A vida secreta dos escritores
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Edição Fernanda Grabauska Redação Débora Sander Luísa Santini Januário produto@taglivros.com.br Revisão Caroline Cardoso Rafael Balsemão Impressão Gráfica Eskenazi Projeto Gráfico e Capa Bruno Miguell M. Mesquita Gabriela Basso Kalany Ballardin Paula Hentges design@taglivros.com.br
Oi, tagger! A gente te dá as boas-vindas a Beaumont, um paraíso em forma de ilha na costa do Mediterrâneo. É lá onde vive o misterioso autor Nathan Fawles. Nathan, depois de conquistar uma legião de fãs com seus livros, anuncia que se retira da vida pública em 1999 e se junta ao rol de escritores reclusos que ocupa a mente dos fãs de literatura. Em 2018, um jovem fã de Fawles chega à ilha para descobrir o paradeiro de seu herói ao mesmo tempo que Mathilde, uma jornalista dedicada a descobrir a verdade sobre o autor. Daí em diante, uma trama de crimes, traições, amor e muita escrita se desvela para você, tagger. Nesta revista, apresentamos um pouco das paragens nas quais o francês Guillaume Musso se inspirou para criar o refúgio de Fawles. Mergulhamos também em um tópico que fascina dez em cada dez dos fãs de literatura: os misteriosos artistas que, como Nathan Fawles, somem do olhar público. E, se você gostou dos insights proporcionados por Musso sobre a mente dos escritores, também poderá explorar mais a respeito daquilo que motiva os autores – seja na ficção, seja na vida real. Boa leitura!
Este mês na sua caixinha O projeto gráfico de A vida secreta dos escritores é inspirado na Rosa Escarlate, única livraria da ilha fictícia de Beaumont, onde se passa a história do mês. Assim como tantos outros estabelecimentos do gênero, a livraria guarda as mais diversas histórias, romances e ficções — mas, ao mesmo tempo, também esconde a sete chaves muitos segredos do passado. O mimo, por sua vez, faz alusão a uma câmera fotográfica, elemento importante que funciona como uma pista para desvendar os crimes que envolvem a trama. Em formato de câmera Polaroid, o porta-canetas temático acompanha um bloco de anotações e pode ser utilizado tanto no seu escritório pessoal quanto para decorar sua estante de livros.
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Sumário 04
Entre livros e mistérios
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Entrevista com o autor
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Conheça a Ilha de Beaumont
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Ler para escrever
14
Longe dos flashes
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Próximo mês
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O livro enviado
Entre livros e mistérios Que segredos guardam os escritores? Texto: Débora Sander
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Talvez a pergunta seja outra: que segredos guardamos, cada um e todos nós, na banalidade mundana das nossas vidas diárias, nas angústias da atividade que exercemos como ofício, nas relações que estabelecemos conosco e com os outros? Os complexos mistérios das histórias dos livros e da História da humanidade se misturam às sutis e grandiosas descobertas da vida privada de cada indivíduo. Ao passar os olhos pelo índice de A vida secreta dos escritores, a impressão é de que estamos prestes a iniciar uma obra teórica sobre escrita, mas não se engane: o francês Guillaume Musso, autor do livro deste mês, nos conduz por uma envolvente trama de mistério, capaz de prender o leitor do início ao fim. A narrativa é regada por múltiplas reflexões sobre o ofício da escrita, que dialogam não só com os escritores, mas com os amantes da literatura e dos mistérios de todas as dimensões, dos corriqueiros aos grandiosos. O enredo de A vida secreta dos escritores tem origem em 1999, quando o premiado escritor Nathan Fawles subitamente anuncia sua saída da cena literária e passa a viver na Ilha Beaumont, lugarejo
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remoto e enigmático em meio ao Mar Mediterrâneo. Quase vinte anos depois, em 2018, ainda flutuam especulações sobre a motivação da sua retirada em pleno auge, mas o escritor recusa qualquer entrevista ou contato público e insiste que a reclusão não carrega mistério algum além da simples desmotivação. Paralelamente, um jovem escritor de Paris, fã de Fawles, vai passar alguns meses trabalhando na ilha e nutre a expectativa de interagir com seu ídolo. A chegada de uma jornalista suíça que se engaja em estratégias para se aproximar do célebre escritor e a descoberta do cadáver de uma mulher em uma das praias da região completam os elementos que formam o mosaico central da narrativa.
Os complexos mistérios das histórias dos livros e da História da humanidade se misturam às sutis e grandiosas descobertas da vida privada de cada indivíduo. N
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Associando referências do mundo real com cenário e personagens ficcionais, o autor preza pelas descrições ricas em detalhes, fazendo o leitor pensar duas vezes sobre a linha que separa a realidade da ficção. Na abertura de um dos capítulos, Musso recorre às palavras do escritor tcheco Franz Kafka: “É difícil dizer a verdade, pois só existe uma, mas ela está viva e, consequentemente, tem um rosto cambiante”. O livro deste mês joga luz sobre o trabalho e os processos invisíveis por trás dos livros que amamos, dando tons de ficção ao que é tangível e ares de concretude às histórias inventadas. 7
“Os livros são lidos através da vida de seus autores” Levando "não" depois de "não" ao entregar seus manuscritos a editores, Guillaume Musso perseverou até se tornar o escritor mais vendido da França acreditando no valor dos universos que criava – muito como Raphaël em A vida secreta dos escritores. Nesta entrevista, concedida por e-mail para a TAG, ele fala sobre o ofício de escrever, sobre romancistas que ousam viver longe do público e sobre as verdades indizíveis da ficção.
TAG – A vida secreta dos escritores é uma história perpassada por diversas perspectivas sobre a arte da escrita, do ponto de vista dos personagens, que são escritores, e de autores renomados. Na sua opinião, qual é o sentido de escrever? Quais são as alegrias e as angústias de ser escritor?
Texto: Débora Sander Tradução: Paula Volkart Dutra 8
Guillaume Musso – O que está na origem do ato de escrever, muitas vezes, é o desejo de controlar alguma coisa. Nós controlamos apenas de maneira muito imperfeita nossas vidas. A tentação é grande de imaginar que, na ficção, o escritor teria a
capacidade de corrigir as imperfeições e descrever a realidade não tal qual ela é, mas tal qual ela deveria ser. Nabokov afirmava que seus personagens eram “súditos” que deviam fazer exatamente o que ele mandava. Mas, às vezes, acontece de o romancista se deparar com personagens teimosos, que querem se emancipar de seu criador – isto é, querem fazer coisas que, a princípio, não tínhamos predestinado para eles. Para mim, a escrita é, ao mesmo tempo, “uma alegria e um sofrimento”, como poderiam afirmar certos personagens dos filmes de François Truffaut. De qualquer modo, há quinze anos eu me pergunto todas as manhãs, ao me instalar na frente do computador, o que meus personagens me reservarão hoje. Eu tenho em mente apenas uma regra de escrita: sempre tentar, na medida do possível, escrever o romance que eu gostaria de ler enquanto leitor.
Ao longo da narrativa, você faz referência a dezenas de autores, de J. K. Rowling a William Shakespeare. Um escritor é sempre composto de outros escritores? Quais autores e obras mais marcaram sua vida e escrita? O personagem de Nathan Fawles apresenta certos traços de escritores que aprecio e pelos quais me interesso há anos. No personagem, há um pouco de J. D. Salinger, Milan Kundera, Elena Ferrante, Philip Roth… Para começar, Salinger representa a figura do escritor que se tornou prisioneiro do sucesso de seu livro a ponto de (quase) não querer mais publicar novos. Já outros, como Kundera, se mostraram tão receosos com a mídia que se recusaram, durante algumas décadas, a dar entrevistas. Ainda há aqueles que, como Elena Ferrante, escolheram não revelar sua verdadeira identidade. Por fim, Roth surpreendeu seus leitores ao anunciar que não escreveria mais romances. Sempre fui fascinado por esses romancistas capazes de fixar suas próprias regras, de se afastar 9
do ritual da promoção e de não corresponder mais às expectativas do sistema literário para ganhar certa liberdade. Penso que, muitas vezes, os livros são lidos através da vida e da reputação de seus autores ou, então, através das etiquetas que colocaram sobre eles. Ferrante resume isso em uma bela passagem: “Eu não acho que os livros necessitem de seus autores. Uma vez escritos, se eles têm algo a contar, acabarão cedo ou tarde por encontrar leitores. Mesmo Tolstói é uma sombra insignificante quando caminha ao lado de Anna Karenina”.
Como se deu seu processo de se tornar um escritor? O que inicialmente o motivou a escrever? Sem dúvida, como expliquei acima, a vontade de construir uma realidade alternativa que eu poderia controlar melhor que minha própria vida! Quando eu comecei a escrever, eu era muito parecido com o personagem Raphaël Bataille, o escritor inexperiente que descrevo no romance. Sentia o mesmo sentimento, uma mistura de liberdade e angústia que conduz a escrita do primeiro romance. Assim como eu na sua idade, Raphaël Bataille, com 24 anos, não conhece ninguém no mundo da edição e envia seus manuscritos pelo correio. Ele vive um momento de dúvida quando seu manuscrito é recusado por diversas editoras. Mas ele se mantém animado graças a uma espécie de certeza íntima de seu valor. Ele se maravilha, acima de tudo, com o poder das palavras, capazes, como dizia Huxley, de “transpor qualquer coisa, assim como o raio X”, conforme a maneira como as escolhemos e as organizamos.
A intersecção entre a realidade e a ficção está presente de diversas maneiras em A vida secreta dos escritores. No epílogo, você declara que todo elemento da realidade é uma fonte potencial de inspiração e de matéria para a ficção. 10
Por outro lado, como o contato com a ficção afeta a realidade do escritor e do leitor? As relações entre realidade e ficção remetem a duas perguntas que fazem frequentemente aos romancistas: “De onde vem a inspiração?”, seguida, inevitavelmente, por “Há um elemento autobiográfico na sua história?”. Duas perguntas que nunca são fáceis de responder. Decodificar os mecanismos de criação pressupõe poder voltar às origens da imaginação, que é uma nebulosa de ideias, flashes, memórias, lampejos, às vezes vindos de não se sabe onde, e é inútil querer racionalizar. É nesse sentido que o romance A vida secreta dos escritores se mostra uma possível resposta. Em uma espécie de quebra-cabeças literário, ele ilustra o misterioso processo do qual nasce a escrita: tudo é, potencialmente, uma fonte de inspiração e material de ficção, mas nada se encontra em um romance tal qual nós vimos, vivemos ou conhecemos. “A arte é uma mentira que fala a verdade”, dizia Picasso, e Philip Roth chamava a atenção para o fato de que o romance “fornece àquele que o inventa uma mentira através da qual ele expressa sua verdade indizível”. Enfim, é interessante notar que o processo se dá nos dois sentidos: a vida real é fonte da ficção, mas esta vai, por sua vez, contaminar a vida real. “Um escritor nunca está de férias”, lembrava Ionesco. “Para um escritor, a vida consiste em escrever ou pensar em escrever”.
Você poderia deixar um recado aos associados que receberão seu livro em casa? Eu desejo a vocês uma belíssima leitura. Agora é a vez de vocês brincarem! A leitura tem isso de fascinante: ela precisa da cooperação ativa do leitor. Todo mundo lê o mesmo livro, mas cada um cria para si suas próprias imagens. O autor percorre apenas a primeira metade do caminho antes de passar o bastão ao seu leitor, que terminará de dar a volta na pista. 11
Conheça a Ilha de Beaumont O cenário de A vida secreta dos escritores é a fictícia ilha de Beaumont, situada no Mar Mediterrâneo. A pequena extensão de terra em formato de croissant é banhada por águas cristalinas e repleta de praias de areia fina, angras e pinheiros. A ilha privada tem uma estável população de 1,5 mil habitantes que fazem o possível para garantir a preservação da região e o bem-estar dos moradores, protegendo Beaumont do turismo nocivo e dos especuladores. Com apenas três horários de barco por dia para acessar a ilha, sem imobiliárias nem hotéis, Beaumont se mantém um lugar remoto e misterioso. É lá que Nathan Fawles vai viver após sua retirada da cena literária. Embora não exista de fato, a ilha foi criada usando elementos de lugares reais. A lista abaixo vai incrementar sua imaginação!
Bolinas, Califórnia (EUA) Situada a 90 minutos ao norte de São Francisco, Bolinas é uma cidade litorânea que, pelo temperamento recluso dos seus habitantes e pela sua condição geográfica, tem um caráter remoto e pouco acessível. Com uma população de cerca de 1,5 mil pessoas, tem seu desenvolvimento controlado pela restrição no número de hidrômetros – a última vez que instalaram um novo foi em 1971. Outra curiosidade é que os moradores locais costumam retirar as placas de sinalização que indicam o acesso a Bolinas pela estrada para evitar o aumento da circulação na cidade. Assim como na ilha ficcional criada por Musso, a preocupação dos habitantes é com a preservação do local, evitando o domínio dos turistas e a especulação imobiliária. 12
Bolinas
Ilha d
Ilha de Skye, Escócia Ligada por uma ponte à costa noroeste da Escócia – região conhecida como Terras Altas –, Skye tem uma paisagem da qual se destacam imponentes conjuntos montanhosos, castelos medievais, lagos e praias. Com 1.600 km² e 10 mil habitantes, a ilha não conta com grandes aglomerações urbanas – a cidade mais populosa, Portree, tem apenas 2,5 mil moradores. Sua natureza exuberante e altamente preservada faz de Skye o terceiro destino mais visitado do país, atrás de Edimburgo e do Lago Ness.
Ilha de Skye
de Porquerolles
Ilha de Hidra
Ilha de Porquerolles, França Situada ao sul da França, a 20 minutos de Hyères, entre Marselha e Cannes, a ilha foi comprada pelo governo francês nos anos 1970 e promovida a parque nacional para garantir sua preservação. Porquerolles abriga um vilarejo do século XIX e praias de areia clara e água límpida em tons de azul e verde. Com apenas 200 habitantes, o local remete à Riviera Francesa de séculos atrás, abundante em espécies típicas da flora do Mediterrâneo como carvalho, oliveira, lavanda, morango e mirtilo.
Ilha de Hidra, Grécia Localizada no mar Egeu, a duas horas ao sul de Atenas, Hidra tem apenas 64 km² e não permite a circulação em veículos motorizados, limitando as opções de deslocamento a caminhadas, barcos ou o transporte nas costas de burros – alternativa controversa para muitos visitantes. A preservação da arquitetura original do século XIX e a restrição a novas construções garantem o ar pitoresco da ilha. A região não conta com grandes redes hoteleiras, apenas com pequenos hotéis instalados em antigos casarões ou quartos para alugar nas casas dos moradores. 13
Ler para escrever Para quem quer ser um escritor, para quem escreve por hobby e mesmo para os apreciadores e curiosos da leitura, explorar obras sobre o ato da escrita é uma forma de acessar o processo criativo que precede as grandes histórias e de se conectar filosoficamente com aquilo que nos move a escrever. Para quem ficou com vontade de mergulhar no pensamento de tantos outros autores que já compartilharam suas visões sobre o próprio ofício, aqui vão algumas dicas: Cartas a um jovem escritor (1997) Mario Vargas Llosa O escritor peruano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura e autor de obras como Travessuras da menina má (2006) e A Cidade e os cachorros (1963), discorre, nesta fluida e agradável leitura, sobre técnicas narrativas e os hábitos que formam um bom escritor. Llosa analisa autores como Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Jorge Luis Borges e William Faulkner. Para ele, é inevitável que o escritor use suas próprias experiências como combustível para criar histórias, misturando sempre, em algum nível, a ficção com a vida concreta. Ele situa a escrita como uma “servidão livremente escolhida” e afirma que o escritor não escolhe temas, mas é escolhido por eles. Haroun e o mar de histórias (1990) Salman Rushdie Esta obra do escritor britânico-indiano foi publicada dois anos após o lançamento do polêmico Versos satânicos (1988), tido como ofensivo ao profeta Maomé e censurado em diversos países de fé islâmica. A situação rendeu a Rushdie uma ordem de execução pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini, líder iraniano. Em função disso, o romancista teve que viver no anonimato por vários anos. Em Haroun e o mar de histórias, um contador de histórias chamado 14
Rashid subitamente perde o dom da palavra, e seu filho Haroun embarca numa aventura para encontrar as palavras perdidas e vencer a escuridão e o silêncio. A obra infanto-juvenil está longe de ser indicada apenas para jovens, e é imperdível para qualquer um que queira refletir sobre o poder da fantasia, a pretensa dualidade entre o real e o inventado e os ataques à liberdade de expressão.
Romancista como vocação (2015) Haruki Murakami O aclamado escritor japonês, autor enviado pela TAG em julho de 2020, discorre nesta obra sobre o ofício da escrita, a paixão pela literatura e sua bagagem na carreira literária. Também conhecido por sua personalidade mais reservada, Murakami oferece ao leitor de Romancista como vocação o contato com algumas de suas visões pessoais, misturando detalhes de sua vida com reflexões sobre o fazer literário. Ele destaca a persistência e a regularidade como elementos cruciais para que a escrita possa existir enquanto ofício – para ele, o desafio não é escrever, mas continuar escrevendo.
Texto: Débora Sander
O romancista ingênuo e o sentimental (2010) Orhan Pamuk Neste livro, o escritor turco ganhador do Prêmio Nobel de Literatura reúne seis aulas sobre a arte do romance, proferidas durante as conferências Charles Eliot Norton, na Universidade de Harvard. O título é uma referência ao ensaio de Friedrich Schiller “Sobre a poesia ingênua e sentimental”, datado do final do século XVIII. Nesta obra, Pamuk faz uma retrospectiva histórica pela literatura ocidental, situando o romance como um gênero geralmente tratado a partir da perspectiva europeia. O escritor busca ampliar essa visão, destacando os diferentes papéis que as práticas da leitura e da escrita ocupam em países periféricos. Pamuk também publicou em 2007 a obra A Maleta do meu pai, outro compilado relevante de discursos sobre o processo criativo na literatura e o significado da arte, incluindo sua fala para a cerimônia do Prêmio Nobel. 15
Longe dos flashes
Elena Ferrante
Ao nos depararmos com histórias que reverberam questões íntimas da nossa existência, encontramos nos livros ferramentas potentes de compreensão do mundo e criação da nossa própria identidade. Isso pode ajudar a explicar por que, quando nos sentimos abraçados por um livro, é despertada a curiosidade pelo seu autor – afinal, é como se aquela pessoa que nem conhecemos tivesse nos dado esse abraço acolhedor. Os escritores que optam por um certo nível de reclusão, evitando a exposição excessiva de sua vida privada, podem gerar angústia em seus admiradores. Enquanto leitores, queremos beber mais daquela fonte: devoramos todos os livros do autor, mas a vontade é de entrar na mente de quem criou aquela história que conversa tanto conosco. Resta reconstruir o escritor na nossa cabeça, como um personagem de ficção que ousamos criar. Conheça (até onde é possível) os escritores que inspiraram Guillaume Musso a criar o personagem Nathan Fawles.
Texto: Débora Sander 16
A aclamada romancista italiana, autora da Tetralogia Napolitana, é possivelmente um dos casos mais instigantes de escritores reclusos. Com livros traduzidos para mais de 40 idiomas e milhões de exemplares vendidos no mundo todo, a escritora usa o pseudônimo Elena Ferrante para publicar seus trabalhos e nunca revelou sua identidade. As raras entrevistas são concedidas por escrito, contando com o intermédio de sua editora. Na obra Frantumaglia – Os caminhos de uma escritora (2003), ela justifica a escolha de resguardar sua identidade e evitar manifestações públicas. "Eu acredito que os livros não precisam dos seus autores para nada depois de escritos. Se tiverem alguma coisa para contar, mais cedo ou mais tarde encontrarão leitores; se não, não”, afirma. Na narrativa, é possível ter um contato um pouco mais próximo com a pessoa por trás da obra, mas, ainda assim, a discrição é mantida e o livro não traz grandes pistas sobre quem seria a escritora.
J.D. Salinger
Ganhador de prêmios como o Pulitzer, o Man Booker e o Príncipe das Astúrias, Roth é autor da aclamada trilogia composta de Pastoral americana (1997), Casei com um comunista (1998) e A marca humana (2001). Ficou conhecido pelo alter ego Nathan Zuckermann, que protagoniza várias de suas dezenas de obras. A mistura entre as personalidades de Roth e Zuckermann se evidencia de forma mais clara na obra Os fatos (1988), que traz uma série de cartas entre o escritor e seu alter ego. O autor, um dos mais relevantes da literatura americana, também provoca em suas narrativas a inesgotável reflexão sobre os limites entre realidade e ficção. Em 2012, aos 79 anos, anunciou sua aposentadoria e se retirou da cena literária. Faleceu aos 85 anos, em maio de 2018.
Philip Roth
Autor do clássico da literatura O apanhador no campo de centeio (1951), Salinger permaneceu bastante reservado ao longo dos anos que se seguiram ao lançamento da obra. Com quatro livros e alguns contos em seu histórico de trabalhos, teve sua última narrativa publicada em 1965 na revista The New Yorker. Sua aparição pública mais recente aconteceu em 1974, quando, após mais de vinte anos sem conceder entrevistas, falou ao jornal The New York Times. Na ocasião, afirmou: “Há uma paz maravilhosa em não publicar (...). Publicar é uma invasão terrível da minha privacidade”. A partir de então, Salinger ficou recluso até seu falecimento, em janeiro de 2010, aos 91 anos. Durante esse período, relatos de pessoas próximas expuseram mais detalhes sobre a vida do célebre escritor – como os livros Abandonada no campo de centeio (1998), de Joyce Maynard, sua ex-namorada, e Dream catcher – A memoir (2000), de sua filha, Margaret Salinger.
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Próximo mês A capital e o interior, o amor e o ódio, todas as palavras deixadas não ditas encontram seu lugar no romance que a TAG Inéditos envia em novembro. Quando sua filha de quatro anos desaparece sem deixar rastros em Buenos Aires, um arquiteto empreende uma busca desesperada e inabalável que vai se tornar seu pior pesadelo – e sua energia para continuar vivendo. Em meio a policiais inaptos e corruptos, surge, então, a peculiar figura de um detetive privado que enxergará pistas onde ninguém imaginava. A partir daí, os dois seguem o fio de Ariadne, e suas descobertas vão revelando uma trama tão surpreendente quanto viciante.
“Um dos thrillers mais apaixonantes escritos nos últimos vinte anos.” – La Nación
Adaptado para a televisão pela HBO Nota 4,2 no Goodreads
PRÉ-VENDA EXCLUSIVA TAG Novo livro de Buchi Emecheta chega em primeira mão aos associados! Autora de As Alegrias da Maternidade, livro mais amado da TAG Curadoria, indicado por Chimamanda Adichie
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“Se você deseja escrever um romance, observe atentamente seu entorno. O mundo pode parecer monótono, mas está cheio de diamantes brutos, atraentes e misteriosos. Romancistas são aqueles que conseguem identificá-los.” – Haruki Murakami 20