Painel 78

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N潞 78 Novembro/2013

CORPO ESTRANHO

Adeptos da body modification procuram satisfazer suas pr贸prias expectativas, sem se preocupar com o que os outros pensam


Sintonia com as novas linguagens e tecnologias de comunicação. Compromisso com a ética e a qualidade da informação.

Jornalismo Unimep Acesse nossos sites: unimep.br/jornalismo soureporter.com.br jornalunimep.blogspot.com.br

Curso avaliado com 4 estrelas pelo Guia do Estudante e Conceito 4 no Enade/MEC.

Informações: (19) 3124.1676 prbotao@unimep.br


CARTA DO EDITOR

EXPEDIENTE Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep Reitor Gustavo Jacques Dias Alvim Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino César Guimarães da Costa Coordenador do Curso de Jornalismo Paulo Roberto Botão Editora Rosemary Bars Mendez Editores Executivos Adriel Arvolea Mariana Spezzoto Editor de Fotografia Gustavo Vargas Redatores Arthur Nunes, Bárbara Silva, Camila Chames, Carla Lauton, Caroline Ribeiro, Cris Daniele Yamamoto, Elisabeth Alhadas, Gustavo Vargas, Jamile Ferraz, Juliana Goulart e Natália Zanini. Diagramação e Arte Final Sérgio Silveira Campos (Lab. Plan. Gráfico) Foto de Capa Caroline Ribeiro

Acesse nosso site: www. soureporter.com.br

Correspondência Faculdade de Comunicação Campus Taquaral, Rodovia do Açúcar, km 156 - Caixa Postal 69 CEP 13.400-911 Telefone: (19) 3124-1677

Olhar jornalístico

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oje a comunidade recebe mais uma edição da revista Painel, produzida por alunos matriculados no 6º. semestre de jornalismo. É a única experiência desses universitários com a produção de texto para revista, a reportagem. Todo o processo de planejamento e organização editorial teve a participação dos alunos, desde a definição da pauta, a captação e verificação das informações e imagens. Nem sempre, quem recebe a revista pronta conhece todas as etapas para sua finalização e não imagina o procedimento adotado em sala de aula para se conseguir uma reportagem que envolva todas as angulações de um mesmo tema. Nem sempre, os alunos conseguem se desdobrar entre as atividades desenvolvidas na faculdade e/ou no mercado de trabalho – a maioria tem uma colocação, mesmo como estagiário – para se dedicarem à perfeição de suas pautas. Nem sempre, o tempo é o amigo do jornalista que tenta driblá-lo para conseguir cumprir todas as etapas para a elaboração do seu texto, que envolve não apenas a técnica, mas a ética e a estética, como já apontou o professor da ECA/USP Manuel Carlos Chaparro, ao definir conceitualmente o jornalismo. A questão técnica está ligada à linguagem jornalística, própria da profissão para se apurar com precisão dos dados, exatidão nas informações, confiabilidade nas fontes selecionadas para se garantir a credibilidade que todo jornalista almeja. Todos os profissionais têm técnicas próprias para atuar no mercado que escolheu e o jornalismo não é diferente, apesar de estar sempre sujeito às criticas da sociedade, justamente por estar tão perto dela, olhando, falando sobre os acontecimentos que a envolvem cotidianamente. A estética está na perfeição que se consegue atingir ao se apresentar um texto pronto para ser editado. É a maneira como o profissional apresenta seu trabalho para o público leitor, os elementos textuais (incluindo as imagens). Esse conceito pode ser amplamente discutido por vários teóricos, de várias áreas do conhecimento, mas no jornalismo tem sua especificidade, por sua maneira de narrar um fato, ligado inclusive ao olhar dado a esse fato. Envolve subjetividade, apesar do jornalista sempre procurar a objetividade em suas ações. Sobre ética, recorro ao conceito de Cláudio Abramo, ‘não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão’. E, ao acompanhar os alunos em suas produções técnicas, permeadas pela estética, foi possível constatar aqueles que se comportam eticamente como ‘jornalista-cidadão’. Nas reportagens desta edição, os leitores, dificilmente conseguirão identificar esses conceitos. Mas, garanto que foram seguidos pelos ‘alunos-repórteres’ que se debruçaram a cumprir suas pautas. Boa leitura!

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Pesquisa busca criar NATURAL DE RIO CLARO, SUSAN PEREIRA RIBEIRO INTEGRA EQUIPE DE BRASILEIROS QUE TEM O DESAFIO DE DESENVOLVER A VACINA CONTRA A AIDS Adriel Arvolea

arvolea.rc@hotmail.com

Mariana Spezzoto ma.ef@hotmail.com

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Brasil tem hoje cerca de 600 mil pessoas infectadas com o vírus da Aids, concentradas nas regiões Sul e Sudeste. Na África, há 25 milhões de infectados. No mundo, somam 33 milhões de soropositivos e, desde 1980, quando a doença foi descoberta mais de 25 milhões morreram em consequência da doença. O cenário é alarmante, mas instigador para a pesquisadora Susan Pereira Ribeiro envolvida no projeto para desenvolver a vacina HIVBr18: HIV, o nome do vírus; Br de Brasil e 18, porque representa 18 regiões conservadas do vírus (que não sofrem mutação). Ao todo são cerca de dez pesquisadores envolvidos no desenvolvimento e teste da vacina, sendo da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Instituto Butantan e outras instituições parceiras. A vacina será profilática, ou seja, deverá ser aplicada na pessoa antes de ser infectar, como uma prevenção contra a doença. Porém, o trabalho está, por enquanto, nos laboratórios, com experiências em camundongos e, posteriormente, em macacos-Rhesus (com imunidade próxima ao do ser humano).

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Ainda não há previsão para os testes em humanos, por isso o melhor remédio é mesmo a prevenção. Susan Pereira Ribeiro é bióloga formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Desde a iniciação científica teve interesse em focar a atenção na área de saúde pública. A pesquisa contra a Aids permeou toda a pós-graduação e, hoje, na Faculdade de Medicina da USP, é a responsável pelo teste da vacina HIVBr18, que, nesta nova etapa, conta com a parceria do Instituto Butantan com sua colônia de macacos-Rhesus para a pesquisa.

Falta de informação leva ao descaso com a doença (Aids)

 Revista Painel: Trinta anos após a descoberta do HIV – vírus causador da Aids -, como a ciência avalia o desafio em se alcançar a cura definitiva para a doença? Susan Pereira Ribeiro: Evoluímos bastante na questão dos coquetéis antirretrovirais que ajudaram a controlar a progressão da Aids, propriamente dita. A qualidade de vida dos indivíduos infectados está bem melhor, hoje em dia, com relação ao início da pandemia, na década de 80. Agora, o desafio é encontrar a cura. Há grupos em várias partes do mundo tentando desenvolver a vacina contra a doença. Painel: Ao longo dos anos, que evoluções tecnológicas e de conhecimento têm permitido às pessoas

infectadas de viverem com mais qualidade de vida? Susan: A evolução está atrelada à questão dos coquetéis antirretrovirais, que têm propiciado o controle da viremia. Com o controle do número de vírus no organismo há menor impacto na destruição da resposta imune, ou seja, você fica resistente

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vacina contra Aids Adriel Arvolea

ou a clivagem das proteínas para gerar novas partículas virais. Esses avanços têm propiciado a melhora de vida dos indivíduos. Painel: O Brasil, agora, trabalha na pesquisa da vacina contra o HIV. Como se dá este estudo em busca do método de imunização mais eficaz para ser utilizado em humanos? Susan: A vacina é baseada em algumas partículas do vírus que são conservadas entre os seus diferentes subtipos. Como o HIV tem vários subtipos, foram selecionadas regiões conservadas que não sofrem mutação. Caso esta ocorra, o vírus vai ter uma deficiência de multiplicação e será extinto. Este é o objetivo. Se ocorrer uma mutação nessa região, o vírus será extinto propiciando o controle da viremia. A vacina é baseada nas regiões conservadas dos diferentes subtipos. Este é o método que se buscou para desenhar racionalmente a vacina.

a outras infecções provocadas pela Aids, que destrói o sistema imunológico e o indivíduo fica suscetível a infecções diversas. Painel: O processo de aquisição e distribuição gratuita de antirretrovirais teve início em 1996 no País. Em poucos mais de duas décadas,

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que avanços podem ser observados no tratamento da Aids? Susan: O vírus HIV entra nas células e se integra na mesma, produzindo milhares de novos virions. Dessa forma, as drogas atuam impedindo o ciclo de vida do vírus em algum ponto: seja impedindo a entrada do vírus na célula ou a integração no genoma

Painel: Caso tenha sucesso com as pesquisas da vacina HIVBr18, o que este resultado representará para o País? Susan: Esta é uma vacina que visa à indução de uma resposta imune celular, ou seja, não vai impedir a infecção. É uma vacina profilática para ser utilizada em indivíduos não infectados. Se o indivíduo que foi vacinado vir a se infectar, esperamos que a resposta de células geradas por esta vacina seja capazes de controlar a viremia. Terá um impacto direto no indivíduo em relação ao controle da viremia e não progressão para a Aids, assim como terá impacto na pandemia, uma vez que indivíduos com menor viremia não transmitem o vírus. 

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Painel: Há quanto tempo pesquisas têm sido desenvolvidas para o enfrentamento da doença e em quantas etapas compreendem a HIVBr18? Susan: As pesquisas se iniciaram desde o início da pandemia na década de 80, que a princípio era desconhecida e muitas pessoas estavam morrendo de pneumonia e tuberculose, entre outras doenças como cânceres, até a descoberta do vírus HIV em 1983. A partir daí, começaram a estudar uma maneira de impedir que as pessoas morressem de uma síndrome de imunodeficiência. Passaram a desenvolver, então, vacinas de anticorpos, mas devido ao alto índice de mutação do vírus não tiveram sucesso. Desenvolveram vacinas que induzissem a imunidade celular, que é o nosso objetivo. Cerca de 200 candidatos vacinais já foram testados, dos quais só três chegaram em fase mais avançada de desenvolvimento. Em relação às etapas de desenvolvimento de uma vacina, primeiramente existe o estudo pré-clínico, que, geralmente, é feito em camundongos. No caso da HIVBr18 estamos testando macacos-Rhesus, espécie animal que tem o sistema imune mais parecido com o nosso. Após esta etapa com animais, vem a etapa de estudo clínico que compreende três fases: a primeira é de segurança – envolve poucos indivíduos; a segunda é dividia em A e B – vários milhares de indivíduos; a terceira é expandida – avaliar a segurança e eficácia da vacina. No geral, para completar todas as fases de teste muitos anos são dedicados. Desde 2006 que a vacina está em estudo pré-clínico em modelo animal. Em outubro começamos os estudos em macacos-Rhesus para verificar como é o comportamento da vacina num modelo mais próximo ao do ser humano. Acreditamos que essa nova fase de estudo dure entre três e cinco anos.

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Painel: Das ações desenvolvidas e fortalecidas, que resultados com a pesquisa foram alcançados até o momento? Susan: Até agora, a primeira etapa foi a vacinação de camundongos convencionais e transgênicos. Após imunizá-los, verificamos que a vacina induziu células especificas contra regiões codificadas pela mesma. Elas proliferavam especificamente contra partículas do HIV e produziam moléculas antivirais. Além disso, constatamos células de memória específica. Num indivíduo, por exemplo, se ele é vacinado e quando exposto ao vírus, essas células vão lembrar-se de alguma parte do vírus e se multiplicarão para combater a infecção. Na segunda etapa, a imunização de camundongos transgênicos para moléculas humanas. Selecionaram-se quatro moléculas humanas e uma espécie de camundongo para cada selecionada. Quando vacinados os animais, essas respostas, também, foram observadas nos camundongos convencionais. Em humanos, esperamos que a vacina seja capaz de induzir o mesmo tipo de resposta que nos camundongos. Painel: De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é preciso aumentar em 300% os investimentos no combate e prevenção à Aids nos países em desenvolvimento, para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Qual o orçamento da pesquisa da HIVBr18 e quem a financia? Susan: Os recursos são do Ministério da Saúde, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e iii-INCT que avaliam o mérito e fornecem o dinheiro para o projeto. No estudo pré-clínico com camundongos, houve investimento de R$ 1 milhão. Já no teste em macacos-Rhesus vamos

propor um projeto avaliado em R$ 5 milhões. Para a fase 1 são estimados mais R$ 5 milhões, pois envolve voluntários e equipes médicas. Na fase 2 A ou B, mais R$ 200 milhões. Questão esta depende de decisões políticas. Painel: O governo brasileiro já oferece gratuitamente os medicamentos antirretrovirais. No projeto previsto para a vacina, de que forma será disponibilizada à população? Susan: A vacina já não é mais uma questão de ciência/agência de financiamento de pesquisa para definir como será disponibilizada para a população. Uma vez provada a sua eficácia, que deve levar uns dez anos, é uma questão de como o governo irá fazer – gratuito ou produção de baixo custo, mas não sabemos como isso será feito. Painel: O número de pessoas que vivem com o HIV deve chegar a 60 milhões até 2015 (PNUD, 2006). Para o enfrentamento da doença que atinge o mundo, qual a previsão de conclusão dos experimentos? Susan: Em primatas, entre três e cinco anos, selecionaremos o candidato vacinal mais potente. Pelo menos mais cinco para a fase pré-clínica, antes de entrar em humanos. Painel: Finalizados os experimentos em macacos, de que forma ocorrerão os procedimentos para testes com seres humanos, bem como a seleção de voluntários? Susan: Envolve equipes médicas e aprovação por vários comitês de ética. Primeiramente tem que ter o projeto, ensaios de toxidade em modelos pré-clínicos para saber se a vacina não gera nenhum efeito colateral. Provando a segurança nesses modelos e a

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Adriel Arvolea

O objetivo de qualquer vacina é levar à erradicação da doença potência da vacina, aplica-se ao comitê de ética dizendo que tudo foi seguro até então. Isso envolve informar quantas pessoas serão envolvidas, o tipo de material a ser coletado, os períodos de amostragem, entre outros detalhes. Se aprovado, mais o recrutamento de equipes médicas e os pacientes e suas localidades, toda uma logística para a pesquisa básica. Painel: Se o HIV sofre mutações com frequência, como a vacina funcionará para a defesa do organismo? Susan: O projeto da nossa vacina escolhe regiões conservadas, ou seja, que não mudam. Se o vírus mutar nessas regiões selecionadas, ele perde a capacidade replicativa. Dessa forma, acredita-se que a célula gerada atuando nas regiões conservadas faz com que o vírus mute e mutando para essa região, vai perder a capacidade replicativa e os indivíduos terão menor viremia e não progredirá para a Aids.

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Painel: No que diferencia a pesquisa brasileira das demais no mundo, como, por exemplo, a dos Estados Unidos? Susan: A maioria das vacinas contra HIV no mundo visa induzir respostas contra proteínas inteiras do vírus ou respostas de células citotóxicas, que matam as infectadas. A diferença é que a nossa é baseada em regiões e não em proteínas inteiras. Além disso, são regiões conservadas que não diferenciam entre os vários subtipos virais. Outro ponto é que visa induzir as células T CD4+, que auxiliam na manutenção do sistema imune. No geral, a HIVBr18 visa induzir uma resposta contra regiões conservadas e desse subtipo celular, as T CD4+, diferenciando-se das demais pesquisas mundiais. Painel: A medicina está perto de encontrar a cura para a Aids? Qual o país que está mais avançado neste tipo de experimento? Susan: Em outubro deste ano, um pesquisador dos Estados Unidos mostrou, em modelos de macaco a ideia profilática em indução de imunidade celular, como a nossa. Verificou que a sua vacina é capaz de induzir uma imunidade celular tão forte que mesmo se o macaco é infectado essas células são capazes de combater a viremia e controlar a infecção. Inclusive, verificou-se que não existe célula que carregue o DNA do vírus depois da infecção, porque o HIV se integra ao genoma e as células ficam escondidas, formando reservatórios virias. A vacina é capaz de eliminar estes reservatórios. Esta é a vacina mais avançada no momento e deve ir para a fase 1 brevemente. Painel: Depois da vacina,a Aids estará no mesmo patamar/efeito, por exemplo, que a Pólio? Susan: O objetivo de qualquer vacina é levar à erradicação da doença. Painel: Em 30 anos, a medicina evoluiu na busca pela cura da Aids e, hoje, os soropositivos têm qualidade e sobrevida. No entanto, as atuais

gerações desconhecem o auge da doença e as inúmeras pessoas que vitimou. Como trabalhar a consciência pela proteção contra a doença? Susan: De fato, os novos adolescentes não têm consciência de como foi a pandemia na década de 80. Com o antirretroviral, é muito difícil uma pessoa morrer nesse quadro de imunodeficiência. É claro que acontece, mas os adolescentes não têm essa clareza. E por não ter casos explícitos de Aids como em anos atrás, então, os faz acreditar que não haja mais a doença. Em termos de orientação, acredito que as campanhas feitas pelo governo, como no carnaval, por exemplo, é o ideal. É importante o aconselhamento em escolas; os pais alertarem os filhos que não há cura para a doença e, por isso, a necessidade da proteção por meio do preservativo. Painel: Com esses avanços e pesquisas, as pessoas podem não mais se preocupar tanto pela proteção nas relações sexuais? Susan: Sim, principalmente os adolescentes de hoje. Há pessoas que dizem ‘há tratamento para a Aids’ e não se preocupam com a questão, ou pensam que ninguém mais morre por Aids. Morre, sim, mas é menos. Talvez, a falta de informação leva a este descuido e descaso com a doença, sem saber de quão perigoso é o vírus. Painel: Como pesquisadora, qual o sentimento em se buscar a cura para a Aids? Susan: É um desafio bem grande. Estou supercontente de estar envolvida neste projeto, em poder contribuir e encontrar o melhor e disponibilizar para as pessoas. Estamos numa fase inicial da vacina, quero muito que dê certo. Mesmo muitos países testando, ninguém conseguiu um resultado eficaz. Temos um longo caminho, algumas limitações financeiras. 

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sumário

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VOU DE HELICÓPTERO 10 Nos últimos cinco anos, o número de helicópteros no Brasil cresceu 20% fazendo do país o quarto maior na frota aérea.

O PRAZER NO MEDO 14 O sistema nervoso interliga esses dois sentimentos com a simples liberação do hormônio cortisol

NO LIMITE DA ACEITAÇÃO 18 Os adeptos do body modification defendem suas disposições em

alterar o corpo com tatuagem, uso de piercing ou a cor dos olhos.

A TERAPIA QUE VEIO DO ESPAÇO 22 Pedia Suit ajuda no tratamento de deficiências, limitações e dificuldades motoras.

DANÇANDO COM 60 24 Terceira idade piracicabana entra no clima da dança para exercitar o corpo e a mente.

DUAL CAREER 26 Pesquisa mostra o perfil de casais que se dividem para conciliar vida profissional e a família.

COWORKING 28 A comunidade e o compartilhamento são as duas bases nesse tipo de empreendimento que ganha espaço no Brasil

ÁRVORE COM FUTURO INCERTO 30 Eucalipto: o nascimento, a economia, suas vantagens e desvantagens para seu cultivo.

MANIA DE UNHA 33 As unhas têm cada vez mais espaço no mundo fashion. Prova disso é o aumento da procura por produtos e serviços.

GRANDE ESTÁ NA MODA 36 A mulher que usa plus size está em alta, à disposição vários modelos que procuram valorizar seu corpo.

RELÍQUIA DE SÃO BENEDITO É VENERADA EM TIETÊ 38 O objeto é adorado pela população composta por 77% de católicos, enquanto sua conservação é contestada pela ciência.

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OPINIÃO

Família contra a Aids Adriel Arvolea

arvolea.rc@hotmail.com

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ara os jovens, falar em prevenção contra a Aids é falar da importância da família. Frente ao mundo de prazeres, tentações e descobertas, pais devem dialogar abertamente com seus filhos, sem tabus ou preconceitos frente a este mal que já vitimou milhares desde a década de 80, início da pandemia. O uso de preservativo nas relações sexuais – principal forma de contágio pelo vírus HIV – é de extrema importância, claro, mas vai além dessa medida de segurança. Está na confiança, do olho no olho, das conversas francas entre pai e filho. Os mais velhos sabem da gravidade da doença e das dificuldades para identificá-la nos anos iniciais do seu surgimento, pois são do tempo em que faltavam informações e cada vez mais pessoas eram vitimadas.

Hoje, pode-se viver com mais qualidade e sobrevida. Há soropositivos que não evoluíram para a Aids, por isso levam uma vida normal. Também, a medicina evoluiu com a oferta de medicamentos antirretrovirais e pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina contra a Aids estão em andamento em todo o mundo. Dessa forma, os mais jovens têm acesso a esta realidade e desconhecem a gravidade da doença, principalmente por ser mortal. É preciso sensibilizá-los e alertá-los para o HIV/ Aids e, principalmente, que, ainda, não há cura para a doença. Campanhas de prevenção circulam nas diferentes mídias e preservativos são distribuídos de forma gratuita, mas o mundo dos prazeres seduz e atrai os mais desavisados. Por isso, a família pode ser uma poderosa arma combativa, em que uma conversa franca passa a ser fundamental para a proteção da vida.

Moda para as ‘gordinhas’ é uma tendência real Mariana Spezzotto ma.ef@hotmail.com

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uper magras, modelos desfilam nas principais passarelas do mundo exibindo um estereotipo que está cada vez mais distante da realidade. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 48,1% da população está acima do peso e 15% são obesos. O novo mercado “plus size” é uma tendência na moda atual, caracterizada a partir do manequim 44. Ou seja, essa novidade fashion está crescendo, isso porque novas lojas ganharam visibilidade agora com a ajuda da mídia, a variedade de peças é maior e o alcance a estas novidades foi facilitado com as lojas virtuais. Esse novo espaço ajuda várias mulheres a obterem uma maior aceitação do corpo. A carência do público GG foi revelada e as grandes redes não perderam tempo. Todas estão com uma linha para tamanhos

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maiores, porém, nem todas conseguem agradar às mais jovens. A diferença de variedades atrapalha pois é um ramo em andamento, mas tudo indica uma tendência real em expansão. Há investimentos no exterior, como capas de revistas renomadas como a Vogue, que tráz gordinhas como Candice Huffine, Tara Lynn e Robyn Lawley. No Brasil, os preços de roupas são mais elevados por tratar-se de um material feito exclusivamente às gordinhas ou porque são consideradas ‘roupas especiais’, diferença que não existe no mercado da moda nos EUA e em Londres. Em um modo geral, a inclusão desse novo ramo é uma democratização da moda, revelando uma maior aceitação do corpo nas mulheres, visto que é uma exigência midiática e teve muitos efeitos negativos, como o caso de anorexias e bulimias. Dietas não saudáveis e a busca de um corpo ideal magro devem ficar fora de moda!

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Vou de HEL

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ICÓPTERO BRASIL É O QUARTO PAÍS COM MAIOR NÚMERO DE HELICÓPTEROS: AO TODO SÃO DOIS MIL POUSOS E DECOLAGENS POR DIA

Cris Daniele Yamamoto da Silva cris-daniele@hotmail.com

Cris Daniele Yamamoto da Silva

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trânsito na cidade de São Paulo tornou-se caótico com os seus 4.839.921 veículos em circulação (IBGE 2010). O transporte público é ineficiente para atender a demanda de usuários, segundo dados da São Paulo Transportes (SPTrans) em Agosto deste ano, a rede de coletivos da prefeitura (que inclui ônibus e lotações) transportou 264,9 milhões de passageiros, uma média de 8,8 milhões de viagens por dia o que dificulta os deslocamentos no dia a dia. Para driblar o congestionamento e o estresse, principalmente nos horários de pico, a solução está nos céus: os helicópteros. Empresas de táxi-aéreo oferecem o serviço de transporte para quem não tem tempo a perder no trânsito, e cruzar a cidade em minutos. Dados da Associação Brasileira dos Pilotos de Helicópteros (Abraphe) mostram que a capital paulista tem a maior frota e número de operações por asa rotativa no país e em relação às principais capitais mundiais. São 420 aeronaves registradas, que representam 28% do total de aeronaves no país, além de 193

helipontos regularizados com a maior quantidade de operações diárias, com cerca de dois mil pousos e decolagens. São 163 empresas de taxi-aéreo que operam no Brasil e 134 inoperantes, de acordo com lista de setembro de 2013 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As informações da Abraphe apontam ainda que o Brasil conta com 1.990 aeronaves registradas. Em comparação com outros países, tem a quarta maior frota de helicópteros civis atrás somente dos Estados Unidos, que tem 12 mil helicópteros, seguido do Canadá, com 2.776, e Austrália com 2.025. Está à frente da França, que possui 1.300 helicópteros, e do Reino Unido, com 1.260 helicópteros. Segundo a Abraphe, o setor de helicópteros no Brasil cresceu, em média, 20% ao ano nos últimos cinco anos. São mais de 3.700 pilotos de helicóptero em operação e média anual crescente superior a 300 licenças emitidas para Piloto Comercial de Helicóptero nos últimos três anos. O segmento movimenta, ainda, R$ 3,5 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Taxis Áereos (ABTaer). 11


Campinas, a 99 km de São Paulo, conta com quatro empresas de táxi-aéreo atuando no mercado, de acordo com a Anac. Desde 2003, a Helitec Taxi Aéreo e Voos Panorâmicos, opera no aeroporto Campos dos Amarais, com quatro helicópteros: Robson 22, Jet Ranger, Esquilo e Robson 44, sendo este o único modelo utilizado no serviço de transporte. Considerando o custo e benefício, o comandante Cláudio César explica que o uso do táxi-aéreo é a solução ideal para o descolamento nos grandes centros urbanos. “Para o passageiro, têm as vantagens de pousar em cima do seu escritório, em um prédio que tenha heliponto. Gasta menos tempo para se deslocar de uma cidade para a outra. E, na hora do pouso, não precisa de pista, pois ele é potencialmente mais seguro que um avião e pode pousar em um espaço pequeno”, compara. Percorrer a distância entre Campinas a São Paulo, num automóvel popular 1.0, o percurso demoraria cerca de 1h15 sem congestionamento, ou até 2h30 em caso de trânsito. De helicóptero levaria até 35 minutos. Utilizando o carro, ficaria R$ 75,74 somando gastos com combustível (R$ 2,77 litro de gasolina), além dos quatro pedágios (R$ 29,60 total). Para pousar num heliponto, normalmente

instalados em hotéis da capital paulista, o usuário gasta R$ 1.800, mais a taxa do embarque ou desembarque, que fica em torno de R$ 190 a R$ 500,00. Para esse pouso, são exigidos a indicação de um condômino para autorizar o pouso e agendamento deve ser antecipado. Geralmente, nos helicópteros são usados o AviaGás de combustível, que no Aeroporto Campo dos Amarais chega a custar R$ 4,00 o litro. Um litro é consumido em um minuto de voo. Os custos de transporte de uma cidade a outra são calculados da seguinte forma: tempo de trajeto - contado desde o momento em que a aeronave sai da empresa de transporte aéreo até o momento do seu retorno; modelo e peso da aeronave; valor da manutenção, além das taxas aeroportuárias determinadas pela Infraero de acordo com as categorias de A a G, por peso de aeronave; distância e a quantidade de passageiros. Os interessados para fazer a reserva de um helicóptero devem apresentar o cartão de crédito e a carteira de identidade (ou passaporte); informar o peso do viajante e a quantidade de malas que serão transportadas. A máquina comporta três pessoas mais o comandante. A nutricionista Roberta Lara Cassini é usuária desse tipo há três de transporte e conta que o benefício maior é o tempo que economiza no

Comandante Cláudio Cesar da Helitec explica a utilidade do taxi-aéreo

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trânsito. “Sempre costumo viajar ou ir de uma cidade para a outra de táxi-aéreo, que é mais viável pelo tempo de viagem e oferece mais opções de local de aterrissagem”, avalia Roberta. Pensando no empresariado e seus negócios, o presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe), comandante Rodrigo Duarte, ressalta que o trânsito lento pode ter um preço alto para os executivos. Para ele, as principais vantagens estão na agilidade, segurança e economia. O uso de carros, aponta, além do custo com combustível, tempo parado no trânsito e depreciação do veículo, tem custos indiretos. “Há perda de produtividade de uma pessoa que se estressa por ser obrigada a ficar horas parada no trânsito com compromissos agendados e sob pressão de perder um negócio em função do fator tempo”, observa. Por segurança e regularização do setor, o serviço de taxi-aéreo é autorizado e fiscalizado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac). Ao contratar o transporte, é importante que o usuário se certifique que a empresa tem autorização para a prestar o serviço. As aeronaves das empresas autorizadas de táxi-aéreo e de prestação PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Transporte aéreo é alternativa para driblar congestionamento nos grandes centros urbanos

de Serviço Aéreo Especializado (SAE) devem estar matriculadas nas categorias TPX (táxi-aéreo) e/ou SAE. A Anac restringe a circulação de helicópteros em São Paulo em horários e espaços específicos: só podem voar das 6h às 23h nas chamadas Rotas Especiais de Helicópteros (REHs), caminhos pré-estabelecidos no céu para o tráfego dessas aeronaves.

Mas existe um problema: taxi-aéreo clandestino, ou os chamados de “voos piratas” que procuram driblar a burocracia e utilizam aeronaves sem documentação e pilotos com habilitação vencida. Assim, a Anac criou um espaço em seu site (http://www.anac. gov.br/) para que o usuário possa verificar a regularidade da empresa e da aeronave a ser utilizada. Disponibiliza Fotos: Cris Daniele Yamamoto da Silva

Helicóptero consome 1 litro de gasolina em 1 minuto de voo

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ainda uma listagem de empresas taxi-aéreo operante no Brasil, que devem ter - próximo à porta principal de entrada de passageiros, sobre a fuselagem - a expressão “Táxi-Aéreo” pintada, horizontal ou verticalmente, de forma bem visível. Essa inscrição também deve ser checada pelo usuário do serviço.“Nos taxi aéreos clandestinos, você não conhece quem é o piloto, que treinamento ele obteve” salienta o comandante Cláudio César, referindo-se aos critérios de fiscalização da Anac, responsável pela identificação da idoneidade da empresa e do treinamento realizado pelos pilotos. As empresas piratas cobram por quilômetro ou por hora de voo, pelo fretamento de uma aeronave registrada como TPP (Privada – Serviços Aéreos Privados). Para o transporte de passageiros, a aeronave deve ser registrada como TPX (Táxi Aéreo) e seguir uma série de normas e regulamentações da agência reguladora. No setor, a prática ganhou o apelido Taca (táxi aéreo clandestino) e tornou-se uma “concorrência desleal”, segundo a Associação Brasileira de Táxi Aéreo (Abtaer). Considerada uma infração ao Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), a prática clandestina deve ser denunciada à Anac, que é vinculada à Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República (SAC/PR), caracterizada por independência administrativa e com atribuições de regular e fiscalizar as atividades de aviação civil e de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária. O economista Denis Paulo da Silva avalia que a clandestinidade no setor, além de ferir princípios éticos, acabam por afetar os níveis de segurança. “As formas para coibir são fiscalização, denúncia e mais propaganda sobre os riscos de se usar um transporte aéreo clandestino”, finaliza. A fiscalização do espaço aéreo é responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), da Aeronáutica e a Anac cuida da segurança no transporte aéreo, regula as operações da aviação civil e dos aeroportos de acordo com padrões internacionais, auditados pela Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci).  13


FRIO NA BARRIGA E SITUAÇÕES EXCITANTES LEVAM PRATICANTES AO ÊXTASE ESTIMULADOS PELO CORTISOL

O prazer no

MEDO

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Fotos: Gustavo Vargas

Vanessa recebe o treinamento básico, com as posições e movimentos que devem ser feitos durante o salto

Gustavo Vargas

gustavovargas@globo.com

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altar de paraquedas, assistir a um filme de terror ou percorrer corredeiras radicais proporciona grande prazer. Há quem não goste, mas para os que buscam sentir esta sensação nada mais é prazeroso do que o medo provocado. Associado ao gosto pelo terror, esse tipo de comportamento tem explicação científica. É a partir de experiências pessoais que o sentimento é construído e responde aos estímulos do dia a dia. De acordo com a neurologista Luisa Dantas, situações que provocam medo liberam maior quantidade de cortisol, hormônio que ativa o sistema de recompensa e, quando estimulado, gera prazer. Passada a euforia, entram em ação substâncias que garantem calma e bem-estar. “O medo não é uma emoção básica como a dor, a raiva ou o prazer, que são responsáveis pelo instinto de sobrevivência. Resulta de experiências adquiridas na vida, por isso pode sofrer distorções e se apresentar de forma diferente para cada pessoa”, esclarece. A prova disso são os bebês, que não estão preparados para lidar com o perigo.

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Eles mexem com objetos pontiagudos, colocam o dedo na tomada e chegam à beira de janelas. Aos poucos, vão descobrindo situações que, para eles, representam perigo ou alerta. Nos filmes de perseguição e mortes sanguinárias, o telespectador é convidado a participar e experimentar sensações por meio de efeitos visual e auditivo. Mesmo conhecendo a natureza irreal dos filmes, envolvem-se como fosse realidade e são levadas pelas emoções sensoriais. Para a médica psiquiatra e terapeuta sexual Ana Paterniani, tanto os filmes de terror quanto os esportes radicais podem ter raízes comuns: o desejo da sensação de triunfo na superação do medo.

“Embora a liberação dos hormônios desencadeada diante do perigo seja de fato estimulante, o medo é relevante porque passa a ideia de superação de limites. Essa necessidade de enfrentar os medos pode explicar o motivo de quanto mais assustadora a montanha russa maior é a sua fila”, afirma a profissional. Os praticantes de esportes radicais são movidos pela adrenalina. A clínica geral Luana Ferreira explica que as culpadas por esse vício são três substâncias: dopamina, serotonina e endorfina. A dopamina age como um estímulo do sistema nervoso central e é dela a responsabilidade pela sensação de prazer e de

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motivação que sentimos. A serotonina é um neurotransmissor que está relacionado com os distúrbios de humor ou afetivos. A endorfina é uma espécie de analgésico produzido pelo próprio corpo. Ela gera o bem-estar, regula a emoção e diminui o estresse. Da mesma forma que o corpo produz adrenalina em momentos de tensão e tristeza, o corpo também reage a estímulos positivos. Em resposta ao prazer que o cérebro produz a endorfina. Este hormônio chega a ser 400 vezes mais forte que a morfina, provocando sensações de anestesia e alívio. Os efeitos do hormônio no organismo são muitos, e todos positivos: analgésico, calmante, regulador do sono, controlador dos ataques à geladeira, inibidor do estresse e da ansiedade. Com tantas vantagens, não é de se estranhar que existam pessoas dependentes dele. Pedro Cardoso, colaborador de uma empresa de paraquedismo, fala que a sensação de prazer e bem-estar do esporte radical depende se a atividade praticada é de forma voluntária ou uma situação forçada. “Uma coisa é decidir se jogar de um avião amarrado a um paraquedas. A outra é alguém te empurrar do avião sem que você queira ou que esteja totalmente preparado. A queda é a mesma, mas a sensação é radicalmente diferente e depende de quanto o cérebro considera a atividade segura. O esportista está em busca de satisfação pessoal e interpessoal, para provar aos demais que é capaz de realizar o esporte perigoso”, argumenta Cardoso.

A atleta e responsável pelo marketing de uma empresa de paraquedismo, Adriana Akatuka, diz que medo, todo mundo tem, inclusive os atletas que saltam todo final de semana. “Cada salto é uma situação diferente. Se não tivesse medo, não haveria motivo para saltar”, afirma Adriana. Para o praticante de motocross Leandro Silva, pilotar uma motocicleta em meio a obstáculos provoca sensação de espontaneidade e independência. “Sentir medo no esporte me faz vivo e, talvez, mais corajoso, otimista, audacioso e extrovertido. Quando termino uma manobra uma calmaria toma conta, como se meu corpo inteiro relaxasse”, comenta Silva. A bióloga Vanessa Souza Moreno aproveitou um festival de paraquedismo para realizar seu primeiro salto, com a vontade de testar todos os seus limites e enfrentar o medo. “Acho que vai ser sensacional a sensação de liberdade”, contou Vanessa. Após o salto a bióloga disse que foi ‘bizarra’ e que ela ainda não sabia o que sentiu de verdade. “Foi legal, mas eu acho que não curti muito não. Mas talvez eu salte de novo, a primeira vez é muita emoção”, esclareceu Vanessa. Além das pessoas que saltam uma vez na vida, há os atletas de paraquedismo que praticam todo final de semana, como é o caso do advogado Fernando Spironello, que se dedica a esta paixão há três anos. Segundo ele, são 30 segundos em que você só consegue pensar em você, o resto dos problemas do mundo somem. “É uma

Os atletas são guiados pelos instrutores

fuga apra mim, uma válvula de escape do mundo. Se acontece um problema no trabalho, eu não me estresso, porque sei que vai chegar o final de semana e eu vou ter aqueles 30 segundos no ar para ver a grandiosidade do mundo. O problema se transforma numa coisa mínima, com a qual eu não devo esquentar a cabeça, pois vou achar uma maneira de superar isso”, explica Speronello. Na primeira vez que saltou, o advogado explicou que

Antes de embarcar no avião, todos que saltam pela primeira vez, recebem as instruções básicas de como se portar no ar

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Fotos: Gustavo Vargas

Durante festival de pára-quedismo, os atletas preparam seus equipamentos antes do salto

sentiu muito medo, por é uma experiência nova. “Eu senti medo de chorar, quando cheguei na porta do avião, mas quando o paraquedas foi aberto, a sensação foi inexplicável”, conta. Ana Paterniani alerta para a necessidade de se ter cuidado com as sensações porque habituar-se a elas e repetir esses comportamentos pode ser um vício. “A adrenalina ajuda a enfrentar situações estressantes, porém ficar permanentemente sob sua ação causa sérios danos à saúde”, afirma a psicóloga. O organismo reage de acordo com os estímulos que recebe, por meio do sistema nervoso autônomo, que controla as funções involuntárias do corpo e possui dois componentes: o sistema nervoso simpático e o parassimpático. Ao ser estimulado, o sistema nervoso simpático produz e libera substâncias hormonais transmissoras (como a adrenalina), que produzem efeitos sobre o organismo. Pode ocorrer também a elevação da pressão arterial e da atividade cardíaca, um maior grau de atividade mental, aumento do metabolismo, dilatação dos brônquios pulmonares, dilatação das pupilas e aumento no PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

teor de glicose sanguínea para suprir a maior demanda de energia das células. Mesmo que o medo e o prazer estejam relacionados, há quem não goste de se expor a nenhum risco. Para a psicóloga Nahara José Miguel, não existe explicação absoluta para esta diferença de comportamento. “Em alguns casos, é alguém que evita o contato com os próprios medos; em outros, a pessoa é bem resolvida e não precisa recriar os fantasmas artificialmente”, pontua. Mesmo que a descarga de adrenalina na corrente sanguínea não ocorra em decorrência da altitude, velocidade ou qualquer outro limite extremo superado pelos praticantes de esportes radicais, a atividade física é sempre recomendável. O problema ocorre justamente quando a substância é lançada no organismo sem que ocorra algum tipo de ação, pois durante a liberação da adrenalina a taxa de glicose no sangue aumenta. “Quando somos colocados numa situação de estresse emocional negativo e repetitivo e não realizamos atividades para compensar, a adrenalina eleva o nível de açúcar no sangue, causando a hiperglicemia”, adverte a biomédica Amanda Casale. Também, os batimentos cardíacos aumentam com riscos para quem sofre de problemas cardíacos. As emoções negativas, geralmente

causadas pela descarga de adrenalina em brigas contundentes, podem resultar em ataque cardíaco nas pessoas que são propensas ao problema, particularmente quanto ao entupimento de artérias coronarianas. O hormônio fecha os vasos sanguíneos e interrompe o fluxo para o coração. No entanto, esse risco só existe para quem já tem as artérias parcialmente entupidas. Desta forma, o efeito ‘viciante’ da liberação hormonal incentiva a busca de sensações-limite que desencadeiam a descarga da adrenalina no corpo, seja um esporte radical, ou outras situações que, muitas vezes, podem ser nocivas à pessoa em diversos campos. Porém, não são só os prazeres sentidos com os esportes radicais ou com filmes de terror que estão associados ao medo. Práticas sexuais sadomasoquistas, que envolvem algum nível de sofrimento, também, trabalham essa emoção. O gosto pela amarração ou pela dor física não está simplesmente relacionado ao sofrimento, mas aos riscos a que se está sujeito. “Podemos imaginar que tais pessoas possam ter tido experiências infantis marcantes envolvendo essas duas emoções (dor e prazer) e, talvez, por isso sintam necessidade de repetir tais emoções nas suas práticas sexuais”, esclarece Ana Paterniani.  17


PINTAR A PARTE BRANCA DOS OLHOS, CORTAR A LÍNGUA AO MEIO E FAZER DENTES DE VAMPIROS SÃO TENDÊNCIAS DOS ADEPTOS DA BODY MODIFICATION

No limite da

ACEITAÇÃO Caroline Ribeiro

macribeiro@unimep.br

O

número de cirurgias plásticas no Brasil teve alta de 120% no período entre 2009 e 2012, conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. A estatística reflete a busca por um padrão de beleza a partir de intervenções médicas. Porém, existe um grupo, sem dados oficiais, que prefere caminhar pelo lado oposto. Fugindo do óbvio por meio de intervenções não-médicas, a tribo adepta da body modification procura apenas satisfazer suas próprias expectativas, sem se preocupar com o que os outros pensam. A body modification, traduzida como modificação corporal, consiste na realização de métodos, extremos ou não, para alterar uma região do corpo. Adepto da prática, o tatuador são-carlense Rodrigo Fernandes dos Santos, mais conhecido como Musquito, causa polêmica: ele realizou o método conhecido como Eyeball Tattooing, que consiste na pintura da esclera (parte 18

branca) dos olhos, por meio de tinta injetada com uma seringa. O procedimento é permanente e pode ser feito em diversas cores. A técnica se popularizou quando uma matéria do jornal O Globo, publicada em 2010, revelou o caso de dois detentos americanos que a realizaram. “Foi um procedimento tenso, mas eu faria novamente se precisasse. Era algo que já estava estudando há algum tempo, não foi nada sem pensar. Sempre vi foto de eyeball e achava muito louco e, ao mesmo tempo, bizarro. Nunca tinha pensado em fazer até quando surgiu a prática no Brasil”, comenta Santos. Seis meses depois de fazer essa modificação nos olhos, a body piercer e esposa de Musquito, Letícia Dias, também realizou o método. “A dor é menor que uma tatuagem convencional. O problema é que se tratam dos olhos, região bem sensível. O procedimento levou uma hora, mas parecia que eu estava naquela cadeira há dias. Não acabava nunca”, conta Letícia.

Bifurcação na língua, como a da body piercer Cássia Demarchi, é uma das modificações corporais consideradas extremas; ao lado, Rodrigo Fernandes dos Santos e Letícia Dias optaram pelo eyeball tattooing e injetaram, permanentemente, tinta preta na esclera dos olhos PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Fotos: Caroline Ribeiro

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Depois de pintar os olhos, o casal de São Carlos teve dois dias de irritação e lacrimejamento diante da luz, até que voltassem ao normal. Santos, ainda, arrematou uma noite sem dormir por receio do que poderia acontecer ao acordar. Fora as questões psicológicas: os primeiros dias foram de adaptação com a nova aparência e olhares curiosos pelas ruas. Para Musquito, qualquer que seja o procedimento escolhido envolve a atitude de cada um. “Fiz minha primeira tattoo aos 13 anos e apanhei da minha mãe. Esse estilo de vida começou desde cedo e as pessoas tiveram que se adaptar às minhas escolhas. E é bem isso que todos devem ter: atitude para encarar olhares de discriminação. Se quer fazer, tem que aguentar essa barra”, informa. Letícia fala que, até hoje, algumas pessoas desviam deles na calçada, fazem o sinal da cruz e até desejam que fiquem cegos. “No início eu me incomodava, mas agora entendo e rio. Alguns dizem que não conseguem

me olhar nos olhos por pura aflição e outros, principalmente os mais velhos, nos parabenizam pela coragem. O que não gostei foi quando alguns religiosos desejaram que ficássemos cegos. Nós não somos religiosos nem nada, mas jamais desejaríamos isso para alguém. As pessoas precisam analisar melhor o que dizem por aí”, desabafa. A body piercer tem 60% do corpo tatuado e Santos, 70%. Eles garantem que gostam do estilo de vida que seguem. Implantes microdermais - joias que possuem bases que são fixadas internamente, por dentro da pele, e rosqueadas com uma peça que fica por cima da pele - alargadores e piercings, são exemplos de modificações realizadas por eles. “Tudo na modificação corporal se trata de evolução. Uma tattoo nova, um piercing ou mesmo aumentar o alargador, fazem parte disso. Fiz o eyeball porque era diferente, mas sempre deixo claro que não recomendo para ninguém. A pessoa deve ter muita certeza antes de tomar qualquer atitude, mesmo que seja uma

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tatuagem simples. A modificação não é para deixar mais bonito, mas sim para evoluir como pessoa”, observa a body piercer. Na avaliação da psicóloga Rosane Rodrigues Marques, esse grupo de modificados surge para chocar, sem perguntar se as pessoas concordam ou não, aprendendo a lidar com o preconceito. “É quebrar o limite da normalidade para testar seus próprios limites da dor”, pontua. Segundo ela, o que choca causa afastamento e preconceito. “Nós não nos livramos do preconceito no sentido de eliminação total e irrestrita, até porque ele é dinâmico, sutil em nossas vidas. Diria que é, muitas vezes, inconsciente. Como ele vem do nada, nos permitir admitir sua existência já é um grande passo para lidarmos com a questão”, explica a psicóloga. Sobre o receio da cegueira ao pintar a parte branca dos olhos, o oftalmologista Jorge Luiz Martins esclarece que, em longo prazo, tudo pode acontecer, uma vez que o método ainda é novo e pouco pesquisado. “Se nada aconteceu durante o procedimento, a cegueira não precisa ser uma preocupação. O perigo, na verdade, está relacionado com uma possível reação alérgica ou com o momento da execução do método”. O médico alerta para a necessidade de se ter conhecimento anatômico dos olhos, pois pode perfurar a esclera, que é uma estrutura delicada e fina, estourando os vasos que ficam na coroide. “Pode ocorrer o desenvolvimento de infiltração e até deslocamento de retina. E o mais importante de tudo: é algo irreversível”, ressalta Martins. Do alto de suas 40 tatuagens, 15 piercings e um implante microdermal, a body piercer piracicabana Cássia Demarchi consulta especialistas para suas intervenções corporais. “Além de procurar por um profissional adequado, as pessoas devem ter certeza do que estão fazendo. Eu gosto desse estilo de vida, mas me planejei. Minha primeira tatuagem, por exemplo, fiz com 26 anos”, conta Cássia. Ela, ainda, se enquadra no grupo dos modificados considerados extremos, com língua bifurcada (a chamada tongue splitting) e dois implantes subcutâneos 20

de silicone no braço (em formato de coração) que fazem parte de seu corpo. “Como aplico piercings, procuro me manter informada sobre tudo. Com minhas pesquisas, descobri os procedimentos e me interessei pela body mod, querendo ir além dos métodos convencionais. Não tive problema com nenhum dos dois, tanto é que pretendo colocar mais dois implantes nas mãos”. A bifurcação, como o próprio nome diz, consiste em realizar um corte com bisturi na ponta da língua, partindo-a em duas partes – como uma língua de cobra, por exemplo. Os implantes, por sua vez, são aplicados por baixo da pele com intuito de criar uma elevação com formato desejado pelo modificado. O material, que varia entre politetrafluoretileno (teflon) ou silicone, pode ser aplicado em diversas partes do corpo, mas as mais comuns são nos braços e cabeça, que se assemelham a chifres. De acordo com a dermatologista Camila Caitano, os implantes possuem os riscos de qualquer procedimento cirúrgico, bem como o de haver rejeição do material introduzido, o que tornaria necessário um novo procedimento para retirada do objeto e tratamento clínico. “Todas as modalidades de body modification, mesmo as consideradas simples, podem trazer complicações. A tatuagem, por exemplo, pode causar alergia por conta do pigmento introduzido na derme. Já os procedimentos na língua, oferecem riscos de perda de paladar e dificuldade na fala, além de levar bactérias até a corrente sanguínea”, alerta a dermatologista. E as modificações não se restringem somente às perfurações, cortes ou pinturas na pele. Camila Ferreira alongou os dentes caninos superiores há três anos

e os inferiores, há três meses. Tudo começou quando, ao retirar o aparelho ortodôntico e ter seus dentes lixados, notou que eles ficaram muito retos. Ela procurou quatro dentistas para alongar o canino e somente dois aceitaram. “Um deles, porém, disse que faria até determinado tamanho. Com o outro, consegui alongar três vezes mais do que pretendia inicialmente”, lembra. No início, Camila tinha dificuldades para mastigar e acabava mordendo os lábios por não estar acostumada com o tamanho dos dentes. “Mas não tive nenhum outro problema por conta da modificação”, diz. Com três piercings, duas tatuagens e alargadores de cinco milímetros nos dois lóbulos da orelha, Camila garante que sempre admirou as modificações corporais. “Só não faço outras coisas porque minha mãe detesta, mas sempre gostei muito disso tudo”, frisa. Ela acompanha filmes de terror e coisas relacionadas ao sobre-

Camila Ferreira alongou os dentes caninos pelo menos três vezes mais do que pretendia PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Fotos: Caroline Ribeiro

Implantes subcutâneos formam elevações na pele com o formato desejado pelo modificado

natural e este foi mais um dos motivos que a fez escolher a modificação que se parece com um dente de vampiro. “Fiz porque gosto e acredito que modificação não muda o caráter de ninguém”, afirma. O seu próximo objetivo é deixar as orelhas parecidas com a de um elfo, cortando-as em duas pontas e deixando-as para cima. Prazeres estéticos - De acordo com as jornalistas Nathalia Abreu e Priscila Soares, autoras do livro “Corpo ao Extremo – A nova face de uma cultura modificada”, a modificação ocorre em situações do próprio cotidiano. “Qualquer alteração no corpo, por mais simples que seja, é uma modificação corporal”, defendem e exemplificam com um simples corte de cabelo, pintura das unhas, até a realização de procedimentos mais invasivos, como bifurcação de língua e colocação de implantes. “A diferença entre os tipos de alterações possíveis é que algumas são mais aceitáveis na sociedade Ocidental (como é o caso dos implantes de silicone nos seios e nádegas), e outras ainda não, como é o caso da comunidade da body modification”, define Nathalia. As jornalistas, também, realizaram modificações nos corpos. Priscila possui piercings no nariz e umbigo e uma tatuagem nas costas. Nathalia tem dois alargadores nas orelhas, de dez milímetros cada, e pretende se tatuar. Para elas, o que conta antes de realizar qualquer coisa é a maturidade, já que a maioria das intervenções é irreversível. “Tem que estar preparado e convicto de que é aquilo que você vai querer carPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

regar por toda a vida”, enfatiza Priscila. Em trecho das considerações finais do livro, Priscila e Nathalia ressaltam que, do ponto de vista psicológico, analisado durante a pesquisa, não é possível generalizar e afirmar que quem se modifica extremamente possui algum distúrbio mental que necessite de tratamento ou observação. A psicóloga Rosane Rodrigues Marques acredita que cirurgia plástica e a modificação corporal não se enquadram num mesmo grupo. Para ela, a cirurgia plástica visa uma melhora na estética do corpo de um indivíduo, com base nos padrões aceitos pela cultura vigente. “Padrões que são aceitos e até desejados pela sociedade, de modo geral, porque são funcionais em seu uso e operam em um campo de desejos de consumo de prazeres estéticos no contexto urbano, o que não é o caso da metodologia body modification, que surge de razões que cada pessoa projeta

como sendo a forma de enxergar o próprio corpo e as relações sociais”. Quanto às vivencias pessoais, pode-se dizer que “essas pessoas vivenciaram algo traumático e a impossibilidade do esquecimento, a insistência na repetição, aparece em tentar dizer o indizível, numa busca de elaboração simbólica”, reforça a profissional. O cirurgião plástico Edilson Pinheiro confessa que já foi procurado por pessoas que realizaram modificações que deram errado. “Uma pessoa colocou dezenas de piercings ao mesmo tempo nas orelhas e nariz. Teve infecção local e precisou retirar todos. Ela acabou ficando com queloides e, passados dois anos, continua fazendo tratamento para melhorar o aspecto do local”, revela o cirurgião. Na clínica da cirurgiã plástica Eliane Hwang, o arrependimento mais comum que faz com que as pessoas a procurem são as tatuagens. O laser até melhora o aspecto, mas não remove totalmente o desenho. “Normalmente, as pessoas fazem um novo desenho por cima daquele que foi removido”, explica. Outra procura frequente é para a correção cirúrgica do lóbulo da orelha distendido por alargadores. Dependendo do quanto o lóbulo foi alargado, a correção fica complicada. “Às vezes, necessita da execução de um retalho, que é a retirada de pele de outro lugar para reconstruí-lo”, alerta. Vale ressaltar, ainda, que toda cirurgia deixa cicatriz e o lóbulo nunca mais será exatamente como foi antes da modificação. 

Menos ousados, os implantes microdermais têm suas bases fixadas internamente na pele e são rosqueados com uma peça que fica por cima dela

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A terapia que veio MÉTODO FOI DESENVOLVIDO A PARTIR DE PESQUISAS SOBRE O IMPACTO DA FALTA DE GRAVIDADE NO ORGANISMO Natália Zanini nzsilva@unimep.br

M

étodo particular para tratamento de deficiências, limitações ou mobilidades reduzidas, o Pedia Suit, representa possibilidade de reabilitação, independência e qualidade de vida. A prática chegou a Piracicaba há sete anos e consiste em fortalecer e alongar a musculatura do paciente por meio de cabos, pesos e grades que o cercam em um ambiente monitorado e controlado por fisioterapeutas. Na década de 70, do século XX, o método Penguin Suit foi estudado pelo programa espacial russo, após astronautas passarem mais de 300 dias no espaço e observarem os efeitos nocivos que a falta de gravidade causava ao organismo, como perda de força muscular, densidade óssea, da integração das respostas motoras, além de alterações cardiovasculares e desequilíbrios dos fluídos corporais. Devido ao sucesso na reabilitação dos astronautas, estudiosos o aperfeiçoaram trazendo a sua aplicação para a área da neurologia. Em meados dos anos 90, uma clínica na Polônia aprimorou o recurso e desenvolveu o Adeli Suit, que foi o primeiro a ser utilizado em crianças com paralisia cerebral. Com aprimoramentos e modificações, fisioterapeutas americanos desenvolveram um macacão que proporciona alinhamento biomecânico e se adequa ao tratamento de crianças com

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diferentes patologias decorrentes de atraso no desenvolvimento, Acidente Vascular Cerebral (AVC), alto ou baixo tônus muscular, autismo, mielomeningocele, Síndrome de Down, entre outras. Mais recentemente, em 2006, o método Pedia Suit foi criado por dois fisioterapeutas brasileiros e um fisiologista americano. Com uma série de modificações, fez-se do Suit (roupa, em inglês) uma terapia intensiva. A roupa é divida em duas partes, uma para o tronco e outra para os membros inferiores. É composta por chapéu, colete,

A neuropediatra Deborah Kerches de Mattos, explica que o procedimento mensal corresponde a um trabalho de oito meses com fisioterapia motora convencional

calção, joelheiras e calçados adaptados, totalmente interligados por bandas elásticas com o principal objetivo de suporte, para alinhar o corpo o mais próximo possível do normal, restabelecendo o correto alinhamento postural. Logo após a introdução do método no país, a fisioterapeuta Daniella Canella Fernandes Messana iniciou uma jornada para oferecer o tratamento em sua clínica, em Piracicaba. Até então, apenas São Paulo, Campinas e Salvador (BA) desenvolviam o Pedia Suit. Além de Daniella, a sócia e, também, fisioterapeuta, Carolina Bruzosco Conde, especializou-se na técnica. “O método é excelente e só agrega bem-estar ao paciente, porém é um tratamento caro e ainda é oferecido em atendimento particular. Muitos o desconhecem por não terem contato com pessoas com deficiência e, consequentemente, não vivenciarem situações como essa no dia a dia”, enfatiza Daniella. O método conta, ainda, com insPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


do espaço

Fotos: Natália Zanini

Por meio de cabos conectados à estrutura, o paciente do Pedia Suit tem a sua musculatura fortalecida e alongada.

talações que permitem trabalhos de fortalecimento e alongamento muscular, correção de postura e marcha, com o uso de cabos, pesos e grades que cercam o paciente em um ambiente monitorado e controlado pelas fisioterapeutas, são na verdade diferentes espécies de ‘gaiolas’ que têm por finalidade promover o avanço no tratamento. “A chave do tratamento não está só nessa roupa especial, mas num elemento fundamental: as gaiolas. A do ‘macaco’, por exemplo, é de metal tridimensional rígido, com polias metálicas que servem para alongar e fortalecer os grupos musculares. Já na ‘gaiola aranha’, eficaz para a implementação do tratamento do neurodesenvolvimento motor, tem a finalidade de reprogramar o sistema nervoso central e neuromuscular”, explica CaPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

nella. Entre os benefícios terapêuticos proporcionados, pode-se destacar: aumento da densidade mineral óssea, força muscular, propriocepção, equilíbrio, coordenação motora, consciência corporal, modulação de tônus postural e alinhamento biomecânico. Tratamento - Paciente da clínica há dez meses, Pedro Henrique, de apenas 4 anos, é portador de mielomeningocele. Trata-se de uma má formação congênita que faz com que a espinha dorsal e o canal espinhal não se fechem durante a gestação. Nesse período, tem apresentando resultados extraordinários. Segundo os pais Patrícia Vaz e Anderson Vaz, o que chama mais atenção é a melhora motora, a autoconfiança

adquirida, a conquista da independência parcial e as iniciativas que a criança vem realizando. “Hoje, pego o meu celular e por vídeos fico relembrando a época, nem faz tanto tempo assim, que meu filho não conseguia nem ficar de pé. Em menos de um ano de tratamento, presenciei quando o Pedro começou a se locomover de andador, o que já é uma vitória. Agora, está andando de muletas e arriscando três passos sozinho”, comemoram os pais. Para a neuropediatra Deborah Kerches de Mattos, o procedimento tem como base exercícios específicos e intensivos, compreendendo 80 horas mensais, e pode ser realizado em crianças e adultos. Porém, há contra-indicação. Esse trabalho mensal corresponde ao equivalente a um trabalho em torno de oito meses com fisioterapia motora convencional, duas vezes por semana, sendo o resultado superior. Deve ser realizado exclusivamente por um profissional capacitado. ”As contra-indicações são subluxação de quadril (acima de 50%), escoliose severa acima de 25 graus, contraturas articulares e algumas distrofias musculares”, ressalta Deborah. Em todo o Brasil, o Pedia Suit é um serviço particular, ou seja, não é disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde informa, por meio de assessoria de imprensa, que “esse método não possui certificado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, por isso, não pode ser disponibilizado”. A Secretaria de Saúde de Piracicaba esclarece que a Central de Fisioterapia é voltada e capacitada para atender pessoas com alguma deficiência, limitação, mobilidade reduzida ou quaisquer outras causas que levem esse paciente a ter que passar por atendimento e tratamento. A garantia da reabilitação, frisa, é de acordo com cada patologia.  23


EXERCITAR O CORPO E A MENTE ESTÁ ENTRE AS PRINCIPAIS ATIVIDADES PARA A TERCEIRA IDADE

Dançando Jamile Ferraz

jafcampos@unimep.com

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s atividades físicas nunca deixaram de ser uma das melhores maneiras para garantir qualidade de vida e de saúde. Mesmo depois dos 60 anos, os idosos estão a procura de exercícios que possam ajudá-los a melhorar a perspectiva de vida. A educadora física Paula Leite trabalha com 300 alunos da terceira idade e explica por qual razão eles buscam essas práticas. “Trabalho com alongamentos, pilates e hidroginástica. Todas atividades voltada ao melhoramento dá condição de vida. Então a procura é justamente pela saúde física e mental”. Segundo ela, os exercícios ajudam a combater diabetes, trabalha com a musculação e, acima de tudo, facilita a socialização quando são diagnosticados com depressão, completa. Além das práticas com as atividades

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com

físicas, existem esportes e programas que contribuem para o condicionamento físico e a qualidade de vida mental, na Universidade Estadual Paulista, de Rio Claro, acontece o projeto Tarefa Dupla que associa atividades físicas com atividades de raciocínio e memória. O professor José Riani Costa, especialista em saúde coletiva em políticas municipais, foca seu trabalho na terceira idade e explica que as atividades com idosos envolvem caminhar entre os cones, que têm cores diferentes e fazer com que reconheçam as cores: “Os exercícios podem ser classificados como atividade física motora e cognitiva simultânea”, explica. Dentro dessas atividades elaboradas, o número de mulheres partici-

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Fotos: Jamile Ferraz

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Terceira idade participa do baile no Clube Saldosista; abaixo à esq., Irene Normilha se preparando para praticar exercícios físicos na academia

pantes é de 80%. Riani esclarece que esse percentual é atingido por causa da repressão que sofriam dos maridos, eram impedidas de se socializar por conta dos filhos, o que ocasionava um distanciamento dos exercícios. Agora, elas têm total liberdade para praticar esportes e atividades físicas. Para ele, “na dança, quando estão vendo uma coreografia ou quando escutam a música, sentem a emoção, o corpo entra em funcionamento e faz bem para os ossos e para o coração”. Uma pesquisa realizada em 2002, pela Organização Mundial de Saúde, relata a importância das atividades físicas para a terceira idade. Os estudos indicam que exercícios físicos moderados podem retardar os declínios funcionais do envelhecimento, sendo assim, uma vida ativa melhora tanto a saúde física, quanto à mental e contribui para o controle de desordens como a depressão e a demência. O fisioterapeuta Jorge Luiz Nogueira, trabalha com projetos voltado aos idosos há 35 anos. Atualmente atua no Lar dos Velhinhos em Piracicaba. Segundo ele, “as vantagens que os idosos podem tirar da dança são maior flexibilidade, mobilidade e coordenação”, enumera. Além disso, frisa, a concentra-

ção e atenção também estão presentes. “Atividades físicas grupais ajudam a reforçar a alto-estima”, ressalta. É o caso de Irene Normilha que perdeu o marido há três anos e encontrou na dança uma nova motivação para seguir em frente. “Quando meu marido morreu eu ficava em casa, mas eu sempre tive boas amizades. Aí, elas começaram a me chamar pra ir aos bailes, fui, gostei, e estou dançando”, conta. Ela também encontrou na dança uma forma de exercitar a memória. “Eu acho que decorar passos e coreografias ajuda a manter a memória ativa”, explica. Foi com essa motivação que Irene conquistou o terceiro lugar na categoria dança de salão pela VIII Olímpiada Municipal da Terceira Idade. Outro praticante da dança de salão e um dos diretores do baile para terceira idade no Clube Saldosista de Piracicaba é Nivaldo Machado que, há 40 anos, se dedica a dança fazendo aulas e se empenhando cada vez mais. “Eu danço desde os meus 20 anos. Agora eu estou mais empenhado em aprender, porque a gente vê o pessoal dançando diferente, então procuro aperfeiçoar um pouco”, revela. O Clube Saldosista chega a receber mil idosos nas sextas feiras e cerca de 700 nos domingos.  25


Dual

career ESTUDO MAPEIA PERFIL DE CASAIS BRASILEIROS ENVOLVIDOS COM CARREIRA PROFISSIONAL E FAMÍLIA Arthur Nunes

thurnunes@outlook.com

A

jornalista Julia Vidal, casada há quatro anos, tenta administrar a vida profissional sem deixar de dar atenção ao seu filho João, de apenas dois. Diariamente, acorda cedo, leva o seu filho para escola e corre para o trabalho, onde administra uma equipe de sete pessoas. A jornalista Fotos: Arthur Nunes

A pesquisadora Heliani Berlato, mapeou o perfil dos casais brasileiros

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participa de reuniões, se apressa para entregar as suas atividades dentro do prazo sempre de olho no relógio. No final da tarde, corre até a escola do João e tenta aproveitar o fim do dia para passar um tempo de qualidade com o seu filho e seu marido. Este estilo de vida não é exclusivo da jornalista. Segundo o estudo da pesquisadora Heliani Berlato, professora da Esalq/USP, 49% dos casais brasileiros vivem o desafio de balancear a vida pessoal e a profissional. Para entender melhor este novo cenário familiar, a pesquisadora trouxe do mercado norte-americano, para a elaboração de sua tese de doutorado, o conceito de dual career. “O estudo trouxe a evolução deste conceito, que traduzido para o português fica como dupla carreira, ou seja, onde o casal desenvolve carreiras. Heliani acompanhou cerca de 340 casais com em média de 25 a 30 anos e com dois filhos. “O objetivo foi entender de maneira geral como eles lidam com as adversidades”, explica. Com o resultado, a professora levantou três perfis de casais brasileiros: os familistas, os carreiristas e os acrobatas. Os familistas, em geral, são formados por casais mais tradicionais que PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


sempre vão priorizar a família ao invés do trabalho. Como é o caso da comerciante Clara Ribeiro. Para ela, nada substitui a convivência familiar. “Dediquei a minha vida para a minha família e meus filhos. Eles sempre estiveram em 1º lugar. Hoje me sinto realizada em vê-los bem, relata. Esse perfil, nos estudos da pesquisadora da Esalq/USP, pressupõe que o pai trabalha e a mãe fica em casa. Já os carreiristas são o oposto: dedicam a maior parte de seu tempo para o trabalho e não vão pensar duas vezes em aceitar uma proposta de trabalho melhor mesmos que consuma mais de seu tempo. “Geralmente são casais que adiam a maternidade e trabalham muito mais horas do que o previsto, descreve Heliani. A terceira tipologia levantada na pesquisa representa os acrobatas, que representam 49% dos casais estudados. Para a professora, este índice é importante para demonstrar a evolução da maneira que os casais agem atualmente. “Hoje, estes casais querem sim a família e o trabalho, unir os dois. Este é o maior desafio das organizações, pois eles têm talentos e não querem viver só para o trabalho, alerta. Esse é o caso de Julia Vidal. A jornalista afirma que, pela primeira vez em sua vida, se considera acrobata. “Eu e meu marido nos dividimos para trabalhar e cuidar do nosso filho, inter-

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A jornalista Julia Vidal, se divide entre a carreira e a convivência familiar

calando os horários, revela. Julia, que dedicava a maior parte de seu dia ao trabalho, transformou o seu estilo de vida após a gestação. Mudou-se de São Paulo para o interior do estado com o intuito de garantir ao filho melhor qualidade de vida. Mesmo se considerando uma mulher completa e satisfeita, ela sente falta de um tempo maior com a família. “Eu ainda me sinto culpada, mas a minha culpa é tolerável. Para a professora Heliani, é importante entender o que este perfil de casal espera das organizações. “Eles (acrobatas) buscam primeiramente ser entendidos como pessoa que tem sim o seu companheiro e filhos. Olhando para a mulher, ela vai priorizar uma flexibilidade de horários ou uma creche mais próxima, onde possa estar mais próxima de seu filho. Tudo isso sem prejudicar a sua produtividade”. A própria pesquisadora viveu na pele os reflexos de sua pesquisa. “Logo que comecei não tinha filho. Depois que ela nasceu tudo mudou. A dual career ficou muito mais latente, vivi a essência da minha tese. Ela, que se classifica como acrobata na essência, não se considera uma mulher de sucesso, mesmo atingindo seus principais anseios pessoais e profissionais. “Me considero uma mulher realizada, pois atingi meus objetivos de ser pesquisadora e mãe. Me consideraria uma mulher de sucesso se tivesse

mais tempo para a minha filha e meu marido, confessa. Heliani, que também é especialista na área de gestão de pessoas, acredita que as empresas brasileiras já estão se adaptando aos anseios dos casais brasileiros. “O mercado está considerando as pessoas que olham para si. Hoje, não precisa mais viver 100% para o trabalho, aponta. Porém, os valores da sociedade estão mudando. A vida profissional tende a se destacar ainda mais nos próximos anos. “As gerações X e Y vão priorizar cada vez mais a carreira do que a família, avalia.  27


Coworking

Espaços da loja compartilhada variam entre R$25 e R$350 mensais

EMPREENDEDORISMO GANHA NOVAS OPÇÕES DE NEGÓCIO EM ESPAÇOS COMPARTILHADOS Elisabete Alhadas

elisabete.alhadas@yahoo.com.br

N

a era da internet, a dinâmica de trabalho mudou. O individualismo das tarefas deu lugar ao compartilhamento de ideias e informações e remodelou a forma das empresas e das pessoas trabalharem. Um tipo de negócio que segue esses novos padrões são os espaços compartilhados, também chamado de coworking, modelo que surgiu nos Estados Unidos em 2006 evem vem ganhando adeptos no Brasil. Giovanna Bacarin é co-fundadora do primeiro escritório compartilhado de Piracicaba. Segundo ela, o coworking se apoia em duas bases: a comunidade e o compartilhamento. “É mais que um espaço de trabalho porque o coworking entende o comparti-

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lhamento em oposição ao sigilo, que é a forma de trabalhar mais tradicional do século passado. O modelo está na ponta de uma nova economia”, frisa. Marcelo Ramalho, co-fundador do 2work, escritório compartilhado em Campinas, aponta que os principais benefícios são “flexibilidade para aumentar e diminuir a estrutura a qualquer momento, foco no negócio, redução da burocracia e excelente custo benefício com acesso a uma estrutura de nível corporativo com preço adequado”. Essas opções de novos negócios são formas de se driblar os custos e a burocracia brasileira, que representa 44% do entrave ao desenvolvimento das empresas, segundo pesquisa da consultoria Deloitte, em parceria com a revista Exame PME, divulgada em 2012. De acordo com Registro Nacional do Comércio, existem hoje no país cer-

ca de 6 milhões de empresas abertas. Mas a preocupação dos especialistas é a quantidade de empresas que encerram suas atividades, principalmente em um curto período de tempo. “O ponto comum para o fechamento dessas empresas é a falta de planejamento e isso

Os escritórios compartilhados são uma forma de driblar a burocracia brasileira, que segundo pesquisas, ainda é um dos maiores entraves a nossa economia

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acarreta a mortalidade de 60% das que hoje entram no mercado. Além disso, muitas delas permanecem de portas abertas e não têm saúde financeira desejável”, esclarece Eduardo Mercadante, consultor do Sebrae. Lado a lado com os escritórios compartilhados e também partilhando da filosofia do coworking estão as lojas compartilhadas, espaços que visam dar acessibilidade e visibilidade a produtos de diferentes criadores sem que seja preciso embarcar no mundo dos negócios. Baseado nessa filosofia do compartilhamento que Daniela Forti, aliada a mais um sócio, decidiu abrir a primeira loja compartilhada de Piracicaba. Formada em Administração com ênfase em Marketing, Daniela sempre quis ter uma loja própria. Porém, a burocracia e os altos custos a impediram de realizar esse sonho. Até que ela conheceu o conceito do coworking e decidiu implementá-lo em uma loja. “Não queria uma loja igual as outras, as mesmas vitrines, cores e tudo mais. Foi assim que decide implementar o conceito da loja compartilha. Aí eu me encontrei, posso exercer a profissão que escolhi, no que mais gosto de fazer”, frisa. Na loja compartilhada o custo varia de R$25 a R$350 mensais de acordo com o espaço alugado. “Para alguns, é totalmente inviável ter a loja própria.”, afirma. Os custos para abrir um negócio, como citado por Daniela, assim como a falta de aptidão são empecilhos para quem deseja ter seu próprio negócio. Para essas pessoas, os ambientes compartilhados são uma saída, que reservam benefícios financeiros e pessoais. “Um dos

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Fotos: Elisabete Alhadas

Eduardo Mercadante, consultor do Sebrae, explica quais são os principais entraves ao empreendedorismo brasileiro

Daniela Forti, co-fundadora da primeira loja compartilhada de Piracicaba

principais benefícios é o custos baixos, levando em consideração se você fosse abrir uma loja ou escritório sozinho”. Esse sistema também permite a conexão entre parceiros, empresas e criadores. A empresária destaca ainda que as pessoas que usam desse tipo de espaço “não precisam se preocupar com nada”, além de fazer o seu trabalho, deixando a parte burocrática por conta dos sócios da loja, que fica responsável pela administração burocrática do negócio. Para isso recebem a parte que lhes cabe da sociedade. Eduardo Mercadante, consultor do Sebrae, salienta que a burocracia ainda é um dos maiores entraves para o crescimento e manutenção de empresas brasileiras. “Eu posso dizer que o Brasil avançou tremendamente em relação à burocracia. O Governo Federal vem implantando medidas para reduzir a burocracia, a alta carga tributária e os custos com contabilidade”. Esses motivos mantêm hoje cerca de 11 milhões de pessoas trabalhando na informalidade.

A principal medida do governador é a criação da Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008 que criou condições especiais para que o microempreendedor individual passe a ser legalizado. Com essas contribuições, o MEI tem acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre outros. (Veja no quadro ao lado os pagamentos que cabem às pessoas dessa categoria). O Microempreendedor Individual – O MEI tem como despesas legalmente estabelecidas o pagamento mensal de R$ 33,90 (INSS), acrescidos de RS 5,00 (Prestadores de Serviço) ou R$ 1,00 (Comércio e Indústria) por meio de carnê emitido através do Portal do Empreendedor, além de taxas estaduais/municipais que devem ser pagas dependendo do estado/munícipio e da atividade exercida. Àqueles que pensam em investir em um negócio próprio, Mercadante deixa uma dica: “O mais importante é planejamento. Procure um consultor do Sebrae ou qualquer outra pessoa do ramo e faça um estudo do seu negócio antes de investir. É mais seguro e dará mais certeza de sucesso”, ensina. E enquanto o governo tenta melhorar as condições do empreendedor, aqueles que querem uma solução rápida para viabilizar uma empresa ou projeto buscam alternativas. “Temos pessoas de diversas áreas procurando o espaço e projetos de parceiros surgindo, tem sido um constante exercício de como melhor servir essas necessidades e conectar as pessoas para que sejam ainda mais aquilo que podem ser”, conclui Giovanna.  29


ÁRVORE

com futuro

incerto UTILIZADO POR DIVERSAS EMPRESAS, O EUCALYPTUS GERA LUCROS, MAS COM PREJUÍZOS AO SOLO Bárbara Silva

bafsilva@unimep.br

A

utilização do eucalipto para a fabricação de papel gera de 500 mil a dois milhões de empregos diretos no Brasil, sendo, o papel, quinto produto no ranking nacional de exportações, de acordo José Luiz Timoni, agrônomo e ex-diretor da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (Feena), localizada em Rio Claro (SP). São cerca de seis milhões de hectares de eucalipto plantados em diversos estados, como São Paulo e Minas Gerais. Agregado a estes números e representatividade econômica, tanto no Brasil quanto na Austrália, África, Portugal, Colômbia e Venezuela, o seu valor histórico é marcado pelo trabalho realizado no interior de São Paulo, início do século XX, pelo engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade. Navarro de Andrade assumiu a diretoria dos hortos da Companhia 30

Paulista de Estradas de Ferro em Jundiaí no ano de 1892, e deu início ao programa de reflorestamento que tinha como objetivo atender às necessidades de madeira da ferrovia com o suprimento de dormentes e carvão para combustível. O engenheiro, então, trouxe de Portugal 34 sementes diferentes de eucalipto e as cultivou inicialmente em Jundiaí (SP), cidade que até 1905 foi sede da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e transferida, em 1910, para a cidade de Rio Claro. Conforme consta em documentos do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, àquela época o município passou a manter um centro de atividades relacionadas ao reparo, manutenção e produção de componentes para as locomotivas, carros e vagões. Na busca por informações e técnicas de cultivo, Navarro de Andrade viajou para Sydney, na Austrália. Segundo José Luiz Timoni, o professor Joseph Henry Maiden, especialista em eucalipto, foi PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Bárbara Silva

quem ajudou Navarro inicialmente. “A Austrália é o país nativo do eucalipto. E foi no Jardim Botânico que Navarro fez amizade com Maiden, que lhe ofereceu 144 espécies que poderiam ser adaptadas em solo brasileiro. A partir disso, Navarro começou a produzir o eucalipto em Rio Claro, para a Companhia Paulista”, conta Timoni. Passado mais de um século, a iniciativa de Navarro ainda é referência em estudos na área. Segundo o analista de recursos ambientais da Feena, Matheus Fernando Pereira, Rio Claro foi cidade-sede para os estudos. Hoje, são desenvolvidas pesquisas relacionadas ao eucalipto no local onde Navarro as iniciou. Desde 2009, o Instituto de Pesquisas Florestais (IPEF), vinculado à Esalq/USP, realiza estudo do desenvolvimento de eucalipto oriundo da Feena sob variadas condições de solo e clima. Outro estudo, também desenvolvido pela Esalq/USP, que já foi concluído, consistiu na elaboração de um banco de germoplasma – unidades conservadoras de material genético das plantas pesquisadas. “O estudo foi realizado na chamada Trilha da Coleção – uma das ruas com maior variedade em espécies de eucalipto, localizada dentro da Feena – e envolveu coleta de material genético, plaqueamento e levantamento populacional de eucaliptos que vieram da Austrália, Indonésia, África e também do Brasil”, explica Matheus. Para a conclusão das pesquisas, foram selecionadas e analisadas áreas da Trilha da Coleção, medindo de 600 a 1.600 metros quadrados em um talhão, sendo relativamente homogênea em termos da composição de espécies, densidade, idade e tamanho das árvores. Foram levantadas, ainda, as principais características das espécies encontradas, envolvendo origem e variação no diâmetro e na altura delas. Com as descobertas sobre a planta, o engenheiro agrônomo concluiu que o eucalipto, além de servir para o reflorestamento e para a fabricação de combustível para trens, poderia servir, também, como matéria-prima para a construção de móA árvore Eucalipto “Grandis”, localizada na FEENA, pertence a mesma família do eucalipto que foi levado por Navarro de Andrade aos Estados Unidos. Com a celulose da árvore foi confeccionado o primeiro papel feito à base de eucalipto

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veis, quinquilharias de madeira fina e para a fabricação de papel. Para a indústria, é visada pelo rápido crescimento – em torno de sete anos – e sua plantação é feita, em geral, nas áreas degradadas e exauridas pela pastagem, ou seja, em solos pobres. “O eucalipto é uma árvore cujos custos para plantação e manejo são bem mais baixos e seus resultados vêm mais rápido, tornando-a preferida no mercado”, esclarece Timoni. Em 1924, foram produzidas nos Estados Unidos as primeiras bobinas de papel feitas exclusivamente com eucalipto de Rio Claro. ‘’Navarro levou duas espécies de eucalipto para os Estados Unidos, sendo uma delas o Grandis, para a fabricação de papel. Depois, juntamente com o grupo Estadão, Navarro de Andrade disseminou a utilização da celulose do eucalipto para a confecção do papel do jornal”, observa Timoni. O primeiro jornal vindo dos Estados Unidos, feito com o eucalipto levado por Navarro de Andrade, está exposto na Feena, no Museu do Eucalipto, onde é possível conhecer a história tanto da planta, quanto da Cia. Paulista de Estradas de Ferro e do próprio engenheiro agrônomo. “Na Feena, também, é possível conhecer os casarões que serviram de moradia para colonos, trabalhadores da Cia. Paulista de Estradas de Ferro e para Navarro de Andrade, sendo pontos históricos bastante relevantes”, observa Matheus. Além disso, a unidade presta serviços de educação ambiental – com visitas agendadas de escolas – recreação e lazer, fiscalização, prevenção e

José Luiz Timoni, agrônomo, doutor em biologia vegetal com especialização em manejo florestal, aposentado como diretor da Fundaçao Florestal do Estado de SP e ex-diretor da FEENA

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Turista observa o lago da FEENA

combate a incêndios florestais e manejo preventivo. Além da fabricação de papel e a confecção de móveis, o eucalipto é utilizado na produção de mel, remédios e diversos outros produtos. Apesar de todos os benefícios diretos e indiretos que proporciona ao homem, a espécie provoca alterações climáticas, o que preocupa os ambientalistas. ‘’Hoje em dia, chove no inverno e falta chuva no verão, outono e primavera. Isso dificulta o plantio e o manejo, que é essencial para minimizar os impactos na natureza’’, argumenta Timoni. Ele explica que até os 40 anos o eucalipto cresce violentamente e, para isso, precisa consumir muita água e nutrientes para se desenvolver. Normalmente, a planta entra em dormência no inverno – época em que a chuva é escassa –, ou seja, ela não absorve água nem nutrientes e o solo não é exaurido. “Com o fim do inverno e a chegada da primavera, em setembro, as chuvas voltam a aparecer e os solos são novamente recheados de água e nutrientes, voltando ao equilíbrio natural. É quando o eucalipto volta a retirar nutrientes do solo”, reforça. De acordo com Timoni, o eucalipto absorve as águas das primeiras chuvas, mas não chega a esgotar o solo, porque as águas que foram retiradas são repostas. Este seria o ciclo normal da ‘alimentação do eucalipto’ e a reposição da água no solo. Mas, não é mais assim. Com o clima e as estações do ano cada vez mais desreguladas e misturadas – falta chuva no inverno e também no verão – acontece um descontrole no ciclo de retirada e reposição de água no solo. ‘’Com a escassez da chuva, faltam nutrientes e água no solo durante o inverno e na primavera. Assim, o eucalipto não vê

Fotos: Bárbara Silva

Visitantes da FEENA brincam em um dos espaços abertos, utilizados, também, para piqueniques

outra forma de se manter vivo senão exaurindo tudo o que há debaixo do solo’’, explica Timoni. Além disso, o plantio é feito em maciço florestal – são plantadas diversas espécies de eucalipto em um mesmo local – e o eucalipto possui uma raiz maior que a das outras plantas, chamada de ‘raiz pivotante’, o que lhe dá a capacidade de alcançar e exaurir, também, os lençóis freáticos, o que causa a inutilização completa do solo. O problema é que não há o que fazer: plantar menos eucalipto e perder economicamente ou plantar eucalipto normalmente e aguardar os estragos que serão causados? Eis a questão que nem mesmo Timoni ou Matheus Pereira chegaram a uma conclusão.  PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Camila Chames

Mania de unha

Camila Chames

camila.chames@hotmail.com

A

s unhas compõem o visual de toda mulher e a indústria cosmética, atenta a esse público consumidor, investe pesado em esmaltes e decoração, que vão desde uma nova cor até adesivos em 3D. Para atender a clientela, as tradicionais manicures têm que se manter atualizadas e, cada vez mais, dinâmicas na arte de colorir as unhas. Mas de olho neste setor em potencial, um novo modelo surge para dinamizar o serviço: as esmalterias, espaços destinados apenas para se cuidar PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

A TRADICIONAL MANICURE OU A NOVIDADE DA ESMALTERIA, E AÍ QUAL É A SUA PREFERIDA?

das unhas. Prova disso é que em 2012 o segmento teve faturamento de R$ 508 milhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). As irmãs Giulia e Denise Vello acompanham de perto o mercado de unhas e suas novidades. Enquanto que para Denise a esmalteria oferece um serviço mais técnico e que lhe agrada, Giulia não dispensa o serviço da tradicional manicure. “A profissional que geralmente vou já me conhece e sabe bem como gosto da unha, do esmalte, dos enfeites, enfim, é quase um laço de amizade”, comenta.  33


Denise e Giulia cuidam das unhas toda semana e acompanham as tendências nos blogs especializados, em busca de referência. “Estou sempre ‘fuçando’ no facebook, páginas oficiais de marcas de esmalte, como a Risqué, e sigo, também, páginas de lojas de esmaltes, como a www.loucasporesmalte.com. br, além dos blogs www.unhasetudo. com.br e o www.unhabonita.com.br”, conta Denise. Atenta à concorrência, a manicure Chiara Barbosa diz que prepara muito bem as unhas das clientes e não costuma usar muito das estravagantes decorações - pelúcia, unha caviar etc.-, pois as define como clássicas. No entanto, mesmo que em números um tanto tímidos, o público masculino, também, investe em cuidados com as mãos e pés. “Os homens, ainda, respondem por uma fatia pequena do mercado, cerca de 3% em média, mas o número está crescendo e deve aumentar. No salão, a maioria dos homens procura meus serviços para desencravar ou para higienização nunca por estética”, relata. Chiara atualiza-se das novidades do mercado por meio de amigas próximas, redes sociais, televisão e revistas. Proprietária de uma esmalteria em Piracicaba, Michele Ribeiro conta que investiu no segmento para atender a crescente demanda de clientes. “Eu já era manicure, mas trabalhava em casa. Devido ao aumento na procura por esse serviço tive que recorrer a um lugar maior para comportar a demanda”,

Dona de uma esmalteria, Michele Ribeiro aposta na gama de cores para agradar as clientes

explica Michele. Em sua avaliação, o boom das esmalterias se deu por conta da busca da beleza e bem-estar femininos nos dias de hoje. “Acredito que o grande investimento das mulheres na parte estética e a paixão pelas variedades de cores e produtos lançados no ramo colaboram para os resultados”, observa.

Para o professor Crocomo, as franquias oferecem serviços de qualidade

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O professor de economia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Francisco Constantino Crocomo, explica que qualquer tipo de franquia é bom tanto para o dono quanto para o franquiado, pois os produtos e serviços oferecidos são de qualidade comprovada, a chamada diferenciação. Outro ponto é que os clientes, em sua maioria, preferem a qualidade do serviço e pagam valores maiores nesse tipo de estabelecimento. “O sistema de franquias pertence a uma das estratégias que permitem a diferenciação e inovação, logicamente com qualidade e segurança para o consumidor. Entendemos, ainda, que em determinados casos a franquia deva admitir flexibilização, ou seja, adaptar-se ao segmento de mercado que se destina”, observa Crocomo. Na internet, o assunto ganha espaço por meio de diários (blogs) que trazem conceitos, novidades e tendências no segmento. São dicas de cores, marcas, decorações e truques que informam a venda PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Fotos: Camila Chames

A indústria cosmética viu nas unhas uma grande potencial de mercado

Feira reúne especialistas em beleza

dos produtos e reúnem as últimas inovações do mercado. O Unha Bonita (www.unhabonita.com.br), hoje incorporado ao portal R7 da Rede Record, tem mais de 10 mil acessos por dia e tornou-se a profissão de sua criadora, Daniele Honorato. Toda semana tem um post novo na rede, consequente das marcas que atualizam o rol de produtos de olho nesta mídia social. 

A 9° Edição da Beauty Fair Feira Internacional da Beleza Profissional aconteceu em setembro deste ano no Expo Center, em São Paulo. A Beauty Fair é a segunda maior feira de beleza do mundo conhecida por atrair diversas marcas do ramo para mostrar suas coleções. Dentro da feira existe um espaço exclusivo para profissionais das unhas, a Beauty Fair Manicure, onde aconteceu o 8° Congresso Manicure Beauty Fair. A oitava edição contou com palestras sobre segurança no trabalho, saúde das unhas, como se dá o processo criativo de cores e mesa redonda sobre moda e beleza. Além do congresso, os profissionais puderam conferir os estandes das marcas filiadas à feira mostrando suas novidades para o verão 2014.

As novidades no quesito unhas da feira foram várias, mas os queridinhos dos blogs são os esmaltes caviar da nacional Julybeauty (R$ 36), as unhas postiças autocolantes da Impress (19), kit de esmaltes para a ombré nail da First Kiss (preço sob consulta) e os adesivos em película que aderem melhor a unha da Perfect Nail (R$12). Neste ano, gerou volume de R$ 450 milhões em negócios fechados. O objetivo, além de gerar negócios, é enfatizar o conhecimento e a qualidade dos serviços prestados por todos os profissionais do âmbito da beleza. São mais de 100 eventos paralelos envolvendo manicure, maquiagem, cabelo, estética e negócios.

As novidades em unhas e acessórios ganham cada vez mais espaço na composição do visual feminino PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

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GRANDE

está na MODA MERCADO PLUS SIZE MOVIMENTA R$ 4,5 BILHÕES POR ANO NO BRASIL Carla Lauton

cclauton@unimep.com

O

51% da população brasileira está acima do peso

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termo plus size surgiu nos Estados Unidos na década de 70 para relacionar mulheres que usavam manequim acima de 44. No começo de 1990 começaram a se espalhar lojas especializadas para este público. Hoje, segundo a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), esse mercado movimenta anualmente cerca de R$ 4,5 bilhões, cerca de 5% do faturamento total do setor de vestuário em geral, que ultrapassa os R$ 90 bilhões. O crescimento de 6% ao ano tem relação com o aumento de pessoas com sobrepeso no Brasil. Segundo pesquisa Vigitel 2012, do Ministério da Saúde, 51% da população brasileira, com mais de 18 anos, está acima do peso. Em 2006, o índice era de 43%. O excesso de peso é constatado através do IMC (Índice de Massa Corporal). O calculo feito divide o peso (em quilogramas) pela altura (em metros) ao quadrado. Pessoas com o índice igual ou superior a 25 estão acima do peso. De acordo com a pesquisa, apesar de a obesidade estar relacionado a fatores genéticos, há influência significativa do sedentarismo e de padrões alimentares inadequados no aumento do índice brasileiro. Com esta nova realidade, surgem lojas com produtos especializados para este público. A numeração considerada plus size tem início no tamanho 44. Segundo a vendedora Shirley Alves Ferreira, não há diferença nas roupas consideradas normais para as de tamanho grande. “O plus size hoje veste o que está na moda. As roupas são as mesmas para as gordinhas e para as magras. As estampas, os modelos e os preços são os mesmos”. As mulheres gordas conseguem encontrar roupas que as ajudam a se sentir bem. “Quando a mulher veste uma rouPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


Fotos: Carla Lauton

O mercado plus size movimenta 4,5 bilhões de reais anualmente no Brasil

pa com um bom caimento ela não se enxerga gorda. Ela fica elegante, bem vestida e autoconfiante”, relata Shirley. A modelo plus size Pedrina Fávaro Bertanha, que começou sua carreira em 2012 com um convite para um desfile, explica que esta carreira também exige cuidados com a saúde. “Nos ensinam que a gordura não trás saúde, como a magreza excessiva também não. Para ser modelo plus size tem que ter quadril para usar a numeração 44 para as passarelas, mas como tem muita gente obesa uniu-se até a numeração 50”. Pedrina já sofreu por estar acima do peso, hoje com 42 anos e pesando 89 quilos, e diz que o primeiro passo para ser feliz é ter autoaceitação. “Para uma mulher ser bela ela precisa se aceitar. Sofri preconceito por ser gordinha, tentei de várias maneiras emagrecer, mas para que eu conseguisse uma mudança precisei me aceitar”. A modelo sofreu com variação de peso desde criança. “Na minha infância fui bem magra. Não era de comer muito, não gostava muito de doces. Como eu não engordava minha mãe começou a me dar vitaminas e foi aí que comecei a ficar gordinha”. As vitaminas aumentaram o apetite da modelo que passou de magra para gorda. “Na adolescência minha mãe PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

começou a controlar minha alimentação e emagreci. Aos 17 anos me casei e engravidei aos 21 e cheguei aos 90 quilos. Tive descontrole hormonal e já não conseguia mais parar de engordar, cheguei a pesar 140 quilos”, conta. Após várias tentativas para emagrecer, ela se conscientizou que precisaria se ajudar. “A obesidade não é um estilo de vida, é uma doença. Para vencê-la temos que nos colocar metas. Comecei a fazer exercícios, mudei minha alimentação, busquei ajuda médica e não me permiti desanimar. Aos poucos percebi que está funcionando, perdi 40 quilos em quase dois anos e não pretendo desistir. Meu objetivo é passar do manequim 48 para o 44”. Cuidando da saúde - O excesso de peso começa a ser preocupante a partir do momento em que atrapalha as atividades de vida diária e começa a trazer riscos à saúde, segundo a pós-graduando em fitoterapia funcional e nutricionista esportiva

Bárbara Spagnol Aires. Os sinais de alerta são sentir-se fadigado e indisposto ao menor esforço, sentir dores no joelho e na coluna, dormir mal, devido a roncos e apnéia do sono, ter refluxos e outros problemas digestivos como gastrites e ter os exames de sangue alterados. De acordo com a nutricionista o excesso de peso pode trazer malefícios. Eles se iniciam com a síndrome metabólica – soma de três doenças ligadas ao excesso de peso e má alimentação - como, diabetes, hipertensão e deslipidemia. “Essas doenças, quando não tratadas, podem levar a problemas mais graves como infarto, derrame, AVE (Acidente Vascular Encefálico), problemas circulatórios, o não funcionamento adequado de alguns órgãos (insuficiência renal, hepática, etc) e até a morte”. Fazer atividade física, comer de maneira fracionada, dando preferência para frutas, verduras e legumes e evitar ao máximo os alimentos industrializados e refinados – alimentos que no processo de industrialização perdem as cascas, germe e película do grão, e por isso são menos nutritivos que os integrais que perdem apenas as cascas - são hábitos de gordinhos saudáveis e ajudam a evitar problemas. “Uma pessoa pode ser gorda pois ingere mais calorias do que gasta, mas pode ser saudável por fazer atividade física e por ingerir calorias excessivas provenientes de alimentos saudáveis”, explica Bárbara. Segundo a nutricionista há muitos alimentos saudáveis e calóricos como por exemplo o azeite, castanhas, abacate e o açaí. “Há necessidade de moderação”, finaliza. 

“O excesso de peso é preocupante quando atrapalha nas atividades diária”, nutricionista esportiva Bárbara

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RELÍQUIA de

São Benedito

é venerada em Tietê

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CONSIDERADA DE PRIMEIRA CLASSE POR PERTENCER AO CORPO DO SANTO, SUA CONSERVAÇÃO É CONSTESTADA PELA CIÊNCIA A relíquia fica guardada no centro da flor branca, no medalhão de ouro Fotos: Juliana Goulart

Juliana Goulart

juhh_goulart@hotmail.com

T

iete á a única cidade do Estado de São Paulo a ter uma relíquia selada pelo Vaticano: um fragmento de uma unha (cutícula) de São Benedito. A cidade tem 36.835 moradores, 28.411 são católicos (dados do senso do IBGE 2012), e frequentam uma das 30 igrejas localizadas no município. Porém, os fiéis de São Benedito vão mesmo é na capela que leva seu nome e fica no Largo São Benedito, aberta ao público de segunda a sábado, das 8h às 11h e das 13h às 17h. A relíquia foi doada para a igreja em 1971 pelo pároco de Santa Rita de Caldas, o monsenhor Alderige Torriani. Ela é presa à corola de uma minúscula flor de tela branca, dentro de um medalhão dourado. No verso, há um selo do Vaticano autenticando a relíquia, que fica exposta do lado direito do altar, ao lado da imagem do santo. No catolicismo, as relíquias aparecem como um fenômeno que evoca a presença do sagrado, revelado em Jesus Cristo, ou dos santos, seus seguidores mais próximos. Utiliza de representações concretas que podem ser desde partes do corpo ou das vestes, até objetos pessoais, sempre conservados em locais especiais chamados de relicários, e fora do alcance direto das pessoas. As relíquias são, de forma geral, alvo da vida devocional popular e auxiliam na manutenção de uma prática religiosa tradicional. 

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A professora de Teologia e Cultura da Unimep, Rosa Gitana Krob Meneghetti, explica que os teólogos que estudam as relíquias as classificam em grau de importância, dependendo da proximidade que estes objetos mantém com os sujeitos ou fenômenos religiosos. Por exemplo, a dimensão 1 refere-se à parte real do corpo de um santo como ossos, unhas, cabelos; a dimensão 2 são roupas e objetos pessoais; a dimensão 3 representam pedaços de tecidos que tocaram o corpo do santo e outros. A relíquia de Tietê é de primeira classe, ou seja, pertence ao corpo santo e também se mantém sem uso de produtos, segundo o padre Santo Candido, responsável atualmente pela igreja. A integrante da comunidade de São Benedito Celina Bergamin afirma que ter a relíquia em Tiete “é uma alegria, é um sinal de Deus”. A aposentada Benedita de Moraes Garcia, que pertence há mais de 60 anos à comunidade, conta que diversos acontecimentos em sua vida estão atrelados ao santo. Em sua casa, tem um espaço dedicado a ele: além da imagem, tem um quadro com a foto da relíquia. Nesse local, faz suas orações, seus pedidos e conversa com ele, por considerar um amigo. Desde criança, Benedita diz ter visões com o santo, que sempre a acompanhou. A menina de 11 anos Hillary Zanella frequenta a igreja com a avó e a mãe e explica a sensação de ficar diante do altar, observando a imagem do santo e sua relíquia. “Aqui é um lugar bom, me traz paz”.

Fotos: Juliana Goulart

Imagem de São Benedito talhada pelos escravos

Para o professor e doutor em paleobiologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp – Rio Claro) Reinaldo José Bertini, é impossível uma dobra de pele manter-se por tanto tempo exposta e sem conservantes. Ele explica que a decomposição é rápida, pois os tecidos são destruídos por ação bacteriana. São Benedito morreu aos 65 anos no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália. Seu corpo está intacto há mais de 420 anos. Segundo a crença, nenhum produto químico foi utilizado no corpo, que está exposto em urna mortuária para visitação pública na Capela da Igreja de Santa Maria, em sua cidade

Benedita de Moraes Garcia e a filha Lucimara atribuem ao santo vários milagres em suas vidas

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A imagem de Nossa Senhora da Conceição, no centro da imagem, pertence a fase do “Santo do Pau Oco”

natal. Para os fiéis, o corpo de São Benedito é considerado incorrupto, ou seja, nenhum método de embalsamento foi utilizado nele. O fato é apontado pelos religiosos como miraculoso. Turismo religioso - A Igreja de Tietê também guarda outra história. No canto esquerdo superior de seu altar existe uma lâmpada philips, com cerca de 100 anos. Ela tem um tamanho fora dos padrões atuais e ainda funciona perfeitamente. A imagem sacra de Nossa Senhora da Conceição, exposta na capela, talhada em madeira com características do barroco português, provavelmente trazida por bandeiranPAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013


A história de São Benedito

tes, representa a fase do ‘Santo do Pau Oco’, quando escondiam ouro e pedras preciosas da Coroa Portuguesa dentro das imagens dos santos. Essas histórias contribuíram para o aumento de fiéis e visitantes que vão à cidade durante as festividades em louvor ao santo, realizadas na última semana de setembro. Neste ano, cerca de 10 mil pessoas estiveram presentes na comemoração, cerca de um terço da população tieteense, segundo dados da Secretaria de Turismo da cidade.  PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Novembro/2013

Nascido na Sicília em 1526, Benedito era filho de escravos em uma propriedade próxima de Messina. Ele foi libertado ainda muito jovem por seu senhor. Aos dez anos manifestou a tendência para a penitência e para a solidão. Sua atividade era a de guardar rebanhos. Os maus tratos que recebia dos companheiros era considerado oportunidade de se voltar com mais fervor para Jesus, fonte de sua consolação. Aos 18 anos ajudava aos pobres com o dinheiro de seu trabalho. Aos 21 anos foi insultado publicamente por sua cor, mas por sua atitude foi convidado pelo líder de um grupo de eremitas franciscanos a integrar a comunidade, que acabou por liderar tempos depois. Por volta de 1564, o grupo se dispersou e Benedito foi aceito como irmão leigo pelos frades franciscanos de Palermo e foi trabalhar na cozinha. Em 1578, Benedito foi escolhido para ser o guardião (título dado ao superior), apesar de ser leigo e analfabeto. Em 1589 ficou gravemente doente e morreu no dia 4 de abril. Sua canonização aconteceu em 1807, e normalmente em suas imagens traz o menino Jesus nos braços. São Benedito foi chamado de Santo Mouro, por ser negro. Foi um dos santos mais populares no Brasil, cuja devoção foi trazida pelos portugueses. São inúmeras as paróquias e capelas que o escolheram como padroeiro. São Benedito tem vários milagres atribuídos a ele como, por exemplo, a ressurreição de dois meninos, a cura de cegos e surdos e a multiplicação de peixes e pães. Alguns milagres de multiplicação de alimentos aconteceram na cozinha de São Benedito. Por isso, ele é tido pelo povo como o santo protetor da cozinha, dos cozinheiros, contra a fome e a falta de alimentos. Uma crença brasileira é dar o primeiro café do dia para o santo, pedindo fartura na casa. 41


ARTIGO

Igreja X século XXI Padre Otto Dana *

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olocar datas para a Igreja Católica é sempre um risco. Você não sabe se é Antes ou Depois de Cristo. A Igreja não se liga com o calendário. Para ela, tudo tem a ver com o eterno. Ela se julga acima das modernidades e pós-modernidades. Daí que tratar de “A influência da Igreja no século XXI” joga a questão: é século XXI A.C ou D.C?! Mas, vamos lá. Mesmo que ela não se dê conta, a Igreja Católica sempre marcou presença e presença influenciadora no cenário político e cultural mundial. Qualquer historiador reconhecerá o forte peso de Roma no contexto politico nacional e internacional. Apenas alguns exemplos recentes: - o envolvimento do Vaticano na queda dos regimes da ex-Rússia e de outros países socialistas, como a Polônia; - os Papas, todos eles, desde que começaram a deixar o Vaticano para visitar outros países – católicos ou não – foram muito bem acolhidos e respeitados pelos chefes de Estado; - lideranças politicas mundiais; presidentes, reis, ditadores etc. – fazem constar em sua agenda uma visita protocolar ao Papa; - no funeral do papa João Paulo II, mais de 200 chefes de Estado marcaram presença; - a surpreendente recepção ao atual Papa Francisco, no Rio de Janeiro, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, arrancando aplausos do povo e das autoridades. Isso prova que a Igreja, ainda, tem espaço entre os povos de qualquer grife religiosa. E mais: deixa entrever que, manter boas relações com a Igreja Católica, continua sendo um bom negócio. Aqui no Brasil, dentre as religiões professadas pela população, o catolicismo continua a levar vantagem. Predominância que se explica, em parte, pela presença da Igreja em toda a formação histórica brasileira. Ela chegou de carona nas caravelas de Cabral. Teve a incumbência da educação dos curumins nativos e dos lusos deportados, cuja aculturação provocou o fenômeno Brasil. As relações entre Igreja e Estado sempre foram estreitas, tanto na Colônia como no Império. A tal ponto que o Estado mantinha a Igreja no sustento de seu clero e do seu patrimônio. Por sua vez, a Igreja contribuía com a administração de hospitais, santas casas, sanatórios, leprosários, escolas etc.

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A influência da Igreja na politica, na elaboração das constituições, na formação de partidos, movimentos sociais, na denúncia profética no Governo Militar, a defesa dos prisioneiros políticos, sempre foi uma presença marcante. A partir da Teologia da Libertação, uma leitura da realidade por meio da Bíblia e da Doutrina Social da Igreja à luz dos acontecimentos sociais e políticos, de inspiração marxista e materialista, a Igreja contribuiu em muito para a mobilização do povo em torno de suas causas mais urgentes. Quanto à ‘modernização’ da própria Igreja, na dificuldade que ela encontra em lidar com o tempo, a grande chance veio com a organização da assembleia mundial católica do Concilio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, entre 1962 e 1965. O objetivo era atender à urgência de restabelecer um diálogo com o homem moderno, com o mundo em transformação acelerada, com a tecnologia das viagens interplanetárias, com a modernização da politica internacional e do mercado. O desabafo do Papa João que se transformou em desafio e programa: ‘AGGIORNAR’, atualizar a Igreja. Mas, se neste aspecto houve até avanço razoável, a Igreja derrapa feio é na questão da moral, sobretudo na moral sexual. Para a Igreja a moral sexual é intocável, é tabu, é dogmática. É incapaz de acompanhar e aceitar os dados da ciência. Sustenta sua filosofia da sexualidade na Idade Média, ou até na Antiga, numa interpretação fundamentalista da Bíblia. Para a Igreja não há argumentos que a façam mudar uma vírgula. Sexo é para a procriação dentro de um contrato no casamento. Inadmissível um casamento homossexual. Até a masturbação é pecado. Coloca sob suspeita qualquer avanço da engenharia genética, quanto à questão dos embriões, das células-tronco. Enfim, o novo milênio invade, também, a ‘eternidade’ da Igreja e começa a sacudi-la na velocidade das transformações, sobretudo da tecnologia midiática, na revolução das comunicações. Se a Igreja quiser sobreviver, terá que realizar com urgência o sonho do grande revolucionário, o papa João XXIII: “É preciso escancarar as janelas e portas desse mausoléu para dispersar o bolor e seus ácaros”. Mais ou menos isso! * Padre Otto Dana é da Paróquia de Sant' Anna, de Rio Claro, e doutor em Ciências Sociais

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CORPO ESTRANHO

Adeptos da body modification procuram satisfazer suas pr贸prias expectativas, sem se preocupar com o que os outros pensam


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