Publicação Laboratório do Curso de Jornalismo da Unimep Ano 5 – Edição 24 – SETEMBRO/2011
contexto regional
protestos educação Bibliotecas públicas adotam estratégias para atrair leitores
online
Cidadãos e grupos populares usam redes sociais para mobilizar sociedade pág. 6
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cidade Transporte coletivo provoca críticas em cidades da região
Gustavo Annunciato
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opinião
Fazer jornalismo
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jornalismo é a arte de contar boas histórias sobre o cotidiano das pessoas, de abordar de forma simples os grandes temas de interesse social, político e econômico. É fermento da democracia, sem o qual esta não prospera. É ferramenta de defesa da cidadania, de fiscalização do poder, de promoção de justiça e igualdade. Fazer Jornalismo em tempos de mídias sociais, e tantas ferramentas de comunicação e relacionamento virtual, é ter capacidade de avaliar criticamente o turbilhão de informações que circula na internet, e de organizar e dar sentido a estas informações. Se durante muito tempo a principal função do jornalismo foi a de informar a sociedade, hoje, talvez, sua missão mais importante não seja a de tornar pública a informação, mas a de qualificá-la, contribuir para que a sociedade consiga entender o seu real significado. Fazer jornalismo, independente da plataforma de difusão da informação jornalística, é exigir precisão de procedimentos, é atender aos requisitos de interesse público, respeitar orientações éticas de comportamento diante das fontes e, sobretudo, dos leitores e da sociedade. Em uma época de crescente pulverização da informação e fragmentação de valores, fazer jornalismo significa também contribuir com a construção do conhecimento, ampliar espaços de reflexão e, sobretudo, produzir informação capaz de garantir direitos e o próprio exercício da liberdade e autonomia das pessoas. EXPEDIENTE : Jornal Laboratório dos alunos do 5º semestre de Jornalismo da Unimep - Reitor: Clóvis Pinto de Castro - Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa - Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão - Edição: Paulo Roberto Botão (Mtb 19.585) - Colaboração: Prof. Camilo Riani (Projeto Gráfico e Planejamento Visual) e Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) - Editores assistentes: Luiz Felipe Carneiro Lourenço e Ronald Gonçales - Editor de imagem e fotografia: Gustavo Annunciato - Diagramação: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) e acompanhamento discente: Angelyca Lizzie Paiva, Karina Bonfá Iório, Laura Cerri Tesseti, Lucas Vinicius Calore Repórteres: Antonio Corazza Netto, Michaella Beozzo Frasson, Bruno Roberto Moraes Cillo, Caroline Solano Moreira, Cintia Tavares, Elaine Cristina Almeida Pereira, Flávia Dias Ribeiro, Karine Vieira dos Santos, Larissa Helena da Rocha Martins, Leandro Luis Penteado, Leonardo Belquiman, Nayara Carolini de Oliveira, Rafaela Gazetta, Raphael Justino Luiz dos Santos, Sabrina Franzol, Vanessa dos Santos de Carvalho.
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E se ela continuar a falar ‘lulês’? Ronald Gonçales
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ilma Rousseff (PT) – segundo pesquisas de opinião pública – tem o seu governo avaliado como positivo pela maioria. Sua maneira séria de lidar com as situações, somada à experiência técnica tão elogiada por seu antecessor, Lula, dão a ela elementos que garantem uma boa aprovação. Observa-se, porém, que toda a boa desenvoltura que a presidenta tem para lidar com os assuntos técnicos ou até mesmo na articulação com a oposição, sendo enaltecida inclusive por aqueles que torcem o nariz para o seu governo, se perdem quando ela precisa lidar com as pressões políticas de alianças que exigem articulação de gente grande. Então, Lula volta à cena, buscando uma conclusão que, logo, ela mesma terá que controlar. A avalanche política provocada por Lula, embora este seja tão elogiado e admirado pelos brasileiros – e de forma merecida – cansa. E nós, eleitores, temos sede do novo: novas propostas,
novas ideias e reforma política clara. Usar da mesma política de sempre para propor essas mudanças esbarra na velha e já tão conhecida politicagem que visa apenas promoções e interesses próprios.
Chegou a hora de Dilma chamar a responsabilidade para si e agir de acordo com o que achar conveniente. Por mais que se busque manter a ideologia do PT, é preciso ser maleável. É bom quando ela arrisca, pois dá identidade “dilmês” ao governo que o Brasil elegeu. Novas ideias tornam-se emergentes num país que se supera todos os dias, tanto em dados econômicos quanto pelo povo que em nenhum momento deixa para trás a alegria de ser brasileiro. Não é uma tarefa fácil, sobretudo àqueles muito rígidos, que ainda acreditam que política deve ser instrumento de favores. Na democracia, em que todas as decisões passam por figuras eleitas para representar o povo – e a este deve se ter o maior respeito – a política séria precisa ser estimulada e os maiores aliados disso somos nós mesmos, cobrando, participando e sugerindo, deixando para lá argumentos de que esse ato não é confiável. É para ser e, se não é, a culpa – acreditem - também é nossa. Ilustração: Rodrigo de Lira Mineu Rocha (Caricatura premiada no 19º Salão Universitário de Humor de Piracicaba / 2011)
Novos estados custam caro ao país Luiz Felipe Leite
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m meio a discussões sobre temas “urgentes”, como incentivos fiscais a projetos mirabolantes de estádios de futebol, e a adequação da infraestrutura do Brasil para receber eventos esportivos, surgiu um novo assunto no “país do futuro”: A criação de novos Estados, dividindo alguns dos 26 já existentes. Em maio, foi aprovada na Câmara dos Deputados a realização de um plebiscito, a fim de consultar a população do Estado do Pará sobre a proposta de criação de mais duas unidades federativas (Carajás e Tapajós), assim repartindo o Pará em três. No Congresso existem mais iniciativas nesta área e se fossem todas aprovadas hoje o Brasil seria composto por 33 Estados e mais quatro territórios, estes administrados diretamente pelo Governo Federal.
É claro que é difícil todos estes novos estados saírem do papel, mas a possibilidade é real. Uma divisão territorial sempre é motivada por baixos investimentos na região, além de sentimentos “separatistas” por parte dos habitantes do local em questão, mas não é isso o que está em pauta aqui. O último estado criado no Brasil foi o Tocantins, separado de Goiás pela Constituição de 1988. Durante uma década, a renda do novo membro da União foi complementada pelo Governo Federal, com verbas que poderiam ter sido utilizadas para outros fins, que abrangessem não só o Tocantins, mas sim todo o Brasil. Segundo informações veiculadas no portal G1, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) possui cerca de R$ 5 milhões para a realização do plebiscito no Pará, mas não descarta um pedido de reforço financeiro. E isso somente para a consulta. O custo de mais estados, conforme o
economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Rogério Boueri, seria deficitário, ou seja, traria prejuízos para o Brasil. Boueri desenvolveu uma metodologia para estimar quanto custa o funcionamento da maquina pública dos estados. “Se soubermos qual vai ser a população e o PIB de um novo estado, conseguimos calcular quanto esse estado vai gastar. Atualizando os números do meu estudo de 2008, a criação dos estados de Tapajós e Carajás traria um déficit de dois bilhões de reais por ano”, finaliza. O que se observa neste caso é que a falta de bom senso e responsabilidade dos governantes parece não ter fim, pois apesar das dificuldades das regiões em termos de investimento, uma divisão territorial não é uma solução satisfatória. Uma avaliação mais criteriosa sobre os investimentos necessários nestas regiões talvez tivesse melhores resultados.
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meio ambiente
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Rio Claro e Piracicaba na rota do tráfico de animais Polícia Ambiental investiga os casos. Ainda assim, muita gente insiste em ir contra a lei
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odos os anos cerca de 38 milhões de animais são retirados de seu habitat vítimas de ações criminosas que envolvem o tráfico. A informação e de relatório da Polícia Federal, que também indica a atividade como a terceira que mais movimenta dinheiro ilegal no país, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. Na região de Rio Claro (SP), a maioria dos casos registrados envolve aves de diversas espécies. “Já foram resgatadas mais de 140 aves em apenas uma operação”, relata o soldado Marcelo, da Polícia Ambiental da cidade. Essas aves são, em sua maioria, capturadas na região pantaneira e na Mata Atlântica e, assim como outros animais, são transportadas em situações que ameaçam a sua saúde e integridade. Quando elas chegam ao principal trajeto do tráfico no país, o eixo Rio-São Paulo, são vendidas em beiras de estradas e pet-shops ilegais ou são exportadas. Outro tipo de crime comum na região de Rio Claro é a intervenção feita em Áreas de Proteção Permanente, relata o soldado Marcelo. A Polícia Ambiental fiscaliza essas áreas em busca de criadouros ilegais e que expõem os animais a situações de risco. Aves em cativeiro em casas também são casos frequentes. “Todas estas situações são enquadradas na Lei de Crimes Ambientais”, explica o policial. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), ou Lei da Natureza, prevê em seus artigos diversas ocasiões em que pode ser aplicada. No caso de tráfico de animais, as sanções variam entre multas e reclusão, dependendo do porte da infração, existindo casos em que ambas as punições são empregadas, como quando há maus tratos, ou registra-se a caça ilegal de animais silvestres. Mas, muitas pessoas mantêm animais silvestres apesar de saberem se tratar de atividade criminosa. A aposentada V. N.
Apesar de pássaros serem as maiores vítimas, outros animais sofrem com o tráf ico, submetidos à alimentação inadequada e espaços conf inados
Ela conta com a ajuda do marido e dos diz que conhece a lei, mas que, mesmo dois filhos do casal, que levam comida não tendo a licença para cuidar de seus para os animais. “Uma vez por semana animais, nunca teve problemas com a Pocada filho vem, em dias alternados, para lícia Ambiental. ajudar. No fim de semana junta todo Suas três aves – dois papagaios e uma mundo e a gente recebe até os amigos dos arara vermelha – convivem há anos em nossos netos, que nunca viram uma araum amplo espaço na chácara onde mora, ra de perto”, comenta a aposentada. “Às na cidade de Piracicaba. Árvores, um clivezes até aparecem outros animais, como ma fresco e alimentos como frutas e grãos macaquinhos e esquilos”, revela. em abundância garantem a plena sobreviNestas situações, a Polícia Ambiental vência das espécies, que dividem a paixão apenas orienta e faz fiscalizações frequenda dona com os seus cães: são cinco, dois tes, para ver se as condições inicialde médio porte e três poodles. mente encontradas são man“Desde pequena gostei de Para denunciar: tidas nos locais de criação. animais e os respeitei como em Rio Claro: “Casos como esse não são eles merecem. Se a pessoa ligue (19) 3524-2339 ou comuns, infelizmente. Na assume a responsabili(19) 3533-3149, ou comparecer maioria das vezes encondade de cuidar de qualà Av. Brasil, 540, Vila Alemã tramos animais presos quer ser vivo, ela tem em Piracicaba: em grupos dentro de que entender que, com ligue (19) 3421-6827, gaiolas. Poucos são os que licença ou sem licença Polícia Ambiental,ou na sede, sobrevivem às condições Av. Dr. Maurice Allain, 454, de órgãos fiscalizadores, Nova Piracicaba de transporte, por exemplo”, ela simplesmente tem que diz o soldado Marcelo. zelar”, argumenta.
Fotos: Polícia Ambiental de Rio Claro
Caroline Solano Leonardo Belquiman
Porém, quando as espécies criadas por pessoas que não têm licença estão em extinção, mesmo que em situações que garantam a integridade e saúde do animal, eles são recolhidos pela Polícia Ambiental e é aplicada uma sanção em forma de multa. Esta ação garante que estas espécies estejam em condições seguras. Em caso de maus tratos, os animais apreendidos são encaminhados para zoológicos (os da região são em Piracicaba, Leme e Americana). Quando há a possibilidade de reinserção no habitat, eles são encaminhados para criadouros conservacionistas, onde passam por processo de readaptação para depois serem devolvidos à natureza. As fiscalizações são feitas através de denúncias recebidas pela Polícia Ambiental na própria base ou por telefone. Através destas denúncias, as fiscalizações são feitas nos locais, sendo que muitas vezes uma única ação pode revelar múltiplas transgressões. “Na maioria das vezes os infratores desconhecem a legislação e são resistentes à apreensão e, principalmente, à reclusão”, conta Marcelo. “Sempre temos que explicar, de forma lúdica, o porquê da ilegalidade da ação da pessoa”. Grande parte dos criminosos tem nenhuma ou baixa escolaridade, renda escassa e são homens.
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saúde
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Nayara Carolini
Desenvolvimento de genéricos é importante para compor coquetel de tratamento da Aids
Brasil anuncia produção do 10º antirretroviral
Cíntia Tavares Nayara de Oliveira
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Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou em março deste ano a liberação para distribuição do primeiro lote do genérico do remédio Tenofovir - um dos principais usados no coquetel de tratamento da Aids. Com esta medida, o país chega ao décimo medicamento do coquetel – no total são 20 – que são fabricados por laboratórios em território nacional. Desenvolvido pela Fundação Ezequiel Dias, a partir de uma PPP (Parceira Público Privada), o Tenofovir é um dos mais caros no tratamento de pacientes com o vírus atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Durante as pesquisas para a produção do medicamento, que tem patente livre, mas até então era importado de um laboratório norte-americano, foram gastos mais de R$ 25 milhões. A produção no país deve girar em torno de 80 milhões de unidades dentro dos próximos três anos. Estimativas do Ministério da Saúde indicam que existem hoje no Brasil cerca de 630 mil pessoas vivendo com o HIV, o ví-
rus da Aids. Destas, 255 mil nunca teriam feito o teste e por isso não conhecem sua sorologia, o que resulta em um tratamento tardio. De acordo com o último boletim epidemiológico, o Brasil apresentou 492.581 casos notificados no período de 1980 a junho de 2010. O país é tido como referência internacional nesta área, pois todas as medicações antirretrovirais utilizadas para o tratamento da AIDS são distribuídas gratuitamente pelo Programa Nacional de DST e Aids, do Governo Federal, desde 1996 e estas não estão disponíveis para venda direta ao paciente. Sem custos mensais para os municípios brasileiros, o coquetel é oferecido através de programas federais diretamente com as secretarias de saúde. Segundo a Anvisa, o objetivo é o de reduzir gastos governamentais com medicamentos considerados estratégicos para o SUS. Criado em meados da década de 1990, o coquetel de medicamentos antirretrovirais é composto por 20 medicamentos. Destes, o Brasil já produz 10. São eles: Didanosina, Estavudina, Indinavir, Lamivudina, Lamivudina + Zidovudina, Nevirapina, Zidovudina, Efavirenz, Ritona-
vir e, agora, o Tenofovir. Também fazem parte do coquetel Indinavir, Saquinavir, Nelfinavir, Amprenavir, Lapinovir, Zalcitabina, Combivir, Abacavir, Trizivir e Delavirdina.
Infecção Como o HIV está presente no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno, a doença pode ser transmitida de várias formas: sexo sem camisinha; de mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação; uso da mesma seringa ou agulha contaminada por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado com o HIV; instrumentos que furam ou cortam não esterilizados. Para evitar a doença, basta usar camisinha em todas as relações sexuais e não compartilhar seringa, agulha e outro objeto cortante com outras pessoas. O preservativo, um dos principais instrumentos preventivos, está disponível na rede pública de saúde e a distribuição é gratuita. Caso o paciente não saiba onde retirar a camisinha, basta ligar para o Disque Saúde (0800-61-1997). O diagnóstico da doença é feito através do exame “anti-HIV”, que identifica se a
pessoa é portadora ou não do vírus. Especificamente, existem dois métodos para o diagnóstico. O primeiro é a coleta de um tubo de sangue que segue para análise em laboratório e os resultados ficam prontos em 15 dias. O segundo método é através do teste rápido diagnóstico, feito com uma pequena amostra de sangue, colhido da polpa digital e com resultado em 30 minutos. Segundo a coordenadora do AMDIC (Ambulatório Municipal de Doenças Infecto-contagiosas) da Secretaria de Saúde de Santa Bárbara d’Oeste, Nelisa Cruz, os testes estão disponíveis nas redes públicas de saúde dos municípios. “Uma vez confirmada a presença do vírus, o portador passa por avaliação médica e realiza outros exames específicos que definirão se o paciente está com AIDS ou se ainda é apenas portador do HIV”, explica Nelisa. Ela destaca que ter o vírus HIV é diferente de estar com AIDS. “Todo paciente com AIDS tem HIV - o vírus, mas nem todo portador do vírus tem AIDS. Por isso, não são todos os portadores de HIV que necessitam dos medicamentos antirretrovirais, apenas aqueles com diagnóstico de AIDS”, ressalta.
cidade
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Usuários reclamam do transporte coletivo
Antonio Corazza Netto Bruno Mores Cillo
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Gustavo Annunciatto
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Em Piracicaba, integração é destaque positivo
Em Americana, a tarifa também é alvo de reclamações, como é o caso do montador de peças Márcio Rezende, que considera o valor “abusivo” quando comparado com a qualidade do serviço, principalmente a falta de cumprimento dos horários. A estudante e estagiária Gisele Martins também acha a tarifa cara e critica principalmente a “demora” dos ônibus. Outro ponto é levantado pelo aposentado Albino Francisco da Silva, 63, que gostaria de não ter que esperar até completar 65 anos para ter isenção. Os órgãos responsáveis pela definição da tarifa argumentam, por outro lado, que ela está diretamente ligada à qualidade do serviço oferecido, pois o instrumento mais importante para o cálculo é o IPK (Índice de Passageiros por Quilômetro). Os empresários e gestores dos sistemas
argumentam que ao aumentar o número de linhas e horários, ampliar os pontos de parada e mesmo modernizar a frota de ônibus ou conceder isenções ocorre um aumento nos custos do sistema e isto resulta em elevação também da tarifa. Desconforto Além do preço, os usuários reclamam da qualidade do transporte, e as queixas incluem: má qualidade dos ônibus, pequena quantidade de linhas e horários, superlotação, atrasos, falta de estrutura nos pontos de parada. Estes problemas tornam o uso do transporte coletivo desconfortável e também pouco confiável. O autônomo Danilo Romualdo de Souza, 23, por exemplo, reclama da superlotação em horários de pico dos ônibus em Americana. “Bairros como o Zanaga,
Fotos: Diego Ruiz
uperlotação, tarifas elevadas e atrasos estão entre as principais reclamações da população em relação ao transporte coletivo nas cidades de Piracicaba e Americana. O sistema é essencial para a vida de muitas pessoas, principalmente trabalhadores e estudantes que dependem do ônibus para se locomover. Em Piracicaba existem 93 linhas de ônibus que ligam 75 bairros, o que gera o atendimento acumulado de 550 mil pessoas por mês. Uma das características básicas do sistema é a integração, possibilitada a partir do funcionamento do TCI (Terminal Central de Integração) e outros cinco terminais setoriais em diferentes regiões da cidade. O sistema, em Americana, possui 105 ônibus que atuam em 49 linhas e mantém 700 pontos de embarque e desembarque. Nas duas cidades, a reclamação mais frequente é o valor da tarifa, que para a maioria dos usuários, representa uma parte significativa da renda familiar. Em Piracicaba, o valor praticado atualmente é de R$ 3,00. Já em Americana, a tarifa é de R$ 2,30. O custo da tarifa pesa mais no bolso de famílias numerosas e que dependem exclusivamente do ônibus para o trabalho e o lazer. Este é o caso da dona de casa Flor de Liz Elidelce, de Piracicaba, que possui três filhos. “Fica difícil levar os três para passear toda hora. Cada passagem é quase seis reais ida e volta, de apenas um ponto a outro. Considerando que isso é vezes quatro, o custo para uma viagem nossa dentro do município, como por exemplo, para ir ao shopping ou à casa da minha mãe é de 24 reais. Não temos como pagar isso”, reclama.
Albino da Silva: isenção para aposentados
Edna: demora dos ônibus
Márcio Rezende: preço “abusivo”
Danilo Souza: superlotação
Praia Azul e o Recanto são lugares que os ônibus ficam superlotados. Nos piores horários é horrível, sem falar das condições das ruas esburacadas em alguns lugares”, enfatiza. A questão da falta de pontualidade, principalmente nos horários de pico, também é uma preocupação na cidade, como observa a copeira Edna Feiler. “O problema mesmo é a demora do ônibus chegar no terminal. A gente nunca sabe se ele vai chegar na hora certa”, comenta. Além destas dificuldades, o comportamento dos próprios usuários muitas vezes contribui para tornar ainda mais difícil a vida dos passageiros mais idosos, crianças, grávidas e outros com dificuldade de locomoção. A moradora de Piracicaba Esliara Fernanda, 31, empregada doméstica, se diz indignada com a falta de sensibilidade dos passageiros. Ela conta que quando estava grávida era obrigada a pedir licença ou ajuda para alguém quando estava muito cansada e precisava se sentar. “É impressionante como as pessoas são mal educadas. Eu chego no ônibus muito cansada do trabalho, com o meu filho no colo e elas não abrem espaço ou me deixam sentar. Muitas vezes tenho que pedir, isso quando algumas pessoas não fingem que estão dormindo ou passando muito mal”, lamenta.
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política
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Mobilização cibernética Rafaela Gazeta Sabrina Franzol
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onsumidores que se sentem lesados e pessoas que queiram protestar por algo de cunho social agora têm uma ferramenta capaz de reunir multidões em todos os cantos do mundo, a internet. As diversas comunidades criadas no Orkut, os protestos organizados pelo Facebook, abaixo-assinados enviados por e-mail e reclamações dos insatisfeitos, por meio do Twitter, comprovam que a mobilização cibernética funciona. Mas esse poder imensurável da rede não descarta a ação das tradicionais passeatas e protestos que ainda hoje ocupam com frequência ruas e praças em diversas partes do mundo. A praça Tahrir, no Egito, tomada por manifestantes que se organizaram pela internet, é o símbolo da queda do ex-ditador Hosni Mubarak. As marchas da Maconha e da Liberdade, bem como o Churrascão de Gente Diferenciada, contra os moradores de Higienópolis, na capital paulista, que se opuseram à construção de uma nova estação de metrô, são exemplos recentes desta nova forma de mobilização social. Para o sociólogo e professor da Unimep Francisco Negrini Romero, a mobilização cibernética é um poderoso instrumento de apoio à manutenção e vigilância das várias versões de democracia no mundo, já que consegue atingir multidões simultaneamente. “O foco da mobilização cibernética é levar a tempo informações, debates e denúncias de terrorismo de Estado, atrocidades, genocídios, torturas, entre outros casos que irão conscientizar a população”, explica. Os protestos realizados pela internet, segundo Romero, possibilitam que a cidadania seja praticada de forma mais livre, sem pressões, uma vez que o cidadão pode opinar sem ser reprimido ou constrangido. Ele acredita que a mobilização de rua seja mais eficiente que a cibernética, porém pode, em muitos casos, acarretar mais problemas. “Basta lembrarmos o número significativo de mortos registrados nas revoltas dos países árabes, como Líbia, Síria e outros da África, todos protestos realizados nas ruas”. A cultura e a história política de cada país influenciam na escolha do tipo de manifestação a ser praticada, se na rua ou pela internet. “Na Bolívia, Chile e Peru,
por exemplo, onde há o predomínio da cultura indígena, as pessoas preferem ir às ruas. Já no Brasil e países da Europa, os grupos pertencentes à classe média preferem utilizar a internet”, pondera Romero. O sociólogo explica que, embora a maioria das manifestações cibernéticas seja fomentada por jovens, não se pode concluir que estes sejam politizados, já que essas ações também são consideradas por muitos um modismo. “Não há dúvida de que as ações de jovens para ajudar nas transformações sociais, ainda que mínimas, têm um significado importante. Muitas vezes são ações com consciência ingênua, mas que avançam para uma consciência crítica e positiva de amadurecimento político”, afirma. Consulta popular Jornalista e autor do blog dandonota. wordpress.com, Rodrigo Alves participou em 2005 de uma mobilização cibernética. Na época, como assessor de imprensa do deputado federal João Herrmann Neto, auxiliou na campanha “Frente Nacional por Um Brasil Sem Armas”, coordenada pelo parlamentar. O Brasil organizou plebiscito sobre o desarmamento, o que resultou na maior consulta popular informatizada do mundo: mais de 122 milhões de eleitores de 5.564 municípios votaram sobre a posse e comercialização de armas. Embora a posição defendida por Alves não tenha sido vitoriosa, ele avalia positivamente o impacto da conscientização pela rede. “Além das mídias tradicionais, como TV e rádio, utilizamos bastante a internet. Criamos comunidades no Orkut, a então grande ferramenta da vez, e estimulamos a troca de posts entre as pessoas que apoiavam o voto pelo sim. Até mesmo os famosos slides em power point foram explorados, possibilitando uma espécie de marketing viral na internet”, relembra o jornalista, que usa o blog Dando Nota, de caráter cultural, para “pequenos protestos”, como ele mesmo chama. Para Alves, o rádio e a TV continuam sendo ágeis para protestos, mas a inte-
Cartum do estudante chinês Wang Rui Sheng, do Anhui College of Education, selecionado para o 18º Salão Universitário de Humor de Piracicaba (2010), mostra natureza global do fenômeno
ração desses veículos acabou ficando em segundo plano em relação ao potencial mostrado nos últimos anos pela web. “Isso vale, inclusive, para manifestações sem cunho político e que contam com a participação do público jovem, adepto das redes sociais. No ano passado, por exemplo, por meio de um flash mob organizado
pela internet, 40 mil pessoas acenderam as luzes de seus celulares no Maracanã, simplesmente como mensagem de incentivo à Seleção Brasileira”, exemplifica. Em outra situação recente, a construção de uma nova ponte sobre o rio Piracicaba, para ligar a avenida Beira Rio ao Engenho Central, levou o artista plástico Rocco
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política
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ca ganha espaço na rede Caputo a encabeçar a campanha “Onde O Peixe Para o Homem Não Passará”. Inconformado com a possível aprovação do projeto anunciado pela prefeitura e orçado em R$ 3 milhões, o artista e adeptos, com os objetivos de conscientizar a população e mostrar os possíveis impactos ambientais da nova ponte, dispararam e-mails de abaixo-assinados e fizeram uso das redes sociais, como Orkut, Facebook, blog, Twitter, entre outros, para a divulgação da campanha. “A internet possibilitou a divulgação em todo o Brasil. Muitos, que nunca tinham ouvido falar do Piracicaba aderiram e assim ajudaram na luta pela preservação da beleza e da natureza do nosso rio”, diz. Rocco, que sempre utilizou a internet para divulgar seu trabalho artístico, afirma que a rede tem sido a grande mobilizadora e formadora de opinião na atualidade, mas acredita que o “corpo a corpo” ainda é necessário. “O contato direto com as pessoas não pode ser deixado de lado. Embora, por meio da campanha percebi que o poder da internet é incalculável”, observa. Direito A jornalista, especialista em marketing e professora de ensino superior Cristiane Buso Sanches já usou a internet diversas vezes para protestar e também exercer seu direito de consumidora. Em abril deste ano a “vítima” foi uma empresa de calçados que lançou coleção confeccionada com peles de animais. O protesto começou nas redes sociais, especialmente Twitter, onde chegou a emplacar dois tópicos entre os mais comentados pelos usuários. A maioria dos comentários questionava a postura ecologicamente incorreta da empresa. “Foi tão contundente e devastador que a empresa recolheu o produto no país todo. Por isso, quando sou mal atendida por uma empresa também protesto na internet, principalmente no Twitter e no Facebook”, afirma Cristiane, que credita o crescimento das mobilizações cibernéticas em parte pelo aumento da inclusão digital no Brasil. “Estamos em plena era da informação. As mídias sociais e sua função começam a entrar no cotidiano de forma sólida e as pessoas começam a perceber que essa ferramenta lhes dá o poder que até pouco tempo era prerrogativa dos meios de comunicação de massa”, explica.
Sites orientam e oferecem ferramentas úteis
www.avaaz.org - Avaaz significa voz em várias línguas da Europa, Oriente Médio e Ásia. Trata-se da maior empresa em mobilização política online do mundo. Com mais de nove milhões de membros permite que milhares de ações individuais, consideradas pequenas, possam ser combinadas em uma poderosa força coletiva.
www.acasiweb.com.br - Acasi que é sigla de Análise, Consultoria e Administração de Sistemas é uma empresa brasileira especializada em elaborar planos estratégicos e tecnológicos para que as ideias dos clientes saiam do papel e se transformem em ações concretas.
www.purpose.com - Purpose é uma empresa americana que nasceu com a finalidade de implantar o poder coletivo em milhões de cidadãos e ajudá-los a resolver, por meio de mobilizações cibernéticas e nas ruas, seus descontentamentos políticos, econômicos e sociais.
“Planeje, faça uma apresentação, ganhe reputação e tenha visão a longo prazo. Estude sobre planejamento estratégico de marketing, relações públicas e marketing de guerrilha”. As dicas são de Rodrigo Gabriel Piris, marqueteiro da Acasi (Análise, Consultoria e Administração de Sistemas para Internet), empresa que ajuda na criação de mobilizações cibernéticas, e idealizador dos protestos Queremos Ética e Quero Educação!, no Facebook. Para ele, as mobilizações organizadas pela internet não são as mais eficazes, mas eficientes. “A eficácia está na proposta e no planejamento. As mídias sociais facilitam muito na comunicação, permitindo que as pessoas convidem seus amigos de forma mais rápida do que os meios comuns”, explica. A ideia de criar a mobilização Quero Educação!, de acordo com Piris, surgiu quando, ao visitar um abrigo de crianças, aprendeu que a educação pode fazer do país uma potência para servir o mundo. “Estamos na era do conhecimento, por isso, quanto mais se sabe, mais se pode ter e ser”, diz. Quero Educação! teve a participação de 291.976 facebookeiros, que, no dia 12 de junho deste ano, escreveram em seus murais o nome do protesto. “O resultado foi ótimo. Superou as minhas expectativas, a minha meta era de 20 mil pessoas”, conta. Em parceria com a Política Ideal, página no Facebook que visa à discussão da política, o Quero Educação! também organizou uma passeata no dia 30 de julho, em várias cidades brasileiras. O intuito, segundo o próprio perfil da “I Passeata Nacional Pela Educação - NOSSA VERDADEIRA CAUSA!”, no Facebook, é fortalecer a educação e deixar as pessoas mais otimistas e conscientes do que está acontecendo e do que elas realmente podem fazer pelo Brasil. Na página está escrito: “Não pretendemos apenas nos dedicar à passeata, mas mostrar para todos o quanto foi e é importante lutarmos por nossos direitos. Muitos estão pessimistas com a situação atual do país e perdem o interesse ou simplesmente desistem de lutar, na espera que algo aconteça. Com a internet podemos mobilizar as pessoas, mostrar essa causa e fazer com que elas voltem a ter interesse em lutar por seus direitos como cidadão, por um lugar melhor!”.
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cultura
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Fotos: Ivan Moretti
Cartunistas mostram seus trabalhos e debatem com os estudantes; no detalhe, mostra do Salão atrai universitários e público da cidade e região
Debate sobre humor e jornalismo abre salão Karine Vieira dos Santos Raphael Justino dos Santos
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debate “Humor gráfico, design & jornalismo”, realizado no dia 10 de junho, marcou a abertura da 19ª edição do Salão Universitário de Humor de Piracicaba. Liderado pelo coordenador do salão, o artista gráfico Camilo Riani, o evento inovou ao reunir em uma mesa ilustradores, chargistas e caricaturistas, para conversar com o público sobre as tendências do setor. Participaram os profissionais Dálcio Machado, da revista Veja, Eduardo Baptistão, de O Estado de S. Paulo, e Gustavo Duarte, dos jornais Lance e Folha de S. Paulo, que também integraram o júri de premiação dos trabalhos neste ano. Esta foi a primeira vez que o salão foi aberto com um debate, o que na visão de Riani foi muito positivo. “Os participantes gostaram muito, pois as questões apresen-
tadas pelos alunos presentes foram pertinentes e permitiram uma reflexão riquíssima sobre as relações entre o jornalismo e o humor gráfico”, disse após o evento. A iniciativa juntou estudantes dos cursos de jornalismo e design gráfico da Unimep. Durante o debate os expositores apresentaram alguns dos seus trabalhos e analisaram suas repercussões com os presentes. Riani abordou a importância das charges e caricaturas no contexto político. Comentou capa da revista Carta Capital que estampou Aécio Neves e José Serra em momento de disputa interna no PSDB. Também destacou capa do jornal O Estado de S. Paulo em 2010, no dia da votação do segundo turno das eleições para Presidência em 2010, que trouxe os postulantes Dilma Roussef e José Serra frente a frente. “A caricatura tem algo que atraí o olhar, isso não é uma simples ilustração, ela traz algo que chama atenção e isso faz o texto ser lido com mais interesse pelas pessoas”, explicou.
Outro ponto debatido pelos palestrantes foi a liberdade no processo criativo e as ingerências por parte dos veículos de comunicação. O chargista Gustavo Duarte, do jornal esportivo Lance, disse que em sua carreira apenas três charges não foram publicadas. Para ele, entretanto, as situações não representaram censura, e sim edição. “Existe edição por vários motivos, talvez porque não é a hora de colocar ou porque a situação não favorece, isso não é censura. É claro que deve ser bem editado e isso preserva o profissional”, comentou. Para Eduardo Baptistão, por outro lado, existe diferença entre edição e ingerência, e em muitos casos não se respeita integralmente o trabalho do ilustrador. ”Deveriam respeitar mais a opinião dos profissionais do humor gráfico e não apenas simplesmente dizer que determinado trabalho não serve”, observou. Os profissionais ainda foram unânimes em dizer que nem sempre o humor gráfico é feito para rir. ”Às vezes sim, mas
em algumas situações deve causar reflexão, é opinativo”, comentou Gustavo Duarte. “Eu não busco risos nas minhas caricaturas, até porque o humor é algo que falta muito em mim, não precisa necessariamente ter graça, nos meus trabalhos tento causar um impacto em quem está lendo o jornal, busco fazer meus trabalhos com classe”, explicou o cartunista do Estadão Eduardo Baptistão. Edição 2011 Para a edição 2011 o salão recebeu quase 300 trabalhos, dos quais 90 foram selecionados para exposição, que incluiu materiais produzidos por artistas de diversos estados brasileiros e de outros países, como Estados Unidos, Rússia, China, Bósnia e Argentina. Os prêmios especiais em dinheiro foram conquistados pelos universitários José Antonio Costa, da UFPI (Universidade Federal do Piauí), que fez uma sátira à pedofilia com um desenho em HQ e Rodrigo de Lira Mineu, da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) que ganhou dois dos três prêmios em dinheiro no valor de R$ 1.000, além de uma menção honrosa. Os trabalhos vencedores de Mineu foram: uma charge sobre Osama Bin Laden e uma caricatura da presidente do Brasil Dilma Rousseff. O iraniano Saman Ahmadi recebeu o prêmio de R$ 1.000 conferido pelo Centro Cultural Martha Watts, na categoria temática meio ambiente. O Salão Universitário de Humor de Piracicaba foi criado em 1992 com o objetivo de criar espaço para a manifestação artística dos estudantes universitários, e servir também à descoberta de novos talentos. As primeiras edições tiveram abrangência nacional, mas depois passou a latino-americano e atualmente recebe contribuições de estudantes do mundo todo. Um dos seus pontos fortes é o corpo de jurados, que já reuniu profissionais reconhecidos internacionalmente, como Ziraldo, Borjalo, Luis Fernando Veríssimo, Laerte, Angeli, Jal, Da Costa entre outros.
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universidade
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Festa de formatura desafia estudantes de todas as áreas Flávia Ribeiro Vanessa Carvalho
Solenidade de entrega dos diplomas coroa esforço de todos
Flávia Ribeiro
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rganizar uma festa de formatura sempre constituiu desafio para estudantes de todos os níveis, principalmente de cursos superiores. Atualmente a tarefa é ainda mais complexa, pois empresas de diversas áreas têm se especializado neste tipo de evento, e permitido festas de conclusão de curso cada vez mais marcantes e diferenciadas. O ponto de partida, e talvez essencial para que tudo de certo, é a escolha de uma boa comissão de formatura. Este é o grupo de alunos que vai se dedicar para que todas as tarefas necessárias a uma boa comemoração sejam realizadas, entre as quais se destacam a mediação com as empresas prestadoras de serviços, a escolha e contratação dos locais para as solenidades, definição das datas, e o principal, pensar formas de arrecadar dinheiro para cobrir todas as despesas. Segundo o estudante de jornalismo Felippe Limonge, integrante da comissão de formatura de sua turma, que atualmente cursa o quarto semestre na Unimep, “rifas, pizzas, festas e churrascos são os principais meios de arrecadar o dinheiro necessário”. Para Willian Melo, integrante da comissão do curso de biologia da Universidade Federal de Alfenas (MG), a comissão de formatura é que dá todo apoio à colação de grau, “tanto na hora de pegar o diploma, quanto na festa, e tudo é muito bem planejado para que saia exatamente como os alunos querem”. Os integrantes das comissões, normalmente eleitos pelos demais alunos da turma, se dedicam voluntariamente, motivados pela vontade de contribuir com a organização de uma boa festa. Para Kelly Silva, integrante da comissão de formatura do quinto semestre de biologia da Unimep, o motivo de participar é que “juntamente com os outros integrantes, prepara-se um evento que marcará a vida de todos os formandos para sempre”. E o êxito do trabalho também envolve outra dimensão, a do relacionamento. “Além de tudo, a comissão de formatura deve ser formada por alunos que se dão bem com o restante da classe, assim é possível garantir o bom desempenho entre for-
mandos e a empresa contratada”, destaca Sylvio Ramiro Salles Filho, representante de empresa especializada em formaturas. Dificuldades Responsabilidades, dificuldades e problemas também acompanham os integrantes das comissões. Lidar com o dinheiro das pessoas e fazer uma boa utilização do que é arrecadado são as principais dificuldades. Segundo Willian Melo, o maior problema é a desistência de alunos, que mudam de curso ou de faculdade após a contratação da empresa. Para Felippe Limonge, o mais difícil é contemplar todas as diferenças de opinião entre os formandos. “As pessoas pensam diferente, existem muitas divergências de idéias, e nessa hora é necessário checar o que é melhor pra todos e não para determinados grupos”, salienta. Esse foi o principal problema enfrentado pela ex-aluna Simone Rodrigues, que integrava a comissão de formatura de cursos de engenharia em 2010. “Eram muitas mulheres juntas, não dava certo, as idéias não batiam”, desabafa. As diferenças resultaram em uma briga e na divisão das
comissões em duas equipes. Na visão de Simone, outro fator que prejudica e dificulta a organização do evento é a falta de ajuda e envolvimento dos estudantes. “Juntou estágio, trabalho de conclusão, e pra completar, fazer tudo sozinha para a comissão. Achei que ficaria louca com tanto trabalho”, relata a situação que enfrentou no final do processo. O ponto talvez mais delicado, e que deve ser tratado da forma mais profissional e transparente possível, é a guarda e administração do dinheiro. A enfermeira Rosana Berreta, viveu junto com a sua turma, formada em 2008, uma situação desagradável e difícil neste campo. No quarto semestre do curso várias estudantes foram escolhidas para fazer parte da comissão de formatura. “A classe foi dividida em grupos e cada grupo pagava a mensalidade para uma dessas meninas que ficava encarregada de fazer o depósito na conta da sala, não só o dinheiro das mensalidades, mas também de rifas e vendas de pizza”, conta Rosana. Tudo parecia em ordem, mas os depósitos não estavam acontecendo. “Uma das
integrantes da comissão percebeu, em extrato bancário, vários estornos de depósitos. Ao verificar na agência bancária foi informada que o depósito era feito com o envelope vazio. Todo o dinheiro arrecadado sumiu e o prejuízo foi estipulado em cerca de R$ 4.500”, relembra a enfermeira. A sala foi informada do golpe e pediu uma explicação para todas as integrantes da comissão, mas segundo Rosana, “todas negaram” e a turma ficou mesmo no prejuízo. Apesar de todas as dificuldades, muitos que integraram estas comissões não se arrependem e garantem que valeu a pena o esforço. Este é o caso de Kelly, para quem esta é uma oportunidade única. “Candidatei-me para participar da comissão para ajudar a planejar e a organizar esse evento que será o mais importante das nossas vidas”, enfatiza. Outros, entretanto, apesar de avaliarem que a experiência é boa, são taxativos e garantem que não fariam novamente. “Só continuei porque tinha me voluntariado. Foi a primeira e última vez que passo por uma experiência dessas. Dor de cabeça no fim do curso nunca mais”, salienta Simone.
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educação
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Bibliotecas
atraem leitores de todas as idades Michaella Frasson Leandro Penteado
A
pesar do crescimento das alternativas para leitura de livros na Internet ou em suportes digitais, as bibliotecas, públicas e privadas se mantêm como espaço privilegiado para leitores de todas as idades. O contato direto com o livro, em papel, ainda atrai muitas pessoas, algumas das quais manifestam inclusive aversão a outras formas de acesso à cultura. A situação se explica, segundo profissionais do setor, por vários fatores. “A internet e outras tecnologias mudaram os mecanismos de busca de informações, mas não o hábito de ler e o gosto pela leitura, não se restringindo a esta ou aquela classe, pois o público freqüentador de biblioteca é diversificado”, diz Ligia Consuelo Araújo, coordenadora das bibliotecas municipais de Limeira. É difícil definir um perfil específico dos usuários de bibliotecas, uma vez que cada cidade tem suas particularidades. Em Limeira e Cordeirópolis, o público é bastante diversificado, pois o espaço atrai crianças, universitários e idosos. Em Americana, dados de 2010 sobre a freqüência à Biblioteca Municipal Profª Jandyra Bassetto mostram uma prevalência de freqüentadores entre 15 e 35 anos (44,79% entre 15 e 21 anos e 27,23% entre 22 e 35), perfil semelhante ao de Piracicaba, onde ocorre uma maioria de freqüentadores entre 15 e 40 anos. A situação só se diferencia em Rio Claro, onde é majoritária a presença de leitores da terceira idade.
Diante do avanço das novas tecnologias, as direções das bibliotecas públicas da região têm tomado diversas iniciativas para atrair o público, principalmente os mais jovens. As iniciativas incluem campanhas tradicionais e o uso de recursos da própria internet. A Biblioteca Municipal de Piracicaba, por exemplo, utiliza um blog, o Flickr e o Twitter, para a publicação das imagens de eventos, visitas e divulgação da agenda cultural. No interior da biblioteca também é possível acessar a internet, pois existe serviço gratuito de rede sem fio, o que, segundo a assessoria de imprensa, não conflita com a busca pelos livros em papel, pois estes continuam sendo considerados por muitos como fonte mais confiável. Apesar de admitirem que a divulgação é importante, em algumas cidades os orçamentos públicos são desfavoráveis e a ação depende mesmo da criatividade da biblioteca e de seus funcionários e frequentadores. Além da exposição através de site e imprensa local, são usados outros recursos, como a ‘contação’ de histórias, oficinas, exposições, palestras e visitas monitoradas. Na cidade de Cordeirópolis é possível conferir a Semana Monteiro Lobato, Semana do Livro e uma programação diferenciada nas férias de julho, o que incentiva o hábito constante da leitura, principalmente entre as crianças. Piracicaba aproveita as visitas monitoradas para distribuir aos alunos visitantes folhetos que informam sobre como se tornar sócio e efetuarem seu cadastro.
Atualmente, em Rio Claro, existe o Programa Municipal de Incentivo à Leitura e à Cidadania, que acontece no Terminal de Ônibus Municipal, onde é possível retirar livros gratuitamente. Com apenas algumas semanas de funcionamento, o público tem aderido à novidade e a iniciativa trouxe novos sócios para a biblioteca. Mas, a cidade já teve outras ações. “Antigamente o sistema municipal de bibliotecas realizava diversos projetos que deixaram de existir, pois a prefeitura cortou horas extras. Além disto havia um evento no Shopping Center, que foi substituído por uma ação da livraria Siciliano, instalada no local”, conta a bibliotecária Maria Cristina Gomes Baboni, do Gabinete Municipal. Nas cidades de Americana e Limeira, os livros de maior destaque são Crepúsculo e Amanhecer, ambos da autora Stephenie Meyer, A Cabana de William P. Young e A Menina que Roubava Livros do autor Markus Zusak. Em Piracicaba, as autoras Nora Roberts e Zibia Gasparetto lideram a lista dos livros mais retirados na biblioteca. Já os livros de literatura e didáticos têm maior saída em Cordeirópolis. E em Rio Claro, os gêneros que mais se destacam são o romance espírita e os de auto-ajuda. Para se tornar sócio das bibliotecas públicas é necessário apresentar RG ou Certidão de Nascimento e comprovante de residência. Se a pessoa for menor de 18 anos, deve efetuar cadastro acompanhado de um responsável legal.
Ambiente de leitura e contato com o livro: diferenciais Recém inaugurada, Biblioteca de Piracicaba tem projeto arquitetônico inovador
educação Leandro Penteado
Bibliotecas públicas da região Biblioteca Pública Municipal de Americana Praça Comendador Müller, n.º 172 Centro - Fone: (19) 3461-9157 e-mail: biblioadm@americana.sp.gov.br Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira: 9:00 às 20:00 horas sábado: 8:00 às 13:00 horas Biblioteca Publica Municipal “Profª. Aita B. Dias” - Cordeirópolis Rua Visconde do Rio Branco, 504 Fone: (19) 3546-1467 e-mail: bibli.aita@gmail.com Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira: 8:00 às 19:00 horas sábado: 9:00 às 13:00 horas Biblioteca Municipal Prof. João de Sousa Ferraz - Limeira Biblioteca Municipal Infantil Prof.ª Cecília Quadros - Limeira Rua Senador Vergueiro, 845 Fone: (19) 3442-6539 e 3445-134 e-mail: bibliotecadelimeira@gmail.com Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira: 8:00 às 17:00 horas
Gustavo Annunciato
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Gabinete Municipal de Leitura “Lenyra Camargo Fraccarolli” Rio Claro Avenida 04 nº 427 – Centro Fone: (19) 3532-4077 Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira: 8:00 às 19:00 horas sábado: 8:00 às 12:00 horas Biblioteca Municipal de Piracicaba Rua Saldanha Marinho, 333 – Centro Fone: (19) 3433-3674 e-mail: bibliotecadepiracicaba@hotmail.com blog: http://biblioteca.piracicaba.sp.gov.br Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira: 8:00 às 18:00 horas sábado: 8:00 às 12:00 horas
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tecnologia
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Lançamentos impulsionam mercado de livros digitais
Elaine Pereira Larissa Martins
O
VirtualBooks - Download gratuito de livros em idiomas variados como alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português. Insere sempre um boletim sobre as últimas inclusões de novos livros no sistema: www.virtualbooks.com.br
s
EbookCult - Livros eletrônicos gratuitos. Arquivos que podem ser lidos em computadores de mesa, notebooks, palmtops, pockts pcs (computadores de mão) e e-readers: www.ebookcult.com.br/acervo/readers.php
Dispositivos eletrônicos já disputam leitores com o livro de papel
artin
Domínio Público - Portal do Ministério da Educação. Biblioteca Digital desenvolvida em software livre: www.dominiopublico.gov.br
Mercado Fundada por Carlos Eduardo Ernanny, A Gato Sabido, primeira e-bookstore brasileira, iniciou seu trabalho em dezembro de 2009 com 120 títulos, e hoje apesar de um grande crescimento - chegou a 4.500 – seu proprietário admite que o número ficou bem abaixo das expectativas iniciais de alcançar 30.000 em 2011. Mas, a velocidade de lançamentos vem crescendo. Desde dezembro de 2010, são lançados em média 25 títulos por dia, contra um no período inicial. Em relação às vendas, Ernanny diz que não são muito positivas quando comparadas ao número de base, mas tem havido crescimento, cerca de 22% ao mês. Um dos problemas, como em outras áreas da indústria cultural, é a pirataria. A melhor maneira de combater a prática, segundo
M issa
Sites para downloads:
parecem sem este charme que o livro impresso tem”, argumenta o estilista e ilustrador Alessandro Paulo.
L ar
surgimento de novas tecnologias tem impulsionado o lançamento de variados modelos de e-readers, os leitores digitais de livros. Atualmente é possível encontrar no mercado no mínimo 14 modelos diferentes, entre os quais Kindle, Alfa, Story, Cool-er e iPad. Aliado a isso, outro fator que anima o novo segmento é o crescimento também no número de obras literárias disponíveis para leitura nestes dispositivos. “E-reader vem de “eletronic reader” (leitor eletrônico). Trata-se basicamente de um leitor portátil de documentos, mais utilizado para leitura de livros digitais. Os e-readers mais modernos variarão de acordo com os modelos e juntamente suas especificidades de funções”, explica o técnico de informática da Biblioteca Municipal de Piracicaba, Fausto Rodrigues Neto. Grandes marcas do setor de eletro-eletrônicos têm investido continuamente na área. Em 2010 a Samsung apresentou dois novos modelos, ambos com a tecnologia de tela sensível ao toque e recursos para escrita digital à mão, diferenciados principalmente pela conectividade Wi-Fi e Bluetooth 2.0. Em maio deste ano, a Barnes & Noble anunciou a releitura do modelo Nook Color (lançado em 2009) tido como uma combinação entre tablet e e-reader. A possibilidade de leitura de um livro na tela de um dispositivo eletrônico não começou com os e-readers, pois alguns modelos de aparelhos celulares já há algum tempo oferecem esta possibilidade. Apesar disto, a maioria das pessoas que aderem a este hábito acaba optando pela compra de um aparelho específico e exclusivo para a leitura e são vários os fatores que determinam esta opção. “Não tenho um e-reader e meu celular
possui esta funcionalidade, mas como a tela é pequena demais só uso em raríssimos casos. Tenho mais de 2000 e-books no meu computador, no entanto um e-reader é mais cômodo e não prejudica a vista, pois a tela não é brilhante como a de um computador ou de um iPad”, argumenta o programador de sistemas Wagner Amaral. A característica de não cansar a vista remete à tecnologia da tinta eletrônica ou ‘papel eletrônico’ (e-ink), usada na maioria dos aparelhos justamente para ocasionar sensação de conforto aos olhos, como se estivesse lendo um livro impresso. “Sou a favor da expansão do uso dos e-readers, inclusive, acredito no incentivo também ao acesso de obras literárias através do domínio público. Há vantagens como a acessibilidade e a mobilidade que os aparelhos leitores de livros digitais proporcionam, e também questões referentes à redução do custo de aquisição das obras literárias”, destaca Melysse Martim, 25, bibliotecária da Biblioteca Municipal de Piracicaba. Muitos usuários e especialistas defendem o uso dos e-readers justamente por possibilitar o acúmulo de variadas obras em um só aparelho. “Adoro tecnologia. A vantagem principal dele está em você poder levar vários livros em um só aparelho”, comenta Tatiane Andrade, 20. A estudante de Letras Licenciatura em Inglês, entretanto, não deixa de mencionar uma desvantagem do novo aparato em relação ao livro tradicional. “O livro impresso possibilita o autógrafo do autor, coisa que no digital acaba perdendo o encanto”, lamenta. E há também leitores que não se rendem às novas tecnologias, mesmo com todos os avanços na área de acessibilidade, conforto, mobilidade e custo. “Não troco as páginas dos livros que tenho e que ainda vou ter. Um livro que abro e folheio cuidadosamente tem aquele ar de mistério, de único, já esses meios de leitura me
ele, é disponibilizar formas econômicas de comercialização do livro ou de parte dele. Ernanny aposta que 2011 deve ser o ano de crescimento de editoras nesta área. “O número de editoras engajadas está crescendo muito, o que na verdade é ótimo porque quanto mais editoras, mais títulos podem ser disponibilizados. Hoje estamos com a margem de 130 participantes”, comenta. A principal dificuldade encontrada no início da utilização dos e-readers no Brasil, deu-se devido à predominância de obras internacionais diante das nacionais. No entanto, gradualmente isto tem se modificado. A editora gaúcha LP&M disponibilizou em abril deste ano mais de 150 obras em versão digital, todas à venda nas livrarias Saraiva e Cultura. A empresa divulgou também que através da DLD (Distribuidora de Livros Digitais) tem como meta atingir 400 títulos até o final deste ano e 1.000 até o final de 2012.