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“PRECISAMOS DE UNIR O PAÍS PARA ALCANÇAR UMA MELHOR INCLUSÃO EDUCACIONAL E SOCIAL DAS NOSSAS CRIANÇAS”

PAULA MORAIS, DIRECTORA DA FUNDAÇÃO ANA CAROLINA, ABORDA A MISSÃO E OBJECTIVOS DESTA INSTITUIÇÃO ANGOLANA SEM FINS LUCRATIVOS, DESDE 2015 DEDICADA AO APOIO E ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS CARENCIADAS PORTADORAS DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS E DAS SUAS FAMÍLIAS.

O que é a Fundação Ana Carolina?

A Fundação Ana Carolina é uma instituição angolana, sem fins lucrativos, em actividade desde 2015. Prestamos apoio e acompanhamento a crianças carenciadas portadoras de doenças neurológicas e às suas famílias. Paralelamente a essa actividade principal, desenvolvemos também projectos para a autosustentabilidade das famílias e de algumas comunidades vulneráveis na província de Luanda. Temos ainda o objectivo de expandir para outras províncias, no futuro.

Quais são a principal missão e objectivos da fundação?

Trabalhamos com famílias carentes prestando orientação e auxílio, pela importância da envolvência do contexto familiar no desenvolvimento, na melhoria da qualidade de vida e na inserção.

Os nossos objectivos são incluir (promovemos activamente a inclusão da criança na sociedade e ajudamos a melhorar a sua qualidade de vida), reabilitar (oferecemos fisioterapia, terapia ocupacional e da fala, consultas de especialidade, ajudas técnicas, exames de diagnóstico, medicamentos, fraldas e outros bens de primeira necessidade) e capacitar (orientamos a família na vivência saudável com a patologia da criança, workshops e mini cursos em diversas áreas).

De que modo a fundação poderá fazer a diferença na vida das crianças angolanas?

A Fundação Ana Carolina poderá fazer a diferença na vida das crianças angolanas, contribuindo para a construção e manutenção da saúde física, mental e afectiva, bem como para o desenvolvimento da sua autonomia e inclusão social. Trabalhamos, igualmente, para a consciencialização da sociedade em geral para a importância da prevenção, acompanhamento e tratamento de crianças com deficiência e a importância da família e da sociedade em geral nesse contexto.

O que já foi feito, até ao momento, pela fundação na vida destas crianças?

Para além dos serviços de fisioterapia e outras terapias, consultas de especialidade e exames de diagnóstico, ajudas técnicas e medicamentosas prestadas a cerca de 80 crianças, a Fundação Ana Carolina tem significado na vida não só das crianças, como dos seus familiares. Entregamos alimentos e outros bens de forma regular, apoiamos algumas famílias com a renda de casa, electrodomésticos e outros bens de primeira necessidade, com fundos da fundação e com as doações recebidas.

Na área de reabilitação física, temos muito bons resultados, e alguns extraordinários, que originam, muitas vezes, altas médicas e evoluções determinantes na criança. Igualmente, devolvemos, através de grupos de apoio terapêutico e com workshops dos mais variados assuntos, a auto-estima de muitas famílias que chegam até nós desoladas e sem esperança, o que tem permitido melhorar a convivência entre casal/família e o ambiente familiar, a rentabilidade financeira, a aceitação do filho deficiente e outros assuntos com que todos nos deparamos.

Já alimentámos mais de seis mil famílias e continuamos a querer expandir o nosso trabalho para que mais crianças e famílias possam ter uma vida digna e sustentável.

Como é constituída a equipa da Fundação Ana Carolina?

A equipa da Fundação Ana Carolina é constituída por fundadora, presidente, coordenadores de diferentes áreas, administrativos, médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e da fala, todos quadros com experiência e que abraçam a missão de forma incansável.

Quais são as principais doenças do foro neurológico com as quais têm contacto?

As principais doenças são paralisia cerebral nas suas diversas manifestações clínicas, por critério topográfico, pacientes com hemiplegia, paraplegia, tetraplegia, que causam atraso no desenvolvimento psicomotor. Esses são acompanhados por sintomas como epilepsia, distúrbio sensorial, tanto auditivo quanto visual, transtorno comunicativo, comportamental e cognitivo.

Quais são os principais desafios no tratamento e acompanhamento de crianças com doenças do foro neurológico?

Embora com os tratamentos se possa melhorar o estado geral de saúde da criança, que depende da gravidade da sua condição, e onde a recuperação é lenta e a longo prazo, a envolvência, o estado emocional e a motivação dos cuidadores são cruciais e determinantes. Esse é, sem dúvida, o primeiro motivo que faz toda a diferença para a criança e familiares. Outros desafios são monetários e o acesso a bons profissionais, que tenham experiência nesta área. Os tratamentos são caros, específicos e, a longo prazo, torna-

“A PARALISIA CEREBRAL É UM PROBLEMA DE SAÚDE QUE AFECTA MAIS FREQUENTEMENTE A POPULAÇÃO INFANTIL, CAUSANDO INCAPACIDADE. ACTUALMENTE, ESTIMA-SE UMA PREVALÊNCIA GLOBAL DESTA PATOLOGIA EM 2-2,5 POR MIL NASCIDOS VIVOS NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS, PELO QUE EM ANGOLA O VALOR É SUPERIOR, DEVIDO AO DIFÍCIL ATEMPADO ACESSO ÀS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE, O QUE FAZ COM QUE, POR VEZES, NÃO TENHAM ASSISTÊNCIA MÉDICA ADEQUADA E PRECOCE” se pesado para a família. Por isso, actuamos nesta componente, assim como no acesso a cadeiras adaptadas ou de rodas e a outros materiais médicos e técnicos de que algumas crianças necessitam (andarilhos, próteses, órteses, entre outros).

No que toca à fundação, o nosso principal desafio é conseguir ter os fundos suficientes para melhorar e aumentar o nosso apoio e encontrar profissionais que tenham experiência nesta área para o acompanhamento, pois é necessária uma equipa multidisciplinar. Desta forma, as famílias são um enorme desafio, pois precisam de apoio permanente.

Quais são as principais limitações que sentem na realização do vosso trabalho?

Para além das descritas, as limitações para conseguirmos desenvolver o nosso trabalho, recorrendo a meios terapêuticos, assim como à fisioterapia, estão na obtenção do apoio do sistema de saúde para intervenções cirúrgicas de procedimentos ósseos e tendinosos, que podem comprometer o prognóstico da marcha em algumas crianças com paralisia cerebral, acesso rápido e oportuno dos pacientes às próteses necessárias, para prevenir ou corrigir más formações ósseas, e consultas externas de especialidade, como pediatria, neurologia, otorrino, psicologia, oftalmologia, gastroenterologia, entre outras.

Sentem que o preconceito em torno destas doenças é ainda uma realidade?

A paralisia cerebral é um problema de saúde que afecta mais frequentemente a população infantil, causando incapacidade. Actualmente, estima-se uma prevalência global desta patologia em 2-2,5 por mil nascidos vivos nos países desenvolvidos, pelo que em Angola o valor é superior, devido ao difícil atempado acesso às instituições de saúde, o que faz com que, por vezes, não tenham assistência médica adequada e precoce, acompanhamento durante a gravidez e os partos são retardados, com maior risco de infecções.

O que sentem que ainda falta à fundação alcançar?

A Fundação Ana Carolina ainda precisa de mais apoio do Governo e de instituições de saúde, serviços e educação para ter não só os recursos humanos necessários para oferecer atendimentos especializados e adequados, mas também o apoio financeiro para comprar os equipamentos necessários para as terapias e transporte para facilitar o acesso sistemático de pacientes de baixa renda aos serviços que oferecemos.

Precisamos de unir o país para alcançar uma melhor inclusão educacional e social das nossas crianças.

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