Última parada
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outubro de 2021
COLABORADORAS
RAFAELA PECHANSKY
JÚLIA CORRÊA
LAURA VIOLA HÜBNER
Publisher
Editora
Assistente
LUÍSA SANTINI JANUÁRIO
CAROLINE CARDOSO
Assistente
Revisora
PAULA HENTGES
GABRIELA BASSO
Designer
Designer
Impressão Impressos Portão 2
LAÍS FONSECA Designer
OLÁ, TAGGER Nesta revista, a TAG optou por abranger todas as grafias usadas pelos autores aqui apresentados para a sigla LGBTQIA+.
O livro que você recebe este mês foi escrito por Casey McQuiston, romancista que conquistou milhares de leitores com uma narrativa bastante inusitada — em Vermelho, branco e sangue azul, de 2019, o filho da presidente dos Estados Unidos envolve-se com o príncipe da Inglaterra. Em Última parada, obra que a TAG envia agora em primeira mão, McQuiston convida os leitores a usar, mais do que nunca, a imaginação. Na trama, August Landry é uma garota que se muda para Nova York em busca de uma vida estável, mas é surpreendida pela chegada de Jane. Em pleno metrô, elas estabelecem uma química imediata. O único detalhe é que a divertida e descolada Jane está perdida no tempo e, na verdade, pertence aos anos 1970. Não por acaso, McQuiston, pessoa não binária e bissexual, dedica o romance às “comunidades LGBTQIAP+ do passado, do presente e do futuro". Em seu livro, ficamos a par das vivências de diferentes gerações que precisaram (e ainda precisam) lutar contra o preconceito e a discriminação. Por isso, nas páginas a seguir, você poderá ler uma série de artigos que ajudam a contextualizar os temas trazidos por Última parada: como era a experiência de pessoas LGBTQIA+ nos anos 1970? Qual é o impacto de histórias de amor como essa em questões de representatividade? O que é possível fazer para ser um aliado da causa? E mais: que elementos da ciência estão presentes na eletrizante narrativa de McQuiston? Não faltam convites à reflexão. Boa leitura!
Unboxing
PROJETO GRÁFICO Quando compartilhamos com Casey McQuiston a edição da TAG de Última parada, sua reação foi imediata: “Omg! YES! I absolutely love this!” (em português: “Meu Deus! Sim! Eu absolutamente amei!”). Com cores vivas e alegres, o projeto gráfico do mês evoca a sensibilidade das comédias românticas e escapistas — nesse caso, um romantismo que não deixa de lado as discussões sociais. Já na capa, seguindo o direcionamento de McQuiston, vemos as duas protagonistas desta história de amor, Jane e August, rodeadas por composições gráficas e abstratas que remetem a lugares e objetos da narrativa: os trens de metrô, que entram e saem do plano como se fossem um único elemento infinito; o prédio onde as personagens trabalham; a faca de bolso de August e o toca-fitas de Jane. Em referência direta à sinalização do metrô de Nova York, o lettering do título foi construído em um retângulo preto com a fonte CoFo Kac — conhecida por trazer ritmo e visual de impacto em projetos editoriais. A padronagem da sinalização também se repete nos outros materiais, como as setas da guarda nas primeiras páginas internas do livro. A luva, com destaque para a linha Q, utilizada pelas personagens, representa o mapa do metrô da capital norte-americana, além de ambientar o enredo com pontos turísticos da cidade, como a Estátua da Liberdade e o Empire State Building. Todas as ilustrações do kit foram criadas por Camila Abdanur (ela/neutro), designer, ilustradora e quadrinista. Para conhecer seu trabalho, acesse: www.cahlac.com.br.
MIMO Neste mês, desenvolvemos como mimo uma necessaire personalizada com uma etiqueta bordada, que estampa as cores da bandeira e do orgulho LGBTQIA+. Confeccionada em nylon, em formato de envelope e com zíper, a necessaire foi pensada para ser um acessório não apenas útil no seu dia a dia, mas também um lembrete sobre a importância da representatividade, da pluralidade e da equidade.
SUMÁRIO 5 O livro do mês
8 Relato pessoal: Os recados da vida e da ficção
12 Entrevista com Clara Alves
18 Você se considera aliado da causa LGBTQIA+?
21 Química e eletricidade: o que a ciência sabe sobre as leis da atração
24 Próximo mês
Q
DÉBORA SANDER
Recorte da box de Última parada Camila Abdanur
O livro do mês
SER LGBTQIA+ NOS ANOS 1970
“Uma história em que gays renascem, em vez de morrer”: é assim que Casey McQuiston descreve seu segundo livro, que você recebe na caixinha deste mês. Última parada é uma homenagem às várias gerações de pessoas LGBTQIA+ que lutaram pelo direito de existir. É, em muitos sentidos, uma narrativa sobre memória: daqueles que sobreviveram, dos que precisaram fugir para se salvar, dos que foram vítimas da intolerância e daqueles que esqueceram quem são. Nossa memória, afinal, nos constitui, e lembrar quem somos nos dá firmeza para caminhar mesmo em terrenos instáveis. Em Última parada, você vai conhecer August, uma jovem de 23 anos que não teve uma vida muito convencional até então: ela passou a infância e a adolescência em arquivos policiais e bibliotecas, ajudando a mãe na infindável investigação sobre o tio, desaparecido quase cinco décadas antes, nos anos 1970. Para escapar da influência materna e ter uma rotina mais parecida com a de outras pessoas da sua idade, August decide concluir seus estudos em Nova York. Sozinha na Big Apple, ela deseja ser apenas mais uma na multidão, mas a vida e seus acasos interpelam o caminho da protagonista. O primeiro deles leva August a dividir apartamento com um excêntrico grupo de amigos no Brooklyn. Nyko, Myla e Wes, personagens tão encantadores que poderiam ter livros inteiros sobre eles, abrem para ela um universo novo, no qual o espírito de comunidade, o acolhimento, a alegria e a celebração das diferenças a fazem sentir, enfim, pertencente e livre para descobrir quem realmente é. O segundo acaso atravessa o rumo de August em plena linha Q do metrô de Nova York, onde ela é 5
arrebatada pelo encontro com Jane, uma garota cativante que provoca na protagonista uma atração intensa e imediata. “Quando você está no metrô, atravessando um túnel, e olha pelas janelas, você poderia estar em qualquer lugar. Você poderia estar no espaço, poderia estar embaixo d’água. Sinto que há algo muito bonito e predestinado no encontro com um estranho nesses momentos fortuitos e passageiros no transporte público”, afirmou McQuiston em entrevista à Refinery 29. As duas passam a se encontrar diariamente no trem, mas a história faz um desvio de rota surpreendente quando August descobre que sua crush do metrô, na verdade, é uma jovem dos anos 1970 perdida no tempo e presa à linha do trem, sem lembrança alguma da própria vida. Munida de suas habilidades investigativas e dos sentimentos que tem por Jane, August passa a dedicar seus dias a buscar informações sobre o passado da garota e ajudá-la a resgatar suas memórias. Conforme a história de Jane é recuperada, fica evidente o contraste entre as experiências de uma pessoa LGBTQIA+ nos dias de hoje e nos anos 1970, quando ataques e perseguições homofóbicas eram episódios extremamente corriqueiros, legitimados de forma velada pelo Estado, e mobilizavam pouco a sociedade como um todo. Jogando luz sobre a força da comunidade LGBTQIA+ de outros tempos, McQuiston nos lembra de quem deu início à luta que hoje segue, com um longo caminho a percorrer, mas muitas conquistas na bagagem. “Sinto que uma parte importante deste livro é sobre a forma como de fato perdemos coisas – a vida é dura, você passa por momentos de luto intenso, e ainda assim é possível se apaixonar, ser feliz, viver e sobreviver. Em relação ao timing do livro, que está sendo lançado justamente quando acabamos de passar por esse ano absolutamente brutal, acredito que muitas pessoas gostariam de refletir sobre o lugar que o luto ocupa na vida delas e como outras coisas boas podem existir, ainda assim, ao lado desse sentimento difícil”, ressalta McQuiston. 6
PERCURSO HISTÓRICO Os anos 1970 foram um divisor de águas para o Movimento LGBTQIA+, e alguns dos episódios mais simbólicos desse percurso histórico aconteceram justamente em Nova York, cenário do livro deste mês. Em 1962, Illinois foi o primeiro estado do território norte-americano a descriminalizar práticas homossexuais. Na década seguinte, mesmo os direitos básicos eram extremamente recentes para a comunidade LGBTQIA+, e era necessária muita resistência para fazer valer esses avanços. Sete anos mais tarde, em 1969, aconteceu o grande marco do movimento, a Rebelião de Stonewall. No episódio, um grupo de gays, bissexuais, lésbicas, travestis e drag queens passaram dias reagindo às agressivas abordagens e batidas policiais realizadas arbitrariamente em bares da cidade frequentados por essa população. O episódio levou à adoção de uma postura mais combativa, aberta e de afirmação da diversidade, que predominaria dali em diante entre militantes da causa. A data, 28 de junho, ficou marcada
como Dia Internacional do Orgulho (Pride day). No ano seguinte, Brenda Howard, uma mulher bissexual, criou um evento em comemoração a Stonewall. A celebração virou tradição e se tornou o que hoje conhecemos como Parada LGBT+. O movimento nos Estados Unidos influenciou e se desenvolveu em paralelo à mobilização de pessoas LGBTQIA+ no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Os ativistas brasileiros começaram a se organizar em plena ditadura militar, resistindo aos abusos e perseguições sofridos tanto do regime militar quanto de parte da esquerda, que considerava o movimento uma “luta menor”. Em 2014, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade – que investigou as violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura – expôs uma política de Estado LGBTfóbica, que legitimava ataques sistemáticos aos direitos da comunidade, como ameaças e prisões arbitrárias, censura, torturas, espancamentos e extorsões.
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JAMIL RIBEIRO
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Depoimento
RELATO PESSOAL: OS RECADOS DA VIDA E DA FICÇÃO
Um quarto de século. Aparentemente, foi o tempo que me custou para começar a enxergar o espaço que o amor sempre quis ocupar na minha vida. Hoje, com 25 anos, entendo que para nada há uma linha de chegada quando o ponto de partida somos nós. É preciso ter peito para bancar ser alguém, e amar isso é sempre um começo. Prefiro acreditar que, se essa linha de chegada tiver de existir, que seja então numa realidade onde nenhum segundo seja desperdiçado não sendo e não amando ser. Comecei a assistir à história de Cristina, retratada na série Veneno (HBO), e tive o sentimento de preenchimento e de alívio ao ver pessoas trans contando sobre si. Costumo escrever sobre minhas ideias de infância em uma tentativa de falar o que achava não ser possível naquele tempo. Às vezes, não sei se estou falando por mim ou apenas olhando para trás enquanto falo comigo, mas sinto que, quando o não dito ocupa um espaço tão grande, falo com o futuro também. A série fala comigo e ela sabe que o faz — aí está o afeto. Talvez seja por isso que muitos de nós encontramos acolhimento apenas nos nossos, pois esses recados não se explicam, apenas são. Eu sou porque alguém foi e posso ser porque alguém se fez existir. Isso me é ensinado assim que ponho os olhos nela apenas sendo sua própria história. Quando uma mulher trans passa e Cristina diz que a vida sempre dá um jeito de te lembrar quem você é, consigo perceber
todos os momentos em que não fui. Mesmo que hoje isso possa ser um processo terapêutico de autoconhecimento, não é o que entendo de antemão. O que entendo são todos os momentos incessantes de buscar algo que eu não sabia o que era pelo simples fato de nunca ter visto. Como posso saber que sou possível sem nunca ter me visto? Hoje, Cristina está no streaming do meu celular, mas meu eu de infância se frustra indagando onde será que ela estava antes. E os que se pareciam comigo, onde estavam? Há um tempo, discutia-se a presença de crianças trans em filmes como Tomboy; hoje, as sigo nas redes sociais. Logo após o mês do orgulho LGBTQIA+, pela primeira vez, estive frente a frente com uma, exatamente no dia em que assisti a um episódio de Veneno no qual uma jovem, Valeria, sem mencionar quem era, seu nome ou seus pronomes, apenas revelando-se uma grande fã de Cristina e disparando muitas perguntas, é questionada de volta: “e você?”. Para mim, isso não é só uma pergunta, mas um recado. Ela não quis dizer “e você?”, mas “seja!”. Com isso, percebo que, por mais que nossos processos sejam individuais e múltiplos, a invisibilidade nos faz (assim como Valeria) procurar toda brecha que nos mostre alguma parte de nós em alguém. Ora, mas nossas transições não são processos individuais? Claro! Não percebemos é que essa procura por representatividade nada mais é do que a busca concreta da nossa própria presença. Não é que precisemos que o outro nos diga quem somos ou que sejamos iguais — é que até hoje parecemos só conseguir pensar nas possibilidades de existência perto destes, e talvez por isso Cristina já soubesse de Valeria. Quando ela diz que Valeria sempre foi assim e sempre será, não é como se fosse uma novidade para nenhuma das duas. É, no caso, uma validação. Falo dessas particularidades pois, assim como os meus semelhantes, sinto que sempre distorci o conceito de amor. Como amar homens trans se não os vejo? Como admirar travestis se não as deixamos estar nos espaços? Para quem são os afetos? Como um menino branco, o afeto praticamente nunca me foi negado. Mas foi nítida a mudança da leitura subjetiva que o afeto passou a ter 9
de mim quando, há pouco mais de um ano, passei a me discursar assim, menino. Quando assisti à série Feel Good (Netflix), fiquei surpreso com como minha percepção da protagonista divergia do modo como as pessoas cisgêneras a viam. Mae Martin, uma humorista que fala sobre sua dependência química e a manutenção da sua sobriedade, apaixona-se por uma garota até então heterossexual. O romance se passa de forma eufórica até o casal ter suas primeiras crises. Mae começa a questionar sua identidade de gênero exatamente ao passar a se sentir preterida pela namorada, que parecia ter dificuldade em reconhecer a própria sexualidade e, consequentemente, de assumi-la. No meio de diversos insights, a protagonista fala sobre como via o amor em seus outros relacionamentos, chegando a discursar que ela não é “adicta” às drogas, sua personalidade que é. Na lógica de Mae, sua dependência não seria diferente em relação ao amor. A série chega a ser um gatilho para quem tem esse tipo de vivência, o que logo me fez perguntar quantas pessoas LGBTQIA+, principalmente as que não são cisgêneras, se identificariam com a baixa autoestima da personagem ao se colocar nessas situações. Creio que seria fácil para muitos ver apenas como uma história de amor romântico na qual as pessoas passam por adversidades juntas em nome desse afeto. Porém, não consegui deixar de pensar em quantas pessoas trans acabam atropelando o próprio processo de autoconhecimento para poder caber no crivo de alguém, tal como Mae ao identificar que a única possibilidade de receber o afeto de alguém heterossexual é sendo um garoto. É algo que fica mais nítido assim que ambos se afastam e a protagonista começa a considerar a possibilidade de ser não-binário — um processo que vai perdendo força ao longo da série, uma vez que, com a namorada fora de cena, os comportamentos de Mae sutilmente vão se assemelhando aos de uma crise de abstinência. Quando pergunto para quem são os afetos, questiono quem são as pessoas que conseguem falar do amor. Parto 10
de uma perspectiva de humanização quando percebo que somente agora me identifico com um personagem que se autossabotava a ponto de buscar relacionamentos que contribuíam para sua invisibilidade. Claro que meu processo de autoconhecimento teve como resultado validar as objetificações pelas quais passei — não seria isso me humanizar? Me permitir chamar meu processo de meu? Falo das relações de pessoas trans e suas representatividades porque muitas vezes o amor do qual elas falam me soa sinônimo de si. Amar os seus também funciona como ferramenta política. Minha primeira representatividade foi uma tia lésbica que vivia com sua companheira. Eu tinha dez anos na primeira vez que ela disse que eu era “apaixonante”. Eu nem sabia que isso era uma palavra, não conhecia ninguém com esse nome. Uns anos depois, quando contei à minha mãe, ela buscou explicar: “você era uma criança muito sorridente!”. Outra tia disse que era porque eu “abraçava gostoso”. Vou me formar na universidade e minha avó ainda me chama de “bêzin”. Eu só sabia que talvez fosse uma criança apaixonante. Mas hoje, bissexual e trans, vejo pessoas ainda alegando que “as crianças estão em perigo”. E estão mesmo. O mundo não está minimamente preparado para vê-las felizes. Cuidado com a gente. Há, então, mensagens para o passado? Sigo moldando algumas certezas ao pensar que ele quem me manda recados. Só agora ouço. Toda vez que eu me movo, vejo que me convido a ser quem sou. Isso já é o recado. O convite é constante! Depois de empurrar as bordas, agora elas me cabem. Cada letra do meu nome. Com amor, o passado guardou meu lugar, assim mesmo como se guarda uma carteira para um amigo na sala de aula. Agora, eu olho bastante para a frente porque não vejo a hora de olhar para trás. É nosso, nós somos. Isso também é recado.
AMAR OS SEUS TAMBÉM FUNCIONA COMO FERRAMENTA POLÍTICA
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Entrevista
UM PAPO COM CLARA ALVES Casey McQuiston tem sido uma das potentes vozes da literatura LGBTQAI+, junto com autores como David Levithan, Becky Albertalli, Benjamin Alire Sáenz, Kacen Callender e tantos outros que têm trazido para a literatura uma representatividade muito desejada e importante. O Brasil também tem construído um grupo crescente de autores comprometidos com narrativas diversas, que mostram toda a complexidade presente na comunidade LGBTQAI+. São nomes como Vitor Martins, Juan Jullian, Pedro Rhuas e a nossa entrevistada, Clara Alves. A seguir, confira uma conversa com a autora do best-seller Conectadas, na qual falamos sobre mercado editorial, a importância dessas histórias e futuros projetos.
CAMILA CERDEIRA
Clara Alves Ingrid Benicio 12
A literatura tem marcado parte importante de sua vida. Você, inclusive, escreveu seu primeiro livro aos oito anos de idade. Como teve início essa relação? Clara Alves – Desde que eu era bebezinha, minha mãe costumava ler para mim. E esse estímulo foi fundamental para me despertar a paixão pela literatura – aprendi a ler em casa, antes mesmo de ser alfabetizada na escola, porque já não queria ter que esperar a disponibilidade
da minha mãe para devorar as histórias e me perder naqueles mundos. Daí para a escrita, foi um processo quase que espontâneo. Eu comecei a sentir a necessidade de também colocar no papel as histórias e mundos que criava em minha cabeça. E assim eu fiz. Escrevi As aventuras de Maria e sua turma, uma espécie de coletânea de contos fantásticos em que eu e meus amigos da escola éramos os protagonistas, e não quis mais parar. Cheguei a compor algumas músicas e poemas também, mas a prosa sempre foi meu ponto forte. Era o que realmente me dava aquela comichão no peito — e continua me dando até hoje. Quem cresceu nos anos 2000 é muito carente de boas representações LGBTQAI+. Qual foi o primeiro livro através do qual você realmente se sentiu representada? O primeiro livro que eu li que me acendeu essa faísca foi Com amor, Simon, mas não foi exatamente o primeiro em que me senti representada. Afinal, Simon é um protagonista masculino, gay. Mas ele me abriu portas para a literatura LGBTQIAP+, e eu fui lendo cada vez mais histórias que me encantaram e falaram comigo, até receber o convite de Maria Freitas para editar os contos do Clichês em rosa, roxo e azul. E foi uma das maiores alegrias da minha vida, poder trabalhar em tantas histórias importantes, que representavam quem eu sou em tantos personagens. Conectadas, seu romance de estreia, é um dos grandes sucessos da literatura jovem-adulta LGBTQAI+ brasileira, e você se tornou uma inspiração para muitos escritores que estão surgindo agora. Quais são os autores que lhe influenciam e inspiram a continuar escrevendo? Nossa, fiquei até nervosa com esse título importante (risos). Eu me sinto honrada por fazer parte dessa trajetória e, ao mesmo tempo, muito triste de pensar que só agora, do final dos anos 2010 para cá, a literatura LGBTQIAP+ nacional começou a ganhar força. Por isso, a maioria dos autores que me inspiraram na minha adolescência não eram queer nem brasileiros, mas 13
Capa do livro Os sete maridos de Evelyn Hugo
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foram fundamentais para plantar a sementinha do que eu sou hoje — Meg Cabot, Christopher Paolini, Suzanne Collins, Markus Zusak, Jane Austen. Mas graças a essa movimentação do mercado, recentemente conheci muitos autores incríveis, que têm me inspirado cada dia mais. Becky Albertalli, Casey McQuiston, Leah Johnson, Taylor Jenkins Reid, com o meu livro favorito dos últimos tempos, Os sete maridos de Evelyn Hugo. E os nacionais Maria Freitas, Vinicius Grossos, Ana Rosa, Juan Jullian, Vitor Martins, Iris Figueiredo, Ray Tavares, Lola Salgado, Thais Bergmann. Nossa, são muitos! Em Conectadas, temos inúmeras representações sendo feitas: personagens bissexuais, pansexuais, assexuais. O que motivou você a trazer tanta diversidade para ser representada nas suas histórias? Eu sempre digo que Conectadas foi como um processo de autoterapia. É engraçado porque eu costumo dizer que quase todo autor coloca muito de si mesmo em seu primeiro livro e, à medida que vai crescendo como escritor, vai aprendendo a criar novos personagens, a construir novas personalidades. Comigo não foi diferente, claro, com As aventuras de Maria e sua turma e mais tarde, quando comecei a escrever de fato, com Além da amizade. Mas sinto que Conectadas foi como um primeiro livro de novo. Talvez por ter sido uma nova fase minha, um novo momento que eu estava vivendo, uma nova descoberta que eu precisava entender. Tanto a Raíssa quanto a Ayla têm muito de mim, do que eu vivia quando escrevi, das referências que eu tinha na época. A ascendência indígena da Raíssa e sua dificuldade de entender em que lugar isso a coloca. Sua relação com os pais e o medo de ser rejeitada. As dúvidas da Ayla sobre a bissexualidade. Até mesmo sua origem japonesa tem um pouco de mim, em parte porque eu amo a cultura, em parte porque fui confundida como japonesa a vida toda por conta do formato dos meus olhos. A assexualidade do Leo foi um pouco de mim mesma ainda não pronta para lidar com essa parte de mim (curiosamente, ou nem tanto assim, a primeira personagem queer que escrevi foi
uma personagem bissexual secundária também, antes de Conectadas, antes de eu estar pronta para abordar isso como enredo principal). Conectadas foi uma espécie de mundinho de Claras e suas partes tentando se entender. Como você vê a abertura do mercado literário a produções LGBTQAI+? E como tem sido a aceitação do público? Eu sou muito privilegiada por meu primeiro livro queer ter sido justamente minha primeira publicação por uma editora, e uma tão grande quanto a Seguinte, mas sei que o mercado ainda é muito restrito para livros LGBTQIAP+, especialmente quando se trata de nacionais. Em janeiro, eu pude comprovar isso através do clube do livro que comecei a organizar: é um clube voltado para leituras com protagonismo sáfico (garotas que amam garotas, ou pessoas alinhadas ao feminino) e eu queria priorizar lançamentos de editoras tradicionais. A proposta do clube é justamente incentivar a publicação da literatura queer em grandes editoras, mas o cronograma teve que alternar entre lançamentos e livros de catálogo, porque não é possível encontrar livros sáficos sendo publicados todo mês. Se a gente for afunilar isso para a literatura nacional, a coisa fica ainda mais difícil. Por outro lado, as plataformas independentes têm ajudado muitos autores a se lançar e mostrar para as editoras que existem escritores de diversas sexualidades, gêneros e regiões do Brasil escrevendo essas histórias e que, sim, existe um público muito grande disposto a ler e comprar essas histórias. E eu acredito que é justamente esse mercado independente que tem impulsionado as publicações por editoras tradicionais. Estamos dando passos de formiguinha, mas pelo menos indo para a frente. E eu fico feliz demais de poder fazer parte disso, de Conectadas estar abrindo caminho para outros livros LGBTQIAP+ no mercado tradicional brasileiro. Fiquei muito surpresa com a recepção do público, de ver que, a cada ano que passa, o livro continua crescendo e atingindo ainda mais gente, ajudando tantos leitores a se ver representados, a ser acolhidos e, principalmente, a 15
encontrar sua própria voz para escrever as histórias que só elus podem contar. Eu também sou privilegiada por isso. Por receber tanto carinho e pouca represália, apesar de escrever uma história jovem, de amor entre garotas, o que, por si só, já é um prato cheio para críticas. A Profecia da Sereia, o conto que trata a história de Lila, uma sereia que vai à superfície em busca de sua alma gêmea numa festa de ano novo, foi publicado de forma independente e traduzido para o inglês. Como se deu esse processo de ver a sua história ganhar uma tradução? É claro que todo autor sonha em ter seus livros vendidos para outros países, porque isso é um sinônimo de sucesso. Mas a gente sabe que o mercado lá fora ainda é muito fechado para a literatura de língua não inglesa; foi só ano passado que os livros do Vitor Martins e do Lucas Rocha foram publicados nos Estados Unidos, e foi um passo gigante e importantíssimo para todes nós. Mas o mercado independente tem cada vez mais facilitado a realização desses projetos que costumavam não passar de sonhos. Com A profecia da sereia foi assim. Foi um processo totalmente independente e sou muito grata à Júlia Braga, que traduziu o conto para o inglês, e à Laura Machado, que fez a revisão e a capa, por terem me ajudado a realizar esse sonho de ver uma história minha traduzida. Ainda não é fácil chegar ao público lá fora, mas sinto que, à medida que nossas histórias vão se espalhando, mesmo que através da publicação indie, e alcançando uma, duas, três pessoas, vamos diminuindo essas barreiras e ajudando o nosso mercado a se ampliar também. Quem te acompanha nas redes sociais já está sabendo que você está trabalhando no seu próximo romance. Você pode nos adiantar alguma coisa dessa nova história? Hmmm, eu posso garantir que tem romance entre garotas, hahaha! E que, como quem me acompanha sabe, é uma história que vai além do romance. Dramas 16
familiares são a parte central do enredo e acho que, mais do que Conectadas, esse livro novo é focado na trajetória da protagonista, na superação de seus próprios traumas e medos. Acredito que, assim como Conectadas foi meu processo de aceitação, esse livro novo seja meu processo de amadurecimento. Ele é mais profundo e intenso nas tramas principais, mas também é mais leve no romance. E... é isso o que eu posso dizer, haha. Espero que vocês gostem tanto quanto eu amei escrever! Como foi o seu contato com a escrita de Casey McQuiston? Li Vermelho, branco e sangue azul no início de 2020 e foi uma das melhores leituras do ano! Casey tem uma escrita tão gostosa de acompanhar, que eu me vi encantada por todo o universo do livro. Uma das coisas que eu mais amei é a construção dos personagens. Todos eles, não apenas os protagonistas. São pessoas tão reais, complexas, com dilemas, defeitos e qualidades, que você sente que são seus amigos, sabe? Estou ainda mais feliz por saber que seu novo lançamento é um romance sáfico com viagem no tempo. Tem tudo para me encantar, e mal vejo a hora de conhecer August e Jane em Última parada!
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NICK NAGARI
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Reflexão
VOCÊ SE CONSIDERA ALIADO DA CAUSA LGBTQIA+?
As pautas LGBTQIA+ estão cada vez mais em foco, graças às crescentes conquistas desse movimento. Até pouco tempo atrás, seria impensável que um romance com protagonistas pertencentes à nossa comunidade pudesse obter tanto destaque quanto Última parada — e, mais ainda, que esse livro fosse enviado por um clube de assinaturas. O aumento da representatividade nas artes, a presença nas redes sociais e em campanhas publicitárias, além das duras estatísticas que batem à nossa porta diariamente, fazem esse assunto chegar a um público cada vez maior. No entanto, fica a pergunta: o que aqueles que não integram a comunidade podem fazer por esse movimento? Muitas vezes, as pessoas querem ser aliadas, mas não interferem em determinadas situações sob o argumento de que não é um problema delas ou de que não é seu “lugar de fala”. Mas não é porque não se pode falar por nós que não se deve saber quais são as nossas pautas e ajudar a defendê-las quando necessário. As questões de gênero e sexualidade fazem parte da nossa sociedade, portanto, são um problema de todos, não só dos grupos minoritários. Em muitos momentos, nós da comunidade não estaremos presentes para nos defendermos em situações preconceituosas. Dispor-se a combater um discurso ofensivo em um debate de trabalho ou em uma mesa de bar ajuda a diminuir as tantas microagressões que são normalizadas na nossa sociedade. Angela Davis diz que “não basta ser contra o racismo, é preciso ser antirracista”. Eu adaptaria essa frase também para a temática LGBTQIA+: é essencial que as
pessoas héteros cis* lutem contra o preconceito junto conosco. E como podem fazer isso? Repensando como nos enxergam, se respeitam nossas identidades e a forma como nos vestimos, nos comportamos e como queremos ser chamados; buscando saber quais são as nossas pautas, fortalecendo nosso trabalho, ecoando nossas vozes e falando a nosso favor quando necessário. Em relação à literatura, um bom primeiro passo é se questionar quantos livros com protagonismo LGBTQIA+ você já leu. Se forem poucos, qual é o motivo disso? O que você pode fazer para mudar? Caso Última parada seja o primeiro, leia e tente reparar nos pequenos detalhes, no que mudaria se o casal fosse composto por um homem e uma mulher cis heterossexuais, quais situações seriam diferentes, quais problemas não existiriam etc. É um bom exercício para notar que um relacionamento entre duas mulheres tem várias questões impostas pela sociedade que você pode nunca ter imaginado, porque não pertencem à sua realidade. A presença da literatura LGBTQIA+ no mercado está cada vez maior. Temos centenas de livros com protagonismo de todas as letras da sigla, abordando tanto o clichê da descoberta quanto os outros momentos da nossa vida, muitas vezes misturando as nossas vivências com a fantasia, o terror, a ficção científica e quaisquer outros gêneros de que você possa gostar. Inclusive, dou um destaque para o mercado nacional, que traz experiências de como é ser LGBTQIA+ no nosso contexto, o que deixa tudo mais familiar ainda para quem lê.
* cisgênero é o contrário de transgênero; quem não é trans é cis. 19
Nick Nagari Arquivo pessoal
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Outro aspecto para ressaltar é o consumo de histórias own voices, em que os autores são parte do grupo minoritário que está sendo descrito. Por muito tempo, apenas pessoas héteros cis escreveram sobre nós. Não é exatamente um problema, mas é importante que possamos, nós mesmos, falar sobre o que vivemos. Certamente, isso traz perspectivas mais reais de como é ser uma pessoa LGBTQIA+. Para além da literatura, convido para uma reflexão mais ampla. Quantos artistas LGBTQIA+ você consome? Quantas pessoas bissexuais existem no seu ciclo de amigos? Quantas pessoas trans você admira? Se as respostas forem “poucas” ou “nenhuma”, é possível mudar isso buscando estar em contato com a nossa comunidade pelas redes sociais, por exemplo, consumindo conteúdo de quem está falando sobre esses assuntos (como eu). Muitas pessoas acreditam que a desconstrução é linear e que, em algum momento, ela será naturalmente finalizada, mas a verdade é que ela é justamente o processo — esse caminho de pensar para além do que nos foi ensinado a vida toda, de entender que precisamos rever os estereótipos que temos em nossa cabeça. Para quem tem condições, é muito importante também que se mobilize para ajudar a nossa comunidade financeiramente, já que grande parte de nós está em vulnerabilidade social. Por exemplo, segundo o 1º Mapeamento de Pessoas Trans da Cidade de São Paulo, apenas 27% da população entrevistada tem emprego formal. Como o resto de nós sobrevive? Doando para projetos como o Quem Bindera, idealizado por mim, ou para espaços como a Casa Dulce Seixas e a Casa Florescer, é possível ajudar a mudar um pouco essa realidade. Por fim, acredito que a chave dessa questão pode ser resumida em proatividade e empatia. As pautas LGBTQIA+ não vão cair no seu colo. É necessário ser proativo para entendê-las e empático para notar como a sociedade é para nós. Por sermos criados segundo padrões heteronormativos, é comum carregarmos pensamentos preconceituosos — a questão é entender que eles precisam ser mudados para ontem. Vamos juntos?
Para ir além
QUÍMICA E ELETRICIDADE: o que a ciência sabe sobre as leis da atração DÉBORA SANDER
Última Parada é uma história de comédia romântica LGBTQIA+ com um enredo de ficção científica: Jane está presa à linha do metrô, deslocada 45 anos à frente de seu tempo de origem. Mas que elementos da ciência estão presentes na narrativa de Casey McQuiston? Um dos maiores enigmas que mobiliza os físicos há séculos, a possibilidade de se deslocar no tempo começou a ganhar consistência com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein, no início do século XX. Desde então, serviu de inspiração para outras especulações teóricas e segue sendo tema de investigações até hoje.
TEORIA DA RELATIVIDADE É composta por dois estudos de Einstein: o da Relatividade Restrita (1905) e o da Relatividade Geral (1915). Considerada a contribuição científica mais relevante do século XX, propõe que (1) a percepção do tempo e do espaço varia conforme o ponto de vista do observador; (2) a categoria de espaço-tempo é uma entidade unificada, com três dimensões espaciais e uma temporal; (3) a velocidade da luz não varia conforme o meio em que se propaga. Einstein provou, também, a partir da Teoria do Campo Gravitacional, que as regras da atração baseiam-se em energia atraindo energia, explicando a força de atração mútua entre dois corpos 21
no espaço. Por isso, sabe-se hoje que um corpo de massa enorme, como um planeta ou o próprio Sol, exerce uma energia suficiente para influenciar o percurso de deslocamento de outros corpos menores no espaço-tempo, atraindo-os para sua órbita.
MAS O QUE A TEORIA DA RELATIVIDADE TEM A VER COM VIAGEM NO TEMPO? A partir dessa teoria, foi possível presumir que, caso conseguíssemos lançar um corpo humano ao espaço, acelerá-lo até no mínimo a velocidade da luz (300 mil km/s) e trazê-lo de volta à Terra, essa pessoa viajaria para o futuro, pois o tempo para ela no espaço teria passado mais devagar do que o tempo transcorrido em solo terrestre. O problema é que ainda não dispomos de meios energéticos que possibilitem atingir essa velocidade e, mesmo que os tivéssemos, provavelmente o corpo humano não resistiria a essa experiência. Influenciadas pela Teoria da Relatividade, surgiram diversas especulações sobre viagem no tempo, tanto em narrativas ficcionais quanto em teorias com pretensão científica. Em Última parada, os próprios personagens procuram achar explicações para o deslocamento de Jane no tempo. Uma das hipóteses levantadas é a de que a eletricidade da linha do metrô teria sido capaz de abrir um portal temporal por onde a personagem passou a circular. Essa hipótese tem elementos de base científica, pois qualquer experimento de viagem no tempo demandaria altas cargas elétricas para ser executado. Porém, no enredo, a teoria dos multiversos se aproxima mais de explicar o caso de Jane.
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TEORIA DOS MULTIVERSOS Myla, colega de apartamento de August, é uma artista visual apaixonada por ficção científica e pela teoria dos multiversos. Para essa teoria, o Big Bang teria dado origem a um processo de deriva cósmica do nosso universo, que está se expandindo desde então, afastando-se de outras galáxias. Por isso, nem tudo o que há no espaço faz parte do nosso universo observável. Assim, para além do que podemos ver, haveria um conjunto de outros universos possíveis, resultante das mais variadas combinações de elementos, que possibilitaria realidades muito semelhantes ou completamente distintas da nossa. Especula-se que esses universos distintos coexistem e, eventualmente, poderiam colidir, mesclando realidades paralelas. A Teoria das Cordas, outro modelo da física moderna que busca unir a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, supõe a existência de múltiplas dimensões na nossa própria realidade, para além das quatro propostas por Einstein. Ou seja, esse modelo explora a ideia dos multiversos em níveis microscópico e subatômico. Existiriam, assim, realidades paralelas que não conseguimos perceber, mas que, especula-se, poderiam ser acessadas em determinadas condições.
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Próximo mês
VEM POR AÍ NOVEMBRO É oficial: mês temático à vista! Estamos preparando mais um momento de celebração na história da TAG: livros inéditos serão apresentados em primeira mão aos associados, além de eventos e um mimo especial, em homenagem à literatura negra. Em novembro, apresentamos uma história arrebatadora de um menino somali que embarca em uma jornada épica ao mesmo tempo que precisa enfrentar as turbulências de uma África afetada pela Segunda Guerra Mundial. Para quem gosta de: leituras e experiências imersivas, conhecer outras culturas, jornadas envolventes
DEZEMBRO Raça, romance e Brexit: neste livro, escrito por um dos maiores escritores britânicos da atualidade, duas pessoas se encontram em um contexto de turbulência política. À primeira vista, os dois não poderiam ser mais diferentes. Ele é bem mais jovem, ela tem dinheiro; ele é negro, ela é branca; ela é engajada politicamente, ele está preocupado com a sua carreira de DJ. Mas o que parecia um encontro casual vai dando espaço a algo sério enquanto o Reino Unido passa por uma polarização política sem precedentes. Para quem gosta de: confusões amorosas, discussões políticas, livros contemporâneos
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“O autoconhecimento não garante a felicidade, mas a favorece e nos dá coragem.” – Simone de Beauvoir
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