Na Prática 30

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PUBLICAÇÃO LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIMEP ANO 7 – EDIÇÃO 30 – MARÇO/2013

Foto: Fábio Mendes

contexto regional

TANQUÃ:

UMA BELA PAISAGEM DEBAIXO DAS ÁGUAS ENSAIO FOTOGRÁFICO Volta Ciclística Internacional reúne 140 atletas de dez países

SOCIAL Filhos do Crack

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opinião

EDITORIAL

AQUELA VERSATILIDADE Flávio Hussni Mylena Arruda Para um jornal chegar às mãos dos leitores o processo envolve várias etapas: jornalistas apresentam pautas, entram em contato com as fontes, levantam e apuram dados, marcam entrevistas, organizam todo o material e começam a escrever a reportagem. O processo continua com a edição e correção do texto. Para as próximas etapas é preciso senso estético. No planejamento gráfico, o visual também é informação: pensar nos títulos e afins casados às fotos, nos infográficos, nas cores, etc. Cada coisa tem um lugar certo na composição da página e nada é aleatório. Daí a importância dos fotógrafos e diagramadores. As fotos e imagens são determinantes, pois devem captar a essência das matérias; bem como o trabalho do design gráfico que precisa harmonizar as informações em espaços delimitados. É o que vai dar personalidade ao jornal. Por trás de todas essas ações, está o olhar atento desses profissionais, que assumem a responsabilidade de criar um produto que preserve o jornal como um todo, mas também a individualidade de cada jornalista. Sem mencionar a dificuldade de lidar com pessoas que tem ideias, personalidades e estilos de escrever diferentes. É quase como um treino de comunicação, que precisa ser harmonioso, mas que também exige autoridade e espírito de liderança quando as coisas não vão bem. Para nós, editores-assistentes, a experiência foi ímpar. Pensamos e distribuímos as pautas, visualizamos as correções, acompanhamos o comprometimento dos repórteres, e a identificação e dificuldade de cada um com os temas escolhidos. Colocamos em prática todo o aprendizado adquirido. O trabalho não parou por ai, tivemos que encarar o problema de optar entre duas excelentes matérias para a capa de nossa edição. Selecionar algumas, dentre muitas fotos incríveis, e colaborar com ideias na hora da diagramação. Ufa! Foi um desafio e tanto. E o resultado você confere agora. Boa leitura!

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CRÔNICA

O RETORNO Paloma Barbosa Quem ler a matéria “Filhos do Crack” (p. 8 e 9) vai poder conhecer o lado mais humano do drama através da história de Dona Neide, que perdeu a filha para a droga. Eu, como uma aspirante repórter, tive a rica experiência de sentir na pele o sofrimento e a luta dessa mulher de fibra que precisou se tornar mãe de seus próprios netos. Essa pauta, para mim, foi

uma verdadeira escola de jornalismo. A casa de Dona Neide faz parte do meu trajeto diário para ir à faculdade. Quando passo perto daquela casa simples, tento ouvir os netos de Dona Neide brincando. É como se um pedaço de mim estivesse ficado por lá. Após a reportagem, prometi meu retorno, algumas fotografias das crianças para a avó (que comentou não ter nenhuma) e relógios de um personagem de desenho infantil para cada uma das crianças. Tinha a esperança de ver, ainda que por poucos minutos, o sorriso daquela família. Cumprindo minha promessa voltei à casa de Dona Neide e tive uma recepção

calorosa. Os gêmeos de cinco anos me abraçavam e já curiosos em relação às sacolas tentavam tirá-las de minhas mãos. Com os brinquedos novos, eufóricos, foram brincar. Por um momento ficamos apenas Dona Neide e eu. Perguntei como estavam as coisas, e animada, ela me contou os últimos detalhes e planos sobre sua aposentadoria: “Irei embora daqui. Levarei meus meninos para um lugar melhor”. Já sobre a filha, não tinha noticias. Voltei para casa em paz sentindo que fui, por mais um dia, uma heroína! Foto: Matheus Calligaris

EXPEDIENTE: Jornal laboratório dos alunos do 6º semestre de Jornalismo da Unimep – Reitor: Gustavo Jacques Dias Alvim – Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa – Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão – Edição: professora responsável Ana Camilla Negri (Mtb: 28.784) - Editores assistentes: Flávio Hussni e Mylena Arruda – Editor de diagramação: Matheus Calligaris - Diagramação do ensaio fotográfico: Laila Braghero - Editor de fotografia: Matheus Calligaris - Repórteres: Fábio Mendes, Isis Renata, Janaina Ferreira, Jessica Lopes, Laura Thomaz, Mariana Bittar, Matheus Calligaris, Natalia Mendes, Paloma Barbosa, Patrícia Milão, Polliani Coracini, Vanessa Martins, Vinícius Andriota

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saúde

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O OUTRO LADO DA PÍLULA

Apesar de ser um dos métodos contraceptivos mais utilizados no país, a pílula anticoncepcional combinada aquela que contém estrógeno e progesterona – deve ser utilizada com o devido acompanhamento e orientação. Janaina Ferreira Vanessa Martins

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pílula anticoncepcional combinada (estrógeno e progesterona) é um dos métodos mais usados para o controle da natalidade, marcando a história da liberdade sexual feminina. Porém, sua eficácia deve estar relacionada ao uso correto do medicamento e ao devido acompanhamento médico. O problema é que o povo brasileiro tem uma forte tendência à automedicação e ao uso incorreto dos remédios em geral. O que se reflete no uso da pílula, principalmente nas jovens garotas que iniciam a vida sexual. No Brasil, a pílula se tornou conhecida do público feminino em 1960, e nesse início a quantidade de hormônios era muito maior. “Hoje em dia, ela se tornou menos agressiva para a saúde”, afirma o ginecologista João Enrique Blumer. Apesar da quantidade de hormônio ter diminuído, os riscos não. Nos EUA, por exemplo, anticoncepcionais que contêm drospirenona entraram na mira da FDA (agência que regula produtos farmacêuticos e alimentícios) devido a estudos apontarem o consumo dessa substância à má circulação sanguínea, aumentando o risco de trombose. Por serem vendidas sem prescrição médica a situação se agrava, principalmente no uso indiscriminado da pílula por jovens que não querem que os pais saibam sobre o início de sua vida sexual, destaca a farmacêutica e enfermeira Letícia Vidal “é muito comum as mulheres se automedicarem”. Para iniciar a contracepção, não necessariamente a mulher precisa fazer o uso da pílula combinada, pois a medicina dispõe de diversos outros métodos não hormonais com a mesma eficácia. Por isso é preciso uma consulta detalhada para que o médico avalie e oriente alguns pontos, como por exemplo, início

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da atividade sexual, quantidade de parceiros, disfunção menstrual, além de histórico de hábitos (como o tabagismo e uso de antibióticos) e doenças prévias (doença cardiovascular, insuficiência hepática, enxaqueca). “A mulher com mais de 35 anos que fuma mais de 15 cigarros por dia, é

cólicas, pois já vi que com os anticoncepcionais fico ainda pior”. Não devem ser desconsiderados os danos que podem vir a ocorrer ao usar esse método contraceptivo, como alerta a ginecologista Maria Esther, “Como qualquer medicamento tem também contra indicaFoto: Matheus Calligaris

Maria Esther destaca as irregularidades menstruais, cólicas menstruais, tratamento de acne, controle de patologias uterinas, tratamento da síndrome dos ováriospolicísticos, TPM, além de anemias e outras enfermidades. Antes de começar a tomar a pílula anticoncepcional, é importante consultar um ginecologista de confiança para que sejam feitos os exames necessários e escolhido o método contraceptivo mais indicado para cada mulher. “A paciente pensa somente em evitar gravidez, quando deveria se preocupar no risco de contrair doenças como a hepatite B, HIV, sífilis”, lembra Rosamilia.

Os malefícios da pílula do dia seguinte

Atualmente no mercado há diversas marcas de anticoncepcionais com componentes diversificados

uma contra-indicação absoluta; não deveria tomar o medicamento”, exemplifica o médico Walter Rosamilia, clínico geral. “Outro exemplo é o uso da pílula associada a alguns tipos de antibiótico. A maioria desconhece, mas o antibiótico tira o efeito da pílula, deixando a mulher suscetível a uma possível gravidez”. A estudante de administração Franciely Agioto, conta que foi ao ginecologista para ver como poderia diminuir as dores da cólica menstrual. Depois de varias perguntas e exames o médico receitou um anticoncepcional. Duas horas depois que ingeriu o medicamento, começou a sentir tonturas, enjoos, chegando a desmaiar. Franciely teve uma reação alérgica ao medicamento: “prefiro continuar com as

ções, dependendo dos seus componentes”. Atualmente há uma grande variedade de anticoncepcionais orais, sendo necessária a avaliação risco e benefício de cada remédio, além de depender do histórico e perfil de cada paciente. “Riscos de problemas circulatórios, hepáticos, oncológicos, metabólicos e até mesmo relacionados a disfunções sexuais devem ser avaliados na prescrição”. finaliza. Por esses motivos teria que ser rigoroso o processo ao receitar a pílula anticoncepcional, “é indispensável conhecer a paciente e seu histórico genético, para avaliar se ela pode ou não fazer o uso”, como ressalta Blumer. Entretanto a pílula não é usada somente para diminuir os riscos de uma gravidez. Seu uso é associado a outros tratamentos.

Por possuir uma carga altíssima de hormônios a pílula do dia seguinte, como é conhecida, é recomendada somente em casos muito especiais, como a falha da camisinha. A ginecologista Maria Esther explica como funciona esse tipo de medicação no organismo: “Se a mulher ainda não ovulou, a pílula retarda a liberação de um novo óvulo. Se a ovulação já ocorreu, ele acelera a descamação da camada que recobre o útero para não receber o óvulo fecundado”. Na farmácia a quantidade da pílulas de emergência vendidas diariamente é grande, e como explica à farmacêutica Leticia Vidal, isso acontece pela facilidade na compra: “infelizmente não precisa de receita médica”.

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especial

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TANQUÃ: UMA BELA PAISAGEM DEBAIXO D’ÁGUA

Às margens da bacia do rio Piracicaba, a comunidade de aproximadamente 90 pessoas do bairro tem destino incerto a partir de 2014 Fotos: Fábio Mendes

Aves que constantemente são vistas na vegetação do lago e enfeitam o céu do bairro de Tanquã podem sumir com a cheia da barragem, obrigando-as a procurarem outro local com alimento

Fábio Mendes Polliani Coracini

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o projeto de construção da barragem de Santa Maria da Serra, que vai transformar em navegável um trecho do Rio Piracicaba, o “pantanal piracicabano” -como é conhecido o bairro Tanquã - será transformado em um lago permanente. A barragem faz parte do projeto de ampliação da Hidrovia Tietê-Paraná, que visa aumentar a navegabilidade pelos rios da região. Com a elevação da água, alguns moradores da região deverão ser retirados por meio de uma desapropriação de terra. Segundo o autor do projeto de criação da barragem, o deputado federal Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB) o pro-

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jeto é benéfico: “com a integração do rio Piracicaba à hidrovia Tietê-Paraná, abre-se um leque de opções, como a criação de circuitos turísticos com barcos, hotéis e pousadas, incentivo à prática de esporte e lazer aquáticos, sedes de fazendas e pequenos sítios podem ser transformados em excelentes opções para quem deseja descansar”, afirma. Os primeiros estudos para a construção da barragem de Santa Maria da Serra datam 1977 e foram realizados pela Portobrás, órgão extinto numa reforma administrativa feita pelo Estado. Desde então os moradores convivem com a possibilidade de perderem todo seu patrimônio. Mas desta vez duas licitações foram aprovadas. O pescador Rodrigo, 30, nascido e criado no Tanquã, não acredita mais nas

promessas políticas para a região: “ouço isso desde que nasci, tenho o jornal que o meu pai guardou sobre esta barragem. Já faz dez anos que ele faleceu”, ironiza o pescador. A primeira licitação foi para contratar o gestor da obra e a segunda para contratar a empresa que fará a revisão do projeto, inclusive do meio ambiente, e também apresentar soluções para as famílias tradicionais do Tanquã. Esta segunda fase tem o prazo de conclusão para 2014. “Durante este tempo deverá sair mais duas licitações além dessas. Uma para contratar a empresa que vai gerar e comercializará a energia e a outra licitação é para a construção do porto de Ártemis”, afirma José Antonio de Godoy, Secretário de Governo de Piracicaba e presidente da Comis-

são de Acompanhamento e Investimentos em Obras na Hidrovia Tietê-Paraná. O bairro povoado no início da década de 60 é local de relação diária com a natureza, a implantação da represa de Barra Bonita possibilitou a subsistência por meio da pesca e da pequena agricultura, uma década depois chegou a eletricidade. O bairro recebeu o apelido de Tanquã exatamente por causa da vegetação que se forma no meio do Rio, facilitando a vinda de pássaros que hoje enfeitam os céus do distrito. Com a barragem, os mesmos correm o risco de sumir da região. Devido à cheia provocada pela barragem, a vegetação será inundada e, consequentemente, as aves procurarão outro local com alimento. O acesso terrestre ao bairro é feito pela rodovia 147 que liga Piracica-

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ba a cidade de Anhembi. Do início da rodovia até o bairro são 50 quilômetros de asfalto e mais seis quilômetros de estrada de terra. O que uma represa trouxe outra represa levará. As águas se elevarão no rio Piracicaba até a quota de 457,0 metros sob o nível do mar, garantindo ao rio no mínimo 3 metros de profundidade da água durante todo o ano e um desnível de 13,5 metros da barragem até o porto de Ártemis. Isto possibilitará a navegação de 55 quilômetros do rio Piracicaba. Esse trecho vai do distrito de Ártemis até o reservatório de Barra Bonita. Deste ponto, o Tietê é navegável até encontrar o rio Paraná, compondo a hidrovia. Os moradores já sentem os impactos do projeto. “Disseram que o rio poderá subir de 6 até 13 metros, pode ser que não inunde todo o bairro, mas se as águas subirem a 13 metros some tudo”, explica o morador do Tanquã, Geraldo Magela Ghiso. Além do turismo, a hidrovia contemplará o transporte de cargas, visando desafogar as estradas da região dos caminhões que levam e trazem produtos dos mais variados. Um destes produtos é a cana-de-açúcar, que em 2004 chegou a 779.315 toneladas transportadas pela hidrovia Tietê-Paraná, segundo dados da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo. Segundo Thame, a cada mil toneladas transportadas, a hidrovia gasta

pelo fato da barragem também ser aproveitada para gerar energia elétrica. O projeto prevê reaproveitamento da represa para gerar energia elétrica, cerca de 10 megawatts; porém, a prioridade é a hi-

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10h. Às 15h montamos as redes e às 18h recolhemos. O nosso peixe é o melhor da região. Aqui pescamos traíra, mandi, corvina, pacu, carpa entre outros. Retiramos 15 quilos de peixe por dia, mas já houve

Com a saída iminente, pescadores não sabem qual atividade exercerão fora do Tanquã

drovia, ou seja, a produção de energia não interferirá na construção da barragem. “Ainda não dá para saber se a cota da barragem inundará todo o Tanquã. Mesmo que não inunde, uma parcela deverá sair da mesma forma, pois também estão em área de preservação permanente, e há riscos de enchentes que já ocorrem, mas que se potencializarão com a barragem”, sina-

Carlos César, morador do bairro há mais de 23 anos, utiliza o rio todos os dias para pesca

5 litros de diesel, contra 96 litros pela rodovia, a economia seria da ordem US$ 2,5 bilhões por ano. Os 13 metros anunciados por Ghiso é

especial

liza Godoy. A rotina dos moradores do Tanquã está diretamente relacionada ao rio. “Vou ao rio para pescar todos os dias, das 6h às

um tempo que pescávamos 200 quilos por dia”, conta o pescador Carlos César Giacomini, morador do bairro há 23 anos. Para Giacomini sua preocupação em sair do local é saber qual atividade exercer fora dali, “eu gostaria de ficar, além da pesca tenho meu bar. Minha mulher tem 42 anos de idade, nasceu aqui. Ela pesca há 23 anos de forma legal e dentro de dois anos se aposenta. Temos documento para pescar, mas não temos estudo. Hoje tem escola próxima, mas em nossa época não havia”, explica. Segundo Godoy existe três situações de moradores. Os que estão há mais de 30 anos, seis ou sete famílias, que vivem com os recursos do rio. Tem os rancheiros que construíram seus ranchos em APPs (área de preservação permanente) e estão ilegais. E por último um pessoal que se instalou há pouco tempo na região e se diz morador antigo. Para ele, cada situação terá o seu tratamento adequado. “Quem construiu em APPs terá que sair, pois nem deveria estar ali. Estes que chegaram recentemente e exploram a região e não fazem parte das famílias pioneiras terão que abandonar, pois são invasores da região. Já para as famílias antigas que vivem de pesca e da agricultura, com suas pequenas lavouras, a ideia é programar projetos de criação de peixes na região. Queremos que continuem vivendo da pesca, mas de cativeiro”, diz. As informações de Godoy

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contradizem as preocupações do Ghiso, “se o rio subir 13 metros haverá a necessidade de um repovoamento de peixes, só que isso levará cerca de seis anos, pois é muita água”, afirma. O morador reclama da desinformação das autoridades, “ficamos de mãos atadas, pois a inundação é conversa velha, enquanto isso não posso fazer melhorias no meu bar e em minha casa. Adianta investir para depois a água cobrir tudo, quem pagará a conta?”, finaliza. O bairro do Tanquã é conhecido popularmente como o “pantanal paulista”, pela sua biodiversidade. Na época das cheias o local se transforma em parada obrigatória para pássaros e outros bichos que utilizam a água para sua sobrevivência. Alguns exemplos de aves que migram até o local são o tuiuiú, pato de crista, algumas espécies de gaviões e tucanos. “Temos clareza do que será destruído é, uma condição sine qua non de um ecossistema com uma biodiversidade específica desaparecer. Talvez o que temos ali, tenha maior valor do que toda esta obra a ser produzida, mas vamos esperar projeto executivo com os estudos de impacto ambiental, sem ele não podemos nos posicionar”, diz o engenheiro agrônomo e ambientalista, Ricardo Schmidt, da Florespi (Associação de Recuperação Florestal das Bacias do Rio Piracicaba e Região).

Barcos de pescas deixarão de ser usados

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ensaio

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, Volta Ciclistica Internacional etapa Rio Claro/Sorocaba Fernando Carvalho

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Volta Ciclística Internacional do Estado de São Paulo é uma competição anual de ciclismo profissional de estrada disputada por etapas. Aconteceu pela primeira vez em 2004, e no ano seguinte passou a fazer parte da União Ciclística Internacional (UCI) da América Tour como corrida de categoria 2.2. A competição deste ano teve oito etapas, percorrendo uma distância total de 962 km passando por mais de 50 cidades do interior paulista. Acompanhamos a 4ª etapa do evento, em 17 de outubro, com saída de Rio Claro e chegada em

Sorocaba. Foram percorridos 179 km em uma disputa acirrada que durou cerca de três horas e meia. No final, venceu o Argentino Edgardo Simon, da equipe Real Cycling Team. Das nove edições disputadas até hoje, sete foram vencidas por um brasileiro.

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social

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FILHOS DO CRACK: O MUNDO DAS DROGAS QUE CHEGA AO VENTRE MATERNO Isis Renata

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consumo de crack no Brasil é assustador. Um levantamento divulgado em setembro do ano passado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que o país é o segundo com maior consumo de crack no mundo, correspondendo a 2,8 milhões de usuários. De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas (2005), o consumo dessas substâncias ainda é maior entre os homens, mas são as mulheres que lideram o ranking no índice de dependência: são 54% contra 46%, segundo a pesquisa da Unifesp. Hospitais universitários da região, apesar de não possuírem estatísticas confirmadas, têm registrado um aumento no número de mães dependentes de crack, que consomem a droga durante toda a gravidez causando sérios problemas ao bebê. De acordo com a ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) os filhos de usuárias da substância correm riscos desde o útero, estando sujeitos a sequelas físicas e neurológicas. Sem contar os problemas sociais a que estão expostos, como a falta de um lar, já que a família por muitas vezes encontra-se desestruturada, sofrendo com a violência doméstica. Em Santa Bárbara d’Oeste o órgão responsável por esse acompanhamento é o Centro de Referência em Assistência Social (CREAS), que dispõe de uma equipe multidisciplinar para o acompanhamento das gestantes. “As grávidas são acompanhadas pelo CREAS quando os vínculos familiares estão fragilizados ou vivenciam situações de violações de direitos. É disponibilizado o acompanhamento psicossocial e jurídico”, explica a psicóloga da entidade, Patrícia da Costa. Os procedimentos de imediato que as grávidas usuárias realizam é a realização do pré-natal. “Grande parte dessas mulheres não tiveram acompanhamento médico ou sequer sabiam sobre a gravidez até chegarem aqui”, conta. Na cidade de Limeira, as mães que são encaminhadas para acompanhamento médico, em geral, estão em estado debilitado, e por isso, os profissionais orientam

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sobre os riscos do uso do crack na gestação, “tentamos fazer com que a paciente tenha um pré-natal tranquilo, mas nem

drogas”, explica o Dr. Rodrigo Ferreira Lakis, ginecologista e obstetra especializado em gestação de alto risco, do HospiFoto: Matheus Calligaris

Número em crescimento de gestantes usuárias de crack é preocupante

sempre é possível, por isso aconselhamos as gestantes sempre a ficarem em alerta com qualquer alteração que possa acontecer. Nossa maior preocupação fica por conta dos abortos recorrentes do uso das

tal Santa Casa de Limeira. As complicações decorrentes do uso do crack, além do risco de óbito da gestante e da criança, são diversas. Uma delas é a desnutrição de ambos, refletindo também

após o nascimento da criança. “Frequentemente o comportamento dessas crianças tende a ser agitado, com choro intenso e sinais de abstinência da droga da qual se tornaram também dependentes”, afirma o Prof. Dr. Belmiro Gonçalves Pereira, Diretor da Divisão de Obstetrícia do Hospital da Mulher, da Unicamp. A síndrome de abstinência nos recém-nascidos vai além do choro estridente, inclui febre diarreia vômitos, tremores e até convulsões. A longo prazo, essas crianças que tiveram contato com a droga ainda na barriga da mãe, podem desenvolver anomalias do sono, déficit de aprendizado, atraso no desenvolvimento do raciocínio e prejuízo na compreensão da linguagem e na memória. Daí a necessidade dos cuidados com mãe e filho por parte de órgãos diversos da sociedade. Se o pré-natal e o parto forem de sucesso, os órgãos responsáveis já partem para o próximo passo, que são os cuidados com o bebê. “Se houver intervenção do Conselho Tutelar, o recém-nascido pode ser afastado da mãe e entregue a um lar substituto, que pode ser da própria família. Se a criança apresentar sintomas de abstinência, fica internada por um período mais prolongado”, ressalta Dr. Pereira, da Unicamp. É de suma importância que a família esteja ciente dos acontecimentos, evitando que a criança seja levada para adoção. Para isso, a equipe da Saúde Mental de Limeira trabalha especialmente visando o vinculo familiar. “Consideramos a família como base do tratamento, pois ela precisa repensar em várias situações de suas vivências, o que precisa ser modificado nestas relações”, explica a coordenadora de Saúde Mental de Limeira, Tânia Mileny Seraphim. As mães também têm a oportunidade de tratamento. De acordo com Jair Costa, orientador sócio educativo do CREAS de Santa Bárbara, os órgãos públicos oferecem locais para recuperação da dependência química e o resgate dos vínculos familiares. “Temos parceiros em outras cidades vizinhas que colaboram na internação dessas mulheres e total acompanhamento para sua melhoria”, conta.

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QUANDO A AVÓ É A MÃE DE SEUS NETOS O CICLO NATURAL DA VIDA ESTÁ SENDO ALTERADO. AS AVÓS SE TORNAM MÃES DE SEUS PRÓPRIOS NETOS POR PERDEREM AS FILHAS PARA O CRACK Fotos: Paloma Barbosa

teu na própria mãe, que enfurecida jogou-lhe pedras e até tentou feri-lo como uma lajota. O pouco tempo de atenção que cedi ao garoto foi o suficiente para perceber que em 12 anos de vida suas lembranças revoltantes transparecem. Resultado: um comportamento agressivo e ofensivo amenizado pelo acompanhamento psicológico e pelo uso de calmantes. Já os gêmeos ainda parecem estar fora de toda essa cruel realidaMesmo presenciando de perto o drama da mãe, os meninos encontram na avó um porto-seguro de. Com olhos brilhantes e sorrisos inabaláveis, as crianças são Paloma Barbosa Só uma porta ainda de pé graças a uma agitadíssimas. Ao mesmo tempo em que corda amarrada na parede; as outras fo- são incontroláveis (ao ponto que precisei Sempre soube que a carreira de ram todas arrombadas nos acessos de fú- “brincar de estátua” para tirar a foto para a jornalismo não seria fácil. Mas rias e alucinações da filha. Porém, a paisa- reportagem) são doces e sonhadoras. Penão imaginava que ainda como gem angustiante é suavizada pelos sinais dem a todo o momento presentes, como aspirante sofreria um “choque de de que há crianças morando ali: a bola, a uma bicicleta, um relógio de personagem realidade” destes ao produzir uma bicicleta, as roupas e sapatos infantis es- de desenho e refrigerante. Parecem conmatéria para o jornal-laboratório palhados pela casa. seguir manter a pureza de sua infância em da universidade. A partir da pauOs meninos uma situação complexa demais até para os ta: o uso do crack na gravidez, coA alegria chega à casa da Dona Neide adultos. mecei a apuração das informações de segunda a sexta às 17h30 quando seus Entretanto, em alguns momentos, mosnum típico bairro suburbano de netos voltam do Centro Infantil. Neste tram a influência negativa da mãe falando Limeira. dia, a pedido da avó, fui eu quem os re- palavras de baixo calão e fazendo brincaDentre as casas com estruturas cepcionei, e em agradecimento pela visita, deiras sugestivas. Um fato que me causou parecidas, atrás de um prédio do ganhei um abraço apertado de cada um. espanto foi que, ao questionar a avó soconjunto habitacional, pude ouvir Os gêmeos de cinco anos gritam, pulam, bre quais outras drogas sua filha usaria, a gritaria já no portão: “Vou para a brincam incessantemente e não dão folga um dos gêmeos já se adiantou: “Pedra, rua. Porque só na rua tenho paz”. para a avó. Notei que os netos a chamam tia. Pedra!”. Dando mais corda ao papo Essa frase veio de uma usuária de de “mãe”, e a mãe biológica é tratada pelo do garoto, perguntei “Você já viu sua mãe crack que, revoltada com o fato nome: Daniele. Os gêmeos ficaram ainda usando pedra?” E impulsivamente o mede sua mãe não dar dinheiro para mais agitados quando o irmão mais velho nino acenou que sim com a cabeça. sustentar seu vício, descontou toda retornou para a casa. A avó sua frustração no humilde portão. Sem estar estudando, o rapaz de 12 Dona Neide é uma senhora de olhos Atrás daquele portão, o drama fa- anos prefere ficar na rua enquanto a avó exaustos. Mesmo tendo apenas 59 anos, miliar de Dona Neide, mãe da vi- está trabalhando, pois teme encontrar a carrega no rosto fortes marcas de uma ciada. Cansada da situação, estava mãe em casa: “Eu não gosto dela porque vida sofrida. Segundo Dona Neide, sua disposta a contar sua história e de ela também não gosta de mim”, diz o ga- filha ainda na adolescência, começou a seus netos. roto. Dona Neide ainda complementou o andar com más companhias e foi questão A chegada desabafo do neto: “Ela diz que não queria de tempo para que entrasse no mundo A casa humilde se encontra em ter ele, que deveria ter abortado”. A impli- das drogas. Quando tinha 22 anos enuma situação lamentável. Ao me cância entre os dois vai além da agressão gravidou. Estava tão envolvida no munsentar no sofá duro percebi que verbal. Certa vez, para defender a avó das do das drogas que ficou praticamente os praticamente tudo está quebrado. ofensas e ameaças da filha, o menino ba- nove meses de gestação nas ruas. A avó foi

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avisada por uma assistente social que seu neto tinha nascido e precisava de um lar. Na gravidez dos gêmeos a mãe intercalava dias em casa e dias na “biqueira”, porque precisava de constante observação médica devido ao processo de cerclagem (que é uma “costura” do colo do útero da grávida, a fim de se evitar o nascimento prematuro). Só foi mãe nesses momentos, pois após o parto as crianças se tornaram responsabilidade total da avó. É para seus netos que Dona Neide vive. Os outros membros da família já disseram que não irão cuidar das crianças caso a avó venha a faltar. Prestes a se aposentar, planeja se mudar e deixar a filha na rua, já que prefere seus netos a ela, além de temer que o péssimo exemplo prejudique a criação dos meninos. Para finalizar, Dona Neide conta o que sonha para seus netos: “Quero que se tornem homens de bem, que sejam estudados e trabalhadores. Não quero que sejam como a mãe”, deseja a avó.

Dona Neide carrega nos olhos cansados todo o sofrimento que passa com o vício da filha

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cidades

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ANDARILHOS DE QUATRO PATAS

Alto número de animais abandonados nas ruas preocupa ONGs da região que trabalham em busca de soluções

Natália Mendes Vinícius Montebello

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número de animais abandonados no Brasil cresce a cada ano e no interior de São Paulo não é diferente. Em Piracicaba, por exemplo, estima-se um total de 15 mil animais abandonados, segundo dados da ONG Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais (SPPA). Já em Americana, não há estimativa oficial. A dificuldade em chegar a um número existe devido à rápida reprodução desses animais. Tanto em Piracicaba quanto em Americana, há locais onde animais são abandonados com bastante frequência. Em Americana, os pontos mais comuns de abandono sãos os bairros Jardim da Paz, Praia Azul e Mathiensen, e em pontos mais afastados, como a Estrada da Balsa e Parque Novo Mundo. Já em Piracicaba, o Cemitério da Saudade, as margens do Piracicamirim, o Parque da Rua do Porto e a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) são os locais mais visados para o abandono. A situação é alarmante. Andando pelo Cemitério da Saudade, por exemplo, é impossível não encontrar gatos abandonados em quase todas as vielas entre os túmulos. “A SPPA realiza projetos com os gatos desde 1996. Somente neste ano castramos mais de 130 gatos e temos dois voluntários que são exclusivos do cemitério. Eles recolhem e transportam para castração e tratamento”, relatou Cristiane Naval, da SPPA. Segundo a voluntária da ONG piracicabana, também são realizadas feiras de adoção dos filhotes, mas com o frequente abandono de mais gatos, os animais não castrados se reproduzem constantemente, e como algumas pessoas deixam água e comida no cemitério para os gatos se alimentarem, a situação permanece sem solução. A tendência é que as pessoas

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continuem abandonando seus animais no cemitério. O assunto ficou ainda mais sério quando gatos do cemitério começaram a ser mortos. A SPPA então fez uma denúncia ao Ministério Público e aguarda a cobran-

crianças que acreditamos na mudança, as conscientizando teremos um futuro melhor para os nossos animais, pois o adulto já tem sua personalidade formada e é mais difícil de conseguir mudar isso, agora a criança está em desenvolvimento e se Foto: Vinícius Montebello

Pessoas deixam ração para os animais abandonados, o que faz com que mais gatos se concentrem no lugar.

ça do Promotor para colocação de telas e câmeras para evitar o abandono. Em Americana, também há ONGs buscando soluções aos mesmos problemas, como a Animais Tem Voz, a Apaasfa (Associação Protetora dos Animais de Americana São Francisco de Assis) e a Anjos Peludos, que assim como a SPPA e a Vira Lata Vira Vida (que trabalha apenas com cães) de Piracicaba, realizam projetos de adoção, cuidados com a saúde de animais abandonados e campanhas para conscientizar as pessoas sobre o abandono dos bichos. A ONG Anjos Peludos tem um projeto voltado às escolas para conscientizar as crianças. “A escola é onde devemos começar a conscientização, pois é com as

torna muito mais fácil a conscientização”, explica Cristiane Ochuiuto Marques, presidente da ONG. A ONG Animais Tem Voz vem trabalhando para que as leis de proteção aos animais se façam valer em Americana para que sejam aplicadas as penalidades previstas em caso de maus tratos. A conscientização é uma das maneiras mais eficientes de se lutar contra o abandono e por isso é um dos focos de todas as ONGs citadas nessa reportagem. Outra maneira importante de controlar o abandono é a chipagem de animais realizada em Americana pelas ONGs e em Piracicaba pelo centro de zoonose.

Microchipagem de animais A microchipagem tem como objetivo a identificação de animais num só cadastro de banco de dados. A ideia é interessante nos casos de roubo, perda e controle desses animais. Em 2008 foi oficialmente inaugurado em Americana o projeto “CãoChorro & Outros Bichos – Integração Para A Posse Responsável” em parceria com a prefeitura. O projeto baseia-se na identificação de animais e seus proprietários a partir do método de ‘chipagem’ que consiste no implante de um microchip em gatos, cachorros e equinos. O microchip armazena várias informações como o contato do proprietário e a ficha completa do animal para uso em caso de abandono ou emergência. Em Americana, a microchipagem é feita no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de forma gratuita para famílias de baixa renda. As clínicas veterinárias cadastradas no projeto realizam o procedimento de microchipagem com custo de até R$ 60,00. Esse valor é significativo, já que não existe taxa de manutenção. Em parceria, a Anjos Peludos realiza as doações dos animais já com o chip implantado. Todos os animais recolhidos pelo CCZ também recebem o implante do chip antes de serem doados O Centro de Zoonoses de Piracicaba também chipa os animais que seguem para adoção, e em julho de 2012, a ONG Vira Lata Vira Vida recebeu em doação de uma empresa especializada em microchipagem, cerca de 375 chips para poder identificar seus animais.

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economia

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CRIATIVIDADE TRANSFORMA SIMPLES IDEIAS EM DINHEIRO Patrícia Milão

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m todo lugar que se frequente - trabalho, faculdade ou mesmo a casa de algum conhecido sempre há quem venda “alguma coisinha” para complementar a renda ou manter o próprio sustento. Essa prática gera a expressão ‘trabalho informal’, presente em todos os locais de convívio que apresentam ambulantes em ação. Pessoas oferecem os mais diferentes produtos. Por hobby, indicação ou pura necessidade financeira, a ideia de “fazer algo a mais” pelo ganho mensal é variada. Em Tatuí, há oito anos, Milena Dias vive da venda de doces. O jeito tímido não dá conta da propaganda que fica pelo boca a boca dos clientes. Ela começou com a venda de algumas cocadas que eram levadas para a empresa da qual havia sido demitida. O sucesso incentivou continuar. “Fiquei um ano e pouco parada. Teve uma promoção de coco no supermercado e minha cunhada deu a ideia e disse que venderia para mim”, conta Milena. De terça a sexta ela acorda às cinco da manhã para fazer os doces e, ao meio dia e meio, – com trufas, pavês, cones, bolos e cocadas nas malas térmicas – segue com sua motocicleta para rota de venda, com locais e horários certos para cada dia da semana. “Levo três bolsas, porém volto de uma a duas vezes para encher de novo”, diz.

O esforço trouxe recompensas. Mesmo tendo de acordar junto ao canto do galo Milena tem uma funcionária fixa para a qual contribui com a previdência social, convênio médico e salário de R$1.200, além de já estar construindo sua segunda casa de aluguel. “Já cheguei a fazer 2500 ovos”, diz sobre a época da Páscoa em que tem maior retorno financeiro. Não, é somente pela boca que a clientela é atraída, a fama pode ser gerada pelo jeito típico do interior. O caso de Alaíde de Almeida começou assim, com um salão de beleza improvisado, após terminar um curso de estética. “Eu não tinha sala, improvisei meu salão na minha casa”, afirma Alaíde, que há 18 anos atua na área de beleza, e hoje tira férias de, no máximo, dez dias por ano. A jornada de trabalho fica por conta das necessidades das clientes. “Já cheguei a entrar às 6h30. O mais tarde que saí, foi por volta d a s 22h40.

Isso em final de ano na época das festas”, relembra. Há quem saia da forma convencional de atuação “ao vivo e em cores” para utilizar as redes sociais e a internet, com o intuito de conseguir visibilidade e expansão do público consumidor. O Facebook, atualmente com 54 milhões de usuários no Brasil e mais de um bilhão no mundo, virou um grande filão para os interessados na economia informal. “É uma ponte de vendas para clientes de outras cidade e regiões”, afirma Thaís Moura, que fabrica bolsas e carteiras para a sua marca Gato&Sapato, em Piracicaba. Prova do próprio sucesso é a associação imediata de abrangência com redes sociais. “Quando eu tive a ideia de vender meus produtos, meu primeiro plano foi venda pela internet. Então corri para o computador, criei uma

página no ‘Face’ e comecei a divulgar”, conta. Michele Estevam, de Piracicaba, fabricava bijuterias para consumo próprio, e após pedido de uma amiga começou a vender. Hoje, junto a uma sócia, é dona da marca Belle Zoé, de semi-jóias. A rede social cumpre o papel de vitrine dos acessórios, já que, com o trabalho fixo, ela não teria tempo hábil para fazer propaganda de seus produtos. “Tem sido fundamental para a consolidação da nossa marca, prospecção de clientes e agilidade nos contatos”, afirma Michele. (Colaborou: Matheus Calligaris) Foto: Matheus Calligaris

Thaís Moura e seus instrumentos de trabalho utilizados para a fabricação de seus produtos, como bolsas e carteiras, da sua marca Gato&Sapato

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esportes

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MENINO NÃO ENTRA

Esporte disputado sobre patins, o Roller Rerby aos poucos ganha visibilidade na região

No esporte as jogadoras utilizam o próprio corpo como ferramenta de bloqueio

Jessica Lopes Laura Thomaz

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inco garotas – com muito estilo e atitude – usando como extensão do corpo patins tipo quad, correm em uma pista em busca de pontos. O diferencial: não existe nenhuma bola envolvida nesse jogo. A grosso modo, essa é a definição do roller derby, esporte que surgiu no Texas na década de 1930, como corrida de resistência sobre patins. Adaptado para os dias de hoje, o esporte chama atenção de garotas de várias idades e biotipos. Sem deixar de lado a feminilidade – as meninas jogam maquiadas – as participantes praticam o esporte com devida proteção: joelheira, munhequeira, cotoveleira, capacete e protetor bucal, pois o roller rerby é um esporte de contato, com bloqueios e quedas. A pontuação se dá através da passagem da jammer (atacante, que utiliza um capacete com uma estrela) pelas blockers do time adversário (que como o nome já diz, são bloqueadoras e usam capacetes comuns), sendo que uma delas é a pivot (representada por uma lista no capacete), responsável por controlar a velocidade do grupo. E para impedir o time adversário de pontuar, as blockers seguram a jammer adversária no pack (bloqueio), utilizando para isso o próprio corpo enquanto bloqueiam e devem ajudar a jammer do seu time a pontuar, pois a cada adversária do bloqueio que é

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ultrapassada, o time marca um ponto. Os bouts (como são chamados os jogos) são divididos em jams, ou seja, partidas que duram cerca de dois minutos. O intervalo entre uma jam e outra é de apenas 30 segundos, sendo que o bout é dividido em duas metades de 30 minutos, com número ilimitado de jams. Originalmente o jogo exige uma pista inclinada, as banked tracks. No Brasil, as esportistas utilizam pistas planas, as flat tracks. E foi em uma flat track que aconteceu um jogo-treino de roller derby em Piracicaba, com o time local, as Red Feet Roller Derby enfrentando as Ladies of Helltown, de São Paulo, precursoras da modalidade no país.

O evento, realizado no Clube Lusitano, quadra onde treina o time de Piracicaba, teve como objetivo apresentar o esporte à região, além de aprimorar e proporcionar mais experiências para as meninas do time local. A estudante Ana Paula de Souza, 22 anos, fresh-meat (termo usado para definir as iniciantes no esporte) do Red Feet afirma que o evento atendeu suas expectativas. “Como parte da Red Feet tivemos a oportunidade de aprender com uma liga muito mais experiente que a nossa.”, disse. O esporte, relativamente novo no país, tem como base o “Do it Yourself ” (Faça-você-mesmo), e ao contrário do que muitos imaginam, não existe rivalidade fora de campo. “Esse intercâmbio de conhecimento foi muito rico”, contou. Uma das fundadoras do time Red Feet – ou sua nova família, como ela afirma – Flavia Dias de Aguiar, 29 anos, conheceu o esporte há quase três anos, e junto a duas amigas iniciou o que hoje é o Red Feet, o seu “projeto de diversão, rock and roll e atitude”, como define. Cada vez mais respeitadas e organizadas, com direito a uma associação internacional que regula as regras do jogo, WFTDA (Women’s Flat Track Derby Association), as ligas de roller derby no Brasil continuam recrutando novas jogadoras. “Estamos em busca de novas meninas interessadas em praticar o esporte.”, explicou Erich Vallim Vicente, treinador do time. O único requisito diz respeito à idade das jogadoras, sendo necessário ter no mínimo 18 anos, independente do tipo Fotos: Matheus Calligaris

Pioneiras do esporte no Brasil, as Ladies of Hell Town, treinaram junto à liga piracicabana

Jogo Rápido com Erich Vallim Vicente, coach do Red Feet Quais são as maiores dificuldades na hora do treinamento? As maiores dificuldades sempre são por conta de que, como o esporte está em gestação no Brasil – e eu também estou aprendendo a respeito – precisamos entender qual o tipo de treinamento mais interessante para fazer. Acontece que ainda não temos jogos, campeonatos, etc, para poder medir o nível das atletas. Você acha que o esporte tem futuro no país? Sim, tem futuro por vários aspectos. Primeiro, é um esporte que requer bom condicionamento e, hoje em dia, as pessoas estão atrás de saúde. Segundo, porque é um esporte coletivo, em todos os sentidos, dentro e fora do jogo, sendo também uma grande possibilidade de conhecer novas pessoas. Terceiro, porque envolve um estilo próprio, que vai da maquiagem das meninas até como elas se relacionam. Para se solidificar no país, o que precisa é mídia. Além disso, fazer o que está sendo feito hoje, as ligas se organizando, fazendo intercâmbio. A internet, mais precisamente o Facebook, contribui muito para essa troca de informações. Então, vejo mídia e organização como fundamentais para a solidificação do esporte no país. O que chamou sua atenção no esporte? Primeiro, a patinação. Desde moleque gostei de patinar, inclusive pratico o que chamamos de “agressive skating”. Embora o roller derby seja uma variação da patinação – ao invés de in line, utiliza o quad –, é interessante pela movimentação do jogo, pelo dinamismo e uma estratégia que precisa ser aplicada em movimento rápido. Jogar o roller derby é como se você estivesse “consertando um avião em pleno vôo”. Ou seja, emocionante! Desde quando é técnico da equipe de Piracicaba? Sou técnico há apenas dois meses, mas estou no esporte desde o ano passado. Com a parceria no Clube Lusitano, e finalmente uma quadra para os treinos, passei a ter maior assiduidade. Os treinos atualmente acontecem às quartas, das 20h às 22h, e aos domingos, das 16h às 18 h.

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