MARร O de 2016 A Improvรกvel Jornada de Harold Fry
Arthur Dambros arthur@taglivros.com.br Gustavo Lembert da Cunha gustavo@taglivros.com.br Álvaro Scaravaglioni Englert alvaro@taglivros.com.br Pablo Soares Valdez pablo@taglivros.com.br Tomás Susin dos Santos tomas@taglivros.com.br Daniel Romero daniel@taglivros.com.br Guilherme Rossi Karkotli guilherme@taglivros.com.br Luísa Andreoli luisa@taglivros.com.br Maria Eduarda Largura maria.eduarda@taglivros.com.br Antônio Augusto Portinho da Cunha Bruno Miguell M. Mesquita bruno.miguell@taglivros.com.br Laura D Miguel lauradep@gmail.com Gráfica Portão TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Sete de Abril, 194 | Bairro Floresta | Porto Alegre - RS CEP: 90220-130 | (51) 3092.0040 | contato@taglivros.com.br
Ao Leitor Viajamos da África do Sul, país onde é ambientado o livro de fevereiro, para a Inglaterra de Rachel Joyce, e ao pousar nos deparamos com um simpático senhor de sessenta e cinco anos, trajando roupas completamente impróprias para a caminhada que tem pela frente. Esse é Harold Fry, o incomum herói do livro indicado por Susan Blackmore, que em poucas páginas nos conquista e se transforma em companheiro inseparável dos próximos dias. Para lembrar de Harold, criamos esse sapatinho – um dockside igual ao que ele usou em sua jornada – para você usar como chaveiro!
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A INDICAÇÃO DO MÊS
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ECOS DA LEITURA
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A INDICAÇÃO FEVEREIRO
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A curadora: Susan Blackmore O livro indicado: A Improvável Jornada de Harold Fry
A Canção de Amor de Queenie Hennessy A Viagem de Harold Fry Jim Broadbent, O Narrador O Peregrino “Velhinhos” Literários
Letícia Wierzchowski
4 Indicação do Mês
A INDICAÇÃO DO MÊS
Indicação do Mês 5
A curadora: Susan Blackmore Em um feriado de 4 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos, a britânica Susan Blackmore estava viajando com sua família pela Califórnia, e decidiu parar em uma pequena cidade para ver os fogos de artifício. Como o centro da cidade estava tumultuado, com muitas pessoas no meio da rua, estacionaram no primeiro lugar que encontraram. Assim que saíram do carro, pediram informações a respeito de onde iria acontecer o show de fogos, e começaram a caminhar na direção indicada. Após um bom tempo de caminhada, com seus dois filhos pequenos cansados, Blackmore decidiu voltar ao carro e estacionar mais perto de onde seria a festa, para não terem de caminhar toda aquela distância na volta. Quando encontrou sua família novamente, seus filhos já não aguentavam mais caminhar, e decidiram permanecer sentados próximos ao carro. Pouco tempo depois, uma família se aproximou perguntando onde seria a exibição dos fogos e, como também estavam cansados, sentaram-se perto da família de Blackmore. A partir deste momento, carros passaram a estacionar ao lado deles, e muitas pessoas começaram a se sentar, acreditando estarem em lugares privilegiados para assistir aos fogos. Quando as festividades por fim começaram, menos de uma hora depois, centenas de pessoas estavam aglomeradas naquele local. O resultado foi que eles estavam bem longe dos fogos, e ainda havia uma árvore grande que obstruía a visão de boa parte das pessoas. A história acima – que é verdadeira, segundo Susan Blackmore – ilustra o efeito dos chamados “memes”. A palavra vem do grego mimema, que significa “imitação” (é o que origina, também, a palavra “mímica”). Um meme,
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termo criado por Richard Dawkins em seu livro O Gene Egoísta, é uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, também considerado uma unidade de evolução cultural auto propagável. Basicamente, é o que pode ser facilmente aprendido e transmitido (ideias, línguas, jeitos de falar, roupas). De acordo com Susan, todos nós somos culpados de seguirmos inúmeros memes, mesmo que inconscientemente – na maior parte das vezes, somos incapazes de reconhecer o comportamento “memético” envolvido. Convidada a palestrar no TED, instituição que promove eventos ao redor do mundo, reunindo referências das mais diversas áreas de atuação para falarem sobre seus temas de pesquisa, Susan discorreu sobre os memes, e foi assistida on-line por mais de seiscentas mil pessoas. Após uma breve introdução, Blackmore dirigiu-se a uma mulher na plateia: “Olhe para seus brincos. Presumo que não foi você que inventou a ideia de usar brincos – você apenas viu outras pessoas usando e passou a usar também”. Mas até aí todos nós sabemos: muitas coisas que fazemos não foram inventadas por nós mesmos, apenas copiamos o que vimos desde pequenos. Qual é, então, a grande importância dos memes? Desde Darwin, todas as respostas da evolução voltavam aos genes. Susan Blackmore agora prova que isso não é verdade. Há dois “replicadores” entre os seres humanos: os genes, ou seja, quando você passa para seus descendentes características pessoais, e os memes, quando você e todos os outros seres humanos inconscientemente imitam uns aos outros.
Susan Blackmore pegou a intuição de Richard Dawkins sobre os memes e a transformou em uma teoria completamente robusta. –Bruno Giussani, escritor suíço
Blackmore comprova que, a partir do momento em que nossos ancestrais adquiriram a habilidade de imitar, uma segunda forma de seleção natural foi
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iniciada: a sobrevivência dos que mais se adequavam a ideias e comportamentos bem sucedidos. Ideias que se provaram adaptáveis – criar ferramentas, por exemplo, ou usar a língua – sobreviveram e afloraram, replicando a si mesmas no maior número de maneiras possível. Engana-se quem pensa que apenas foram imitadas as características necessárias para nossa sobrevivência: nossos ancestrais também usavam penas nos cabelos e pintavam seus rostos, somente por decoração. Replicamos trejeitos, costumes e expressões. Esses memes passaram de gerações para gerações, ajudando aqueles que sobreviveram a se adaptarem e se reproduzirem. Aplicando essa teoria a inúmeros aspectos da nossa vida cotidiana, Blackmore oferece instigantes explicações sobre por que vivemos em cidades, por que falamos tanto, por que não conseguimos parar de pensar, por que nos comportamos altruisticamente e muito mais. Sue, como gosta de ser chamada, nasceu em 29 de julho de 1951. É casada com o escritor e apresentador da BBC Adam Hart-Davies, com quem teve dois filhos. Graduada em Psicologia e em Fisiologia pela Universidade de Oxford – obteve posteriormente seu doutorado e pósdoutorado na Universidade de Surrey –, trabalha como escritora, colunista do jornal londrino The Guardian e professora da Universidade de Plymouth. Blackmore já lançou quatorze livros, que foram traduzidos para mais de vinte idiomas – infelizmente, a língua portuguesa não está entre eles. Sua obra de maior destaque intitulase The Meme Machine (1999), com introdução feita pelo próprio Richard Dawkins.
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A psicóloga Susan Blackmore teve dificuldades em encontrar apenas uma indicação para a TAG. Em nossa conversa, citou a importância do neurologista Oliver Sacks, falecido no fim do ano passado, e seu livro O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu. Também afirmou que não podia deixar de fora Richard Dawkins, que inspirou tanto seu trabalho e sua teoria sobre os memes. Apesar dessas considerações, o livro selecionado para os associados da TAG foi a “linda história de Harold Fry”, que Blackmore já havia recomendado na BBC um tempo atrás.
FOTO: Jolyon Troscianko
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Meu amor por esse livro foi puramente pessoal. Eu vivo a apenas alguns quilômetros de Kingsbridge, a pequena cidade à beira do mar onde Harold inicia sua viagem. Enquanto caminha, ele passa por inúmeros lugares familiares para mim, muitos dos quais em que até já morei por perto. Mas outras razões são mais profundas e se aplicam a todos: o livro revela um casamento sem vida, trazendo a história de um homem que, sem ter a intenção, escapa e consegue transformar tanto a sua vida quanto a de sua esposa. Durante a história, achei maravilhoso perceber o modo como as lembranças, interpretadas por pessoas diferentes, podem ter efeitos tão poderosos. Um livro para aquecer o coração! -Susan Blackmore
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Rachel Joyce
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O livro indicado: A Improvável Jornada de Harold Fry Uma história em quadrinhos de uma família de gatos, todos vestidos com roupas de seres humanos, foi o primeiro contato de Rachel Joyce com a escrita. Na ocasião, ela tinha apenas seis anos. Dois anos depois, escreveu uma autobiografia. “Posso dizer que foi curta”, brinca a britânica. Apesar de ter mantido a caneta e o papel sempre ao alcance da mão, Joyce demorou até os cinquenta anos para tomar coragem e tornar públicos seus escritos, lançando A Improvável Jornada de Harold Fry, que foi sucesso imediato de crítica e público e um dos finalistas do Man Booker Prize de 2012. Quando criança, muito ansiosa e extremamente tímida, Joyce encontrou diversos problemas para lidar com “a vida real”. Odiava ir à escola, e hoje considera que, mesmo com tão pouca idade, era até um pouco depressiva. Encontrou sua válvula de escape nos livros. Com frequentes dores de barriga – algumas reais, outras nem tanto –, ficava em casa na companhia de seus personagens prediletos. Rachel ainda se lembra com carinho quão segura e confortável se sentia com seus companheiros literários. Ao longo do tempo, a garota tímida e reclusa foi se transformando, perdendo a vergonha, e depois de se formar em Inglês na Universidade de Bristol, ingressou na Royal Academy of Dramatic Arts a fim de se preparar para a carreira de atriz, estudando junto a atores como Clive Owen (de Rei Arthur) e Rebecca Pidgeon (de RED). Joyce trabalhou durante vinte anos no teatro e na televisão, desempenhando papéis principais na Royal Shakespeare Company, maior companhia de teatro da Inglaterra, com apresentações de destaque no Royal National Theatre, em Londres. Não foi à toa que muitos colegas se impressionaram quando Joyce desistiu da carreira de atriz. A escritora – na
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época, atriz – chegou a ganhar o Prêmio Time Out de melhor atriz do ano. O motivo, no entanto, não poderia ser mais nobre: seus filhos. Após a maternidade, não aguentava mais ter de viajar com tanta frequência, perdendo muitos momentos do crescimento das crianças. “A última temporada em que atuei com a Royal Shakespeare Company”, conta Joyce, “me obrigou a viajar durante toda a primeira semana de escola de minha filha mais velha. Toda noite, eu viajava de carro até Londres para poder levá-la à escola de manhã, mas partia meu coração saber que não chegaria a tempo de contar histórias para ela dormir. Meu próximo compromisso foi em Newcastle, e eu tive de ficar lá por uma semana inteira – durante todo o tempo, eu pensei que deveria estar em casa.” Logo depois de largar o teatro, Rachel conheceu um produtor de rádio, para quem apresentou a ideia que tinha para uma peça de rádioteatro – gênero incomum atualmente para nós, brasileiros, mas muito apreciado na Inglaterra. O produtor gostou da ideia, e encorajou-a a escrever o roteiro. Foi nesse momento que iniciou sua carreira de escritora: por dezesseis anos, Rachel Joyce escreveu peças para rádio, principalmente para a BBC, chegando a receber o Prêmio Tinniswood de Melhor Radiodramaturgia. E foi justamente no rádio que surgiu a ideia para seu primeiro livro. Quando descobriu que seu pai fora acometido de um câncer incurável, Rachel sentiu-se impotente, perdida em um mundo em que sempre teve seu pai como melhor amigo e conselheiro. Em sua homenagem, sentou e escreveu uma peça intitulada Ser um Peregrino, narrando a história de um homem chamado Harold Fry, que viaja para ajudar uma amiga a vencer o câncer. Após o lançamento, Joyce sentia a história incompleta, com muitas possibilidades não exploradas. A britânica, que sempre escreveu prosa secretamente, deu asas aos sonhos reprimidos, e decidiu publicar seu primeiro romance. Abandonou seu trabalho na rádio, recusou propostas para escrever peças como freelancer e focou todos os esforços naquele romance. Durante um ano e meio, dedicou-se única e exclusivamente ao livro. Com quatro filhos, a falta de um
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salário foi se tornando preocupante, e inúmeras vezes chegou à beira da desistência. A motivação, no entanto, permanecia a mesma: uma homenagem a seu pai. Aquele era o jeito que encontrara de ajudá-lo a permanecer vivo – mesmo sabendo que ele não conseguiria ler o resultado final. Foi assim que nasceu o mundo de Harold Fry. O livro não foi escrito linearmente, em sua mesa de trabalho – Joyce atesta ter se acostumado a levantar no meio da noite para anotar uma ideia, ter de parar o carro para registrar o que lhe veio durante o trânsito ou até escrever no escuro do cinema. Isso sem falar nas diversas vezes em que ditou para seus filhos: certa feita, encontrou no fundo de sua bolsa um bilhete escrito por sua filha mais nova, com a pergunta “Qual a atitud de Harold com o álcol?”. A primeira página do livro apresenta-nos uma família inglesa perfeitamente comum: um casal de aposentados conversando sobre o café da manhã e pensando nas tarefas domésticas a serem realizadas durante o dia. Não acontece muita coisa na vida de Harold Fry. Aos sessenta e cinco anos, vive com Maureen, sua esposa, uma confortável aposentadoria em um pequeno subúrbio no sul da Inglaterra. É necessária a chegada de uma inesperada carta para fazer Harold se preocupar com algo mais do que cortar a grama: Queenie Hennessy, com quem trabalhou anos antes em uma cervejaria e em quem não pensava havia muito tempo, escreve de um hospital em Berwick-uponTweed, cidade no extremo norte da Inglaterra, para contar que está com um câncer terminal e deseja se despedir. Abalado com a lembrança da amiga, com quem não falava havia muito tempo, Harold sai para postar no correio a carta que escreveu em resposta. No caminho, porém, enchese de dúvidas quanto à sua carta, insatisfeito com a frieza e a distância que suas palavras carregam. Decide, então, caminhar até o posto de correio seguinte, pensando em uma maneira mais apropriada de responder. Ao chegar ao próximo posto, Harold desiste novamente de enviar sua carta e posterga a decisão. Inesperadamente, quanto mais caminha, mais sente a importância de sua resposta a Queenie, até que, por fim, Harold
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decide que irá caminhar até Berwick-upon-Tweed para encontrála pessoalmente. O ato de caminhar transforma-se, para Harold, em um ato de fé – de mais de oitocentos quilômetros.
Estou a caminho. Você só precisa esperar. Porque eu vou salvá-la, entendeu? Eu vou continuar caminhando e você precisa continuar viva. –Harold Fry, trecho retirado do livro
Para aventureiros experientes, uma viagem dessa magnitude requereria tênis resistentes e confortáveis, equipamento completo de camping e roupas à prova d’água. Harold, entretanto, veste apenas camisa, gravata e sapatos dockside, sem nenhuma experiência em acampar. Sem telefone celular, com pouco contato com Maureen ou com qualquer outro conhecido, Harold inicia uma viagem difícil e solitária, não apenas para encontrar Queenie, mas para se reencontrar também. Durante o trajeto, permite-se mergulhar em lembranças dolorosas: o filho, David, que fala apenas com Maureen; a mãe, que o abandonou quando ainda era pequeno; o modo como traiu a confiança de Queenie quando trabalhavam juntos. É difícil dizer se a viagem é mais complicada para Harold ou para Maureen. Seu casamento havia esfriado, e eles mal conversavam nos últimos anos. A cada dia que passa, as dúvidas de Maureen quanto à viagem de Harold aumentam, gerando desconfiança quanto à sinceridade do marido. Alternando capítulos sob o ponto de vista de Harold e de Maureen, Rachel Joyce vai explicando os motivos da ruptura entre os cônjuges com o desenrolar da história, bem como o sentimento de cada um ao se encontrarem sozinhos após tanto tempo. Dessa forma, a autora manipula a opinião dos leitores, e nos deixa sem saber o que realmente está acontecendo por trás das cortinas. Muito mais do que um livro sobre o amor, A Improvável Jornada de Harold Fry é sobre todas as coisas cotidianas que Harold descobre a partir do simples processo de “colocar um pé em frente ao outro”.
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O livro é sobre pessoas comuns, tendo que lidar com coisas extraordinárias, de maneiras comuns. –Rachel Joyce
Rachel Joyce admite gostar de adicionar fatos reais às suas personagens. “Eu observo as pessoas. E os personagens dos meus livros são pessoas que já observei ao longo da minha vida.” Em A Improvável Jornada de Harold Fry, é claro, há muito de seu pai: Harold, sempre de gravata, não consegue deixar os costumes para trás. Quando Rachel foi visitar seu pai no hospital depois de uma cirurgia, mesmo estando em péssimas condições, encontrou-o vestindo paletó e gravata. Após a perda do marido, a mãe de Rachel queria lhe fazer uma homenagem, adotando um banco de um parque e dando o seu nome. Depois do lançamento do livro, entretanto, ela falou a Rachel: “Sabe, acho que não preciso mais fazer um banco em memória dele”. Por ser o primeiro livro, Rachel não depositava tanta esperança em seu sucesso. Quando uma editora italiana confirmou o lançamento em seu país, Rachel derramou vinho tinto por todo o tapete branco de sua sala de estar ao comemorar com o marido. Uma editora alemã, ao finalizar a leitura, ligou chorando para Joyce, dizendo-lhe que precisava publicar o livro. Rachel e o marido pulavam como crianças, incrédulos. Rapidamente, A Improvável Jornada de Harold Fry vendeu mais de cem mil cópias apenas no continente europeu, e foi publicado em mais de trinta países – hoje, já vendeu mais de dois milhões de exemplares. Em 2012, o livro foi um dos finalistas do Man Booker Prize, prêmio literário de maior prestígio do Reino Unido, e Joyce foi considerada a “Nova Escritora do Ano”, na premiação National Book Award. Desde então, Rachel já publicou quatro livros. Operação Perfeito (2013), seu segundo livro, também muito elogiado pela crítica, foi publicado no Brasil pela Suma de Letras em 2015. Como diz o jornal The Times, depois que você se apega a Harold, é “impossível parar de ler”. Agora, prepare seu tênis mais confortável, pois a jornada com Harold não é fácil. Boa caminhada!
ECOS DA LEITURA
Ecos da Leitura 17
A Canção de Amor de Queenie Hennessy
Estou começando a perceber que eu não escrevo as coisas que pretendo escrever. Eu definitivamente não iria escrever outro romance sobre Harold Fry (quando me perguntavam se haveria uma sequência, sempre neguei). De repente, lá estava eu: escrevendo uma sequência. –Rachel Joyce
O motivo? Um pensamento repentino, e não mais do que isso, de que ela não tinha finalizado a história. Percebeu que não tinha dado espaço suficiente para Queenie Hennessy. É claro que não poderia inserir o lado de Queenie dentro de A Improvável Jornada de Harold Fry, pois isso acabaria com a tensão e curiosidade do leitor sobre como ela está e se Harold chegaria a tempo. No entanto, Rachel sentiu um vazio por não ter compartilhado o lado de Queenie. Quando decidiu abrir-se para a possibilidade de um novo livro, teve uma enxurrada de ideias – o título, os personagens, o enredo, tudo surgiu facilmente. Não teve alternativa a não ser abandonar o livro que estava escrevendo e começar imediatamente a nova história, intitulada The Love Song of Miss Queenie Hennessy (A Canção de Amor de Queenie Hennessy, tradução livre). O livro ainda não tem previsão de chegada no Brasil. Agora, com os associados da TAG, a editora Suma de Letras ganhou uma legião de novos leitores que aguardarão ansiosos pelo lançamento!
18 Ecos da Leitura
A Viagem de Harold Fry
Descrever uma viagem em um livro nem sempre é tarefa fácil. Rachel Joyce conta que teve de fazer inúmeras pesquisas sobre todos os lugares visitados por Harold. Além de visitar presencialmente os locais, rasgou os mapas que tinha em casa para mantê-los em sua escrivaninha. Um dia, Paul, seu marido, ligou irritado, gritando que estava perdido em uma estrada e que o mapa pulava direto da página 5 para a página 38. Agora, assim como Maureen acompanha a viagem de Harold pelo mapa, você também poderá! Quem sabe você não se anima a fazer esse trajeto em suas próximas férias?
Ecos da Leitura 19
Escรณcia
Berwick
Kelso
Wooler Alnwick Cambo Newcastle
Hexham
Darlington Ripon Harrogate Leeds Wakefield Barnsley Sheffield Chesterfield
Ashby de la Zouch
PAร S DE GALES Stratford Stroud
Cheltenham
Nailsworth
Wells Bagley Green Taunton Tiverton Thorverton South Brent Kingsbridge
Buckfast Abbey Loddiswell
Warwick
INGLATERRA
20 Ecos da Leitura
Jim Broadbent
Indicação Mês 21 Ecos da do Leitura
Jim Broadbent, O Narrador O premiado ator britânico Jim Broadbent, vencedor do Oscar e de dois Globos de Ouro, tem uma relação forte com os livros. Não por participar de filmes adaptados de obras literárias, como o fez em Cloud Atlas e em Harry Potter, mas por atuar como narrador de alguns audiobooks – apenas como hobby de um voraz leitor. Além de alguns livros infantis, Broadbent optou por narrar a história de Harold Fry em sua busca por Queenie Hennessy. E o resultado foi um sucesso, com ampla divulgação na internet pela qualidade da narração – afinal, não é todo dia que se encontra um livro sendo contado por um vencedor do Oscar. Procure no Youtube “Jim Broadbent Harold Fry”, (ou entre direto pelo QR Code abaixo ) e assista ao vídeo que contém a abertura do livro. Uma experiência literária divertida – e inusitada – é deixar o vídeo rolar com a voz de Broadbent, enquanto o leitor vai acompanhando a história pelo livro!
22 Ecos da Leitura
O Peregrino O título original do livro indicado por Susan Blackmore é The Unlikely Pilgrimage of Harold Fry. Se fosse traduzido literalmente, seria utilizada a palavra “peregrinação”, em vez de “jornada”. Joyce deixa claro, na abertura do livro, sua inspiração para o título: a obra O Peregrino, de John Bunyan. Considerado pelo jornal The Guardian um dos cem melhores livros já escritos em língua inglesa, O Peregrino foi traduzido para mais de duzentas línguas desde seu lançamento, em 1678. Assim como Miguel de Cervantes, que teve a ideia para Dom Quixote em uma prisão, John Bunyan estava encarcerado quando redigiu a obra. O livro, que mescla fatos reais com ficção, foi fonte de inspiração para grandes autores, como CS Lewis, John Steinbeck e Charlotte Brontë. Em As Aventuras de Hucleberry Finn, Mark Twain compara Huck com “o homem que sai de casa sem rumo”, marcante personagem de O Peregrino. Reza a lenda que, em seus mais de trezentos anos, o livro nunca deixou de ser impresso! Aquele que possui verdadeiro valor, Que toma a linha de frente; E nela assim permanece Contra o vento, contra a tempestade Nenhum temor o esmorecerá Ou fará com que desista Do seu primeiro e confirmado intento De ser um peregrino. O Peregrino, John Bunyan
Ecos da Leitura 23
24 Ecos da Leitura
“Velhinhos” Literários A decisão de Joyce de escrever sobre um homem de sessenta e cinco anos levou-a a uma posição de destaque na literatura contemporânea. A maior parte dos protagonistas que encontramos em nossas bibliotecas são jovens, e mesmo em livros que tratam de pessoas idosas – como O Assassino Cego, de Margaret Atwood, ou Os Escritos Secretos, de Sebastian Barry – a história é contada a partir de lembranças dos personagens quando jovens. Rachel Joyce, pelo contrário, escolheu para seu personagem principal um homem aposentado. Para fazer companhia a Harold Fry, a TAG selecionou alguns outros velhinhos de destaque na literatura.
Uma parte de mim queria celebrar as pessoas que não se destacam, que são deixadas para trás. –Rachel Joyce
Miss Marple Miss Marple, uma senhora solteirona que vive no vilarejo de St. Mary Mead e atua como detetive amadora, é uma das mais amadas personagens de Agatha Christie, presente em doze romances e vinte contos. Sua primeira aparição foi em Assassinato na Casa do Pastor, publicado em 1930.
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Allan Karlsson Com O Ancião que Saiu pela Janela e Desapareceu (2009), o escritor sueco Jonas Jonasson lançou um sério concorrente ao posto de viajante mais excêntrico: trata-se de Allan Karlsson, um velhinho teimoso que foge do asilo no dia de seu aniversário de cem anos, e termina numa corrida frenética — e de pijamas — pela Suécia. O romance, que chegou ao Brasil em 2013, já vendeu mais de 4 milhões de exemplares ao redor do mundo.
Simon Axler Publicado em 2009, o livro A Humilhação, de Philip Roth, traz a história de Simon Axler, um renomado ator de teatro que, aos sessenta e cinco anos, constata que não sabe mais atuar. De uma hora para outra, toda sua autoconfiança se esvai, e sua vida entra numa espiral de perdas: sua mulher vai embora, o público o abandona e seu agente não consegue convencê-lo a retomar o trabalho. Obcecado com a ideia do suicídio, Simon internase numa clínica psiquiátrica. Peter Kien Com uma linda edição publicada pela (já saudosa) editora Cosac Naify, a obra foi banida durante o nazismo e tratada por Thomas Mann como um livro à frente de seu tempo. Peter Kien, o protagonista, é grande conhecedor de línguas antigas, e proprietário da mais importante livraria privada de sua cidade. Já em idade mais avançada, achando que poderá melhorar sua vida, Kien casase com a governanta, que se mostra mesquinha e manipuladora após o casamento.
26 Espaço do Leitor
Espaço do Leitor O Bruno Pereira, nosso associado de Taubaté, São Paulo, começou sua jornada literária com a TAG em dezembro do ano passado. Seu primeiro livro foi Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez, indicado pela neurocientista Suzana Herculano. Logo que recebeu o kit, Bruno postou uma foto no Instagram, e redigiu esse belo texto!
Espaço do Leitor 27
Recebi a primeira remessa do clube de livros TAG: à minha coleção de seis romances de Gabriel García Márquez agora se soma essa coletânea de contos, escritos por esse que talvez seja o expoente máximo do realismo mágico. Se quando leio Carroll, Martin ou Tolkien, vivo a fantasia, é quando leio Gabo (mais do que Cortázar ou mesmo Borges) que vivo o sonhar: a presença difusa e alinear do tempo, o absurdo e o fantástico dissolvidos no trivial da normalidade, a percepção, por sensação ou intuição, precisa e clarividente, mas inexplicável; tudo o que caracteriza aquele gostoso sonhar - o onírico mesmo - está na obra de García Márquez. E mais do que isso, é quando leio Gabo que eu me permito a suspensão da descrença. Cético implacável que sou, meu mundo é, desde os meus quinze anos, feito de fatos brutos, desmagificado: a magia (o sobrenatural; o “arracional”, se me permitem o neologismo) ficou para os que acreditam em qualquer religiosidade, espiritualidade, superstição ou qualquer outra crença que o valha. Descrente, meu mundo é só imanência. Mas Gabo é mágico disfarçado de escritor. E quem, ao ver um habilidoso mágico prestidigitando seus truques, não deseja acreditar, ainda que por alguns instantes, que aqueles meros truques sejam mesmo mágicas? Pois quando leio García Márquez me permito viver um mundo magificado, onde o encantamento despretensiosamente convive com o natural, onde o espaço não tem tempo, e onde a razão do ser não tem razão de ser. É onde, nesse sonhar acordado, eu que sou mais Aureliano do que Arcardio, suspendo a descrença e, vivendo o sonhar, passo do bruto da imanência ao ilimitado da transcendência. E quando retorno, penso: a realidade deveria ser proibida. Vou-me embora pra Macondo.
A INDICAÇÃO DE ABRIL
Um livro excepcional, daqueles que ficam tamborilando na alma anos depois, e que deve ser relido com o tempo. É uma vida comum narrada de forma arrebatadora. Chorei em vários momentos, e o final é lindo! – Letícia Wierzchowski, escritora brasileira
Filho de camponeses, o protagonista do livro deste mês vai à cidade grande dar o passo que seus pais não puderam: ir à faculdade. Porém, logo em uma de suas primeiras aulas, seu professor declama um soneto de Shakespeare, e as palavras penetram na alma do jovem camponês, que abandona o curso de Agronomia para dedicar-se à Literatura. Nascido no mesmo ano que Jack Kerouac, o autor seguiu por caminhos distintos daqueles percorridos pela geração beat. Em vez de viagens, drogas e sexo, seu romance se passa dentro de uma universidade, e seu protagonista, assim como o autor, não é um jovem aventureiro, mas um professor de literatura. Talvez por isso, após ter sido publicado na década de sessenta, tenha permanecido por anos longe dos holofotes: seus fãs eram outros escritores, críticos literários e leitores cult. Até que uma famosa escritora francesa decidiu, cinquenta anos depois, publicálo na Europa, para instantâneo – e surpreendente – sucesso. Informações completas a respeito do curador do mês e do livro recomendado podem ser encontradas em www.taglivros.com.br ou então na revista do próximo mês. Caso já tenha lido o livro, envie e-mail para contato@taglivros.com.br para conhecer as alternativas.
Este foi nosso kit de dezembro de 2015, sobre o qual o nosso associado Bruno escreveu o texto. Caso queira adquirir algum kit passado, basta enviar e-mail para contato@taglivros.com.br!
Como a literatura, o amor e a dor, as viagens são uma bela ocasião para nos encontrarmos com nós próprios. – Marguerite Yourcenar
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