O mapa de sal & estrelas
dezembro/2020 TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Câncio Gomes, 571 | Bairro Floresta Porto Alegre - RS | CEP: 90220-060 (51) 3095-5200
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Edição Fernanda Grabauska Redação Laura Viola Priscila Pacheco Sophia Maia produto@taglivros.com.br Revisão Caroline Cardoso Impressão Gráfica PifferPrint Projeto Gráfico Kalany Ballardin Paula Hentges design@taglivros.com.br Capa Luísa Zardo design@dublinense.com.br
Olá, tagger! Mapas são mais do que rotas. Eles também contam a história de quem somos e de onde viemos. As histórias de Nur e de Rawiya em O mapa de sal e estrelas, livro que você recebe este mês, são exemplos de como podemos encontrar a sensação de pertencimento ao mundo nas coisas mais simples. Nesta revista, você aprende sobre a geografia do mundo, sobre a geografia do coração e sobre o conflito na Síria que faz a personagem Nur cruzar fronteiras em busca de paz. Estamos no finzinho do ano: hora de pensar em tudo o que aconteceu para traçar novas rotas e abrir o peito para novas histórias. Que este livro lhe traga a coragem de enxergar o mundo com olhos exploradores, tagger. Quem sabe o que 2021 lhe reserva? Da nossa parte, os olhos de muitos novos personagens para enxergar outras realidades, com novos corações, para sentir o que a gente sequer imagina ser possível. Tudo isso nas páginas de livros escritos em todos os cantos do mundo. Boa leitura e feliz ano novo!
Este mês na sua caixinha Projeto gráfico Os trechos que tomam lugar no passado narrados em O mapa de sal e estrelas inspiraram o projeto gráfico do kit deste mês. Luísa Zardo, que assina o projeto gráfico, buscou trazer misticismo, astrologia e a majestosidade dos palácios para o projeto, que apresenta páginas ilustradas com impressão colorida. Os tons alaranjados e azulados – impressos em escala de tintas Pantone – receberam destaque no projeto, pois simbolizam a conexão entre os caminhos dos personagens da história. Mimo Em dezembro, celebramos o fechamento de mais um ciclo. E o kit do mês foi pensado para encher os olhos de todo o bibliófilo: vem com livro em dobro! Mistérios perdidos, de Sir Arthur Conan Doyle, reúne, pela primeira vez, três contos esquecidos do autor em edição inédita e exclusiva. Sir Arthur Conan Doyle é frequentemente lembrado apenas por Sherlock Holmes. O que poucos sabem, no entanto, é que ele foi um grande contista. É este universo que você poderá conhecer na coletânea que você recebe, que borra as fronteiras entre realidade e sobrenatural a partir das histórias O anel de Tot, Lot n. 249 e O conde de château noir – este último, nunca antes publicado no Brasil, chega em primeira mão para os associados. A edição, em capa dura e com detalhes em tinta neon, apresenta páginas ilustradas por Gabriela Basso e tem projeto gráfico de Kalany Ballardin, ambas da equipe de Design da TAG.
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Sumário 04
O mapa de sal e estrelas
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Entrevista: Zeyn Joukhadar
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Vidas marcadas, cidades sitiadas
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Cartografia: uma história da arte de fazer mapas
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Próximo mês
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O livro enviado
O mapa de sal e estrelas
Texto: Priscila Pacheco 6
Mapas são histórias, e histórias são mapas. Duas histórias que personificam a própria arte de contar histórias. Narradas como se fossem o mapa de um território desconhecido que desbravamos pouco a pouco. Assim Zeyn Joukhadar construiu seu Mapa de sal e estrelas, livro deste mês da TAG Inéditos. Ao longo das páginas do romance, caminhamos entre as histórias de Nur e Rawiya. Entre a crise na Síria e as caravanas que cruzavam a região séculos antes, entre a realidade e as lendas e aventuras – dois caminhos paralelos nos quais o inimaginável se torna real. Lançado em 2018, O mapa de sal e estrelas é o primeiro livro de Zeyn, que compartilha a origem sírio-americana com a protagonista Nur. A obra venceu o Middle East Book Award de 2018 e foi indicada aos prêmios Pushcart e Best of the Net. Nur é uma menina nascida em Nova York, filha de imigrantes, e vive com a família na Manhattan dos dias atuais. Com a morte do pai, mãe e filhas decidem voltar ao país de origem. A partir daí, é pelo olhar dos 12 anos de idade de Nur que acompanhamos a trajetória da família, de uma hora para outra transmutada na condição de refugiada. Do outro lado, temos Rawiya, também uma jovem menina, personagem
de uma das histórias que o pai de Nur costumava lhe contar. Rawiya vive em uma aldeia pobre da Síria e sai de casa em busca do legendário cartógrafo al-Idrisi, a fim de aprender o ofício e conseguir dinheiro para ajudar a família. As duas histórias se desenrolam em paralelo e de forma complementar, traçando um elo entre passado e presente, cada uma lançando luz sobre a outra. Nur fugindo com a família em busca de um lugar seguro, Rawiya viajando com seus companheiros para criar um mapa do mundo. A mãe de Nur, como al-Idrisi, é cartógrafa, e tanto Nur quanto Rawiya se passam por meninos para proteger sua identidade. Separadas por séculos, as duas percorrem Síria, Jordânia, Egito, Líbia, Argélia, Marrocos e Ceuta.
A arte de contar histórias No mundo árabe, a tradição da oralidade atravessa gerações. As contação de histórias desempenha um papel relacionado à própria construção da identidade árabe, passando adiante as lendas, os conhecimentos e a sabedoria da cultura. Uma das obras mais conhecidas, As mil e uma noites, é também uma das mais famosas da literatura. Entre as múltiplas técnicas utilizadas na tradição árabe, está a de intercalar histórias, adotada por Joukhadar. Ao espelhar as trajetórias de Nur e Rawiya, o autor permite que o leitor construa suas percepções e costure elementos a partir de duas fontes distintas, mas que se completam. O livro lança mão desse entrelaçamento para abordar um tema tão delicado quanto a crise na Síria e a situação das famílias refugiadas. Luto, identidade, pertencimento (ou a falta dele), laços familiares e reflexões sobre o que significa traçar a própria história se juntam para dar forma a uma cartografia das existências que se formam quando o que se entende como “casa” deixa de existir. 7
Mapas que contam histórias Como o título já indica, a cartografia é a espinha dorsal do romance de Joukhadar. Presentes em quase todas as páginas, os mapas – e o mistério dos múltiplos caminhos que eles contêm – conduzem a narrativa tanto em um sentido mais literal quanto pela própria maneira como as histórias são narradas. A arte de fazer mapas, aqui, aparece em uma relação intrínseca com a própria arte de contar histórias. Tato para Rawiya como para Nur, o mundo se apresenta sob essa luz. Para desenhar um mapa, elas descobrem, é preciso conhecer as lacunas e os espaços vazios. “Os lugares mais importantes em um mapa são os lugares onde você nunca esteve”, Rawiya profetiza, ainda no começo da história. Da mesma forma, para contar a própria história, também é preciso conhecer seus espaços em branco. Nur aprende com o pai que cada mapa é, na verdade, uma história. Em O mapa de sal e estrelas, Zeyn Joukhadar mostra que o inverso também pode ser verdade. Mapas, histórias, cores, estrelas, viagem e fuga – ao unir elementos ao mesmo tempo enigmáticos e simbólicos, o romance do autor sírio-americano aponta uma direção: nossas histórias (ou cartografias) estão todas interligadas, fazem parte de um mesmo mapa (ou história) maior do que nós.
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Entrevista: Zeyn Joukhadar
“Todos carregamos a geografia pessoal de quem somos” O lugar mais importante em um mapa é aquele ao qual você ainda não chegou, mas não só: o lugar mais importante de um mapa pode muito bem ser o que há em seu coração. Nesta entrevista, concedida à TAG por e-mail, o autor Zeyn Joukhadar fala mais sobre cartografia afetiva, sobre sinestesia e sobre o papel da literatura em oferecer um contraponto de alteridade à História:
TAG – O "sal" no título do livro não está tão presente no livro quanto os mapas e as estrelas. Qual o significado do sal para você?
Texto: Priscila Pacheco Tradução: Fernanda Grabauska Fotografia: Tina Case
Zeyn Joukhadar – Quando Abu Said descreve a Nur como o sal aparece em pedras preciosas como uma imperfeição, ele a conforta ao lembrá-la de que, embora coisas dolorosas e traumáticas possam nos acontecer na vida, elas não diminuem nosso valor. Ao longo do livro, o sal simboliza o fato de que as dificuldades que nos acontecem não definem quem somos. Durante sua jornada, Nur aprende que ela tem o poder de contar a própria história, de se definir por sua resiliência e sua alegria em vez de deixar que o mundo a defina por aquilo que perdeu. 9
A sinestesia de Nur dá às cenas uma atmosfera de sonho, quase mística. O que inspirou esse atributo dela? Na verdade, eu também tenho sinestesia! Dei sinestesia a Nur porque queria que ela tivesse uma habilidade única, que ninguém mais no romance tivesse. Embora ela seja jovem e se sinta fraca, queria que a sinestesia a lembrasse que o jeito como ela vê o mundo é único e valoroso.
As histórias são tão bem conectadas que nos perguntamos se o livro é sobre Nur ou Rawiya. Como você entrelaçou as duas narrativas? Concebi as duas histórias ao mesmo tempo. A história de Rawiya é vital para a história de Nur, porque Rawiya é como Nur faz sentido do mundo. Fiz muita pesquisa histórica para que a história de Rawiya fosse tão fiel quanto possível, mas ainda há coisas fantásticas porque é a história que Nur conta para ela mesma. Quando eu escrevi o livro, fui trocando as histórias organicamente em momentos-chave, escrevendo em ordem cronológica durante o romance todo. Queria que o livro fosse como uma trança, que as histórias fossem impossíveis de separar.
Ao entrelaçar as duas histórias, você liga presente e passado. Como você acha que as histórias de hoje espelham as de outrora? Sempre que olhamos para aquilo que está acontecendo no mundo, não podemos esquecer a história que nos trouxe até aqui. A história nos dá contexto, mas também é importante lembrar que os poderosos preferem contar a história de modo a preservar e consolidar o poder que têm. É enxergando a história de um ponto de vista diferente que podemos interromper narrativas assim e lembrar os marginalizados de que eles também têm o poder de moldar o futuro. 10
Você crê que mapas sejam histórias... ou são as histórias que são mapas? Assim como acontece com a história, mapas frequentemente são criados para servir a propósitos específicos. Eles nos contam histórias sobre quem tem o poder de criar e de proteger fronteiras, quem tem o poder de despossuir e de deslocar, quem tem o poder de nomear e centralizar. O que está no topo ou no meio de um mapa nos mostra aquilo que é importante ou poderoso. Colocar o sul no topo de um mapa, como al-Idrisi e outros cartógrafos já fizeram, conta certas histórias a respeito de relações políticas e comerciais com o Mediterrâneo naquele período. Da mesma maneira, todos carregamos conosco a geografia pessoal de quem somos, das pessoas e de lugares importantes para nós, a história de onde viemos. Isso também é um mapa.
Você pode mandar uma mensagem para os milhares de leitores que lerão O mapa de sal e estrelas em dezembro? Quando escrevi O mapa de sal e estrelas, nunca imaginei que ele viajaria tão longe. Se esse livro lhe tocar, espero que você procure outros trabalhos de escritores sírios sobre o que aconteceu e ainda está acontecendo na Síria. Também peço que apoiem imigrantes, refugiados e outras pessoas deslocadas e marginalizadas onde vocês vivem. Pode ser fácil se sentir desesperançoso sobre o estado do mundo, mas cada um de nós tem uma contribuição importante, mesmo que pequena, a oferecer. Comece onde quer que você esteja! Não perca a esperança.
“... os poderosos preferem contar a história de modo a preservar e consolidar o poder que têm.” 11
Vidas marcadas, cidades sitiadas
Texto: Priscila Pacheco 12
2011. A Síria sofria com sucessivas retrações econômicas, um alto índice de desemprego e baixa qualidade de vida da população em geral. No começo do ano, o presidente Bashar al-Assad havia feito uma série de promessas para reverter o cenário, mas a demora para executá-las e a piora das condições de vida geravam um descontentamento crescente. Assim começaram os primeiros protestos. Inspirados pela Primavera Árabe, os manifestantes reivindicavam mudanças e a saída do presidente. Para conter as manifestações, forças do governo atiraram contra os manifestantes – 228 pessoas morreram, de acordo com a Anistia Internacional. A violência aguçou a indignação popular e mais pessoas foram às ruas, originando uma onda de manifestações. O uso de força militar para tentar conter os protestos só insuflou o movimento. Em pouco tempo, o país se viu engolfado por uma guerra civil, com grupos de oposição e tropas governamentais lutando pelo controle de cidades, povoados e territórios. A população estava presa em cidades sitiadas ou tentava fugir, dando início ao movimento de êxodo observado até hoje – em 2015, mais de metade da população já estava desabrigada ou havia deixado o país. De 2011 para cá, são 6,3 milhões de pessoas deslocadas dentro da Síria, 5 milhões de refugiados e pelo menos 400 mil mortos, segundo dados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da Oxfam. Hoje, o desemprego gira em torno dos 50% e estima-se que, entre os refugiados, 80% vivam abaixo da linha da pobreza.
É difícil mensurar a dimensão das marcas deixadas por um conflito que já se estende por quase tanto tempo quanto as duas guerras mundiais juntas. Entre deslocados, refugiados, desempregados, mortos – são milhões de histórias. Milhões de vidas deslocadas – marcadas, para usar o mesmo termo escolhido por Nur.
Fotografia: EPA/Sedat Suna/ Agência Lusa
Todas as mulheres sírias foram afetadas pela guerra “Guerrear tem sido, desde sempre, hábito do homem”, escreveu Virginia Woolf em um de seus célebres ensaios, “As mulheres devem chorar... Ou se unir contra a guerra”. No conflito que assola a Síria, como em qualquer guerra, são elas, as mulheres, junto das crianças, as partes mais vulneráveis. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, é possível afirmar que praticamente todas as mulheres sírias foram afetadas de alguma forma pela guerra no país. Estamos falando de 8,4 milhões de mulheres de todas as idades. Entre as pessoas forçadas a deixar suas casas, 80% são mulheres e crianças. Com os homens envolvidos no conflito, a maior parte delas se vê sozinha diante da necessidade de manter o sustento e a segurança – de si mesmas e das crianças. Para as refugiadas, que já vivem tantas formas de violência, somam-se os riscos de violência e de exploração sexual. Na ficção de Zeyn Joukhadar, Nur vive uma situação nem tão ficcional: precisa 13
cortar o cabelo para se passar por um menino e, com isso, se manter mais segura.
As palavras sobrevivem As cenas descritas por Nur depois que sua cidade, Homs, é atingida por um bombardeio apresentam verossimilhança com situações reais. O que se conhecia desaparece em questão de minutos. A cidade se transforma em um campo de batalha, poeira e escombros. Tudo fica para trás e quase nada mais existe – roupas, objetos, móveis, a casa. O que acontece com os sensos de identidade e de pertencimento em uma situação como essa? Em depoimento concedido à Oxfam, uma refugiada síria na Jordânia descreve o sentimento: “Perdi tudo na guerra, nove anos atrás. Meus amigos, minha mãe e meu marido. Foi devastador. Perdi o jardim, os amigos e as viagens sem fim. As explosões destruíram nossa casa, mas também destruiu nosso senso de identidade. (...) Vidas embaladas em sacos. Olhos cheios de medo por toda parte. Meu filho mais novo tem seis anos agora. O acampamento é a única vida que ele já conheceu.” A fala aponta, ainda, outro problema: pelo menos 50 mil crianças sírias nasceram em campos de refugiados. Sem documentos e sem ter como comprovar a nacionalidade (pela lei síria, a nacionalidade só pode ser passada pelo pai), as crianças correm o risco de se tornar apátridas. Questões de identidade, gênero, violência e privação de direitos básicos andam juntas em um conflito de proporções e contornos que, em muitos aspectos, escapam da nossa capacidade de compreensão. Refugiadas ou deslocadas são, acima de tudo, pessoas. Com o desejo de voltar a viver uma vida normal. Pessoas, talvez, guiadas pelo mesmo aprendizado de Nur: “A terra onde seus pais nasceram sempre estará em você. As palavras sobrevivem. Fronteiras não são nada comparadas às palavras e ao sangue”. 14
Cartografia: uma história da arte de fazer mapas
Texto: Priscila Pacheco
Os mapas são a manifestação do desejo dos seres humanos de entender e representar o espaço. Assim os define Paulo Miceli, historiador e professor da Universidade Estadual de Campinas. Conforme relata o professor, antes mesmo do advento da escrita, a humanidade já desenhava mapas nas paredes das cavernas com a intenção de representar o caminho dos locais onde havia caça. O primeiro mapa de que se tem registro foi feito pelos babilônios e estima-se que tenha entre 2,5 mil e 4,5 mil anos. Trata-se de um bloco de barro cozido com traçados indicando o caminho de um rio ladeado por montanhas – uma tentativa, segundo arqueólogos, de representar a região da Mesopotâmia. No Vale do Pó, na Itália, também foram encontradas figuras rupestres datadas de 2400 a.C. Foi só muito mais tarde, porém, que essas formas de representação passaram a ser entendidas como “mapas”. O termo cartografia foi usado pela primeira vez apenas em 1839 pelo historiador português Manuel Francisco Carvalhosa. Antes disso, cartógrafos ou mapistas eram, na verdade, cosmógrafos, e os mapas eram mapas do céu noturno, que possibilitavam a orientação a partir da localização de estrelas e de constelações. 15
Ocidente, Oriente e a história de al-Idrisi A história dos mapas, como tantas a outras, pode ser contada a partir das perspectivas ocidental e oriental. No mundo ocidental, a civilização grega antiga foi a que mais contribuiu para a evolução da cartografia. Já no século VI a.C., expedições militares e de navegação impulsionaram o trabalho de cosmógrafos, astrônomos e matemáticos. Por volta do século XV, depois do período de estagnação da Idade Média, têm início as viagens marítimas europeias, e a cartografia volta a ganhar importância. Navegantes e cartógrafos costumavam carregar consigo cadernos de anotações nos quais registravam informações como os rumos e as distâncias. Esses cadernos eram peças extremamente valiosas: cartógrafos poderiam ser punidos com a morte se permitissem que potências rivais se apossassem de seus registros. Nenhum estranhamento, portanto, a luta de al-Idrisi para proteger suas anotações nas páginas de O mapa de sal e estrelas. O cartógrafo de Zeyn Joukhadar, aliás, existiu de verdade. Al-Idrisi viveu no século XII e foi um dos nomes mais importantes da cartografia árabe. Ao longo de 16
15 anos, por encomenda do rei Roger II da Sicília (outro personagem do livro que também existiu), ele trabalhou na elaboração de um mapa-múndi gravado em prata. O mapa, que continha detalhes minuciosos para a época, trazia a visão árabe do mundo. Os árabes têm a tradição de ser um povo viajante, vindo daí a dedicação à arte de fazer mapas. Além das viagens, o desenvolvimento da cartografia também foi crucial para que pudessem entender a orientação – e saber, a partir de qualquer lugar do mundo, a direção de Meca. O trabalho de al-Idrisi foi determinante para que os próprios europeus pudessem ampliar seus conhecimentos. Seu mapa representava as regiões ocupadas já conhecidas na época e as rotas de comércio entre elas, incluindo rios, lagos, oceanos, ilhas, principais cidades, planícies e montanhas, além de uma malha de referência (coordenadas). Reprodução de um mapa feito por al-Idrisi
Caminhos e escolhas Hoje, com poucos cliques em uma tela, temos acesso não só aos mapas, mas a imagens de satélite, rotas e informações em tempo real de qualquer parte do mundo. A democratização dos mapas e seu processo de digitalização transformaram a maneira como nos relacionamos com nossas necessidades de localização e representação do espaço. Independentemente do suporte, porém, os mapas continuam a desempenhar uma função em particular: encontrar caminhos. Mesmo para quem não sabe aonde vai, um mapa pode ter algo a dizer, uma rota ou uma descoberta escondidas. Mapas, afinal, são escolhas – o que incluir e o que deixar de fora, de onde saímos e para onde vamos. Para fazer um mapa, encontrar um caminho ou contar uma história, é preciso partir de elementos distintos – com convicção, mas também com a flexibilidade necessária para recalcular a rota. O que nos leva a terminar invocando uma das lições do autor deste mês: “As coisas mudam muito. Sempre precisamos consertar os mapas, redesenhar nossas próprias fronteiras”. 17
No próximo mês Nenhum sofrimento abala a grandeza de um coração livre. A TAG Inéditos começa 2021 trazendo uma personagem que é pura inspiração: a pintora mexicana Frida Kahlo. Entre as dores e os amores de sua protagonista, o livro oferece, de forma romanceada, insights da mente da criadora – valendo-se das cartas e diários que ela escreveu em vida. É uma homenagem comovente à mulher que não somente revolucionou a cena mundial da arte, como também virou de cabeça para baixo a pauta de costumes de sua época. Fique conosco!
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E TÂ N E A D E CO N T O S D E L O C
Scott Fitzgerald
Ilustrações de Virgílio Dias
Em parceria com a editora Antofágica
Você também pode ter a edição exclusiva, em capa dura e com miolo ilustrado, com contos inéditos do autor de O grande Gatsby e O curioso caso de Benjamin Button!
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“Acredito nessa cartografia – ser marcado pela natureza, não apenas pôr o nosso rótulo sobre um mapa, como os nomes de homens e mulheres ricas nas portarias dos edifícios. Somos histórias comunitárias, livros comunitários.” – Michael Ondaatje