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editorial A falta de luzes para a trilha do conhecimento
Redatores
Andressa Cristina andressacrosa@hotmail.com
Joel Felipe Horácio jofeho@hotmail.com
Thiago Peres thiagoperes87@gmail.com
Fotos Bruna Campanhol Clara Belchior Guilherme Rola Luis Carlos Ilustrações Camila Moura Carlos Eduardo (Caricaturas) Freepik.com Projeto Gráfico Bruno Martins Eric Mateus José Luan Marcos Esterdi Vildner Janei Victor Grande Diagramação Bruno Martins Eric Mateus José Luan Thiago Peres Orientação João Turquiai Jr. Impressão MX Gráfica
Educação: palavra essencial em todos os sentidos para que exista qualidade de vida – no nível pessoal, profissional, educacional e comportamental. Nações cujas culturas são prósperas com relação ao desenvolvimento humano prezam por condições onde a produção intelectual é valorizada. Estados Unidos, Alemanha, Japão e Canadá são exemplos de países em que se associa o grau de desenvolvimento a um alto índice de produção científica: respectivamente, 1º, 3º, 5º e 7º colocados nesse quesito, num ranking publicado em outubro/2014 pela Reuters. Com relação à pesquisa científica, o Brasil, neste mesmo ranking, saiu da 24ª para a 13ª colocação entre 1993 e 2013. Contudo, na corrida pelo desenvolvimento e busca de conhecimento, a produção científica e tecnológica em solo brasileiro tem encontrado diversos obstáculos: falta de estrutura, baixo investimento e cortes por parte do governo, dificuldades burocráticas na obtenção de materiais necessários às pesquisas. Em maio deste ano, a neurocientista brasileira de extrema relevância no cenário mundial, Suzana Herculano-Houzel, que atuava na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), anunciou que deixaria o Brasil para poder continuar com suas pesquisas – por motivo de falta de investimento do poder público em pesquisas e afirmou ter recorrido ao crowdfunding (financiamento coletivo) para manter as despesas de seu laboratório, pois não recebera os valores com que contava. Este cenário é alarmante para uma nação que tem altas pretensões de desenvolvimento e obteve, em 2015, PIB de R$ 5,9 trilhões. Para superar situações que bloqueiem o êxodo de profissionais qualificados, há de se rever como os investimentos chegam ou deixam de chegar ao devido destino, fiscalizando e fomentando a produção científica, que é capaz de guiar um país a estradas mais frutíferas. Além disso, é importante também que haja o respaldo da imprensa com relação à produção nacional, de grande interesse público, por ser paga pela população e que deve ser feita em prol dela, transformando cenários e trazendo benefícios socioeconômicos. A Ciência Caipira, portanto, tem a proposta de ser a ponte que permite o trânsito de conhecimento acadêmico voltado à melhoria social, visando à inserção dessa temática no cotidiano dos cidadãos.
SUMÁRIO
Coiseras pág. 06 CAPA Bateria, não acabe agora! pág. 12 à 15
Feira: a farmácia da natureza pág. 08 à 11
SAÚDE Cheese Abacaxi pág. 07 NANOTECNOLOGIA Novos rumos na Agricultura pág. 16 à 19
Que bicho é esse? pág. 20
Pra lá da porteira! pág. 21
TECNOLOGIA O Futuro é das máquinas pág. 26 à 29 ENTREVISTA Nelson Travnik, falando diretamente do mundo da Lua pág. 22 à 25
INOVAÇÃO Antidoto à vista pág. 30 à 33
BEM-ESTAR Hora do banho pág. 38 à 41
EDUCAÇÃO Acessibilidade na palma da mão pág. 34 à 37 ARTIGO Do laboratório direto para sua casa pág. 42
construindo plantas mais saudáveis¹ Buscando uma maneira de aproveitar esses resíduos desperdiçados pelas construções civis, o pesquisador Marcos Machado, da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ Universidade de São Paulo), resolveu estudar esses materiais e analisar qual a melhor forma de reaproveitamento.
Etapas do processo de produção dos agregados:
O pesquisador coletou diversos materiais pela cidade e começou a fazer os testes para melhor aplicação, os materiais são triturados e com isso acabam gerando os “agregados”, que são materiais que apresentam semelhança às características minerais aos de solos naturais. O estudo comprova que os resíduos descartados pelas construções podem ser utilizados em cultivo de plantas, dando a elas mais vidas e é uma ótima fonte de nutrientes.
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COLETA
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CORREÇÕES NECESSÁRIAS PARA A EFICIÊNCIA DO MATERIAL
TRITURAÇÃO DOS RESÍDUOS
ANÁLISE DE NUTRIENTES
AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES AGRONÔMICAS ANÁLISE DAS CONCENTRAÇÕES TÓXICAS
ANÁLISE DE EFEITOS SOBRE ORGANISMOS VIVOS
Houston, tamo chegando!² A Escola de Engenharia de São Carlos da USP lançou uma sonda experimental à estratosfera, na missão denominada Garatéa. O experimento consistiu em enviar microrganismos encontrados em ambientes extremos Fontes: ¹Acom/Esalq ²EESC-USP ³ ICMC/USP
Tá feliz ou tá na bad?³
da Terra a fim de analisar seu comportamento nas diversas condições de estresse da alta atmosfera. Os alunos desenvolveram o módulo com um sistema embarcado simplificado, que subiu à estratosfera por meio de um balão de gás hélio. Devido à baixa pressão na altitude desejada, o balão rompeu-se e o aparelho retornou ao solo com segurança por meio de um paraquedas especialmente desenvolvido para esse fim. A proposta do grupo é desenvolver e difundir tecnologias aplicadas ao setor aeroespacial para estimular e ampliar visibilidade dessa área no Brasil.
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A pesquisa realizada por Gabriel Giancristofaro, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, com o auxílio de uma técnica computacional pode determinar, automaticamente, se os usuários do Instagram estão felizes ou insatisfeitos. Por meio de um algoritmo, é possível analisar as imagens e textos (legendas e comentários) que são postados na rede social e classificá-los como positivos ou negativos. O computador conta quantas palavras tem cada frase e identifica, por exemplo, se o usuário escreveu termos ofensivos, elogios, algo em maiúsculo, ou então se repetiu alguma letra para dar ênfase a um argumento. A análise é feita juntamente com a imagem para que o resultado seja mais próximo da verdade, tendo em vista que, às vezes, a pessoa está sendo irônica no texto.
cheese abacaxi Cheese Picanha, Cheese Burguer ou Triplo Burguer, quanta tentação em um simples hambúrguer? Só de ler, tenho certeza que você já mentalizou uma saborosa mordida em seu sanduíche preferido. Se você não tem problemas de saúde e não precisa se importar com o alto teor de gordura, colesterol, gastrite, seja lá o que for, você com certeza come um desses hambúrgueres à vontade, e se puder, ainda repete o feito, sem pensar que isso pode ser prejudicial a sua saúde. Pensando em um consumo saudável e nutricional desse alimento, a doutoranda em Ciência e
Tecnologia de Alimentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Miriam Selani, teve a ideia de estudar e utilizar subprodutos do processamento de frutas: maracujá, manga e abacaxi, para que o alto teor de gordura consumido ao comer um hambúrguer seja alterado por teores de fibras. Após a análise das frutas e testes, o abacaxi acabou sendo o mais adequado para o desenvolvimento alimentício, com isso, foram criados dois produtos: hambúrguer bovino com fibra de abacaxi e óleo de canola – substituto parcial da gordura e extru-
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sado de milho enriquecido com fibra de abacaxi. O estudo realizado em parceria com o The Food Processing Center, Department of Food Science and Technology da University of Nebraska/Lincoln, dos Estados Unidos, é uma alternativa positiva para os consumidores que desejam obter produtos mais saudáveis, levando em consideração os benefícios encontrados no abacaxi, sem contar que é de baixo custo e de fácil acesso. Os hambúrgueres foram observados e consumidos por provadores treinados que analisaram da cor até a suculência da carne. Segundo os provadores, o hambúrguer de abacaxi e óleo de canola é similar ao produto convencional em todos os tributos avaliados. O hambúrguer de abacaxi é um alimento promissor, pois além de ter vários benefícios nutricionais, ele pode ser benéfico à população, basta saber se vai agradar aos consumidores e se terá tanto sucesso como os tradicionais. Já podemos anotar o seu pedido?
Saúde
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Imagem | Camila Moura
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A fruta dos deuses, a romã, considerada pelos gregos como símbolo de amor e fecundidade também tem poderes medicinais. Sua casca, que geralmente é descartada, pode ser mais benéfica à saúde do que imaginamos. A casca da fruta possui uma grande quantidade de substâncias que ajudam no combate ao Alzheimer. A pesquisa realizada por Maressa Mozerlle, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Testes feitos em animais mostraram que aqueles que foram tratados com a romã apresentaram uma manutenção na memória, o que não acontecia com os animais que não eram tratados com a fruta. Portanto, não se esqueça dela na próxima vez que for à feira!
Pesquisa realizada pela nutricionaista Gizele Barankevicz, da Esalq/USP, em parceria com a FOP/Unicamp (Faculdade de Odontologia de Piracicaba/Universidade Estadual de Campinas), aponta que a cúrcuma (ou açafrão-da-terra), aquele tempero que deixa o arroz amerelinho, é importante no preparo de medicamentos, inclusive para combater sintomas de depressão. A cúrcuma é capaz de reduzir alguns comportamentos análogos à depressão humana. Durante os testes realizados, ratos foram colocados em um tanque com água, e permaneceram parados, sem expressar reações, com um comportamento típico deprimido. Ao ser aplicado a cúrcuma, eles começaram a esboçar reações positivas, tentando nadar e fugir da situação, indicando que o composto tem sim, um resultado positivo no combate à depressão humana.
Lembra quando sua mãe dizia que comer brócolis faz bem? Pois é, ela estava certa! Um estudo realizado por Patricia Bachiega, pós-graduada em Ciência e Tecnologia de Alimentos, avalia o efeito do brócolis suplementado com selênio, durante seu cultivo, no combate ao câncer em dois aspectos: antioxidante e antiproliferativo. A pesquisa aponta que a biofortificação indica aumento na atividade antioxidante do vegetal. Seis tipos de células tumorais foram utilizadas para avaliar a atividade antiproliferativa: glioma (tumor em célula cerebral), mama, rim, pulmão, cólon e queratinócito (célula produtora da queratina) humano. Os brotos não biofortificados têm sua atividade antiproliferativa maior em células de rim e mama, enquanto que os biofortificados apresentam a capacidade de paralisar o crescimento desses tipos de células. Ambos apresentam capacidade para paralisar o crescimento de células de rim, mas as com selênio também são capazes de induzir células de glioma à morte.
O chá verde é o queridinho das dietas: é de baixa caloria, possui ação antioxidante, combate o colesterol ruim, ajuda na digestão e uma infinidade de coisas. Agora há mais um motivo para ele fazer parte da sua alimentação! Estudos realizados na Faculculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de São José do Rio Preto, pela professora Paula Rahal, demonstram que um composto natural encontrado no chá verde é capaz de inibir a atividade do zika vírus. A substância capaz de realizar tal ação, o epigalocatequina galato (EGCG), bloqueou a entrada do vírus em células cultivadas em laboratório. O composto já é utilizado no combate a outros tipos de vírus, como o da hepatite C, influenza e HIV. A pesquisa buscava atestar se os mesmos efeitos seriam obtidos para o zika vírus, o que foi comprovado.
Comer manga e beber leite mata? Essa era uma das grandes dúvidas da nossa infância. Agora, você já deve saber que isso era só mais um mito. Mas comer manga pode ser muito bom no combate à diabete: é o que constatou um grupo de pesquisadores da Esalq/ USP. A grande quantidade de fibra encontrada na fruta apresenta efeito hipoglicemiante, processo que leva a liberação da glicose no estômago para o intestino e a absorção mais lenta pelo organismo, evitando que seus níveis se elevem de modo muito rápido e intenso no sangue. Na pesquisa, foram analisados dois grupos de diabéticos. Um deles recebeu uma dieta contendo 5% de manga e o outro uma dieta sem a fruta, mas com outros alimentos que controlam a doença. Os resultados apontaram uma baixa de 64% de baixa no nível de glicemia dos pacientes que receberam a manga. A manga pode ser consumida in natura ou em sorvetes, sucos, saladas, mas com moderação, pois a fruta é bem calórica. Ah, e roubar manga é errado...
Além de saudáveis, as frutas têm propriedades que vão além do bem-estar, contribuindo para que se evitem doenças. A pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, Paula Souza Ferreira, é autora de pesquisa que explora o uso de flavanonas, compostos encontrados em frutas cítricas como laranja, limão e lima, que agem como antioxidantes no organismo. Os compostos têm surtido efeito na dieta de camundongos, roedores cuja genética é próxima à do ser humano. A ação das flavanonas diminuem efeitos relacionados ao excesso de gordura corporal. “Essas quantidades foram capazes de diminuir a perda de equilíbrio entre produção e eliminação de espécies reativas do oxigênio no sangue e fígado e impediram o aumento da inflamação sistêmica nesses animais. Isso é importante, pois a inflamação crônica sistêmica encontrada em grande parte de pessoas obesas tem sido apontada como sendo a causa de alterações em órgãos importantes como o fígado, levando ao desenvolvimento de resistência à insulina, ao alto nível de colesterol no sangue e também à hipertensão arterial”, explica a pesquisadora.
Capa
Bateria, não acabe agora! A bateria do celular sempre acaba naquele momento em que você mais precisa dela. Projeto inovador pode fazer com que ela dure um pouco mais! Texto | Thiago Peres Imagem | Guilherme Rola
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rovavelmente você já deve ter se perguntado por que os smartphones estão cada vez mais modernos e a bateria dura cada vez menos? Por que não criam uma bateria mais resistente? Bem, a resposta parece meio óbvia: para o mercado, baterias mais duradouras não são atrativas. “Com certeza existem métodos para a criação de baterias mais duráveis. E são aplicados quando há o interesse, ou seja, custo benefício atendido. Mas para o mercado atual fator primordial ainda é a reposição em larga escala pelo produto mais barato”, afirma o mestrando em Tecnologia Leonardo Rey Oliveira Lopes.
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Claro que toda a tecnologia
do aparelho também contribuiu para que as baterias durassem cada vez menos, principalmente a integração das redes 3G e 4G. “É perceptível que em aparelhos com acesso à internet, a bateria dura muito menos. Antes tinha telefones que a bateria durava uma semana e, de repente, os novos duravam um dia, no máximo. Era preciso entender o motivo disso”, avaliou Varese Salvador Timóteo, professor e físico formado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ainda em 2009, quando iniciou suas pesquisas que resultaram no desenvolvimento de uma metodologia capaz de gerar até 20% de economia em consumo de energia em dispositivos com acesso 3G e 4G. Avaliação inicial. As medições feitas nos aparelhos conectados e desconectados apontavam os novos canais implementados para fazer a transmissão de dados como os responsáveis por aumentar o consumo de energia. Isso ocorreria inevitavelmente durante o uso da conexão de dados, porém, neste caso, as coisas não eram tão óbvias assim. “Um dos problemas que nós percebemos é que, muitas vezes, mesmo quando os canais não estão sendo usados, eles ainda estão ligados. O telefone tem um esquema de funcionamento que desliga os canais automaticamente quando não utilizados e, mesmo assim, os canais continuavam ligados sem necessidade alguma”, explica Timóteo.
Dicas para economizar bateria Controle do brilho
Bateria baixa? Reduza o brilho da tela imediatamente.
Desative as conexões
Não se esqueça de desativar o Wi-Fi e o Bluetooth quando não estiverem em uso, já que essas funções consomem bastante energia.
Desative o GPS
O GPS gasta muita bateria. Por isso, mantenha-o desativado quando não for necessário.
Atualizações Automáticas
Deixar o smartphone nas atualizações automáticas é mais simples e até mesmo eficiente, porém sua bateria vai por água abaixo sem você nem mesmo perceber.
Sem vibração
Tudo o que é feito no aparelho consome energia. Caso você não esteja realmente precisando deste recurso, desative-o. Sempre Conectado. Segundo o professor, uma das razões é o que os especialistas chamam de “Always On”, ou seja, Sempre Online. Para Timóteo, criou-se o conceito de que, se o aparelho tem acesso à internet, ele deve estar sempre conectado. “Você não acessa o Facebook apenas quando quer. Se alguém te manda uma mensagem, o telefone já avisa, mesmo que você não queira saber. E é isso que, no fundo, faz com que ele gaste mais ainda, pois o telefone fica o tempo todo ligando os canais pra poder pegar uma notificação deste tipo de aplicativo”, explica.
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Para solucionar este problema, foi criada uma metodologia que prevê o melhor momento para ativar ou desativar os canais de dados. Cada vez que os canais são ativados, provenientes das notificações, há um temporizador que determina o quanto tempo ele ficará ligado até ter a certeza de que não receberá mais nenhuma mensagem, para então, ser desligado novamente. De acordo com a pesquisa, cada operadora determinou um valor de tempo padrão, mas este sistema é ineficiente, pois o valor do temporizador não é adequado para qualquer condição de tráfego dos
dados. Filtro da Kalman. Os pesquisadores utilizaram no método de previsão o modelo matemático criado por Rudolf Kalman, conhecido como filtro de Kalman. Este filtro permite prever o fluxo de pacotes recebidos pelo dispositivo móvel. Deste modo, a solução funciona dinamicamente em tempo real conforme o tráfego da rede. Isso porque o aparelho já não depende mais dos valores fixos estipulados pela operadora da rede. Com o sistema, não são necessárias alterações no padrão da rede, nem no hardware do aparelho. Os testes foram feitos apenas em dispositivos Android. Porém, a metodologia pode ser aplicada em dispositivos com iOS, Bada, Windows Mobile, B2G e demais sistemas operacionais.
Sem você eu não vivo! Você provavelmente não se
lembra de como era a vida sem celular, sem conexão 24 horas por dia, ter o mundo todo na palma da sua mão. Sem isso, o mundo não funciona mais. Mas e você? Funcionaria? O que seria da sua vida um dia sem celular? Os tempos modernos criam também dependências modernas. Uma delas é a Nomofobia, causada pelo desconforto ou angústia resultante da incapacidade de comunicação através de telefones celulares. De acordo com uma pesqui-
sa britânica, 53% das pessoas entrevistadas se sentem ansiosas por causa da falta de bateria ou crédito no celular. A mesma porcentagem garante ficar estressada em pensar na possibilidade de perder o aparelho ou de ficar sem sinal. “A tecnologia veio como uma revolução no processamento e velocidade da informação, deixando todos dependentes dela. A facilidade de se estar conectado ao mundo fez do ser humano um escravo tecnológico”, explica a psicóloga Maria Telma Moro.
A compulsão digital já foi comparada em estudos tal qual dependência de cocaína Desespero. A estudante Danielle Regina de Souza Pereira, 21 anos, ganhou seu primeiro celular aos 12 e de lá para cá não conseguiu mais ficar sem aparelho. “O maior tempo que fiquei sem celular foi pelo período de um dia, quando furtaram meu telefone, porém no dia seguinte providenciei um
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novo”, conta. Ela também confessa que não pode nem pensar em ficar sem bateria. “Eu utilizo o dispositivo na maior parte do meu dia, assim que recebo o alerta de bateria fraca, fico muito aflita e a primeira coisa que faço é procurar meu carregador, que, a propósito sempre está comigo”, diz. Segundo a psicóloga Maria Telma, a compulsão digital já foi comparada em estudos tal qual a dependência de cocaína. “Como em qualquer dependência, perdeu-se o controle sobre o tempo de uso do celular, por conta da facilidade de acesso, podendo causar transtornos psicológicos como depressão, crise de abstinência, tal como nos dependentes químicos, estresse digital, ansiedade, queda no rendimento, piora na qualidade de vida”, alerta.
Quebrando mitos 1) Não é necessária a carga inicial de 24 horas na bateria, oou esperar que a carga complete antes de usar o aparelho pela primeira vez. 2) A bateria não “vicia” se você tirar do carregador antes dela carregar 100%. 3) Também não precisa esperar a bateria descarregar totalmente antes de recarregá-la novamente, isto não muda a vida útil do aparelho.
Nanotecnologia
novos rumos na agrigultura Nanopesticidas trazem menos poluição, mais efetividade e aumentam a segurança destes compostos Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Camila Moura
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efensivos agrícolas fazem parte da realidade de produtores de diversos tipos de alimentos. O impacto que causam pode ser diminuído graças à nanotecnologia. O uso de agrotóxicos na produção de alimentos é uma questão abrangente, que afeta diferentes temas, como meio ambiente, saúde humana e o possível desenvolvimento de resistência por parte das pragas agrícolas.
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O professor Leonardo Fraceto, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Sorocaba, que lidera pesquisas em nanotecnologia aplicada à agricultura na instituição, desenvolveu, juntamente de sua equipe, nanopesticidas, que seriam como os pesticidas presentes no mercado, a não ser pelo fato de que são absurdamente menores. Este fato permite aplicar as substâncias que controlam pragas nas plantas de forma mais econômica, já que é lançada uma quantidade mínima da solução, e efetiva, pois a chance de contato com o inseto problemático é muito maior. Dentre os resultados obtidos nesse campo de pesquisa, Fraceto aponta a formulação de um nanoherbicida, reduzindo a toxicidade do então herbicida, o que contribui para um menor impacto ambiental. “Com a nanoformulação, conseguimos reduzir em dez vezes a concentração do herbicida e obtivemos o mesmo grau de efetividade, fato esse que faz com que possamos aumentar a segurança desses compostos”, comenta. Pequeno no tamanho, grande no resultado. Como deixar o herbicida, que, já na pulverização, é liberado em gotículas, ainda menor? A resposta é a encapsulação da solução, ou seja, envolver o produto em matrizes poliméricas ou lipídicas. Com isso, o princípio ativo é capaz de ultrapassar a cutícula cerosa do vegetal (cobertura de cera impermeabilizante que evita a perda
Um nanômetro (nm), corresponde a um bilionésimo do metro, ou seja, um metro dividido por um bilhão!
Foto: Dusan Kostic/Fotolia
de água para o ambiente, protegendo-o de traumas mecânicos e infecções) com mais eficiência, bem como é reduzida a perda do material por decomposição ao entrar em contato com luz.
Com a nanoformulação, conseguimos reduzir em dez vezes a concentração do herbicida e obtivemos a mesma efetividade Professora de Química e doutora em Geociências, Gislaine Barana Delbianco explica que, com as matrizes poliméricas e lipídicas, o nanoherbicida ganha em precisão. “Se lançado diretamente, o herbicida atingiria diversos seres vivos, e, além disso, um desastre ambiental seria causado, pois não haveria o controle
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dessas substâncias. Com as matrizes, o composto é liberado na hora certa, impedindo que o nanoherbicida atinja os seres vivos que não são alvos do produto. Como exemplo, remédios têm cápsulas poliméricas, que são feitas para serem quebradas dentro do nosso estômago – da mesma forma, o produto vai se quebrar dentro da planta, não no ar”. Agrotóxicos e meio ambiente. Para Gislaine, o uso de defensivos agrícolas é indispensável para suprir a demanda mundial por alimentos. Além disso, a professora aponta o despreparo humano ao manipular esses compostos como um dos problemas que levam à contaminação do meio ambiente. “Com relação ao uso de agrotóxicos, tudo depende da dosagem. São como medicamentos: tornam-se venenos em quantidades altas, mas em quantias dosadas trazem benefícios. Existem sete bilhões de pessoas
no planeta. É impossível alimentar toda a população sem esses artifícios. O problema é a falta de conhecimento das pessoas, resultando em uso inadequado e desproporcional”, defende. Consequências do exagero. Professora de Biologia, Valdineia Silveira indica que o uso inadequado de agrotóxicos prejudica tanto humanos quanto animais, bem como afeta lençóis freáticos e interfere na população de micro-organismos que têm um papel importante na reciclagem de matéria orgânica. “Havendo contaminação do solo a ponto de
interferir no processo natural de reciclagem da matéria orgânica, isso afeta, também, em longo prazo, todo o processo de fotossíntese e, consequentemente, a produção de O2, o que poderia causar um desequilíbrio ambiental preocupante. Em casos de uso excessivo de alguma substância, há a tendência de que organismos atingidos se tornem mais resistentes; ocorre a seleção natural”, pontua. Going on! Para dar continuidade à pesquisa, Fraceto firmou parceria com grupos tanto no Brasil quanto no exterior. Um
exemplo recente de parceria internacional para o estudo de nanotecnologia na agricultura e meio ambiente é a firmada com a escocesa Heriot-Watt University. “Nesta temática, cabe destacar que não é um trabalho apenas de meu grupo de pesquisa. Tenho muitas colaborações nacionais e internacionais que fazem com que possamos desenvolver um trabalho com caráter multidisciplinar. Nessa abordagem, conseguimos extrair a expertise de cada um dos grupos colaboradores e os resultados tem sido formidáveis”, finaliza.
Os países que mais utilizam agrotóxicos no mundo (em bilhões) 4º Japão
5º França
US$ 3,3 bilhões
US$ 2,8 bilhões
3º China
2º EUA
US$ 4,8 bilhões
US$ 7,3 bilhões
1º Brasil US$ 10 bilhões
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Que bicho é esse? O professor e pesquisador da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), de Araras, Ricardo Fujihara, desenvolveu um sistema digital de identificação de insetos de interesse econômico. Com isso, a tarefa de identificação e estudo de insetos que podem ser utilizados de alguma forma torna-se mais fácil. “O sistema foi desenvolvido para atender a uma carência observada, a de materiais relativos à Entomologia Geral, ou seja, o estudo dos insetos, no Brasil”, comenta. Desenvolvimento. Foram realizados levantamentos bi bliográficos em livros nacionais e estrangeiros de Entomologia, coleta de insetos em campo, identificação de insetos em
laboratório e visitas a coleções de referência e museus. Após essas etapas, o sistema digital foi construído, com a inserção de fotografias e esquemas com a anatomia dos animais, além de recursos como animações 3D e glossário de termos técnicos. “As imagens em alta resolução foram pioneiras, aumentando a confiabilidade na identificação das principais famílias de insetos de importância econômica do Brasil”, relata. Predadores naturais. Doutor em Ciências Biológicas, Giuliano Grici Zacarin indica a função de insetos capazes de eliminar outros, considerados pragas, contribuindo com o ser humano. “Os predadores
procuram ativamente suas presas, alimentando-se delas. Eles podem ocorrer em grande abundância em ambientes agrícolas manejados de forma adequada para a manutenção do controle das diversas pragas. Existem ainda os insetos denominados parasitoides, que geralmente colocam seus ovos na superfície ou dentro de outros insetos, seus hospedeiros, destruindo-os durante o seu desenvolvimento, contribuindo assim, para o controle biológico natural de pragas”, comenta. Dentre os insetos economicamente importantes é possível contabilizar as formigas lava-pé, vespas, etc. “Os insetos são vitais para o meio ambiente, pois contribuem para a reciclagem de muitos nutrientes e são excelentes polinizadores”, finaliza.
Alguns insetos bem comuns são muito importantes para a economia, seja na agricultura, na alimentação ou em outros produtos utilizados no cotidano!
Abelhas Se alimentam geralmente de néctar e são os mais importantes agentes de polinização, inclusive de diversas culturas agrícolas, além de produzirem mel, própolis, geleia real, cera.
Gafanhotos Ricos em proteínas, os insetos complementam o cardápio de aproximadamente dois bilhões de pessoas em muitos países ao redor do mundo, predominantemente em partes da Ásia, África e América Latina.
Predadores Durante todo seu ciclo de vida ou parcialmente são organismos de vida livre que buscam ativamente e matam suas presas. Normalmente são maiores que suas presa e precisam de mais do que uma presa para completar seu ciclo de vida.
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Bicho-da-Seda Produtor de fios de seda. Ao fim de um período de pouco mais de um mês, a lagarta torna-se amarelada e começa a segregar um fio que usa para formar o casulo. É esse casulo que serve de fonte para a seda.
pra lá da porteira! A Ciência além do Interior
Ecopiso¹ Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPa) reutilizam materiais como copos de café descartados e cascas de coco de babaçu, para fazer pisos para moradores de comunidades carentes. Para isso, a engenheira mecânica Poliana Borges Bringel, analisou os lixos e concluiu que a casca de babaçu junto com o copo de café formam uma mistura consistente e ideal para ser transformados em pisos. Além de ajudar as comunidades carentes, o “piso ecológico”, traz vários benefícios: menor preço, conforto térmico e elhante aos pisos disponíveis no menos peso. mercado. A qualidade do produto é sem-
Toma esse block² A estudante paranaense Maria Vitória Valoto, desenvolveu um projeto benéfico a quem tem intolerância à lactose – substância encontrada em produtos como o leite e seus derivados. O resultado da pesquisa é uma Fontes: ¹Portal UFPA²Agência Brasil ³Portal de notícias da UFMG
cápsula que possui a enzima lactase, uma substância que “derruba” a lactose. A cápsula pode ser reutilizável e traz mudanças aos produtos, facilitando a vida das pessoas, que passam a consumir alimentos sem nenhuma restrição. Para Maria, a criação é promissora, uma vez que não existem muitos remédios que possam combater a lactose, e a cápsula tem um custo bem menor.
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#fale mais de sexo³ “Papo Reto”, jogo que faz parte do projeto “Gênero, sexo e sexualidade: um diálogo entre o lúdico, a intimidade e o contexto de vida dos adolescentes”, criado pela professora Vânia de Souza, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é um simulador de vida em que jovens de 15 a 18 anos criam personagens e debatem questões sobre sexo e sexualidade em ambientes que simulam casa, escola, rua e balada, sem a interferência de adultos. Segundo Vânia de Souza, a experiência no trato com os jovens mostrou que eles não se sentem confortáveis para falar sobre sexualidade com adultos e pessoas mais velhas. A professora destaca a necessidade de se criar novas maneiras de abordar o assunto com os jovens. Os jovens criam perfis nas plataformas para interagir entre si, após os pais assinarem termo de consentimento.
Entrevista
Nelson Travnik, falando diretamente do mundo da Lua Nenhum brasileiro foi à Lua (ainda), mas de certa forma ajudou a chegar lá. Quer saber como? Então senta que lá vem história! Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres Imagem | Thiago Peres
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urante as aulas de ciências, na escola, nós aprendemos muitas coisas que os astrônomos e especialistas chamam de “astro-bobagens”. Por exemplo: o Sol nasce sempre no Leste e se põe sempre no Oeste, certo? Nem sempre! Isso ocorre apenas duas vezes: nos equinócios (ocasiões em que o dia e a noite duram exatamente o mesmo tempo) de outono e primavera. Quando observamos o pôr-do-sol, diariamente, ao longo de um ano, notamos que, em certa época, o fenômeno ocorre no horizonte mais à nossa esquerda e, em outra, mais à direita. Uma astrobobagem não é exatamente uma informação errada, mas “uma informação ensinada de uma maneira que seja mais fácil para compreender”, explica Nelson Travnik.
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Nelson Travnik é um astrônomo brasileiro, professor, escritor e fundador de diversos observatórios, como o Observatório Astronômico Flammarion, em Matias Barbosa/MG, o Observatório Municipal de Americana e do Observatório Astronômico de Piracicaba (ambos no interior de São Paulo). Além disto, Travnik foi um dos cinco observadores do país credenciados da NASA-JPL durante as missões Apollo (1968-1972) e tem seu nome registrado no Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Segundo Travnik, a astronomia nos dias de hoje é fundamental para a sobrevivência humana: são os satélites artificiais que mantêm alertas meteorológicos que contribuem economicamente na agricultura, que preveem desastres naturais, salvando vidas. Também são responsáveis pelo funcionamento do GPS (santo Waze), além de monitoramento diário de tudo o que ocorre no espaço que pode influenciar na vida na Terra. “Se não fosse a astronomia o mundo ainda estaria pelo menos 60 ou 70 anos atrasado em termos de tecnologia”, afirma. A equipe de reportagem da Ciência Caipira foi até o Observatório Astronômico em Piracicaba e conversou com Travnik. Quando você se interessou pela astronomia? Foi por meio de um amigo que começou a me mostrar o céu. Eu nunca havia olhado para o céu antes. Comecei a observar, co-
vatório em Campinas, um dos maiores, e me convidou para trabalhar lá. Era o que eu queria, pois, até então, o que eu fazia era puro amadorismo, eu não tinha formação em astronomia, era a chance da minha vida para me dedicar inteiramente a isto.
nhecer as constelações, a localização dos planetas. Depois disso, outro amigo se juntou conosco e fundamos um observatório. Observatório Astronômico Flammarion, em homenagem ao grande astrônomo francês Camille Flammarion, em 1954.
Na lua, existem alguns fenômenos que até hoje não têm explicação e aqui no Brasil foram feitas constatações importantíssimas
Foi aí que tudo começou? Exatamente. Fundamos o observatório apenas com interesse científico, compramos um telescópio, depois um maior. Realizamos várias constatações científicas, o observatório começou a ficar famoso em Minas, e em 1976 o prefeito de Campinas resolveu construir um obser-
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Como um observador do céu, já sonhou em ser astronauta? Na verdade nunca tive essa aspiração. Pra ser um astronauta é preciso passar por uma série de testes e treinamentos em uma estação espacial, pois as condições no espaço são completamente diferentes das da Terra. É muito difícil, é um escolhido entre milhões! Você participou da equipe de observadores do Projeto Apollo, que levou o homem à Lua. Como foi isso? Em 1968, quando a NASA começou a realizar o Projeto Apollo, e naturalmente, quando você vai pisar em um solo desconhecido, primeiro é preciso fazer um reconhecimento. E havia algumas preocupações, para saber se acontecia alguma coisa na Lua que poderia colocar em risco integridade física dos astronautas, coisas desse tipo. Diante dessas questões, criou-se o Programa Internacional de Observações Lunares do Projeto Apollo. O Brasil participou do Programa e foram escolhidos os cinco mais experientes observadores lunares do país, eu era um deles. E você fez alguma constatação importante neste programa?
Mais astrobobagens que você aprendeu na escola!
A Lua não tem um lado escuro. O mundo todo enxerga o mesmo lado da Lua, isto não quer dizer que o lado de lá é totalmente escuro. A Lua tem um ciclo de dia e noite, com cada centímetro da sua superfície sendo iluminado pelo Sol por um determinado período a cada giro completo.
A bussola aponta sempre para o Norte. Na verdade não. A bússola aponta para o Sul. Acontece que as orientações de Norte e Sul nos mapas foram estabelecidas antes de entendermos o magnetismo da Terra. Quando os cientistas perceberam que os polos magnéticos e geográficos estavam invertidos, já era muito tarde...
Havia centenas de observadores na época, todos observando a Lua. Lá acontecem alguns fenômenos que até hoje não tem explicação e aqui no Brasil foram feitas constatações importantíssimas. Inclusive uma constatação que eu fiz, observamos uma espécie de ‘bruma luminescente’, provavelmente emanação gasosa. Entramos em contato com o consulado americano no Rio de Janeiro, que comunicou a NASA e posteriormente a constatação foi confirmada pelos astronautas. Esta foi a sua maior descoberta ou teve mais alguma? É um pouco de pretensão falar
O dia tem 24 horas. O dia solar tem 24 horas exatas, esta é a quantidade de tempo em que o sol leva para passar duas vezes sobre a nossa cabeça e é assim que nossos relógios são ajustados. Porém, a Terra leva 23 horas e 56 minutos para dar uma volta toda ao redor do sol.
em descoberta, obviamente são feitas descobertas, uma Super Nova aparecer, cometas se descobrem. Eu particularmente nunca fiz descoberta nenhuma, observei muitas coisas interessantes, foram coisas que aconteceram quando eu estava observando naquele momento e que ninguém mais viu quando eu vi. E você continua observando a Lua até hoje? Sim. Muitas pessoas pensam que não existe mais nada na Lua para se observar e isto é um grande erro. Há centenas de coisas na Lua que precisam ser observadas. Fenômenos que, fu-
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A Lua gira em torno da Terra. Na verdade, ambas giram em torno de um centro de gravidade comum. Se viajássemos numa nave espacial até certa distância veríamos Terra e Lua dançando como um par de bailarinos no espaço.
turamente, colocarão em risco as bases lunares que serão construídas lá pelos americanos, pelos europeus, pela China. Todos esses países estão interessados nos fenômenos lunares. Na sua opinião, é difícil ser cientista no Brasil? É muito difícil, principalmente na nossa área da astronomia. As bolsas (apoio financeiro governamental) são microscópicas, pois o Brasil não investe nesta área, aqui não se constrói mais observatórios. Os investimentos são feitos para parcerias com outros observatórios internacionais. É lá que se trabalha, aqui não!
Tecnologia
O futuro é das máquinas A tecnologia chegou e tomou conta da humanidade. Cada vez mais robotizada, o futuro da indústria também será revolucionário
Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres Imagem | Freepik
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urante o século passado, todos imaginavam os anos 2000 como um mundo totalmente tomado pelas máquinas e centenas de invenções mirabolantes. O mundo hoje pode ser tão tecnológico quanto se esperava. Tudo está em constante revolução e transformação. Na indústria não é diferente. Cada vez mais as máquinas, a inteligência artificial e o ambiente virtual tornam os processos produtivos mais eficientes, práticos e funcionais, a exemplo de dois projetos do Laboratório de Sistemas Computacionais para Projeto e Manufatura (SCPM) da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) – Campus Santa Bárbara D’Oeste.
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Fábrica Digital. Quem já se divertiu com aquela famosa série de jogos de simulação que criam e administram cidades e parques de diversões, pode ter uma ideia de como seria organizar um ambiente fabril virtual e ver na prática como cada etapa do processo de produção atua. “O conceito básico de Fábrica Digital é um conjunto de métodos e ferramentas para construção de modelos virtuais para simulação de todo o ambiente fabril. Com o modelo digital são adicionados parâmetros de funcionamento da máquina para a simulação em tempo real e visualização em 3D”, explica o engenheiro mecânico Felipe Alves de Oliveira Perroni. A Fábrica Digital tem como principal foco a antecipação e total integração do desenvolvimento e planejamento do produto, da concepção e Start-up da planta, ajustada cuidadosamente para todos os processos produtivos. “A simulação pode ser feita desde o macro, que seria toda a indústria, verificação de gargalos,
A Fábrica Digital tem como principal foco uma antecipação e total integração do desenvolvimento e planejamento do produto
consumo de energia, de recursos, controle de estoque, assim como é possível visualizar o micro, que seria na produção da peça, entender cada etapa do processo e como diminuir esse tempo. Em alguns testes tivemos um ganho de 41 minutos no final do dia, o que gera um grande impacto na empresa”, diz. Segundo Perroni, até mesmo a atuação dos funcionários pode fazer parte do processo de simulação. “É possível fazer até uma simulação ergonômica, visualizar se alguns procedimentos afetarão a saúde do funcionário de alguma forma, prevenindo lesões e acidentes laborais”, explica. Parcerias. A Volkswagen vem investindo em Fábrica Digital desde 2006, onde aplicou um montante de R$8,3 mi em um conjunto de 50 softwares que fazem as simulações. Em 2013, a montadora apontou uma economia de R$86 milhões em consequência da atuação dos softwares, mais de dez vezes o valor investido com as simulações. No mesmo ano, a Volkswagen e a
AS QUATRO REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS 28
Unimep assinaram um convênio de cooperação técnico-educacional que prevê a implantação da Fábrica Digital na unidade da montadora em São Carlos.
A 4ª Revolução Industrial Com o mercado cada vez mais competitivo, mudanças são necessárias para atender as demandas, não apenas no que diz respeito aos custos, uso consciente de recursos, mas também atender a clientes cada vez mais exigentes. O programa Industrie 4.0, criado pelo governo alemão, vem transformando a maneira que as fábricas operam. “O Industrie 4.0 simboliza o surgimento da fábrica inteligente, onde as máquinas e produtos são conectados entre si por meio da Internet das Coisas. Essa integração permitirá acompanhar todos os processos de fabricação através de acesso remoto, utilizando tablet, smartphone ou qualquer dispositivo com acesso à internet”, explica Matheus
1780 - 1840 1ª Revolução Veio com a invenção das máquinas movidas a vapor. O trabalho era assalariado e o trabalhador qualificado era pago por peça. As ferrovias também foram um marco da época.
Soares, aluno de mestrado em Engenharia da Produção da Unimep. Essa comunicação integrada entre as máquinas e cada componente do produto permitirá ao cliente customizá-lo, de modo que a própria máquina reconheça as exigências individuais de cada peça e, então, a empresa poderá fornecer alguns dados das etapas de produção. “Vamos supor que um cliente queira um celular com câmera frontal de oito megapixels e outro queira uma de 15 (megapixels). Por meio desta comunicação é possível essa customização automática e ele poderá acompanhar da sua casa em qual estágio o produto está, quanto tempo irá levar até ficar pronto”, diz Letícia Rodrigues, também engenheira. Neste processo, o produto se torna o agente ativo na produção, contendo informações próprias de como ele será produzido, em qual máquina deverá ser operado, qual o componente melhor se encaixa em determinado processo e assim por diante.
1850 - 1945 2ª Revolução O alto desenvolvimento industrial pós-guerra, introduziram a metalúrgica, siderúrgica e química como as novas ascendentes da indústria e trouxe consigo os novos métodos de produção.
Integração total da fábrica. Toda essa interação sistemática reflete não apenas na produção, mas em tudo o que está ligado ao funcionamento da fábrica gerando comunicação entre empresa, funcionários, fornecedores e clientes. “O fornecedor, por exemplo, poderá ter o controle do estoque, avisando quando é necessária reposição. Também o gerente, em sua casa, pode ter o controle da fábrica pelo acesso remoto, saber tudo o que está acontecendo”, reitera Letícia. Viva la Revolución. Uma das grandes preocupações quando ocorrem mudanças drásticas no funcionamento das fábricas, principalmente devido à inserção de tecnologia, é com relação aos trabalhadores. Na opinião de Soares, toda mudança trás consigo novas oportunidades. Mesmo com a capacidade da inteligência artificial em reconhecer determinadas necessidades, a intervenção humana ainda será necessária. “Nem tudo será totalmente automatizado, porém, o perfil do profissional irá
mudar, para que se alcance toda essa tecnologia, será necessário mais pessoas capazes de operar esses sistemas”, afirma. Embora na Alemanha a previsão para que toda essa transformação aconteça esteja estipulado para 2020, o Brasil ainda não tem nem estimativas, devido a defasagem tecnológica do país. “O país terá que crescer muito ainda para que seja implementada. Nós ainda nem atingimos o ápice da aplicação da informática na nossa indústria, mas, no futuro, todas as empresas terão de se adaptar a essa realidade para a própria sobrevivência”, finaliza.
1950 - 2000 3ª Revolução A partir da década de 70, a demanda por tecnologia e mão de obra especializada foi vital. A computadorização, a biotecnologia, a microeletrônica, a informática viraram os pilares em que se baseia a produção.
Dias Atuais 4ª Revolução Indústria 4.0 é um termo que engloba tecnologias para automação e troca de dados e utiliza conceitos de sistemas ciber-físicos, IoT e computação em nuvem. Faciçita a execução de fábricas inteligentes.
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O termo Internet das Coisas (IoT) é um sistema de dados que permite a conexão de internet com tudo o que está a nossa volta, de modo que eles se comuniquem entre si. Desta forma se torna possível interligar e registrar os dados sobre cada uma delas as utilizando um smartphone, por exemplo.
Inovação
Antídoto à vista! Primeiro antídoto contra o veneno da abelha é brasileiro e, pela primeira vez na história científica, um antiveneno é testado em seres humanos
Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Wiki Imagens
A
h, as abelhas. Animais importantes para girar as engrenagens do ecossistema, elas contribuem para polinização de diversas espécies de plantas. Geralmente elas são retratadas como bichos fofos e inofensivos pelos meios de comunicação, pois, além de sua importante função, produzem o mel, entre outras substâncias úteis a nós.
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Cuidado! Algumas espécies são perigosas, se provocadas. As abelhas africanizadas, presentes ao longo do território nacional, são agressivas e venenosas. Conforme afirma o professor Rui Seabra Ferreira Júnior, um dos desenvolvedores do antídoto, da Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu, cerca de 300 picadas dessas abelhas podem ser suficientes para matar uma criança. Já para um adulto, são necessárias por volta de 500. Segundo o Ministério da Saúde, por meio do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no Brasil, em 2015, foram registrados aproximadamente 12 mil casos, sendo que houve 42 óbitos. Esse antídoto, chamado de soro Antiapílico, foi produzido em uma parceria multidisciplinar da Unesp Botucatu e o IVB (Instituto Vital Brazil). “A pesquisa tem cerca de quinze anos de desenvolvimento tecnológico. Foram muitos pesquisadores envolvidos neste período. No entanto, a grande dificuldade foi transpor as diferenças que existem entre a pesquisa básica e a aplicada. Para isto, tivemos de adaptar a tecnologia para que fosse viável sua produção em larga escala. O CEVAP (Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos) da Unesp vem se destacando em pesquisas transacionais, e já desponta como uma referência mundial”, explica o docente. Para extrair o veneno das abel-
O Instituto Vital Brazil (IVB) está produzindo um soro antiapílico, inédito no mundo.
Foto: Clarice Castro/ GERJ
has, que, ao picarem suas vítimas, deixam o ferrão no corpo do inimigo e pouco depois morrem, foi utilizado um processo não letal para o inseto: a eletroestimulação. “É colocada uma placa com fios elétricos de baixa voltagem, para não matar a abelha,
O soro já está sendo utilizado em dois hospitais, já tratamos quatro pacientes com sucesso na porta da colmeia. Durante a manhã elas saem da colmeia. Na volta, ao pousarem na entrada, recebem o choque. Aí então elas picam a placa de vidro, onde é depositado o veneno”, explana
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Benedito Barraviera, professor da Unesp e coordenador do projeto. Após a extração do veneno, este é encaminhado ao CEVAP para sua purificação e preparo do antígeno de inoculação, (processo no qual os agentes do veneno são enfraquecidos), para então depois seguir ao IVB para a hiperimunização dos cavalos. Os estudos para a disponibilização do veneno na rede pública de saúde estão em fase final, conforme explica Ferreira Junior. “Nesta fase avaliamos a segurança do antídoto e encontramos a me- lhor dose para seu uso. Para tanto, serão avaliados 10 pacientes adultos e esperamos finalizar esta fase em dezembro de 2016”, afirmou. Ao final dos
testes, a solução será submetida à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o teste em um número maior de pacientes e em mais cidades do país. “Tal medida certamente ajudará a minimizar este problema de saúde pública negligenciado. Com isto realizado, já poderemos realizar seu registro e assim o IVB, certamente o entregará para o Ministério da Saúde, que já repassa pelo SUS outros soros antivenenos sem custo para a população”, explica.
Boas notícias! O soro já está sendo utilizado em pacientes, em dois hospitais. Botucatu/SP e Tubarão/SC. Quatro pacientes foram tratados com sucesso, dois em cada cidade. Abelhas que superam fronteiras Até 1956, no Brasil, abelhas Apis melífera europeias, mais brandas, eram utilizadas para suas respectivas funções, como produção e mel e polinização
Para chegar ao resultado do soro, é preciso passar por alguns processos: 1) A solução é filtrada e passa por cromatografia (processo que permite a separação de moléculas em soluções complexas), onde são separadas as porções tóxicas. 2) Porções são injetadas nos cavalos, para que eles produzam os anticorpos específicos contra os elementos que causam lesões nos pacientes. 3) As toxinas são inoculadas nos cavalos quinzenalmente, seguindo um protocolo. Depois de dois ou três meses de avaliação, é verificado se o animal consegue ou não produzir os anticorpos. 4) O cavalo consegue produzir os anticorpos, seu sangue, que passa por diferentes processos para separar esses anticorpos, torna-se a base do soro antiapílico.
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de plantas. Elas tinham uma produção relativamente baixa e possuíam certa fragilidade com relação a condições climáticas e doenças. Foi nesse ano que o cientista brasileiro Warwick Estevam Kerr, visando à criação de uma linhagem de abelhas mais produtivas e melhores geneticamente, trouxe a variedade africana da Apis melífera para o Brasil. Ao todo, 49 rainhas foram instaladas em Rio Claro/SP. Um acidente no local promoveu a fuga de 26 dessas colmeias, que, ao longo dos anos, espalharam-se não só pelo território nacional, mas também atravessaram Américas, chegando inclusive aos Estados Unidos. Com essa expansão, linhagens híbridas foram criadas. “As africanas são mais resistente a doenças e pragas, maior, mais agressiva e com capacidade produtiva superior à europeia, sobressaíram-se nas abelhas hibridizadas”, explica a doutora em ecologia Denise Alves. De acordo com Denise, os incidentes envolvendo este tipo de abelha são comuns devido à sua proximidade. “As abelhas africanizadas são muito utilizadas na apicultura e na produção de mel. Por isso, as pessoas têm mais acesso a elas. Elas formam colônias muito populosas, possuem muitos indivíduos na natureza. Então a probabilidade de você encontrar uma africanizada é muito maior do que uma mamangava, por exemplo, aquela que tem ferrão muito mais potente”, finaliza a pesquisadora.
Educação
acessibilidade na palma da mão Aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Unicamp pode ser promissor para a inserção de deficientes auditivos na sociedade Texto | Andressa Cristina Imagem | Guilherme Rola
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lgum dia você já sonhou que tentava falar, mas a voz não saía? Queria pedir ajuda ou gritar por socorro e nada... A sensação é horrível. Ou, imagine estar em um país no qual você não domina o idioma, a comunicação é essencial para a sua viagem, mas você não consegue se comunicar e ninguém te compreende. Chega a ser estranho, até mesmo desesperador, não é? É assim que muitos deficientes auditivos se sentem quando tentam ingressar em setores sociáveis que não possuem o recurso de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Infelizmente, hoje, pode-se dizer que é muito difícil a comunicação para quem é surdo, poucos recursos têm sido implantados para que eles se sintam cada vez mais parte da sociedade.
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Segundo o IBGE, 9,7 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva, sendo que dois milhões possuem deficiência auditiva severa – 344,2 mil são totalmente surdos e 1,7 milhão tem grandes dificuldades para ouvir. Pensando na acessibilidade, no ensino e na melhor capacitação dos alunos com deficiência auditiva, o pesquisador José Mario De Martino da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), coordena o projeto TAS (Tecnologias Assistiva Para Surdos) que visa ajudar os surdos a se comunicarem na sociedade, inclusive nas escolas, nos ensinos didáticos e tarefas essenciais. Uma das tecnologias desenvolvidas, o Tales (Tecnologia Assistiva de Leitura para Surdos), tem como foco principal o desenvolvimento de um sistema automático de tradução Português-Libras, no qual a apresentação do conteúdo traduzido é realizada por um humano virtual animado, ou avatar, na busca por melhorar a acessibilidade dos alunos surdos ao material escrito e ajudá-los a dominar o português como segunda língua. Desenvolvimento do projeto. Para que ocorra a tradução automática é utilizada uma abordagem estatística conhecida como “data-driven”, que tem o corpus linguístico bilíngue armazenado no campo de dados para extrair e aprender regras de tradução. A qualidade das traduções depende do tipo de material utilizado, envolvendo vários ciclos e cada um deles envolve um conjunto de 11
Alfabetização de surdos. No
Brasil, mesmo sendo lei, a falta de interpretes de Libras nas salas de aula torna a alfabetização para os deficientes precária e a maioria não consegue se alfabetizar. Dados do Instituto Federal do Rio Grande do Sul apontam que aproximadamente 30% dos brasileiros com deficiência auditiva não sabe ler português. O 70% restantes sabem ler português, mas não têm entendimento claro desta língua. Os projetos desenvolvidos por meio de avatares com traduções automáticas do português para Libras é um recurso promissor para facilitar e alfabetizar os deficientes. “Um aplicativo de tradução automática do português escrito para Libras permitirá ao surdo acesso a um universo de informação que está disponível atualmente somente na forma escrita ”, afirma Martino.
etapas, obtendo ajuda de vários profissionais especializados. “A nossa equipe é multidisciplinar e envolve engenheiros, programadores, linguistas, professores com experiência no ensino de surdos, intérpretes de Libras e surdos. Em particular, os surdos têm atuado propondo e avaliando a tradução do conteúdo do material”, explica Martino. O projeto será implantado em materiais didáticos do ensino fundamental, as etapas vão da seleção do livro didático até a última etapa, que é a de avaliação, que envolve estudantes surdos que analisam
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os resultados da tradução e com isso indicam a necessidade ou não de ajustes. O aplicativo pode ser desenvolvido em diferentes plataformas – TV ou computadores e é necessário que a plataforma obtenha memória com capacidade de processamento para a tradução e animação do avatar. Nossa Língua. Conhecida como como a língua dos surdos, Libras é uma língua natural como o português, a diferença entre as duas é a forma de percepção e produção, enquanto as línguas de sinais são perce-
bidas com olhos e produzida pela movimentação das mãos, as línguas faladas são percebidas pelos ouvidos e produzidas pelo aparelho fonador humano. De acordo com o linguista Plínio Barbosa, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, o vocabulário é bastante rico. “O vocabulário de Libras é suficiente para a comunicação entre seus usuários às vezes, com termos mais precisos do que o português, especialmente no que tange os aspectos espaciais”, diz. O vocabulário de Libras também se adequa à evolução da língua e surgimento de novos termos, principalmente provenientes da tecnologia e da internet, como por exemplo: “tuítada”, “me chama no whats”, “dar like”. “Da mesma forma que em português, adapta-se a pronúncia e regras da língua – como no caso de “tuitada”, que claramente combina flexão do português com palavras em inglês pronunciadas por brasileiros. Assim, a comunidade interage e escolhe um sinal”, explica Barbosa. Voz da experiência. A deficiente auditiva e professora de Libras, Rosemeire Antunes, encontrou grande dificuldade no aprendizado por não ter intérprete em sala de aula. “No meu processo de alfabetização, o método era tradicionalismo, conseguia aprender com o apoio dos professores e família, prestava atenção na oralidade para pode fazer a leitura labial”, conta. Rosemeire comenta sobre a importância do projeto TAS e
os benefícios que ele pode trazer para os surdos. “Mesmo que em processo de construção, ele pode ser benéfico à pesquisa de conteúdo e por conter glossários de vocabulários de Libras, facilitando a compreensão em salas de aulas”, diz. Não só no ensino, mas para qualquer pessoa com limitação ou deficiência, a falta de acessibilidade e outros recursos que auxiliem no dia a dia já tornam a relação social mais complicada. Para os surdos a barreira é um pouco maior, a falta de comunicação se torna insuperável. “A falta de acessibilidade dificulta a comunicação dos surdos. Falta Libras e legendas nos cinemas, nos aeroportos e teatros. Tam-
Um aplicativo de tradução automática do português escrito para Libras permitirá ao surdo acesso a um universo de informação que está disponível atualmente somente na forma escrita Quer aprender o alfabeto em LIBRAS? Com seu celular, faça a leitura do código ao lado e assista ao vídeo!
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bém não tem acessibilidade dentro da área da saúde, social e jurídica. Na área da educação, os surdos têm mais acesso a tradutor ou interprete de Libras, que é direito deles, pois é reconhecido por lei”, afirma Rosemeire. Projetos semelhantes ao do TAS também são desenvolvidos em outros países, como nos Estados Unidos e países da Ásia e Europa, seguindo o voca- bulário na língua de sinais locais.
Tá na Lei A Lei 10.436/2002 reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e outros recursos de expressão a ela associados. Além de garantir o apoio à difusão da Libras como meio de comunicação da comunidade surda, atendimento e tratamento adequado aos deficientes auditivos nos serviços públicos de saúde e, ainda, garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino Libras no currículo. No ano de 2005, por meio do decreto 5.626, a lei foi regulamentada.
Bem-estar
HORA DO BANHO Nova cadeira de banho é ferramenta para facilitar a vida de usuários e profissionais da saúde Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Luis Carlos
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ora do banho! Hora de relaxar, cantar, fazer solos de guitarra mirabolantes, pensar na vida e refletir sobre as mais variadas coisas. Totalmente easy. Entretanto, esse momento não é um mar de rosas àqueles com capacidades motoras reduzidas ou ausentes. Dados do Censo 2010 feito pelo IBGE (instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam mais de 860 mil pessoas com grande dificuldade motora ou incapacidade motora.
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Pessoas dentro dessa realidade normalmente têm de ser auxiliadas para poderem higienizar-se. Além disso, são utilizadas cadeiras – nem sempre capazes de atender ergonomicamente tanto a quem está tomando banho quanto à pessoa que a auxilia. Pensando nisso, Rodrigo Curimbaba, mestre em Design pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, desenvolveu, durante o curso, o projeto de cadeira de banho mais ergonômica, produzida a partir das necessidades de profissionais da área da saúde e usuários. “Fiz pesquisa de campo durante um ano em hospitais públicos, particulares, clínicas de repouso para idosos e em home care. Foram entrevistados 50 profissionais, entre enfermeiras, téc-
nicas em enfermagem, auxiliares de enfermagem e cuidadores, que faziam uso da cadeira de banho em suas atribuições”, explica. Além disso, Curimbaba também conversou com vinte usuários de cadeira de banho que foram submetidos a medições corporais para embasar a tese de que as medidas utilizadas nas cadeiras não são mais compatíveis com as da população de usuários. O projeto do equipamento utilizado é datado da década de 1960”, aponta.
As cadeiras são muito estreitas e o paciente, muitas vezes fica desconfortável, pois elas não se encaixam às suas medidas Foto: Luis Carlos/Unimep
Nova cadeira ainda está em processo de patente.
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Transtornos. O depoimento da enfermeira Victoria Azeredo, da Santa Casa de Limeira, dá dimensão das dificuldades que esses profissionais enfrentam. “As cadeiras são muito estreitas e o paciente, muitas vezes fica desconfortável, pois elas não se encaixam às suas medidas. Isso dificulta o trabalho da equipe e o paciente também não recebe um banho adequado. Além disso, recorrentemente temos dores nas costas por termos que ficar agachadas durante muito tempo, por conta de a cadeira ser muito baixa”, conta. Cadeira. Conforme Curimbaba explica, o projeto foi baseado a partir dos dados coletados das pessoas que se dispuseram a ter suas medidas colhidas, bem como depoentes, visando atender às necessidades de profissionais e usuários. Um modelo de cadeira de banho recebeu modificações que favorecem a movimentação dos profissionais enquanto dão banho aos usuários, promovendo agilidade e evitando movimentos desnecessários e desconfortos. Já com relação aos usuários, há possibilidade de ajustes conforme suas medidas, e materiais para revestimento do equipamento, com o objetivo de melhorar o conforto, segurança e usabilidade, foram instalados. O projeto da cadeira encontra-se em processo de patente, junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), por meio da AUIN (Agência Unesp de Inovações) e imagens não podem ser exibidas.
Matenha a postura! Já sabemos que o atual estilo de vida que levamos é desgastante. Mas, antes de nossos problemas, tarefas, ou o que for, é importante que prestemos atenção em nossa postura corporal, a fim de evitar lesões. Professor de Educação Física, Joacir Rogge Mugnaini explica as consequências de executar
tarefas diárias sem a devida precaução com as posturas corporais.
“A realização de grandes esforços musculares desconsiderando a ergonomia pode, a curto prazo, causar lesões localizadas como contraturas musculares, tendinosas e ligamentares. Estas lesões, a médio prazo, tendem a evoluir quando não tratadas e o resultado a longo prazo pode ser
Quais exercícios fazer para melhorar a postura? Pilates
Os diferentes exercícios de alongamento e fortalecimento do pilates são ótimas formas de corrigir a postura. A atividade visa à maior sustentação e ao equilíbrio para as tarefas do dia a dia
um desvio postural mais grave ou processos de degeneração de tecidos irreversíveis, com perda de mobilidade e redução de qualidade de vida”, alertou. A manutenção de postura segura, segundo Mugnaini, aliados a outras ações, acrescenta na saúde do corpo um bom condicionamento musculoesquelético e também flexibilidades das estruturas musculares e articulares.
Natação
A natação é um dos esportes mais indicados, quando o assunto é correção postural. Além de benéfico, o exercício feito dentro da água não sobrecarrega as articulações ao trabalhar costas, ombros e braços
Yoga
A yoga trabalha com diferentes que atingem os músculos mais profundos, oferece benefícios para a mente e para o corpo, desenvolvendo maior consciência corporal, força e equilíbrio
Musculação
Praticar musculação melhora o tônus muscular, define os músculos e cria uma boa postura permitindo executar movimentos com técnica e menos gasto energético
Dança
Dançar é uma atividade que promove a consciência do corpo em relação à força da gravidade, possibilitando, dessa forma, uma postura adequada.
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Artigo
Do laboratório direto para sua casa! Thiago Peres O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, surpreendentemente o primeiro do ranking divulgado pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) em 2015. Porém, a pesquisa aponta o crescimento devido à necessidade muito maior do que as oportunidades, categoria esta que permite que o empreendedor enxergue uma lacuna no mercado e seja capaz de desenvolver um novo produto ou serviço para oferecer. Ou seja, falta inovação. Mas será que falta? Segundo dados do MEC (Ministério da Educação e Cultura), no último levantamento feito em 2010, o numero de pesquisadores no país aumentou em 150% em 10 anos. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), investiu cerce de R$1,8 bilhões em pesquisas em 2015. A questão é que falta ao cientista brasileiro uma visão mais mercadológica do seu próprio trabalho, e não apenas acadêmica. Muitas pesquisas (e algumas até desta revista) apontam para boas descobertas, o que mostra que os cientistas brasileiros têm as capacidades intelectual e de desenvolvimento que não deixam a desejar em nada para os de fora. No entanto, após todo o trabalho de pesquisa, constatação e comprovação dos seus pareceres, o projeto vai parar no fundo da gaveta. Não é levado adiante, não sai do campo da observância para o da produção. No dia seguinte, ele está pronto para começar uma nova pesquisa! Não precisamos romantizar o papel do cientista como alguém que passa horas a fio em um laboratório, de jaleco branco e ex-
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clamando “eurekas” o dia todo enquanto faz experimentos mirabolantes ou de quem investe seus dias tentando descobrir o que veio primeiro: o ovo ou a galinha. Todo cientista deve ser também um empreendedor, levar sua inovação à sociedade, abrir sua própria empresa, ganhar o seu dinheiro. Deixar de ser menos gênio, nerd e pé rapado como Peter Parker e ser mais playboy, filantropo e milionário como Tony Stark. Talvez, o que falte mais é, dentro da própria universidade, o fomento ao empreendedorismo. Enchem a grade curricular com matérias obrigatórias quem nem sempre acrescentam grandes coisas, mas pecam em não oferecer um ensino voltado à competências mais práticas que ofereçam ferramentas úteis à vida pós-acadêmica e que atendam as necessidades da nossa sociedade. Mesmo assim, há no Brasil muitos vales, agtech’s e incubadoras de empresas que oferecem espaço para que, pesquisadores que enxergam potencial econômico em suas pesquisas, criem uma startup e iniciem seus projetos – e não faltam exemplos de ideias que deram certo, mesmo com todas as dificuldades e burocracias encontradas aqui. Recentemente, a cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, lançou uma campanha em que se reconhece como polo de inovação tecnológica na Agricultura em parceria com setores públicos e privados: o Vale do Piracicaba/AgTech Valley, buscando dentre outras coisas, o surgimento de novos empreendimentos e uma cultura colaborativa em inovação tecnológica. Ao cientista, basta arregaçar as mangas!