Nツコ 77 Agosto/2013
MULTIDテグ em movimento Centenas de pessoas sテ」o encontradas todos os dias nos mais diversos locais de Piracicaba, como o TCI
carta do editor
Expediente Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep
Gente em todos os lugares
Reitor Gustavo Jacques Dias Alvim Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino César Guimarães da Costa Coordenador do Curso de Jornalismo Paulo Roberto Botão Editora Rosemary Bars Mendez Editores Executivos Arthur Bellotto Larissa Helena Edito de Fotografia Matheus Calligaris Redatores Aline Miranda, Andrey Moral, Ariane Precoma, Beatriz Bernardino, Camila Figueiredo, Camila Tatiê, Carla Oliveira, Caroll Beraldo, Fábio Mendes, Filipe Sousa, Gustavo Annunciato, Isabela Borghese, Jessica Lopes, Jessica Polliani, Matheus Calligaris, Mariana Bittar, Patrícia Peixoto Milão Diagramação e Arte Final Sérgio Silveira Campos (Lab. Plan. Gráfico) Foto de Capa Fábio Mendes
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ndar nas ruas de Piracicaba nem sempre é uma tarefa fácil. A cidade tem hoje, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
perto de 367 mil habitantes, o que lhe garante o título de 17º município mais populoso de São Paulo. O censo de 2000 indicava a existência de 329 mil habitantes, um crescimento populacional de 38 mil pessoas em apenas 13 anos, o que representa quase três mil novas pessoas residindo na cidade a cada ano deste século XXI. Elas estão circulando por todos os cantos de Piracicaba, nos terminais de ônibus, nas ruas do Centro, nos bairros, em áreas públicas, em busca de lazer e diversão e consumindo. A ideia de que ‘em Piracicaba todo mundo se conhece’ está se perdendo e, aos poucos, os grupos de amigos e conhecidos vão se reduzindo e, nas ruas, está a multidão – rostos desconhecidos que se cruzam sem a intimidade daqueles que se encontravam somente por andar na Rua Governador. Esse mapa geográfico, porém, é característico do mundo contemporâneo. Em julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que a população do planeta Terra atingiu 7,2 bilhões de pessoas. Os números estão no estudo «Perspectivas de População Mundial» e já contém a projeção de que em 2050 o planeta terá 9,6 bilhões de pessoas. Um número que leva a uma reflexão significativa sobre a situação que este planeta enfrenta na questão ambiental. Com tanta gente consumindo, o que acontecerá com a Terra? A Global Footprint Network revelou no ultimo dia 20 de agosto, consi-
derado o Dia da Sobrecarga, que o planeta esgotou sua capacidade de produção diante da quota de recursos naturais disponíveis para o ano de 2013. Ou seja: o planeta não consegue repor os recursos naturais para o Acesse nosso site: www. soureporter.com.br
homem na mesma velocidade do consumo, ritmo superior à capacidade de produção que o planeta possui. Com isso, a ONG aponta que em 2050 haverá que ter duas Terras para sustentar a humanidade.
Correspondência Faculdade de Comunicação Campus Taquaral, Rodovia do Açúcar, km 156 - Caixa Postal 69 CEP 13.400-911 Telefone: (19) 3124-1677
PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Nessa edição, a revista Painel procura fazer um panorama local desse cenário populacional com reportagens que procuram identificar onde essa multidão piracicabana está. Boa leitura! 3
Cultura
Filosofia Figura de personalidade marcante, o filósofo e programador cultural antonio filogenio contribui com as ações culturais piracicabanas
Larissa Helena
larishelenarm@gmail.coml
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ntonio Filogenio de Paula Junior é paulistano que adotou Piracicaba como cidade de coração, onde mora há mais de 20 anos e construiu sua família. Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Ensino de Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano, atualmente é mestrando em Educação pela Unimep (Núcleo História e Filosofia da Educação). Entre os principais temas de atuação em seus estudos estão História da Educação, Cultura Popular Tradicional, Cultura Africana e Afrobrasileira. Junior trabalha desde 1999 na Secretaria de Ação Cultural e de 2006 para cá em uma interface entre Secretaria Cultural e Secretaria Municipal de Educação. Desde 1991 colabora com o Centro de Documentação, Cultura e Política Negra. Atualmente, além de pesquisador na área de educação e filosofia onde desenvolve seu mestrado, também atua como programador cultural na Biblioteca Municipal de Piracicaba Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, local onde também coordena desde 2006 o Programa de Fusão Cultural Afrobrasileira. Em 2010 recebeu a Medalha João Chiarinni - Mérito Cultural - Folclore e Tradições Populares pela Prefeitura Municipal de Piracicaba e outros seis prêmios e títulos pelo relevante trabalho na área cultural no município.
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Matheus Calligaris
Painel: Na contemporaneidade, o senhor diria que o conceito de ‘multidão’ é agregador no sentido de unir as pessoas, ou conflituoso no sentido de despersonalização de um indivíduo? Antonio Filogenio de Paula Junior: O termo multidão não me agrada, pois refere-se a um agrupamento de pessoas, mas que não dá conta de dizer quem elas são individualmente, além de massificá-las como um bloco único. Por outro lado, pode também possibilitar a ideia, talvez errônea, de uma coesão, de um pensamento comum. Penso que, seria relevante entendermos este termo no contexto da atualidade, e isto significa pensá-lo na globalização. P: O senhor acredita que a mobilização de grandes grupos seja dada mais facilmente a uma causa em comum, onde se desperta a solidariedade ao outro, ou devido a uma motivação individual que se compactua com demais pessoas? Junior: Isto depende muito, mas é possível assistirmos aos dois fenômenos, talvez com propósitos diferentes. Vejamos as grandes mobilizações que ocorreram em Santa Catarina, após o incêndio da boate Kiss ou as que acontecem durante os períodos de enchente, elas surgem de uma comoção, de uma solidariedade que ultrapassa maiores reflexões, elas brotam de uma condição humana, de preservação e cuidado do outro, daí pensarmos nesta centelha do bem que todos nós temos. No entanto, existem mobilizações racionalizadas, pensadas com alguma finalidade e que acabam agregando um número considerável de pessoas que se identificam ou compactuam ideias em comum. Alguns exemplos disso são comunidades religiosas ou os adeptos de alguns gêneros musicais.
P: Em todos os lugares que vamos há multidões de pessoas. Andamos na rua e não conseguimos encontrar um rosto conhecido. Que era é essa que vivemos? Somos cada vez mais desconhecidos do outro, perdidos nessa multidão? Junior: O homem somente pode exercer a sua humanidade com o outro, na coletividade humana e, para isto, é necessário a percepção do outro, o olhar atento. Muitos autores refletem sobre esta questão a partir de princípios distintos, mas o que fica evidente é a necessidade de um sentido para além do mundo dos negócios, do mundo mecânico. O mais importante neste contexto é o ser humano, mas o que temos observado é uma inversão de valores, já que os equipamentos produzidos pelo homem tem gradativamente ocupado este lugar. Nesta condição, a vida perde o sentido e o significado, pois o sentido já está dado e, na maioria das vezes, é apenas para alimentar a lógica operacional de mercado. O homem vive para servir uma estrutura por ele mesmo construída, mas que é apenas objetiva, externa à sua essência. Esta sensação provoca um mal estar, pois a vida vai sendo esvaziada. P: Aristóteles descrevia a cidade como um composto, uma multidão diversificada, inclusive gerando o conceito de cidade-estado na qual é imprescindível aos cidadãos a questão da participação na vida política. Enquanto filósofo, este conceito ainda se estende aos dias atuais? Junior: O sentido de multidão dado aqui é um pouco distinto daquele que inicialmente falamos, pois ele apenas reflete algo que também hoje discutimos, a questão
As grandes mobilizações surgem de uma comoção, de uma solidariedade” PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
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da diversidade e o desafio da ética. Na questão política refere-se à necessidade de fazer entrar em um acordo consciente estas diferentes vozes, estabelecendo um local comum, porém diverso, que consiga garantir a vida dessas pessoas, esta seria a cidade. Esta busca não necessita levar a despersonalização da pessoa, a ruptura do seu eu, muito pelo contrário, ela apenas exigiria uma maior flexibilização entre essas diferenças para que de fato se estabeleça o diálogo, caso contrário, teremos apenas um jogo entre diferentes forças que ocupam posições bem fixadas na busca pelo poder, tal posição, retira a possibilidade de estabelecimento de uma cidade plena.
P: Além de filósofo o senhor trabalha há muitos anos na área de cultura em Piracicaba, inclusive como programador cultural. Em sua opinião, os movimentos sociais e/ou culturais podem atingir mudanças significativas em um contexto se movido e motivado através de um grande grupo de pessoas? Junior: A questão é a de que entendimento se faz da cultura, qual o papel que ela ocupa. Se pensarmos a cultura apenas em uma dimensão representativa do fazer artístico, ela pode ser conduzida para onde se quiser, independente do local em que ela surja, pois sempre terá um grupo a pensar estrategicamente sobre ela, e uma tentativa de enquadrá-la em seguimentos, em áreas ou zonas de controle, para que apenas opere aquilo que já está previamente calculado. Sendo assim, não percebo no que o povo alteraria esta questão, já que ao não ser devidamente refletida, apenas é um instrumento a mais do poder. No entanto, a cultura é um dado muito maior do que isto, pois o homem só é na cultura, a cultura é vida e, portanto, dinâmica, criativa e inventiva, por isso é através dela mesma, que se burla a lógica dominante. Neste aspecto a análise que o historiador francês Michel de Certeau fazia da cultura como um fazer prático inventivo, soa bastante interessante. Neste caso, teremos algo sempre novo, capaz de desconstruir o que está determinado, contudo isto somente é possível no movimento e na permanente identificação das pessoas
aquele processo. Já que na lógica da dominação, a tentativa sempre será a da fixação, e do rigor da forma, esta é uma maneira de enquadrar e comercializar uma prática. Sendo a cultura também a totalidade das coisas feitas, inventadas e recriadas pelo homem, ela também é porta-voz da cultura da dominação, portanto, ela mesma deve ser permanentemente revista através da percepção do homem e do sentido da vida humana. P: Os adeptos da escola de Theodoro Adorno criticam a massa, quando se pensa em cultura. Mas a teoria foi desenvolvida no início do século XX. E hoje? O que seria o conceito de massa e como a cultura pode ser analisada a partir deste conceito?
“O homem exerce a sua humanidade com o outro, na coletividade humana” 6
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Fotos: Matheus Calligaris
Todos nós fazemos parte da multidão”
Junior: A Escola de Frankfurt estabelece uma teoria crítica da sociedade que continua válida. A cultura pode ainda ser pensada nesta perspectiva, assim como a educação, ela exige a consciência do sujeito sobre si mesmo e o espaço que ele ocupa, recusando-se a ser apenas parte de um grupo maior, a massa, que segue um determinado modelo, isto o faz um sujeito crítico, um ser de direito que reflete a sua existência e o que está sendo feito dela. Porém, as dificuldades que são colocadas hoje, exigem cada vez mais que estejamos aptos a observar os fenômenos por outros pontos de vista, por outras perspectivas. E, neste sentido me parece que todos os referenciais teóricos têm procurado estar atentos a estas mudanças, e assim as próprias perspectivas teóricas estão discutindo a melhor maneira de refletir sobre os problemas atuais. Segundo o filósofo inglês Kwame Anthony Appiah, hoje é difícil encontrarmos uma teoria que dê conta de tudo, na realidade, segundo ele, estamos a partir destas diferentes formas de abordagens nos preparando para ampliar o conjunto de informações disponíveis e os ângulos de visão sobre um determinado problema que se apresente. Desta maneira, seja na
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teoria crítica, no marxismo, na fenomenologia, ou qualquer outra linha que se apresente, temos pensadores com uma capacidade cada vez maior de flertar com outras possibilidades, que procuram aproximar-se dos fenômenos culturais, não somente com as clássicas formas de análise, mas que redescobrem na prática dessas culturas, elementos de protesto, de invenção e reapropriação do espaço cultural. P: Essa onda de consumo que temos hoje seria própria do sistema capitalista ou da quantidade de pessoas que existem no mundo? Como podemos diferenciar uma situação da outra, se é que isso é possível? Junior: Essa questão está relacionada com a anterior, na medida em que a estrutura que reconhecemos hoje no mundo ocidental é marcada pelo capitalismo, e o mesmo é portador de uma capacidade incrível de apropriação das produções humanas, pois tudo o que o homem realiza e produz, se torna um bem a ser comercializado, a ser consumido. Portanto, quando imaginamos estar na contramão do consumo, acreditando estar estabelecendo um caminho alternativo de vida, já estamos com esta nova ideia, fazendo parte da estatística de
possíveis novos produtos que estão sendo estabelecidos e fornecidos no mercado. No entanto, a quantidade de pessoas no mundo gera mais ideias, mais produtos e mais consumo, o desafio está em entender esta lógica, dentro de um sentido para a vida, e este é um desafio de cada ser humano hoje, o que é e o que não é relevante para mim? Será que preciso comprar todos os novos modelos de celular que são lançados? Fazer do shopping, o lugar mais importante de passeio com a família? Me parece que a regulação dos nossos hábitos, das nossas práticas já seriam um caminho interessante no relacionamento com a contemporaneidade. Essas construções estão dadas e penso que seja quase impossível, ao menos no contexto urbanizado que vivemos, estar sem elas. O que se faz necessário é resignificar as nossas vidas na utilização desses bens, e com isto não precisar consumir desenfreadamente tudo o que se apresenta. A vitrine foi aumentada e o encanto aos nossos olhos é maior, não é á toa que a estética sempre ocupou lugar especial na vida das pessoas. O que precisamos de fato é também não esquecer antigas práticas, valores importantes que nos fazem bem e também nos dão prazer, como o de simplesmente sentar a beira do rio e ficar observando a água. P: Nesta era tecnológica, a internet tem sido uma ferramenta contributiva à divulgação de movimentações a determinadas causas, em sua maioria se manifestado através da criação de “Eventos” pela facebook e petições online envolvendo, muitas vezes, milhares
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P: O senhor se sente um indivíduo nessa multidão? Diria que sente sua individualidade respeitada? Junior: Todos nós, pela lógica estabelecida, fazemos parte da multidão, por mais que pensemos estar fora deste contexto. Cada vez que vou ao shopping eu faço parte da multidão que frequenta o shopping, cada vez que consumo um determinado produto recém-lançado. Enfim, eu estou fazendo parte desse contexto. A grande questão é o modo, a maneira como eu me aproprio disso, como lido com essas situações, ou seja, a maneira como não me permito ser apreendido por elas de modo a me fixar, a me reter. Neste caso, devemos ser, como nos diz a filosofia prática da capoeira, somente movimento, ginga, fluindo por estes lugares como água, mas não me deixando aprender por nenhum deles, eu os vivo no meu tempo e não eu no tempo deles. Este respeito a minha individualidade compartilhada, cabe a mim dar, por mais que as normas de dominação insistam em desconsiderá-la. Com
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Matheus Calligaris
de pessoas. O senhor defende esse tipo de movimento virtual? Isso realmente atinge a questão prática e sai da virtualidade? Junior: Esta é uma utilização interessante do instrumental que está disponível em nossas mãos, a questão é exatamente esta, a de saber utilizar estas ferramentas a nosso favor. Um caso recente dessa utilização foi o início das revoluções no mundo árabe. No Egito, em especial, a mobilização se deu via redes sociais a partir dos jovens, ou seja, por pessoas que conhecem este meio de comunicação e já se ocupam dele com eficiência técnica. Vemos também casos de ações, que em muitos casos tem conseguido o apelo mundial necessário para provocar pelo menos a reflexão de problemáticas específicas e locais, que sem esta mobilização, jamais teriam como alterar determinados quadros de exploração e poder.
A quantidade de pessoas no mundo gera mais ideias, mais produtos e mais consumo
isto, não isento as responsabilidades dos órgãos de poder, muito pelo contrário, apenas refletimos de modo a entender que existe em cada um de nós uma área que é de nosso domínio, que é de nossa liberdade, uma liberdade desafiadora, porque exige reflexão e ação, mas continua livre, mesmo diante de fatos dados. P: Até que ponto podemos ser indivíduos nessa sociedade massiva? Quem somos nós? Junior: Somos seres humanos e, pensando isto, é saber que temos possibilidades de escolhas, de decisões. Isto é bastante significativo é a marca distintiva de nossa condição. A condição humana é especial entre todos os seres, não diríamos nem mais, nem menos importante, mas emblemática no sentido de dizer que a partir de nossas escolhas, determinamos a existência dos outros seres, por isso a busca para sermos responsáveis por nossa existência, e se, individualmente, ou nessa aparente individualidade, conseguimos estabelecer critérios mais conscientes de nossas escolhas, já teremos dado um passo fundamental para o destino de nossa civilização, já que na concepção de muitas culturas do oriente ou mesmo na África, tudo está unido, tudo está interligado, e portanto a minha ação, por menor que pareça ser , está fazendo parte de uma rede infinita de comunicações e correspondências, e refletir sobre isso nos faz mais responsáveis, e alimenta algo de relevante em nosso espírito, a alteridade e a solidariedade. O filósofo malinês Amadou Hampaté Bá nos fala que somente somos com o outro e pelo outro. Neste sentido, se faz necessário que estejamos atentos a esta condição humana que se realiza no encontro com o outro, na comunicação, tendo nestes encontros o caminho para a solução de nossos problemas e o reencontro com um sentido de vida capaz de nos conduzir a emancipação de nós mesmos.
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sumário
31 ALIMENTAÇÃO E HISTÓRIA EM 11 COMÉRCIO, UM SÓ LOCAL
Apesar de reclamações quanto à segurança, a Governador é ainda a preferida dos piracicabanos para compras e passeio
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TRADIÇÃO QUE SE FORTALECE Duas mil pessoas circulam todos os dias no Mercado Municipal, além, dos comerciantes e funcionários
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É DIA DE VAREJÃO Pequenos produtores rurais e permissionários alteram a rotina da comunidade da Paulista
TCI, A MULTIDÃO QUE SE LOCOMOVE 25 Há 22 anos, o Terminal Central de Integração (TCI) atende mais de 35 mil pessoas diariamente
SE TORNAM PALCO DE FLASH 28 LOCAIS MOBS
Pessoas de diferentes lugares, idades e crenças se reúnem a fim de serem ouvidos
E AÍ, VAI PRA ONDE? 31 Independente da preferência musical, a
variedade de locais garante a diversão dos jovens na noite.
SE TRANSFORMA EM PONTO 20 FEIRA CULTURAL
CONEXÃO DE LUGARES E PESSOAS 34 Na Estação da Paulista está a história
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Centenas de pessoas residentes em São Pedro se encontram todos os sábados na feira do produtor
GENTE QUE VEM E VOLTA O Terminal Rodoviário de Piracicaba é palco de grandes histórias desde 1963
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de Piracicaba, hoje local para atividades culturais
NO ESPORTE 36 EXTREMOS Mais do que um lugar onde skatistas
praticam suas manobras, a pista da Rua do Porto é um lar
PARA SE TER TRANQUILIDADE 38 Cerca de 150 pessoas por dia buscam
o Zoológico para se divertir e admirar a natureza
ONDE É O FIM DA FILA? 40 Na agitada vida moderna, em que tempo é
dinheiro, soluções para diminuir tempo de espera nas filas desafia bancos
SAMUCA CRESCE EM UM SÓ ESPÍRITO 42 O samba da família samuqueira leva aos
integrantes descontração e muita alegria
APITA O ÁRBITRO! 44 Estádio de futebol é palco de histórias, local onde os sentimentos se confrontam
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OPINIÃO
No loop do óbvio Larissa Helena
larishelenarm@gmail.com
A
modernidade nos projeta em um ritmo cíclico, onde muitas vezes o olhar passa a ser condicionado ao óbvio e o comodismo se somatiza ao senso comum. Assim como analisa Nicolau Sevcenko em sua obra “A corrida para o século XXI – No loop na montanha-russa” (2001) o controle tecnológico do ambiente onde as pessoas vivem acaba alterando comportamentos, pois em uma sociedade altamente mecanizada, o ritmo e a aceleração do ser humano estão encadeados ao ritmo das máquinas, assim como também há uma mudança de valores onde praticamente ninguém se conhece e as condições de aproximação são dadas através de símbolos exteriores. A cidade, a metrópole, tornam-se esfuziantes. Somos engolidos pelo movimento, somos pausados aos sinais de trânsito, somos hipnotizados por celulares, tablets, iphones e derivados, somos de uma geração onde a dinamicidade se constrói pelo local onde se está e a personalidade dada pelo o que se consume.
Muitas vezes, acabamos nos acostumando a um olhar unilateral aprisionado aos óbvios e estereótipos. A diversidade de pessoas muitas vezes passa despercebida no dia a dia. Há a necessidade do resgate desta essência da dinamicidade do jornalismo, por muitas vezes deixada de lado pela subordinação à tela de um computador ou no comodismo na temporalidade de uma resposta de email. O desafio se sobrepõe ao ir além do interpessoal, do factual e do racionalismo, resgatar o lado humanístico. Ir em busca da informação, sair da zona de conforto, do cômodo, ir às ruas. Sob este olhar entre feiras, locais de lazer, mercados e entre outros, focando-se principalmente na multidão, no povo, nas pessoas, buscam-se as histórias originadas no anônimo, a profundidade que se está além das histórias oficiais, do Google ou de um release. (Re) Despertar o investigativo, a intuição e a apuração de dados, desconfiar de uma assessoria de imprensa. Ir além do que se já é dado como o “prato-feito” da informação. O jornalista como um flaneur dotado de consciência crítica e que reporta.
O gigante acordou Arthur Belotto
arthurbelotto@gmail.com
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população mundial já ultrapassa o número de sete bilhões de habitantes e, de acordo com a Organização das Nações Unidas, continua crescendo em uma ritmo jamais visto. E os desafios de se viver em mundo cada vez mais populoso ficam mais visíveis com o passar dos dias, independente de sua classe social, idade ou localidade. Problemas de “cidade grande” como longas filas, trânsito e lugares cheios de gente são algumas das coisas que deixam de ser exclusivas das grandes metrópoles e já fazem parte da rotina de quem vive no interior. A insatisfação que leva milhares de pessoas às ruas em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, já levava várias pessoas para protestar em cidades como Piracicaba
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há meses. Porém, quando essas manifestações ganharam proporções maiores, os motivos foram muito além do descontentamento com a elevação na tarifa do transporte público. O povo acordou e reagiu na hora certa. Com o país sob os holofotes às vésperas de receber grandes eventos internacionais, o movimento continua ganhando volume e continua se espalhando por outras cidades e capitais. Todo esse consumismo que tanta ameaça a forma que vivemos serviu para mostrar indiretamente o poder das redes sociais. Estamos cada dia mais conectados através da internet e é notável a popularização de eletrônicos, tais como laptops ou smartphones, ferramentas que tiveram papel crucial nessas manifestações. É finalmente gratificante ver jovens e adultos fazendo bom uso das redes sociais, lutando pelos seus direitos e ideais e fazendo jus a evolução digital e a revolução que tanto lutam.
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Apesar de reclamações quanto à segurança, a rua Governador é ainda a preferida dos piracicabanos para compras e passeio
Comércio, alimentação e história em um só local Fotos: Aline Miranda
Aline Miranda
aline.crm@gmail.com
Camila Figueiredo
cammyfig@yahoo.com.br
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odo piracicabano já foi - ao menos uma vez - na rua mais movimentada da cidade, a Governador Pedro de Toledo. Não precisa de muito tempo para perceber que por ali circulam pessoas de todo tipo e classe social. Segundo dados da Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal de Piracicaba, no total são 1.344 estabelecimentos, desde lojas de departamento, roupas, calçados, até drogarias, perfumarias e lanchonetes. Além disso, por ser uma via de comércio intenso, durante a semana o movimento é ainda maior. Segundo o engenheiro da Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (Semuttran), Getúlio Pedro de Macedo, o volume de trânsito da Governador chega a 13.500 veículos por dia. O Magazine Torra Torra, que também já foi lugar da tradicional loja de tapetes Portalarga, foi inaugurado em 2006 e está localizado em uma das quadras principais da rua e é, sem dúvida, um ponto muito conhecido PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Tradicional loja de calçados e acessórios, atende diversas classes sociais e faixa etárias
pela população Piracicabana. “É um ótimo lugar e bem famoso, além de ser o coração da cidade”, comenta o gerente de vendas Sabino Freitas. O estabelecimento, que mais parece um mini shopping, conta com restaurante, cafeteria e playground, atraindo assim, todos os públicos, desde crianças até donas de casa. Contudo, o gerente afirma que falta segurança e policiamento na rua, o que coloca em risco seus clientes e pode até afastá-los para lugares mais seguros,
como o shopping e outros bairros. “Só na semana de pagamento que tem policiamento. Há muitos assaltos, atritos, roubos. A segurança tem que ser diária. Aqui tem um fluxo grande de dinheiro, eles ganham em outros locais e vem gastar no centro”, conta. Para a gerente de vendas da Passarela Calçados, Terezinha Nicolau, a localização da loja é a maior influência no sucesso das vendas. “Estamos na quadra principal da Governador, que dá acesso aos terminais rodoviário e 11
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Aline Miranda
municipal”. Basta alguns minutos na loja, para perceber os diversos tipos de clientes de variadas classes sociais. Devido a sua intensa movimentação, a falta de lugares para estacionar o carro está entre uma das problemáticas existentes na Governador, fato que muitas vezes pode afastar clientes. “Várias solicitações sobre a situação do trânsito já foram encaminhadas à Prefeitura, mas por enquanto não há nenhum projeto em andamento”, diz Terezinha. Essa é uma das maiores reclamações dos frequentadores da rua, como é o caso da operadora de telemarketing, Patrícia Mendes, que vai a Governador para passear e fazer compras, mas muitas vezes desiste de parar devido ao trânsito. “Poderia ser uma rua fechada, onde não passasse carros, ou ter mais rotatividade para que se possa estacionar”, comenta. Em relação a datas comemorativas como Dia das Mães, Pais, Crianças e Natal, época em que o comércio está mais aquecido, Freitas afirma que falta apoio da Prefeitura e da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) em relação a alguns estabelecimentos da rua. “Os governantes precisam olhar com mais carinho para a Governador. Eu não estou falando pra ter um circo, mas sim sinalizar o que está acontecendo no mês e incluir todas as lojas que tem interesse em participar”, finaliza o gerente do Torra Torra. Segundo a Assessoria de Imprensa da Acipi, atualmente são 4.000 associados dos segmentos do comércio, indústria e serviços de Piracicaba e Saltinho. “Há incentivo às datas comemorativas para o comércio e a Acipi realiza, por meio do Departamento de Promoções, ações de marketing para os associados como mais uma ferramenta de desenvolvimento de seus negócios, motivando o aumento das vendas”, frisa a assessoria. Não é só de lojas que vive a rua mais famosa de Piracicaba. Para o taxista, Sidnei Pereira, que está há nove anos no mesmo ponto e chega a fazer até dez rodadas no dia de maior movimento, a rua não colabora só com o seu trabalho, mas também é um local de muito carinho e grandes amizades. “Tenho muitos clientes fixos, que acabam virando amigos. Não pretendo
Rogério Morretti é proprietário da banca de jornais e revistas há 43 anos e diz que a única coisa negativa para ele de se estar na Governador é o trânsito enfrentado pelos frequentadores
deixar esse ponto na Governador, já que é um local de grande rotatividade de pessoas e que sempre precisam de um táxi a qualquer hora”, diz. Sobre os riscos de se estar exposto, sem muita segurança, Pereira afirma que “o local é tranquilo e raramente acontecem assaltos, mas se chega alguma pessoa suspeita eu me nego a atender”. Para ele, é mais positivo do que negativo estar ali. “O lucro compensa. Aqui, por estar na área central, tem mais privilégios. Eu acredito que o que está aumentando é o trânsito, a cidade está crescendo e gente é o que não falta aqui”, finaliza. Para Rogério Morretti, proprietário da banca Mercado, há 43 anos na Governador, não tem um ponto turístico que nem banca “Aqui você tem que saber de tudo e conhecer todo mundo”. É entre um pedido e outro, que incluem informações sobre a localização do mercadão ou do posto de saúde, que Morretti atende um cliente interessado em comprar uma revista ou fazer recarga do celular. O dono da banca garante que as vendas são aquecidas pelos dias de maior movimento de gente nas lojas, também reclama do trânsito e teme que essa situação pode acabar prejudicando o seu negócio “O trânsito está horrível, o cliente encontra dificuldade para estacionar e quando consegue tem essa ‘bendita ’Zona Azul”, completa Rogério.
O servente de pedreiro, João de Oliveira Marques, frequenta a Governador para acompanhar a esposa, enquanto ela faz compras, praticamente todos os sábados de manhã. “O que eu acho melhor é ter muita coisa que nos bairros mais afastados não encontramos. Mas o ruim é quantidade de gente, não tenho paciência não”, conta. Fazer compras na rua para João não é uma escolha, e sim uma falta de opção. “Por mim, seria muito mais fácil que minha mulher encontrasse tudo que precisa no nosso bairro, mas já que não tem jeito, eu trago ela pelo menos um dia da semana”, finaliza. Seja para fazer as compras necessárias, trabalhar, se alimentar ou apenas passear, centenas de pessoas são atraídas para a Governador Pedro de Toledo diariamente. Mais do que um ponto de comércio e trânsito intensos, a rua segue como parte essencial da história de Piracicaba. Não há, entre as gerações mais antigas de piracicabanos, quem não se lembre ao menos de uma loja tradicional instalada ali, e nem nos dias atuais, quem nunca tenha passado por ela. Assim, a resolução dos problemas apontados e investimentos constantes na rua por parte da Prefeitura e demais responsáveis, se tornam fundamentais no sentido de melhor atender à população e, também, de preservar uma via histórica da cidade. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Tradição
que se fortalece Filipe Sousa
contatofilipesousa@hotmail.com
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construção de um espaço que pudesse reunir variedade de compras passou a ser uma necessidade para sanar os problemas de consumo das pessoas, fato que começou a surgir em Piracicaba no final do século XIX. Oficialmente o Mercado Municipal de Piracicaba iniciou suas atividades no dia 5 de julho de 1888, ano que está inserido no período que é historicamente conhecido como a segunda parte da Revolução Industrial, conhecida como a que marcou a evolução da tecnologia nas indústrias. Tais progressos começaram a dinamizar as práticas comerciais
Matheus Calligaris
magine viver em uma época em que boa parte dos produtos que precisasse comprar fosse possível somente através de vendedores ambulantes, que passavam de porta em porta ou nas mercearias e vendas daquele tempo? Neste contexto, a falta de alguns itens estava entre as normalidades e os comerciantes não podiam suprir a demanda. A dinâmica de comércio, compra, venda e consumo era diferente dos dias de hoje. A
Duas mil pessoas circulam todos os dias no Mercado Municipal, além, dos comerciantes e funcionários
Mercado Municipal de Piracicaba foi inaugurado em 1888 e ainda mantém algumas características de sua arquitetura original
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e de consumo. Um dos objetivos da construção foi o de justamente oferecer um centro de compras na cidade que reunisse, em um único lugar, produtos que atendessem as necessidades das pessoas, tanto materiais como também alimentares, em uma ocasião na qual o número de habitantes se expandia consideravelmente. Tudo começou quando o proprietário da época do jornal Gazeta de Piracicaba, Joaquim da Cunha, escreveu dois editoriais, um publicado em agosto de 1882 e outro em março de 1884, sobre a importância que teria um mercado em Piracicaba. O vereador Manoel de Moraes Barros compartilhou da idéia e levou a proposta até à Câmara de Vereadores. A partir de então, uma série de impasses e questões foram resolvidas até a Câmara aprovar a proposta. O prédio, erguido na Rua Governador Pedro de Toledo, também conhecida como “Rua do Comércio”, foi concluído em 1887. Para o público foi aberto em 1888 para atender a uma exigência de elaboração do regulamento interno do empreendimento. Piracicaba presenciava o início de um patrimônio histórico e marco da economia local.
A gastronomia também atrai clientes, segundo Sandra Oliveira (foto) são vendidas, em média, de 50 a 70 tapiocas semanalmente
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A tradição do Mercado Municipal é notória, ainda hoje é um centro de compras completo: reúne lojas que comercializam artigos religiosos, produtos para a prática da pesca, passando por especiarias, cereais, artesanatos, açougues, floricultura, pasteis, tapiocas, mercearias, docerias, utensílios gerais, hortifrutigranjeiros, empórios e pet shop. Por estar localizado na parte central da cidade em uma rua com grande movimento, logo é comum ver dezenas ou até centenas de pessoas por lá, percebe-se o fluxo intenso nas entradas. É gente entrando e saindo a todo o momento, em média o espaço recebe cerca de duas mil pessoas por dia. Em uma manhã ensolarada de sábado é raro encontrar uma vaga no estacionamento, todos os veículos ali, estacionados, fazem delas algo valioso para os consumidores que foram com seus carros. No interior do Mercado os corredores nunca estão vazios. É comum ver quase todas as pessoas olhando e adquirindo algum produto e segurando sacolas. As bancas de pastel também promovem ‘disputa’, assim como as vagas para o estacionamento, só que desta vez a competição é um por um lugar no balcão para pedir e depois saborear o pastel frito na hora. O cheiro domina o corredor que, para conforto dos clientes, não é lá muito apertado o que possibilita maior comodidade para as pessoas transitarem. O prédio, patrimônio histórico, mantém características de sua arquitetura original, além de ser referência e ponto de encontro na cidade. A tradição secular do Mercado mistura segmentos de comércios antigos, que resistem às mudanças, e conseguem se manter, como as mercearias. Aos mesmo tempo, tem comerciantes que direcionam suas estratégias atendendo necessidades do consumidor moderno, como aquele que, entre outras características, não possui tempo para fazer uma refeição com mais calma. Sandra Oliveira, assim como a maioria dos outros proprietários de lojas no mercado, administra seu empreendimento em família. Há aproximadamente um ano executa atividades no local, vende de 50 a 70 tapiocas por semana e ressalta essa necessidade de
É comum ver os corredores sempre cheios. Em média são duas mil pessoas que circulam por dia no local
seus clientes. “Aqui os clientes fazem o pedido, compram e vão embora”. Eliane Spironeli, na companhia do marido e do filho, além de dois funcionários, mantém há 12 anos no Mercado Municipal loja especializada em cereais, aveias, temperos, entre outros itens. A comerciante cita que durante todo o ano o movimento é grande e perto de datas especiais, como a Páscoa e o Natal, as vendas sobem. Eliane ainda comenta sobre a segurança do PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Fotos: Matheus Calligaris
local para os comerciantes poderem trabalhar. “Aqui é um centro que atrai as pessoas, isso é um ponto positivo. Existe ainda o fato de estarmos aqui dentro e não lá fora, o que nos deixa mais seguros”, relatou. Gerações no estabelecimento Quando tinha apenas 15 anos de idade, Irineu Lopes, influenciado pelo pai, começou a trabalhar na Comercial Lopes, empreendimento que ocupa o box 19 e PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
funciona no local há 67 anos, sendo atualmente a mais antiga. Lopes leva o negócio na companhia da esposa, comercializando especiarias, alguns temperos e produtos como arroz, feijão, molhos de tomate, macarrão, ervilhas e milhos. Configurando Maria Libardi vende artigos de Umbanda em uma loja um modelo de negócio que começou como tabacaria característico do passano final dos anos 70 do, as chamadas vendas que, com o tempo e a alta da demanda, foram Maria Libardi trabalha há 15 anos no Mercado Municipal substituídas aos poucos pelos supermercados para suprirem as esse objetivo para implantarmos o necessidades cada vez mais expansivas projeto de segurança em casos de indos consumidores. “Eu me sinto bem cêndio”, afirmou. em estar aqui. Só que hoje o movimenNa opinião do administrador os to é mais fraco, a concorrência afetou principais diferenciais são os produtos um pouco”, analisa Irineu. frescos e em bom estado para o conHá mais de 35 anos, a Tabacaria sumo. “Os açougues recebem carnes Libardi está no Mercado Municipal todos os dias e as verduras, frutas e e há nove anos é mantida por Maria legumes chegam sempre com uma peLibardi. O negócio começou com o riodicidade boa aos boxes. Isso agrada sogro de Maria como tabacaria, mas no aos clientes. Outro ponto positivo é final dos anos 70 a família optou por o contato direto entre proprietário vender artigos religiosos como imagens e clientela, que favorece o trabalho de santos, velas, quadros e outros pro- e também a compra. Daniel Tiburcio dutos da área. Com o tempo, a maioria relatou ainda que a linha de hortifrúti do material comercializado tornou-se juntamente com os pasteis, são os ardirecionado à Umbanda. A falta de tigos mais vendidos e que mais atraem conhecimento e de respeito de alguns o consumo no Mercado. é citado por Maria Libardi. “Já sofri Empresas familiares - Todas as preconceito aqui na loja. As pessoas micro e pequenas empresas instaladas falam que isso aqui é macumba e não no Mercado Municipal são familiares, sabem que a Umbanda é uma religião nasceram do projeto de uma só pessoa como outra qualquer”, ponderou. A ou de um grupo pequeno de parentes loja é uma entre as dezenas que estão e, com o tempo, agregou novos inteno mercado há anos e que permanecem grantes da família. Eliane Spironelli, ativas devido às gerações familiares. proprietária da banca que leva o seu nome, observa com bons olhos essa Administração - O Mercado Muni- situação. “É bem melhor trabalhar em cipal abriga 152 boxes e 62 permissio- família. Os problemas são menores e nários, proprietários de loja, sendo que em família tudo se resolve”, destacou. alguns estabelecimentos ocupam mais O administrador Daniel Tiburcio de um box. Daniel Tiburcio, adminis- também compartilha da ideia de que trador, comenta que hoje o principal tocar um negócio em família é bom desafio é reformar o local que, entre para a empresa. “Todos os grandes outras melhorias, possibilitaria expan- empreendimentos, como as multinadir as instalações hidráulicas levando cionais, começaram da ideia de uma água a todos os boxes, além de um família, da unidade de um grupo faprojeto mais eficaz para prevenção e miliar, isso é que faz a diferença. Em segurança em ocorrência de incêndios. todos os boxes você encontra pai, mãe “No próximo mês vamos intensificar e filhos trabalhando”. 15
Pequenos produtores rurais e permissionários alteram a rotina da comunidade da Paulista
É dia de
varejão
Ariane Precoma
ane.precoma@gmail.com
M
ais de 30 mil quilos de alimentos são vendidos semanalmente no Varejão Municipal da Paulista. A atividade, que já tem 18 anos de história, movimenta a economia e, porque não dizer, a vida de pequenos produtores rurais e dos mais de 60 permissionários (pessoas que tem permissão para manter uma banca no varejão) que trabalham todas as quartas e sábados para atender aproximadamente 2.800 pessoas que passam por lá nesses dois dias. O varejão surgiu em outubro de 1995, nas dependências da antiga Estação da Paulista. Se hoje o período mais visitado é logo ao amanhecer, naquela época funcionava das 14h às 23h e tinha como foco o período noturno, onde, com uma proposta diferenciada dos demais varejões, aconteciam shows ao vivo na área de alimentação. Em 2006, o endereço mudou e com ele também as diretrizes. Nesta nova fase, o ambiente mais amplo e o estacionamento com capacidade para até 200 vagas passaram a ser o diferencial assim como também um setor exclusivo para alimentação. Segundo o diretor do Departamento de Abastecimento (Depab) do Sema (Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento), Francisco Ernesto Guastalli, o galpão foi construído es16
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varejão
Isabela Borghese
No Varejão Municipal da Paulista, as frutas laranja e banana têm bancas exclusivas
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pecialmente com finalidade de comercializar produtos perecíveis e atender um maior número de consumidores. “É um galpão com 1.500m², estruturado para atender à venda de alimentos com qualidade, dispostos com balcões e uma cozinha, além da área administrativa e sanitários femininos, masculinos e para portadores de necessidades especiais”, frisou. No Varejão Paulista são comercializados verduras, legumes, frutas - nacionais e importadas - além de pescados, aves, ovos, frios, laticínios e, também, pães e doces artesanais, produtos derivados do milho verde como, pamonha, curau, suco e bolo de milho verde, caldo de cana, cachaça e licores artesanais. Além dos alimentos, plantas ornamentais e frutíferas com exposição e comercialização podem ser encontradas em ambos os dias. Para quem quer se alimentar, a praça de alimentação, montada aos sábados, dispõe de alimentos leves, rápidos, até refeições. No cardápio, tapiocas, sucos naturais e açaís, salgados, pastéis, espetinhos de carne, churros e também batata recheada e yakissoba. Na quarta-feira a oferta é menor, no entanto, os alimentos leves e tradicionais da cidade, como os derivados do milho estão sempre à disposição. A diferença entre os dias não está somente na disposição da praça de alimentação, mas também no número de permissionários e produtores, bem como nas atividades culturais que são realizadas em parceria com secretarias, como a Selam (Secretária Municipal de Esportes, Laser e Atividades Motoras), principalmente às quartas-feiras. “O espaço que dispomos as quartas é maior, pelo fato de ter menos permissionários. De tempos em tempos realizamos atividades. Já tivemos oficinas de origami, que era tanto para as crianças, como para os adultos. Agora estamos com atividades infantis, como pula pula, realizadas pela Selam”, explicou a engenheira agrônoma do Sema Evelise Moda.
De acordo com dados disponibilizados pelo Sema, aos sábados atuam 52 permissionários, dos quais dez são pequenos produtores rurais, com uma média de 180 bancas montadas. São comercializados neste dia, cerca de 28 mil quilos de alimentos. Às quartas-feiras são 12 permissionários, sendo três os produtores rurais, dispostos em aproximadamente 48 bancas. A média de venda para esse dia é de três mil quilos. Apesar de mais movimentados, os sábados também recebem – com menos frequência – atividades culturais. Como foi o caso do projeto Chef na Feira, realizado a cada 15 dias, de 2008 a 2012 por um grupo de alunos da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) orientados pelas docentes do curso de gastronomia Mariana Marona e Tatiane Santos. O projeto, segundo Tatiane, surgiu da discussão do movimento SlowFood em Piracicaba e da necessidade de divulgar os produtos regionais, incentivando assim o consumo de hortifrutis pela população. “Sua concepção se deu em um grupo de cozinheiros, professores e pesquisadores ligados à alimentação e unidos pelo movimento SlowFood, que visa resgatar a escolha de produtos locais, buscando o fortalecimento da agricultura familiar e orgânica”, destacou. Ainda segundo a docente, levar a universidade para o varejão foi a forma que os professores de gastronomia encontraram para aproximar os alunos da comunidade. “A inserção destas atividades visava despertar o paladar dos consumidores para novos sabores, resgatando também as tradições da culinária local e a reintrodução de alimentos esquecidos pela população em seus hábitos alimentares. Mas, também, despertar nosso aluno a consciência da origem do alimento e favorecer o contato dele com o público desde cedo”, detalhou. O projeto apresentava pratos feitos pelos alunos para degustação, juntamente com a receita. 17
Esse contato entre permissionários e o público não é uma característica única dos projetos, pelo contrário. Muito além de somente um comércio, a feira proporciona a todos que ali estão uma troca de experiências e história, como é o caso do Eduardo Saavedra, que trabalha como voluntário na banca de orgânicos da Aliança de Misericórdia Imaculada do Espírito Santo – associação que abriga jovens e adultos que se encontram em situação de alta vulnerabilidade social. Para Saavedra, que é ex-dependente químico, a feira funciona como uma terapia, pois é uma forma de ressocialização com a comunidade. “A experiência aqui na feira é muito gratificante, porque a gente aprende a ter mais contato com a sociedade. Dentro da casa é uma coisa, fora é outra e bem mais difícil. Mas aqui estamos sendo recebidos de braços abertos, a gente faz amizades e o nosso medo, que é o fato de não termos ninguém fora da casa e muitas vezes as pessoas virarem a cara, aqui passa porque, ao contrário, sempre estamos recebendo ajuda de muita gente”, contou Saavedra, que há dois anos vive na Casa de Acolhida Cordeiro Imolado. O vínculo de Kelly Casarin Kawai com o varejão também se resume em superação. Há cerca de nove anos com uma banca de legumes e verduras, ela conta que trabalhar na feira foi a forma que encontrou para refazer a vida, após ter passado alguns anos no Japão. “O varejão na minha vida foi assim: eu fui embora para o Japão, eu conheci meu marido lá, nós somos da mesma cidade, mas não nos conhecíamos em Piracicaba. Fomos nos conhecer no Japão. Depois de oito anos fora voltamos para Piracicaba. Ficamos praticamente um ano desempregados, buscando algum serviço. Como não conseguimos e o pai do meu marido produzia hortaliças, ele voltou para o sítio, começou a plantar e foi aí que apareceu o varejão para fazer a venda direta da mercadoria que ele plantava. E eu vim de carona com ele.” Além do Varejão da Paulista, Kelly e o marido também trabalham com feira às terças, quartas, quintas e sextas-feiras. Mesmo sendo um trabalho duro 18
e muito corrido, conforme descreveu Kelly, também é divertido pelo contato e a amizade que se cria. “É uma vida corrida, de bastante trabalho, mas é gostoso porque você encontra pessoas, reencontra, cria amigos, vínculos. Eu mesma encontrei um amigo que não via há muitos anos exatamente aqui neste ponto. E outra, independente da quantia que você vende, é um orgulho vir trabalhar. Eu sou daqui, criada nesse bairro, então a Paulista e o varejão são a minha vida”, declarou emocionada. Muito antes - Por trás da banca pronta, recheada de produtos fresquinhos, existem muitas horas de trabalho. Para os produtores a feira começa no momento da plantação, dias antes da venda. A produtora de verduras e legumes, Márcia Camolese Domingues contou que a colheita é diária e para que as feiras possam acontecer é necessário muito trabalho em equipe. “Trabalho com isso a vida inteira, eu e minha família. Meu cunhado e minha cunhada ficam na horta, eu e meu marido trabalhamos nas feiras que fazemos diariamente, além, óbvio, da ajuda dos nossos funcionários”. Para que as coisas estejam prontas às 15h, todas às quartas-feiras, o trabalho de Márcia começa bem cedo. Tudo tem de estar colhido até às 11h para que possa ser feita a montagem da banca. O trabalho só termina depois das 21h. “É bem movimentado o dia, mas é
Numa banca só de mulheres, Carolina (acima) vende, embala, entrega, carrega e descarrega tudo; na banca da produtora Márcia (abaixo à dir.), a alface é o produto de maior venda; voluntários da Aliança de Misericórdia (abaixo à esq.): trabalhar na banca de orgânicos funciona como terapia
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Fotos: Isabela Borghese
muito gostoso. Faço isso desde sempre, aqui na Paulista estou há três anos e o melhor é o contato com o público. Cada dia você conhece uma pessoa, vai se familiarizando com as histórias. No fim do dia você está cansado, mas contente”, expressou. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Com Carolina Moraes a rotina não é muito diferente. Filha de uma das permissionárias, ela ajuda a mãe todos os sábados no Varejão da Paulista. Para que as coisas estejam prontas às 7h, o trabalho começa na sexta-feira. “Minha mãe já vai para Campinas buscar as fru-
tas na madrugada de quinta para sexta. No período da tarde, já descarregamos tudo na Paulista e no Centro, onde minha mãe cuida de outra banca. Às 3h já estamos em pé, pois primeiro ajudo ela montar a banca do Centro e depois sigo sozinha para montar tudo até às 7h na Paulista”, contou orgulhosa. Mesmo formada em Educação Física, Carolina optou por trabalhar no varejão. “Minha mãe tem a banca desde que eu tinha seis anos. Eu cresci aqui e agora, mesmo depois de formada em outra área, não largo mão. Até passei em um concurso, mas fiquei dois meses e voltei. Aqui eu converso com as pessoas, faço amizade. Você aprende quem é cada freguês, o que cada um gosta, cada nome. É muito bom, livre e divertido”. Entre varejões e feiras livres, a cidade conta com 27 pontos de comercialização distribuídos nos bairros como o Centro, Piracicamirim, Vila Sônia, Nova Piracicaba, Mario Dedini, Paulista. 19
Feira se transforma em ponto cultural Beatriz Bernardino
beatrizbernardino_jornalista@hotmail.com
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ealizada na Praça Santa Cruz, em São Pedro, interior de São Paulo, aos sábados das 6 às 13 hs, a Feira do Produtor teve início há aproximadamente 27 anos, por iniciativa da Prefeitura. Tudo começou com apenas nove produtores. Hoje são 51. Antes a feira era ao ar livre, no local não havia banheiros e não tinha estrutura fixa. Em 2007, a tradicional feira ganhou um espaço próprio, coberto, permitindo aos feirantes e freguesia conforto e tranqüilidade para a escolha dos alimentos. Ao som da sanfona, de artistas da cidade e de cantores de música raiz, o consumidor pode encontrar dos mais variados alimentos, verduras, queijos, frutas, doces, pastéis, além de comidas e temperos orientais em ampla e aconchegante estrutura localizada atrás da Igreja Santa Cruz. Clarissa Campos Quiararia, secretária de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, explica que a Feira do Produtor mantém 80% dos produtores e a maioria abastece os estabelecimentos que existem ao redor do ponto cultural. A “feirinha” reúne, em média, 200 pessoas. Nos feriados, esse número salta para 500, pois se tornou ponto de referência para moradores e turistas que procuram alimentos frescos. Ao ser questionado sobre a importância da feira, Carlos Alberto Arruda Salles Marques, empresário, morador da cidade há 24 anos, comenta que aprova a iniciativa. “Além de você ter um produto não tóxico, você tem produtos de primeira linha, resumindo, este lugar não tem preço”.
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Centenas de pessoas residentes em São Pedro se encontram todos os sábados na feira do produtor Fots: Beatriz Bernardino
Artista da cidade com sua habilidade na bola de contato, uma das modalidades do malabarismo PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
A feirinha a cada dia conquista mais fregueses, com seus alimentos de baixo custo e de qualidade
O espaço aproxima as pessoas, tornando- se ponto de encontro para amigos e familiares. “A feira nos proporciona uma confraternização social. Aqui, você encontra amigos, faz amizades novas. Hoje em dia, em muitos lugares é essa cumplicidade que está faltando”, frisa Salles Marques que vai à feira
sempre acompanhando de sua esposa, filhos e netos. “Ela nos possibilita um lazer e ainda fazemos uma caminhada”, declara o empresário. Produtora dos mais conhecidos doces da feira, com fregueses em São Bernardo e Santo André, a pioneira Maria Conceição Fracasse Prima, 73 anos, confessa que optou pela venda de seus doces na feira por necessidade financeira. A renda que adquire no local complementa seu salário de aposentada. “Só tenho a agradecer este espaço que nos foi cedido.” Ela chega a tirar cerca de 100 reais aos sábados.
Maria Conceição mostra seus variados doces que encantam a freguesia que por ali passa PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
A maioria dos consumidores acredita que seria de grande valia a ampliação da feira em mais um dia na semana, como fala Carlos Alberto. “Precisava ser incrementada a feirinha as quartas-feiras, porque a fruta e a verdura possuem um tempo curto de durabilidade”, defende. Seguindo os passos do pai, Meire Soares da Silva Calça, 34 anos, possui uma bancada de verduras e legumes que planta, cuida e colhe em seu sítio no Alto da Serra de São Pedro. Para ela ter mais um dia de feira “não daria certo”, pois os consumidores e os turistas estão acostumados com a atual rotina. A feirante afirma ter uma boa renda com as vendas, porém não o suficiente para sobreviver. A concorrência é um dos fatores que atrapalham. “Você tem que acompanhar os colegas, pois se eles colocam a um real o pé de alface, você também tem que colocar se não a freguesia desaparece. Mas nunca tive problema com isso”. Maria Aparecida Sandoval Levorato possui um amplo espaço na feira há 17 anos, porém não é são-pedrense. Optou por trabalhar neste município, pois em sua cidade natal não tem estrutura para trabalhar. Moradora de Santa Maria da Serra declara que sua maior satisfação é a felicidade dos fregueses: “Por possuirmos um bom espaço trazemos mercadoria para todos os gostos. É até bonito de ver, nossa barraquinha estava lotada e veja agora, não sobrou quase nada. Tem melhor felicidade que essa?, pergunta”. As vendas, para ela, são boas e variam entre R$ 700 a R$ 1.500. A Feira dos Produtores tem vários atrativos para o consumidor, porém, a distribuição de espaço para cada produtor ainda não é adequada. Carlos Eduardo Quaresma, além de coordenador de emprego e renda da Prefeitura de São Pedro, possui um espaço na feira. Ele vende seus produtos e, ao ser questionado sobre melhorias no local, afirma que haverá melhor organização e cadastramento dos produtores, com demarcação de espaço. A Prefeitura pretende ainda envolver a vigilância sanitária e outras áreas para fiscalização. Quem tem interesse em adquirir seu espaço na Feira do Produtor deve protocolar uma solicitação na Prefeitura de São Pedro para dar andamento do processo. 21
Gente que vem e volta O Terminal Rodoviário de Piracicaba é palco de grandes histórias desde 1963 Isabela Borghese
isaborghese@gmail.com
Matheus Calligaris
matheuscalligaris@gmail.com
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m lugar de encontros e despedidas. É assim que se pode caracterizar o Terminal Rodoviário Intermunicipal Presidente Kennedy, localizado no Centro de Piracicaba. Ativa desde 1963, a Rodoviária de Piracicaba, como é mais conhecida, ocupa uma área total de 10.000 m² e recebe cerca de 8 mil pessoas por dia. Entre idas e vindas, são efetuadas por mês, mais de 300 viagens que englobam uma rota de 200 cidades e
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O Terminal Rodoviário de Piracicaba realiza por mês mais de 300 viagens englobando 16 estados brasileiros
16 estados. Os destinos mais extremos e distantes são Maceió, em Alagoas e Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul. Um local como esse é propício para a vivência de grandes histórias. O atual administrador Laércio de Mello, que está no cargo há dez anos, destaca a virtude da Rodoviária em possibilitar naturalmente uma infinidade de situações e acontecimentos: “Todos os dias temos algo acontecendo na rodoviária, desde pessoas precisando viajar sem condições de comprar passagem, pessoas que chegam ao terminal sem um destino certo, pessoas que passam mal e até falecem na viagem, no ônibus ou na própria rodoviária”. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
sageira que era esposa de um policial militar. Quando ela os ouviu, ligou rapidamente pro marido que já encaminhou viaturas à Rodoviária. Os passageiros até choraram quando chegaram e foram pegos pelos policiais”, relembra João. Tratando-se de um local que circulam pessoas de todos os tipos, classes sociais e etnias, supõe-se também a presença de estrangeiros. Até mesmo um funcionário que trabalha apenas há três semanas na rodoviária já se deparou com uma situação embaraçosa diante de uma passageira oriental. O pernambucano Paulo Dias, responsável pelo controle dos horários de entrada e saída dos ônibus nas plataformas relata quando a passageira veio lhe pedir uma informação: “Eu não entendia nada. Tentava fazê-la ir até o guichê da empresa em que tinha comprado a passagem, mas ela não ia e ficava falando sem parar. Tive que chamar o supervisor que a levou até o guichê”, conta Paulo com risos. A rodoviária também é um local que proporciona novas amizades. Osmar Santini e Nelson Momuli são motoristas de caminhão e se conhe-
Fotos: Matheus Calligaris
A rodoviária funciona, 24 horas por dia, todos os dias do ano. Para manter este ritmo, conta com 24 funcionários, que também vivenciam muitas histórias durante o expediente. Doriedes Rodrigues trabalha há três anos e meio no guichê de informações, anunciando as partidas de ônibus e as informações do local. Para o supervisor de serviços gerais todo dia é uma novidade: “Coisas que você nunca imagina, acontecem aqui na Rodoviária. Pedido de casamento, noivado, namoro. Lembro uma vez que um rapaz jogou pétalas de flor atrás da porta de entrada e pediu a namorada em casamento”, conta o funcionário. No entanto, quem trabalha num local de chegadas e partidas não presencia somente histórias felizes. O responsável pelo guarda-volumes, João Barbosa Marques relata uma chegada de ônibus que estava vindo do Paraguai e foi interceptado pela Polícia Militar. “Os passageiros estavam alcoolizados e no caminho mencionaram contrabandear armas no ônibus nas próximas viagens, pois não havia muita fiscalização. Só que bem ao lado deles havia uma pas-
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ceram horas antes de embarcarem no mesmo ônibus com destino à Foz do Iguaçu. O destino final cruzou o caminho dos dois e a amizade foi instantânea, apesar das singularidades de cada um. Osmar estava voltando para sua terra com intenção de permanecer lá. “Sou motorista há 25 anos e há um ano trabalho em Rio Claro. Mas agora consegui um trabalho em minha cidade e lá quero ficar. Meus três filhos, que também são caminhoneiros, estão me esperando, já que minha mulher está aposentada por problemas cardíacos”, comenta com saudades. Já Nelson, mora com os pais e estava partindo a passeio, para passar um mês de férias. O terminal também é cenário de amizades que, por força do destino, tiveram que se distanciar. É o caso da manicure Elizabeth Ramos que após passar o feriado da Páscoa em Piracicaba na casa de amigos, partiria para Campo Mourão. Depois de seis anos sem vê-los, a paranaense enfrentou 12 horas de viagem para o reencontro e após pouquíssimos dias em sua companhia, enfrentaria mais 12 horas para o retorno. “A chegada é maravilhosa, mas a despedida é sempre muito ruim. Por isso quero que eles me visitem lá no Paraná agora”, refere-se aos amigos, emocionada. Após uma reforma em 1994, o terminal passou por uma reestruturação e ampliação de área, mas só em 2003 é que se instalaram novos guichês, lojas e praça de alimentação. Ter um comércio na Rodoviária de Piracicaba, segundo os lojistas, é seguro pela presença da Guarda Civil, no entanto, o horário é árduo. A comerciante Odélia Oliveira, proprietária de uma doçaria há 17 anos, abre a loja de domingo a domingo, das 8h00 às 22h00. A loja pode estar protegida da violência, porém, as forças da natureza não podem ser contidas por policiamento. “Em 2009 houve uma grande enchente e alagou a parte interna do prédio. Tive o prejuízo de três congeladores queimados”, relembra. Numa rodoviária também se encontram aqueles que madrugam sentados na cadeira, aguardando a hora de partida. Um dos exemplos de uma situação como esta é o pedreiro Erinaldo do Nascimento, que investiu cerca de 600 reais nas passagens de ida e volta, mas 23
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Matheus Calligaris
chegou a ficar uma noite na rodoviária esperando a liberação de sua passagem para a cidade de Limeira - para só no dia seguinte pegar a rota Limeira-Bom Jesus da Lapa, seu destino final. “Morei em Piracicaba por 18 anos, agora estou indo para Bom Jesus da Lapa para acertar umas coisas com meu pai que está adoentado, com 75 anos e cuida de um sítio, preciso ir pra ajudar. Vou ficar lá até resolver tudo, mas se ficar no máximo oito dias é muito”, relata Erinaldo - que enfrentou três dias de viagem e só pôde descer do ônibus parar tomar banho nos terminais rodoviários. A alimentação ficou por conta do passageiro e devido às paradas do veículo, só tem meia hora pra jantar. Cerca de 30 empresas operam na Rodoviária atualmente. Os motoristas, responsáveis pela execução da viagem, também carregam histórias e lembranças. Juliano Reis é motorista há 15 anos e diariamente faz o trajeto São Paulo-Barretos. Entre as histórias que vivenciou, lembra-se de uma vez em que estava embarcando os passageiros na Rodoviária do Tietê, em São Paulo, e não percebeu quando uma criança de dez anos entrou no ônibus clandestinamente. “Estava destacando o bilhete e não vi a criança. Durante a viagem um passageiro me avisou e eu recolhi o ônibus na garagem e chamei a polícia para retirarem a criança do ônibus”, afirma. O motorista Valmí do Nascimento realiza o trajeto Piracicaba-Americana duas vezes por dia e reforça a importância da relação com os passageiros, que devido à proximidade das cidades, estão em sua maioria, quase diariamente no ônibus. “Há passageiros que eu vejo todos os dias praticamente. Sempre ganho presentes deles, como relógio, bolsa”, conta o motorista conhecido como “do Nascimento”. As paixões também são despertadas na Rodoviária, segundo o motorista. “No ônibus ou na Rodoviária sempre tem alguém que apaixona a gente. Mas como não temos tempo para nada, nunca dá certo. A gente acha paixão, mas não tem tempo pra elas”, lamenta. Algumas paixões já vêm de casa. A produtora Amanda Ferreira, que frequenta o terminal quinzenalmente,
Erinaldo do Nascimento: três dias dentro de um ônibus para visitar o pai na Bahia
é apaixonada por seu gato Nico. “Vou para São Paulo visitar meus pais e quase sempre preciso levar o Nico junto. Normalmente é quando vou ficar mais do que dois dias fora. Tenho que trazer ele na gaiola e com a carteira de vacinação em dia”, afirma a passageira enquanto arrumava o gato dentro da gaiola. De acordo com a administração, os feriados sempre aumentam a circulação de pessoas na rodoviária. “Em feriados prolongados o número de pessoas que embarcam e desembarcam aumentam em média 50%. A estrutura do terminal ainda comporta esse aumento de pessoas e de veículos”, destaca Mello. E quem aproveitou de um feriado prolongado para visitar a família foi a jornalista Michelle Bottin. Natural de Toledo, um pequeno município do estado do Paraná, decidiu se mudar para Piracicaba após uma proposta de emprego. O feriado da Páscoa foi o momento para reencontrar seus amigos e familiares, mesmo tendo que viajar 12 horas. “Sinto muita falta da minha família e dos meus amigos, porque aqui eu estou começando a conhecer o pessoal agora e me sinto um pouco sozinha. Eu tomo dois Dramins e durmo no ônibus porque eu tenho enjoo, então ajuda nas duas coisas”, revela a paranaense. O ato de viajar de ônibus proporciona muitas vezes a aproximação com diferentes realidades de vida. No caso da estudante de curso pré-vestibular, Monique Conceição Ananias não foi diferente. Há três anos faz o trajeto
Piracicaba-Campinas aos finais de semana e comenta que uma vez havia um ex detento no ônibus. “Quando paramos em Santa Bárbara, ele foi à frente do ônibus, no corredor, e contou sua história. Perguntou se alguém podia ajudar ele e a esposa, pois estavam precisando ir para o Rio de Janeiro. Alguns do ônibus colaboraram. Eu achei interessante ele contar sua história e pedir ajuda”, afirma a estudante. Para o administrador da rodoviária, Laércio de Mello, o terminal é a porta de entrada e de saída da cidade. “Muitos chegam e muitos se vão, muitos usam para se deslocar para o trabalho ou para estudar”, reflete Mello. Muitas vezes a viagem de alguém que chega na rodoviária não termina quando o passageiro desce do ônibus. Ainda precisa andar mais para chegar a seu destino final e nesse ponto, o papel do taxista é imprescindível. João Carlos Romeu Jr, taxista há quase dois anos, comenta sobre a rotina inesperada e, muitas vezes arriscada, que tem todos os dias. “Entre brasileiros e estrangeiros, uma vez um rapaz chegou de madrugada aqui precisando ir até a casa de sua irmã, que ele não via há 17 anos. A casa ficava no Bosques do Lenheiro e quando chegamos lá foi superemocionante, pois ela tinha criado ele”, relembra. No entanto, João Carlos reforça a falta de segurança durante esse período na rodoviária. “Muitos usuários de drogas circulam por aqui e a gente nunca sabe quem está entrando no nosso carro”, desabafa. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
TCI,
Fábio Mendes
fabiohmendes@gmail.com
P
oluições visuais: placas de sinalização informando as paradas dos ônibus e suas linhas e qual plataforma se encontram; poluições sonoras: muita gente conversando, crianças chorando e motores de ônibus que nunca se desligam; poluição do ar: escapamentos que não se importam com a camada de ozônio e também uma variedade de gente por todos os espaços. Esta é a primeira impressão que se tem do Terminal Central de Integração, o TCI em Piracicaba.
Fábio Mendes
Há 22 anos, o Terminal Central de Integração (TCI) atende mais de 35 mil pessoas diariamente
a multidão que se locomove
O TCI foi o primeiro terminal a fazer parte do sistema integrado de transporte público da cidade
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Santos, formado em teologia, é chamado por amigos de pastor para solucionar problemas conjugais que costumam ocorrer no TCI
Inaugurado em 1991, o Terminal Central de Integração (TCI) em Piracicaba, tem um fluxo diário de 36 mil pessoas, número que corresponde quase 10% da população de Piracicaba, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. “Não se pode afirmar esta porcentagem, pois há muitas pessoas que embarcam e desembarcam no TCI no mesmo dia”, conta o chefe de divisão de gerenciamentos de terminais, Flávio Camilo Jorge. Localizado na Avenida Armando Salles de Oliveira, na área central, foi o primeiro terminal a fazer parte do sistema integrado de transporte público da cidade. Antes deste sistema, os usuários que precisavam utilizar mais de um ônibus para chegar até o seu destino, teriam que a cada troca pagar uma nova passagem. Desde a sua criação, o passageiro que fizer a troca entre ônibus dentro do terminal não precisa comprar uma nova passagem. Além do TCI, a cidade conta com mais cinco terminais de integração, o Terminal do Bairro Paulicéia (TPA), Terminal do Bairro Piracicamirim (TPI), Terminal do Bairro Vila Sônia (TVS), Terminal do Bairro Cecap (TCE) “Francisco Giannetti” e o Terminal São Jorge (TSJ). Segundo Jorge, o transporte público da cidade foi contemplado com o projeto, Mobilidade Médias Cidades, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), junto ao Governo Federal. “Foi anunciado em março, um investimento de R$ 55,460 milhões para melhorias no transporte público, com início de obras em 2014”, declarou Jorge. No TCI o maior fluxo de pessoas está entre os horários das 6h30 às 8h e das 17h às 18h30, os quais as pessoas estão chegando e posteriormente saindo do trabalho. O ambiente comporta até 4 mil pessoas e segundo Jorge atende bem a população. “As 36 mil pessoas diárias, se revezam entre os horários de abertura, às 4h40, até fecharmos, às 0h00”, explica. Para a atendente Isabela Cristina da Silva, 18 anos, as pessoas que utilizam o terminal são educadas. “A grande quantidade de 26
pessoas não me incomoda, não tive e nunca soube de qualquer problema aqui dentro de qualquer natureza”, analisa. Diferente de Isabela, a técnica de enfermagem Marcela Slavieri de 24 anos, se incomoda muito com a aglomeração de pessoas, principalmente por sua segurança, “uma amiga já foi assaltada aqui, tenho medo que ocorra o mesmo comigo”, ressalta. No espaço há dois postos da Guarda Civil, um na entrada principal e outro na entrada com acesso pela rua Riachuelo, com funcionamento de 24 horas. Almir dos Santos trabalha em um dos postos do TCI há 4 anos e afirma que as maiores ocorrências são para atender os usuários que passam mal. “Há problemas com invasão nos ônibus. Alguns motoristas nos avisam assim que estacionam seu carro, porém, outros preferem não relatar com medo de represálias”, conta Santos. Outro problema relatado pelo guarda é de casais que resolvem discutir a relação. Quando isto acontece, se ele estiver por lá, é logo acionado pelos colegas de profissão, pois, por ser teólogo, os amigos o tem como uma espécie de pastor e que saberá resolver da melhor forma as discussões amorosas que presencia: “se surge este problema
logo levo o casal até uma sala reservada do TCI e procuro acalmar os ânimos, ofereço além da conversa, biscoitos e sucos”, diverte-se o guarda. Entre os problemas destacados pela população está também o fato de alguns motoristas estacionarem longe da calçada, como é constatado pelo casal Jonathas Felipe, 22 anos e PrisPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Fotos: Fábio Mendes
36 mil pessoas trafegam diariamente no local; maior fluxo no início da manhã e ao final da tarde
Isabela (ao lado) afirma que jamais teve qualquer problema no local e acha as pessoas sempre simpáticas; o casal Priscila e Felipe, reclamam a falta de cuidado de alguns motoristas
cila Grecco, 24 anos. “Hoje mesmo o motorista parou no meio da rua. Fico com medo de descer e ser atropelada”, reclama Priscila, que é moradora do bairro 1° de Maio. Já o estudante de 17 anos, Lucas Feresini diz que o que o incomoda no TCI são os usuários que não respeitam as filas. Morador do bairro Unileste, ele utiliza diariamente PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
o local em horário de intenso fluxo de pessoas, às 17h45. Com a mesma preocupação do estudante, a dona de casa Tatiane Marco Nunes, 22 anos, mãe de Rebeca com 3 anos de idade, que tem entre uma de suas preocupações a questão da segurança: “Costumo vir ao Centro de ônibus três vezes por semana para compras e pagamentos
de conta. Não tenho medo por minha segurança, mas temo pela minha filha, por isso seguro firme em suas mãos. Também a imensa fila me perturba”, diz Tatiane, que é moradora do bairro Bosque dos Lenheiros. A frota dos ônibus para transporte público da cidade de Piracicaba é de 265 veículos, sendo que deste número, 156 atendem o TCI. O trajeto mais curto é da linha Centro, que percorre 5,3 quilômetros e o mais longo é da linha Ártemis com 38,5 quilômetros em seu percurso. Uma das melhorias sinalizadas com o auxílio do PAC será a construção de corredores exclusivos para os ônibus urbanos diminuindo de forma considerável o tempo do percurso. A impressão que se fica ao entrar ou permanecer no TCI é visualizar o terminal como um espaço democrático, onde cada um respeita o seu espaço e o do outro, embora sua dinâmica se constitua pela aglomeração composta por pessoas em efusivos ritmos, movidas pela correria do dia a dia. No entanto, depois de um tempo no local você se acostuma com as informações visuais e ruídos. As filas se tornam ponto de encontro de amigos e vizinhos de bairro e o esperar, nem sempre é sentido com pesar. 27
Locais se tornam palco de
Fábio Mendes
flash mobs Zumbis durante passeata na avenida Armando Salles. Evento reuniu, em seu primeiro ano, 400 participantes, no segundo, 900
Pessoas de diferentes lugares, idades e crenças se reúnem a fim de serem ouvidos
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Carla Oliveira
carlajldantas@gmail.com
N
a era digital, tempo em que é possível estar próximo àqueles que estão do outro lado do mundo, também é visível o contraponto do afastamento das pessoas pela facilidade da comunicação online. Mas até que ponto realmente acontece o afastamento de quem está perto? Com o surgimento, e aumento cada vez maior, de flashmobs, normalmente organizados via redes sociais, entende-se que a movimentação cibernética veio, entre outras funções, para aproximar aqueles que compartilham dos mesmos interesses
e gostos. Mas quem são as pessoas que realizam e participam desses eventos? Traduzido literalmente do inglês, flash mob (flash mobilization) traz como significado a mobilização relâmpago, já explicando a sua ação em si: pela internet, um grupo de pessoas combina um encontro instantâneo em algum espaço público – normalmente locais de grande circulação. Lá, eles realizam alguma ação combinada, das mais diversificadas, gerando, assim, uma intervenção urbana. O Terminal Central de Integração de Piracicaba, um lugar onde as pessoas nunca param de circular, foi o palco para o primeiro mob, que aconteceu PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Carla Oliveira
em 2011 com o Zombie Walk, realizado por dois estudantes do segundo ano do ensino médio, Lucas Damasceno e Vinicius Torati. A intervenção aconteceu, basicamente, com um grupo de pessoas se reunindo em algum ponto, todas – ou grande maioria – vestidas e andando, por um percurso pré-traçado, como zumbis. O evento surgiu na Califórnia em 2001, acontece há sete em São Paulo, e inspirou os estudantes para realizarem a edição piracicabana. “Estávamos conversando sobre o seriado The Walking Dead quando o Lucas comentou sobre a Zombie Walk de São Paulo, só que como minha mãe não deixava eu ir para outras cidades sozinho, dei a ideia de fazermos uma em Piracicaba”, conta Torati. No começo, os amigos ficaram em dúvida se conseguiriam atrair as pessoas para o evento, foi quando tiveram a idéia de entrar em contato com os organizadores do evento em São Paulo, que deram dicas e os auxiliaram a concretizar a ideia. “Nós mesmos fizemos flyers, uma comunidade no facebook, uma fanpage, um twitter, e assim foi crescendo. Não colocamos muita fé no evento, não pensamos que daria repercussão, nós só queríamos nos divertir”, acrescentou. Para propagação do mob, os estudantes criaram um evento no facebook e conseguiram, no primeiro ano, 400 participantes que se encontraram em frente ao Terminal Central. “Pensamos que, no máximo, iriam umas 70 pessoas”, explicou Torati que até levou o irmão de seis anos para a passeata zumbi. No ano passado e na segunda edição, cerca de 900 pessoas participaram ativamente do evento. “Para mim, o que mais marcou e me motivou foi ver tantas pessoas fantasiadas e aproveitando a passeata, brincando, muitas crianças entre 6 a 9 anos, com os pais participando, até idosos entraram na brincadeira”, expôs o organizador. Hoje, a fan page soma mais de 1800 curtidas. O Terminal Central de Integração de Piracicaba também foi cenário de outra movimentação, só que dessa vez voltada para protesto político. Em dezembro de 2011, a população – a maioria estudantes e jovens – começou
Estudantes fantasiados e aglomerados no Bloco 8 da Unimep durante o Harlem Shake.
a cobrar uma diminuição no preço das passagens do transporte público que, atualmente, tem o valor de R$ 3,40 sem o cartão TIP e R$ 3,00 com cartão. A partir de então, todas as sextas-feiras, sempre às 17h, pessoas de todos os cantos da cidade se reuniam em frente ao terminal e permitiam, por meio do ato de pular a catraca, que os trabalhadores, estudantes e todo cidadão que ali fosse entrar, não pagasse a passagem. Entre esses manifestantes, o estudante universitário, Renan Toledo Sandalo participou efetivamente das ações.
Sandalo, que já participou de movimentos como o Reaja Piracicaba - que busca revogar o aumento do salário dos vereadores da cidade - e do Coletivo Vida - que vai à contramão do rodeio em Piracicaba -, conta que o movimento Pula-Catraca foi muito importante para a cidade, pois serviu como um estopim para acordar as pessoas e verem que muito do que está acontecendo na cidade não está certo. “Nós podemos lutar por isso e ver donas de casa e senhores aposentados participando de uma movimentação em prol de um 29
Fábio Mendes
Vinícius Torati, idealizador do Zombie Walk piracicabano, durante a primeira edição do flashmob
bem maior, de uma sociedade melhor, me marcou muito”, disse. Atualmente, os movimentos políticos, buscando reivindicar algo que seja justo para a sociedade, não são tão fortes e constantes quanto antigamente, as pessoas não saem mais tanto nas ruas a fim de colocar a voz para ser ouvida. Então por que um jovem, com 22 anos, se habilita a tentar ser ouvido? O estudante justifica que a maioria se aliena com aquela ideia de que só por ser jovem, você têm que ir para balada, beber, usar drogas, fatos que nunca fizeram nenhum sentido em sua vida. “O que mais me motiva é a indignação de ver que as coisas não estão certas e correr atrás de mudanças, por mais que isso pareça utópico para algumas pessoas, eu acredito que a mudança que a gente quer deve partir de nós mesmos”, complementa. Outro local utilizado para um flash mob, foi o bloco oito da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Bloco frequentado mais assiduamente pelos 700 alunos de Comunicação, tanto dos cursos de especialização, quanto dos de graduação (Rádio, TV 30
e Internet, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Design Gráfico, Fotografia e Cinema) traz, assim como em todos cursos, a características dos alunos “comunicativos”. Tanta foi a comunicação que, em uma mera conversa em grupo dos alunos do bloco, no facebook, o aluno de Rádio, TV e Internet, Luiz Durval, conseguiu reunir cerca de 200 pessoas para realizar o Harlem Shake. O viral Harlem Shake começou em fevereiro deste ano, por meio de um vídeo de 36 segundos, o qual aparece quatro amigos fantasiados (um de ET, outro de Power Ranger, outro de chinês e o último com uma fantasia cor de rosa) dançando ao som da música Harlem Shake, de Baauer. A partir deste vídeo, pessoas do mundo inteiro começaram a recriá-lo em lugares inusitados, até mesmo em locais de trabalho, inicialmente sempre com uma pessoa dançando, sozinha, de forma estranha, em meio à naturalidade dos outros no ambiente e, depois, com o aparecimento de centenas de pessoas em volta fantasiadas e dançando. Durval, que nunca havia partici-
pado de algum flash mob, conta que a ideia surgiu da quantidade de faculdades e universidades que fazeram seus Harlem Shake e postando no Youtube. “Nós da Unimep também tínhamos condições de participar e participamos. O evento foi muito positivo no aspecto de unirmos os alunos de Comunicação da universidade, a maioria participou ativamente e adorou a ideia!”, conta. Além do formato já característico do Harlem Shake, os alunos que estão acostumados com a manipulação dos equipamentos cinematográficos fizeram a captação das imagens com uma grua e três câmeras em ângulos diferentes. Quando questionado sobre a função das redes sociais e da internet na vida social das pessoas, o futuro radialista argumenta que a vantagem é estar sempre conectados. “Não existem palavras para expressar o quão prático e vantajoso é essa possibilidade; ao mesmo tempo em que dizem acabar um pouco com as relações humanas, o que, de fato, acontece é uma ferramenta que aproxima as pessoas que não podem se ver ou conversar todos os dias, seja pela distância ou tempos”, explica. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
O Bar do João costuma ter casa cheia aos domingos. Ao fundo, o cantor Christian Lemos
PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Caroll Beraldo
caroll@tvunimep.com.br
P
iracicaba da diversidade cultural. A cidade que encanta pelo charme e beleza de seu rio, também oferece várias opções de lazer e entretenimento para os jovens que buscam sair com os amigos durante a noite. Do hip hop ao sertanejo, da música clássica ao samba rock ou MPB, nunca faltam histórias para contar.
Caroll Beraldo
E aí, vai pra onde
Independente da preferência musical, a variedade de locais garante a diversão dos jovens na noite
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O que antes era um grupo que participava das organizações da comunidade, hoje é a Associação Comunitária de Hip Hop ou Casa do Hip Hop , no bairro da Paulicéia, que legalizada há 11 anos, organiza movimentos culturais voltados para os moradores e amigos do ritmo. Contudo, se engana quem pensa que as ações se restringem ao rap. As atividades são variadas e gratuitas, o que possibilita um leque de escolhas para quem freqüenta o espaço: skate, samba de lenço, jiu-jitsu, rock, forró, ginástica, grafite entre outros. O que importa no lugar é ter a ideia de somar e produzir em benefício da comunidade. O local, que costuma ser freqüentado por crianças a partir dos 4 anos, jovens, adultos e pessoas da terceira idade, está de portas abertas e sua essência é garantida pela valorização do coletivo, posto em prática por meio da diversidade de atividades. Ubirajara Sabino, o Bira, coordenador da Casa do Hip Hop, está ligado ao centro comunitário do bairro desde os 11 anos de idade. Segundo ele, as ações desenvolvidas no espaço são classificadas como a realização de um sonho. “A cada dia resgatamos alguém das drogas, do mundo louco através da cultura e da arte. Para nós, isso é motivo de satisfação total”, afirma. Adilson de Moraes, responsável pelo ‘Base 2’ – Projeto Social Skate para a Vida, desenvolvido há cinco anos na Casa - procura usar o esporte como ferramenta para a formação de cidadãos. Atualmente, os jovens que passam pelo projeto são como filhos para Adilson. “Já senti na pele a sensação de me encontrar num caminho escuro e ter que mudar minhas atitudes. A rua e o skate me ensinaram a criar minha personalidade, consigo entender mais fácil o que se passa na cabeça das crianças que estão vivendo essa realidade”, explica. Há quatro anos no projeto, o jovem Afonso Eleutério teve sua vida transformada com a convivência na Casa. “O skate me fez procurar ser alguém melhor, pelo esporte temos a oportunidade e a capacidade de ser o que quisermos”, complementa Eleutério que ainda destaca a importância do trabalho desenvolvido no bairro. “A Casa 32
Concerto de aniversário em comemoração aos 60 anos da EMPEM, realizado na escola
do Hip Hop tem um compromisso com a comunidade, o que encontramos aqui, não está disponível em todos os lugares”, ressalta. E quem disse que a Casa não pode marcar a vida de casais apaixonados? Foi ao som da música “Pra não virar rotina”, uma composição do MC Robson Peqnoh com instrumental e refrão de Daniel Garnet, que Mateus Lacerda, motoboy e morador do Caroll Beraldo
Proprietários do Bar do João, que funciona há 23 anos na cidade de Piracicaba
bairro Algodoal, pediu sua namorada Aline em casamento. A canção fala de um dia especial na vida conjugal de Peqnoh. Inspirado pelos beats e pela rima, Lacerda subiu ao palco da sede durante a Noite do Hip Hop - evento promovido pelo Coletivo Piracema da Rede Fora do Eixo São Paulo - e fez o pedido, emocionando a todos que participavam da festa. “Fiquei um pouco tímido, mas o amor prevalece”, complementa o rapaz. A atitude de Matheus Lacerda foi motivo de surpresa e alegria para os músicos, que não esperavam presenciar uma situação daquelas. “O pedido que aconteceu no palco prova que a função da música é ser sincera, é fazer as pessoas sentirem algo e colocarem isso para fora. Foi uma cena linda que ficará guardada em nossos corações para sempre”, afirma o compositor Peqnoh. Para os amantes do sertanejo, o Celeiro Bar Piracicaba conta com uma decoração rústica. A apresentação de diversas duplas da cidade e região como Lello e Vinicius, Alex e Ramon, Marco André e Giuliano entre outros, costuma animar o público que ‘risca’ o salão com passos de dança. Quem gosta desse ritmo musical, sabe que a bota do cantor é um dos acessórios característicos da cultura sertaneja que chama a atenção. Os modelos PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Fábio Mendes
com cores vibrantes e estampa animal, muitas vezes curvados na ponta, atraem o olhar da engenheira florestal Camila Rossetti, que já passou por uma situação inusitada, beijando o sapato de um músico durante o show. “Estar entre amigos é um momento feliz, quando
vejo a bota, beijo porque sei que ela é linda e custa caro”. Segundo ela, que esporadicamente vai ao Celeiro Bar com as amigas, a atitude inesperada deixou o integrante da dupla surpreso: “Ele até comentou que a noite estava demais por conta das meninas que estavam beijando a bota”, ressaltou a engenheira. Quem prefere a música erudita pode acompanhar o trabalho da Empem, Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle”, que há 60 anos encanta os amantes da música clássica, proporcionando uma viagem entre partituras e melodias. Atualmente, a escola que conta com 40 professores e 300 alunos - a maioria adolescentes na faixa dos 15 aos 19 anos - tem se inovado. “O público jovem traz vida para a escola, novos desafios e mudanças”, destaca o coordenador Thiago Rozineli. José Davi Barros das Neves, sempre gostou de música e há um ano é aluno da escola. O jovem que também já fez aulas de canto explica sobre a diferença da música clássica para a música popular. “A música clássica transmite um sentimento, enquanto a popular é mais para dançar, minha professora de canto diz que a pessoa Caroll Beraldo
Projeto Social Skate para a Vida, desenvolvido na Casa do Hip Hop, ajuda a formar cidadãos PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
não sai mais a mesma depois de assistir a um coral ou orquestra”. Welington Vingren da Silva, que também é aluno da Empem, encontra na música uma maneira de se expressar. “Estou envolvido com a música faz quatro anos. Para mim é uma maneira de transmitir a minha emoção, o que eu sinto”, declara o jovem. Aos que procuram um local descontraído, o Bar do João funciona como ponto de encontro para famílias e estudantes. O espaço, que antes era uma mercearia, há 23 anos conquista os piracicabanos. Por semana, cerca de 2.500 pessoas passam pelo bar onde os fregueses homens mais assíduos, tem um copo personalizado com o seu nome. “Sempre que os meninos vinham, ficavam na dúvida sobre qual era o copo de cada um, foi através de um amigo nosso que surgiu essa idéia para os clientes”, explica João Augusto Stolf Herling, proprietário do local. Ideia que chama também a atenção do público feminino. “Elas já fizeram até um abaixo assinado para ter o copo. É uma brincadeira legal”, comenta o proprietário em meio a risos. Conseguir o copo não é tarefa fácil e, para mantê-lo, o cliente não pode emprestar o utensílio para ninguém. O empresário Gustavo Pereira, mais conhecido como Primo, é cliente do bar há 16 anos. “Pela amizade e pela freqüência a gente acaba conquistando o copo. Fico feliz por fazer parte desse pequeno grupo”, comenta Primo que considera a equipe do Bar do João como sua família. E é claro que toda família que se preze tem uma super mãe. Essa é a posição da proprietária Miriam Usberti Herling, que toma conta de seus clientes e chama a atenção quando algum deles passa dos limites. Essa atitude faz com que Miriam leve a fama de brava. “Todas às vezes que eu precisei chamar a atenção, no dia seguinte eles voltam para pedir desculpas, porque sabem que fizeram coisa errada, como beber demais ou falar coisas que não devem”, exemplifica. Tamanho cuidado garante o clima familiar típico do Bar do João. “Eu presto a atenção e sei de tudo o que acontece aqui para não haver problemas para os outros”, enfatiza Miriam. 33
Conexão de
lugares e
pessoas
Na Estação da Paulista está a história de Piracicaba, hoje local para atividades culturais Gustavo Annunciato
gustavoannunciato@hotmail.com
C
om cerca de 1.500 pessoas passando por dia no local, a Estação da Paulista é um complexo de lazer, esportes, cultura e promoção de saúde, conectando pessoas de vários bairros da cidade de Piracicaba. Inaugurada em 1917 e utilizada para a primeira viagem de trem em 1922, a Estação é um marco na história da cidade. Foi da Estação da Paulista que partiram os voluntários piracicabanos durante a Revolução Constitucionalista de 1932 e também chegaram autoridades, como o bispo Dom Ernesto de Paula que inaugurou a Diocese de Piracicaba em 1945, fora aqueles que chegaram à cidade e aqui permaneceram como, por exemplo, os integrantes da colônia japonesa. Com o passar dos anos as estradas de ferro foram perdendo espaço para as rodovias de asfalto, os vagões dando lugar aos carros, ônibus e caminhões, o que resultou na desativação da Estação para as atividades de transporte em 20 de fevereiro 1977, e nos anos 90, o ramal foi abandonado.
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Conservando características arquitetônicas da data de sua construção, foi tombada como patrimônio histórico no ano de 1996. Em 2005 o prédio principal de 380 metros quadrados passou por um processo de revitalização e sofreu reformas no assoalho com reforço na madeira, foram colocadas portas, janelas e aplicação de peças em ladrilho na restauração de sanitários. O galpão recebeu reforço nos pilares para manter a estabilidade da estrutu-
ra. Em 2006 ocorreu a implantação de projetos voltados para pessoas de todas as idades, como ensino de música, atividades físicas e culturais, além da construção da pista de caminhada e posteriormente a ciclovia e academia ao ar livre, mantidas com apoio de várias secretarias municipais. Para o diretor da Estação da Paulista Francisco Turcci, o local integrou o bairro com o resto da cidade: “A restauração foi boa para as pessoas e também para o comércio, um exemplo disso, é o crescimento e valorização imobiliária nas proximidades do local”, explica. Outro aspecto positivo, segundo ele, foi a abertura de ruas ao redor da Estação, como é o caso da Sud Menucci com a Alferes José Caetano e também a João Conceição
Pista de caminhada e ciclovia
PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
O prédio conserva características arquitetônicas da data de sua construção no ano de 1917
com a Avenida Dr. Paulo de Moraes, que integraram o bairro da Paulista ao Centro, Vila Rezende e Higienópolis, permitindo maior fluência ao trânsito. Dentro da Estação da Paulista, está também a Estação Idoso, espaço destinado a população da melhor idade, que
proporciona gratuitamente atividades motoras, artesanais e musicais, aulas de alongamento, ginástica anti-stress e localizada, pilates, ioga e canto coral, com apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. O objetivo dos projetos é a integração, socialização e envelhecimento saudável. A aposentada Aparecida Brasil Crescêncio pratica atividades na Estação Idoso há cerca de seis anos e frequenta o local quase todos os dias. Além de caminhar pelo parque em média uma hora por dia, faz alongamento, ginásticas anti-stress e localizada. “O trabalho das professoras é muito bom e a gente se sente bem mesmo, porque eu tenho dores no corpo todo e isso é tirado. Esse projeto é a melhor coisa que foi inventada nesse bairro”, conta. Ela toma insulina três vezes por dia. “Ninguém diz, porque estou sempre disposta
Academia ao ar livre instalada junto ao parque
Cadastro garante acesso na Estação Idoso Para participar das atividades da Estação Idoso é necessário ter no mínimo 50 anos de idade, efetuar um cadastro com a apresentação CPF e RG originais, além de uma foto 3 x 4. Para a atividade física é essencial trazer atestado médico. O parque, localizado no interior da Estação, é o cenário para encontro de pessoas que vão para contemplar o PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
local e conversar, caminhar, andar de bicicleta, levar crianças para brincar e também para eventos culturais, reuniões de entidades diversas, movimentos populares e intervenções urbanas. Um deles é Zombie Walk, passeata de jovens vestidos de zumbi, organizada por meio da internet que, na sua segunda edição, em 2012, reuniu cerca de 500 pessoas no parque da Estação no Dia de Finados.
Fotos: Gustavo Annunciato
Jonas dos Santos, digita e imprime seu currículo dentro da Estação da Paulista
por conta dos exercícios que trabalham muito bem na parte da saúde”. Para a aposentada, “o espaço é bem zelado e os funcionários fazem um bom trabalho”. A comerciante aposentada Antonia Madalena Sartori Ferezzini faz aulas de artesanato há cinco anos na Estação Idoso. Ficou amiga da professora e das senhoras que fazem a atividade. Atualmente pratica vagonite, um tipo de bordado com desenho sem ponto reto. “Aproveito para me distrair porque ficar em casa é pensar e isso não é bom”, fala em tom de conselho. Acessa São Paulo - O serviço de internet gratuita também é oferecido dentro da Estação da Paulista. O agente cultural e monitor, Guilherme Pereira conta que existem pessoas que fazem seu trabalho por meio do programa de inclusão digital do Governo do Estado de São Paulo. “Aqui tem um vendedor de camisas com uma loja online. Ele retira os pedidos pela internet na Estação da Paulista, fabrica as camisas em sua casa e depois entrega o material”. Segundo Guilherme, cada acesso dura 30 minutos e o usuário ainda pode imprimir três cópias por acesso. Para usar o serviço, basta fazer um cadastro no próprio local. O ajudante de pátio e sucata Jonas Renato dos Santos, morador do bairro São José, diz que utiliza o serviço pelo menos uma vez por semana. “É gratuito e próximo da minha casa”. Ele acessa o e-mail, imprime e paga boletos bancários. Atualmente, usa para digitar e imprimir meu currículo. 35
Fotos: Matheus Calligaris
Extremos
no esporte
Mais do que um lugar onde skatistas praticam suas manobras, a pista da Rua do Porto é um lar Jessica Lopes
jezlopes@gmail.com
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anks, barreiras que simulam bancos de praça e obstáculos tipo street em um circuito em forma de piscina: os 1.255 m² da pista de skate da Rua do Porto, em Piracicaba, uma das maiores pistas públicas da América Latina, abrigam mais histórias do que é possível imaginar. Podendo ser utilizada por até 60 competidores simultaneamente e revestida com piso de alta resistência do tipo granilite polido uma das características mais elogiadas pelos esportistas que passam por ali – a pista foi ampliada em 2009, após 17 anos de sua inauguração. Entre seus freqüentadores estão atletas que já andaram nos antigos 36
440m² (tamanho da pista antes de sua ampliação e reforma) e outros que não haviam nascido na época de sua criação. Um exemplo disso são os amigos Matheus Nogueira e Victor Dressano, ambos com 13 anos e atuais frequentadores do local. Fabrícia Nogueira, consultora de publicidade, 34 anos, freqüenta a pista aos finais de semana há cerca de um ano, junto ao filho. O que se tornou um hábito. Andrea Dressano, promotora de 37 anos, se reúne à Fabricia ao lado da pista para assistirem juntas os filhos Matheus e Victor praticarem um esporte que os acompanha há tempos, apesar da pouca idade que possuem. E, em meio a livros – ou materiais de estudo –, colocam o assunto em dia. A amizade, que surgiu através dos filhos, hoje resulta
em cumplicidade: Às vezes, revezamos. Ela traz o meu filho, eu trago o dela”, conta Fabrícia A paixão pelo esporte é antiga, afirmam as mães. “Eu comprei o primeiro skate do Victor quando ele tinha só 4 anos e era daqueles mais baratos porque ele era muito pequeno”, conta Andrea. Embora sejam frequentadoras do local, acreditam que ainda há muito a ser melhorado, como a iluminação ainda escassa em algumas partes e a falta de policiamento. Queira ou não, as famílias vem aqui com seus filhos pequenos, que já querem andar na pista, afirma Andrea. É um local familiar, concorda Fabrícia. Matheus, filho de Fabrícia, para de andar pela pista com seus amigos de sala (Victor e Gustavo) para contar sobre a emoção da primeira descida da rampa, quando se manteve em pé mesmo com o frio na barriga. Depois disso, as quedas entraram na rotina do garoto, que ri antes de afirmar: agora isso já é normal. Um pouco mais velho, mas com a mesma paixão ao falar do esporte, Nicolau Moreira, 17 anos, conta que PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Felipe Montejano
Após a reforma, a antiga minirampa da Rua do Porto se tornou uma das principais do Brasil
Iluminação adequada da pista permite que os skatistas pratiquem o esporte de madrugada
aprendeu a gostar do esporte com os primos mais velhos, quando tinha apenas 10 anos. Foi na pista antiga que pisou pela primeira vez num skate, tendo como resultado algo normal aos iniciantes: uma queda. Já me machuquei e demorei para voltar”, contou. Com os estudos, o hobby ficou restrito aos finais de semana – aumentando a frequência nas férias. Sua única crítica em relação ao espaço é sobre a falta de conservação. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
A mãe do estudante, a pedagoga Cristiana Domarco, 39 anos, tem outra preocupação: a não-utilização de equipamentos de segurança. Segundo ela, não foram poucos os tombos que o filho levou e, apesar de sua insistência na utilização do equipamento protetor, o hábito é raro. Talvez se um usasse, a maioria usaria, ressalta. Porém, apesar das quedas que resultam em radiografias e visitas ao hospital, é habitual a ausência de equipamentos. Quando era menor, ele usava, mas com essa idade, não quer mais diz. Assim como Nicolau, o estudante Matheus Ferreira, 20 anos, iniciou sua história com o skate aos 10 anos. O hábito começou na escola, quando adepto do “street” – a prática do esporte na rua, assim como grandes nomes do skate. Entre os nomes mais conhecidos estão Rafael Cabral e Stanley (atualmente em turnê no exterior), além visitas de atletas internacionais (o último vindo do Canadá) e de Ricardo Dexter, skatista profissional da marca VANS. Mesmo com os turnos diferentes
para praticar o esporte, a comunicação entre os atletas é intensa. Amizade aqui é em segundos, afirma Ferreira.. O estudante Gustavo Ghiraldi, 13 anos, tem no skate a mesma paixão que o irmão, Lucas Ghiraldi, mais conhecido como Miojo. Ele conta que quando chove, os skatistas levam rodos de casa, para secar a rampa inteira – incluindo a parte do street – para aproveitarem esse espaço. Apesar dos atletas que passaram pela pista, skatistas profissionais como Rafael Cabral, Danilo Diehl e Stanley Inácio, ninguém é mais conhecido do que o Padinho. O apelido, segundo o próprio, é porque “brother e irmão você chama qualquer um, mas Padinho é só para quem tem respeito”. Com várias histórias vividas ali, por ironia nenhuma delas sobre um shape, Padinho não é um skatista: é o morador mais ilustre do local. Em um buraco sob uma árvore, em uma bolsa em estilo hippie, ele guarda objetos pessoais, além de tintas e outros materiais de trabalho que usa para fazer suas artes (algo que faz desde seus 9 anos de idade, conforme conta). Washington Benedito de Paulo, nascido em 1974 em Porto Seguro, encontrou na rampa um local para morar. O artista de rua sempre carrega um sorriso no rosto e trata os skatistas da mesma maneira que velhos amigos se tratariam. Não consegue esconder o orgulho na voz ao dizer que “os meninos são atletas”. Enquanto ri, conta suas histórias (a maioria vividas na rua). Padinho faz arte em um azulejo e, com os dedos e alguns palitos, faz uma casa na montanha que toma forma em meio à tinta preta. “Eu vivo é de arte...”, afirma. Em silêncio, os skatistas assistem a mais uma criação do artista, que, segundo Matheus Ferreira, “tem um enorme talento”. Só o estudante, já possui quatro pinturas de Padinho, sendo uma delas em seu capacete. “Eu só faço uma vez, não me pede para fazer igual que eu não consigo”, diz enquanto assina sua obra. 37
Para se ter tranqui Mariana Cipolla Bittar macipollabittar@yahoo.com.br
E
Cerca de 150 pessoas por dia buscam o Zoológico para se divertir e admirar a natureza
m pleno sábado quatro mil pessoas em um único espaço. Confusão, tumulto, aglomeração, empurra-empurra? Nada disso. Tranquilidade, passeio em família, silêncio, admiração. São essas as sensações vistas ao se caminhar pelo Zoológico de Piracicaba. Um ambiente ao ar livre, cheio de paisagens a serem admiradas, animais de diferentes, totalizando 395, divididos em 63 espécies de aves, 56 de mamíferos e 12 de répteis. Idealizado por Edmar José Kiehl, juntamente com o Lions Clube e Rotary Clube de Piracicaba, o espaço foi inaugurado em 1º de agosto de 1971. Desde então passou por vários administradores e algumas reformas, a fim de haver uma melhora para os animais e visitantes. Após a última reforma, reabriu em 1º de maio de 2007. “Desta vez com recintos adequados cumprindo as normas do Ibama”, declara a veterinária e diretora do Zoo Marianna
Aos finais de semana o Zoológico recebe de 2500 a 4000 pessoas
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Rcciardi Curi. Atualmente, o espaço é mantido pela Secretaria de Municipal do Meio Ambiente (Sedema). O Zoológico conta com 29 funcionários, divididos entre veterinária, biólogas, estagiárias, secretária, tratadores, preparadoras de alimento, manutenção, limpeza, varreção, limpeza predial, chefe de setor, guarda e motorista. Todos responsáveis por cuidar e manter o ambiente agradável para todas as famílias que visitam o local. Para isso, os gastos se distribuem com pagamento de funcionários, vacinas e antibióticos, ração, varejão, carnes e manutenção da área. Uma variedade de sensações, motivos e histórias se encontram ao transitar pelo local. “Pelo menos duas vezes na semana venho aqui para trazer meu filho de 4 anos, Marcelo Henrique, para ver o leão e brincar no espaço infantil que tem aqui. Ele adora e sempre pede para vir. É um ambiente muito agradável”, declara Marcelo Guerra. Para as crianças a atração principal é o leão, conhecido como Léo. “Ele é o mais bonito e legal”, afirma Ana Júlia de 6 anos.
Marcelo Guerra e seu filho de 4 anos, Marcelo Henrique, observam o leão PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
lidade Fotos: Mariana Bittar
Avó e neta visitam o Zoológico regularmente
Mas nem todos pensam assim, como é o caso de Edinéia Januário que ao visitar o Zoológico tem uma sensação ruim, pois acha desumana a apreensão dos animais em cativeiro, mas reclama da falta de animais e da manutenção do local, onde há muitas jaulas desativadas e a ponte que dá acesso aos macacos sagüis está quebrada. Com entrada gratuita e funcionamento das 9h às 16h30, entre as muitas pessoas que passam por ali, uma família de Moçambique visitava o Zoológico e se dizia encantados com os animais. As crianças pulavam de um lado para o outro dizendo: It´s beautiful (isso é maravilhoso). Em conversa com a família, uma prima deles, Rosana Borin Santana, declarou que essa era a primeira visita deles ao local e que simplesmente gostaram de tudo. O que muitas pessoas não sabem é que o parque não é apenas um lugar de exposição dos bichos e lazer. Tem como objetivos a preservação de espécies ameaçadas de extinção pela destruição de seu habitat natural, a pesquisa científica com a finalidade de buscar melhorias para centros de conservação de espécies e a educação ambiental, sensibilizando as pessoas sobre a importância de conservar a natureza, possibilitando um melhor entendimento das inter-relações dos animais e seu papel no ecossistema. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Alimentação dos animais
Quanto
Valor mensal
Ração, farelo e grãos
500 kg
R$ 7.000
Ovos
150 dzs.
—
Frutas, legumes e verduras
5.400 kg
R$ 12.000
800 kg
R$ 3.000
Carnes
A veterinária Marianna Curi conta que cada animal tem uma história do porque veio para o local, como por exemplo, a loba-guará, que foi atropelada em uma rodovia e ficou com problema na pata. Esse animal, mesmo depois de recuperado, não poderia ser solto na natureza, pois poderia ser uma presa fácil
por não conseguir correr, ou então não conseguir caçar para se alimentar, fatos que poderiam levá-lo a morte. Outros exemplos são as aves que perdem uma asa, e não voltam a voar, precisando viver no chão a vida toda; alguns são oriundos do tráfico de animais silvestres e chegam mutilados. Cada animal tem sua particularidade, para recinto ou para alimentação, para cuidados. O Zoológico é um espaço que oferece cultura e diversão para toda família piracicabana e da região, local tranquilo, cheios de árvores, paisagens e animais exóticos para serem observados. Porém uma estrutura pequena para o tamanho da cidade, o espaço ainda precisa de alguns ajustes. 39
Mariana Bittar
Onde é o fim da fila Na agitada vida moderna, em que tempo é dinheiro, soluções para diminuir tempo de espera nas filas desafia bancos
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Jessica Polliani Coracini jpcoracini@unimep.br
Patrícia Peixoto Milão ppmilao@unimep.br
T
er acesso a algum serviço em repartições públicas ou privadas significa sempre enfrentar uma fila, que servem para organizar o atendimento e tentar diminuir o tempo de permanência. Mas a reclamação dos consumidores é relativo ao longo período de espera, porque as filas surgem quando a demanda de serviço é maior que a capacidade de atendê-los. “O que tem de mais surpreendente nas filas é que cada um sai de sua casa autônoma e livre e forma aquele corpo de pessoas que ninguém organizou”, declara a professora da área de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp Ana Maria Medeiros da Fonseca. De tão comum tem o ditado de que “brasileiro gosta de fila”.
Irônico, porém, todos estão submetidos, principalmente no momento inescapável do mês: o dia de pagar as contas. Na era da internet banking (acesso remoto - internet, home e office banking), essa ferramenta tem crescido em adesão ano a ano e desde 2009 é o principal canal de transação no país quando
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Maria na B
ittar
rápido, ela prefere entrar na menor fila do caixa eletrônico porque “ter a sensação de que vai demorar menos é um alívio”, diz. “Pago tudo nas duas vezes ao mês que venho ao banco. O que é ruim é o tempo, já que são poucos atendentes e o espaço também”, reclama Eliana Miranda no quinto dia útil de maio em meio a uma fila de agência bancária. Outro problema corriqueiro é o ato de furar fila. “Essa atitude demonstra, de um lado, uma grande impaciência para com as filas e o que elas representam: a perda de tempo, o tédio, mas também o respeito à ordem, ao público, à precedência do outro, do coletivo sobre o individual”. De outro lado, mostram o apego e a valorização de estratégias individuais para burlar as regras de obediência à ordem, pautadas em atitudes oportunistas ou privilégios sociais. É o conhecido “jeitinho brasileiro”, salienta o professor doutor em antropologia social Álvaro Banducci da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Não existe lei federal. O único estado a regulamentar o tempo de espera é São Paulo que determina em até 20 minutos o limite para o atendimento. Este papel fica por conta dos municípios que, por vezes, têm excesso de tempo de espera reclamados no Procon (Proteção ao Consumidor). “Orientamos para que procure acompanhamento judicial - OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros) para os que não têm condições de pagar um advogado. Mas é preciso provar o excesso”, explica o coordenador do Procon de Tatuí Adilson Diniz Vaz. A prova é a senha retirada no terminal assim que o cliente entra na agência, em que constaria o horário de entrada e de atendimento. Em Piracicaba, a Lei Municipal nº 5.710 de 04 de abril de 2006 estabelece o limite de 15 minutos e determina advertência, multas, suspensão e até a cassação do alvará do estabelecimento que ultrapassar o limite e for reincidente na infração. Em Tatuí, a Lei Municipal que dispõe sobre a questão é a nº3.429 de 15 de maio de 2002 em que o limite é de 15 minutos para dias úteis comuns e 30 minutos no
Tem aumentado a cada ano o acesso aos bancos pela internet PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Fábio Mendes
ultrapassou a casa dos 45 milhões de usuários, caindo para cerca de 36 milhões em 2011. No entanto, com o número de transações em contínua ascensão, ainda permanece como principal canal dentre os demais, como ATM (Terminais de Autoatendimento – Caixas Eletrônicos); agências - postos tradicionais; correspondentes bancários – locais como supermercados, lotéricas, correios que realizam recebimento de contas; centrais de atendimento (callcenter), telefones celulares e PDAs (Wireless), conforme o Banco Central. Maria Perla Nogueira Miranda trabalha há seis anos em uma agência bancária em Piracicaba. Segundo ela, muitas pessoas não têm necessidade de passar horas na fila porque “80% das informações e serviços que os consumidores procuram podem ser solucionados através do internet banking e outros canais como, o número 0800. Quando o cliente solicita análise para aumento de limite ou um atendimento mais detalhado sim, é necessário comparecer na agência.” Para quem encara filas todos os dias o custo de espera é emocional. “O estresse, o tédio, a sensação incômoda de que a vida está indo embora”, afirma Adriana de Aguiar Matos que faz depósitos para a empresa onde trabalha há dez anos. Ela é mais preocupada com o tamanho da fila do que com sua velocidade. Dada uma escolha entre uma fila pequena e de movimento lento e uma longa fila que anda
O total de caixas eletrônicos no país subiu de 3,4 mil para 24,4 mil nos últimos dez anos
quinto dia útil do mês, um dia antes e um dia depois de feriados, nos dias de pagamentos dos funcionários públicos municipais, estaduais e federais, vencimento de contas concessionárias de serviços públicos e recebimentos de tributos municipais, estaduais e federais. “A média de indenização é de 500 a mil reais”, diz o assessor jurídico do Procon Henrique Holtz Soares sobre os estabelecimentos que perdem processos por excederem o tempo de atendimento. Outra medida foi a de tornar a espera menos desconfortável. Em Tatuí, a Lei Municipal nº4.571 de 26 de agosto de 2011 estabelece que todas as agências bancárias tenham, no mínimo, 20 assentos para os que aguardam o atendimento, sendo quatro reservados a idosos, gestantes e deficientes. A pergunta que fica é qual será o futuro das filas. O professor Álvaro Banducci afirma que elas vão aumentar. Segundo ele, o acesso de uma maior parcela da população ao mercado de consumo tende a fazer das filas um fenômeno cada vez mais comum e corriqueiro. “Há filas para entrar no cinema, para comer em um bom restaurante, para os estacionamentos, para embarcar em ônibus, aviões, navios”, sintetiza. 41
Samuca cresce
em um só espírito Camila Tatiê
camila.tatie@live.com
O
samba, movimento característico dos povos africanos, chegou ao Brasil na Bahia através dos escravos que faziam seus rituais coletivos com fortes características, marcadas pela percussão. Hoje, esse batuque, faz parte da identidade nacional, valorizado principalmente no Carnaval. As escolas
de samba proporcionam as festas com muito samba, harmonia e cumplicidade, como acontece na escola Samuca de Rio Claro, que tem mais de 1.200 participantes da região. Tudo começou com duas famílias tradicionais e muito festeiras de Rio Claro, os Wetten e Lunardi. As reuniões familiares eram regadas a muita música e, aos poucos, os amigos foram se juntando, até formar a primeira versão Melina Manfrinatti
O samba da família samuqueira leva aos integrantes descontração e muita alegria
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Hércules Marcos
Família Samuqueira se reúne na sede para prestigiar os ensaios
do até então grupo de samba Tocata (nome dado pela avó que era italiana e que significa uma serenata), formado por nove integrantes, misturando o som da sanfona, cavaquinho, violão, flauta, reco-reco, tamborim, bongo, chocalho, atabaque, cuíca e pandeiro. Entre 1969 a 1971, Hidalgo Romeiro Lopez - um dos amigos da família - sugeriu que o grupo mudasse o nome para Samuca-Tocata, formando a junção dos elementos, samba, mulher e cachaça. De 1971 a 1975, o grupo passou a sair como bloco de Carnaval. No dia 10 de novembro de 1975 o bloco virou escola de samba Samuca. As reuniões aconteciam aos sábados à tarde, na chácara dos irmãos Wetten. No dia 13 de julho de 1981, a escola ganhou a atual sede própria cedida pela Prefeitura, localizada na Rua 13 esquina com Avenida 9. Desde então, os ensaios e eventos reúnem cerca de 500 pessoas, chegando a 1.500 aos domingos dos meses de janeiro e fevereiro. Gabriela de Oliveira, integrante da Samuca há cinco anos, fala que os ensaios são sempre contagiantes: “a bateria começa a tocar e as pessoas presentes vão ao delírio”. É o que confirma Ricardo Delboni (Mascote), integrante da bateria há sete anos, “Os ensaios são sazonais, apesar de ter muita concentração por parte dos integrantes, o bom humor é garantido”. Ele também relata que pelo desempenho e receptividade da Escola de Samba, os ensaios são frequentados por pessoas de outros Estados. Uma prova disso é a integrante Josiane Bittar, que mesmo morando em Caxias do Sul (RS), no Carnaval PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
frequenta os ensaios juntamente com seus dois filhos e seu marido. De acordo com ela, os ensaios são maravilhosos, cheio de gente bonita, alegre e animada. “É impossível descrever a minha vontade de estar presente nos ensaios, eventos e desfiles da Samuca. É um amor, uma paixão... não tem explicação”, declara. Existem aqueles que mesmo doentes dão um jeito de ver o ensaio da escola movidos pela paixão, como é o caso da diretora de Eventos Externos da Samuca, Lívia Brescansin Em 2012 ela foi internada e ficou oito dias no hospital. “Eu estava desesperada por não poder estar no ensaio e passei o domingo todo suplicando que o médico me liberasse”, conta. Por volta de 21h, o celular tocou e era uma amiga que estava na quadra. Na ligação os intérpretes da Samuca cantaram o samba de Exaltação da Escola. “Chorei, me descabelei, mas me senti um pouco melhor”, lembra. No dia seguinte, recebeu um vídeo
que a bateria havia gravado no ensaio e vários amigos gravaram depoimentos. Enquanto assistia ao vídeo, as enfermeiras e o médico estavam no quarto monitorando sua pressão e batimentos cardíacos. “Chorei tanto, minha pressão e meus batimentos se alteraram tanto, que o médico olhou para minha mãe e disse: ‘Já tinha ouvido falar em amor por escola de samba, mas foi a primeira vez que pude ver o quanto pode significar para alguém’. Então, o médico me liberou”, relata emocionada. Além dos ensaios contagiantes, a família samuqueira sempre está unida. Isto se demonstra em um Carnaval, que 24 horas antes do desfile, as fantasias não estavam prontas. Eram centenas de armações, descarregadas de dois caminhões, rolos de tecidos, sacos de plumas, pedras e lantejoulas. Os integrantes se reuniram na sede e em 24 horas as mil fantasias estavam prontas e a escola saiu na avenida. Ano a ano a família samuqueira aumenta seus integrantes, simpatizantes e frequentadores. De acordo com Welson Camargo, presidente da escola de samba, para os desfiles a média é de mil integrantes e, nos ensaios, chega a 1.200 pessoas. Em cada evento festivo, realizado durante o ano, como jantares e rodas de samba, são cerca de 500 participantes. Para ele, é gratificante ser reconhecido pelo trabalho que fazem o ano inteiro. “Esse reconhecimento nos deixa orgulhosos de nós mesmos, dos nossos profissionais e apaixonados pelo Carnaval e pela Samuca. Nos traz força para trabalhar ainda”, diz. Melina Manfrinatti
Muita concentração nos ensaios da bateria da Samuca
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Apita o árbit
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O estádio Barão de Serra Negra recebeu grande púbico no empate de 2 x 2 entre XV x Ponte Preta; abaixo, Marcelo Soares entre os jogadores do Botafogo
Fotos: Michel Lambstein
ro Estádio de futebol é palco de histórias, local onde os sentimentos se confrontam Andrey Moral
andreymoral@yahoo.com.br
G
ritar, chorar, se emocionar e torcer são os principais elementos em um estádio de futebol. Lugar que agrega inúmeros tipos de pessoas de diferentes classes sociais, onde alguns torcem calmamente e outros mais exaltados. Localizado em Piracicaba, o Estádio Municipal Barão de Serra Negra é lar de um dos times mais tradicionais do futebol: o Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, fundado no dia 15 de Novembro de 1913. O “Barão”, como o estádio é chamado popularmente, foi inaugurado dia 04 de Setembro de 1965 pelo então prefeito Luciano Guidotti. Sua capacidade é para 18 mil pessoas, formado pelo setor de arquibancada aberta e coberta. O XV possui cinco principais torcidas organizadas: AR-XV, Super Raça Quinzista, Coração Quinzista, Torcida Uniformizada Quinzista e Torcida Uniformizada Esquadrão. As principais torcidas possuem cadastro dos torcedores, alternativa para controlar quem freqüenta os jogos. É inexplicável a paixão que o torcedor piracicabano sente pelo XV. O time é movido pela cidade que apóia e torce em dia de jogo. O “Nhô Quim” é conhecido pelo Brasil afora, pois basta estar vestindo a tradicional camisa zebrada ou falar que é de Piracicaba, que todos perguntam pelo time. Um exemplo dessa imensa paixão é Renan Zampaolo, torcedor desde 2002 e com uma situação inusitada. Em 2007, no campeonato da Série A3, o XV iria enfrentar o Araçatuba às 19h em Piracicaba. Porém, o ônibus do adversário quebrou e o jogo ocorreu por volta das 22h. “Eles entraram em campo calçando as chuteiras devido ao atraso. Depois do jogo, a diretoria do XV pagou o jantar para o time deles”, conta. No placar, o XV ganhou de 7 a zero.
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Jogadores de XV de Piracicaba e do Corinthians perfilados para execução do Hino Nacional
Torcer para um time grande não é exceção no Brasil e nem em outro lugar do mundo. Os pais colocam em seus filhos a camisa de clubes como São Paulo, Palmeiras, Flamengo. Elvis Custódio, um torcedor fanático do XV, é uma exceção à regra. Seu pai o levou no estádio pela primeira vez em 1988, em um jogo entre XV x São Paulo no Barão, e o fez sentar no setor onde estava a torcida do São Paulo. Porém, Elvis contrariou o pai e ficou na torcida do XV. “O motivo de tanta paixão eu não sei. A única coisa que posso explicar é que me apaixonei por aquela camisa zebrada e pela torcida inflamada. Foi amor a primeira vista”, conta. Elvis relata uma história inusitada que aconteceu no Barão de Serra Negra. Um torcedor conhecido como “Zé Babão”, ao comemorar o gol do XV, ficou pelado em meio à arquibancada, correndo de um lado pro outro, chamando a atenção de todos. “Ninguém viu o gol, todo mundo ficou rindo da situação”. A torcida piracicabana é destaque em quebrar recorde de público nos jogos. A média neste ano de 2013 foi de 4.191 torcedores por jogo. O XV ficou em 8º lugar no ranking de torcida, estando À frente de clubes tradicionais como o Guarani e Mogi Mirim. Contra o Santos e o São Paulo, 46
em 2012, a média superou os 10 mil pagantes. Na estreia do XV de Piracicaba no Campeonato Paulista contra o Santos no empate em 1x1, o público foi de 11.282 pagantes (524 não pagantes). Já contra o SPFC na derrota do XV por 1x0, o Barão esteve ainda mais lotado, com a presença de 12.647 pessoas na torcida. Este ano, contra Corinthians e Palmeiras a média foi um pouco menor em relação ao ano passado, mas mesmo assim uma das mais altas do Campeonato Paulista. Contra o time alviverde foram 9.106 pagantes e, contra o alvinegro, em uma quarta-feira de uma noite fria, 10.715 pagantes. No último jogo em casa, mais de 5 mil pessoas estiveram presentes no estádio contra o Botafogo de Ribeirão Preto, o que ajudou o popular time a escapar da luta pelo rebaixamento. Os estádios de futebol são palco de partidas emocionantes envolvendo dois times, podendo se transformar em palco também fora de campo, como no caso de torcedores que se enfrentam fora de campo. Nesse sentido, a segurança é um dos principais problemas nos estádios brasileiros, assim como o preço dos ingressos, fatos que fazem cada vez mais o torcedor se afastar das arquibancadas.
Para Felipe J. Dario “Gema”, presidente da Torcida Esquadrão (Torcida organizada do XV) a FPF (Federação Paulista de Futebol) deveria agir de forma mais condizente à realidade econômica dos torcedores, pois o preço dos ingressos distancia o torcedor. “Ir ao estádio será realidade para poucos no futuro”, prevê Felipe. Quanto à organização da torcida no estádio, Gema enfatiza que as elas foram surgindo aos poucos e que, cada uma tem seu lugar na arquibancada. Segundo ele, quando fundou a Super Raça juntamente com Ivan Oriani e Matheus Bonassi, a torcida estava estabelecida no meio da arquibancada e a escolha do lado em que cada torcida se limita se deu de forma totalmente natural. “Logo quando surgiu o formato das torcidas no Barão era assim, tradicional. Com o tempo pouca coisa alterou”, enfatiza Gema Essa interação entre público e torcida é necessária. Os estádios precisam do público para apresentar um bom espetáculo e agradar a todos que esperam um espetáculo em campo. Em Piracicaba, o estádio é uma espécie de segunda casa do quinzista; faz parte da paisagem local, além de integrar a cultura do tradicional piracicabano. PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Agosto/2013
Sintonia com as novas linguagens e tecnologias de comunicação. Compromisso com a ética e a qualidade da informação.
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