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DEMISSÃO SILENCIOSA

A DEMISSÃO SILENCIOSA É UM FENÓMENO QUE SE

TORNOU VIRAL NALGUNS PAÍSES, GRAÇAS ÀS REDES SOCIAIS. O QUE REALMENTE SE FEZ FOI NOMEAR ALGO

QUE SEMPRE EXISTIU:

PESSOAS QUE, POUCO A

POUCO, DEIXAM DE DAR

100% NO TRABALHO. QUEM É O RESPONSÁVEL? A

EMPRESA OU OS PRÓPRIOS TRABALHADORES?

“Este comportamento não é algo novo, sempre houve trabalhadores desmotivados. No entanto, a maior preocupação é que a demissão silenciosa é cada vez mais um acto subconsciente alimentado por frustrações no local de trabalho”, afirma François-Pierre Puech, director da consultora Robert Walters Portugal. “É fácil para os gestores pressionarem os membros da equipa quando a produtividade diminui. Mas, se não conhecerem a razão desta desmotivação, a resignação silenciosa tornar-se-á num movimento silencioso que tem um efeito prejudicial na produtividade e viabilidade do negócio. Da mesma forma, a influência destas pessoas nos seus pares pode causar um efeito dominó perigoso”

Motores da resignação silenciosa

A síndrome do “burnout” ou a síndrome do trabalhador esgotado já faz parte da cultura global. Enquanto o profissional tenta escalar na carreira, é confrontado com mais mensagens que o incentivam a trabalhar mais horas e a ter mais empenho, gerando constante exaustão. Em Maio de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o “burnout” como um diagnóstico médico, com impactos na saúde mental e física e enormes perdas de produtividade. Outro motor é a diferença geracional. O local de trabalho médio é agora composto por quatro gerações diferentes, um fenómeno que nunca antes tinha ocorrido. Embora esta diversidade proporcione uma variedade de perspectivas, competências e origens, também desafia os líderes empresariais a atraírem e incluírem diferentes faixas etárias no local de trabalho, sem melhorias práticas que possam ser seguidas. Os locais de trabalho com uma abordagem proactiva à saúde mental podem ter um impacto positivo na produtividade e nos resultados. De acordo com o estudo “A importância da estratégia de saúde mental para atrair os melhores talentos”, desenvolvido pela Robert Walters, 88% dos profissionais considera as políticas de saúde mental importantes quando procuram uma nova posição. Por conseguinte, as empresas com uma política de saúde mental forte e clara são mais propensas a atrair grupos mais amplos de talentos. De acordo com o inquérito, 62% disse que ter alguém numa função de liderança que fala abertamente sobre saúde mental faz com que se sintam pessoalmente mais confortáveis a também falar sobre isso.

É QUE A DEMISSÃO SILENCIOSA É CADA VEZ MAIS UM ACTO SUBCONSCIENTE ALIMENTADO POR FRUSTRAÇÕES NO LOCAL DE TRABALHO. É FÁCIL PARA OS GESTORES PRESSIONAREM OS MEMBROS DA EQUIPA QUANDO A PRODUTIVIDADE DIMINUI. MAS, SE NÃO CONHECEREM A RAZÃO DESTA DESMOTIVAÇÃO, A RESIGNAÇÃO SILENCIOSA TORNAR-SE-Á NUM MOVIMENTO SILENCIOSO QUE TEM UM EFEITO PREJUDICIAL NA PRODUTIVIDADE E VIABILIDADE DO NEGÓCIO. DA MESMA FORMA, A INFLUÊNCIA DESTAS PESSOAS NOS SEUS PARES PODE CAUSAR UM EFEITO DOMINÓ PERIGOSO”

Saúde mental no local de trabalho

Na era pós-Covid, muitas empresas adaptaram o trabalho remoto, ou o trabalho híbrido, o que pode aumentar os níveis de stress e a vulnerabilidade a problemas de saúde mental. Os empregadores precisam, assim, de ser proactivos e manterem-se atentos aos sinais de problemas de saúde mental, mesmo que os seus funcionários estejam a trabalhar remotamente. Por isso, a consultora listou as principias causas dos problemas de saúde mental e como solucioná-los:

• Isolamento no teletrabalho

Quando os colaboradores não conseguem comunicar no trabalho, podem sentir-se isolados ou excluídos. Os trabalhadores remotos são mais propensos a sofrer efeitos negativos no bem-estar mental devido à falta de conexão humana e à solidão de trabalhar remotamente.

• Falta de suporte

Os profissionais juniores de um escritório ou as novas contratações podem experimentar quadros de stress e de pressão de forma diferente dos colaboradores mais experientes. Trabalhar remotamente cria outro obstáculo no acesso ao suporte, especialmente quando os pontos de contacto ou mentores não foram formalizados. Ter um mentor é uma óptima maneira de reduzir a tensão sentida por profissionais mais vulneráveis.

• “Burnout” e carga de trabalho

De acordo com pesquisas realizadas durante a pandemia, as pessoas trabalharam, em média, 28 horas extra por mês em trabalho remoto. Para aqueles que sofrem de um problema de saúde mental, o stress crónico não tratado é um factor decisivo para a exaustão emocional. O fraco equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, o aumento da carga de trabalho e a pressão são factores que contribuem para o esgotamento emocional no local de trabalho, tornando os trabalhadores mais susceptíveis aos seus efeitos.

• Baixo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal

No teletrabalho ou no trabalho presencial, as longas horas de trabalho podem afectar a capacidade de um colaborador de passar tempo com a sua família, usufruir de tempo livre e até mesmo dormir. Alguns profissionais podem ter dificuldade em encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal sem a separação física entre o trabalho e a vida doméstica, especialmente profissionais com crianças em idade escolar.

• Estigma

Os colaboradores podem sentir-se confortáveis em tirar férias ou reduzir a sua carga de trabalho quando sofrem de um problema de saúde física. Mas muitos com distúrbios de saúde mental podem sofrer em silêncio por medo ou retaliação. 92% das pessoas com problemas de saúde mental acredita que admitir este problema no local de trabalho prejudicaria a sua carreira.

• Pouca auto-estima profissional

Os colaboradores com falta de confiança no trabalho são propensos à síndrome do impostor: a sensação esmagadora de que não merecem o sucesso ou não acreditam que devem pedir mais. Esta ansiedade pode tornar-se mais aguda em situações incertas e profissionalmente exigentes, onde os colaboradores precisam de assumir a responsabilidade e tomar decisões críticas de negócio, aumentando os níveis de stress.

• Falta de valor

Os empregados que se sentem subvalorizados no local de trabalho são provavelmente mais desmotivados. Isto pode acontecer devido à falta de voz dentro da equipa, pouca influência nas decisões que afectam directamente as suas actividades, ou a crença de que a sua remuneração não é um reflexo justo do seu trabalho.

É importante que os gestores estejam atentos aos sinais nas suas equipas, para que possam oferecer o apoio necessário, especialmente quando se assiste a uma fase em que ainda predomina o trabalho remoto em muitas empresas.

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