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su número oito
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MAGAZINE DIGITAL DE AMOR.ARTE.CULTURA. TECNOLOGIA.MODA. TENDÊNCIAS.ETC.
não faça o que eu fiz. / a história da produtora pose & effect é um filme / uma auto-biografia sobre os bastidores e as curiosidades da etiqueta dedicada à divulgação e intercâmbio da música moderna dos países lusófonos / capítulo 2
PURI PRODUÇÕES
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É UM MAGAZINE DIGITAL NÃO-PERIÓDICO, SEM FORMATO OU SUPORTE DEFINIDOS, DEDICADO À ARTE, CULTURA, TECNOLO
OGIA, MODA E TENDÊNCIAS, EDITADO E PUBLICADO PELA PURI PRODUÇÕES. NÚMERO OITO. JUNHO DE 2013. VERSÃO EM PORTUGUÊS.
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aí sem entender seus outros dois nomes, mas
com alguns flyers para suas próximas festas. “Máfia” era demasiado pesado para o gente fina que tinha conhecido naquela noite e “Bob Figurante” não era o melhor nickname para um dj de Reggae - apesar de alguma parescência com o personagem do desenho animado e de haver outros nomes muito piores. Mas só a princípio não era o melhor... Mais tarde me diria que a inspiração era o personagem dos Simpsons, mas acho que a abrangência o ultrapassa. Bob no Reggae é o Marley. E apresentar-se como Figurante no Reggae só pode ser voto confesso de humildade. Não lembro nem quando nem qual foi a primeira reggae party do Bob Figurante em que fui, pois foram muitas. E em situações que até se tornariam repetitivas. Houveram as em que estava sozinho em sua mesa e meia dúzia de gatos pingados - contando com os do staff do bar -, viajavam nas ondas de Jah; também ocorreram as em pequenos e médios clubes aglomerados de gente de vários lugares; e nos grandes eventos onde multidões bailavam movidos pelo ritmo jamaicano. Toda semana. Nalgumas semanas, quase todos os dias. “Onde é que vais tar hoje, Marito?”, perguntei-lhe muitas vezes por 6
telefone quando queria curtir um reggae à noite depois de sair do jornal. Por isso, muito raramente nos víamos em outra situação. A não ser em sua casa. Convivemos bastante para quem tinha horários tão desencontrados, mas também estivemos bastante juntos assim. Conversa, música, conversa, filme, conversa, projetos, conversa... o Marito é um sujeito bastante social mesmo sendo igualmente individualista. Tive com ele minhas maiores experiências lisérgicas dentro do meu restrito histórico neste campo. E vejo isto positivamente, claro, pois tinha de manter-me auto-controlado para estar disposto para os meus compromissos, e o próprio Bob tem lá as suas “âncoras”. O celular, por exemplo. Estava sempre a mandar e receber sms. De divulgação, principalmente, mas isto o dia inteiro, o que evitava decolagens para maiores distâncias. Dizia e mostrava inclusive os dedos das mãos que, segundo ele, sofriam de hipertrofia por utilizar o aparelho desde os seus primórdios nesta função, e realmente digitava suas mensagens nas teclas do aparelho como se estivesse utilizando um computador. Alguns bongos inesquecíveis. Ou um pólen amarelado em barra 7
que esfarelava só com o toque dos dedos. “Seu André, esse aqui é uma cena!”, dizia quando descobria nova qualidade. Haxixe. Marito fuma diariamente mais cigarros de haxixe do que muitos inveterados fumantes de tabaco que há por aí. Haxixe, ressalto. É bom que se diga que em Portugal, assim como em muitos países europeus, o consumo de cannabis sativa e de seus subprodutos é mais comum e cotidiano do que em
pose & effect’s world wild web. / sinalização interna do hotel na Cidade do México, 2006 / Turbo Trio, staff da Brazooka-Paris e acompanhantes após show em Bruxelas, em 2008.
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todas as Américas, não me pergunte o por quê. A cultura do haxixe lá é uma influência da cultura marroquina, de onde vem, inclusive, a produção. O consumo é discriminalizado e tem fortíssimas raízes históricas, apesar de não poder ser comparada ao do país mouro. O cigarro de haxixe, ou “charro”, é mesmo quase consumido como o cigarro de tabaco por quem o aprecia - o tabaco, aliás, é usado na mistura para enrrolá-lo. Bob já viveu fora do país, outra coincidência que favorecia o nosso entrosamento. Acho até que esteve em mais do que um durante um tempo, mas recordo-me da Noruega. Moçambicano, mas filho de portugueses, fala de sua África apaixonado e distante. Organizava encontros flash mobile quando eu nem sabia o que era isso, mas às vezes dava uns “ggrlrlr...”, tipo quando o celular está no vibracall, e invariavelmente era em simultâneo, como quem prevesse algum aviso de emergência. “Seu André vou ter que agitar uma cena aqui mas se quiser pode tar à vontade” - dizia e se afastava com o telefone ou corria para o computador. Algumas vezes era só uma gatinha querendo um chaninho. 9
[ continuação no capítulo 3 ]
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