Jornal de classe ed06 novembro/2016

Page 1

Gabriela Magri

Jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Novembro/2016 • Edição 06

Jovens conquistam espaço nas câmaras de vereadores da região Número de vereadores com até 35 anos, em Americana, será 42% maior que o da atual legislatura; duas candidaturas apoiadas pelo MBL vencem na região. P. 16

AMERICANA

LIMEIRA

PIRACICABA

RIO CLARO

OS ELEITOS

Omar Najar / PMDB

Mário Botion / PSD

Barjas Negri / PSDB

Juninho da Padaria / DEM

Escolhidos para comandar o Poder Executivo em quatro cidades da região revelam os desafios e os projetos que pretendem desenvolver nos próximos quatro anos de administração P.04 a P.07 RAIO-X

MULHERES

ABSTENÇÃO

Veja quem ganhou a eleição para prefeito com mais facilidade, onde a disputa foi mais apertada, quem é o prefeito mais jovem e quem é o mais velho P.10

Piracicaba terá apenas uma representante no Poder Legislativo; na região, apenas 12% das vagas serão preenchidas por vereadoras P.03

Piracicaba registra o maior número de ausências no dia de votação entre os municípios da região pesquisados pela reportagem do Jornal de Classe P.13

Raíssa Secomandi

Nelson Jr/TSE

‘Santinhos’ diminuem, mas prática ainda é adotada Os eleitores que foram às urnas para votar em seus candidatos encontraram as ruas com menos panfletos do que nas eleições anteriores nas cidades de America-

na e Limeira. Porém, mesmo com as mudanças recentes e o endurecimento da legislação eleitoral, alguns candidatos não abriram mão da prática P.15

Eleitores sofrem para ter acesso às urnas Pessoas com mobilidade reduzida encontraram dificuldades para votar nas escolas da região. Em Piracicaba foram necessários 11 minutos e 35 segundos para Benedito Leme, 65, validar

seu voto. “É uma falta de respeito com os idosos”, comentou. Os pedidos de transferências de local de votação devem ser feitos com antecedência à Justiça Eleitoral. P.14

Participação de adolescentes é reduzida em 48% Pouco mais de mil eleitores com 16 e 17 anos estavam aptos a votar este ano em Piracicaba. Na eleição municipal de 2008, o número de eleitores na mesma faixa etária representava 2.062. O atual cenário político na-

cional, permeado por denúncias de corrupção, é um dos fatores apontados por especialistas como responsável por desestimular os jovens a participar do processo eleitoral antes do período obrigatório. O professor de

sociologia da Unimep, Jessé Marques, não acredita que a queda na participação de parte do eleitorado nas eleições possa ser atribuída à falta de informação dos eleitores. “Há muitos cidadãos que não votam por não acreditar nos

políticos. Acreditam que se votar ou não votar, os políticos de sempre serão eleitos, e nada será mudado, tendo em vista os candidatos de sempre que serão os que estarão no comando do país”, analisa o professor. P.11


edição 06 • Novembro/2016

EDITORIAL

página

Cobranças já! C

om pouco tempo de campanha eleitoral (45 dias), os candidatos deram a ‘cara a tapa’, apresentaram propostas e soluções para o próximo mandato, que se inicia em janeiro de 2017. Outros abusaram dos materiais de divulgação, e isso ficou evidente nas calçadas cobertas por papéis no domingo da eleição, em 2 de outubro. Mas o momento principal começa agora, o momento de cobrar! No dia 2 de outubro, eleitores de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro declararam seus votos para

vereador e prefeito nas urnas. E após tantas promessas, fica-se a dúvida se os representantes eleitos pelos moradores irão cumprir o que disseram e, mais, se esse voto realmente irá valer a pena para você. Diante do atual cenário político do Brasil, e da crise financeira alarmante com mais de 12 milhões de brasileiros desempregados, segundo os últimos dados do IBGE, o interesse da população em participar das eleições municipais foi negativo. Os altos índices de abstenção e votos nulos são

reflexos da indignação da população com os últimos acontecimentos em todas as esferas de poder. Hoje o eleitor tem uma ferramenta muito importante que, muitas vezes, direciona os votos: a informação. Seja na internet, na TV, no jornal ou no rádio. Basta um clique para se ter notícias do mundo inteiro e em diversos veículos de comunicação . Dessa forma, se pode questionar, criticar e definir o que é bom e ruim para cada um. No momento de decidir quem vai representar os an-

seios da população, muitos levam em conta o que será melhor para si e no que será beneficiado. No entanto, o bom atendimento nos postos de saúde, o cuidado com as áreas de lazer, o empenho na geração de empregos, e a melhoria da merenda escolar são algumas das solicitações dos moradores. E para as boas mudanças acontecerem, todos devem agir juntos e unidos. Por isso, e além disso, chegou a hora de saber as reais intenções dos eleitos, e se as inúmeras propostas vão, de uma vez por todas, sair do papel.

EXPEDIENTE Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep Reitor Prof. Dr. Marcio de Moraes Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino César G. da Costa Coordenador do Curso de Jornalismo Paulo Roberto Botão Editor João Turquiai Junior MTB 39.938 Editores-assistentes Caroline Pires Cadiz Andressa dos Santos Vinícius Queiroz Luiz Silva Raíssa Ciccheli Redatores Andressa dos Santos, Beatriz de Oliveira Supriano, Caroline Pires Cadiz, Flávia de Almeida Ribeiro, Gabriela Fassis Vicentini, Graziela de Jesus Nascimento Reina, Guilherme Augusto Milani, Julia Marcicano de Noronha Zini, Kelly Suzan de Almeida, Leonardo de Oliveira Soares Coutinho, Lucas Vaz, Lidia Ponciano, Luiz Carlos da Silva Filho, Maíra Bacellar, Mayara Roberta Piantavina da Silva, Raíssa Natasha Ciccheli, Raissa Secomandi Sarra, Vinícius de Assis Bringel, Vinícius Queiroz Santos, Vitor Ferezini, Wesley Barbosa Sudré, Yuri Dias Barbosa Editoração Gráfica Sérgio Silveira Campos (Lab. Planejamento Gráfico) Correspondência Faculdade de Comunicação Campus Taquaral, Rodovia do Açúcar, KM 156 – Cx. Postal 69 CEP 13.400-911 Telefone (19) 3124-1677 unimep.br

ARTIGO

A farra tem que acabar! Vinícius Queiroz queirozs.vinicius@gmail.com

C

om o final das eleições 2016, o que fica é a dificuldade de analisar os resultados. A precariedade nas áreas de Saúde, Educação e Segurança é reflexo ímpar da farra na maioria dos governos. Grande parcela dos eleitos expõe propostas, impõe opiniões, mas olvida a realidade. É contraditório ouvir tantas propostas, mas testemunhar poucas ações. Esse é o comportamento da parcela de políticos que na hora de pedir o seu voto se comporta como quem acredita ter superpoderes, não economiza em falas doces e hipocrisia quando se lança na desespe-

rada busca por votos. Uns dizem que resolverão problemas de saneamento básico, que em algumas regiões são graves; outros prometem rios e o mundo! Mas o que a sociedade desprovida de informações não sabe, é que grande parcela das promessas não passa de conversa fiada para construir a ilusão que garante votos. É um espetáculo à parte. Antes das eleições, políticos defendem suas campanhas com inúmeras promessas, mas após a conquista do voto distorcem a perspectiva da população e trocam seus ideais por propinas e esquemas de corrupção. Enquanto isso, no jardim da mentira, escolas amargam a falta de

professores, faltam médicos em hospitais e em postos de saúde, servidores recebem salários parcelados, etc. Todavia, a luta da população, na maior parte das vezes, vem do pressuposto individualista. É necessário, porém, unir forças em prol dos interesses da sociedade, de maneira democrática e a fim de superar as expectativas atuais, mudando o cenário dos exaustivos desleixos por parte da governança. Assim, o brasileiro se tornará mais esperançoso. E agora, o que esperar no Poder Legislativo? A esperança está na renovação que atingiu algumas câmaras da região, inclusive com a presença de mulheres e jovens. Os eleitos têm a missão de

suprir a deficiência deixada pelos seus antecessores, que não é pequena. A expectativa é que a sensação de estar angustiado com esse sistema falho acabe. Portanto, só pedimos a vocês, mulheres e homens, escolhidos pelo povo, que aceitem e cumpram seus deveres. Representando o povo sofrido do gueto, a comunidade massacrada pelo machismo e o preconceito, valorize a todos sem diferenciar o branco do negro, gay do heterossexual, e a mulher do homem. Valorize essa população que está desacreditada de tanto marasmo e discrepância. Veja nosso lado, mude esse cenário hostil e que respira na UTI da aceitação popular.


3

Novembro/2016 • edição 06

69

O número de vereadores nas quatro cidades cresceu, mas a representatividade feminina continua a mesma

GÊNEROS NAS CÂMARAS

2012

59 = homens 10 = mulheres

82

2016

Arte: Jeniffer Reis

72 = homens 10 = mulheres

RAIO-X DO LEGISLATIVO

Mulheres conquistam apenas 12% das vagas do Legislativo na região Ana Clara Gaspareto

Assessoria de imprensa/ Câmara de Limeira

Jeniffer Reis

jeniffer.reis@outlook.com.br

Em Limeira, dos 21 vereadores eleitos, apenas cinco são mulheres. Nas outras cidades da região, a representatividade feminina é ainda menor. Duas mulheres foram eleitas em Rio Claro, e duas em Americana. Já em Piracicaba, onde o índice de representatividade foi o pior entre as quatro cidades, apenas uma mulher ficou entre os parlamentares eleitos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a veicular este ano a campanha “Igualdade na Política”, com o objetivo de incentivar a participação das mulheres nas discussões eleitorais, mas a mesma não obteve tanto sucesso na região, onde o percentual de mulheres eleitas passou de 13%, nas eleições de 2012, para 12%, nas eleições deste ano. Entre Piracicaba, Americana, Limeira e Rio Claro, Limeira é a cidade que terá

Vejo com muita esperança meninas debatendo assuntos políticos nas escolas, se mobilizando para participar das ações realizadas na câmara” Érika Tank, vereadora reeleita

Americana 2

5

12

Limeira 4

6

Piracicaba 4

7

0

12

A falta de interesse na política ‘formal’, atualmente, como candidaturas a cargos públicos, não vem só das mulheres, é apenas reflexo da falta de credibilidade dos partidos políticos” Danuta Rodrigues, historiadora

5 2

4

6

8

Fundamental

10

12

14

Ensino médio

16

18

20

22

24

Raíssa Ciccheli

Ensino superior

raissa.ciccheli@gmail.com

Vereadores com ensino superior

2016 Americana 2

7

Limeira 2

5

10 14

Piracicaba 1 6

16

Rio Claro 1 9 0

mulheres devem representar 30% das candidaturas, e muitos partidos apenas as inscrevem para a disputa com a intenção de preencher a cota legal. Apesar de o cenário atual apontar o aposto, a vereadora Érika Tank (PR), de Limeira, também compartilha de uma visão otimista para o futuro político das mulheres. Ela acredita que o papel da mulher na câmara da cidade tende a crescer nas próximas eleições com as mulheres muito mais ativas no Legislativo. “Vejo com muita esperança meninas debatendo assuntos políticos nas escolas, se mobilizando para participar das ações realizadas na câmara e levar esse debate até a família, estendendo assim o efeito dessa mobilização. Não tenho dúvidas de que na próxima eleição já sentiremos uma participação mais efetiva da mulher, seja como candidata, seja como eleitora disposta a apoiar outras mulheres”, finaliza a vereadora.

Em Piracicaba, 70% dos vereadores eleitos têm diploma universitário

11

Rio Claro 7

um dos motivos do porquê as mulheres têm se organizado melhor nas ruas do que nas câmaras, afirmando que a sua participação mais ativa nas tomadas de decisões públicas é algo a ser atingido gradativamente, devido ao peso histórico de desigualdade de gênero. A historiadora defende que apostar em ações afirmativas voltadas à população feminina é o caminho para que cada vez mais mulheres participem dos movimentos e possam cobrar seus representantes, aumentando também o interesse em formar partidos políticos que priorizem pautas para o benefício delas. Um levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo mostra que a baixa representatividade feminina nas eleições de 2016 foi um fato de âmbito nacional, e a falta de recursos destinados às mulheres pelos partidos políticos é um dos principais motivos apontados. A lei eleitoral determina que as

Maioria dos eleitos tem ensino superior

Vereadores com ensino superior

2012

Arte: Raíssa Ciccheli

maior representatividade feminina, com 31,25%. Mas, levando-se em conta que as mulheres são responsáveis por 51% do eleitorado na cidade, o número ainda é baixo. Para Danuta Rodrigues, historiadora formada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), a baixa representatividade nas câmaras não significa que as mulheres não estejam engajadas politicamente. Ela cita os movimentos sociais femininos que vêm ganhando força em diversos lugares do país e do mundo. “Eu não vejo política apenas como um meio de representatividade dentro de cargos legislativos. A falta de interesse na política ‘formal’, atualmente, como candidaturas a cargos públicos, não vem só das mulheres, é apenas reflexo da falta de credibilidade dos partidos políticos”, comenta. Além disso, segundo Danuta, a falta de pautas voltadas especificamente para o público feminino dentro das campanhas também é

anacgaspareto@gmail.com

Divulgação

Limeira é a cidade que alcançou maior representatividade feminina nestas eleições, com cinco vereadoras; Câmara de Piracicaba terá só uma parlamentar entre os ocupantes das 23 cadeiras da Casa

2

9 4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

Com a crise econômica cada vez mais acentuada no país, até mesmo os graduados estão em busca de novas profissões, como um cargo público eletivo de vereador, por exemplo. A nova composição das câmaras de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro para o mandato que se inicia em janeiro de 2017 é formada em maioria por vereadores especializados em alguma área.

Em Piracicaba, 70% dos eleitos possuem ensino superior e, por outro lado, o ensino fundamental como único grau de escolaridade atinge apenas 5,2% dos eleitos em Rio Claro. As profissões de advogado e empresário são as mais comuns entre os parlamentares eleitos nas quatro cidades da região. A diferença também é relevante quando os números deste ano são comparados com os da eleição municipal de 2012. Há quatro anos, a quantidade de vereadores

eleitos que contavam com o ensino superior representava 53%. Desta vez, os parlamentares com ensino superior ocuparão 60% das cadeiras nas câmaras das quatro cidades da região. Na cidade de Limeira, essa alta representa 14,3%. Somente em Americana o número de eleitos com ensino superior baixou cerca de 10%. Porém, o número de vereadores com nível superior no legislativo americanense ainda responde pela maioria na Casa.


4

Fotos: Marilia Pierre

edição 06 • Novembro/2016

Graziela de Jesus N. Reina grazielajnr@outlook.com

RAIO-X Nome: Omar Najar Idade: 69 Estado civil: casado Profissão: empresário Escolaridade: ensino médio Partido: PMDB Recado das urnas: 72,7% dos votos (84.879)

Omar Najar (PMDB) assumiu a Prefeitura de Americana em dezembro de 2014, depois de vencer as eleições suplementares convocadas após a cassação do mandato do prefeito Diego De Nadai (PTB). Mas o período turbulento na política local não chegou ao fim, mesmo após quase dois anos da atual administração. Greves de servidores por atrasos no pagamento de salários ainda são frequentes, embora o cenário caótico de lixo amontoado durante semanas por ruas e avenidas faça parte do passado. Mesmo com um longo caminho a ser percorrido para que a prefeitura volte a oferecer serviços públicos de qualidade, além de entregar obras, os cerca de 85 mil votos recebidos na eleição deste ano mostram que a maior parte dos eleitores aprova as ações de recuperação da atual administração, que alega ter assumido a cidade com um rombo de R$ 1,2 bilhão. Confira a seguir a entrevista que o prefeito reeleito de Americana concedeu, na prefeitura, à reportagem do Jornal de Classe. Na avaliação do senhor, por que a maioria dos eleitores rejeitou políticos tradicionais na capital e em Americana? O senhor acredita que essa onda continuará nas próximas eleições pelo Brasil? O que houve em Americana e está acontecendo no Brasil, tenho impressão que é você ser sincero e transparente com o povo. Eu não menti nada, eu sabia que ia pegar uma situação caótica que estava acontecendo no município. Para minha surpresa, eu achei que a dívida ia ser de R$ 700 milhões, e quando nós entramos nos deparamos com uma dívida de aproximadamente R$ 1,2 bilhão. A partir de 2016 a coisa piorou, a grave crise que o país atravessa, mais a queda de arrecadação, nós entramos em uma fase muito difícil, e aí nós conseguimos chegar praticamente neste final de 2016 com uma série de atrasos, inclusive no salário. Que lição o resultado das urnas em Americana mostra que o eleitor aprendeu com as consequências da administração do ex-prefeito cassado Diego De Nadai (PTB)? Eu acho ilusão, porque no final das contas é o contribuinte americanense que está pagando as contas que foram criadas pelos absurdos que se gastaram. Gastaram com propagandas, o município gastou até com a revista Veja. Eu acho que a melhor propaganda que pode ser feita é a avaliação do contribuinte e do cidadão, e não você fazer propaganda de si mesmo. Foram vendidos muitos imóveis que eram dos cidadãos americanenses, então foi essa a situação que foi criada.

Esperamos que no ano que vem, quiçá 2018, colocamos a casa em ordem”

AMERICANA

Nunca prometemos um mar de rosas Prefeito defende cortes no funcionalismo para equilibrar finanças do município; pagamentos em dia são previstos para janeiro de 2017

“Só tentei a reeleição porque achei que o tempo foi curto”

Ao a n u n c i a r c o r t e s drásticos de despesas, incluindo a necessidade de demitir centenas de servidores, o senhor disse que as medidas de austeridade tomadas durante o seu mandato tampão não foram suficientes para equilibrar as contas. Por que o senhor decidiu tentar a reeleição diante de um cenário ainda caótico? Porque quando nós assumimos o espaço foi muito curto. Comecei a fazer o que teria que fazer. No primeiro ano pagamos os salários, quitamos a dívida do município durante o ano de 2015 e assim conseguimos fazer uma economia de R$ 80 milhões, embora alguns contratos que existiam foram renegociados, tudo para baixo. Fornecedores, merendas, enfim, conseguimos uma redução. Mas com a máquina pública é muito complicado, o espaço de tempo foi curto, pois não é igual uma empresa privada, que você é o dono e

pode decidir que o prejuízo é seu. Aqui é diferente. Aqui é público e você está mexendo com o dinheiro dos outros, precisa ter muito cuidado com uma licitação, muito cuidado com uma avaliação de um fornecedor, muito cuidado com os alimentos que são oferecidos na merenda, e uma série de coisas.

que iremos receber somente depois do dia 5 de novembro, daí iremos reorganizar, começando pelos postos. Estamos fazendo o levantamento de atendimento de alguns bairros que têm uma enfermeira, um médico que atende cinco pessoas por dia, e cada posto desses custa em média R$ 100 mil por mês.

Diante da histórica crise financeira pela qual passa a cidade, como o senhor pretende melhorar os serviços de saúde, em relação à estrutura da rede e ao atendimento médico? Pensamos em fazer OSs (Organizações Sociais), mas cheguei à conclusão que o município tem médicos concursados, e se você fizer um trabalho bem feito com esse pessoal que está aí - é evidente que existem alguns que lutam contra - mas nós pretendemos terminar a parte interna dos postos de saúde, estamos esperando a verba do governo estadual,

A queda de arrecadação nos municípios era prevista desde o início do ano

Aprendi que tenho que ter um pouco mais de paciência”

em todo o país. O senhor não anunciou o choque de gestão no primeiro semestre com medo de perder as eleições? Não, porque eu deixei bem claro que o pagamento parcelado ia se manter até dezembro 2016. Portanto, eu não menti para ninguém, eu sempre disse que a verdade prevaleceria, e que eu não teria condições de fazer o pagamento dos funcionários numa data correta, que seria o 5º dia útil. Eu fui muito aberto, não escondi nada, eu abri a prefeitura, a parte financeira, forneci extratos bancários que nenhum prefeito da região fez isso até hoje. Em quanto tempo o senhor acredita que será possível a prefeitura voltar a pagar o funcionalismo em dia e, ainda, inaugurar obras? Bem, a partir de janeiro provavelmente vamos pagar em dia, por isso estamos fazendo os cortes necessários para manter a prefeitura saudável e ter sobra de dinheiro. Porque a lei é clara, a Lei de Responsabilidade Fiscal estipula que a prefeitura tem que manter 54% da arrecadação com o pagamento do funcionalismo, quando nós entramos estava em 73%. Então, o pouco dinheiro que sobrava era para manter uma parte da saúde, uma parte da educação, e a cidade estava um caos como todo mundo viu. Que lição de vida o senhor aprendeu como prefeito de Americana? Aprendi muitas coisas. Aprendi as dificuldades do Poder Público, porque a gente sabe que como empresário você determina e consegue ver o resultado rapidamente, e no caso do Poder Público isso demora para amadurecer, a burocracia é muito grande, e eu aprendi que tenho que ter um pouco mais de paciência. Às vezes eu estouro, mas eu procuro me concentrar e contar até dez.


5

Novembro/2016 • edição 06

LIMEIRA

Vamos mudar o modelo de

gestão

Mário Botion, prefeito eleito, analisa os principais problemas da cidade e anuncia administração empresarial nos próximos quatro anos à frente do Poder Executivo Leonardo Coutinho lscoutin@gmail.com

Maíra Bacellar

mairarodriguesbacellar@gmail.com

Gestão integrada, secretariado técnico, e o compromisso de entregar uma cidade melhor para o limeirense após quatro anos de mandato. Essas são as promessas de Mário Botion (PSD), 56, prefeito eleito em primeiro turno no município. O engenheiro civil começou tarde na política, em 2008, aos 48 anos. Na oportunidade, foi eleito com 2.601 votos, o sétimo vereador mais lembrado pela população local. Em 2012, o sonho de se tornar prefeito não pôde ser concretizado por questões partidárias. Dois anos depois, os 36.303 votos obtidos não foram suficientes para elegê-lo deputado estadual. Após quase desistir da carreira política nesse período de quatro anos, finalmente saiu candidato a prefeito de Limeira, representando o Partido Social Democrático (PSD), vencendo a disputa com 71.827 votos. Aumento no número de roubos e homicídios, e a insatisfação popular com o serviço de transporte público prestado no município são alguns dos principais desafios que serão encontrados pelo novo comandante do Executivo limeirense, a partir do dia 1º de janeiro. Mário Botion quer levar para o poder público os métodos aplicados em suas empresas. Na sede de uma delas, a MC Botion, o engenheiro civil atendeu a reportagem do Jornal de Classe para uma entrevista sobre o atual cenário político da cidade. Botion, como o senhor avalia esse processo eleitoral que se encerrou no último dia 2 de outubro? Para nós o processo iniciou quando saí da eleição de deputado, em 2014, com quase 40 mil votos. Faltaram 92 votos para que eu fosse eleito deputado estadual, e a partir disso nós vimos que existia um espaço para disputar a eleição para prefeito. Foi mais em respeito a essas

quase 40 mil pessoas que nos confiaram seus votos, e a partir daí nós fizemos um planejamento. E isso nos permitiu fazer um trabalho de base, que a nova política exige, falando de questões positivas, de atos, propostas e propósitos, e não de pessoas e nem de críticas ao governo atual ou governo passado, isso potencializou nosso crescimento. Da nossa parte foi sempre uma campanha muito reta, com propostas e objetivos, mostrando a nossa postura, diferenciando-nos dos demais, sem fazer enfrentamento e perder tempo com aquilo que não era necessário.

Fotos: Leonardo Coutinho e Maíra Bacellar

RAIO-X Nome: Mário Celso Botion Idade: 56 Estado civil: casado Profissão: engenheiro civil Escolaridade: superior completo Partido: PSD Recado das urnas: 51,23% dos votos (71.827)

O que Limeira mais precisa no momento? Atenção com a população. É essa a nossa percepção ao longo de 18 meses, com 620 reuniões realizadas. A população precisava ser ouvida e ser atendida. O que o senhor projeta para o transporte público de Limeira, uma das maiores reclamações da população? Tem o contrato do transporte coletivo vencendo [em abril de 2017] e nós vamos ter que tomar umas providências jurídicas que permitam não trazermos os problemas que a atual administração teve. Inclusive com bloqueio de bens por conta do subsídio. Nós vamos mudar o modelo de gestão, o modelo de contratação. Hoje a companhia contratada gere tudo. Nós vamos separar a gestão financeira da gestão operacional. O município vai cuidar da gestão financeira, venda de passagens, controle de gratuidade, passes e tudo que diz respeito. O município colocará [dinheiro] no transporte público para baratear a passagem, melhorar a qualidade do transporte, ter a frota em dia, ter os abrigos nos pontos de ônibus. A atual administração aprovou um subsídio com seis meses de mandato, distribuiu mais de R$ 800 mil para as companhias, a passagem não diminuiu de preço,

a qualidade do transporte não mudou, os abrigos não foram complementados. Nós vamos mudar o modelo de gestão e tenho certeza que isso vai fazer a diferença. No período de janeiro a junho deste ano o número de homicídios em Limeira duplicou, se comparado ao mesmo período em 2015. O que fazer para diminuir esse índice?

O município colocará [dinheiro] no transporte público para baratear a passagem”

Nós vamos criar o gabinete de gestão integrada para termos uma gestão única e ter as ações de maneira integrada. Não resolverá todos os problemas da segurança, mas vai melhorar a gestão e a qualidade do serviço de policiamento e de segurança mais especificamente. Ampliar o número de escolas com ensino integral é a principal proposta para a educação? Não, esse é um item que nós pretendemos melhorar. Educação em tempo integral é o sonho de consumo de todos nós. Mas ela precisa ser tratada com objetividade. Hoje ela é feita em partes. Mas esse não é o objetivo principal, o principal deles é ter um conselho gestor da educação, no qual tem a participação de diretores, professores e agentes da educação. Qual será sua primeira ação ao assumir a prefeitura? A primeira delas é mostrar uma fotografia do que nós estamos recebendo, do que

tem de bom, de deficitário, e do que não foi executado. Aí vamos olhar pelo para-brisa, governar olhando para a frente e não mais pelo retrovisor. Eu acho que esse é nosso primeiro compromisso, apresentar um plano para as ações emergenciais dos primeiros cem dias de governo, que são fundamentais para recompor aquilo que de imediato é necessário. Dentro desse período nós lançaremos um programa maior com várias ações de médio a longo prazo para marcar as etapas do governo que queremos fazer. E qual cidade pretende entregar em quatro anos? Pretendo entregar uma cidade melhor do que nós vamos receber, esse é nosso compromisso e certamente nós faremos isso. Porque eu não sou um político de carreira, eu sou um gestor, tenho uma empresa e vou levar para dentro da prefeitura as técnicas, as práticas de gestão que nós temos aqui. Isso eu vou fazer respeitando a política, respeitando os políticos, que é o ambiente que nós vamos

Pretendo entregar uma cidade melhor do que nós vamos receber

viver. Esse é o nosso propósito e trabalharemos dentro do nosso plano de governo fazendo uma administração muito técnica e buscando resultados. O que influenciou o senhor a entrar na política? Na verdade, eu entrei na política meio tarde, com 48 anos. Foi a primeira vez que eu me filiei a um partido. O propósito em um grupo de amigos era participar do processo eleitoral para vereador. Me candidatei, fui eleito, a votação foi significativa, fiz um mandato de quatro anos e nosso projeto era aprender e depois poder disputar a eleição para prefeito. Isso não aconteceu em 2012 por questões partidárias. Eu me afastei um pouco da política partidária, mas não da política de relacionamento com a população. Em 2014 disputei a eleição para deputado, tive quase 40 mil votos, um trabalho muito intenso de participação e proximidade com a população, e a partir daí abriu até uma necessidade, em respeito a essa votação expressiva, de disputar a eleição para prefeito. Não é um desejo pessoal, mas uma necessidade. Em 2008 decidimos dar a nossa contribuição dentro da política partidária e estamos hoje aqui, eleitos. Dia 1º de janeiro tomo posse para fazer a gestão dos próximos quatro anos e entregar lá na frente uma cidade melhor para se viver, para se se morar. É o que o limeirese deseja e eu também espero que isso aconteça. E vou trabalhar para isso.


6

edição 06 • Novembro/2016

PIRACICABA

Gestão

é palavra-chave para Barjas

Jos

éJ

ust

ino

Luc e

nte

Caroline Cadiz carol10pires@hotmail.com

Barjas Negri (PSDB), 65, tem como principal meta, já nos primeiros meses de governo, conter despesas e aprimorar a gestão dos recursos públicos à disposição da Prefeitura de Piracicaba. O prefeito que já esteve à frente do Poder Executivo da cidade em dois mandatos (2005-2008) e (20092012), e foi ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quer conhecer a real situação do município antes de colocar em prática os planos propostos por seu governo. Porém, para quem espera ver rapidamente várias obras da nova gestão, Barjas avisa que é preciso saber se há recursos para cumprir os contratos em andamento e para terminar as obras iniciadas pela gestão do atual prefeito. Ainda nos primeiros meses de governo, o prefeito eleito defende a elaboração de projetos para executar nos próximos quatro anos, como a urbanização de favelas, investimento em água e esgoto, e na manutenção da cidade, por meio de investimentos em serviços como tapa-buraco e sinalizações de trânsito. Em relação ao tempo de espera por exames médicos na rede pública, que a edição de setembro do Jornal de Classe mostrou que chega a dois anos, Barjas aposta na

abertura de concursos públicos para contratar médicos e na rapidez das licitações para garantir os serviços de ultrassom e tomografia. Confira a seguir a entrevista concedida pelo prefeito eleito de Piracicaba ao Jornal de Classe.

Se for isso, a coisa é mais grave do que eu podia imaginar” Divulgação

Eleito para o terceiro mandato no Executivo, piracicabano aposta na eficiência da administração para atender demandas da cidade

Por onde o senhor pretende começar o seu terceiro mandato? Todo começo de governo você tem que fazer um diagnóstico da situação. Saber como andam as obras, dívidas, empresas contratadas, se tem recurso para concluir o que se iniciou, fazer o diagnóstico. Isso é importante. Depois concluir as coisas iniciadas. Em seguida, tem o período para realizar os principais projetos, descritos no plano de governo. A gente pretende realizar essas coisas ao longo de quatro anos, mas nos primeiros meses é conter despesas. A gente falou em urbanizar favelas, que é uma coisa importante. Levar água, tirar o esgoto, fazer iluminação pública, você tem que fazer o projeto. Tem que fazer o postinho da família, tem que

Todo começo de governo você tem que fazer um diagnóstico da situação”

fazer projeto. Então, os primeiros meses são elaboração de projetos compromissados no plano de governo e melhorar a manutenção da cidade. Como a operação-tapa buraco, manter os parquinhos com uma boa manutenção, concertar os brinquedos, cortar mato, sinalizações vertical e horizontal, enquanto você consegue fazer os projetos executivos que vão ser licitados no decorrer do ano. Na primeira edição deste jornal foi apurado que o tempo de espera por exames pode chegar a dois anos. Como o senhor pretende melhorar isso? Olha, eu não sei se está chegando a dois anos, pelas informações que nós temos. Sabemos que aumentou a demanda dos exames de consultas médicas de especialidades, mas não ultrapassava um ano. Se for isso, a coisa é mais grave do que eu podia imaginar. Isso você resolve com gestão. É preciso fazer os concursos públicos com mais antecedência para que a substituição do médico seja mais rápida. Que a licitação para contratar o serviço de ultrassom e tomografia sejam mais ágeis. Muitas vezes a fila aumenta porque saíram dois ou três médicos. Você faz uma licitação para contratar o serviço de ultrassom, leva 90 dias, se demorar 180 a fila aumenta. Você tem que ter procedimentos de maior rapidez nas licitações, nas tomadas de preço para que o contrato saia mais rápido e você consiga diminuir isso. O senhor já tem em mente se terá alteração no grupo atual de secretários? Todo governo altera secretários. Mas nesse momento eu não parei para pensar

RAIO-X Nome: Barjas Negri Idade: 65 Estado civil: casado Profissão: professor universitário Escolaridade: superior completo Partido: PSDB Recado das urnas: 70,3% dos votos (132.161)

nesse negócio. Já tenho problema de monte com prestação de contas, conversar com aliados, colocar em ordem as demandas que a gente recebeu durante a campanha, detalhar um pouco mais o plano de governo e a gente vai pensar no secretariado apenas no mês de novembro. O que o senhor pretende fazer diferente dos oito anos que já esteve no cargo? Não é muita coisa. O prefeito tem que atender bem a população, fazer bem as gerencias públicas, entender bem as demandas da população, responder com mais avidez. O que eu pretendo fazer de diferente é que provavelmente terá menos recursos para fazer muitos investimentos. Quando você faz menos investimentos, tem que melhorar a gestão. O serviço tem que melhorar a qualidade, aquilo que falei, você tem que diminuir a fila na consulta médica. Você melhorando a gestão e atendendo mais rapidamente a população, eu acho que isso é uma mudança que pode ser feita.


7

Novembro/2016 • edição 06

Fotos: Pedro Giambroni

Entendo que a falta de segurança é um reflexo da falta de emprego”

“Nesta eleição, quem venceu foi a cidade. O bem venceu o mal”

Da padaria RIO CLARO

Luiz Silva

luiz_03@terra.com.br

De padeiro até ser nomeado novo prefeito de Rio Claro, Juninho da Padaria (DEM) deve enfrentar desafios nas áreas de Saúde e Segurança, além de contribuir como prefeito para a atração de empresas que podem reduzir o problema nacional do desemprego. João Teixeira Junior, 36, conhecido como Juninho da Padaria, ingressou cedo na política rio-clarense. Seu primeiro mandato como vereador começou em 2004, quando ele tinha apenas 24 anos. Se manteve no cargo por três mandatos consecutivos. Foi então que neste ano decidiu se candidatar ao cargo máximo do poder público municipal, sagrando-se vencedor com 53% das intenções de voto. Após 12 anos no Legislativo, tendo como principal tarefa fiscalizar os atos do Executivo, Juninho terá uma nova missão a partir do dia primeiro de janeiro. A partir daí ele se encontrará do outro lado, acompanhado pelos vereadores, como o novo gestor da cidade pelos próximos quatro anos. Juninho, que é padeiro e confeiteiro profissional, ressalta que chega à Prefeitura de Rio Claro para cortar gastos, diminuir o número de secretarias e tem como objetivo primário o fim da taxa de iluminação. Além disso, o político comenta sobre as suas perspectivas com este novo papel na política municipal e promete cortar gastos do carnaval de rua para utilizar na Saúde. O slogan da sua candidatura foi “Pra fazer o que ninguém faz”. Agora eleito, o que o futuro prefeito Juninho da Padaria tem para oferecer que nenhum outro ofereceu? Respeito pela população. Nesta eleição, quem venceu foi a cidade. O bem venceu o mal. Logo após ser eleito, o primeiro compromisso que assumi foi de trocar a verba voltada para o carnaval para a saúde do município. Nos próximos anos seriam R$ 4 milhões voltados ao Carnaval que eu vou utilizar para a melhoria da saúde pública. Ao longo desses 12 anos como vereador, eu pude conhecer uma Rio Claro que poucos conheceram. Agora é hora de trabalhar, cortar na pele para investir na população. O clima nas ruas é de que existe uma estagnação nos últimos anos. Com a cidade em um entrave financeiro, acompanhado da falta de segurança. Como mudar o atual cenário e recolocar Rio Claro nos trilhos para voltar a se desenvolver? Rio Claro parou no tempo. Nos últimos anos deixou de ser pioneira para ser coad-

ao Poder Executivo Prefeito eleito promete investir verba do carnaval de rua na rede de saúde, extinguir a taxa de iluminação pública e criar bases da guarda em pontos estratégicos

Raio-X Nome: João Teixeira Junior Idade: 36 Estado civil: casado Profissão: padeiro Escolaridade: ensino médio completo Partido: DEM Recado das urnas: 53,95% dos votos (50.892)

respeitou. Se for um bem comum, todos ganham, inclusive a população. Segurança é um tema que vem sendo abordado pela população e a imprensa rio-clarense. Nas suas propostas o senhor cita a melhoria e a modernização da Guarda Civil Municipal. Essa melhora soluciona o problema da cidade? Uma boa segurança pública vai além de uma boa guarda ou policiais preparados. Depende também de uma boa iluminação, pavimentação (hoje, em Rio Claro, existem 16 mil terrenos baldios). Além da modernização e melhoria, tenho como projeto montar bases não-fixas em pontos estratégicos na cidade. Meu vice-prefeito (Coronel Bellagamba) tem 33 anos de serviço à população. Ele veio para somar e a ressalva na segurança vem diretamente dele junto ao seu conhecimento. Rio Claro voltou a colocar times de futebol e basquete em grandes torneios nacionais. Mas o Rio Claro Basquete, principalmente, vem sofrendo com a falta de verba da prefeitura. Quais são suas propostas para intensificar a profissionalização desses e outros esportes? O esporte de base acaba sendo fundamental. Além de poder formar jovens atletas, a disciplina esportiva ajuda a criar cidadãos de bem. O basquete sempre foi um orgulho da cidade e vamos buscar novos parceiros que possam subsidiar o time. O momento agora é de muito diálogo. Hoje o esporte encontra-se abandonado em Rio Claro. Assim como saúde e segurança serão prioridades da minha gestão. O Poder Público, além de ser parceiro, também deve ajudar a encontrar novos parceiros que possam acrescentar ainda mais.

juvante. Eu entendo que a falta de segurança é um reflexo da falta de emprego no município. Nós vamos fazer parceria com o governo do Estado no projeto que oferece às cidades a vinda de novas empresas, também fomentar a indústria local. O que não vai faltar em minha gestão é coragem para mudar, criar e melhorar. Outro assunto que desestimula a população é a taxa de iluminação. Em sua lista de propostas, o primeiro item citado é um projeto de suspensão

Agora é hora de trabalhar, cortar na pele para investir na população”

da cobrança. Agora, com uma Câmara com ainda mais vereadores, o senhor acredita que a lei será devidamente extinta? E se for aceita, o faturamento arrecadado pela taxa não fará falta para as contas públicas? Enquanto vereador eu votei contra esta taxa. Nós vamos ter cortes de gastos na administração, incluindo a taxa de iluminação, pois cobra-se muito e é oferecido muito pouco, principalmente em bairros mais carentes onde a iluminação é precária. Se a benfeitoria viesse

acompanhada da cobrança, a população em si estaria satisfeita. Extinguir a taxa de iluminação é um dever de casa que eu farei. Ainda sobre vereadores. Grande parte dos eleitos faz parte da sua coligação. Isso facilitará futuros diálogos quando a nova gestão tiver início? Fico feliz com a vitória dos vereadores da minha coligação. Porém, vou respeitar a câmara como um todo. O diálogo sempre foi o meu ponto forte, diferentemente da gestão atual, que não nos

Algo que chamou a atenção na apuração foi que quase 30 mil pessoas se abstiveram. E, em seu primeiro discurso, o senhor citou que em sua administração o povo terá vez e voz. Quais serão as ações para estreitar os laços com a população? Um reflexo disso pode ser pelo cenário político atual que se encontra “nojento”. O que deixam dúvidas para a população que deseja ver mudanças. Com a vitória do meu grupo, se mostra uma vitória da população, também. Nós temos condições e vamos provar. Não teremos medo. Durante a campanha, eu e o Bellagamba fomos muito atacados. A nossa reposta veio nas urnas. Mas minha administração não será voltada apenas aos poucos mais de 50 mil votos que obtive e, sim, pelos mais de 200 mil rio-clarenses.


8

edição 06 • Novembro/2016 Artes: Gabriela Magri e Carol Cue

OLHO NELES!

Cumprir o papel como cidadão não é apenas digitar o número de seu candidato na urna eletrônica, mas, também, e não menos importante, fiscalizar os mandatos, independente de quem tenha vencido a disputa. O Jornal de Classe listou algumas propostas dos prefeitos eleitos que assumirão o Poder Executivo nas cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro, a partir de janeiro de 2017. Confira o que Omar Najar (PMDB), Mário Botin (PSD), Barjas Negri (PSDB) e Juninho da Padaria (DEM) prometeram em suas campanhas. Prepare-se para cobrá-los: (Leonardo Coutinho, Lidia Ponciano e Wesley Sudré)

EDUCAÇÃO • Atender à demanda por creches • Rever convênios de municipalização do ensino; • Estudo de novo programa de transporte estudantil; • Manutenção contínua dos prédios escolares; • Formação e capacitação específica para os profissionais; • Fortalecimento na educação das crianças portadoras de necessidades especiais. SAÚDE • Recadastrar todos os moradores de Americana usuários do SUS; • Melhorar o atendimento nas UBS e manter as UPAs Gramado e São José; • Concluir as obras do novo pronto-socorro do Hospital Municipal; • Consolidar a informatização de toda a rede de saúde.

MEIO AMBIENTE • Melhorar o sistema de coleta e tratamento de esgoto; • Ampliar o sistema de coleta seletiva; • Melhorar o sistema de distribuição de água tratada. ESPORTES • Valorizar os atletas do município; • Cumprimento da Lei de Incentivo ao Esporte; • Resgate dos jogos municipais; • Manutenção das instalações esportivas.

OMAR NAJAR (AMERICANA)

SEGURANÇA • Investimentos na formação e capacitação da Guarda Municipal; • Intensificar a ronda escolar.

CULTURA • Fomentar a produção cultural e artística em todos os segmentos; • Desenvolver núcleos culturais nos bairros; • Preservar as construções históricas do município (Casarão em Carioba/Casa Hermann/Estação Ferroviária).

AMERICANA

PIRACICABA

EDUCAÇÃO • Maior responsabilidade do município será em relação à educação infantil e ao ensino fundamental de 1ª a 5ª séries; • Aprimorar a rede de escolas para atender mais e melhor, de acordo com o Plano Nacional de Educação. • Análise e proposta de novos mecanismos para a saúde escolar, de forma a melhor atender os alunos; • Continuidade no aumento das unidades com tempo integral de forma a atender às demandas; • Sempre que necessário, em função de estudos, planejamento e necessidades decorrentes, a rede será expandida, ampliando unidades ou construindo novas. SAÚDE • Substituir, gradativamente, as unidades do Programa de Saúde da Família e Postos de Saúde que estão em prédios alugados, por sedes próprias; • Construir e implantar a nova sede da UPA • Desenvolver ações e esforços para melhorar o atendimento e as instalações das UPAs existentes.

MEIO AMBIENTE • Coleta de lixo urbano, coleta de lixo reciclável, corte de mato, poda e varrição são prioridades nos serviços voltados ao meio ambiente; • Desenvolver ações para aumentar o índice de esgoto coletado e tratado, água tratada e urbanização; • Para maior controle dos descartes irregulares, analisar e multiplicar os espaços para pequenos volumes: os ecopontos.

BARJAS NEGRI (PIRACICABA)

SEGURANÇA • Adequar a infraestrutura de apoio à Guarda Civil Municipal, de forma a ampliar sua presença nos bairros da cidade; • Melhorar o sistema de manutenção de iluminação pública em ruas, avenidas, praças, parques, centros de lazer e jardins, para contribuir com o aumento da segurança; • Manter o nível de investimento para aquisição de novas viaturas

ESPORTES • Dar manutenção adequada aos inúmeros centros de lazer e equipamentos esportivos; • Debater a necessidade de implantação em bairros que ainda não contam com tais melhorias; • Investimento em pistas de caminhadas, academias e ciclovias; • Aprimorar o calendário anual de eventos esportivos, com a continuidade e estímulo aos Jogos Comunitários, Estudantis, Terceira Idade, Amadores e Varzeanos, Regionais e Abertos. CULTURA • Ênfase em apoiar os eventos culturais gratuitos destinados à população, incentivando que aconteçam nas diversas regiões do município; • O Teatro Losso Netto terá suas necessidades de reforma aceleradas e realizadas para que volte a ser disponibilizado para uso; • Será dada a continuidade à instalação do Museu do Açúcar, por meio de incentivos fiscais; • Centros culturais regionais serão ampliados e terão orçamento para oferecer atividades e eventos culturais diversificados.


9

Novembro/2016 • edição 06

EDUCAÇÃO • Ampliar as escolas de tempo integral, analisando possibilidade de utilização de espaços municipais e/ou ampliação das escolas; • Diminuir falta de vagas em creches, com aprimoramento do programa bolsa creche; • Criar ações para aumentar a parceria “escola x família” na formação escolar e de valores dos alunos; • Implantação do programa “saúde nas escolas”, visando acompanhar o estado de saúde dos alunos; • Viabilizar o fornecimento de mochilas e uniformes para alunos da rede, através de parcerias com a iniciativa privada; • Acompanhar resultados das avaliações pedagógicas das escolas municipais.

MEIO AMBIENTE • Reestruturar e ampliar o programa de coleta seletiva no município; • Aumentar os Parques Ambientais no Município, promovendo a cultura da preservação, conservação e contemplação dos recursos naturais, aliada à prática de esportes e atividades culturais; • Implantar programa de resíduos sólidos do município, incentivando a reutilização dos resíduos de construção em projetos sociais.

MARIO BOTION (LIMEIRA)

SAÚDE • Estruturar os postos de saúde para que façam o atendimento básico com maior eficiência; • Aumentar o número de postos de saúde com atendimento 24 horas; • Readequar as instalações dos Centros de Saúde da Família. Ampliar o número de unidades existentes, agregando uma assistente social ao grupo mínimo de profissionais definidos pelo Ministério da Saúde.

SEGURANÇA • Reestruturar a Defesa Civil com a compra de equipamentos com tecnologia para melhorar o desempenho nas diversas áreas de atuação; • Implantação do gabinete de Gestão Integrada Municipal; • Disponibilizar para a Guarda Civil Municipal ferramentas de inteligência para melhorar o desempenho das suas atividades.

ESPORTES • Assegurar nas atividades físicas propostas a participação de pessoas com deficiência, e garantir equipamentos adequados para esse público; • Criar sistemática em parceria com a iniciativa privada para apoiar atletas de alto desempenho; • Incentivar a prática esportiva para as pessoas da melhor Idade; • Administração dos centros comunitários por meio de parcerias com as associações de bairro. CULTURA • Levar programas culturais, com a Secretaria de Educação, às escolas (formação de música, literatura, dança, etc.); • Criar na Secretaria de Educação o Núcleo de Cultura para coordenar as ações culturais na rede pública; • Definição dos sítios históricos e culturais importantes para o município; • Criar e divulgar um cadastro dos artistas, gestores, produtores e técnicos da área da cultura, para mapeamento das ações culturais realizadas na cidade; • Desenvolver um calendário municipal das ações culturais e de eventos.

LIMEIRA

RIO CLARO

EDUCAÇÃO • Alunos esquecidos: seis propostas que, se levadas à sério na educação, geram resultados para que todo aluno chegue a escola e nela permaneça; • Porta a porta: visitar a comunidade e verificar se existem crianças fora da escola; • Fazer da escola o principal equipamento social; abrir portas para a comunidade; • Projeto professores da família para articular educação escolar e família; • Garantir escola para crianças e adolescentes que nunca frequentaram a escola; • Mobilizar as mães para fortalecer o vínculo entre escola e aluno; • Implantar o uso e o ensino de libras nas escolas municipais. SAÚDE • Remédio em casa: parceria com os correios para que pacientes crônicos recebam mensalmente em casa sua medicação; • O Saúde Jovem em Movimento consiste em vans com dois médicos, dois enfermeiros e quatro agentes de saúde que circulam pela cidade, sobretudo em áreas mais pobres, para atender jovens e fazer exames; • Cartão Gestante é um projeto voltado às gestantes com gravidez de risco, mulheres com câncer e alguma doença crônica.

MEIO AMBIENTE/AGRICULTURA • Incentivo à produção e comercialização. Por meio do programa agricultura familiar, garantir o acesso do produtor rural aos programas de compra e fornecimento da produção familiar na merenda das escolas municipais; • Consulta à programação da coleta seletiva bairro a bairro, através do e-gov.

JUNINHO DA PADARIA (RIO CLARO)

SEGURANÇA • Implementar medidas para a redução de crimes violentos. Identificar, mapear e analisar quais os crimes que ocorrem no município, suas causas e estabelecer uma estratégia e análise de planejamento operacional; • Implementar políticas públicas voltadas à juventude. Identificar e mapear áreas onde se concentram jovens em situação de risco no município, articulando transversalmente as estruturas municipais para incorporarem projetos voltados aos jovens.

ESPORTES • As praças devem ter programação diárias de atividades sociais, culturais e lazer das quais a população participe; • Praças médias podem ter atividades diárias em parceria com as escolas; • Praças pequenas podem ter atividades volantes que chegam e chamam a população para alguma ação pontual, como feiras de adoção aos animais. CULTURA • Apoiar e buscar patrocínio para eventos que apresentam a cultura afrodescendente, em seus aspectos artísticos e valores culturais; • Qualificar agentes culturais do município para integrarem os circuitos culturais, regionais e estaduais, promovendo o nome da cidade; • Valorização do concurso de beleza negra com o objetivo de destacar a singularidade dos jovens na autovalorização da sua imagem.


10

edição 06 • Novembro/2016

3,56%

1,06% 1,38% 1,64%

1,52% 0,26%

1,94% 1,63%

0,45% 0,26% 0,11%

1,34%

24,78%

21,78% 13,69%

AMERICANA

LIMEIRA

PIRACICABA

51,23%

RIO CLARO 29,97%

19,36%

70,31%

72,71% Omar Najar (PMDB) 84.879 votos Erich Hetzl (PDT) 25.426 votos Luciano Corrêa (PSD) 4.161 votos Dimas Zulian (REDE) 2.266 votos

3,95% 6%

4,1

6, 62 %

11,38%

53,95%

Barjas Negri (PSDB) 132.161 votos Luciano Almeida (PSD) 46.573 votos Brito (PC do B) 3.068 votos Thiago Nalesso (PSOL) 2.599 votos Marcelo Filik (Rede) 1.992 votos Trindade (PROS) 839 votos Sérgio Spenassatto (PPL) 494 votos Magno Peres (PCO) 216 votos

Mário Botion (PSD) 71.827 votos Murilo Félix (PDT) 27.143 votos Eliseu Daniel (PSDB) 19.192 votos Paulo Hadich (PSB) 15.950 votos Abraão de Jesus (PSL) 2.290 votos Cláudio Marques (PT) 2.128 votos Dilan Carli (PSOL) 1.671 votos

Juninho da Padaria (DEM) 50.892 votos Gustavo Perissinotto (PMDB) 28.266 votos Sérgio Santoro (PRB) 6.247 votos Alcir Russo (PV) 3.298 votos Airton Moreira (PSOL) 3.728 votos Mário Zaia(SD) 1.268 votoS

PODER EXECUTIVO

Prefeitos são eleitos com folga

Omar Najar (PMDB) Americana 69 anos

Arte e ilustrações: Camilo Riani

Juninho da Padaria (DEM) Rio Claro 36 anos

CANDIDATO MAIS NOVO X MAIS VELHO

Em votação sem grandes surpresas, favoritos vencem disputas no primeiro turno em quatro cidades da região Guilherme Milani

QUEM TEVE MAIS VOTOS:

talktomilani@live.com

Barjas Negri (PSDB) Piracicaba: 132.161 votos

Yuri Dias

yuridiasbarbosa@gmail.com

RIO CLARO ONDE A DISPUTA FOI MAIS APERTADA: Juninho da Padaria (DEM)

50.892 x 28.266

Gustavo Perissinotto (PMDB)

AMERICANA

Omar Najar (PMDB)

ONDE A VITÓRIA FOI PERCENTUALMENTE MAIOR:

Erich Hetzl (PDT)

72,7% x 21,7%

Os candidatos que em campanha eram considerados favoritos confirmaram as expectativas e venceram a disputa pelo comando do Poder Executivo nas quatro cidades da região. Nas duas cidades com chances de 2º turno, Limeira e Piracicaba, houve uma ampla vantagem de votos entre o vencedor e seus principais adversários. Em Piracicaba, Barjas Negri (PSDB) confirmou seu favoritismo e foi eleito com 132.161 votos, o equivalente a 70,31% dos votos válidos. O ex-ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) conseguiu o 3º mandato de prefeito, já que ele governou a cidade nos períodos de (20052008) e (2009-2012). Seu principal oponente, e estreante em eleições, Luciano Almeida (PSD), ficou em 2º lugar, com 24,78% dos votos válidos. Questionado sobre os resultados das eleições, Almeida alegou que, “apesar da experiência pública em trabalhar nos governos municipal e estadual, foi um projeto novo e agregou muito aprendizado diante das dificuldades em virtude da mudança da legislação eleitoral”. O candidato se

sentiu satisfeito pelo número de votos recebidos: 46.573. Já em Limeira, a possibilidade de ter 2º turno pela primeira vez não se concretizou. O engenheiro e empresário Mário Botion (PSD) conquistou a vitória em turno único, com 51,23%, totalizando 71.287 votos. Ele administrará a cidade pelos próximos quatro anos. O atual prefeito, Paulo Hadich (PSB), não conseguiu manter o mesmo retrospecto da última eleição, ficando em quarto lugar, com 11,38% dos votos. A surpresa na cidade ficou por conta dos 28.044 votos brancos e nulos, número maior do que o de votos do 2º colocado na

Agregou muito aprendizado diante das dificuldades em virtude da mudança da legislação eleitoral”

disputa, Murilo Felix (PDT), que conseguiu 27.143 votos, o equivalente a 19,36%. A cidade de Americana, que tinha apenas quatro candidatos concorrendo ao cargo de chefe do Poder Executivo, teve Omar Najar (PMDB) como prefeito eleito, com 72,71% dos votos válidos. Ele está no comando da cidade desde a eleição suplementar realizada em 2014, quando o então prefeito, Diego De Nadai (PTB), teve o mandato cassado por abuso de poder econômico durante a campanha que o reelegeu, em 2012. Entre os candidatos que venceram nas prefeituras da região, o eleito em Americana teve a maior vantagem, com uma diferença de 51% contra o segundo colocado, o ex-prefeito Erich Hetzl Júnior (PDT), que recebeu 21,78% dos votos válidos. Outro candidato eleito com facilidade na região foi Juninho da Padaria (DEM), que confirmou o favoritismo em Rio Claro. Juninho, atualmente vereador da cidade, teve 53,95% dos votos válidos, e 20 mil votos a mais que seu oponente mais próximo, Gustavo Perissinotto (PMDB), que teve 29,97% dos votos. Gustavo era o candidato que contava com o apoio do atual prefeito de Rio Claro, Palmínio Altimari Filho, conhecido como Du Altimari.

ESCOLHA

Rejeição ao PT é destaque na disputa Limeira foi a única cidade da região a ter um candidato da sigla na eleição pela prefeitura; legenda que conquistou mais de 600 cidades em 2012 perde força e vê concorrentes ganharem com facilidade xandre, em Rio Branco, no Acre, deu ao PT o comando de apenas uma capital. O sociólogo Daner Hornich atribui o número baixo de candidatos eleitos do partido aos recentes acontecimentos da política nacional. Segundo ele, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e as inúmeras acusações direcionadas ao partido pela Operação Lava Jato contribuíram para que o PT figurasse como o grande derrotado nas eleições municipais deste ano. Além disso, o sociólogo alerta que os próximos anos do partido serão decisivos para que a sigla retome o rumo. “É preciso

recuperar a credibilidade diante da população brasileira”, analisa o sociólogo. Além das derrotas nas capitais brasileiras, o partido perdeu em cidades onde teve sucesso garantido por longo período, como São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá, na região no ABC Paulista, que ficou conhecida como “cinturão vermelho”, além de Guarulhos e Osasco, na Grande São Paulo. Para o sociólogo e presidente do PT na cidade de Americana, Marco Antônio Barion, em uma tentativa de renovar o atual cenário político, os eleitores das cidades do ABC Paulista “optaram por candidatos novos e

sem experiência política”. Barion atribui aos eleitores do PT a responsabilidade pelo elevado número de abstenção registrado este ano em várias cidades. “Muitos dos que são eleitores do partido não votaram na direita. Simplesmente não foram votar”. No site do partido, a executiva nacional do PT parabenizou os prefeitos e vereadores eleitos pelo Brasil. O partido também classificou os resultados nas disputas eleitorais deste ano, em grande parte do território brasileiro, como “uma perda na batalha do processo de resistência democrática e reorganização do PT no campo popular”.

Divulgação

Após a apuração dos votos, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou os prefeitos e vereadores eleitos em Piracicaba, Limeira, Americana e Rio Claro. A surpresa ficou por conta da forte rejeição popular ao PT, que contou com apenas um candidato na disputa regional. Claudio Marques concorreu à Prefeitura de Limeira, mas ficou na 6ª posição, com 2.128 votos. O partido que ganhou o comando de 610 cidades no Brasil, a partir de 2012, teve uma grande queda nas eleições desde ano, e a partir de 2017 administrará 256 prefeituras no país. A reeleição de Marcus Ale-

Claudio Marques ficou em 6º lugar na disputa pela Prefeitura de Limeira, com 2.128 votos


11

Novembro/2016 • edição 06

Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Número de eleitores entre 16 e 17 anos que procuraram a Justiça Eleitoral para emitir o título de eleitor caiu 48%

VOTO NÃO OBRIGATÓRIO

Participação jovem cai

pela metade em Piracicaba Pouco mais de mil eleitores com 16 e 17 anos estavam aptos a votar este ano; em 2008, a cidade tinha 2.062 pessoas na mesma faixa etária com o título de eleitor; queda também foi registrada na região Flávia Ribeiro

idosos que deixaram de ser obrigados ao voto. Ou seja, o ato de cidadania em escolher um candidato para gerir os rumos do país”, explica. O voto é facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os jovens com 16 e 17 anos. De acordo com o IBGE, o Brasil tem cerca de 51 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, correspondendo a um quarto da população do país. Desses, mais de 75% (38.876.290) puderam votar nas eleições deste ano, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os jovens entre 25 e 29 anos representam 10,83% do eleitorado; de 21 a 24 anos, 8,71%, e de 16 a 20 anos, 7,45%. De acordo com a Justiça Eleitoral, 1.638.751 jovens de 16 e 17 anos votaram nas eleições de 2014. Para estas eleições municipais, 2,3 milhões de adolescentes estavam aptos a votar. Marques não acredita que a queda na participação de parte do eleitorado nas eleições possa ser atribuída à falta de informação dos eleitores. “Há muitos cidadãos que não votam por não acreditar nos políticos. Acreditam que se votar ou não votar, os políticos de sempre serão eleitos, e nada será mudado, tendo em vista os candidatos de sempre que serão os que estarão no comando do país”, analisa o professor.

vinhalmeida_r@hotmail.com

Gabriela Fassis gabriela.fv6@gmail.com

A conscientização política deve ser moldada desde cedo, antes mesmo de os jovens começarem a votar. Educação, cidadania e consciência política devem caminhar juntas, por isso muitos jovens não se sentem preparados para escolher seus representantes no poder público. O atual cenário político, permeado por denúncias de corrupção, é outro fator que contribui para desestimular os jovens a participar do processo eleitoral. Na comparação de números das três últimas eleições municipais em Piracicaba, a quantidade de eleitores entre 16 e 17 anos que procuraram a Justiça Eleitoral para emitir o título de eleitor caiu 48%, entre 2008 e 2016. A estudante Ana Beatriz Ragasso defende o fim da obrigatoriedade do voto. “O voto não obrigatório é bom. Eu ainda não estava preparada para votar, tomar a decisão de escolher um bom candidato”. Para o professor de sociologia da Unimep, Jessé Marques, a descrença em relação aos políticos é generalizada. “Hoje os jovens não estão praticando o ato de votar, pois votar não é obrigatório. O mesmo ocorre com alguns

Tão importante quanto a participação no processo de escolha dos representantes no poder, é o cidadão acompanhar de perto os mandatos, verificando o cumprimento de obras e a administração do dinheiro público. “Quando os jovens votam, demonstram o desejo de participar da política, e também mostram que esperam um futuro melhor”, acredita a estudante Vivian Belg. Mais velhos Já entre os idosos, a quantidade de pessoas com mais 70 anos em Piracicaba passou de 17.468, em 2008, para 26.943 este ano, representando aumento de 54% no eleitorado desobrigado a comparecer às urnas. No entanto, há quem não abra mão do voto, como a aposentada Maria José Demarchi. “É importante votar porque alguém tem que escolher os representantes da cidade. Continuo votando porque acho que isso é questão de cidadania”, defende. Quem viveu mais de seis décadas acumula experiência suficiente para saber que não se deve abrir mão de escolher os representantes dos poderes Executivo e Legislativo. “Toda semana assisto às reuniões na câmara pela televisão, pois assim posso cobrar os candidatos e exigir melhorias”, relata a aposentada Elisabete Callegari.

CONFIRA O QUE PENSAM JOVENS E IDOSOS SOBRE A PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES

Rafaela Silva, estudante “Ao votar pela primeira vez eu posso ajudar na decisão da minha cidade e pelo bem da sociedade. Acho importante escolher prefeito e vereadores que possam nos representar bem” Ana Beatriz Ragasso, estudante “Dentre os critérios de escolha do candidato, eu analiso o conhecimento que o candidato tem sobre os problemas da cidade, assim como suas ideias e propostas”

Maria José Demarchi, aposentada “Não adianta reclamar, sem cumprir o papel de cidadão. Continuo votando porque acho que isso é questão de cidadania, enquanto eu tiver condições de até o colégio eleitoral, eu vou!”

JOVENS E IDOSOS NAS TRÊS ÚLTIMAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS NAS CIDADES DA REGIÃO 2008

2012

2016

16 a 17 anos

+ 70 anos

16 a 17 anos

+ 70 anos

16 a 17 anos

+ 70 anos

AMERICANA

1.303

10.316

1.086

12.772

874

16.015

LIMEIRA

1.362

10.791

1.660

13.819

1.339

17.634

PIRACICABA

2.072

17.468

1.865

21.611

1.066

26.943

RIO CLARO

1.033

10.603

882

12.222

859

14.219

Vivian Belg, estudante “Escolhi o candidato que julguei ser mais honesto. Me interesso pelo que está sendo feito na cidade para o povo, por isso gosto de acompanhar as ações da prefeitura”

Julia Belotto, estudante “O voto não obrigatório com certeza diminuiria os votos nulos, brancos e irresponsáveis de várias pessoas, mas acho que isso tem que ser um dever do cidadão”

Elisabete Callegari, aposentada “Acho importante votar, pois assim cumpro meu papel de cidadã. Para escolher o candidato, tem que pensar bastante para ver qual é a melhor pessoa para assumir o cargo público”

Fábio Henrique de Souza, estudante “A sensação de votar pela primeira vez é de estar começando a trajetória como cidadão. Poder escolher quem vai ser seu representante é uma questão de cidadania”


12

edição 06 • Novembro/2016

Fotos: Andressa Santos

ENTREVISTA

Resultados indicam

FICHA Nome: Conceição Aparecida Fornasari Nascimento: 4 de julho 1951, mora em Santa Bárbara d’ Oeste Currículo: Possui graduação em ciências sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), graduação em pedagogia, pelo Instituto de Ciências Sociais de Americana, e mestrado em história, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Atualmente é professora na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC).

descrença,

diz professora Conceição Fornasari analisa o cenário político na região e atribui mau desempenho das candidaturas do PT pelo Brasil ao que classifica como perseguição da mídia ao partido Andressa Santos

andressasanttos_@hotmail.com

O partido que ganhou no Brasil não foi PSDB, não foi o DEM, não foi o PSD, foi o partido da mídia”

O que nós percebemos pelos resultados, em primeiro lugar, é a descrença na política”

É fato que estamos vivendo tempos difíceis, não há como negar. Na avaliação da professora de sociologia da Unimep, Conceição Fornasari, estamos em um jogo que não tem mais a disputa de ideias. Uma ideia venceu. É a ideia da intolerância, a ideia de que tem de varrer da história do Brasil os últimos 13 anos do Partido dos Trabalhadores no comando do governo federal. Conceição acredita que não foram anos revolucionários, mas foram anos que contribuíram para projetar o Brasil no exterior e para tirar milhões de pessoas da miséria. Em entrevista ao Jornal de Classe, a professora fala sobre o desencanto que atinge grande parte dos eleitores no Brasil, analisa o resultado das eleições municipais nas cidades da região, e reforça a necessidade de os eleitores cobrarem os prefeitos eleitos para que realizem as promessas viáveis feitas em campanha. A maioria dos prefeitos eleitos na região (Piracicaba, PSDB; Americana, PMDB; Rio Claro, DEM; Limeira, PSD) e vereadores não faz parte do Partido do Trabalhador (PT). A senhora acredita que as denúncias relacionadas ao partido interferiram no momento de votação? A descrença na política está ligada exatamente à perseguição que os governantes federais sofreram nos últimos anos e, especialmente, nos últimos meses, e até duas semanas antes das eleições. Escolhem-se determinadas pessoas, de determinados partidos e determinados governos. Então, isso traz um desencanto. Ou seja, quem não presta é a esquerda, porque ela é envolvida em corrupção. O papel da mídia foi tão importante, que nós podemos dizer que o partido

que ganhou no Brasil não foi PSDB, não foi o DEM, não foi o PSD, foi o partido da mídia, que até alguns chamam de partido da mídia golpista. Porque se você pegasse qualquer canal de televisão aberto, qualquer canal de televisão fechado, o discurso era o mesmo: O PT destruiu o Brasil, o PT é corrupto. Sem destacar os outros partidos envolvidos. Não que eu esteja defendendo a corrupção. Outro ponto que influenciou bastante foi a boca de urna contrária às esquerdas. Se pegar o que o Judiciário fez nas duas últimas semanas pré-eleição é uma coisa de política de terra arrasada. Transforma o Lula em criminoso, prende o Palocci, antes do Palocci, prende o antigo ministro da Fazenda, e depois desfaz a prisão dizendo que não era necessário prender. Ou seja, tem um clima todo preparado para o resultado das eleições. Em relação à nossa região, o Hospital Regional de Piracicaba teve sua obra iniciada em 2010 e até hoje

não foi concluída. O atual prefeito, Gabriel Ferrato (PSB), informou que o atraso na entrega da obra ocorreu por conta do Estado. Segundo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a entrega está prevista para o primeiro trimestre de 2017. A senhora acredita que o fato de o novo prefeito estar associado ao mesmo partido que o do governador pode facilitar a entrega do HR? Em primeiro lugar, o PSDB está em Piracicaba há 12 anos e o governo de São Paulo é PSDB há 20 anos. Eu não consigo ver muito essa relação. Já poderiam ter terminado esse Hospital Regional, que é uma carência muito grande em torno de Piracicaba. Mas se ele prometeu, a gente vai ter que cobrar. Todas essas promessas que são viáveis, o eleitor tem que ficar atento em quem votou, e até em quem não votou, mas prometeu. Não e só o povo de Piracicaba que vai ser atendido por esse hospital, mas o povo da região inteira, porque se chama hospital regional. Marschelo Meche (PSDB) foi eleito vereador na cidade de Americana. Após as eleições, ele gerou polêmica porque prometeu doar metade do salário para entidades assistenciais do município e reduzir o subsídio dos parlamentares. O que a senhora tem a dizer em relação às promessas viáveis e inviáveis que foram propostas pelos eleitos?

Vou começar pela questão se o político deve receber salário ou não. Deve, precisa, ele está trabalhando como qualquer trabalhador. Então, eu acho que ele tem que ganhar. Ele tem que ganhar um pró-labore para que ele não precise aceitar a corrupção, porque ele está tendo condições para sobreviver. Esse vereador pode doar o salário dele, agora ele não pode diminuir o salário dos outros porque para diminuir ele tem que apresentar um projeto, esse projeto tem que ser aprovado pela câmara e sancionado pelo prefeito. Então, ele pode propor, mas ele não pode fazer. Tem vários problemas que não cabem ao papel do vereador, mas que as pessoas e até os candidatos não sabem. O papel do vereador é fazer a ponte, a relação entre o poder público, Executivo e a população; fiscalizar o Executivo; elaborar projetos que não estejam relacionados às questões de finanças; não pode fazer projetos que vão contra a Constituição e a Lei Orgânica do Município.

Se pegar o que o Judiciário fez nas duas últimas semanas pré-eleição é uma coisa de política de terra arrasada”

Piracicaba é uma das cidades que registraram maior número de abstenções, com 21,2% de ausências nas urnas. Limeira também está presente na lista, com 20,8%. Devido ao atual movimento da sociedade em relação ao momento político pelo qual o país passa, o que a senhora acredita que leva parte dos eleitores a não votar? Em primeiro lugar nós temos que fazer uma contextualização do que significam as eleições, não só para a nossa região, mas para o Brasil. O que nós percebemos pelos resultados, em primeiro lugar, é a descrença na política. Se nós somarmos todos os votos que não foram válidos, tanto a abstenção quanto nulos e brancos, nós temos uma porcentagem de mais de 30%. Então é a descrença, a política não presta, todos os políticos não valem a pena, não vou votar em ninguém. Não é uma coisa pontual de Piracicaba, Americana, Vinhedo, Rio Claro. Se pegar os dados, a abstenção de Santa Bárbara d´Oeste beira os 30%. Então você vai ver que é uma coisa no geral. Os prefeitos que atuaram na Prefeitura de Rio Claro durante anos faziam parte dos partidos PMDB e DEM. Na eleição deste ano, mais uma vez um candidato do DEM foi eleito. Isso é prejudicial para Rio Claro? Como isso influi na administração da cidade nos aspectos positivos e negativos? Se uma coligação ou um partido está atendendo às demandas da população, eu não vejo problema nenhum em se repetir. Na avaliação, porque a eleição é uma avaliação, se o povo entende que aquele candidato está atendendo às demandas, não vejo nenhum tipo de problema de o projeto continuar. Agora, Rio Claro já foi uma cidade muito progressista. Já faz 20 anos que ela não consegue eleger partidos distintos do que DEM e PMDB e este ano, mais uma vez, a gente vê a continuidade de projetos de partidos que têm uma opção muito distinta de siglas que querem o desenvolvimento social e econômico da cidade. Vejo uma preocupação. No contexto regional, qual é a opinião da senhora sobre a reeleição? A reeleição significa acreditar no projeto e o projeto já está posto. Em Piracicaba é uma reeleição com nome diferente, mas quantos anos esse partido tem? São mais de 20 anos. O Ferrato foi feito por ele (Barjas Negri). Ele era um total desconhecido. Quem elegeu o Ferrato foi o próprio prefeito que foi eleito agora.


13

Novembro/2016 • edição 06

Paulo Pinto/Fotos Públicas

Para especialistas, crise política contribui para desmotivar a participação dos eleitores

O QUE OS ELEITORES INSATISFEITOS TÊM A DIZER Pedro Henrique Martins, 22, estudante “Votei nulo, pois nenhum candidato no meu ponto de vista era bom. O atual prefeito eleito foi um absurdo ter ganho essas eleições, o restante tudo despreparado para assumir a prefeitura da cidade, não tive outra alternativa a não ser o voto nulo”

SEM PARTICIPAÇÃO

Na região, Piracicaba lidera percentual de abstenção Eleição municipal deste ano é a segunda consecutiva que a cidade registra o maior número de ausências entre os municípios pesquisados pelo Jornal de Classe; 60 mil eleitores não votaram Kelly Suzan de Almeida kelly-suzan@hotmail.com

Mayara Piantavina mayara2000_st@hotmail.com

Piracicaba manteve a liderança entre as cidades da região em relação ao número de eleitores que não compareceram às urnas no dia da votação: mais de 60 mil pessoas, o que representa 21% do eleitorado. No pleito anterior, pouco mais de 48 mil eleitores deixaram de votar, totalizando 17% da população apta a participar do processo eleitoral. Os números da cidade foram os maiores registrados na região nas eleições municipais de 2016 e 2012. No comparativo regional das duas eleições em Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro, o aumento da abstenção foi de 24,54%,

totalizando 32.792 eleitores a mais que por algum motivo se ausentaram no dia da eleição nas quatro cidades. Neste ano, o percentual de ausências no dia 3 de outubro foi menor em Americana, com 18,79% das pessoas aptas a votar. Na disputa de 2012 o percentual de abstenção no município também foi o menor na região: 15,42%. O professor de filosofia política da Unimep, Paulo Morgado, explica que a abstenção não é uma exclusivi-

dade do Brasil. “Isso ocorre em países onde a democracia está consolidada. O motivo da abstenção é a crise política, o que se criou foi uma imagem de que a política no Brasil é suja, com muita corrupção. Várias pessoas que faziam críticas ao governo se dizem apolíticas. Isso também é um sintoma porque é como se eles [eleitores] não quisessem fazer parte desse sistema”. Já o coordenador partidário Bruno Spadotto, 27,

2012 Aptos

atribui o aumento gradual da abstenção ao que classifica como crise de representatividade no país. “Hoje as pessoas não estão encontrando representação principalmente nos partidos, uma grande problemática vem a partir da criminalização dos partidos de esquerda. A política como alternativa, com o voto, um sistema eleitoral como uma alternativa para mudanças, uma possibilidade de mudança real na vida das pessoas, com o propósito

de melhorar, mudar a cidade. As pessoas simplesmente falam que votaram em tal partido e não mudou nada, por que eu vou votar agora? Acho que não vai mudar mais nada”, avalia. Morgado acredita que o recente impeachment ocorrido no Brasil contribuiu para desmotivar o comparecimento às urnas. “Eu creio que toda essa campanha que houve para o impeachment, que para mim é um golpe que está se consumando, há um afastamento da população, porque o sujeito não se sente representado pelos políticos que acabam sendo eleitos, por isso há um desencanto, uma desilusão política. Não vejo outra maneira de resolver nossos problemas em um regime democrático, senão através do voto”. No Brasil, mais de 25 milhões de eleitores (17,58%) não compareceram às urnas para votar no primeiro turno das eleições municipais deste ano. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de faltosos totalizou 25,3 milhões de pessoas.

2016

EVOLUÇÃO DA ABSTENÇÃO NA REGIÃO Comparecimento

Abstenção

%

Abrangência

Aptos

Comparecimento

Abstenção

%

Marcelo Gonçalves, 26, estudante “Eu votei nulo, pois não achei nenhuma proposta dos candidatos convincente, e não achei interessante votar em nenhum deles” Maria Eduarda, 18, estudante “Este ano foi a primeira vez que votei, pesquisei muito sobre os candidatos, fiquei muito indecisa. Para mim nenhum deles serviriam para ser prefeito, então votei nulo” Lucas Santarcangelo, 23, ajudante de produção “Votei nulo porque achei o nível dos candidatos muito fraco” Julia Medeiros, 23, auxiliar administrativa “Não votei nestas eleições porque estava viajando e nem justifiquei, pois a multa que é cobrada é baixa” Severino Silva, 52, porteiro “Creio que meu papel de cidadão já foi feito. Compareci em todas as eleições anteriores. Nesta não fui votar, desanimei muito com a política, então preferi não votar” Julio Cesar, 22, estudante “Nunca gostei de política, e todo mundo que entrar ali vai roubar. Não consigo acreditar que um dia isso possa mudar, por isso eu não votei e nunca vou votar”

EVOLUÇÃO POR CIDADE

2012/2016

Abrangência

%

Eleitores

167.376

141.571

25.805

15,42

AMERICANA

171.178

139.014

32.164

18,79

AMERICANA

24,64

6.359

138.330

114.046

24.284

17,56

RIO CLARO

144.922

115.402

29.520

20,37

RIO CLARO

21,56

5.236

270.729

222.554

48.175

17,79

PIRACICABA

283.810

223.392

60.418

21,29

PIRACICABA

25,41

12.243

201.368

165.997

35.371

17,57

LIMEIRA

212.570

168.245

44.325

20,85

LIMEIRA

25,31

8.954

777.803

644.168

133.635

17,18

TOTAL

812.480

646.053

166.427

20,48

24,54

32.792

TOTAL

Biometria será obrigatória na região Quem não votou e nem justificou deve procurar cartório eleitoral Wilson Dias/Agência Brasil

Marcela Freitas Paes marcelafpaes@gmail.com

Nenhuma cidade da região adotou o sistema de biometria para identificar os eleitores este ano. Entretanto, foram entregues aos leitores um panfleto com as informações do cadastramento biométrico, que é feito em todo o estado de São Paulo e se tornará obrigatório em breve, segundo regulamentação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas cidades da região, Piracicaba é a que tem o maior percentual de digitais cadastradas até o momento (15,7%), seguida por Rio Claro (10,53%), Americana (10%) e Limeira (8%). Segundo o chefe de cartório da 66ª zona eleitoral limeirense, Rafael Falcão Costa

No mínimo 70% dos eleitores da cidade devem estar cadastrados para que o sistema biométrico seja adotado nas eleições

Carvalho, é necessário ter, no mínimo, 70% do eleitorado cadastrado para utilizar a biometria nas eleições. Para agendar o cadastramento basta ir ao cartório eleitoral do seu município ou acessar o site do www.tre-sp. jus.br. É importante que o

cidadão esteja no momento do acesso com algum documento de identidade oficial com foto, título de eleitor e comprovante de endereço. Para mais informações, ligue 148 (Central de Atendimento ao Eleitor). O custo é de uma ligação local.

O eleitor que não pôde votar nestas eleições e não justificou a sua ausência no mesmo dia do pleito tem prazo de 60 dias, após a data da votação, para apresentar justificativa ao juiz em qualquer cartório eleitoral. A justificativa é válida somente para o turno em que o eleitor não compareceu. Assim, se o eleitor deixou de votar no primeiro e no segundo turno da eleição, terá de justificar sua ausência para cada turno, separadamente, obedecendo aos mesmos requisitos e prazos para cada um deles. Para justificar a ausência, o eleitor deve apresentar o Requerimento de Justificativa Eleitoral pessoalmente em qualquer cartório eleitoral ou

enviá-lo, via postal, ao juiz da zona eleitoral onde é inscrito, juntamente com a documentação comprobatória da impossibilidade de comparecimento ao pleito, para que o juiz eleitoral a examine. Impedimentos Sem o comprovante de votação, ou de quitação de suas obrigações eleitorais, o eleitor fica impedido de exercer alguns direitos, tais como: inscrever-se em concurso público; ser empossado em cargo público; obter carteira de identidade ou passaporte; renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial; obter empréstimos em bancos oficiais; e participar de concorrência pública ou administrativa.

Quem não votar em três eleições consecutivas – considerando cada turno uma eleição – e não justificar sua ausência terá sua inscrição eleitoral cancelada. Essa regra não se aplica aos eleitores para quem o voto é facultativo - analfabetos, os que têm 16 e 17 anos, e os maiores de 70 anos - e aos portadores de deficiência física ou mental para os quais se torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais. Eleitor no exterior O brasileiro que estava no exterior no dia do pleito tem até 30 dias, contados de seu retorno ao Brasil, para justificar a ausência no cartório eleitoral (Agência Brasil).


14

edição 06 • Novembro/2016

Entrave à ACESSIBILIDADE

CIDADANIA

Eleitores com mobilidade reduzida encontram dificuldades para votar em escolas da região; pedidos de transferência para seções especiais devem ser feitos com antecedência à Justiça Eleitoral Fotos: Marcela Freitas Paes

dades de locomoção, como escadas e desníveis. Segundo um dos representantes da Justiça Eleitoral, que também é professor do colégio há mais de 10 anos e não quis se identificar, mais da metade dos eleitores são idosos e sofrem em todas as votações para poder ir até suas seções. A aposentada Vera Apolito, 67, reclamou que não poderia chegar até sua seção, pois não conseguia subir escadas. A aposentada explicou que viu a propaganda na TV que falava sobre a mudança de seção. Porém, uma funcionária do colégio explicou que, para isso, era necessário fazer um requerimento prévio no cartório. Ao não conseguir votar, Vera desabafou: “é ridículo, prejudica meu candidato, né? O colégio não tem estrutura. Depois disso não irei mais votar”. Outra situação desse tipo foi registrada na Etec Tra-

É ridículo, prejudica meu candidato, né? O colégio não tem estrutura. Depois disso não irei mais votar”

Marcela Freitas Paes marcelafpaes@gmail.com

É uma pouca vergonha. Eu queria votar, mas fui impossibilitada de exercer meu direito de cidadã”

No dia da votação, 2 de outubro, escadas e falta de sinalização nas escolas foram os maiores desafios para idosos, cadeirantes e portadores de necessidades especiais no caminho até as seções eleitorais. Em Piracicaba foram necessários 11 minutos e 35 segundos para Benedito Leme, 65, validar seu voto. “É uma falta de respeito com os idosos”, comentou. Com o auxílio de uma bengala, ele teve que atravessar a escola inteira para chegar à seção onde está inscrito, enquanto outros votavam rapidamente. Darci Angela Moreira, 56, também passou pela mesma situação. A sala de justificativas ficava no extremo oposto da escola, o que rendeu uma boa caminhada para a senho-

ra que anda com o auxílio de muletas. “Um sacrifício, algo que não deveria acontecer”, disse Darci. A escola E. E. Pedro Moraes Cavalcanti tem seções especiais para aqueles que têm mobilidade reduzida, mas segundo o colégio, nem todos estão cientes de que têm direito da mudança de seção. A escola, que pertence ao cartório da 270ª zona eleitoral, tem como chefe Luciana Diniz Daniel, que afirma que nestas eleições não chegou nenhuma reclamação formal, mas casos do tipo são recorrentes. Segundo ela, das 48 escolas que fazem parte da área do cartório, apenas cinco delas não são acessíveis por conta das estruturas antigas. A chefe do cartório finaliza afirmando que esses casos podem acontecer “às vezes por ignorância, porque

a pessoa não sabe que tem que pedir transferência” e que é possível contar com o apoio logístico dado pelos representantes da Justiça Eleitoral nos colégios no dia da votação. Já em Rio Claro houve problemas de acessibilidade em alguns colégios eleitorais, como o caso da cadeirante Roseli Cantobirtes, 47, que chegou cedo para votar, mas não pôde por causa de uma escada que a impossibilitava de ir até sua seção. Após questionar os fiscais presentes, Roseli foi convidada a justificar seu voto. “É uma pouca vergonha. Eu queria votar, mas fui impossibilitada de exercer meu direito de cidadã”, lamentou. Cartórios O chefe do cartório da 110ª zona de Rio Claro, Gui-

Mesmo não conseguindo votar, a aposentada Vera Apolito tentou manter o bom humor

lherme Taufic, explicou que, às vezes, eleitores adquirem algum tipo de deficiência entre uma eleição e outra, mas que o cartório tenta manter as seções sempre que possível. Ele também ressaltou que a transferência só pode ser pedida até maio e muitos lembram apenas na véspera das eleições. O funcionário afirmou que a escola possui uma seção especial e, como a maioria dos eleitores do colégio já conhecem a estrutura, acredita que a eleitora perdeu o prazo para fazer o requerimento de mudança de seção. No maior colégio eleitoral de Limeira, Castello Branco, havia diversos empecilhos para pessoas com dificul-

jano Camargo, onde duas pessoas com muletas não conseguiram subir as escadas e foram orientadas a justificar o voto e ir ao cartório para mudar o local de votação. Maria Cândida Ferraz da Silva, 62, com dores nas costas, subiu e desceu as escadas com muita dificuldade. A aposentada contou que nas últimas eleições chegou a cair na saída do colégio. Valéria Maciel Shinya, funcionária do cartório da 399ª zona eleitoral, explicou que, no caso de Vera, a aposentada provavelmente foi designada àquela seção quando possuía mobilidade e que o colégio possui duas seções especiais, mas ao não pedir transferência, nada poderia ser feito no dia da votação. Ela comentou que vários colégios não têm salas especiais por conta da própria estrutura da escola e, no caso dos eleitores dessas seções, ao requerer mudança de seção, são realocados para o colégio mais próximo. Em Americana, a reportagem do Jornal de Classe não presenciou problemas de acessibilidade. Colaboraram Luiz C. Silva, Raíssa Secomandi, Vitor Ferezini

Eleitor com deficiência deve comunicar a Justiça Eleitoral Da redação Os eleitores com deficiência ou mobilidade reduzida que ainda não votam em locais de fácil acesso podem realizar a transferência para as seções eleitorais especiais. Para isso, é necessário que o eleitor vá ao cartório mais próximo da sua casa ou a um posto de atendimento do Poupatempo, levando consigo um documento oficial, comprovante de residência recente e o título eleitoral. Vale lembrar a necessidade de agendar o atendimento pelo site antes de comparecer ao cartório. O estado de São Paulo conta com 10.688 seções especiais e 2,7 milhões de eleitores inscritos. Essas seções possuem uma in-

fraestrutura para facilitar ao máximo o exercício do voto pelo público que tenha quaisquer limitações físicas. Instalam-se em locais com rampas e/ou elevadores, devem preferencialmente estar próximas a estacionamentos e disponibilizam fones de ouvido para o eleitor com deficiência visual. Todas as urnas eletrônicas estão habilitadas com o sistema de áudio e apresentam a opção do teclado em braile. É importante destacar, entretanto, que os demais eleitores também poder votar nesses locais. As pessoas com deficiência podem ser isentas da obrigatoriedade do voto se comprovarem ao juiz eleitoral a inviabilidade ou a extrema onerosidade de comparecerem ao local de votação. Caso

comprovem, terão direito à uma certidão de quitação eleitoral por prazo indeterminado. Este ano, os eleitores com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida tinham até o dia 4 de maio para pedir a transferência. Em 2012, o Tribunal Superior Eleitoral instituiu o Programa de Acessibilidade da Justiça Eleitoral. O Programa de Acessibilidade tem como objetivo a “implementação gradual de medidas para a remoção de barreiras físicas, arquitetônicas, de comunicação e de atitudes, a fim de promover o acesso, amplo e irrestrito, com segurança e autonomia de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida no processo eleitoral”, destaca a portaria de criação do programa.

Escolas que funcionam em prédios antigos são as que apresentam o maior número de queixas dos eleitores com mobilidade reduzida; estado de São Paulo conta com 10.688 seções especiais


15

Novembro/2016 • edição 06

Tânia Rêgo

BOCA DE URNA CRIME

Apesar de proibido, aliciamento de eleitores no entorno das escolas ainda é comum em todo o Brasil

diminui 70%, diz TSE

Apesar da queda, três pessoas foram detidas em Americana e duas em atividade suspeita tiveram de prestar esclarecimentos à polícia em Piracicaba Luiz Silva

luiz_03@terra.com.br

Marcela Freitas Paes marcelafpaes@gmail.com

Vitor Ferezini vitor.ferezini@gmail.com

A realização de boca de urna parece perder força conforme novas eleições são realizadas. Talvez pela legislação eleitoral, que proíbe as pessoas de fazerem propaganda gratuita dos candidatos, ou pela instantaneidade da internet, que representa mais um avanço tecnológico, com o qual muitos candidatos criam suas respectivas páginas oficiais para divulgação de suas campanhas. Segundo o Tribunal Su-

perior Eleitoral (TSE), no comparativo com as últimas eleições municipais, a prática de boca de urna diminuiu 70%. Fato é que a atividade perdeu forças – assim como a poluição visual causada por placas e santinhos tem diminuído gradativamente também – mas, mesmo com a diminuição, houve casos de pessoas apreendidas em Piracicaba e Americana. Em Rio Claro não houve registros de apreensões por motivos de boca de urna. Porém, durante a manhã do dia da votação o candidato a prefeito Sergio Santoro (PRB) foi expulso por policiais militares do colégio E.E. Chanceler Raul Fernandes, sob a acusação de

Tentar comprar o voto é decadente, isso só prova o despreparo do candidato e a falta de respeito com a população”

pedir votos para os populares que transitavam no local. Quem fez a denúncia foi Daniel Santana da Rocha, 38, que estava trabalhando na escola como fiscal. Ele destaca que a prática de boca de urna é reflexo do momento político do país. “Tentar comprar o voto é decadente, isso só prova o despreparo do candidato e a falta de respeito com a população, principalmente em um momento tão importante para a democracia municipal”. Segundo os cartórios eleitorais de Limeira, foram registrados três casos de boca de urna pela cidade. Todos envolvendo carros estacionados em frente a colé-

gios eleitorais apresentando propaganda irregular, mas a ilegalidade foi resolvida com os motoristas retirando os veículos dos locais ou cobrindo a publicidade gratuita. Já em Americana, três pessoas foram detidas pela prática de boca de urna, incluindo um casal que entregava santinhos próximo à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef ) Darcy Ribeiro. Em Piracicaba duas pessoas foram detidas pela Polícia Militar por suspeita do crime de boca de urna. Elas foram encaminhadas à delegacia da Polícia Federal, que é responsável pelos registros de ocorrências de crimes eleitorais na cidade.

Candidatos apostam em ‘santinhos’

Fotos: Raíssa Secomandi

Lixo eleitoral espalhado no entorno dos locais de votação diminui, mas prática ainda é adotada por grande parte dos candidatos Raíssa Secomandi raissasecomandi@hotmail.com

Mesmo com a lei eleitoral em vigência no país, que prevê multa de R$ 2 mil a R$ 8 mil, a prática de forração de ruas com “santinhos” na noite anterior à votação prevaleceu nas eleições do último dia 2 de outubro. Os eleitores que foram às urnas para votar em seu candidato encontraram as ruas com menos panfletos do que nas eleições anteriores em Americana e Limeira. Porém, mesmo com as mudanças recentes e o endurecimento da legislação eleitoral, alguns candidatos não abriram mão da prática. Para a eleitora Cassilda Aparecida dos Santos Pires, 52, essa situação é lamentável e a atitude não é necessária, levando em consideração que hoje as pessoas têm aces-

Acho errado quem joga panfletos na rua, senhores de idade já caíram e quebraram a bacia” so à internet e outros meios para se informar sobre o candidato. Em Limeira, caminhões de lixo passaram logo pela manhã limpando as ruas que davam acesso às zonas eleitorais, antes mesmo das 8h da manhã. Mesmo assim,

era possível ver volumes consideráveis de lixo em alguns locais, principalmente próximo aos grandes colégios eleitorais, como Castello Branco, Antônio Perches e Prof. William Silva. Preocupado com sua mãe, Márcio Adorian, 43, disse que em todas as eleições vai com ela votar, segurando-a pelo braço para evitar acidentes. “A maioria dos candidatos promete uma cidade mais limpa e mais bonita, mas no dia da votação não vemos essas atitudes”. Para ele, esse tipo de campanha tem efeito contrário, pois se o seu candidato jogou panfletos no chão, ele desiste de votar nele na hora. José de Paula Dias, 92, não votou, mas foi sozinho justificar seu voto no colégio Etec Polivalente, em Americana, e considera toda essa sujeira como “final dos tem-

Além de sujar as ruas, material de campanha espalhado representa risco de queda aos idosos

pos” que se repete em todas as eleições. Ele afirma que tem que andar com cuidado para não escorregar nos panfletos espalhados. Já os moradores dos arredores da escola Prof. William Silva, em Limeira, perceberam a eleição mais civilizada. “Está tudo bem tranquilo,

principalmente comparado com as outras (eleições). Em 2010 rolou até discussão aqui na frente”, recordou o cabelereiro Baltazar Viana, 52, que vive no local há 25 anos. O candidato a vereador Djalma Severino de Araújo, 66, que conversava com os eleitores em frente ao colégio

E.E. Pedroso, em Americana, disse que nas quatro eleições a que concorreu nunca jogou santinhos na rua. “Acho errado quem joga panfletos na rua, senhores de idade já caíram e quebraram a bacia. Então, sou totalmente contra esse tipo de campanha”. (Colaborou Marcela Paes)


16

edição 06 • Novembro/2016 Fotos: Divulgação

RENOVAÇÃO

Presença jovem no Legislativo aumenta até 42% Câmara de Americana tem o maior número de vereadores entre 18 e 35 anos para atuar no mandato que começa em janeiro de 2017

Vinicius Bringel ab.vinicius.95@hotmail.com

A população apostou nos jovens para as mudanças municipais e teve a resposta das urnas. Prova disso foi o aumento das cadeiras ocupadas por homens e mulheres de 18 a 35 anos no Poder Legislativo regional. Em Americana, a presença de jovens parlamentares vai aumentar 42,1% em relação

à legislatura que encerra o mandato no final deste ano. Uma das jovens estreantes em Americana é Maria Giovana Fortunato (PC do B), 24, que recebeu 1.231 votos. “O cargo público mexe muito com a vaidade do ser humano, traz muita exposição e oportunidade de efetivamente fazer parte da discussão e implementação de novas políticas para todo o município. É preciso ter muita sabedoria

NOVIDADE

Das ruas às câmaras Dois jovens tucanos que receberam apoio do MBL foram eleitos em Americana e Rio Claro Júlia Zini

juliazini@outlook.com

Divulgação

Nesta última eleição, o Movimento Brasil Liberal (MBL) teve 45 candidatos a vereador e um a prefeito no Brasil. Dentre os oito vereadores eleitos, dois são da região, sendo Marschelo Meche (PSDB), em Americana, com 1.372 votos, e Carol Gomes, em Rio Claro, com 1.204 votos. O movimento liderado por jovens realiza ações políticas em todo o Brasil pedindo mudanças relevantes para a sociedade.

O cargo público mexe muito com a vaidade do ser humano, traz muita exposição”

Em entrevista ao Jornal de Classe, a vereadora eleita em Rio Claro conta como a insatisfação de parte da sociedade com o cenário político contemporâneo do Brasil contribuiu para o surgimento de candidaturas em meio aos protestos e rua. “O intuito do grupo era movimentar o impeachment. Esse pensamento foi refinado e percebeu-se que não era apenas uma batalha que o Brasil precisava enfrentar, e sim, várias. Um dos nossos vereadores, Fernando Holiday (DEM), 20, um dos mais jovens eleitos, teve uma campanha de apenas R$ 30 mil e foi eleito em 13º lugar, com 48.055 votos em São Paulo. Esta representatividade, com certeza, foi um dos principais resultados das organizações nas manifestações”, declara Carol. Para o consultor de gestão pública, Alcidney Sentalin, os jovens nas câmaras podem não mudar a situação econômica do município, mas podem abrir portas para

Cada vez mais a juventude se interessa pelos problemas sociais e luta pelas causas que acredita”

projetos e tramitações entre empresas. “O público jovem tende a ser mais ousado e dinâmico, e isso pode facilitar votações de projetos, atrair empresas locais e incentivar o crescimento econômico da cidade”, explica Sentalin. O MBL foi fundado em 2014, em São Paulo, e realiza frequentes protestos e discussões em todo o país. É formado, em maioria, de jovens menores de 30 anos e tem no currículo as manifestações dos dias 15 de março, 12 de abril e 16 de agosto deste ano, em protesto contra o governo Dilma Rousseff (PT). Uma das pessoas mais influentes no grupo é o jovem Kim Kataguiri, que defende a liberdade da imprensa e o fim do perdão de dívidas de ditaduras. Em agosto de 2013 ele publicou um vídeo no YouTube no qual questionava a proposta do programa Bolsa Família e, após grande repercussão, tornou-se uma “celebridade” da internet por sua opinião e atividades relacionadas à política.

para estar na vida pública”, define Maria Giovana. O vereador eleito com o maior número de votos em Americana também tem 24 anos, e figura como estreante na vida pública. Rafael Macris (PSDB) aposta que o trabalho sério dos jovens é capaz de vencer a desconfiança. “Acredito que cada vez mais a juventude se interessa pelos problemas sociais e luta pelas causas que acredita. Neste sentido, a sociedade apoia e valoriza um jovem disposto a dar sua contribuição”, avalia Macris. Na Câmara de Rio Claro, que iniciou a legislatura de 2012 com 16,6% das vagas ocupadas por vereadores considerados jovens, a representatividade nos próximos quatro anos será de 31,5%. Já na cidade de Limeira, o número se manteve em 14,2%, e a única cidade que regrediu nesse quesito foi Piracicaba, que terá, a partir de janeiro de 2017, somente 4,3% das cadeiras ocupadas por vereadores abaixo dos 35 anos. Para o estudante Mateus Cesar, o fácil acesso às informações contribuiu para aumentar o interesse dos mais jovens para ocupar cargos públicos. “Acredito que os erros dos nossos governantes, não só nacionais, mas também regionais, eram tão gritantes, que abriram os olhos de todos, mesmo quem não tinha muito conhecimento sobre a história do nosso país e a importância do voto”, opina. A psicóloga Neriane Feltrin acredita as mudanças nos cenários político e social dos últimos anos no Brasil também contribuiu para a ascensão das candidaturas dos mais jovens. “Essa capacidade de liderar está presente nos jovens de hoje, mas isso é relacionado à geração deles, ou seja, não é só uma questão biológica, mas também social e histórica”, explica.

Carol Gomes recebeu 1.204 votos e foi eleita vereadora em Rio Claro

Natália Cordeiro

MAPA DOS VOTOS

Quase unanimidades! Prefeitos eleitos foram os mais votados em quase todas as seções eleitorais; Barjas saiu derrotado em apenas uma seção na Esalq

Natália Cordeiro nataliaamaral6@hotmail.com

A vitória tranquila dos quatro candidatos eleitos nas cidades de Americana, Limeira, Piracicaba e Rio Claro impressionou os eleitores. Com exceção do prefeito eleito em Rio Claro, João Teixeira Junior (DEM), o Juninho da Padaria, que perdeu em seis seções eleitorais, os outros três ganhadores alcançaram vitórias fáceis nas urnas espalhadas por todas as regiões. Em Limeira, Mário Botion (PSD) foi derrotado em apenas duas seções eleitorais. Omar Najar (PMDB), prefeito eleito em Americana, ficou em segundo lugar em apenas três das 471 seções da cidade. Najar perdeu para o segundo colocado, Erich Hetzl Junior (PDT), em três urnas na região do bairro Praia Azul. O maior destaque entre as quatro cidades ficou para Barjas Negri (PSDB). O prefeito eleito em Piracicaba perdeu em apenas uma seção eleitoral, de um total de 455. A derrota foi registrada na zona eleitoral 270, na seção 432. O local de votação fica na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz),

no bairro Vila Independência. O mapeamento dos votos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que os eleitos conquistaram a maioria dos votos tanto nas regiões mais ricas, quanto nos bairros da periferia. O bairro Vila Independência, por exemplo, é um bairro de mistura entre as classes sociais, e, por possuir uma das maiores universidades do Brasil, é um bairro no qual muitos estudantes vivem, sejam eles de qualquer classe social. A professora de história e filosofia, Natália Puke, explica que o comportamento dos eleitores contribui para que o padrão de votos seja o mesmo entre as classes sociais. “Hábitos da elite são desejados e incorporados pelas periferias, e jovens da elite se apropriam de valores e práticas da periferia. A periferia não vota necessariamente nos candidatos que apoiam as causas populares, do mesmo modo que muitas pessoas da elite não votam em candidatos que tendem a atender os interesses das classes privilegiadas”, ressalta a professora. Apesar da influência que os meios de comunicação podem exercer na formação dos conceitos e opções políti-

cas dos eleitores, a professora acredita que a mídia não pode ser apontada como principal responsável pela vitória fácil dos eleitos. “Não acredito que a mídia seja a maior vilã. Mesmo tendo havido nela a exposição constante de denúncias de corrupção de diversos candidatos da nossa região, muitos deles foram eleitos ou reeleitos. O maior problema é que não educamos a população para questionar e refletir sobre as informações disponibilizadas pela mídia. Educamos para a reprodução de ideias e para o consumo”, destaca.

Em eleições regionais passadas, a maior parte dos votos endereçados aos candidatos eleitos partia, geralmente, de determinadas regiões das cidades, evidenciando a identificação que os candidatos tinham com áreas como periferia, por exemplo. Após as eleições de 2016, no entanto, pode-se dizer que o candidato que apresenta propostas e adota o discurso de representante de todos os moradores e culturas da cidade tem maiores chances de ganhar aceitação. (Colaboraram Beatriz Supriano, Lucas Vaz e Maíra Bacellar.)

Prefeito eleito em Piracicaba foi derrotado em apenas uma seção na Esalq


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.