixa etá-

ria indicada tomem as três doses da vacina”, destaca. A primeira dose de 2014 atingiu 95% do público alvo, já a segunda apenas 50%. Quando questionada sobre como é realizada a divulgação desta campanha, a ginecologista, Silvana Koren afirma que é ineficiente, pois muitas pessoas ainda acham que a vacinação de crianças contra uma DST vai incentivar o início precoce da vida sexual, além de existir muito medo dos efeitos colaterais. Para ela é necessário um amplo esclarecimento médico em escolas e na mídia para que possa desmistificar tudo o que já foi falado sobre a questão. Também seria importante a divulgação em todas as possíveis posições religiosas. De acordo com Koren, estão disponíveis dois tipos de vacinas eficazes, a bivalente (previne dois tipos do vírus) e a quadrivalente que previne quatro, sendo eles 6, 11, 16 e 18. Os dois últimos são os considerados de alto risco, ou

seja, precursores de tumores malignos. Mas segundo estudos, a eficácia da vacina é de 98% de prevenção do câncer de colo de útero e 100% das verrugas genitais. O nível de anticorpos em crianças é superior, por isso quanto antes for vacinada maior a garantia de imunização e proteção. Porém, segundo a ginecologista, toda mulher na faixa etária de nove a 45 e homens até 26 anos podem ser vacinados. “Estudos estão mostrando que mesmo pacientes já com

“É importante que as meninas na faixa etária indicada tomem as três doses da vacina”

Ilustração: Matheus Schiavinatto

Onde encontrar: A vacina está disponível em todos os postos de saúde da Atenção Básica (UBSs, PSFs e CRABs) para as meninas de nove a 11 anos. Na rede particular as doses são aplicadas em três doses também, porém com intervalos diferentes, a segunda dose é aplicada após dois meses e a terceira após seis meses. Consulte o ginecologista ou urologista, peça sua receita e siga até o PAI (Pronto Atendimento Infantil e Vacinas).

a doença instalada podem se beneficiar, pois também estarão se protegendo de alguns incômodos, outros tipos de vírus e doenças mais graves”, explica. “As reações desta vacina são iguais a quaisquer outras, como por exemplo: dor e edema local e febre. Tem-se falado muito em alterações neurológicas como desmaios e crises convulsivas, mas esses efeitos foram mera coincidência com a aplicação”, ressalta a médica. A opinião sobre a eficácia da vacinação entre os médicos da área é visível. O urologista também orienta que se devem tomar as três doses. Vale ressaltar, que a vacinação de crianças e adolescentes quando recomendadas pelas autoridades sanitárias, é obrigatória, como afirma o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sobre o HPV: O nome HPV (papiloma vírus humano) e a descrição DST (doença sexualmente transmissível) podem assustar e gerar medo, mas com prevenção esses sentimentos podem ser extintos. Segundo o urologista, Lamartine Martins Oliveira Júnior, dos mais de 100 tipos variáveis do vírus, menos de cinco podem evoluir para uma lesão cancerígena em alguns anos, caso o tratamento correto não for realizado. O HPV é um vírus que causa lesões na pele e na mucosa, transmitido através do contato direto e sem proteção com a pele infectada. Segundo médicos, relação sexual é a principal forma de contaminação. “Tudo depende de vários fatores. Pode pegar na primeira relação e logo desenvolver, como nunca ter nenhum sintoma. Ou ter contato com o vírus hoje e daqui vários anos aparecer as verrugas, porque teve uma baixa de resistência. É de pessoa para pessoa”, conta Lamartine.

“Esse tipo de DST não tem necessariamente sintomas”, constata o urologista. Mas verruga é o sinal mais comum, e pode surgir em regiões orais (lábios, boca, cordas vocais), anal ou genital. O tratamento indicado é a queima (cauterização) dessas alterações, porém mesmo após a realização deste procedimento deve-se ficar atento aos fatores de risco, pois um vírus demora em ser totalmente curado. Os médicos ainda alertam que além da vacinação, a prevenção é o melhor remédio, ou seja, ir ao ginecologista ou urologista periodicamente e usar preservativos. Também é recomendado estar sempre atento às alterações do corpo, pois vírus como esse, por exemplo, não é descoberto por exames de sangue ou raspagem (precisa estar muito avançado para que possa ser feita a biopsia e ter certeza), só após alguma manifestação visível interna ou externa. Nas escolas: Na estratégia elaborada pela Vigilância Epidemiológica para campanha deste ano, 132 escolas cederam espaço para imunização de suas alunas, entre elas: 57 estaduais, 45 municipais e 30 particulares. O diretor da escola Instituto Baroneza de Rezende, Luís Gustavo Mastandréa, conta que aceitaram prontamente a proposta da Secretária Municipal de Saúde de participar da Campanha de 2015. Pois esse benefício não estava disponível na rede pública anteriormente. Q u ando quest ionado como foi a reação dos pais e das alunas que seriam vacinadas, ele afirma que foi muito positiva no geral, pois eles compreenderam que era um caso de saúde pública e que seria muito mais fácil e tranquilo vaciná-las já na escola, do que ir até uma unidade básica de saúde. “Mandamos um comunicado, elaborado pela própria Secretaria, para as meninas que seriam contempladas com a vacina. Esse bilhete voltou assinado pelos pais, dizendo se autorizavam ou não. Foram vacinadas as meninas de 9 a 11 anos e aplicaram a segunda dose nas que não tomaram no ano passado, já que só a primeira dose foi realizada aqui”, esclarece o diretor. “As reações desta vacina são iguais a quaisquer outras, como por exemplo: dor e dema local e febre” Luís conta que é um sentimento muito bom poder ajudar na realização desta campanha tão séria e importante, principalmente por zelar o bem estar de suas alunas. “Em anos anteriores, outras campanhas já foram realizadas na escola. Se precisarem de nós novamente para isso, estaremos sempre à disposição”, finaliza.


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mobilidade

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Qualidade

Kamila Vallis

de ir e vir

Em 11 anos, o número de automóveis teve aumento de 59% em Piracicaba, comprovando que a mobilidade urbana está voltada prioritariamente ao uso individual Kamila Vallis

kvferraz@unimep.br

O

transporte individual motorizado tem sido a escolha do piracicabano nos últimos anos para se mover na cidade. O transporte coletivo, no entanto, tem sua participação reduzida no cotidiano da cidade. Segundo o Boletim de Mobilidade Urbana divulgado em outubro de 2014 pelo Observatório Cidadão de Piracicaba, o numero de carros entre 2002 e 2013 cresceu 59% e chegou a 43 automóveis a cada cem habitantes. No mesmo período, o número de motocicletas por cem habitantes passou de 6 para 15, um aumento de 150%. Enquanto isso, o transporte coletivo teve uma tendência de queda no período analisado. Em 2001 em média cada habitante usou 93 passes de ônibus. Em 2013 esse número caiu para 87, uma redução de 6,5%. Na hora de escolher qual meio de transporte usar, o cidadão sempre encontra dificuldades, uma vez que cada transporte possui em sua particularidade, pontos fortes e fracos. Para o cinegrafista, Robson dos Santos Frois, a moto foi a melhor opção para trabalhar, em razão de garan-

tir mais tempo para o descanso matinal, praticidade e economia. “Há oito anos comprei a minha moto, visto que eu levava duas horas para chegar ao trabalho por causa dos poucos horários de ônibus e também pela distância. Depois que comprei a moto ganhei uma hora a mais de sono” diz. Em teoria, nas ruas ou nas calçadas o pedestre tem prioridade absoluta, mas para o produtor, Antônio Picalho, caminhar exige atenção. Além de pedestre ele também utiliza o transporte público em Piracicaba e relata que já passou por várias situações de desrespeito dos motoristas. Por exemplo, em semáforos, quando o motorista de uma faixa para ao ver o sinal amarelo e o da faixa ao lado passa mesmo no vermelho, dificulta a travessia. Quando não são os carros, são as motos, que estão sempre cortando pelo meio deles. “Mesmo que o sinal vermelho tenha acabado de fechar, ainda dou uma boa olhada para conferir se posso mesmo atravessar”, diz. Picalho conta também que muitos motoristas não utilizam a seta e isso deixa o pedestre muito inseguro com relação às intenções de quem está dirigindo. “Dirigir é uma atividade coletiva, depende-

O transporte coletivo de Piracicaba teve sua participação reduzida no cotidiano da cidade

mos da colaboração de todos para que tudo dê certo, tanto dos motoristas como dos pedestres”, comenta. Pedalar É cansativo o tempo gasto no trânsito, seja no veículo particular ou coletivo. O trabalhador perde horas que implicam em menos tempo de descanso ou lazer devido ao deslocamento da casa para o trabalho. Por isso o estagiário, Lucas Jacinto, optou por outro meio de locomoção. Há quatro anos

usa a bicicleta como meio de transporte. “Além de você proporcionar o incentivo da qualidade de vida, você leva a pessoa ao patamar de entendimento do que seria o transporte. A pessoa mora perto do trabalho sempre vai de ônibus, e nesse percurso, demora quase 1 hora para chegar, quando ela demoraria cerca de 15 minutos ou menos se fosse de bicicleta”. Segundo o boletim do Observatório do Cidadão, entre 2009 e 2013 houve um aumento de quase 10 km na

extensão da rede de ciclovias e ciclofaixas em Piracicaba. O aumento maior se deu entre 2011 e 2012, quando a rede cresceu 7,7 km. No entanto, entre 2012 e 2013 não houve aumento. Comparando-se com outras cidades, a rede cicloviária de Piracicaba ainda é pequena. Sorocaba que possui 115 km, e Rio Claro, cidade de menor porte, possui uma rede de 20 km. Ações do município O aumento dos veículos em circulação é um problema

comum em diversas cidades da região. O secretário de Trânsito e Transporte de Piracicaba, Jorge Akira, afirma que foram adotadas medidas para minimizar o impacto decorrente deste aumento, “Investimos em central semafórica, semáforos a Led’s, que garantem maior visibilidade e menor manutenção, com consumo mínimo de energia, ‘no break’ para evitar apagões nos principais cruzamentos semaforizados, abertura e prolongamento de vias, recapeamento e intensificação na sinalização”. Outra medida citada pelo Secretário e que causa grande expectativa em parte da população, é o plano cicloviário, que tem como objetivo incentivar o cidadão a adotar a bicicleta como um meio de transporte, visando à diminuição de congestionamento e da poluição, afinal este é um transporte sustentável. “O Plano está sendo projetado. Para a primeira etapa estaremos remodelando a ciclovia existente na orla do Rio Piracicaba, da Avenida Cruzeiro do Sul, no bairro Nova Piracicaba, passando pelo parque da Rua do Porto até chegar na Ponte do Mirante. Estamos também desenvolvendo o projeto executivo da ciclovia na orla do Rio, no trecho entre a Av. Centenário e a Av. Armando de Salles Oliveira”, relata. Ele conta também que a ideia é disponibilizar nos terminais de ônibus bicicletários, para que o trabalhador possa se deslocar de bicicleta até o Terminal e depois tomar o ônibus em direção ao seu trabalho ou lazer. Procurada, pela reportagem a Secretaria de Transito e Transporte de Piracicaba não informou o valor que já foi utilizado para o desenvolvimento do plano cicloviario e nem quanto ele custará aos cofres públicos depois que estiver concluído.

Redução da idade em discussão Homero de Carvalho

homerodecarvalho@adv.oabsp.org.br

A

Câmara de Vereadores de Piracicaba realizou em junho (24) uma audiência pública para debater a maioridade penal. O público lotou as dependências do plenário para ouvir e participar do debate. A ideia da realização da audiência foi do Vereador Pedro Kawai (PSDB), que explicou à reportagem a importância da realização do encontro com a sociedade. Segundo ele, o tema vem dividindo opinião, muito embora afirme que “de cada 10 pessoas ouvidas em pesquisas, 9 são favoráveis a redução da idade”. Segundo ainda o parlamentar, muito embora a proposta da PEC 171/93, venha sendo discutida no Congresso Nacional, acha importante que o Brasil inteiro opine através de moções ou outros documentos, o que pensa a população de cada município do Brasil. O encontro teve a participação de vários seguimentos da sociedade de Piracicaba. Estiveram presentes ao plenário, além de alguns vereadores, representantes do Ministério Público, Conselho Tutelar, Prefeitura, Casa do Bom Menino, OAB, e algumas outras pessoas que têm ligação com crianças e adolescentes.

Vanessa de Oliveira, professora municipal, apresentou estatísticas dos menores autores de atos infracionais. Segundo ela, a grande maioria vem de camadas inferiores da sociedade, ou ainda, crianças negras, em sua maioria do sexo masculino. A professora defende, que a solução para a problemática passa por melhor formação em educação. No mesmo sentido também foi a opinião de Telma Regina de Paula, professora da Unimep e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Ela disse que a PEC 171, “é uma vingança covarde contra aqueles que não têm voz e não podem se defender”. A representante da Casa do Hip Hop e da Juventude do PSOL (JSOL), estudante Jaqueline Altomani da Silva, disse que a redução da maioria penal “causaria não apenas o genocídio da população negra e pobre, mas também impediria o acesso desta juventude à educação”. Ela cobrou das autoridades maior investimento em cultura, para proporcionar uma maior ocupação por parte da juventude. Marcaram presença também na audiência pública, os integrantes do recém criado Representante do Levante Popular da Juventude. Mariana Miranda de Paula Assis, disse que o projeto de emen-

da constitucional é “mais um retrocesso do atual Congresso Nacional que o País pode vir a sofrer”, em referência à conduta dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB. “Reduzir a idade é tratar de um jeito maltratado um sintoma e não causa”. Diego Goularte, que é presidente da Comissão da Criança e Adolescente da 8ª Subseção da OAB, e ali estava representando a presidência da entidade, manifestou-se contrário à PEC 171/1993. “Mas o que precisa salientar é que nenhuma lei muda uma sociedade. A sociedade é quem muda”. Afirmou que “a Constituição é um contrato social, onde um cumpre para exigir do outro. O Estado precisa cumprir as suas obrigações e não adianta a gente não cumprir e passar a outro para cumprir.” Também o recém-criado movimento “Ocupe O Largo”, esteve representado no evento através de Thiago D’Angelo, que lembrou a realização de uma reunião ocorrida em maio, onde discutiram a redução da maioridade penal, afirmando que achava estranha a pesquisa divulgada pela imprensa, quando colhida a opinião de 70 pessoas que participaram do evento, 87% eram contra a redução da maioridade. A estudante de psicologia da Universidade Metodis-

ta de Piracicaba, Natália Carta de Souza, questionou se o adolescente que for preso pela polícia, se esta está preparada para isso. Questionou ainda, em caso de redução da maioridade penal, se os adolescentes terão os mesmos direito dos adultos, ou seja, o de dirigir, ingerir bebidas alcoólicas e acesso a pornografia. O Coordenador do Serviço de Apoio ao Adolescente com Medida Socieducativa (SEAME), Fábio Dias da Silva, fez um histórico do serviço, desde a sua fundação, pelo então bispo de Piracicaba, dom Eduardo Koaik. Fábio concluiu sua fala dizendo que “a redução da maioridade penal só irá agravar a violência, porque existe um problema social”. Representando a secretária de Desenvolvimento Social (SEMDES), que não pode comparecer por motivos de viagem a São Paulo, falou a Assistente Social Soeli Danelon, reprovando de forma veemente a aprovação da PEC 171: “A gente sabe que apesar do esforço, o trabalho é insuficiente, porque precisaria ter mais serviço e mais gente para atender

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ainda mais”. Ela defendeu a intersetorialidade do assunto na atuação junto com outras secretarias municipais. “Nenhuma dá conta, sozinha, desta demanda”. O representante do Ministério Público, Promotor de Justiça, Paulo Kishi, disse que por integrar a entidade, é contra qualquer redução, porém como cidadão é favorável, mencionando inclusive que seu filho é contra a redução da maioridade, assim como sua esposa que é Procuradora da República, justificando o seu posicionamento “que existe uma realidade da cooptação do jovem pelo tráfico de drogas e que isso precisa ter uma resposta da sociedade.”

A dependência da Câmara ficou tomada pelo público

A opinião elevou o tom da audiência, tendo o vereador José Antonio Paiva (PT), mostrado-se decepcionado com tal posicionamento. O vice-presidente da Casa do Bom Menino, advogado Guilherme Mônaco de Mello, sugeriu o endurecimento do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), disse que “existem alguns pontos convergentes, entre favoráveis e contrários à proposta, que é a de todos terem receio de serem vítimas de um ato criminal”, e da necessidade de políticas públicas para melhorar a sociedade. Ressaltou que “o ECA é uma legislação de primeiro mundo, que, infelizmente, não conseguimos aplicar no País”.


segurança

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Júlia Godinho

jigsantos@unimep.br

O

número de mulheres assassinadas no Brasil aumentou 230% nos últimos 30 anos. Aqui 5 mil mulheres são assassinadas todos os anos e o país está em 7° no ranking mundial, desse tipo de violência. Entre 2000 e 2010 foram assassinadas mais de 43,7 mil mulheres no país, 41% delas mortas em suas próprias casas, muitas vezes por companheiros ou ex-companheiros. A luta pelo direito das mulheres já vem de muito tempo atrás e está dando pequenos passos em direção a igualdade de gêneros. Em 2006 foi aprovada a lei Maria da Penha, que garantiu alguns direitos às mulheres que forem agredidas, o agressor, quando mora na mesma casa da vítima, tem que sair da casa, antes ela que tinha que sair; é garantido o respaldo da justiça; a vítima não pode retirar a queixa, tem que esperar o processo seguir em frente; a pena não é mais paga com cestas básicas. Mas ela sozinha não conseguiu diminuir a violência contra mulher. A lei do feminicídio, que foi aprovada em março desse ano, estabelece que existem razões de gênero quando o crime envolve violência doméstica e familiar, ou menosprezo e discriminação contra a condição de mulher. As penas podem variar de 12 anos a 30 anos de prisão. O projeto prevê aumento da pena em um terço se o crime acontecer durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto, se for contra adolescente menor de 14 anos ou adulto acima de 60 anos ou ainda pessoa com deficiência e se o assassinato for cometido na presença de descendente ou ascendente da vítima. Para a feminista Maria Isabel da Cruz essa lei irá ajudar as mulheres em sua luta pelos seus direitos “Esta Lei vem contribuir no combate a uma cultura machista e autoritária que perpassa pelos credos religiosos, pelo judiciário, pelos partidos políticos e sem dúvida pelas famílias. Acredito que hoje muitas são as nossas conquistas e o objetivo não é punir os homens, mas sim, criar um instrumento para trazer um novo olhar para a vida, construindo uma sociedade mais justa e igualitária onde mulheres e homens tenham os mesmos direitos e deveres. E que a força física não prevaleça.” E ela completa dizendo: “por muitos anos, um homem quando assassinava sua esposa, namorada, conseguia se safar de ir

Matar mulher

agora é crime

hediondo

Esse ano foi aprovada a lei que tipifica o feminicídio como homicídio qualificado. A aprovação do projeto era uma reivindicação da bancada feminina e ocorreu na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher (8 de março).

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para cadeia e pagar por seu crime alegando “defesa de sua honra”, essa cultura ainda está arraigada em nós. Tenho certeza que esta lei vem contribuir para que esta cultura machista seja combatida, trazendo um novo olhar, inclusive para as mulheres.” Mas nem todos concordam que essa lei irá trazer benefício paras as mulheres, o professor de direito penal José Renato Matins, explica que, para ele, na prática essa lei não ajudará muito “Esse tipo de crime já era classificado antes da nova lei como homicídio qualificado pela torpeza (artigo 121, § 2º, I, CP) e agora passa a ter uma qualificadora específica. Ou seja, o crime continua sendo qualificado, mantendo-se, ainda, o caráter hediondo da conduta. Na prática tal mudança não irá acarretar maiores benefícios para as mulheres no que se refere à reprimenda penal. Trata-se daquilo que se convencionou chamar-se como Direito Penal Simbólico.” E ele completa dizendo que o que realmente garante proteção às mulheres são políticas públicas voltadas para tal objetivo. Um dos problemas para que essa e outras leis funcionem é o medo que as mulheres têm para denunciar seus agressores antes que seja tarde demais. Para que as mulheres tenham coragem de denunciar é necessário um maior respaldo estatal para a vítima (colocação em abrigo provisório, ajuda de custo para mantença dela e dos filhos), isso estimularia as vítimas a registrarem os fatos. Para Maria Isabel um dos motivos é a situação financeira das mulheres. “O medo e a insegurança financeira são dois fatores que pesam muito para as mulheres tomarem a decisão de buscar esta ajuda no serviço público. Ainda é muito pregado entre nós que o ‘privado não pode ser público’, ‘briga de marido e mulher não se mete a colher’, ‘ela apanha por que gosta’ ...entre outros ditos populares que reforçam o machismo. É importante criar campanhas nas escolas, nas rádios, TV, grupos de estudos, divulgar a central de atendimento à mulher 180 da Secretaria de Políticas Públicas para as mulheres. Reivindicar a criação das Delegacias da Mulher 24 horas, entre outras iniciativas.” Nem todos concordam que a lei do feminicídio irá ajudar a situação das mulheres no Brasil. Mas querendo ou não ela é um avanço na luta por mais direitos, a lei, resumidamente, irá punir a pessoa que matar a mulher pelo fato dela ser mulher. E todos anos milhares de mulheres são mortas por isso.

Campanha contra o câncer foi lançada em feira alternativa de tatuagem

cio. Quem ainda não fez sua tatuagem ou comprou sua camiseta, com o logo, e gostaria de contribuir com o projeto, as camisetas e os desenhos estarão disponíveis no Studio 9 Tattoo permanentemente e todo seu lucro será revertido e doado à instituição.

Larissa Lojó

lrlferreir@unimep.br

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ioneira no Brasil, a estreia do projeto “Tattoos Contra o Câncer” foi um sucesso, arrecadando R$ 3 mil nos três dias da sexta edição do evento Tattoo Fest de Rio Claro. A iniciativa do empresário Leonardo Dutra, e toda a equipe do Studio 9 Tattoo, mobilizou os mais de 200 tatuadores de todo o Brasil que participaram do encontro, que aconteceu de 24 a 26 de abril. O objetivo do projeto é arrecadar dinheiro com a venda de camisetas, com o tema e logo da campanha, e tatuagens para reverter em doações para o “GACC Rio Claro” (Grupo de Apoio às Crianças com Câncer), que presta atendimento aos pacientes de zero aos 24 anos com câncer e, ou doenças he-

matológicas crônicas de Rio Claro e mais quatro cidades da região. Ele foi inspirado no projeto original “Tattoos Cure Câncer”, idealizado por Adam Guyot, tatuador no estado da Califórnia nos Estados Unidos. A idealização da campanha, no Brasil, é de responsabilidade do Leonardo Dutra e dos integrantes do Studio 9 Tattoo, sob autorização e acompanhamento dos fundadores norte-americanos. “No evento houve um stand exclusivo do projeto, onde os tatuadores presentes realizaram as tatuagens”, relata Dutra. As tatuagens têm o valor mínimo de R$ 100,00 e quem quiser se tatuar poderá escolher dentre os desenhos já criados com o tema do projeto. A senhora Anamir Figueiredo Anico, 69 anos, além de trabalhar no evento,

contribuiu com o projeto e saiu satisfeita com a sua nova tatuagem. “Ótima, foi uma boa iniciativa”, Anamir elogia a campanha. Ao final do evento o dinheiro, arrecadado com a venda de camisetas e a realização das tatuagens, foi entregue ao Roger Rocco, diretor do GACC, que apoiou a ideia do projeto desde o iní-

Fotos: Larissa Lojó

Campanha procura ajudar o GACC de Rio Claro, arrecadando dinheiro através de tatuagens e venda de camisetas

O evento Nos dias 24, 25 e 26 de abril foi realizada a 6ª edição do Tattoo Fest de Rio Claro. O evento, apesar do tema, conseguiu reunir um público de várias idades com atrações como campeonato de skate profissional e amador, shows, exibição de filmes, premiação das melhores tatuagens do evento e o Miss Tattoo Fest. O evento foi realizado no Centro Cultural Roberto Palmari. Nos três dias do evento cerca de 8 mil pessoas foram prestigiar os mais de 200 profissionais do ramo de todo o Brasil. “Cada vez mais o público vem crescendo e os tatuadores e expositores estão mais interessados em participar”, comenta Marcelo Raposo, tatuador, idealizador e organizador do evento. No evento, além dos stands de tatuagem, havia também stands de lojas alternativas da região; acima, Anamir Figueiredo, de 69 anos, escolheu um desenho de seu agrado e contribuiu para a campanha


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cultura

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Sinfônica de Piracicaba é reformulada por Jamil Maluf cbneves@unimep.br

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Orquestra Sinfônica de Piracicaba (OSP), ou simplesmente Orquestra de Piracicaba tem uma história que começou em 1900. Seu primeiro regente foi Lázaro Lozano e depois deles, inúmeros músicos estiveram à sua frente. É de se imaginar que entre cem anos diversas coisas mudaram. Agora, aos 115 anos de “vida” completados neste ano, a OSP ganha de presente um desafio: reinventar-se. Mas, qual regente mais capacitado, sensível, apaixonado pela música erudita e com vasta experiência nesta área poderia assumir a regência e seria capaz de reformular o grupo por completo da OSP? A resposta não foi tão difícil, e, então, em 2014 Jamil Maluf - um dos mais brilhantes maestros do Brasil - aceitou o desafio e atualmente exerce cargo de diretor artístico da Sinfônica. Para o maestro, esta oportunidade tem de ser aproveitada. “Quantos maestros passam a vida toda sem uma orquestra? Eu tive a chance de criar a Experimental e, agora, recebo a oportunidade de reinventar um novo grupo”. Nascido em Piracicaba, filho de Jamil e Talge Maluf, desenvolveu junto à Orquestra Sinfônica Jovem do Teatro Municipal de São Paulo um grande

trabalho de popularização da música erudita, seu maior objetivo, desde 1981. “Eu não sei quem eu seria sem a música erudita”, conta o maestro. “Os jovens de hoje deveriam reservar, pelo menos, 30 minutos do seu dia para apreciar a música clássica. É uma paz que toca a alma”, complementa. A cidade de Piracicaba pode se orgulhar de possuir um dos mais fluentes maestros do Brasil, e premiado quatro vezes o melhor regente pela Associação de Críticos de Arte. Jamil, apesar das raízes piracicabana, passou seis anos na Alemanha, onde estudou e regeu diversas orquestras. É um dos fundadores da Orquestra Experimental de Repertório, da qual permaneceu como regente por 24 anos. “A vida é corrida”, afirma. Ao assumir a regência da Sinfônica de Piracicaba, Jamil, que tem mais de 30 anos de experiência no Teatro Municipal de São Paulo, conta que seu desafio é de transformar a OSP em um corpo estável, que possa contribuir para a produção cultural brasileira e disseminar o nome de Piracicaba cada vez mais. “Não só como celeiro formador de músicos, porém, como mantenedora e produtora de música erudita de alto nível por todos os cantos”, responde ao ser questionado sobre a importância da música clássica. Em 2015, o cenário é diferente. Maluf realizou audições para completar o quadro de 53 músicos, formado de profissionais e estudantes entre eles, músicos com que já havia trabalhado na Expe-

Aos 115 anos, orquestra ganha nova cara

rimental, como o violoncelista André Micheletti. Em março de deste ano, a Sinfônica realizou processo seletivo para a composição de novos músicos. Foram abertas 17 vagas de estágios para todos os naipes de orquestra e a audição foi disputada por 320 candidatos de seis estados. A OSP conta, hoje, com 53 instrumentistas, 36 profissionais e 17 estagiários, quadro que é completado por convidados sempre que o repertório exige. “O candidato que tiver nota igual ou superior a 9 poderá ser convidado a integrar o quadro de instrumentistas profissionais da OSP”, explica Jamil. A iniciativa faz parte das comemorações aos 115 anos da Sinfônica, cujo projeto prevê a criação do Centro de Estudos Musicais, voltado ao aperfeiçoamento da técnica e da performance dos estagiários, e a realização de concertos mensais e didáticos, com foco na formação de plateia qualificada para a música sinfônica. Este ano, a temporada da Sinfônica é especial e histórica. As apresentações são no Teatro do Engenho – em um prédio histórico construído em 1934, mas que nesta data a Orquestra já estava vivendo a maturidade. Para José Carlos de Moura, que está há mais de 20 anos na diretoria da OSP, talvez agora a Orquestra consiga

Além de uma prática sinfônica de qualidade para essas pessoas, uma possibilidade de emprego” atingir o que era o objetivo de seus fundadores. “Eles imaginavam uma escola que formasse músicos e que formasse público consciente do valor da arte”, conta o diretor. Para Maluf, a procura é alta e se justifica pela “carência de bons projetos, que reúnam profissionais com experiência e autêntico interesse em transmitir conheci-

Rodrigo Alves/Divulgação/OSP

Caroline Neves

Maestro está na Orquestra Sinfônica de Piracicaba há um ano

mento e formar os melhores músicos para atuar na vida musical do nosso país”, destaca o maestro. “A reativação desta Orquestra veio em um momento muito importante que é para oferecer, além de uma prática sinfônica de qualidade para essas pessoas,

uma possibilidade de emprego”, conscientiza Maluf. Até dezembro, serão apresentados mais oito programas, com maestros e artistas convidados, antecedidos de palestras do professor da Unicamp Jorge Coli.

LARANJA É A COR MAIS QUENTE Letícia Castro

lmcastro@unimep.br

O

riginada de uma história real, a série americana “Orange is the new Black” criada por Jenji Kohan é baseada no livro de Piper Kerman, “Orange Is the New Black: My Year in a Women’s Prison” (Laranja é o Novo Preto: Meu Ano em uma Prisão Feminina). Produzida pela Tilted Productions em associação com Lionsgate Television, a série é uma produção original Netflix que já está na sua terceira temporada. Trata-se de uma narrativa inusitada e envolvente. Primeiramente por quebrar tabus e falar abertamente sobre diversos temas polêmicos, como drogas e homossexualidade, além de retratar a vida na cadeia. O grande diferencial da série é seu compromisso em mudar os estereótipos das mulheres nas penitenciárias, humanizando e desmistificando a criminalidade. São mulheres que precisam, em sua maioria, de apoio social e psicológico. É também uma crítica ao sistema carcerário americano, às superlotações dos alojamentos e à inutilidade de manter as pessoas presas sem dar a elas nenhum

tipo de preparo ou cuidado para que se tornem pessoas melhores. Piper Kerman, interpretada por Taylor Schilling, quando jovem, queria viver

novas experiências, conhecer pessoas diferentes e descobrir o que fazer com o diploma recém-adquirido da pres-

tigiosa Smith College. Anos depois, com um bom emprego e prestes a se casar, ela recebe uma visita inesperada: a polícia. Piper estava sendo intimada para responder por

envolvimento com o tráfico internacional de drogas. A acusação era verdadeira: Piper teve um caso com a traficante Alex (Laura Prepon) que a convenceu a levar uma

maleta de dinheiro para a Europa. Depois de uma dolorosa aventura pelo sistema judiciário americano, Piper é condenada a quinze meses de detenção numa penitenciária feminina no meio do nada longe dos amigos, do noivo, da família e de tudo o que ela conhecia. Em “Orange Is the New Black”, Piper apresenta casos curiosos, perturbadores, comoventes e divertidos do dia a dia no presídio. Cercada de criminosas, logo percebe que aquelas mulheres são muito mais complexas do que ela imaginava. Ao mesmo tempo em que aprende a conviver com regras arbitrárias e um rigoroso código de conduta, Piper revela as alegrias e angústias das presidiárias e analisa a crueldade com que o sistema carcerário as desumaniza e faz com que sejam invisíveis ao mundo exterior. A série propõe dividir as experiências de Piper e outras detentas com o espectador, para quem gosta de embarcar em histórias reais, porém divertidas. Classificada como drama, a comédia faz parte da estratégia de alavancar a audiência. Estratégia que vem funcionando. O resultado é a repercussão positiva na mídia e os fãs de diversas classes sociais e partes do mundo.


cultura

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Independência ou morte beatriz.margrazi@hotmail.com

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s festivais independentes têm imensurável importância para dar voz e visibilidade para bandas, grupos e manifestações artísticas e culturais que não possuem o apoio comercial para realizar e veicular seu trabalho. “Geralmente os festivais acontecem de forma colaborativa e sem financiamentos. Tem em sua programação artistas que não fazem parte de um circuito comercial” explicou Mari Pedrozo e Leonardo Magnin, organizadores do CURAU em entrevista por e-mail. Os responsáveis pela organização desses eventos são coletivos interligados à rede Fora do Eixo - uma rede de grupos que se organiza através da mídia livre, economia criativa e solidária e formação livre, impulsionando a criação de diversos projetos. Em Piracicaba, o representante do Fora do Eixo é o coletivo Piracema, um grupo de pessoas que se unem para compartilhar um modo de vida que foge do convencional. Desse mix surge um pessoal que trabalha na promoção da cultura, meio ambiente, mídia livre e economia solidária. Gustavo Ribeiro, participante do coletivo King Chong em Limeira, se apresenta com seu grupo de rap “Diretriz” nos festivais e relata que o cenário alternativo foi o responsável por abrir portas para a veiculação do trabalho, já que não há a necessidade de contratos e grandes burocracias. “É uma experiência única. O trabalho é árduo e bem diferente do circuito comercial, mas é muito mais humano e criativo. Nós circulamos por diversas cidades da região de Limeira, São Paulo, Rio de Janeiro e fizemos apresentações na Bolívia”, relatou. Porém, mesmo com os diversos benefícios que esse tipo de evento proporciona para o público, bandas e organizadores, Ribeiro diz que o momento é de crise, tanto econômica quanto

A cena independente tem como proposta fortalecer culturas regionais e usufruir de tecnologias livres, além de disseminar artistas que estão fora do âmbito comercial

Coletivo King Chong

Beatriz Martins Graziano

Gustavo Ribeiro, do Coletivo King Chong, conseguiu levar o seu trabalho para fora do país a partir dos circuitos culturais

social. Dessa forma, é necessário se reinventar, criando novos métodos e processos criativos, para que um maior número de pessoas se identifique e participe do festival. Independente das dificuldades, o integrante da Diretriz revela que o real valor desse tipo de evento não se baseia no dinheiro e que não há interesse em integrar o âmbito comercial. “Nós não temos intenção de nos submeter a gravadoras e empresários. Estamos trabalhando e estudando para aprender a gerir nossa própria carreira e ter autonomia em todos os processos”, afirmou. Já em Piracicaba, especificamente, os dois maiores eventos independentes são o CURAU e o Grito Rock. Curau O festival de Culturas Regionais e Artes Urbanas (CURAU), foi criado e é reali-

Os festivais acontecem de forma colaborativa e sem financiamentos. Tem em sua programação artistas que não fazem parte de um circuito comercial” zado pelo Coletivo Piracema desde 2012. Segundo Mari Pedrozo e Leonardo Magnin, organizadores do evento, o festival visa valorizar e fortalecer as múltiplas linguagens artísticas e culturais brasileiras, principalmente a cultura piracicabana, seja nas expressões tradicionais, que são passadas de geração em geração há anos, nas manifestações mais recentes e

urbanas, que não deixam de ter seu valor cultural e social, e por fim, defendem novas propostas que integram diversas vertentes da cultura popular brasileira. “Tanto o festival visa a realização de dezenas de apresentações artísticas de várias linguagens, abrangendo o teatro, a música e a dança de maneira gratuita em diversos espaços públicos Beatriz Martins Graziano

Leonardo Magnin e Mari Pedrozo, do Coletivo Piracema e organizadores do CURAU, querem melhorias no evento

da cidade. Busca-se também a integração de grupos em apresentações inusitadas como do Rap com o Cururu - repente do interior de São Paulo - e da capoeira com o break dance”, comentaram os organizadores do evento. Por conta dessa miscigenação, o desenvolvimento e troca de conhecimento acabam sendo um dos pilares de grande importância para o festival. Para isso há a promoção de debates e oficinas abertas relacionadas à cultura popular, além da discussão de temas como meio ambiente, sociedade e encontros e vivência internas de grupos populares. Dessa forma, o CURAU atinge público diversificado, de diferentes classes sociais e idade, e ganha ainda mais credibilidade por somar a acessibilidade a pessoas com deficiência física. “Os pilares são os conceitos de inclusão sociocultural, desenvolvimento sustentável e economia criativa e solidária, de forma que as atividades do festival têm como cerne das propostas seus valores coletivos e a estruturação de novos modelos de negócios para a cultura. Nesse contexto, o festival visa integrar diversos atores que já trabalham com cultura e meio ambiente na cidade, abrindo diálogo com os Conselhos e Secretarias Municipais, Pontos de Cultura locais, Sesc, o Sesi e a Casa do Hip Hop, além de outros grupos e instituições. Além disso o festival convida colaboradores para participar do festival com o intuito de fortalecer o evento e de promover o aprendizado destas pessoas interessadas em trabalhar com cultura”, acrescentou Mari Pedrozo e Leonardo Magnin. O evento sofre influência de outros festivais como o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e o Festival Contato, além das manifestações culturais urbanas e tradicionais piracicabana. De acordo com os organizadores, tanto o CURAU quanto os outros festivais modificaram a cena independente, promovendo novas bandas que não estão inseridas no âmbito comercial, criando novas possibili-

dades de produção e unindo agentes culturais. De forma geral, isso interfere de forma positiva no festival, já que a população tem valorizado cada vez mais esse evento, garantindo público mais presente, e as parcerias tem ficado cada vez mais fortes, fazendo com que todos saiam ganhando. Os organizadores ainda afirmam que a média é de 7 mil pessoas por edição, número considerável que já faz o festival ser considerado tradicional em sua quarta edição no município. Mas mesmo com toda a repercussão, os organizadores estão sempre em busca de melhorias. “Há algumas metas a serem atingidas, como aumentar a captação de recursos públicos e privados para a produção de um festival com maior qualidade e boa remuneração para os produtores e artistas participantes, aumentar o envolvimento dos grupos culturais da região através da realização de encontros e da vinda de grupos tradicionais e urbanos de diversas outras regiões do país, e melhorar a estrutura do evento com uma sinalização mais precisa, além de palco, tendas e equipamentos de maior qualidade”, finalizou Mari Pedrozo e Leonardo Magnin. Grito Rock O Grito Rock é um festival colaborativo e baseado nas tecnologias livres. O evento nasceu em 2002, em Cuiabá (MT) e hoje está presente em mais de 40 países, conectando os quatro cantos do mundo. O objetivo é compartilhar experiências e tecnologias com novos produtores afim de estimular a circulação de bandas, grupos e artistas, além das discussões sobre a cultura independente. O festival adquiriu marca exponencial em 2011, quando alcançou a marca de 130 cidades, em oito países, movimentando duas mil bandas e aproximadamente 200 mil espectadores, mas foi em 2013 que ganhou amplitude global, tendo edições em toda a América Latina, Europa e África. O evento presenteia a população piracicabana, e os turistas, com a promoção da cultura. “Geralmente o Grito Rock é organizado pelo coletivo Fora do Eixo, que em Piracicaba é representado pelo coletivo Piracema, mas esse ano o evento foi feito por um produtor local, o Dj Crypton”, comentou o produtor Wendel Degaspari. A premissa para a criação do festival era ser uma opção para o carnaval, já que o evento ocorre no mesmo período, apesar de acontecer em datas diferentes dependendo da cidade, e para provar que o rock, em todas as suas vertentes, tem seu espaço. Normalmente há a ocupação de diversos locais para abrigar as atividades que o Grito Rock proporciona, que é sempre administrada pelo produtor do festival. Os espaços são escolhidos de acordo com a sua importância e interferência na cultura e diversidade local, em Piracicaba, por exemplo, a região da Rua do Porto, como a Casa do Povoador, Toca do Vinil e o Casarão, são locais mais explorados por conta do perfil, que condiz com o intuito do evento, e pela sua importância histórica na cidade. De acordo com Wendel, cerca de mil pessoas passaram pelo evento esse ano.


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turismo

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Fotos: Ana Carolina Brunelli

Caminhando em diversidades Área oferece ampla pista de caminhada, além de diferentes opções de lazer para todas as idades

Árvores proporcionam um ambiente mais agradavél e com sombras

Professores e alunos de academias trocaram a sala fechada, os equipamentos e ventiladores pelo ar livre e a natureza que a área de lazer da Rua do Porto oferece e se reúnem, geralmente em grupos, para praticar caminhadas, corridas e treinos diversificados. É o caso de Welligton Correia, que há 20 anos é professor de educação física e hoje optou por trabalhar na área de lazer. Ele monta uma pequena estrutura no meio do parque e espera os alunos chegarem para iniciar a aula. “Preparo os treinos de acordo com objetivo de cada pessoa, que buscam unir saúde e lazer” ressaltou. O parque também é utilizado para a prática do slackline, esporte de equilíbrio que o objetivo é se manter em cima de uma fita de nylon, estreita e flexível, sem se desequilibrar. Muitas pessoas vêm aderindo a nova moda e amarram suas fitas de uma árvore à outra para praticar o esporte. Ana Lucia Novello, 30, é paraquedista e frequenta a área de lazer para praticar o slackline. “Escolhi a Rua do Porto, pois é um lugar amplo, você encontra muitas pessoas, pode ficar descalço na grama, é uma verdadeira terapia”. Inicialmente, Ana começou a praticar o slackline para fortalecer os joelhos e melhorar seus pousos como paraquedista, mas hoje o esporte se tornou uma diversão para ela.

Ana Carolina Brunelli cabrunelli@msn.com

Á

rvores, sol, sombra, água de coco e muita movimentação. Esse é o cenário da área de lazer do Parque da Rua do Porto, ponto de encontro de piracicabanos e turistas que apreciam uma boa caminhada ao ar livre. Uma volta inteira pela área é equivalente a dois quilômetros e você ainda pode dar uma pausa na caminhada para fazer alguns exercícios nos equipamentos ou se alongar durante todo o percurso. Além da pista para caminhada e extensa área verde, o espaço oferece outras atrações como caiaque e pedalinho e também é um ambiente ideal para realizar piqueniques, encontrar os amigos ou até mesmo praticar atividades físicas alternativas. Elizeu Marcelino Correr, 64, frequenta a área de lazer, diariamente, desde que foi inaugurada. Toda manhã realiza sua caminhada e às vezes leva seus netos para brincar e passear. “O ambiente, a sombra e as pessoas me agradam muito aqui” comentou.

Passeio de pedalinho é uma das opções de lazer para as famílias

O sabor piracicabano

A

ntigamente bastava acender o fogo em um tambor a beira do rio, uma roda de amigos e esperar o peixe assar ali mesmo. Hoje, no lugar do tambor está a brasa, mas a roda de amigos e a vista para o rio continuam os mesmos. Conhecida como “O lugar onde o peixe para”, Piracicaba é famosa pela gastronomia da Rua do Porto, local repleto de restaurantes que oferecem dois peixes muito cobiçados em toda a região, a piapara e o filhote de piraíba. Esses são pratos especiais que motivam tantas pessoas a conhecer a cidade e degustar da gastronomia a beira do Rio. Mas claro que os estabelecimentos oferecem outras opções, como carnes, frango, massas e doces para atender a todos os gostos. Florismar Tadeu da Rocha é garçom há dez anos na Rua do Porto e afirma “Aqui o forte é o peixe e o cartão de visita é o rio”. Para ele é muito prazeroso trabalhar nesse ambiente sempre cheio de turistas querendo conhecer a gastronomia piracicabana. O peixe realmente atrai

Cheiro de cultura no ar!

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m meio a tantas árvores, pessoas, restaurantes e carros, você, sem dúvidas, vai esbarrar em um ambiente onde é possível sentir a cultura local. A Feira de Artesanatos, essa, não pode ficar de fora do roteiro a Piracicaba. Para aqueles que amam artesanatos, será difícil não se render. O local possui hoje cerca de 40 barracas com uma grande diversidade de artesanatos. Uma das pioneiras da feira, Gê Oliveira, 58, largou a profissão de química para dedicar-se ao artesanato, que até hoje, é sua única fonte de renda. Há 35 anos exibi suas peças na feirinha da Rua do Porto, a qual ajudou a inaugurar. Os produtos de Gê são feitos com gesso, cerâmi-

ca, madeira ou resíduos e ela afirma amar o que faz. “Tudo é gratificante. Você tem a chance de oferecer um produto produzido por você. Aqui você interage com vários tipos de cultura, pessoas diferentes, podendo aprender coisas novas e também ensinar”, ressaltou. Os artesãos dão vida ao local. A grande maioria dos produtos são criados por eles, desde brincos, pulseiras, anéis, bonecas de pano, camisetas com pinturas feitas a mão, grandes peças, toalhas bordadas e até quadros com desenhos da cidade para levar como lembrança da cidade. O horário de funcionamento da Ferinha é das 10h às 18h todo sábado e domingo. Fotos: Ana Carolina Brunelli

Peixes são assados na brasa e servidos em mesas com vista para o Rio

muitos turistas. Veronice dos Santos, 41, mora em Limeira, mas com bastante frequência visita a Rua do Porto, principalmente por causa da gastronomia. “Venho sempre para comer algum peixe, principalmente a piapara” disse. Além dos restaurantes, todo mês alguma festa é realizada no local. Entre as mais conhecidas estão a do Peixe

e da Cachaça, a festa do Sorvete, dos Nordestinos, dos Mineiros e do Divino, festa tradicional da cidade. O lugar é uma mistura de gastronomia, cultura e lazer. Ao lado dos restaurantes está a Feira de Artesanatos e uma grande área verde para caminhar ou simplesmente relaxar. Bem próximo encontra-se o Engenho Central, localizado a beira do rio. Hoje

possui um teatro e é bem ao lado das pontes, lugar bacana para tirar algumas fotos e registrar o momento. Para os interessados em degustar os famosos peixes os preços variam: piapara (em média R$ 55,90 serve três pessoas) e filhote de piraíba (em média R$ 79,90 serve três pessoas), todos os pratos acompanham arroz, molho tártaro e pirão.

Artesãos exibem seus produtos em cerca de 40 barracas diferentes


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