Jornal de Classe - edição 05 - setembro/2016

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep

Felipe Gonçalves

Setembro/2016 • Edição 05

ENTREVISTA

Paulo Henrique Amorim, jornalista da TV Record, opina sobre eleições municipais, influência da imprensa, crise política e poder. Página 12

Mais de 800 mil eleitores devem ir às urnas domingo

Quantidade de eleitores sem o ensino fundamental completo em quatro cidades da região é maior que todo o eleitorado de Limeira, aponta TSE. Página 7 Rober Caprecci

CÂMARAS DA REGIÃO REGISTRAM ATUAÇÃO IRREGULAR E PROJETOS POLÊMICOS

Mulheres representam apenas 30% das candidaturas

Página 6

NÃO É SÓ VOTAR, ALERTA PROFESSOR DA UNIMEP Página 3

Representantes de coletivos, organizações e entidades de Piracicaba promoveram debates políticos na periferia

Jaqueline Altomani

Redes sociais são usadas como verdadeiros ringues Basta a aproximação de um período eleitoral ou de uma polêmica votação no Congresso Nacional para que as redes sociais sejam inundadas por comentários carregados de ódio, que pouco contribuem para a troca e a formação de opiniões. Para o professor de filosofia, José Lima Júnior, as redes sociais não são culpadas pelo ódio político que

Mesmo em maioria entre os eleitores, as mulheres não têm destaque no número de candidaturas no Brasil, nem no plano de governo da maior parte dos candidatos às prefeituras. Em Piracicaba, uma das maiores e mais urgentes reivindicações do público feminino é o funcionamento da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) por 24 horas e também aos finais de semana. Página 13

Acessibilidade

se disseminou pelo país. “De certo modo, as redes ‘apenas’ dão maior visibilidade a um fator talvez anterior e mais sério: a deterioração dos paradigmas culturais promotores do respeito e da delicadeza”. Na região há moradores que respondem na Justiça pelo uso indevido da liberdade de expressão ao expor suas insatisfações na internet. Página 14

Relatório aponta aumento de 22% no número de seções especiais no Estado entre 2010 e 2014; Justiça Eleitoral garante acesso às urnas Página 11

Veja quem são os candidatos às prefeituras das cidades da região Páginas 8 e 9

Abstenção sobe 32% na comparação entre as disputas de 2012 e 2008 Página 16

Problemas à espera de solução

Marcos Barbosa

Moradores sofrem com violência, postos sem médicos e crise financeira do poder público Os prefeitos eleitos para comandar as cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro, nos próximos quatro anos, terão muito trabalho a partir de janeiro de 2017, se quiserem reduzir a extensa lista de reclamações de quem vive nos quatro municípios. Não bastasse a crise financeira que assola os cofres públicos das prefeituras de maneira geral, quem assumir o Poder Executivo em Americana

terá pela frente, ainda, uma cidade que tenta se reconstruir após a desastrosa gestão do prefeito cassado Diego de Nadai (PTB). Por toda a região não faltam ruas e avenidas esburacadas, frotas de ônibus antigas a serviço de um transporte público caro e pouco eficiente. Em Rio Claro e Limeira, o número de homicídios dobrou no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2015. Páginas 4 e 5


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EDITORIAL

Para além de domingo

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P

obre do eleitor que acredita que seu compromisso com a política termina quando a urna eletrônica emite o som de confirmação do seu voto. A definição de prefeitos e vereadores indica, no dia seguinte à votação, o início da mais valiosa etapa para o fortalecimento da democracia: a participação efetiva do eleitor na fiscalização dos mandatos, no cumprimento de deveres pelos escolhidos para administrar as cidades nos próximos quatro anos.

Infelizmente, poucos são os eleitores que, desprendidos de interesses particulares, fazem chegar ao conhecimento de seus representantes a insatisfação que sentem pela forma como são conduzidos os poderes Executivo e Legislativo na cidade onde vivem. Reclamar para o vizinho, desabafar com os amigos ou, pior, engrossar o coro daqueles que “não gostam de política” não terá qualquer resultado para o fim das mazelas que acompanham desde sempre o modo de se fazer política no Brasil. Mesmo que os horários e as pautas das sessões nas câmaras municipais sejam pouco atrativos para que grande parte da população participe dos encontros semanais, o cidadão não pode deixar de buscar informações sobre a atuação de seus representantes no poder público, seja por meio de sites, jornais, rádios, amigos, e, então, manifestar-se para o político via e-mail, carta, telefone ou pessoalmente sua aprovação ou reprovação pela forma como ele atua. Enquanto o eleitor não ocupar seu legítimo espaço, cobrando efetivamente prefeito e vereadores em nome do bem comum, continuaremos cercados pelos mesmos candidatos, as mesmas promessas, e, pior, necessidades cada vez maiores e mais urgentes. Não são poucos os problemas que atingem as cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro. É normal que os eleitores se distanciem entre si diante de tantas opções de voto. O que não pode ser visto como normal é o desinteresse da maioria a partir de 3 de outubro.

Jornal de Classe EXPEDIENTE Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep Reitor Prof. Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino César Guimarães da Costa Coordenador do Curso de Jornalismo Paulo Roberto Botão Editor João Turquiai Junior MTB 39.938

ARTIGO

O valor do seu voto

Editores-assistentes Caroline Castilho Fernanda Mazi Laís Carvalho Serjey Martins Redatores Amanda Wendland, Caroline Castilho, Daiane Santos, Felipe Gonçalves, Fernanda Mazi, Fernanda Maestro, Isabela Guevara, Jaqueline Altomani, Keline Mendes, Laís Carvalho, Lívia Maria, Mariana Mondini, Mauro Adamoli, Marcos Vinícius, Pedro Gaspar, Serjey Martins, Tainá Oliveira, Thainara Cabral, Thainá Rambaldo, Tiago Marquesini Projeto Gráfico e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) Correspondência Faculdade de Comunicação Campus Taquaral, Rodovia do Açúcar, KM 156 – Caixa Postal 69 CEP 13.400-911 Telefone (19) 3124-1677 unimep.br

Fernanda Maestro

fernanda.maestro@yahoo.com.br

É

sempre a mesma coisa. Você liga a TV, compra o jornal, acessa a internet e as mesmas palavras aparecem: improbidade administrativa, desvio de dinheiro público, corrupção e licitações fraudulentas. Diante da atual conjuntura política do Brasil, os eleitores estão cada vez mais desiludidos na hora de escolher em qual candidato votar nestas eleições. Alguns decidem chutar o balde: recusam todos de uma vez e votam nulo ou branco. Mas será que essas são opções eficientes para o

brasileiro demonstrar sua indignação? De acordo com o artigo 77, da Constituição Federal de 1988, os votos brancos e nulos são descartados, sendo eleito o candidato que obtiver o maior número de votos válidos. Uma das reações mais esperadas e que já vêm sendo registradas nas pesquisas pré-eleitorais para as eleições de prefeitos e vereadores, em 2016, é o aumento do número de brasileiros com intenção de votar em branco ou anular o seu voto. Anular até parece uma boa para quem não se contenta com as propostas apresentadas ou não vê diferença entre

os candidatos. Alguns sociólogos afirmam que política é escolha, e o voto nulo é uma escolha como qualquer outra. Mas votar nulo ou em branco, em um cenário no qual presenciamos tantas lutas pela democracia, é um retrocesso à história e também à conquista dos direitos, a qual devemos nos orgulhar e não evitar. Por isso, a maioria dos especialistas em política considera o voto nulo uma bobagem. O brasileiro, ao optar em agir como um avestruz, enfiando a cabeça na areia até o vendaval passar, estará comprometendo negativamente o futuro do país. O eleitor já possui idade sufi-

ciente para fazer uma escolha responsável, que diminua o poder dos corruptos. O voto nulo só beneficia os que cometeram desvios de conduta no exercício do poder. Nessa situação o voto válido é necessário, pois através dele o cidadão pode demonstrar o que anseia da política brasileira e, futuramente, cobrar resultados pautados nas propostas apresentadas no período de campanha eleitoral. Por mais insatisfeito que o eleitor esteja, sempre haverá alguém que se assemelhe aos seus princípios e ideais. Portanto, há sempre um caminho para o exercício real da cidadania.


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Laís Carvalho

Escolher o candidato é apenas a primeira etapa de um longo período de atenção do eleitor

‘Não é simplesmente votar’, alerta professor Laís Carvalho

laistcarvalho@gmail.com

O Brasil tem aproximadamente 145 milhões de eleitores aptos nas eleições marcadas para o próximo domingo. São homens e mulheres de todas as classes sociais que podem contribuir para o desenvolvimento da democracia no país. Vestir a camisa verde e amarela e colocar a cara em manifestações não é a única forma de mudar os rumos do Brasil, a começar pelos municípios. O Professor de política da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Fernando Albuquerque, afirma que para mudar o rumo político brasileiro é preciso focar no acompanhamento dos candidatos. “A questão do jovem nesse papel é muito importante pela quantidade de informação a que ele tem acesso. Essa ação

Redes sociais revelam aparente politização Com a quantidade de acessos registrados nas redes sociais, é comum ver postagens que mencionam a política e a atual situação brasileira. Memes, piadas e até charges que exploram esse universo, na maioria das vezes, são veiculadas por jovens que retratam uma conjuntura paradoxal entre interesse e política. A cientista social Amanda Marques de Oliveira cita que ao mesmo tempo em que as pessoas parecem ter mais acesso à informação do que antigamente, e que a partir disso manifestam seu posicionamento político nas redes sociais e nas manifestações de rua, isso não reflete o desejo, em, de fato, contribuir para participar das decisões em torno do país. “Também em relação aos jovens, essa situação é reflexo de superficialidade dessa aparente politização que emergiu nos últimos

dois anos, a qual, na verdade, não consegue imprimir o desejo de participação efetiva, mas muitas vezes, apenas reflete discursos de ódio, preconceito e discriminação”, explica. É possível ainda ver que culpar determinados grupos sociais pelas mazelas do país é cada vez mais frequente. Um exemplo citado pela cientista social são as postagens pós eleições de 2014, com críticas aos nordestinos e aos beneficiários do Bolsa Família. “Parece ser o caminho adotado por parte da juventude que se diz ‘politizada’, mas que, ao mesmo tempo, não tem interesse em votar”, completa Amanda, reforçando que a redução do número de eleitores jovens é consequência da triste expressão do perigoso paradoxo entre desinteresse e politização que vemos na sociedade brasileira atual. LC

desencadeia a oportunidade de debater com os colegas sobre esses assuntos”, acredita. Porém, o Brasil enfrenta uma triste realidade: o desinteresse e a falta de participação. Para a cientista social Amanda Marques de Oliveira, esse acontecimento é fruto de um processo cultural e histórico que se desenvolve há tempos. Com maior ou menor intensidade, as elites - que desde antes da formação da República ocupam os lugares mais influentes nos altos escalões da política brasileira - se esforçam em manter a população o mais distante possível das decisões em torno do país. “Um exemplo disso é a própria escolha da região onde se construiu Brasília, um rincão distante e pouco povoado, muito distante dos grandes centros urbanos”, completa.

Ao mesmo tempo, é preciso analisar que no Brasil a educação só teve de fato um incremento nos últimos dez anos, e, ainda assim, com uma vertente muito mais voltada ao produtivismo capitalista do que à formação

É muito difícil saber em quem votar” Ideologia A identificação ideológica com o candidato também é importante. Porém, Albuquerque ressalta que da mesma forma que ela pode ajudar, atualmente, isso tem atrapalhado. Não é comum a participação desses cidadãos nos debates políticos e, por isso, a questão ideológica não pode ser o critério escolhido para o voto. “Os eleitores não estão preocupados diretamente com a ideologia do partido, pois eles não têm esse conhecimento. Não existe no âmbito dos partidos políticos no município um debate ideológico que determine a escolha desse candidato”, diz. Nessa análise, o erro não pode ser direcionado apenas ao eleitor. O acesso ao processo político atrapalha a identificação do candidato e traz a necessidade do “votar por votar”. As campanhas são frágeis e a população foge do debate político, porém, é importante ver o avanço eleitoral levando em consideração a atual situação. Amanda Marques defende a inserção de assuntos da política logo nos primeiros anos de ensino

Alexandre Brandão

Jovens devem encarar com seriedade a presença em debates políticos e movimentos sociais

mais politizada, que enfatize os debates políticos e sociais. Já o professor Albuquerque cita que a presença no debate político e nos movimentos sociais deve ser encarada com seriedade. A vantagem é o crescimento do eleitor em relação à política. A partir disso, os grandes problemas que circulam as esferas sociais vão se resolver, já que o próprio processo democrático se constrói com a participação. “Ser ouvido merece participação. Não é simplesmente votar e achar que o resto é consequência. O papel de um eleitor interessado em mudar o andamento de uma eleição é fiscalizar, cobrar e estar presente”, orienta. É preciso levar em consideração a falta de investimento na educação que desencadeia essa situação, mas o professor cita que o conhecimento desse processo está em tudo, principalmente nos jornais e no debate cotidiano. A partir do momento em que o cidadão tem a informação não só do processo em geral, mas da importância da eleição, passará a entender a efetivação da democracia. “É extremamente difícil você saber em quem votar e grande parte da cidade acaba escolhendo candidatos por questões particulares, desconhecendo o poder que o voto oferece para a nação”, argumenta.

Lições de política são bem-vindas

Escolas devem contribuir com a formação de cidadãos críticos A pauta das últimas discussões de educadores e políticos tem sido a escola partidária. Para alguns estudiosos da pedagogia, “em uma sociedade livre, as escolas deveriam funcionar como centros de produção e difusão do conhecimento, abertos às mais diversas perspectivas de investigação e capazes, por isso, de refletir, com neutralidade e equilíbrio, os infinitos matizes da realidade”. Já para outros, a discussão desses aspectos da cidadania vai contra os princípios dos professores, de apenas expor o conteúdo, discutem ser possível o uso dessa “audiência escolar” para promover seus próprios ideais. Diante dessas definições, é possível ver a necessidade da criação de uma escola politizada, que trabalhe para o desenvolvimento de debates políticos e também de sintetização de um pensamento

Ensinar os alunos não só sobre a separação dos poderes” crítico sem o debate de ideais partidários. Para isso, o professor de política da Unimep, Fernando Albuquerque, cita a importância da quebra do famoso senso comum de que “política não se discute”. Albuquerque diz que o problema maior não é só a falta do interesse político, mas a falta de conhecimento

sobre a política em si, que continua a desenvolver nossa situação histórica e cultural de cidadãos desinformados. “Esse tabu de que política não se discute ainda é muito presente no senso comum, e acaba desencadeando a falta de interesse em conhecer e participar”, cita. Para a cientista política e gestora pública Amanda Marques de Oliveira, a política deveria ser tema dentro das escolas desde os anos iniciais de formação. “Ensinar os alunos não só sobre a separação dos poderes, o funcionamento de cada um, suas prerrogativas ou sobre o sistema partidário em si, mas, também, sobre os teóricos da filosofia política clássica, suas origens”, completa Amanda, defendendo uma formação que habituasse os alunos a estarem em contato com tais debates desde o início de sua escolaridade.

Mesmo assim, Amanda também relembra a complexidade de pensar nessas medidas para um resultado imediato no desenvolvimento desses novos eleitores, principalmente por esses interesses envolverem investimento em educação e cultura. “Essas medidas pontuais, como campanhas educativas por exemplo, podem até resultar em algum incremento no interesse da população pelo tema, mas acredito que de forma muito discreta”, argumenta. Entretanto, vivemos um contexto em que a educação na política vem sendo considerada por setores mais conservadores – especialmente aqueles ligados às bancadas religiosas – como uma forma de doutrinação ideológica, muito combatida inclusive com projetos de lei na linha do polêmico “Escola sem Partido”. LC


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Marcos Barbosa

Prédio anexo ao Hospital Municipal Waldemar Tebaldi, em Americana, começou a ser construído em 2010, mas ainda não oferece condições para atendimento

Espera por exames chega a dois anos Usuários da rede pública de saúde enfrentam problemas de infraestrutura e falta de médicos nas cidades da região

Marcos Barbosa

marcos_pieri@yahoo.com.br

Laís Carvalho

laistcarvalho@gmail.com

Tainá Oliveira

tay_palmeiras@hotmail.com

A exploração das deficiências na saúde pública em campanhas eleitorais é um dos maiores estelionatos contra a população brasileira. Em qualquer município do país, entra prefeito, sai prefeito, as mazelas no setor aumentam, mas as promessas de solução em curto prazo se renovam sem o menor pudor. Em Piracicaba, os leitos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e a demora no atendimento e realização de exames preocupam quem depende da rede municipal. A reportagem apurou que a espera por exames ergométricos e de ultrassom pode chegar a dois anos. A inauguração do Hospital Público Regional de Piracicaba, prevista para o

PIRACICABA

Interrupções no abastecimento atingem milhares de pessoas Moradores dos bairros Novo Horizonte, São Jorge, Planalto, Cantagalo, Kobayat Líbano, Pauliceia, Paulista, Santa Terezinha, São José sofrem com as constantes interrupções no fornecimento de água. Segundo moradores dessas regiões, quando o abastecimento é interrompido, o período sem água dura cerca de dez horas. Todos os bairros urbanos de Piracicaba são

segundo semestre de 2017, é a esperança para diminuir o tempo de espera. Já em Americana, os entraves de infraestrutura e falta de médicos não foram resolvidos após o prefeito Omar Najar (PMDB) tomar posse para o mandato-tampão de dois anos, em janeiro de 2015. A maior crise financeira do município, provocada pela administração anterior, levou Najar a suspender, em julho do ano passado, o atendimento em 11 das 24 Unidades Básicas de Saúde (UBS). Unidades que atendiam 24 horas passaram a funcionar parcialmente. Atendimentos emergenciais foram concentrados no Hospital Municipal Waldemar Tebaldi e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São José, no bairro Cidade Jardim, o que agravou ainda mais a falta de médicos, leitos e a demora no atendimento.

Carol Castilho

atendidos pelo Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), porém, a carência é na falta de manutenção dos encanamentos de ferro. Terezinha Durrer, 77, moradora do bairro Jaraguá, conta que a falta d´água dificulta as atividades domésticas. Mesmo com reclamações constantes de moradores em grupos das redes sociais, o Semae declarou em nota que não há problemas com o abastecimento. “No inverno há o maior controle no abastecimento de água para que não exista quebra nos reservatórios”.

O Hospital Infantil André Luiz está fechado para reformas e segue sem previsão de reabertura. Segundo a funcionária de uma UBS da cidade, que pediu para não ter a identidade revelada, os problemas são frequentes e continuam os mesmos. Ela ainda aponta que com a falta de profissionais na área e a redução de unidades de atendimento, “agendar uma consulta ou exame demora até três meses, dependendo a especialidade”. Greves de servidores públicos fazem parte da gestão Najar, que passou a fracionar o pagamento de salários por falta de dinheiro em caixa. A área da saúde foi uma das mais atingidas pelas paralisações. De acordo com uma paciente ouvida pela reportagem, o longo tempo de espera por atendimento atinge até as consultas de rotina. “Esse vai e vem de greve atrasou tudo

RIO CLARO

Falta manutenção e sobram buracos nas ruas e avenidas A mobilidade urbana e o péssimo estado de conservação das vias também têm sido alvos de reclamações por parte dos moradores. No dia 2 de setembro, João Carlos da Silva, 76, sofreu um acidente enquanto andava de bicicleta pela Estrada de Jacutinga, que liga o bairro Boa Vista II à Rodovia Wilson Finardi (SP-191). Ao passar por um dos buracos da estrada, Silva caiu e sofreu diversos ferimentos,

e a gente tem que esperar. Eu mesma aguardei dois meses para ser atendida pelo clínico”, desabafa. Em 2010 foram iniciadas as obras de ampliação do Hospital Municipal Waldemar Tebaldi, inaugurado na década de 80, mas não há prazo para a conclusão dos serviços. Denúncias de superfaturamento em licitações e desvio de finalidade em verbas enviadas pelo governo estadual, contra a gestão do ex-prefeito cassado Diego De Nadai (PTB), resultaram em paralisações das obras. O último repasse feito pelo governo estadual endereçado à ampliação do hospital foi de pouco mais de R$ 3 milhões, em maio deste ano.

Esse vai e vem de greve atrasou tudo e a gente tem que esperar” Pedro Gaspar

entre eles, traumatismo craniano. Um boletim de ocorrência foi registrado pela família conta a prefeitura, informando que o caso de Silva é grave. Esse não é o primeiro acidente causado por causa de buracos nas ruas e avenidas da cidade. Em julho deste ano, Jessica Spadari Almeida Carreiro da Costa caiu em um buraco no trecho da Avenida 84-A com a Rua 4, enquanto seguia pelo bairro Jd. Parque Residencial. Com o impacto, ela quebrou o nariz e sofreu um corte profundo no rosto.

Apesar dos problemas, a Prefeitura de Americana divulgou no fim do mês de agosto uma parceira com a Faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas, que fará uso do HM para residência e estágio de futuros médicos e enfermeiros. A reportagem tentou contato com a Secretária de Saúde, responsável pelos postos médicos, e com a Fundação Saúde de Americana (Fusame), que administra o Hospital Municipal, mas ambas não retornaram até a conclusão desta reportagem. Em Limeira os atendimentos melhoraram com a adesão do município ao Programa Mais Médicos, do Governo Federal. Com isso, o tempo de espera no agendamento de consultas foi reduzido. Um exemplo disso é o Ambulatório de Saúde Mental, que diminuiu o tempo de espera por consultas de um ano para no máximo cinco meses. O ambulatório atende cerca de 1.300 pacientes por mês. Segundo a coordenadora da unidade, Camila Moreno, a prioridade é atender casos emergenciais, e que para a redução na fila, a solução foi contratar emergencialmente profissionais específicos e remanejá-los aos Centros de Saúde da Família (CSFs). O remanejamento foi necessário pelo grande número de faltas às consultas. De acordo com a coordenadora, “era preciso levar em consideração que os pacientes gastavam, em média, R$ 11 por dia com locomoção. Além disso, muitos deles necessitavam de acompanhantes, tendo o valor dobrado”, explica. Com a mudança, a frequência dos pacientes aumentou. “Era impossível dar continuidade ao tratamento com a quantidade de faltas. Hoje, com a possibilidade de remanejamento, nós trabalhamos com o protocolo de interrupção”.

AMERICANA

Usuários relatam problemas no transporte público As empresas Viação Cidade de Americana (VCA) e Viação Princesa Tecelã (VPT) são as responsáveis pelo transporte de cerca de 780 mil usuários por mês. As reclamações dos usuários do transporte coletivo começaram em 2014, quando um reajuste de 16,6% da tarifa fez com que o valor passasse de R$ 2,70 para R$ 3,15, hoje a passagem custa R$ 3,50. Um usuário do transporte público


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Anderson Gomes

Homicídios

disparam em Limeira e Rio Claro

Nos primeiros seis meses deste ano 24 pessoas foram mortas nas duas cidades; primeiro semestre de 2015 teve 12 assassinatos registrados Pedro Gaspar

pggasparr@mail.com

Rio Claro lidera o ranking de assassinatos em 2016 entre as cidades da região, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP). Só no primeiro semestre deste ano foram registradas 14 mortes, contra sete no mesmo período em 2015, representando aumento de 100%. Em Limeira os casos também dobraram. Foram dez assassinatos nos primeiros seis meses deste ano, contra cinco de janeiro a julho do ano passado. Em Rio Claro, um dos casos que mais geraram comoção foi a morte de João Carlos Cardoso de Mattos, que trabalhava em um carrinho de lanches no bairro Jardim Karan. Ele foi vítima de um latrocínio, roubo seguido de morte. José Antônio Matos, irmão da vítima, acompanha de perto as investigações e pede por justiça: “Nós queremos que o rapaz que fez isso daí seja detido, cumpra a pena e não fique impune, porque senão ele vai cometer outros crimes. A gente quer e vai cobrar respostas”, desabafa. Na cidade de Americana, nove homicídios foram registrados de janeiro a julho deste ano. O número é maior que o volume de assassinatos registrado ao longo de todo o ano de 2015 no município: oito. O setor policial

de Piracicaba registrou 34 homicídios no ano passado. Este ano o número chegou a 13 até o mês de julho. O secretário municipal de Segurança Pública e Defesa Civil de Rio Claro, Gustavo Viegas Carneiro, destaca a responsabilidade do Governo do Estado de São Paulo no combate à criminalidade. “O município pouco pode fazer nesta área, porque a questão da ordem pública é atribuição constitucional da Polícia Militar e a repressão da criminalidade é da Polícia Civil. O município é apenas um ente federado colaborativo. Então, os guardas civis às vezes abandonam suas atividades de fim para socorrer essas instituições, e lutam com muita dificuldade. No Estado de São Paulo e em Rio Claro, particularmente, eu percebo que a Polícia Civil está em um momento muito crítico. Nós percebemos que a polícia envelheceu, muita aposentadoria e pouca reposição. Para você baixar a criminalidade, o país tem que partir por um princípio muito claro: investimentos maciços em indicação e qualificação profissional. Este é o principal objetivo para que você abaixe a criminalidade”, avalia. Roubos e drogas Em Americana os roubos subiram 27,5% em relação aos seis primeiros meses do

João Carlos Nascimento

que preferiu não ser identificado relatou o descaso com a manutenção dos veículos, que mesmo com o aumento da passagem continuam sem reparos. A passageira Luisa Garcia do Amaral acredita que algumas mudanças nas linhas dos ônibus poderiam ser feitas para melhorar o deslocamento. “Tem dias que espero cerca de 40 minutos um ônibus para o bairro em que trabalho, Pq. Novo Mundo, enquanto os outros contam com ônibus a cada dez minutos. Aí, quando finalmente o ônibus passa, está lotado demais para conseguir um lugar”.

ano passado. Também cresceu a quantidade de roubos em Rio Claro. No primeiro semestre de 2015 foram registradas 550 ocorrências, já no primeiro semestre deste ano foram 681 ocorrências. Cansados da incidência de casos, as vítimas do bairro Cidade Jardim se reuniram para

Percebo que a Polícia Civil está em um momento muito crítico”

LIMEIRA

Motoristas não respeitam faixas reservadas para pedestres Além da grande quantidade de buracos e sinalização precária, problemas comuns nas ruas da maioria das cidades brasileiras, os limeirenses lidam com a falta de respeito dos motoristas. Não há fiscalização por agentes de trânsito, principalmente próximo de escolas e estabelecimentos com fluxo intenso de pedestres. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro

apresentar um documento às autoridades. Um levantamento, feito pelos próprios moradores, mostra que até o momento foram 18 casos. Em Americana também houve aumento nas ocorrências por porte de entorpecentes; foram 101 casos no primeiro semestre deste ano, contra 16 no ano passado. No mês de junho, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em operação conjunta com a Polícia Militar, cumpriu 50 mandados de prisão e 70 de busca e apreensão na região. Em Rio Claro, quatro pessoas foram presas. Em Piracicaba, duas pessoas. Por mais que haja divergência entre as estatísticas apresentadas, a maioria das cidades da região lida com os mesmos problemas em relação à segurança: a falta de contingente nas polícias

Laís Carvalho

(CTB), “os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica, onde deverão ser respeitadas as disposições deste código”. A Secretaria de Mobilidade Urbana informou que para a instalação de faixas de pedestre elevadas é preciso uma avaliação do engenheiro responsável pela região. Além disso, é necessário que a secretaria faça um estudo da quantidade de carros e pedestres que transitam pelo local.

Civil e Militar, falta de valorização de profissionais e a defasagem de equipamento. Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013, recomenda que haja um policial para cada 450 habitantes. Para isso, na época, o Brasil precisaria ganhar em seu efetivo 20 mil policiais. O Estado de São Paulo ocupa a 18ª posição do ranking, com um policial para 1.488 habitantes. Além da campanha mais restrita em termos de tempo e dinheiro do que as outras, por causa das mudanças na legislação eleitoral, os candidatos às prefeituras nas cidades da região têm a dura missão de recuperar a confiança de uma população que hoje vê as questões de segurança pública como utopias e se sente acuada pela criminalidade crescente.

LIMEIRA

Manutenção de espaços públicos é alvo de reclamações Não são poucos os moradores insatisfeitos com a falta de cuidado por parte da prefeitura em diversas praças e locais públicos. Corte de mato, manutenção de brinquedos e de bancos estão entre as principais reclamações. Os locais oficiais do município destinados à prática de esportes e lazer são os que mais necessitam de intervenção do poder público.

Policiais militares na região central de Rio Claro; secretário de Segurança Pública da cidade reforça a responsabilidade do governo estadual

Laís Carvalho

Para que esse problema fosse resolvido, vereadores da cidade aprovaram este ano a lei que regulamenta a gestão compartilhada das áreas públicas de uso comum do munícipio. Com essa resolução, os moradores de Limeira poderão, em interação com o poder público, revitalizar, requalificar e fazer a gestão de áreas como praças, parques, áreas de lazer e locais destinados à prática esportiva, mantendo a qualidade e boa utilização desses espaços.


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Produção do Legislativo deixa a desejar

Divulgação

pação popular é, portanto, extremamente importante”, reforça o professor.

Câmaras da região registram desempenho irregular e projetos polêmicos

Daiane Santos

santos.daiane@outlook.com.br

Fernanda Maestro

fernanda.maestro@yahoo.com.br

Keline Mendes

kelineeee@gmail.com

Serjey Martins

josephmartins@outlook.com

Levantamento da produção nas Câmaras de Americana, Limeira e Piracicaba mostra que a atual legislatura deve encerrar o mandato com desempenho abaixo da expectativa da população. Dos projetos de lei protocolados de 2013 até agora, apenas 55% dos 1.260 apresentados em Limeira, que tem 21 vereadores, foram aprovados. Já na Câmara de Piracicaba, que conta com 23 parlamentares, 57,5% dos 1.112 projetos receberam aprovação. Em Americana, que tem 19 vereadores, o desempenho que parece melhor, com 77% de aprovação, é resultado de um baixo número de projetos apresentados, apenas 651. Entre os projetos verificados, há vários de relevância questionável.

Em Limeira, por exemplo, houve excesso de projetos que pediam a nomeação de ruas, praças, avenidas e estruturas. Foram 175, cerca de 25% do total de aprovados. Além disso, a câmara limeirense aprovou e revogou em menos de um mês, por causa da pressão popular, um aumento de 103% nos salários dos vereadores. Em Americana foi apresentado e recusado o pedido que obrigava as empresas de transporte público a estampar o brasão do município em seus veículos. Já em Piracicaba, além de aprovado o aumento dos

A efetiva participação popular é extremamente importante”

Aumentos causam indignação Em Limeira, proposta de reajuste salarial foi de 103%

As Câmaras de Piracicaba e Limeira votaram recentemente projetos de reajuste salarial que causaram revolta na população. Por votação quase unânime dos vereadores de Piracicaba, a não ser pelo voto contra do vereador Paulo Camolesi, a câmara, em 2016, determinou que os salários dos parlamentares aumentassem de R$ 6.568,35 para R$ 10.900 durante a legislatura 2013-2016; um reajuste de aproximadamente 66%. Em Limeira, a casa de leis, em 2015, instituiu aumento de 103% (de R$ 6.223,15 para R$ 12.632,69) nos salários dos vereadores da próxima legislatura 2017-2020. O projeto foi protocolado no mesmo dia da apresentação, entrou para votação em regime de urgência e foi aprovado por 11 votos a 7. Em menos de 30 dias, por causa da pressão

popular, foi revogado. Em Piracicaba, a aprovação gerou repercussão negativa nas redes sociais por populares que expuseram seus posicionamentos. A indignação foi tão significativa que o movimento Reaja Piracicaba se manifestou com mobilizações e, em seguida, coletou

Questionado sobre o aumento do salário dos vereadores de Piracicaba, o especialista em filosofia política, Paulo Morgado, afirma que se faz necessária a instituição de uma nova esfera de poder que regule os proventos parlamentares, ou que os cidadãos passem a fazer

salários dos vereadores em cerca de 66%, foi proposta e rejeitada a obrigatoriedade de bares, restaurantes e similares a disponibilizarem copos milimetrados para os clientes. Atribuições Paulo Morgado Rodrigues, professor de filosofia política da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), explica a função real dos vereadores. “Os vereadores têm quatro funções principais: a legislativa (consiste em propor, elaborar, discutir e votar leis que são da competência do município); a fiscalizadora (consiste em fiscalizar o trabalho da administração pública, assim como a aplicação de recursos e a observância do orçamento); a de assessoramento ao Executivo (consiste nas ativi-

dades de apoio e de discussão das políticas públicas a serem implantadas por programas governamentais); e a função julgadora (consiste no poder de apreciar as contas públicas dos administradores, bem como apurar eventuais infrações político-administrativas por parte do prefeito e dos próprios vereadores)”. Por isso, ele defende que o eleitor precisa ter consciência de que o vereador não tem poderes para executar obras e políticas públicas e, portanto, não pode prometer isso. “Nesse sentido, os cidadãos devem ficar atentos em como os vereadores articulam entre si e com o Poder Executivo, no sentido de expressar as demandas da população e estabelecer mecanismos para que as mesmas sejam atendidas. A efetiva partici-

Número de representantes sobe para 19 em Rio Claro

assinaturas para um abaixo-assinado que solicitava a revogação do aumento dos subsídios dos vereadores. O projeto conseguiu mais de 20 mil assinaturas, mas não foi aprovado pois, segundo A Câmara de Rio Claro o Departamento Jurídico do aprovou em junho do ano Legislativo, ele era inconsti- passado o aumento de 12 para tucional. FM e SM 19 cadeiras no parlamento. Foram duas fases de votação, nas quais por 9 votos a 3 confirmou a ampliação da “representatividade do Poder Legislativo do Município”. Em justificativa, os vereauso do seu poder de voto dores autores da regra, Agnepara coibir tal prática. O lo da Silva Matos Neto (PT), problema está em como Raquel Picelli Bernardinelli proibir institucionalmente (PT), Sérgio Moracir Calixto que os legisladores, a quem (PRP) e Dalberto Christofofoi atribuído o poder de letti (PDT), alegaram que as formular e aprovar leis, 12 vagas não contemplavam legislem em causa própria. a forma democrática e proE isso vale para parlaporcional a toda a população, mentares de quaisquer além de apresentar dificuldainstâncias. des no atendimento do povo.

Ganhos devem ser controlados

Na Câmara de Limeira houve excesso de projetos que pediam a nomeação de ruas, praças, avenidas e estruturas; foram 175, cerca de 25% do total de aprovados

O presidente João Zaine (PMDB), justificou que a medida não resultaria em prejuízo ao orçamento municipal e que, assim como Piracicaba, Limeira, Araraquara e São Carlos, a gestão se adequaria a nova realidade. O que determina o limite de cadeiras parlamentares por município é o Art. 29 da Lei Orgânica de cada município, que legitima a adaptação para 21 quando o número de habitantes for acima de 160 mil. Segundo o IBGE, a estimativa populacional da cidade de Rio Claro é de 201. 473, o que excede o limite de demandas mesmo após a soma de 7 vereadores. DS

Termômetro Um número importante para indicar o longo tempo desperdiçado das câmaras é o de moções, que são as proposições de menor relevância pelas quais o vereador expressa seu louvor, congratulação ou pesar a alguém. Americana surpreende: 3.716 pedidos de moções apresentados e apenas 1.491 aprovados, o que corresponde a 39% do total. Em Limeira foram 553 apresentados e somente 207 aprovados, resultando em 37% do total. Já a Câmara de Piracicaba propôs 966 moções e aprovou 681, cerca de 70,5% do total. Ainda se constatou no levantamento, em relação aos Projetos de Decreto Legislativo (honrarias), 233 em Piracicaba, 103 em Limeira, e 104 em Americana. Quanto aos projetos autorizativos, foram 20 em Piracicaba, 101 em Limeira e 90 em Americana. Sobre essas práticas, Morgado diz ”que isso ocorre em virtude da própria natureza das proposições autorizativas e das moções frente aos projetos que, caso sejam aprovados, instituem leis municipais. Na prática, as duas primeiras não instituem obrigatoriedade ao Poder Executivo, já o último sim. Nesse sentido, parece-me que o motivo dessa eficiência e produtividade tão baixas pode ser localizado nos tipos de relações estabelecidas entre os poderes Legislativo e Executivo”, avalia. Todos as informações desta matéria foram obtidas por meio de contato com as assessorias das câmaras e verificação nos sites oficiais das mesmas, que possuem o sistema Sino-Siave. A equipe de reportagem também pediu informações para a assessoria da Câmara de Rio Claro. Apesar de não serem negadas, as informações não foram disponibilizadas até o fechamento desta edição. Além disso, o site da casa de leis apresenta restrições nas ferramentas de consulta, dificultando a análise dos eleitores.

O dever ”O trabalho de fiscalização da administração pública é uma entre outras funções atribuídas às câmaras de vereadores. E é claro que, assim como as demais, ela é de suma importância para o município. Já que, caso tal fiscalização não seja eficientemente executada, abre-se espaço para a possibilidade de ocorrer desvios do dinheiro público e aumento incontrolável da dívida pública, podendo acarretar, direta ou indiretamente, diversos impactos sociais a curto, médio e longo prazo”, alerta Paulo Morgado, professor e especialista em filosofia política. DS


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FAIXA ETÁRIA DO ELEITORADO

JOVENS ENTRE 16 E 29 ANOS

ADULTOS ENTRE 30 E 59 ANOS

IDOSOS DE 60 ANOS OU MAIS

22,73%

56,77%

20,48%

47,97% homens

49,20% homens

44,91% homens 54,35% mulheres

50,79% mulheres

64.498

Piracicaba

51,84% mulheres

50.299

Limeira 36.542

Americana

121.055

Limeira

98.525

Americana

33.240

Rio Claro

160.228

Piracicaba

81.459

Rio Claro

Piracicaba

59.085

Limeira

41.223

Americana Rio Claro

36.113 30.047

Mais de 800 mil eleitores devem ir às urnas em quatro cidades da região Mulheres representam 52% dos votos em disputa; quantidade de eleitores sem o ensino básico completo é maior que o eleitorado de Limeira

Mauro Adamoli

mauro88adamoli@gmail.com

As eleições municipais deste ano estão marcadas para domingo, 2 de outubro, em todo o Brasil. Nas cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro são esperados 812,5 mil eleitores aptos a votar, representando aumento de 1,31% em relação à eleição de 2014, quando 801,9 mil eleitores foram às urnas, e de 4,28% se comparado às últimas eleições municipais realizadas em 2012, quando 777, 8 mil cidadãos elegeram prefeitos e vereadores nas quatro cidades. A maioria das pessoas aptas a votar este ano possui entre 30 a 59 anos, representando 56,77% do eleitorado, ou 461,2 mil eleitores cadastrados. Os jovens entre 16 e 29 anos que irão para as cabines de votação representam 22,73% dos eleitores, ou 184,7 mil, sendo que 4.138 têm entre 16 e 17 anos e não são obrigados a votar, enquanto que 37.184 estão na faixa etária de 18 a 20 anos e irão votar pela primeira vez. Os idosos, aqueles com mais de 60 anos, representam

20,48% ou 166,4 mil de toda a população apta a votar. Há, ainda, dez pessoas com o título de eleitor que não possui informações no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação à idade. Novamente as mulheres serão maioria nas urnas das cidades da região. No total serão 423,4 mil eleitoras, representando 52,11% de todo o eleitorado. 56,47%, ou 239,1 mil, de todas as mulheres que poderão votar nestas eleições são adultas; 22,16% ou 93,8 mil são jovens; 90,4 mil ou 21,36% têm mais de 60 anos e quatro não têm a idade especificada no site do TSE. Os homens que estão aptos a votar domingo somam 386,9 mil, representando 47,62% do total. 57,18% ou 221,2 mil de todos os homens são adultos (entre 30 e 59 anos); 90,9 mil ou 23,49% que irão às urnas são jovens e a população idosa representa 19,32% do total ou 74,7 mil dos eleitores. Seis homens não tem a idade informada pelo site do Tribunal. O grau de escolaridade mais comum entre todos os eleitores nas quatro princi-

Superior incompleto

7,03% 4,31%

Ensino médio completo

23,94%

Ensino médio incompleto

20,98%

Ensino fundamental completo

10,04%

Ensino fundamental incompleto Sabem ler e escrever Analfabetos

27,21% 4,54% 1,88%

para votar possuem certificado escolar em Piracicaba; 69,5 mil em Limeira; 63,8 em Americana e 52,1 mil completaram os estudos básicos em Rio Claro. Além das pessoas que não têm o ensino fundamental concluído, 252,1 mil pessoas não possuem o diploma escolar, sendo que 81,6 mil ou 10,04% completaram o ensino fundamental, mas não foram adiante, e 170,5 mil ou 20,98% começaram o ensino médio, mas não conseguiram finalizar. Nas quatro cidades da região, 36,9 mil pessoas sabem ler e escrever, representando 4,54% da população. Desta faixa etária, 13,5 mil estão aptos para votar em Piracicaba; 11,4 mil em Limeira; 6 mil em Americana e 5,9 mil em Rio Claro. No total serão 15,3 mil eleitores analfabetos, que não sabem nem ler e escrever, que poderão votar neste domingo. No total, esta faixa etária representa 1,88% pessoas na região, sendo que Piracicaba tem 5,8 mil pessoas; Limeira 5,4 mil; Rio Claro 2,3 mil e Americana com apenas 1,6 mil.

Adultos são maioria nas urnas

GRAU DE ESCOLARIDADE DO ELEITORADO

Superior completo

pais cidades é o de ensino fundamental incompleto, ou seja, 27,21% não completaram a 8° serie ou 9° ano. O número de pessoas sem o diploma do ensino básico é de 221,4 mil, maior até que o eleitorado de Limeira, a segunda cidade com mais pessoas aptas para votar. Por ser a maior cidade da região, Piracicaba conta com a maior parcela deste número, com 77,3 mil cidadãos. Limeira vem logo seguida com 58,6 mil; Americana possui 47,6 mil desta parte do eleitorado e Rio Claro fecha a conta com 37,6 mil pessoas sem esta parte dos estudos completados. As pessoas que completaram o ensino médio são 286,7 mil; porém elas estão divididas em três categorias: ensino médio completo, com 194,5 mil eleitores ou 23,94% do total; ensino superior incompleto, isto é, estão cursando faculdade ou começaram e trancaram, representam 4,31% ou 35 mil; enquanto que aqueles que concluíram o ensino superior representam 57,1 mil ou 7,03% de todos os cidadãos. As 101,2 mil pessoas aptas

Novamente nas eleições municipais das quatro principais cidades da região (Piracicaba, Limeira, Americana e Rio Claro), a maioria das pessoas aptas a votar são os adultos entre 30 e 59 anos, representando 56,77% do eleitorado. No total, 461,9 mil cidadãos da classe econômica ativa irão às urnas, um crescimento de 4,55% se comparado com a eleição municipal de 2012, quando 440,3 mil pessoas destas quatro cidades escolheram seus respectivos vereadores e prefeitos. Por ter a maior população e o maior número de eleitores

entre as quatro principais cidades da região, Piracicaba contém também a maior parte dos adultos que irão às urnas neste fim de semana, com 34,74% ou 160,2 mil pessoas. O crescimento no número de pessoas desta faixa etária foi de 5,49% se comparado às eleições de 2012. Na cidade de Limeira 121 mil pessoas entre 30 e 59 idades estão aptos para votar, representando 26,24% na região e um aumento de 5% na última eleição municipal. Os adultos aptos para votar em vereador e prefeito em Americana são 98,5

mil ou 21,35% de todas as cidades da região. A cidade, porém, teve o menor crescimento no número de eleitorado em comparação as outras cidades, com um crescimento de apenas 1,61%. Rio Claro terá aproximadamente 81,4 mil eleitores nas urnas neste domingo decidindo o futuro da cidade, a menor parcela entre as cidades com 17,65%. Ao contrário de Limeira, a cidade obteve nos últimos quatro anos o maior crescimento da classe entre 30 e 59 anos, com 5,55% ou 4.519 novos eleitores nesta faixa etária. MA


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edição 05 • Setembro/2016

C ANDIDATOS DE PIR

ACIC ABA

C ANDIDATOS DE AM

ERIC ANA

BRITO – 65 Partido: PC do B - Partido Comunista do Brasil Coligação: Juntos por Piracicaba Grau de Instrução: Ensino Fundamental incompleto Ocupação: Outros Limite de gasto 1º turno: R$347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$104.277,68

DIMAS ZULIAN – 18 Partido: REDE – Rede Sustentabilidade Coligação: REDE Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Empresário Limite de gasto: R$1.121.096

LUCIANO ALMEIDA – 55 Partido: PSD – Partido Social Democrático Coligação: Piracicaba de todos nós Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Empresário Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

MAGNO PERES – 29 Partido: PCO – Partido da Causa Operária Coligação: PCO Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Professor de ensino médio Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

ERICH HETZL JUNIOR - 12 Partido: PDT – Partido Democrático Trabalhista Coligação: Aliança Democrática Popular - ADP Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de gasto: R$ 1.121.096,32

MARCELO FILIK – 18 Partido: REDE – Rede Sustentabilidade Coligação: REDE Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Economista Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

SERGIO SPENASSATTO – 54 Partido: PPL – Partido Pátria Livre Coligação: PPL Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

LUCIANO CORRÊA – 55 Partido: PSD – Partido Social Democrático Coligação: PSD Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Vereador Limite de gasto: R$ 1.121.096,32

TRINDADE – 90 Partido: Pros – Partido Republicano da Ordem Social Coligação: Pros Grau de Instrução: Ensino médio completo Ocupação: Servidor público civil aposentado Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

THIAGO NALESSO - 50 Partido: PSOL – Partido Socialismo e Liberdade Coligação: PSOL Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Professor de ensino superior Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

OMAR NAJAR - 15 Partido: PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro Coligação: Respeito por Americana Grau de Instrução: Ensino médio completo Ocupação: Industrial Limite de gasto: R$ 1.121.096,32

BARJAS NEGRI - 45 Partido: PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira Coligação: Experiência e trabalho para uma Piracicaba melhor Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Professor de Ensino Superior Limite de gasto 1º turno: R$ 347.592,26 Limite de gasto 2º turno: R$ 104.277,68

Fonte: TSE


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Setembro/2016 • edição 05

C ANDIDATOS DE RIO

AIRTON MOREIRA - 50 Partido: PSOL – Partido Socialismo e Liberdade Coligação: Psol Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Professor de ensino médio Limite de gasto: R$ 283.675,37

JUNINHO DA PADARIA - 25 Partido: DEM – Democratas Coligação: Coragem para mudar Rio Claro Grau de Instrução: Ensino médio completo Ocupação: Padeiro, confeiteiro e assemelhados Limite de gasto: R$ 283.675,37

CLARO

ALCIR RUSSO - 43 Partido: PV – Partido Verde Coligação: PV Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de gasto: R$ 283.675,37

MARIO ZAIA - 77 Partido: SD – Solidariedade Coligação: SD Grau de Instrução: Superior incompleto Ocupação: Aposentado (exceto servidor público) Limite de gasto: R$ 283.675,37

GUSTAVO PERISSINOTO - 15 Partido: PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro Coligação: Frente progressista Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de gasto: R$ 283.675,37

SERGIO SANTORO - 10 Partido: PRB - Partido Republicano Brasileiro Coligação: Rio Claro merece mais Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de gasto: R$ 283.675,37

Fonte: TSE

C ANDIDATOS DE LIM

ABRAÃO DE JESUS - 17 Partido: PSL – Partido Social Liberal Coligação: PSL Grau de Instrução: Ensino médio completo Ocupação: Empresário Limite de Gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de Gasto 2º turno: R$ 228.176,00

CLAUDIO MARQUES - 13 Partido: PT – Partido dos Trabalhadores Coligação: PT Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Servidor público municipal Limite de Gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de Gasto 2º turno: R$ 228.176,00

DILAN CARLI - 50 Partido: PSOL – Partido Socialismo e Liberdade Coligação: PSOL Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Estudante, bolsista, estagiário e assemelhados Limite de Gasto 1º turno: R$760.586,66 Limite de Gasto 2º turno: R$228.176,00

EIRA

ELISEU DANIEL - 45 Partido: PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira Coligação: É tempo de fazer! Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Advogado Limite de Gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de Gasto 2º turno: R$ 228.176,00

PAULO HADICH - 40 Partido: PSB – Partido Socialista Brasileiro Coligação: Limeira no rumo certo Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Prefeito Limite de gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de gasto 2º turno: R$ 228.176,00

MARIO BOTION - 55 Partido: PSD – Partido Social Democrático Coligação: Juntos por Limeira Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Engenheiro Limite de Gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de Gasto 2º turno: R$ 228.176,00

Murilo Felix - 12 Partido: PDT – Partido Democrático Trabalhista Coligação: Futuro melhor Grau de Instrução: Superior completo Ocupação: Empresário Limite de gasto 1º turno: R$ 760.586,66 Limite de gasto 2º turno: R$ 228.176,00


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edição 05 • Setembro/2016 Fernanda Mazi

Em Limeira, 10% dos candidatos a vereador são jovens Na região, 138 pessoas entre 18 e 29 anos tentarão uma cadeira no Legislativo

Participação jovem

Redução da participação dos eleitores com 16 e 17 anos merece atenção, alertam especialistas

cai 33% nas cidades da região fer.mazi@hotmail.com

As cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro registraram queda no número de eleitores que votarão pela primeira vez nas eleições municipais, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar da não obrigatoriedade do voto, aos 16 e 17 anos é quando parte dos adolescentes procura o órgão responsável para a emissão do título de eleitor. A quantidade de eleitores nessa faixa etária caiu de 6.140, em 2012, para 4.138, este ano, totalizando 2.002 jovens a menos com o título em mãos. Entre as cidades analisadas, Piracicaba apresentou os dados mais expressivos, com redução de cerca de mil jovens entre os anos de 2012 e 2016. Já Rio Claro, apesar de também estar inserida neste quadro, teve diminuição de 205 jovens. Apesar do cenário negativo, há explicações para essa mudança. S egundo Gabriel Ferrato, atual prefeito e representante do partido

A crise econômica tem provocado um certo desencanto”

PSB em Piracicaba, a descrença nos políticos e nos partidos, a corrupção endêmica e a sensação de que o governo não está trabalhando em prol dos interesses dos jovens são apenas alguns dos fatores que justificam essa redução. “A crise econômica tem provocado um certo desencanto nos jovens. Restringiu-se o mercado de trabalho para eles e para seus pais, aumentou-se a dificuldade de administração do capital das famílias, e é claro que esses fatos têm um peso muito importante na percepção deles diante da política. Isso reflete no desinteresse político, o que, evidentemente é um equívoco, pois foi exatamente a política que provocou esse estado de coisas”, afirma. Mesmo com o trauma generalizado com relação à política, a estudante Gabriela Cabral Savan, 16, foi atrás do título este ano. “Acho importante nós jovens, mesmo com pouca idade, mostrar como somos fortes. Não só adultos podem escolher quem vai nos representar”, defende. Para ela, o começo de uma grande mudança está no engajamento e na participação de todos, mesmo que isso não represente solução rápida para os problemas. “Não são todos que se preocupam com isso agora. Sabem uma coisa ou outra do que está acontecendo pela televisão, jornais, alguém que comenta aqui ou ali, mas muitos não estão preocupados. Ficar reclamando para as pessoas próximas ou nas redes sociais não adianta muito, a gente tem que ser ativa nisso”, conclui. As grandes correntes e manifestos que circulam na internet, principalmente no Facebook, têm participação massiva dos jovens, entre eles os de 16 e 17 anos. Mas, de acordo com o representante do PSB em Piracicaba, este não pode ser um indicativo de que o conhecimento político é ob-

tido por esses meios. “Acesso à informação é muito diferente de acesso ao conhecimento. É preciso saber depurar a informação, e para isso, precisa ter conhecimento. Penso que, dadas as estatísticas, as manchetes veiculadas pelas redes sociais não têm contribuído para uma melhor visão de mundo ou uma tomada de posição em relação aos fatos”, observa Ferrato. Cenário A diminuição dos jovens eleitores faz parte de um cenário que merece atenção, alertam especialistas. Para a socióloga Fátima Albuquerque, esta é uma conjuntura paradoxal. Ela afirma que ao mesmo tempo em que as pessoas inserem seu posicionamento político nas redes sociais, nas grandes manifestações de rua e etc., isso não reflete em, de fato, contribuir com o voto. Com relação aos jovens, ela acredita tratar-se de uma superficialidade política. “Essa aparente politização que emergiu nos últimos dois anos parece não imprimir um desejo de participação efetiva, e sim, resulta em discursos de ódio, preconceito e discriminação. Cada vez mais, culpar de-

terminados grupos sociais pelas mazelas do país parece ter sido o caminho adotado por parte de juventude que se diz politizada, mas que ao mesmo tempo não tem interesse em votar”, analisa. Para Milena Gomes, estudante de história e ex-diretora da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), essa retração está ligada à dificuldade de diálogo entre partidos e eleitores. Ela sugere que, para unificar as gerações com pautas atuais que pensem a gestão das cidades, os movimentos estudantis são um caminho. “Por serem pautados pelos estudantes por meio de reivindicações no ensino médio, nas escolas técnicas e nas universidades, muito pode ser obtido com eles. Uma vez que se muda a forma de se fazer e de pensar a política, resultados tendem a aparecer”, observa. (colaborou Pedro Gaspar)

Divulgação

Fernanda Mazi

José Justino Lucente

Eleição deste ano terá dois mil eleitores a menos em relação ao mesmo período de 2012

Acho importante nós jovens, mesmo com pouca idade, mostrar como somos fortes”

Nas eleições deste ano, Limeira lidera a posição entre as cidades com maior número de jovens candidatos a vereador. Dados dos municípios de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro foram obtidos a partir do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A reportagem considerou como jovem os candidatos com idade entre 18 e 29 anos. Com uma população de aproximadamente 270 mil habitantes e 547 candidatos a vereador analisados até a publicação desta reportagem, Limeira apresenta 54 jovens interessados no cargo de vereador, o que representa cerca de 10% do total. Além disso, dados mostraram que dos 54 jovens, três deles possuem 18 anos, que é a idade mínima para o exercício da função. Para o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Americana, Marco Antonio Barion, que também é cientista social, uma das formas para que a política seja renovada é através do engajamento juvenil, o que está acontecendo, segundo ele. “O cenário atual é vantajoso para a renovação, não necessariamente de jovens, mas de pessoas que não tiveram experiência política”. Por isso, para ele, em algumas cidades a aposta na juventude e no novo foi grande. A Constituição Federal não prevê idade máxima como condição de elegibilidade, entretanto, identifica idade mínima legal, de acordo com o artigo 14. Segundo o parágrafo, uma das condições de elegibilidade requer a idade mínima de 18 anos para vereador. A lei ainda aponta que não haja qualquer limite mínimo estabelecido para a substituição ou sucessão do cargo. Barion também destaca que a mudança política precisa ser disputada e, para isso, é necessária disposição partidária. “E digo em renovação de verdade, não uma renovação combinada, onde coloca-se alguém novo para representar o pensamento que pretensiosamente está substituindo”, afirma. Dentre as quatro cidades, Rio Claro apontou a menor porcentagem dos jovens inseridos nas candidaturas. Apenas 24, de um total de 427 candidatos, o que significa 5,6%. Americana também contará com 24 jovens nas eleições, porém, num total um pouco menor, 381 inscritos; 6,3% são jovens. Piracicaba tem 36 jovens nas candidaturas, em um montante de 470, o que representa 7,7%.


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Setembro/2016 • edição 05

Acessibilidade nas eleições Relatório aponta aumento de 22% no número de seções especiais no Estado entre 2010 e 2014; Justiça Eleitoral garante acesso às urnas Fotos: Jaqueline Altomani

Jaqueline Altomani

jaquelinealtomani@gmail.com

A votação compulsória é exigida no Brasil para todos, incluindo pessoas com deficiências mentais, sociais, físicas e emocionais, que também são cidadãs com plenos direitos políticos, assegurando, assim, o princípio de igualdade. Segundo o IBGE, 45,6 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, somando 24% da população total do país. Porém, essa parcela da sociedade precisa de meios acessíveis para esse exercício. “Depois do acidente fiquei sem votar durante quatro eleições por não conseguir, porque a escola em que eu votava tinham acessos apenas por escada”, conta Sandro Rocha, 39, que é tetraplégico. “Fiquei sabendo do direito da seção especial depois da troca, mas nessa nova escola eu consigo votar”, diz. Além de rampas e elevadores para auxiliar na mobilidade, Sandro também utiliza um adaptador para digitar os números na urna. Para garantir esses instrumentos de acessibilidade às pessoas com deficiência - ou seus acompanhantes - devem

Mais de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência; campanhas e locais de votação ainda representam entraves

procurar os respectivos cartórios eleitorais com cinco meses de antecedência e solicitar o direito de votar em uma seção eleitoral especial dentro de sua zona. Assim, a Justiça garante recursos e meios para facilitar o exercício democrático. Em 2015 foi realizada a análise de acessibilidade das

NOTAS Mariana Mondini

Mmondini95@hotmail.com

Thainá Rambaldo

tata_rambaldo@hotmail.com

Quem deve votar e como justificar?

No Brasil o voto é obrigatório. Todo cidadão brasileiro a partir dos 18 anos deve ir até seu domicílio eleitoral para votar. Quem não pode ir por estar fora da sua cidade eleitoral ou por outros motivos, deve justificar a ausência no dia da eleição ou logo em seguida procurar um posto eleitoral. A justificativa pode ser feita em qualquer cartório eleitoral. Deve ser apresentado um formulário preenchido corretamente e um documento de identificação. No entanto, existem alguns casos em que o voto é opcional e não promove qualquer transtorno. Jovens com 16 e 17 anos, maiores de 70 anos, analfabetos e alguns grupos indígenas têm direito ao voto, mas podem optar por não ir às urnas.

Qual a penalidade para quem não vota e não justifica?

O não comparecimento do eleitor aos postos eleitorais para justificativa, ocasiona em uma pendência com a Justiça Eleitoral. Consequentemente, o eleitor que não justificar após 60 dias das eleições receberá uma multa no valor de R$ 35,14 para eleitor faltoso. Para mesário faltoso a multa é de R$ 351,37. Inclusive o cidadão perde o direito de solicitar passaporte ou documento de

identidade (RG), requerer empréstimos em qualquer banco ou estabelecimento de crédito mantido pelo governo e se inscrever em concursos públicos. O que pode acontecer com os candidatos que não estão cumprindo a lei?

O descumprimento da lei pelo candidato pode gerar multa ou o cancelamento do registro da candidatura, dependendo da infração cometida. Para denunciar, basta ir até um cartório eleitoral, detalhar o ocorrido, fornecer informações sobre local, hora, data, imagens ou vídeos. A denúncia não pode ser anônima, porém o nome da pessoa é mantido em sigilo. Para facilitar a fiscalização e sanar dúvidas da população, o Ministério Público Federal fornece em sua página on-line um questionário completo do que é ou não permitido pelos candidatos durante a campanha eleitoral. Algumas das restrições mais conhecidas vetam a utilização de organização comercial de vendas, distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda ou aliciamento de eleitores, a realização de showmícios e eventos semelhantes para promoção, bem como a apresentação de artistas com a finalidade de animar comício, fixar propaganda em bens públicos, postes, placas de trânsito, outdoors, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus, árvores, inclusive com pichação, tintas, placas, faixas, cavaletes e bonecos.

eleições de 2014 em relação às de 2010, e o resultado foi o aumento de 22,73% nas zonas eleitorais especiais no Estado de São Paulo, somando um total de 10.560 locais com potencial de atendimento para pessoas com diversas deficiências, segundo o Relatório de Diagnóstico da Acessibilidade de 2015.

Patrícia Matos Leme, 33, é surda e nunca usou as seções especiais por não ter conhecimento do direito de um local acessível para votar. “Eu sempre vou sozinha para votar, chego na urna e digito os números, se preciso falar com alguém é por escrito”. Patrícia vota desde os 21 anos na Escola Estadual Maria

Lourdes Consentino, em Piracicaba, e afirma nunca ter sido recepcionada por um intérprete de libras em seu cartório eleitoral. “É necessário o intérprete ou a legenda para saber quem são os candidatos e, na maioria das vezes, as propagandas não têm”, conta. O requerimento dos di-

reitos começa na retirada do título de eleitor específico. Com ele, as pessoas podem recorrer a diversos direitos. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral, esses direitos incluem votar em setores totalmente acessíveis, todas as urnas possuírem teclas em braile, recursos de áudio e fones em setores especiais, o auxílio de pessoas com dificuldade na mobilidade, cédulas-guia para deficientes visuais, no caso de votação por meio de células e mesários e voluntários com conhecimento em libras para auxiliar no atendimento. Outra forma de acessibilidade encontra-se nas estratégias de marketing escolhidas para as campanhas, que não possibilitam o contato de alguns grupos de pessoas às propostas dos candidatos, como por exemplo as campanhas discursivas, radiofônicas ou televisivas. Sem o auxílio de intérpretes ou legendas, as pessoas com deficiências auditivas são impedidas de ter o acesso às propostas. Outro caso é o da distribuição de material impresso, como os santinhos ou encartes, que podem ser ilegíveis para pessoas com deficiências visuais.

Campanhas ao alcance de todos Planos dos candidatos devem ser acessíveis aos eleitores com limitações O exercício do voto também inclui a escolha dos candidatos e as análises de suas propostas, por isso, a necessidade de campanhas políticas que atendam às diversas deficiências e possam ser compreendidas por todos os cidadãos. Segundo o publicitário Leonardo Carlim, 39, a maior dificuldade para o desenvolvimento desses materiais específicos é a mão de obra especializada e o descuido dos candidatos. “Entendo que as ações de acessibilidade, principalmente nos programas televisivos, só ocorrem em função da obrigatoriedade imposta pela legislação”, observa.

A lei de acessibilidade do ano 2000 garante que todos os conteúdos de comunicação devem ser acessíveis para pessoas com diferentes deficiências, abrangendo a Língua Brasileira de Sinais (Libra), a visualização de textos, sistema de sinalização ou de comunicação tátil, como o braile, sistemas auditivos e de áudio descrição e formatos alternativos que possibilitem a inclusão na comunicação. No entanto, o publicitário conta que trabalhou em três campanhas políticas e desconhece trabalhos desenvolvidos no interior de São Paulo que conseguem atingir a acessibili-

dade plena. “Talvez a lei seja, de fato, a única forma de garantir que o conteúdo será desenvolvido contemplando acessibilidade”, afirma o publicitário. No Brasil, segundo o IBGE, 35 milhões de pessoas possuem deficiências visuais, entre cegos e com visão parcial, esse número é equivalente a cerca de 17% da população do país. “Desconheço material impresso em braile. Também não conheço experiências na cidade de programas do horário eleitoral gratuito com áudio descrição, mesmo as emissoras geradoras não oferecem o canal para áudio descrição”, conta Carlim. JA

Jovem usa a linguagem de sinais para indicar o desejo de votar; Justiça garante participação na democracia


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ENTREVISTA

Houve um golpe de Estado Paulo Henrique Amorim, jornalista da TV Record, opina sobre eleições municipais, influência da imprensa, crise política e poder

Fotos: Tito Lívio de Morais/Unimep

Felipe Gonçalves

felipegoncalvesator@globomail.com

Nascimento: Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1942.

Serjey Martins

josephmartins@outlook.com

O jornalista Paulo Henrique Amorim esteve na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), no dia 1 de setembro, para ministrar a aula magna do curso de jornalismo. Durante o evento, Amorim lançou o livro “O Quarto Poder”, no qual aborda as experiências que registrou durante seus 50 anos de carreira, trabalhando nas mais importantes empresas de comunicação do país. Na publicação, ele narra os bastidores dos grandes veículos de comunicação e as relações destes com a política e o governo. Cerca de 800 pessoas lotaram o Teatro UNIMEP, entre professores, coordenadores, diretores, alunos e ex-alunos dos cursos de comunicação, direito, história e letras, além da participação da comunidade local. Alguns dos candidatos a prefeito e vereador em Piracicaba também marcaram presença. Responsável pelo blog Conversa Afiada, conhecido por suas provocações e críticas ao neoliberalismo e partidos de direita, o jornalista teve passagens pela TV Globo, Rede Manchete, TV Bandeirantes, Revista Veja, Editora Abril e TV Cultura, e, desde 2006, apresenta o Domingo Espetacular, na Rede Record. O apresentador atendeu à reportagem do Jornal de Classe para uma entrevista sobre o panorama atual das eleições municipais.

Idade: 74 anos Currículo internacional: Trabalhou por dois anos como correspondente em Nova York da Revista Veja, de 1968 a 1970. Em 1990 foi convidado pela Rede Globo para ser chefe de escritório e correspondente da empresa em Nova York. Neste período também colaborou para o programa World Report, da Rede CNN.

empresa em que trabalha, seja por um compromisso que você assumiu com o próprio entrevistado ou com a própria fonte da informação. E o que você recomenda?

No fundo, o eleitor, na hora de votar em prefeito e vereador, quer resolver problemas da sua vida local”

O Brasil está imerso em uma crise política, como isso influencia nas eleições municipais?

Eu acho que a principal consequência é o impacto

Ou você tem a Globo ou você é uma democracia”

que isto pode vir a ter sobre os candidatos do PT (Partido dos Trabalhadores). A segunda consequência é provavelmente sobre aqueles candidatos que se identifiquem de uma maneira mais clara com o golpe. Porque houve um golpe de Estado. Então, de um lado você tem aqueles que serão prejudicados porque são ligados ao PT, e de outro lado aqueles que serão prejudicados porque

estão ligados aos golpistas. Mas, de uma maneira geral, eu tenho a impressão de que nas eleições municipais, embora venham a ser realizadas em um ambiente de muita fragmentação no espaço político brasileiro, são um pouco imunes a esta questão federal, digamos assim. No fundo, o eleitor, na hora de votar em prefeito e vereador, quer resolver problemas da sua vida local. Então essas questões,

digamos federais, têm importância, mas é relativa. O que o senhor acredita que a mídia, a grande imprensa, tem de influência sobre essas eleições e até a imprensa regional?

A imprensa de televisão tem uma importância brutal. Como eu digo no meu blog Conversa Afiada, ou você tem a Globo ou você é uma democracia. Não pode haver as

duas coisas ao mesmo tempo. E a Globo, com suas subsidiárias afiliadas e as repetidoras no Brasil inteiro, tem um papel político desastroso. É possível estar bem informado sem ser manipulado pela imprensa?

Eu diria que muitas vezes, de fato, você (jornalista) não pode divulgar aquilo que sabe. Seja por causa da posição política, da posição editorial da

O que eu recomendo é o que eu fiz no meu livro. Você anota tudo e guarda, um dia você publica o livro (risos). Não ser manipulado é muito difícil. No Brasil houve um processo de concentração industrial selvagem quando o presidente João Goulart caiu, em 1964. Havia no Rio de Janeiro oito jornais diários, hoje tem dois. Então, a Rede Globo tem uma hegemonia que não existe em nenhuma outra democracia do mundo. Para você conseguir evitar ou sobreviver nesta selva de manipulação e controle você tem que buscar fontes diferentes de informação, na internet, na literatura escrita, nos livros de história, nas conversas com os seus amigos, na experiência pessoal, nas manifestações de rua e procurar criar mecanismos políticos e institucionais para derrubar esta situação de quase monopólio.

O processo eleitoral no Brasil é confiável?

O processo eleitoral no Brasil tem algumas distorções graves. Uma delas é, evidentemente, o papel do dinheiro na eleição. Embora a legislação, agora, tenha diminuído esse fator, sempre haverá o poder do dinheiro, porque os ricos sabem como se financiar, dentro ou fora da lei.


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Fotos: Jaqueline Altomani

Mulheres, LGBTs e negros recebem pouca atenção na maioria dos planos de governo dos candidatos a prefeito em Piracicaba

Onde está a

representatividade? Maioria entre os eleitores, mulheres estão à frente de apenas 30% das candidaturas nas eleições municipais no Brasil

Lívia Maria

livia.ms@outlook.com

Thainara Cabral

thainara.cabral18@gmail.com

Piracicaba conta com oito candidatos à prefeitura nas eleições deste ano, sendo que todos são homens, heterossexuais e com idade aproximada entre 40 e 70 anos. Destes, sete se autodeclaram brancos e um pardo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior parte da população piracicabana é composta por mulheres. No entanto, nenhuma delas integra a disputa política e essa questão não é apenas local, pois, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cada dez candidatos das eleições deste ano, apenas três são mulheres. “Os planos de governo possuem

poucas menções e em alguns casos não abordam nenhuma questão relacionada à defesa dos direitos das mulheres e o combate às várias formas de violência que nós sofremos”, afirma Emanuella Granja, conselheira do Conselho da Mulher de Piracicaba. Uma das maiores e mais urgentes reivindicações das mulheres é o funcionamento da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) por 24 horas e também aos finais de semana. Mas, a pauta não é citada em nenhum plano. “Não sofremos violência só em horário comercial, de segunda a sexta-feira, mas, principalmente nos finais de semana e nas madrugadas”, ressalta Emanuella. De acordo com Patrícia Sampaio, integrante da primeira turma de Promotoras

A cidade que queremos Coletivos se unem para promover debates políticos A criação de um município não está apenas nas mãos dos políticos, a responsabilidade também é dos cidadãos, que devem ter participação desde o processo de escolha dos candidatos até a cobrança dos eleitos durante o mandato. Essa ideia uniu coletivos, organizações e entidades de Piracicaba para a criação da Frente de Mobilização Social “A Cidade que Queremos”. Independente e suprapartidário, ou seja, realizado a partir da união de vários partidos, mas sem se subordinar a nenhum deles, o projeto carrega o lema de promover os debates políticos nas periferias da cidade, pulando os muros da região central. Foram quatro encontros que aconteceram de 1 a 17 de setembro em

centros comunitários dos bairros Mario Dedini, Novo Horizonte, Cecap e Centro, para reunir as demandas dos moradores de cada região. “A partir daí vamos levantar as pautas que os candidatos terão que se comprometer”, explica Bruno Rezende Spadotto, um dos organizadores do projeto. Depois de reunir as reinvindicações e propostas da população sobre diversas vertentes sociais, o projeto foi finalizado com um debate na Casa do Hip Hop com os candidatos a prefeito, onde a Frente “Cidade que Queremos” elaborou perguntas baseadas nas demandas dos habitantes. No debate também houve um momento aberto às perguntas, no qual a comunidade teve a oportu-

nidade de ter contato direto com os políticos. “A intenção é proporcionar a construção, na base, de uma consciência político-social por meio das trocas de experiências e integração da comunidade”, defende a organização da Frente. Para firmar ainda mais o compromisso dos concorrentes com a população, ao final do debate eles assinaram uma carta se comprometendo a cumprir as demandas elencadas pelos moradores durante os encontros, caso eleitos. Para os organizadores do projeto, essa é a forma prática de os piracicabanos criarem uma cidade em que realmente querem viver, onde as pautas trabalhadas durante o mandato abracem todas as regiões, as pessoas de todas etnias, gênero e idade. LM TC

Não sofremos violência só em horário comercial” Legais Populares de Piracicaba (PLP), a criação de uma casa abrigo para as mulheres que sofrem violência doméstica e um sistema de saúde que inclua tratamento integral às vítimas de estupro são questões que atrasam o desenvolvimento da cidade em relação aos direitos, ao se-

rem, mais uma vez, deixadas de lado. “Os planos apresentados discutem as políticas de mulheres superficialmente e não de forma inclusiva, não discutem enfrentamento ao machismo, sexismo e tratam as mulheres de forma abstrata”, conta. Além das mulheres, outra parcela da sociedade também não é acolhida pelas propostas de governo municipal. Segundo a integrante do Coletivo de Jovens Negros, Mayra Kristina Camargo, é necessário primeiro a efetivação da lei 10.639/3, que torna obrigatório o ensino sobre a história e cultura afro-brasileira nas escolas. “Ela só estando no papel e sendo trabalhada apenas por educadores negros e ‘simpatizantes’ não causa efeito. Não existimos somente em época

de eleições para sermos, daí sim, papel principal de propaganda eleitoral”, diz Mayra. O estudante Pierre Tazzo, 16, atua como militante estudantil, negro e gay em Piracicaba. Para ele, “é muito importante ter gente de cara preta na política”. Pierre ainda reafirma a necessidade de negros e LGBT’s ocuparem a cidade para os debates de gênero fora da região central, uma vez que não há segurança para circular até esses locais. “Como negro e LGBT, queria segurança para andar pela cidade, principalmente à noite”, diz ele. A cidade de Piracicaba foi palco de manifestações pela redução da passagem do transporte público e também por melhorias na educação, sendo que na maioria das vezes, os atos eram liderados por jovens. A estudante Sarah Montrazio, 16, ressalta a necessidade de um transporte que seja realmente público e com passe livre para estudantes. “Em suma, queremos candidatos que realmente nos representem e atendam nossas pautas, porque educação é investimento e não gasto”.

O que pensam os candidatos O Jornal de Classe consultou os oitos planos de governos divulgados pelos candidatos à Prefeitura de Piracicaba no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), buscando encontrar propostas que atendam às demandas das mulheres, dos negros, da comunidade LGBT e dos jovens. Dentre eles, apenas três citam projetos voltados aos direitos das mulheres, como funcionamento 24 horas da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e maior efetividade da Lei Maria da Penha, além da melhoria da estrutura organizacional do Conselho da Mulher. A comunidade LGBT é pauta, também, para três candidatos, que prometem garantir os direitos e reforçar os debates sobre as diversidades de gênero. Novamente,

Mulheres reivindicam delegacia com atendimento 24 horas, inclusive nos finais de semana, e rigor no cumprimento da Lei Maria da Penha

três concorrentes ao cargo de chefe do Executivo pretendem fomentar a discussão sobre a cultura afro-brasileira e africana nas escolas, e reforçar os coletivos e conselhos negros da cidade. Apenas dois projetos citam

propostas voltadas à juventude piracicabana, sendo passe livre para estudantes na utilização do transporte público e melhorias na educação, como por exemplo, a implementação do período integral nas escolas.


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Fotos: Caroline Castilho

Distanciamento físico garantido pelo mundo virtual facilita manifestações de intolerância

MUITO ÓDIO,

pouca ideia Com a política no centro das atenções, redes sociais são usadas como verdadeiros ringues para trocas de insultos inclusive entre pessoas que não se conhecem

Caroline Castilho

caroll.castilho@hotmail.com

Desde as eleições para os cargos federais em 2014, as redes sociais ganharam destaque quando o assunto é política. O Facebook é o que mais tem sido usado para essa finalidade por suportar diversos formatos de conteúdo em um único espaço. Vídeos, fotos, textos, debates e outras ações passaram a ocupar a “timeline” dos usuários, até mesmo de quem pouco se interessava ou nem podia ouvir falar sobre política. Os debates políticos, que antes eram mais comuns nas rodas de conversas de restaurantes e botecos, hoje também estão cada vez mais presentes nas redes sociais, mas de uma forma diferente. O espaço virtual para expor as ideias e opiniões políticas se tornou um verdadeiro ringue, onde as pessoas não escolhem as palavras e acabam “nocauteando” conhecidos e desconhecidos com discursos cheios de fúria.

Mesmo com todos esses combates que acontecem diariamente quando se comenta algo relacionado à política, o professor de filosofia e doutor em comunicação e semiótica, José Lima Júnior, acredita que as redes sociais não são culpadas pelo ódio político que se disseminou pelo país. “De certo modo, as redes ‘apenas’ dão maior visibilidade a um fator talvez anterior e mais sério: a deterioração dos paradigmas culturais promotores do respeito e da delicadeza. E o declínio dessas referências atravessa, permeia e corrói o tecido social de maneira abrangente”, explica o filósofo. Do outro lado da tela, o anonimato facilitado pelo mundo virtual se aliou à intolerância e aos preconceitos. Nunca se falou tanto sobre política como agora, principalmente com desconhecidos. Em sua tese de doutorado defendida em setembro de 2015, o publicitário e doutor em ciências da comunicação, Victor Corte Real, escolheu justamente as eleições

presidenciais de 2014 e o Facebook. Ele monitorou e analisou as postagens durante toda a campanha eleitoral, e chamou de “monológico” mais de 90% de tudo que circulou naquele período, pois a grande maioria das conversas não estabelecia diálogo, eram apenas opiniões não fundamentadas e incapazes de promover algum tipo de debate. “O que vemos é um grande número de pessoas sem repertório suficiente para construir opiniões sólidas, neste sentido o resultado é agressividade e expressão de ódio para tentar impor um pensamento na base da violência verbal e não da argumentação fundamentada”, explica Real. Não se pode negar que com as redes sociais as pessoas que nem podiam ouvir falar no assunto passaram a estar mais atentas e receber mais informações sobre política. O professor de pós-graduação em mídias digitais, Fabiano Pereira, considera que isso pode ser um avanço se levar em conta a participação de

Desabafos nas redes sociais Os ânimos exaltados em postagens sobre política ultrapassaram os limites das redes sociais e foram parar na Justiça. É o caso do comerciante de Nova Odessa, Adilson Dalbelo Russo, 34, que em fevereiro de 2013 teria ofendido o prefeito da cidade, Benjamin Bill Vieira de Souza (PSDB), através do Facebook, ao compará-lo com a água de coloração escura distribuída em alguns bairros da cidade pela Companhia de Desenvolvimento de Nova Odessa (Coden). O prefeito ofereceu ao Ministério Público uma ação criminal contra o comerciante, que pode ser acusado de injúria. Na região, esse não é o único caso em que as redes sociais foram usadas como ferramentas para distribuir ofensas. Em Americana, o candidato a vereador Marschelo Meche (PSDB) utilizou

o Facebook para manifestar sua insatisfação a quatro vereadores da cidade, Davi Ramos (PC do B), Téo Feola (PV), Luciano Corrêa (PSD) e Valdecir Duzzi, (SDD), ao chamá-los de corruptos mesmo sem apresentar provas. Os vereadores registraram queixa contra ele. Esses tipos de condutas têm se tornado comuns nas redes sociais, principalmente pelo anonimato que elas proporcionam. Quem está por trás da tela não se preocupa com o que escreve, nem para quem escreve e assim acaba espalhando ofensas e preconceitos em suas postagens, sem medir as consequências que essas atitudes podem causar. Mestre em direito e também professor de direito penal pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), José Luiz Joveli cita a liberdade como um dos pilares de um

Professor da Faculdade de Direito da Unimep alerta para a necessidade de uso responsável da liberdade de expressão

O exercício da liberdade de expressão não é absoluto”

Estado Democrático de Direito, mas alerta: “A referida liberdade tem seus limites. Não se pode permitir, sob o fundamento de se resguardar a liberdade de expressão, que sejam veiculadas manifestações de cunho racista ou preconceituosas, pois estas são ofensivas da imagem, da honra, bem como de todos

uma massa muito grande que há pouco tempo não dava a mínima importância para o tema, descaso que se refletia no resultado das urnas a cada nova eleição. “Elas ‘politizaram’ mesmo que ainda precariamente uma grande parcela da população. E isso não só aqui, mas em diversas outras partes do mundo, inclusive nos chamados países desenvolvidos”, diz o professor. Quem nunca usou as redes sociais para reclamar de algo, que atire a primeira pedra. O espaço disponibilizado virtualmente para expor ideias também está se transformando em um tipo de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Navegando pelas diversas páginas e perfis é possível perceber o grande número de desabafos e reclamações. Dentre os principais assuntos que são alvos de queixas está a política, mas infelizmente as murmurações acabam se perdendo em meio a tantas postagens e no mundo real tudo continua do mesmo jeito, sem surtir o efeito esperado.

os demais direitos que compõem a dignidade da pessoa humana, a qual é elevada à dignidade de fundamento da própria República Federativa do Brasil, através do artigo 1º, III, da Constituição Federal”, orienta o professor. Vivendo em um mundo cada dia mais avançado quando o assunto é tecnologia, e que cada vez mais pessoas de todas as idades, raça, cor, religião, gênero etc. têm acesso às redes sociais, o respeito e a tolerância pelas opiniões do próximo são fundamentais para que se tenha uma boa convivência virtual. A liberdade também pode aprisionar quando não utilizada da maneira correta. “Em suma, o exercício da liberdade de expressão não é absoluto, devendo observar os princípios que visam à manutenção da ordem pública e dos direitos humanos fundamentais, sobretudo quando se tratar dos meios de comunicação social”, finaliza Joveli. CC

Uso da biometria A biometria, palavra que vem do grego bios (vida) e metron (medida), é uma tecnologia para garantir mais segurança na identificação do leitor na hora de votar. Regulamentado pelas resoluções-TSE n° 23.335/2011 e 23.366/2011, o recadastramento biométrico é realizado gradativamente pela Justiça Eleitoral em todo o país. No Estado de São Paulo, a coleta de dados biométricos passou a abranger todas as cidades a partir de 2015, mas nem todos os eleitores estão recadastrados. Apenas 15 municípios paulistas terão votação 100% biométrica nas eleições municipais 2016. Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro não estão entre eles. CC

Voto feminino no Brasil O dia 24 de fevereiro de 1932 foi um marco na história para a mulher brasileira. Naquele ano, em Mossoró (RN), a professora Celina Guimarães Viana conseguiu um registro para votar e, a partir daí, passou a vigorar em todo o Estado do Rio Grande do Norte a lei eleitoral que estabelecia o voto para todos, sem a distinção de sexos. Dessa forma, o Rio Grande do Norte passou a ser o primeiro Estado do país a reconhecer o voto feminino e a ter uma mulher prefeita, Alzira Soriano, que foi eleita na cidade de Lajes. Mas apenas em 3 de maio de 1933 a mulher conseguiu votar e ser votada em âmbito nacional, na Assembleia Nacional Constituinte. CC


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VOLUNTÁRIOS

FAZEM A DIFERENÇA

Em três cidades da região a participação espontânea de mesários aumentou

Em quatro cidades da região, 2.644 urnas serão usadas no próximo domingo, 2 de outubro

PODE

Amanda Wendland

amandawendlandm@gmail.com

NÃO PODE

Isabela Guevara

isabela.guevara@yahoo.com.br

Sem as pessoas que trabalham nas eleições não conseguiríamos exercer a democracia” Isabela Guevara

A participação de mesários voluntários nunca foi tão necessária como agora, com a diminuição no número de convocações devido a cortes no orçamento. De acordo com José Antonio Capelli, chefe de cartório da 93ª Zona Eleitoral de Piracicaba, nas eleições anteriores as mesas de justificativa eram compostas por seis mesários, condição que foi alterada. “Neste ano, esse número foi reduzido pela metade. Assim como os mesários destinados às mesas de votação, que antes eram compostas por cinco pessoas, agora serão apenas quatro. O ideal seria termos mais voluntários para participar desse processo”, conta Capelli. O chefe do cartório também comentou a essencial presença de mesários voluntários. A 93ª zona registrou para estas eleições 400 voluntários, num total de 3.682 mesários, número baixo comparado à quantidade de convocações. Segundo Capelli, essa quantia representa somente um quarto do número de mesários convocados. Já para as cidades de Americana, Limeira e Rio Claro, o número de mesários voluntários aumentou, principalmente na Zona Eleitoral 158ª de Americana e na 66ª de Limeira. Os cartórios das cidades citadas não informaram o valor exato desse aumento, ainda que tenha sido expressivo. No caso de Limeira, a 399ª Zona Eleitoral registrou crescimento no número de voluntários. Nas eleições municipais de 2012,

• Manifestação do pensamento individual, mas sem anonimato, inclusive na internet. É direito do cidadão se expressar da maneira que julgar melhor, sem ofender ou denegrir a imagem de outros eleitores ou candidatos e também sem fazer alarde no dia da eleição. Deve-se respeitar as opiniões alheias mesmo que não se concorde;

• Usar alto-falantes e amplificadores de som. É terminantemente proibido fazer alarde nas ruas no dia da eleição. Tal ato é considerado crime pela Justiça Federal e, consequentemente, acarreta em punição. Não só o uso de aparelhos eletrônicos que emitem som é proibido, mas também o uso indevido da voz em alta intensidade;

• Utilização de “cola”, um lembrete discreto dos números de seus candidatos. As eleições municipais envolvem dois grupos de números a serem digitados nas urnas, então, para não ser esquecer dos candidatos escolhidos, é permitido por lei que se leve um papel com os números correspondentes aos candidatos;

• Trocar voto por benefícios (cesta básica, dinheiro, etc.). O voto de cada cidadão é um direito que foi conquistado ao longo dos anos e da história política nacional, e não deve ser desperdiçado por algo material, mas sim porque o cidadão tem consciência e sabedoria do que está fazendo. Uma dica para o voto: pesquise sobre o candidato;

• Os fiscais podem apenas usar a sigla ou nome do partido na roupa. Para quem foi convocado a trabalhar na eleição ou se voluntariou para esse processo, é proibido fazer propaganda eleitoral. Porém, a lei permite que qualquer cidadão use uma camiseta com uma sigla ou nome do partido, utilizando de ética e bom senso.

Isabela Guevara

• Fazer boca de urna e ridicularizar qualquer candidato. Fazer boca de urna – a influência de voto na hora da votação – por lei é um crime. Se você já tem um candidato para votar em mente, tenha-o somente para você. Divulgar isso pode ser prejudicial a você mesmo e não é ético perante aos outros.

os voluntários somavam 504 pessoas; para as eleições deste ano o número subiu para 931. Após atuar nas eleições, os mesários passam a contar com o direito de folgar dois dias no trabalho e, no caso dos universitários, é possível utilizar as horas trabalhadas como atividade curricular complementar. “Sem as pessoas que trabalham nas eleições, independente da função, não conseguiríamos exercer efetivamente a democracia, que advém do poder que emana do povo, através do voto”, explicou Jéssica de Abreu, fiscal eleitoral voluntária das eleições de 2014, em Piracicaba, e estudante de direito. Em relação às urnas destinadas às quatro cidades, o número aumentou em função do crescimento das seções e da expansão de escolas participantes. Apenas para a cidade de Piracicaba foram destinadas 1.038 urnas, além das máquinas de contingência. Nas cidades da região, os números variam de 405 urnas em Rio Claro, 476 em Americana e 725 em Limeira. Conforme informações de Capelli, neste ano as seções de votação também aumentaram. Apenas em Piracicaba 96 escolas receberão os eleitores, sendo a Escola Estadual Doutor Jorge Coury o maior colégio eleitoral da cidade. Americana conta com 59 locais de votação, entre eles a Etec Polivalente, que abriga o maior número de seções. Já as cidades de Limeira e Rio Claro possuem 51 e 85 seções, abrigadas nos maiores colégios eleitorais, como a Etec Trajano Camargo, e o Colégio Raul Fernandes Chanceler, respectivamente.

O ideal seria termos mais voluntários para participar desse processo” Amanda Wendland


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Abstenção cresce 32% Elevação é registrada na comparação entre as eleições de 2008 e 2012 em quatro cidades da região

Fernanda Mazi

fer.mazi@hotmail.com

O número de eleitores que deixaram de comparecer às urnas na eleição municipal de 2012 subiu 32% na soma dos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Americana, Limeira Piracicaba e Rio Claro, em comparação com os dados da disputa de 2008 nas mesmas cidades. Em Limeira, cerca de 35 mil eleitores não votaram na última eleição municipal, contra 25 mil na disputa de 2008, representando um aumento de 40% na abstenção. Votos brancos e nulos também aumentaram na cidade no mesmo período. O TSE registrou em Piracicaba elevação de 37% no número de abstenções. Foram 35 mil em 2008, contra 48 mil em 2012. A quantidade de votos em branco na cidade quase dobrou de uma eleição para a outra, passando de 8,5 mil em 2008, para 15,4 mil na última disputa municipal. Americana registrou o menor índice de crescimento no período entre os municípios pesquisados: 22%. O eleitor que falta às eleições e não justifica a ausência do voto no dia do pleito tem de 60 dias para fazê-lo. O eleitor que só deixou de votar e justificar

por até duas eleições seguidas deverá ir pessoalmente a qualquer cartório eleitoral ou posto de atendimento ao eleitor, preencher o Requerimento de Justificativa Eleitoral pós-eleição e apresentar um documento oficial original com foto, como a carteira de identidade (RG), carteira de habilitação, ou carteira de trabalho. Atualmente vigora no pleito eleitoral o princípio da maioria absoluta de votos válidos, ou seja, votos brancos e nulos são desconsiderados. Assim, os votos em branco e nulo configuram apenas o descontentamento do eleitor com as candidaturas apresentadas. Essa insatisfação, inclusive,

Sem reforma, a tendência é aumentar o afastamento dos eleitores da política”

é apenas uma das razões apontadas pelo aumento do número dos votos inválidos nas últimas eleições, de acordo com a advogada Mariane Pizzo. “Em um contexto de crise e corrupção, é natural que o protesto político seja feito nas urnas. Entretanto, a insatisfação das pessoas com relação ao governo nem sempre depende do cenário, ela pode estar ligada à forma como o eleitor se vê ou não representado pelo seu político”, afirma. A professora de sociologia, Suzana Mendes, destaca que a falta de alternativas que assola o cenário das próximas eleições tende a aumentar ainda mais a quantidade dos votos nulos e brancos, mesmo que eles não atuem diretamente em uma mudança. “A meu ver, os candidatos continuam apresentando propostas genéricas, sem qualquer embasamento ou planejamento, com assuntos que fogem das reais necessidades do povo”, observa. Para que haja esperança nas próximas eleições, Suzana acredita na reforma política composta por jovens engajados e comprometidos, como já está acontecendo. “Sem uma reforma, a tendência é cada vez mais o afastamento dos eleitores da política, não tem jeito. E os jovens são ideais para darem início nessa jornada”, conclui.

Vale a pena votar em alguém? fer.mazi@hotmail.com

Laís Carvalho

laistcarvalho@gmail.com

Diego Barbosa

Parte dos eleitores avalia que a atual conjuntura política brasileira não estimula a participação nas eleições deste ano. A descrença com os candidatos e suas propostas contribui para que os cidadãos não levem mais em consideração a importância que o voto tem para o fortalecimento do regime democrático. Muitos jovens não acreditam em uma mudança no campo político, e enxergam o voto branco ou nulo como um protesto. “É uma forma de mostrar que estamos insatisfeitos com os trabalhos e com a forma que a política brasileira caminha”, avalia a estudante Camila Alvaredo. Confira o que pensam estudantes e profissionais ouvidos pelo Jornal de Classe a respeito de votar em branco ou nulo na disputa marcada para domingo: Amanda Cirulli, 21, estudante de arquitetura Vou votar nulo porque nenhum dos candidatos atende às expectativas da minha cidade.

Marcelle Marrara, 21, estudante de moda Não pretendo anular o voto. Eu vou votar nos candidatos que mais me agradam.

Luana Schimidt, 21, estudante de jornalismo Não. Eu não voto luto, não voto branco. O meu direito de exercer a cidadania pede para que eu vote, para que eu faça escolhas! Por mais que, muitas vezes, não haja um candidato que possa superar minhas expectativas, ou que compartilhe propostas que me satisfaça, eu busco o melhor candidato, na minha concepção. Busco aquele que possa me representar, e representar a minoria. Depois de votar, caso o candidato seja eleito, eu procuro acompanhar as atividades, conferir propostas e o que ele está realizando no dia a dia. Não faço isso apenas se o meu candidato entrar, viso fiscalizar todos. É gratificante saber que meu voto pode significar algo, por pequeno que seja. Não sou apenas eu, eu voto pela sociedade.

Carolina Camargo, 21, estudante de medicina Eu votaria nulo por não me identificar com as propostas de nenhum dos candidatos.

Mariane Pizzo, 27, advogada Votarei nulo porque acredito que o país precisa de uma reforma política, e nenhum

Nathália Rangel, 21, estudante de direito Sim. Acho que é uma boa forma de me expressar porque o voto nulo não quer dizer que eu concorde com quem ganhou, mas diz que eu não gostei de nenhum dos candidatos.

Serjey Martins

josephmartins@outlook.com

“Um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda”, disse o 16º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, morto em 1865. Atualmente, para o voto continuar com esse poder, é necessário que seja válido, isso é, nem branco, nem nulo. Desde 2008, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio da Resolução nº 22.712, estabelece que são válidos apenas os votos direcionados a algum candidato ou partido. Logo, tanto o voto nulo, que é realizado quando o eleitor digita um número de candidato inexistente, quanto o voto em branco, feito ao eleitor pressionar a tecla Branco, só tem o efeito de diminuir o número de votos válidos e favorecer os candidatos mais votados a ganharem as eleições no primeiro turno. A intenção de protesto pode, então, ter efeito contrário para o eleitor. Isso acontece, pois quanto menor o número de votos válidos, mais fácil se torna para o candidato alcançar a maioria absoluta (50% dos votos mais um). Por exemplo, em uma cidade com cem eleitores, são necessários 51 votos para o candidato ser eleito. Se 20 desses eleitores votarem em nulo ou branco, o número cai para 41. Logo, o eleitor que não valida seu voto facilita a vitória do candidato mais forte.

por meio do voto, conhecendo bem os candidatos, analisando quais são suas propostas e se interessando e se envolvendo com a política. Também posso ver aqueles que possuem trabalhos que possam mostrar a sociedade, que eu possa escolher da melhor forma possível e votar em alguém que seja eleito para depois acompanhar e cobrar seu trabalho tanto na câmara quanto no Executivo.

Fernanda Mazi

VAI ANULAR OU VOTAR EM BRANCO NESTA ELEIÇÃO? POR QUÊ?

Quem se beneficia com votos brancos e nulos?

dos candidatos me agrada e/ou está disposto a realmente mudar alguma coisa. Carla Cristina, 28, fisioterapeuta Votar branco ou nulo é a maior afronta à democracia. Votarei nesta eleição mesmo sabendo que não existe um candidato que me represente na totalidade. Mesmo assim, acredito ser indispensável essa forma de exercer a cidadania e colaborar para que as reformas políticas comecem neste país. Vitória Domiciano, 21, estudante de direito Eu não vou votar branco ou nulo porque acredito na democracia e que essa seja a única forma de iniciar melhoras efetivas na minha cidade. Rogério Saracino, 45, escrivão da polícia Eu acredito no poder do voto e que existem candidatos capazes de mudar o rumo da minha cidade, começando com os vereadores. Ronald Gonçales, 31 anos, jornalista Não pretendo votar em branco nem nulo porque eu acho que é importante exercer a cidadania

Lívia Maria, 20, estudante de jornalismo Não. Todos queremos cobrar dos candidatos, independente do cargo. Mas, antes de cobrar, é necessário exercer nosso papel e eleger os candidatos. Mesmo não me sentindo totalmente representada, vou buscar alguém com propostas que se aproximam do que eu acredito, e acho que todos deveriam fazer o mesmo. Não adianta cobrar por mais direitos, se você votou nulo ou branco. Exercer o papel de cidadão é fundamental. Vinicius Queiroz, 22, estudante de jornalismo Não votaria nulo, afinal o voto é a oportunidade que eu tenho de exercer a democracia e lutar por melhorias. Daiane Santos, 23, estudante de jornalismo Não, porque antes de cobrar direitos é importante exercer o dever como cidadão e valorizar o voto. Ao preferir o voto nulo ou branco, estaria abrindo mão da oportunidade de mudança, que pode começar por mim. Thainara Cabral, 20, estudante de jornalismo Não, porque não acho que esta gestão foi boa, muito menos a anterior, e não adianta só ficar reclamando, então acho que anulando meu voto eu estou abrindo mão do meu papel de cidadã Diego da Silva Anjos, 23, estudante de publicidade Sim. Votaria nulo porque nenhum candidato me agradou e, segundo informações de outras pessoas, quando se vota nulo o meu voto não é designado ao candidato que está com maior número de votos. Marcus Vinícios Lopes Abelha, 25, assessor de marketing Não. Porque eu acho que, independente de quais sejam os candidatos, e independente do nosso voto, ele fará parte de uma decisão. Então prefiro que a direção tomada pelo meu voto seja uma escolha minha, ao invés de pelo acaso, como ocorre em votos nulo e branco.


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