Publicação Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Ano 5 – Edição 25 – NOVEMBRO/2011
Médicos
contexto regional
X Convênios:
Qualidade nos atendimentos em xeque
foto reportagem a vida mágica do circo em 360º
economia Valor de crédito imobiliário em Piracicaba cresce 300%
prostituição os bastidores de uma vida sem limites
opinião
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Na prática, qual será a próxima vítima? Claudia Assencio
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a prática, a teoria é outra. A frase não surgiu com esta edição, tampouco tem algo de original, mas ela traduz o que a experiência de acompanhar os processos de elaboração de um jornal - da seleção de pautas, da busca das fontes e da apuração, das técnicas, desafios e impasses da reportagem até sua distribuição - significa para aqueles que se aventuram nas primeiras tentativas de fazer jornalismo fora do espaço seguro da sala de aula, onde a simulação não é permitida. O produto, a matéria prima do jornalismo - a notícia - aqui adquire a mesma importância que o processo. No seu aclamado livro “A Primeira Vítima”, em que aborda a cobertura da imprensa internacional ao longo de várias guerras, desde a da Criméia (1854-1856), até a do Vietnã (1965-1975), sem ignorar as nefastas duas Guerras Mundiais (1914-1919 e 1939-1945), o brilhante jornalista australiano Philip Knightley trata dos tantos pecados cometidos pelos colegas durante tais tristes conflitos. O que levou o ex-Senador norte-americano Hiram Warren Johson a afirmar que “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”. EXPEDIENTE: Jornal Laboratório dos alunos do 5º semestre de Jornalismo da Unimep - Reitor: Clóvis Pinto de Castro - Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa - Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão - Edição: Ana Camila Negri (Mtb 28.784) - Colaboração: Prof. Camilo Riani (Projeto Gráfico e Planejamento Visual) e Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) - Editoras Assistentes: Cláudia Assencio de Campos e Larissa Helena da Rocha Martins - Editores assistentes de fotografia: Antonio Corazza Netto, Arthur Berto Belotto e Leonardo Belquiman Pereira - Repórteres: Amanda Maretti, Angelyca Paiva, Michaella Frasson, Carla Rossignolli, Caroline Solano, Cintia Tavares, Elaine Pereira, Felipe Abrahao, Fernando Galvão, Flavia Ribeiro, Gustavo Annunciato, Josiane Joveli, Karina Bonfa, Karine Vieira dos Santos, Laura Tesseti, Luana Rodrigues, Lucas Calore, Luiz Felipe Lourenço, Mariana Neves, Nathalia Machado, Nayara de Oliveira, Rafaela Gazetta , Raphael Justino, Ricardo Gonçalves, Ronald Gonçales, Sabrina Franzol, Valéria Spinelli, Vanessa Carvalho e Vladimir Catarino.
Pecados, cometemos muitos sim, é verdade, pois, ainda somos apenas estudantes de jornalismo, galgando espaço num concorrido e, muitas vezes, profano mercado, pelo qual exprimimos intensa paixão e desejo de tomar suas rédeas. Tamanha intensidade que não torna a verdade uma vítima, mas sim, muitos dos conceitos e ideias que mantivemos por muito tempo. Ir a campo é sinônimo de um vasto e frutífero aprendizado e que bom que tornamos noções pré-concebidas em vítimas. Por que isso nos permite ir mais além. Mais além na realidade da prostituição, cercada por muitos problemas, é verdade, mas cuja história é escrita por seres humanos como qualquer um de nós. Mais além na problemática gerada pelos planos de saúde. Mais além nas arestas que definem o Programa Minha Casa Minha Vida, por meio do qual muitos brasileiros tiveram a indescritível oportunidade de chamar um imóvel de seu. Mais além na difusão da
cultura local piracicabana, redescobrindo o cururu,o samba lenço, o batuque de umbigada, oriundos de nossa própria terra natal mas que, pasmem, é motivo de chacota por parte de muito jovem metido a moderno. E, para aqueles que realmente são, não há como se esquecer da cultura oriental, trazida de além mar, o Cosplay, abreviação de “costume players” ou ainda “costume roleplay” (ambos do inglês), que podem ser traduzidos como “representação de personagem a caráter”. Na prática, os “personagens a caráter” somos nós, jovens caracterizados daquilo que almejamos ser. Jornalistas! E digo caracterizado, não para diminuir. Ao contrário, para trazer à tona o que a expressão há de melhor: aquela que põe em relevo o caráter, distinguindo as virtudes de cada um. Nossa luta constante, como evidencia esta edição de Na Prática, será de lutar contra a mentira, enaltecendo a verdade, contrariando o pensamento de Hiram Johnson. Mas algum desinformado poderá dizer: “Não se trata de uma guerra”. Não é isso o que diriam tantos profissionais de jornalismo que morrem, não tão raramente assim, exercendo suas funções.
Jornalistas: escribas
Larissa Helena
E
m junho de 2009 noticiava-se a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que jornalista não precisaria ter diploma para exercer a profissão. Com o ganho de 8 votos contra 1 o STF eliminou a obrigatoriedade, imposta em um decreto-lei em 1969, época de um governo de ditadura militar. Gilmar Mendes, relator do caso no STF alegou que a exigência do diploma feria ‘a Constituição Federal que garante a liberdade de expressão e informação’. Diante desta colocação, acredito que seria importante, além da luta pela volta da exigência do diploma, repensar de que modo a profissão jornalista tem sido representada em nosso país. Suponho, que na Ditadura Militar esta obrigatoriedade tenha sido implementada para passar um ‘pente fino’ nos profissionais, justamente para se diferenciar da importante função da do for-
ou autores?
mador de opinião, a do texto de ‘achismos’. O mais irônico é esta queda do diploma vir à tona em um momento no qual nosso governo resume-se em um modelo de ‘democracia’. Será que agora, a queda do diploma não estaria associada à banalização da profissão jornalista como somente o responsável por meras reportagens reproduzidas através das famosas fontes oficiais, ou meros transmissores de informação? Solano Nascimento, jornalista, pesquisador, professor e doutor em comunicação, em sua obra “Os novos escribas” (Arquipélago Editoral, 2010), comenta sobre o monge franciscano e filósofo Giovanni Fidanza (leia-se século XIII) canonizado como São Boaventura que denominou quatro classificações de pessoas que se dedicavam a fazer livros/textos, que possivelmente equiparo às tipologias que hoje poderiam se enquadrar aos que ‘garantem a liberdade de expressão e informação’: “O primeiro é o dos escribas, aqueles que es-
crevem as obras dos outros, sem qualquer acréscimo ou alteração. O segundo é o dos compiladores, que escrevem as obras dos outros, mas incluem algo próprio. O terceiro grupo é o dos comentadores, aqueles que escrevem tanto obras próprias quanto alheias, mas dão lugar principal às alheias, dedicando seus próprios escritos às explicações. O último grupo é daqueles que dão lugar principal à própria obra e usam trabalhos de outros para fins de confirmação. Esses são os autores” (NASCIMENTO, 2010, p.12). Talvez os três primeiros grupos possam até remeter a um imaginário justificador à valia da queda do diploma, visto que uma cópia pode ser feita por qualquer um. No entanto, o último grupo, o dos autores, é o que melhor representa o exercer da competência jornalística na profissão, que coerentemente se encadeia à valorização de especificidades adquiridas com a formação acadêmica que muito batalham durante 4 anos.
cidade
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Mobilidade E urbana é tema de debate em Piracicaba
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Vladimir Catarino
Fernando Galvão Vladimir Catarino
A falta de organização no trânsito piracicabano
m Piracicaba, na última década, o crescimento da população foi desproporcional ao crescimento de veículos. Em 2000, a cidade contava com cerca de 130 mil veículos, hoje são mais de 230 mil, enquanto o desenvolvimento progressivo da população piracicabana foi de 319 mil para 364 mil. Tais estatísticas geraram uma preocupação sobre a alta demanda de veículos e suas consequências, fazendo com que fosse organizada, no mês de setembro, a primeira Semana de Mobilidade Urbana de Piracicaba. Durante sete dias foram discutidos diversos assuntos relacionados ao trânsito e a mobilidade em geral, visando contribuir com a melhoria das políticas públicas relacionadas ao tema. Segundo Lurdes, uma das organizadoras do evento e presidente da Associação dos Acidentados 20 de agosto, o objetivo da semana é conscientizar a população para educação no trânsito, através do respeito que o motorista e pedestre devem ter uns com os outros. Lurdes criou a associação quando seu filho e nora foram mortos em um acidente de trânsito na rodovia Luiz de Queiroz no dia 20 de agosto de 2001. O caso teve repercussão nacional, tendo em vista que o motorista responsável pela tragédia era o cantor Renner, da ex-dupla sertaneja Rick e Renner. “Através do acidente retirei forças para tentar fazer algo de bom à população. Perdi meu filho e minha nora e, desde então, tento evitar que outras pessoas passem pelo que passei”, disse. Outro objetivo do evento foi o de pressionar a Prefeitura Municipal para dar segmento ao Plano Diretor de Mobilidade, uma lei complementar de 2006, que prevê melhorias no sistema de transporte alternativo, motorizado ou não. O ciclista e professor Juan Sebastianes defende como saída em curto prazo a criação de uma ciclovia na cidade e a melhoria dos transportes públicos. Segundo Sebastianes, uma saída seria a construção de ciclovias nas grandes artérias da cidade, onde é comum o tráfego intenso. Desta maneira, haveria uma diminuição no número de carros nas vias públicas. “Hoje não existe respeito aos ciclistas. Eu mesmo estou me recuperando de um acidente que sofri na Avenida Armando de Salles quando, em um domingo, sai para pedalar e terminei batendo em um ônibus”, disse o professor. A Semana de Mobilidade também visou estudar maneiras de melhorar o deslocamento dos deficientes físicos. O presidente do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência (Comdef ), Fernando Domingues,enfatiza que pela primeira vez na cidade foi celebrado, no dia 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Ao longo da semana, deficientes contaram seus problemas cotidianos, que foram anotados e serão levados à Prefeitura para que sejam criadas políticas públicas visando garantir os direitos fundamentais destas pessoas. “Um dos maiores problemas encontrados foi justamente a mobilidade no transporte e na área de educação. Eles buscam o respeito e também alguns ajustes nas áreas públicas, como reforma das calçadas e rampas nas edificações”, destacou. O evento contou com a participação da população, empresários e políticos, e os organizadores afirmaram que a partir de agora, todo ano haverá a semana para discutir os problemas voltados à mobilização social.
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saúde
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Crise na relação entre médicos e convênios coloca em xeque qualidade nos atendimentos Cíntia Tavares Ronald Gonçales
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água chegou à boca”, declara o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Jorge Carlos Machado Curi (CRM: 37236). “Os honorários médicos estão defasados e a interferência das empresas acaba prejudicando a assistência moderna”. As palavras do representante da APM comprovam os problemas na relação entre médicos e empresas de planos de saúde e justificam as paralisações de 72 horas das especialidades médicas relacionadas a alguns convênios do Estado de São Paulo, ocorridas em setembro. Curi explica o motivo do descontentamento: “Muitas vezes, os médicos não conseguem nem manter seus consultórios em funcionamento, devido aos honorários defasados”. Os valores das consultas variam de R$ 28 a R$ 64. O cardiologista e ecocardiografista, Dr. Nicolau Ache Merino (CRM: 69688) de Piracicaba, também sai em defesa dos colegas de profissão. “Os médicos
estão cobertos de razão em organizar essa paralisação, pois os honorários recebidos na maioria dos procedimentos estão muito abaixo do que deveriam ser, obrigando o profissional a realizar mais atividades para manter os seus custos”, explica Merino. O médico diz ainda que alguns convênios ou seguro saúde levam até três meses para efetuar o pagamento. Segundo ele, os serviços dos planos, com algumas exceções, são bons, mas poderiam ser melhores e revela que realiza, por mês, dez vezes mais atendimentos pelo convênio do que pelo sistema particular: são 200 contra 20. A defasagem nos valores é também reclamada pelo ortopedista Michael Siqueira (CRM: 115748): “Em sete anos, enquanto o valor da consulta aumentou 44%, as operadoras de planos de saúde tiveram 129% de incremento no faturamento, que chegou a ultrapassar R$ 70 bilhões em 2010. Além de não repassarem os reajustes concedidos pelos órgãos federais, os planos de saúde interferem diretamente no trabalho do médico”. Segundo Siqueira, os planos criam obs-
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táculos para a solicitação de exames e internações e pressionam para que haja a redução de procedimentos, a antecipação de altas e a transferência de pacientes. Tais questões representam iminente risco à saúde do conveniado e prejudica a relação entre médico e paciente: “A classe médica é tão prejudicada pelo modelo atual de saúde suplementar quanto os usuários, que estão muito insatisfeitos”, completa o ortopedista. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em junho deste ano, mostra que 58% dos pacientes - praticamente seis em cada dez usuários - tiveram no ano passado, alguma experiência negativa com o atendimento oferecido pelos planos de saúde e 25% declararam ter tido alguma dificuldade de acesso, algo que até então, parecia limitado ao SUS (Serviço Único de Saúde). A conveniada Adriana Motta, 45, assegura que já passou por situações difíceis quando precisou dos serviços de pronto atendimento e reclama da forma como certos médicos atendem. “Às vezes, eles são apressados e não dão tempo para que possamos fazer toda a queixa, sem dar explicações detalhadas sobre o diagnóstico e o tratamento da doença”. A Unimed de Santa Bárbara d’Oeste, Americana e Nova Odessa, destaca que considera justa a paralisação dos médicos do Estado de São Paulo e esclarece que na empresa, o médico não é um profissional credenciado, mas um cooperado e dono do empreendimento. Esta condição garante ao médico participar da gestão de sua cooperativa. O grupo Medical-Limeira acredita que todos os cidadãos têm direito de protestar e afirma que a cobertura do seu trabalho está de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já as empresas Amhpla, de Piracicaba, e São Lucas Saúde, de Americana, foram procuradas, mas não se manifestaram sobre o assunto. Atendimento rápido Segundo levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina) em pesquisa encomendada pelo Instituto Datafolha, as reclamações mais comuns dentre os usuários dos planos de saúde relacionam-se à demora em agendar consultas, exames e procedimentos, além da fila de espera no atendimento. Cliente de um dos convênios, Raquel Belzi Corrêa Pereira, 39 anos, reclama do atendimento do seu plano, alegando que não consegue especialistas de imediato e que por diversas vezes teve dificuldade para agendar consultas. Priscila Helena Jorge Rodrigues, 33, também se diz insatisfeita com o agendamento dos médicos que busca. “Dependendo da especialida-
saúde de médica é praticamente impossível conseguir consulta quando se necessita”. A única entrevistada satisfeita é Daniela Bertechini, mãe de Matheus, 5. Ela explica que seu filho faz uso do convênio regularmente para tratamento com otorrinolaringologista e para consultas na emergência. “Sempre que marco uma consulta, consigo para a semana seguinte”, declara. A Resolução Normativa (RN) 259/2011 da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) publicada em junho deste ano, prevê o atendimento do usuário em até 14 dias, no máximo, após o contato do paciente interessado. A RN passa a vigorar a partir do próximo dia 19 de dezembro. Para as consultas básicas nas áreas de pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, o atendimento ocorrerá em até sete dias úteis. Nas demais especialidades médicas, o atendimento deverá ser em até 14 dias úteis. Em caso do não cumprimento dos prazos, o usuário pode denunciar diretamente na ANS, através do telefone: 0800 701 9656, se segunda a sexta-feira, exceto feriados nacionais, das 8h às 20h. “Ser saudável gera descontos” A fim de inverter a atual lógica existente no setor, a ANS publicou no dia 22 de agosto a RN 265/11, que prevê descontos na mensalidade, prêmios e bens materiais para beneficiários que participarem de programas de envelhecimento ativo, promovidos pelos convênios. A ideia é cuidar da saúde ao invés de tratar a doença. A Medical recebeu bem a medida. “Já temos, há vários anos, o Espaço Saúde Medical que cuida exatamente da prevenção de doenças crônicas e de ações para incentivar hábitos de vida saudáveis”. No entanto, a empresa não divulgou se oferece descontos aos conveniados. A Unimed explica que a norma foi publicada recentemente e que a cooperativa já criou um grupo de estudos para analisar a viabilidade de sua implantação. Agendando A reportagem do NA PRÁTICA tentou agendamento no dia 31 de agosto com um profissional da área de dermatologia em Limeira. A resposta da secretária da clínica foi que só haveria horários para o início de novembro. Se a norma da ANS valesse hoje, o plano de saúde para o qual o médico trabalha poderia ser penalizado, já que o atendimento deveria ocorrer até o dia 22 de setembro. Outro profissional da cidade, da área de ortopedia, também foi procurado na mesma data e ofereceu consulta para o dia 2 de setembro, dois dias após a ligação. Em ambos os casos, a reportagem tentou também agendar atendimento particular, sem ser via convênio, e foram informadas as mesmas datas.
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política
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A inserção da juventude na política através das
redes sociais
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egundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 13.880.058 milhões de pessoas de todo o país são filiadas a partidos políticos e destas, 458 mil são jovens, entre 16 e 24 anos. Os dados acima representam cerca de 3,5% do total das pessoas politicamente ativas no Brasil, informação confirmada pelo cientista político Leonardo Barreto. Segundo ele, a juventude brasileira do século XXI, de maneira geral, não se interessa por política e que a popularização das redes sociais, traz, mesmo que de maneira indireta, o jovem para as discussões sobre política, pensamento compartilhado por Sara Saconato, 23, estudante de gestão de políticas públicas na USP e moradora de Limeira. “A mobilização dos jovens acontece devido à velocidade com que as informações chegam, assim a sociedade consegue ter um diálogo universal”, relata. Mesmo partilhando a opinião de que a internet é um instrumento importante na mobilização política do jovem, Danilo Monteiro de Oliveira, 22, filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Limeira e Ibrahim Cesar, 25, presidente do PSL (Partido Social Liberal) de Rio Claro fazem ressalvas. “A internet é uma ferramenta que não está sendo utilizada de maneira completa. O Brasil está atrasado nesse sentido”, opina Danilo. Já Ibrahim diz que a internet e as redes sociais permitem alternativas de articulações políticas,
mas critica a ideologia de alguns usuários. “Um usuário provoca o outro, mas não o mobiliza. É como reclamar de algo e não fazer nada para mudar a situação”, finaliza o presidente do PSL. Jessika Raphaela Stahl, 17, estudante do ensino médio e vereadora júnior de Limeira por duas vezes, acredita que o jovem é uma ferramenta importante para debater questões do interesse da sociedade, entre eles, a política. “No período da ditadura, entre 1964 e 1984, os jovens participavam ativamente e está na hora de resgatar aqueles valores de protesto, de questionar o que foi pré-estabelecido”, comenta. A estudante conta que o interesse pela política surgiu quando tinha 13 anos. Em 2007, a Câmara Municipal de Limeira fez campanha nas escolas para que os jovens se candidatassem a vereadores juniores. “Foi interessante, pois eu não gostava nem de ouvir falar em política, desde então tomei gosto. Fui eleita vereadora júnior aos 13 e depois com 15 fui reeleita e até hoje continuo participando regularmente das reuniões. Com isso aprendo muito”, explica Jessika. O vereador Paulo Hadich, do PSB de Limeira, explica algumas maneiras de como o jovem pode atuar politicamente. Após filiar-se a um partido, o jovem recebe algumas obrigações legais. “Aí entram as atividades partidárias, como participar de congressos, fazer recolhimento de contribuições partidárias, entre outras”, diz Hadich.
Arthur Belotto
Luiz Felipe Leite Raphael Santos
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cinema
7 Lauro Rozados
Elenco da cooperativa Minha Hollywood é aqui produz f ilme Estagio Terminal
Carla Rossignolli Nathália Machado
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uita disposição e pepinos. Essa foi a receita que Lauro Pinotti, produtor piracicabano e diretor da Pinacoteca Municipal precisou para produzir o longa metragem “Estágio Terminal”, que segundo ele tem caráter minimalista. A pré-estréia aconteceu em São Pedro, no Cine Teatro São Pedro, em Outubro, e superou as expectativas do diretor. Pinotti é pioneiro na produção cinematográfica em Piracicaba, tendo feito o primeiro curta-metragem da sua carreira em 1988. Atualmente, é dono de uma produtora audiovisual. “Estágio Terminal” foi rodado pela Cooperativa “Minha Hollywood é aqui” que se identificou com o projeto. O único valor que o produtor teve de desembolsar foi 400 reais, gasto na compra de pepinos, legumes que foram utilizados durante toda a produção, que de acordo com Pinotti, correu sem problemas e com a colaboração de todos os envolvidos no projeto. “Todos contribuíram como podiam, emprestando desde uma faca até um apartamento”. O filme faz parte de uma trilogia chamada “Insanidade”. O primeiro filme trata da saga de um repórter policial que busca saber se é loucura propriamente dita ou a falta de religiosidade que faz um homem cometer crimes e assassinatos. “O objetivo do filme é fazer pensar e provocar discussão de conceitos existenciais. Todas as situações retratadas são inspiradas na loucura do homem con-
Cooperativa
“Minha Hollywood é aqui”
produz filme independente
temporâneo, que solitário, perdeu a noção de espiritualidade”, disse o diretor. Pinotti já sabia que dificilmente poderia contar com patrocínio empresarial da região, mesmo rodando todo filme em Piracicaba, evidenciando pontos históricos e turísticos da cidade, como o Rio de Piracicaba, Engenho e a Rua do Porto. A cooperativa selecionou os melhores atores, figurantes e músicos da região para tornar o filme realidade, e cada um contribuiu com o que podia. As cenas muitas vezes eram rodadas em casas emprestadas pelo próprio elenco. A trilha sonora escolhida é de uma banda piracicabana chamada Retroverso, conhecida durante o festival de música Palco Alternativo, realizado na cidade em 2010. Em relação à escolha da trilha para o longo, foi escolhido um repertório que aliviasse o clima pesado do filme. O diretor aposta na capacidade do interior de produzir obras de boa qualidade fora do eixo Rio – São Paulo, mas ainda falta espaço. “A gente se vira como pode”, lamenta. Planos para exibir filmes nas faculdades de Piracicaba não faltam. O que chama atenção na opinião dele é a falta de interesse dos jovens por produções mais modestas e regionais. “Não entendo a falta de interesse, já organizei saraus com filmes legais e produções independentes, mas não há público”. Em tempos em que o cinema nacional parece só ter espaço para as mega produções, é preciso preservar o espaço de filmes locais, como o drama psicológico do piracicabano.
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prostituição
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profissionais do sexo au urante a noite e a madrugada, eles e elas se escondem por trás da exagerada maquiagem, da roupa curta e justa e do salto alto. Andando pelas principais esquinas da região central de Piracicaba, não é difícil encontrar os chamados profissionais do sexo perambulando em busca de espaço e, claro, de dinheiro. Levantamentos feitos nos últimos anos apontam para um considerável aumento no número de pessoas que optam por esse caminho. Em 2002, eram 111 profissionais do sexo em Piracicaba. No ano passado, este número foi para 292, alta de 163%. Os dados são do projeto Esquina da Noite, desenvolvido pela ONG (Organização Não Governamental) Casvi (Centro de Apoio e Solidariedade à Vida) e coordenado por Adriana Vieira, que credita a expansão da profissão ao desenvolvimento da cidade. “Com o crescimento de Piracicaba: surgimento de novas empresas, faculdades e o setor agro-industrial, consequentemente haverá aumento no número da clientela, bem como no número dos próprios profissionais do sexo”, explica. Os dados revelam que em 2002 eram 70 mulheres e 35 travestis. Oito anos depois, o número passou para 200 e 90, respectivamente. Enquanto isso, entre os garotos de programa houve diminuição: de 6 para 2. “Com os garotos de programa o contato é mais difícil. Eles vão para os pontos altas horas da madrugada, não conicidindo com o horário de assistência realizado pela ONG. Além disso, eles não têm um ponto, uma cidade fixa”, explica Sonia Carreiro, assistente de coordenação do Esquina da Noite.
a prostituição é maior. O medo é real, as incertezas também, mas o dinheiro fala mais alto. “A gente sai para trabalhar, mas nunca sabe se irá voltar”, desabafa. Alana conta que já passou por situações desesperadoras que o fizeram pensar em desistir. “Eram duas horas da manhã quando três homens aproximaram-se de mim e pediram dinheiro para comprar drogas. Eu disse que não tinha, mas eles se revoltaram. Bateram tanto em mim, que desmaiei e só acordei no dia seguinte no hospital, com o rosto todo desfigurado”, relembra. Ele mora com mais 22 meninas na casa de uma cafetina, conhecida na cidade como Abelha. A diária da casa é R$ 30, exceto aos domingos, quando o valor passa a ser R$ 45, devido ao maior número de programas. É com o dinheiro da prostituição que o também travesti Mirela Pryncy, 21, diplomado em cabelo e maquiagem comprou um Gol GS, zero km. Há dois anos fazendo programa, grande parte de sua renda foi destinada a transformação do corpo. Além do silicone, ele usa Metacril no rosto. Essa substância, usada em estética, tem como finalidade o preenchimento de determinadas regiões do corpo para corrigir imperfeições. “Tenho vontade de parar, porque trabalhamos no frio, na chuva e sempre tem um engraçadinho que nos humilha, mas é muito fácil ganhar dinheiro com esse serviço”, revela. Mirela consegue por mês, no mínimo, R$ 3 mil. O programa no drive-in custa R$ 50 e nos motéis o preço varia de R$ 80 a R$ 100. “Comecei com uma brincadeira entre amigas, mas é que nem droga: quando a gente experimenta, não para mais”, compara ele, que durante a relação não se esquece da proteção. “Acho muito importante se cuidar, usar camisinha. Se o cliente fala que não quer, eu falo que não vou
Na Prática A equipe de reportagem do Na Prática foi às ruas e ouviu esses profissionais que deixam a família, o conforto da casa e o carinho dos amigos para se arriscararem ao desconhecido. Aos vinte e um anos, técnico em enfermagem há cinco há quatro. A alegria e a simpatia do travesti Alana camuflam o seu real sonho: ser psicólogo. Ele é de Araras e há uma semana em Piracicaba comprovou a sua teoria: aqui a renda com
Experiência nas ruas Mal a noite cai na cidade e Renata já está a postos para mais um expediente em uma das principais esquinas do centro de Piracicaba. “Chego sempre por volta das 19h. Pode não parecer, mas o movimento começa cedo”, conta a garota de programa. Natural de Feira de Santana, a baiana Renata tem uma longa história nas ruas. Aos 40 anos, ela fez seu primeiro programa aos 12, pouco tempo após se mudar com a mãe e as irmãs para São José dos Cam-
Rafaela Gazetta Sabrina Franzol Claudia Assencio Josiane Joveli
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Papo de programa Conheça algumas das gírias usadas pelos profissionais do sexo na cidade: • Bater uma porta: fazer programa • Ococo: homem que não vale à pena • Dar um doce: bater na garota de programa ou roubá-la • Quá: mentira • Babadeira: Gay ou travesti barraqueira que gosta de fazer escândalo • Gongar: Ridicularizar • Alibã: policial, carro patrulha
pos. “Minha mãe era prostituta e resolveu se mudar para o interior paulista em busca de um ‘mercado’ mais rentável. E aqui no Estado conseguiu se estabelecer”, conta. Renata afirma que, assim como ela, suas irmãs seguiram a profissão da mãe. “Desde criança tivemos contato com isso, era a vida que nós conhecíamos”. Porém, ao atingir a idade adulta, ela tentou seguir
outras profissões. “Fui garçonete e atendente. Mas, como o salário era pequeno, logo voltei para a prostituição”. A família passou ainda pelas cidades do Guarujá e São Paulo antes de se mudar para Piracicaba, há quase 20 anos. Aqui, Renata se casou e teve três filhos, hoje com 21, 19 e 16 anos. “Meu marido tem bastante ciúme de mim e não gosta muito da minha
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menta 163% em oito anos profissão. No começo era mais difícil, mas hoje ele está um pouco mais conformado”. Parte da aceitação vem do dinheiro obtido com os programas. Segundo Renata, em “semanas boas”, ela chega a faturar R$ 4 mil. “Comprei casa, carro e moto, tudo com o dinheiro dos programas”. Mas apesar da experiência de quase três décadas dividindo as esquinas com outros homens e mulheres, Renata não esconde que o medo ainda a assola. “Há muitos casos em que o cliente espanca a prostituta, chegando até a matar. Eu mesma já vi garotas serem agredidas e já tive uma amiga assassinada. Porém é um risco que temos que saber assimilar e administrar”. Outra preocupação é quanto à proximidade com a criminalidade. “Prostituição e tráfico de drogas caminham lado a lado. A maioria dos profissionais do sexo hoje em dia, até como forma de agüentar a noite, usa drogas e tem uma relação muito próxima com traficantes. Eu já cheguei a usar”, conta. “E isso sem contar os clientes que obrigam as garotas a se drogarem. Não há prostituição sem tráfico”.
Nas ruas o perigo da prof issão é maior
Entre o luxo e o lixo Uma das profissões mais antigas da humanidade por óticas distintas Às seis horas da tarde de um sábado brindado por um dia ensolarado, o céu começa a ficar mais escuro, anunciando o eminente cair da noite. O crepúsculo, que, do lado de fora anuncia a esperada noite de sábado para muitos clientes, para aquelas sete jovens moças, aponta para o início de uma, muitas vezes, tortuosa rotina. O espaço é agradável. A sala, que faz vezes de salão principal, é tomada por uma parafernália outrora utilizada apenas em shows musicais. São marcantes as caixas de som e cabos, com direito a um imponente globo espelhado, que acabara de ser ligado e já se fazia presente. A variedade – e principalmente a quantidade – de bebidas no bar impressiona. Os quartos são muitos e, relativamente, bem estruturados, com camas, guarda-roupas, espelhos e até, em alguns casos, uma penteadeira. Da cozinha, o cheiro de
galinha caipira cozida abre o apetite. É a hora do jantar das meninas e o momento de recarregar as baterias para toda a madrugada. Na área externa, três meninas se divertem na mesa de bilhar. Longe da vulnerabilidade proporcionada pelas ruas, as profissionais do sexo que trabalham em uma famosa casa de Piracicaba, não precisam se preocupar com a violência das esquinas, enquanto finalizam a maquiagem e a escolha de vestimentas e adereços para mais um expediente. “A casa noturna é mais segura. Aqui estamos sempre vigiadas pelos funcionários. Além disso, muitos dos clientes são conhecidos pelo nosso gerente”, afirma Paty, de 22 anos. “Eu conheço meninas que trabalham nas ruas e foram espancadas. Além disso, não são raros casos em que a garota de programa é cruelmente assassinada”. Aos 25 anos, Juli conhece muito bem
essa realidade. Aos 16 anos, ela começou a fazer programas nas ruas de sua cidade natal, no norte do Paraná. “Já apanhei muitas vezes. Em algumas ocasiões, o cliente chegou a colocar o revólver na minha cabeça, me obrigando a usar cocaína”, lembra. O caso mais emblemático é o de Mari, 27. Grávida de cinco meses, ela continua fazendo programas. O pai da criança é seu namorado, que ela conheceu na mesma casa noturna onde trabalha. “Primeiramente ele era só um cliente. Depois nos apaixonamos e começamos a namorar”, conta Mari, que afirma que, antes do início da jornada noturna, passa o dia com o rapaz. “Ele fica aqui comigo até o fim da tarde e entende que é minha profissão, por isso ele vai embora”. Quanto ao fato de estar esperando bebê, a garota afirma que não causa estranheza dos clientes. Alguns, inclusive, a escolhem exatamente por isso. “Há homens que tem fe-
tiche por fazer sexo com mulheres grávidas. Eu preencho essa lacuna”. O segredo da vitória – Em outra casa noturna, impera o cheirinho de casa limpa. A sala principal é marcada pelas pequenas mesas com toalhas vermelhas, cada uma com apenas dois lugares. A penumbra proporcionada pelas cortinas, somada a pouca iluminação, oferece um misto de sensualidade e mistério. Em um banheiro improvisado como camarim, os odores de flores, chocolate e frutas se misturam aos perfumes das garotas. O cosmético preferido é creme para a pele produzido por uma famosa marca norte-americana, que, pelo jeito, já conquistou diferentes mercados. Com o adiantado das horas, alguns primeiros clientes chegam a uma sala temática, voltada aos costumes árabes, com direito a duas odaliscas dançando em trajes minúsculos brilhantes. Em poucas horas, a casa lota e as meninas correm para satisfazer os clientes. Os que conseguiram quarto (eram cinco, ao todo), ganharam a noite. Para quem não teve essa sorte – ou velocidade – a opção foi um motel localizado perto dali.
Gabriela, educadora física e
“Arte circense trabalha muito a coordenação motora, concentração, força, equilíbrio e flexibilidade.”
C Arte contemporânea e trabalho em equipe
R C I O Fotos e Texto: Gustavo Annunciato
R
“Tem que treinar muito para chegar na hora e acertar. Eu gosto de ver as pessoas felizes porque é uma coisa que não se
espeitável público: “O circo... Está mais vivo do que nunca!”, anuncia a proprietária do Circo Spacial, Marlene Querubim, quando lhe perguntam se o circo está morrendo. A tradicional arte circense se renova a cada geração. Quando tudo dura um instante de passe de mágica, o circo se mantém vivo no imaginário de todos. Mágicos, trapezistas e palhaços encantam crianças e adultos. Mas não é só diversão, eles também ensinam que confiança e profissionalismo é coisa séria. As luzes do picadeiro não se apagam depois do espetáculo porque o show continua. Além das apresentações itinerantes, o Circo Spacial realiza workshops para grupos de profissionais que querem aumentar seu desempenho dentro de suas equipes. Já a Cia. Do Circo de Piracicaba, além de workshops, também ensina ginástica olímpica e promove apresentações temáticas em eventos.
Perci Gualberto Vilaroel Perci, ensina arte circense e ginástica desde os anos 80, e é proprietário da Cia. Do Circo de Piracicaba
“Conheça, participe e depois nunca mais desgrude dessa arte! É muito importante incentivar a superação, pois quando se alcança o objetivo do exercício, ou mesmo do número circense, parece que você conquistou o mundo”.
Estrela Gomes Rigoleto, artista do Circo Spacial
“Ser artista de circo é tudo, é uma coisa diferente, cada sensação é diferente”.
artista circense
José Luiz B. Borba
“Gostei mais do Mágico!”
Cia. do Circo de Piracicaba, Escola de ginástica e arte Circense, Rua Luiz Razera, 941 (19) 3041-6376 Circo Spacial http://www.spacial.com.br
Serviços:
Diego Alejandro V. Moreira, artista circense
vê todo dia”
economia
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programa do g aquece setor imo Ricardo Gonçalves Angélyca Paiva
S
air do aluguel e ir em busca da realização do sonho de conquistar a casa própria faz parte do cotidiano de muitos brasileiros. Para facilitar a aquisição de novas moradias por pessoas de baixa renda, o Governo Federal anunciou, em 2009, o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. Com essa iniciativa, a proposta do programa é a construção de um milhão de casas populares para famílias com renda de zero até 10 salários mínimos. Um dos objetivos do governo é gerar renda e novos empregos na área de construção civil, e tem por principal intenção diminuir 14% do déficit habitacional no país. Atualmente, o patamar chega a um
Ilustração: Junior Mosna
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déficit de 7,2 milhões de moradias, segundo estatísticas da Caixa Econômica Federal. Das diversas opções de financiamento de novas casas que o plano ‘Minha Casa, Minha Vida’ oferece, o governo investirá R$ 34 bilhões no total, sendo R$16 bilhões de cofres da União para subsídio da moradia, R$10 bilhões para subsídios de financiamento do FGTS, R$5 bilhões para financiamento à infraestrutura e R$1 bilhão de financiamento à cadeia produtiva. Segundo Selma Olivieri, corretora e ex-gerente da Caixa Econômica Federal (CEF), as facilidades para quem quer adquirir novas casas e apartamentos por meio deste programa geraram um aumento do setor imobiliário no Brasil. Segundo Olivieri, ficou mais fácil adquirir imóveis novos ou na planta com as formas de financiamento do plano ‘Minha Casa, Minha Vida’, além do subsídio do governo que ajuda muito na hora de assinar o contrato. Outro fator importante é a permissão do governo na utilização do FGTS no financiamento. De acordo com a CEF, no primeiro trimestre de 2011, foram assinados 226.381 contratos que totalizaram R$14,7 bilhões em financiamentos habitacionais no país se comparado ao ano anterior, que totalizou R$14,6 bilhões. Empresas como a MRV Engenharia, por exemplo, responsável por uma parcela dos novos empreendimentos construídos em mais de 100 cidades do Brasil, cujas estimativas de vendas são em
economia
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overno federal biliário na região média 135 imóveis diariamente, teve em 2009 o saldo de lucro liquido de R$ 347,4 milhões e, em 2010, um total de vendas contratadas de R$ 3,8 bilhões. Com esses números fica fácil entender o motivo do aumento de empresas na região que apostam na criação de novos projetos no setor imobiliário. Motivada pelo sonho de conquistar a casa própria e por essas facilidades, a estudante Monique Monqueiro, 20, está satisfeita por ter conseguido a aprovação do crédito imobiliário e o subsídio do governo no valor de R$ 18.316. Segundo ela, “o beneficio do governo ajudou a abater o valor das parcelas”. Monique avalia que a compra do imóvel é um grande investimento para o futuro. “Eu e meu noivo temos dificuldades em guardar dinheiro, acredito que pela nossa idade. Pensamos em investir em algo que tivéssemos de pagar todos os meses, uma responsabilidade e que futuramente nos seria necessário”, afirma. Por outro lado, Fernando Galvão, 33, não obteve o mesmo resultado. Com o objetivo de sair do aluguel, o morador da cidade de Piracicaba decidiu investir na compra do imóvel próprio. No entanto, o estudante encontrou alguns obstáculos que o fizeram desistir temporariamente do objetivo. O comprador afirma ter sido prejudicado pela imobiliária responsável pela intermediação com a construtora e iludido pelas ofertas e formas de pagamentos. Sem condições financeiras para assumir todos os custos exigidos pela empresa, Galvão decidiu abandonar o negócio. “Não fui informado de antemão sobre alguns pontos. Os gastos aumentaram, acumulei dívidas e acabei perdendo o negócio”, lamenta. Para recuperar o dinheiro, optou então pelo processo judicial que já corre há dois anos. Para garantir êxito na hora de adquirir um imóvel financiado, o comprador deve ficar muito atento às condições de pagamentos apresentadas e os detalhes contratuais. Além disso, estar informado sobre todos os possíveis contratempos que possam ocorrer durante o processo. As facilidades e ofertas de empreendimentos não descartam a importância do planejamento.
Entenda melhor o subsídio do governo O subsídio do governo para isentar parte do custo do imóvel pode chegar até R$ 23 mil e o valor varia de acordo com a região, com a população da cidade e a faixa de renda do comprador. Os imóveis poderão ser financiados no valor de até R$170 mil para as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. As taxas de juros para os financiamentos são de 5% ao ano + TR para quem ganha de 3 a 5 salários mínimos, 6% ao ano + TR para 5 a 6 salários mínimos e 8,16% ao ano +TR para salários que variam de 6 a 10 salários mínimos. Para as parcelas, o governo também estipulou que o valor a ser pago mensalmente não pode ultrapassar 20% da renda familiar. Para financiar com rendas a partir de R$ 1.300,00 você pode: • Ganhar subsídio de até R$ 23.000,00 • Ter taxas menores de juros • Pagar em até 360 meses • Ter seguro-desemprego • Usar FGTS
Faça a sua simulação em migre.me/5N6Xt Documentos básicos: • RG • CPF • Comprovante de Renda • Comprovante de Residência *Os documentos necessários para cada tipo de financiamento estão disponíveis em caixa.gov.br
Valor de crédito imobiliário contratado CAIXA
PIRACICABA AMERICANA SANTA BÁRBARA
TOTAL POR ANO (Crescimento no total do 3 municípios) 2008 - R$ 144.873.017,24
2009 - R$ 395.053.160,73
2010 - R$ 472.929.385,59
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internet
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Políticas públicas criam novas formas de acesso à rede Lucas Calore Mariana Neves
A
utilização da internet nos faz pensar em uma outra dimensão com relação às atividades do nosso dia a dia. No Brasil, o seu uso quebra recorde. O país ocupa o 5º lugar no ranking de países com maior número de conexões no mundo, com média de 80 milhões de usuários. Pensando no aumento do número de usuários da internet, o Governo Federal, por meio do Ministério das Comunicações, estabeleceu uma proposta para massificar ainda mais o acesso. Até 2014, a banda larga (redes de acesso com velocidade superior às de conexões com planos telefônicos) será oferecida a preços acessíveis e, assim, aumentar a capacidade de infraestrutura de comunicações. Estima-se que em território brasileiro, existam 20 milhões de usuários com planos de banda larga. Antes de chegar a todas as regiões do país, algumas cidades projetaram planos próprios e gratuitos de acesso à internet para a população. O interior do estado de São Paulo já possui cidades que oferecem esse tipo de serviço, como Araraquara,
Vargem Grande do Sul e Rio Claro, que já estão com planos de acessibilidade em uso. Em Araraquara, há mais de um ano existe o projeto “Internet para Todos”, que atinge cerca de 95% da cidade e tem em média 9.500 pessoas cadastradas e é precursor na região. O sinal da internet gratuita é oferecido por meio da tecnologia wi-fi, sem a necessidade de uso de fios. Já em Rio Claro, o projeto prevê velocidade de acesso de 70 a 128 kpbs, suficiente para quem deseja ter acesso à rede para utilização de recursos em menor escala como o acesso ao e-mail. Os utilizadores do plano, que segundo a Prefeitura Municipal já somam 18 mil cadastros, devem adquirir alguns equipamentos para a recepção do sinal. No Estado, existe o programa Acessa São Paulo, desenvolvido pelo Governo Estadual em parceria com as prefeituras municipais e
administrado pela Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo), com o objetivo de atender jovens e adultos de baixa renda que não têm condições de ter um computador em casa. Em 2002, foi inaugurado o 1º posto do Acessa São Paulo em Piracicaba, na Biblioteca Municipal. Em 2006, a cidade ganhou mais um posto, Centro Cultural Antonio Pacheco Ferraz. Só em Rio Claro, funcionam dois postos. Já em Santa Bárbara d’Oeste, o posto local foi inaugurado em 2010. A unidade recebe por volta de 500 pessoas por mês. A sala possui 10 computadores conectados à internet banda larga para uso gratuito da população. Para utilizar o serviço é preciso fazer o cadastro com apresentação de RG e menores de 16 anos devem apresentar autorização dos pais. Cada usuário tem direito a 30 minutos e,
caso não haja fila de espera, pode permanecer por mais 30 minutos. A conectividade é considerada mínima para quem utiliza vários serviços no mundo virtual: são 500 kb/ps distribuídos em 10 computadores, ou seja, cerca de 50 kb/ ps para cada máquina, o que torna o serviço extremamente lento. Mesmo assim, o número de frequentadores é grande. De acordo com Benedito Ferreira, responsável pelo projeto em Santa Bárbara, em 2010 foram cadastrados 601 usuários e 24.595 atendimentos. Para atender ainda mais pessoas, foi solicitada ao Governo do Estado a implantação de mais duas salas na cidade, uma no Centro Comunitário do bairro 31 de Março e outra no Centro Comunitário do Bairro Jardim São Fernando. “Aqui, muitos jovens que poderiam estar nas ruas, aproveitam para fazer e imprimir trabalhos gratuitamente, além de aprenderem informática”, conta Luiz Fernando, monitor da unidade do Acessa São Paulo na cidade de Santa Bárbara. O objetivo final da implantação do programa de popularização da internet nestas cidades é o de dar subsídio à inclusão digital, tanto por meio de parcerias privadas quanto públicas, nacional ou municipais e, assim, criar novas formas de vínculo social a partir desta inclusão, favorecendo o desenvolvimento da educação por meio de uso do mundo virtual. Claudia Assencio
Locais de acesso gratuito à internet na região Santa Bárbara d’Oeste Rua Jorge Juventino de Aguiar – Centro Comunitário do Conjunto Habitacional Roberto Romano - Telefone: 3455-3413 De segunda à sexta-feira das 8h às 16h Piracicaba Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto” Rua Saldanha Marinho, 333, Centro – Telefone: 3433-3674 De segunda à sexta-feira das 8h às 18h e aos sábados das 8h às 12h Estação da Paulista Avenida Doutor Paulo de Moraes, 1580, Paulista - Telefone: 3402-7373 De segunda à sexta-feira das 8h às 17h Rio Claro Jardim Cherveson Rua M-14, 379, De segunda à sexta-feira das 8h às 17h Parque Lago Azul Rua 2, 2880, Parque do Lago Azul Telefone: 3522-8000 De segunda à sexta-feira das 8h às 17h e aos sábados das 8h às 12h Rio das Pedras Avenida Doutor Adhemar de Barros, 520, Bairro Bom Jesus II Telefone: 3493-6909 De segunda à sexta-feira das 8h às 17h
A unidade do ‘Acessa São Paulo’ em Piracicaba, localizada na Biblioteca Municipal, recebe visitantes de todas as idades
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meio ambiente
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Fotos: Nayara de Oliveira
Lodo tratado
pode virar ingrediente básico na produção de tijolo
Nayara de Oliveira Caroline Solano
O
lodo formado pela decomposição de materiais orgânicos resultantes do processo de purificação da água bruta originada das represas nas Estações de Tratamento de Água, pode se tornar um excelente objeto de comercialização sustentável, a produção de tijolos. Pioneira entre as cidades da Região Metropolitana de Campinas a possuir a liberação para estudos sobre a destinação final desse material, a Coden (Companhia de Desenvolvimento) de Nova Odessa, que presta serviços de saneamento básico para o município, iniciou em 2010 estudos para esta opção mais “econômica” e ecológica. Atualmente, o material passa por testes na produção sustentável de tijolo utilizado em construções, diminuindo os custos de deslocamento do lodo para o destino final do material - até então feita em Aterro Sanitário controlado em Paulínia -, além de contribuir para empresas de cerâmicas, que
possuem a argila como principal componente na fabricação do tijolo de barro. Segundo o diretor-presidente da Companhia, Ricardo Ongaro, o resultado é obtido a partir de um processo lento e que demanda muitos estudos e investimentos. “Nova Odessa não é o único município interessado neste estudo. A Petrobrás também já entrou com pedido de liberação da produção de tijolos na Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), mas não foram autorizados”, contou. A Cetesb só vai liberar o teste de produção do tijolo a partir da base de lodo após a apresentação do estudo físico-químico que comprove a neutralidade da contaminação do ar a partir do processo de queima do material. “Desde a desidratação até a disposição final do lodo é necessário possuir licenças ambientais e para que isso seja liberado são necessários estudos e projetos que
O lodo, depois de seco, vira matéria prima para a produção de “tijolo sustentável”; acima, tanque que armazena lodo proveniente do tratamento da água
surtam efeitos e que comprovem ser um método ecológico. Afinal, a produção de tijolos é feita a partir da queima dos produtos e a fumaça produzida é liberada pelas chaminés da caldeira diretamente no ar. A Cetesb quer que seja comprovado que esta fumaça resultante não é poluente”, explicou Ongaro. Devido ao alto custo de investimento para a empresa particular que presta os serviços públicos, a cidade vai aguardar a apresentação do resultado por outra empresa interessada e, então, dar início ao pedido de liberação dos testes práticos. Por enquanto, são feitos pequenos estudos
que comprovem a eficácia do tijolo. O processo, desenvolvido pela equipe técnica da Coden entre os anos de 2005 e 2009, faz com que a água percorra todo o processo normal até chegar a Estação de Tratamento de Água, quando é depositada em tanques especiais, onde permanece durante a secagem parcial, para então ser colocadas em suspensão, até a secagem total. O lodo obtido com o processo é um barro rico em ferro e manganês, vindo da mistura dos produtos utilizados no tratamento da água, como cloro, policloreto de alumínio, carvão ativado e flúor. Considerado um forte ingrediente sustentável na produção do tijolo, esse mesmo lodo também serve como adubo de plantas, o que torna o projeto, além de prático, ligado ao desenvolvimento sustentável.
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comportamento
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Cosplay:
uma realidade alternativa Elaine Pereira Karine Santos A moda japonesa de se fantasiar e interpretar um personagem do universo do entretenimento (principalmente mangás) tornou-se prática no mundo todo. Conhecido como cosplay - contração das palavras em inglês costume (fantasia) e play (brincadeira) - o hobby vem ganhando cada vez mais espaço no país. A primeira convenção englobando esse tipo de fã foi o Mangácon II, realizado em 1997, em São Paulo, que reuniu 30 cosplayers. Atualmente, os maiores eventos nacionais dessa área chegam a alcançar um público de 40 mil pessoas e grande parte se veste de seu personagem favorito. O Brasil é atualmente tricampeão mundial de cosplay. Seja para concorrer a prêmios, exteriorizar os gostos através dos personagens favoritos, ou apenas para se divertir, as competições e festivais de cosplay estão se tornando mais frequentes também no interior.
Segundo Ricardo Zanettini, diretor administrativo da Avalon Eventos, empresa responsável pelo maior concurso de cosplay do interior do estado de São Paulo - o Circuito Anime Fest-, há aproximadamente 10 anos o costume era pouco conhecido e a maioria dos participantes estava na capital de São Paulo, onde aconteciam as principais competições. A ideia de realizar o Circuito Anime Fest partiu do princípio de dar oportunidade e visibilidade aos cosplayers do interior do estado de São Paulo. Com edições anuais, as etapas do festival ocorrem em distintas cidades pelo período de seis meses a um ano. “A cada edição do circuito percebemos que o número de cosplayers aumenta, junto Joelma Pereira exibe uma de suas fantasias como cosplayer
K Fotos:
arine S
antos
Personagens de desenhos japoneses são os mais populares
Cada detalhe é pensado para compor a roupa perfeita para o personagem
com a qualidade de suas apresentações e fantasias. As pessoas estão começando a deixar a vergonha e o preconceito de lado e vindo se divertir fazendo cosplay”, conta Zanettini. Com uma vasta coleção de perucas coloridas, roupas extravagantes, maquiagem e diversos acessórios que ela mesma confecciona, a cosplayer, Joelma Vidal Pereira, 28, descreve o costume: “Mais do que representar ou vestir um personagem, o hobby é ser alguém diferente por algum tempo”. A estudante já foi a lugares inusitados vestida de cosplay, algo que, segundo ela, não seria feito por qualquer pessoa. “Fui a uma cerimônia de Crisma vestida de Rosinha (Auto da Compadecida), em formatura do técnico de enfermagem de Satine (Moulin Rouge) e já apareci na universidade vestida de Mulher Maravilha, Robin, SpeedRacer, Hermione Granger (Harry Potter) entre outros”, conta Joelma, achando tudo muito divertido. Para Jéssica Campos, 24, estudante e cosplayer há quase 10 anos, participar de festivais lhe deu oportunidades de conhecer novos lugares e fazer novos amigos. “Já participei de várias competições, inclusive conquistei um título mundial no Japão, acompanhada de um parceiro”. Atualmente Jéssica recebe convites para ministrar palestras sobre o tema em eventos por todo o Brasil. Já para a química Bárbara Duzzi, 22, o cosplay é um hobby que alivia o estresse do cotidiano, mas que muitas vezes leva tempo e custa caro, devido aos seus mínimos detalhes. “Cosplayers para mim são artistas muito pacientes”, defende a cosplayer que passa horas confeccionando as minuciosas partes das roupas de suas variadas personagens.
cultura
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Flavia Ribeiro Vanessa Carvalho
“P
iracicaba é berço da cultura caipira e abriga em seu seio manifestações que nos remetem à própria formação do povo brasileiro. Essas manifestações aqui afloradas (...) necessitam de um apoio à altura de sua importância”. O trecho extraído da carta aberta assinada por artistas, agentes, produtores culturais e gestores de associações culturais e divulgada durante o I Fórum das Tradições Populares de Piracicaba, em 2008, aponta para um eminente desaparecimento das manifestações outrora bastante difundidas. O que pode ser explicado pela dificuldade na renovação de seguidores, já que elas são praticamente desconhecidas entre os jovens. Na contramão desta tendência, a cidade de Piracicaba tem se destacado – por meio do Poder Público aliado a entidades culturais – pelo trabalho de preservação de grupos remanescentes de manifestações como a Congada do Divino Espírito Santo, o Cururu, a Catira, a viola caipira, o Batuque de Umbigada e o Samba lenço, além de incentivar a participação das
novas gerações por meio de projetos realizados com os jovens em escolas e universidades. Roberta Lessa, responsável pelo grupo Congada do Divino Espírito Santo de Piracicaba, conta que o grupo chegou a ter apenas cinco integrantes. “Com muito empenho voltamos a crescer e hoje estamos com cinquenta integrantes, de crianças a idosos”, destaca Roberta, que explica que a congada do Divino Espírito Santo é uma dança de louvação a Nossa Senhora que vem sendo passada de geração a geração. “Desenvolvemos projetos em escolas para que esta tradição não acabe de uma hora para a outra e assim possamos aumentar o número de jovens e crianças em nosso grupo, pois são eles que vão dar continuidade à tradição”. Nova geração - Um exemplo de dedicação é Fernanda Toledo, 24, integrante do grupo Batuque de Umbigada há quatro anos. Ela entrou para o grupo após sua avó sofrer um derrame e descobrir na manifestação, marcada pela dança, uma forma de reativar os movimentos perdidos. “Minha família inteira participa,
Fotos: Claudia Assêncio
Jovens contribuem com a preservação de culturas populares em Piracicaba
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Diferentes gerações se reúnem no 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba
desde a minha sobrinha de 11 anos até a minha avó de 91 anos”, comenta. Apesar de jovem, a estudante se dedica para manter o grupo em atividade e incentivar a cultura, faz apresentações no meio acadêmico, principalmente para esclarecer a questão religiosa, além da divulgação dos projetos de integração entre membros do grupo com jovens. Juventude na tradição do Cururu Bruno Grando, 20, trabalha para que a tradição do cururu não desapareça. Desde 2007 canta no grupo de cururueiros de Piracicaba. Aos cinco anos começou a participar das viagens junto com a irmandade do Divino de Laranjal Paulista da Capela de São Sebastião e a se interessar pela maneira com que o cururu é apresentado. “O que mais despertou o meu interesse nesta cultura foram as mensagens
passadas ao povo que vêm acompanhadas das apresentações”, destaca Grando. Bruno explica que o cururu não é uma tradição que desperta muito o interesse dos jovens, “conforme o tempo está passando, conseguimos cativar a nova geração graças à dedicação de todos os componentes do grupo e, inclusive, a de Moacyr Siqueira um dos maiores cururueiros da região”, ressalta. Para o jovem é uma grande satisfação participar e dar continuidade a uma tradição tão antiga, “tenho muita paixão e pretendo passar os meus conhecimentos a todos, procuro sempre estar à disposição das pessoas que estão precisando de informação sobre o cururu ou das que têm um interesse em aprender ou apenas gostam de assistir, costumo fazer várias apresentações e o meu maior objetivo é tornar um popular cururueiro”, afirma Grando.
Tradições Populares na Teoria: A Folkcomunicação Enquanto na prática os jovens conservam as tradições populares de Piracicaba, no campo teórico, o tema também é motivo de estudos, vistos como elementos de cultura folk (cultura regional/popular) na perspectiva da comunicação. No Brasil, na década de 60, o conceito de Folkcomunicação surge a partir dos estudos de Luiz Beltrão, um dos pioneiros entre os pesquisadores da Comunicação no Brasil e responsável pela publicação da primeira revista científica brasileira da área, a Comunicações & Problemas, de 1965. Segundo Beltrão, as manifestações populares, acionadas por agentes de “informação de fatos e expressão de idéias”, tinham a mes-
ma importância comunicacional que as do jornalismo de massa. A Folkcomunicação, trazida aos dias de hoje pela arte de rua, pela pichação ou pelas danças, por exemplo, busca unir o ser que está às margens no processo comunicacional, com a cultural regional. Para o pesquisador da área e professor da Unimep, Victor Corte Real, “a manifestação folclórica parte da cultura popular e está intima ao ser humano, bastando apenas, unir teoria e prática. A Folk é para os cultural ou economicamente marginalizados, traduzidos na comunicação entre a classe popular e a mídia”, explica. Para o professor, Piracicaba tem muitas
tradições: “desde o time de futebol da cidade, o XV de Novembro, até as manifestações mais conhecidas como a Festa do Divino, as festas típicas dos bairros Santana e Santa Olímpia, a Festa de Tanquinho, os Bonecos do Elias e até o Rio Piracicaba, que de certa forma compõe o cenário destas tradições. Integrando a prática da cultura Folk a partir da teoria, o professor Corte Real busca desenvolver projetos de estudo sobre as tradições populares voltados aos jovens, com a intenção de inseri-los na cultura piracicabana, e de contribuir para que as tradições que expressam os costumes de um povo não acabem no esquecimento.
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educação
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14º Edição do Saresp acontece entre os dias 29 e 30 de novembro Felipe Abrahão Michaella Frasson
Arquivo digital
N
os dias 29 e 30 de novembro acontece a 14ª edição do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) que avalia a qualidade da Educação Básica do Estado de São Paulo. Na prova, que é uma avaliação em larga escala, aplicada aos alunos do 3º, 5º, 7º e 9º anos do Ensino Fundamental e da 3º série do Ensino Médio, são avaliados os conhecimentos de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e Redação. O exame, realizado desde 1996, permite avaliar o desempenho dos alunos e a didática dos professores em cada escola, além de gerar uma cultura de avaliação que acelere ações de melhoria do ensino e promova a capacitação contínua dos professores e gestores, uma vez que os resultados podem ser comparados de ano a ano. De acordo com os resultados obtidos no Saresp, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo - SEE/S pode definir iniciativas prioritárias para atingir os objetivos traçados pela política educacional em vigor. A participação das escolas é feita por adesão. A prova, realizada pelo Governo do Estado de São Paulo, não é obrigatória para os municípios, que têm a opção de aderir ou não. As escolas particulares respondem pelas despesas da aplicação da prova, o que difere das públicas, que são isentas. Algumas escolas oferecem exames “simulados” para que o aluno se familiarize com o sistema. O coordenador da Escola Estadual São Vicente de Paula, de Americana, Genival Alves dos Santos Nicolau explica que “no ano passado alguns simulados foram realizados, mas o ideal é trabalhar as questões do Saresp com os alunos dentro dos conteúdos da sala, resolvendo e comentando os erros e acertos, entendendo como e porque os erros foram cometidos”.
Os conteúdos avaliados no Saresp são escolhidos de acordo com as orientações da Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Os níveis de desempenho são definidos da seguinte maneira: (1) Abaixo do Básico, quando o aluno não tem domínio suficiente dos conteúdos previstos para o seu ano escolar, (2) Básico, quando possui conhecimento mínimo para chegar à próxima série escolar, (3) Adequado: ao se apresentar domínio pleno das competências referentes ao seu ano letivo e (4) Avançado, quando o aluno demonstra domínio acima do previsto para o seu ano escolar. Com os resultados é possível observar o desempenho de cada escola ao longo dos anos, porém, normalmente não se obtêm uma comparação honesta entre o desempenho das escolas públicas e particulares,
da origem sócio-econômica e cultural dos alunos. “Para a rede pública é sempre bom conhecer a distância dela em relação ao setor privado, para servir de incentivo ao nosso trabalho, que é muito mais difícil do que das escolas particulares, porque temos que superar os obstáculos de natureza socioeconômica de nossos alunos. Esse é o nosso grande desafio”, relata o Secretário Municipal de Educação de Piracicaba, Gabriel Ferrato. Uma única prova não é capaz de avaliar o aprendizado do aluno, porém é uma maneira de identificar o nível da educação brasileira e tentar melhorá-la. “É possível, com muita dedicação e compromisso, colocar a escola pública em patamares equivalentes aos das escolas particulares”, declara Ferrato
Abaixo, segue tabela com resultados gerais obtidos por alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, nas disciplinas de Matemática (podendo atingir até 100 pontos) e Língua Portuguesa (atingindo até 72 pontos). A rede municipal obteve o maior número de alunos inscritos na prova Saresp, seguidos da estadual e particular, porém, o resultado mostra que as escolas privadas obtiveram melhores resultados. 3º Ano Fundamental
Matemática
Língua Portuguesa
Estadual
72,0
48,1
Municipal
64,8
44,1
Particular
83,1
57,4
Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/#
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segurança
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O Departamento Estadual de Trânsito passa aos motoristas alguns atos importantes em relação ao celular e o trânsito: • Sempre que for dirigir, de preferência deixe o seu telefone desligado. • Se preferir manter o telefone ligado e precisar atender o celular, saia da rodovia para completar uma conversação. • Caso não possa sair da rodovia de maneira segura, permaneça na pista de tráfego lento até que consiga sair com segurança para atender ao telefone. • Lembre que o Código de Trânsito proíbe que o motorista dirija com apenas uma das mãos. O melhor é deixar que a caixa postal atenda as ligações, checando e retornando as mensagens quando estiver em local apropriado. • Faça o uso correto do telefone celular e usufrua da segurança, comodidade, produtividade que podem até salvar vidas. Fonte: http://www.detran.sp.gov.br/
Direção e celular:
uma ligação perigosa Amanda Maretti Valéria Spinelli
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o Brasil, os dados sobre mortalidade no trânsito reforçam a necessidade de prevenir acidentes. Segundo o Portal da Saúde do Governo Federal, somente em 2008, 38.273 brasileiros perderam a vida em acidentes de trânsito. Na capital, no mesmo ano, a utilização do celular durante o percurso de carro foi o quarto tipo de infração mais comum e o segundo que mais cresceu. Em Araras, de janeiro a setembro de 2011 foram feitas 1.075 autuações de motoristas falando ao celular na ‘Operação Araras Segura’. A ação, realizada pela Polícia Militar, em parceria com a Guarda Municipal e o Demutran (Departamento Municipal de Trânsito), acontece três vezes por semana, todas segundas, sextas e sábados, podendo se estender para outros dias da semana. A estratégia da operação é coibir e reduzir a violência no trânsito e garantir mais segurança à população.
Segundo o diretor do Demutran da cidade, Luiz Carlos Bressan, dirigir falando ao celular tira a atenção do motorista. “Com certeza absoluta as pessoas que fazem isso correm riscos. Não só as que dirigem, mas aquelas que estão de passageiras, os pedestres e os outros condutores ao redor”. Em algumas vias da cidade pode se observar que muitos motoristas ainda não estão conscientes dos riscos que oferecem a si e aos outros. “Nesta operação, é muito comum abordarmos pessoas falando ao celular enquanto dirigem. É preciso fiscalizar e conscientizar os motoristas que isto é prejudicial”, afirma Bressan. Estas ações educativas visam chamar a atenção e fazer com que o próprio motorista tenha consciência dos riscos que corre ao dirigir e falar ao telefone simultaneamente. Na cidade de Rio Claro o número de colisões e acidentes graves no trânsito vem aumentando nos últimos meses. O último estudo realizado em 2010 pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Sistema Viário registrou um aumento de 17,96% nos acidentes em relação ao ano de 2009. O cruzamento da Rua 14 com a Av. Visconde do Rio Claro foi considerado o ponto mais crítico da cidade, com 48 acidentes, sendo oito com vítimas fatais.
No ano de 2010, Rio Claro registrou ao todo 3.336 acidentes de trânsito. Com esses dados foi elaborada uma tabela na Secretaria de Mobilidade Urbana e Sistema Viário dos pontos mais perigosos do trânsito da cidade. Maria Antonia Zaia utiliza seu carro para trabalhar e também depende do celular para o trabalho, combinação que causou um acidente. “Estava dirigindo o meu carro em uma avenida movimentada na cidade de Limeira, que não conheço muito bem, e resolvi atender uma ligação, durante a conversa não percebi que a fila de carros parou e bati na traseira de outros dois veículos”. No momento ela informou que policias e ambulância foram chamados, e apenas ela foi para o hospital com alguns ferimentos. A recomendação do Código de Trânsito Brasileiro é desligar o celular ao assumir o volante. O artigo 252 do Código proíbe o uso do celular enquanto o condutor dirige. A multa para quem infringe a legislação é de R$ 85,13. O tipo de infração é considerada média e o motorista perde quatro pontos na carteira. Fones de ouvido ou viva-voz também são proibidos. Com o celular no ouvido, o motorista reage de forma mais lenta.
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Diversidade
novembro/2011 • edição 25
Karina Bonfá Laura Tesseti Luana Rodrigues
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m maio de 2011, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que as uniões estáveis homossexuais fossem reconhecidas perante a lei, assim como as heterossexuais, desde que cumpridos todos os requisitos exigidos. O fato, que é uma grande conquista para os casais gays, exige mudanças de paradigmas na sociedade. Segundo a advogada Ana Paula Gonçalves Copriva, de Rio Claro, o assunto era abordado nos tribunais com frequência. “Muitos dos direitos decorrentes de tal união já eram reconhecidos, como é o caso do INSS, que há muito já aceitava o companheiro homoafetivo como dependente para fins previdenciários, a Receita Federal, como dependente e os planos de saúde, também já eram obrigados a aceitar nesta condição, assim como a adoção por casais homossexuais”, disse. Mesmo com a decisão do STF, a discussão permanece quanto à possibilidade de converter a união estável em casamento. Isto porque o STF, ao se manifestar, mencionou apenas a equiparação legal da união estável homo e heteroafetiva, sem falar em casamento: “Há quem entenda que deve ser aplicada a parte final do parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição, convertendo tais uniões em casamento, e há quem entenda que não. Por isso, em algumas cidades, temos notícias do casamento gay, ou seja, da conversão da união estável homoafetiva em casamento, e, em outras, a negativa de conceder o direito a tal conversão”, explicou a advogada. Andréia Patrícia de Souza, 32 anos e Tânia Revoltini, 47 anos, estão juntas há 17 anos e assinaram o contrato de união estável no Cartório de Registro Civil de Rio Claro em dezembro de 2010. Para Andréia, a permissão para o casamento homoafetivo é um direito. “Assim como os casais heterossexuais, também te-
mos o direito de comprovar nossa situação civil. Não sou solteira, mas perante a lei, não tenho um documento que prove que sou casada”, ressaltou Andréia. A psicóloga Maria Rita Lemos e a analista de informática, Fúlvia Lúcia Margot, também tiveram a união estável assinada em cartório, em São Paulo, registrada em cartório de Limeira e homologada pelo juiz da Terceira Vara Cível, no ano passado. Agora o casal reivindica o casamento através de processo, que, segundo elas, já foi aceito por juiz e negado pelo promotor. “Na primeira quinzena de outubro, o processo foi encaminhado para São Paulo para ser julgado em segunda instância pelo Supremo Conselho de Magistratura”, disse Rita. Juntas há 12 anos, Rita confessa que, mesmo tendo praticamente os mesmos direitos de um casal heterossexual, têm o desejo de oficializar o casamento. “O casamento civil sempre oficializa melhor a situação conjugal. Estamos lutando por isso, porque houve discrepância entre os pareceres do juiz e do promotor”. Rita pontuou que, diferente de hoje, já sentiram preconceito. “Procuramos não agredir ninguém com nossa vida. Não temos necessidade de sair beijando na boca em público, por exemplo. Só queremos nossos direitos básicos”. Ela ainda contou que a família da companheira é francesa e reside em Cuiabá, e nunca teve qualquer tipo de preconceito. “Ela é muito ligada à família, fala quase diariamente com eles por telefone. Sua família sempre me aceitou e me recebeu bem todas as vezes que fui para a cidade deles. E minha família adora a Fúlvia. Ela é outra mãe para minhas filhas e netos. Inclusive minha neta de 19 anos mora conosco”.
Laura Tesseti
Apesar do reconhecimento da união estável, casais homossexuais ainda enfrentam barreiras