Tecnosaúde #3 - Novembro/Dezembro

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Nº 03

Novembro/Dezembro 2020

DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS

PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

NOVEMBRO AZUL

Sensibilizar para o cancro da próstata

DIABETES QUALIDADE DE VIDA COM A DOENÇA O MÉDICO RESPONDE

Saúde reprodutiva na adolescência. Porque é tão importante?


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ÍNDICE SAÚDE, PARA SI

02 06 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

Novembro passou e deixou-nos fortes mensagens em distintas áreas da saúde, que a terceira publicação da sua newsletter “+ Saúde Para Si” não deixou passar em branco. Caracteristicamente azul, Novembro é dedicado à consciencialização sobre a saúde do homem, com especial ênfase na prevenção do cancro da próstata, mas também se veste de roxo, a cor que simboliza transformação, sensibilidade e individualidade, apanágios dos bebés prematuros, um importante problema de saúde pública, uma vez que a prematuridade é a principal causa de óbito em crianças menores de cinco anos. Cores simbólicas, é certo, mas Novembro representa muito mais, abrangendo também a área cardiovascular, mais precisamente, a diabetes, assinalada a dia 14 em memória do aniversário de Frederick Banting, que, juntamente com Charles Best, foi o responsável pela descoberta da insulina, em 1922. Nesta publicação, contamos com fortes opiniões sobre esta temática, desde a área de endocrinologia à farmácia. Por fim, chegámos ao mês de Dezembro, um mês que, este ano, em particular, se veste não só de cor de laranja, dedicada à prevenção do cancro de pele, mas também de todas as cores do arco-íris com o forte simbolismo de que tudo ficará bem. E é com esta mensagem positiva e de esperança que nos despedimos de 2020 e convidamos todos os leitores a prepararem-se para um desafiante e esperançoso 2021. Um Santo Natal e um Próspero Ano Novo são os votos de toda a equipa da Tecnosaúde!

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Mensagens significativas

REPORTAGEM (Con)Viver com a diabetes

Dra. Ana Teixeira explica a importância do acompanhamento farmacoterapêutico Pé diabético? Sabe o que é? Dra. Eunice Sebastião e a rotina quotidiana para o doente diabético

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EDITORIAL

ENTREVISTA Dra. Eulália Alexandre aborda a temática da diabetes na menopausa

Novembro Azul: Dr. Nilton Rosa explica a importância do diagnóstico para a prevenção do cancro da próstata VIH e as pessoas: Dr. António Feijó aborda a temática do VIH e da SIDA e os preconceitos em torno desta doença 17 de Novembro: Dia Mundial da Prematuridade. Um problema de saúde pública à escala mundial O Médico Responde Dr. Fouquet Cuta analisa a importância da formação e da informação na saúde reprodutiva na adolescência

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ENTREVISTA Artur Silva, director geral da Australpharma, comenta a importância da distribuição em período de COVID-19

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: geral@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/


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REPORTAGEM

Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde

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(CON)VIVER COM A DIABETES


A DIABETES MELLITUS É O TERMO DESIGNADO PARA O CONJUNTO DE DISTÚRBIOS METABÓLICOS CRÓNICOS QUE SE CARACTERIZAM PELO AUMENTO DE AÇÚCAR NO SANGUE, OU SEJA, POR UMA CHAMADA HIPERGLICEMIA. A PRINCIPAL CAUSA É A SECREÇÃO DE INSULINA QUE ESTÁ DÉBIL, EM FALÊNCIA OU AMBAS AS SITUAÇÕES, O QUE, AQUANDO DA AUSÊNCIA DE TRATAMENTO ADEQUADO, PODE ORIGINAR COMPLICAÇÕES DE SAÚDE GRAVES PARA O DOENTE. TODAVIA, HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEIS, VISITAS REGULARES AO MÉDICO, UMA BOA DIETA E REALIZAÇÃO DE ACTIVIDADE FÍSICA PODEM CONTRIBUIR PARA UM RÁPIDO DIAGNÓSTICO OU BOM CONTROLO DA DOENÇA. (1)

Existem dois tipos de diabetes. A diabetes tipo 1 é a forma de diabetes mais comum nas crianças e adolescentes. É causada por uma destruição das células beta pancreáticas, que leva a uma deficiência de insulina na corrente sanguínea. Apenas entre 5% e 10% de todas as pessoas com diabetes têm a diabetes tipo 1. A maioria das pessoas com diabetes tipo 1 manifesta a doença antes dos 30 anos, embora esta se possa manifestar após esta idade. Quando falamos na diabetes tipo 2, falamos predominantemente de uma resistência à insulina, isto é, o pâncreas continua a produzir insulina, no entanto, existe uma resistência aos efeitos desta. Esta forma de diabetes é, geralmente, associada a uma forte predisposição genética, contudo, devido à sua complexidade, este mecanismo genético não está totalmente definido. A diabetes tipo 2 está comumente relacionada com outras patologias, a chamada síndrome metabólica, sendo que a obesidade é o principal factor de risco para o desenvolvimento desta patologia. Contrariamente à diabetes tipo 1, resulta de um conjunto de múltiplos defeitos genéticos ou polimorfismos, cada um contribuindo com um determinado risco e modificado por factores ambientais. O desenvolvimento deste tipo de diabetes está, também, relacionado com estilos de vida cada vez mais modernos, como, por exemplo, o sedentarismo e a ingestão de fast food e consequente obesidade, sendo, por isso, mais prevalente nos países mais desenvolvidos. O risco associado ao desenvolvimento desta forma de diabetes aumenta com a idade, obesidade e sedentarismo.

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A hiperglicemia pode acontecer em indivíduos com diabetes mal controlada ou quando existe ingestão de uma grande quantidade de hidratos de carbono. Os dois tipos de diabetes têm uma sintomatologia muito semelhante, caso haja um aumento significativo da glicémia: • • • • • •

poliúria (urinar frequentemente), polidipsia (sede), polifagia (aumento de apetite), sensação de boca seca (xerostomia), sudação excessiva e cansaço, comichão por todo o corpo (com maior incidência na área genital), • visão turva. Em indivíduos com diabetes tipo 1, os sintomas aparecem de forma brusca e drástica. Já nos diabéticos tipo 2, os sintomas podem levar muito tempo a aparecer antes da patologia ser diagnosticada. Numa época de pandemia, como a actual que estamos a viver, causada pelo vírus SARS-CoV-2, torna-se essencial controlar esta doença. Os diabéticos são um grupo de risco da infecção por COVID-19, não por terem maior probabilidade de contrair a doença, mas sim pela gravidade das suas complicações, caso a contraiam. Quando a diabetes não está controlada ou existem complicações, tais como doenças Referências Bibliográficas: https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/html/10.1055/a-1018-9078#N68747

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cardíacas, para além da diabetes, pode piorar o risco de ficar gravemente doente com o vírus, porque a capacidade do organismo para combater uma infecção fica mais comprometida. É necessário ter em consideração que as pessoas com diabetes variam nas diferentes faixas etárias, nas complicações e na forma optimizada como gerem e tratam a sua patologia. Estes factores são determinantes para o risco das complicações da COVID-19. Isto é, pessoas com problemas de saúde relacionados com complicações da diabetes, provavelmente, irão ter piores resultados caso contraiam COVID-19 comparativamente a pessoas com a patologia controlada. O profissional de saúde e a diabetes Incentivar a uma dieta mais equilibrada e variada, assim como à prática de exercício físico são algumas medidas preventivas que ajudam não só a prevenir a diabetes, como também a controlar a patologia. A mudança de comportamento e hábitos de vida nem sempre é fácil, mas é fulcral incentivar os doentes para tal. Sabe-se, há muito, que a diabetes tipo 2 depende não apenas do tratamento farmacológico, pelo que os doentes devem ser consciencializados para a prática de hábitos de vida saudáveis, gestão e monitorização da sua patologia.


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ENTREVISTA

A FARMÁCIA ENSINA-O A VIVER COM DIABETES A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO NO ACOMPANHAMENTO DOS UTENTES DIABÉTICOS FOI O TEMA DA ENTREVISTA COM A DRA. ANA TEIXEIRA, DIRECTORA TÉCNICA DA FARMÁCIA KILUBA.

Dra. Ana Teixeira Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; Diretora Técnica da Farmácia Kiluba

Actualmente, o farmacêutico assume um papel multidisciplinar no seu dia-a-dia na farmácia, muito para além do simples “dispensar medicamentos”. Diga-nos, na sua opinião, qual a importância do farmacêutico para os doentes crónicos? O farmacêutico é um profissional de saúde que desempenha um papel fundamental nas medidas educativas dirigidas à população, estabelecendo uma relação de confiança, o que permite a orientação do uso adequado dos medicamentos, aumentando o conhecimento por parte do paciente sobre a sua doença e melhorando a adesão ao tratamento, o que contribuirá para uma melhor qualidade de vida do paciente crónico. Como é que, enquanto profissional de saúde, consegue realizar o acompanhamento farmacoterapêutico dos seus utentes? Vou falar, em particular, dos pacientes hipertensos e dos pacientes diabéticos. Como a nossa legislação não permite, ou melhor, limita as acções que o farmacêutico pode realizar na farmácia (como a realização dos testes de glicémia, colesterol, triglicéridos), o acompanhamento deste grande grupo de pacientes crónicos fica limitado à medição da pressão arterial e ao aconselhamento sobre as medidas não farmacológicas, como cuidados a ter com a alimentação e o exercício físico, a importância do conhecimento da doença e dos medicamentos por parte do paciente, o que hoje se chama de concordância, e do cumprimento do horário das tomas dos medicamentos.

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Farmacêutica

Devido à situação actual do país, como se conseguem gerir os medicamentos esgotados para estes doentes crónicos? Vivemos um momento em que temos de nos ajustar à nova realidade, pois o país atravessa situações difíceis. A gestão dos stocks, de um modo geral, está mais dificultada, pois se, por um lado, encontramos alguma dificuldade na aquisição de alguns medicamentos para as doenças crónicas (por ruptura de stocks), por outro, os preços de aquisição dos medicamentos estão muito inflacionados, o que, em última análise, condiciona o acesso dos pacientes aos medicamentos, com todas as consequências negativas. No seu ponto de vista, é fácil educar a população para a prevenção da diabetes? Não é muito fácil, pois mudar hábitos de vida de adultos implica a aceitação e a compreensão da doença por parte do paciente, de modo a que, no final, as metas preconizadas sejam cumpridas. Qual a sua opinião relativamente aos rastreios da diabetes na educação da sociedade e prevenção da patologia? Os rastreios são fundamentais, pois é um facto que a diabetes é uma doença silenciosa e, segundo as estimativas, 50% de todos os doentes diabéticos do tipo 2 (maior prevalência) não se encontra diagnosticado, pois

estes doentes permanecem assintomáticos durante anos. Assim, identificá-los é muito importante para que se possam adoptar as estratégias terapêuticas mais adequadas, de modo a evitar as complicações. Os rastreios também devem ser direccionados para a população infantil e adolescente, uma vez que há um aumento da prevalência da diabetes nessas faixas etárias em todo o mundo e, ainda, em indivíduos portadores de factores de risco. Como é que o farmacêutico se pode tornar um educador da saúde e da sociedade? O farmacêutico, por ter o privilégio de estar tão próximo do público, é um educador por excelência e deve aproveitar todas as oportunidades para exercer esse papel tão nobre. Uma percentagem dos doentes com diabetes não atinge as metas terapêuticas que lhe foram indicadas, muitas vezes, por falta de adesão à terapêutica. Qual a sua opinião, enquanto farmacêutica, e quais as principais causas? Um problema muito frequente. Existem muitas causas, o comportamento do paciente perante a doença, o relacionamento do paciente com os profissionais de saúde, o tipo de tratamento, se tem ou não apoio familiar, factores económicos e educacionais, entre outros. Para que se tenha sucesso, as equipas interdisciplinares e o apoio da família fazem muita diferença.

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OPINIÃO

SABE O QUE É O PÉ DIABÉTICO?

Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde

CARACTERIZADA PELO AUMENTO DOS NÍVEIS DE AÇÚCAR NO SANGUE, A DIABETES É UMA DOENÇA MUITO FREQUENTE E QUE AFECTA UMA GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO, TENDO REPERCUSSÕES QUE PODEM SER MAIS OU MENOS GRAVES. E O PÉ DIABÉTICO? SABE DE QUE SE TRATA E COMO PODERÁ, E DEVERÁ, PREVENIR O SEU SURGIMENTO?

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Caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue, a diabetes é uma doença muito frequente e que afecta uma grande parte da população, tendo repercussões que podem ser mais ou menos graves. Uma importante fracção dos doentes diabéticos tem alterações ao nível dos membros inferiores, tais como défices sensitivos e motores, alterações da posição das articulações do pé, feridas e infecções, que denominamos de pé diabético. O termo “pé diabético” é o nome designado aos diversos problemas que ocorrem ao nível do pé destes doentes, decorrentes da diabetes. Por norma, os pés destas pessoas tendem a ficar mais secos e com gretas, o que, associado a outras patologias, pode levar ao aparecimento de úlceras e outras patologias. Esta complicação da diabetes tende a perturbar o sistema vascular em áreas do corpo como os olhos, rins, membros e pés. Sabemos que, na diabetes, os vasos sanguíneos ficam estreitados e endurecidos, o que leva à presença de má circulação, torna-se mais difícil o combate às infecções, comprometendo todo o processo de cicatrização. O diagnóstico precoce de qualquer problema relacionado com os membros inferiores é fundamental, para evitar a ulceração. Os indivíduos com risco elevado de ulceração podem, facilmente, ser identificados através de um exame clínico cuidadoso dos pés, evitando, deste modo, posteriores infecções e complicações, tais como amputações. Deste modo, um diabético deve ser aconselhado a vigiar diariamente os seus pés, secandoos delicadamente após o banho, tendo especial atenção com a zonas interdigitais. Esta patologia ocorre em áreas onde existe a lesão dos nervos, a chamada neuropatia, que reduz a sensibilidade do pé. Alterações da circulação e da forma do pé, calçado apertado e saltos altos ou o corte errado das unhas podem levar ao desenvolvimento do pé diabético e devem ser tidos em causa para prevenir o desenvolvimento de infecções. Uma excelente forma de prevenção desta problemática é a escolha do calçado adequado, o corte correcto das unhas, assim como a actividade física regular. O desporto irá aumentar a circulação do pé, tornando-se um excelente aliado contra a diabetes e pé diabético. No entanto, é necessário adequar os exercícios, seguindo as recomendações do médico que acompanha o doente.


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ENTREVISTA

DIA-A-DIA COM A DIABETES

Dra. Eunice Sebastião Especialista em Endocrinologia, Presidente do Colégio de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da Ordem dos Médicos de Angola

A MANIFESTAÇÃO DA DIABETES VARIA DE PESSOAS PARA PESSOAS E É, PERFEITAMENTE, POSSÍVEL NÃO SÓ CONVIVER COMO TER QUALIDADE DE VIDA, MESMO COM A DOENÇA. A ESPECIALISTA EM ENDOCRINOLOGIA, DRA. EUNICE SEBASTIÃO, EXPLICA COM PODE SER O DIA-A-DIA COM A DIABETES.

Dra. Eunice Sebastião, em primeiro lugar, o que é a diabetes e que tipos de diabetes existem? A diabetes é uma doença crónica, caracterizada pelo aumento de açúcar no sangue (hiperglicemia persistente) e pela incapacidade do organismo em transformar o açúcar que recebemos dos alimentos em energia para o nosso corpo. Essa hiperglicemia persistente é devida à falta de insulina ou à resistência a esta hormona, isto é, existe resistência à acção da insulina. A falta de insulina ocasiona alterações metabólicas agudas e crónicas. A insulina é uma hormona (hormona da vida) que controla a entrada da glucose nas células do corpo. Quando é insuficiente ou não é usada como deveria, a glucose acumula-se no sangue, em vez de entrar nas células, fazendo com que estas não consigam funcionar correctamente. Existem diferentes tipos de diabetes: - Diabetes tipo 1 Resulta da destruição das células Beta, conduzindo a uma insulinopenia absoluta. As células Beta são as mais numerosas nos ilhéus de Langerhans. É menos frequente e corresponde cerca de 8% a 10% das pessoas com diabetes, a maioria das quais jovens e crianças.

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saudável são essenciais na prevenção e no tratamento da diabetes. A prática de exercício físico regular ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue. Há vários benefícios potenciais da prática regular de exercício físico, a médio e a longo prazo. Nomeadamente, aumenta a sensibilidade à insulina, aumenta a massa muscular, diminui a glicémia durante e após o exercício, diminui a massa gorda, melhora o perfil lipídico, diminui os valores da pressão arterial, reduz o risco de doença cardíaca e acidente vascular cerebral, fortalece os músculos e ossos, melhora a qualidade de vida, entre outros. A actividade física deve ser iniciada após orientação dos profissionais de saúde. O que está a falhar no nosso sistema de saúde para termos tantos diabéticos? Temos muitos diabéticos, devido à mudança dos hábitos alimentares, substituição de refeições saudáveis por refeições rápidas (fast food), mudança do estilo de vida e falta de prática regular de exercício físico. É necessário combater o sedentarismo e o stress, reduzir o consumo de álcool e não fumar. Em suma, evitar os factores de risco externos: tabaco, álcool, sedentarismo, obesidade e stress psicossocial.

- Diabetes tipo 2 Representa cerca de 90% do total de casos de diabetes. Pode afectar pessoas de qualquer idade, incluindo crianças, mas é mais frequente em adultos. O excesso de peso, a obesidade e a falta de actividade física aumentam a probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, que pode permanecer sem ser detectada durante vários anos antes do diagnóstico. - Diabetes gestacional É definida como intolerância aos hidratos de carbono, de grau variável, que é diagnosticada ou reconhecida, pela primeira vez, durante a gravidez, independentemente da sua persistência ou não após o parto. É reconhecida a importância da diabetes gestacional para o binómio mãe-feto. - Outros tipos de diabetes Existem outros tipos de diabetes: diabetes secundária a endocrinopatias (Síndrome de Cushing, Acromegália), doenças do pâncreas, infecções e medicamentos. Em que medida a actividade física é importante para prevenir esta doença? A actividade física e a manutenção de um peso

A diabetes é uma “doença silenciosa”. Podemos afirmar que estes são os casos mais preocupantes ou a falta de adesão à terapêutica é também uma das principais causas? Nem todos os diabéticos apresentam sintomas. Há pessoas que podem ficar assintomáticas durante vários meses/ anos, sentem-se bem, mas, na realidade, os seus órgãos internos (olhos, rins, nervos e, em geral, todo o aparelho circulatório) estão a deteriorar-se como consequência do mau funcionamento e do mau aproveitamento do açúcar. Ao fim de algum tempo, pode surgir uma complicação e fazer com que a diabetes seja descoberta. É possível um diabético ter uma vida totalmente normal? Sim, é possível um diabético ter uma vida normal, mas necessita cumprir com as recomendações dos profissionais de saúde. Deve fazer uma alimentação variada, equilibrada, completa e personalizada, isto é, que inclua todo o tipo de alimentos, praticar exercício físico e cumprir a terapêutica e todos os conselhos dos profissionais de saúde. Como é que se faz o diagnóstico da diabetes? A diabetes nem sempre se manifesta com os mesmos sintomas em todas as pessoas. Quando aparecem os sintomas evidentes - polidipsia (beber muita água), polifagia (comer com frequência), poliúria (urinar muito) e perda de peso -, a suspeita de diagnóstico é fácil. Outros sintomas podem ser o prurido generalizado ou nos órgãos genitais, a propensão a infecções da pele (panarícios, furúnculos), a dificuldade na cicatrização das feridas, a infecção das gengivas, dor e formigueiro nas extremidades ou alterações da visão.

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Nas crianças e jovens, o início da diabetes é rápido com sintomas claros e evidentes. Nos adultos e idosos, o início é gradual, com sintomas nem sempre muito claros, e não é raro um diagnóstico casual, quando se realizam análises de rotina por diversos motivos (check-up, cirurgia, etc.). O diagnóstico é confirmado através de exames laboratoriais: através do doseamento da glicémia em jejum, ou glicémia ocasional, hemoglobina glicada ou a realização da prova de tolerância a glicose oral. O acompanhamento médico é essencial para detecção precoce da doença. Quais os principais conselhos a dar a um diabético? O diabético deve ter uma alimentação adequada, o que passa por fraccionar as suas refeições por seis ou mais refeições, comendo em intervalos máximos de três horas e evitando um intervalo nocturno superior a sete a oito horas, por ingerir diariamente verduras, legumes, peixe, carnes magras, frutas e cereais, por reduzir o consumo de sal e gorduras saturadas. O diabético deve ainda parar de fumar, praticar exercício físico regularmente, 30 a 60 minutos por dia ou, pelo menos, três vezes por semana, conforme recomendação médica, e manter o peso controlado. Além disso, há que ter cuidados com os pés, não utilizar qualquer tipo de medicamento sem consultar o médico, ao qual deve ir regularmente. Na sua opinião, como se pode aumentar a consciencialização da população para esta patologia? Isso requer prevenção antes de ter a doença, tratar após o diagnóstico e prevenir as complicações agudas e crónicas, cumprindo com as recomendações dos profissionais de saúde. Tenho alguns casos de sucesso de pacientes cumpridores com a alimentação aconselhada, exercício físico recomendado, medicamentos e alguns, até, sem medicamentos só com a dieta e exercício físico. A educação é o elemento-chave no combate aos factores de risco comuns a uma série de doenças crónicas não transmissíveis: os erros alimentares, o sedentarismo, o stress psicossocial, o tabaco e o álcool. A aquisição de hábitos alimentares e de uma vida

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mais saudáveis são objectivos educacionais para os cidadãos do futuro: as crianças. Há necessidade de se compartilhar a responsabilidade com a comunidade, nomeadamente, as entidades responsáveis pela educação para a saúde, nas escolas, com programas educativos, nas creches, entidades governamentais e religiosas, na família, nos bairros, com as comissões de moradores e com os sobas, o público em geral. Deve haver envolvimento de "todos" para haver sucesso. Quais as principais complicações da diabetes? Na diabetes, temos complicações agudas e crónicas. As situações de urgência são provocadas por desequilíbrios metabólicos da Diabetes Mellitus: - Cetoacidose diabética Complicação mais comum na diabetes tipo 1 e principal causa de morte em crianças com diabetes tipo 1. - Síndrome hiperosmolar hiperglicémico Complicação típica na diabetes tipo 2. Predomina a desidratação e a alteração do estado de consciência. É necessário reconhecer a situação clínica, fazer o diagnóstico e tomar medidas imediatas. - Hipoglicémia Emergência clínica provocada por baixos níveis plasmáticos de glicose (<70 mg / dl). É a complicação mais frequente do tratamento da Diabetes Mellitus e pode ser fatal. Os pacientes e familiares devem ser ensinados a reconhecer os sinais hipoglicémicos de alerta. A prevenção da hipoglicémia é fundamental. A diabetes, quando não controlada, compromete severamente a funcionalidade de vários órgãos, tais como os rins (nefropatia diabética), olhos (retinopatia diabética), nervos e coração. Pode ser inicialmente assintomática e, se não for tratada, evolui para condições graves, como perda visual, amputação de membros, insuficiência renal crónica e impotência sexual. Há comprometimento das micro e macro-vascularização. A prevenção e detecção precoce das complicações crónicas são essenciais para evitar esses problemas. Ser diabético não é o fim. É necessário seguir os conselhos dos profissionais de saúde. Cumprir a terapêutica prescrita pelo seu médico, fazendo uma dieta adequada e fazendo o exercício físico indicado, conseguirá manter a sua diabetes controlada.


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ENTREVISTA

DIABETES E MENOPAUSA

Dra. Eulália Alexandre Directora do Serviço de Ginecologia/ Obstetrícia na Clínica Vida-Cligest; Ginecologista/Obstetra no Hospital da Luz Arrábida, Vila Nova de Gaia (2000-2004); Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

OS CUIDADOS A TER PELAS MULHERES DIABÉTICAS AQUANDO DA CHEGADA DA MENOPAUSA PELA VOZ DA DRA. EULÁLIA ALEXANDRE.

Em primeiro lugar Dra. Eulália, muito obrigada por ter aceite o nosso convite para participar na nossa terceira edição da newsletter +Saúde Para Si. Sabemos que, durante a menopausa, é comum as taxas de glicémia ficarem mais difíceis de controlar. Porquê? A menopausa ocorre quando o ovário deixa de produzir as hormonas femininas (estrogénio e progesterona). Estas hormonas ajudam a manter os níveis de glicémia mais estáveis, porque facilitam a acção da insulina. Com o advir da menopausa, há um aumento da resistência à insulina por parte dos seus receptores e, consequentemente, ao seu efeito hipoglicemiante ou estabilizador da glicémia.

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queima de calorias). A consulta de ginecologia de rotina deve ser feita de seis em seis meses para controlo de todos os factores do síndrome metabólico Estudos clínicos indicam-nos que, durante o período de transição da menopausa, há o surgimento de vários distúrbios lipídicos, devido às alterações hormonais, que podem levar ao desenvolvimento de síndromes metabólicas, como a diabetes tipo 2. Qual a sua opinião? Começaria por definir o que caracteriza o síndrome metabólico. O síndrome metabólico pode ser uma consequência directa da falência ovárica ou resultar de alterações promovidas pelo aumento de gordura visceral secundária à diminuição dos estrogénios no organismo da mulher. A resistência à insulina é considerada a base fisiopatológica do síndrome metabólico e a obesidade visceral é um sinal clínico da resistência à insulina. Além da obesidade visceral, a hipertensão arterial, distúrbios do metabolismo lipídico, com aumento dos triglicerídeos, aumento do colesterol e do ácido úrico ocorrem, levando a consequências desastrosas para a saúde e bem-estar da mulher.

Como se pode prevenir a diabetes tipo 2 durante este período? Quais os principais cuidados que a mulher deve ter com o seu corpo? Se, como referi, o aparecimento da diabetes se deve à falência dos ovários, a hormonoterapia de substituição, se não houver contraindicação para a instituir, será uma das formas de prevenir o aparecimento da diabetes na menopausa. Outros factores importantes são o controlo do peso (o excesso de peso aumenta a resistência à insulina) e o exercício físico (contribui para a

Quando a mulher já é diabética e entra na menopausa, deve ter algum cuidado especial ou adicional? O principal cuidado é o controlo adequado dos seus níveis glicémicos. Mas deverá também controlar o peso, praticar exercício físico de modo regular, e ir a uma consulta regular de ginecologia, porque a mulher diabética está mais sujeita a infecções ginecológicas, nomeadamente, vaginites. O cancro do endométrio também é uma patologia que deve ser vigiada na diabética. Os diversos componentes do síndrome metabólico devem merecer atenção especial, a hipertensão e as dislipidemias devem ter controlo apertado. Terminaria com uma pequena nota. A mulher deve começar a preocupar-se com a sua menopausa muito antes de esta se instalar, corrigindo os seus hábitos alimentares e fazendo exercício físico regular, logo que comece a notar aumento de peso.

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ENTREVISTA

Dr. Nilton Rosa Cirurgião Oncológico; Médico assistente do Instituto Angolano de Controlo do Cancro, IACC; Primeiro Vogal do Colégio de Especialidade de Oncologia

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O R

B M E V O L N U Z A

O MOVIMENTO NOVEMBRO AZUL TEVE INÍCIO EM 2003, NA AUSTRÁLIA, COM O OBJECTIVO DE CHAMAR A ATENÇÃO DA POPULAÇÃO PARA A PREVENÇÃO E O DIAGNÓSTICO PRECOCE DAS DOENÇAS QUE ATINGEM A POPULAÇÃO MASCULINA, COM ÊNFASE NA PREVENÇÃO DO CANCRO DE PRÓSTATA. DR. NILSON ROSA, CIRURGIÃO ONCOLÓGICO E MÉDICO ASSISTENTE DO INSTITUTO ANGOLANO DE CONTROLO DO CANCRO, EXPLICA COMO ESTA NEOPLASIA AFLIGE OS HOMENS ANGOLANOS E ENUMERA AS RAZÕES DE UM DIAGNÓSTICO PRECOCE.

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O cancro da próstata é uma das neoplasias mais comuns no sexo masculino, a nível mundial. Considerando este dado, qual o impacto desta doença nos angolanos? O diagnóstico tardio e o tratamento do cancro da próstata podem provocar modificações significativas na vida dos homens (autonomia, função sexual), alterando a sua qualidade de vida. Merece ser abordado de forma mais contundente, para estimular o homem a prestar maior atenção na sua saúde e na detecção precoce da doença. Se for descoberta precocemente, as probabilidades de cura são de 90%. Existe um valor de antigénio específico da próstata indicativo da necessidade de biopsia prostática? Homens com níveis de PSA entre 4 ng/ml e 10 ng/ml têm uma probabibilidade de 25% de ter a doença. Se o PSA for superior a 10, a probabilidade de ter cancro de próstata é superior a 50%. Quais os requisitos de qualidade numa biopsia prostática? A técnica (guiada por ecografia) mais a experiência de quem faz, o conforto do paciente e uma amostra significativa. Existe a probabilidade de falso negativo, então, são necessárias várias amostras. Quais os tipos histológicos mais comuns de neoplasias da próstata? 90% são adenocarcinomas. Os espinocelulares e neuroendócrinos são mais raros.

Na sua opinião enquanto profissional, o tratamento multidisciplinar, envolvendo várias especialidades, pode trazer vantagens para o doente? Como é que este deve ser realizado? A oncologia é multidisciplinar, não se deve abordar o paciente oncológico numa perspectiva apenas. E uma doença crónica, que altera a qualidade de vida em vários aspectos e deve ser abordada desta forma, desde o físico, o psicológico, o socia e o nutricional. É necessário caracterizar a doença de acordo com o risco de progressão. Quais as diferenças de tratamento quando o diagnóstico é realizado numa fase precoce ou mais tardia da doença? Além do risco de progressão, devemos ter em conta a expectativa de vida do paciente (<10 anos, 10-20 anos, > 20 anos). As opções de tratamento variam de acordo e podem ir desde a observação/vigilância activa à cirurgia (curativa ou paliativa), radioterapia e hormonoterapia. Quais os candidatos para prostatectomia radical e quais os resultados da mesma? Pacientes com expectativa de vida 10-20 anos, de muito baixo risco, baixo risco ou risco intermédio. Quais as vantagens e desvantagens das diferentes modalidades (aberta, laparoscópica, robótica) e quais os principais desafios existentes, actualmente, na nossa realidade? Quando se fala de cirurgia minimamente invasiva versus aberta, sabemos que o resultado oncológico, quando seleccionamos bem o paciente, acaba por ser igual. No entanto, em termos de morbidade cirúrgica, claramente, há vantagens na minimamente invasiva. Diria que o custo do procedimento seria mais importante nessa realidade, principalmente para a robótica. Na nossa realidade, o principal desafio seria o custo. Como devem ser tratados os doentes idosos e que cuidados devem ter? Com tratamento individualizado sempre, porque devemos avaliar sempre o grau de autonomia, risco de progressão e expectativa de vida, e, acima de tudo cuidado, na orientação da família.

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TEMA ENTREVISTA DE CAPA

MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS COM VIH ANGOLA APRESENTA UM DOS RÁCIOS DE PREVALÊNCIA DE TRANSMISSÃO DE VIH E SIDA MAIS BAIXOS DA REGIÃO E MANTER ESSE INDICADOR EM NÍVEIS CONTROLADOS É UMA DAS PREOCUPAÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. DR. ANTÓNIO FEIJÓ, MÉDICO INFECCIOLIGISTA, FALA SOBRE A DOENÇA, A SUA TRANSMISSIBILIDADE E DA IMPORTÂNCIA DA PROMOÇÃO DO SEXO SEGURO COMO FERRAMENTA PREVENTIVA.

Dr. António Feijó Médico Infecciologista no Hospital Esperança Angola; Médico em Referência no Instituto Nacional de Luta contra a SIDA

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Nesta altura do ano tão importante, em que se comemora Dia Mundial contra a SIDA, a 1 de Dezembro, fale-nos da prevalência desta doença em Angola. Angola, tal como a maioria dos países africanos, em especial da nossa região, não possui um sistema de notificação individual do VIH/SIDA, sendo que a contabilização de casos é baseada em estudo/ inquéritos. De realçar que estudos bem feitos se aproximam da realidade, da fotografia. Até final de 2019, a prevalência do VIH em Angola era de 2.0, uma cifra que a coloca nas mais baixas da região. Isso cria vários desafios: que actividades efectuar para manter essa prevalência que assumimos como baixa? Tendo essa prevalência geral na população baixa, como melhorar a cobertura dos indivíduos aos serviços? Como melhorar a recolha de dados para termos uma prevalência que seja aproximada ao real? Ao olharmos, de perto, a nossa prevalência, tendo em conta a prevalência em cada província, encontramos cifras até quatro vezes a da nacional. A estratégia de estudos de prevalência em grupos segmentários, em grupos vulneráveis com resultados díspares, leva-nos a pensar em formas de aproximar, de facto, aos números reais. De qualquer modo, com essa prevalência, Angola pode sentirse privilegiada ao lado dos seus vizinhos, cujas prevalências apresentam dois dígitos.


Qual a diferença entre VIH e SIDA? VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) é a infecção causada por um retrovírus, provocando um défice na imunidade mediada por células de defesa neste indivíduo. Por SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Humana) compreendemos a evolução de um indivíduo infectado com o VIH, que evolui com doenças (sinais e sintomas) resultantes da presença do vírus que causa o défice de células de defesa e, consequentemente, apresenta infecções e/ou doenças tumorais. De realçar que há indivíduos que poderão ter a infecção por VIH por muitos anos sem nunca desenvolver SIDA e que as infecções que o indivíduo apresenta no estádio de SIDA, no geral, não ocorrerem na ausência do VIH. Qual a principal via de transmissão do VIH e quais os principais conselhos a dar para a prevenção? Com tantos anos de experiência, consegue contar-nos algum caso de sucesso? As principais vias de transmissão são as relações sexuais (secreções) e via sanguínea,

de mãe para filho. Variam de região para região e em vários contextos, sendo que, em países desenvolvidos, a tramsissão dá-se normalmente pela partilha de objectos de drogas injectáveis; noutras regiões de baixa renda, essa transmissão dá-se pela relação sexual heterossexual desprotegida. Logo, com esta heterogeneidade de vias de transmissão, é pertinente descrever estratégias de prevenção adequadas ao contexto. Assim vejamos: o risco aumenta em relações sexuais com parceiros desconhecidos, múltiplos parceiros ou parceiros ocasionais. Portanto, a estratégia de prevenção assenta no uso adequado de preservativo. Como tal, é muito importante uma educação quanto ao uso do preservativo e recordar que basta uma única relação sexual para ser provável a transmissão de VIH. O risco também aumenta com as partilhas de agulhas e seringas em toxicodependentes. As testagens de sangue nos Bancos de Sangue tornam seguras as hemotransfusões. Alguns países optam por assistência especializada

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aos toxicodependentes, no sentido de fornecer seringas e agulhas para minimizar os efeitos deletérios da partilha de seringas e agulhas. De mãe para filho (transmissão vertical), a mãe infectada transmite ao filho durante a gestação, no momento do parto ou do aleitamento. Um robusto programa de PTV (prevenção da transmissão vertical), com rastreio e seguimento da gestante seropositiva, anula essa importante via de transmissão de VIH, principalmente, em países de baixa renda. Como infecciologista, distinga os vários tipos de VIH, falando-nos também da sua patogenicidade... O Vírus da Imunodeficiência Humana é classificado em dois: VIH-1 e VIH-2. O VIH-1 foi descoberto primeiro, em 1982, em França, com distribuição mundial predominante. O VIH-2 tem importância em termos de distribuição predominante na África Ocidental. Estruturalmente semelhantes em cerca de 60%, apresentam notória diferença na patogenicidade. Entretanto, revelam o mesmo modelo genético, o mesmo modo de transmissão e mecanismo de replicação. Embora díspares, apresentam o mesmo desfecho, a progressão para a SIDA, sendo o VIH-1, digamos, uma forma acelerada. Na patogenicidade, há inequivocamente uma evolução mais lenta do VIH-2 do que no VIH-1, que pode ser explicada por uma menor carga viral no VIH-2 e, consequente, menor destruição de células imunitárias No que toca à transmissão de mãe para filho, há claramente uma menor transmissão do VIH-2, que parece estar associada a uma carga viral bem menor, assim como a sua concentração nos fluidos sexuais. Alguns anti-retrovirais são, naturalmente ineficazes no VIH-2. Na sua opinião, como é que conseguimos, enquanto sociedade, combater os preconceitos relativos a esta doença? Tudo passa pela educação. Na população geral, uma educação para a saúde e incluir no currículo escolar, conceitos básicos sobre VIH. Nos media, estabelecer laços de cooperação para desmitificar conceitos erróneos sobre a

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doença, nas principais línguas nacionais. Junto dos pacientes, deve-se fortalecer a auto-estima e educar sobre a necessidade de se manterem activos, mesmo na adversidade e uma sociedade preconceituosa. Já os governantes, deverão dar a garantia de condições de atendimento optimizado para pacientes com VIH (instalações condignas, stock de anti-retrovirais adequados). Como são realizados os testes? O Protocolo Nacional prevê a realização de dois testes rápidos. Sendo um de rastreio, o Determine, e um segundo teste confirmatório, o Uni-Gold. A estratégia é efectuar o teste de rastreio, que é seguido do segundo teste somente se resultar positivo. Actualmente, como estão a ser realizados os tratamentos a estes doentes? Quanto ao tratamento, os anti-retrovirais são disponibilizados na base de políticas de saúde pública. Assenta num protoloco de manejo de pacientes com vista à padronização. O acesso aos anti-retrovirais é gratuito. A primeira linha de tratamento assenta, actualmente, em formulação simplificada. No caso das infecções oportunistas, quer na profilaxia, quer no tratamento, são orientados fármacos padronizados de acordo o estádio clínico (sinais e sintomas), imunológico (contagem de CD4) e virológico (carga viral), com critérios de início e de retirada desta terapia, quer para profilaxia, assim como para o tratamento. O apoio psicológico é uma ferramenta fundamental, na medida que variadíssimos problemas surgem ao longo do tempo de evolução da doença, acarretando problemas psicossociais de impacto que vai de leve aos extremos.


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REPORTAGEM

BEBÉ PREMATURO COM FUTURO

A 17 DE NOVEMBRO ASSINALA-SE O DIA MUNDIAL DA PREMATURIDADE, ALERTANDO A COMUNIDADE EM GERAL PARA ESTE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA. UM EM CADA 10 BEBÉS NASCEM PREMATUROS EM TODO O MUNDO. AS COMPLICAÇÕES DECORRENTES DA PREMATURIDADE SÃO A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE NEONATAL E A SEGUNDA PRINCIPAL CAUSA DE MORTE ENTRE AS CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS.

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A 17 de Novembro assinala-se o Dia Mundial da Prematuridade, alertando a comunidade em geral para este problema de saúde pública. Newton e Voltaire foram duas figuras, das várias da história, que nasceram prematuras. Newton nasceu com 1.360 gramas e “não estava previsto sobreviver”, enquanto Voltaire chegou mesmo a receber a extrema-unção. Contudo, contra todas as expectativas, conseguiram sobreviver, mesmo antes dos avanços nos cuidados em neonatologia que existem actualmente. Os bebés prematuros têm maior risco de desenvolver problemas graves ou de morrer durante o período neonatal e, muitas vezes, sem o tratamento adequado, aqueles que sobrevivem têm maior risco de ter deficiências ao longo da vida, bem como uma pior qualidade de vida. Mundialmente, as complicações decorrentes da prematuridade são a principal causa de morte neonatal e a segunda principal causa de morte entre as crianças menores de 5 anos. Os esforços globais para reduzir, ainda mais, a mortalidade infantil exigem acções urgentes voltadas aos casos de prematuridade. Dentro dos factores de risco ao parto pré-termo, consideram-se a gravidez gemelar (um dos factores mais elevados), infecções, urogenitais ou sistémicas, como pneumonias, pielonefrite ou apendicite aguda, pois podem originar o aumento da actividade uterina. A hemorragia vaginal causada por placenta prévia ou descolamento de placenta, determinados problemas ginecológicos, tais como malformações uterinas, fibromiomas ou incompetência cérvico-ístmica, estão também fortemente associados a parto pré-termo, entre outros, que ainda incluem uma idade materna muito jovem, a raça negra, a existência de determinadas doenças crónicas ou anomalias do feto. Recentemente, foram divulgados, na publicação científica New England Journal of Medicine, os resultados de um novo ensaio clínico que demonstraram que a dexametasona pode aumentar a sobrevivência de bebés prematuros, quando administrada a mulheres grávidas com risco de parto pré-termo em ambientes de poucos recursos, ou seja, de baixa renda. Este ensaio randomizado incluiu um total de 2.852 mulheres grávidas, entre as 26 e as 33 semanas, em 29 hospitais de nível secundário e terciário no Bangladesh, na Índia, no Quénia, na Nigéria e no Paquistão. A Organização Mundial da Saúde também recomenda iniciar a oxigenoterapia, com oxigénio a 30% ou ar ambiente (se o oxigénio combinado não estiver disponível), em vez de oxigénio a 100%, durante a ventilação de bebés prematuros nascidos com 32 semanas de gestação ou menos. O uso de concentrações progressivamente maiores de oxigénio só deve ser considerado para recém-nascidos em oxigenoterapia se a frequência cardíaca for inferior a 60 bpm, após 30 segundos de ventilação adequada com 30% de oxigénio ou ar. Para a prevenção da paralisia cerebral no nascituro, o sulfato de magnésio é recomendado para mulheres em risco iminente de parto prematuro antes da 32.ª semana de gestação.


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CASO PRÁTICO

O MÉDICO RESPONDE Dr. Fouquet Cuta Médico licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, Luanda; Especialista em GinecologiaObstetrícia; Efectivo da Maternidade Lucrécia Paim; Chefe de Departamento de Formação MLP

PARA A TERCEIRA EDIÇÃO DESTA RUBRICA, CONVIDÁMOS O DR. FOUQUET CUTA A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS À TEMÁTICA DA SAÚDE REPRODUTIVA NA ADOLESCÊNCIA. POR QUE RAZÃO SÃO TÃO IMPORTANTES AS ORIENTAÇÕES PRECOCES SOBRE PLANEAMENTO FAMILIAR ENTRE OS JOVENS?

SAÚDE REPRODUTIVA NA ADOLESCÊNCIA Como chefe do departamento de formação da Maternidade Lucrécia Paim, tem um papel muito importante, não só ao nível da educação da população, mas também ao incutir bons hábitos aos profissionais de saúde. Quer partilhar connosco algumas dicas, no que toca à saúde reprodutiva? Como condição para usufruto de saúde e vida reprodutiva satisfatória, a saúde reprodutiva constitui uma questão de valioso interesse e preocupação enquanto profissional, porque devo incentivar o ensino da valorização dos direitos, a todas as pessoas, independentemente das suas condições físicas, para uma vida sexual satisfatória e segura, sem excluir a orientação sobre aspectos da procriação, valorizando factores de contraindicação absoluta em função das particularidades de cada utente dos nossos serviços de assistência médica, com a orientação da contracepção eficaz. As consultas de planeamento familiar são cada vez mais importantes e devem ser realizadas numa fase cada vez mais precoce da vida das jovens, de forma a evitar gravidezes indesejadas. Qual a sua opinião enquanto profissional? É importante o início precoce de orientações sobre o planeamento familiar entre os jovens, porque permite a este grupo etário conhecer mais cedo questões sobre o desenvolvimento e maturação da mulher, os riscos do sexo inseguro, a prevenção e detenção de doenças de transmissão sexual e orientações sobre a idade segura para a procriação.

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A adolescência é uma fase da vida dos indivíduos em que o corpo sofre inúmeras mudanças. Ser acompanhado por um médico de confiança é importante em que medida? Na sua opinião, onde é que as consultas de planeamento podem fazer a diferença na vida dos jovens? O acompanhamento de adolescentes requer o redobrar da atenção e oferecimento de segurança assistencial. Estes precisam encontrar no profissional alguém em quem possam confiar, e transmitir as suas verdades, e receber deste último orientações válidas sobre a vida. A grande diferença consiste no diálogo claro, aberto e não repreensivo, que permita esvaziar os jovens das ideias erradas e tabus que tenham e transmitir-lhes informações valiosas que mudem as suas maneiras de pensar, agir e de adesão aos serviços de saúde reprodutiva. Promover uma vida sexual segura é uma missão? Como? A promoção da vida sexual, como direito fundamental de qualquer indivíduo, torna-se uma missão porque o profissional de saúde deve “saber” orientar em que fase de vida os jovens adquirem maturidade para a adesão da sexualidade, os riscos dessa fase de vida, as medidas de prevenção de doenças e de gravidezes indesejáveis, bem como a rotina de acompanhamento hospitalar para a manutenção de boa saúde sexual e reprodutiva. Na sua opinião, como é que uma adolescência bem vivida e passada pode influenciar a vida adulta e quais são os principais conselhos a dar a todos os jovens? Uma adolescência bem vivida e passada pode influenciar a vida adulta pelo facto das boas condutas e práticas seguras, adoptadas nessa idade, oferecerem saúde íntegra e riscos minimizados. Aos jovens e adultos recomenda-se a necessidade da busca frequente do seguimento pelos profissionais, com a realização regular de exames para o descarte das infecções de transmissão sexual, nomeadamente VIH, hepatites B e C e sífilis; a vacinação contra doenças virais preveníveis (HPV de adolescentes de 10 a 14 anos e hepatite B); adesão às consultas de orientação e aconselhamento pré-conjugal e, sobretudo, pré-concepcional.

Enquanto profissional de saúde, quais os principais medos e problemas que os adolescentes referem nas suas consultas? Como consegue ajudar a superá-los e a orientá-los? Os adolescentes queixam-se de pouca ou quase ausência de informações sobre a saúde reprodutiva e os que possuem, com certa deturpação da verdade, obtêmno seio de outros adolescentes. Existe um certo medo de recorrer ao auxílio dos pais e educadores, por temerem represálias e/ou tabus no seio familiar. É importante incentivar o diálogo, encorajar a confiar na família e nos profissionais de saúde e abandonar práticas incorrectas, que podem perigar a vida em idade actual e a adulta. A adolescência e a juventude são etapas fundamentais do desenvolvimento humano, assim como as demais etapas da vida. Esse grupo populacional precisa ter assegurados os seus direitos humanos fundamentais. Na sua opinião de profissional, onde está a principal lacuna no planeamento familiar das adolescentes? Receio? A principal lacuna na adesão ao planeamento familiar pelos adolescentes e jovens reside no vazio quanto às acções das políticas voltadas a esta classe. Refiro-me a acções que eduquem (desde o lar, escola e no meio social), incentivem, captem e mantenham a participação destes nas acções de saúde sexual e reprodutiva como um direito. O assunto da sexualidade adolescente permanece tabu em muitas sociedades, o que leva à existência, entre os jovens, de uma ignorância disseminada quanto aos riscos associados à actividade sexual desprotegida. Como devemos ultrapassar estas barreiras e qual a sua opinião na sociedade angolana? A sexualidade é um fenómeno nato e inseparável da espécie animal e, sem dúvida, a humana. É necessário reconhecer as diversas formas da sua manifestação, valorizando as relações afectivas entre indivíduos de géneros opostos, apelar sobre a vulnerabilidade na adolescência e desencorajar práticas de sexo inseguro e o uso de drogas ilícitas. Angola, como país aberto ao mundo, apesar dos tabus das suas diversas culturas é invadida com as práticas do mundo fora, o que leva o frágil adolescente e jovem a abraçá-las, sujeitando-se a riscos de doenças e dependências comprometedoras. A estratégia consiste na formação e capacitação dos profissionais de saúde, implementação das políticas de saúde reprodutiva, valorização dos direitos dos utentes e oferecer atendimento humanizado.

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ENTREVISTA

MELANOMA: UM INIMIGO DA SUA PELE DR. PASCOAL OVÍDIO, ESPECIALISTA EM DERMATOLOGIA E VENEROLOGIA, ABORDA A TEMÁTICA DO MELANOMA E ALERTA PARA A NECESSIDADE DA PREVENÇÃO COMO PARTE INTEGRANTE DE UMA CORRECTA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE.

Dr. Pascoal Ovídio Médico licenciado pela Faculdade de Medicina da UAN; Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da UAN; Especialista em Dermatologia e Venereologia pela Escola do Hospital Américo Boavida; Formação em Cirurgia Dermatológica pelo Centro Universitário e Hospitalar de Coimbra

Dr. Pascoal, muito obrigado por ter aceite o nosso convite e estar connosco nesta edição da newsletter digital da Tecnosaúde. Diga-nos, o que é o melanoma? Agradeço, igualmente, o convite e a oportunidade de compartilhar um tema muito importante e sempre actual. O melanoma é um tumor maligno ou cancro (câncer) que se desenvolve, principalmente, na pele, o mais temível cancro da pele. É originário de umas células, chamadas de melanócitos, que têm a função de produzir a substância responsável pela pigmentação da pele e não só. Estas células, para além da pele (incluindo mucosas e anexos-unhas, cabelos e outros pelos), encontram–se no globo ocular, leptomeninges (uma das capas que envolve o cérebro), ouvido interno e tubo digestivo, por isso, é possível ocorrer melanoma em todas estas estruturas, mas nesta entrevista vamos referir-nos, apenas, ao melanoma cutâneo. Estudos clínicos afirmam que, em estádios primários, o principal método de tratamento do melanoma é a remoção cirúrgica da área afectada. Qual a efectividade destes tratamentos? Sim, perante o melanoma, a única atitude que oferece probabilidade curativa é a remoção cirúrgica, uma vez feita sem protelamento e com margem de segurança adequada, ou seja, a extensão da exérese para além dos bordos da lesão. A margem

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de segurança é dada pela espessura de Breslow. Para uma lesão com menos de um milímetro de espessura, deve-se dar uma margem de um centímetros; de um a dois milímetros de espessura, dois centímetros de margem de segurança; e acima de dois milímetros, três centímetros de margem, desde que a região anatómica o permita. A melhor técnica, se as condições estiverem criadas, é a microcirurgia de Mohs, em que, no mesmo tempo cirúrgico, se realizam exames histopatológicos até se verificar os bordos livres de células tumorais, portanto, a efectividade do tratamento cirúrgico é quase de 100% quando realizado com a devida antecendência (no início da doença, sem metástases), respeitando as margens de segurança e com o devido follow–up. A lesão excisada é enviada obrigatoriamente para

o estudo anatomopatológico. Se as margens não estiverem livres, procede–se ao alargamento da excisão, mesmo depois de passar algum tempo. Existe alguma relação causa/efeito entre a exposição solar e o aparecimento desta neoplasia? A associação da radiação ultravioleta do sol com o cancro da pele é de tal modo estabelecida por estudos clínicos, epidemiológicos e experimentais, que representa o factor etiológico ambiental mais bem definido de malignidade em humanos, sem esquecer a presença de factores de risco adicionais, falha nos mecanismos de defesa e de reparação do ADN e predisposição genética. 65% dos melanomas e 90% dos cancros não melanoma são atribuídos à exposição solar (Mary, 2015).

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O melanoma está associado a intensos episódios de exposição solar, resultando em queimaduras solares, enquanto os outros, da exposição cumulativa aos raios ultravioletas. Como se pode prevenir o melanoma? A prevenção primária visa a educação para à saúde, no sentido de evitar a exposição solar desde tenra idade, sobretudo, para os indivíduos fotótipos mais baixos (tez mais clara, caucasianos) e para os que têm história familiar de melanoma. Paralelamente, deve-se orientar o uso de vestuário opaco, camisas de mangas compridas e golas altas, calças, chapéus de aba larga, cabelos compridos e o uso de protectores solares, sobretudo neste tempo quente, em que as pessoas frequentam as praias, salvo a situação da COVID–19. Esta temática deve estar incluída nas unidades curriculares escolares. Os

Figura 1: Melanona acral, fase de extensão superficial. Fonte: Fonte: Arquivo iconográfico-Unidade de Cirurgia Dermatológica, HAB.

Figura 2: Melanona acral, fase de extensão vertical. Fonte: Fonte: Arquivo iconográfico - Unidade de Cirurgia Dermatológica, HAB.

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profissionais devem promover a difusão destas medidas em programas televisivos, radiofónicos ou outros, como este espaço em que nos encontramos. As campanhas sistematizadas para o rastreio do cancro da pele devem, igualmente, fazer parte da agenda dos dermatologistas. A prevenção secundária visa o diagnóstico e tratamento precoce do melanoma, a única medida eficaz para combater o cancro já instalado. Só desta forma se poderá influenciar na morbilidade e mortalidade por melanoma. Quais os principais sinais e sintomas desta neoplasia que devem deixar os utentes atentos? Os utentes devem ficar atentos a todas as manchas que têm na pele (inclui mucosas e unhas), como, por exemplo, aos nevos melanocíticos, “os ovós”, aos lentigos solares “manchas do sol”, as sardas. Qualquer modificação na estrutura dessas lesões deve obrigar o utente a consultar um dermatologista e, na ausência deste, outro médico disponível, como um cirurgião, médico de família, enfim, o médico disponível. O aparecimento súbito de um nódulo, muitas vezes seguido de uma pequena úlcera, feridas que levam muito tempo para curarem, podem ser melanomas. De uma forma geral, os sintomas são pouco expressivos, sobretudo na fase inicial. Destaca–se a dor, o prurido (comichão) ou ardor, numa lesão prévia de mancha ou nódulo que se modificou. Os sintomas mais apelativos, habitualmente, estão relacionados com as manifestações do cancro na fase avançada e às metástases na própria pele, regionais em trânsito ou à distância, gânglios linfáticos e/ou outros órgãos, com destaque para o pulmão, cérebro e aparelho digestivo. Estudos clínicos comprovam que o diagnóstico do melanoma pode ser um desafio, especialmente para desenvolver o prognóstico da doença. Como é que é realizado o diagnóstico do melanoma? Para o diagnóstico do melanoma cutâneo, é fundamental a suspeita clínica. Há elementos de observação simples e de aplicação elementar que podem, à partida, indicar a probabilidade de um melanoma cutâneo. Refiro–me, por exemplo, a chamada regra A-B-C-D- E. Ao observar um doente, que refere ter um nevo melanocítico, em qualquer parte do corpo (e, em particular, no dorso para os homens e pernas


para as mulheres), até então tranquilo, mas que depois notou crescimento mais ou menos rápido desta lesão, os bordos tornaram- se irregulares, verifica-se que o tamanho é superior a seis milímetros, o doente passou a referir dor e/ou prurido, ou, até mesmo, notou uma pequena ferida ou sangramento, o médico e, em particular, o dermatologista tem que considerar esta lesão fortemente suspeita de melanoma. Algumas vezes, e sobretudo para os fotótipos mais altos (negros), o doente nota um nódulo na planta dos pés, palma das mãos ou dedos, numa área onde teve, previamente, uma mancha (veja as figuras 1 e 2), ou, até, de repente, este nódulo sem lesão prévia, correspondendo ao melanoma acral ou ao melanoma acral nodular, as formas mais diagnosticadas entre nós. Nos fotótipos mais baixos, sobretudo no rosto e dorso, o doente nota que algumas lesões de lentigo solar passam de castanhas claras para castanhas escuras. Isto pode ser um melanoma cutâneo. O dermatologista tem ao dispor um potente instrumento chamado dermatoscópio, que aumenta a sua precisão na identificação do melanoma precocemente, mas o diagnóstico definitivo é dado pelo exame histopatológico, algumas vezes, necessitando de marcadores específicos. O dermatologista, bem treinado para realizar o exame dermatoscópico, consegue ser preciso para indicar ou realizar biópsia cutânea para aquelas lesões que, de facto, são indicativas de melanoma, evitando, assim, excisar lesões benignas sem nenhuma interferência com a vida do utente e, por vezes, deixando cicatrizes desagradáveis. O exame histopatológico, para além de diagnóstico, ajuda a estabelecer o prognóstico com recurso ao chamado índice de Clark, que determina as estruturas da pele atingidas em profundidade pelo cancro, e ao critério de Breslow, que exprime a espessura do cancro em milímetros, podendo ser usados de forma isolada ou associados a outras ferramentas, como a classificação TNM, que agrega referência as metástases ganglionares e aos outros órgãos, permitindo o estadiamento do melanoma. Usando o critério de Breslow isoladamente, o prognóstico é favorável até um milímetro de espessura, reservado entre um e quatro milímetros e desfavorável com espessura superior a quatro milímetros. Usados de forma correlacionada, por exemplo, o melanoma no estádio 0 (zero) é um melanoma "in situ", isto é, intra–epidérmico /Clark nível l, Breslow inferior a 1 mm), sem metástases, dando

Figura 3: Melanoma acral – nodular Fonte: Arquivo iconográfico – Unidade de Cirurgia Dermatológica, HAB.

um prognóstico de sobrevida aos cinco anos de 100%. Já um melanoma no estádio lV tem um Clark nível 5, ou seja, atinge a hipoderme, tem Breslow igual ou superior a quatro milímetros e pode ter metástases ganglionares, cutâneas e noutros órgãos. Nestes, a sobrevida aos cinco anos é de 9% a 15%. A idade mais jovem, o sexo masculino e determinadas localizações do melanoma, como dorso, braço, pescoço e couro cabeludo, são outros factores de agravamento do prognóstico. Exames complementares, como o doseamento da desidrogenase láctica (DHL) e outros hematológicos, ecografias, tomografias, se possível de todo o corpo, e outros imagiológicos ajudam a estadiar o melanoma. Quais os principais conselhos a dar às pessoas, relativamente a esta patologia? Em primeiro lugar, deve-se encorajar as pessoas a adquirirem o mínimo de conhecimentos sobre a gravidade do problema e a terem noções das principais causas, em particular, da influência da radiação ultravioleta do sol. Assim, o conselho é o de evitar a exposição solar, sobretudo nas horas mais críticas, entre as 11 e as 16 horas, usar vestuário adequado e não negligenciar atenção a qualquer mancha que se modifica ou a um nódulo que aparece de repente. Para tal, é fundamental o incentivo à auto-observação e a procura do dermatologista quanto antes, mesmo na ausência de sintomas, porque, na fase inicial, pode ser realizada uma pequena cirurgia sem recursos muito sofisticados e a taxa de cura é quase de 100%. Há estádios em que o tratamento já é muito complexo e, infelizmente, a maioria dos doentes chega nesta fase, refiro–me, concretamente, ao Hospital Américo Boavida (HAB) em Luanda (veja a figura 3).

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ENTREVISTA

ASSEGURAR A DISTRIBUIÇÃO EM TEMPOS DE COVID-19

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ARTUR SILVA, DIRECTOR GERAL DA AUSTRALPHARMA, EMPRESA DE DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS DE SAÚDE PRESENTE NO MERCADO ANGOLANO HÁ 12 ANOS, ABORDA A IMPORTÂNCIA DA MANUTENÇÃO DAS ROTAS DE DISTRIBUIÇÃO MESMO EM CONTEXTO DE COVID-19. PERÍODO NO QUAL AS ALTERAÇÕES FEITAS AOS PROCEDIMENTOS E ROTINAS DA EMPRESA PERMITIRAM CONTINUAR A SERVIR COM RIGOR E QUALIDADE O MERCADO E OS UTENTES.

Artur Silva Director Geral Australpharma

Sabemos que a actual pandemia impactou muitos sectores, nomeadamente, a distribuição grossista. No entanto, este sector não pode parar, porque as farmácias necessitam de continuar a ser abastecidas diariamente. Como é que a Australpharma conseguiu ultrapassar esta situação? Em primeiro lugar, gostaria de, brevemente, enquadrar a Australpharma, empresa na distribuição de medicamentos e produtos de saúde, presente há mais de 12 anos no mercado angolano, com a missão de criar valor através da promoção no acesso à saúde. A COVID-19 alterou, por completo, a realidade de todas as empresas, a nível mundial, bem como o modo de as pessoas trabalharem. A Australpharma, nos primeiros meses da pandemia, analisou os fortes impactos que aconteceram em alguns países da Europa e do mundo, e começou por antecipar, no imediato, o seu plano de contingência interno. Nesse sentido, tivemos de tomar variadas decisões e preparar o impacto na nossa operação. Hoje, olhando para trás, verifica-se que conseguimos salvaguardar a segurança das nossas equipas, pois, sempre que possível, ficaram em teletrabalho. Na área da logística, implementámos turnos e, acima de tudo, apostámos muito na formação e na segurança das nossas pessoas. Todas as recomendações do Ministério da Saúde de Angola e das organizações mundiais foram implementadas na Australpharma, de forma a mitigar ao máximo os riscos de contaminação.

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Angola é um grande importador. O fecho de fronteiras internacionais impactou o negócio farmacêutico e o abastecimento da cadeia? Nos primeiros meses desta nova realidade de pandemia, sentimos fortes dificuldades de importação de alguns produtos. Como é do conhecimento público, existiram fortes restrições na exportação de produtos de biossegurança, bem como a definição de uma lista de medicamentos que não eram passíveis de serem exportados. A Australpharma, em conjunto com os seus parceiros internacionais, antecipou os processos de sourcing, para mitigar ao máximo as rupturas de stock. A distribuição farmacêutica é um importante elo de todo o circuito do medicamento. As rotas foram afectadas? Sem dúvida que este foi um grande desafio. A Australpharma tem como objectivo interno na logística um nível de serviço de excelência aos seus clientes. Muitas foram as dificuldades para circular na cidade de Luanda, com vários pontos de paragem para validar as normas do estado de emergência. O sucesso foi alcançado com a forte dedicação das nossas equipas que, todos os dias, trabalham para construir uma saúde mais próxima. Também gostaria de agradecer a tolerância adicional dos nossos clientes e parceiros, que sempre foram

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informados dos procedimentos que tivemos de implementar. Por fim, e nas relações de confiança que temos com os nossos parceiros, conseguimos globalmente uma elevada taxa de entrega das nossas mercadorias. Como se consegue gerir o stress da equipa e mantê-la motivada, apesar do medo diário? A Australpharma conta com uma equipa com mais de 40 pessoas, muito empenhadas em fazer diariamente mais e melhor na promoção do acesso à saúde. Apesar da forte resiliência e empenho de todos os colaboradores, existem sempre momentos de dúvida e incerteza. Em conjunto com a nossa equipa de Recursos Humanos, estivemos, ainda, mais próximos das dúvidas das nossas pessoas. Em primeiro lugar, fizemos uma formação interna sobre o que é a COVID-19, bem como oferecemos a todos os colaboradores um kit de protecção, contendo máscaras, luvas, álcool gel e um termómetro. Sempre que possível, as nossas equipas estiveram em teletrabalho e este foi, sem dúvida, um factor importante para a sua segurança e tranquilidade. Globalmente, as pessoas da Australpharma têm vindo a gerir muito bem o stress desta nova realidade, em que temos todos de apreender a conviver com este novo normal. Mas, no final, acreditamos que tudo vai ficar bem. A distribuição de produtos farmacêuticos é outra frente do sector da saúde que cedo foi chamada a responder às solicitações


das farmácias. No entanto, nem sempre é fácil assegurar esta distribuição em Angola. Como se consegue lidar com estes problemas? Aproveitando esta oportunidade, gostaria de felicitar o excelente e extraordinário trabalho feito por todos os intervenientes na área da saúde, sejam eles hospitais, clínicas, farmácias e outros prestadores de saúde. Como é sabido, são a primeira porta de acesso aos cuidados de saúde. São os verdadeiros heróis, que diariamente prestam os cuidados de saúde à população, e muitos foram os momentos em que tivemos de ajudar os nossos parceiros com verdadeiros milagres nos prazos de entregas, bem como identificar fornecedores internacionais para a rápida reposição de medicamentos e consumíveis hospitalares. Na verdade, a distribuição grossista necessita, de certo modo, de contribuir para a mitigação do risco de contágio dos seus colaboradores e, por outro lado, garantir um abastecimento contínuo e adequado das farmácias. Houve a criação de algum plano estratégico operacional especial para a época pandémica, de forma a garantir o fornecimento de todos os vossos clientes? Sim, foi criado um plano de contingência interno para todos os colaboradores da empresa. E fomos muito exigentes no seu correcto acompanhamento, pois o sucesso do plano estava directamente relacionado com a segurança de todos. Um dos nossos objectivos estratégicos na Australpharma são as pessoas felizes e, nesse âmbito, a sua segurança e das suas famílias está em primeiro lugar. Gostaria de destacar o protocolo diário na medição de temperatura, bem como o preenchimento

obrigatário de um formulário com respostas a um questionário de despiste dos principais sintomas da COVID-19. Outro ponto importante foi na logística: entre cada entrega, de cliente para cliente, os colegas da logística seguiam um protocolo de mudança de máscara e desinfecção das mãos. A pandemia de COVID-19 acentuou a crise económica nacional que já se vinha a sentir. O sector da distribuição também sente esta crise? Como é que actuam, tendo um papel fundamental no abastecimento da população e não podendo parar a vossa actividade? Acredito que não exista nenhuma área de actividade económica no país e no mundo que não sinta os fortes impactos desta crise. A Australpharma continua muito empenhada em garantir o correcto abastecimento da cadeia logística do medicamento e dos produtos de saúde em Angola. Um dos nossos objectivos internos é acompanhar, de forma muito próxima, o plano de contingência, uma vez que estamos sempre focados na melhoria contínua dos processos. A nossa equipa comercial foi uma das áreas da empresa que teve de reinventar o modo de fazer visitas comerciais aos clientes, mas, felizmente, com todos os diferentes meios digitais ao alcance, conseguimos reunir com os nossos clientes e parceiros via Teams ou Skype. Tivemos também todos de nos reinventar, de forma a garantir a continuidade das operações e de forma a não falhar com o correcto abastecimento da cadeia de medicamentos para a população. Para o futuro, vamos continuar a estar alinhados com as decisões do executivo, no âmbito de adaptarmos rapidamente os nossos planos de contingência às novas decisões. Por fim, renovo a total disponibilidade e profissionalismo da equipa Australpharma, no seu trabalho diário para a construção de mais e melhor saúde, e uma total dedicação para as necessidades dos nossos clientes. Juntos por um melhor acesso à saúde.

39 SAÚDE


ANO NOVO:

ATINJA O SUCESSO ANO NOVO. PENSE EM SI E NA SUA SAÚDE. 2020 FOI UM ANO DE MUDANÇAS, MAS NÃO VAMOS DEIXAR QUE 2021 COMECE AFECTADO. PLANEIE O SEU ANO DE 2021: FOCO E DETERMINAÇÃO É O QUE NECESSITA PARA COMEÇAR EM GRANDE. RECEBA 2021 DA MELHOR FORMA E SEJA BEM-SUCEDIDO.

s e õ ç u l o s e R e Lista 2d021 ico s í f o i para c í c xer

40 SAÚDE

e l s e i v a á m d u r a a s c i 1. Prat a alimentação mais um 2. Ter r a m u f e d ar x i e D . do 3 e c s i a m -me el r v a á t i d e u a D s a . 4 orm f e d as o c i s t e é p g r r e e n d e s a d i b e 5. Per b nos e m r i m u s 6. Con o r i e h n i d r r a a p c u ú o ç P a e d 7. o m u s n o c s o a i r d i z s u o d e s o od t o 8. R v o n o alg r e d n e r p ília m a f a h 9. A n i m a d m e b r a 10. Cuid


5 PASSOS

PARA SER BEM-SUCEDIDO

1

Autoconhecimento: para alcançar o sucesso profissional é fundamental conhecer-se e saber o que realmente deseja alcançar. Olhe para o seu interior e pergunte a si próprio o que quer.

2

Foco: mantenha-se focado nos seus objectivos e leve-os até ao fim. Defina metas de trabalho atingíveis. Comece por definir pequenos objectivos para alcançar uma grande meta.

3

Planeamento: organize-se e planeie as suas actividades diárias, pois assim será mais fácil chegar ao final do dia com menos stress acumulado. Predisponha-se a mudar, olhando para o seu 2020 e vendo todas as suas falhas, planeando todas as áreas onde se poderá superar.

4

Acção: não basta planear, é necessário colocar em acção.

5

Disciplina: mantenha a disciplina e persistência das suas acções e sairá bem-sucedido! Não se esqueça: se se desviar do caminho, retome novamente, porque errar faz parte do processo.

31

MB

E EZ

D

41 SAÚDE


ANOS YEARS

CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!

Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.

42 SAÚDE

SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.


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