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MAIORES AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE
A DIVERSIDADE BIOLÓGICA OU BIODIVERSIDADE É COMPREENDIDA COMO A VARIEDADE DE FORMAS DE VIDA PRESENTES NUM LOCAL. DETÉM UM ENORME VALOR CIENTÍFICO, ESPIRITUAL E CULTURAL E AINDA APRESENTA VANTAGENS INCONTESTÁVEIS
PARA A MANUTENÇÃO DO BEM-ESTAR HUMANO, GARANTIA DE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR, COMBATE ÀS DOENÇAS, CRESCIMENTO ECONÓMICO, FORNECIMENTO DE MEIOS DE SUBSISTÊNCIA, ENTRE OUTROS SERVIÇOS. PORÉM, A UTILIZAÇÃO NÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS ORIUNDOS DA BIODIVERSIDADE CONTRIBUI PARA O SURGIMENTO DE DIVERSOS PROBLEMAS AMBIENTAIS, ECONÓMICOS E SOCIAIS, COMPROMETENDO A MANUTENÇÃO DE VÁRIAS FORMAS DE VIDA E ATÉ A SOBREVIVÊNCIA DO HOMEM (FREITAS, 2011; PRIMACK & RODRIGUES, 2001; DAMINELI & DAMINELI, 2007). SENDO ASSIM, ESTE ARTIGO PRETENDE DESCREVER AS MAIORES AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE QUE DERIVAM DAS ACÇÕES HUMANAS, ENFATIZANDO CASOS QUE AMEAÇAM A BIODIVERSIDADE ANGOLANA.
Belmiro Pascoal
Estudante finalista do Curso de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto e Assistente de Coordenação da Campanha de Biodiversidade e Conservação da Ecoangola
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), toda ameaça leva danos à propriedade afectada, perturbação económica e social ou degradação ambiental, o que não difere quando se fala da biodiversidade.
A ameaça à biodiversidade consiste em toda actividade provocada por um evento natural ou antrópico, que tem o potencial de degradar a diversidade biológica local ou global.
Segundo Primack & Rodrigues (2001), as maiores ameaças à biodiversidade são:
• Destruição e fragmentação do habitat;
• Degradação do habitat (incluindo poluição);
• Sobre-exploração de espécies para uso humano;
• Introdução de espécies exóticas;
• Dispersão de doenças;
• Crescimento da população humana.
Destruição e fragmentação do habitat
A destruição relacionada com a perda do habitat representa o principal factor que ameaça a biodiversidade. Pode ocorrer como consequência de diversas actividades humanas, como a desflorestação, que é feita para a extracção de madeira, substituição de florestas para a agricultura ou áreas de pastagem e urbanização. A perda de habitat e da qualidade do habitat, por mudanças climáticas, poluição sonora, hídrica e do ar, redução da oferta de alimentos, surgimento de barreiras para os processos migratórios e de busca de parceiros reprodutivos (como as estradas, por exemplo), é impactante negativamente para a fauna e flora silvestre (FAUNANEWS, 2022).
Degradação do habitat (incluindo a poluição)
A degradação do habitat está relacionada às práticas humanas que afectam os componentes da biosfera. Devido ao grande avanço tecnológico, a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera têm sofrido grande pressão e esta provoca a sua degradação (Junior, 2017).
A poluição da litosfera verifica-se nas queimadas de resíduos sólidos directamente no solo, na contaminação por pesticidas, na bioacumulação de substâncias, na cadeia trófica e na perda da vegetação própria do ambiente natural.
A degradação da hidrosfera é sinónimo de poluição das águas, que é verificada com inúmeras práticas como a deposição de resíduos nos oceanos e rios, os derrames nos mares por embarcações petrolíferas e depósito de materiais industriais em lagos e outros ecossistemas. Como consequência, os organismos aquáticos morrem por falta de alimento e por contaminação do meio.
A fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma grande e contínua área de habitat é tanto reduzida na sua área, quanto dividida em dois ou mais fragmentos. Pode ser causada por fenómenos naturais (vulcanismo, queda de cosmos ou cometas, sismos e outros) como pela acção do homem. Na vertente antropogénica, a fragmentação tem como consequências a destruição significativa do habitat e dispersão das populações. Logo, as grandes fragmentações levam à separação dos efectivos de uma população, possibilitando a criação de populações menores, alterando o mecanismo de polinização e a cadeia alimentar dos ecossistemas.
A degradação da atmosfera contribui para as alterações climáticas, originando as chuvas ácidas, acelerando o aquecimento global e outras várias perturbações que dificultam a manutenção da vida. Com isso, várias espécies, que não se adaptaram às alterações causadas pela poluição atmosférica, vão sendo dizimadas e muitas delas chegam à extinção, principalmente aquelas que vivem nas regiões glaciais, pois estas zonas têm sido destruídas pelo degelo causado pelas elevadas temperaturas que o globo terrestre tem apresentado, devido o aumento do efeito estufa.
Sobre-exploração de espécies para uso humano
A exploração dos recursos da diversidade biológica de maneira insustentável, sem levar em consideração as taxas naturais de mortalidade e capacidade reprodutiva das espécies, é outro factor que pode levar à perda de biodiversidade. Como exemplo, podem ser mencionadas as seguintes práticas: a caça furtiva, a pesca de arrasto, a extracção ilegal de madeira e o tráfico de animais e plantas. reserva natural e não se conseguem dispersar numa área mais ampla. Os animais mantidos em cativeiro são particularmente propensos a doenças. Estas podem levar à morte de vários grupos de animais e à redução da biodiversidade.
Crescimento da população humana
Introdução de espécies exóticas e dispersão de doenças
A introdução de espécies em locais fora da sua área de distribuição natural pode ocorrer tanto de forma acidental como intencional, visando, por exemplo, o controle de pragas, produção de novos produtos agrícolas ou gerar oportunidades recreativas. Esta prática pode levar a consequências drásticas: em locais onde não ocorrem naturalmente, as espécies exóticas podem proliferar descontroladamente, pois frequentemente não encontram predadores ou competidores, além de levar a novas doenças, colocando em risco as espécies nativas e os seus ecossistemas (Pestana et al, 2017).
Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) destacou que 70% das enfermidades que apareceram após a década de 1940 tem origem animal (Lusa, 2013). De acordo a FAO, a expansão agrícola e a interacção entre homens e animais fizeram com que novas doenças surgissem e se disseminassem rapidamente. Entre as doenças divulgadas no estudo estão o HIV-1, síndrome respiratória aguda grave (SARS) e diversos vírus da gripe (como o SARS-CoV-2). Os níveis de doença e de parasitas frequentemente aumentam quando os animais são confinados a uma
O exponencial crescimento populacional humano tem levado à aceleração da destruição de habitats de muitas espécies limitadas a determinado meio, e não só. Quanto maior o crescimento demográfico, maior será o consumo de energia, a ocupação de espaço e construções artificiais e maior será a exploração da natureza. Com isso, muitas espécies vão perdendo o seu espaço natural e ficam vulneráveis à extinção. Com a redução da biodiversidade, vários serviços dos ecossistemas são reduzidos ou eliminados e muitos organismos vão desaparecendo, no decorrer dos anos. Tendo em conta que a biodiversidade é fonte de valores económicos directos e indirectos, a sua redução afecta a economia dos países, enfraquece o sistema de saúde, favorece o surgimento de catástrofes ambientais e diversos problemas que podem ser irreversíveis.
Ameaças à diversidade biológica em Angola
No contexto angolano, a ameaça à biodiversidade tem vindo a registar casos e números alarmantes. Em Angola, temos visto a realização de queimadas como forma de tratamento dos resíduos sólidos e o fumo emitido pela queima contribui para a poluição do ar e contaminação dos cursos de água.
As embalagens plásticas e os resíduos electrónicos apresentam enormes riscos para a saúde, mas, ainda assim, grande parte desses resíduos vai parar aos rios e ao mar. A redução ou eliminação de resíduos é um dos maiores problemas ambientais de Angola. Por causa das queimadas, desflorestação e caça furtiva, que acontecem em áreas de conservação da biodiversidade (como parques e reservas nacionais), grande parte da fauna e flora angolana tem sido reduzida progressivamente a cada ano.
Muitos dos animais já não ocorrem nas áreas legalmente protegidas devido a estas práticas, como é o caso da pacaça (Syncerus caffer nanus) e da palancavermelha (Hippotragus equinus) (Jornal de Angola, 2019).
Referências bibliográficas:
Nos ecossistemas marinhos, a biodiversidade angolana tem sido muito afectada pela pesca de arrasto, captura de espécies protegidas nacional e internacionalmente, pesca com recursos explosivos e poluição dos ecossistemas costeiros.
• A materialização de programas como a Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Biodiversidade do Ministério do Ambiente de Angola;
• Formação em educação ambiental para professores e palestras sobre a biodiversidade de Angola e os 5 Rs da sustentabilidade em parques nacionais e escolas, no âmbito do projecto Ecoeducando da Ecoangola;
• Projectos que visam proteger as tartarugas marinhas que ocorrem na costa angolana: Projecto Kitabanga e Cambeú;
• Acções para a protecção dos ecossistemas costeiros de mangais promovidas pela organização de protecção e conservação dos mangais em Angola “OTCHIVA”;
• Realização de campanhas de limpeza de praias pelas organizações da sociedade civil com o auxílio de empresas locais.
Considerações finais
Os sistemas ecológicos, que levaram milhões de anos a evoluir, desenvolver e estabilizar, encontram-se em perigo iminente.
A ONU estima que cerca de um milhão de espécies estejam em risco de extinção e a comunidade científica global admite que nos encontramos no início de uma sexta extinção em massa, devido à perda massiva de biodiversidade. Ao contrário das extinções em massa no passado, causadas por erupções vulcânicas, asteroides e mudanças climáticas naturais, a crise actual é maioritariamente causada pelas actividades humanas.
Redução das ameaças à biodiversidade Em Angola, existem iniciativas que procuram promover diversas actividades e eventos com a finalidade de diminuir as acções que ameaçam a biodiversidade, mas ainda carecem de financiamentos para darem soluções mais eficazes na protecção e conservação da fauna e flora de Angola. Citando algumas dessas acções, podemos destacar:
A caça, o desmatamento e as queimadas em Angola põem em risco de extinção inúmeras espécies de animais e plantas, algumas das quais só existem em Angola e potencialmente algumas nunca descobertas. Devemos procurar agir imediatamente, a fim de reverter o quadro e possibilitar o bem-estar social e ambiental para as futuras gerações.
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