Produzido pelos alunos do 5.º semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba
UNIMEP Ano II - Edição 10
JORNAL LABORATÓRIO
Junho-Julho/2008
Rodrigo Kivitz
Causas e efeitos desse problema psicológico que atinge principalmente o ambiente escolar e muitas vezes é negligenciado. Página 07
Ficar só nem sempre é ruim Solidão contribui para o autoconhecimento. Página 12
+
Academia Alimentação Suplemento alimentar é considerado aliado ao exercício físico, mas sem abusos. Página 09
Digital
Mães são usuárias do Orkut e MSN Página 03
Futebol
americano Esporte ganha adeptos em Araras Página 11
Bullying
Pietro Pires Santos
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Na Prática
Apresentação
Enfim, a prática! D
epois de nove meses de espera e muita angústia, a mãe finalmente pega seu filho nos braços, todas as preocupações e o sofrimento das dores desaparecem e abre espaço para a emoção. É fazendo essa analogia com o nascimento de uma criança que tentamos mostrar o sentimento que rege toda a turma do 5º semestre de Jornalismo da Unimep para a produção do jornal Na Prática. Jornal que foi reformulado, já que o público agora é formado por estudantes secundaristas, diferente das edições anteriores. Porém, em vez de nove meses, aguardamos este momento há dois anos, quando ainda estávamos nas primeiras aulas e pegávamos o jornal laboratório (em 2006 chamava Impressão) nas mãos imaginando quando chegaria a nossa vez. O brilho no olhar desses primeiros dias de aula ainda permanece o mesmo em muitos de nós. Esse sentimento foi o combustível essencial para produzir o jornal, que sofre a pressão de ser o segundo do semestre
e ter a inexperiência por perto. Porém, é com esse espírito audacioso que cada um foi buscar elementos para tornar sua matéria mais informativa e interessante possível. Abrindo essa segunda edição buscamos assuntos atuais e principalmente que façam parte do universo jovem. Temas como bullying, as mães que navegam na internet, a solidão às vezes necessária, além de uma série de dicas de cultura e, claro, não poderia faltar uma crônica para narrar as peculiaridades desta fase. Se apenas uma pessoa ler algo em nossos textos que provoque uma reflexão e de alguma forma beneficie o mundo em que vivemos, nossa missão está cumprida. É com grande entusiasmo que apresentamos nosso pequeno bebê! Abraço, Mariana Tavares e Taís Romanelli editoras assistentes
Artigo
Um pé de quê? Para a indústria da moda, consumidores. Para os programas de tv, telespectadores. Para o orkut e msn, usuários. Para as bandas de rock, fãs. Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são números. Será 35 milhões de jovens (20% da população brasileira) representam apenas esses adjetivos? A resposta é NÃO! Inúmeras vezes os jovens são considerados consumistas e alienados, e vivem em meio à comparação aos velhos movimentos estudantis. Movimentos que foram muito importantes para o país, eles concordam. Mas esse espírito revolucionário não está adormecido como muitos pensam. Os questionamentos ainda são feitos, basta olharmos para o caso da UnB, para os inúmeros blogs e fóruns pela
internet que criticam a nossa sociedade. Ouvem as músicas “da moda” em seus iPods sim, mas sabem procurar inspiração para sua banda nos Beatles. Chegam a ficar horas na internet e é por isso que a comunicação evolui tão rapidamente e novos meios são criados a cada dia. O legado para as próximas gerações não é apenas o fast food, é a mistura dessa tecnologia atual e a resposta a antigos anseios. Exemplo disso é o e-mail, que apesar de não conter a emoção de uma carta tão esperada, tem a rapidez como sua aliada. Como já cantava Elis, “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos /Ainda somos os mesmos e vivemos.../Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...” Mariana Tavares
Falo
mesm o! Depoimentos de jovem sobre o que esperam de um jornal dirigido a eles
“Espero que seja um jornal que fale usando nossa língua sem perder a seriedade. Gostaria de ler matérias sobre o “mundo jovem”, mas sem cair no senso comum.” João Guilherme Tavares Gomes, 17 anos “Que fale sobre assuntos contemporâneos e que tenha espaço para as opiniões dos leitores, para discussão de novas matérias e críticas ao jornal.” Vinícius Alves, 16 anos “Tenha diferentes assuntos, como atualidades, política, notícias do exterior, economia, faculdades, vestibulares e shows.” Mayara Gusmão, 17 anos “Um jornal não tão sério quanto o comum, que seja “descolado” e colorido.” Stefano Castilho, 17 anos
Junho-Julho/2008
Expediente Jornal Laboratório dos alunos do 5º semestre do curso de jornalismo da Unimep Reitor: Davi Ferreira Barros. Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa. Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão. Editor: Wanderley Garcia (MTB: MG-06041) E-mail: jornalnapratica@gmail.com Editoras Assistentes: Mariana Tavares - mazinhatavares@yahoo.com.br, Taís Romanelli - tata_romanelli@yahoo.com.br Editorias: Comportamento: Marília Cucatti Balancin marilia_cucatti@yahoo.com.br Cultura: Rafael Pierobon rafael.jornal@gmail.com Educação: Jayro de Souza Costa jayrospcosta@hotmail.com Repórteres: Bruna Godoy, godoy.bruna@gmail.com Christianne Abila, chrisabila@hotmail.com Jayro de Souza Costa, jayrosp.costa@hotmail.com Lucas Rizollo lucasrizzollo@uol.com.br Marília Cucatti, marilia_cucatti@yahoo.com.br Marina Carneiro, falakieutiinterrompo@hotmail.com Pietro Pires Santos, hoyo-ken@hotmail.com Rafael Pierobon, rafael.jornal@gmail.com Régia Santana, regiacsantana@yahoo.com.br Renan Fahl, renanjoaquim@hotmail.com Rodrigo Kivitz, rodrigokivitz@hotmail.com Sérgio Moreira, sergiolimeira@yahoo.com.br Arte Gráfica: Sérgio S. Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico/ Unimep) Correspondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rodovia do Açúcar, Km 156 – Caixa Postal 68 – CEP: 13400-911 – Tel: (19) 3124-1677 Tiragem: 2.000 exemplares
Participe da comunidade no Or kut Jornal Na Prática / Unimep O principal objetivo da comunidade do jorna l é o contato com os leitores e esse espaço está integralmente ab erto à manifestação de suas opiniões, concordando ou não com o conteúdo da edição, op inando e sugerindo pautas pa ra as próximas.
Vamos participar, mande seu recado! Valeu Galera!!! Nosso e-mail:
jornalnapratica@gm ail.com
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Na Prática
Digital
Mulheres aderem a novas tecnologias como ponte de aproximação dos filhos
mães
Universo tecnológico:
uma saída para as
Marília Cucatti Balancin Marilia_cucatti@yahoo.com.br
O crescimento de mães no universo tecnológico é grande, muitas não vivem hoje sem comunidades de relacionamentos como o orkut, sem celulares com câmeras, MP3 e sem iPod. Cláudia Aparecida Laporta Sete é um exemplo de mãe internauta que está passando por um período de adaptação com a nova rotina da filha, Bruna Laporta Sete. “Bruna foi estudar em Araraquara e não volta sempre para casa, eu aproveito para matar a saudade da filhota pelo orkut”, conta a mãe. Bruna achou estranho a mãe querer entrar na internet, mas hoje não consegue se imaginar sem teclar com a mãe. “Converso com minha mãe quase todos os dias pelo msn ou pelo orkut, é legal hoje a vejo mais como uma amiga do que minha mãe”. Marta da Cruz é um outro exemplo.
“Não gosto do orkut, perco minha privacidade, mas sou viciada em MSN e toda hora estou com o iPod em mãos, tanto para lavar louça quanto para uma simples caminhada”. Mas ela garante que seus filhos gostam deste novo estilo de mãe hi-tech. Se antes os pais nem imaginavam que um dia fossem encarar um computador, hoje tiveram que se adaptar à era dos blogs, orkut para não ficarem obsoletos e para permanecerem, mesmo que virtualmente, perto de seus filhos. Jorge Fábio Vasconcelos conta que ensinou a mãe a usar o computador e hoje se arrepende. “Antes eu não tivesse ensinado, tenho que dividir os horários com ela e não suporto”, reclama o jovem. Mas ainda brinca, “o legal é que minha mãe ficou mais jovem assim”. Ângela Vasconcelos confirma a declaração do filho e acrescenta que os amigos do filho acham o máximo sua atitude. “Mui-
tos deles dizem que queriam que suas mães fossem como eu, entrassem na Internet, tivessem mp3 e jogassem videogame”. Mas se sua mãe não é assim, não fique preocupado. Segundo dados do
Ibope, a comunidade residencial de usuários da web no Brasil totaliza 14,1 milhões de internautas, aproximadamente 25% são mulheres acima dos 25 anos, a maioria mães.
Aposta em métodos tradicionais Há 70 anos, as crianças usavam a imaginação para se divertirem. Brincadeiras de rua, bonecas e carrinhos feitos com vários materiais artesanais - desde a espiga de milho até pano - eram protagonistas de muitas histórias inventadas por elas. “Brincávamos de tudo, na rua, na árvore, era só termos qualquer coisa em mãos que transformávamos em algo interessante”, relembra Dona
Olímpia Garcia, 78 anos. “Hoje vejo minha filha diferente, não há contato entre ela e os filhos, essa vida é corrida. Ela trabalha fora, as crianças vivem no computador ou videogame, quando ela chega em casa eles vão para cursos, academia, e depois dormem”, conta a senhora. “Lembro das rodas em volta da fogueira no sítio do meu pai, a hora da história
também vêm forte na minha lembrança, minha avó contava histórias lindas para todos os netos e os filhos também, mesmo adultos gostavam de ouvir as fantásticas histórias. Era um modo gostoso e saudável de aproximação da família. Porque não resgatar hoje esta arte de contar histórias e com isto ensinar muitas crianças e adultos também por que não?”, sugere Dona Olímpia.
Celulares
Cada vez agregando mais funções, os telefones móveis tornam-se indispensáveis para a vida atual Renan Fahl renanjoaquim@hotmail.com
Renan Fahl
Quando os primeiros telefones móveis surgiram, eles eram grandes e incômodos. E não eram nada além de telefones móveis. Faziam e recebiam ligações apenas. Hoje, eles cabem em qualquer bolso e podem ser usados para baixar músicas e vídeos, tirar fotos, conectar à internet, gravar áudio, enviar mensagens e, de vez em quando, fazer e receber ligações. MP3 e máquina fotográfica digital estão entre os recursos mais procurados pelos consumidores
O número de celulares no Brasil cresOs recursos mais procurados, segundo ce a cada dia. Segundo dados divulgados ele, são as câmeras fotográficas digitais e pela Agência Nacional de Telecomuni- o MP3. “Os mais jovens se preocupam cações (Anatel) no último mês de abril, também com a quantidade de memória até março deste ano, o Brasil contava e procuram pelos recursos mais modercom aproximadamente nos”, ressalta. Um desses 126 milhões de aparelhos recursos mais procurados Os mais jovens celulares, algo em torno momento, segundo Câdão preferência às no de 66 aparelhos para cada mara, é o Bluetooth, que novidades, como o possibilita a troca de infor100 habitantes. “Nós recebemos cerca de mações entre dispositivos Bluetooth”. 50 clientes por semana”, sem fio, como os telefones diz Maicon Augusto Leonardi Câmara, celulares, por meio de uma freqüência de atendente de uma loja especializada na rádio de curto alcance. venda de celulares em Limeira. “A maioNayara Nantes, 17 anos, ganhou seu ria dos compradores tem entre 16 e 30 primeiro celular de presente do pai aos anos”, completa. 12 anos, quando começou a praticar hipismo. “Como iria viajar muito, ele me deu um de presente”, conta. Desde então já trocou de aparelho quatro vezes e não pretende ficar com seu aparelho atual por muito tempo. “Quebrou”, diz Nayara, que já teve outro celular quebrado e três roubados. Ela diz que utiliza mais os recursos para enviar mensagem e fazer ligações, mas que quando adquirir seu próximo celular, irá optar por um que tenha uma máquina fotográfica “boa” e MP3 de qualidade, “principalmente por causa da variedade de toques polifônicos”.
Canivete suíço
moderno
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Na Prática
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Novos hábitos
Sérgio Moreira
Jovens baixam músicas e filmes gratuitamente pela internet e faturamento das produtoras cai Seção
Rafael Pierobon rafael.jornal@gmail.com
CDs e DVDs com os dias contados Sérgio Moreira sergiolimeira@yahoo.com.br
O surgimento de novas tecnologias interfere diretamente no comportamento das pessoas e em seus hábitos de consumo e quando estas mudanças estão relacionadas aos jovens então, a rapidez da substituição é muito maior e avassaladora. Num curto espaço de tempo desaparecem do mercado produtos e equipamentos, que até poucos anos eram unanimidade e imprescindíveis. Na história podemos citar alguns clássicos exemplos, como o telefone sem fio, telefone celular, walkman, o adeus ao disco vinil, a chegada do CD, internet, TV a cabo, transições que revolucionaram a vida das pessoas, cada qual no seu tempo. Atualmente estamos vivenciando mais uma destas alterações de percurso, num segmento ligado principalmente aos jovens - a música - e neste caso o progresso tecnológico encontrou um grande aliado para derrubar um antigo comportamento, a pirataria. Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), a venda de CDs e DVDs no Brasil caiu 31,2% somente no ano de 2007, isto significa uma queda de faturamento em torno de R$140 milhões em relação ao ano de 2006. A comercialização de música para tele-
Sérgio Nicoletto, proprietário de loja de cd. “O grande vilão desta mudança é a internet”
fone móvel cresceu 127% e as vendas pela internet, pasmem, aumentaram 1.619%. As pessoas estão deixando de comprar CDs originais para buscarem na pirataria mercado de aparelhos que executam difeou na internet seus artistas e músicas pre- rentes tipos de arquivos com capacidades feridas por dois motivos principais - preço de armazenamento cada vez maiores. Um e facilidade. aparelho MP3 de 2 gigabytes, por exem“Não tenho dinheiro pra comprar na plo, consegue armazenar até 500 músicas. loja, então o jeito é comprar o piratão E não pára por aí o ritmo de evolução. mesmo”, afirma Fabíola, de 16 anos, es- Cientistas da IBM divulgaram, segundo tudante do ensino médio, da cidade de a revista Science, o desenvolvimento de Limeira. um novo tipo de Já Paulo Henrique, memória que perde 11 anos, sabe todos Já tivemos três lojas e 12 mitirá guardar em os caminhos para baiempregados, hoje temos aparelhos MP3 e texar músicas pelo comlefones móveis 500 putador, sem nenhum uma loja e apenas um mil músicas, num custo. “Meu irmão processo chamado funcionário” mais velho instalou “racetrack”, uma o programa ‘Ares’ e memória que utiliza sempre que quero ouvir uma música vou o movimento giratório dos elétrons para nele”, confirma. armazenar dados. Segundo relatório da IFPI, International Para Sérgio Nicoletto, proprietário de Federation of the Phonographic Industry, uma loja de CDs e DVDs em Limeira, o no Brasil, anualmente são baixados 1,8 processo é irreversível. “Já tivemos três bilhão de arquivos ilegais, mas o nosso lojas e 12 empregados, hoje temos uma país não está sozinho nessa estatística. No loja e apenas um funcionário”, afirma. NiMéxico, o número ultrapassa 2,5 bilhões, coletto explica também que está optando sendo que a China lidera o ranking com o pela diversificação dos produtos vendidos, maior percentual de usuários que execu- como microfones, instrumentos e aderetam downloads ilegais, chegando a 99%. ços para festas. “O grande vilão desta muCom esta facilidade, cresce também o dança é a internet”, confirma.
Filme: Na natureza selvagem Segundo a seção de dicas de cinemas do site da revista Veja São Paulo, o diretor Sean Penn obteve bom resultado na produção do filme “Na natureza selvagem”. Christopher McCandless interpretado por Emile Hirsh (de Alpha Dog), “abandona os pais (Marcia Gay Harden e William Hurt) e a irmã (Jena Malone) para seguir numa viagem de dois anos pelos Estados Unidos”. Vai do Arizona à Califórnia com a meta de chegar ao Alasca. “Canções na potente voz rouca de Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, se encarregam de sublinhar uma comovente jornada de entregas afetivas e desprezos materiais”, analisa a revista. CD: O bando de Maria A banda é formada por seis componentes e foi criada pelo vocalista do Falamansa, Tato. O conjunto é formado pela vocalista argentina Maria Paula, pelo contrabaixista João Maskra, por Fábio Mazzilli na guitarra e violão, Fernando “Teflon” no triangulo e percussão, Thiago Mazzilli na zabumba e Jonas Virgulino, filho de um dos integrantes do Trio Virgulino, que é o sanfoneiro. Livro: Feliz Ano Velho O livro é mais que uma autobiografia, vai além do relato de um acidente que deixa o autor tetraplégico durante as comemorações de fim de ano. Segundo o site Correio de Uberlândia, o livro, relançado pela editora Objetiva, “poderia ser apenas mais um relato dramático sobre fatos entre tantos outros que acontecem todos os dias. Mas o que o definiu como um marco dentro da literatura nacional é a forma como Marcelo relata o ocorrido, em um tom coloquial, mas que deixa transparecer, no fundo, uma profunda reflexão sobre toda uma geração, as angústias, os desejos e as críticas dentro de uma sociedade ainda marcada pela ditadura (...) Reflexivo, instigante, politizado e ávido de vida: que estas sejam as lembranças guardadas da juventude brasileira, assim como na leitura de “Feliz Ano Velho”, completa. O livro já ganhou o Prêmio Jabuti e foi adaptado para o cinema e para o teatro.
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Reggae
Bandas da região gravam novos CDs com músicas próprias e fazem sucesso em todo o país Banda Reggaço, de Rio Claro, prepara-se para a gravação do segundo CD
Christianne Abila Originado na Jamaica, o reggae é um estilo musical que teve seu auge mundial na década de 70. Com influência de vários outros tipos de som, o reggae contagia pelo seu ritmo diferente, que deriva de uma mistura de música folclórica jamaicana, calypso, ritmos africanos, blues e até mesmo de um pouco da influência do rock. Como o ritmo surgiu da religião Rastafari, onde seus adeptos usavam maconha, algumas pessoas costumam ligar o reggae com o uso da erva, mas o ritmo passa por cima de qualquer associação, trazendo em suas letras mensagens sobre desigualdade social, paz e muitos outros assuntos que despertam o interesse do público. Algumas bandas de nossa região aderiram ao ritmo e fazem sucesso em todo o Brasil. É o caso da banda piracicabana Rabo Jah Raia, criada em 2.000, que já dividiu palcos com grandes nomes da música nacional, como Cássia Eller, Lulu Santos, Natiruts, Planta e Raiz, entre outros. A banda já gravou dois CDs e trabalha na produção do seu terceiro álbum, ganhando cada vez mais fãs por todo o país. Em Rio Claro, o reggae é representado pela banda Reggaço, criada em 2.001 por exintegrantes de outras bandas que têm como principais influências o reggae jamaicano dos anos 60/70, o ska britânico “two-tone” dos anos 70/80, além de um pouco de rock e música brasileira. Desde então, a banda busca cada vez mais espaço para mostrar sua música. No momento trabalham na produção do segundo CD, que tem o lançamento previsto para o segundo semestre deste ano. Em entrevista para o Na Prática, a banda Reggaço fala um pouco sobre o reggae.
Divulgação
chrisabila@hotmail.com
Ritmo
supera preconceitos Porque a escolha de montar uma banda de reggae? Reggaço: A escolha foi por gosto, quando montamos o Reggaço, todos nós tocávamos em outras bandas, daí por afinidade ao ritmo decidimos montar uma banda de reggae. Vocês procuram passar alguma mensagem para o público quando começam a compor uma música? Reggaço: Algumas sim, outras não. No nosso novo álbum, que está para ser lançado, há uma música que a gente fala de problemas ambientais, mas a maioria das
musicas que compomos são sobre experiências pessoais, que de alguma forma as pessoas acabam se identificando.
dade de pessoas que fumam maconha em um show de reggae é a mesma em shows de rock, raves ou qualquer outro lugar.
A sociedade costuma associar o reggae à maconha. Qual o ponto de vista de vocês sobre isso? Reggaço: Isso é mais um preconceito, mais associação do que realidade. Na verdade é uma herança que veio junto com o ritmo da Jamaica. As pessoas que começaram a tocar reggae eram do rastafarismo e na religião se usava a erva. Por isso as pessoas também usavam. Mas a quanti-
Bob Marley na opinião de vocês é e sempre será a maior inspiração? Tratando-se de bandas brasileiras há alguma que influencia vocês? Reggaço: Sim, não somente o Bob Marley, mas a banda dele que no começo era chamada de The Wailers. As bandas brasileiras não nos inspiram, temos uma influência musical um pouco do rock, gostamos de Ramones, Pink Floyd, Beatles.
Folclore
Adolescentes se interessam pela cultura brasileira O folclore não é apenas dança, é linguagem, literatura, música, cantigas de roda, canção popular Bruna Godoy godoy.bruna@gmail.com
Com muita experiência, Rose Mary da Penha Conte, que diz ser artista plástica desde pequena, lida com o folclore e com outras manifestações que fazem parte da história cultural brasileira. Na infância sempre teve o gosto pela arte, contato com vários escultores e pintores e hoje tenta passar aos jovens o que o Brasil traz em sua cultura. “O folclore é o saber tradicional de um povo. O Brasil tem 500 anos a partir do descobrimento e antigamente muitas nações
indígenas faziam parte do país. Esses povos passaram suas culturas, que hoje são passadas de gerações para gerações”, diz Rose. Para o jovem Lucas Denardi Daire, que cursa o ensino médio, o folclore deve ser mais acessível, ou seja, transmitido de um jeito mais moderno e compatível com os tempos atuais. “Acho que o folclore em si interessa a todo tipo de pessoa, porém acho que deve ser tratado como algo mais próximo das pessoas, que chame mais a atenção, e não seja tão distante. Muitos acham que o folclore é estático, e por isso o consideram ‘chato’ ou ‘antiquado’”.
Para Rose Mary o folclore pode ser explicado e entendido com apenas três características. “Ele pode ser transmitido oralmente ou escrito (cordel). É uma aceitação coletiva e é preciso espontaneidade, não é uma coisa imposta”, enfatiza. O folclore não é apenas dança, é linguagem, literatura, música, cantigas de roda, canção popular. A artista reclama que o jovem de hoje, esquece das próprias raízes e se entrega para a cultura estrangeira. “Em minha opinião é o resultado da invasão da cultura norte americana e explodiu com a revolução de 64. Existem
locais que não se interessam pela cultura local. A classe média tem vergonha da própria cultura, já as classes mais baixas e com menos poder aquisitivo se interessam muito pelo assunto”, diz Rose Mary. Na opinião de Daire, a falta de incentivo por parte dos governos pode ser um dos fatores que faz com que os jovens fiquem ainda mais distantes de seus costumes e hábitos. “A solução seria festivais de dança de grupos folclóricos, pára-folclóricos, além de danças populares e claro, muito investimento, tanto no setor público quanto privado”, afirma.Ritmo jamaicano supera preconceitos
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Na Prática
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Comunicação
Fotos: Marília Cucatti Balancin
Jovens podem ter melhor formação profissional e podem perceber mundo externo de maneira diferente
Arte de contar Marília Cucatti Balancin
com outras pessoas hoje essa timidez foi embora”, explica Maria Clarice Rodrigues, 45 anos. As crianças criam mais desenvoltura e tendem a ser mais ágeis. Já Uma dose de imaginação ainda é boa receita para as os jovens, além desses benefícios, começam olhar de crianças. Assim, fica uma dica aos pais que preferem maneira diferente para o externo e isso pode ajudar não aderir à tecnologia: que tal participar de um curso até mesmo na formação profissional. de contação de histórias junto com os filhos? Aberto a Vanderson Alves Aranha sempre se interessou crianças e adultos, esse tipo de curso ajuda no desen- pelas histórias desde garotinho, adora crianças e volvimento pessoal e se usado como atividade entre a sonhou em trabalhar com elas, então seguiu os pasfamília, pode contribuir muito para a integração. sos da irmã Vanessa Aranha, famosa contadora em As histórias ajudam no desenvolvimento das Americana. Quebrando paradigmas do preconceipessoas em geral. Saber contar histórias é saber se to Vanderson é um dos poucos homens contadores expressar, o que é essencial para os rede histórias que atua na cidade. “Eu lacionamentos de amizade, trabalho e mesmo me emociono com as histórias Saber contar amoroso. “O legal é que todos podem e depois que vi o encantamento das histórias é saber crianças quando minha irmã contava, aprender, afinal a comunicação é uma história e o ser humano está rodeado tive o desejo quase que instantâneo de se expressar delas”, diz Rosária Silva contadora de poder levar essa magia do encantamenhistória há 10 anos. to a elas”, esclarece Vanderson Aranha. Os pais, por exemplo, poderão usar das técnicas Segundo o contador, a história só tem a acrescentar desta arte para educar seus filhos e também usufrui- contribuindo para todas as etapas da vida, principalrão delas no trabalho. “Comecei o curso e hoje tornei mente na correria da rotina moderna de trabalho. diária a hora da história em casa. Minha família está “Fiquei mais relaxado e aprendi a me concentrar mais unida e notei que eu estou mais solta até mesmo mais nos meus afazeres, sem falar da desenvoltura”, no meu serviço. Antes eu ficava tímida ao conversar confessa Vanderson. marilia_cucatti@yahoo.com.br
basta querer Carmelina de Toledo Piza, que sempre gostou de contar histórias, resolveu ensinar suas técnicas para outras pessoas. Professora e escritora, ministra cursos de contação de histórias, divididos em dez encontros de 3 horas. “É preciso despertar a Sherazade que existe dentro de cada pessoa, acreditar que é possível”. Carmelina dá dicas para quem quer se aventurar nesta arte mágica: Contadores de histórias precisam trabalhar a expressão corporal e o olhar. Gestos longos são indicados para facilitar a compreensão do público e atrair a atenção dele. Ter domínio sobre o voz e articular bem. Dependendo da situação, o contador pode falar mais alto ou mais baixo, engrossar ou afinar a voz, torná-la agressiva ou suave. Respeite sua respiração, não forçar e usar o diafragma para respirar. Na hora da apresentação, recorra a músicas, brincadeiras, dinâmicas, danças e materiais para criar um look diferente e atraente, um figurino de contador de histórias. · Esteja atento ao tempo que a história precisa para que o ouvinte possa compreender e se encantar com ela. · Varie o repertório; cada tipo de história é direcionada para um público específico. Idosos também gostam de fábulas, conto e canções infantis; eles relembram a infância. Dê seu estilo para história, é sempre bom ser você mesmo.
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Na Prática
Bullying
Agressão traz sentimento destrutivo de ser flagelado socialmente sem ter como se defender
Pietro Pires Santos
Todo mundo
No seriado criado por Ali LeRoi baseado na vida do humorista americano Chris Rock, o protagonista afro-descendente se vê vítima de bullying por parte de um valentão da sua classe: Joey Caruso. Por se tratar de um seriado humorístico, o antagonista sempre sai vitorioso nesta prática. Porém este aspecto de “Todo mundo odeia o Chris” é muito mais baseado na vida real do que tende a parecer. O bullying já existe há milênios e no mundo todo, porém só foi reconhecido e diagnosticado como um problema psicológico recentemente sobretudo no ambiente acadêmico. De acordo com a matéria apresentada no site G1 no dia 17 de abril há aproximadamente 38 mil sites escolares não oficiais com conteúdo ofensivo no Japão. De 2 mil sites analisados pelo Ministério de Justiça nipônico, 40% deles apresentam ofensas sexuais e 25% explicitam conteúdo violento. Este exemplo de cyberbullying é mais uma evidência de que o bullying é um problema mundial. Apesar de parecer um exemplo vago e distante, este problema japonês tem se tornado cotidiano no ambiente escolar brasileiro. O bullying é a palavra do inglês que define um problema psicológico mundial que afeta milhares de jovens em que o “bully” (valentão), ou grupo deles, tende a discriminar um estereótipo específico de pessoas que lhes é incômodo de modo pessoal. As agressões podem não ter motivo aparente e acontecer repetidamente. De acordo com Luiz R. Xavier, psicólogo, terapeuta sexual e psicodramatista, há pessoas do meio educacional que não gostam de usar o termo bullying que se remete apenas à intimidação na escola, e por isso pode esconder outras situações de violência. O único objetivo do bullying é a humilhação e todos os lados saem perdendo, explica Xavier. A vítima tende a não tomar atitude pois teme ser flagelado física ou socialmente pelo agressor. As testemunhas não intervêm pois temem ser as próximas vítimas. Os agressores tendem a se tornar adultos anti-sociais, obsessivos, egocêntricos, sedentos por poder e alguns podem apresentar comportamento criminoso. Xavier afirma que as conseqüências para as vítimas são perda ou diminuição da auto-estima, tristeza, depressão, apatia, desmotivação nos estudos, falta de vontade para voltar para a escola e em raros casos suicídio. As conseqüências mais graves são quando os responsáveis pela supervisão não conseguem apaziguar o problema e a vítima tende a se conformar e não reagir. A melhor solução para Paula C. P. Sebastião, psicóloga da USP, é a prevenção através da informação e incentivar a vítima a pôr a boca no mundo, mas não no sentido de atacar os seus agressores pois só geraria mais violência. Xavier ressalta que há cartilhas preventivas sobre o assunto e ainda apóia suscitar discussões e debates sobre o assunto, pois apesar de haver um método de controle dentro dos muros de escolas privadas, o bullying acontece também fora delas. O psicólogo ainda citou: “Se você for matricular seu filho em uma escola que afirme não ter bullying, não matricule...” Deveriam ter pensado nisso antes de matricular Chris na mesma escola que Joey Caruso.
Foto: Pietro Pires Santos / Modelo: Thais Tiemi Mizutani
hoyo-ken@hotmail.com
te odeia
O que pode ser bullying 1. Insulto preconceituoso à vítima para estereotipá-la quanto à sua etnia, gênero, costumes, aparência, cultura, modo de vida, personalidade, religião, modo de pensar ou nenhum motivo aparente. 2. Agressão física direta ou indireta, por meio de intimidação. 3. Violência Sexual, podendo chegar ao estupro ou “gang-rape” (estupro em grupo), entre pessoas de sexo diferente ou do mesmo sexo. 4. Difamação ou “violência social” para atrair outros agressores ou fazer com que a vítima e a maioria se convença de que ela é merecedora da agressão. 5. Submissão e relação de servidão forçada para preservar o status moral ou sua integridade física. 6. Isolamento ou “dar um gelo” para demonstrar que a existência da vítima é insignificante. 7. Cyberbullying com perfis falsos no Orkut ou comunidades, envio emails ameaçadores, criação fakes e sites e uso de ferramentas de comunicação virtual para depreciar a vítima. 8. Colocar a vítima em situação constrangedora para prejudicar sua imagem ou trazer complicações judiciais ou legais. 9. Tiranizar, colocando a vítima em relação de completa servidão. É o caso de abuso de poder ou quando o “poder sobe à cabeça”. 10.Gerar problema ou danificar sem motivo aparente e repetidamente, qualquer aspecto da vítima, seja mental, corporal, social, espiritual, material ou moral.
“Bullying indireto: mais praticado por garotas, gera o isolamento e exclusão social”
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Na Prática
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Ensino alternativo Lucas Rizzollo
Cursinhos promovem alunos-professores Nova visão mostra que ensino é talento de todos Lucas Rizzollo
Em Piracicaba, um dos cursinhos mais conhecidos do gênero é o Avante, mantido pela organização Avante de Ensino Fazer um curso pré-vestibular quase Pré-vestibular, no qual mais de 300 alunos sempre é uma atividade cara, bastante têm aulas em dois períodos. Segundo o inacessível. No entanto, tomam parte no coordenador da entidade, Renato Morgamercado os chamados cursinhos alternati- do, “o cursinho cobra uma pequena menvos, mantendo como público-alvo, em sua salidade [R$ 90,00] para a manutenção e maioria, os alunos de baixa renda. Como aluguel do local, porém os professores são inovação, grande parte dealunos e ex-alunos volunles está sendo ministrada tários, em sua maioria da É uma experiência por voluntários – alunos Esalq [Escola Superior muito gratificante, em de Agricultura ‘Luiz de de várias escolas. Para a ONU (Organizaque aprendemos muito” Queiroz’]”. ção das Nações Unidas), Morgado conta que o “voluntário é o jovem, cursinho nasceu em 2002, adulto ou idoso que, devido a seu inte- por uma iniciativa dos alunos, juntamenresse pessoal e seu espírito cívico, dedica te com o Calq (Centro Acadêmico Luiz parte do seu tempo, sem remuneração al- de Queiroz), e as aulas eram ministradas guma, a diversas formas de atividade, or- dentro do campus da Esalq. Atualmente, ganizadas ou não, de bem estar social ou o curso já tem uma sede própria na Aveoutros campos”. Dessa forma, fica clara a nida Carlos Martins Sodero, nº 425. Ele importância mundial do voluntariado. enfatiza também que, além do ensino tralucasrizzollo@uol.com.br
Professora voluntária durante aula diurna
junto com o Centro Acadêmico XXI de Abril. Segundo Bruna Sanches, aluna de odontologia e uma das coordenadoras do curso, é cobrada uma taxa de R$ 50 e atualmente a entidade tem 60 alunos matriculados. “É uma experiência muito gratificante, em que aprendemos muito e fazemos novas amizades”, diz a universitária, que pretende seguir a carreira de ensino futuramente. A principal característica de ambos os cursos é o trabalho voluntário dos professores. Com esse auxílio, muitos alunos já conseguiram atingir seus objetivos e garantir a vaga na universidade.
dicional, o Avante possui projetos como orientação profissional, excursões culturais e veiculação de filmes e documentários relacionados ao conteúdo exigido nos vestibulares. Para Diego Garcia Chiou, professor de química do Avante e aluno do quinto ano de engenharia agronômica, o mais recompensador do trabalho é aprender a lidar com pessoas diferentes, melhorar a fala em público, aprender, trabalhar e adequar a didática. Outro cursinho de grande expressão é o da FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), organizado em con-
Analfabetismo funcional
Apenas 25% da população é plenamente alfabetizada, segundo o Instituto Paulo Montenegro
Pouco além do
nome
Jayro de Souza Costa
Jayro de Souza Costa jayrosp.costa@hotmail.com
Há pessoas que sabem ler e escrever, entretanto não compreendem o que lêem e escrevem. Esse fenômeno, denominado de analfabetismo funcional, é caracterizado principalmente pela incapacidade de utilização de um conhecimento “teoricamente” adquirido em questões de ordem prática ou cotidiana, segundo explica a professora Márcia Aparecida Vieira, professora de pedagogia da Unimep. O Instituto Paulo Montenegro, criado pelo Ibope em 2001, constatou que no Brasil apenas 25% da população é plenamente alfabetizada. O professor de filosofia de ensino médio, José Reinaldo Corbini ressalta que há três momentos para saber se o aluno pode ser considerado um analfabeto funcional . Ele classifica o primeiro como a dificuldade do aluno em acompanhar o que é estudado; a segunda situação é a falta de disciplina e o desinteresse do estudante; e
O analfabeto funcional tem dificuldade em escrever
o terceiro momento é o desligamento do aluno em relação à aula. Para o professor, o que acontece com mais freqüência é o desinteresse e o desli-
gamento do aluno em acompanhar a aula. Este argumento é reforçado pela professoras de matemática Graziela Pavioto e Vilma Rezende Pacheco, que afirmam que a
maior parte dos estudantes apresenta grande déficit de concentração para seguir os conteúdos lecionados em sala de aula. Elas destacam o fato de os alunos com este problema têm poucas perspectivas e enfrentam muitas dificuldades para compreender provas seletivas, como o vestibular e os concursos públicos. Além disso, eles não têm a capacidade de transferir conhecimento para outras pessoas. Outro fator que as professoras destacam é a falta de estrutura familiar de boa parte desses alunos. Para a professora de pedagogia Márcia Vieira, umas das conseqüências mais visíveis do analfabetismo funcional é o fortalecimento de um contingente imenso de profissionais que não possuem a competência necessária para exercer sua profissão. No entanto, a pedagoga adverte que é necessário o envolvimento dos profissionais na área de educação para resolver o problema, mas o que falta é um projeto educacional a ser implantado para os professores por parte do poder público. Para ela são propostos “pacotes educacionais” produzidos em gabinetes, que normalmente apresentam conteúdos muito distantes da realidade do aluno.
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Na Prática
SAÚDE
Régia Santana
Alimentação balanceada é essencial para os atletas, mas muitos deles utilizam suplementação
Suplementos alimentares mais utilizados ENERGÉTICOS - Repõem ou fornecem energia para o treino e são formulados com carboidrato. Costumam ser vendidos nas versões em pó, que devem ser misturadas à água; gel, que vêm num sache individual; e barra de cereais.
Alunos da academia praticam exercícios com a orientação do professor de educação física
PROTÉICOS - Produzidos a partir da proteína encontrada no ovo (albumina), no leite ou na soja e são comercializados em pó ou barra.
febre
Suplemento alimentar é nas academias Régia Santana regiacsantana@yahoo.com.br
Alguns motivos, como a qualidade de vida, estética, perda de peso ou definição corporal têm levado, cada vez mais, as pessoas procurarem as academias. Uma alimentação balanceada é essencial para esses atletas atingirem seus objetivos, mas muitos suprem as necessidades fisiológicas do organismo utilizando suplementos alimentares. De acordo com a nutricionista especialista em Fisiologia do Exercício Aline Arouca, o suplemento alimentar tem a função de complementar e não de substituir a alimentação. “Sou favor da suplementação desde que orientada por um profissional da área de nutrição esportiva”, explicou. A nutricionista lembrou ainda que nem todo mundo nasceu para ser jacaré, alguns nasceram para ser lagartixas. “Muitas pessoas esperam milagres, mas temos que levar em consideração a genética individual de cada um, cada metabolis-
mo age de forma diferente. É necessário, também, adequar a suplementação à necessidade energética que o atleta precisa”, acrescentou. Para o professor de Educação Física e proprietário de academia Wagner Rodrigues da Silva, o uso de suplementos alimentares tem aumentado a cada dia nas academias. “Todo atleta necessita de nutrientes adequados para desempenhar melhor os exercícios, mas por não terem tempo de se alimentar de maneira correta, acabam utilizando algum tipo de suplementação. Sempre digo aos meus alunos que é papel do nutricionista orientá-los quanto ao uso de suplementos alimentares, para a manutenção de uma boa saúde”, explicou. Os freqüentadores de academia Gileno Luz Souza, 21, e Rodrigo Cardoso, 23, ressaltam que praticam musculação há cinco anos e precisam de suplementos para repor o gasto de energia causado pelos exercícios. “No momento uso apenas carboidratos, pois com a correria do dia a dia não consigo uma alimentação balanceada. Já
COMPENSADORES - São pós elaborados com calorias, proteínas, vitaminas e minerais que devem ser diluídos em suco ou leite. REPOSITORES - São bebidas esportivas, que têm o objetivo de repor rapidamente a água, os sais minerais e a glicose perdidos e, assim, evitar a desidratação provocada pela temperatura elevada ou por uma atividade intensa ou longa. AMINOÁCIDOS - São partes que compõem a proteína. O Ministério da Saúde entende que altas dosagens não são seguras para o consumo. Fonte: Revista Corpo a Corpo
usei, também, aminoácidos, albumina, creatina e massa, todos esses produtos foram indicados por profissionais especializados na área esportiva”, lembrou Souza. Rodrigo Cardoso consome aminoácidos, BCAA e maltodextrina há quatro anos. “Antes de fazer uso de suplementos pesquisei bastante e me orientei com médicos e nutricionistas. Preocupo com a minha saúde e sempre busco na compra desses produtos o custo benefício”, acrescentou. O fisioterapeuta e proprietário da loja Biotipo Suplementos Alimentares, Leonardo Turquetti Porto, disse que apenas 5% dos consumidores chegam à loja com indicação de nutricionista ou médico. “A maioria dos usuários de suplementação já praticam atividade física e chegam bem orientados para comprar os produtos. Apenas não sabem combiná-los da maneira adequada”. Os suplementos alimentares podem ser vendidos em cápsula, pó, gel e liquido e devem ter sido autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Na Prática
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Ilustração: Pietro Santos
CRÔNICA
No meu anti-jornal eu noticiaria que hoje vou sair para me divertir e amanhã não tenho hora para acordar. Escreveria no dia seguinte sobre a noite que passei, as risadas com os amigos e sobre o jeito que aquela menina dançava, linda, como se o mundo fosse acabar e ela nem se importasse.
Quem sabe eu não anunciaria para as próximas férias uma viagem de alguns dias para um lugar distante e longe de tudo. E que eu vou com uma turma de amigos da minha sala.
Um
texto sobre Rodrigo Kivitz rodrigokivitz@hotmail.com
A expectativa de entrar em uma faculdade e a descoberta de um mundo novo. O porre naquela festa somado à repreensão do dia seguinte. Viagem no final de semana com os amigos e o pôr do sol em uma praia. Os erros que não consertamos. Aquele sorriso que faz nosso coração parar. Esses são alguns de nossos momentos mais intensos e eles não podem ser descritos em palavras. Mas é isso que me vem à cabeça ao pensar em escrever um texto sobre jovens. Talvez só exista uma regra para escrever com essa intenção: não seguir regra nenhuma. Quero que meu texto ecoe o som das guitarras da minha banda de Rock preferida. Aceito o desafio de escrever de improviso, de forma espontânea e tendo a urgência como impulsão. Pronto para encarar de peito aberto tudo o que está por vir. Não é assim que os jovens vivem? Jovens, como eu, bebem para se divertir. Engolem seco para não terem de gritar. Ouvem sussurros e gemidos de prazer. Somos jovens e não precisamos pensar sobre isso. Podemos fazer nossas próprias leis e escolher o caminho que iremos seguir, sem esquecer as responsabilidades.
São nossas razões que nos movem. Sabemos que o amadurecimento é um processo contínuo e quando for a hora em que será necessário crescer rapidamente, ela chegará sem aviso prévio. Entrar em uma faculdade é um dos momentos mais importantes para nós, quando deixamos parte da adolescência para trás e fincamos o primeiro pé na fase adulta. Escolhi cursar jornalismo para ter o direito de escrever, dar a cara para bater ao emitir minhas opiniões. Sempre de acordo com meus ideais e procurando ser (in)coerente com meus 20 e poucos anos. Um texto sempre é transitório e impulsivo, como nossas vidas. Refletem nossas idéias e concepções momentâneas. Mesmo que de forma fulgaz, quero que meus textos de agora me façam lembrar futuramente dos meus anos de faculdade, todos os amigos que fiz e bocas que não beijei. Imagino ser isso o que um texto sobre jovens deve trazer: a intensidade dos nossos melhores momentos. Essa é nossa vida.
Na sessão sobre assuntos mais sérios, comentaria sobre a prova ferrada que vou ter na próxima semana e como não tô nem um pouco a fim de estudar. “Às vezes faço o que quero, às vezes faço o que tenho que fazer”.
Também contaria como consegui meu primeiro estágio na minha área, sozinho, eu mesmo tendo corrido atrás. Agora com meu trampo e minha própria grana, apesar de o salário ser pouco. Mas tendo um espaço para escrever e colocar em prática o que aprendo na faculdade.
Cara, eu escreveria tudo que me vem na cabeça. Não ligaria para o lead ou a objetividade e assumiria o risco de escrever em primeira pessoa. Deixaria a mostra que sou eu quem está por trás dessas mal traçadas linhas.
Meu anti-jornal eu vou fazendo aos poucos, vivendo um dia de cada vez e sabendo quais são meus objetivos. Não espero realizar tudo, mas sei que tenho muita coisa pela frente para conquistar. Faça o seu também.
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Na Prática
Futebol americano
Adolescentes aprenderam a modalidade assistindo aos jogos transmitidos em TV por assinatura
Ararenses devem disputar Campeonato Paulista Rafael Pierobon rafael.jornal@gmail.com
Quem pensa que o futebol americano não tem adeptos na região está enganado. A curiosidade de alguns garotos de Araras os motivou a montar uma equipe que em breve pode disputar um campeonato oficial promovido pela Federação Paulista de Futebol Americano. A equipe Araras Steell Hawk’s (Gavião de Aço) existe há dois anos e foi idealizada pelos amigos Pietro Deserti e Renato Henrique De Gaspi. Com o tempo, outros amigos foram aderindo à idéia de treinar o esporte mais tradicional dos Estados Unidos. Atualmente, 16 pessoas participam dos treinos que ocorrem em um campo cedido ao grupo pela Prefeitura. “Antes treinávamos em um clube da cidade, mas os não-sócios não podiam treinar e agora o espaço é aberto a todos”, afirma Deserti. Quem ouve falar do projeto dos ga-
rotos, que têm entre 15 e 20 anos, imagina que alguns deles tenham passado uma temporada nos Estados Unidos e acompanhado de perto uma partida da tradicional Liga Norte-Americana de “football”, como é chamado. Errado. O único contato que os ararenses mantêm com os jogos oficiais é pelas transmissões da TV a cabo. “Mudando de canal comecei a ver uma partida e gostei. Comentei com o Renato, que hoje é o técnico do time, e ele me disse que também gostava e começou a me ensinar o básico, a falar sobre as regras, até que tivemos a idéia de começar a treinar aqui”, lembra Deserti. O atleta conta que no início de 2007 a equipe atingiu o ápice no número de atletas. Chegou a 25 praticantes, mas nem todos querem levar a carreira a sério. “Quando começamos a falar em nos filiar na Federação, muitos deixaram a equipe”, diz. O jovem convida os interessados para
Divulgação
Jogadores do Steel Hawlk’s durante aquecimento para jogo amistoso em Mauá, no começo do ano
participar do time, já que precisa de cerca de 20 atletas para filiar-se e disputar a primeira competição, que deve começar em setembro. Deserti diz, ainda, que há muito preconceito com a modalidade. “Tem pais de vários amigos meus que não deixam eles jogarem porque acham que é um esporte violento, mas não é nada disso. Contato tem em todo esporte”, afirma. Mas a Steel Hawk’s ainda não possui os equipamentos oficiais da modalidade, como capacetes e uniformes. “Esses equipamentos são caros e importados. Chegam a custar de US$ 400 a US$ 800 [de R$ 670 a R$ 1340]”, explica o atleta, que garante que a Federação deve ajudar no custeio do material.
Para os novos integrantes, há toda a introdução necessária ao esporte, bem como explicação das regras e das jogadas básicas. Parte dos atletas do elenco atual fazia parte de outra equipe de futebol americano que existiu em Araras no ano passado. Os ararenses chegaram a fazer amistosos contra equipes do estado de São Paulo. Os comandantes do time de Araras afirmam que muitas cidades do interior de São Paulo, como Rio Claro, Ribeirão Preto e Sorocaba, entre outras, mantêm equipes de futebol americano. Mais informações sobre como integrar a Araras Steel Hawk’s podem ser obtidas pelos telefones (19)3544-8667 ou (19) 9246-2703.
gayem Piracicaba Comportamento
Noite Marina Carneiro falakieutiinterrompo@hotmail.com
A tribo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) está se tornando cada vez mais comum no cenário piracicabano. Prova disso são algumas casas noturnas voltadas inteiramente para esse público como é o caso do Nove e da E-DUB. Essas casas se tornaram famosas pelo espaço versátil, tranqüilo e pelo ambiente discreto e acolhedor que faz seu público se sentir despreocupado. O motivo de tanto sucesso, explica um dos proprietários da E-DUB, “é que trabalhamos com muito profissionalismo, muita luta e muito trabalho”. O proprietário, que não quis ser identificado, também
Casas noturnas dão atenção especial para este público
falou que juntamente com dois sócios (todos heteros) mantém um lema “qualidade com privacidade” e por isso não comentam muito em entrevistas sobre a rotina do lugar e seus freqüentadores. Porém Leandro, 25 anos, diz já ter ido a uma balada na casa e afirma que o clima é excelente “não vi brigas e nem desrespeito por parte dos heteros”. Sim, porque nessas festas vai gente de diferentes orientações. Camila, 19, hetero, tem namorado e disse já ter ido a uma festa acompanhada de dois amigos gays. “O ambiente é tranqüilo. Não recebi cantada de ninguém por estar com meus dois amigos” e continua, “mas o melhor mesmo é o som. nossa, a música é ótima!”.
Preconceito Mas se o preconceito não está dentro da balada, está fora dela. “Preconceito todo mundo sofre, gordo, magro, alto, baixo, gay e deficiente. Lógico que já sofri, a galera olha de lado, dá risadinhas mas eu nem ligo puxo meu namorado pela mão e saio assoviando” diz Leandro. O problema é quando o preconceito está dentro de casa. Algumas pessoas ainda acham que ser gay não é ser normal. “Minha avó paterna não fala comigo direito, ela acha que fiz um pacto com o demônio”, desabafa Ana que também diz já ter sofrido preconceitos na rua. “Tem sempre aqueles olhares, mas já estou acostumada”. Débora que é heterossexual e diz ter amigos gays comenta, “eu não sou a favor, mas
respeito. Acho bizarro, não é normal”. Mas se por um lado existe o preconceito, por outro existem aqueles que acham que ser bissexual está na moda. “Jjá beijei menina na balada que eu já conhecia e não imaginava que era bi”, conta Ana. E essa nova “moda” parece que conseguiu muitos adeptos. “Na minha turma tem umas meninas que querem falar que já beijaram outras, meninas. Acham que é moderno”, diz Antônio Carlos, 18 anos, também homossexual e adepto das baladas LGBT. Mas para essa tribo o que importa mesmo é ser feliz e seus integrantes não ligam para preconceitos ou para modinhas, “e se a moda for essa eu vou é aproveitar!”, finaliza Ana. * Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.
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Na Prática
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SOLIDÃO
Rodrigo Kivitz
Muitos adolescentes reservam parte do seu tempo para se conhecerem melhor
Ficar um pouco Paula Koester aproveita quando está sozinha para relaxar e ouvir música
pode fazer bem ao jovem Rodrigo Kivitz rodrigokivitz@hotmail.com
“Dizem que a solidão até que me cai bem”, confessa Renato Russo na letra da música Maurício, da banda de rock Legião Urbana. A solidão sempre esteve presente em músicas e poesias e com freqüência é associada à tristeza. Muitos jovens, pelo contrário, a encaram de uma outra forma. Acreditam que passar um tempo sozinho é importante em suas vidas. É o momento que reservam para se conhecerem melhor. Segundo a psicóloga Aparecida Donizete Cândido, a adolescência é marcada por intensas mudanças na vida social dos jovens. “A busca do autoconhecimento faz parte dessa etapa e pode ser benéfica para os adolescentes, fazendo-os amaA busca pelo durecer”, afirma. Para o estudante Thiago de autoconhecimento faz o Oliveira, 18 anos, a solidão é jovem amadurecer” necessária para pôr suas idéias em ordem. “Nós precisamos ficar a sós em algumas ocasiões para refletir sobre nossas ações e tomar decisões mais maduras no futuro” diz ele. Gabriela Gamarra, 17 anos, também acha que às vezes é fundamental tirar um tempo só pra ela. “Tanto que faço isso todos os dias. Penso um pouco em mim mesma. Me imagino fazendo faculdade e tendo a minha própria vida”. Gabriela admite que algumas vezes se sente solitária mesmo na presença de outras pessoas. Ela diz que seu grande companheiro é o seu paizão. “Só de olhar para mim ele sabe no que eu estou pensando. É ele quem me tira daquela solidão profunda”. Divertimento É possível se divertir com a solidão? Paula Koester,
18 anos, acha que sim. Ela conta que quando está sozinha gosta de ouvir música, dançar ou ler um livro. “Aproveito para relaxar e deixar os problemas de lado” comenta. Paula reconhece que é mais caseira e quando sai, prefere lugares mais calmos, longe das multidões. “Mas a solidão nem sempre é boa, porque não conseguimos evoluir nem crescer sozinhos”. Ela diz que sempre mantêm contato com os amigos e nunca os deixa de lado. Martha Costa Koester é mãe de Paula e afirma entender os momentos em que a filha quer ficar sozinha, procurando respeitá-los. “A intenção é sempre preservar o espaço dela sem ignorá-la”, disse. Mas se preocupa quando o isolamento é em excesso. “É difícil estabelecer um limite. Acho que é importante a solidão quando ela é esporádica. A solidão nem sempre é boa, Acredito que não se deve cultivar o isolamento”. porque não conseguimos
crescer sozinhos”
Socialização De acordo com a psicóloga Aparecida Donizete, é comum o jovem se afastar de seu ambiente social. “O adolescente precisa de espaço para administrar sua autonomia, por isso gosta de ficar sozinho em alguns momentos”, afirma. Porém, segundo ela, esse afastamento não pode ser muito prolongado para não prejudicar seu processo de socialização. “Os relacionamentos amadurecem no final da adolescência. Se o adolescente evitar os contatos sociais por muito tempo, ele poderá dar início a um isolamento prejudicial ao seu próprio desenvolvimento”, informa a psicóloga. Aparecida faz a ressalva de que em casos mais graves os jovens podem desenvolver pouca tolerância às frustrações, dando origem a uma fobia social, o temor excessivo de se expor aos outros.
Dicas de quem conhece “Quando era adolescente, me internava no quarto com os discos da Legião Urbana”, conta Gustavo Brigatti, jornalista, hoje com 27 anos. Gustavo diz que a adolescência foi um momento difícil para ele. “Eu achava que as pessoas me olhavam pensando ‘nossa, que tipo esquisito’, e tinha uma total incapacidade de me socializar com pessoas que não padeciam da mesma angústia existencialista que eu”, diz. Mas para ele isso não passou de uma fase. “É normal e com o tempo você desencana. Minha dica é viver de forma leve e cultivar o que te dá prazer”, aconselha Gustavo. A solidão pode fazer bem, contando que os contatos com amigos e familiares não sejam esquecidos. A psicóloga Aparecida dá algumas dicas para os adolescentes: “Procure conversar com as pessoas. Se envolva com atividades criativas como a escola e o trabalho e saia de casa sempre que puder para o lazer, como ir ao cinema e viajar”. Além de preservar os momentos em que quer ficar sozinho, dessa forma o jovem estará estimulando sua socialização.