Tecnosaúde#23 - Março/Abril

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N.º 23

Março/Abril 2 0 2 4

D ISTRIBUIÇÃO GRATUITA

P U B LIC A ÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

EM CRESCIMENTO
DOENÇAS RENAIS

Executiva da Tecnosaúde

O Dia Mundial do Rim, celebrado anualmente na segunda quinta-feira de Março, é uma ocasião de suma importância para destacar a relevância da saúde renal e os desafios enfrentados por milhões de pessoas em todo o mundo. Esta data não apenas chama atenção para a função vital dos rins na manutenção da saúde, mas também destaca a urgência em abordar as questões relacionadas à escala global.

Os rins desempenham um papel fundamental no corpo humano, filtrando resíduos do sangue, controlando a tensão arterial, mantendo o equilíbrio de electrólitos. No entanto, muitas vezes, as doenças renais passam despercebidas até atingirem estágios avançados, o que pode resultar em complicações graves e até mesmo fatais.

A carga global das doenças renais é alarmante, afectando milhões de pessoas a cada ano. Diabetes, hipertensão e obesidade, factores de estilo de vida cada vez mais prevalentes, contribuem significativamente para o aumento das doenças renais. Além disso, o acesso a cuidados de saúde adequados, medicamentos e educação sobre saúde renal permanece limitado em muitas partes do mundo, agravando o problema.

O Dia Mundial do Rim serve como uma plataforma para advogar pela detecção precoce, prevenção e tratamento das doenças renais. Destaca a importância da adopção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada, actividade física regular, moderação no consumo de álcool e abstenção do tabagismo, todos factores que contribuem para a redução do risco de doenças renais.

Em suma, o Dia Mundial do Rim é uma oportunidade para todos nós reafirmarmos o nosso compromisso com a saúde renal e trabalharmos juntos para enfrentar os desafios associados às doenças renais. Ao promover a consciencialização, adoptar um estilo de vida saudável, apoiar a pesquisa e facilitar o acesso aos cuidados de saúde, podemos fazer uma diferença tangível na vida das pessoas e garantir que todos tenham a possibilidade de viver com saúde e bem-estar.

Dra. Ana Teixeira sublinha os riscos da automedicação com antimaláricos

2 SAÚDE 02 04 06 10 12 18 ÍNDICE 26 32 40 Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola
44 22 46 36 52 56
MAIOR FLEXIBILIDADE E LIBERDADE DE MOVIMENTOS A SUA A JUDA NA S C AMINHADA S DO DIA A DIA advancisp Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável A vitamina C contribui para a normal formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das cartilagens O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos Uma dose diária de Advancis® Jointrix Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico Antes de utilizar, leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos, em grávidas ou a amamentar Não deve DISPOSI T I VO MÉDI CO MF22/AD V JT/3/1 03/22 BE M- E S TA R DOS OSSOS E DA S A R T IC U L AÇÕE S

NUTRIBÉN PROMOVE PALESTRA O PEDIATRA

ACONSELHA

NA MANHÃ DO DIA 16 DE MARÇO, A CLÍNICA

GIRASSOL FOI PALCO DE UM EVENTO DE GRANDE

IMPORTÂNCIA PARA OS PAIS ANGOLANOS.

A NUTRIBÉN ANGOLA LANÇOU O PROJECTO

O PEDIATRA ACONSELHA, UMA INICIATIVA

DEDICADA A ORIENTAR E EDUCAR OS PAIS

SOBRE O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

SAUDÁVEL DOS SEUS FILHOS.

Compreendendo os desafios enfrentados pelos pais na jornada da paternidade e maternidade, o projecto visa fornecer orientações valiosas por meio de uma série de palestras ministradas por renomados pediatras

Para a primeira edição do projecto, o foco principal foi na abordagem do tema “Cólicas? Obstipação?

4 SAÚDE
REPORTAGEM

Como aliviar?”, dirigido pela Dra. Marilene Soares, pediatra da Clínica Girassol, que revelou estratégias práticas para lidar com essas questões.

Sob a liderança da Dra. Marilene Soares, a palestra foi conduzida de maneira informativa e esclarecedora, proporcionando aos participantes insights valiosos e dicas úteis para cuidar da saúde e bem-estar dos seus filhos.

Além das palestras educativas, os pais tiveram a oportunidade de participar nas degustações dos produtos Nutribén, conduzidas pelas delegadas de informação médica Tânia Coge e Selcia Chissanguela. Essa interacção permitiu aos participantes conhecerem de perto os produtos de uma marca comprometida com a saúde infantil.

O evento também contou com um momento de sorteio, onde um cesto repleto de produtos da Nutribén foi ofertado ao participante sorteado.

O Pediatra Aconselha não apenas cumpriu o seu objetivo de informar e orientar os pais, mas também se destacou como um momento de apoio e solidariedade entre a comunidade de pais angolanos, todos unidos pelo bem-estar e desenvolvimento saudável das suas crianças. Este evento demonstra o compromisso da Nutribén Angola em proporcionar recursos e apoio aos pais angolanos, capacitando-os a cuidar da saúde e felicidade dos seus filhos desde os primeiros dias de vida.

5 SAÚDE

CÓLICAS?

OBSTIPAÇÃO?

COMO ALIVIAR?

A OCORRÊNCIA DE CÓLICAS NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA É UMA SITUAÇÃO MUITO

COMUM E QUE DEIXA, MUITAS VEZES, OS PAIS PREOCUPADOS E SEM SABER COMO PROCEDER.

6 SAÚDE
RUBRICA NUTRIÇÃO

As cólicas manifestam-se por períodos súbitos de choro agudo e persistente, sem causa identificável. Normalmente estão acompanhadas de:

• Sinais de dor;

• Dobrar frequente das pernas em direcção à barriga;

• Emissão de gases (por vezes).

As cólicas são recorrentes e, entre os seus episódios, a criança está confortável. Podem surgir pela terceira semana de vida e são mais comuns e intensas durante o primeiro trimestre de vida.

No recém-nascido, as cólicas resultam da acumulação de gases no aparelho digestivo ainda imaturo, que não os consegue eliminar adequadamente. O bebé pode ingerir ar inadvertidamente, quando usa a chupeta ou quando mama sofregamente e a boca está mal-adaptada ao mamilo ou à tetina, especialmente:

• Se tiver o nariz obstruído;

• Se a tetina não estiver completamente preenchida por leite.

A distensão intestinal causada pelos gases provoca dor, que faz o bebé chorar. Durante o choro, este ingere mais ar, o que agrava a dor, dando continuidade ao choro.

Como resolver?

• Assegurar que o bebé tem o nariz desobstruído, especialmente durante as mamadas;

• Otimizar a adaptação da boca do bebé ao mamilo ou à tetina durante as mamadas;

• Nas mamadas por biberão, preencher bem a tetina com leite e recorrer a um biberão anti-cólicas;

• Dar ao bebé oportunidade para arrotar a meio e no final das mamadas, mantendo-o em posição vertical;

• Acalmar carinhosamente o bebé, embalando-o, falando ou cantando-lhe suavemente.

• Realizar manobras que ajudem a expulsar os gases presentes no intestino: massajar cuidadosamente a barriga do bebé, dobrar suavemente as pernas em direcção à barriga, de modo a facilitar a expulsão dos gases acumulados. Estas manobras não devem ser realizadas imediatamente a seguir à mamada;

• Introduzir alterações na alimentação da mãe, evitando alimentos que lhe provoquem aerocolia;

• Para os bebés alimentados com leites adaptados, respeitar rigorosamente as doses indicadas para a preparação do biberão;

• Segurar as pernas do bebé pelos tornozelos e, com os joelhos juntos, pressionar suavemente contra a barriga. Manter esta pressão aproximadamente durante cinco segundos. Aliviar a pressão exercida e a posição das pernas, esticando-as.

• Segurar os tornozelos do bebé e dobrar um joelho sobre o abdómen e endireitar a perna, repetir o movimento com a outra perna, como se estivesse a andar de bicicleta lenta e ritmicamente.

7 SAÚDE
Dra. Margarida Carvalho Farmacêutica. Lcenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Obstipação

As síndromes gastrointestinais ligeiras são muito comuns no primeiro ano de vida. As causas estão relacionadas com a imaturidade do sistema gastrointestinal, tanto a nível fisiológico como funcional.

A obstipação é caracterizada pelo aumento da consistência das fezes e pela diminuição da frequência das dejeções.

Sintomas:

• Fezes menos frequentes que o habitual;

• Fezes duras e secas que criam mal-estar;

• O bebé retém as fezes para evitar a dor.

• Segurar os tornozelos do bebé e dobrar um joelho sobre o abdómen e endireitar a perna, repetir o movimento com a outra perna, como se estivesse a andar de bicicleta lenta e ritmicamente.

Obstipação

Não é obrigatório que todas as crianças evacuem diariamente, sendo que os intervalos até três dias são considerados normais.

Quando a criança ultrapassa sistematicamente períodos superiores a três dias sem evacuar, é já considerado um caso de obstipação infantil.

As síndromes gastrointestinais ligeiras são muito comuns no primeiro ano de vida. As causas estão relacionadas com a imaturidade do sistema gastrointestinal, tanto a nível fisiológico como funcional.

A obstipação é caracterizada pelo aumento da consistência das fezes e pela diminuição da frequência das dejeções.

Existem dois tipos de obstipação:

Sintomas:

• Fezes menos frequentes que o habitual;

• Fezes duras e secas que criam mal-estar;

• Obstipação funcional: ocorre em 90% a 95% das crianças, não se consegue identificar uma causa orgânica e é um problema que exige terapêutica;

• O bebé retém as fezes para evitar a dor.

Não é obrigatório que todas as crianças evacuem diariamente, sendo que os intervalos até três dias são considerados normais. Quando a criança ultrapassa sistematicamente períodos superiores a três dias sem evacuar, é já considerado um caso de obstipação infantil.

Existem dois tipos de obstipação:

• Obstipação crónica ou recorrente: pode ser causada por doenças neurológicas, endócrino-metabólicas e anatómicas. No entanto, também pode ocorrer como resultado de factores ambientais, psicossociais ou ambos.

• Obstipação funcional: ocorre em 90% a 95% das crianças, não se consegue identificar uma causa orgânica e é um problema que exige terapêutica;

• Obstipação crónica ou recorrente: pode ser causada por doenças neurológicas, endócrino-metabólicas e anatómicas. No entanto, também pode ocorrer como resultado de factores ambientais, psicossociais ou ambos.

A frequência e consistência das fezes consideradas normais variam de acordo com a idade e dieta das crianças. Há também uma variação considerável entre uma criança e outra.

Idade

A frequência e consistência das fezes consideradas normais variam de acordo com a idade e dieta das crianças. Há também uma variação considerável entre uma criança e outra.

1.ª semana de vida

4 a 8

Nota: Lactentes amamentados geralmente fazem mais fezes do que os alimentados com leite em pó

Primeiros meses de vida Lactentes amamentados: 3 Lactentes alimentados c/ leite em pó: 2

2 anos <2

Após 4 anos >1

Em geral, sinais de esforço (por exemplo, contorção) num lactente jovem não significam obstipação. O lactente desenvolve gradualmente a musculatura para ajudar a evacuação.

Geralmente a obstipação coincide com:

• A mudança do leite materno para o leite de transição;

• A introdução de elementos sólidos na alimentação;

• A introdução do bacio na vida quotidiana da criança;

• Uma alimentação pobre em fibras e com excesso de produtos lácteos.

8 SAÚDE
Evacuação/dia (em média)

nutrição especializada

PARA O SEU BEBÉ

Distribuidora oficial:

A OBESIDADE E O CORAÇÃO: UMA CONVERSA NECESSÁRIA

QUANDO PENSAMOS EM SAÚDE, MUITAS VEZES, ESQUECEMOS QUE O CORAÇÃO, ÓRGÃO INCANSÁVEL QUE NOS MANTÉM VIVOS, MERECE UMA ATENÇÃO ESPECIAL. AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES (DCV) NÃO ESCOLHEM IDADE, GÉNERO OU ESTATUTO SOCIAL E IMPACTAM AS PESSOAS EM TODO O MUNDO, SENDO ACTUALMENTE UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE PREOCUPAÇÃO PARA A SAÚDE GLOBAL.

10 SAÚDE
PERSPECTIVA

Dr. Mauer Gonçalves

MD, PhD. Cardiologista do Luanda Medical Center. Docente e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto

Mas como é que chegámos a este ponto? A resposta pode estar mais perto de nós do que imaginamos. Nos nossos hábitos diários, na maneira como nos alimentamos, como nos movemos e até mesmo como lidamos com o stress, em todas estas coisas encontramos pistas para entender a origem destas doenças que tanto nos afligem.

A obesidade, em particular, surge como uma peça-chave nesta equação. Não é apenas uma questão de estética, mas um problema de saúde pública que merece toda a nossa atenção. Quando acumulamos gordura em excesso, não estamos apenas preocupados com a forma do nosso corpo, mas com o funcionamento interno de toda a nossa estrutura física e mental.

A PREOCUPAÇÃO COM A OBESIDADE NÃO

É APENAS UMA QUESTÃO INDIVIDUAL,

MAS UMA PREOCUPAÇÃO GLOBAL. PAÍSES

EM DESENVOLVIMENTO ENFRENTAM UM

DESAFIO DUPLO: ENQUANTO LIDAM COM PROBLEMAS DE SUBNUTRIÇÃO, TAMBÉM

ENFRENTAM UM AUMENTO ALARMANTE

NA OBESIDADE E NAS DOENÇAS

RELACIONADAS. É UMA REALIDADE

COMPLEXA, QUE EXIGE UMA ABORDAGEM

HOLÍSTICA E COLABORATIVA

O tecido adiposo, antes visto apenas como um reservatório de energia, revela-se agora como um órgão complexo, com influência directa no nosso metabolismo e saúde cardiovascular. A obesidade não aumenta só o risco de doenças cardíacas, mas também está intimamente ligada a outras condições, como a hipertensão, a diabetes e o colesterol alto.

A pergunta que se impõe é como podemos quebrar este círculo vicioso? A resposta está em pequenas mudanças no nosso estilo de vida. Não se trata de dietas milagrosas ou exercícios extremos, mas de encontrar um equilíbrio saudável que funcione para cada um de nós. A alimentação equilibrada, a prática regular de exercício físico e o cuidado com o nosso bem-estar emocional são passos fundamentais nesta jornada.

A preocupação com a obesidade não é apenas uma questão individual, mas uma preocupação global. Países em desenvolvimento enfrentam um desafio duplo: enquanto lidam com problemas de subnutrição, também enfrentam um aumento alarmante na obesidade e nas doenças relacionadas. É uma realidade complexa, que exige uma abordagem holística e colaborativa.

Como comunidade global, temos o poder de mudar esta narrativa. Educando-nos sobre os riscos da obesidade, promovendo políticas de saúde pública que incentivem escolhas saudáveis e apoiando iniciativas que transformem alimentos nutritivos mais acessíveis, podemos dar passos significativos na prevenção das doenças cardiovasculares e na promoção de uma vida mais saudável para todos.

Cuidar do nosso coração é um compromisso que devemos assumir todos os dias. Não apenas por nós mesmos, mas também pelas gerações futuras. É hora de nos unirmos, como uma comunidade global, e colocarmos a saúde do nosso coração no centro das nossas prioridades.

11 SAÚDE

CANCRO DO COLO UTERINO E A PROBLEMÁTICA EM ANGOLA

MARÇO LILÁS, MÊS DE CONSCIENCIALIZAÇÃO CONTRA O CANCRO DO COLO UTERINO. UM DOS POUCOS

CANCROS QUE SE CONHECE O SEU AGENTE ETIOLÓGICO, SENDO RASTREÁVEL E POTENCIALMENTE CURÁVEL EM CERCA DE 95%. O CANCRO DO COLO UTERINO, TAMBÉM CONHECIDO COMO CANCRO

CERVICAL, É UMA DOENÇA MALIGNA QUE ACOMETE AS MULHERES, FAZENDO PARTE DAS PATOLOGIAS MAIS FREQUENTES DO APARELHO REPRODUTOR FEMININO.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o cancro cervical é segunda causa de morte entre as mulheres, nos países em vias de desenvolvimento. Em Angola, segundo o Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), esta patologia está no segundo lugar em termos de incidência de todos os casos de cancro diagnosticados anualmente, representando cerca de 16% (dados subnotificados).

A principal causa do cancro do colo uterino é infecção persistente do Vírus do Papiloma Humano (HPV), transmitido principalmente nas relações sexuais inseguras, muitas vezes com ou sem penetração.

Existem várias estirpes de HPV que podem causar o cancro do colo uterino, porém, os HPV 16 e 18 são responsáveis por 70% a 75% de todos os casos. O HPV também está implicado na etiologia de outros cancros, como os da cavidade oral, laringe, ânus, pénis, entre outros.

Existem outros factores de risco que estão implicados na etiopatogenia do cancro do colo uterino, como o início precoce da actividade

Dra. Albertina Manaça

Licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade António Agostinho Neto. Especialista em Oncologia Clínica pela Universidade Estadual de Campinas - Brasil. Actualmente funcionária do Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), como Médica Oncologista e Chefe do Serviço da mesma área

sexual, a multiparidade, a promiscuidade (vários parceiros sexuais), o hábito de fumar e o uso prolongado de anticoncepionais. Por outro lado, as mulheres com infecções sexualmente transmissíveis, como gonorreia, herpes, clamídia e por VIH, apresentam um risco acrescido para desenvolverem o cancro do colo uterino.

Quanto aos sintomas, o cancro cervical, inicialmente, é assintomático, pois os sintomas surgem quando a doença provavelmente já está avançada. Os principais sintomas são hemorragia vaginal fora do período menstrual, coitorragia (sangramento durante/pós acto sexual), dispareunia (dor durante o acto sexual), leucorreia (inicialmente sem cheiro, depois, pode ser fétido) e dor hipogástrica. De realçar que, quando a doença está avançada, a mulher pode apresentar outros sintomas como

12 SAÚDE
PERSPECTIVA

EXISTEM VÁRIAS ESTIRPES DE HPV QUE PODEM CAUSAR O CANCRO DO COLO UTERINO, PORÉM, OS HPV 16 E 18 SÃO RESPONSÁVEIS POR 70% A 75% DE TODOS OS CASOS. O HPV TAMBÉM ESTÁ IMPLICADO NA ETIOLOGIA DE OUTROS CANCROS, COMO OS DA CAVIDADE ORAL, LARINGE, ÂNUS, PÉNIS, ENTRE OUTROS

emagrecimento, anemia, hematúria, dor óssea, edema nos membros inferiores, entre outros.

Para diagnosticar o cancro do colo uterino, é importante que a mulher procure o médico para melhor avaliação e, de seguida, faça o tratamento adequado, de acordo o estádio da doença. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maior é a probabilidade de cura. Além disso, sendo um cancro rastreável, a prevenção é o pilar para erradicar o cancro do colo do útero:

• Prevenção primária: toda a mulher em idade fértil deve fazer regularmente o seguimento com o ginecologista, usar perservativo em relações sexuais ocasionais, praticar abstinência sexual, evitar a exposição da nicotina e vacinar-se contra os HPV 16 e 18, na idade entre 9 e 14 anos, segundo as recomendações da OMS.

• Prevenção secundária: triagem e tratamento das lesões pré-malignas - exame de Papanicolau (citologia), teste do HPV. Toda a mulher fértil com actividade sexualmente activa deve ser submetida a rastreio.

• Prevenção terciária: diagnóstico (colposcopia com biopsia), tratamento do cancro invasivo e cuidados paliativos.

De acordo com a nossa realidade, temos as maternidades centrais e provinciais que fazem atendimento regular de ginecologia e rastreio do cancro do colo uterino.

O Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), por sinal o único no país, faz o rastreio, diagnóstico e tratamento convencional do cancro do colo uterino.

Toda sociedade deve mobilizar-se na sensibilização e divulgação em prol desta patologia, uma vez que é rastreável e tem cura, quando diagnosticada precocemente.

13 SAÚDE

CANCRO DO COLO DO ÚTERO: O 4.º MAIS COMUM NAS MULHERES

14 SAÚDE
ENTREVISTA ANÁLISE

O CANCRO DO COLO DO ÚTERO É O QUARTO TIPO DE CANCRO MAIS COMUM NAS MULHERES EM TODO O MUNDO, COM UMA INCIDÊNCIA DE APROXIMADAMENTE 660 MIL NOVOS CASOS E 350 MIL MORTES EM 2022. AS TAXAS MAIS ELEVADAS DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE

ENCONTRAM-SE EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO. ESTA SITUAÇÃO REFLECTE GRANDES DESIGUALDADES, DEVIDO À FALTA DE ACESSO À VACINAÇÃO NACIONAL CONTRA O VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV) E AOS SERVIÇOS NACIONAIS DE RASTREIO E TRATAMENTO DO CANCRO DO COLO DO ÚTERO, BEM COMO A DETERMINANTES SOCIAIS E ECONÓMICAS.

Ocancro do colo do útero é causado por uma infecção persistente por vírus do papiloma humano (HPV). A vacinação profilática contra o HPV e o rastreio e tratamento de lesões pré-cancerosas são estratégias para prevenir o cancro do colo do útero e são muito eficazes em termos de custos. O cancro do colo do útero pode ser curado se for diagnosticado numa fase precoce e tratado prontamente.

Países de todo o mundo estão a trabalhar para acelerar a eliminação do cancro do colo do útero nas próximas décadas, com um conjunto acordado de três metas a cumprir até 2030.

Desigualdade Globalmente, o cancro do colo do útero é o quarto tipo de cancro mais comum entre as mulheres, com uma incidência de aproximadamente 600 mil novos casos em 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse mesmo ano, mais de 94% das 350 mil mortes causadas pelo cancro do colo do útero ocorreu em países de baixo e médio rendimento. As taxas mais elevadas de incidência e mortalidade por cancro do colo do útero encontram-se na África Subsariana, na América Central e no Sudeste Asiático.

As diferenças regionais na carga do cancro do colo do útero estão relacionadas com desigualdades no acesso à imunização, rastreio e serviços de tratamento, factores de risco, como a prevalência do VIH, e determinantes sociais e económicas, como o sexo, preconceitos de género e pobreza. As mulheres com VIH têm seis vezes mais probabilidade de desenvolver cancro do colo do útero em comparação com a população em geral e estima-se que 5% de todos os casos de cancro do colo do útero são atribuíveis ao VIH. O cancro do colo do útero afecta desproporcionalmente as mulheres mais jovens e, como resultado, 20% das crianças que perdem as suas mães para o cancro deve-se ao cancro do colo do útero.

Causas

O CANCRO DO COLO DO ÚTERO AFECTA

DESPROPORCIONALMENTE AS MULHERES MAIS JOVENS E, COMO RESULTADO, 20% DAS CRIANÇAS QUE PERDEM AS SUAS MÃES PARA O CANCRO DEVE-SE AO CANCRO DO COLO DO ÚTERO

O HPV é uma infecção sexualmente transmissível comum que pode afectar a pele, a área genital e a garganta. Quase todas as pessoas sexualmente activas vão tê-lo nalgum momento das suas vidas, geralmente sem apresentar sintomas. Na maioria dos casos, o sistema imunológico elimina o HPV do corpo. A infecção persistente de alto risco por HPV pode levar ao aparecimento de células anormais, que eventualmente se desenvolvem em cancro.

95% dos cancros do colo do útero é devido a uma infecção persistente por HPV no colo do útero (a parte inferior do útero que se abre na vagina, também chamada de canal de parto) que não foi tratada. Geralmente, leva 15 a 20 anos para as células anormais se desenvolverem em cancro,

15 SAÚDE

mas em mulheres com sistema imunológico enfraquecido, como no caso do VIH não tratado, esse processo pode ser mais rápido e demorar cinco a 10 anos.

Os factores de risco para a progressão do cancro incluem o grau de oncogenicidade do tipo HPV, o estado imunitário, a presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, o número de partos, uma primeira gravidez numa idade jovem, o uso de contraceptivos hormonais e o tabagismo.

Prevenção

A sensibilização do público e o acesso à informação e aos serviços de saúde são essenciais para a prevenção e o controlo ao longo da vida. A vacinação entre os 9 e os 14 anos é uma forma altamente eficaz de prevenir infecções por HPV, cancro do colo do útero e outros cancros relacionados.

O rastreio a partir dos 30 anos na população em geral (25 anos no caso das mulheres com VIH) pode detectar lesões cervicais que, quando tratadas, também previnem o cancro do colo do útero.

profissional de saúde se notarem:

• Sangramento incomum entre menstruações, após a menopausa ou após relações sexuais;

• Corrimento abundante e com mau cheiro;

• Sintomas como dor persistente nas costas, pernas ou pélvis;

• Perda de peso, cansaço, perda de apetite;

• Desconforto vaginal;

• Inchaço das pernas.

Resposta da OMS

À medida que os países de baixo e médio rendimento expandem o rastreio do cancro do colo do útero, o número de casos invasivos detectados aumentará, especialmente em populações que anteriormente não eram rastreadas. Por conseguinte, é necessário implementar e intensificar estratégias de encaminhamento e tratamento do cancro, bem como serviços de prevenção.

Todos os países comprometeram-se a eliminar o cancro do colo do útero como problema de saúde pública. A Estratégia Global da OMS define a eliminação como a redução para uma taxa de incidência limiar de quatro por cada 100 mil mulheres por ano e estabelece três metas a serem alcançadas até 2030:

DE ACORDO COM OS MODELOS, ESTIMA-SE QUE UM ACUMULADO DE 74 MILHÕES DE NOVOS CASOS DE CANCRO DO COLO DO ÚTERO E 62 MILHÕES DE MORTES POSSAM SER EVITADOS ATÉ 2120 SE ESTA META DE ELIMINAÇÃO FOR ATINGIDA

Quando os sintomas estão presentes, em qualquer idade, a detecção precoce seguida de tratamento imediato e de qualidade pode curar o cancro do colo do útero.

Desde 2023, estão disponíveis em todo o mundo seis vacinas contra o HPV. Todas protegem contra os tipos 16 e 18 de HPV de alto risco, que são responsáveis pela maioria dos cancros do colo do útero, e demonstraram ser seguras e eficazes na prevenção da infecção por HPV.

Sintomas

O cancro do colo do útero pode ser curado se for diagnosticado e tratado numa fase inicial da doença. Um passo fundamental é reconhecer os sintomas e ir ao médico para discutir eventuais dúvidas. As mulheres devem consultar um

• Vacinação de 90% das raparigas com uma vacina contra o HPV antes dos 15 anos;

• Rastreio de 70% das mulheres mediante teste de alta precisão antes dos 35 anos e novamente antes dos 45 anos;

• Tratamento de 90% das mulheres com lesões pré-cancerosas ou cancro do colo do útero.

De acordo com os modelos, estima-se que um acumulado de 74 milhões de novos casos de cancro do colo do útero e 62 milhões de mortes possam ser evitados até 2120 se esta meta de eliminação for atingida.

A prevenção de lesões pré-cancerosas e cancros associados ao HPV é também um elemento-chave das Estratégias Sectoriais de Saúde Globais da OMS para o VIH, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis 2022-2030 e a resolução WHA74.5 (2021) da Assembleia Mundial da Saúde sobre saúde oral inclui medidas sobre cancros da boca e da garganta.

16 SAÚDE

Sistema de auto-codificação Amostra de 0,3 µg/L Leitura em 3 segundos Memória para 365 testes

17 SAÚDE
MED I Ç Ã O D
G LICEM I A
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RIGOR E CON F O RT O N A
A

IMPORTÂNCIA E MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO

VÍRUS DO PAPILOMA

HUMANO - HPV

RUBRICA DIAGNÓSTICO

O HPV, OU VÍRUS DO PAPILOMA

HUMANO, É UM VÍRUS DNA QUE

AFECTA A PELE E MUCOSAS. É RESPONSÁVEL POR UM ELEVADO

NÚMERO DE INFECÇÕES, QUE NA MAIORIA DAS VEZES SÃO

ASSINTOMÁTICAS, SENDO CAPAZ DE GERAR UMA GRANDE VARIEDADE DE LESÕES, NOMEADAMENTE DIVERSOS TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS.

Dra. Patrícia Isabel Ribeiro Andrade

Actualmente, conhecem-se mais de 300 genótipos de HPV, dos quais cerca de 40 subtipos de alto risco que estão preferencialmente associados a 99,7% dos cancros do colo do útero, 75% da vagina, 69% da vulva, 72% da cabeça e pescoço, 91% do ânus e 63% do pénis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) designou 14 tipos de HPV como sendo de alto risco oncogénico (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) e reconheceu como “possivelmente oncogénicos” dois subtipos adicionais (68 e 73). Os tipos conhecidos de risco intermédio são o HPV 26, 55 e 66, enquanto os de baixo risco oncogénico são o 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 e 88, que originam lesões benignas como verrugas genitais ou anais, condilomas acuminados e displasias de baixo grau do colo do útero, ânus, vulva, vagina ou pénis.

Sabe-se que uma percentagem da população já teve ou vai ter, em algum momento da sua vida, uma infecção por HPV. No entanto, apenas 10% a 15% destas pessoas desenvolve infecção persistente. A infecção pode ser transitória

Licenciada em Anatomia Patológica Citológica e Tanatológica, com diversas Pós-Graduações e Mestrado de Biologia Molecular e Oncologia. Direcção Geral da Macrolab - Centro de Medicina Laboratorial

ou transformadora, na qual há integração do DNA do HPV no genoma da célula, com interferência na regulação do ciclo celular (pelos oncogenes virais E6 e E7) e progressão para lesões pré-cancerosas e cancro invasivo.

Qual a importância da detecção do DNA do HPV?

O principal valor da detecção do DNA do HPV é identificar um cancro invasivo numa mulher em que as lesões ainda não tenham sido detectadas na citologia. O uso da biologia molecular, em conjunto com o Papanicolau, reduz substancialmente o número de casos de cancro e minimiza o número de mulheres com cancro indetectado no despiste citológico.

19 SAÚDE

A detecção do DNA do vírus serve também como método de monitorização de uma possível recorrência e para comprovar a total erradicação do vírus após o tratamento.

Existem vários métodos utilizados para a detecção precoce do vírus HPV, sendo eles:

• Reacção Polimerase em cadeia (PCR)

É um método de síntese de ácidos nucleicos in vitro, através do qual um determinado fragmento de DNA pode ser especificamente replicado. Requer a presença de dois oligonucleótidos (primers) que cercam o fragmento de DNA a amplificar e que são usados como iniciadores de uma série de reacções sintéticas cíclicas catalisadas por uma DNA polimerase. Este processo de amplificação enzimática de DNA, imitando em parte o processo de replicação que ocorre in vivo, permite teoricamente, existindo condições de reacção óptimas, duplicar em cada ciclo a quantidade de fragmento de DNA, do qual resulta um aumento exponencial de produto.

O teste de alta sensibilidade consiste na amplificação do alvo, ou seja, do DNA viral, e posterior hibridização. Tem sido utilizado principalmente em pesquisas, especialmente como um padrão ouro para comprovar, ou não, a existência do DNA do HPV. Tem como desvantagens as falhas de amplificação por ineficiência de primers ou erro de extracção do DNA. Além disso, a PCR conta com a desvantagem de necessitar de espaço adequado e profissionais com experiência para minimizar os riscos inerentes à amplificação. Esses factores limitam a sua implementação em diversos laboratórios.

• Reacção Polimerase em cadeia (PCR) em tempo real Consiste em monitorizar o processo de amplificação do DNA, à medida que este ocorre. Tanto o processo enzimático de PCR como a detecção do produto de PCR ocorrem no mesmo capilar de reacção. Os instrumentos medem o produto de PCR formado, através de marcadores fluorescentes directamente com marcadores que se ligam à dupla cadeia de DNA (por exemplo, SYBR Green I), ou indirectamente com oligonucleótidos marcados com fluorescência (sondas fluorescentes), que reconhecem e se ligam por emparelhamento de bases a uma região específica da cadeia de DNA. A quantidade de fluorescência é proporcional à quantidade de produto no capilar de reacção. O número de ciclos necessários para gerar um sinal detectável depende da concentração inicial de DNA na amostra.

• Multiplex/NESTED PCR

São utilizados em simultâneo vários primers no mesmo PCR, permitindo amplificar várias áreas de interesse na mesma reacção. Esta técnica requer duas ou mais amostras distintas uma da outra. É possível detectar e realizar a tipagem de vários genótipos de HPV. Há uma alta sensibilidade na detecção e a genotipagem de vários tipos de HPV.

Como desvantagem, necessita ocorrer em duas etapas de PCR e é uma técnica demorada comparativamente ao PCR simples.

• Captura Híbrida

É uma reacção de amplificação de sinal e associa métodos de hibridização molecular e antígenos monoclonais. É o exame mais moderno para fazer diagnóstico do HPV. Detecta com alta sensibilidade e especificidade o DNA do HPV em amostra de escovado ou biopsia do tracto genital inferior, grupo (de baixo ou alto riscos) e a carga viral.

Contudo, não pode ser utilizada como ferramenta de diagnóstico isoladamente. O resultado do teste não especifica o tipo de HPV presente na amostra, só indica se a amostra é positiva ou negativa e se o vírus é de alto ou baixo risco.

• Teste de Genotipagem

Permite identificar os genótipos de alto risco, perante a existência de infecções persistentes. Tem uma elevada sensibilidade analítica, permite identificar genótipos de alto risco e permite diferentes abordagens terapêuticas.

Porém, é menos sensível relativamente ao método de detecção por captura hídrica.

20 SAÚDE

OS PROGRAMAS DE RASTREIO

COM BASE NA CITOLOGIA EM MEIO LÍQUIDO REQUEREM

INFRAESTRUTURAS

(LABORATÓRIOS) E TÉCNICOS

QUALIFICADOS, BEM COMO

UM SISTEMA DE CONTROLO DE QUALIDADE BEM DEFINIDO. ESTES RECURSOS REVELARAM-SE CAROS

E DIFÍCEIS DE IMPLEMENTAR

PARA MUITOS PAÍSES COM BAIXOS RECURSOS, O QUE SE CONSTATA

PELA DISPARIDADE GLOBAL

OBSERVADA NAS TAXAS DE CANCRO DO COLO DO ÚTERO

Os programas de rastreio com base na citologia em meio líquido requerem infraestruturas (laboratórios) e técnicos qualificados, bem como um sistema de controlo de qualidade bem definido. Estes recursos revelaram-se caros e difíceis de implementar para muitos países com baixos recursos, o que se constata pela disparidade global observada nas taxas de cancro do colo do útero.

A citologia em meio líquido permite ultrapassar algumas das limitações de colheita da citologia convencional, possibilitando um processamento das lâminas mais homogéneo e menos citologias insatisfatórias. Permite automatização, com processamento de grandes volumes de amostras, e redução dos custos para os laboratórios, possibilitando ainda a realização de testes complementares na mesma amostra, como a pesquisa de HPV.

• Hibridização in situ

Método de hibridização que demonstra o DNA viral na célula, tendo-se a oportunidade de avaliação do tecido ou esfregaço celular, ao mesmo tempo em que se avalia a presença, ou não, do vírus.

Apresenta como desvantagens o facto de ser menos sensível que o PCR e a captura híbrida. Quando se aumenta muito esta sensibilidade, principalmente na análise de lesões de baixo grau, pode haver reacção cruzada, diminuindo a eficácia do método.

• Método de Southern Blot É muito específico na detecção do DNA viral. Pode ser feito através de fragmentos de biopsia ou esfoliação celular.

Apresenta como desvantagens o facto de ser uma técnica de alto custo e levar muito tempo.

Vários testes estão aprovados pela FDA para utilização enquanto testes primários de rastreio do CCU.

O rastreio citológico apresenta fraca reprodutibilidade inter-observador e elevada taxa de falsos negativos, decorrentes do facto do resultado citológico ser dependente da interpretação do patologista e, por isso, ser de natureza subjectiva. A maior variabilidade entre os patologistas observa-se na interpretação de lesões ASC-US (analisadas como amostras negativas por outros patologistas) e de lesões HSIL (interpretadas também como LSIL ou ASC-US). Esta variabilidade pode resultar em abordagens diagnósticas e terapêuticas consideravelmente diferentes.

As mais recentes orientações decorrentes do Consenso da SGO e ASCCP 2015 vão no sentido de utilizar o teste molecular de identificação do vírus HPV de alto risco como “primary test”, de acordo com o algoritmo seguinte:

21 SAÚDE

INTERNAMENTO POR DIABETES

A DIABETES REPRESENTA UM GRUPO DE DOENÇAS METABÓLICAS COM ETIOLOGIAS DIVERSAS, CARACTERIZADO POR HIPERGLICEMIA, QUE RESULTA DE UMA SECREÇÃO DEFICIENTE DE INSULINA PELAS CÉLULAS ß, RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À ACÇÃO DA INSULINA OU AMBAS. OU, MAIS SIMPLES, É O AUMENTO DO AÇÚCAR NO SANGUE. O PÂNCREAS É O ÓRGÃO QUE PRODUZ A HORMONA INSULINA PELAS CÉLULAS ß, SENDO ESSA HORMONA RESPONSÁVEL PELA DESTRUIÇÃO DA GLICOSE NO NOSSO SANGUE. A INSULINA PODE SER PRODUZIDA COM DEFICIÊNCIA OU PODE ESTAR AUSENTE NESSAS CÉLULAS

ß. ACONTECENDO ISSO, TEMOS A PATOLOGIA DIABETES MELLITUS.

Dra. Sandra Martins

Médica Endocrinologista pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Endocrinologia Metabólica da Clínica Luanda Medical Center

22 SAÚDE
PERSPECTIVA

Poliúria, polifagia, polidipsia, perda de peso, prurido, cansaço excessivo, visão turva, dor de cabeça, formigueiro, aumento de temperatura na planta dos pés, entre outros, são sinais e sintomas desta doença, que pode ser classificada de distintas formas.

A Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligénica, decorrente da destruição das células ß pancreáticas, ocasionando a deficiência completa na produção de insulina. Embora a prevalência de DM1 esteja a aumentar, corresponde a apenas 5% a 10% de todos os casos de Diabetes Mellitus.

Já a Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90% a 95% de todos os casos de Diabetes Mellitus. Possui etiologia complexa e multifactorial, envolvendo componentes genéticos e ambientais.

UMA VEZ QUE A MAIORIA DAS ADMISSÕES DE DIABÉTICOS TEM CARÁCTER DE EMERGÊNCIA, É ACONSELHÁVEL O RASTREAMENTO DA GLICEMIA NOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E DE EMERGÊNCIA. A GLICEMIA CAPILAR À BEIRA DO LEITO É UM MÉTODO FÁCIL E RÁPIDO, MAS DEVE-SE UTILIZAR UM APARELHO CALIBRADO E VALIDADO, COM ACURÁCIA EM DIFERENTES AMOSTRAS, CONDIÇÕES DE HEMATÓCRITO, SATURAÇÃO DE OXIGÉNIO OU DE MEDICAMENTOS. OS PROFISSIONAIS DEVEM SER TREINADOS PARA O PROCEDIMENTO E O SISTEMA DEVE PERMITIR O RASTREAMENTO DE TODOS OS EXAMES REALIZADOS SEGUNDO A NORMA TÉCNICA VIGENTE

Outros tipos de diabetes estão relacionados com doenças endócrinas. Por outro lado, a gestação consiste numa condição diabetogénica, uma vez que a placenta produz hormonas hiperglicemiantes e enzimas placentárias que degradam a insulina, com consequente aumento compensatório na produção e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células ß. Surge, assim, a diabetes gestacional

Diagnóstico

O diagnóstico da diabetes passa por:

• Glicose plasmática e glicemia capilar acima ou igual a 126mg/dl;

• Hemoglobina glicada igual ou acima de 6,5%;

• Sinais e sintomas com medição de glicemia ao acaso igual ou maior que 200mg/dl;

• Teste de tolerância à glicose oral 75g:

› Tempo 0´: acima ou igual a 126mg/dl

› Depois de 2 horas: acima ou igual a 200mg/dl

No caso dos doentes que tiverem glicemia capilar ou glicose plasmática acima de 100mg/dl, é necessário investigar para pré-diabetes.

23 SAÚDE

Metas no tratamento da Diabetes Mellitus

O internamento por Diabetes Mellitus no nosso serviço pode acontecer num número de dois a quatro casos de descompensação da patologia no mês. Os doentes chegam à consulta com os valores glicémicos elevados e, inicialmente, são colocados na sala de observação e realizados exames. Se tiverem critérios de internamento para patologia, são encaminhados para a enfermaria ou transferidos para outras unidades com cuidados mais especializados, como a unidade de cuidados intensivos.

No momento da admissão hospitalar, deve-se suspender todos os anti-diabéticos orais (ADO).

A insulina é a substância de escolha no controlo da hiperglicemia, pois tem acção mais rápida, permite a titulação de dose e pode ser usada em diferentes contextos.

Temos, em média, um atendimento de 150 doentes com Diabetes Mellitus (tipo 1, tipo 2 e gestacional) no nosso serviço de consultas externas mensalmente.

Em doentes com diabetes, o controle glicémico deve ser individualizado, de acordo com a situação clínica. Os parâmetros de avaliação indicados são a hemoglobina glicada A1c (HbA1c), as glicemias capilares e plasmáticas determinadas em jejum, nos períodos préprandiais, duas horas após as refeições e ao deitar.

A glicemia deve ser dosada em todos os doentes hospitalizados, com ou sem Diabetes Mellitus, no momento da admissão e durante a ocorrência dos factores de risco descritos. Uma vez que a maioria das admissões de diabéticos tem carácter

de emergência, é aconselhável o rastreamento da glicemia nos serviços de urgência e de emergência. A glicemia capilar à beira do leito é um método fácil e rápido, mas deve-se utilizar um aparelho calibrado e validado, com acurácia em diferentes amostras, condições de hematócrito, saturação de oxigénio ou de medicamentos. Os profissionais devem ser treinados para o procedimento e o sistema deve permitir o rastreamento de todos os exames realizados segundo a norma técnica vigente.

Emergências hiperglicemicas: complicações agudas

1. Cetoacidose metabólica (CAD) É uma complicação grave que pode ocorrer durante a evolução da Diabetes Mellitus tipos 1 e 2. Está presente em cerca de 25% dos casos no momento do diagnóstico da DM1 e é a causa mais comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1, além de ser responsável por metade das mortes nesses doentes com menos de 24 anos.

24 SAÚDE

A CAD moderada e grave deve ser tratada em Unidade de Terapia Intensiva e, fundamentalmente, por profissionais habilitados para este tipo de complicação. É importante salientar que, durante muitos anos, considerouse a CAD uma complicação específica da DM1. Entretanto, a literatura tem publicado vários relatos de CAD em indivíduos com DM2, inclusive em idosos acima de 70 anos.

Antes do advento da insulina, a taxa de mortalidade de CAD oscilava em torno de 90%. Da década de 1950 em diante, com a evolução de todo o arsenal terapêutico, como antibioterapia, a ênfase no processo de hidratação, o controlo electrolítico e o uso de insulina regular, essa taxa foi reduzida para aproximadamente 10%. Actualmente, em centros de excelência no tratamento de CAD, a mortalidade geral é inferior a 1%, podendo ser maior que 5% em indivíduos mais velhos e com doenças graves. Quando evolui para edema cerebral, pode atingir 30% ou mais.

As principais causas de morte por CAD são edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, hipoglicemia, complicações intracerebrais, trombose venosa periférica, mucormicose, rabdomiólise e pancreatite aguda.

Na CAD, fundamentalmente, ocorre a redução na concentração efectiva de insulina circulante associada à libertação excessiva de hormonas contra-reguladoras, entre os quais o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e a hormona de crescimento. A deficiência de insulina pode ser absoluta, em doentes com DM1, ou relativa, como observado em doentes com DM2 na presença de stress ou doenças intercorrentes.

A avaliação laboratorial inicial de doentes com CAD deve incluir a determinação de glicose plasmática, fósforo, ureia, creatinina, cetonemia, electrólitos, inclusive com o cálculo de âniongap, análise urinária, cetonúria, gasometria, hemograma e electrocardiograma. Quando necessário, solicitam-se raios X de tórax e culturas de sangue e urina.

A última recomendação da American Diabetes Association (ADA), datada de 2023, adopta, como critério diagnóstico de CAD, glicemia sanguínea igual ou superior 250 mg/dl, acompanhada por outras alterações dos exames encontradas na gasimetria venosa/ arterial.

2. Síndrome hiperglicemico hiperosmolar (SHH)

É uma grave complicação metabólica da Diabetes Mellitus. A SHH e a CAD representam diferentes pontos no espectro das emergências hiperglicemicas associadas ao mau controlo metabólico da diabetes. A SHH caracteriza-se por hiperglicemia severa, hiperosmolaridade e desidratação na ausência de cetoacidose, enquanto a CAD apresenta-se com acidose metabólica e aumento de corpos cetónicos.

A SHH é menos frequente que a CAD, mas está associada a maior morbimortalidade. A SHH, tipicamente, ocorre em adultos e idosos com DM2, mas também pode ocorrer na população pediátrica e em doentes com DM1. A taxa de mortalidade reportada para eventos de SHH é de 5% a 16% e está relacionada com factores precipitantes, como infecções, cirurgias ou eventos isquémicos, comorbidades, idade avançada e severidade de desidratação. Doentes que apresentam episódios de crises hiperglicemicas têm risco acrescido de eventos cardiovasculares maiores, doença renal terminal e mortalidade a longo prazo, principalmente na população jovem.

As complicações mais frequentes do tratamento são hipoglicemia e hipocalemia. As complicações mais graves são edema cerebral e rabdomiólise. A prevenção das complicações envolve redução gradual da glicemia e da osmolaridade séricas e reposição apropriada de electrólitos.

Para evitar o internamento (complicações agudas) dos doentes com Diabetes Mellitus, os mesmos devem ter o acompanhamento em consultas externas da especialidade conforme orientação do médico, fazer a medicação orientada ou prescrita da patologia juntamente com as mudanças de estilo de vida (alimentação adequada e actividade física).

25 SAÚDE
Fonte: 1. The American Diabetes Association Releases the Standards of Care in Diabetes—2024
Directrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023.
2.

DOENÇA DIABÉTICARENAL

A DIABETES MELLITUS (DM) É UMA DOENÇA CRÓNICA QUE SE CARACTERIZA PELA

DESREGULAÇÃO DO METABOLISMO GLUCÍDICO. EM 2017, A INTERNATIONAL DIABETES

FEDERATION (IDF) ESTIMOU EM 48% O AUMENTO

DA PREVALÊNCIA DA DM ATÉ 2045 (DE 425

MILHÕES PARA 629 MILHÕES DE DOENTES),

AFECTANDO SOBRETUDO OS PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO DESENVOLVIMENTO. A NEFROPATIA

DIABÉTICA ACOMETE 20% A 40 % DOS

PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 1 E, PELO MENOS, UM TERÇO DAQUELES COM TIPO 2.

Dra. Antónia Mitange Barbosa Licenciada em Medicina pela Universidade Agostinho Neto. Pós-graduação em Endocrinologia pela Universidade Federal, São Paulo, Brasil

Anefropatia diabética (ND) define-se por alterações renais estruturais e funcionais dos rins. As primeiras são a expansão mesangial, o espessamento da membra basal, a lesão podocitária e, finalmente, a esclerose glomerular. As alterações funcionais da nefropatia diabética são a albuminúria, a hematúria (menos frequente) e a doença renal crónica progressiva.

A progressão da doença renal crónica por nefropatia diabética pode ser atrasada com medidas terapêuticas e alterações no estilo de vida e dietéticas.

História natural

A manifestação laboratorial mais precoce é a microalbuminúria, ou seja, uma excreção urinária

ENTREVISTA RUBRICA DIABETES

de albumina de 30 a 300 miligramas por dia, caracterizando a nefropatia incipiente sem intervenção específica. 80% dos pacientes com diabetes tipo 1 e 20% a 40% dos diabéticos tipo 2 com microalbuminúria persistente evoluirão para macroalbuminúria, a excreção urinária de albumina (AUE) superior a 300 miligramas por dia, num período de 10 a 15 anos.

Uma vez que a nefropatia diabética clínica (ou seja, a presença de macroalbuminúria) surge na ausência de intervenção específica, acontece uma redução progressiva do ritmo de filtração glomerular.

Na DM tipo 1, a nefropatia diabética surge habitualmente cinco a 10 anos após o diagnóstico. No caso da DM tipo 2, como o diagnóstico é frequentemente realizado com o atraso de alguns anos, não é raro o achado de micro ou macroalbuminúria na ocasião em que a doença é detectada.

Diagnóstico

Como mencionado, a manifestação laboratorial mais precoce da ND é a microalbuminúria na DM tipo 1. Geralmente, surge após cinco anos de doença e raramente o faz antes da puberdade.

Vale ressaltar que 9% a 30% das nefropatias em diabéticos pode ter outra etiologia. Em estudo recente, 18% dos pacientes com proteinúria submetidos à biopsia renal tinha uma glomerulopatia primária (23).

Na DM tipo 2, como o diagnóstico é, em geral, tardio, cerca de 10% a 40 % dos casos já apresenta microlbuminúria e até 10% tem proteinúria ou macroalbuminúria na época do diagnóstico.

Nos portadores de DM tipo 2, deve-se pesquisar albuminúria por meio da urinálise na primeira consulta e, depois, anualmente.

No caso da DM tipo 1, a ND deve ser pesquisada cinco anos após o diagnóstico ou mais cedo, na puberdade ou no mau controlo glicémico, e posteriormente a cada ano.

Caso o exame sumário da urina apresente positividade para proteína, deve-se quantificá-la na urina das 24 horas. Caso a urinálise seja isenta de proteína, faz-se o rastreamento para microalbuminúria, pelo menos, a cada três a seis meses.

DOENÇA CRÓNICA:RENALCOMUM, NOCIVA E MUITAS VEZES TRATÁVEL

A PREVALÊNCIA DA DOENÇA RENAL ESTÁ A AUMENTAR DRAMATICAMENTE E O CUSTO DO SEU TRATAMENTO REPRESENTA UM ENORME FARDO PARA OS SISTEMAS DE SAÚDE EM TODO O MUNDO. MESMO EM PAÍSES DE RENDIMENTO ELEVADO, O CUSTO MUITO ELEVADO DA DIÁLISE, A LONGO PRAZO, PARA UM NÚMERO CRESCENTE DE PESSOAS, É UM PROBLEMA. EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO, É INCOMPORTÁVEL. A MELHOR ESPERANÇA PARA REDUZIR OS CUSTOS HUMANOS E ECONÓMICOS DA DOENÇA RENAL CRÓNICA E DA INSUFICIÊNCIA RENAL RESIDE, PORTANTO, NA PREVENÇÃO.

ENTREVISTA ANÁLISE SAÚDE

Adoença renal crónica diz respeito à perda progressiva da função renal, ao longo de um período de meses ou anos. Cada um dos nossos rins tem cerca de um milhão de filtros minúsculos, chamados de néfrons. Se estes se danificarem, deixam de funcionar.

Durante algum tempo, os néfrons saudáveis podem assumir o trabalho extra. Mas se os danos persistirem, mais e mais néfrons deixam de funcionar.

Após um certo ponto, os néfrons que restam não podem mais filtrar o sangue suficientemente bem para que a pessoa se mantenha saudável. Quando a função renal cai abaixo de um determinado ponto, é considerada insuficiência renal. Esta afecta todo o corpo e pode fazer com que uma pessoa se sinta muito doente. Se não for tratada, a insuficiência renal pode colocar a vida em risco.

Convém não esquecer que, numa fase precoce, a doença renal crónica não apresenta sinais ou sintomas. A doença renal pode ser tratada e, quanto mais cedo se souber que se a tem, maiores serão as hipóteses de um tratamento eficaz. A doença renal pode progredir para insuficiência renal.

Uma doença comum

De acordo com a iniciativa Dia Mundial do Rim (World Kidney Day), uma iniciativa conjunta da Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) e da Federação Internacional de Fundações Renais –Aliança Mundial dos Rins, entre 8% a 10% da população adulta tem algum tipo de dano renal e, todos os anos, milhões morrem prematuramente de complicações relacionadas com as doenças renais crónicas.

A primeira consequência da doença renal crónica não detectada é o risco de desenvolver perda progressiva da função renal, que pode levar à insuficiência renal (também chamada de doença renal terminal), o que significa que é necessário um tratamento de diálise regular ou um transplante renal para se sobreviver. A segunda consequência é que a doença renal crónica aumenta o risco de morte prematura por doença cardiovascular associada.

HIPERTENSÃO E DIABETES SÃO AS CAUSAS MAIS COMUNS DE DOENÇA RENAL. A TENSÃO

ARTERIAL ELEVADA CAUSA POUCO MAIS DE UM QUARTO DE TODOS OS CASOS DE INSUFICIÊNCIA RENAL. A DIABETES FOI ESTABELECIDA

COMO A CAUSA DE CERCA DE UM TERÇO DE TODOS OS CASOS E É

A MAIS COMUM NA MAIORIA DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS

29 SAÚDE

O principal indicador da função renal é o nível de creatinina no sangue, um resíduo produzido pelos músculos e excretado pelos rins. Se a função renal estiver diminuída, a creatinina acumula-se.

A função renal é melhor medida por um indicador chamado Taxa de Filtração Glomerular (TFG), que mede a taxa de filtração do sangue pelos rins. Este indicador permite aos médicos determinar se a função renal está normal e, em caso negativo, até que nível se deteriorou.

Causas

Hipertensão e diabetes são as causas mais comuns de doença renal. A tensão arterial elevada causa pouco mais de um quarto de todos os casos de insuficiência renal. A diabetes foi estabelecida como a causa de cerca de um terço de todos os casos e é a mais comum na maioria dos países desenvolvidos.

Outras condições menos comuns incluem inflamação (glomerulonefrite) ou infecções (pielonefrite). Às vezes, a doença renal crónica é hereditária (como a doença policística) ou o resultado de um bloqueio de longa data do sistema urinário (como próstata aumentada ou pedras nos rins).

Alguns medicamentos também podem causar doença renal crónica, especialmente analgésicos, se tomados durante um longo período de tempo. Muitas vezes, os médicos não conseguem determinar o que causou o problema.

Uma pessoa pode perder até 90% das suas funções renais antes de experimentar quaisquer sintomas. A maioria das pessoas não apresenta sintomas até que a doença renal crónica esteja avançada. Os sinais de progressão incluem tornozelos inchados, fadiga, dificuldade de concentração, diminuição do apetite, sangue na urina e urina espumosa.

Tratamento

UMA PESSOA PODE PERDER ATÉ 90%

DAS SUAS FUNÇÕES RENAIS ANTES DE EXPERIMENTAR QUAISQUER

SINTOMAS. A MAIORIA DAS PESSOAS

NÃO APRESENTA SINTOMAS ATÉ

QUE A DOENÇA RENAL CRÓNICA

ESTEJA AVANÇADA. OS SINAIS DE PROGRESSÃO INCLUEM TORNOZELOS

INCHADOS, FADIGA, DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO, DIMINUIÇÃO DO APETITE, SANGUE NA URINA E URINA

ESPUMOSA

Não existe cura para a doença renal crónica, embora o tratamento possa retardar ou travar a progressão da doença e prevenir o desenvolvimento de outras doenças graves. Nos estágios iniciais da doença renal, uma dieta adequada e medicamentos podem ajudar a manter os equilíbrios críticos no corpo que os rins normalmente controlariam. No entanto, em caso de insuficiência renal, os resíduos e os líquidos acumulam-se e é necessária diálise para remover esses resíduos e excesso de fluido do sangue. A diálise pode ser feita por máquina (hemodiálise) ou através de fluido no abdómen (diálise peritoneal). Em pacientes adequados, o transplante renal combinado com medicamentos e uma dieta saudável pode restaurar a função renal normal.

A diálise e o transplante renal são conhecidos como terapias de substituição renal, porque tentam substituir o funcionamento normal dos rins. O transplante renal é considerado o melhor tratamento para muitas pessoas com doença renal crónica grave, porque a qualidade de vida e a sobrevida são muitas vezes melhores do que na diálise. No entanto, há escassez de órgãos disponíveis para dádiva. Muitas pessoas candidatas a transplante renal são colocadas numa lista de

30 SAÚDE

espera para transplante e necessitam de diálise até que um órgão esteja disponível. Um rim pode provir de um parente vivo, de uma pessoa viva sem parentesco ou de uma pessoa que morreu (dador de cadáver).

Apenas um rim é necessário para sobreviver. Em geral, os órgãos de dadores vivos funcionam melhor e por períodos de tempo mais longos do que os de dadores cadáver.

Globalmente, as taxas de sucesso dos transplantes são muito boas. Os transplantes de dadores falecidos têm uma taxa de sucesso de 85% a 90% no primeiro ano. Isso significa que, após um ano, 85 a 90 em cada 100 rins transplantados ainda estão a funcionar. Os transplantes de dadores vivos têm uma taxa de sucesso de 90% a 95%.

Cerca de uma em cada 10 pessoas tem algum grau de doença renal crónica. Pode ocorrer em qualquer idade, mas torna-se mais comum com o envelhecimento e é mais frequente em mulheres. Embora cerca de metade das pessoas com 75 anos ou mais tenha algum grau de doença renal crónica, muitas dessas pessoas não têm doenças renais - têm um envelhecimento normal dos rins.

Custos pesados

De acordo com um relatório publicado pelo NHS Kidney Care, em Inglaterra, a doença renal custa mais do que o cancro da mama, pulmão, cólon e pele combinados. Na Austrália, o custo do tratamento de todos os casos actuais e novos de insuficiência renal até 2020 foi estimado em 12 mil milhões de dólares. O custo anual da diálise por doente variou entre 50 mil e 80 mil dólares australianos, dependendo do tipo de tratamento.

Nos Estados Unidos, o tratamento da doença renal crónica deverá exceder os 48 mil milhões de dólares por ano e o programa dedicado consome 6,7% do orçamento total do Medicare para cuidar de menos de 1% da população coberta. Na China, a economia perderá 558 mil milhões de dólares na próxima década devido aos efeitos atribuíveis a doenças cardiovasculares e renais crónicas. No Uruguai, o custo anual da diálise é de cerca de 23 milhões de dólares, representando 30% do orçamento do Fundo Nacional de Recursos para terapias especializadas.

Em países de renda média, o acesso a terapias que salvam vidas tem aumentado, mas a terapia renal substitutiva permanece inacessível para a maioria dos pacientes. Os países em desenvolvimento, com uma população combinada de mais de 600 milhões de pessoas, não podem pagar a substituição renal, resultando na morte de mais de um milhão de pessoas anualmente por insuficiência renal não tratada, nota a World Kidney Day. De facto, mais de 80% dos indivíduos que recebem terapia renal substitutiva vive no mundo desenvolvido, porque nos países em desenvolvimento é amplamente inacessível. Em países como a Índia e o Paquistão, menos de 10% de todos os pacientes que dela precisam recebe qualquer tipo de terapia renal substitutiva. Em muitos países africanos, há pouco ou nenhum acesso à terapia renal substitutiva, o que significa que muitas pessoas simplesmente morrem.

31 SAÚDE

REFLEXÕES SOBRE A DOENÇA RENAL CRÓNICA

A DOENÇA RENAL CRÓNICA (DRC)

REPRESENTA UMA ELEVADA SOBRECARGA

CLÍNICO-ASSISTENCIAL, QUE CULMINA EM TRATAMENTOS COMPLEXOS, DISPENDIOSOS, PROLONGADOS E COM GRANDE IMPACTO

SOCIAL E ECONÓMICO. HÁ QUATRO

DECÁDAS ERA TIDA COMO UMA SENTENÇA DE MORTE. PORÉM, OS TRATAMENTOS DE SUSBTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL MUDARAM ESTA PERSPECTIVA, EMBORA CONTINUE A SER UMA EXCEPÇÃO EM MUITOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO.

Dra. Suzana Costa

Docente da Faculdade de Medicina da UAN. Nefrologista na Clínica Girassol. Vice-presidente da Sociedade Angolana de Nefrologia

Dra. Isabel de Lima

Médica Nefrologista na Clínica Girassol, Luanda

Em África, a DRC já constitui um duplo fardo para a saúde pública, pela sua sobreposição às doenças transmissíveis, como a tuberculose e o VIH, a leishmaniose, a shistosomíase, entre outras, contribuindo para o aumento de casos.

Estudos da África Subsaariana estimavam a prevalência da DRC em 6,8%, em 2020. Os factores de risco associados incluíam idade igual ou superior 60 anos e, destes, dois terços não tinham hipertensão arterial (HTA), Diabetes Mellitus (DM) ou VIH, mas apresentavam leucocitúria e hematúria, realçando a necessidade de maior investigação para compreender a natureza da DRC nesta região.

A Sociedade Angolana de Nefrologia (SAN), em 2024, registou cerca de 2.800 doentes em terapêutica de substituição da função renal (TSFR), comparativamente aos 523 em 2010. Estima-se que 8% a 10% da população mundial é acometida por esta endemia e, segundo a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN), em 2040, será a quinta causa de morte em todo mundo.

32 SAÚDE PERSPECTIVA

Face a esta aumento dramático da doença a nível mundial, foram apontadas linhas estratégicas de abordagem da problemática, que incluem:

Investimento na promoção da saúde renal e prevenção em todos os níveis da doença (primário, secundário e terciário), na abordagem destes doentes

A DRC é definida pela presença de lesão renal por um período igual ou superior a três meses, englobando anormalidades estruturais e funcionais do rim (nos exames de imagem e alterações no sedimento urinário), com ou sem diminuição da Filtração

A SOCIEDADE ANGOLANA DE NEFROLOGIA (SAN), EM 2024, REGISTOU CERCA DE 2.800 DOENTES EM TERAPÊUTICA DE SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL (TSFR), COMPARATIVAMENTE AOS 523 EM 2010. ESTIMA-SE QUE 8% A 10% DA POPULAÇÃO MUNDIAL É ACOMETIDA POR ESTA ENDEMIA E, SEGUNDO A SOCIEDADE INTERNACIONAL DE NEFROLOGIA (ISN), EM 2040, SERÁ A QUINTA CAUSA DE MORTE EM TODO MUNDO

Glomerular (FG)≤ 60 mL/min.1.73m2, resultando numa síndrome complexa, progressiva e irreversível das principais funções endócrino-metabólicas do rim.

A HTA é responsável por 75% dos casos de DRC, seguida da DM, constituindo as principais causas a nível mundial, embora existam outras causas, como doenças glomerulares, obesidade, infecções virais (VIH, VHB e VHC) e doença renal poliquística.

Dentro dos factores de risco para DRC:

• Factores não modificáveis

Realçamos raça negra, genéticos (portadores da apolipoproteína a1 e doença poliquística), doenças cardiovasculares, neoplasias, baixo nível socioeconómico e baixo peso à nascença.

• Factores modificáveis

Incluem o tabagismo, obesidade, consumo de bebidas alcoólicas e sedentarismo, uso de medicações nefrotóxicas, principalmente os idosos portadores de doenças crónicas e com antecedentes de lesão renal aguda (LRA).

A doença tem predilecção para o sexo masculino, pode acometer qualquer idade, desde crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Nos idosos, há uma diminuição fisiológica da Taxa de Filtração Glomerular (TFG), facto que, associado a doenças crónicas (HTA, DM, dislipidemia, obesidade), os torna vulneráveis a DRC.

33 SAÚDE

A DRC é dividida em cinco estádios, sendo o terceiro a altura em que o doente deve ser referenciado ao nefrologista. A doença evolui de forma assintomática até ao estádio 4, com TFG entre 15-29mL/min, altura em que inicia a sintomatologia de cansaço fácil, astenia, perda de peso, náuseas, vómitos, inapetência alimentar, anemia, oliguria, acidose metabólica, edemas periféricos, entre outros sintomas.

No estádio 5, quando a TFG é ≤ 15mL/min, convencionalmente denominamos Insuficiência Renal Crónica (IRC), que é o estádio mais avançado da doença, com indicação para iniciar TSFR. O doente apresenta-se intensamente sintomático, há alterações laboratoriais graves, como anemia severa, uremia, com alto de risco de morte, sendo as principais causas os eventos cardiovasculares. A IRC não é facilmente identificável como doença que afecta os rins. O diagnóstico, em geral, é difícil, porque a doença, nas fases iniciais, é assintomática, salvo quando existem sinais como proteinuria (perda de proteínas pela urina), hematúria (urina com sangue) ou edemas periféricos sem causa aparente, sintoma muito presente em crianças e adolescentes, características das doenças glomerulares, geralmente descobertas na investigação de outras doenças.

O gold-standard do diagnóstico em nefrologia é a biópsia renal, que serve para avaliar o diagnóstico, prognóstico e tratamento

O diagnóstico baseia-se na história clínica, nos exames laboratoriais, tais como proteinuria de 24 horas, sedimento urinário, estudos imunológicos e diagnóstico por imagem, desde uma ecografia renal simples até aos mais diferenciados (renograma e cintilografia renal).

A realização de exames complementares de diagnóstico anualmente é imprescindível, principalmente nos grupos de risco.

O tratamento tem como objectivos:

• Atrasar a progressão da DRC para fases avançadas;

• Tratar as complicações associadas ao risco cardiovascular em todas as fases da doença.

O DIAGNÓSTICO, EM GERAL, É DIFÍCIL, PORQUE A DOENÇA, NAS FASES INICIAIS, É ASSINTOMÁTICA, SALVO QUANDO EXISTEM SINAIS COMO PROTEINURIA (PERDA DE PROTEÍNAS PELA URINA), HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE) OU EDEMAS PERIFÉRICOS SEM CAUSA APARENTE

As medidas para retardar a progressão são:

• Tratar a causa da DRC

1. Controlo da proteinuria com uso de fármacos nefroprotectores (IECA, ARA, inibidores da SGLT2);

2. Controlo da diabetes;

3. Controlo da tensão arterial

4. Controlo dos factores de risco cardiovascular: dislipidemia, hiperuricemia, restrição proteica e de sal, cessação tabágica e alcoólica.

No estádio 3, é a altura ideal para referenciação ao nefrologista, pois deverá ser iniciado o controlo da ingestão de fósforo, a prescrição de captadores de fósforo e análogos da vitamina D, para prevenção do hiperparatiroidismo secundário, o tratamento da anemia, visando não só a melhoria da qualidade de vida, mas também a redução da morbilidade cardiovascular e da mortalidade, bem como tratamento de complicações como a sobrecarga de volume, acidose metabólica, disfunção sexual, desnutrição e uremia.

Quando previamente seguidos em consulta de nefrologia, ao atingir a TFG <20mL/min, inicia-se a preparação para TSFR (hemodiálise, diálise peritoneal ou transplante renal) de forma programada, a escolha de técnica de tratamento, bem como o acesso vascular que melhor se adeque às condições do paciente

As indicações clássicas de terapia de substituição da função renal (TSFR), nesta fase, são a HTA refractária, sobrecarga de volume refractária, hipercaliémia, hiperpotassémia, acidose metabólica refractrária ao tratamento médico.

Para a realidade angolana, dispomos de hemodiálise e diálise peritoneal (DP), para as quais é necessário que o doente tenha um acesso vascular construído, quer seja fístula ou prótese vascular para a hemodiálise e cateter peritoneal Tenckhoff para a diálise peritoneal.

Em Angola, apenas conhecemos o número crescente de doentes em estádio 4. As opções terapêuticas restringem-se a hemodiálise, maioritariamente, e diálise peritoneal, em números ainda marginais. O transplante mantém-se em perspectiva, pelo que se torna premente a criação de um órgão técnico de fiscalização da qualidade da diálise e a definição de um perfil de cuidados mínimos para os doentes com DRC no estádio 5, reconhecendo que a prestação de cuidados deve ter especiais preocupações de eficiência técnica, tendo como foco a qualidade de vida e sobrevida do doente.

34 SAÚDE

CUIDADOS NA SAÚDE ORAL DE DOENTES TRANSPLANTADOS

NO CENÁRIO DE DOENÇAS SISTÉMICAS CRÓNICAS, A DOENÇA RENAL CRÓNICA (DRC) TEM NA SUA EVOLUÇÃO O DECLÍNIO PROGRESSIVO E IRREVERSÍVEL DA FILTRAÇÃO RENAL, COM NECESSIDADE DE DIÁLISE OU TRANSPLANTE RENAL. ENTRE AS DIVERSAS CAUSAS DE DRC, A PRINCIPAL É A DIABETES MELLITUS (DM), QUE AFECTA TAMBÉM OUTROS ÓRGÃOS E TEM IMPACTO NEGATIVO NA QUALIDADE DE VIDA E NA SOBREVIDA. ESSAS DOENÇAS SISTÉMICAS TAMBÉM TÊM REPERCUSSÃO SIGNIFICATIVA NA PERIODONTITE. DO MESMO MODO, OS PRINCIPAIS PROBLEMAS BUCAIS NESTES PACIENTES SÃO MÁ HIGIENE BUCAL, ALTA PREVALÊNCIA DE DOENÇA PERIODONTAL, CÁRIES E PERDA ÓSSEA. DESTA FORMA, O DIAGNÓSTICO PRECOCE DE AFECÇÕES PRESENTES NA CAVIDADE BUCAL DE CANDIDATOS A TRANSPLANTE É IMPORTANTE, UMA VEZ QUE UM FOCO INFECCIOSO DENTÁRIO NO PERÍODO PRÉTRANSPLANTE PODE LEVAR A COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS.

36 SAÚDE PERSPECTIVA

Doutorada em Ciências Estomatológicas. Especialista em Periodontologia, com cerca de 27 anos de experiência

Sendo as infecções frequentemente causa de morbidade e mortalidade em pacientes no pré e no pós-operatório de transplante renal, prevenir factores de risco para estas infecções é de grande importância e a avaliação odontológica pré-operatória é fundamental para reduzir algumas destas complicações.

Os cuidados com a saúde bucal constituem parte essencial da preparação para o transplante de órgãos e tecidos. Algumas medicações utilizadas no tratamento destes doentes podem apresentar efeitos adversos que requeiram acompanhamento de um cirurgião-dentista para diagnóstico e tratamento dos mesmos, evitando maiores agravos.

Algumas medicações de indicação odontológica também podem agravar a condição sistémica dos pacientes em lista de transplante, especificamente nos casos de pouca capacidade do organismo para as metabolizar.

SENDO AS INFECÇÕES

FREQUENTEMENTE CAUSA DE MORBIDADE E MORTALIDADE EM PACIENTES NO PRÉ E NO PÓSOPERATÓRIO DE TRANSPLANTE

RENAL, PREVENIR FACTORES DE RISCO PARA ESTAS INFECÇÕES É DE GRANDE IMPORTÂNCIA E A AVALIAÇÃO ODONTOLÓGICA PRÉ-OPERATÓRIA É FUNDAMENTAL PARA REDUZIR ALGUMAS DESTAS COMPLICAÇÕES

Os riscos de infecções e a ocorrência de sangramentos são também importantes condições a ser observadas pelos cirurgiões-dentistas em pacientes em tratamento. Ressaltamos que o tratamento odontológico adequado é fundamental para minimizar riscos de infecções que possam retardar ou contraindicar o transplante, ou até mesmo trazer problemas nas fases posteriores ao procedimento.

A rotina de procedimentos dentários, como limpezas, remoção de dentes, cirurgias gengivais e mesmo o uso de anestésicos locais para restaurações podem resultar em complicações se o cirurgião-dentista não for preparado para esse tipo de atendimento, portanto, a escolha do profissional de odontologia é muito importante para a segurança do paciente.

É digno de nota que a doença renal crónica afecta directa ou indirectamente o processo de excreção, concentração e composição da saliva. A saliva desempenha papel importante no combate à cárie dentária. Tanto os indivíduos em lista para o transplante quanto os transplantados podem apresentar alterações na composição e no fluxo salivar. Com isso, a predisposição ao desenvolvimento de cáries torna-se maior. Assim sendo, cuidados mais intensos com a higiene dentária são necessários.

As infecções oportunistas (bacterianas, fúngicas e virais) representam grande perigo para receptores de transplantes de órgãos e tecidos. Essas infecções podem apresentar-se por meio de manifestações bucais.

37 SAÚDE
Dra. Vania Lopez Rodríguez

Manifestações na cavidade bucal também são comuns e incluem afecções como:

• Alargamento gengival;

• Xerostomia;

• Lesões de mucosa;

• Estomatite urémica.

Alargamento gengival

O alargamento gengival, ou hiperplasia gengival, durante um quadro de DRC, é relativamente comum, principalmente naqueles pacientes que foram submetidos ao transplante renal. Este factor é explicado pelo facto de se tornar necessário o uso de imunossupressores, que têm como função reduzir as possibilidades de rejeição do órgão recebido.

Estes imunossupressores pode ser prednisolona, mofetil micofenolato, tacrolimo, azatioprina, sirolimus e também a ciclosporina. Alguns estudos observaram o crescimento exacerbado da gengiva após seis meses de uso desses medicamentos. Nessa situação, as regiões mais acometidas foram as papilas interdentais, podendo ocorrer também o comprometimento das margens gengivais e superfícies lingual e palatina, porém em menor escala.

Outra alteração gengival encontrada em pessoas com DRC é a gengiva pálida, referente à anemia, com possível perda da junção mucogengival, podendo sangrar facilmente se a disfunção for plaquetária, tornando-se fundamental a avaliação do hemograma para constatar se realmente existe um quadro de anemia instalado devido a deficiência de eritropoietina, ingestão inadequada de ferro, carência de ácido fólico e vitamina B12, perda de sangue durante a diálise e redução do tempo de vida da hemácia devido ao estado urémico, levando o paciente a apresentar uma palidez generalizada, podendo ser observado tanto no exame clínico extra quanto no exame intra oral.

Estomatite urémica

A estomatite urémica é uma doença que acomete principalmente as regiões dorsais e ventrais da língua. O motivo para o surgimento da lesão está relacionado com os elevados níveis de ureia na corrente sanguínea, portanto, torna-se totalmente ineficaz o tratamento local da lesão se não regularizados os níveis de nitrogénio urémico, apoiado num aumento da higienização bucal com antisépticos e agentes antimicrobiano-antifúngico. Cerca de 90% dos pacientes com DRC apresenta manifestações orais relacionadas à doença sistémica. Além disso, os indivíduos submetidos a diálise ou transplante renal são mais susceptíveis a infecções, devido à depressão do sistema imune, tornando o atendimento odontológico um factor importante na prevenção e controlo de bacteremias e na redução do risco de infecções orais. Um dos primeiros sintomas é o odor urémico, caracterizado pelo paladar alterado ou metálico na boca do paciente. Isso acontece devido à alta concentração de ureia na saliva, a qual é convertida em amónia.

Doença periodontal

É possível observar uma relação directa entre a doença periodontal e a DRC. Indivíduos em estágios mais graves vão apresentar um agravamento na condição periodontal. A doença periodontal caracteriza-se pela reabsorção do osso alveolar e consequente perda dos tecidos moles associados. A função renal baixa diminui os níveis de vitamina D e de cálcio, contribuindo ainda mais para a reabsorção óssea.

38 SAÚDE

As manifestações bucais associadas à DRC são secundárias à condição sistémica e não é possível diagnosticar a doença renal através delas. A conduta odontológica dependerá do estágio da condição renal, podendo acontecer no próprio consultório, em casos de indivíduos bem controlados, ou em ambiente hospitalar, para os pacientes em que a DRC esteja mais avançada.

Considerações sobre o atendimento odontológico

Para a realização do atendimento odontológico do paciente com DRC, é necessário conhecer o histórico médico de forma detalhada. Com as informações obtidas por meio do contacto com o nefrologista, é possível saber sobre o estágio actual da doença, o estado sistémico do paciente e os medicamentos utilizados. Além disso, é necessária a solicitação de exames complementares e laboratoriais, como a radiografia panorâmica, hemograma e coagulograma. Com essas informações, o cirurgião-dentista estará apto a escolher as considerações clínicas e odontológicas da conduta ideal para que o atendimento do paciente aconteça de forma mais segura. Outro factor importante é a monitorização dos sinais vitais desses pacientes. A pressão arterial sanguínea e a frequência cardíaca devem ser avaliadas antes, durante e após o procedimento, principalmente em caso de procedimentos invasivos, devido à alta prevalência de hipertensão arterial em pessoas com DRC.

Com relação à terapia farmacológica, algumas questões precisam ser levadas em consideração, como, por exemplo, a função renal, a dose do fármaco, a farmacocinética e a capacidade de eliminação por hemodiálise, visto que existem alterações na absorção, metabolismo e excreção de diversas substâncias em pacientes com DRC. Os anestésicos locais de escolha devem ser os de metabolização hepática, como exemplo, a lidocaína 2% ou a articaína 4%, porque a sua metabolização acontece em maior parte no plasma, onde se transforma em ácido articaínico, que é biologicamente inactivo. Além disso, a utilização da articaína é mais

segura em casos de complementação anestésica, pois a maior parte da sua dose inicial é rapidamente metabolizada. A mepivacaína deve ser evitada nesses pacientes, pois a sua metabolização hepática e excreção renal acontecem de forma bastante lenta.

Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno e naproxeno, devem ser evitados por serem nefrotóxicos e diminuírem a função renal. Podem também causar aumento na pressão arterial, piorando a tendência ao sangramento. A aspirina também deve ser contraindicada, pois numa dose de 200 miligramas ao dia já exerce uma função de anti-agregante plaquetário.

Em relação aos analgésicos, a maioria tem metabolização hepática, não sendo necessária a modificação das doses nem suspensão dos medicamentos. As opções que apresentam melhores resultados são o paracetamol e a codeína.

No que diz respeito aos antibióticos, a amoxicilina, eritromicina e clindamicina são as substâncias de escolha. A primeira opção deve ter a sua dose ajustada de acordo com o valor da TGF, as demais não precisam de alteração na dose usual. Já a tetraciclina não deve ser prescrita para pacientes renais, pois contribui para a acumulação de ureia no sangue.

Em suma, o profissional de odontologia deverá ter um conhecimento na área das doenças renais, porque é muito importante para a segurança do paciente durante o tratamento das doenças bucais.

39 SAÚDE

INSUFICIÊNCIA RENAL E DOENÇAS OCULARES

EXISTEM VÁRIAS MANIFESTAÇÕES OCULARES QUE PODEM OCORRER NAS DOENÇAS RENAIS. OS OLHOS E OS RINS SÃO ALVO DE DANOS NOS ÓRGÃOS-ALVO EM MÚLTIPLAS PATOLOGIAS. AMBOS OS ÓRGÃOS DESENVOLVEM-SE DURANTE O MESMO ESTÁGIO EMBRIONÁRIO, POR VOLTA DA QUARTA À SEXTA SEMANA DE GESTAÇÃO, PARTILHANDO, ASSIM, UMA FORTE CORRELAÇÃO ENTRE DOENÇAS OCULARES E RENAIS. TANTO OS OLHOS QUANTO OS RINS PODEM SER ALVO DO PROCESSO DE DOENÇA SISTÉMICA. NO ENTANTO, OS OLHOS TAMBÉM PODEM SER AFECTADOS COMO CONSEQUÊNCIA DE UMA DOENÇA RENAL OU DO SEU TRATAMENTO. FACTORES DE RISCO, COMO DIABETES, HIPERTENSÃO E TABAGISMO, SÃO COMUMENTE PARTILHADOS ENTRE DOENÇAS RENAIS E OCULARES. AS MANIFESTAÇÕES OCULARES PODEM SER PREDITIVAS DE DOENÇA RENAL E OS PACIENTES COM DOENÇA RENAL APRESENTAM MAIOR RISCO DE DESENVOLVER MANIFESTAÇÕES OCULARES. VÁRIAS ANOMALIAS CONGÉNITAS DOS OLHOS E RINS TAMBÉM PODEM APRESENTAR-SE COMO SÍNDROME OCULORRENAL. ESTE ARTIGO RESUME A PATOLOGIA OCULAR, QUE PODE SER OBSERVADA NAS DOENÇAS RENAIS.

ENTREVISTA RUBRICA OCULAR

Dr. Djalme Fonseca

Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha.

Os sistemas ocular e renal são alvos de danos a órgãos-alvo em diversas patologias. Isso pode ocorrer simultaneamente devido a processos de doenças comuns ou a condições renais específicas, que levam ao envolvimento ocular secundário. O rim e a retina desenvolvem-se durante o mesmo estágio embrionário, por volta da quarta à sexta semana de gestação, partilhando, assim, uma forte correlação entre doenças oculares e renais.

Doença renal crónica (DRC) e doenças oculares importantes, como a retinopatia diabética (RD), o glaucoma, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e a catarata, estão associadas à idade, factores de risco metabólicos e vasculares, como diabetes, hipertensão e tabagismo. Vários estudos também apoiam a estreita ligação entre doenças renais e oculares. Manifestações oculares, como alterações microvasculares da retina, podem ser preditivas do desenvolvimento de DRC e os pacientes com DRC apresentam maior risco de DMRI, RD, glaucoma e catarata. A DRC também se pode manifestar no olho como anomalias de desenvolvimento de síndromes oculorrenais.

Relação entre os olhos e os rins

Os rins e os olhos partilham vias de desenvolvimento, estruturais, fisiológicas e patológicas, porque o desenvolvimento dos rins e da retina ocorre no mesmo estágio embrionário (cerca da quarta à sexta semana de gestação). Portanto, uma forte correlação é vista entre doenças renais e oculares.

OS RINS E OS OLHOS PARTILHAM VIAS DE DESENVOLVIMENTO, ESTRUTURAIS, FISIOLÓGICAS E PATOLÓGICAS, PORQUE O DESENVOLVIMENTO DOS RINS E DA RETINA OCORRE NO MESMO ESTÁGIO EMBRIONÁRIO (CERCA DA QUARTA À SEXTA SEMANA DE GESTAÇÃO).

PORTANTO, UMA FORTE CORRELAÇÃO É VISTA ENTRE DOENÇAS RENAIS E OCULARES

Tanto o glomérulo quanto a coróide possuem extensas redes vasculares de estrutura semelhante. A retina interna e a barreira de filtração glomerular partilham caminhos de desenvolvimento semelhantes.

O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é encontrado nos rins e em vários tecidos oculares, que regula o volume sanguíneo e a resistência vascular sistémica.

Factores de risco

A DRC é um problema de saúde emergente em todo o mundo, afectando cerca de 10% da população mundial, e está associada a graves problemas cardiovasculares e renais e à diminuição da qualidade de vida. A DRC é um problema progressivo e irreversível, que resulta em doença renal em estágio terminal (DRT),

41 SAÚDE

que aumenta com a progressão da idade e com doenças crónicas, como diabetes, hipertensão e obesidade.

Os factores de risco comuns entre a DRC e os olhos incluem a idade avançada, o tabagismo, a hipertensão, a Diabetes Mellitus, a obesidade e a hiperlipidemia.

Mecanismos fisiopatológicos comuns entre doenças renais e oculares

Os principais mecanismos que contribuem para a DRC e as doenças oculares são aterosclerose, disfunção endotelial, remodelação vascular, inflamação e stress oxidativo. A cascata hormonal reninaangiotensina-aldosterona é encontrada nos rins e nos olhos.

Manifestações clínicas

Mecanismos da DRC

Disfunção do SRAA

Inflamação

Polimorfismos genéticos

Klotho

Disfunção endotelial

Aterosclerose

Stress oxidativo

Doenças oculares associadas

RD, glaucoma, dano vascular da retina

DMRI, RD, dano vascular retiniano

AMD

DMRI, catarata, retinopatia

DMRI, catarata

Catarata, DMRI, RD, glaucoma, dano vascular da retina

DMRI, RD, catarata, glaucoma, dano vascular da retina

HÁ EVIDÊNCIAS SUBSTANCIAIS DE UMA ESTREITA ASSOCIAÇÃO

ENTRE DOENÇAS OCULARES E RENAIS. O ENVOLVIMENTO DO OLHO NA DOENÇA RENAL PODE

OCORRER PORQUE AMBOS OS

ÓRGÃOS SÃO ALVO DO MESMO

PROCESSO PATOLÓGICO OU PORQUE A DOENÇA OCULAR É RESULTADO DO ENVOLVIMENTO RENAL. ALÉM

DISSO, ALGUMAS SÍNDROMES

OCULORRENAIS ENVOLVEM AMBOS OS ÓRGÃOS E, PORTANTO, OS

OLHOS DEVEM SER EXAMINADOS

MINUCIOSAMENTE NESSES INDIVÍDUOS

Richard Bright, um pioneiro em anatomia mórbida e sinais e sintomas clínicos de doenças renais, relatou, pela primeira vez, a associação entre cegueira e doença renal, em 1836. Qualquer distúrbio na embriogénese entre a quarta e a sexta semanas de gestação pode causar anormalidades anatómicas e funcionais nestes dois órgãos. Muitos achados oculares podem ser observados nos segmentos anterior e posterior.

Manifestações do segmento anterior

Manifestações oculares podem ser observadas em pacientes com DRC. O hiperparatireoidismo secundário, devido à doença renal, leva à hipercalcemia, que causa a deposição de cálcio em várias estruturas oculares. A calcificação metastática pode ocorrer nas margens da pálpebra, na conjuntiva e na córnea em pacientes com DRC avançada e doença renal em estágio terminal.

Conjuntiva e córnea

A deposição de cálcio na conjuntiva causa inflamação crónica, que pode levar a alterações reactivas adicionais, como pinguécula e ceratite límbica superior. À medida que a DRC progride, concentrações crescentes de cálcio e fósforo séricos precipitam-se na conjuntiva interpalpebral e na camada córnea de Bowman, formando ceratopatia em forma de faixa, causando comprometimento da acuidade visual e desconforto ocular.

A DRC também causa alterações morfológicas no endotélio da córnea, como pleomorfismo e polimegatismo, tornandoos mais vulneráveis à descompensação endotelial. Pacientes em hemodiálise desenvolvem irritação crónica devido à diminuição da produção lacrimal e alterações no reflexo de piscar. O tratamento consiste na suplementação do filme lacrimal com lágrimas artificiais.

Desenvolvimento de catarata Alguns estudos relataram o aumento da catarata com níveis crescentes de marcadores de doença renal. A cistatina C sérica foi associada a uma incidência de 15 anos de CEP e cortical, enquanto o nitrogénio ureico e a creatinina no sangue foram associados a cataratas subcapsulares posteriores.

A formação de catarata resulta de distúrbios metabólicos na história natural da DRC. Angra e Goyal (1987) relataram o rápido desenvolvimento de catarata osmótica bilateral após hemodiálise num caso de insuficiência renal crónica.

42 SAÚDE

Pressão intraocular

Supõe-se que a pressão osmótica exercida pelo aumento da concentração de ureia no humor aquoso resulta em sobrecarga de fluidos na câmara anterior. Além disso, metabólitos tóxicos acumulam-se na rede trabecular e bloqueiam o fluxo aquoso, resultando no aumento da pressão intraocular (PIO) em pacientes em hemodiálise.

Na síndrome de desequilíbrio da diálise, a hemodiálise remove rapidamente as toxinas urémicas e outros solutos do compartimento vascular, diminuindo, assim, a osmolalidade sérica mais rapidamente do que a osmolalidade ocular. Assim, um gradiente de ureia é gerado entre o humor aquoso e o sangue, devido à barreira sangue-aquosa, fazendo com que a água se mova para a câmara anterior e aumentando a PIO.

Retinopatia

A hipertensão arterial é uma causa significativa de morbidade visual em pacientes com insuficiência renal crónica. Os olhos podem estar envolvidos em pacientes com DRC devido a alterações microvasculares na retina. O alto volume e velocidade do fluxo sanguíneo dentro das artérias resultam em danos aos vasos de pequeno calibre do olho. Alguns estudos demonstraram que o estreitamento arteriolar da retina estava associado à DRC com uma taxa de filtração glomerular estimada <45 mL/min por 1,73 m2. O estreitamento arterial leva a alterações isquémicas da retina, que resultam na formação de manchas algodonosas, hemorragias em forma de chama, exsudados duros e edema retiniano.

O edema do disco óptico pode desenvolverse em casos graves e, portanto, pode ser confundido com neuroretinite. Danos nos vasos coroidais podem produzir manchas de Elschnig, que são áreas de infartos coriorretinianos focais. Esses pacientes também apresentam alto risco de desenvolver doença obstrutiva arterial e venosa da retina.

Descolamento da retina

O descolamento de retina exsudativo raramente pode manifestar-se em pacientes com doença renal em estágio terminal em hemodiálise, devido a alterações na permeabilidade coriocapilar, levando ao acúmulo de líquido subretiniano.

Neuropatia óptica

Episódios hipotensos e anémicos em pacientes em hemodiálise tornamos mais propensos ao desenvolvimento de neuropatia óptica isquémica anterior. Esses pacientes apresentam um defeito no campo visual altitudinal, afectando o hemicampo de visão superior ou inferior.

A neuropatia óptica urémica é uma causa reversível de disfunção do nervo óptico, que pode diminuir se o tratamento oportuno for realizado antes que o nervo óptico seja comprometido.

Conclusão

Há evidências substanciais de uma estreita associação entre doenças oculares e renais. O envolvimento do olho na doença renal pode ocorrer porque ambos os órgãos são alvo do mesmo processo patológico ou porque a doença ocular é resultado do envolvimento renal. Além disso, algumas síndromes oculorrenais envolvem ambos os órgãos e, portanto, os olhos devem ser examinados minuciosamente nesses indivíduos. O reconhecimento da fisiopatologia sobreposta entre doenças renais e oculares ajuda no diagnóstico e tratamento imediato de pacientes com potencial morbidade ocular e sistémica.

43 SAÚDE

AUSTRALPHARMA MARCA PRESENÇA NA EXPOPHARMA 2024

DURANTE OS DIAS 21 E 22 DE MARÇO, A AUSTRALPHARMA PARTICIPOU NA EXPOPHARMA. COM UM STAND REPLETO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES INÉDITAS, A EMPRESA

NÃO APENAS APRESENTOU OS SEUS PRODUTOS

E SERVIÇOS, MAS TAMBÉM REVELOU UM PLANO PIONEIRO DE FIDELIZAÇÃO DE CLIENTES

ESPECIALIZADO EM FARMÁCIA EM ANGOLA.

No primeiro dia da feira, o director comercial, Emanuel Rebelo, fez o anúncio oficial deste plano, prometendo uma abordagem única para recompensar a lealdade dos clientes. Esta iniciativa representa um marco significativo não apenas para a Australpharma, mas também para o sector farmacêutico angolano, e demonstra “um compromisso claro com a excelência e a inovação”

44 SAÚDE
REPORTAGEM

Além disso, a Australpharma teve a honra de receber o Dr. Santos Nicolau, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos de Angola, no seu stand. Esta visita representou uma oportunidade valiosa para conhecer de perto a vasta gama de produtos e serviços oferecidos pela empresa, bem como para trocar ideias e perspectivas sobre o futuro da saúde em Angola.

“Estamos satisfeitos com a resposta positiva que recebemos na Expopharma”, comenta Meury João, gestora de Comunicação e Marketing da Australpharma. “O nosso compromisso com a qualidade e a inovação foi reconhecido e estamos ansiosos para continuar a desenvolver soluções que contribuam para avanços significativos na área da saúde em Angola”

A Australpharma reiterou o seu compromisso em priorizar a qualidade em todas as etapas dos seus serviços, desde a selecção dos produtos até à entrega final. Com uma visão voltada para o futuro, a empresa continua empenhada em oferecer ferramentas confiáveis e eficazes para profissionais e instituições de saúde em todo o país.

A presença da Australpharma na Expopharma não só fortaleceu a sua posição no mercado angolano, mas também estabeleceu um precedente para a inovação e o progresso contínuo no sector. “Com o seu compromisso inabalável com a excelência, a empresa está pronta para enfrentar os desafios e oportunidades que o futuro reserva”

45 SAÚDE

MALÁRIA: WORKSHOP DE PARTILHA DE EXPERIÊNCIAS

OS ESFORÇOS CONCERTADOS DE ANGOLA CONTRA A MALÁRIA FORAM EXEMPLIFICADOS NUM RECENTE WORKSHOP REALIZADO NA PROVÍNCIA DA LUNDA SUL, ENTRE OS DIAS 18 E 20 DE MARÇO. ESTE EVENTO REUNIU DIRECÇÕES PROVINCIAIS DE SAÚDE DAS SEIS PROVÍNCIAS FOCO DA INICIATIVA DO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS CONTRA A MALÁRIA (PMI), SUBLINHANDO A ABORDAGEM FACILITADA PELO PROJECTO SAÚDE PARA TODOS, FINANCIADO PELA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID) E PMI. ESTES ESFORÇOS COLABORATIVOS ENQUADRAM-SE NO COMPROMISSO NACIONAL DE COMBATE A ESTE PERSISTENTE DESAFIO À SAÚDE.

REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA SAÚDE

46 SAÚDE
REPORTAGEM

Acerimónia de abertura oficial, marcada pela presença do Dr. Izildo Gonçalves, Delegado Provincial da Justiça e Direitos Humanos da Lunda Sul, em representação de Sua Excelência o Governador Provincial, Engenheiro

Daniel Félix Neto, marcou o início das discussões estratégicas. Este acto inaugural sublinhou a importância do evento na mobilização dos esforços conjuntos contra a malária.

47 SAÚDE
1 Zaire 2 Uíge 3 Cuanza Norte 4 Malanje 5 Lunda Norte 6 Lunda Sul 6 PROVÍNCIAS FOCO DO PMI Luanda 1 2 3 4 5 6
Dr. Izildo Gonçalves

O PROJECTO SAÚDE PARA TODOS CONSTITUI

UM CONTRIBUTO IMPORTANTE NAS INTERVENÇÕES CONTRA A MALÁRIA EM SEIS

PROVÍNCIAS DO PAÍS, MOSTRANDO PASSOS

SIGNIFICATIVOS NA REDUÇÃO DA PREVALÊNCIA DA MALÁRIA. CUANZA NORTE, MALANJE, LUNDA NORTE, LUNDA SUL, UÍGE E ZAIRE SÃO

AS PROVÍNCIAS FOCO DO PMI

Projecto Saúde para Todos

O projecto Saúde para Todos constitui um contributo importante nas intervenções contra a malária em seis províncias do país, mostrando passos significativos na redução da prevalência da malária. Cuanza Norte, Malanje, Lunda Norte, Lunda Sul, Uíge e Zaire são as províncias foco do PMI.

O Dr. João Castro, representando o Programa Nacional de Controlo da Malária, enfatizou a importância de uma visão unificada. “É necessário que todos os colaboradores e parceiros do MINSA estejam alinhados com a mesma visão para juntos alcançarmos os objectivos propostos”

O Dr. João Castro sublinhou ainda o compromisso contínuo do projecto Saúde para Todos em unificar esforços para a redução da prevalência da malária em Angola, ecoando a visão de uma Angola livre desta doença.

Hospitalidade e visão da Lunda Sul

Sob a liderança do Dr. António Viegas de Almeida, Director Provincial de Saúde da Lunda Sul, a província anfitriã acolheu calorosamente os representantes das demais províncias participantes.

O Dr. Viegas de Almeida enfatizou a necessidade de uma colaboração contínua entre as províncias para alcançar a meta comum de Zero Malária. Apesar dos mais de 50 mil casos de malária registados de Janeiro a Fevereiro, o Director Provincial de Saúde destacou a redução significativa da taxa de mortalidade, fruto da capacidade de testagem da província. Desde a implementação do projecto Saúde para Todos, a transformação é notável, contando a província com mais de 2.400 profissionais de saúde capacitados que fortalecem os cuidados médicos na Lunda Sul.

48 SAÚDE
Dr. João Castro Dr. António Viegas de Almeida

Discussões temáticas e recomendações

Durante o workshop, foram apresentados e discutidos quatro temas críticos: desafios na implementação do projecto, estratégias bem-sucedidas, impactos nas comunidades locais e o perfil epidemiológico actual.

Estas discussões, enriquecidas pelas experiências das províncias do Cuanza Norte, Uíge, Lunda Norte, Malanje, Zaire e Lunda Sul, culminaram em recomendações estratégicas, incluindo a monitorização do uso de mosquiteiros, a expansão dos Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECOS) e a advocacia pela continuidade e expansão das intervenções do projecto Saúde para Todos.

UM FAROL DE INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO MÉDICA, A PLATAFORMA

KASSAI, LANÇADA EM 2021 E ENDOSSADA PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE ANGOLA, SERVE COMO FERRAMENTA OFICIAL DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTÍNUA EM ANGOLA.

OFERECE 22 CURSOS, ABORDANDO

QUESTÕES DE SAÚDE CRUCIAIS, COMO MALÁRIA, PLANEAMENTO FAMILIAR, SAÚDE MATERNO-INFANTIL E COVID-19, VISANDO MELHORAR A QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE

Plataforma Kassai: revolucionar a educação médica

Um farol de inovação na educação médica, a plataforma Kassai, lançada em 2021 e endossada pelo Ministério da Saúde de Angola, serve como ferramenta oficial de educação médica contínua em Angola. Actualmente, oferece 22 cursos, abordando questões de saúde cruciais, como malária, planeamento familiar, saúde materno-infantil, semiologia médica e COVID-19, visando melhorar a qualidade dos cuidados de saúde.

Para superar os desafios de acessibilidade à Internet, a parceria com a UNITEL, proporciona o acesso gratuito ao Kassai. Esta iniciativa garante que os trabalhadores de saúde possam aceder à educação médica online sem barreiras de custo. Adicionalmente, a funcionalidade offline do Kassai estende o seu alcance a áreas sem acesso à Internet.

O sucesso da plataforma é evidente, com 9.700 utilizadores e cerca de 20 mil certificados de conclusão emitidos. Os utilizadores devem alcançar uma pontuação de 80% num teste de conhecimento para obterem o seu certificado. Este feito sublinha um avanço significativo no equipamento dos profissionais de saúde com o conhecimento e habilidades necessárias. Esta inovadora plataforma de e-learning para prestadores de cuidados de saúde em Angola, o Kassai permite estudar em qualquer lugar, a qualquer hora, melhorando significativamente a educação médica contínua em Angola.

O contributo do Kassai para a formação dos profissionais de saúde, bem como para o direccionamento e priorização de intervenções de alto impacto mereceram destaque e nota positiva consensual de todos os presentes.

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Expandir o alcance e impacto

O Dr. Miguel Ferreira, Director Provincial de Saúde de Namibe, também participou neste workshop e destacou a eficácia do mesmo e o potencial para um impacto mais amplo. “O workshop foi muito produtivo e proveitoso. Gostaria que este projecto se estendesse ao Namibe; estou certo de que, num ano, e com estas intervenções, marcaríamos um passo significativo para acabar com a malária no Namibe” Este sentimento enfatiza o desejo de estender estratégias de sucesso a mais províncias.

Abordar desafios nos cuidados pré-natais

Um ponto crítico de discussão foi a baixa adesão das mulheres grávidas às consultas pré-natais, destacado pelo Dr. Ribeiro André de Carvalho, Director Provincial de Saúde de Malanje, que salientou a importância destas consultas para prevenir o impacto da malária na mortalidade materna e infantil. “É essencial que as mulheres grávidas compreendam a importância do acompanhamento pré-natal para a sua própria saúde e a do bebé”, referiu, apontando para a necessidade de aumentar a consciencialização e acessibilidade aos serviços de saúde.

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Dr. Miguel Ferreira Dr. Ribeiro André de Carvalho

Aproveitar a liderança comunitária na prevenção da malária

O workshop reconheceu ainda o papel estratégico dos líderes religiosos na prevenção da malária.

O Pastor Noé Kussivila enfatizou a influência que as figuras religiosas têm dentro das comunidades.

“Os pastores são muito respeitados e têm uma grande capacidade de mobilização dentro das comunidades.

Aproveitamos isso para passar a mensagem do Ministério da Saúde sobre a necessidade de várias medidas preventivas”

Esta abordagem sublinha a importância de utilizar líderes comunitários para difundir mensagens de saúde críticas.

O encerramento do evento, pelas palavras do Dr. António Viegas de Almeida, não só agradeceu a escolha da Lunda Sul para acolher este encontro crucial, mas também reiterou o apelo à dedicação contínua na luta contra a malária, enfatizando a importância do conhecimento e do envolvimento proactivo de todos os profissionais de saúde nesta causa comum. Este workshop na Lunda Sul reafirma o compromisso do Ministério da Saúde, da USAID e da PMI, bem como dos parceiros implementadores e outros actores, na erradicação da malária, demonstrando a força da colaboração, da inovação e da liderança comunitária em enfrentar desafios de saúde pública.

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Pastor Noé Kussivila

ANGOLA LANÇA CAMPANHA ZERO MALÁRIA COMEÇA COMIGO

ANGOLA É ALTAMENTE VULNERÁVEL À MALÁRIA, QUE SE ESTIMA SER RESPONSÁVEL POR 40% DAS DOENÇAS E 42% DAS MORTES NO PAÍS. ALÉM DISSO, À SEMELHANÇA DE OUTROS ESTADOSMEMBROS DA REGIÃO AFRICANA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), O PAÍS ENFRENTA O DESAFIO DA ELEVADA TRANSMISSÃO, ACESSO LIMITADO E DISPONIBILIDADE DE SERVIÇOS DE SAÚDE AO ALCANCE DAS COMUNIDADES, RECURSOS INADEQUADOS, RESISTÊNCIA AOS INSECTICIDAS E A AMEAÇA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, QUE PERTURBAM SIGNIFICATIVAMENTE OS ESFORÇOS DE ELIMINAÇÃO DESTA DOENÇA. PARA REFORÇAR A LUTA CONTRA A MALÁRIA, O GOVERNO ANGOLANO LANÇOU, NO FINAL DE 2023, A CAMPANHA ZERO MALÁRIA COMEÇA COMIGO. A INICIATIVA FOI TESTEMUNHADA PELOS MINISTROS DA SAÚDE DA SADC, MEMBROS DO GOVERNO E DAS COMUNIDADES LOCAIS, PARCEIROS DE COOPERAÇÃO E ORGANIZAÇÕES BILATERAIS, BEM COMO PELAS PRINCIPAIS AGÊNCIAS FINANCIADORAS DA LUTA CONTRA A MALÁRIA NA REGIÃO.

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REPORTAGEM

A campanha Zero Malária Começa Comigo é uma iniciativa de âmbito continental em prol de uma África livre de malária, baseada no envolvimento de líderes políticos e personalidades influentes da sociedade civil, para estabelecer intercâmbios com o sector privado, fomentar a consciência e a responsabilidade em torno da prevenção, detecção e tratamento da malária nas comunidades, aumentar a visibilidade dos programas de combate à malária e melhorar a disponibilidade de recursos nacionais para tal.

“Em nome do povo e do Governo da República de Angola, é com orgulho que lanço a campanha Zero Malária Começa Comigo, uma iniciativa ousada e catalisadora para um futuro em que a malária deixe de ser uma ameaça persistente à saúde”, afirmou a Ministra da Saúde de Angola, Dra. Sílvia Lutucuta. “Esta campanha não é apenas um slogan; é um apelo claro à acção colectiva, exortando cada um de nós a assumir a responsabilidade individual pela eliminação desta doença. Exorto os Estados-membros da SADC, os parceiros e as partes interessadas a juntarem-se a Angola e a abraçarem de todo o coração a visão de Zero Malária Começa Comigo”, sublinhou.

O objectivo da campanha é alavancar a acção comunitária para a eliminação da malária, através do trabalho multissectorial e da participação de vários estratos da sociedade, bem como integrar abordagens que contribuam para a partilha de recursos, através de um espectro de várias entidades, incluindo o sector privado, para impulsionar a sensibilização, a acção, a mobilização de recursos, a responsabilização para acabar com a malária e, como fim, um sistema de saúde e comunidades resilientes, garantindo que a malária se torne um vestígio do passado.

De acordo com o representante da OMS em Angola, Dr. Humphrey Karamagi, África ainda não está no caminho certo para atingir as metas relacionadas com a malária, que prevê uma redução de 75% na sua taxa de incidência e mortalidade em relação aos valores de referência de 2015. Como tal, “temos de trabalhar de forma diferente e agir com urgência para conter a

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ameaça da malária e avançar para a consecução dos objectivos da malária para 2030”, sublinhou. “A campanha Zero Malária Começa Comigo, que envolve todos, com cada um a desempenhar o seu papel, bem como com o apoio activo dos parceiros e a participação das comunidades, é uma iniciativa crucial que, se desenvolvida com rigor, permitirá ao país acelerar a redução da incidência da malária e acabar com este flagelo no futuro”

Desafio socioeconómico

Para além de representar um problema de saúde, a malária é um desafio socioeconómico que trava, de forma desproporcionada, o desenvolvimento dos Estados-membros da Região Africana da OMS, com custos anuais de cerca de 2% do seu Produto Interno Bruto. Investir adequadamente na prevenção e no controlo da malária é uma medida crucial para evitar que o paludismo asfixie o desenvolvimento do continente africano.

Por isso, a campanha Zero Malária Começa Comigo é uma oportunidade única para estabelecer mecanismos internos sólidos, que possam apoiar a mobilização de recursos e criar parcerias locais fortes na luta contra o paludismo. Com a sua implementação, os esforços de luta contra o paludismo na região da SADC têm conhecido um impulso significativo no controlo e na eliminação da malária e, por conseguinte, na protecção das populações.

Vacina contra a malária introduzida a partir de 2024

O Ministério da Saúde está a negociar com a GAV, empresa produtora de vacinas da malária, e fornecedores, bem como a mobilizar recursos financeiros para que a aquisição de uma vacina contra a malária seja feita ainda em 2024, afirmou, no Dubai, Sílvia Lutucuta.

“A CAMPANHA ZERO MALÁRIA

COMEÇA COMIGO, QUE ENVOLVE TODOS, COM CADA UM A DESEMPENHAR O SEU PAPEL, BEM

COMO COM O APOIO ACTIVO DOS PARCEIROS E A PARTICIPAÇÃO DAS

COMUNIDADES, É UMA INICIATIVA

CRUCIAL QUE, SE DESENVOLVIDA COM RIGOR, PERMITIRÁ AO PAÍS ACELERAR A REDUÇÃO DA INCIDÊNCIA DA MALÁRIA E ACABAR

COM ESTE FLAGELO NO FUTURO”

A Ministra, que falava após apresentar o painel “O impacto das alterações climáticas no aumento de doenças tropicais” na COP28, esclareceu que, numa primeira fase, serão beneficiárias apenas as crianças menores de 5 anos. Sílvia Lutucuta garantiu que tudo está a ser feito para que a vacina conste do Programa Nacional de Vacinação Infantil e seja administrada por doses.

Nesta fase inicial, há escassez na produção de vacinas e, por esta razão, a prioridade será dada aos países que participaram nos estudos multicêntricos que antecedem à produção de qualquer vacina.

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Segundo a governante, enquanto a vacina não chega, precisa-se de trabalhar para a melhoria do saneamento básico, promover a luta anti-vectorial e anti-larval, usando os mosquiteiros para evitar que mais pessoas desenvolvam a malária. “Queremos evitar que mais pessoas morram por malária. Por isso, o Governo está a fazer tudo para proteger a população, por meio de vacinas e programas que visam educar e mobilizar as pessoas a fim de se protegerem e procurarem os hospitais, sempre que tiverem febres ou outro mal-estar”, aconselhou.

A governante informou que Angola diagnosticou, desde Janeiro, 12 milhões de casos de malária e, deste número, cerca de seis mil pessoas acabaram por morrer. Alertou que os casos de malária tendem a subir, devido ao défice no diagnóstico precoce nos anos anteriores.

Na visão da Ministra, ainda assim, pode dizer-se que a taxa de mortalidade reduziu. Segundo Sílvia Lutucuta, trata-se um sinal de que, além do diagnóstico precoce da doença, os pacientes estão a receber tratamento e, mesmo em casos mais graves, há fármacos adequados.

“QUEREMOS EVITAR QUE MAIS PESSOAS MORRAM POR MALÁRIA. POR ISSO, O GOVERNO ESTÁ A FAZER TUDO PARA PROTEGER A POPULAÇÃO, POR MEIO DE VACINAS E PROGRAMAS QUE VISAM EDUCAR E MOBILIZAR AS PESSOAS A FIM DE SE PROTEGEREM E PROCURAREM OS HOSPITAIS, SEMPRE QUE TIVEREM FEBRES OU OUTRO MAL-ESTAR”

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OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIMALÁRICOS

NO NOSSO PAÍS, A MALÁRIA É UMA DOENÇA ENDÉMICA, SENDO A PRIMEIRA CAUSA DE MORTE E DE DOENÇA, ABSENTISMO ESCOLAR E LABORAL. É UM PROBLEMA

MUITO SÉRIO DE SAÚDE PÚBLICA. ESTA SITUAÇÃO REMETE-NOS IMEDIATAMENTE PARA OUTRO PROBLEMA, QUE É O DA AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIMALÁRICOS, POIS, EMBORA SEJAM MEDICAMENTOS DE PRESCRIÇÃO MÉDICA

OBRIGATÓRIA, ESTÃO ACESSÍVEIS À POPULAÇÃO PELO FACTO DE, EM ANGOLA, O CIRCUITO DO MEDICAMENTO AINDA SER “POROSO”.

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RUBRICA FARMACÊUTICA

Aautomedicação com antimaláricos acarreta riscos para a saúde e consequências económicas.

Riscos para a saúde:

• Morte por intoxicação;

• Surgimento de resistências aos medicamentos (como aconteceu com a nossa conhecida cloroquina 250mg);

• Agravamento de doenças cujos sintomas são parecidos com os da malária, podendo resultar em morte;

• Surgimento de reacções alérgicas graves;

• Em mulheres grávidas, podem surgir malformações fetais;

• Agravamento de doença renal, doença hepática, arritmias cardíacas;

• Interações medicamentosas, entre outros.

Consequências económicas:

• A nível do SNS, passam pelo aumento do consumo de medicamentos, material gastável e recursos humanos para os cuidados de doentes automedicados que recorram às unidades hospitalares;

• A nível das famílias, por ser uma doença mais frequente em populações mais desfavorecidas, vivendo em condições precárias de saneamento e de pobreza, é nessas comunidades que os efeitos económicos são mais impactantes, contribuindo para a mortalidade, particularmente em crianças e grávidas.

Pelo que foi exposto, a automedicação é um problema social que se agrava em países como o nosso, em que há uma percentagem importante da população a viver no limiar da pobreza, merecendo a necessária atenção dos decisores das políticas públicas, de modo a gizarem medidas que contribuam para a redução do mesmo.

Não posso deixar de aproveitar a oportunidade, como profissional, de chamar a atenção para o papel que os profissionais de farmácia devem desempenhar na redução deste fenómeno e na diminuição dos riscos da automedicação com antimaláricos.

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Dra. Ana Leónida Araújo Teixeira Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Directora Técnica da Farmácia Kiluba

EM ESTREIA MUNDIAL, NIGÉRIA INTRODUZ NOVA VACINA 5 EM 1 CONTRA A MENINGITE

NUM MOVIMENTO HISTÓRICO, A NIGÉRIA TORNOU-SE O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO A LANÇAR UMA NOVA VACINA (CHAMADA MEN5CV) RECOMENDADA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), QUE PROTEGE AS PESSOAS CONTRA CINCO ESTIRPES DA BACTÉRIA MENINGOCOCCUS. AS ACTIVIDADES DE VACINAÇÃO SÃO FINANCIADAS PELA GAVI, A ALIANÇA DE VACINAS, QUE FINANCIA O STOCK

GLOBAL DE VACINAS CONTRA A MENINGITE E APOIA OS PAÍSES DE BAIXA RENDA COM A VACINAÇÃO DE ROTINA CONTRA A MENINGITE.

ANigéria é um dos 26 países hiper endémicos de meningite de África, situado na área conhecida como “cinturão de meningite”. No ano passado, houve um salto de 50% nos casos anuais de meningite relatados em toda a África.

Na Nigéria, um surto de Neisseria meningitidis (meningococo) do serogrupo C levou a 1.742 casos suspeitos de meningite, incluindo 101 casos confirmados e 153 mortes em sete dos 36 estados nigerianos (Adamawa, Bauchi, Gombe, Jigawa, Katsina, Yobe e Zamfara), entre 1 de Outubro de 2023 e 11 de Março de 2024. Para conter o surto, uma campanha de vacinação foi realizada em 25 e 28 de Março, para atingir inicialmente mais de um milhão de pessoas com idades entre 1 e 29 anos.

“A meningite é um inimigo antigo e mortal, mas esta nova vacina tem o potencial de mudar

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NOTÍCIA NOTÍCIA

OMS/Ayodamola Olufunto Owoseye

O lançamento da nova vacina contra meningite recomendada pela OMS, chamada Men5CV, ocorreu na Nigéria em Março.

A vacina protege as pessoas contra cinco estirpes da bactéria meningococo.

a trajectória da doença, prevenindo surtos futuros e salvando muitas vidas”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. “O lançamento da Nigéria deixa-nos um passo mais perto da nossa meta de eliminar a meningite até 2030”

A nova vacina oferece um poderoso escudo contra as cinco principais estirpes da bactéria meningocócica (A, C, W, Y e X) numa única injecção. Todas as cinco estirpes causam meningite e envenenamento do sangue. Esta nova vacina proporciona uma protecção mais ampla do que a vacina actualmente usada em grande parte de África, que só é eficaz contra a cepa A.

A nova vacina tem o potencial de reduzir significativamente os casos de meningite. Isto é especialmente importante para países como a Nigéria, onde múltiplos serogrupos são prevalentes. A nova vacina usa a mesma tecnologia da vacina conjugada contra a meningite A (MenAfriVac), que eliminou a epidemia meningocócica A na Nigéria.

Esta nova vacina conjugada multivalente esteve 13 anos a ser produzida e baseou-se numa parceria entre a PATH e o Serum Institute of India. O financiamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Commonwealth e do Desenvolvimento do Governo do Reino Unido foi fundamental para o seu desenvolvimento.

Em Julho de 2023, a OMS préqualificou a nova vacina Men5CV (que tem a marca MenFive) e, em Outubro, emitiu uma recomendação oficial aos países para a introduzirem. A Gavi alocou recursos para o lançamento da Men5CV em Dezembro de 2023, que está actualmente disponível para resposta a surtos por meio do stock de emergência gerido pelo Grupo de Coordenação Internacional (ICG) sobre Fornecimento de Vacinas, enquanto o lançamento por meio de campanhas preventivas em massa deverá começar em 2025, em todos os países do “cinturão da meningite”.

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MENINGITE, UM GRANDE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA A NÍVEL MUNDIAL

A MENINGITE É UMA DOENÇA DEVASTADORA, QUE CAUSA SEQUELAS GRAVES A LONGO PRAZO E TEM

UMA ELEVADA TAXA DE LETALIDADE. CONTINUA A SER UM GRANDE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, A NÍVEL MUNDIAL. AS EPIDEMIAS DESTA DOENÇA OCORREM EM TODO O MUNDO, MAS ESPECIALMENTE NA ÁFRICA SUBSAARIANA. MUITOS MICRORGANISMOS PODEM CAUSAR MENINGITE, COMO BACTÉRIAS, VÍRUS, FUNGOS E PARASITAS. A MENINGITE BACTERIANA É PARTICULARMENTE PREOCUPANTE E CERCA DE UMA EM CADA 10 PESSOAS QUE CONTRAEM ESTE TIPO DE MENINGITE MORRE. UMA EM CADA CINCO TEM COMPLICAÇÕES GRAVES. A VACINAÇÃO É A MANEIRA MAIS EFICAZ DE FORNECER PROTECÇÃO DURADOURA.

ENTREVISTA ANÁLISE

Nos últimos 10 anos, ocorreram epidemias de meningite em todas as regiões do mundo, embora com mais frequência no “cinturão da meningite”, que se estende do Senegal, no Oeste, até a Etiópia, no Leste, e engloba 26 países da África Subsaariana.

Estas epidemias são imprevisíveis, podem perturbar gravemente os sistemas de saúde e gerar pobreza, dados os custos catastróficos para as famílias e as comunidades. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 500 milhões de africanos estão em risco de surtos sazonais de meningite, mas a doença está fora do radar há demasiado tempo.

O que é?

A meningite é uma inflamação grave das meninges, as membranas que cobrem o cérebro e a medula espinal. Geralmente, é devida a uma infecção, pode ser fatal e requer atenção médica imediata. Trata-se de uma doença devastadora e continua a ser um grande desafio para a saúde pública.

A doença pode ser causada por muitos patógenos diferentes, incluindo bactérias, fungos ou vírus, mas a maior carga global é observada com a meningite bacteriana, que pode levar à morte em menos de 24 horas. A maioria destas infecções é transmitida de pessoa para pessoa.

Várias bactérias diferentes podem causar meningite. Streptococcus pneumoniae (neumococo), Haemophilus influenzae, Streptococcus agalactiae (estreptococo do grupo B) e Neisseria meningitidis (meningococo) são as principais. Causam mais da metade das mortes por meningite em todo o mundo e podem levar a outros problemas, como sepse e pneumonia.

A N. meningitidis, que causa meningite meningocócica, é a que tem potencial para produzir grandes epidemias. Foram identificados 12 serogrupos de N. meningitidis, seis dos quais (A, B, C, W, X e Y) podem causar epidemias.

DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE, MAIS DE 500

MILHÕES DE AFRICANOS ESTÃO EM

RISCO DE SURTOS SAZONAIS DE MENINGITE, MAS A DOENÇA ESTÁ FORA DO RADAR HÁ DEMASIADO TEMPO

Existem outras bactérias que também são causas importantes de meningite: Mycobacterium tuberculosis, Salmonella, Listeria, Streptococcus e Staphylococcus. Mas também vírus, como o enterovírus e o vírus da papeira, fungos, especialmente o Cryptococcus, e parasitas, como o Amoeba, podem causar meningite.

Quais são os grupos de risco?

A meningite pode afectar qualquer pessoa de qualquer idade, mas afecta principalmente bebés, crianças em idade pré-escolar e jovens. Os recém-nascidos estão em maior risco de infecção por estreptococos do grupo B e as crianças pequenas estão em maior risco de meningococo, pneumococo e Haemophilus influenzae Adolescentes e adultos jovens estão em maior risco de infecções meningocócicas, enquanto os idosos estão em maior risco de infecções pneumocócicas.

A doença pode ocorrer em diversas situações, desde casos esporádicos, pequenos aglomerados até grandes epidemias em todo o mundo, com variações sazonais. Existe risco de meningite em todo o mundo. A distribuição geográfica e o potencial epidémico diferem de acordo com o serogrupo.

A N. meningitidis pode causar uma variedade de doenças. A doença meningocócica invasiva (DMI) refere-se à gama de doenças invasivas causadas por N. meningitidis, incluindo septicemia, artrite e meningite. Da mesma forma, a S. pneumoniae causa outras doenças invasivas, incluindo otite e pneumonia.

O risco é maior quando as pessoas estão próximas, por exemplo, em reuniões em massa, campos de refugiados, casas superlotadas ou centros de estudantes, militares ou de trabalho.

As imunodeficiências, como as causadas pela

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infecção pelo VIH ou deficiências do complemento, imunossupressão, tabagismo e exposição ao fumo do tabaco também podem aumentar o risco de diferentes tipos de meningite.

Como se transmite?

As bactérias que causam a meningite são transmitidas de pessoa para pessoa. A maioria destas, como o meningococo, o pneumococo e a Haemophilus influenzae, é transportada pelos seres humanos no nariz e na garganta e espalham-se de pessoa para pessoa através de gotículas respiratórias ou secreções da garganta.

As manifestações clínicas dos pacientes com meningite variam dependendo da causa, do curso da doença (aguda, subaguda ou crónica), do envolvimento cerebral (meningoencefalite) e das complicações sistémicas (por exemplo, sepse). Os sintomas mais comuns incluem rigidez do pescoço, febre alta, sensibilidade à luz, confusão ou estado mental alterado, dores de cabeça, náuseas e vómitos. Os sintomas menos comuns incluem convulsões, coma e deficiências neurológicas (por exemplo, perda de audição ou de visão, comprometimento cognitivo ou fraqueza dos membros).

O contacto próximo e prolongado, como beijar, espirrar ou tossir para cima de alguém ou viver próximo de uma pessoa infectada facilita a propagação da doença. O período médio de incubação é de quatro dias, mas pode variar entre dois e 10 dias.

O estreptococo do grupo B aloja-se geralmente no intestino ou vagina e é transmitido de mãe para filho no momento do parto.

MESMO COM DIAGNÓSTICO PRECOCE E

TRATAMENTO ADEQUADO, 5% A 10%

DOS PACIENTES MORRE, GERALMENTE

DENTRO DE 24 A 48 HORAS APÓS O INÍCIO DOS SINTOMAS. A MENINGITE

BACTERIANA PODE RESULTAR EM

DANOS CEREBRAIS, PERDA AUDITIVA

OU DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM 10% A 20% DOS SOBREVIVENTES

Mesmo com diagnóstico precoce e tratamento adequado, 5% a 10% dos pacientes morre, geralmente dentro de 24 a 48 horas após o início dos sintomas. A meningite bacteriana pode resultar em danos cerebrais, perda auditiva ou dificuldade de aprendizagem em 10% a 20% dos sobreviventes. Uma forma menos comum, mas ainda mais grave (e muitas vezes fatal), de doença meningocócica é a septicemia meningocócica, que se caracteriza por erupção cutânea hemorrágica e rápido colapso circulatório.

Tipos de meningite causada por vírus ou bactérias podem ter sintomas semelhantes. Os sintomas podem ser mais graves nalguns tipos de meningite do que noutros e requerem tratamento diferente.

As bactérias que causam meningite podem causar outros sintomas se infectarem a corrente sanguínea, o que pode levar rapidamente à sepse:

• Mãos e pés frios;

• Dores musculares e articulares;

• Respiração mais rápida do que o habitual;

• Diarreia;

• Erupções cutâneas vermelhas ou roxas-escuras.

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Às vezes, os bebés têm sintomas diferentes dos adultos:

• Diminuição da actividade e dificuldade em acordar;

• Irritabilidade e dificuldade em acalmar-se;

• Má alimentação;

• Rigidez ou frouxidão corporal;

• Abaulamento no topo da cabeça (fontanela).

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico inicial de meningite pode ser feito por exame clínico, seguido de punção que revele um líquido espinal purulento. A bactéria, às vezes, pode ser vista em exames microscópicos do fluido espinal. O diagnóstico é confirmado pelo crescimento da bactéria a partir de amostras de líquido ou de sangue, ou pela reacção em cadeia da polimerase (PCR).

O diagnóstico também pode ser apoiado por testes de diagnóstico rápido, como testes de aglutinação, embora os actualmente disponíveis tenham várias limitações. A identificação dos serogrupos meningocócicos e o teste de susceptibilidade aos antibióticos são importantes para definir medidas de controlo.

A doença meningocócica é potencialmente fatal e configura uma emergência médica. É necessário internamento e deve ser iniciado um tratamento antibiótico adequado o mais rapidamente possível, idealmente após a punção lombar ter sido realizada. Se o tratamento for iniciado antes da punção lombar, pode ser difícil cultivar as bactérias a partir do líquido espinal e confirmar o diagnóstico. No entanto, a confirmação do diagnóstico não deve atrasar o tratamento.

Uma série de antibióticos pode tratar a infecção, incluindo penicilina, ampicilina e ceftriaxona. Em condições epidémicas em África, em áreas com infraestruturas e recursos de saúde limitados, a ceftriaxona é, segundo a OMS, o medicamento de eleição. A administração de antibióticos a contactos próximos de pessoas com doença meningocócica, quando feita prontamente, reduz o risco de transmissão.

Em muitos países, recomenda-se localizar mães cujos bebés estão em risco de infecção estreptocócica do grupo B. Às mães em risco é oferecida penicilina intravenosa durante o trabalho de parto, para evitar que os seus bebés desenvolvam esta infecção.

Que importância tem a imunização?

As vacinas licenciadas contra a doença meningocócica estão disponíveis há mais de 40 anos. Ao longo do tempo, houve grandes melhorias na cobertura de estirpes e na disponibilidade de vacinas, mas, até à data, não existe uma vacina universal contra a doença. As vacinas podem prevenir a meningite causada por meningococos, pneumococos e Haemophilus influenzae de tipo B. São específicas do serogrupo e a protecção que conferem é de duração variável, dependendo do

tipo utilizado.

Desde 2010, uma vacina para o meningococo

A conjugada tem sido lançada através de campanhas de imunização preventiva em massa no “cinturão da meningite” da África Subsaariana, reduzindo drasticamente os casos do serogrupo

A, que representava 80% a 85% das epidemias. É essencial continuar a incluir esta vacinação nos programas de imunização de rotina e manter uma cobertura elevada para evitar novas epidemias.

Qual a resposta da OMS?

A OMS, com o apoio de muitos parceiros, lançou o roteiro global “Acabar com a meningite até 2030”, que foi adoptado em 2020. Foi a primeira resolução sobre meningite da Assembleia Mundial da Saúde, com o apoio unânime dos Estadosmembros da OMS.

A nova estratégia contra a meningite visa salvar mais de 200 mil vidas por ano. Embora o roteiro aborde todas as meningites, independentemente da causa, centra-se principalmente nas principais causas da meningite bacteriana aguda (meningococo, pneumococo, Haemophilus influenzae e estreptococo do grupo B), que foram responsáveis por mais de 50% das 250 mil mortes por meningite por todas as causas em 2019, causando outras doenças invasivas, como sepses e pneumonia.

O roteiro define uma visão global rumo a um mundo sem meningite e tem três objectivos:

• eliminar epidemias de meningite bacteriana;

• reduzir em 50% o número de casos de meningite bacteriana evitável por vacinação e de mortes em 70%;

• reduzir a incapacidade e melhorar a qualidade de vida após a meningite por qualquer causa.

O novo roteiro detalha as prioridades para a resposta e prevenção da meningite, nomeadamente:

• alcançar uma elevada cobertura vacinal, desenvolver novas vacinas a preços acessíveis e melhorar as estratégias de prevenção e resposta a surtos;

• diagnóstico rápido e tratamento ideal dos pacientes;

• bons dados para orientar os esforços de prevenção e controlo;

• cuidados e apoio às pessoas afectadas, centrando-se no reconhecimento precoce e na melhoria do acesso aos cuidados e ao apoio em caso de sequelas;

• defesa e compromisso para garantir uma elevada consciencialização sobre a meningite, responsabilização perante os planos nacionais e afirmação do direito à prevenção, aos cuidados e aos serviços de pós-tratamento.

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COLABORAÇÃO PARA REDUZIR A MORTALIDADE POR MENINGITE NA PROVÍNCIA DO HUAMBO

Aintervenção do Soba Moma é fruto de uma colaboração crucial entre a OMS, o Ministério da Saúde de Angola e a União Europeia para travar um aumento alarmante de casos de meningite na província do Huambo, no ano passado, reduzir as taxas de mortalidade e aumentar a capacidade de cuidados de saúde. Este líder tradicional do bairro Benfica tem vindo a interagir com os residentes e a distribuir panfletos. A sua missão é clara: garantir que toda a gente está bem informada sobre o surto de meningite que está a afectar a província e que nenhuma criança doente esteja em casa sem supervisão, quando deveria estar no hospital.

ENTRE JANEIRO E DEZEMBRO DE 2023, ANGOLA REGISTOU UM AUMENTO SIGNIFICATIVO DE CASOS SUSPEITOS DE MENINGITE, COM 68.169 CASOS E 169 MORTES. A ALTA TAXA DE LETALIDADE DE 40% ENTRE OS 336 CASOS NOTIFICADOS NA PROVÍNCIA DO HUAMBO

SIGNIFICA QUE FOI RESPONSÁVEL POR QUASE 80% DAS MORTES EM TODO O PAÍS. PARA REDUZIR ESTE FARDO, A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) TEM APOSTADO NA COLABORAÇÃO COM A COMUNIDADE, ENVOLVENDO LÍDERES TRACIONAIS, COMO SOBA ARÃO MOMA, NO HUAMBO, PARA A SENSIBILIZAÇÃO DA POPULAÇÃO.

De um modo geral, a província do Huambo tem sido o foco de intervenção para controlar um possível surto no país, uma vez que entre Janeiro e Dezembro de 2023, Angola registou um aumento significativo de casos suspeitos de meningite, com 68.169 casos e 169 óbitos, dos quais 336 casos foram notificados na província do Huambo, com uma taxa de mortalidade superior a 40%. Esta taxa de mortalidade é relativamente elevada quando comparada com o número médio de óbitos registados nos países considerados parte do “cinturão da meningite”, na região africana da OMS, do qual Angola não faz parte.

Entre Janeiro e Maio de 2023, a província registou 103 casos de meningite, resultando em 42 mortes, com uma taxa de mortalidade preocupante de 41%. De acordo com a OMS, a escassez de medicamentos, de pessoal de saúde e unidades de saúde exacerbou o surto de meningite na província do Huambo.

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NOTÍCIA NOTÍCIA

Para garantir uma resposta eficaz e proteger as populações de alto risco, uma missão de resposta conjunta de 20 dias no Huambo teve como objectivo melhorar a funcionalidade do sistema de saúde local, melhorar as infra-estruturas e a disponibilidade de medicamentos e reforçar os recursos humanos.

Resultados

Os resultados significativos dos esforços conjuntos incluíram a formação de 37 técnicos de saúde em comunicação de risco e envolvimento da comunidade, a formação de 30 jornalistas sobre como comunicar para a prevenção e resposta à meningite, o envolvimento de 595 líderes comunitários e a formação de 1.548 mobilizadores sociais e líderes comunitários, à semelhança de Soba Moma, para disseminar amplamente mensagens críticas. “Nunca nos cansámos de andar pelas ruas, apaixonados por transmitir mensagens chave a todos de que, se tivessem sintomas de meningite, deveriam procurar assistência imediata na unidade de saúde mais próxima”, recordou Soba Moma.

Os especialistas apoiaram iniciativas locais de educação sobre a meningite, identificaram grupos de alto risco e defenderam junto dos líderes locais a divulgação de mensagens cruciais, ao mesmo tempo que realizaram avaliações para investigar rapidamente os factores sociais com impacto na prevenção da meningite. “Pudemos realmente contar com o apoio da Direcção de Saúde Pública a

É de manhã cedo, mas Soba Arão Moma, um líder tradicional do bairro Benfica, na província do Huambo, já está a interagir com os residentes e a distribuir panfletos. A sua missão é garantir que toda a gente está bem informada sobre o surto de meningite que está a afectar a província

Foto OMS

este respeito, com a excelente parceria da OMS”, afirmou o director provincial da Saúde, Dr. Lucas Yamba.

Através de esforços de colaboração envolvendo a comunidade, as igrejas e as autoridades tradicionais, a informação sobre a prevenção e o tratamento da meningite foi amplamente divulgada nas unidades de saúde e nas comunidades. “Demos palestras nas igrejas aos sábados e domingos, enquanto aqui [no centro de saúde], em cada uma das áreas de serviço, os nossos utentes também receberam informações sobre a meningite”, disse Martins Canuela, um técnico da unidade de saúde de Benfica Baixo.

De acordo com o Dr. Lucas Yamba, devido ao esforço para controlar o surto, as taxas de mortalidade por meningite, nos últimos meses de 2023, diminuíram de 53% para 35%.

Embora tenham sido dados passos significativos para enfrentar a crise da meningite no Huambo, incluindo o aumento da sensibilização e a redução das taxas de mortalidade, o apoio contínuo foi crucial para manter estes resultados, notou o Dr. Yoti Zabulon, representante interino da OMS em Angola. “Continuando a trabalhar em conjunto e a alavancar parcerias, podemos garantir que todas as comunidades têm acesso a serviços de saúde de qualidade e podem gerir eficazmente doenças evitáveis como a meningite”, concluiu.

MUNDO DESPERDIÇA MAIS DE MIL MILHÕES DE REFEIÇÕES POR DIA

AS FAMÍLIAS EM TODOS OS CONTINENTES DESPERDIÇARAM MAIS DE MIL MILHÕES DE REFEIÇÕES POR DIA, EM 2022, ENQUANTO 783 MILHÕES DE PESSOAS FORAM AFECTADAS PELA FOME E UM TERÇO DA HUMANIDADE ENFRENTOU A INSEGURANÇA ALIMENTAR. O DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS CONTINUA A PREJUDICAR A ECONOMIA

GLOBAL E A IMPULSIONAR AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, A PERDA DE BIODIVERSIDADE E A POLUIÇÃO. ESTAS SÃO AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DE UM RELATÓRIO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O AMBIENTE (PNUA), PUBLICADO ANTES DO DIA INTERNACIONAL DO DESPERDÍCIO ZERO.

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ENTREVISTA RUBRICA AMBIENTAL

ORelatório do Índice de Desperdício Alimentar 2024 do PNUA, em co-autoria com a WRAP, fornece a estimativa global mais precisa sobre o desperdício de alimentos, assim como orientações aos países sobre como melhorar a recolha de dados, e sugere boas práticas na transição da medição para a redução do desperdício alimentar.

Em 2022, foram gerados 1,05 mil milhões de toneladas de resíduos alimentares (incluindo partes não comestíveis), o que equivale a 132 quilogramas per capita e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. Do total de alimentos desperdiçados, 60% aconteceu no nível doméstico, sendo os serviços de alimentação responsáveis por 28% e o retalho por 12%.

“O desperdício alimentar é uma tragédia mundial. Milhões de pessoas passarão fome, à medida que os alimentos forem desperdiçados em todo o mundo”, nota Inger Andersen, directora executiva do PNUA. “Não só esta é uma grande questão de desenvolvimento, mas os impactos desses resíduos desnecessários estão a causar custos substanciais para o clima e a natureza. A boa notícia é que sabemos que, se os países priorizarem essa questão, poderão reverter significativamente a perda e o desperdício de

alimentos, reduzir os impactos climáticos e as perdas económicas e acelerar o progresso nas metas globais”

Muitos países de baixo e médio rendimento continuam a carecer de sistemas adequados para acompanhar os progressos realizados com vista ao cumprimento do Objectivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3 de reduzir para metade o desperdício alimentar até 2030.

Apenas quatro países do G20 (Austrália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América) e a União Europeia têm estimativas de desperdício alimentar adequadas para acompanhar os progressos.

Um problema de todos

Os dados confirmam que o desperdício alimentar não é apenas um problema dos “países ricos”, com os níveis de desperdício alimentar doméstico a diferirem em apenas sete quilogramas per capita nos níveis médios observados nos países de rendimento elevado, médio-alto e médio-baixo.

Ao mesmo tempo, os países mais quentes parecem gerar mais desperdício alimentar per capita nos agregados familiares, potencialmente devido a um maior consumo de alimentos frescos com partes substanciais não comestíveis e à falta de cadeias de frio robustas.

De acordo com dados recentes, a perda e o desperdício de alimentos geram 8% a 10% das emissões globais anuais de gases com efeito de estufa (GEE) – quase cinco vezes superiores às do sector da aviação – e uma perda significativa de biodiversidade, ao ocuparem o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo. O impacto da perda e do desperdício de alimentos na economia mundial é estimado em cerca de um bilião de dólares

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COMPETÊNCIAS

Logística e Distribuição Farmacêutica

Soluções de Diagnóstico

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Gastáveis clínicos e hospitalares

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