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COVID-19 DEIXA DE SER EMERGÊNCIA DE SAÚDE GLOBAL

A COVID-19 JÁ NÃO É UMA EMERGÊNCIA DE SAÚDE GLOBAL, DECRETOU A 5 DE MAIO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1.121 DIAS DEPOIS DE TER TOMADO CONHECIMENTO DE UM CONJUNTO DE CASOS DE PNEUMONIA DE CAUSA DESCONHECIDA EM WUHAN, NA CHINA. FORAM MAIS DE 765 MILHÕES OS CASOS CONFIRMADOS, DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA, E QUASE SETE MILHÕES DE PESSOAS MORRERAM.

OComité de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS) discutiu a pandemia, na sua 15.ª reunião sobre a Covid-19, e o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus concordou que a declaração de emergência de saúde pública de preocupação internacional, ou PHEIC, deveria acabar. “Há mais de um ano que a pandemia tem estado numa tendência decrescente, com o aumento da imunidade populacional devido à vacinação e à infecção, a mortalidade a cair e a pressão sobre os sistemas de saúde a diminuir”, indicou o director geral da OMS. “Esta tendência permitiu que a maioria dos países voltasse à vida como a conhecíamos antes da Covid-19”

“A COVID-19 EXPÔS E EXACERBOU AS LINHAS DE FRACTURA POLÍTICA, DENTRO E ENTRE AS NAÇÕES. CORROEU A CONFIANÇA

ENTRE PESSOAS, GOVERNOS E INSTITUIÇÕES, ALIMENTADA POR UMA TORRENTE DE DESINFORMAÇÃO. E PÔS A NU AS DESIGUALDADES GRITANTES DO NOSSO MUNDO, SENDO AS COMUNIDADES MAIS POBRES E VULNERÁVEIS AS MAIS ATINGIDAS E AS ÚLTIMAS A TEREM ACESSO A VACINAS E OUTRAS FERRAMENTAS”

Fim do modo de crise

A organização declarou o surto de coronavírus como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional em Janeiro de 2020, cerca de seis semanas antes de caracterizá-lo como uma pandemia. Esta declaração cria um acordo entre os países para cumprirem as recomendações da OMS na gestão da emergência. Cada país, por sua vez, declara a sua própria emergência de saúde pública, declarações que têm peso legal. “Há 1.221 dias, a Organização Mundial da Saúde tomou conhecimento de um conjunto de casos de pneumonia de causa desconhecida em Wuhan, na China. No dia 30 de Janeiro de 2020, a conselho de um comité de emergência convocado ao abrigo do Regulamento Sanitário Internacional, declarei uma emergência de saúde pública de preocupação internacional devido ao surto global de Covid-19, o mais alto nível de alarme ao abrigo do direito internacional. Naquela época, fora da China, havia menos de 100 casos relatados e nenhuma morte reportada. Nos três anos desde então, a Covid-19 virou o nosso mundo de cabeça para baixo. Quase sete milhões de mortes foram relatadas à OMS, mas sabemos que o número é várias vezes maior – pelo menos, 20 milhões. Os sistemas de saúde foram gravemente perturbados, com milhões de pessoas a perderem serviços de saúde essenciais, incluindo vacinas que salvam as vidas das crianças”, disse no seu discurso o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. Mas a Covid-19 tem sido muito mais do que uma crise sanitária. “Causou graves perturbações económicas, apagando biliões do PIB, perturbando as viagens e o comércio, encerrando empresas e mergulhando milhões na pobreza. Causou graves convulsões sociais, com fronteiras fechadas, circulação restringida, escolas encerradas e milhões de pessoas a viver na solidão, isolamento, ansiedade e depressão. A Covid-19 expôs e exacerbou as linhas de fractura política, dentro e entre as nações. Corroeu a confiança entre pessoas, governos e instituições, alimentada por uma torrente de desinformação. E pôs a nu as desigualdades gritantes do nosso mundo, sendo as comunidades mais pobres e vulneráveis as mais atingidas e as últimas a terem acesso a vacinas e outras ferramentas”, prosseguiu. Por todos estes motivos, não obstante o fim da situação de emergência de saúde global, tal não significa que tudo tenha terminado. O director geral da OMS relembrou que, na semana que antecedeu a declaração do fim de emergência pública, a Covid-19 ceifou uma vida a cada três minutos – “e essas são apenas as mortes que conhecemos”. Milhares de pessoas em todo o mundo continuam internadas em unidades de cuidados intensivos e outros milhões vivem com os efeitos debilitantes da condição pós-Covid-19. O vírus continua a mutar e permanece o risco de surgirem novas variantes que causem novos picos de casos e mortes. “A pior coisa que qualquer país poderia fazer agora era usar esta notícia como motivo para baixar a guarda, desmantelar os sistemas que construiu ou enviar a mensagem ao seu povo de que a Covid-19 não é motivo de preocupação. O que esta notícia significa é que é hora dos países passarem do modo de emergência para a gestão da Covid-19 ao lado de outras doenças infecciosas”, sublinhou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. Também a Dra. Maria Van Kerkhove, líder técnica de Covid-19 da OMS e chefe do seu programa sobre doenças emergentes, sustentou que a doença “veio para ficar” e que o coronavírus que a causa não vai desaparecer tão cedo. “Embora não estejamos no modo de crise, não podemos baixar a guarda. Epidemiologicamente, este vírus vai continuar a causar ondas. O que esperamos é ter as ferramentas para garantir que as ondas futuras não resultem em doenças mais graves, não resultem em vagas de mortes”

Futuro

Foram mais de 765 milhões os casos confirmados de Covid-19, desde o início da pandemia, segundo os dados da OMS. Quase sete milhões de pessoas morreram. A Europa teve o maior número de casos confirmados, mas as Américas registaram o maior número de mortes.

Os casos atingiram o pico em Dezembro de 2022, quando a variante Ómicron varreu o globo, atingindo a região do Pacífico Ocidental de forma particularmente severa. Mas as campanhas de vacinação permitiram que o número de mortes não escalasse. Globalmente, foram administradas 13,3 mil milhões de doses de vacinas. Actualmente, os casos e mortes por Covid-19 são os mais baixos em três anos.

O director geral da OMS indicou, contudo, que, se necessário, não hesitará em convocar outra reunião do comité de emergência e declarar novamente uma emergência de saúde global, se houver um aumento significativo de casos ou mortes por Covid-19 no futuro. “A Covid-19 deixou e continua a deixar cicatrizes profundas no nosso mundo. Essas cicatrizes devem servir como um lembrete permanente do potencial de surgimento de novos vírus com consequências devastadoras”, sublinhou. “Uma das maiores tragédias da Covid-19 é que não precisava ser assim. Temos as ferramentas e tecnologias para nos prepararmos melhor para as pandemias, detectá-las mais cedo, responder mais rapidamente e mitigar o seu impacto. Mas, globalmente, a falta de coordenação, a falta de equidade e a falta de solidariedade fizeram com que essas ferramentas não fossem usadas da forma mais eficaz possível. Perderam-se vidas que não deveriam ter sido perdidas. Devemos prometer a nós mesmos e aos nossos filhos e netos que nunca mais cometeremos esses erros. É disso que trata o acordo sobre a pandemia e as alterações ao Regulamento Sanitário Internacional que os países estão agora a negociar – um compromisso para com as gerações futuras de que não voltaremos ao antigo ciclo de pânico e negligência que deixou o nosso mundo vulnerável, mas avançaremos com um compromisso partilhado para enfrentar ameaças partilhadas com uma resposta partilhada”

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