N.º 22
Janeiro/Fevereiro 2 0 2 4
D ISTRIBUIÇÃO GRATUITA
P U B LIC A ÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
DOENÇAS RARAS:
NÃO TÃO RARAS ASSIM
Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
No vasto espectro de condições médicas, existe uma categoria muitas vezes negligenciada, mas profundamente impactante: as doenças raras. Estas condições, que afectam uma pequena percentagem da população, apresentam desafios únicos que exigem maior atenção, investigação e apoio.
As doenças raras, por definição, afectam uma pequena parte da população. No entanto, colectivamente, afectam milhões em todo o mundo, com as estimativas a sugerirem que mais de 300 milhões de indivíduos enfrentam várias doenças raras. Embora cada doença possa ser rara individualmente, o encargo colectivo que impõem é substancial, tanto para os doentes como para os sistemas de saúde.
Muitas destas condições permanecem por diagnosticar, ou ser mal diagnosticadas, durante anos, exacerbando o sofrimento dos doentes e dificultando o desenvolvimento de tratamentos eficazes. A complexidade e a diversidade das doenças raras agravam ainda mais estes desafios, exigindo uma colaboração interdisciplinar e abordagens inovadoras de diagnóstico e tratamento.
Para além da intervenção médica, o impacto social e económico não pode ser sobrestimado. As famílias, muitas vezes, enfrentam uma imensa pressão financeira. Em muitos casos, os cuidadores suportam o fardo de fornecer apoio ininterrupto, sacrificando o seu próprio bemestar e meios de subsistência no processo.
Aumentar a consciencialização e promover a empatia e a compreensão são, assim, passos essenciais para a construção de um ecossistema de saúde mais inclusivo e solidário. O Dia das Doenças Raras, comemorado no último dia de Fevereiro, foi criado com esse mesmo objectivo.
Enquanto enfrentamos os inúmeros desafios de saúde do século XXI, não esqueçamos aqueles cujas vozes podem ser fracas, mas cujas lutas são profundas. Ao reconhecer a urgência das doenças raras e tomar medidas concretas para enfrentá-las, defendemos os princípios fundamentais de compaixão, equidade e solidariedade que definem a Humanidade. Ao fazê-lo, reafirmamos o nosso compromisso de não deixar ninguém para trás na busca da saúde e do bem-estar para todos.
2 SAÚDE
nutrição especializada
PARA O SEU BEBÉ
Distribuidora oficial:
REFLUXO GASTROESOFÁGICO
REFLUXO GASTROESOFÁGICO (RGE) É O RETORNO INVOLUNTÁRIO DO CONTEÚDO GÁSTRICO PARA O ESTÔMAGO, NALGUMAS OCASIÕES ALCANÇANDO A BOCA E A FARINGE. É UM PROCESSO FISIOLÓGICO BENIGNO, QUE OCORRE VÁRIAS VEZES AO DIA EM CRIANÇAS SAUDÁVEIS, SOBRETUDO EM RECÉM-NASCIDOS E LACTENTES, MANIFESTANDO-SE POR REGURGITAÇÃO OU VÓMITOS APÓS A ALIMENTAÇÃO. CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS, COMO DISMOTILIDADE ESOFÁGICA, RETARDO NO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO E AUMENTO DE VOLUME DE INGESTÃO EM CADA AMAMENTAÇÃO, AUMENTAM A INCIDÊNCIA DO RGE ATÉ, PELO MENOS, O SEXTO MÊS DE VIDA, DIMINUINDO POSTERIORMENTE. RESOLVE-SE, EM CERCA DE 95%, AOS 18 MESES.
Dra. Nzuzi Lemos
Licenciada
4 SAÚDE PERSPECTIVA
em Medicina, na República Checa. Chefe do Serviço de Pediatria da Clínica Girassol
Características da própria dieta podem influenciar o esvaziamento gástrico e favorecer o refluxo. Neste contexto, quanto menos osmolar for a dieta, mais rápido o esvaziamento gástrico.
O leite materno acelera o esvaziamento gástrico, quando comparado com as fórmulas. Já fórmulas com probióticos, prebióticos ou hidrolisadas diminuem o tempo do esvaziamento gástrico.
O RGE torna-se patológico quando este retorno de conteúdo gástrico aumenta de frequência, intensidade e quando causa complicações, chamando assim de Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).
Complicações mais associadas
• Irritabilidade;
• Défice no ganho ponderal;
• Estridor;
• Esofagite;
• Hematémeses;
• Aspiração do conteúdo alimentar e gástrico;
• Apneia intermitente por obstrução após as mamadas;
• Postura anormal;
• Síndrome de Sandifer (arqueamento das costas e cabeça virada para um lado).
Diagnóstico
Pacientes sem sinais de complicações, como no RGE fisiológico, devem ser manuseados com medidas conservadoras antes de qualquer investigação. Já quando há suspeita de DRGE, são solicitados alguns testes necessários para o seu diagnóstico, nomeadamente:
• Avaliação clínica;
• Seriografia esofágica para excluir problemas anatómicos;
• PHmetria esofágica, que mede o grau de acidez;
• Cintilografia de esvaziamento gástrico;
• Endoscopia digestiva alta, que permite a visualização directa da mucosa e colheita de material para biópsias;
• Ultrassonografia abdominal, que ajuda a excluir Estenose Hipertrófica do Piloro.
CARACTERÍSTICAS DA PRÓPRIA DIETA PODEM INFLUENCIAR O ESVAZIAMENTO GÁSTRICO E FAVORECER O REFLUXO. NESTE CONTEXTO, QUANTO MENOS OSMOLAR FOR A DIETA, MAIS RÁPIDO O ESVAZIAMENTO GÁSTRICO
Manuseamento clínico
• Deverá incluir medidas dietéticas e ambientais e educação dos pais, quando se trata de refluxo fisiológico, e medidas medicamentosas, quando estamos perante DRGE;
• Rever a técnica de amamentação;
• Posicionamento vertical após as mamadas por 20 minutos;
• Elevação da cabeceira 30 a 40 graus ao dormir;
• Fazer a criança arrotar com frequência;
• Utilização de fórmulas espessadas;
• Refeições fraccionadas e menos volumosas;
• Nalguns casos, considerar fórmulas hipoalergénicas, se falhar nas medidas conservadoras;
• Rever alimentação da mãe para lactentes em amamentação.
Tratamento medicamentoso
O tratamento farmacológico está reservado para situações complexas da DRGE. Deve considerar-se o uso de antiácidos como:
• Inibidores da bomba de protões;
• Bloqueadores de histamina H2;
• Paracinéticos que aceleram no esvaziamento;
• Se não houver resposta às outras medidas, o tratamento cirúrgico torna-se uma opção;
• É importante tranquilizar a família sobre o manuseamento do RGE fisiológico, de modo a evitar exames diagnósticos desnecessários.
5 SAÚDE
AUSTRALPHARMA DOA 500 LATAS DE LEITE NUTRIBÉN ÀS CRIANÇAS CARENCIADAS
Aentrega, realizada com um misto de gratidão e emoção, foi um momento que transcendeu a simples doação de produtos. Foi uma celebração de solidariedade, empatia e responsabilidade social. A equipa da Australpharma criou, durante o evento, momentos de interação com as famílias, com danças com a mascote Nutri, cânticos e pinturas de desenhos educativos da Nutribén.
A AUTRALPHARMA REALIZOU UMA DOAÇÃO DE 500 LATAS DE LEITE NUTRIBÉN PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA AO HOSPITAL MUNICIPAL DO ZANGO E AO HOSPITAL MATERNO INFANTIL MÃE JACINTA PAULINO, EM VIANA. ESTE GESTO, ALÉM DE REPRESENTAR O COMPROMISSO SOCIAL DA EMPRESA, DESTACA O SEU PAPEL FUNDAMENTAL EM ENFRENTAR AS NECESSIDADES PREMENTES DA COMUNIDADE E CUIDAR DAS CRIANÇAS MAIS CARENCIADAS.
“A nossa empresa sempre acreditou que o sucesso envolve a construção de uma sociedade mais justa e acolhedora. Esta doação é um pequeno passo em direcção a um futuro onde todas as crianças têm acesso a recursos essenciais para um crescimento saudável”
Marco Correia, director geral da Australpharma.
Agente de mudança positiva
A doação não é apenas uma expressão de filantropia corporativa, mas um lembrete de que as empresas desempenham um papel crucial na construção de uma comunidade mais forte e saudável. Ao se envolver activamente nas necessidades locais, a Australpharma demonstra que está profundamente enraizada no tecido social e comprometida em fazer a diferença na vida das pessoas.
A comunidade, por sua vez, abraçou calorosamente a iniciativa da Australpharma, reconhecendo-a como um exemplo de como o sector privado pode ser um agente de mudança positiva.
Através desta acção, a empresa não apenas fez uma doação material, como investiu no potencial de um futuro mais promissor para as crianças que, agora, terão acesso a uma nutrição adequada.
6 SAÚDE
NOTÍCIA NOTÍCIA
ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA: A ALERGIA ALIMENTAR MAIS FREQUENTE EM CRIANÇAS
SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE ALERGIAS (OMA), AS ALERGIAS ALIMENTARES SÃO DEFINIDAS COMO REACÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE INICIADAS POR MECANISMOS IMUNOLÓGICOS ESPECÍFICOS E OCORREM QUANDO O SISTEMA IMUNITÁRIO RESPONDE DE MANEIRA ANORMAL A CERTOS ALIMENTOS. PARA PESSOAS COM ALERGIAS ALIMENTARES, O SISTEMA IMUNITÁRIO IDENTIFICA INCORRECTAMENTE CERTOS COMPONENTES DOS ALIMENTOS COMO PREJUDICIAIS E PRODUZ UMA RESPOSTA INADEQUADA. ISSO LEVA A DESAGRADÁVEIS SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS ÀS ALERGIAS QUE, POR VEZES, PODEM SER FATAIS.
RUBRICA NUTRIÇÃO
Dra. Margarida Carvalho
Farmacêutica, licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
imunoglobulinas, e acontece principalmente quando o bebé ou a criança ingere ou tem contacto com o leite de vaca. A alergia é manifestada por sinais e sintomas que podem acontecer imediatamente ou após algumas horas ou dias da ingestão ou contacto com os produtos que contêm essa proteína. A APLV geralmente surge em bebés e crianças, porque o sistema imunitário ainda está em desenvolvimento nesta fase da vida. No entanto, em casos mais raros, também pode surgir em adultos. Geralmente, a APLV ocorre antes do primeiro ano do bebé e é muito rara em crianças com mais de seis anos de idade. De acordo com um relatório publicado, em 2012, pela European Society of Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition (ESPGHAN), cerca de 50% das crianças com alergia à proteína do leite de vaca desenvolve tolerância com um ano de idade, cerca de 75% até aos três anos e 90% até completar seis anos.
Sinais e sintomas
Existem diferentes mecanismos por detrás da APLV, com base na reacção do sistema imunitário do bebé às proteínas do leite de vaca:
• Mediada por IgE (mediada por anticorpos)
Os sintomas mediados por IgE de APLV podem ocorrer dentro de minutos de digestão da proteína do leite de vaca e normalmente resultam em erupção cutânea (também conhecida como urticária), inchaço dos lábios e das pálpebras, vómitos e sibilos.
Aalergia à proteína do leite de vaca (APLV), a alergia alimentar mais frequente em crianças, com uma prevalência de 2% a 5% do total das alergias, é a alergia a uma ou mais proteínas presentes no leite de vaca, como caseína, lactoglobulina, lactoalbumina, soroalbumina e
Gastrointestinais
•Diarreia
•Obstipação
•Vómitos
•Sangue nas fezes
• Cólica intensa
•Refluxo
•Falta de apetite
•Dificuldade em engolir
Causas
• GenéHca
• Não mediada por IgE (não mediada por anticorpos)
Os sintomas de APLV não mediada por IgE ocorrem geralmente após algumas horas e resultam em sintomas intestinais e de pele.
Os sintomas podem ser variados e compreender vários sistemas do organismo do lactente:
Dermatológicos
•Prurido
•Inchaço lábios e/ ou pálpebras
• Dermatite atópica
Respiratórios
•Sibilância
•Tosse
• Falta de ar
•Congestão nasal
Outros
•Perturbações físicas
•Défice de crescimento
•Anafilaxia
A influência genéPca/familiar é o factor mais associado ao desenvolvimento da alergia. Filhos de pais alérgicos possuem 75% desenvolvê-la. Mas crianças sem história familiar de alergia também podem apresentar APLV.
• Hipótese da higiene
Esta hipótese tem sido considerada uma das possíveis causas do aumento das alergias alimentares, pois os hábitos de limpeza,
9 SAÚDE
Causas
• Genética
A influência genética/familiar é o factor mais associado ao desenvolvimento da alergia. Filhos de pais alérgicos possuem 75% de probabilidade de desenvolvê-la. Mas crianças sem história familiar de alergia também podem apresentar APLV.
• Hipótese da higiene
Esta hipótese tem sido considerada uma das possíveis causas do aumento das alergias alimentares, pois os hábitos de limpeza, as vacinas e os antibióticos tornam as pessoas menos expostas a infecções, acarretando alterações no sistema de defesa e aumentando a probabilidade de desenvolver alergias.
• Exposição precoce às proteínas do leite
Quando é introduzido o leite de vaca nos primeiros dias de vida, a probabilidade de desenvolver alergia à proteína do leite de vaca é maior, porque o organismo ainda não está totalmente preparado para receber todos os alimentos. Como o sistema digestivo ainda é imaturo, as proteínas do leite são absorvidas por inteiro, o que faz com que sejam confundidas com algo nocivo para o organismo.
Diagnóstico
O diagnóstico da APLV deve ser feito por um médico, através de:
• Avaliação dos sinais e sintomas apresentados após o consumo dos produtos com leite de vaca;
• Exames de sangue. Os exames que avaliam o hemograma e as reservas de ferro podem auxiliar a detectar possíveis complicações da alergia alimentar relacionadas ao processo inflamatório do intestino;
• Testes cutâneos de alergia (identificação de alergias com reacções imediatas apenas). A determinação da IgE específica auxilia apenas na identificação das alergias IgE mediadas (aquelas que têm reacções imediatas). Para
Bebés a amamentar
tal, podem realizar-se testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (prick test ou prick to prick) e de IgE específica no sangue;
• Testes de provocação oral (TPO). São o método mais fiel para determinar o diagnóstico da alergia alimentar. No TPO, o paciente recebe o alimento do qual há suspeita de alergia e, se houver reacção após a reintrodução do alimento, a alergia é confirmada. O TPO é realizado sob orientação e supervisão médica. Reacções não mediadas por IgE e mistas são tardias e pode não haver nenhum sintoma no momento do teste. Nesse caso, mantém-se o consumo do alimento testado em casa. Se houver reacção até 30 dias após o término do teste, confirma-se o diagnóstico. Sem sintomas, o teste é considerado negativo;
• Teste de exclusão. Consiste em retirar da dieta alguns alimentos específicos, para verificar se os sinais e sintomas melhoram, até se identificar o alimento que está a causar a alergia.
Tratamento
O tratamento da APLV deve ser feito sob o acompanhamento de um médico, sendo recomendado excluir da alimentação o leite de vaca e seus derivados. No caso das crianças, o pediatra deve indicar fórmulas infantis que não contenham leite de vaca.
Os bebés que são alimentados exclusivamente com leite materno também podem apresentar sintomas de APLV, pois parte da proteína do leite de vaca consumido pela mãe passa para o leite materno, causando alergia ao bebé. Nestes casos, a mãe é orientada a excluir os produtos com leite de vaca e derivados da dieta.
Bebés que não amamentam
10 SAÚDE
Como detectar alimentos que podem conter leite de vaca?
Como detectar alimentos que podem conter leite de vaca?
Não ingerir alimentos cujo rótulo contenha os seguintes ingredientes: Evitar alimentos que geralmente contêm leite como:
Caseína
Caseína hidrolisada
Caseinato
Creme de leite
Coalhada
Derivados do leite
Estabilizante
Lactoalbumina
Fostato de Lactoalbumina
Lactoglobulina
Nota:
A letra “D” no rótulo geralmente indica que se trata de um lacPcínio e, portanto, com grande probabilidade de conter leite.
Alguns medicamentos também podem conter lactose e proteínas do leite
Lactose
Lactato
Lactoferrina
Lactulona
Lactulose
Leitelho
Proteínas do leite hidrolisadas
Sabor Natural
Soro
Gordura de leite
Fermento lácteo
Nota:
O leite materno é o mais rico em lactose, portanto, independentemente de qualquer dieta materna, o bebé amamentado estará sempre em contacto com a lactose. O que deve ser evitado é a proteína do leite e não a lactose. No entanto, se Pver “lactose” presente no rótulo de qualquer produto, pode haver também a proteína e apenas por isso estes produtos devem ser evitados
Biscoitos
Bolos
Chocolate Manteiga
Margarina
Molhos cremosos
Pão
Caramelo
ChanPlly
Iogurte
Nota:
Pacientes alérgicos às proteínas do leite de vaca não podem ingerir leite de origem animal, como leite de cabra, e leites em pó que não sejam específicos (excepto leites de soja)
Factores nutricionais relacionados à prevenção primária de doenças alérgicas
Factores nutricionais relacionados à prevenção primária de doenças alérgicas
Devemos aplicar as seguintes recomendações nutricionais em lactentes com, pelo menos, um parente de primeiro grau (um dos pais ou um irmão) com documentada história de doença alérgica (asma, rinite, dermatite atópica ou alergia alimentar):
• O aleitamento materno é recomendado como exclusivo por, pelo menos, seis meses e encorajado até os dois anos ou mais, sem nenhuma restrição à dieta materna. Há evidências de que o leite materno durante a fase de introdução de alimentos sólidos pode prevenir o desenvolvimento de alergias a esses alimentos.
Para os casos em que a complementação com fórmulas infantis é necessária antes da introdução dos alimentos sólidos, as recomendações são:
• Se há história familiar de alergia, devem receber fórmulas hidrolisadas, parcial ou extensamente.
Nota: As fórmulas de soja ou leite de outros mamíferos (como o de cabra) não devem ser recomendadas para a prevenção.
A partir dos seis meses de idade, os pais devem considerar a introdução de um novo alimento, a cada dois ou três dias, de acordo com os hábitos da família. Dessa forma, as reacções são identificadas com maior facilidade e o alimento pode ser excluído (ou mantido). Dificilmente o lactente apresentará alergia a algum alimento já bem tolerado se este for ingerido regularmente.
Pudim
Puré de batata
Queijo (cabra, ovelha e búfala inclusive) Queijo de soja
Queijo vegetariano
Gelados
Tortas
Natas
Nota:
Evitar comer alimentos de padarias. Normalmente, a mesma máquina para faPar alimentos é usada também para faPar queijo, podendo haver probabilidade de contaminação
Salsichas e carnes industrializadas (por exemplo, presunto) podem conter leite
Produtos light geralmente contêm leite
OS BEBÉS QUE SÃO ALIMENTADOS
EXCLUSIVAMENTE COM LEITE MATERNO TAMBÉM PODEM APRESENTAR SINTOMAS DE APLV, POIS PARTE DA PROTEÍNA DO LEITE DE VACA CONSUMIDO PELA MÃE PASSA PARA O LEITE MATERNO, CAUSANDO ALERGIA AO BEBÉ. NESTES CASOS, A MÃE É ORIENTADA A EXCLUIR OS PRODUTOS COM LEITE DE VACA E DERIVADOS DA DIETA
ACNE IMPACTA MAIS DE 65% NA QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES
PERSPECTIVA
ACNE É O NOME DADO A ESPINHAS E CRAVOS QUE SURGEM DEVIDO A UM PROCESSO INFLAMATÓRIO DAS GLÂNDULAS SEBÁCEAS E DOS FOLÍCULOS PILOSSEBÁCEOS. CONSTITUI PARTE DAS DOENÇAS DE PELE MAIS OBSERVADAS NAS CONSULTAS DE DERMATOLOGIA. É MUITO FREQUENTE NA FASE DA ADOLESCÊNCIA, NÃO DEIXANDO DE SER COMUM TAMBÉM EM ADULTOS, PRINCIPALMENTE EM MULHERES. ALÉM DO INCÓMODO DAS LESÕES, A APARÊNCIA É UM FACTOR IMPORTANTE. O COMPROMETIMENTO ESTÉTICO DETERMINADO POR ALTERAÇÕES DA PELE PODE ATINGIR O LADO PSICOLÓGICO E TORNAR O DOENTE INSEGURO, TÍMIDO, DEPRIMIDO, INFELIZ, COM BAIXA AUTOESTIMA E COM CONSEQUÊNCIAS SÉRIAS QUE PODEM PERSISTIR PARA O RESTO DA VIDA. A DRª MAIZA BAPTISTA E COLABORADORES NO ESTUDO PIONEIRO EM ANGOLA, EM 2018, SOBRE O IMPACTO DA ACNE NA QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES, USANDO A FERRAMENTA “ACNE-QOL-BR”, CONFIRMOU QUE ESTA IMPACTA MAIS DE 65% NA QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES (BAPTISTA, ET AL., 2018).
Dra. Maiza Baptista
Dermatologista e Venereologista. Membro do Colégio de Especialidade de Dermatologia da Ordem dos Médicos de Angola. Presidente da Região Norte do Colégio de Especialidade da Ordem dos Médicos de Angola. Sócia correspondente na Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia
As hormonas sexuais, que começam a ser produzidas na puberdade, são os principais responsáveis pelas alterações das características da pele, assim como pelo surgimento da acne. Estas hormonas, chamadas de androgénios e de estrogénios, são produzidas tanto pelos
ovários (mulher) e testículos (homem), quanto pelas glândulas suprarrenais (duas pequenas glândulas situadas sobre os rins) em ambos os sexos. A produção dos androgénios é maior nos homens e a dos estrogénios é maior nas mulheres. São os androgénios os responsáveis pelo início do funcionamento das chamadas glândulas sebáceas, responsáveis pela produção do sebo usado para lubrificar o cabelo e a pele, que são mais activas na face, peito, costas e couro cabeludo. Estas glândulas estão presentes desde o nascimento, mas são mais activas na puberdade, época em que pessoas com predisposição genética desencadeiam mudanças relacionadas com o conteúdo de gordura (secreção sebácea) da pele e do couro cabeludo e, como consequência, as lesões de acne vão aparecer com mais frequência na face, mas também podem ocorrer nas costas, ombros e peito.
Principais sinais e sintomas • Comedões (cravos) que correspondem a acne grau I;
13 SAÚDE
• Pápulas (lesões sólidas arredondadas, endurecidas e eritematosas) e pústulas (lesões com pus) que correspondem a acne grau II. Nesta podemos verificar também os comedões;
• Nódulos (lesões caracterizadas pela inflamação, que se expandem por camadas mais profundas da pele e podem levar à destruição de tecidos, causando cicatrizes), que correspondem a acne grau III. Nesta podemos verificar também os comedões, pápulas e pústulas;
• Quistos (maiores que os nódulos, inflamados, expandem-se por camadas mais profundas da pele, podem ser muito dolorosos e deixar cicatrizes), que correspondem a acne grau IV. Nesta podemos encontrar também os comedões, pápulas, pústulas e os nódulos;
• Úlceras (“feridas mais profundas”), correspondem ao grau V da acne, em que as lesões evoluem para úlceras e sintomas sistémicos.
É IMPORTANTE CHAMAR A ATENÇÃO DE QUE A ACNE NÃO É CONTAGIOSA E NÃO SE RELACIONA COM A “SUJIDADE” DA PELE OU DO SANGUE
Que factores podem piorar a acne?
• Stresse;
• Período menstrual ou gravidez;
• Síndrome do ovário policístico;
• Uso de certos medicamentos, como corticoides e esteroides anabolizantes e vitaminas do complexo B;
• Determinados produtos de pele;
• Roupas muito apertadas;
• Exposição exagerada ao sol;
• Contacto com óleos, graxas ou produtos gordurosos;
• Hábito de mexer nas lesões (“espremer cravos e espinhas”);
• Suor excessivo;
• Deixar o cabelo em contacto com a pele, o que a pode deixar mais oleosa.
É importante chamar a atenção de que a acne não é contagiosa e não se relaciona com a “sujidade” da pele ou do sangue.
Tipos de acne
A acne neonatal é aquela que atinge recémnascidos e normalmente ocorre devido à transmissão de algumas hormonas para os bebés, através da placenta, antes do nascimento. Outra causa de acne em bebés é o stresse do parto, que pode fazer com que o corpo do bebé liberte hormonas. Recém-nascidos com acne geralmente têm lesões que desaparecem espontaneamente. A acne infantil é a que atinge bebés entre três e 16 meses de idade, provocando cravos e espinhas. O problema normalmente desaparece quando a criança atinge os dois anos de idade e raramente deixa cicatrizes. Pode ser causada especialmente pelos níveis hormonais mais elevados que o normal.
A acne vulgar é o tipo mais comum da doença e aparece com mais frequência em adolescentes e adultos jovens, especialmente durante a puberdade, em função do início da produção de hormonas femininas e masculinas (que retratámos).
A acne conglobata é uma forma rara e grave de acne e ocorre principalmente em homens jovens. Neste caso, nódulos e quistos desenvolvem-se no rosto, peito, costas, braços e coxas. Este tipo de acne pode ser difícil de tratar e, muitas vezes, deixa cicatrizes.
14 SAÚDE
Referências:
A acne fulminante é uma forma grave de acne conglobata, que ocorre mais em meninos adolescentes. Na acne fulminante, um grande número de espinhas desenvolve-se muito rapidamente nas costas e no peito e, na maioria dos casos, provoca cicatrizes graves. Doentes com acne fulminante, muitas vezes, têm febre, dor muscular e óssea.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da acne é clínico (baseado nos sinais e sintomas descritos), associado à história clínica completa do doente. Na maioria das vezes, não são feitos testes especiais para acne, reservando-se para doentes em que se suspeita de uma doença subjacente. O ideal é a acne ser tratada o mais precocemente possível. Está ultrapassada a ideia de que não se deve tratá-la por ser considerada “própria da idade”, “de desaparecimento espontâneo com o tempo” ou “de não ser doença”. O seu controlo é recomendável não só por razões estéticas, como também para preservar a saúde da pele e a saúde psíquica, além de prevenir cicatrizes (marcas da acne) tão difíceis de corrigir na idade adulta. E a melhor forma de evitá-las é começar o tratamento adequado o mais cedo possível. Ou seja, a acne tem tratamento e pode ser controlada, porém, pode levar bastante tempo.
O dermatologista, de forma individualizada, irá orientar a medicação em função do tipo de pele, grau e acne e presença de doenças subjacentes. Há opções tanto de terapêutica local, como por via oral, ou a combinação de ambas. O tratamento vai variar de acordo com a gravidade e a localização e em função de características individuais. É necessário verificar se há lesões não inflamatórias (“cravos”) e/ou inflamatórias (“espinhas”, nódulos, cistos) e/ou cicatrizes. Em formas leves, o tratamento da acne pode ser apenas local, com inúmeros produtos existentes no mercado, isolados ou combinados: ácido salicílico, peróxido de benzoílo, retinoides, antibióticos (associados ou não no mesmo produto com outros grupos farmacológicos) e ácido azeláico. Quando o quadro não evolui bem, é associado o tratamento por via oral, utilizando-se antibióticos específicos, da classe das
tetraciclinas, macrólidos ou sulfonamidas, sempre associados a um tratamento farmacológico. O tratamento hormonal, com anticoncepcionais orais, é sempre útil para as mulheres, desde que não existam contraindicações. Quando não há uma boa resposta aos tratamentos e se percebe uma tendência para cicatrizes ou um importante impacto negativo na qualidade de vida, deve ser indicada, o mais precocemente possível e desde que não existam contraindicações, a isotretinoína oral. Contudo, esta substância é absolutamente contraindicada em casos muito específicos e, como descrito, o dermatologista irá recomendar a forma correcta da sua utilização, pois serão sempre necessários exames de sangue antes e durante o tratamento.
Acções coadjuvantes importantíssimas
• Não manipular (“cutucar, espremer”) as lesões, pois isso pode levar à infecção, inflamação, manchas hiperpigmentadas (“escuras”) e cicatrizes;
• Utilização de protecção solar;
• Limpeza de pele, quando bem indicada pelo dermatologista e bem executada por especialista treinado, pode ser um óptimo complemento do tratamento de algumas formas de acne;
• Higiene adequada da pele com um sabonete ou produto de limpeza indicado especialmente para pele com tendência acneica ou oleosa. Sem limpeza excessiva;
• Evitar cosméticos que aumentem a oleosidade.
O IDEAL É A ACNE SER TRATADA O MAIS PRECOCEMENTE POSSÍVEL. ESTÁ ULTRAPASSADA A IDEIA DE QUE NÃO SE DEVE TRATÁ-LA POR SER CONSIDERADA “PRÓPRIA DA IDADE”, “DE DESAPARECIMENTO ESPONTÂNEO COM O TEMPO” OU “DE NÃO SER DOENÇA”. O SEU CONTROLO É RECOMENDÁVEL NÃO SÓ POR RAZÕES ESTÉTICAS, COMO TAMBÉM PARA PRESERVAR A SAÚDE DA PELE E A SAÚDE PSÍQUICA, ALÉM DE PREVENIR CICATRIZES (MARCAS DA ACNE) TÃO DIFÍCEIS DE CORRIGIR NA IDADE ADULTA
Maiza Baptista et al., Impacto da acne na qualidade de vida dos pacientes observados nas consultas externas de Dermatologia do Hospital Américo Boavida- Luanda, Angola, 2018 Sociedade Brasileira de Dermatologia – Acne: Cuidados com a pele, como prevenir e tratamentos SBD – https://sbd.org.br/doenças/acne/ Manual de saúde para profissionais - MSD https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional
15 SAÚDE
DOENÇAS RARAS, DOENTES INVISÍVEIS
O ÚLTIMO DIA DE FEVEREIRO FOI ESCOLHIDO PARA CELEBRAR O DIA MUNDIAL DAS DOENÇAS RARAS, COM O OBJECTIVO DE SENSIBILIZAR A POPULAÇÃO EM GERAL E A COMUNIDADE MÉDICA
SOBRE ESTAS CONDIÇÕES, QUE REPRESENTAM UM ENORME DESAFIO EM TERMOS DE CUSTOS ECONÓMICOS E QUALIDADE DE VIDA PARA ESTES DOENTES, AS SUAS FAMÍLIAS E COMUNIDADES.
Dra. Maria Elena Lopez de Isea
Especialista em Pediatria, Neurologia Pediátrica, Neurodesenvolvimento e suas perturbações.
Neurologista Pediátrica no Luanda Medical Center
PERSPECTIVA
Adefinição de doença rara baseia-se na prevalência da doença, por isso, é aceite considerar uma prevalência inferior a 65 casos por cada 100 mil habitantes, ou 0,065% das pessoas.
Actualmente, existem aproximadamente sete mil doenças raras descritas, sendo cerca de 80% de origem genética. Embora cerca de 75% manifeste sintomas na infância, outras podem manifestar-se na adolescência tardia ou na idade adulta.
Estas doenças são, muitas vezes, graves, incapacitantes, acarretam risco de vida e apenas 5% delas tem tratamento medicamentoso disponível. Um dos principais problemas, na maioria dos casos, é o diagnóstico tardio, devido às dificuldades de acesso a informações sobre as diversas doenças na literatura mundial, bem como a apresentação heterogénea e variável nos doentes afectados. Isto acaba por prejudicar o doente, porque, muitas vezes, pode ocorrer a progressão da doença e, nos casos em que existe tratamento, atrasa a possibilidade de obter a terapêutica adequada.
Prioridade de saúde pública
Apesar da baixa prevalência individual, ao somarmos todos os casos, podemos estimar que, em 2024, cerca de 520 milhões de pessoas em todo o planeta vivem com o fardo de sofrimento dessas condições de difícil diagnóstico e abordagem, afectadas por uma significativa falta de conhecimento e escassez de especialistas, bem como pela sua natureza crónica, degenerativa e com risco de vida.
Face a isto, as doenças raras são consideradas uma prioridade de saúde pública, em muitas regiões do mundo, nos últimos anos. A sua raridade deve-se ao facto da maioria destas doenças derivar de distúrbios genéticos. Os seres humanos possuem mais de 30 mil genes, cada um composto por milhares de moléculas de DNA. Por mero azar biológico, estas moléculas podem sofrer mutações ou alterações inesperadas, fazendo com que o gene onde estão localizadas não funcione adequadamente. Dado o elevado número de genes no corpo humano, e a possibilidade de mutações ocorrerem em qualquer um deles, explica-se a existência de muitos tipos de doenças raras e a baixa incidência das mesmas. Os sintomas dessas condições podem ser vários e, muitas vezes, conduzem ao diagnóstico de uma
APESAR DA BAIXA PREVALÊNCIA INDIVIDUAL, AO SOMARMOS TODOS OS CASOS, PODEMOS ESTIMAR QUE, EM 2024, CERCA DE 520 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O PLANETA VIVEM COM O FARDO DE SOFRIMENTO DESSAS CONDIÇÕES DE DIFÍCIL DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM, AFECTADAS POR UMA SIGNIFICATIVA FALTA DE CONHECIMENTO E ESCASSEZ DE ESPECIALISTAS, BEM COMO PELA SUA NATUREZA CRÓNICA, DEGENERATIVA E COM RISCO DE VIDA
doença mais comum. Esta expressão clínica pode variar desde malformações congénitas graves ou não, alterações no crescimento da circunferência craniana, presença de distúrbios motores e de aprendizagem ou atrasos no desenvolvimento, convulsões, patologia muscular, défice visual ou auditivo, disfunção neurológica progressiva ou degenerativa, patologia cardíaca ou lesão vascular cerebral, alterações do funcionamento hepático, alterações oculares e, algumas vezes, lesões cutâneas. Nem todos os doentes apresentam todos os sintomas e a intensidade não é necessariamente grave ao início da doença, mas pode levar a uma situação de descompensação em situações específicas de stresse, como, por exemplo, numa infecção em que um doente recebe um medicamento ou algum componente alimentar que, noutros doentes, pode ser bem tolerado, ou quando está sujeito a condições de stresse metabólico. A suspeita de uma doença rara depende dos sintomas que a pessoa apresenta. Se os sintomas forem pouco comuns, graves ou não respondam ao tratamento, podem ser devido a uma destas condições.
Exemplos
Algumas doenças raras que afectam o neurodesenvolvimento são:
• Síndrome de Rett, que afecta principalmente meninas e caracteriza-se por um desenvolvimento normal até aos 6-18 meses de idade, seguido de uma desaceleração do crescimento craniano, acompanhada de perda de habilidades motoras e sociais, levando os doentes a serem classificados clinicamente como autistas. Esta doença é causada pela mutação no gene MECP2 do cromossoma X;
• Síndrome de Angelman, que afecta o desenvolvimento, a fala, o equilíbrio, a inteligência e o comportamento, acompanhado de características comuns, como o riso frequente, a personalidade alegre, convulsões, microcefalia, a língua para fora e movimentos descoordenados, causada por um problema no gene UBE3A, herdado da mãe;
• Doença de Lesch-Nyhan, um defeito congénito do metabolismo ligado ao cromossoma X, causado por uma deficiência da enzima de salvamento das purinas, caracterizada por hiperuricemia e por um comportamento automutilante, causado pela deficiência da hipoxantina-guanina-fosforribosiltransferase (HPRT) herdada do pai;
• Doença de Fabry, uma doença rara do armazenamento lisossómico, de herança ligada ao cromossoma X, causada por uma deficiência da enzima alfagalactosidase A, que resulta na acumulação de globotriaosilceramida (Gb3) nos tecidos do corpo, levando a manifestações como dor neuropática, insuficiência renal, doença cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC).
Estas são apenas algumas das muitas doenças raras que existem e todas elas partilham da mesma dificuldade de diagnóstico e falta de tratamento específico, o que faz com que seja urgente e essencial a sensibilização e o apoio a estes doentes e às suas famílias.
17 SAÚDE
ARTIGO CIENTÍFICO CONFIRMA QUE 300 MILHÕES DE PESSOAS VIVEM COM UMA DOENÇA RARA EM TODO
O MUNDO
RARAS, MAS NÃO TANTO
sistemas de saúde e assistência social. A existência de um sistema específico de codificação nos sistemas nacionais contribuirá para a obtenção de números definitivos e, mais importante ainda, produzir os dados necessários para adaptar os sistemas de saúde”
Pouco raras, do ponto de vista colectivo
UM ARTIGO CIENTÍFICO CONFIRMA O NÚMERO DE PESSOAS QUE VIVEM COM UMA DOENÇA RARA É ESTIMADO EM 300 MILHÕES EM TODO O MUNDO. O ARTIGO DE ACESSO LIVRE, ESCRITO PELA ORPHANET (COORDENADA PELO INSERM, INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE E INVESTIGAÇÃO MÉDICA FRANCÊS), EURORDISRARE DISEASES EUROPE E ORPHANET IRELAND (COM SEDE NO NATIONAL RARE DISEASES OFFICE, MATER MISERICORDIAE UNIVERSITY HOSPITAL, DUBLIN, IRLANDA), FOI PUBLICADO NO EUROPEAN JOURNAL OF HUMAN GENETICS
De acordo com a pesquisa, as doenças raras afectam 3,5% a 5,9% da população mundial, o equivalente a uma estimativa conservadora de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. A análise mostra que existem mais de seis mil doenças raras clinicamente definidas, sendo 72% de origem genética. Dessas, 70% começa na infância. Esta foi a primeira vez que foi realizada uma análise sólida da prevalência global de doenças raras, utilizando os dados epidemiológicos publicamente disponíveis na base de dados Orphanet. Os números apresentados no artigo são derivados de dados de 67,6% das doenças raras prevalentes. Uma vez que esta análise não tem em conta cancros raros, nem doenças raras causadas por doenças infecciosas bacterianas ou virais e intoxicações, o número de pessoas afectadas por doenças raras é provavelmente bem mais elevado. Ressalve-se também que o artigo foi publicado em 2019. A Dra. Ana Rath, co-autora do artigo e directora de pesquisa no INSERM em França, salienta que, “mesmo que estes sejam os melhores números que podemos obter hoje, provavelmente subestimam o número de pacientes com doenças raras ainda não visíveis nos
Yann Le Cam, cientista e investigador francês especializado em biologia molecular e genética, co-autor do artigo e um dos fundadores e CEO da EURORDIS, nota que, colectivamente, as doenças raras não são raras. “Os resultados publicados neste artigo apoiam anos de esforços da comunidade de doenças raras para as defender como uma prioridade de saúde pública que afecta milhões de pessoas em todo o mundo e não apenas algumas. Ninguém mais pode negar a importância da população global de doenças raras, uma massa crítica de pessoas que têm sido órfãs de saúde até agora, com necessidades agudas de melhores cuidados de saúde, acesso a tratamentos inovadores e um sistema social que apoie o seu direito de alcançar o seu maior potencial de bem-estar”
Os resultados apresentados no artigo, com base na análise de 67,6% das doenças prevalentes, revelam que 149 das doenças raras analisadas afectam cerca de 80% desta população. Estas doenças são as mais prevalentes entre as doenças raras, cada uma afectando 100 a 500 pessoas por um milhão de habitantes. As restantes 241 doenças raras analisadas afectam entre 10 e 100 pessoas por um milhão de habitantes. Colectivamente, estas quase 400 doenças afectam, pelo menos, 98% da população de doenças raras, com uma prevalência de 10 a 500 pessoas por um milhão de habitantes. As restantes doenças analisadas são as menos prevalentes, uma vez que afectam menos de 10 pessoas por um milhão de pessoas.
Com base nestes dados, no futuro, será desenvolvida análise para abranger doenças raras causadas por agentes infecciosos, factores ambientais, bactérias ou vírus, intoxicações e cancros raros e aprofundar a investigação de cerca de 24 agrupamentos de doenças raras, com o objectivo de, em última análise, ajudar a informar o planeamento dos cuidados de saúde e sociais e simplificar a investigação sobre doenças raras. É expectável que a futura investigação dos registos e a implementação da codificação das doenças raras nos sistemas de saúde aperfeiçoem ainda mais as estimativas.
18 SAÚDE
NOTÍCIA NOTÍCIA
MAIOR FLEXIBILIDADE E LIBERDADE DE MOVIMENTOS A SUA A JUDA NA S C AMINHADA S DO DIA A DIA advancisp Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável A vitamina C contribui para a normal formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das car tilagens O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos Uma dose diária de Advancis® Jointrix Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico Antes de utilizar leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos em grávidas ou a amamentar Não deve DISPOSI T I VO MÉDI CO MF22/AD V JT/3/103/22 BE M- E S TA R DOS OSSOS E DA S A R T IC U L AÇÕE S
DOENÇAS RARAS AFECTAM 300 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO
JÁ OUVIU FALAR DA SÍNDROME DE AARSKOG? E DE ABETALIPOPROTEINEMIA? SÃO DOENÇAS QUE OCORREM EM MENOS DE 0,05% DA POPULAÇÃO MUNDIAL. AS ESTATÍSTICAS MUNDIAIS SOBRE DOENÇAS RARAS VARIAM, DEPENDENDO DA FONTE E DA DEFINIÇÃO DE “RARO”. ALGUMAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS, COMO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) E A ORGANIZAÇÃO EUROPEIA PARA DOENÇAS RARAS (EURORDIS), COMPILAM DADOS SOBRE ESTAS PATOLOGIAS EM TODO O MUNDO. DE ACORDO COM A EURORDIS, UMA DOENÇA É CONSIDERADA RARA QUANDO AFECTA MENOS DE UMA EM CADA DUAS MIL PESSOAS. NO ENTANTO, ALGUMAS DOENÇAS RARAS AFECTAM APENAS ALGUMAS DEZENAS DE PESSOAS EM TODO O MUNDO. ESTIMA-SE QUE EXISTAM ENTRE SEIS MIL E OITO MIL DOENÇAS RARAS DIFERENTES, AFECTANDO ATÉ 10% DA POPULAÇÃO MUNDIAL.
ENTREVISTA ANÁLISE
AS DOENÇAS RARAS TÊM DEFINIÇÕES DIFERENTES BASEADAS EM QUADROS POLÍTICOS E LEGISLATIVOS. NA UNIÃO EUROPEIA, A DEFINIÇÃO DE DOENÇA RARA ABARCA AS CONDIÇÕES QUE NÃO AFECTAM MAIS
DE 50 EM CADA 100 MIL PESSOAS. NOS ESTADOS UNIDOS, AS DOENÇAS RARAS SÃO DEFINIDAS COMO DISTÚRBIOS QUE AFECTAM MENOS DE 200 MIL PESSOAS NO PAÍS, OU CERCA DE 86 EM CADA 100 MIL PESSOAS. OUTRAS DEFINIÇÕES VARIAM EM PREVALÊNCIA DE CINCO A 76 EM CADA 100 MIL PESSOAS
As doenças raras têm definições diferentes baseadas em quadros políticos e legislativos. Na União Europeia, a definição de doença rara abarca as condições que não afectam mais de 50 em cada 100 mil pessoas. Nos Estados Unidos, as doenças raras são definidas como distúrbios que afectam menos de 200 mil pessoas no país, ou cerca de 86 em cada 100 mil pessoas. Outras definições variam em prevalência de cinco a 76 em cada 100 mil pessoas.
A OMS estima que mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com uma doença rara. Embora cada doença individualmente possa ser rara, o número total de pessoas afectadas por estas patologias é significativo. Aliás, de acordo com a Global Genes, uma das maiores comunidades de pacientes a nível mundial, as doenças raras impactam mais pessoas do que o cancro e a SIDA combinados. É, contudo, importante notar que, devido à natureza rara e muitas vezes subdiagnosticada dessas doenças, as estatísticas podem variar e não reflectir completamente a extensão do impacto das doenças raras em todo o mundo. Nota a EURORDIS que apenas 1.200 de todas as doenças raras têm mais de cinco casos documentados publicados na literatura científica.
21 SAÚDE
Desafios universais
Independentemente da definição de “raro”, existem desafios universais que afectam esta população de pacientes. De acordo com a RareDiseaseDay.org, a falta de conhecimento científico e de informação de qualidade sobre a doença é um deles e resulta muitas vezes no atraso do diagnóstico. Devido à ampla diversidade de doenças e aos sintomas relativamente comuns que podem ocultar doenças raras subjacentes, é comum um diagnóstico inicial errado. Além disso, os sintomas diferem não apenas de doença para doença, mas também de paciente para paciente que sofre da mesma doença. Como tal, em média, os pacientes demoram cinco anos para receber um diagnóstico, reforçam os dados da EURORDIS.
Já a necessidade de cuidados de saúde adequados e de qualidade gera desigualdades e dificuldades no acesso ao tratamento. Muitas vezes, resulta em pesados encargos sociais e financeiros para os pacientes, até porque sete em cada 10 pessoas que vivem com doenças raras e cuidadores familiares reduzem ou interrompem a actividade profissional devido à sua doença rara ou dos seus familiares. A qualidade de vida do paciente é afectada pela falta ou perda de autonomia, devido aos aspectos crónicos, progressivos, degenerativos e frequentemente fatais da doença, e o facto de muitas vezes não existirem curas eficazes aumenta o elevado nível de sofrimento suportado pelos pacientes e suas famílias. Só para se ter uma noção, a proporção de pessoas com doenças raras que relatam sentirem-se deprimidas é três vezes maior do que a da população em geral. Dois terços dos cuidadores familiares gastam mais de duas horas por dia em tarefas relacionadas com a doença.
Consciencialização
O Dia das Doenças Raras sensibiliza para os 300 milhões de pessoas que vivem com doenças raras em todo o mundo e suas famílias e cuidadores. O objectivo é defender as doenças raras como uma prioridade dos direitos humanos e da luta em prol de uma sociedade mais inclusiva. Em última instância, trata-se de alcançar o acesso equitativo ao diagnóstico, tratamento, cuidados de saúde e sociais e oportunidades sociais para as pessoas afectadas por uma doença rara, na senda dos esforços conjuntos para se atingir a cobertura universal de saúde (UHC), que faz parte dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Com início em 2008, quando teve lugar em apenas 18 países, o Dia das Doenças Raras tem-se repetido todos os anos desde então, no último dia de Fevereiro.
22 SAÚDE
23 SAÚDE RIGOR E CON F O RT O N A MED I Ç Ã O D A G LICEM I A Sistema de auto-codificação Amostra de 0,3 µg/L Leitura em 3 segundos Memória para 365 testes D IA GN O S TI C A R C O NHE C E R C O NT R O L A R V IV E R C O M D IA B E TE S Para mais informações contacte: geral@australpharma.net ou visite www.australpharma.net MKT01128 www.elementdiabetes.com
DOENÇAS RARAS QUE AFECTAM A VISÃO
O TEMA ESCOLHIDO PARA ESTA EDIÇÃO LEVOU-ME A ESCREVER SOBRE DOENÇAS OCULARES RARAS E QUE PODEM INFERFERIR GRAVEMENTE NA SAÚDE OCULAR E, CONSEQUENTEMENTE, NO NOSSO QUOTIDIANO.
Dr. Djalme Fonseca
Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
24 SAÚDE
ENTREVISTA RUBRICA OCULAR
Apesar de haver um número considerável de doenças oculares raras, decidi abordar as que o NEI (National Eye Institute) considera mais relevantes.
Distrofia Cristalina de Bietti
A distrofia cristalina de Bietti (BCD) é uma doença genética rara. Na BCD, cristais feitos de ácidos gordos acumulam-se na córnea (a camada externa transparente na parte frontal do olho) e na retina (a camada de tecido sensível à luz na parte posterior do olho).
Pessoas com BCD podem notar sintomas, pela primeira vez, na adolescência ou na casa dos 20 anos, como dificuldade para enxergar com pouca luz ou com os cantos dos olhos. Com o tempo, isso leva à perda de visão.
Actualmente, não existe tratamento comprovado para a BCD, mas a reabilitação visual pode ajudar a aproveitar ao máximo a visão.
Doença de Behçet
A doença de Behçet é uma doença rara que danifica os vasos sanguíneos. Pode causar problemas em muitas partes do corpo, incluindo os olhos.
Esta condição é crónica (de longo prazo), mas pode haver períodos em que os sintomas desaparecem, chamados de remissão.
Não há cura para a doença de Behçet, mas existem tratamentos que podem ajudar a controlá-la.
Coloboma
Coloboma é uma doença ocular com a qual as pessoas nascem. Acontece quando falta parte do tecido que compõe o olho. Pode afectar um ou ambos os olhos.
Se uma criança tiver coloboma, os pais devem conversar com o seu médico sobre o melhor plano de cuidados. Existem tratamentos que podem ajudar a aproveitar
ao máximo a visão.
Diferentes tipos de coloboma podem afectar diferentes partes do olho, incluindo:
• Íris (parte colorida do olho);
• Úvea (camada do olho que contém a íris);
• Cristalino (parte interna transparente do olho que o ajuda a focar);
• Retina;
• Mácula (parte da retina necessária para a visão central);
• Nervo óptico (nervo que conecta o olho ao cérebro).
O coloboma também pode afetar as pálpebras.
Doença ocular de Graves
A doença ocular de Graves ocorre quando o inchaço ao redor dos olhos os torna salientes. É causada pela doença de Graves e também é chamada de GED, oftalmopatia de Graves ou doença ocular da tireoide (TED).
A doença ocular de Graves costuma ser leve e pode desaparecer por conta própria. Geralmente, não causa perda de visão, mas pode causar visão dupla e outros sintomas. Os tratamentos podem ajudar com os mesmos.
Hipertensão intracraniana idiopática
A hipertensão intracraniana idiopática (HII) ocorre quando a alta pressão ao redor do cérebro causa sintomas como alterações na visão e dores de cabeça. “Idiopática” significa que a causa não é conhecida, “intracraniana” significa no crânio e “hipertensão” significa pressão alta.
A IIH acontece quando muito líquido cefalorraquidiano (LCR) – o líquido que envolve o cérebro e a medula espinhal – se acumula no crânio. Isso coloca pressão extra no cérebro e no nervo na parte posterior do olho, o nervo óptico.
Se se notar alterações na visão, deve-se conversar com o oftalmologista. O médico pode descobrir se os sintomas estão relacionados à HII ou a outra condição. Se for HII, existem tratamentos que podem ajudar com os sintomas.
Retinite pigmentosa
A retinite pigmentosa (RP) é um grupo de doenças oculares raras que afectam a retina.
A RP faz com que as células da retina se decomponham lentamente, ao longo do tempo, causando perda de visão.
A RP é uma doença genética, com a qual as pessoas nascem. Os sintomas geralmente começam na infância e a maioria das pessoas acaba por perder a maior parte da visão. Não há cura para RP, mas os programas de auxílio à visão e de reabilitação podem ajudar as pessoas com RP a aproveitar ao máximo a sua visão.
25 SAÚDE
Retinoblastoma
O retinoblastoma é um cancro ocular raro que se forma na retina. O retinoblastoma é mais comum em crianças com menos de cinco anos, mas em casos raros pode desenvolver-se em crianças mais velhas e em adultos. Pode afectar um olho ou ambos.
O retinoblastoma pode causar cegueira e também ser fatal, mas o diagnóstico e o tratamento precoces podem ajudar a prevenir a perda de visão e impedir a propagação do cancro. É por isso que é importante ligar imediatamente para o médico se se notar sinais de retinoblastoma em crianças.
Doença de Stargardt
A doença de Stargardt é uma doença ocular genética rara, que ocorre quando material gorduroso se acumula na mácula, a pequena parte da retina necessária para uma visão central nítida.
A perda de visão geralmente começa na infância, mas algumas pessoas com doença de Stargardt não começam a perder a visão até se tornarem adultas. Não há tratamento para a doença de Stargardt, mas a reabilitação da visão pode ajudar a aproveitar ao máximo a visão restante.
Síndrome de Usher
A síndrome de Usher é uma doença genética rara que afecta a audição e a visão. Causa surdez ou perda auditiva e a retinite pigmentosa. Às vezes, também causa problemas de equilíbrio.
Pessoas que têm síndrome de Usher nascem com a mesma, mas geralmente são diagnosticadas quando crianças ou adolescentes. Não há cura para a síndrome de Usher, mas os tratamentos podem ajudar as pessoas a controlar os seus problemas de visão, audição e equilíbrio, por isso, é importante conversar imediatamente com o médico quando se notar sintomas. Existem três tipos de síndrome de Usher e cada tipo causa uma combinação diferente de problemas de saúde.
Pessoas com tipo 1 têm:
• Perda auditiva profunda (só se consegue ouvir sons muito altos) ou surdez ao nascer;
• Perda de visão noturna aos 10 anos, com perda grave de visão na meia-idade;
• Problemas de equilíbrio, incluindo dificuldade para sentar e andar.
Pessoas com tipo 2 têm:
• Perda auditiva moderada a grave na primeira infância;
• Perda de visão noturna na adolescência, com perda grave de visão na meia-idade;
• Equilíbrio normal.
Pessoas com tipo 3 têm:
• Audição normal ao nascimento, com perda auditiva começando na infância;
• Perda de visão noturna na adolescência, com perda grave de visão na meia-idade;
• Equilíbrio normal Os tipos 1 e 2 são os mais comuns.
Anoftalmia e microftalmia
Anoftalmia e microftalmia são doenças oculares com as quais as pessoas nascem. Anoftalmia ocorre quando um bebé nasce sem um ou ambos os olhos. Microftalmia ocorre quando um ou ambos os olhos do bebé são pequenos. Ambas as condições são raras e podem causar perda de visão ou cegueira. Não existe tratamento que possa criar um novo olho ou trazer de volta a visão para pessoas que nascem com anoftalmia ou microftalmia. Mas o tratamento precoce pode ajudar os bebés e as crianças com estas condições a crescerem e a desenvolver-se.
Apesar de estas doenças serem relativamente raras, demonstram a necessidade de efectuarmos um diagnóstico precoce para termos sucesso no tratamento. Assim sendo, a consulta de saúde ocular de rotina é extremamente importante e deve ser feita, pelo menos, uma vez por ano.
26 SAÚDE
LESÕES BUCAIS PRESENTES NA ANEMIA FALCIFORME
A ANEMIA FALCIFORME DESTACA-SE COMO UMA DAS DOENÇAS GENÉTICAS DE MAIOR IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM ANGOLA E NO MUNDO. É UMA DOENÇA CRÓNICA INCURÁVEL, EMBORA TRATÁVEL, E QUE GERALMENTE PROVOCA ALTO GRAU DE SOFRIMENTO AOS SEUS PORTADORES. A FALCIZAÇÃO (FORMA DE FOICE) DAS HEMÁCIAS POR ELA DETERMINADA, ALÉM DE CAUSAR ANEMIA HEMOLÍTICA CRÓNICA, É RESPONSÁVEL PELA OBSTRUÇÃO DE VASOS SANGUÍNEOS, COM CRISES DE DOR, COM ENFARTAMENTO E NECROSE EM DIVERSOS ÓRGÃOS, COMO OSSOS E ARTICULAÇÕES, BAÇO, PULMÕES E RINS, QUE MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL DO PONTO DE VISTA MÉDICO E ODONTOLÓGICO. O CIRURGIÃO DENTISTA DESEMPENHA UM PAPEL IMPORTANTE NA PREVENÇÃO DAS COMPLICAÇÕES GERAIS, NO TRATAMENTO DAS LESÕES BUCAIS E NA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE.
Dra. Vania Lopez Rodríguez
Doutorada em Ciências Estomatológicas e Especialista em Periodontologia, com cerca de 27 anos de experiência.
Adenominação “anemia falciforme” é reservada para a forma da doença que ocorre em indivíduos homozigotos (HbSS). O gene da hemoglobina S (HbS) pode combinar-se com outras alterações hereditárias das hemoglobinas, como hemoglobinas C, D e beta e alfatalassemia, gerando combinações que se apresentam com os
mesmos sintomas da combinação SS. O conjunto de combinações SS, SC, SD, SE e beta-talassemia denomina-se de Doença Falciforme. Entre as doenças falciformes, a anemia falciforme é a que apresenta maior gravidade clínica e hematológica, além de ser a mais prevalente.
A doença originou-se em África e foi levada para a América pela imigração forçada dos escravos. Hoje, apresenta-se amplamente distribuída em todos os continentes, atingindo alta prevalência entre a população negra e seus descendentes. Além de África e da América, a mesma é encontrada em toda a Europa e em grandes regiões da Ásia.
Manifestações bucais
As manifestações bucais da doença não são patognómicas e podem estar presentes em indivíduos com outros distúrbios sistémicos. Os sinais mais comumente descritos na literatura são palidez da mucosa, atraso na erupção dos dentes, transtornos na mineralização do esmalte e da dentina, calcificações pulpares e alterações das células da superfície da língua.
A incapacidade de transportar oxigénio aos tecidos bucais e a dificuldade do fluxo sanguíneo, porque adere à parede dos vasos, condiciona a aparição de lesões bucais como:
• Úlceras na mucosa com uma evolução complicada: a extensão das úlceras pode ser até três milímetros, chamadas úlceras grandes. Podem ter episódios recorrentes, com muita dor e impossibilidade para comer, o que compromete a qualidade de vida do paciente;
• Glossite: a língua fica despapilada, muito sensível, avermelhada, com muita dor, o que complica a nutrição do paciente;
• Sangramento gengival espontâneo sem ter o paciente alguma doença periodontal. Se tiver, complica a evolução e o tratamento por causa da cicatrização, que fica muito comprometida devido à escassez de oxigénio nos tecidos.
Se o cirurgião dentista realizar uma destartarização ou uma cirurgia qualquer, tem de ter presente a concentração da hemoglobina e hematócrito, para evitar complicações pós-cirúrgicas, como sangramento pós-operatório e infecções de difícil tratamento.
28 SAÚDE PERSPECTIVA
Além do exposto, os portadores de anemia falciforme são mais susceptíveis a infecções, a doença periodontal e ao desenvolvimento de cárie dentária, devido a vários factores específicos aos quais estão expostos, como:
• Alta prevalência de opacidades dentárias (alterações de formação e de calcificação do esmalte e da dentina);
• Uso frequente e contínuo de medicamentos contendo sacarose;
• Alta frequência de intercorrências e de internações acarretadas pela ausência de higiene oral adequada.
As medidas preventivas são importantes para minimizar as consequências da anemia crónica, das crises de falcização e das infecções dentárias, as quais podem precipitar estas crises.
Estes transtornos na mineralização resultam em opacidades, especialmente em molares, com prevalência de 67,5%. Em relação à cárie dentária, Laurence et al. verificaram que os portadores da doença falciforme tinham mais lesões cariosas que os indivíduos sadios. Segundo os autores, além da doença, a baixa renda também contribuiu para um risco aumentado de cárie dentária.
O sintoma bucal mais relatado é a dor mandibular, que, na maioria dos casos, é precedida por crises dolorosas generalizadas, podendo ser acompanhada de neuropatia do
OS PACIENTES FALCIFORMES DEVEM SER MANTIDOS EM PERMANENTE CONTROLO E MANUTENÇÃO, SENDO AS MEDIDAS PREVENTIVAS IMPORTANTES PARA MINIMIZAR AS CONSEQUÊNCIAS DA DOENÇA, POIS AS INFECÇÕES DENTÁRIAS PODEM PRECIPITAR AS CRISES. DIANTE DISSO, MANTÊ-LOS LIVRES DE PROBLEMAS QUE AFECTEM A SAÚDE BUCAL É IMPORTANTE POR TAMBÉM
CONTRIBUIR PARA A SUA SAÚDE GERAL
nervo mentoniano e parestesia do lábio inferior. Autores como Sanger & Bystrom descrevem as alterações radiográficas nos maxilares, que podem apresentar-se isoladas ou combinadas, indicando anemia falciforme, nomeadamente, o número de trabéculas ósseas pode estar reduzido, as trabéculas ósseas restantes parecem grosseiras e nitidamente definidas, ocasionalmente, trabéculas ósseas horizontais proeminentes entre os dentes conferem o aspecto de uma escada.
Estas alterações ósseas evidenciadas nos maxilares são mais notáveis em crianças. Nelas também pode ocorrer atraso na erupção dentária ou um grau de periodontite incomum, além da possibilidade do desenvolvimento precoce de deformidades cranianas, tais como a turricefalia.
É recomendável, ainda, que as acções de educação em saúde bucal sejam direccionadas aos portadores da anemia falciforme como parte de programas integrais de saúde da criança, do adolescente e do adulto, pois o resultado dessas estratégias voltadas a estes grupos possibilita o desenvolvimento e o crescimento com menos morbidades, episódios de dor, infecções e crises falcémicas, uma vez que as condições de saúde bucal podem causar grande impacto na saúde geral e na qualidade de vida dos portadores da doença.
Os pacientes falciformes devem ser mantidos em permanente controlo e manutenção, sendo as medidas preventivas importantes para minimizar as consequências da doença, pois as infecções dentárias podem precipitar as crises. Diante disso, mantê-los livres de problemas que afectem a saúde bucal é importante por também contribuir para a sua saúde geral.
29 SAÚDE
PAPEL DO FARMACÊUTICO HOSPITALAR NO ACOMPANHAMENTO DE DOENTES CRÓNICOS
OS PACIENTES CRÓNICOS FAZEM GERALMENTE USO DE MÚLTIPLOS FÁRMACOS, POR MUITO TEMPO, E ESSE FACTO CONSTITUI REFERÊNCIA
NA REALIZAÇÃO DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE
DOS MESMOS E SELECÇÃO DA MELHOR ABORDAGEM TERAPÊUTICA
PARA O COMBATE OU CONTROLO DAS ENFERMIDADES PELAS EQUIPAS CLÍNICAS, EM QUE SE INCLUI O FARMACÊUTICO HOSPITALAR.
30 SAÚDE
RUBRICA FARMACÊUTICA
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as patologias crónicas são doenças de lento desenvolvimento, de longa duração e requerem, geralmente, tratamentos e terapias complexas, por muito tempo.
As doenças crónicas podem ser transmissíveis ou não transmissíveis. As transmissíveis estão associadas às infecções e são causadas por organismos invasores, como são os casos do HIV e das doenças respiratórias crónicas. As não transmissíveis referem-se aquelas relacionadas à idade e estilo de vida das pessoas – doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes mellitus, entre outras,
De acordo com as boas práticas em farmácia, a farmácia hospitalar compreende todas as actividades inerentes à selecção, preparação, armazenamento, manipulação e distribuição de medicamentos e correlatos, assim como o aconselhamento aos utentes e aos outros profissionais de saúde sobre o seu uso seguro, eficaz e eficiente. As referidas actividades enquadram-se nos diferentes domínios de especialidade da farmácia hospitalar:
• Farmacovigilância - recolha e registo adequado de qualquer acção adversa grave ou não esperada a um medicamento, sendo que as notificações devem ser reportadas às autoridades;
• Farmacocinética - assegura a correcta administração de fármacos resultante da medição de níveis séricos dos mesmos, permitindo um controlo terapêutico individualizado;
• Farmácia clínica - intervenção farmacêutica que visa estabelecer a abordagem mais eficaz de administração dos medicamentos, baseada na condição do paciente. Para o efeito, recomendase que o farmacêutico hospitalar integre a equipa clínica, assegurando o respeito pelos “7 Certos”: doente certo, medicamento certo, dose certa, via de administração certa, tempo de administração certo, com a informação certa e a documentação certa.
O farmacêutico hospitalar deve, igualmente, integrar as diferentes comissões técnicas existentes nas instituições em que esteja vinculado, como, por exemplo, a comissão de padronização dos medicamentos e a comissão de controlo de infecções hospitalares. Note-se, entretanto, que a actividade de maior visibilidade, e que mais vezes estabelece contactos com os serviços clínicos, é a da distribuição (dispensação) de medicamentos e correlatos. Neste quesito, recomenda-se a adopção de um sistema de dispensação por dose unitária para permitir:
Dra. Austelina Muriel Inglês
Licenciada em Ciências Farmacêuticas (UPRA). Farmacêutica hospitalar
• Aumentar a segurança no circuito do medicamento;
• Conhecer melhor o perfil farmacoterapêutico dos doentes;
• Diminuir os riscos de interacções;
• Racionalizar melhor a terapêutica;
• Que os enfermeiros dediquem mais tempo aos cuidados dos doentes e menos nos aspectos relacionados à gestão dos medicamentos.
No que respeita ao contacto directo com os doentes crónicos, cabe ao farmacêutico hospitalar estabelecer uma comunicação empática e assertiva com os mesmos e com os seus familiares, para que compreendam:
• O papel que desempenha na equipa multiprofissional que o acompanha, o objectivo terapêutico do seu tratamento, a relação risco-benefício e como os mesmos podem influenciar na qualidade da sua vida;
• A importância da continuidade da terapêutica no pós alta hospitalar e a adopção de rotinas que melhorem a qualidade de vida, assegurando o controlo da doença;
• Alternativas para o melhor controlo da medicação, como uso aparelhos electrónicos ou de dispositivos para organização dos medicamentos, sugestões de melhores horários para o cumprimento da medicação.
Concluindo, o farmacêutico hospitalar tem um papel essencial no acompanhamento de doentes crónicos, proporcionando cuidados farmacêuticos individualizados e colaborando com a equipa clínica para optimizar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos mesmos.
31 SAÚDE
KASSAI: UNINDO TECNOLOGIA E SAÚDE COM O CONTRIBUTO VITAL DO SECTOR PRIVADO EM ANGOLA
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
EM 2021, O MINISTÉRIO DA SAÚDE LANÇOU A PLATAFORMA KASSAI, PROJECTADA PARA A EDUCAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM ANGOLA. ESTE PROJECTO FOI VIABILIZADO COM FUNDOS DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID) E DA INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA (PMI) E IMPLEMENTADO PELA PSI ANGOLA EM COLABORAÇÃO COM A APPY PEOPLE. A PLATAFORMA KASSAI, QUE ACTUALMENTE OFERECE 21 CURSOS, ABRANGENDO TÓPICOS COMO MALÁRIA, SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA, SAÚDE MATERNO-INFANTIL, COVID-19, NUTRIÇÃO E SEMIOLOGIA MÉDICA, FOI DESENVOLVIDA POR UMA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR. ESTA EQUIPA INCLUI ESPECIALISTAS DAS ÁREAS DE SAÚDE MENCIONADAS, BEM COMO PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO DE ADULTOS. A PLATAFORMA DESTACA-SE PELA COMBINAÇÃO DE TEORIA, ESTUDOS DE CASO, SIMULAÇÕES E ACTIVIDADES INTERACTIVAS, PROPORCIONANDO UM ENSINO DE ALTA QUALIDADE E REPRESENTANDO UMA FERRAMENTA VALIOSA NA MELHORIA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM ANGOLA.
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REPORTAGEM
PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL / TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO.
Kassai, a inovadora plataforma angolana de educação em saúde, representa um salto significativo na formação contínua dos profissionais de saúde em Angola. Este avanço é fruto de uma colaboração estratégica entre o Ministério da Saúde, a USAID e, mais recentemente, entidades do sector privado, visando elevar a qualidade do serviço de saúde através da capacitação profissional.
Lançada em 2021, a plataforma Kassai tem sido, desde então, uma ferramenta crucial na educação e no aprimoramento dos conhecimentos dos profissionais de saúde angolanos. Com um design intuitivo e conteúdo acessível via computador ou dispositivos móveis, o Kassai oferece flexibilidade e facilidade de acesso, características essenciais no contexto de uma agenda de trabalho exigente dos profissionais de saúde. No primeiro ano de funcionamento, a plataforma Kassai focou intensamente na malária, expandindo-se para outras áreas de saúde a partir do segundo trimestre de 2022.
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O portfólio de cursos do Kassai é dinâmico e espera-se que continue a crescer, mantendo a plataforma alinhada com as necessidades dos profissionais de saúde. O apoio da USAID/PMI ao Programa Nacional de Controlo da Malária concentra-se em seis províncias angolanas: Cuanza Norte, Malanje, Lunda Sul, Lunda Norte, Zaire e Uíge. No entanto, a análise demográfica mostra que o Kassai já alcança um público nacional, com inscrições de todas as 18 províncias de Angola.
O KASSAI NÃO É APENAS
UMA FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM; É UM SÍMBOLO DO COMPROMISSO COM A QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE. AO CAPACITAR OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE COM CONHECIMENTOS E HABILIDADES ACTUALIZADOS, O KASSAI ESTÁ A CONTRIBUIR PARA UM FUTURO MAIS SAUDÁVEL E PRÓSPERO PARA TODOS OS ANGOLANOS
Além disso, a expansão das formações em saúde reprodutiva, liderada pelo Departamento de Cuidados Primários de Saúde e apoiada pela USAID, continuará. Neste campo, o Ministério da Saúde colabora com a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola, integrando especialistas para contribuir não só na formação, mas também na criação e validação de conteúdos. Embora a malária e a saúde reprodutiva sejam as áreas predominantes no Kassai, a plataforma está aberta a incorporar novos temas. Isso é evidenciado pela inclusão de um curso sobre o Caderno de Saúde Materno-Infantil, financiado pela JICA, e cursos na área da COVID-19, financiados pela USAID, demonstrando o compromisso da plataforma em diversificar e ampliar o seu leque de ofertas educacionais na área da saúde.
Curso de Semiologia Médica com a ExxonMobil O curso de Semiologia Médica, uma colaboração com a ExxonMobil, foi oficialmente lançado na província do Cuanza Norte. O evento de 13 de Novembro contou com a presença de representantes do Programa Nacional de Controlo da Malária. Este curso abrange a introdução aos conceitos e definições da semiologia médica, o exame geral do paciente e o estudo detalhado dos sistemas respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, nervoso e locomotor/musculoesquelético. Um foco especial é dado à avaliação médica pediátrica, reflectindo a necessidade de capacitar os profissionais para lidar com situações no âmbito da prática clínica pediátrica.
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Curso de Nutrição com a Unitel & Nutriset Simultaneamente, o curso de Nutrição, uma parceria com a Unitel e a Nutriset, foi oficialmente lançado na Huíla. O Dr. Ketha Francisco, Chefe de Departamento de Cuidados de Saúde Primários/ DNSP, o Dr. Paulo Luvangamo e o Dr. Miguel Ferreira, respectivamente Directores Provinciais de Saúde da Huíla e do Namibe, prestigiaram a cerimónia, ressaltando o compromisso com a melhoria da saúde nutricional. O curso é dividido em três partes principais: fundamentos da nutrição, avaliação e tratamento da desnutrição aguda em crianças e uma análise dos suplementos nutricionais disponíveis em Angola. Este curso é uma resposta directa aos desafios da desnutrição infantil, fornecendo aos profissionais de saúde as ferramentas necessárias para combater esta questão crítica. Vale ressalvar que, com este apoio específico da Unitel ao curso de Nutrição, esta reforça o seu suporte à plataforma à qual já proporciona o acesso gratuito, sem necessidade de saldo de dados por parte dos usuários.
Curso de Gestão de Resíduos Hospitalares: uma parceria entre a USAID, a UPS e a Red Lightning
Em Janeiro de 2024, o Kassai disponibilizou o curso de Gestão de Resíduos Hospitalares, desenvolvido em parceria com a USAID, a UPS e a Red Lightning. Este curso aborda os princípios da gestão de resíduos de saúde, os tipos de resíduos e os métodos adequados de eliminação. Com uma abordagem detalhada sobre o planeamento e as práticas nas unidades sanitárias, o curso é fundamental para garantir uma gestão de resíduos eficaz, que proteja tanto a saúde pública quanto o meio ambiente.
Impacto do Kassai na formação profissional em saúde
Até ao momento, o Kassai tem sido uma força motriz na transformação da educação em saúde em Angola. Mais de 8.900 profissionais de saúde inscreveram-se na plataforma, beneficiando-se de um acesso simplificado a conteúdos educativos relevantes e práticos. O feedback dos participantes dos cursos é um testemunho do impacto positivo do Kassai. Guilhermina Lucala, Supervisora no CMI Pedreira, elogia a plataforma dizendo: “Está a ser fantástico, estou aprendendo muito”. Maria Augusto, Enfermeira no HP Maria Eugénia Neto, destaca: “O aplicativo Kassai veio mudar o método de trabalho nas nossas unidades sanitárias e é muito bem-vindo”. Davista Abílio, Enfermeiro no Hospital Geral do Uíge, partilha: “Tem sido uma óptima experiência com o aplicativo”.
Visão futura
Olhando para o futuro, o Kassai está preparado para expandir ainda mais o seu repertório de cursos, abordando uma variedade ainda maior de temas médicos e de saúde pública. A plataforma está a caminho de se tornar num elemento integral na formação médica em Angola, garantindo que os profissionais de saúde estejam sempre à frente das práticas mais recentes e eficazes. O Kassai não é apenas uma ferramenta de aprendizagem; é um símbolo do compromisso com a qualidade dos cuidados de saúde. Ao capacitar os profissionais de saúde com conhecimentos e habilidades actualizados, o Kassai está a contribuir para um futuro mais saudável e próspero para todos os angolanos.
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DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO CONTROLO DE QUALIDADE E IMPORTÂNCIA DA PRÉ-ANALÍTICA
OS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES
CLÍNICAS SÃO PARTE IMPORTANTE DO SISTEMA DE SAÚDE, TENDO EM CONTA A FUNÇÃO RELEVANTE E ESSENCIAL
NA SOCIEDADE, CONSUBSTANCIADA EM DETECTAR E IDENTIFICAR ENFERMIDADES, POR MEIO DOS SEUS EXAMES.
Dra. Maria Espírito Santo
Mestre em Microbiologia Clínica pela FUML, com 12 anos de experiência como directora do Laboratório Análises
Clínicas do ICOR e consultora clínica laboratorial. Possui mais oito anos como Técnica Superior em Análises
Clínicas, pelas diversas instituições a nível internacional, mais quatro anos de investigação na área de virologia.
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RUBRICA DIAGNÓSTICO
Uma estimativa mundial, feita pela Labs are Vital™, indica que, em média, 70% das decisões médicas é baseado em exames laboratoriais para a decisão do tratamento terapêutico. Por esse motivo, eleva-se a responsabilidade dos laboratórios implementarem um Sistema de Gestão de Qualidade - SGQ -, visando a padronização dos processos, a optimização dos custos, a melhoria nas análises laboratoriais e a satisfação dos clientes.
Um SGQ implementado é fundamental para que os profissionais de saúde adoptem condutas médicas coerentes, para melhorar a condição dos seus pacientes. A importância desta implementação no laboratório de análises clínicas é fundamental para reconhecer e diminuir os erros analíticos, de forma a ser possível avaliar o desempenho do mesmo para a melhoria contínua dos processos analíticos. Ao monitorizar regularmente os parâmetroschave do laboratório, com precisão e exactidão dos métodos utilizados, é possível identificar oportunidades de optimização e implementação de boas práticas de funcionamento do respectivo serviço. Sabe-se que a qualidade
UMA ESTIMATIVA MUNDIAL, FEITA PELA LABS ARE VITAL™, INDICA QUE, EM MÉDIA, 70% DAS DECISÕES MÉDICAS É BASEADO EM EXAMES LABORATORIAIS PARA A DECISÃO DO TRATAMENTO TERAPÊUTICO. POR ESSE MOTIVO, ELEVA-SE A RESPONSABILIDADE DOS LABORATÓRIOS IMPLEMENTAREM UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE - SGQ -, VISANDO A PADRONIZAÇÃO DOS PROCESSOS, A OPTIMIZAÇÃO DOS CUSTOS, A MELHORIA NAS ANÁLISES LABORATORIAIS E A SATISFAÇÃO DOS CLIENTES
é um desafio contínuo que faz parte da humanidade desde o Egipto antigo, porém, com o avanço das tecnologias e da cada vez maior exigência por parte dos próprios clientes, as exigências sobre o aspecto qualidade também aumentaram, exigindo a todos os “stakeholders” a necessidade de acções concretas em prol de garantir a melhoria contínua.
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Um dos grandes desafios é implantar a cultura da qualidade em todos membros da equipa e não só a padronização dos processos. Nesse sentido/contexto, a instituição de saúde deve requerer a implementação de quatro práticas eficazes:
• Existir uma liderança comprometida com o intuito de traçar um planeamento estratégico focado na promoção de uma cultura de qualidade, demonstrando um compromisso firme com a qualidade nas suas ações, estabelecendo metas claras e comunicações. Deve permitir e dinamizar uma cultura de feedback contínuo e trabalhar activamente na resolução de problemas e no apoio às iniciativas de qualidade.
• Envolver toda a equipa na mudança de “mindset”, levando à colaboração activa entre eles. Permitir que os membros da equipa participem activamente na tomada de decisões e na contínua melhoria de processos em prol de se alcançar a excelência. Promover formação e participação em workshops que ajudem a equipa a compreender esta importância da qualidade.
• Padronizar os processos e a respectiva monitorização sempre em sintonia com a necessidade de melhoria contínua: Implementação de Procedimentos Operacionais Padrão (POP), de modo a estabelecer directrizes claras e concretas, assim como processos uniformes, levando a uma redução na variabilidade e nos riscos de erro, garantindo uma prestação de serviços mais segura e eficiente. É necessário estabelecer métricas e indicadores de qualidade para acompanhar o desempenho do laboratório, garantindo uma prestação de serviços mais segura e eficiente.
• Utilização de software especializado em qualidade como factor fundamental. Nesta questão, e concretamente em relação a Moçambique, ainda existe um percurso considerável de evolução e de crescimento a fazer, sendo certo que esta implementação irá facilitar e padronizar o acompanhamento de todo o processo.
Quando se pensa em qualidade dos resultados e nas etapas do laboratório clínico, é fundamental identificar e detectar os possíveis erros que ocorrem desde o pedido até à entrega do boletim de resultados e adoptar medidas correctivas e preventivas como parte do controlo de qualidade nas três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica.
A percentagem maior de erros dentro de um laboratório é encontrada na fase pré-analítica, 46% a 68,2 %, uma vez que esta fase envolve inúmeras actividades não automatizadas, como a colheita, o manuseamento, o transporte e a preparação das amostras. Estes tipos de ocorrências podem originar resultados negativos, com consequências sérias e preocupantes na segurança do utente, além do impacto adicional de quantidade de trabalho e de custos para o laboratório. Sabe-se que esses erros podem ser minimizados mediante o compromisso de todos os profissionais envolvidos no processo respectivo e se estes monitorizarem e controlarem todo o procedimento da fase pré-analítica.
Relativamente à fase pré-analítica, devem ser consideradas cinco etapas, nomeadamente:
Etapa 1 – Requisição O processo para realização dos exames laboratoriais inicia-se com o pedido de exame, feito geralmente durante a consulta médica. É necessário que o médico descreva de forma correcta a solicitação desejada, devendo esta possuir informações suficientes para identificação do utente e do médico, dos dados clínicos, sexo, raça, idade e medicamentos em uso.
Etapa 2 – Identificação e preparação do utente
A maioria dos utentes admite que o procedimento que mais temem é estar “presos” à colheita de sangue. Então, os flebotomistas podem contribuir, fazendo todos os esforços
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A PERCENTAGEM MAIOR DE ERROS DENTRO DE UM LABORATÓRIO É ENCONTRADA NA FASE PRÉ-ANALÍTICA, 46% A 68,2 %, UMA VEZ QUE ESTA FASE ENVOLVE INÚMERAS ACTIVIDADES NÃO AUTOMATIZADAS, COMO A COLHEITA, O MANUSEAMENTO, O TRANSPORTE E A PREPARAÇÃO
DAS AMOSTRAS
para minimizar os efeitos psicológicos negativos da situação, tranquilizando o utente. Além da “normal” saudação e cumprimento inicial, apresentação do respectivo nome incluída, o flebotomista deverá confirmar com o utente os seus dados pessoais (nome completo e data de nascimento). Este processo inicial, a ser realizado de modo profissional e tranquilo, além de auxiliar na descontração do utente, permite também a confirmação de informação, tendo em conta as consequências graves na obtenção de uma amostra de um paciente errado.
Etapa 3 – Colheita/Flebotomia
Seguir sempre as boas práticas da flebotomia, que consiste, antes de iniciar a punção venosa, ter perto de si todo o material necessário. Realizar a colheita utilizando os equipamentos de protecção individual necessários. O sangue deve ser cuidadosamente homogeneizado com o anticoagulante no tubo, através de várias
inversões do tubo. Isto é essencial para evitar a formação de microcoágulos no tubo. Nesta etapa, as falhas mais comuns são a amostra insuficiente, a amostra em tubo incorrecto e a amostra inadequada, sendo importante seguir o protocolo específico para diminuir estes erros. No final, todos os materiais contaminados devem ser descartados em lixo apropriado e de maneira segura.
Etapas 4 e 5 –Transporte e armazenamento
O transporte da amostra do posto ou sala de colheita para o laboratório de análises clínicas (quando aplicável) deve ser realizado de um modo rápido, eficiente e zelando sempre pela conservação da amostra, através da utilização de malas adequadas, de veículos adaptados (quando necessário), do controlo de tempo e de temperatura a que é exposto o material, da utilização de frascos adequados, tudo pensando na segurança e na preservação das boas condições do material biológico para análise, de modo a não se comprometer a respectiva amostra, tendo em conta factores como a exposição a temperaturas extremas, a pressão e forças durante o transporte, entre outros. O tempo de preparo e as condições de armazenamento devem ser respeitados, tendo em conta a necessidade de se preservar a integridade e estabilidade da amostra Na fase pré-analítica, todos os factores devem ser levados em conta antes da realização da análise propriamente dita, já que estes podem exercer influência directa na interpretação dos resultados. É fundamental definir uma estratégia de avaliação de risco na fase pré-analítica, através da definição de indicadores quantitativos e respectiva monitorização, da formação e da orientação da equipa. Todos estes parâmetros são essenciais para alcançar resultados precisos. Realçados alguns desafios no processo de implementação do controlo de qualidade, entendese que os mesmos não devem extravasar os resultados da própria implementação. A necessidade de se alcançar a satisfação plena do cliente tem vindo tendencialmente a crescer, sendo crucial durante a realização de testes de laboratório. Deste modo, esta implementação do controlo de qualidade em laboratórios de análises clínicas auxilia a promover a rastreabilidade e a organização de dados (correctos e confiáveis), evitando erros repetitivos no trabalho, de modo a garantir a eficiência e qualidade na análise laboratorial. Conclui-se, assim, que uma realidade de controlo de qualidade é, cada vez, uma maior exigência e com efeitos imediatos na credibilidade, assim como na segurança para a respectiva essência de organizações laboratoriais: os pacientes.
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CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM ANGOLA
A 1 DE MARÇO É CELEBRADO O DIA MUNDIAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS, EM MEMÓRIA ÀS VÍTIMAS DO MASSACRE DE OTTAWA, OCORRIDO NA UNIVERSIDADE LIVRE DE OTTAWA, NA COLÔMBIA, EM 1992, QUANDO 11 CATADORES FORAM ASSASSINADOS NO TRABALHO, COM O OBJECTIVO DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS. EM MEMÓRIA ÀS VÍTIMAS E EM RESPOSTA ÀS INADEQUADAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, O PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO QUE ESTA CATEGORIA PROFISSIONAL VIVENCIA NA SOCIEDADE, FOI CONSAGRADA A DATA NO PRIMEIRO ENCONTRO INTERNACIONAL DE CATADORES, QUE REUNIU 34 PAÍSES NA COLÔMBIA, EM 2008.
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ENTREVISTA RUBRICA AMBIENTAL
Licenciado em Antropologia pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. É escuteiro do Agrupamento 139, repórter de imagem e técnico mixer da rádio Maria e voluntário da campanha de resíduos e poluição da EcoAngola
Tendo em conta que os resíduos têm valor, pois constituem matériaprima para novos produtos, a sua recolha vai ganhando corpo em Angola, principalmente em Luanda, onde as famílias têm enfrentado grandes dificuldades de subsistência.
O reaproveitamento dos resíduos é visível em sociedades muito mais avançadas que a nossa. Em Angola, existe um volume significativo de resíduos e/ou materiais recicláveis, que, se muito bem explorado e gerido, pode ser uma grande fonte de receitas para o país.
Actualmente, mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo (cerca de 1% da humanidade) trabalham com a recolha, triagem e reciclagem de resíduos gerados pelas cidades (OIT, 2021).
Considerando os aspectos mencionados acima, foi elaborado este artigo com o objectivo de abordar a temática do papel dos catadores no sistema de gestão de resíduos, os principais desafios enfrentados, o papel do Estado e os impactos desta actividade para a economia circular.
Importância dos catadores para o sistema de gestão de resíduos
Os catadores realizam um trabalho essencial à vida e ao desenvolvimento sustentável do planeta, contribuindo para a logística reversa de materiais recicláveis, pois são responsáveis pela retirada
de toneladas de resíduos das residências, armazéns e lojas, via pública, margens de rios e outros locais inapropriados para o descarte. Prestam um serviço ambiental, assegurando que o equilíbrio ecológico seja garantido, evitando danos ambientais, gerando o aproveitamento de resíduos sólidos e economia dos recursos naturais. O trabalho também gera impacto na redução de emissão de gases no ambiente e renda para milhares de famílias, com desenvolvimento sustentável para o país (OIT, 2021).
A actividade, como tal, tem apoiado na redução da criminalidade em determinadas localidades, retirando do mundo do crime vários jovens sem uma formação técnica e sem meios de subsistência, que a partir da recolha de resíduos conseguem sustentar, com o mínimo possível, as suas famílias. Mas, apesar dessas contribuições ambientais e sociais, os catadores de materiais recicláveis, geralmente, não são legalmente reconhecidos como trabalhadores e sofrem com as condições precárias de trabalho e com a falta de protecção social adequada.
ACTUALMENTE, MAIS DE 15 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO (CERCA DE 1% DA HUMANIDADE) TRABALHAM COM A RECOLHA, TRIAGEM E RECICLAGEM DE RESÍDUOS GERADOS PELAS CIDADES (OIT, 2021)
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Pedro João
Contudo, realça-se que, nos últimos tempos, têm sido criadas, em Angola, estratégias para valorização desta franja, com o lançamento de alguns projectos à semelhança do que foi tornado público, no dia 10 de Fevereiro de 2023, na província do Huambo, denominado por Projecto de Inserção Social de Catadores de Resíduos Sólidos (PICAR). Trata-se de uma iniciativa conjunta entre o Governo da província do Huambo e o Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (INEFOP), que pretende contribuir para transformar a forma precária de trabalhar dessas pessoas, mediante a realização de cadastramento, formação, atribuição de material de segurança e higiene e organização em cooperativas.
Por outro lado, o Ministério da Economia e Planeamento, na senda da concepção de uma estratégia de valorização dos resíduos sólidos, tem trabalhado num dossiê de inclusão social dos catadores.
Associações de catadores de resíduos em Angola
Existem em Angola algumas associações de catadores de resíduos, pelo que neste artigo trazemos a Associação dos Jovens Catadores de Materiais Recicláveis de Angola (AJOCAMARC), uma organização sem fins lucrativos que trabalha para melhorar as condições de vida dos catadores de resíduos em Angola. Fornece treinamento e educação para catadores de resíduos e trabalha para melhorar as suas condições de trabalho.
financiamento para projectos relacionados com a reciclagem (ANR, 2023).
O novo instrumento de recolha de resíduos em Luanda visou a implementação da “cadeia de valor dos resíduos” e “melhorar a sua gestão durante todo o ciclo produtivo”. Autoridades de Luanda garantiram que a estratégia para aplicar o modelo de gestão dos resíduos sólidos, apresentada na capital angolana, surge para “valorizar os resíduos”, através da reciclagem, transformação e exportação, abrindo espaço para o empreendedorismo. A maior valorização dos resíduos sólidos, além da empregabilidade e o empreendedorismo, faz parte dos eixos da estratégia apresentada durante um conselho de auscultação da comunidade pelo assessor jurídico até então da Governadora de Luanda, Dário Bamba. No entanto, os detalhes específicos sobre qual tipo de resíduo mais valorizado não foram mencionados nos resultados da pesquisa. Pode variar, dependendo de vários factores, incluindo o tipo de material, a demanda do mercado, os custos de processamento e as políticas locais. A reciclagem de certos materiais, como plástico, vidro e metal, pode ser lucrativa se houver infraestrutura adequada e demanda do mercado.
A AJOCAMARC também trabalha em parceria com outras organizações, como o Banco de Desenvolvimento Angolano (BDA), para fornecer
Principais desafios e dificuldades Uma publicação da OIT, “Cooperativas e o mundo do trabalho n.º 12” (“Cooperatives and the world of work n.º 12”), indica que os maiores défices de trabalho enfrentados pelos catadores são:
1. Ambiente de trabalho perigoso e falta de segurança e saúde no trabalho (SST): os catadores enfrentam regularmente riscos de doenças e lesões por serem expostos a materiais tóxicos, resíduos contaminados ou itens pontiagudos, adicionado ao facto de não possuírem equipamentos de protecção individual (luvas, máscaras, botas, fardas, chapéus, protector solar),
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Referências:
NOS ÚLTIMOS TEMPOS TÊM SIDO CRIADAS, EM ANGOLA, ESTRATÉGIAS PARA VALORIZAÇÃO DESTA FRANJA, COM O LANÇAMENTO DE ALGUNS PROJECTOS À SEMELHANÇA DO QUE FOI TORNADO PÚBLICO, NO DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2023, NA PROVÍNCIA DO HUAMBO, DENOMINADO POR PROJECTO DE INSERÇÃO SOCIAL DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PICAR)
que poderiam amenizar os possíveis impactos desses riscos para a sua saúde. As pessoas que trabalham nas lixeiras a céu aberto ou que encaram directamente os contentores de lixo podem também ser atropeladas por camiões ou serem vítimas de afundamentos de superfície, deslizamentos e incêndios.
2. Baixo lucro e posição fraca em relação aos intermediários: os catadores de materiais recicláveis, particularmente quando não organizados em cooperativas, muitas vezes, apresentam uma posição de negociação fraca perante os intermediários que compram os recicláveis e recebem baixos preços pelo material recolhido, sem a possibilidade de opinar ou fazer qualquer tipo de negociação, colocando-se numa posição de total desvantagem.
3. Estigma social e discriminação: os catadores geralmente pertencem a grupos socialmente desfavorecidos e vulneráveis (por exemplo, migrantes, refugiados, desempregados, mulheres, crianças, pessoas com deficiência, minorias étnicas e religiosas). Frequentemente, enfrentam estigma, são discriminados e assediados por actores públicos e privados nas cadeias de gestão de resíduos.
4. Inexistência de um sistema de gestão de resíduos sólidos bem estruturado: os catadores enfrentam o grande desafio de terem de aceder directamente aos contentores de lixo ou às lixeiras, porque o sistema actual de recolha de resíduos não contempla ecopontos, que permitam a separação prévia dos resíduos em recipientes diferentes, de acordo com a característica dos mesmos.
Legislação
Angola não possui uma lei específica que regule a actividade realizada pelos catadores, porém, esta classe de trabalhadores geralmente é autónoma e garante o seu próprio sustento por meio das vendas do material que recolhe nas ruas. Foi criada uma estratégia que contempla sete iniciativas bastantes ambiciosas, desde a produção legislativa, formalização da actividade de recolha e a componente tecnológica aprovada ao nível do Conselho de Ministros, no dia 26 de Fevereiro, apesar de não haver um horizonte temporal para a entrada em vigor, nem definição da entidade que vai implementar (Jornal de Angola, 2023).
Considerações finais
Assim sendo, espera-se que políticas inclusivas de gestão de resíduos considerem e integrem os catadores de materiais recicláveis nas cadeias formais de reciclagem, de modo a potencializar a contribuição que essa classe dá à promoção da reciclagem e da circulação de recursos, para a criação de trabalho decente, redução da pobreza e inclusão social. É importante que os catadores continuem a realizar o seu trabalho, organizados em cooperativas de associados, para a garantia dos seus direitos e melhoria das condições de trabalho, em alinhamento com os órgãos do Estado responsáveis. A presença dos catadores nas ruas tem alterado a mentalidade dos cidadãos, fazendo com que não sejam descartados resíduos que podem ser reaproveitados e reciclados. Embora Angola já tenha pequenas empresas interessadas em receber e tratar os resíduos para a reciclagem, ainda não o faz na escala em que outros países do continente já o fazem e um número reduzido transforma-os em nova matéria-prima para a indústria. Para alterar esse cenário, é necessário apostar na formação técnica de quadros nacionais em gestão especializada de resíduos, captar financiamentos para o sector, analisar modelos eficazes já implementados noutros países e mobilizar a participação activa de todos os intervenientes.
BALDIM, M. L. L. S.; PEREZ, F. J. F.; CHAMON, E. M. Q. O.; FREITAS, M. R.; GUEDES, L.C. V.; CAMARINI, G. (2020) Catadores de materiais recicláveis: uma análise sobre a conquista de seus direitos e contribuições para o desenvolvimento sustentável. Revista Humanidades e Inovação, v.7, n.17
COSTA, C. M. (2008) Reciclagem e cidadania: Trajectória de vida dos catadores de resíduos reciclagem na comunidade de Reciclo. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília/UnB
Organização Internacional do Trabalho - OIT (2021) Dia Mundial dos Catadores de Materiais Recicláveis chama atenção para a necessidade de promoção do trabalho decente para a categoria profissional no Brasil. Acessado a 25/03/2023. Disponível no link: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_774321/lang--pt/index.htm
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EVENTOS CLIMÁTICOS PROVOCARAM 43,1 DESLOCAMENTOS DE CRIANÇAS EM 6 ANOS
OS DESASTRES RELACIONADOS COM O CLIMA CAUSARAM 43,1 MILHÕES DE DESLOCAMENTOS INTERNOS DE CRIANÇAS EM 44 PAÍSES, AO LONGO DE SEIS ANOS (OU APROXIMADAMENTE 20 MIL DESLOCAMENTOS DE CRIANÇAS POR DIA), SEGUNDO UMA ANÁLISE DA UNICEF.
ENTREVISTA ANÁLISE
“Crianças Deslocadas num Clima em Mudança” é a primeira análise global do número de crianças que foram forçadas a sair das suas casas, entre 2016 e 2021, devido a inundações, tempestades, secas e incêndios florestais, e analisa as projecções para os próximos 30 anos.
Segundo a análise, a China e as Filipinas estão entre os países que registaram os maiores números absolutos de deslocamentos de crianças, devido à sua exposição a fenómenos meteorológicos extremos, às grandes populações infantis e aos progressos realizados nas capacidades de alerta precoce e evacuação. No entanto, em relação ao tamanho da população infantil, as crianças que vivem em países insulares, como a Dominica e Vanatu, foram as mais afectadas por tempestades, enquanto as crianças na Somália e no Sudão do Sul foram as mais afectadas por inundações.
“É aterrorizante para qualquer criança quando um incêndio florestal, uma tempestade ou uma inundação feroz se abate sobre a sua comunidade”, refere a directora executiva da UNICEF, Dra. Catherine Russell. “Para aqueles que são forçados a fugir, o medo e o impacto podem ser especialmente devastadores, com a preocupação de saber se vão voltar para casa, regressar à escola, ou se vão ser forçados a mudar-se novamente. A mudança pode ter-lhes salvado a vida, mas também é muito perturbadora. À medida que os impactos das alterações climáticas aumentam, o mesmo acontece com as deslocações motivadas pelo clima. Temos as ferramentas e o conhecimento necessários para responder a este desafio crescente para as crianças, mas estamos a agir com demasiada lentidão. Precisamos de reforçar os esforços para preparar as comunidades, proteger as crianças em risco de deslocamento e apoiar as que já foram deslocadas”
Deslocamentos
As inundações e as tempestades representaram 40,9 milhões, ou 95%, dos deslocamentos de crianças registados entre 2016 e 2021, devido, em parte, a uma melhor avaliação e a mais evacuações preventivas.
AS INUNDAÇÕES FLUVIAIS TÊM O
POTENCIAL DE DESLOCAR QUASE 96 MILHÕES DE CRIANÇAS NOS PRÓXIMOS 30 ANOS, COM BASE NOS DADOS CLIMÁTICOS ACTUAIS, ENQUANTO OS VENTOS CICLÓNICOS E AS ONDAS DE TEMPESTADE TÊM O POTENCIAL DE DESLOCAR 10,3 MILHÕES E 7,2 MILHÕES DE CRIANÇAS, RESPECTIVAMENTE, NO MESMO PERÍODO
As secas provocaram mais de 1,3 milhões de deslocamentos internos de crianças, sendo a Somália um dos países mais afectados, enquanto os incêndios florestais provocaram 810 mil deslocamentos de crianças, tendo mais de um terço ocorrido apenas em 2020. Canadá, Israel e Estados Unidos registaram o maior número. “As decisões que motivam o deslocamento podem ser forçadas e abruptas face ao desastre ou como resultado de evacuações preventivas, onde vidas podem ser salvas, mas muitas crianças ainda enfrentam os mesmos perigos e desafios de serem forçadas a sair das suas casas, muitas vezes por períodos prolongados”, sustenta a UNICEF. As crianças estão especialmente em risco de deslocamento em países que já enfrentam crises sobrepostas, como conflitos e pobreza, onde as capacidades locais para lidar com a situação são limitadas. O Haiti, por exemplo, já em alto risco de deslocamento de crianças relacionado com desastres, é também assolado pela violência e pela pobreza, com um investimento limitado na mitigação de riscos e preparação. Em Moçambique, as comunidades mais pobres, incluindo as das áreas urbanas, são desporporcionadamente afectadas por condições climáticas extremas. Estes são os países nos quais o número de crianças vulneráveis em risco de deslocamento futuro é maior e as capacidades de resposta e financiamento são limitadas e onde a mitigação do risco, a adaptação, os esforços de preparação e o financiamento são mais urgentes.
Futuro
Através de um modelo de risco de deslocamento por desastre desenvolvido pelo Centro de Monitorização de Deslocamento Interno, o relatório projecta que as inundações fluviais têm o potencial de deslocar quase 96 milhões de crianças nos próximos 30 anos, com base nos dados climáticos actuais, enquanto os ventos ciclónicos e as ondas de tempestade têm o potencial de deslocar 10,3 milhões e 7,2 milhões de crianças, respectivamente, no mesmo período.
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ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO, MERCADOS EMERGENTES E NOVOS PRODUTOS IMPULSIONAM CRESCIMENTO DO SECTOR FARMACÊUTICO
O CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO FARMACÊUTICA MUNDIAL FOI LIMITADO A 0,5%, EM 2023, APÓS UM AUMENTO DE 17,3% EM 2021 E DE 6,8% EM 2022. ESTE PICO FOI IMPULSIONADO PELA PRODUÇÃO MASSIVA DE VACINAS CONTRA A COVID-19. EM 2024, A PRODUÇÃO E AS VENDAS GLOBAIS DEVERÃO AUMENTAR 4,6% E 5,1%, RESPECTIVAMENTE, IMPULSIONADAS PRINCIPALMENTE PELA REGIÃO DA ÁSIA-PACÍFICO. ESTES SÃO DADOS DO MAIS RECENTE ESTUDO DA CRÉDITO Y CAUCIÓN, DEDICADO AO SECTOR FARMACÊUTICO
ENTREVISTA ANÁLISE
Aprodução de vacinas continuará a apoiar o crescimento do sector farmacêutico, embora a um nível inferior ao registado em anos anteriores. Os fabricantes de produtos especializados, medicamentos para doenças crónicas e genéricos encontrarão oportunidades de crescimento entre as populações envelhecidas. E os fabricantes de produtos para a perda de peso enfrentam previsões de crescimento de mais de 75 mil milhões de dólares, até 2030.
Paralelamente, a melhoria do acesso aos cuidados de saúde nos mercados emergentes vai apoiar igualmente a produção de produtos farmacêuticos e as vendas do sector.
Existem, contudo, alguns obstáculos no horizonte, de acordo com a consultora. A inflação e as taxas de juro elevadas têm tido impacto no poder de compra das famílias em todo o mundo, conduzindo a uma menor procura de produtos como os medicamentos de venda livre. Já a necessidade de reduzir os défices orçamentais e os níveis de dívida pública tenderá a afectar as despesas públicas com a saúde.
Alguns mercados, incluindo a União Europeia, os Estados Unidos da América e o Reino Unido, estão a impor regulamentos novos ou revistos sobre os preços dos medicamentos, numa tentativa de reduzir os custos dos cuidados de saúde estatais. Isto está a encontrar alguma resistência por parte da indústria, que argumenta que os preços regulados podem afectar a sua capacidade de investir em investigação e desenvolvimento (I&D).
Dito isto, em geral, o sector tem capital próprio, solvência e liquidez robustos. A maioria das empresas farmacêuticas e biotecnológicas pode, assim, beneficiar de um bom acesso ao financiamento externo para ajudar a manter as elevadas despesas de I&D.
Pontos fortes e motores de crescimento
O sector tem pontos fortes significativos que impulsionam o seu crescimento. Um dos principais é a sua resistência estrutural às recessões económicas. Os produtos farmacêuticos são essenciais e são geralmente menos afectados por recessões económicas do que outros sectores mais cíclicos. Por outro lado, o envelhecimento da população nos mercados desenvolvidos e na China está a impulsionar a procura de medicamentos de
venda livre, genéricos e para o tratamento de doenças crónicas. Nos mercados emergentes, por sua vez, a melhoria dos sistemas de saúde e o aumento do rendimento disponível das famílias estão a impulsionar a procura. Os genéricos e os medicamentos de venda livre serão os primeiros a beneficiar.
Outro motor do crescimento do sector é a tecnologia digital, nomeadamente, a inteligência artificial e a análise de grandes volumes de dados, que estão a melhorar a eficiência no desenvolvimento de medicamentos, nos ensaios clínicos e no tratamento dos doentes.
Restrições e riscos
Em termos de riscos para o crescimento, a Crédito y Caución destaca que as 15 principais patentes expirarão na próxima década. É, assim, provável que os fabricantes de medicamentos de marca aumentem as suas despesas em I&D, à medida que procuram desenvolver novas patentes. Os lucros podem, assim, diminuir se não forem capazes de reduzir os custos ou introduzir produtos alternativos para aumentar as margens brutas.
Também as preocupações ambientais podem apresentar-se como um risco. Algumas empresas farmacêuticas podem enfrentar uma pressão crescente dos activistas ambientais, destacando questões como os resíduos farmacêuticos que contaminam a água e o solo.
EM TERMOS DE RISCOS PARA O CRESCIMENTO, A CRÉDITO Y CAUCIÓN DESTACA QUE AS 15 PRINCIPAIS PATENTES EXPIRARÃO NA PRÓXIMA DÉCADA. É, ASSIM, PROVÁVEL QUE OS FABRICANTES DE MEDICAMENTOS DE MARCA AUMENTEM AS SUAS DESPESAS EM I&D, À MEDIDA QUE PROCURAM DESENVOLVER NOVAS PATENTES. OS LUCROS PODEM, ASSIM, DIMINUIR SE OS FABRICANTES NÃO FOREM CAPAZES DE REDUZIR OS CUSTOS OU INTRODUZIR PRODUTOS ALTERNATIVOS PARA AUMENTAR AS MARGENS BRUTAS
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