Na Prática Ed 23

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Publicação Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Ano 5 – Edição 23 – Junho/2011

contexto regional

Ivan Moretti

Política cultural depende de investimento dos municípios

estupro

política

futebol

autismo

Violência sexual provoca marcas físicas e psicológicas

Revoltas populares alteram panorama nos países árabes

Divisões inferiores dificultam vida dos clubes da região

sindrome desafia profissionais de saúde e pais


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editorial

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A saúde como prioridade

Jornalismo, contexto e crítica social

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ditado como experiência laboratorial pelo Curso de Jornalismo da Unimep desde 2007, o jornal Na Prática muda seu projeto editorial a partir deste ano. A proposta deixa de voltar-se ao público jovem e passa a buscar o diálogo com um leitor mais maduro, atento, sobretudo, aos problemas sociais e tendências da atualidade. Ganha, além disto, uma perspectiva regional e a missão de, sempre que possível, contextualizar a informação. As mudanças implicaram em agregar ao nome o complemento “contexto regional”, que dá conta de traduzir o novo espírito da publicação. Mas, as alterações vão além. Incluem um novo logotipo e um novo projeto gráfico, construídos graças a uma parceria com o Curso de Design Gráfico da Unimep, através da disciplina Produção Editorial. A parceria com o curso de Design também permite uma ampliação da expressão visual presente nas reportagens, várias delas ilustradas por estudantes desta área. Em alguns casos esta contribuição supre a ausência de fotografias capazes de traduzir o sentido das informações. Em outros aparece propositadamente, como informação visual que agrega diretamente sentido aos fatos. Uma última inovação é o envolvimento direto dos estudantes de Jornalismo também na diagramação do jornal, atividade que até então sempre foi realizada pelo corpo técnico da universidade. A tarefa foi levada a cabo com a assessoria do corpo técnico e também com o apoio da disciplina Planejamento Visual. Enfim, a edição traz mudanças no processo de produção, projeto visual e principalmente na pauta, que inclui temas desafiadores e de impacto na comunidade, ao tratar de assuntos como investimento em cultura, atendimento médico, violência sexual, presença dos idosos no trânsito, autismo, entre outros. A proposta é realmente fazer jornalismo em toda a acepção da palavra, com espírito crítico e inserção social. Boa leitura.

Não há político ou administrador público que não defina a saúde como prioridade. Mas, o que significa uma área ser considerada de fato prioridade e quais as implicações disto? Será que os usuários da saúde pública de cidades de nossa região, como Piracicaba e Santa Barbara D’Oeste sentem que nestes municípios a saúde é tratada de forma prioritária? Provavelmente, não. E sabemos que a resposta reflete um problema antigo no Brasil, pois a saúde pública nunca teve a qualidade desejada, mas qual é o papel das autoridades públicas senão o de mudar esta realidade? São pessoas eleitas com a responsabilidade de assumir e cuidar das necessidades da cidade, proporcionar avanços e resolver os problemas. Em matéria publicada nesta edição do Na Prática, os repórteres/estudantes difundem o relato dos pais de uma criança de cinco anos, ansiosos por um atendimento de qualidade e decepcionados com o retorno da equipe médica em uma uni-

dade de pronto-socorro de Santa Barbara D’Oeste. Um dos fatores decisivos para a conclusão de um atendimento de qualidade é o atendimento humanizado e eficaz. Deveria ser algo natural nos prontossocorros das cidades brasileiras, todavia o que se vê é a falta de preparo e algo ainda pior, descaso. Profissionais e administradores da área da saúde discutem a “humanização do atendimento hospitalar”, e as reflexões a que se chega apresentam resultados impactantes diante de uma sociedade que só espera por uma resposta: qualidade e dignidade no atendimento. A humanização começa na segurança da unidade de saúde, percorre a recepção, a triagem e o acompanhamento médico. Ela deve ser como uma corrente. Uma corrente de valores que declara humanização como missão da instituição, de modo a que esta seja real para todos. Cíntia Tavares

A liberdade limitada Atualmente, os mais diversos meios de comunicação e, principalmente, os sites de relacionamentos fazem parte da vida do ser humano de forma tão significativa que nem nos damos conta do quanto ficamos em frente a uma televisão, vídeo game, computador ou qualquer outro tipo de tecnologia que nos chame a atenção. Acho interessante a forma com que podemos nos comunicar instantaneamente com outras pessoas. É uma sensação de liberdade do tempo e do espaço. Mas, é uma liberdade que prende. Quem não acessa seu e–mail ao menos uma vez ao dia? Quem não entra no Orkut, MSN, Twitter, Facebook, blogs e tudo que podemos encontrar nessa imensa rede de informação e de comunicação? Diante desta relação diária entre pessoas e tecnologia, não há como não se preocupar com a falta de comunicação pessoal

que só se dá através do contato direto. A cada dia, a conversa entre pai e filho, filme em família, e tantas outras formas de relação afetiva entre duas pessoas ficam mais distantes. Aproveitar todas as possibilidades de redução de tempo e espaço que só a modernidade pode nos oferecer e está nos oferecendo é ótimo, mas, é fundamental que as pessoas mantenham o contato e sintam o apreço através da expressão facial, através de uma conversa pessoalmente. Podemos e devemos aproveitar a liberdade de comunicação que esses meios nos proporcionam, mas não podemos nos deixar prender nessa atmosfera de relação virtual, simbólica e restrita aos que também possuem acesso. Devemos aproveitar todas essas tecnologias, mas não podemos deixar morrer a essência de um bom diálogo. Nayara Carolini de Oliveira

EXPEDIENTE: Jornal Laboratório dos alunos do 5º semestre de Jornalismo da Unimep - Reitor: Clóvis Pinto de Castro - Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa - Coordenador do Curso de Jornalismo/Edição: Paulo Roberto Botão (Mtb 19.585) - Colaboração: Prof. Camilo Riani (Curso de Design Gráfico), Prof. Ivonésio Leite de Souza (Planejamento Visual e Diagramação), Prof. Thiago Altafini (Fotografia), Sérgio Silveira Campos (Lab. de Planej. Gráfico) - Editores assistentes: Cintia Tavares e Nayara Carolini de Oliveira - Editor de imagem e fotografia: Leonardo Belquiman - Projeto Gráfico: Ana Galgani, Daniela Keller, Gabrielle Zambon, Luana Costa e Tatiana Alleoni Crivellari (Alunos do 3º semestre de Design Gráfico, disciplina Produção Editorial) - Diagramação: Angelyca Lizzie Paiva, Karina Bonfá Iório, Laura Cerri Tesseti, Lucas Vinicius Calore - Repórteres: Amanda Maretti, Antonio Corazza Netto, Bruna Michaella Beozzo Frasson, Bruno Roberto Moraes Cillo, Carla Damaris Vigarani Rossignolli, Caroline Solano Moreira, Elaine Cristina Almeida Pereira, Felipe Abrahão, Fernando Galvão Pellini, Flávia Dias Ribeiro, Gustavo Franco Annunciato, Karine Vieira dos Santos, Larissa Helena da Rocha Martins, Leandro Luis Penteado, Luana Michele Rodrigues, Luiz Felipe Carneiro Lourenço, Mariana Baptista Neves, Rafaela Gazetta Amigo, Raphael Justino Luiz dos Santos, Ronald Gonçales, Sabrina Dilio Franzol, Soraya Defavari, Valéria Spinelli, Vanessa dos Santos de Carvalho, Vladimir Catarino - Ilustrações: Carolina Fischer, Estela Menegalli, Maria Luziano, Rafaela Liberato Stênico, Thigo Felipe Cezarino - Foto e Montagem da Capa: Ivan Moretti (3º Design Gráfico) Impressão: Jornal de Piracicaba Tiragem: 2000 exemplares


política

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População se mobiliza e combate ditaduras Ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali, da Tunísia, foi o primeiro a renunciar; manifestações continuam em países do Oriente Médio

Maria Luziano

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eivindicações por melhores condições de vida, eleições livres para presidente e para o parlamento, liberdade da imprensa e de expressão existem há séculos nos países árabes, que ao todo somam 21. Estas manifestações tomaram proporções maiores desde 18 dezembro de 2010 graças a revoltas organizadas por populares que saíram às ruas, na Tunísia, exigindo mudanças no governo, o que resultou na renúncia do ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali. A movimentação repercutiu no mundo todo, graças à internet, e se espalhou por outros países do Oriente Médio que, mesmo sofrendo com a matança desenfreada dos manifestantes, lutam pela democracia e dignidade do povo. Os protestos também fizeram, em 11 de fevereiro, com que Hosni Mubarak deixasse o governo de 30 anos do Egito. Segundo Alexandre Neder, presidente da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa de Piracicaba, instituição preparada para atender e auxiliar todos aqueles que precisam de informações sobre parentes que deixaram no Oriente Médio, as revoltas nos países árabes servem para mostrar que o mundo está se democratizando. “As pessoas não aguentam mais os regimes autoritários conduzidos por estadistas que influenciaram seus países, mas que não sabem a hora de deixar o poder. Mandar torna-se um vício. Daí, a seriedade do início transforma-se na insanidade que leva ao fim trágico”, explica. Para ele, na maioria dos casos, existe uma forte influência islâmica que norteia as ações do povo árabe. “Eles falam em guerra santa e não encontram dificuldade alguma em matar quem quer que seja em nome daquilo que julgam ser o correto. Mulçumanos e cristãos fazem duelo na política, ocupando inclusive os partidos políticos”, diz. Outro fator preponderante apontado por Neder é a influência dos Estados Unidos, que tem a maioria dos países árabes como inimigos. “O povo oprimido pode e deve lutar contra os seus carrascos. Isso é legítimo. O que não é legítimo é o uso da influência invasora que, em nome

da paz, joga mísseis em escolas, creches e hospitais. Tudo isso por petróleo, terras e mais poder”, afirma. Elias Salum, orador da Sociedade, diz que os ditadores Bashar al Assad (Síria) e Hosni Mubarak (Egito), mesmo com a ditadura, contribuíram de forma positiva para o crescimento dos países. “Eles são os responsáveis pelas obras e o desenvolvimento destes países, mas governá-los por meio de um regime totalitário é maléfico para a população, que vive em condições inferiores à população do ocidente”, analisa. E acrescenta: “Um país cresce e se devolve com um ditador no poder, mas quando este conquista seus objetivos o país estaciona e não cresce mais, não eleva seu nível de desenvolvimento. Os governantes devem ter sensibilidade para sentir as necessidades da comunidade”. INTERNET – Para o professor de história pela Unimep e mestre em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) João Valerio Scremin as revoltas nos países árabes tiveram a internet como grande aliada. “O conceito de liberdade foi propagado pela rede de forma sistemática naquela região e atingiu justamente o público jovem, que nasceu sob a ditadura, mas tem informações sobre os países que vivem de maneira mais livre no Ocidente”, compara. Scremin avalia que os países árabes que estão enfrentando mudanças e que outrora viviam isolados, agora farão parte do mundo globalizado, porque houve uma ‘ocidentalização’ da população. Rafaela Gazetta Sabrina Franzol

Especialistas destacam novos líderes

As revoltas no Oriente Médio foram objeto de análise do debate Revoltas Populares nos Países Árabes, organizado pelo curso de Negócios Internacionais da Unimep, em 31 de março. O evento teve a participação do professor arabista Lejeune Mirhan e do vice-pre-

sidente do Instituto de Cultura Árabe em São Paulo, Mohamed Habib. De acordo com Mirhan, a democracia é essencial para um povo que busca mais liberdade. “Ela é fundamental para que haja menos exclusão social, injustiças, preconceitos e menos sofrimen-

tos de algumas categorias da sociedade como as minorias”, explicou. Para Habib, os conflitos sinalizam um enfraquecimento do poder ocidental e o surgimento de novos líderes, contexto em que se destacam o Brasil, a China, o Japão e os países da União Européia.


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saúde

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Gustavo Annunciato

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AUTISTAS BUSCAM INCLUSÃO SOCIAL

ois eventos marcaram o Dia Mundial de Conscientização do Autismo em Piracicaba – comemorado em 02 de abril – e colocaram em evidência a necessidade de apoio do poder público aos pais e portadores da síndrome na cidade. No dia 31 de março a Câmara de Vereadores sediou o 1º Encontro dos Amigos dos Autistas de Piracicaba e no dia 02 de abril, na praça José Bonifácio, ocorreu distribuição de mudas de árvores por integrantes da Auma (Associação de Pais e Amigos de Autistas de Piracicaba), entidade responsável pelas iniciativas. O encontro realizado na Câmara reuniu cerca de oitenta pessoas e teve a participação do presidente da Auma, João Bispo Aragão, do presidente do Conselho Municipal de Saúde de Piracicaba, José Eduardo Fonseca, da coordenadora do Curso de Enfermagem da Unimep, Vera Osinaga, e da psicóloga Débora Bueno, que mantém atendimento aos portadores da síndrome na Auma.

Segundo Aragão, um dos principais obstáculos para os que lutam por melhores condições de assistência aos autistas é o desconhecimento sobre o assunto. Durante o encontro ele observou que “o conhecimento sobre o autismo remete a uma gama muita pequena de pessoas”. Outra dificuldade enfrentada pelos pais, e sentida diretamente pela Auma, é a falta de profissionais especializados na área da saúde, como neurologistas e psiquiatras. A entidade, segundo ele, luta para conseguir profissionais da rede pública e também voluntários nestas áreas. A psicóloga Débora Corrêa Bueno, que presta atendimento na Auma, também chamou a atenção para a difusão de informações sobre o tema, que no Brasil é tratado há pouco tempo. “O autismo é pouco conhecido, começou a ser estudado a partir de 1946”, esclareceu. Ela completou: “É importante toda e qualquer divulgação a respeito dessa síndrome, pois muitas pessoas acabam

ficando sem atendimento ou com o atendimento prejudicado por não terem o diagnóstico correto”. Além do diagnóstico e tratamento, os participantes também destacaram a importância da presença dos familiares. “Esse apoio é de fundamental importância seja nas consultas médicas, no acompanhamento nas escolas, com psicólogos, terapeutas e equipes de enfermagem”, salientou Vera Osinaga. O presidente do Conselho Municipal de Saúde, José Eduardo Fonseca, destacou a necessidade de se pensar políticas públicas para o assunto, e ressaltou que o órgão que preside “é um dos espaços que o cidadão tem para reivindicar seus direitos”. Fonseca observou que é papel do Conselho planejar, acompanhar, verificar, propor e fiscalizar as ações que vão se constituir nas políticas públicas em todas as áreas da saúde. Bruno Moraes Cillo Gustavo Franco Annunciato


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Auma atua há dez anos em Piracicaba

Fundada em 1991, a Auma é uma instituição sem fins lucrativos, e atualmente, atende a 26 autistas com idade entre 4 a 30 anos. A entidade funciona de segunda à sexta-feira das 13 às 17 horas e possui equipe multidisciplinar de profissionais nas áreas de fisioterapia, psicologia, pedagogia e assistência social. Uma das principais ações da Auma é a busca da socialização do autista e conscientização, em conjunto com as famílias, a fim de contribuir para a

integração social e o combate ao preconceito, inclusive dentro das próprias famílias. O atendimento inclui terapias e exercícios relacionados ao estímulo produtivo do autista. A instituição conta com subvenção do município, o que permite a manutenção das instalações e estrutura física, além da remuneração de parte dos profissionais envolvidos no atendimento. Segundo o seu presidente, entretanto, os recursos são insuficientes para cobrir todos os gastos. O orçamento é com-

plementado com doações e promoção de eventos, e também há necessidade de buscar profissionais de saúde que se disponham a atuar voluntariamente. A Auma funciona na Rodovia SP 135, Km 15, no bairro Conceição, em Piracicaba. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3424.1979 e pelo e-mail: aumapiracicaba@ig.com.br. Bruno Moraes Cillo Gustavo Franco Annunciato Fotos: Gustavo Annunciato

José Bispo lidera organização da Auma

Diagnóstico e tratamento Autismo Síndrome que afeta a capacidade de comunicação e de relacionamento. Segundo estatísticas de instituição de pesquisa norte-americana, a cada 110 crianças nascidas, uma é acometida pela doença. Existem vários tipos de autismo e cada criança autista é única e apresenta condições singulares de patologia e tratamento. Características de comprometimento O da comunicação (ausência total ou uma fala ecolálica); o da imaginação e do comportamento social (não conseguindo assimilar conceitos que são socialmente aceitos). Os portadores não conseguem entender a alegria, a dor e a felicidade do próximo. Sobre características de comportamento dos autistas o fator mais relevante é o auto-isolamento, e em alguns é possível verificar a postura de autoflagelamento (se mordem e se machucam). Diagnóstico O autismo é uma disfunção cerebral que está presente desde o nascimento da criança, mas que normalmente vai se desencadear até os três anos. A partir de dois anos já e possível aos pais observarem a presença de sinais do distúrbio. Causas A patologia do autismo não tem condições definidas e/ou pré-estabelecidas de causa. Pode ser por fatores de descuidos durante a gestação e alimentação desregrada pode influenciar. Relaciona-se também com fatores psiquiátricos e neurológicos. Não há comprovações de descendência genética ou biológica. Freqüência A presença da síndrome é maior em homens do que em mulheres.

Plantio de Mudas Graças a uma parceria com o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no dia 02 de abril os representantes da Auma distribuíram 250 mudas de árvores nativas na praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba. O objetivo foi promover a conscientização sobre síndrome que afeta os autistas e, ao mesmo tempo, contribuir com a melhoria da qualidade de vida e a inclusão no meio social. Segundo a assistente social da Auma, Priscilla Rocha, o intuito foi aproximar as questões sociais

e ambientais. “São os autistas agindo por algo que afeta diretamente a sociedade e o meio ambiente. Queremos conquistar reciprocidade da comunidade com os autistas”, explicou. Além da entrega das mudas de árvores, os dirigentes da Auma distribuíram folhetos que explicam o trabalho desenvolvido pela entidade, e tiveram a oportunidade de dialogar com a população, pois aproximadamente 500 pessoas passaram pela tenda montada para o evento.

Debate na Câmara reuniu autoridades e pais de autistas


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estudantes Semana Cultural e Congresso Agitam Piracicaba

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realização de dois eventos, neste primeiro semestre, mostra a retomada das ações do movimento estudantil em Piracicaba. A II Semana Universitária, promovida de 20 de 26 de março, reuniu aproximadamente 4 mil estudantes em eventos políticos, culturais e festivos, e o 10º CONUEE/SP (Congresso da União Estadual dos Estudantes de São Paulo), que acontecerá de 23 a 26 de junho, projeta reunir outros milhares. As iniciativas reforçam a identidade da cidade com a mobilização dos estudantes, pois Piracicaba possui história e é reconhecida nacionalmente nesta área. O município foi sede do 32º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1980, em plena ditadura militar, e voltou a receber o even-

Leonardo Belquiman

to em 1982, quando no 34º Congresso, a entidade elegeu pela primeira vez uma mulher, a estudante Clara Araújo, como presidente. Esta retomada de ações, em grande parte, é liderada pela atual gestão do DCE (Diretório Central de Estudantes) da Unimep. “No momento, as entidades estudantis de Piracicaba estão unidas pela maior participação no dia-a-dia do estudante. Falam em nome da juventude de Piracicaba, classe que por muitos anos assistiu calada ao desenrolar dos acontecimentos importantes, e hoje quer, e merece, ser protagonista das necessárias mudanças que virão”, diz o coordenador administrativo do DCE da Unimep, Rafael Lacerda, 22. Neste aspecto, a realização da II Semana Univer-

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sitária – que desde 2010 integra oficialmente o calendário de eventos da cidade – teve como objetivo mobilizar os estudantes, proporcionar diversidade de ações e ampliar seus conhecimentos. “Como somos estudantes mantivemos a semana com muita irreverência e festas, mas focando no objetivo de melhorar nossa instituição e nossa sociedade como um todo”, conta a coordenadora geral do DCE da Unimep, Marcela Teixeira, 21. No caso do 10º CONUEE/SP a escolha de Piracicaba ocorreu em virtude do momento positivo, de reestruturação, vivido nas entidades, e também por possuir relação histórica com a organização estudantil nacional. A programação inclui debates, palestras, exibição de filmes e documentários, atividades artístico-culturais e esportivas. “Posso adiantar também que grandes nomes da política brasileira se farão presentes para discutir com a juventude as suas demandas”, afirma Lacerda. Reivindicações Além de questões pontuais, ligadas ao cotidiano das instituições de ensino, duas reivindicações de impacto mais geral integram a lista de prioridades das entidades estudantis na atualidade. A primeira é a derrubada do veto presidencial à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que previa a destinação de 50% do fundo social, criado com recursos do pré-sal, para e educação e assistência estudantil. O veto ocorreu no último dia do mandato do presidente Lula, mas a UNE acredita que é possível reverter a decisão. No dia 25 de março, a presidente Dilma Rousseff recebeu uma comitiva de estudantes e posicionou-se a favor da posição da entidade.

A segunda é a formulação do novo Plano Nacional de Educação que, entre outras coisas, pode ampliar os recursos destinados à área. A UNE e as UEE’s reivindicam ao executivo o aumento da locação do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação que hoje é de 5%. A presidente Dilma Rousseff já se mostrou favorável e comprometeu-se a alcançar 7% até 2014, mas as entidades estudantis querem a aprovação do mínimo de 10% em 2020. Elaine Pereira Larissa Martins

Sede do DCE e centros acadêmicos da Unimep


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diversidade

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Divulgação/Base Lounge

Baladas Gays Atraem

Público Heterossexual

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s baladas e casas noturnas voltadas ao público homossexual têm se transformado em alternativa importante para aqueles que curtem a noite e buscam diversão. O fenômeno tem se destacado em cidades médias e grandes e se soma a um conjunto de medidas de valorização e respeito aos direitos dos homossexuais. E estas festas não são freqüentadas somente por gays, mas atraem cada vez mais o público heterossexual. “Existe um aumento relativo de heterossexuais em baladas GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Não existe mais aquele tabu que envolvia gay, que era visto como uma coisa horrível”, diz a coordenadora geral da ONG (Organização Não Governamental) Somos, Maria Eduarda Negretto. Para Eduarda, há um conjunto de fatores que atrai as pessoas. “Não existem brigas, em nossas festas, a música é diferenciada, os gays são educados”, explica. A Somos, que atua nas áreas de comunicação, saúde e sexualidade, tem como objetivo buscar a união de lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais na luta pela cidadania, e na defesa de seus direitos humanos. Para os freqüentadores, diversão e segurança são importantes, mas há outros atrativos. A jornalista Gisele Franchini, 27, conta que na primeira vez que participou foi por curiosidade. “Meus amigos gays me convidaram e sempre quis ver como era o ambiente, já que todos sempre falavam muito bem das festas”. A jornalista aprovou e hoje valoriza muito o respeito existente entre as pessoas. “É uma balada divertida e completamente diferente de outras. Nunca presenciei uma briga, por exemplo. E, diferente do que muitos possam imaginar, existe muito respeito por qualquer um na balada, gay ou hetero”, diz. Apesar da curiosidade, Gisele admite que no início teve receio de ser mal interpretada, mas percebeu que na atualidade é importante romper com os preconceitos. O que a deixa mais tranqüila ainda é a compreensão e parceria com o noivo. “Ele também não vê problemas em me acompanhar em baladas gays.

roteiro na região É muito receptivo e respeita de mais a orientação sexual de todos”, completa. Também heterossexual, a técnica em qualidade e estética Andressa Gonçalves, 26, destaca a estrutura, a seleção de músicas e o respeito, em sua visão melhores do que em outras baladas. “Não é porque é uma festa GLS que existe bagunça, desrespeito. Muito pelo contrário, eles respeitam a opção de cada um e não invadem o espaço de ninguém”, diz. A música contagiante e a descontração também representam diferencial para os homossexuais, principalmente mais jovens, como o estudante Felippe Sena, 22, que atualmente mora em Hannover - Deutschland, na Alemanha. “Essa nova geração de adolescentes está se soltando cada vez mais cedo, fazendo com que as baladas GLS sejam alvo do público hétero”, salienta. Sena conta que nunca gostou de baladas hetero. “As músicas são de pouca qualidade e as pessoas são mais retraídas. Nas baladas GLS, qualquer um, hetero ou homossexual, se sente mais a vontade, a música contagia, é mais alucinante’’, explica.

Negócio

Quando inaugurou, em maio de 2009, uma das casas noturnas GLS mais populares de Campinas e região, a Base Lounge, o gerente Gaston Welcomme acreditava que a proposta seria a de atender o

 Piracicaba Edub Club & Lounge Fone (19) 3411-0506 www.edub.com.br  Sorocaba Blanko Club Choper Fone (15) 3211-9187 E-mail: blanko_sorocaba@ hotmail.com  Campinas Base Lounge Fone: (19) 3255-2502 www.baselounge.com.br Double Face www.doubleface.com.br Lord Fone: (19) 3386.4900 www.lordclub.com.br Pride Club www.prideclub.com.br  Mogi Mirim Áquilla Mix Club Rua Padre Roque, 1841 - Centro - Fone: (19) 9719-2679  Ribeirão Preto Alternativo Fever Club Fone: (16) 3610-1553 www.alternativofeverclub.com.br

público gay. Mesmo com esta perspectiva, a estrutura, que comporta aproximadamente 1700 pessoas, é ampla e inclui quatro ambientes: camarote, camarote VIP, pista e área externa com deck e piscina. A proposta mudou e hoje o local é freqüentado por uma diversidade de públicos. “Não rotulamos nem discriminamos as pessoas que freqüentam a casa. Pessoas de personalidade e bom gosto optam por lugares em que se sintam bem independente do segmento”, comenta o gerente. Na opinião de Welcomme, a produção da noite, seleção musical e decoração atraem os freqüentadores, inclusive os heterossexuais. “Poderíamos enumerar várias razões. Um casal hetero fica mais tranquilo, mais a vontade, ninguém perturba ninguém. A diversidade e o respeito é o que caracterizam o sucesso de uma casa GLS”, destaca. O estudante de jornalismo Lazaro Maciel, 18, acredita que o que as pessoas querem mesmo é se divertir e isso conta muito em uma balada GLS. “O som é muito bom. É legal ser hetero em uma balada gay, eles gostam que os heteros compareçam e isso significa que não existe preconceito nas festas”, comenta. Amanda Maretti Luana Rodrigues Valéria Spinelli


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cultura que teria prejudicado o orçamento como um todo. O município destinou ao setor R$ 7,5 milhões em 2011. Reformas A maior parte do orçamento da área de cultura em Limeira neste ano já tem destino: será aplicada nas reformas e reparos de espaços culturais. Os prédios do Palacete Levy, da antiga Escola Coronel Flamínio e do Teatro Vitória estão sendo reformados e restaurados e devem ser entregues à população até o final deste ano. As reformas respondem pela maior parte do incremento no orçamento do setor. “Quem vê esses números pode achar que o nosso orçamento é maravilhoso, mas ele saltou tanto de um ano para o outro por conta dos investimentos nas reformas dos prédios culturais, antiga reivindicação da população limeirense”, explica José Farid Zaine, secretário da Cultura. Outra área considerada prioritária é a de investimento em eventos. Os maiores foram o Festival Paulista de Circo, realizado desde 2008, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, Via Sacra, a Paixão de Cristo de Limeira, e os festivais nacionais de música e de teatro. Segundo Zaine – que voltou ao comando da Cultura de Limeira em março deste ano, já que é vereador eleito – os festivais são os pontos fortes na cidade, pois fomentam novas produções entre os artistas. “Temos um aumento expressivo de bandas, cantores e grupos teatrais depois de criarmos esses eventos”. Em Limeira, não há Conselho Municipal da Cultura, organismo que em muitos municípios acompanha a execução do orçamento e definição de prioridades, mas Ronald Gonçales

rnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Brito, na composição da música “Comida”, gravada pela banda de rock´n roll “Titãs”, destacam a arte e a cultura como fatores essenciais à formação consciente dos cidadãos. Em frases como “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé” ou “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, os compositores afirmam a importância da cultura como direito das pessoas e a necessidade de recursos para a garantia deste direito. Os políticos quase sempre incluem a cultura entre suas prioridades, mas ao definir a destinação dos recursos para a área nem sempre confirmam este caráter prioritário. A comparação dos valores investidos nesta área em três das principais cidades da região – Piracicaba, Limeira e Rio Claro – mostra diferenças não só de proporção, mas também de concepção sobre a própria política cultural e as áreas que devem ser contempladas. O orçamento destinado à cultura no município de Limeira praticamente triplicou de 2010 para 2011. De R$ 4,5 milhões em 2010, passou para R$ 12 milhões, mas a elevação substancial se justifica principalmente pela execução de reformas em prédios públicos. Em Piracicaba, a Secretaria da Ação Cultural destaca o apoio das leis de incentivo para complementar o orçamento e registra aumento, de R$ 9,5 milhões em 2010 para R$ 11 milhões em 2011. Rio Claro possui o menor orçamento para a área entre as três cidades, a administração diz que pretende inserir mais a população da cidade na cultura. A justificativa é a baixa arrecadação do município,

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Espetáculo “Via Sacra” é um dos maiores investimentos da Secretaria da Cultura de Limeira

Você tem se

Orçamento dos municípios revela co

Dados do investimento em cultura nas cidades da região

o segmento vem se mobilizando para que seja criado. É o que garante Marcos Lima, presidente da Acaerte (Associação Cultural de Artistas e Técnicos de Limeira). Lima avalia que o orçamento destinado à cultura de Limeira é bem utilizado e destaca os investimentos em festivais, espaços que os artistas utilizam para mostrar seus trabalhos. Por outro lado, critica a falta de recursos para a formação cultural contínua, aplicada desde criança até a vida adulta. “Há bons cursos, mas é preciso usar o orçamento para que as pessoas possam ter formação mais adequada nas áreas que desejam atuar”, pontua. Leis de incentivo Em Piracicaba, cidade conhecida nacionalmente como a “capital caipira”, graças ao sotaque característico dos habitantes da região e também pela manutenção

Salão de Humor de Piracicaba tem prestígio nacional e atrai públi


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ede de quÊ?

ico

Estela Menegalli

oncepções diferenciadas de cultura

Outros projetos recebem o apoio da Ação Cultural, como o “Choros e Serestas” e o atendimentos a crianças, jovens e pessoas da terceira idade, nos 18 centros culturais de Piracicaba. Além do auxilio financeiros aos projetos, a manutenção de todos os espaços de cultura é de responsabilidade da secretaria. Ela destaca ainda o trabalho da Orquestra Sinfônica de Piracicaba, que possui 110 anos, e os salões de Arte Contemporânea e Belas Artes. “Nossos salões são referências nacionais”, enfatiza. Antônio Chapéu, responsável pela área teatral do NUC (Núcleo Universitário de Cultura), da Unimep, diz que embora Piracicaba esteja na “vanguarda em relação aos outros municípios”, não pode existir acomodação. “Temos desde 1992 o FAC (Fundo de Apoio à Cultura), porém ele não atinge a carência da cidade em relação às áreas específicas, como teatro e música”, observa Chapéu.

de valores culturais próprios, o orçamento no setor da cultura é o segundo maior nas cidades analisadas: são cerca de R$ 11 milhões neste ano. A secretária da Ação Cultural, Rosângela Rizzolo Camolese, destaca parcerias com as leis de incentivo para comporem as iniciativas culturais, além do apoio dos artistas e produtores da cidade. “Temos uma classe artística muito unida que colabora para que os eventos sejam realizados da melhor forma”, diz. Rosângela revela que um dos maiores investimentos da Ação Cultural é o Salão Internacional de Humor. A verba, de R$ 250 mil, é repassada ao Centro Nacional de Pesquisa do Humor. “Além da exposição, preparamos diversas atividades durante o Salão, como concurso de piadas, apresentações teatrais e material completo de divulgação”, explica.

Luiz Felipe Leite Ronald Gonçales

Luiz Felipe Leite

Christiano Diehl

Inserção cultural Em Rio Claro, o orçamento da cultura, de R$ 3,5 milhões para 2011, é o menor das três cidades. Mas, a administração municipal informa que neste ano a cidade também recebeu mais R$ 4 milhões do Governo Federal para a reforma do Museu Pedagógico de Rio Claro, incendiado em junho de 2010. Com este incremento, o orçamento geral do ano para a cultura rio-clarense sobe para R$ 7,5 milhões. Segundo o diretor de eventos culturais populares da Secretaria da Cultura, Luiz Carlos Rodrigues Resende, o valor poderia ser maior, caso a arrecadação tivesse sido a esperada. Ele também diz que aproximadamente 60% da verba cultural é direcionada para o funcionalismo público:

pagamento de salários e manutenção da estrutura. O restante do orçamento é utilizado para subsidiar entidades, como a Banda dos Ferroviários, e para eventos, como o Festival de Música Popular Brasileira e a Festa Italiana de San Genaro. Mesmo com as dificuldades financeiras, o diretor enfatiza que a palavra de ordem na secretaria é inserir a população na cultura. “Quando assumimos, reabrimos o acesso do Centro Cultural (sede da secretaria) para a população, pois entendemos que o espaço deve ser aberto para o cidadão”. Rio Claro também não possui Conselho de Cultura, mas o colegiado deve ser criado em outubro, quando ocorre a primeira Conferência Municipal, com o objetivo de eleger representantes para o órgão, o que, na opinião de Resende, deve democratizar as ações e decisões no segmento. O cronista, poeta, autor teatral, professor e colunista do jornal Cidade de Rio Claro, Jaime Leitão, avalia que a Cidade Azul está “atrasada” nos eventos culturais e que a situação poderia ser melhor. “Décadas atrás, Rio Claro era um dos principais, se não o principal pólo de emissão de cultura da região. Hoje estamos atrás das demais cidades”. Ele defende uma política mais “profissional” por parte de quem dirige atualmente a secretaria, mas enfatiza que não houve abandono na atual gestão. “É claro que faltam muitas coisas, como uma reforma na estrutura física do Centro Cultural, mas outras estão sendo feitas, como os subsídios para projetos de cultura”, finaliza.

Teatro do Centro Cultural é espaço de destaque para Rio Claro


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estupro

junho/2011 • edição 23

Carolina Fischer

Violência sexual provoca danos sociais e psicológicos

S

omente nos três primeiros meses deste ano foram registrados 171 casos de violência sexual na região de Piracicaba, que abrange 53 cidades. Piracicaba, Rio Claro e Americana lideram as estatísticas, pois nestes municípios ocorreram 50 casos deste total. Os dados preocupam, pois envolvem diversos tipos de situação, como atentado ao pudor, exploração e abuso sexual e estupro. No caso de estupro, a situação mais grave, os autores dos abusos geralmente são pessoas ligadas à vítima, como vizinhos e padrastos, que adquirem a confiança até cometerem a violência. Para não serem descobertos, exercem constantes ameaças e dificilmente a vítima realiza a denúncia, por medo de ser descoberta. As notificações, entretanto, também refletem as mudanças no Código Penal promovidas pela Lei nº 12.015, de agosto de 2009, que alterou a tipificação de diversos crimes sexuais. A nova legislação também definiu que todo ato sexual, mediante violên-

cia, passa a ser considerado estupro, independente do sexo da pessoa. Antes da modificação, as vítimas eram sempre do sexo feminino, uma vez que os casos de violência contra homens eram tratados como atentado ao pudor, e as punições eram diferentes do estupro. Para a delegada Adriana Haidê Assari Nevoeiro, da Polícia Civil de Rio Claro, “a lei ficou muito ampla para caracterizar um estupro, e atos simples poderiam ser tratados de outra forma”. Ela relata caso em que uma moça, após ser colocada para fora de um bar, em meio a uma confusão, registrou queixa de estupro porque alguém teria passado a mão em seus seios. Na visão da delegada essa situação, por exemplo, poderia ser tratada como atentado ao pudor. Em outro exemplo de que muitas vezes pode haver exageros na interpretação da Lei é o de um boletim de ocorrência feito na cidade de Rio Claro. Pelo registro, um avô teria cumprimentado sua neta com um beijo na boca e o fato foi relatado como estupro.

Mas, apesar de todas as dificuldades em identificar o estupro, ele acontece e segundo a Conselheira Tutelar de Santa Gertrudes, Jeniffer Julião Altarugio, o atendimento às vítimas exige cautela e procedimentos que envolvem diversos profissionais da segurança e saúde. O primeiro contato com as vítimas normalmente é feito pela equipe médica do pronto-socorro, que em seguida faz o encaminhamento para exame pericial, onde é ministrada a medicação adequada. Após estas medidas é que se providencia o boletim de ocorrência e tem início o trabalho de investigação por parte da polícia. Nos casos envolvendo crianças ou adolescentes, o Conselho Tutelar é comunicado e faz o encaminhamento da vítima e dos responsáveis ao CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) para acompanhamento psicossocial. As mulheres violentadas, além de serem atendidas pelo CREAS, são encaminhadas para o CREMUV (Centro de Referência da Mulher Vitimizada).

...eu senti muita raiva, e dor ...


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edição 23 - junho/2011

Segundo a conselheira, quando a vítima é uma criança é necessário muito tato no atendimento. “A regra é não ficar perguntando e sim realizar um trabalho lúdico, através do qual ela irá se expressar e aos poucos, estabelecer um vínculo com a técnica de referência, favorecendo assim, um diagnóstico mais preciso sobre o ocorrido”, explica Jeniffer. O atendimento adequado às vítimas também deve incluir profissionais da área de psicologia, pois é comum o desenvolvimento de quadros psicóticos, depressivos, desenvolvimento de doenças de pele e principalmente as relacionadas à prática sexual. “É uma situação que deixa marcas para o resto da vida e transforma a vida da pessoa”, diz a psicóloga Adriana Rubio Wodewotzki. Dependendo da gravidade do caso e da capacidade da pessoa em lidar com o trauma, podem ocorrer até tentativas de suicidio. A psicoterapeuta relata que muitas vezes durante o atendimento a pacientes pode ocorrer suspeita de violência. Como exemplo, conta o caso de uma adolescente em tratamento por que tinha mania de guardar lixo. Durante a fase de avaliação houve suspeita de abuso sexual por parte do pai e ela entrou em contato com a mãe para uma conversa, mas depois disso a criança saiu da terapia e nunca mais apareceu. “De maneira geral, pessoas vítimas de estupro costumam se sentir sujas e culpadas”, salienta. As vítimas de abusos, segundo Adriana, também podem demonstrar alterações de personalidade. Na maior parte dos casos se mostram pessoas arredias, desconfiadas e com dificuldades em relação ao contato físico. Quanto ao tratamento, destaca-se a necessidade de acompanhamento psicológico, que gera um suporte à vítima, e também a orientação dos familiares sobre como lidar com o fato. Já o uso de medicamentos envolve uma atenção maior, uma vez que causa dependência, mas num primeiro momento pode ser necessário por criar melhores condições para a pessoa se recompor e superar. “Eu particularmente não gosto do remédio quando ele passa a ser encarado como solução. No meu ponto de vista deve ser administrado apenas por um curto tempo”, diz a psicóloga. O ideal, segundo os profissionais da área, é estimular comportamentos preventivos, a fim de se evitar abusos e situações de estupro. Segundo a delegada Adriana Nevoeiro, uma das formas é a realização de campanhas de orientação. Além disso, ela recomenda que as pessoas devem evitar trafegarem com pertences que chamam a atenção, bem como andar sozinhas em determinados horários. Também é importante ter cuidados redobrados ao se relacionar com pessoas pela internet. Em relação à atuação do Poder Público, ela acredita que para haver uma diminuição dos índices de criminalidade nesta área é importante que haja punições rigorosas, certas e rápidas. Caroline Moreira Leandro Penteado Michaella Frasson

entrevista

“O que me consumiu foi um medo muito grande”

Vítima de estupro relata estratégia de ameaças do agressor e fala sobre conseqüências psicológicas e físicas que enfrenta até hoje. Sugere atenção aos pais e recomenda denúncia: “A justiça de colocar criminosos condenados por violência sexual atrás das grades não tira a dor da agressão, nem os traumas recorrentes da mesma, porém ameniza um pouco e tranquiliza as vítimas”. Quando você foi vítima de estupro e que idade você tinha? Foi em 1998, eu tinha 8 anos. Você conhecia o agressor? Como ocorreu a situação? Sim, o agressor é pai do meu irmão mais novo, foi o segundo marido da minha mãe. Minha mãe havia saído para fazer compras. Como ela costuma demorar, ele – que portava ilegalmente uma arma em casa – começou a me fazer ameaças e disse que mataria minha mãe e meu irmão (na época com dois anos) caso eu não fizesse tudo que ele mandasse. Foi ai que ele começou a tirar minha roupa e me obrigar a fazer coisas que naquela idade eu nem sabia o que eram. Que sentimentos a situação provocou em você? Qual é pior sensação que fica após a violência? Após a violência sexual eu senti muita raiva, e dor, física e emocional. Porém o que me consumiu foi um medo muito grande, pois as ameaças do agressor a minha família continuavam. Creio que a pior sensação vem depois que você entende de fato o ocorrido, e começa a descobrir as consequencias. Após o estupro, que tipo de ajuda você recebeu? Qual a importância da família num momento destes? Como as ameaças continuaram, como disse anteriormente, não contei a ninguém por medo de perder minha mãe e meu irmão. Talvez fosse

diferente se eu tivesse contado, teria tido apoio. Mas, pela omissão o agressor continua impune e até hoje (12 anos depois) poucas pessoas sabem o que aconteceu. Hoje, você se sente totalmente recuperada do trauma vivido? A verdade é que a violência sexual causa muitos traumas, de alguns eu me recuperei sim, porém tenho traumas como problemas em ver sangue, afinal a quantidade de sangue que havia no colchão após a violência era muito grande. E também os danos físicos, no meu caso a esterilidade. Pesa muito, hoje que tenho 20 anos, saber que pela agressão que sofri na infância eu não posso ter filhos. Que tipo de mensagem você deixa para outras pessoas que forem vítimas deste tipo de agressão? Primeiramente se perceberem qualquer tipo de mudança de comportamento por parte do futuro agressor, avise sua mãe, ou parentes que possam ajudar. Não se calar nesse momento é importante para que esses agressores não continuem livres, sujeitos a cometerem os mesmos crimes novamente. E para aqueles que já sofreram esse tipo de agressão denunciem, infelizmente não podemos fazer mais do que isso. A justiça de colocar criminosos condenados por violência sexual atrás das grades não tira a dor da agressão, nem os traumas recorrentes da mesma, porém ameniza um pouco e tranquiliza as vítimas.

Violência sexual na Região de Piracicaba / janeiro a março de 2011 Cidades

Janeiro

Fevereiro

Março

TOTAL

População Total

Rio Claro

04

06

06

16

186.299 hab

Piracicaba

06

05

09

20

364.872 hab

Americana

04

05

05

14

210.701 hab

Limeira

01

06

05

12

276.010 hab

Santa Bárbara

03

01

02

06

180.148 hab

Araras

02

00

00

02

118.898 hab

Nova Odessa

04

00

01

05

51.278 hab

Fonte: Secretaria de Estado de Segurança Pública


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finanças

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Primeiro emprego desafia jovens na administração dos salários

Thiago Felipe Cezarino

O

Brasil vive momento positivo em sua economia e uma das principais consequências é a diminuição das taxas de desemprego, que segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) são as menores em 13 anos. Essa realidade está proporcionando o primeiro emprego a muitas jovens, que também são desafiados a, pela primeira vez, administrarem seus salários. Pedro Lavorenti, 23, em seu primeiro emprego, como assistente de professor na Facamp (Faculdade de Campinas), utiliza a maior parte de seu salário para o seu próprio sustento, pois paga todas as suas despesas com alimentação e manutenção do apartamento onde mora. Revela que não possui sobras e com isto não há como pensar em investir. Precisa manter controle permanente sobre o que recebe e o que gasta, mas não vê muita dificuldade. “Administrar o dinheiro é fácil. Sempre utilizo uma planilha de gastos no Excel (planilha eletrônica) para um planejamento do meu salário. E ai fica tranquila a organização das contas”, afirma. Mas nem sempre é tudo tão simples. Imprevistos e falta de controle podem trazer transtornos aos novos assalariados, como aconteceu com Marcos Pereira, 21. Ele perdeu o pai, vítima de um ataque cardíaco fulminante, e a partir daí sua família enfrentou dificuldades para se organizar financeiramente, pois o pai era a principal fonte de renda.

Pereira teve que começar a trabalhar e mesmo após dois anos a família acumulava dívidas. “Comecei a trabalhar como motoboy em uma empresa para sustentar minha mãe e a nossa casa, mas os gastos estavam ultrapassando e quando me dei conta estava com uma divida de 4 mil reais no banco.Tive que fazer empréstimo bancário e aprendi a prestar mais atenção

NA PRÁTICA DESIGN

Projeto selecionado

O projeto gráfico desta edição do Na Prática é resultado de parceria entre os cursos de Jornalismo e Design Gráfico da Unimep. Na disciplina Produção Editorial, do 3º semestre de Design, os alunos construíram propostas visuais para o jornal. Confira algumas das alternativas de capas que foram apresentadas.

nos nossos gastos”, relata. Para evitar sobressaltos, a principal dica dos especialistas em administração financeira é sempre poupar uma parte do salário. Gabriela Lindemann, 37, especialista em RH, diz que o correto seria que todas as pessoas guardassem uma media mínima de 30% do salário para acontecimentos eventuais. Ela também alerta para

a oferta de crédito fácil aos assalariados e os riscos do endividamento. “Hoje devido à economia brasileira estar num período muito forte, existe um crédito pessoal e imobiliário abundante no país. Se o jovem não souber administrar bem os seus gastos com cartões de crédito ou empréstimo pessoal, isso pode ser perigoso no futuro”. O gestor financeiro Michel Esteves, 30, é mais radical, e recomenda investimentos financeiros e em educação. Para ele, os jovens, independentes de quanto ganham, deveriam investir/poupar 50% de seu salário, mesmo que o investimento seja a própria a faculdade. “Aqueles que gostam de dinheiro, são aqueles que o poupam, pois aqueles que gastam tudo não terão uma poupança futura, ou uma carteira recheada”, enfatiza. Também há casos de jovens que recebem apoio financeiro da família e podem, caso tenham projetos futuros e, principalmente, disciplina, poupar seus salários. Felipe Veneziano, 22, estudante de direito da USP (Universidade de São Paulo) conseguiu seu primeiro emprego como advogado em um grande escritório. Guarda quase 100% do que recebe em uma poupança e o dinheiro já tem destino. “Minha família arca com todos os gastos, então, o que resolvi fazer foi guardar a maior parte do meu salário para uma viagem de três meses nos EUA”, conta. Antonio Corazza Netto


trânsito

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Melhor idade também no volante Cresce número de motoristas idosos; estrutura das cidades não é adequada

T

odas as projeções indicam um envelhecimento da população brasileira nos próximos anos. O número de pessoas com mais de 60 anos, que representava apenas 5% na década de 1950, dobrou em 2010 e estimativas do Banco Mundial apontam que o país terá 64 milhões de habitantes – 30% do total – na terceira idade em 2050. Estas alterações no perfil demográfico trazem muitas conseqüências, e uma delas, já bastante sentida, é a presença crescente de idosos no trânsito, dirigindo automóveis, ônibus e até caminhões. Segundo o professor de CFC (Curso de Formação de Condutores) José Adelson Figueiredo de Lima, 42, atualmente a cada 20 alunos três têm mais de 60 anos, na maioria mulheres. A costureira Silvânia Inês Simão, 60, integra este grupo. Faz aulas de CFC em busca da primeira habilitação e o que a motivou foi a morte do marido no final do ano passado. “Só ele dirigia e quando precisava ir a algum lugar ele me levava”, explica. Ela pretende utilizar o automóvel para ir ao trabalho e com isso economizar tempo e dinheiro. “Estou gostando das aulas do CFC, eu estava em depressão, agora distraio a cabeça e acabei fazendo novas amizades”. Paulina Dalva Müller Ribas, 70, professora aposentada de geografia na cidade de Limeira, dirige há 39 anos e se diz apaixonada por direção. Ela lamenta, entretanto, a falta de organização do trânsito, inclusive a falta de respeito às vagas de estacionamento para idosos. “Eles sabem que aquela vaga é destinada para idosos, e mesmo assim estacionam nela”, reclama. A professora garante que os anos só agregaram experiência e que hoje ela dirige melhor. Mostra o lado aventureiro e radical ao contar que sente mais prazer ao dirigir nas rodovias, onde pode aumentar a velocidade. “Quando aperto o pé e sinto a potência do carro é algo emocionante”, fala, sem deixar de ressalvar que respeita sempre os limites estabelecidos. Saúde Para alguns motoristas, entretanto, problemas de saúde podem ocasionar limitações. Eudes de Mello Cavalcanti, 72, fiscal de loja, admite que sua principal dificuldade é com a visão, pois usa óculos com mais de quatro graus em cada olho e foi operado de catarata há seis anos. Apesar

Raphael Justino

“Meu maior prazer é quando nossos direitos são respeitados, inclusive de estacionar em vaga destinada a idosos, mas é claro que a educação no trânsito ainda tem muito que avançar”. Cariolano Pedro do Nascimento, 66 anos, motorista aposentado. disto, se acha um bom motorista. “Mesmo com todas as dificuldades me considero um bom motorista. É claro que não sou o mesmo de 30 anos atrás”, comenta. O motorista, que já realizou diversas viagens a outros estados, reconhece, por outro lado, que a partir de determinada idade algumas pessoas se tornam mais lentas no raciocínio e reações e podem causar transtornos. “Alguns idosos não aceitam que a hora de parar de dirigir é algo natural”, explica. A hora de parar, segundo especialistas, chega quando a pessoa começa a perder a lucidez e sentir redução na coordenação motora, fato que muitas vezes é recebido de forma diferente por homens e mulheres. “O que para os homens pode significar perda de parte de sua masculinidade é acatado pelas mulheres com mais tranquilidade”, observa o médico do trabalho Renan Andreuccetti, que realiza o exame

oftalmológico básico e psicotécnico para a renovação da CNH em Rio das Pedras. Segundo ele, os exames em idosos são semelhantes. Os quesitos analisados são lucidez, ofuscamento, profundidade, ca-

Idosos no trânsito da região  Piracicaba População: 364.872 habitantes Frota de veículos: 233.604 Cartões emitidos: 1.847 (março/2011) Envolvidos em acidentes: 599 pessoas com mais de 60 anos (em 2010) Vagas na Região Azul: 120  Limeira População: 276.022 habitantes Frota de veículos: 159.625 Cartões emitidos: 2.965 (março/2011) Envolvidos em acidentes: 430 pessoas com mais de 60 anos (em 2010) Vagas na Região Azul: 92

pacidade de enxergar as cores e escritas das placas a seis metros de distância, além de um exame simples para constatar se o idoso não apresenta sintomas de labirintite. Se o paciente apresentar dificuldades para enxergar é encaminhado para consulta com um oftalmologista. Caso o idoso seja aprovado, a CNH é renovada por três anos, desde que não tenha nenhuma patologia como por exemplo, o mal de Parkinson. Existe também a possibilidade de se vedá-la por tempo determinado, para casos de saúde, ou restringi-la para a estradas ou ao pôr do sol; devido aos reflexos solares que podem confundir e ofuscar a visão provocando riscos de acidentes. O médico explica que a CNH pode ser cancelada efetivamente caso o idoso não apresente lucidez ou não tenha os reflexos de forma coordenada. E conclui: “Embora seja complicado para a pessoa ter a CNH cancelada, eu como médico do tráfego penso mais no pedestre inocente que pode perder a vida”. Karine Santos Raphael Justino


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esporte

junho/2011 • edição 23

Felipe Abrahão

Times da região sofrem nas divisões inferiores de futebol

O

futebol há tempos deixou de ser somente um esporte. Hoje é um negócio que gera muito dinheiro. E a posição e presença das equipes nos campeonatos está diretamente ligada ao sucesso dentro das quatro linhas e desempenho financeiro, pois dependendo da divisão em que a equipe se encontra, as possibilidades de captação de recursos são maiores ou menores. Na terceira divisão do Paulista, a série A3, os clubes recebem cerca de 80 mil reais da Federação Paulista de Futebol. Já na A2, o número sobe para cem mil, porém raramente este valor chega aos cofres das equipes, pois são muitas as despesas descontadas, como bolas, arbitragem e diversas taxas ao longo da competição. Na elite do futebol paulista, a série A1, as coisas mudam, pois o valor recebido chega a um milhão e meio de reais pela competição, fora o

direito de imagem pago pela televisão. Para se ter uma ideia da diferença de condições entre as divisões do Campeonato Paulista, basta analisar os números de público, renda e verbas pagas aos clubes. Em 2011, a média de público nos jogos da Série A-1 do Campeonato Paulista foi de 16.489 pagantes, com uma renda média de R$ 185 mil por partida. Cada clube pequeno, como a maioria do interior, recebeu R$ 1,4 milhão da FPF (Federação Paulista de Futebol) como verba de televisão. Por outro lado, na Série A-3 os números são ínfimos. Público médio de 678 pagantes, renda de R$ 2.400 por jogo e verba da federação de apenas R$ 60 mil, sem contar as taxas de arbitragem e exames anti-doping. Felipe Abrahão Fernando Galvão Vladmir Catarino

Tigre

Tradição não prevalece, e Rio Branco cai para terceira divisão

a

décadas passadas. “Desde 1990, quando o time subiu para a 1ª divisão, até 2007, tínhamos grandes públicos no estádio, além de uma verba milionária da televisão e dos patrocinadores. Hoje é difícil até pagar as contas da padaria”, lamenta. Na opinião de Roberto Zacharias, atual presidente do Rio Branco, dirigir um clube do interior na atual conjuntura é sinal de heroísmo. “Sem parceiras é impossível tocar o futebol. Falta de dinheiro leva à montagem de times com menor qualidade técnica, que gera resultados ruins e rebaixamentos, culminado com menos dinheiro no caixa. Vira um circulo vicioso, difícil de sair”, enfatiza.

eir err éF Fa

te do Rio Branco, a razão foi uma soma de fatores. “O Rio Branco sempre foi muito forte nas categorias de base. Recebíamos atletas de vários estados para jogar aqui. Mas, com a Lei Pelé perdemos essa fonte de renda, já que os jogadores não ficaram mais atrelados aos clubes. Além disso, alguns dirigentes tiveram dificuldades em administrar a grande estrutura que o Rio Branco possui”, analisa. A Lei 9.615/98, citada por Borelli, batizada de Lei Pelé, entrou em vigor no dia 24 de março de 1998 e estabelece que, em dois anos, os jogadores deixam de ser propriedade dos clubes. Ela levou a um menor investimento nas categorias de base, pois, ao fim do contrato, o jogador, sem vínculo, acaba sendo levado por clubes maiores, o que também contribui para um êxodo de atletas cada vez mais jovens para o exterior. Aparecido Fusco, funcionário administrativo do Rio Branco desde os seus tempos áureos, faz uma comparação entre a situação atual e o panorama nas duas

elo arc M

O Rio Branco, de Americana, outrora celeiro de novos talentos e adversário indigesto dos times grandes, amarga uma crise sem precedentes. Rebaixado à 3ª divisão do Campeonato Paulista, está atolado em dívidas trabalhistas e deve meses de salários de jogadores, funcionários e comissão técnica. Gustavo (Santos); Marcio Rocha (Guarani), Gilmar Lima (Palmeiras), Flávio Conceição (Real Madri) e Marcinho (Grêmio); Marcos Assunção (Roma), Marcos Sena (Seleção da Espanha), Zinha (Seleção mexicana) e Souza (Corinthians); Sandro Hiroshi (São Paulo) e Thiago Ribeiro (Cruzeiro). O que parece ser a convocação de uma seleção, apta a enfrentar qualquer adversário, é, na verdade, parte de uma extensa lista de jogadores revelados pelo clube de Americana. O Tigre americanense permaneceu por 17 anos na elite do estado, mas o que levou a equipe a sofrer três rebaixamentos no curto período de quatro anos? Para Armindo Borelli, conselheiro e ex-presiden-

Torcida Malucos do Tigre lota as arquibancadas do Décio Vitta


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edição 23 - junho/2011

nhô quim

velo clube Clube está entre os mais antigos do Estado de São Paulo

Eduardo Castelar

Fernanada Pereira

Torcida esquadrão que esteve presente em todos os jogos na volta do XV para a elite do futebol paulista

XV de Piracicaba volta à elite do Paulista em 2012

Há 16 anos fora da primeira divisão, o XV de Piracicaba conseguiu voltar à elite e, em 2012, vai disputar a série A1 do Campeonato Paulista. A atual diretoria está no comando do clube há três anos, período em que disputou as séries A3 e A2. Segundo o diretor Antônio Carlos Fernandes, neste período foram só dificuldades. “Falta apoio financeiro, o torneio não tem apelo aos torcedores, mas mesmo assim a nossa média de público é muito boa”, afirma. Segundo Fernandes, as diferenças entre disputar a série A2 e A3 são muito pequenas. “O grande diferencial que notamos foi a pressão para subir quando estávamos na série A3.

Na A2 nós fomos avançando etapas, mas o principal objetivo era não cair novamente”. O dirigente acredita que as dificuldades financeiras devem ser menores na primeira divisão, mas entende que a exigência de planejamento é a mesma, pois os adversários dentro de campo também estão mais estruturados. Porém, avalia que somente no próximo ano terá dimensão exata das mudanças. “Não podemos falar sobre a série A1, pois em nossa administração nunca estivemos lá. Na época, em 1995, éramos todos torcedores, mas acredito que as coisas mudem, pois o apelo e a exposição na mídia são muito maiores”, avalia.

Centenário, Velo Clube conquista acesso para a A2

Outra equipe que também já esteve na A1 e atualmente está longe da exposição da mídia é o tradicional Velo Clube de Rio Claro, que completou cem anos em 2010. Em 2011 o Velo disputou a A3 e só conseguiu o acesso na última rodada da competição, com vitória de 4 a 1 sobre o Taubaté em Rio Claro. Na avaliação dos seus dirigentes as, dificuldades para disputar a A3 são enormes e incluem: times montados à base do improviso, gastos extras com registros de jogadores, viagens, despesas com maqueiros, bilheteiros, a obrigatoriedade de ambulância, desfibrilador nos jogos e alimentação dos atletas. Segundo José Luiz Pimentel, assessor do Velo Clube, são heróis, os que sobre-

Onde está seu clube ?

2011 - Série A2 2012 - Série A1

2011 - Série A2 2012 - Série A3

2011 - Série A3 2012 - Série A2

2011 - Série A3 2012 - Série A3

2011 - Série A2 2012 - Série A2

2011 - Série A2 2012 - Série A2

vivem no futebol do interior nesta situação. “Os patrocínios normalmente são de dirigentes dos clubes ou de empresários que se arriscam em bancar os salários dos atletas”, afirma Os salários normalmente são baixos e as contratações de jogadores para formar o elenco são complicadas. “Pequenos empresários têm ligação com atletas e procuram colocar estes atletas nos clubes para que, caso joguem bem, consigam atingir alguma transferência que lhes traga retorno”, explica Pimentel. Outra prática comum nestas divisões é o uso de atletas como Viola, Tulio e outros “praticamente ex-jogadores”, que atraem a atenção. E alguns dirigentes procuram estes nomes para tentar, com a presença deles, atrair público e investimento. O dirigente do Velo também reclama que as condições para os jogos são precárias. Os times enfrentam gramados em más condições, pois uma boa parte joga em estádios municipais, que são mantidos e conservados pelas prefeituras. Pimentel explica que alguns municípios do interior de São Paulo vivem uma situação de penúria e não fazem absolutamente nenhuma melhoria nos estádios.


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pronto-socorro

junho/2011 • edição 23

mau Atendimento PROVOCA RECLAMAÇÕES de usuários

O

atendimento em pronto-socorro é uma das áreas que mais gera reclamações por parte dos usuários do serviço público. As queixas incluem demora no atendimento, descaso, falta de especialistas e, principalmente, falta de vagas em hospitais quando esta é a recomendação de tratamento. A situação é sentida em praticamente todas as unidades das cidades de Piracicaba e Santa Bárbara D’Oeste, como afirma enfermeira do pronto-socorro da Vila Cristina, onde são atendidos em média 500 pacientes por dia. “Atualmente, alguns pacientes ficam à espera de um leito para internação, mas não há trabalho hoteleiro nos pronto-socorros, dessa forma o trabalho é realizado da maneira como é possível, as famílias dos internados levam comida, lençóis e o que for necessário para o paciente”, afirma. O problema da falta de leitos em Piracicaba é conhecido pela comunidade médica. Os únicos hospitais que recebem pacientes da rede pública, em casos de internação, são o Hospital dos Fornecedores de Cana e a Santa Casa de Misericórdia. Piracicaba conta atualmente como os prontos socorros públicos da Vila Rezende, Piracicamirim, Vila Sônia e Vila Cristina, Mas, nem todos os tipos de atendimentos geram reclamações e em muitos casos os pacientes conseguem resolver os problemas de saúde. João Carlos Machado, tio de Maria Carolina, de oito anos, procurou o Pronto-Socorro da Vila Cristina, em Piracicaba, e se diz satisfeito com o atendimento. “Em 30 minutos fui atendido, medicaram a menina e agora estamos indo para casa”. Maria Carolina apresentava sintomas de conjuntivite, doença que resultou em epidemia no estado de São Paulo. Machado, que já teve plano de saúde, afirma que nesses casos simples o sistema público de saúde sempre foi eficiente em outras vezes que precisou de atendimento. Santa Bárbara Em Santa Bárbara, as dificuldades também são relatadas por usuários. Na tarde de 3 de abril, Rogério Calixter, 29, vendedor, a mulher e ao filhos procuraram atendimento para o filho de 5 anos no

Mariana Neves

Sala de espera no Pronto-Socorro e Hospital Municipal de Santa Bárbara d’Oeste

Pronto-Socorro e Hospital Doutor Afonso Ramos. “O meu filho está passando mal. Com diarréia e vômito o dia inteiro, desde ontem e a gente vem aqui e é mal atendido”, declarou. Na ocasião, havia três médicos no local, nenhum deles pediatra. Para ser atendido é necessário o preenchimento da ficha e, antes de qualquer consulta, todos passam pela triagem, quando a enfermagem confere os sinais vitais do paciente, como temperatura, pulso, frequência respiratória e pressão arterial. Essa etapa é padrão nos hospitais e pronto-socorros particulares, pois é indispensável para analisar o grau de urgência de quem procura atendimento. Mas nesse caso não foi o que aconteceu. Houve descaso no momento da triagem, quando a auxiliar de enfermagem questionou o pai a respeito do peso da criança e, ao ouvir que ele não sabia ao certo, respondeu em tom de deboche: “Como você não sabe o

peso do seu filho? Vou ter que pesar então”. O atendimento médico também gerou revolta na família. Enquanto a mãe acompanhou a criança à consulta, o pai, preocupado, buscou por mais informações e, segundo ele, o médico foi grosseiro “Ele disse que a mãe já tinha ido, o pai também e perguntou se ia a família inteira lá saber do meu filho”, afirmou. Visivelmente aflitos e insatisfeitos decidiram ir embora. A família é da cidade de Andradina – está há três meses em Santa Bárbara D’ Oeste – e esta foi a primeira vez que procurou o Pronto-Socorro Doutor Afonso Ramos. Depois do ocorrido, Calixter informou que iria até uma base da Polícia Comunitária e fez um Boletim de Ocorrência. Em Santa Bárbara D’Oeste está prevista a construção de uma unidade de pronto atendimento no bairro Santa Rita para reduzir a demanda nas unidades existentes, que segundo o secretário de Saúde,

Carlos Eli Ribeiro, dobrou no primeiro semestre de 2011. Os atendimentos no Doutor Afonso Ramos aumentaram em quase 50%. No Pronto-Socorro Doutor Édison Mano, o problema foi maior, pois a procura por atendimento cresceu em 100%. “Devido aos fungos conjuntivite e dengue, pacientes de outras cidades com postos impossibilitados de atender vieram para Santa Bárbara. E isso complicou o atendimento”, afirma Ribeiro. O secretário diz ainda que nenhum serviço consegue manter a qualidade quando se dobra a demanda, e que muitas vezes as pessoas procuram os pronto-socorros em casos simples, que poderiam ser resolvidos em pronto atendimento, o que contribui para comprometer a agilidade do serviço. Carla Rossignolli Mariana Neves


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