sutil #44

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#44 | abril 2022

“MY NAME IS SEGIO”

O RELATO DE ’UM IMIGRANTE brasileiro NA EUROPa QUE,’ NO PERiODO DE 4 ANOS, FOI DEPORTADO 4 VEZES ’ E ATe PRESO TENTANDO PERMANECER POR La



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RAIO-X DE SAGITARIUS A* CAPTADO DO TELESCÓPIO MEERKAT [ h t t p s : / / s c i e n c e n ew s . o rg / a r t i c l e / m i l k y - w a y - c e n t e r - i m a g e - ra d i o - e m i s s i o n s - b l a c k - h o l e r ]

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}editorial

#tatuaBolsonaro Há algumas semanas atrás, a @puriprod lançou uma campanha institucional e direta através de um video no @Youtube de apelo ao Governo Federal para que não olvide o centenário da Semana de Arte Moderna [ uma pauta surgida no meio artístico ainda antes das últimas eleições e que vimos tratando aqui na @sutil ]. Isto poucos dias depois de o secretário de Cultura @MarioFrias pedir exoneração do cargo e somar ao rol de nomeados para a função que ignoraram um dos mais importantes movimentos da História da Arte, e, surgido aqui no #Brasil. A intenção é ainda mais abrangente apesar de não ter como meta angariar fundos, realizar eventos ou qualquer outro objetivo além do que foi pronunciado: desde 2019 estamos propondo considerarmos a arte da tatuagem como Arte, como são a Pintura, a Escultura, a Música, o Cinema… Um contributo para o centenário que o revitaliza enquanto movimento inspirador de manifestações oriundas do país, com a mais-valia de que a tattoo, hoje, é uma atividade artística produzida em todo o Mundo com personalidade e níveis de excelência que justificam a sugestão. Um outro secretário assumiu numa nítida substituição de continuidade, pois o sr. @HélioFerrazdeOliveira era o responsável pelo setor audiovisual e vai ‘tocar’ os incentivos da reformulada Lei Rouanet em direção a projetos que “exaltem a cultura armamentista”. A oposição reagiu colericamente; para nós, a mensagem do video prolongar-se-á a todos os que apreciam arte modernista e tatuagem, mas esse “cinema novo” que a secretaria especial finalmente anuncia como um projeto seu já anda por aí desde “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”…


SÉRGIO OLHETE EMPRESÁRIO

COMO SER BARRADO NA UNIÃO

EUROPEIA EM PLENO RESSURGIMENTO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS PARA A EUROPA, CONVIDAMOS UM DOS EX-RESIDENTES QUE CONHECEMOS COM AS HISTÓRIAS QUE MELHOR RETRATAM O QUE É A VIDA DE UM ESTRANGEIRO EM SITUAÇÃO FRAGILIZADA. DO DESLUMBRE INICIAL AOS ÊXITOS DE QUEM ARRISCA OU É OBRIGADO A SAIR DO SEU PAÍS DE ORIGEM, O DIA-A-DIA PODE SER TÃO SEMELHANTE ÀS EXPECTATIVAS E SONHOS QUANTO CAUSAR DANOS IRREPARÁVEIS ─ O SÉRGIO TRIUNFOU

FOTO:SERGIO OLHETE/INSTAGRAM

}entrevista



C

_por m.i.k.a.

oncierge ─ “porteiro” em Inglês. Com o Sérgio num estabelecimento gastronômico à beira da rodovia #WashingtonLuís [ uma das saídas da cidade do #RiodeJaneiro, em direção à #RegiãoSerrana ], poucos são os que

conseguem diferenciá-lo de tantos outros que desempenham funções semelhantes pelo país afora. “Ele toma conta do estacionamento do restaurante” ─ é o que dizem os seus milhares de conhecidos desatualizados quando perguntam entre si sobre o seu paradeiro. Na real, a maioria desacredita. Outros ─ que não são poucos ─, cercam-se dele no @ReidoBacalhau, onde nalguns momentos são flagrados em fotos no seu #Instagram revelando uma celebridade ao estilo das que estampavam revistas como a @Caras e que hoje inundam as redes sociais. @SergioOlhete. É assim que esse fluminense de 52 anos, olhos azuis com altíssimo grau de miopia e astigmatismo, e que certamente porta uma das mais extraordinárias histórias de imigração já relatadas é chamado desde a adolescência no bairro #25deAgosto, em #DuquedeCaxias. É desde essa época


que o conheço. Num dos municípios colados à capital, mal-afamado como quase todo o #Brasil é, que circunda ao longe parte da #BaíadeGuanabara separada por uma vasta área militar de preservação de manguezal ─ e portanto orientado de costas para ela ─, local da principal refinaria de petróleo do Estado e conhecido pela discrepância entre gerar uma das maiores arrecadações da #AméricadoSul e os índices de desigualdade da #BaixadaFluminense, a vida é também uma festa. Não há praias próprias para banho? Cruza-se a #AvenidaBrasil, a #LinhaVermelha, a #LinhaAmarela ou a #ViaDutra para buscar outro litoral, ou, viaja-se. Os “caxienses” sempre inundaram a orla nas férias e feriados, tanto como proprietários de imóveis de veraneio quanto como turistas. Ter o que fazer nunca foi um problema. As escolas particulares e públicas ostentam equipamentos e condições de embasbacar os bairros tradicionais e inspirou em expansões como as da #BarradaTijuca e do #Recreio, com praças, centro olímpico gratuito, ginásios e academias, espaços gastronômicos e noturnos, comércio, cinema, teatro, igrejas… Sem contar o acesso ao @AeroportoInternacionaldoGaleão.


É, efetivamente, uma outra cidade. Porém, sendo tão distante e ao mesmo tempo “logo ali”, o “25” acaba por competir com os bairros cariocas com que vai fazendo fronteira, derrubando em si muitos dos argumentos de quem o tenta menosprezar e denegrir: #Penha, #BrásdePina, #CidadeAlta, #VistaAlegre, #JardimAmérica, #Cordovil, #ParadadeLucas, #VigárioGeral, #CoelhoNeto, #Pavuna… Todos injustamente alinhados como referências perante a elite de uma região autônoma, política e economicamente, e que prospera apesar da dimensão territorial da qual é responsável por desenvolver. Tal realidade produziu uma sociedade caxiense que é um amálgama de high-society; cidade interiorana; de life style da #ZonaSul do Rio, mas sem praia; produtora de riqueza com a carência de uma identidade própria; passagem entre a capital e a parte nobre da região colonial de #Petrópolis e #Teresópolis; pólo comercial e industrial, esportivo e modelo em diversas áreas da Educação; do tráfico de cocaína; e de corrupção de perfil violento, dentre outros atributos que a compõe. Por exemplo, o Sérgio foi estudante da instituição que atualmente é uma das maiores do Ensino no Rio


de Janeiro, a @Unigranrio, nos tempos em que “ainda” era a #AFE, no mesmo local que permanece sendo o campus e a sede, o que para um colégio dedicado ao Fundamental e Médio e ensaiando cursos superiores em Odontologia e Enfermagem era uma herdade. E, mesmo referindo-se ao começo dos anos 80, durante o nosso ginasial, não era a única opção particular do bairro: só no mesmo quarteirão disputava status e alunos com o tradicional @InstitutoTinoco, onde eu estudava. Mas, a primeira vez em que o vi foi quando apareceu com a sua moto [ sim, apesar da deficiência visual ele conduz moto desde garoto ], para buscar a namorada no condomínio onde eu morava desde os 6 anos quando regressamos de #Brasília, no início da Av. Brigadeiro Lima e Silva. Ela era minha amiga, tínhamos a mesma idade e frequentávamos a mesma série e turma, e os seus pais eram amigos dos meus mesmo tendo 2 filhos e, elas, sendo 2 irmãs. Àquela altura, quando começava a se tornar uma lenda local, o seu irmão mais velho Luiz catou uma mala e algum troco e se mandou para Londres. Quanto ao restante dessa história, que justificará o por quê, afinal, Olhete está na capa desta edição da @sutil, deixo para que o próprio relate:


} sutil Até ao início do milênio, aqui no #Brasil ainda tínhamos aquela ideia de que tentar a vida no exterior era só uma questão de disposição, contatos e algum recurso para a viagem, mas fomos aprendendo que as regras que regem a imigração são bem menos românticas… Entretanto, com o atual êxodo de imigrantes para a União Europeia ─ principalmente para os países do Leste Europeu ─, por causa da guerra, mais algumas medidas póspandemia incentivando a atração de estrangeiros, aquela impressão está sendo revitalizada. Tem acompanhado esse assunto? } SÉRGIO OLHETE Tenho acompanhado, mas assim… não na íntegra, porque esse assunto ainda me assusta. Pessoas, amigos meus, primos, os que foram e voltaram… Muita gente que eu conheço que foi para a Europa passou por situações constrangedoras. Enfim… acompanho, mas não na íntegra. } sutil Hoje, a sua história como imigrante na Europa soaria mais próxima da saga de um refugiado do que a de um estudante brasileiro classe média se não fosse devidamente contada… Quando você tinha 16 anos, o seu irmão mais velho conhecido como “Luiz” deixou o país rumo à Inglaterra e se tornou o proprietário do 1º e durante muitos anos


o único restaurante de culinária brasileira em Londres. Mas, também durante décadas isto nunca o motivou a seguir os seus passos… Quando e por quê decidiu, enfim, ir para lá? } SÉRGIO OLHETE Eu fui pra lá para passar um Natal, pra ficar uma semana com ele. Estava saindo de um relacionamento, e aqui eu não suportava mais esbarrar com ela, olhar pra ela depois do término, tendo tantos amigos em comum… E todos viam que eu ficava nitidamente nervoso, diferente perto dela. Foi aí que decidi unir o útil ao agradável, e pensei: “quer saber? Eu vou sair do Brasil e passar o fim-de-ano em Londres com o Luiz, longe dela”. E fui. Para esfriar a cabeça, ficar perto do meu irmão, que eu amo… E me apaixonei pela cidade. Comecei a estudar Inglês, a trabalhar com ele, e acabei ficando quase 3 anos nessa “brincadeira”. } sutil Ao que parece, permanecer em Londres depois de estar lá não foi nada complicado… Acha que o país incentiva quem vai para estudar, desenvolver conhecimento prestando credibilidade às suas instituições de Ensino, mesmo que inicialmente não tenha tirado um visto prévio com tal finalidade?


O PASSAPORTE CARIMBADO À CHEGADA, EM 2003. AO LADO, POSE NO PIÉR DA MARINA EM @BARCELONA DESCANSANDO DOS PATINS QUE USAVA PARA SERVIR ÀS MESAS. ABAIXO, FOTO RECENTE COM O COMPADRE #COWBOY, NO RIO FOTOS:ARQUIVO PESSOAL


} SÉRGIO OLHETE Incentiva, sim. Isso foi algo maravilhoso, eu vivenciei isso! O país incentiva muito as pessoas a estudar, a se manterem lá enquanto estudam, inclusive porque, lá, quando se é estudante, você também pode trabalhar. Não em tempo integral, mas é algo que todo mundo descumpre… Todos os estudantes trabalham em tempo integral. Mas, eles incentivam sim os imigrantes a estudar. Eu achei isso bastante interessante. } sutil Conte-nos um pouco sobre como foi a sua vida naquele 1º ano em Londres como estudante, o que fazia para custear a estadia, o que mais curtia fazer nas horas vagas, o curso de Inglês… } SÉRGIO OLHETE O meu 1º ano em Londres foi tipo uma criança na Disneylândia. Eu amei a cidade! Independente de não falar o idioma [ eu não falava nada em Inglês! ]. Eu só estudava, trabalhava no restaurante do meu irmão e namorava. Ser o irmão dele facilitava porque ele era muito famoso em Londres, e eu era o “irmão do ‘Luiz do Feijão’”, né… Cansei de vê-lo andar disfarçado quando estava com pressa para não chegar atrasado. Ele botava uma boina e um par de óculos escuros para não o reconhecerem. Fiquei deslumbrado com tudo aquilo, e a gente se habitua a isso. Foi de aprendizado.


} sutil Então, passado o período letivo e até por questões legais você retornou ao Brasil. Veio para ficar ou já tinha planejado regressar à Londres? } SÉRGIO OLHETE Eu voltei para o Brasil porque eu conheci alguém lá, por quem eu me apaixonei já morando juntos em Londres. Vim para nos casarmos. Ela é de #Bauru. Tive também uma proposta de um amigo para trabalhar em #SãoPaulo, então, tudo coincidiu. Mas, depois tudo desandou. O casamento desandou; a casa de shows onde fui trabalhar não deu certo… enfim, deu tudo errado! Cheguei a ponderar retornar para Londres, mas outros amigos, que são sócios do @ReidoBacalhau e que considero como meus irmãos, me acolheram e resolvi ficar aqui. } sutil Então quando teve complicações com o controle dos serviços de imigração para entrar na Inglaterra? } SÉRGIO OLHETE Foi quando eu saí uma vez numa imprudência, sem ter renovado o meu visto, e, ao voltar, tive grandes problemas. Começava ali a minha jornada pela Europa. Fui deportado. Ficava um tempo num país tentando entrar em Londres, mas era pêgo e deportado novamente. Passei uns 2 anos nessa situação… quase 3, rodando, buscando entrar


e sendo deportado. Mas, num outro momento, eu finalmente conseguiria voltar. } sutil Essa nova fase foi diferente? Quanto tempo ficou na Europa nessa condição de turista? } SÉRGIO OLHETE Na 1ª vez que eu vim para o Brasil foi tranquilo, porque o meu visto de estudante estava em dia: vim, passei férias e voltei sem problema algum. O problema foi numa 2ª vez… Naquela não foi nada tranquilo porque, como disse antes, cometi a imprudência de viajar antes da renovação, mesmo com todo o mundo dizendo para eu não fazer isso, para não sair do país sem o visto. Eu até tentei antecipar a emissão do visto junto aos serviços de imigração, mas não consegui. Aí fui ao departamento, peguei o meu passaporte de volta e vim para cá. Curti e fiquei uns 2 meses aqui no Brasil, mas quando voltei realmente começou o tal dilema com as deportações. Como havia viajado com conexão em #Paris ─ já sabendo que poderia ter algum impedimento quando desembarcasse em Londres ─, fui deportado para lá, e dali em diante não parei mais… Fui para #Bruxelas, #Amsterdã, #Lisboa… sempre tentando entrar novamente na #Inglaterra. Isso durou quase 3 anos. Não foi nada fácil…


} sutil Então chegou a vir para o Brasil mais que uma vez antes de ser impedido de reentrar no Reino Unido. Àquela altura a sua casa já era lá, não? } SÉRGIO OLHETE Sim, quando eu vinha para cá já só ficava praticamente na casa da minha mãe. Não tinha mais casa, apartamento, nada disso aqui. Eu morava na Inglaterra. } sutil Mas, de fato, o que fez você sair da Inglaterra na vez em que a seguir teria a reentrada impedida pelo controle de fronteiras no aeroporto? } SÉRGIO OLHETE Em resumo, e sendo sincero, “fogo no rabo”. Eu estava ganhando muito dinheiro e queria curtir o Carnaval do Rio de Janeiro, mesmo sabendo que poderia ter problemas no retorno à Londres. } sutil Pode descrever o que aconteceu a partir do momento em que disseram que você estava sendo detido para deportação por tentativa ilegal de entrada na Inglaterra? } SÉRGIO OLHETE Cara… eu rodei muito… Passei por várias experiências. Em Amsterdã, trabalhei na colheita de maconha [ lá é legalizada e gerida como um produto agrícola ]; em Lisboa fazia


FOTO:SERGIO OLHETE/INSTAGRAM


carregamento de mudanças e também fui garçom; na #Bélgica tive mais dificuldades para arranjar trabalho e, o máximo que descolei, foi trocar o meu serviço de limpeza de um restaurante por 2 refeições por dia [ o dono não me pagava em dinheiro, fornecia almoço e jantar ]; em #Barcelona, atuei como garçom de patins no bairro #Barceloneta, e ganhei muito bem tendo melhor qualidade de vida; em Paris não estive em atividades porque ainda estava chegando e com algum recurso… } sutil Pelo que entendi, você conseguiu ficar na Europa circulando por várias cidades de países diferentes para driblar o controle sobre os prazos de permanência temporária como turista que, em média, são de 3 a 6 meses, e sempre tentando voltar para Londres. Essa experiência deve ter sido avassaladora na sua vida, mas também agregado muitas experiências. Saberia elencar por quantas cidades passou? } SÉRGIO OLHETE Sempre fui bom em fazer novas amizades. Em todo o lugar onde eu chegava fazia amizade com um, com outros, e catava um emprego: “Aí irmão? Trabalha com o quê?”, perguntava. Normalmente a pessoa respondia, tipo “pô, trabalho


com mudanças, tenho que estar lá às 05h30 da manhã porque o cara de frente chega e escolhe os que ele vai com a cara, se achar que o cara é forte… Se você for comigo acho que ele vai te chamar”. E eu ia. Na #Holanda eu conheci um estátua. Lá eu fazia 1 refeição por dia, mais ou menos às 3 da tarde, e um dia fiquei observando um estátua, com todo mundo que passava botando os chamados “tips” pra ele, a nossa “gorjeta”, para tirar uma foto com ele, por exemplo. A todo instante. 1 euro, 5 euros… Gorjeta, gorjeta… “Caraca, vou ser estátua!”. E eu nem sabia quem ele era. Preví que, em algum momento, ele teria de sair daquela posição nem que fosse pra mijar, pra comer algo, né?… Aí quando saiu, o abordei: “Excuse me, man… Can I talk to you just 1 second?”, ele respondeu “Pode falar em Português comigo. Sou brasileiro”. Sentamos para conversar e ele me convidou para tomarmos um chopp no @Bulldog, um dos maiores coffee shops do Mundo. “Cara, eu não tô com grana pra isso”, recusei, mas ele disse que era um convite: “Eu pago. Sei que você tá f*&%#$”. Esse cara foi quem me arrumaria emprego na plantação de marijuana… São histórias que servem para perceber como foi essa fase, quando em cada país para onde era deportado conseguia trabalho para sobreviver.


} sutil E como foram os momentos em que enfrentou o serviço de imigração britânico para tentar voltar para Londres? Houve muita preparação para cada nova tentativa? } SÉRGIO OLHETE Sempre. Certa vez, quando estava na Bélgica, ia cruzar a fronteira dentro de um caminhão frigorífico. A gente levava 3 casacos térmicos cada e 1 garrafa de uísque para nos aquecermos porque a viagem durava cerca de 6 horas. O motorista até parava durante o percurso, saíamos, mas todo esse tempo naquelas condições, dentro das peças de carnes [ que era o esquema montado para tentar passar pela vigilância ], quando já estávamos a cerca de 1 hora da Inglaterra vimos que não iríamos aguentar. Achamos então que seria muito arriscado, tanto eu quanto o Cowboy, meu compadre. Aí, ambos ficamos por ali… Preparamos isso ao longo de 1 semana: os casacos, o dinheiro para o motorista embarcar a gente por dizer que fazia esse lance com frequência apesar de alguns desistirem por causa do frio… Ficamos com medo, e desistimos. A seguir, decidimos prosseguir ao invés de voltarmos para Bruxelas, fingindo ser um casal homossexual. Pegamos um trem e também não deu certo. Fomos presos e, depois,


deportados novamente… Na verdade, o meu passaporte até já havia sido carimbado na chegada ainda dentro trem, recebendo um “seja benvindo à Londres” do guarda de fronteira, mas o do Cowboy, ao ser conferido, percebeu que estava negativado. Pediu o meu passaporte para verificar de novo e viu a página onde continha também a recusa. Esse meu compadre é um cara bruto… Matuto, criado em fazenda derrubando boi no laço e que era bom de porrada tinha sugerido pegar os guardas quando desembarcássemos na estação para que eu e ele depois corrêssemos e entrássemos na Inglaterra. Eu concordei, tipo “tá, beleza”. Foi “batata”. Quando ele olhou para os guardas sob aquela situação, pegou os 4 e saímos do vagão correndo. Nisso, havia um muro a cerca de 70 metros de distância de onde estávamos que, se saltássemos sobre ele, fugiríamos e entraríamos na Inglaterra. Só que os policiais soltaram os cachorros quando começamos a pular o tal muro… Consegui pular para o outro lado, mas o Cowboy torceu um pé enquanto saltava. Naquele momento, ele virou pra mim e disse: “Vai embora! Vai pra Londres! Vai viver a sua vida!”, aos prantos. E eu não fui. Voltei, algemaram a gente, fomos parar numa cadeia, passamos a noite lá e logo pela manhã depois do café escoltaram


ambos até à estação, dentro do próximo trem com destino à Bélgica. Ele com o pé torcido, precisando ser imobilizado… Em #Portugal, eu estava sozinho, mas bolei o plano que, finalmente, resultou. } sutil Afinal, você conseguiu voltar e residir ainda durante um bom tempo em Londres. Como isso ocorreu? } SÉRGIO OLHETE Foi na 4ª tentativa. Voltei muito feliz e emocionado. Eu e a minha família porque eles acompanharam toda essa trajetória. O meu irmão que realmente amo muito sofreu demais; a minha sobrinha também. Enfim… retomei a minha vida normal que tinha em Londres, regressei aos estudos, tirei um outro visto, inclusive num passaporte novo, com um outro nome, já que faltava uma letra no registro do meu 1º nome no sistema. Foi assim que eu passei pela Imigração. Na época, o meu irmão estava na fazenda da sogra dele no #PaísdeGales e deu a dica de que no serviço de fronteiras de lá só havia 2 glichês. Não fiquei sequer 40 segundos no atendimento! Perguntaram apenas qual era o meu nome e o que eu iria fazer em Gales, respondi dizendo que estava indo para comprar um gato numa exposição, e pronto: “seja


FESTEIRO 24 POR 7, OLHETE LADEADO PELO IRMÃO LUIZ NUM ENSAIO DA ESCOLA DE SAMBA LOCAL, A @GRANDERIO FOTO:ARQUIVO PESSOAL

benvindo ao País de Gales”, disse o guarda ao devolver o meu passaporte… Quando soube da exposição desde Lisboa, comprei uma daquelas caixas para transportar gatos e fui para o País de Gales como criador. Era uma feira daquelas onde se exibe, compra e vende gatos de raça. Além disso, teve o lance de eu ter pronunciado “Segio” ─ o meu nome próprio ─, e o guarda digitou assim no terminal onde checam os passaportes no sistema.


: E M M E I O À B O ATA R I A E N V O LV E N D O O R O C K I N R I O E O U T R O C A N C E L A M E N TO D E S H O W D A B A N DA M E G A D E T H , O G U I TA R R I S TA K I KO L O U R E I R O , 4 9 , E X - A N G R A , R O M P E U O S I L Ê N C I O S O B R E O A S S U N TO E , E M E N T R E V I S TA À U M A R E V I S TA S E M A N A L B R A S I L E I R A , E S C L A R E C E U O M OT I VO : CO N F L I TO D E A G E N D A CO M A T U R N Ê N O R T E - A M E R I C A N A J Á Q U E A D ATA D O F E S T I VA L F O I R E M A R C A D A D E V I D O À PA N D E M I A . A R E S P O S TA D I S S I PA U M A S É R I E D E E S P E C U L A ÇÕ E S , N U M M Ê S D E A S T R A L P E S A D O N O M E R C A D O M U S I C A L CO M O S FA L E C I M E N TO S D O B AT E R I S TA D O F O O F I G H T E R S TAY LO R H AW K I N S E D O V O C A L I S TA M A R K L A N E G A N , D O S C R E A M I N G T R E E S FOTO:DIVULGAÇÃO



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