Bibliologia
Prof.ยบ Lucas Roberto
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Sumário Unidade 1 – Apresentação à Bíblia ....................................... 01 -
Introdução Composição Apócrifos Cânon
Unidade 2 – Revelação geral e especial ................................. 07 -
Revelação geral (as pegadas de Deus) Revelação especial O Poder da Revelação especial Preservação das Escrituras
Unidade 3 – A Inspiração e autoridade das Escrituras ...........13 - Inspiração das Escrituras - Iluminação
Unidade 4 – Suficiência das Escrituras ................................ 18 - A autoridade das Escrituras - A suficiência das Escrituras - Conclusão
Unidade 1 - Apresentação à Bíblia Introdução A Bíblia é um livro único, não há nenhum outro igual a ela. Nesta matéria estudaremos algumas características e peculiaridades da Bíblia desde a Sua composição até sua natureza divina. Sendo nosso guia de vida, precisamos conhecê-la e estudá-la; portanto, desde já, recomendo que você comece a ler sua Bíblia de capa a capa, para navegar em nossos cursos sempre tendo a Bíblia como seu padrão de julgamento do que for dito. Composição A palavra Bíblia significa simplesmente “livros”, pois ela é uma coleção de 66 livros divididos em duas grandes partes, das quais chamamos de Antigo (ou Velho) Testamento e Novo Testamento. O Antigo Testamento consiste em 39 livros, que estão na seguinte ordem: Leis: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio; conhecidos também como Pentateuco que significa “os cinco rolos” (porque os livros eram escritos em folhas largas que eram enroladas), os 5 primeiros livros foram escritos por Moisés. Nesta subdivisão conta-se desde a criação até o começo da antiga nação de Israel. Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester. Escrito por diversos autores, esta seção conta sobre a entrada de Israel na Terra Prometida, sua destruição e retorno do exílio Babilônico. Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico de Salomão (ou Cantares). Nesta parte, há hinos cantados pelo povo de Israel louvando a Deus, pensamentos e reflexões sobre a vida e como Deus deve ser o nosso tesouro acima de tudo. Profetas: Subdividido entre maiores e menores, por causa do tamanho dos livros. Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel. Menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Neles há exortações, correções e promessas de renovação ao povo de Israel, e descrições do Messias vindouro. Eles pertencem ao período que vai desde antes do cativeiro babilônico até o retorno do povo à Jerusalém, após o exílio. O Novo Testamento consiste em 27 livros, sequenciados da seguinte forma: Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Os evangelhos retratam a vida de Jesus, focalizando no Seu curto ministério de 3 anos na Terra. Cada evangelista retrata a história de pontos de vista diferentes, que juntos, completam um quadro maior. Os três primeiros evangelhos, por retratarem
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praticamente as mesmas histórias, são chamados de Sinópticos (palavra relacionada a sinopse ou enredo). Histórico: Atos. Escrito pelo evangelista Lucas (autor do evangelho com seu nome), podemos considerar o livro de Atos como sendo a continuação do evangelho de Lucas. Este livro conta a história da igreja primitiva, o derramar do Espírito Santo, e a extensão da pregação do evangelho, em Jerusalém, Judéia, Samaria e o mundo ao redor, cumprindo a ordem de Jesus. Cartas Paulinas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus (possivelmente). Cartas de Paulo endereçadas a igrejas e pessoas específicas, tratando de problemas que havia e/ou aconselhando, fortalecendo espiritualmente, expondo as verdadeiras doutrinas cristãs. Epístolas Gerais: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, e 3 João, Judas. Cartas escritas por líderes da Igreja, as quais tem seus nomes respectivamente, endereçadas às igrejas em geral. Profético: Apocalipse. Visões proféticas dadas ao apóstolo João com o propósito de consolar os cristãos que eram perseguidos, mostrando que Jesus é o Senhor da história e que nada escapa do Seu controle. Ao todo, a Bíblia demorou, cerca de, 1500 anos para ser completada (tendo Moisés, o primeiro autor, vivido no século 15 antes de Cristo [a.C.] e João, o último autor, vivido no século 1 depois de Cristo [d.C.]). Sendo escrita por cerca de 40 autores, a Bíblia foi escrita originalmente nos idiomas Hebraico, Aramaico e Grego. Não possuímos os manuscritos originais dos livros, porém temos o maior número de cópias em diversos idiomas, que superam incomparavelmente as demais obras antigas. Apócrifos Existem livros que são chamados de apócrifos que significa, literalmente, oculto. São livros de caráter religioso, muitos de autoria falsificada, que tentam se passar por Palavra de Deus. Tais livros são referentes a dois períodos, o período interbíblico e o período apostólico. Vejamos mais detalhadamente sobre eles: Período interbíblico: Como vimos, a Bíblia é dividida entre dois testamentos. Há um espaço de, aproximadamente, 400 anos entre o último livro do Antigo Testamento, Malaquias, e o primeiro do Novo, Mateus. Este intervalo de tempo também é conhecido como 400 anos do silêncio de Deus, pois não houve profeta de Deus entre Malaquias e João Batista. Nesta época surgiram 7 livros que foram usados pelos judeus como tendo valor histórico, mas todos os judeus estavam de acordo que eles não eram inspirados, como os livros de Moisés e os demais. Esses livros são: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico (também chamado
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Sirácide ou Ben Sirá), Baruc (ou Baruque), seis capítulos e dez versículos acrescentados no livro de Ester e sessenta e sete versículos e dois capítulos de Daniel - nomeadamente os episódios da História de Susana e Bel e o dragão. Bem depois, a Igreja Romana (vulgarmente conhecida como “católica”) declarou estes 7 livros, e os capítulos adicionais, como de mesma autoridade dos demais 66 livros, chamando-os de deuterocanônicos que significa “segundo cânon”, ou seja, foram canonizados em tempo tardio (mais à frente, falaremos sobre o cânon). Uma das grandes razões, talvez a principal delas, porque nós evangélicos rejeitamos os apócrifos, é devido à grande quantidade de heresias que tais livros apresentam (heresia é uma doutrina contrária ao ensino bíblico). Fora isso, existem também lendas absurdas e fictícias e graves erros históricos e geográficos, o que fazem os Apócrifos serem desqualificados como palavra de Deus. A seguir daremos um resumo de cada livro e logo a seguir mostraremos seus graves erros. Tobias - (200 a.C.) - É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns milagres feitos pelo anjo Rafael. Apresenta: • Justificação pelas obras (4:7-11; 12:8) • Mediação dos santos (12:12) • Superstições (6:5, 7-9, 19) • Um anjo engana Tobias e o ensina a mentir (5:16 a 19) Judite - (150 a.C.) É a História de uma heroína viúva e formosa, que salva sua cidade enganando um general inimigo e decapitando-o. A grande heresia é a própria história onde os fins justificam os meios. Baruque - (100 d.C.) - Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus sobre a destruição de Jerusalém. Porém, é de data muito posterior, nos tempos da segunda destruição de Jerusalém, no período pós-Cristo. Traz entre outras coisas, a intercessão pelos mortos (3:4). Eclesiástico - (180 a.C.) - É muito semelhante ao livro de Provérbios, se não fosse tantas heresias: • Justificação pelas obras (3:33, 34) • Maus-tratos de escravos (33:26 e 30; 42:1 e 5) • Incentiva o ódio aos samaritanos (50:27 e 28) Sabedoria de Salomão - (40 d.C.) - Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e idolatria do epicurismo (filosofia grega na era Cristã). Apresenta:
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• • •
O corpo como prisão da alma (9:15) Doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma (8:19 e 20) Salvação pela sabedoria (9:19)
1 Macabeus - (100 a.C.) - Descreve a história de 3 irmãos da família "Macabeu", que no chamado período interbíblico lutam contra inimigos dos judeus visando a preservação do seu povo e terra. 2 Macabeus - (100 a.C.) - Não é a continuação do 1 Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta: • A oração pelos mortos (12:44-46) • Culto e missa pelos mortos (12:43) • O próprio autor não se julga inspirado (15:38-40; 2:25-27) • Intercessão pelos santos (7:28 e 15:14) Adições a Daniel: Capítulo 3:24-90 - o cântico dos 3 jovens na fornalha. Capítulo 13 - A história de Suzana - segundo esta lenda, Daniel salva Suzana num julgamento fictício baseado em falsos testemunhos. Capítulo 14 - Bel e o Dragão - Contém histórias sobre a necessidade da idolatria. Período apostólico: Os livros deste período são descartados como inspirados tanto pelo catolicismo quanto pelo protestantismo. Houve diversos escritos judaicos que eram atribuídos a personagens bíblicos famosos, porém tais escritos foram produzidos muito depois da morte dos supostos autores. Mas os escritos mais perigosos vieram de uma heresia chamada gnosticismo que vem do termo “conhecimento”. Era um aglomerado de ideias e ensinos que divergiram entre si em muitas questões, mas tinham outros elementos em comum. Entre esses elementos em comum, contavam-se: primeiro, uma atitude negativa para com o mundo material, de modo que a “salvação” consistia em escapar da matéria; segundo, a ideia de que essa salvação era obtida mediante um conhecimento especial, pela qual o fiel podia escapar deste mundo e subir ao mundo espiritual. Nem todos os gnósticos eram cristãos. Entre os cristãos, porém, o gnosticismo ameaçava a fé em vários pontos fundamentais: negava a criação, que diz que este mundo é a boa obra de Deus; negava a encarnação, que diz que o próprio Deus se fez carne física (esta doutrina, de que Jesus não tinha corpo verdadeiro como o nosso, é chamado “docetismo”); e negava a ressurreição final, que diz que na vida eterna teremos corpos. Além disso eram dualistas entre espírito e matéria; como resultado, era dito que qualquer coisa feita no corpo, inclusive os piores pecados, não
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tinham valor algum, pois a verdadeira vida é o reino espiritual. Essa visão é baseada no argumento de que a matéria é essencialmente perversa e o espírito bom, sendo assim, Cristo não teria encarnado. O apóstolo João refuta essa heresia em 1 João 4:1-3 “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo”; além disso, o apóstolo João refuta corriqueiramente, no evangelho e epístolas, o gnosticismo, que já estava se desenvolvendo. Este movimento criou falsos evangelhos que ainda hoje trazem confusão, como: Evangelho de Eva, Evangelho de Judas (o qual relata que Jesus pediu a Judas para traí-lo, apresentando-o como um herói, que obedeceu seu mestre), Evangelho de Maria Madalena (que inspirou o livro “O Código Da Vinci”, dizendo que Jesus tinha um caso com Maria Madalena), Evangelho de Matias, Evangelho de Tomás (ou Quinto Evangelho), Evangelho da Verdade, Sabedoria (Sofia) de Jesus Cristo etc. Todos eles contendo discrepâncias doutrinárias e invenções. Todos esses livros foram rejeitados, pois não cumpriam as exigências que um livro precisa ter para ser considerado canônico. Cânon Os 66 livros, que formam a Bíblia, são chamados de canônicos; o termo cânon vem do termo grego que significa “vara de medir”, ou seja, os livros canônicos são nossa vara de medir a verdade. A questão que surge é: quais foram os critérios usados para se afirmar que esses 66 livros são a Palavra de Deus? É certo que a Bíblia nem sempre existiu como a conhecemos, e foi necessário distinguir os livros inspirados por Deus dos demais, sejam eles literaturas comuns ou escritos de seitas que tentaram se passar por inspirados. Na época de Cristo, o Antigo Testamento já estava pronto e havia um consenso entre os judeus de quais livros eram de autoridade divina, tanto que Jesus diz que o Antigo Testamento (chamado de Escrituras) apontava para Sua vinda em carne (Jo 5:39) e que Ele veio cumpri-la (Mt 5:17; Lc 24:27), nestas duas passagens Ele é mais específico, se referindo ao Antigo Testamento como “lei e os profetas”. Então foi fácil estabelecer o Antigo Testamento, pois os cristãos apenas usaram os escritos que já eram reconhecidos pelos judeus e pelo próprio Cristo. O Novo Testamento foi um processo mais demorado e difícil, diante de heresias que surgiam na época da igreja primitiva, foi necessário estabelecer quais livros eram inspirados por Deus e quais não. Sendo assim, foi-se usado alguns critérios para saber se o livro era autêntico ou não:
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1) O autor foi um apóstolo, ou teve uma estreita ligação com algum apóstolo? 2) O livro é aceito pelo Corpo de Cristo (Igreja) como um todo? 3) O conteúdo do livro é de consistência doutrinária e ensino apostólico? 4) Este livro contém provas de alta moral e valores espirituais que reflitam a obra do Espírito Santo? Embora alguns livros tenham sido mais disputados sobre sua autoridade, desde o 3º século já havia o consenso dos 27 livros que temos em nossa Bíblia. Vale ressaltar que não foi a Igreja que decidiu quais livros deveriam ser incluídos, a Igreja apenas os reconheceu. É muito importante esclarecer isto, para não cairmos no erro de crer que a Igreja tem poder de adulterar a Bíblia, por ter autoridade acima das Escrituras. Não, a Bíblia é a suprema autoridade. Além disso, temos que o cânon está completo, ou seja, Deus propôs antes de criar todas as coisas, se revelar a suas criaturas aos poucos, sendo sua máxima e última revelação Jesus Cristo, pois este não trouxe apenas a Palavra de Deus – como os demais profetas – Ele próprio é a Palavra de Deus (Jo 1), sendo o próprio Deus encarnado. Sendo assim, tudo o que Deus quis revelar sobre si a nós, foi revelado em Jesus; por isso que os apóstolos se referiam aos seus dias como os “últimos dias” ou “últimos tempos” (Hb 1:1). Também é dito que a Igreja está edificada sobre o alicerce dos profetas e apóstolos (Ef 2:20; Ap 21:14) e que a fé apostólica foi entregue de uma vez por todas aos santos (nós) (Jd 3). Temos em Apocalipse (que significa Revelação) a revelação final do Cristo vitorioso que governa todas as coisas e é o Senhor da História. Por isso, Paulo deixa claro que toda revelação (doutrina) nova – seja vinda de anjos ou supostos profetas e apóstolos - que queira ir além dos escritos apostólicos é maldita (Gl 1:8-9). Nisto vemos que a Bíblia é suficiente para guiar nossas vidas, e possui lugar acima de qualquer outro livro. Falaremos mais desta sublime revelação na próxima unidade.
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Unidade 2 – Revelação geral e especial Deus é um ser único, distinto de tudo o que existe, pois tudo é criação d’Ele. Sendo assim, não podemos saber nada a Seu respeito, caso Ele não revele a nós. Deus se revela a nós de duas formas: na Sua criação (que chamamos de revelação geral) e na Bíblia (também chamada de revelação especial); embora nosso foco seja a Bíblia, falaremos um pouco a respeito de Sua revelação na natureza. Revelação geral (as pegadas de Deus) Esta revelação é chamada de “geral” por dois motivos: 1 – É geral, no sentido que alcança todos os povos. 2 – É geral, no sentido que apresenta apenas atributos gerais de Deus; não nos falando nada a respeito da redenção, trindade ou de Cristo. A revelação geral consiste no que podemos chamar de “pegadas de Deus” na criação. O salmo 19 retrata de forma clara isso: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” (v.1). Gosto desse termo “pegadas de Deus”, porque assim como um artista assina sua obra para mostrar que ele a fez, assim também Deus fez com a natureza, temos assinaturas (ou pegadas) espalhadas por toda a parte que testificam que temos um Criador. Deus, através da natureza, dá evidências de sua existência por diversos meios. Citaremos 3 evidências do nosso cotidiano que, quando paramos e refletimos a respeito, compreendemos que há um Deus, criador de todas as coisas. 1. A nossa existência: Por que alguma coisa existe, ao invés de nada? Já parou para pensar a respeito? Todo este universo complexo, precisa de uma causa. Se estivéssemos no meio de uma floresta e víssemos uma casa e, entrando nessa casa, houvesse um bolo em cima da mesa; a primeira coisa que faríamos é descobrir de quem é aquela casa e quem fez o bolo, pois é óbvio que aquela casa e aquele bolo não surgiram do nada, alguém os fez. Desta mesma forma, alguém nos fez, alguém criou essa imensa diversidade e variação de animais, plantas e pessoas. Nós somos muito mais complexos do que um simples bolo, com isso, concluímos que fomos criados por um ser inteligente. 2. Ética: Uma das coisas que nos separa dos animais, é que temos uma lei ética que nos rege, por ela julgamos o certo e o errado, bem e mal, moral e imoral. Esse padrão, pelo qual julgamos, não está baseado em algum governo, lei estadual ou qualquer outro fator artificial. Essa lei é universal e está presente em todos da raça humana, sendo assim, compreendemos que esta lei vem de algo (ou alguém) que está acima
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de nós; lendo a Bíblia, reconhecemos que esta lei vem do caráter de Deus, que nos comunicou esses valores quando nos fez sua imagem e semelhança. É lógico que muitas vezes desobedecemos esta lei, contudo isso não significa que ela não exista, mas que estamos num estado caído, em pecado. Mesmo o pecado tendo corrompido a imagem de Deus em nós, ainda ela permanece, mesmo que fragmentada, e a percebemos, a defendendo, quando somos a parte prejudicada de determinadas circunstâncias. Não gostamos que mintam para nós, nem nos agridam, nem nos roubem, pois temos isso como errado. Vou retratar isso de forma mais clara, através de uma parábola. Um professor, que estava lecionando um curso de ética, pediu um trabalho de final de semestre a seus alunos. Ele disse que os alunos deveriam escrever sobre qualquer aspecto ético de sua escolha, pedindo apenas que cada qual respaldasse adequadamente sua tese com justificativas e provas autênticas. Um dos alunos, ateu, escreveu de maneira eloquente sobre a questão do relativismo moral. Ele argumentou da seguinte maneira: “Toda moralidade é relativa; não existe um padrão absoluto de justiça ou retidão; tudo é uma questão de opinião: você gosta de chocolate, eu gosto de baunilha” e assim por diante. Seu trabalho apresentou tanto suas justificativas quanto as provas comprobatórias exigidas. Tinha o tamanho certo, foi concluído na data e entregue numa elegante capa azul. Depois de ler todo o trabalho, o professor escreveu bem na capa: “Nota zero; não gosto de capas azuis!”. Quando recebeu seu trabalho de volta, o aluno ficou enfurecido. Foi correndo até a sala do professor e protestou: — “Nota zero; não gosto de capas azuis? Isso não é justo! Isso não é certo! Você não avaliou o trabalho pelos seus méritos!”. Levantando a mão para acalmar o irado aluno, o professor calmamente respondeu: — Espere um minuto. Fique calmo. Eu leio muitos trabalhos. Deixe-me ver... seu trabalho não foi aquele que dizia que não existe essa coisa de justiça, retidão? — Sim — respondeu o aluno. — Então que história é essa de você vir até aqui e dizer que isso não é justo, que não é certo? — perguntou o professor — Seu trabalho não argumentou que tudo é uma questão de gosto? Você gosta de chocolate, eu gosto de baunilha? — Sim, essa é a minha ideia — respondeu o aluno.
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— Então, está tudo certo — respondeu o professor. Eu não gosto de azul. Sua nota é zero! De repente, o aluno compreendeu. Ele percebeu que, na realidade, acreditava nos absolutos morais. Acreditava pelo menos na justiça. Além do mais, estava acusando seu professor de injustiça por dar-lhe uma nota zero baseando-se apenas na cor da capa. Esse fato simples destruiu toda a sua defesa do relativismo moral. 3. Busca pela beleza e verdade: Duas coisas que buscamos e sempre avaliamos, mas nunca conseguimos definir são: beleza e verdade. Tente definir o que é beleza? E o que é verdade? É muito mais fácil julgar algo belo ou verdadeiro, do que tentar defini-los. Quando paramos para assistir o pôr-do-sol ou apreciar uma canção que nos toca, estamos apreciando padrões estéticos que nos satisfazem. Quando nos casamos, queremos que nosso parceiro seja verdadeiro conosco e que não minta sobre algo. Esse anseio que temos pela verdade e pela beleza não consegue ser suprido aqui nesta terra, pois a beleza e verdade daqui são limitadas. Este desejo e possibilidade de julgar o que é belo e verdadeiro está embasado na máxima beleza e verdade, que está numa realidade diferente da nossa. E essa máxima beleza e verdade nada mais é do que o próprio Deus, e devemos ter prazer n’Ele, pelo o que Ele é em Si, pois só então estaremos satisfeitos. Esta revelação, por si só, não é suficiente para a salvação, mas apenas para condenação, como o apóstolo Paulo diz em Romanos 1:18-20, que embora Deus manifeste seus atributos invisíveis na criação visível, nós distorcemos tal conhecimento em idolatria (neste caso, adorando a natureza ao invés do Seu criador). Idolatria é tudo que tenta ser o alvo substituto de nosso prazer, pois devemos nos regozijar unicamente em Deus, nosso criador. Mas, devido a nossa natureza caída, somos uma fábrica de ídolos, tudo passa a ser nosso deus. Por isso Deus se revelou de forma clara na Bíblia, também conhecida como revelação especial. Revelação especial Não sendo a revelação natural suficiente para salvar o homem, por causa da cegueira causada pela queda, agradou a Deus revelar-se diretamente à igreja. Esta revelação, ao contrário da primeira, não é geral, pois não são todos que ouvirão sobre Cristo; muito menos serão aqueles que se apropriarão das verdades contidas nela, apenas os cristãos poderão entender e ver essa revelação de forma clara, sem distorção. Isso não anula o Ide de Mateus 28:19 e Marcos 16:15, pelo contrário, deve acender em
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nós a chama de evangelizarmos, para que mais pessoas tenham acesso a tais verdades. Consequentemente, Deus preparou um povo, Israel, na antiga aliança, e a igreja, na nova aliança, para revelar-lhes diretamente o conhecimento necessário à salvação. De modo direto e sobrenatural, por meio do seu Espírito, através de revelação direta, manifestações físicas de Deus, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas e pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à igreja, durante os séculos, as verdades necessárias à salvação, as quais, de outro modo, seriam inacessíveis ao homem. Ou seja, a cada livro Deus nos ensina algo a mais sobre Si, mais luz nos é dada sobre as verdades de quem somos e como precisamos de salvação, quem Deus é, o que faz, e como nos providenciou um substituto para Sua glória. Por isso devemos ler a Bíblia sequencialmente, pois apesar de ter sido escrita por cerca de 40 escritores, Ela possuiu apenas um autor, o próprio Deus. Assim, Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos profetas, a Davi, a Salomão, aos seus apóstolos e, especialmente, revelou-se em Cristo. É a isso que o autor da Epístola aos Hebreus se refere, quando afirma que: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” (Hb 1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus. É dessa revelação que o apóstolo Paulo fala na sua carta endereçada aos gálatas: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1:11-12). Tendo em vista a insuficiência da revelação natural e a absoluta necessidade da revelação especial, Deus ordenou que essa revelação fosse toda escrita, a fim de que pudesse ser preservada e permanecesse disponível, para a conquista e êxito dos seus propósitos eternos. Deus conhece perfeitamente a natureza humana corrompida. Ele conhece também a malícia de Satanás, bem como a perversão do mundo. Ele sabe que revelar a sua vontade à igreja não seria suficiente, pois ela seria fatalmente corrompida e distorcida. Basta observar as tradições religiosas, mesmo as ditas cristãs - como são atraídas ao erro! A revelação de Deus aconteceu por meio do processo histórico. O centro dessa revelação veio na pessoa de Cristo, sua encarnação, sua vida, sua morte e sua ascensão; esses eventos ocorreram uma única vez. Eles não se repetem. Eles se tornaram uma parte da história humana, e devem ser transmitidos à humanidade. Nisso vemos a necessidade transmitir essa revelação, em sua plenitude, de forma escrita. Somente assim ela pode atingir toda a humanidade. Portanto, a Palavra escrita foi o meio escolhido por Deus para revelar a sua vontade ao homem, ela não pode ser dispensada, igualada,
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acrescentada nem suplantada. Nem o Espírito agiria em contrário ou à parte dela, mas com e por ela. É neste sentido que as Escrituras são necessárias e indispensáveis para a comunicação das verdades imprescindíveis à salvação. À igreja de Deus, portanto, foi confiada a Palavra de Deus: a revelação especial, inspirada, clara, precisa, autoritativa e suficiente para ensinar ao homem o que ele deve conhecer e crer, e o que dele é requerido, com vistas à sua própria salvação e à glória de Deus. O Poder da Revelação especial A Palavra de Deus tem o poder de transmitir vida àqueles que a recebem. O Salmo 19:7 diz que "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma..." e no versículo 8 diz que "Os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração..." Somente algo que tem vida pode transmitir vida, e por isso mesmo somente a Bíblia, e nenhum outro livro pode fazê-lo, pois seu autor é o Príncipe da Vida (At 3:15). A Palavra de Deus é como um nutritivo alimento, que fornece forças (1 Pe 2:2; Mt 4:4). Paulo escrevendo aos tessalonicenses, revela sua gratidão a Deus por haverem eles recebido a Palavra de Deus a qual estava operando eficazmente neles (1 Ts 2:13). Paulo conhecia o poder da Palavra de Deus, por isso recomendou aos anciãos da igreja que a observassem porque ela "pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados." (At 20:32; Jo 5:39). 1) É eficaz na regeneração: Comparada com a "água" (Jo 3:5; Ef 5:26), a Palavra de Deus tem poder para regenerar, pois o Espírito Santo a usa na realização do novo nascimento (1 Pe1:23; Tt 3:5; Jo 15:3; Ez 36:25-27; Jo 6:63; Tg 1:18,21; 1 Co 4:15; Rm 1:16). 2) É eficaz na santificação: A Palavra de Deus tem poder para santificar (Jo 17:17; Ef 5:26; Ez 36:25,27; 2 Pe 1:4; Sl 37:31; 119:11). Com efeito, a santificação é pela fé (At 15:9 e 26:18) e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm 10:17). 3) É eficaz na edificação: A Palavra de Deus tem poder para edificar (1 Pe 2:2; At 20:32; 2 Pe 3:18). Preservação das Escrituras É a operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita, com base na aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra Eterna (Sl 119:89,152; Mt 24:35; 1 Pe 1:23; Jo 10:35). Os céus e a terra passarão (Hb 12:26,27; 2 Pe 3:10) mas a Palavra de Deus permanecerá (Mt 24:35; Hb 12:28; Is 40:8; 2 Pe 1:19). A preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação e formação do cânon, não foi acidental, nem incidental, mas sim o cumprimento de uma promessa divina. A Bíblia é eterna, ela permanece
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porque nenhuma Palavra que o Senhor tenha dito pode ser removida ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho divino pode passar até que seja cumprido. "Quando pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável perseguição, a maravilha da sua sobrevivência se transforma em milagre... Por dois mil anos, o ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável e assassino. Todo esforço possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração e autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para fazê-la desaparecer. Decretos imperiais têm sido passados, ordenando que todas as cópias existentes da Bíblia fossem destruídas, e quando essa medida não conseguiu exterminar e aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que qualquer pessoa que fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse morta." (Arthur W. Pink - The Divine Inspiration of the Bible [A Inspiração Divina da Bíblia]).
A Bíblia permanece até hoje porque o próprio Deus tem se empenhado em preservá-la. Quando o rei Jeoiaquim queimou um rolo das Escrituras, Deus mesmo determinou a Jeremias que rescrevesse as palavras que haviam sido queimadas (Jr 36:27,28), e ainda determinou maldições sobre o rei, por haver tentado destruir a Palavra de Deus (Jr 36:29,31). Ademais Deus acrescentou ao segundo rolo outras palavras que não se encontravam no primeiro (Jr 36:32), pois a Palavra de Deus sempre há de prevalecer sobre a palavra do homem (Jr 44:17,28; At 19:19,20). Deve ficar esclarecido que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra inspirada, aquilo que deve ser considerado como revelação de Deus, e por isso mesmo não foi preservado e não faz parte do Cânon Sagrado muitos escritos humanos, que tentam se passar por Palavra de Deus. Hoje a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele não consegue destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e corrompê-la com interpretações pervertidas da verdade (1 Tm 4:1,2; 2 Ts 2:9-12). A nós pois, como igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a verdade (1 Tm 3:15) com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo (Fp 1:7,16). Em Jo 17:17, Jesus diz que a Palavra de Deus é a verdade, sendo assim, devemos nos firmar nela, cuidando para que ventos de doutrinas mentirosas não nos levem para longe de Deus (Ef 4:14).
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Unidade 3 – A Inspiração e autoridade das Escrituras Dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas como, sendo que ela foi escrita por homens? Sobre isso que falaremos nesta unidade. Inspiração das Escrituras “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” 2Tm 3:16 A passagem acima é a base para a doutrina da inspiração das Escrituras. A tradução literal para divinamente inspirada é “soprada por Deus”, ou seja, Paulo está nos dizendo que cada palavra da Bíblia foi soprada por Deus aos seus diversos escritores. Porém, devemos entender o que a doutrina da inspiração diz e o que ela não diz a respeito da Bíblia. Dizemos que Deus esteve no controle de cada palavra escolhida pelos autores bíblicos, porém isso não significa que houve algum tipo de canalização ou psicografia (conhecida também por escrita automática) em que Deus tenha possuído os autores, de forma que eles perderam a consciência e não tiveram participação na escrita, não! Primeiramente, o Espírito Santo – que inspirou a Bíblia – não possui pessoas, no mesmo sentido de possessão demoníaca que são retratadas na Bíblia, principalmente nos Evangelhos (Mateus 9:3233; 12:22; 17:14-18; Marcos 5:1-20; 7:26-30; Lucas 4:33-36; 22:3). Em segundo lugar, a Bíblia relata diversas circunstâncias e nelas são reproduzidas as falas de homens (Jo 3:4), animais (Nm 22:30), anjos (Is 6:3), Deus (Mt 3:17), e de demônios (Mt 4:3); não é nesse sentido que a Bíblia é a palavra de Deus, pois as palavras de Satanás não são as palavras de Deus. A Bíblia é a Palavra de Deus, no sentido de que Deus guiou de forma soberana os escritores para que não fosse incluído nenhum tipo de erro, quer seja histórico, científico ou teológico. De forma misteriosa o Espírito de Deus guiou os autores bíblicos a escreverem o que era da vontade divina que fosse escrito, embora eles permanecessem conscientes no processo e participando da produção literária, pois vemos que cada autor tem um estilo de escrita. A Bíblia tem duas naturezas, a divina e a humana. Do lado divino, as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram n’Ele e são a expressão de Sua mente, como vimos no texto acima, as palavras foram sopradas. Do lado humano, certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e escrevê-la. Em 2 Pe 1:21 encontramos a referência aos homens: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.”. Sendo assim, definimos que Deus influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-
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la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e imperfeições, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível. Essa inspiração se limita aos manuscritos originais, pois qualquer cópia que altere o conteúdo que os autores escreveram, torna-se parcialmente Palavra de Deus, só o é conforme a proporção em que ela reproduza fielmente o conteúdo dos originais. A questão é: como podemos comprovar que há inspiração divina na Bíblia e que ela não passa de mais um livro dentre milhares de outros que dizem ser a verdade? A resposta é: Deus não nos pede que aceitemos isso com fé cega, mas Ele nos dá evidências, das quais citaremos apenas 5: 1 – Profecias: A Bíblia é constituída em 30% de profecias, das quais quase todas foram cumpridas, exceto as que são escatológicas (sobre o fim dos tempos). A maioria destas se cumpriram centenas de anos após serem profetizadas, a questão é que ninguém – humanamente falando – consegue prever o futuro (nem Satanás). Exemplo claro que podemos usar é de Cristo. Cerca de 109 profecias no Antigo Testamento foram ditas a respeito do messias que viria. Todas elas se cumpriram em Jesus, que no seu último dia de vida cumpriu 25 profecias. Vejamos algumas dessas profecias a respeito do Messias: Profecia Nascido de uma virgem (Is 7:14) Nascido em Belém (Mq 5:2) Presenteado por reis (Sl 72:10) Matança das crianças (Jr 31:15) Entraria em Jerusalém montado num jumento (Zc 9:9) Ressuscitaria (Sl 16:10) Traído por um amigo (Sl 41:9) Vendido por 30 moedas de prata (Zc 11:12) O dinheiro seria jogado na casa de Deus (Zc 11:13) O preço de um campo de oleiro (Zc 11:13) Abandonado pelos discípulos (Zc 13:7) Acusado por falsas testemunhas (Sl 35:11) Mãos e pés traspassados (Sl 22:16) Crucificado com malfeitores (Is 53:12) Roupas sorteadas (Sl 22:18) Os ossos não seriam quebrados (Sl 34:20) Sepultado no túmulo de um rico (Is 53:9)
Cumprimento Mt 1:18 Mt 2:1 Mt 2:1,11 Mt 2:16 Lc 19:35-37 At 2:31 Mt 10:4 Mt 26:15 Mt 27:5 Mt 27:7 Mc 14:50 Mt 26:59-61 Lc 23:33 Mt 27:38 Jo 19:23,24 Jo 19:33 Mt 27:57-60
Se calculássemos a probabilidade de se cumprirem na vida de qualquer pessoa apenas 11 destas 17 profecias mencionadas, seria mais fácil jogar uma chave de 5 centímetros nos oceanos e ter apenas um mergulho certeiro
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para encontrá-la, ou seja, é impossível. Só uma mente divina poderia ter inspirado os escritores bíblicos sobre o futuro. 2 – Afirmações técnicas: A Bíblia foi escrita num período em que a ciência e a tecnologia avançada que temos não existia. Embora, naquela época, não existisse o conhecimento de certos fatos que sabemos hoje, a Bíblia faz afirmações que demoraram dezenas de séculos para serem descobertas como verdadeiras. Por exemplo: • Jó 26:7: "... e suspende a terra sobre O NADA”. Durante o tempo de Jó, era crido que um deus chamado Atlas sustentava a Terra sobre os seus ombros! Ninguém acreditava que a Terra “pairava sobre O NADA!". Jó é o mais antigo livro na Bíblia, foi escrito há mais de 3500 anos atrás. Como é que Jó soube de algo IMPOSSÍVEL de se saber durante os seus dias? • Eclesiastes 1:6: "O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta FAZENDO OS SEUS CIRCUITOS”. Como que o escritor de Eclesiastes soube que o vento viaja formando circuitos? Como ele soube de algo que os cientistas descobriram há tão pouco tempo? Como podem estes homens, com o limitado conhecimento científico da época deles, milhares de anos atrás, estarem tão adiantados com relação à ciência? • Salmo 8:8 "... tudo o que passa pelas VEREDAS DOS MARES”. Depois de ler Salmo 8:8, Matthew Maury, um oficial da Marinha dos Estados Unidos, lançou-se ao empreendimento de localizar estes curiosos “caminhos nos mares”. Descobriu que os oceanos têm caminhos que fluem através deles. Maury se tornou conhecido como "o descobridor das correntes marítimas". Como é que Davi (o escritor do Salmo 8) soube, há mais de 2000 anos atrás, que havia “caminhos nos mares”? Davi, provavelmente, nunca sequer viu um oceano! Além disso, a Bíblia retrata acontecimentos e personagens históricos que a arqueologia vem confirmando a existência vez após vez. Como podemos explicar tais proezas, se não pela inspiração daquele que conhece todas as coisas? 3 – Glória peculiar (ou especial): Consiste em que quando estamos lendo as Escrituras, nos são relatadas coisas que nenhuma mente humana poderia pensar em criar. Primeiramente, a visão que a Bíblia tem do homem é de um ser caído, impossibilitado de se achegar a Deus por seus esforços e obras. Além disso, vemos em Cristo a figura mais sublime que há, pois nele há glória em meio a humilhação, poder na fraqueza, divindade em meio a fragilidade humana. A questão é que, se Cristo tivesse sido inventado, com todas suas palavras de sabedoria e seu caráter irrepreensível, quem tivesse inventado tal figura seria, ele próprio, possuidor de tais atributos, porém como tal pessoa poderia ter um caráter irrepreensível se está mentindo a respeito de alguém que nunca existiu? Mas é claro que é
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consenso até entre historiadores verdadeiramente há dois mil anos.
mais
céticos,
que
Jesus
existiu
4 - Reivindicações da Própria Escritura: A própria Bíblia diz ter autoridade divina. Encontramos essa reivindicação nas seguintes expressões: "Disse o Senhor a Moisés" (Ex 14:1,15,26; 16:4; 25:1; Lv 1:1; 4:1; 11:1; Nm 4:1;13:1; Dt 32:48) "O Senhor tem falado" (Is 1:2); "Disse o Senhor a Isaías" (Is 7:3); "Assim diz o Senhor" (Is 43:1). Outras expressões semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias, da parte do Senhor" (Jr 11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a Ezequiel" (Ez 1:3); "Palavra do Senhor, que foi dirigida a Oséias" (Os 1:1); "Palavra do Senhor, que foi dirigida a Joel" (Jl 1:1), etc. Expressões como estas são encontradas mais de 3.800 vezes no Antigo Testamento, afirmando ser a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo Testamento. Além dos autores do Novo Testamento citarem, frequentemente, o Antigo, afirmando sua autoridade, eles também colocam em pé de igualdade seus escritos. Em 1 Timóteo 5:18 “Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário”, Paulo une a passagem de Dt 25:4 com a do evangelho de Lc 10:7 e os chamam de “Escritura”, ou seja, Paulo assume a autoridade de ambos os livros como sendo a Palavra de Deus. Pedro faz a mesma coisa com as cartas de Paulo (2 Pe 3:14-16). Paulo, em especial, autodenominava-se como apóstolo, arauto, testemunha e embaixador (Rm 1:1,5; Gl 1:8,9; 1 Ts 2:13; 1 Tm 2:7). Ele dizia que suas cartas deveriam ser obedecidas e lidas nas igrejas (Cl 4:16; 2 Ts 3:14) – essa prática era feita nas sinagogas, onde se liam o Antigo Testamento. Em suas cartas, Paulo evidencia que seus escritos possuem autoridade do Espírito Santo: “As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (1 Coríntios 2:13). “Mas aos outros digo eu, não o Senhor...” (1 Coríntios 7:12), ao contrário do que alguns pensam, Paulo não está dizendo que suas palavras são humanas, achismos que não possuem inspiração divina; ele apenas está fazendo distinção do que Jesus ensinou, quando estava na Terra (v. 10), daquilo que ele, por intermédio do Espírito, está dizendo. 5 – Testemunho interno: Esta evidência é a essencial, sem a qual não poderemos enxergar as demais apropriadamente. Só conseguiremos enxergar a glória (que citamos no ponto 3) se o Espírito Santo que inspirou as Escrituras, nos capacitar a enxerga-la conforme ela é. Não podemos entender ou crer na Bíblia caso nossos olhos não sejam abertos para compreende-la. Isso não significa que a Bíblia seja difícil de interpretar, como alguns falam, o problema está em nós, em nossa natureza pecaminosa e caída, que possuímos devido à queda de Adão no Éden. Mas
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quando o Espírito fala ao nosso coração autenticando e aplicando o que diz na Bíblia, então conseguimos enxergar o alto valor que ela possuiu. Nisso entra a questão da iluminação que precisamos da parte do Espírito de Deus. Iluminação Falamos, anteriormente, que a revelação se encerrou e que as Escrituras estão completas, porém temos até nossos dias a iluminação do Espírito Santo. Antigamente, a Igreja Apostólica Romana tinha como pretexto de proibir a leitura da Bíblia pelos leigos (todos que não eram ordenados ministros) dizer que a Bíblia era obscura e de difícil interpretação, sendo assim para que não ocorressem erros, só Roma poderia interpretar corretamente as Escrituras e com isso os povos eram escravizados e dominados por falta de conhecimento; tal mentira ainda é muito contada, mas isso não é verdade. Sabemos que há passagens na Bíblia que são difíceis de se interpretar e, mesmo após dois mil anos, permanecem debates entre teólogos sobre interpretações de textos específicos. Mas, como ouvi certa vez, as Escrituras são rasas, a ponto de uma criança nadar em segurança, e profundas, a ponto de um elefante se afogar. Para aqueles que verdadeiramente se aproximam do texto em humildade pedindo a orientação do Espírito, terão como recompensa desbravar este tesouro infinito que é a Bíblia. Todo cristão tem capacidade de compreender as Escrituras, sem precisar de intermediários, pois o Espírito Santo nos orienta. Deve assumir que o problema de qualquer passagem que possa parecer-nos obscura ou contraditória, está em nossa limitada mente e não nas Escrituras. Porém, devemos evitar o erro de achar que não precisamos de mais nada além da iluminação divina, pensando que sobrenaturalmente surgirá conhecimento, do nada, em nós. O Santo Espírito nos ilumina sobrenaturalmente, durante o estudo da Bíblia, mas também usa meios naturais, como livros, professores e a história, como meios de nos ensinar a respeito da revelação especial de Deus. Não podemos ignorar a iluminação que o Espírito trouxe para as pessoas que vieram antes de nós, mas devemos estudá-las, sempre checando se o que eles falaram condiz com a Bíblia (pois eles são suscetíveis ao erro). Segundo a doutrina da inspiração, podemos concluir que a Bíblia é infalível e inerrante, ou seja, nada do que ela diz (seja questão divinas, humanas, biológicas, históricas, científicas etc.) contém falhas ou erros, pois o autor final das Escrituras Sagradas é o próprio Deus que não erra nem falha, pois não há nada que ele não saiba ou conheça.
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Unidade 4 – Suficiência das Escrituras Vimos na aula passada que a Igreja Romana bloqueou o acesso do povo à Bíblia, sob o pretexto de que as Escrituras eram muito obscuras e difíceis de serem entendidas. A Reforma Protestante, no século 16, respondeu a isto com a doutrina da suficiência das escrituras, com a doutrina do Sola Scriptura que traduzido significa: Somente as Escrituras. Nesta última unidade, veremos como a Bíblia é suficiência a nós, e como isso sempre deve ser relembrado por nós. A autoridade das Escrituras Dizemos que a Bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência, prestígio e credibilidade, por isso deve ser obedecida porque procede de fonte infalível e autorizada. A autoridade está vinculada à inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas. Entretanto, nem tudo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn 3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt 16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó 22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem d’Ele (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade. As palavras em si não possuem nenhum poder mágico, mas quando compreendemos o significado que elas têm, então temos Deus falando a nós; por isso há a regra de ouro da interpretação bíblica: a Bíblia interpreta a si mesma. Quando temos dúvidas sobre algum texto, não devemos atribuir o significado que achamos ser correto, mas devemos compará-lo com as demais porções da Bíblia para entender o que se trata. A Bíblia é a única regra e manual de vida que Deus deixou, para nos dizer no que devemos crer e como devemos viver, aplicando os princípios d’Ele. Não desprezamos outros meios que nos levam ao que a Bíblia ensina, porém devemos nos prevenir para não cairmos em alguns erros que acabam por negar ou substituir a autoridade das Escrituras. Alguns destes erros são: Tradicionalismo: quando fazemos ou deixamos de fazer algo, por causa da tradição (costume) e não por ser mandamento das Escrituras, acabamos
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por dizer que a tradição tem a mesma (ou até mais) autoridade que a Bíblia; e então, acabamos usando a Palavra de Deus para dar suporte a práticas humanas. Exemplo claro disso são os fariseus que foram severamente repreendidos por Jesus, pois criaram todo um sistema opressor de leis, acrescentando àquelas transmitidas por Moisés. Emocionalismo: Outro erro que destrói toda a raiz da sã doutrina, e que tem sido um dos problemas da igreja brasileira, é priorizar emoções e experiências acima do ensino bíblico. Sabemos que o crer envolve o sentir, pois o primeiro e grande mandamento que Cristo nos dá é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.” (Mt 22), ou seja, todo o nosso ser deve amar a Deus e tê-lo como o nosso único tesouro. Mas toda experiência que é produzida pelo Espírito Santo, está ligada diretamente com a Bíblia. Por isso, podemos afirmar, sem dúvida, que onde não há pregação do evangelho, não há mover do Espírito, pois o Santo Espírito está ligado intimamente com a Bíblia e age por meio dela. Racionalismo: Como resposta ao emocionalismo, há outro extremo que é negar qualquer manifestação do Espírito, professando uma teologia morta, sem entusiasmo e que acaba repelindo as pessoas e não vivendo o que a Bíblia nos demanda. Reduzindo a fé cristã a apenas razão e conhecimento morto. Meios carnais de evangelismo: Outro fator que tem sido um problema é a falta de entendimento de que o Evangelho (Bíblia) é o poder de Deus para a salvação dos homens (Rm 1:16). Muitos pregadores usam métodos carnais e artificias para atraírem pessoas, deixando a pregação do evangelho de lado. Isso acaba resultando em pessoas que frequentam as reuniões da igreja, mas não amam a Deus – e nem podem, pois não nasceram de novo. Resultando em igrejas sem raízes na Bíblia, vulneráveis a qualquer ataque do mal, pois não estão firmadas em Cristo. Liberalismo: Este tem sido um dos piores erros, o movimento intelectual, chamado de “liberalismo”. Ele nega que a Bíblia É a Palavra de Deus, mas que CONTÉM a Palavra de Deus, e isso muda tudo. Dizer que a Bíblia contém a Palavra de Deus, é afirmar que há partes que foram inspiradas e partes que contém erros e mitos (termo muito utilizado por eles para se referir a histórias que não são reais, mas que contém uma boa moral). Tudo que é sobrenatural: milagres, Deus falando, a criação, dilúvio etc. São classificados como mitos, ou seja, eles creem que tais histórias foram inventadas para passar alguma mensagem, mas a história em si é falsa. O liberalismo, como um câncer, vem destruindo as igrejas que o abraçam;
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pois elas negam a autoridade da Bíblia e colocam suas mentes, corrompidas pelo pecado, como sendo a autoridade final. A suficiência das Escrituras Embora a Bíblia seja extensa, ela ainda não é exaustiva, ou seja, ela não diz tudo a respeito de tudo; porém ela é suficiente para nossa fé e prática, nela Deus revela o necessário que precisamos saber. Nela o homem encontra tudo o que é necessário para crer e tudo o que Deus exige de nós para sermos salvos, servi-lo e adorá-lo, vivendo de forma que O agrade. Por isso, a Bíblia nos basta. Como vimos, Deus deu sua máxima revelação em Cristo, sendo assim, rejeitamos qualquer nova revelação ou doutrina que tenha sido dada supostamente por Deus, através de anjos, sonhos, visões ou pessoas (Gl 1:8-9). Embora reconheçamos que a Bíblia não nos dá todos os detalhes que gostaríamos, declaramos que ela nos provê princípios, ensinos gerais e exemplos, a partir dos quais podemos entender logicamente tudo o que precisamos em matéria de fé para a condução da igreja (doutrina, governo, disciplina, liturgia, pregação, etc.) e prática individual (incluindo casamento, trabalho, alimentação, vestuário, educação de filhos, relacionamentos, etc.). Conclusão Concluímos nosso curso sobre a Bíblia, espero sinceramente que você tenha aprendido e absorvido o máximo possível destas aulas. Que possamos sempre valorizar a Bíblia e transmiti-la a outros para que também conheçam o Senhor e possam ser salvos. Para encerrarmos nosso curso, resumiremos o que ensinamos até agora, como forma de expressar no que cremos: O cânon bíblico contém 66 livros – 39 Antigo Testamento e 27 Novo Testamento – e é, em sua totalidade, a revelação soprada por Deus a escritores humanos. A Bíblia é a infalível e inerrante Palavra de Deus que ensina tudo o que necessitamos para a salvação e é o padrão avaliativo da vida cristã, pelo qual o Espírito Santo age em total acordo nos iluminando e constrangendo a nos moldarmos segundo seu padrão. É a única autoridade e revelação divina; nenhum escrito humano, instituição ou experiências subjetivas possuem a mesma autoridade, pelo contrário, tudo deve ser avaliado segundo o que foi exposto nas Escrituras Sagradas, não o contrário. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. Referências bíblicas: 2Re 17:13; Sl 119:160; Mt 4:4; Mt 5:18; Jo 6:63; Jo 17:17; Rm 1:1-2; Rm 15:4; Rm 16:25-27; 1Co 2:6-13; 1Co 15:3-8; Gl
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1:6-12; Ef 2:19-22; Ef 3:1-5; 2Tm 3:14-17; Hb 1:1-2; 1Pe 1:10-12; 2Pe 1:8,16-21; 2Pe 3:1-2,15-16; Ap 22:18-19. Bibliografia O Deus Absoluto – Lucas Roberto Uma Glória Peculiar – John Piper Sola Scriptura – Paulo Anglada
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