In Esp de e pe ci ndal en HQ te s s
edição #3 - março de 2018
CONHEÇA RAYMOND CASTLE O IMPLACÁVEL E MISTERIOSO XERIFE DESSA CIDADEZINHA
Eles estão de volta:
Dylan Dog e Martin Mystère
Conversamos com Giuseppe Montanari e Lucio Filippucci
E AINDA:
A volta de Tex Gold
Gringo - O Escolhido Nathan Never Muitas entrevistas
EDITORIAL EXPEDIENTE Organizador: Thadeu Fayad Colaboradores: Aurélio Miotto Joana Rosa Luiz Henrique Cecanecchia Consultoria: José Carlos Francisco Ricardo Elesbão Alves Wilson Vieira Diagramação: Thadeu Fayad
O objetivo de ter criado esta revista foi justamente poder falar do meu hobby, dar voz aos personagens que gostamos mas que certa forma nunca tiveram o mesmo destaque que os super-heróis estadunidenses. E então tudo foi crescendo, naturalmente elevando a qualidade e também as exigências para que isso fosse alcançado. Além das expectativas dos leitores que estão crescendo a cada edição. Novos colaboradores vão chegando, engrandecendo nossas idéias, arejando nossa visão, resgatando nossa própria história não as em quadrinhos e sim com os que ajudaram a criar em nós mesmos essa grande paixão. Aqueles que com seu trabalho nos deram muitas e muitas horas de diversão e nós nem sabemos quem são ou qual seu legado. Essa jornada foi aos poucos mostrando o quão grande é nosso universo de talentos, de contadores de boas histórias, de batalhadores e em muitos casos lutam mais do que seus personagens. Esse desbravamento merece um espaço de destaque, não só nessa edição mas também nas que vierem depois dessa. O especial das HQs independentes é apenas um pedaço ínfimo do nosso vasto “cardápio” de talentos e estará presente nas próximas edições onde vamos tentar humildemente ajudar na divulgação desses talentos, se somando aos nossos já consagrados heróis Italianos. A divulgação é o item mais importante para qualquer trabalho, não só os independentes que sofrem com verbas menores e precisam da força do boca-a-boca para fazer seus talentos aparecerem. Mesmo as grandes editoras tem pecado nas suas divulgações e muitas vezes nem sabemos que nosso personagem favorito voltou ou mesmo se foi. E até quando ele se vai é preciso entender e reverenciar seu legado, entender quais séries ele já teve e as razões de sua existência e cancelamento.
fumetti. é uma publicação digital, criada por Thadeu Fayad, com periodicidade mensal, totalmente gratuita, distribuída exclusivamente pela Confraria Bonelli. Venda proibida
Esse caminho (de mostrar trabalhos independentes) mostrou que precisamos olhar para o futuro, dar espaço para quem esta chegando, mas nunca sem olhar para trás, conhecer ou relembrar quem nos deu tanta alegria e diversão. E definitivamente lutar para que possamos perder esse estigma de que temos memória curta. Boa leitura!
Nesta edição 04
NATHAN NEVER ESTÁ DE VOLTA
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ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ Joana Rosa esmiúça em detalhes as diversas coleções já encerradas de TEX.
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TEX GOLD - SALVAT De volta às bancas a mais caprichada coleção de luxo do Ranger mais conhecido o Oeste.
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O MERCADO BRASILEIRO E SUA ORIGEM ITALIANA Luiz Henrique, nosso novo colunista faz uma bela homenagem aos Italianos mais brasileiros dos quadrinhos.
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ESPECIAL HQS INDEPENDENTES Conheça Saint Alamo, uma linda HQ nacional ao melhor estilo faroeste sangrento. Conheça o Gringo, Nanquim Arretado, duas editoras independentes e muitas entrevistas, no maior espaço já destinado para as publicações independentes.
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A ESTRÉIA DO INSPETOR SILVA Ô loco meu! Qualquer semelhança não será mera coincidência nessa divertida e misteriosa história.
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CONHEÇA PAULO JOSÉ
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A ESPERA ACABOU Dylan Dog e Martin Mystère voltam depois de mais de uma década fora das bancas e para comemorar duas super entrevistas exclusivas!
Nathan Never O PRIMEIRO TÍTULO DE FICÇÃO CIENTÍFICA DA BONELLI E ESTÁ RETORNANDO ÀS BANCAS BRASILEIRAS NA INVASÃO BONELLIANA PROMOVIDA PELA EDITORA MYTHOS. É UM DOS TÍTULOS MAIS VENDIDOS DA SBE (SERGIO BONELLI EDITORE), FICANDO ATRÁS APENAS DE TEX E DYLAN DOG.
Nathan Never é um homem melancólico, ligado ao passado (colecionador de livros, discos e quadrinhos de nosso século) e com uma vida marcada por acontecimentos dolorosos. Nasceu e cresceu na bonita cidade de Gadalas, ficou órfão por obra de uma vingança da Yakuza, a máfia japonesa. Casou-se com Laura Lorring e pouco tempo depois tiveram sua única filha Ann. Obcecado pelo trabalho Nathan se torna uma pessoa egoísta e isso torna seu casamento bastante conturbado com seguidas discussões. Ele acaba se envolvendo com outra mulher e durante um desses encontros que recebe a notícia que o criminoso Ned Mace matou sua esposa. Nesse mesmo ataque sua filha é sequestrada. Apesar de ter sido encontrada, Ann teve sua mente completamente abalada pelo trauma, se fechando de tal forma que seu estado é similar ao de alguém com autismo. Por conta disso ela agora vive no sanatório Sinclair Asylum. A dor e o sentimento de culpa o torturaram, deixando seus cabelos brancos por este trauma. Passou a morar na estação orbital Tersicore, onde se dedica a aprender a arte marcial Jeet Kune Do (estilo criado por Bruce Lee), tornando-se um grande mestre. Tempos depois, o empresário
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Edward Reiser o contrata para trabalhar na Agência Alfa, sua agência particular de segurança. Nathan acaba aceitando para poder pagar pelo tratamento de saúde de sua filha. Nathan, hoje em dia, mora em uma megalópole destruída (provavelmente onde estava Nova York), localizada na costa oriental do que seria os Estados Unidos. Suas aventuras acontecem a mais de 150 anos no futuro, num mundo cuja geografia foi alterada pelas terríveis catástrofes de 2024. Uma busca frenética dos cientistas por combustíveis alternativos e que tiveram como resultado dessas fracassadas tentativas, terremotos que racharam a crosta terrestre, maremotos e exposição de depósitos de lixo atômico, causando milhões de mortes. Nathan Never já teve duas encarnações no Brasil anteriormente, foram dez edições pela Editora Globo e outras duas pela Ediouro (na verdade era uma minissérie) e algumas histórias curtas publicadas pela Globo e pela Editora Mythos. Teve dois encontros com Martin Mystère que ainda são inéditos no Brasil, um deles quase chegou a ser publicado pela Mythos, porém problemas de licenciamento impediram a publicação.
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É um título recheado de referências a filmes e livros de ficção científica e outros tipos de easter-eggs. Natan Never tem seu visual claramente inspirado em Blade Runner, tanto em seu visual quanto no das cidades e cenários. Logo em sua primeira edição vemos as “Três Leis da Robótica”, criada nos livros de ficção-científica de Isaac Asimov. Na edição #2, todos estão em busca da última cópia do filme “2001-Uma Odisséia no Espaço”. Na edição #6 o adamantium é citado (aquele mesmo metal bem conhecido do Universo Marvel). Em várias edições aparecem outras referências, por exemplo, sua amiga a Agente Legs Weaver é inspirada na atriz Sigourney Weaver de Alien e tantos outros filmes, temos menções claras a Rollerball – Os Gladiadores do Futuro, “Jurassic Park”, “Apocalipse Now” e por ai vai. Encontrar essas referências certamente dá ao leitor uma diversão a mais enquanto vai lendo as aventuras do Agente Especial Alfa.
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NEVER NO TRAÇO DE CLAUDIO CASTELLINI
O desenhista concebeu o personagem, além de desenhar a primeira edição, e várias capas das aventuras do herói do futuro
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Onde os fracos não tem vez Parte 1
A história por trás das edições já canceladas d e Te x P o r J o a n a R o s a R u s s o
Bonellianos brasileiros, sejam bem-vindos a mais uma incrível viagem pelo universo do Ranger mais corajoso do velho-Oeste! Desta vez, o assunto central de nosso artigo são as famosas séries de Tex que foram extintas, que contou com a colaboração de grandes pards, como Ivo Almada, Ezequiel Guimarães e Antonio Carlos da Silva, e ainda com a colaboração de Julio Schneider (tradutor oficial das publicações da Bonelli pela Mythos), que prontamente esclareceu algumas dúvidas. Mas, e qual a vantagem de ter uma “série” morta se ela justamente não terá mais conteúdo produzido? Evidentemente, que como consumidor, qualquer pessoa se sente lesada por tal atitude. No entanto, há um segundo lado: as coleções encerradas são raras, já que tem títulos reduzidos, além de serem um tipo de coleção fechada. Isso mesmo. Embora elas não tenham continuidade elas tiveram seu valor histórico para o personagem e para a cronologia de publicações em um país. Ou seja, de mero “engodo”, as coleções encerradas viram vedetes de estante. “E dai?”, pergunta você, meu caro leitor. E daí, que além de você ter uma coleção completa (mesmo que encerrada), o nível de raridade dela aumenta consideravelmente. Ou seja, como já sinalizamos, o patinho feio vira um lindo cisne. Por isso, não despreze conteúdo só porque uma determina série, no caso de Tex, foi “morta”. As razões comerciais podem ser as mais variadas, é verdade, mas nem por isso elas devem ser esquecidas. Há um segundo ponto que vale lembrar: embora para os veteranos de plantão a notícia de séries encerradas seja algo batido, a nova geração de leitores não faz ideia do que existe ainda por aí. Por isso mesmo, dividimos esse artigo em partes e
trataremos de maneira diferenciada o que diz respeito apenas as “coleções” ou séries com mais de um volume publicado das edições especiais ou “volumes únicos”. Salientamos que não foram incluídos os livros ou livros ilustrados, mas apenas e tão somente volumes que tem ligação direta com os quadrinhos e/ou que trazem as tiras do nosso ranger.
Séries Publicadas
“Junior” Tex Segunda Edição Tex Especial de Férias Tex Especial Colorido (Globo) Tex Grandes Clássicos Tex Minisséries Tex e os Aventureiros Tex Gigante (Globo) Tex Gigante Colorido - Edição de Luxo Tex Gold (Fase de Teste) SuperAlmanaque
Edições Especiais
Especial Civitelli Almanaque do Faroeste Especial Sergio Bonelli Tex Especial 60 Anos Fumetti - O melhor dos Quadrinhos Italianos O Ídolo de Cristal - Livro Revista Pôster Tex Almanaque (reedição) Tex Gigante (reedição) Especial 50 anos
PORQUE FALAR DE SÉRIES JÁ ENCERRADAS Porque ex is te toda uma geração de leitores que não faz ideia do que ainda existe por aí.
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“Junior”
novos leitores que haviam perdido os números mais baixos na época de sua publicação original. Há quem pondere que a existência desta “Segunda Edição” seria apenas uma força para que os leitores completassem suas coleções, em decorrência da grande dificuldade de se conseguir números até o 100 da primeira edição, argumentando que na verdade, a “Segunda Edição” tinha, de fato, prazo para findar.
A série entrou no mercado em 25 de julho de 1950. A pri meira aparição de Tex na revistinha foi em seu número 28, publicada em 25 de fevereiro de 1951. A série teve três formatos de publicação: talão com uma tira, talão com duas tiras, e, a partir do número 264, passou a um formato maior de 13,5 x 17,5 cm, já com outros enredos que não Tex, que se estenderam até julho de 1957, quando foi efetivamente encerrada. Na época, a Editora Globo, responsável pelo jornal O Globo, onde as revistinhas eram efetivamente comercializadas, aproveitou o filão comercial, explorando bem a forma de publicação que acompanhava o estrondoso sucesso hollywoodiano que filmes como Matar ou Morrer (1952) e Rastros de Ódio (1956, com John Wayne) estavam causando nas telonas. A tendência faroeste no cinema americano impulsionou muito o mercado de HQs desde os idos de 1939, com os primeiros grandes clássicos interpretados pelo mítico ator John Wayne. Assim como, na atualidade, em que o tema “super-heróis” gira em torno do clássico eixo comercial Marvel x DC, para a época, ter publicações acessíveis de grandes roteiros de faroeste era uma oportunidade imperdível, o que fez com que o herói italiano disparasse nas bancas brasileiras. E porque a Junior deixou de existir? Em parte, pela concorrência, em parte pela falta de adequação da publicação. A frente competitiva que tinha com Xuxá e Pequeno Xerife, sem contar com outros heróis de banca, não habilitavam que Junior pudesse continuar por si, já que, mesmo passando por algumas reformulações, não era capaz de emplacar grandes acréscimos ao jornal, onde era publicada. Tanto assim o é que em 1958, após grandes reestruturações, Junior era retirada de circulação, mais precisamente em fevereiro daquele ano. A partir desse jejum forçado, as histórias de Tex entraram num longo e amargo hiato de quase 13 anos, que só foi rompido com a promissora publicação realizada pela Editora Vecchi em 1971, que, pela primeira vez, trouxe as histórias do ranger em formato italiano e totalmente voltadas ao personagem, iniciando um ciclo que perdura até hoje.
Tex Especial de Férias
Com 11 volumes no total, a Tex Especial de férias foi uma tiragem anual que reunia, em tese, as melhores histórias escolhidas pelos leitores. Embora a existência de um almanaque de férias fosse interessante, esta série, no fundo, era mais um “repeteco” das histórias que já haviam sido publicadas. Por isso, mesmo que prematuramente, na sua 11ª edição, acabou sendo encerrada, considerando a baixa procura no mercado.
Tex Especial A dúvida pode aparecer de cara: oras, mas não é a série da Mythos em andamento? Não. A Globo, quando possuía os direitos de publicação de Tex, teve sua série especial em cores com seis números. Embora parecidos os nomes, as séries têm veios distintos. A Tex Especial foi lançada entre os anos de 1990 e 1997, no formato italiano e a cores. Foi a primeira série em cores lançada do personagem, o que por si só já despertava curiosidade num público até então acostumado ao rotineiro p/b das séries regulares. Mas então o que motivaria seu fim? Aparentemente, a série teria prazo de validade, ao menos é o que se pode deduzir, embora a época de seu encerramento já se avizinhasse a saída de Tex da carteira da Editora Globo. Considerando que apenas duas das histórias publicadas nesta coleção já eram conhecidas (O Ídolo de Cristal, Vecchi, 1980 e Forte Apache, Vecchi, Tex Mensal nº04, 1971), podemos deduzir, de um lado, que a motivação seria nada mais nada menos do que antecipar parte de histórias de boa repercussão e adiantar publicações, como aconteceu como a “Tex Minisséries”, da Editora Mythos.
Tex Segunda Edição Iniciada em 1977, a republicação dos primeiros volumes de Tex – edição normal (como é conhecida), durou 10 anos. Acompanhando o formato da primeira edição, o formatinho foi mantido assim como a sequência em preto e branco. A Vecchi, Editora gaúcha procurou promover o interesse de
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CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO!
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Coleção Tex Gold - Salvat Após um alguns pequenos problemas técnicos a distribuição se normalizou na segunda quinzena de fevereiro, quando as edições voltaram a chegar nas bancas de seguindo com a distribuição setorizada.
Um lançamento que pode ter pego muitas pessoas de surpresa, uma vez que a mesma editora já publicava outras três séries nesse formato. Na verdade é um movimento de muita coragem, considerando nosso cenário não só economico como também o mercado de quadrinhos no Brasil como um todo, dado pela Editora Salvat ao lançar a coleção Tex Gold. São 60 volumes em capa dura, totalmente coloridos, com uma seleção de histórias especiais de Tex, editados em volumes de grande formato com mais de 200 páginas que chegarão às bancas quinzenalmente. O material vem de coleções especiais (conhecidas na Itália como “Il Texone”) que geralmente contemplam os mais incríveis desenhistas convidados, como o argentino Enrique Breccia, o espanhol José Ortiz e o americano Joe Kubert. Já foram lançadas seis edições (e quatro delas podem ser encontradas no site da editora), todas as aventuras foram retiradas de “Tex Gigante” em preto e branco e nenhuma delas havia sido publicada em cores anteriormente. Após um pequeno problema técnico a distribuição se normalizou na segunda quinzena de fevereiro, quando a edição #7 com a história “Mercadores de escravos” chegou às bancas, seguindo o que já é feito pela distribuição setorizada. Pra quem nunca leu histórias do Ranger mais famoso dos quadrinhos é uma ótima forma de entrar nesse mundo, que é publicado aqui no Brasil desde 1971 de forma ininterrupta. E é um prato cheio pra quem já colecionava as mais variadas edições do Herói e sentia falta de publicações com esse nível de qualidade.
Para mais informações acesse: https://www.facebook.com/ColecaoTexSalvat/ E se não chegou até sua cidade você pode comprar diretamente com a Editora: http://assinesalvat.com.br/colecoes/tex/
Mercado brasileiro de quadrinhos e sua desconhecida origem italiana Por Luiz Henrique Cecanecchia A clássica luta entre gibis de super-heróis americanos e mangás asiáticos é a imagem que surge com frequência quando se comenta sobre mercado de quadrinhos no Brasil, sem dúvidas. Mas outra camada desse cenário é totalmente permeada de produções nacionais com alta influência da Itália, terra Natal de Tex, Zagor, Júlia e outros heróis cujo estilo dão nome a esta revista (Fumetti, plural de fumetto, o termo italiano para histórias em quadrinhos). Nossa primeira produção nacional remonta à época do genial Ângelo de Agostini, chargista italiano naturalizado Brasileiro que, durante o Segundo Reinado e da República Velha, além de produzir diversas charges políticas, criou as primeiras tiras registradas no Brasil: Nho Quim e Zé Caipora. Ambas as publicações seguem a linha da comédia, mas, com uma pitada de aventura. As tiras por ele produzida, pelo fato de conterem um personagem serializado, ou seja, com conexão histórica entre as publicações, é considerada uma das mais antigas do mundo, o que confere ao ícone não só a paternidade dos quadrinhos brasileiros, mas também o título de um dos pioneiros mundiais na referência em quadrinhos, cuja presença é sentida até hoje. Dia 30 de janeiro é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional, justamente por ter sido nessa data (no ano de 1869), o início da publicação de “As aventuras de nho Quim”. Nessa mesma data, em 1984 a Associação de Desenhistas e Caricaturistas de São Paulo, cria o prêmio Ângelo Agostini, o verdadeiro Oscar dos quadrinhos publicados no Brasil, nacionais ou não, com diversas categorias, que estimula continuamente novos autores e empresas investirem na área. Apesar de sua massiva importância, somente agora foi republicado, pela Editora Criativo, seu SketchBook, que reúne as melhores produções de Ângelo.
retocando quadrinhos (fazendo pequenas modificações no material estrangeiro para se adequarem no famoso formatinho), na editora RGE e, posteriormente, acabou produzindo histórias de faroeste para editora. Essas adaptações em que Primagio trabalhava tinham fundamento: a divergência entre o gosto brasileiro e o Norte-americano, era notório, tanto que, uma publicação que lá por ventura, encerrasse, ainda tinha uma alta demanda em solo brasileiro. Assim, as editoras nacionais viram uma excelente oportunidade de lucrar com esses encerramento: pagar para artistas nacionais criarem novas histórias. E assim se sucedeu com os gêneros de terror, velho oeste e super-heróis, para citar alguns. Mas a influência de Primagio não se restringiu a essa inovação. Ele ingressou na editora Abril e participou da fundação da Escolinha Disney, o famoso núcleo para formação de quadrinistas (desenhista-escritores), usando como referência para a formação dos participantes, os filmes Muitos leitores desconhecem, mas, metade dos quadrinhos Disney que compramos atualmente são de origem nacional e só existem graças a essa Escolinha! Tudo documentado no livro ”Roteiros e criação de Personagens”, do próprio Primaggio. Toda essa mistura de descobertas e estilos, resultou nos diversos grupos de artistas nacionais que temos atualmente, muitos trabalhando pra grandes Editoras, mas também publicando conteúdo próprio. Aliás, inclusive o próprio Primaggio tem sua linha autoral com o quadrinho “Palhaço Sacarrolha”.
Um mundo inteiro de artistas e descobertas que, graças a tecnologia e uma nova leva de produtores culturais, está a um clique de Mas não só de Ângelo viveu a histó- distância. ria: prosseguindo, temos Primagio Mantovi. Também ítalo-brasileiro, começou sua carreira nos quadrinhos em 1964,
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Um faroeste de fazer inveja a Tarantino
Me apaixonei por Saint Alamo enquanto fazia pesquisas sobre quadrinhos independentes brasileiros para esta edição da revista. E então me deparei com a página do financiamento coletivo no Catarse já encerrado. Rapidamente procurei pelos criadores da HQ buscando uma forma de comprar a revista e claro, divulgá-la por aqui. Produzida pelos incríveis Jonathan Nunes e Rafael Conte, a HQ é uma grata surpresas e pra mim a melhor leitura que fiz em 2018 (sim ela é de 2017, mas infelizmente eu só a conheci em janeiro de 2018). HQs de faroeste nunca me atraíram muito, uma ou outra edição especial ou algum grande artista “diferente” fazendo uma aventura, mas Saint Alamo foge completamente do que lugar comum das histórias de Western. A começar por seus personagens que não são humanos e sim “bichinhos” antropomórficos que longe de serem “fofinhos” ou cordiais, sofrem com seguidos ferimentos de balas pelo corpo, mutilações e até explosões. Tudo isso com uma dose altíssima de sadismo, o que faria com que Garth Ennis e Tarantino parecessem roteiristas de histórias da Turma da Mônica! A trama, que é ambientada no auge do Velho Oeste, conta a história do xerife Raymond Castle, figura máxima da Lei na cidade de Saint Alamo. O xerife Castle esconde um grande segredo, ele foi um assassino e ladrão perigoso conhecido como Claw, sair dessa vida lhe custou um olho inclusive. Tudo caminhava muito bem até a chegada de um velho conhecido, que pode trazer o passado sombrio do xerife de volta, destruindo tudo o que Castle realizou em sua “nova vida”. A história se divide em duas linhas temporais, passado e presente. Vai alternando flashbacks, mostrando sua vida de fora-da-lei. Bebendo da fonte do que a maioria das séries de TV executa atualmente, quebrando o tradicional estilo de uma HQ de faroeste e atualizando a narrativa para o que estamos acostumados a ver em outras mídias.
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E nesse aspecto Jonathan Nunes nada de braçadas no roteiro. Uma mistura divertidíssima de fábulas, paródias e referências desde filmes até videogames (acredito que qualquer HQ de faroeste bebe da fonte de Tex, o grande herói do genero). Aliás o capítulo que mostra todos os easter-eggs é fantástico! Um presentaço que em conjunto com os outros extras só favorece a revista e o trabalho. Muitos de nossos personagens de desenhos animados de quando éramos mais jovens estão por ali, por exemplo, Ligeirinho e o meu preferido: Coragem, o Cão Covarde. Produzida em preto e branco valoriza o trabalho de Rafael Conte, com seu traço limpo e suas linhas muito arrojadas. Nos entregando um Castle arisco, uma raposa sexy e vários bichinhos fofos prontos para sofrerem. Além de reforçar o elo de ligação com tantos outros heróis e anti-heróis das HQs tradicionais de western. Além do mais a ausência de cores reforça seus personagens e o ambiente pesado e sombrio que cerca nosso xerife. Um elenco digno de um ótimo spaghetti western. É o “Gato de Botas” versão Justiceiro (o herói da Marvel e que teve sua melhor fase justamente com Garth Ennis no comando) que toda criança realmente esperou pra ver, ou você acha mesmo que o nome de ambos ser “Castle” é apenas coincidência? Saint Alamo – Balas não sentem Culpa – Parte 1 tem formato em 16 x 27 cm, 88 páginas, capa cartonada e preço a partir de R$25,00. Você pode adquirir o exemplar no site oficial: http://alamocomics.com. Eu garanti a minha cópia com direito a dedicatória.
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Durante evento de divulgação de Saint Alamo
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Raymond Castle é o violento e misterioso xerife da pequena cidade de Saint Alamo, no velho oeste americano. Mas ele nem sempre foi um homem da lei. Castle esconde em segredo absoluto seu passado criminoso, onde era um assassino e ladrão conhecido apenas pela alcunha de “Claw”. Quando o xerife finalmente acredita ter deixado o passado para trás, um forasteiro chega à cidade obrigando-o a se preparar para uma guerra contra um velho conhecido, que ameaça não apenas acabar com sua integridade física como revelar os seus segredos, destruindo tudo o que ele construiu. Uma trama repleta de ação, drama, comédia e uma boa dose de sangue. Uma homenagem ao western Um dos motivos da escolha da temática é o fato de que ambos autores são grandes fãs do gênero western (faroeste). A história de Saint Alamo tem como inspiração várias obras clássicas e contemporâneas que envolvem a lenda e o fascínio pelo velho oeste, como filmes, histórias em quadrinhos, músicas, contos e games sobre a época, o que também oportunidade para várias referências e easter eggs que os fãs vão poder descobrir.
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Como vocês resolveram entrar para o mundo das HQ’s? Jonathan e Rafael: Como todo artista, antes de qualquer coisa somos grandes fãs do meio no qual hoje trabalhamos. Consumimos quadrinhos desde pequenos e nossa paixão sempre foi gigantesca por essa mídia. Nossa decisão não foi necessariamente a de entrar para o mundo dos autores, mas sim de criar uma HQ nossa. Após muitas conversas percebemos que tínhamos uma história e decidíamos que devíamos coloca-la no papel, para que ainda mais pessoas pudessem conhecê-la. No momento que decidimos que embarcaríamos nessa jornada, nossa única opção foi nos jogar de cabeça, e até o momento não temos previsão de parar. De onde veio a ideia de misturar animais com esse faroeste estilo Tarantino? Vocês tiveram inspiração em Tex ou outro quadrinho? Jonathan e Rafael: A ideia surgiu do Rafael, numa conversa onde ele disse que o tema parecia bacana. A princípio o Jonathan não colocou tanta fé, mas quando vimos, no dia seguinte ele já havia escrito um roteiro para uma história curta sobre Castle e Saint Alamo. Percebemos então que havia muito mais que poderíamos explorar nesse universo e começamos a expandi-lo, até a ideia ganhar finalmente um corpo e clima que achamos digno. A princípio, a ideia era que tal universo fosse um pouco mais infantil e caricato, mas as influências de personagens como Tex e Jonah Hex, nos jogaram em outro rumo, que hoje julgamos bem mais interessante. Qual dos dois teve a ideia inicial e como foi dividi-la? Jonathan e Rafael: Sobre a ideia inicial, acabamos respondendo na pergunta anterior. A ideia de dividir a história em dois volumes veio por necessidade mesmo. Adoraríamos publicar toda a história num volume único, mas além de ser um trabalho hercúleo demais para dois iniciantes, também seria necessário um investimento que não tínhamos condições de arcar. Sendo assim, dividi-la em duas partes foi a melhor solução Como vocês enxergam a importância do artista independente? Jonathan e Rafael: Acreditamos que a importância está na criação, onde existe toda aquela liberdade da qual uma editora provavelmente não proverá. Assim, ao pegar o trabalho de um artista independente você estará com um material inteiramente autoral em mãos. Outro ponto importante é a diversidade que isso promove, onde você pode ter vários temas abordados e com visões e opiniões bem diferentes. Também é muito importante o incentivo do leitor, seja adquirindo o material ou simplesmente compartilhando com outros leitores, pois isso faz com que os artistas fiquem ainda mais motivados com seus trabalhos, sempre melhorando e
criando coisas novas e, é claro, incentivando novos artistas a trilhar esse mesmo caminho. E o que falta para o artista independente ser valorizado? Jonathan e Rafael: Na maioria das vezes, cremos que faltam oportunidades. Os leitores em sua grande maioria não compram algo que eles não conhecem, que não ouviram falar bem sobre e, na verdade, não há como culpa-los por isso, afinal é assim que as coisas funcionam. Ainda existe um certo receio para com o quadrinho brasileiro, mas felizmente isso está mudando. Então, cremos que o artista tem que fazer o máximo para apresentar sempre o seu melhor, com muita informação sobre o trabalho para dar a certeza de que vale a pena investir nele. Uma maneira interessante é tentar divulgar nas redes sociais, pois é ali que a maioria do público está. Apesar disso, o alcance nessas redes não costuma ser como se espera, então o truque é ter bastante paciência e perseverança. Como está a receptividade do mercado com a revista? Jonathan e Rafael: Até o momento recebemos críticas bastante positivas e empolgadas, além de observações pontuais e deveras interessantes sobre a obra, algo que nos dá ainda mais ânimo para continuar o trabalho. Por se tratar de uma HQ independente, quase toda a venda é feita através do nosso site ou em eventos, porém, apesar dessas limitações, estamos tendo um retorno de público bem animador. Nesse aspecto a divulgação através das redes sociais, sites e blogs funcionam bem? Melhor que uma venda em banca por exemplo? Jonathan e Rafael: São poucas as bancas que tem Saint Alamo a venda, e as que tem estão quase inteiramente localizadas aqui no nosso estado, Rio Grande do Sul, por isso fica complicado falar sobre esse tema. A divulgação online ajuda bastante, mas só ela não garante as vendas da HQ. Algo que tem nos dado um bom retorno é os eventos que temos participado, por isso pretendemos expandir nosso alcance esse ano, visitando eventos fora do estado e da região sul. Afinal, acreditamos que nada substitui o olho no olho com o público que irá ler a obra.
Não Sentem Culpa, mas nossa ideia é que esse universo consiga funcionar muito bem mesmo se contarmos outras histórias. Temos planos para em um futuro, após a conclusão desse volume, voltamos a trabalhar nesse mundo, e talvez termos a história focada em outros personagens dessa pequena cidadezinha. Por isso cada um dos demais cidadãos da cidade foi pensado de maneira a ter uma personalidade bastante própria, podendo ter, quem sabe, seu momento de protagonismo em um futuro. Não vou estragar a leitura, mas ter uma “aparição” do Coragem o Cão covarde foi sensacional! De onde surgiu a ideia de misturar elementos tão diversos? Rafael: Eu sempre curto uns easter-eggs, e quando vejo algum sempre abro um sorriso. Ao meu ver, essa é uma pequena homenagem aquele personagem que tanto curtimos, e é isso que fazemos em Saint Alamo, colocamos várias referências de filmes, games, séries e é claro, desenhos animados. Quando tivemos a ideia de usar personagens antropomórficos, tudo ficou mais divertido e homenagear esses personagens tão queridos ficou ainda mais fácil, uma vez que o estilo que sigo é um pouco parecido. Não defino antes qual easter-egg usarei nos quadros, isso vem do momento e preciso ver se ele encaixaria bem ali. Você mencionou o Coragem, pois bem, na cena os cidadãos estão passando por uma situação um tanto assustadora, então a ideia de colocar o Coragem ali no meio surgiu automaticamente. hahaha.
Para fecharmos deixo aqui meu agradecimento especial por aceitarem nosso convite e nos dar a oportunidade de divulgar um trabalho MUITO legal. A fumetti. está de portas abertas pra vocês e pra não quebrar o protocolo, mandem um recado para os leitores. Jonathan e Rafael: Primeiramente agradecemos pela atenção da fumetti e por este espaço para divulgarmos a nossa obra. Aos leitores deixamos nosso convite para que conheçam Saint Alamo através da página no facebook (Alamo Comics), ou do nosso site onde podem adquirir a revista (alamocomics.com). Lembrando que estamos sempre abertos aos diálogos e feedbacks dos leitores, pois é só através dessas conversas bem fundamentadas que poderemos lapidar ainda mais o nosso trabalho. Muito obrigado, e forte abraço.
O foco da história é sobre Castle, o protagonista. O que podemos dizer dos outros personagens? Jonathan e Rafael: Castle é sim a peça principal nesse primeiro volume de Saint Alamo, Balas
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Gringo - O Escolhido
A HQumGringo - lançado O Escolhido, título em 2006, ema história ambientada 1865 traz um solitário mestiço, filho de mãe sueca e pai mexicano, que sobreviveu a Guerra da Secessão e tenta levar sua vida adiante. Carrega consigo onde um passado sangrento, aprendeu a matar sem piedade para morrer. Aainda mortepodeo não rejeitou. Mas levá-lo, sejacasal por intermédio de um de vigaristas que vende um “elixir milagroso”, de um xerife obstinado, de um prisioneiro espertalhão ou de um grupo de violentos comancheros. Tiroteios, umacontra explosiva fuga da prisãogigante e uma luta de Gringo um verdadeiro estão entre essa os ingredientes que Vieira juntou para contar aventura no melhor estilo “faroeste italiano”. Todosárida os envolvidos estão encravados numa terra e adversa, lutando por um alforge recheado deOdólares quenãopodesabem mudar suasGringo, vidas miseráveis. que eles é que oqualquer verdadeiro tesouro, fará coisadono para desse não perder suastambém economias. O roteiro é do um criador doexclusivo personagem Wilson Vieira (batemos papo com ele na edição #2 da fumetti. ) que começou sua carreira como desenhista e aos poucos foi migrando para osenhou roteiro. Fez diversos trabalhos na Itália, deDiabolik, depois trabalhou na SBE (Sergio Bonelli Editore) eentre outras. Seu traçoVoltou ainda hoje é lembrado reverenciado no país. ao Brasilé euma trouxe consigoema relação idéia desta história. Wilson sumidade a Guerra Civil norte-americana (1861-1865) e ao período em que ela acontece, diga-se de passagem.
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A arteconcebeu fica poroconta de Aloísio de Castro, se Wilson personagem, Aloísio foi quem tornou real suasgrande feiçõesdestaque e trejeitos. Seus desenhos merecem (e particularmente me parecem inspirados nos do do italiano Sergio Toppi). Além do desafio de trazer Gringo afrio,vida,passou Aloísio trabalhou para a Revista Calapela Editora Abril e nos anos 1990 trabalho como co-roteirista do filme Cassiopéia (de Clóvis Vieira), totalmente feito poro primeiro animaçãodesenho gráfica. animado E são são fundamentais os excelentes traços de Aloísio de Castro para que os leitores entrem no clima de Velho Oeste da HQ. Duas curiosidades: esse trabalho levou mais de 20 anos para ser publicado! Eloyr Pacheco foi quem garimpou todo esse material “engavetado” pelos autores e levou opublicar trabalhoessaà Nomad Editora. Seu empenho em história fez com que a editora se interessasse pela HQ e finalmente a publicasse. Etrailer Clóvis Vieira preparou comalgo ajudararíssimo de Aloísio, um animado do álbum, em nosso mercado de quadrinhos. Assista ele aqui: https://goo.gl/okY1hT A arte daporcapaRenato é outro ponto(Superman, de grandeOmac, destaque, feita Guedes Papa Capim). A edição é recheada de “extras”, PrefácioWilde Eloyr Pacheco, uma matéria onde o próprio son Vieira conta como foiinéditas a GuerradeCivil Americana, várias ilustrações Aloísio de Castro, galeria de pin-ups produzidas por vários artistas, biografias dos autores e Posfácio de Wilson Vieira. Gringo -tempo, O Escolhido é uma obraouque não sofreu com o seja o de criação o de lançamento. Ainda é uma excelente opção de leitura para os fãs de um bom Faroeste. E principalmentedo estereótipo para quem gosta deo personagens quediz:fogem comum, próprio Wilson NÃO ESCREVO, PARA CRIAR HERÓIS!” “EU
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Nanquim Arretado Nanquimde Arretado é quauma coletânea histórias em drinhos doprojeto desenhista Aurélio Filho. O independente traz as mais variadas historias em quadrinhos a cada edição (já são 3 até agora) e que misturam realidade com casos, ficção,problemas abordando em alguns sociais drogas e o flagelo da secacomo no Nordeste. Natural deem Campina Grande (mas mora Patos), Aurélio Filho é Policial Militar, desenha desde os 17 anos e na década de 80decriou em sua cidade um clube quadrinhos chamado Watson Portela, Pernambucaem homenagem ao desenhista no. Também Fanzine Arteeditou Final.e desenhou o Batemos um papo com elemersobre seu trabalho e o atual cado de quadrinhos nacionais: Pra quem nãopraconhece seu trabalho, conta gente um pouco de como começou o nanquim arretado? O Nanquim Arretado surgiu da ideia de reunir alguns trabalhos meus deem80quadrinhos, desde a década tinha esse sonho de um dia poder publicar algo independente que pudesse divulgar meu trabalho. O que podemos encontrar Na revista? Vaivárias encontrar um quadrinho com temáticas, foco muitosociais, a realidade dos problemas Droga, Aborto, Secae inno nordeste, Suicídio, enfim, cluo também alguns trabalhos de terror e ficção.
Policial ajuda na criação dasSer histórias? Em como certoPM ponto sim, meuastrabalho me coloca vezes em situações que facilmente poderia ser transformada em quadrinhos. Comodovocê enxerga a importância artista independente?Vejo pela importância da fomentação das histórias em quadrinhos, e também da interação de desenhistas e roteiristas, o quadrinho independente só vem somar no que sedessa refere aoPena engrandecimento arte. que não temos muito apoio. E o que faltaserpara o artista independente valorizado? Apoio do consumidor de inHQ na aquisição das publicações dependentes, valorizando assimo nosso trabalho, infelizmente público dasmais HQs espero independentes éo tempo restrito, isso possa mudar.que com Como anda a produção de quadrinhos em sua cidade? Estacionada, na verdade o Nanquim Arretado deu um novo ânimodeaquelas pessoas que gostam desenhar e fa-e zer quadrinhos aqui em Patos, com isso também vez surgir novos adeptos. você vê o futuro dos seusComo quadrinhos? Vejo umas futuro mais promissor, com pessoas que gostam do quadrinho e do meu trabalho valorizando e apoiando meu esforço.
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Comopara vocêessa vê odivulgação papel de sites eartista blogs do independente? Muito bom, temquemuita gentedivulgação aí da internet ajuda na dos independentes, destaco nesse meio a que Michelle Ramos do Zine Brasil sempre apoio meu trabalho e agora você que está me dando essa oportunidade na qual agradeço muito
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UCMComics, um selo pioneiro Produzindo HQs online gratuitamente desde 1990, o UCMComics se destaca pela qualidade e riqueza de seu universo ficcional. Conheça um pouco mais dessa belissíma iniciativa nas palavras de seus criadores.
A UCMComics começou com dois fanáticos por quadrinhos desenhando em seus quartos histórias e personagens com o intuito de fazer uma revista, que pudesse ser lido também por outras pessoas que não apenas seus familiares e amigos. Esses dois fanáticos por quadrinhos e na época decenautas de plantão, são Marcelo de Oliveira e Marcelo Castilho. Claro que ainda não havia a sigla UCMComics, mas eles já aspiravam em um dia criar um selo que viesse a demonstrar que poderiam produzir suas próprias revistas. Ainda nos anos 1980, mais próximos de 1988, fanzines eram produzidos aos borbotões e muitas ainda eram de bandas de rock, bandas punks, bandas de rockabilly e cinema. Havia fanzines que falavam sobre quadrinhos, claro, mas os Marcelos queriam mostrar que também faziam quadrinhos e foi assim que surgiram dois títulos que iniciaram a carreira desses dois quadrinistas e o surgimento do selo UCMComics (Universo Cultural de Mídias & Comics): O Portal e Conexão Zine. E onde estaria o principal alvo para lançar esses dois títulos? A Gibiteca de Curitiba e os primeiros encontros de fanzineiros, onde se trocava de tudo, fanzines de cultura diversas por fanzines de rock; fanzines de quadrinhos por fanzines de fãs do Black Sabbath e por aí vai. Era um divertimento só. A Gibiteca sempre foi um ponto de encontro e foi lá que fizeram amigos, participaram de cursos e também foram professores. Difícil imaginar que um dia o advento da Internet seria t ã o benéfico
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para aqueles dois pretensos quadrinistas que queriam mostrar seus trabalhos ao mundo de qualquer maneira. Foi assim que ambos os Marcelos, Castilho e Oliveira, projetaram o que seria o primeiro site de quadrinhos para download de graça, isso os anos 2000 apenas começando, lado a lado com outro site expoente, o Nona Arte. A repercussão foi grande. Pelas estatísticas mensais mais de 200 usuários baixavam os quadrinhos da UCMComics e o provedor ficava a todo momento pedindo espaço. De lá para cá muitas águas rolaram e assim, muitos projetos de layouts foram ao ar e muitos projetos de quadrinhos também foram colocados à prova. A UCMComics não se transformou apenas num selo de quadrinhos independentes para downloads dentro de um site qualquer. Não. O Estúdio se transformou num fomentador de quadrinhos independentes, além de promover cursos, oficinas, workshops e exposições por toda a cidade e imediações, o Estúdio UCMComics também vem promovendo o acesso a outras mídias. Um Canal no Youtube falando de quadrinhos pelo mundo, um podcast com discussões sobre todos os temas que o entretenimento pode abarcar, além de Storytelling’s e vídeos diversos sobre o quadrinhos. O Estúdio UCMComics já promoveu um evento de entrevistas junto a Biblioteca Pública do Paraná onde trouxe mensalmente figuras importantes do quadrinho paranaense para debater com o público seus trabalhos; o Estúdio já se antecipou e revigorou a Gibiteca da Biblioteca Pública do Paraná, onde catalogaram todo o acervo; separaram as obras raras para serem conservadas e outras obras para serem restauradas; estantes novas foram compradas para que o acervo estivesse locado por ordem de gêneros e títulos, ou seja, um respiro delicioso que a Biblioteca teve e que seus usuários aplaudiram. Hoje, o UCMComics continua trilhando seu caminho com o mesmo propósito, fazer quadrinhos independentes; distribuir seus quadrinhos, seja digital ou impresso e principalmente estar fomentando o quadrinho nacional como uma bandeira a ser hasteada dia após dia. Esta é a meta do Estúdio UCMComics que a mais de 25 anos está entre os mais conhecidos estúdios de quadrinhos do Brasil. F U M E T T I .
Uma das muitas séries disponíveis para download no UCMComics - http://ucmcomics.com/
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Gringo, agora em livros
Migrar um personagem de HQ para um livro possibilita que a imaginação de cada leitor produz, tiram dos personagens as amarras e o desenvolvimento raso, dando a eles a profundidade que muitas vezes uma HQ não permite.
Experimentamos atualmente um movimento generoso onde muitos heróis dos quadrinhos migram para outras plataformas, televisão, cinema e principalmente um ambiente onde eles não precisam sofrer com as limitações de poucas páginas ou mesmo os traços de seu desenhistas, os livros de prosa. Lá nesse ambiente a interpretação visual que a imaginação de cada leitor produz, tiram dos personagens as amarras e o desenvolvimento raso, dando a eles a profundidade que muitas vezes uma HQ não permite. Em outros países da Europa e nos Estados Unidos, os contos e romances estrelados por super-heróis dos gibis são uma realidade consolidada, são vários lançamentos de livros por uma gama ainda maior de editoras e que virou uma indústria altamente lucrativa. Uma boa surpresa para os fãs de literatura e quadrinhos aconteceu quando a Mythos trouxe ao Brasil duas obras estreladas pelos heróis mais famosos da Sergio Bonelli Editore: Tex – A história da minha vida, escrita por Mauro Boselli (e com matéria na edição #1 da fumetti.), e Zagor – Os muros de Jericho, de Moreno Burattini. Com o Gringo não poderia ser diferente! Esse mestiço que foi criado no início dos anos 1980 e depois de vinte anos teve sua primeira HQ lançada, acabou tendo seu desenvolvimento limitado graças ao formato que uma revista tem, obrigando o leitor a ficar com aquela impressão curta sobre sua complexa personalidade. Gringo é um exemplo de que bons personagens ficam a vontade durante essa “migração de ambiente”. Esse Mestiço Saído das cinzas de uma guerra civil, leva consigo as marcas de um passado sangrento. A morte o rejeitou, mas ainda pode levá-lo a qualquer momento. E isso significa enfrentar a crueldade, o ódio, a vingança e os fantasmas da mente. Porém não procura desforras ou redenção.
Serão 4 livros pela Editora Red Dragon Publisher, mostrando um GRINGO como você nunca viu, ele é um cavaleiro solitário, que está bem distante de ser um dos tradicionais heróis do West, sempre prontos a enfrentarem seus inimigos, respeitando as regras de um jogo leal. GRINGO não. Ele não é esse tipo de herói idealizado; absolutamente. E para celebrar esse lançamento, batemos um papo com Alex Magnos, da Red Dragon Publisher, sobre o Gringo, Mercado, as outras HQs da Red Dragon... Confira à seguir:
Gringo em grande arte de Marcos Martins
Conta um pouco do seu trabalho diário e como conheceu o Gringo (e claro o Wilson)? Bem, em primeiro lugar, a formalidade dos agradecimentos! Então, muitíssimo obrigado por essa oportunidade de falar um pouco do meu trabalho para essa revista que já começou bem e que me conquistou como leitor. Sou praticamente um neófito no mundo de Tex, mas o futuro parece promissor. Quanto ao trabalho, rapaz, o desejo tanto de contar histórias, criar quadrinhos ou fumetti, como chamam nossos irmão além mar, bem como editar e publicar, vem desde a infância. Eu já fazia fanzine nos anos 80. Portanto, eu soube que isso era algo que eu iria fazer a vida inteira, e como vivemos no Brasil, onde o mar de rosas não é para todos, essa é a terceira tentativa de embarcar seriamente nesse mundo editorial, fazendo o que gosto que é, também, editar e publicar. Felizmente, nessa terceira vez, as coisas estão dando certo, tudo está caminhando pela vereda certa. Creio que as tentativas anteriores me ensinaram a tomar as decisões, as escolhas certas, então, vamos em frente! Já conhecia o nome Wilson, afinal, quem não conhece, certo! Mas nosso primeiro contato direto foi, se não me engano, em 2009, quando então eu estava à frente da revista Quadrix Comics. Trocamos alguns emails, quando tive o prazer de editar umas HQs dele de horror e western. Foi nesse tempo que Wilson me falou sobre Gringo pela primeira vez, mas infelizmente, devido a algumas decisões equivocadas quanto a pessoas que estavam ao meu redor, tive que dar um tempo e esperar um momento mais apropriado para retomar as rédeas das coisas, o que é justamente esse momento em que estamos. Assim, nada mais justo que Gringo retorne por aqui. Como surgiu a Red Dragon, tem planos para ter HQs através dela ou somente livros? Então, a Red Dragon surgiu da minha necessidade de publicar minhas próprias HQs, os livros vieram depois. Depois de cessei os trabalhos como editor da Quadrix em 2012, não consegui realmente ficar muito tempo longe, é algo que realmente amo fazer. Então retornei em 2015, dez vez, digamos, um pouco mais sábio, ou “mais calejado” como dizem por aí! Com esse retorno, comecei publicando minhas HQs e livros em inglês nos EUA e Europa em forma de ebook pela Amazon, hoje já publico em formato impresso também, tendo ótimos resultados. Foi só em dezembro de 2017, que comecei a publicar meus livros e HQs aqui no Brasil, fazendo um teste para ver no que daria e para minha surpresa, também tive bons resultados até o momento. Quais são os desafios que você enfrenta como editor independente? E claro conta o lado bom também. Como diria o saudoso Raul Seixas, “o homem é o exercício que faz”, eu penso que os desafios estão lá para nos auxiliar, nos ajudar a vencer, melhorar a nós mesmos e aquilo que estamos fazendo. Afinal, a vida em si mesmo é uma constante de desafios, sem os quais tudo seria bem monótono, mesmo no mundo de hoje. Nesse meio independente ainda vejo pessoas reclamando sobre distribuição, reclamando dos altos valores praticados por empresas especializadas, quando temos à nossa mão a maior ferramenta para distribuição e divulgação de nossa produção - a internet. Todo o foco da Red Dragon está voltado para a internet. De que outra forma uma pequena empresa, uma
small press, como a Red Dragon conseguiria expor à venda suas publicações de livros e HQs em países como EUA, UK, Alemanha, Itália, França, etc, sem ter que desembolsar uma nota preta que, falando a verdade, não temos? Meu lema é reclamar menos, agir mais, usando as ferramentas que tenho. No outro lado dessa moeda está o leitor, o consumidor. Muitos ainda hoje vivem limitados pela comodidade do “quando vai chegar à minha cidade”, “à banca x”, “à livraria x”, digo desde já que esse bem pode não ser o público da Red Dragon. Eu costumo dizer que tudo que faço ou publico na Red Dragon eu faço e publico para mim mesmo, quem tiver um gosto (um bom gosto, melhor dizendo) semelhante ao meu, irá consequentemente conhecer, consumir essas publicações. Exemplo: sou leitor de quadrinhos desde os anos 80, lembro-me de ir à banca comprar meus gibis todos os meses até os fins dos anos 90, mas hoje não faço mais isso. Hoje 100% das minhas aquisições de HQs, livros, outras coisas, são feitas online, em lojas virtuais. Esse para mim é um serviço fundamental que além de economizar o meu tempo, também me oferece ótimas oportunidades de compras. Por isso que o público alvo da Red Dragon, se é que podemos dizer assim, é aquele que tem uma visão semelhante a essa, aquele que reconhece a importância da internet, tanto para quem produz como para quem consome esses tipos de produtos. houve um amadurecimento do mercado, ou vivemos apenas as famigeradas bolhas de crescimento isolados e desarticulados? Houve sim, um crescimento, e ao meu ver, foi considerável, isso se deu justamente por conta da expansão da internet e, obviamente, do avanço e facilidades das tecnologias de informática voltadas para a área gráfica. Lembro-me que nos ano 80, os recursos que dispunhamos para autopublicação eram máquina de datilografia, tesoura, cola, correios e muita vontade para fazer. Hoje temos vários softwares para edição e editoração de imagens e textos, diversas plataformas online para publicar e distribuir tanto livros quanto HQs, além disso temos recursos como serviços de financiamento coletivo, além disso temos o surgimento da impressão por demanda trouxe que uma enorme facilidade para todos os sonhadores que acreditam em si mesmos e querem deixar o mundo de Hipnos e arriscar em suas próprias capacidades. Acredito que, no momento em que vivemos, não é mais concebível esperar por oportunidades, pois temos à mão todas as ferramentas para que possamos revelar nós mesmo ao mundo. Além disso, penso o seguinte, com todos os recursos que temos disponíveis, se você não arrisca investir em si mesmo, por que outra pessoa o faria?
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Como fazer com que nosso mercado de quadrinhos ou mesmo de livros independentes baseados em quadrinhos (uma vez que o Gringo surgiu numa HQ) seja bem sucedido se, às vezes, nós mesmos não colaboramos? Falando em quadrinhos, no Brasil, apesar das mudanças que vêm ocorrendo nas últimas décadas, ainda há uma grande desvalorização quanto ao que é feito de quadrinhos por aqui. Falo de uma forma geral. As pessoas ainda dão mais valor a algo quando é feito lá fora e depois vem para cá. Por outro lado, o que é produzido aqui precisa melhorar, não falo em qualidade gráfica, mas em conteúdo mesmo, falo de roteiro, pois desenhistas bons existem às centenas; falos de bons criadores de histórias. Nesse quesito, a qualidade das HQs produzidas no Brasil ainda deixa muito a desejar. Existem ótimos roteiristas sim, mas dois ou três não são suficientes se falamos em um mercado. Acredito que, com bons roteiristas, bons desenhistas, boas HQs, o resultado é um crescimento do sonhado “mercado nacional” motivado pela própria produção nacional. Você me contou que já editou outras HQs do Wilson, quais foram? E como foi esse trabalho? Na sequência foram: Kwi-Uktena (western-horror), Evolution (ficção-científica), Censurado (terror, já publicada na antiga Calafrio em 85, e desenhada pelo mesmo artista da HQ Gringo: O Escolhido) e O Ceifeiro (outra de western-horror). Teve uma outra, Coulrofobia (terror), que fiz as letras, a diagramação, etc, mas com o fim da Quadrix Comics, não foi publicada. Eu gosto das histórias criadas pelo Wilson porque ele fala de coisas que tenho interesse, além de experimentar em assuntos que parecem distantes, mas que casam perfeitamente, como é o caso das HQs de western-terror. Outra coisa que acho fantástico no talento do Wilson é a capacidade dele criar ótimas histórias em HQs extremamente curtas. Acho que isso vem do fato do Wilson ter uma maior influência da versatilidade da BD europeia mais que dos “american comics”. Isso é algo que estou buscando para minhas próprias criações. E as suas Hqs? Sobre o que elas são? Que personagens podemos destacar, o que podemos esperar delas e claro, quando elas sairão? Rapaz, eu escrevo praticamente sobre tudo. Lógico que tenho preferência por fantasia medieval, mas tenho escrito roteiros para HQs de terror, fantasia heroica, mitologia, ficção científica, fantasia espacial, regionalismo / cangaço (com forte influência do Spaghetti), suspense e sobre seres poderosos, mas não chamaria de super-heróis. No momento, estou produzindo duas séries de fantasia heroica medieval, uma com base em elementos de mitologia / cultura celta é Lochlann: Guerreiro do Crepúsculo Negro, a outra, com base em elementos de mitologia / cultura nórdica, que é Crônicas de Ghowndangard. As duas já vem sendo publicadas nos EUA e Europa desde o ano passado. Para este ano continuarei com novos capítulos para essas duas séries, mas também estou desenvolvendo outras 4 HQs com histórias fechadas, todas de terror ou medieval. Interessados em saber mais e acompanhar sobre o desenvolvimento dessas e outras HQs, basta visitar o site da Red Dragon. 1 9
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Comemoração em dose dupla
Red Dragon Publisher é uma editora que foi criada por Alex Magnos, inicialmente atuando como prestadora de serviços gráficos, graphic design, promoção de eventos, comunicação visual e outras mídias. Com o passar dos anos Alex sentiu necessidade de um meio para publicação de sua produção tanto de História em Quadrinhos como de livros. Seguindo com o crescimento e procurando manter viva a ideia de estabelecer uma atmosfera ideal para profissionais criativos independentes, hoje a editora oferece aos autores e quadrinistas independentes os serviços gráficos de diagramação, editoração, publicação e impressão para livros, brochuras, revistas em quadrinhos e graphic novels com pequenas tiragens ou sob demanda. E justamente duas HQs da editora terão edições especiais de aniversário neste ano, Bravo Jan: O Retorno de um Cangaceiro comemora 16 anos de seu lançamento e Haken Kreuz festeja 8 anos de publicação.
Bravo Jan Inspirado no cangaço mesclado com a arte do grande Will Eisner. Originalmente publicada em 2002, em um fanzine apenas chamado Bravo Jan e mais tarde republicada na revista Quadrix Comics: Aventura e Ficção # 1, em novembro de 2009. Esta história de Bravo Jan é verdadeiramente um conto em quadrinhos leve e engraçado. Em 2000, escrevi um roteiro sobre uma história em quadrinhos chamada simplesmente “Cangaceiros”, os famosos ou infames fora da lei e pistoleiros da cultura popular brasileira durante o final do século 19 e a primeira metade do século 20 - um período da História do Brasil que realmente gosto.
Até agora, aquele meu roteiro nunca teve oportunidade de vir à luz, mas deu inspiração a um jovem artista, e poucos dias depois ele criou essas mesmas páginas que você tem agora em suas mãos. Eu devo dizer, essa não é realmente minha história, mas uma outra, e sim, essa é exatamente a primeira aventura de Bravo Jan que agora está comemorando seu 16º aniversário.
Haken Kreuz Esta edição de Haken Kreuz traz a primeira versão da história do personagem homônimo, que é um ser superpoderoso, fruto de experiências genéticas nazista realizadas em solo Brasileiro após a queda no Reich. Embora o personagem Haken Kreuz seja um ser com poderes sobre-humano, ele não é um super-herói, mas um anti-herói, o que fica bem claro com a leitura dessa primeira aventura do personagem. A história apresentada nessa edição é um esboço do personagem e seu universo. O universo de Haken Kreuz é bem amplo e não só envolve o Nazismo do Terceiro Reich, como elementos de mitologia nórdica e suméria, tendo o Brasil como palco para conectar todas as aventuras, mas isso ocorrerá somente na nova saga que está em desenvolvimento, trazendo uma versão bem mais elaborada do personagem e seu universo.
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Continua na 2 3 próxima edição
Conheça Paulo José: Responsável por muitas horas de diversão da sua infância Posso garantir que você já leu ou assistiu bastante material produzido por ele.
Talvez você tenha achado que o Inspetor Silva te lembrou alguém e não sabe de onde? Ô Loco meu, ele é a cara do Faustão! Pra entender um pouco essa história vamos conhecer melhor os trabalhos de seu criador: Paulo José da Silva, Desenhista, Publicitário, Jornalista, Diretor e animador!
Ainda nos anos 80 criou o personagem e a marca Sapo Xulé, baseado na cantiga de roda “O Sapo não lava o pé”. Tornou-se sucesso em forma de brinquedos, games (produzidos pela TecToy), revistas em quadrinhos e passatempo. E que brevemente retornará em campanha colaborativa para a a publicação de uma Graphic Novel.
Sua carreira começou ainda na década de 1970, com desenho animado, junto com o animador Guy Lebrun, trabalhou em inúmeros estúdios de animação.
Fundou a editora Bingo onde criou e produziu o jornal Kidnews distribuído nas escolas de São Paulo, patrocinado por empresas que entravam com seus produtos em forma de HQ ou passatempo. Uma inovação na época, pois ainda não se falava em novas formas de conteúdo. Com este conceito em mãos criou personagens, revistas e outras ações para diferentes produtos e empresas como Karo, Nestlé, Johnson&Johnson, Mercedes Benz, Melhoramentos e muitas outras.
Na Editora Abril ilustrou as capas das HQs Disney e foi um dos principais roteiristas das s A TURMA DO PERERÊ (de Ziraldo) em 1978 e HERÓIS DA TV (da Hanna & Barbera) durante o ano de 1978. Em 1979, após animar um comercial com os personagens “Os Flintstones” foi convidado pelo vice-presidente da Hanna & Barbera - Art Scott para trabalhar como animador em seus estúdios em Burbank, Califórnia. Depois disso foi responsável pela montagem do estúdio de animação Maurício de Souza - Black & White, onde animou e dirigiu os primeiros curtas e longas metragens da Turma da Mônica na década de 1980, onde passou sete anos trabalhando.
Atualmente além de desenvolver projetos próprios, continua criando conteúdo infantil para empresas, com personagens, roteiros para HQ ou animação, ilustrando para agencias de publicidade. Também colabora como ilustrador de livros infantis e didáticos para as editoras; Editora Moderna, FTD, Editora do Brasil e Richmond Publishing.
Em meados dos anos 80 junto com o animador americano Hack Fick, fundou a Thalia Filmes, o primeiro estúdio de desenhos animados do Brasil a produzir para estúdios americanos. Produzindo e dirigindo episódios das séries: THE SNORKS (ou os Snorkels) - para Hanna & Barbera e LITTLE CLOWNS OF HAPPY TOWN - para a Marvel Comics. Sua passagem pelas Editoras Abril, Globo e Manchete produziu algumas revistas em quadrinhos clássicas dos anos 1980 e 1990, desenvolvendo personagens, roteiros e arte final. Podemos destacar REVISTA DO FAUSTÃO (Ed. Abril, 1991) e foi aqui que surgiu a idéia do Inspetor Silva, REVISTA DA XUXA (Ed. Globo produzida entre 1988 e 1990), REVISTA DA ANGÉLICA (Ed. Manchete em 1990), MENINO MALUQUINHO (Ed. Globo 2004 a 2005). 2 4
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Dylan Dog e Martin Mystère de volta às bancas brasileiras Para celebrar esse retorno depois de mais de uma década ausentes, apresentamos d u a s e n t r e v i s t a s e x c l u s i v a s c o m d o i s d o s m a i s c o n c e i t u a d o s d e s e n h i s t a s d e s s e s p e rsonagens: Giuseppe Montanari de Dyland Dog e Lucio Filippucci, de Martin Mystère
Giuseppe Montanari Por Aurélio Miotto Nascido em 26 de novembro de 1936 na província de Bolonha, Giuseppe Montanari – que desenha em parceria com Ernesto Grassani – é um dos maiores desenhistas da história da Bonelli. Responsável por histórias clássicas como “As noites de lua cheia”, “A zona do crepúsculo”, “Uma voz vinda do nada” e tantas outras, a caraterística de seu traço (também de Grassani) está gravada na retina dos fãs de Dylan Dog. Nesta entrevista, ele fala sobre o início do personagem na Itália e sobre como é trabalhar em parceria com outro desenhista. Você começou a trabalhar com o personagem ainda recém-nascido, o viu crescer, se tornar um fenômeno editorial e posteriormente se consolidar como um fumetti icônico. O quê Dylan Dog significa para você? E o quê ele significou para a sua carreira como desenhista? Montanari: Como já se é sabido, eu era um desenhista com uma carreira extensa e conhecido pela quantidade de trabalhos realizados para variados editores. Dylan Dog é o meu “estandarte”: a “jóia da coroa” de uma carreira. Você que viveu aquela época pode explicar um pouco melhor: como foram os primeiros meses de Dylan Dog nas bancas? Como Sclavi se portou frente ao “encalhe” das primeiras edições? Montanari: Os primeiros meses – e em particular a primeira edição – criaram grandes preocupações na redação, visto que os números de venda não eram dos mais encorajadores. Felizmente, a partir do número 3 em diante, a situação melhorou consideravelmente. Quanto à “reação” de Tiziano após o “fracasso” inicial: nenhuma. Ele não se abalou nem um pouco em nenhum momento (quem o conhece pode entender o que digo!). Quem foi o responsável por trazer vocês ao staff de Dylan Dog? Montanari: Fui convidado por Sergio Bonelli e Decio Canzio, que já conheciam meu trabalho. 2 6
Você trabalha em par com o Ernesto Grassani desde meados da década de 1970. Como vocês fazem a divisão do trabalho? E como um complementa ao outro na hora de desenhar? Montanari: Grassani foi um dos desenhistas que compuseram meu “grupo de trabalho”. Ernesto Grassani e Claudio Piccoli sempre foram os que melhor se integraram ao meu estilo de desenho. A divisão do trabalho ocorre desta maneira: recebo o roteiro e o leio várias vezes para escolher os quadros mais adequados ao trabalho de Grassani (cerca de setenta quadros por edição). Ele, por sua vez, os desenhará a lápis, reservando para mim as partes em que Dylan aparece mais (permitindo que o rosto de Dylan mantenha as mesmas características ao longo da edição). A finalização da arte é feita exclusivamente por mim, permitindo que o desenho final possa ser totalmente uniforme. Também cabe a mim a tarefa de preparar as “model sheets” dos personagens que compõem a história. Você e Ernesto desenharam quase uma centena de histórias para Dylan Dog (89, até onde pesquisei). Você tem preferência por alguma delas? Montanari: É difícil fazer uma classificação entre as “minhas criaturas”… Posso indicar “A dama de negro” e “O castelo do medo” (nºs 13 e 12 da Mythos), “La regina delle tenebre” (inédita no Brasil) e “Fear” (inédita no Brasil)… Qual a diferença entre os roteiros de Sclavi e os outros roteiros? O que ele tinha de “especial”? Montanari: Pergunta difícil… Eu deveria dizer que a diferença é “abissal”, mas não gostaria de desmerecer o trabalho de nenhum dos outros roteiristas. Desde 1998 até 2010, apenas você e Ernesto desenharam para Maxi Dylan Dog. Como se deu a decisão da Bonelli em lançar esta série contando exclusivamente com os desenhos de vocês? R E V I S T A
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Montanari: É uma ideia que nasceu na própria redação, frente ao fato de que em dois produzimos muito. Felizmente, o experimento funcionou. Depois de um longo período sem trabalhar na série regular, vocês retornaram em “Graphic Horror Novel” – que recebeu muitos elogios por parte dos leitores italianos. O quê esta edição tem de especial? Montanari: É um “experimento”… Não sei se o “experimento” acabou nessa edição… Vamos ver o que acontece. Você, particularmente, também trabalhou em Martin Mystère. Como é trabalhar com Alfredo Castelli? E quais as semelhanças (e diferenças) entre ele e Sclavi? Montanari: Alfredo é um amigo. Não consigo fazer uma comparação entre os dois… Eles tem em comum o imenso talento e a pouca eloquência. Que outros projetos você desenvolve além de Dylan Dog? Montanari: Para um pessoa na minha tenra idade, Dylan Dog já basta e sobra!
Lucio Filippucci Por Thadeu Fayad Lucio Filippucci nasceu em 1955, em Bolonha, aos vinte anos, graças à editora “Edifumetto” de Renzo Barbieri estreou nos quadrinhos, em 1979, substitui o lendário Milo Manara na série “Chris Lean” na revista “Corrier Boy”, onde também desenhou várias histórias curtas. Sua estréia em Martin Mystère foi na edição #148 de julho de 1994 e ao todo desenhou 9 edições da série regular (incluíndo edições comemorativas de número 200 e 300 - onde dividiu os desenhos com outros artistas icônicos), 5 edições do “Almanacco del Mistero” e 3 edições de Martin Mystère As novas aventuras em Cores (onde é feita uma releitura do personagem saiba mais aqui). Todo esse material ainda é inédito no Brasil. No “Almanacco del Mistero” (algo como Almanaque do Mistério em tradução livre) trabalhou nas aventuras do “Docteur Mystere” com roteiros de Alfredo Castelli, publicado em 1998 e que foi reimpresso recentemente em edições ampliadas e em cores, lançada em 7 países europeus. Você conheceu Mystère como leitor e depois chegou à revista como desenhista: o que mudou em sua “visão” do personagem? Você pode dizer: “agora eu desenho ele como gosto, como imagino”? Eu conheci (e amei), do Martyn Mystere primeiro como leitor. Sempre fiquei fascinado com as atmosferas fantásticas da arqueologia espacial em Peter Kolosimo desde a infância e M.M. correspondia e deu substância às minhas fantasias. Foi uma grande alegria se tornar um dos seus desenhistas. Na execução do personagem que eu queria respeitar suas características desde o início, então estudei cuidadosamente o M.M. feito por Alessandrini tentando modificá-lo o mínimo possível. com o tempo cheguei ao meu Martin que sempre foi fiel aos cânones do personagem.. Desenhar sua primeira história de Mystère também foi seu primeiro trabalho de um grande número de páginas: o que você sentiu, como foi o impacto, como você lidou com isso e como se saiu? Na verdade, cheguei a Bonelli e Martin Mystere depois de uma longa jornada no campo de quadrinhos e ilustração. meu primeiro longa-metragem, e também meu primeiro livro de quadrinhos que acabou de sair da escola de arte de Bolonha em 1975, foi um Biancaneve pelo editor de Barbieri. eram 100 páginas difíceis, onde, além disso, era uma tira cômica erótica, eu fui testado com a anatomia e o corpo em movimento. coisas mortais para um iniciante. Mas eu fiz
isso e então fui desenhando um pouco de tudo. sempre para Barbieri, para Corriere della Sera (Corrier Boy) e dedicando-me a ilustração para livros infantis e depois figurinhas para Panini e até o final dos anos oitenta quando conheci Castelli. Por um tempo, você foi o desenhista que acompanhou o Detetive do impossível nas páginas de muitas das iniciativas em que ele foi chamado de porta-voz: foi casual? E como você avaliaria este engajamento uso “fora do padrão” do personagem? Castelli confiou-me principalmente uma longa história chamada “Il segreto dei teutoni”, mas eu quebrei-o frequentemente para que fizesse os quadrinhos de MM como um porta-voz. Eu acho que foi porque ele gostou de como eu projetei e pensei que evitei um estilo versátil (fiz muita publicidade no passado), adequado para interpretar as mais diversas necessidades. Lembro-me de produções para o município de Milão, mas também para jornais e campanhas de caridade. Foi um momento feliz porque não conhecemos o tédio. Devo dizer que um mecanismo como este, muito fragmentado como tempos e situações, sim. Ele estava perfeitamente sintonizado porque sempre escapei da rotina como a praga.
Hoje, o quadrinho já não tem o mesmo sucesso de vendas do que de 20-30 anos atrás. Como você analisa essa situação? A crise de vendas dos quadrinhos segue a crise de todo o setor de papel (livros revistas). Eu atribuo essa mudança ao advento do digital. Hoje, os jovens já não lêem nada exceto alguns livros escolares, mas apenas porque são obrigados. O digital em todos os níveis da sociedade está nos afetando. Eu prevejo que essa tão voraz revolução industrial levará a população mundial a médio prazo a um estado de ignorância comparável à revolução pré-industrial. e, claro, a publicação será a primeira a ser sacrificada. Você tem ótima avaliação entre os leitores “mysteriosi” (assim são chamados os leitores de MM na Itália), mas, após a experiência do Texone, você ainda está trabalhando com Tex na série regular. Você abandonou a BVTM (bom e velho tio Martin) permanentemente? Sim, agora estou em Tex em tempo integral e também tenho que fazer muitas páginas. Com MM, no entanto, mantenho um excelente relacionamento emocional e confesso que é o único quadrinho que ainda leio com prazer. Agora é Tex, mas o futuro é sempre Mysterioso!
Para um desenhista de Tex, quanto espaço existe para iniciativa pessoal: a tradição dos grandes nomes (Aurelio Galleppini) é uma inspiração ou um vínculo? Devo dizer que, com Tex, a mudança foi radical, tanto no estilo do roteiro quanto na do design (MM é mais elegante, Tex. Mais sujo e empoeirado) que na rotina precisamente. mas, como em todas as coisas, existem os prós e os contras. Eu tive que sacrificar um pouco de liberdade em troca de uma colaboração certamen- te de prestígio, sendo Tex hoje um dos quadrinhos mais lidos no mundo. mas não posso desistir de outras coisas. da ilustração dos livros botânicos, um pouco de Martin Mystere, meu antigo e insuperável amor literário. para o que diz respeito ao estilo. sem restrições. Estudei no início o Tex de Ticci, que penso ser o melhor desenhista de western, então desenvolvi com o tempo o “meu” Tex. A iniciativa pessoal, portanto, é uma parte essencial do nosso trabalho. Devemos pensar, paralelamente com o cinema, como os diretores de um filme. Nós somos os que definimos as vinhetas e determinamos sua direção. máxima criatividade (e responsabilidade). R E V I S T A
F U M E T T I .
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