O DESTINO É UM PUNHAL
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2024 A voz que ninguém escutou
TAG — Experiências Literárias
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Publisher Rafaela Pechansky
Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz
Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia
Designer Bruno Miguell Mesquita
Capa Leticia Quintilhano
Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland
Impressão Impressos Portão
Olá, tagger
Olivro que você tem em mãos é o vencedor de um dos principais prêmios literários do Brasil, o Prêmio Kindle, em sua oitava edição. Renan Silva é merecedor de láureas e elogios, mas, mais do que isso, Renan merece ser lido. A partir de uma narrativa poderosa que ecoa a dor e a esperança de personagens marginalizados em busca de um futuro melhor, somos apresentados a Maria, uma mãe corajosa que abandona sua cidade no Nordeste para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Ao seu lado, seus dois filhos logo se tornam vítimas das circunstâncias adversas de um país em transformação.
À medida que os anos avançam, as vidas dos personagens se entrelaçam com os tumultuosos acontecimentos políticos do Brasil. O contraste entre as trajetórias dos filhos de Maria acentua as injustiças e as lutas de uma nação dividida. Renan nos leva por uma viagem angustiante e reveladora, culminando em um reencontro que nos faz refletir sobre as forças que moldam nossas vidas e o poder das vozes que, muitas vezes, são aquelas que ninguém escutou. As vozes que ninguém escuta. É nesse sentido que o livro de setembro é imprescindível para quem busca compreender a alma do Brasil e a persistência daqueles que nunca desistiram de sonhar.
Boa leitura!
Experiência do mês
SETEMBRO 2024
VENCEDOR DO PRÊMIO KINDLE DE LITERATURA 2024
Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.
A saga de uma família que, ao afirmar a própria existência, inventa também uma nova nação que responde pelo mesmo nome: Brasil.
“Queria gritar socorro, será que iriam me ouvir?
Mimo
Tão bom quanto se encantar com um livro novo é revisitar uma obra que amamos. O kit biblioteca é composto por um conjunto de post-its, para voltar àqueles momentos da história que fizeram o coração bater mais forte, e um bloco de fichas destacáveis, para você registrar a data da leitura, sua avaliação do livro, citações e insights. Imagina encontrar essas anotações alguns anos mais tarde? Seu eu do futuro agradece!
pessoal da protagonista, negra, traba lhadora, nordestina e mãe solo, carrega as adversidades coletivas de um Brasil que custa a caminhar para longe do racismo, da desigualdade e da crueldade com a diferença. Ao trazer a imagem do Congresso Nacional, a designer Letícia Quintilhano lembra ainda que a luta por dignidade é uma questão política.
Para quem sabe que o livro sempre rende boas conversas
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Para ajudar a embalar a sua leitura
sumário
Por que ler este livro
Dor de amor? Dúvidas na vida? Nosso consultório literosentimental responde com dicas de livros 04 06 12 16 20 22 24 27 28
Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
O autor
Um retrato caprichado e uma entrevista com quem está por trás da história
Banca curadora
Os três grandes nomes que escolheram o livro do mês
Cenário
De onde veio, do que fala, o que é o livro que você vai ler
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês
Leia. Conheça. Descubra. Os Brasis de Paulo Leminski Vem por aí
Para você ir preparando seu coração
Madame TAG responde
“É um relato pesado, de difícil leitura às vezes, mas comovente para qualquer brasileiro.”
Mia Sodré, tester da TAG
Por que ler este livro
Uma história que é, em sua essência, 100% brasileira— assim podemos começar a definir o livro do mês. Ao acompanhar Maria, que se muda para o Rio de Janeiro nos anos quarenta do século passado com os dois filhos pequenos, o leitor é obrigado a confrontar as faces mais sombrias da nossa história. Passando por vários cantos do Brasil, as gerações dessa família precisarão encontrar meios de sobreviver à miséria, à ditadura militar e a terríveis segredos familiares.
“Meus personagens são as vozes do povo brasileiro.”
Entrevista com o autor do mês
Renan Silva nasceu no Rio de Janeiro, cidade para a qual voltou depois da infância vivida em Bauru (SP). O taurino — com ascendente em Áries — foi um menino tão disciplinado que acabou indo parar em um grupo de escoteiros mirins. Sua mãe, uma ávida leitora de romances policiais, foi a maior influência em sua jornada literária, inspirando-o a mergulhar nas intrincadas teias das narrativas. Aos 38 anos, o carioca é um entusiasta de esportes e gosta, em seu tempo livre, de assistir a competições esportivas, uma paixão que o acompanha desde a época em que jogava basquete.
Com uma formação acadêmica sólida, Renan é licenciado em História e possui pós-graduação em Escrita Criativa, áreas que refletem seu interesse tanto pelo passado quanto pela arte de contar histórias, paixões essas que ficam evidentes para os leitores de A voz que ninguém escutou. Por ser historiador, Renan abordou com coragem e delicadeza eventos importantes da história brasileira na trama do livro do mês: a construção de Brasília, as décadas de ditadura militar e a polarização política dos anos 2000.
O que significa para você ganhar um prêmio como esse e ter a sua obra selecionada por nomes tão importantes? O que essa vitória representa para você e para sua carreira como escritor? No caso da minha escrita que é histórica, está em jogo retomar certos eventos, processos e momentos do país para que reconheçamos tudo aquilo que mudou, mas sobretudo o que permaneceu. Como estamos lidando com essas questões na contemporaneidade? Como queremos trabalhar com esses conflitos sociais hoje e no futuro?
O título do livro é bastante emblemático e diz muito não apenas sobre a história em si, mas sobre toda uma parcela da sociedade que precisa lutar para ter sua voz escutada em meio a homens brancos poderosos. De onde veio a inspiração para o título?
Estes personagens representam figuras típicas do Brasil, que lutam por seus objetivos apesar das adversidades. Um povo aguerrido e resiliente desde suas origens (e aqui não falo dos portugueses, e sim dos povos originários). São histórias que se passam em três regiões do Brasil. Falam sobre a mudança social de uma família: da empregada doméstica Maria até a jornalista Vânia, passando pela professora Inês e Inácio, que, como muitos, fizeram de tudo na vida. São as vozes do povo brasileiro.
Quais são suas principais influências literárias?
A literatura negra. Nomes como Machado de Assis, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e tantos(as) outros(as). São autores(as) que admiro por trazerem elementos fundamentais para entender o nosso país, uma nação negra. Autores(as) africanos(as) me interessam bastante também, em especial os lusófonos.
Estes personagens representam figuras típicas do Brasil, que lutam por seus objetivos apesar das adversidades. Um povo aguerrido e resiliente desde suas origens.
O seu livro é recheado de protagonistas mulheres fortes e que precisam enfrentar os mais inimagináveis desafios e violências. Como se deu a construção dessas personagens? Sem dúvida reflete o drama que as mulheres passam diariamente. Seja na família (violência doméstica) ou nas relações de trabalho. A personagem Maria trabalha sem carteira assinada quando direitos trabalhistas eram propagandeados pelo governo ditatorial de Vargas. De lá para cá, sucessivos governos vieram (ditatoriais e democráticos) e nada foi resolvido, muito pelo contrário, pessoas como Maria não se beneficiaram dessas concessões, ficando no subemprego. O Estado brasileiro virou as costas para essas trabalhadoras. Somente em 2013 é que empregadas domésticas começaram a adquirir direitos trabalhistas. Ainda observamos que muitas não acessam esses direitos, o que demonstra a permanência do pensamento escravista e dos conflitos de classe no Brasil. É o que o sociólogo Jessé Souza chama de “elite do atraso”, em que há o total desprezo por determinados trabalhadores: nas casas dos fundos, na falta da carteira assinada, no elevador de serviço. Quantas Marias existem por aí?
Inês é uma personagem que sobe na escala social, no entanto isso leva a uma deterioração mental, o que a leva ao suicídio. O quanto que a falta de oportunidades faz com que as pessoas se submetam a certas violências e se vejam diante de conflitos e decisões duras? Para quem é possível fugir da violência estatal? Para quem a violência estatal é incontornável? Estar próxima da amiga rica permite ver televisão, ouvir música estrangeira em discos importados e sonhar com a universidade pública. Mas não impede os diferentes abusos e uma vida que se sustenta com os restos da “casa de família”. Já Vânia é o resultado de uma família fragmentada pela tragédia, que ficou oculta no diário de Inês.
A partir dele, Vânia reconstrói seu passado e lá encontra uma outra maneira de viver, mesmo com o trauma e o sofrimento. A personagem começa a entender através dos diários de sua mãe quais as feridas ocultas de Inês que fizeram dela a mulher de luta, a mãe distante, a professora respeitada e a companheira amada. As descobertas da jornalista entrelaçam as feridas pessoais, familiares e sociais. Vânia tenta responder por que a mãe tentou se matar e percebe que sua investigação avança para outros lugares. Se vê tentando entender a relação entre ela e Inês. Se vê ganhando novos olhares para a trama familiar que antecede a sua própria existência. Se questiona o que fazer com o que descobre. Mas também se questiona sobre os destinos de todos aqueles que participaram ativamente nos crimes da ditadura. Quem são essas pessoas? Como elas vivem depois de tudo que fizeram?
Qual conselho você daria para escritores que estão começando agora? Estude, acredite e aproveite as oportunidades, como o Prêmio Kindle. Escritas que levariam muito mais tempo em um processo tradicional no mercado literário podem ser conhecidas de modo mais célere nesse espaço. A oportunidade de publicação pela TAG abre portas para que essa história chegue em milhares de leitores com toda a estrutura de incentivo à leitura que esse projeto tem. O livro não apenas chega em sua versão física, mas inúmeros recursos são ofertados, de modo que a relação com a história ganha em profundidade. Se “quem lê nunca está sozinho”, quem escreve idem.
MINHA ESTANTE
O primeiro livro que eu li: Os meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár.
O livro que estou lendo: A vegetariana, de Han Kang.
O livro que mudou minha vida: Dom Casmurro, de Machado de Assis.
O livro que eu gostaria de ter escrito: Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves.
O último livro que me fez rir: República dos mentecaptos, de Fernando Vita.
O último livro que me fez chorar: Sem gentileza, de Futhi Ntshingila.
O livro que dou de presente: Tudo é rio, de Carla Madeira.
Banca curadora
Neste mês, o livro enviado aos associados da Curadoria foi escolhido não apenas por um curador, mas por três nomes prestigiosos e representativos da cena literária e cultural brasileira. Eliane Potiguara, Eliana Alves Cruz e Marcelino Freire integraram a banca que contemplou Renan Silva na oitava edição do Prêmio Kindle de Literatura, realizado em parceria com a TAG e com o Grupo Editorial Record.
A voz que ninguém escutou conquistou o time de jurados pela consistência da pesquisa histórica de Renan e sua capacidade de movimentar reflexões sobre temas de relevância sociopolítica articuladas em um enredo forte e envolvente, com personagens inesquecíveis e qualidade literária irrefutável. Confira abaixo o que cada um comentou sobre a obra!
Eliane Potiguara
Nascimento: 1950, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)
Profissão:
Professora, escritora e ativista.
“Me identifiquei muito com o livro de Renan, pois ele aborda temas sensíveis de nossa sociedade que precisam ser discutidos. Parabenizo o autor pelo dedicado e importante trabalho de pesquisa histórica aliado à criatividade, o que resultou em uma história belíssima.”
Eliana Alves Cruz
Nascimento: 1966, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)
Profissão: Jornalista e escritora.
“A
pesquisa de Renan, muito interessante, é de uma originalidade ímpar. Personagens ricos e trama envolvente: ‘A voz que ninguém escutou’ tem todos os elementos para conquistar muitos leitores.”
Marcelino Freire
Nascimento: 1967, Sertânia (Pernambuco)
Profissão: Escritor.
“Renan Silva sabe segurar as tensões, estender os fôlegos, equilibrar a paisagem interior com a paisagem exterior da narrativa. Sente-se o envolvimento e também o comprometimento de levar adiante uma temática tão traumática - e reveladora - da nossa trajetória política e social.”
O Brasil de 1940 a 2022
Uma breve imersão na história política e social do nosso país desenha um panorama em que passado, presente e futuro se confundem, ajudando a entender o contexto enfrentado pelos personagens de A voz que ninguém escutou por Guilherme Almeida
Ao traçarmos um panorama histórico-político brasileiro nos últimos 80 anos, logo fica claro que o país passou por diversas mudanças, mas vários pontos permaneceram praticamente os mesmos. Especialmente os negativos: desigualdade social, violência contra mulheres e pessoas LGBTQIAP+, racismo. Entre transformações e continuidades, o Brasil parece estar eternamente oscilando entre o presente, o futuro que nunca chega e o passado que não consegue superar.
Se até 1945 o país foi governado por uma ditadura, chamada de Estado Novo, comandada por Getúlio Vargas, a derrota dos governos fascistas pelas forças aliadas na Segunda Guerra Mundial tornou inevitável a mudança política. Apesar de amplo apoio popular para sua permanência no poder, depois de 15 anos na presidência, Vargas foi afastado pelos militares, mas conseguiu eleger seu sucessor, Eurico Gaspar Dutra.
Em 1951, mantendo a popularidade através de medidas que beneficiaram especialmente as parcelas mais pobres da população, como as leis trabalhistas e o desenvolvimento da indústria nacional, Getúlio voltou à presidência, dessa vez pelo voto direto. Seu segundo governo foi marcado por políticas nacionalistas, como a criação da Petrobras, e por forte oposição. Vargas se viu cada vez mais acuado e cometeu suicídio em agosto de 1954.
Os meses posteriores à morte de Getúlio foram turbulentos, com diversas trocas de presidentes e ameaça de golpe para impedir a posse de Juscelino Kubitschek. Contudo, após JK assumir a presidência, em 1956, o otimismo pareceu tomar conta do país. A indústria nacional, especialmente a automobilística, cresceu, a seleção brasileira de futebol venceu seu primeiro campeonato mundial, a bossa nova ganhou as paradas musicais internacionais e a nova capital, Brasília, foi construída.
Os primeiros anos da década seguinte já foram dife rentes, anunciando as turbulências que estavam a caminho. JK foi sucedido por Jânio Quadros, que se elegeu com a promessa de moralizar a política, mas renunciou poucos meses após assumir, dando lugar a João Goulart. Herdeiro político do trabalhismo de Vargas, Jango tentou implementar profundas reformas sociais e econômicas em um período de grandes tensões políticas internas e externas, mar cado pela Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Contando com ajuda estadunidense, grupos empresariais e militares deram um golpe em 1964, forçando Jango ao exílio.
Com a promessa de ficarem por pouco tempo no poder, os militares instauraram uma ditadura que durou mais de 20 anos, marcada por grandes obras, censura, cassação de políticos e funcionários públicos, exílio e tortura de opositores e um mila gre econômico que logo se mostrou passageiro. Sob o pretexto de lutar contra os grupos armados de oposição, o regime implantou, com treinamento de forças de inteligência estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, um violento mecanismo de repressão, com sessões de tortura que envolviam tanto homens quanto mulheres e crianças.
Iniciada em meados dos anos 1970, a longa redemocratização brasileira foi marcada por episódios como a Lei da Anistia, a campanha pelo voto presidencial direto e a eleição indireta de Tancredo Neves. O processo culminou no governo de José Sarney, a partir de 1985 — o vice que se tornou presidente em função da morte de Tancredo pouco antes de tomar posse —, e na promulgação da Constituição de 1988. A eleição presidencial direta foi retomada apenas em 1989, com o curto mandato de Fernando Collor, alvo de um processo de impeachment.
O governo seguinte, de Itamar Franco, enfim conseguiu frear a hiperinflação brasileira, grande legado econômico da ditadura, e os anos que vieram, com as eleições e reeleições de FHC e Lula, pareciam indicar um futuro otimista, com mais democracia e menos violência e desigualdade social. Contudo, os protestos de junho de 2013, já durante o governo de Dilma Rousseff, mostraram que os problemas do país ainda eram muitos, assim como a insatisfação social.
Apesar de conseguir se reeleger em 2014, por uma breve vantagem sobre seu adversário, Dilma não completou o segundo mandato presidencial, sendo afastada por um impeachment articulado por nomes como o vice, Michel Temer, que veio a ser seu sucessor. Em 2018, as turbulências políticas e econômicas do país levaram à ascensão da extrema direita, com a eleição de Jair Bolsonaro, ex-militar e defensor da ditadura.
Seus quatro anos de presidência foram marcados pelo agravamento da crise democrática brasileira e pelos mais de 700 mil mortos em decorrência da pandemia de COVID-19. Nas eleições de 2022, Bolsonaro foi derrotado nas urnas por Lula, que retornou ao comando do país vinte anos depois de tomar posse pela primeira vez, mostrando como, no Brasil, passado, presente e futuro parecem, muitas vezes, ser uma coisa só.
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
1
A VOZ QUE
NINGUÉM ESCUTOU
é um livro que retrata a miséria e a desigualdade social brasileiras, bem como Vidas secas
2
livro de um autor brasileiro e nordestino muito importante, bem como Ariano Suassuna
3
citado como referência fundamental de Socorro Acioli
obra que trata de traumas e segredos transgeracionais, bem como
A VOZ QUE NINGUÉM
ESCUTOU, de Renan Silva
que já havia indicado para a TAG, em 2019, o livro Adeus, Gana
autora enviada pela TAG, escolhida pelo curador
José Eduardo Agualusa
Da mesma estante
Livros que poderiam estar na mesma prateleira que o livro do mês
O CONTINENTE, Erico Verissimo Companhia
das Letras 416 pp.
O livro abre a trilogia O tempo e o vento, que percorre a história do Rio Grande do Sul e do Brasil acompanhando a formação da família Terra Cambará. No ir e vir entre passado e presente, desfilam personagens fascinantes, como Pedro Missioneiro, Ana Terra, Capitão Rodrigo e Bibiana, eternamente vivos na imaginação dos leitores.
VIDAS SECAS, Graciliano Ramos Record
176 pp.
Vidas secas retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. Fabiano caminha pela paisagem árida do Nordeste com sua mulher, Sinha Vitória, e os dois filhos. São acompanhados por uma das cachorras mais famosas da literatura brasileira, Baleia.
K., Bernardo Kucinski Companhia
das Letras 176 pp.
Em 1974, a irmã de Bernardo Kucinski, professora da USP, é presa pelos militares ao lado do marido e some sem deixar rastros. Seu pai, judeu imigrante que na juventude fora preso por suas atividades políticas, inicia então uma busca incansável pela filha e depara com a muralha de silêncio em torno do desaparecimento dos presos políticos.
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PASSADOS
PRESENTES, Rodrigo Patto
Sá Motta
Zahar 336 pp.
Enfrentando os discursos falaciosos de exaltação ao golpe de 1964 e à ditadura militar — cada vez mais disseminados em época de fake news —, “Passado presente” repassa a história de mais de vinte anos de ditadura no Brasil, oferecendo argumentos e dados para uma reflexão criteriosa sobre o nosso recente passado autoritário.
DIAS
DE FAZER SILÊNCIO, Camila Maccari
Autêntica 176 pp.
Maria é apenas uma criança e enfrenta um turbilhão de sentimentos com a doença do irmão mais novo, o silêncio dentro de casa, a ausência dos pais e as culpas de pensar e desejar o que deseja. Uma história intensa e delicada sobre vida, infância, amor, morte, luto, fraternidade, fragilidade, força e pequenas insurgências, em uma linguagem tão poética quanto direta.
A MULHER QUE ATRAVESSA A PONTE, Ana Cardoso
Zouk 204 pp.
Elisa é diarista e cruza a ponte para trabalhar em Porto Alegre. Submetida ao drama das enchentes e das dificuldades financeiras, ela dribla com humor e perseverança, na relação de trabalho e de vida com as patroas. Recuperando o passado da protagonista e as condições dos moradores, o livro traça um importante painel demográfico da região, sem reduções ou generalizações.
LEIA. CONHEÇA. DESCUBRA: Paulo Leminski
Assim como a narrativa de Renan Silva, a poesia de Paulo Leminski conta a história de um Brasil múltiplo e em plena transformação. Diretamente influenciado pelo concretismo, o autor foi próximo dos criadores do movimento, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos, e expandiu sua relação com a cultura popular em parcerias com músicos como Caetano Veloso e Itamar Assumpção. Ler Leminski é ampliar para outros caminhos a compreensão afetiva, linguística e cultural sobre nosso país.
Nome
Paulo Leminski Filho
Nascimento
24 de agosto de 1944,
Curitiba-PR
Morte
7 de junho de 1989,
Curitiba-PR
Poeta, escritor, tradutor, professor, judoca, letrista e publicitário, é difícil definir Paulo Leminski melhor do que ele mesmo: “Eu sou um bandido que sabe latim”.
Estudioso obsessivo da língua e da linguagem, juntou o simbolismo com o concretismo, olhou com cuidado para o haicai, ouviu com amor a música popular e criou um estilo e uma obra em que cada uma dessas influências se destaca.
Aos 12 anos, saiu de Curitiba para levar a sério a educação no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, não pela educação religiosa, mas pela língua e pela história cultural do ocidente: lá, caiu de cabeça no estudo de latim, teologia, filosofia e literatura clássica.
Aos 19, o mosteiro ficou pequeno, e, numa viagem para a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em BH, conheceu Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos, criadores da poesia concreta, de quem ele ficaria muito próximo.
Publicando poemas em revistas literárias, começou a dar aulas para viver. Participou ativamente do movimento da poesia marginal e logo se destacou pelo coloquialismo e humor com que escrevia.
Aos 31, publica Catatau, um romance experimental com toques de Beckett e Joyce, que inventa uma língua própria, tropical, rica, exuberante. A obra, uma ágil alegoria tropicalista, apresenta o filósofo francês René Descartes vivendo no Brasil holandês de Maurício de Nassau, no século XVII, fumando maconha e comparando o pensamento europeu à natureza do povo tropical.
Casado com a também poeta Alice Ruiz, com duas filhas, passou a ganhar a vida em Curitiba como redator de publicidade depois de ter sido jornalista e professor de Português e História.
Às vezes desapontado com a recepção de sua obra, especialmente a de Catatau, Leminski nunca se afastou da poesia, fosse nas parcerias musicais (com Caetano, Itamar Assumpção etc.), fosse como tradutor brilhante de autores como James Joyce e Matsuo Basho.
Mas uma pessoa tão intensa também sofre intensamente. Leminski abusou da bebida, o que só se agravou depois que um câncer levou Miguel, seu filho mais velho com a poeta Alice Ruiz. E a bebida cobrou seu preço implacável.
Leminski morreu em Curitiba, Paraná, no dia 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos — mesma morte e mesma idade, aliás, de Fernando Pessoa, um de seus ídolos.
Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.
CAPRICHOS & RELAXOS
Uma pérola perfeita para entrar na poesia do Leminski: a linguagem coloquial, a influência do concretismo, a paixão pelo haicai e as sacadas geniais.
TODA POESIA
Um poeta brilhante. Não só pelo talento, mas porque a leitura de seus poemas dá um brilho na inteligência. Poesia para todo dia, para alegrar a vida, para fazer pensar. Poesia que faz companhia.
CATATAU
Romance construído como uma selva de palavras, em que história e linguagem se misturam numa alucinação genial. Para ler em voz alta, aos poucos ou de uma só vez, é uma aventura inesquecível.
No próximo mês
Um romance de formação que afirma a diferença de forma crua, poética e verdadeira. Escolhida por uma das escritoras mais destacadas da literatura brasileira contemporânea, a obra traz uma protagonista forte em conexão e diálogo com seu mundo interno e com as possibilidades e entraves de seu contexto social e político. Vem
Encontre as 9 PALAVRASque dão dicas do spoiler do próximo mês.
Madame TAG responde
Olá, Madame Tag, sou assinante da Curadoria há cerca de quatro anos, realmente me apaixonei pelo projeto da TAG e hoje sou uma leitora ainda mais assídua, agradecida demais por isso. Hoje me sinto à vontade para pedir que me ajude. Tenho uma linda mangueira em "meu quintal" que me parece realmente ser uma velha senhora, me cuidando e se relacionando comigo há cinco anos, e hoje me encontro em um dilema ANGUSTIANTE: receberei em breve um filho e terei de me mudar de casa, mas o que mais me dói é ter de deixar a sra. Mangueira. Peço que me indique livros que me ajudem a realizar e superar essa despedida.
Cara leitora angustiada, que dilema simbólico! Você diz que há quatro anos ficou ainda mais próxima dos livros e que há cinco essa majestosa árvore de frutos suculentos toma conta de você. Livros abrem caminhos para uma sensibilidade que nos ajuda a ler melhor tudo que nos cerca. Quase consigo enxergar seus momentos de paz agarrada a um bom livro à sombra dessa mangueira. Há um poeta que coloca em palavras como ninguém essa intimidade com a natureza. "Entender é parede: procure ser uma árvore", escreveu Manoel de Barros em Gramática expositiva do chão. Para embarcar num romance que narra de forma crua e delicada o encontro de um protagonista complexo com seu jardim, a dica é A visão das plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida. Para um mergulho no fluxo do inconsciente, vá fundo em Água viva, de Clarice Lispector, onde a autora explora de forma livre e abstrata os sentidos do mundo vegetal.
Despedir-se dessa figura de ancestralidade no momento em que você se torna mãe talvez seja como perder uma referência de cuidado quando você mais precisa dela, não é? Pois lembre-se de que as crianças sabem enxergar a mágica que mora nos jardins. Em breve, você terá alguém para compartilhar suas memórias da mangueira, o encantamento pelas palavras e pelo mundo.
Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br
“Querem saber de uma cousa? No Brasil, tudo é possível.”
– LIMA BARRETO