edição #5 - maio de 2018
PESQUISA: PERFIL DOS LEITORES
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DAMPYR O CAÇA-VAMPIROS BONELLI
DARK FRONTIER O PEQUENO RANGER ENTREVISTAMOS
PASQUALE FRISENDA & ROUXINOL DO RINARÉ
E AINDA: FESTIVAL GUIA DOS QUADRINHOS 2018 - ZINE CABAL - BURIED - CORDÉIS - MUITAS ENTREVISTAS
EDITORIAL EXPEDIENTE Editor: Thadeu Fayad Colaboradores: Joana Rosa Luiz Henrique Cecanecchia Consultoria: José Carlos Francisco Ricardo Elesbão Alves Wilson Vieira Revisão: Rafael Belmonte Diagramação: Thadeu Fayad
Fundador: Alexandre M Brito Editor Chefe: Alex Magnos Editor e Comercial: Thadeu Fayad Editor e Marketing: Raphael Duarte Assistente editorial: Giordano Bruno RED DRAGON COMICS e RED DRAGON BOOKS são Trademarked & Copyrighted por Red Dragon Publisher
A Revista fumetti. digital é uma publicação mensal, da editora Red Dragon Publisher.
No último dia 18 de abril, aos 60 anos, Pino Rinaldi, cartunista de Sergio Bonelli Editore e Marvel Comics, nos deixou. A notícia foi dada por sua filha, com um post na página pessoal de Rinaldi no facebook. Particularmente Pino Rinaldi foi muito importante para revista fumetti. Ele foi a primeira pessoa que entrevistei na vida! Me lembro de ter mandado uma mensagem através do site Deviantart, perguntando se poderia reproduzir alguns desenhos dele sobre Diabolik, que era o destaque da segunda edição da fumetti. Expliquei sobre o que era a revista e que conhecia sua carreira, num primeiro momento ele ficou mais arredio e duvidou que eu realmente conhecesse sua carreira, mas aceitou receber as perguntas. Enviei a entrevista e após alguns e-mails trocados ele fez um post em sua página do facebook mencionando o fato de que realmente conhecia sua carreira e então abriu a guarda, respondendo todas as perguntas e me enviando muitas imagens para ilustrar a matéria. Seguimos trocando algumas mensagens até o ponto onde desenhista turrão deu lugar a um inusitado e carinhoso amigo. Tudo isso claro rendeu uma ótima passagem, durante a produção da edição #2 enviei a ele uma prévia do que seria a capa da revista e eu havia escolhido uma imagem de Diabolik que não era dele e sim de outro desenhista, porém o Italiano turrão “reclamou” que o desenho dele não estaria na capa e eu acabei alterando a imagem somente para atender ao desejo do artista. Ele também compartilhou a revista, fazendo chegar até a associações culturais da Itália, algo que tenho bastante orgulho e felicidade. Regularmente trocavámos mensagens, eu sabia que não estava bem de saúde, mas nunca acreditei que fosse assim tão grave.Guardarei sempre com muito carinho a mensagem que dizia que eu era um amigo querido e que mesmo sem ele saber a razão, que eu estava em seu coração. Essa é a singela homenagem que posso fazer a um grande desenhista e um dos bons amigos que pude fazer na vida. Boa viagem Maestro!
Edição dedicada a Pino Rinaldi 04
FESTIVAL GUIA DOS QUADRINHOS 2018
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ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ - PARTE 3
08
PESQUISA: PERFIL DOS LEITORES BONELI
13
COLUNA DO LUIZ: MARTIN MYSTERY
14
ESPECIAL DO MÊS: DAMPYR
20
SUPER PÔSTER: DAMPYR
22
ENTREVISTA: PASQUALE FRISENDA
28
HOMENAGEM A PINO RINALDI
31
DÉCIO RAMÍRES - HQ DO MÊS
32
ENTREVISTA: ROUXINOL DO RINARÉ
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REVIEW: O ETERNAUTA
36
ENTREVISTA: MASSIMO ROSSI
40 BURIED
/revistafumetti /revistafumetti
42
ZINE CABAL
20
SUPER PÔSTER 2: ZINE CABAL
ARTE DA CAPA GENTILMENTE CRIADA POR ANILTON FREIRES
https://www.facebook.com/anilton.freires
EVENTOS 2018
Festival Guia dos Quadrinhos A EDIÇÃO 2018 DO JÁ TRADICIONAL FESTIVAL FOI MUITO ANIMADA E UM GRANDE SUCESSO PARA O PESSOAL DA CONFRARIA BONELLI.
Nos dias 14 e 15 de abril aconteceu o Festival Guia dos Quadrinhos. O evento na verdade começou como um mercado de pulgas entre colecionadores do site Guia dos Quadrinhos (especializado em catalogar todas as HQs que já foram publicadas no Brasil), foi ganhando corpo ao longo dos anos e atraindo cada vez mais fãs e artistas de todos os tipos, no Club Homs, na Avenida Paulista. Local aliás que vem sendo utilizado desde sua primeira edição. O Festival tem um ambiente bem diferente dos demais eventos do mesmo tipo que acontecem em São Paulo. Tem uma atmosfera muito amigável e intimista, talvez por ter nascido como um mercado de trocas, talvez por acontecer em um local pequeno. Mesmo com a presença de lojas importantes, o que da a alma para esse evento este evento é a reunião de fãs e artistas, todos verdadeiramente no mesmo barco, sem distanciamento. No ambiente principal, os mais de 30 artistas diferentes vendiam seus trabalhos ao lado das grandes lojas, ao mesmo tempo em que leitores trocavam HQs entre si. O Festival Guia dos Quadrinhos, vem ano após ano se estabelecendo como um evento cada vez mais atrativo para os fãs dos quadrinhos e se solidificando no circuito dos grandes eventos.
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Ponto para a organização do Festival soube aproveitar bem o espaço disponível, integrando bem os ambientes, deixando-os com bom nível de som, apesar dos microfones e conversas espalhadas. Tivemos ainda os tradicionais Cosplays, brincadeiras como Quiz, Uma bonita homenagem ao artista Otavio Cariello - que contou com uma pequena exposição de seus trabalhos - além da celebração dos 25 anos de publicação da linha Vertigo, com um painel contou com importantes figuras que já trabalharam no selo aqui no Brasil. Pra comemorar essa data, foi lançado o Vertigo: Além do Limiar, criado por Edson Diogo, fundador do site Guia dos Quadrinhos e, claro, do próprio festival. O livro comemora os 25 anos do selo com muitos textos informativos e artes exclusivas de muitos nomes nacionais e internacionais. O lançamento só corrobora pra demonstrar a alta capacidade e qualidade, não só do evento, mas de seus produtos agregados. A Confraria Bonelli marcou forte presença no evento em parceria com a editora 85, responsável pela volta de Dampyr ao Brasil e com a própria Mythos, dividindo o mesmo espaço, divulgando os personagens Bonelli, conquistando novos fãs, mostrando a capacidade integradora e dando um show de simpatia, algo que, convenhamos, a maior publicadora Bonelli no Brasil é bastante carente. Ao que tudo indica, pelo próprio sucesso das ações de ambas, podemos esperar a repetição da parceria, trazendo um grande valor agregado não aos produtos Mythos e sim no que ela tem mais importante, o trato ao leitor.
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Os tradicionais cosplays não poderiam ficar de fora de um evento como esse. Ao lado uma das mesas de vendas e trocas.
O evento movimentou os salões do clube Homs em São Paulo. As fotos des ta ma tér ia foram gentilmente cedidas por Marcos Chapeleta do portal http://ligadoamusica.com.br
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Onde os fracos não tem vez Parte 3
A s a g a d a s e d i ç õ e s j á e n c e r r a d a s d e Te x segua a todo vapor Por Joana Rosa Russo
Superalmanaque Tex Muito se fala até hoje sobre qual teria sido a intenção desta publicação. Encadernado especial, o SuperAlmanaque Tex, como foi nomeado, reunia quatro histórias já publicadas na série regular do Almanaque Tex. Há quem cogite que o encalhe das Almanaques poderiam provocar uma tentativa de desague em banca. Outros já argumentam que seriam a reunião das melhores histórias até então publicadas na série do Almanaque. Fato é que realmente se tratava de encalhe. Seja como for, apesar de repeteco, a publicação é graúda: com 460 páginas, muitos leitores a adquiriram para compor coleção. Não foram publicados outros números, embora o anuncio seria de uma “nova coleção”. O fato é que não emplacou. Então, embora tenha apenas um único volume publicado, integra a lista de séries mortas, e neste caso, por falta de interesse de mercado.
Tex em cores Provavelmente a série que sustentou a maior polêmica até o momento, Tex em Cores, ou simplesmente “TEC”, é a série que mais sofreu com a mudanças de mercados e apoio dos leitores. Com uma proposta inovadora, TEC era uma coleção que tinha de tudo para ser perfeita: em formato Italiano, miolo diferenciado, em cores e na ordem cronológica. Mas aqui curvo-me a mesma posição do editor, o Dorival numa das respostas publicadas no Tex Willer Blog quando indagado sobre a terceira edição de Tex: o mesmo com a série Demian e Cassidy, dois personagens interessantíssimos, uma revista linda, formato Bonelli, preço acessível, mas ninguém comprou. E ainda tem gente que pede novos personagens.”
Celebrando a vinda do mestre Civitelli ao Brasil, a Mythos preparou aquele “tijolinho” delicioso de ler: “Especial Civitelli” trouxe 336 páginas de uma das mais aclamadas
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Especial Civitelli
histórias já desenhadas e, surpreendentemente, escrita, por Fábio. Sim, o que muitos desconhecem é que neste caso, a história “O Presságio”, não tem roteiro exclusivo de Nizzi. Civitelli deu vida ao cerne e Nizzi lapidou com a experiência necessária. O especial foi publicado por ocasião da vinda do mestre desenhista para a 17ª FestComix, que aconteceu em São Paulo em 2010, conjuntamente com o livro “O Oeste Se-
gundo Civitelli”. A história tem razão de ser aclamada: foi a primeira vez que se viu um romance despontar para nosso ranger, . muito mais profundo e amadurecido do que com outra personagem. Alisson, inclusive é considerado por muitos como a perfeita parceira para Tex.
Edição Comemorativa de 50 Anos de Aventuras no Brasil Editada pela Opera Graphica, a edição reúne a trajetória de Tex no Brasil durante sua primeira década no Brasil, bem como suas publicações, formatos, curiosidades e mercado editorial.
Tex Especial 60 Anos Para marcar os 60 anos do personagem no Brasil, a Mythos trouxe uma bela publicação inédita: “Na trilha das Recordações”, em capa cartonada de 132 páginas de aventura, contando o que se passou, em flashback o que Tex e Lilith viveram na reserva indígena logo depois da história “pacto de sangue”.
Tex Gigante (Reedição) – MYTHOS Uma única republicação do gigante aconteceu em abril de 2010 pelo mesmo motivo que levou à republicação do Gigante #01, abaixo inserida: Tex continua a ser um fenómeno de vendas no Brasil (para gáudio também dos texianos portugueses) e este início de ano comprova-o uma vez mais com a Mythos Editora, na pessoa do seu editor Dorival Vitor Lopes anunciando em exclusivo ao blogue do Tex a reedição de duas publicações muito requisitadas pelos seus fieis leitores: a reedição do Almanaque Tex nº 1 e a do Tex Gigante nº 1. Almanaque Tex #1 com lançamento já neste mês de Fevereiro, traz a aventura Vendetta Navajo da autoria da dupla Claudio Nizzi & Giovanni Ticci e o Tex Gigante #1 escrito também por Nizzi e com desenhos de Jordi Bernet , cujo lançamento está previsto para Março, mostra a óptima aventura O Homem de Atlanta. Estas duas edições foram das primeiras publicadas pela Mythos Editora há dez anos e já estão esgotadas há muito, sendo difícil encontrá-las até mesmo em alfarrabistas ou sites de venda pela Internet. (disponível em Tex Willer Blog).
CONCLUI NA PRÓXIMA EDIÇÃO.
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INÉDITO NO BRASIL
Pesquisa: Perfil dos leitores Bonelli Muito se especula sobre o perfil do leitor brasileiro de quadrinhos, mas poucas pesquisas sobre o assunto são divulgadas no país. Se olharmos exclusivamente para nichos específicos dentro desse universo - os leitores da Bonelli, por exemplo - pode-se dizer que essa é uma investigação inédita. Em nosso imaginário, acreditamos que as editoras realizam, constantemente, pesquisas de mercado para delimitar o gosto e o perfil do público consumidor, mas nada, ou quase nada, é divulgado ─ talvez por questões estratégicas. Buscamos com ela revelar, pela primeira vez, um quadro atual do perfil do leitor de quadrinhos Bonellianos no Brasil. No quesito gênero, os dados não surpreendem e são até conclusivos, pois a grande maioria dos leitores pertence ao sexo masculino (85%). Também revelam a presença de leitores financeiramente diferenciados, divididos entre as classes A1 e B2, que gastam grandes quantias por mês em HQs. 93% dos leitores preocupam-se com a observância quanto à norma culta empregada nas histórias das HQs e 43% começaram a ler gibis por interesse pessoal, sem uma influência direta. A pesquisa foi realizada durante 3 meses, pela internet, e contou com a participação de aproximadamente 500 fãs das publicações da editora italiana em todo o Brasil. Ela pode ser vista como uma forma de desestigmatizar a crença de que histórias em quadrinhos são apenas passatempo direcionado ao público infanto-juvenil. Mais ainda, ela apresenta a todos um público adulto que lê quadrinhos há muito tempo e quer, além de um produto de qualidade, ser tratado com respeito. >
PESQUISA: PERFIL DOS LEITORES
O FUTURO DO MERCADO DE HQs Apesar de termos um mercado de HQs em tímida expansão, mais da metade dos entrevistados (58,8%) acreditam que os títulos existentes deveriam ter preços mais atrativos e 22,7% defendem que deveria existir maior variedade de títulos. 78,4% concordam que a aparência do produto influencia na compra, buscando revistas produzidas com maior qualidade. Dentre as Editoras, 40,3% consideram o trabalho da Salvat o melhor. Está satisfeito - 3,4% Maior variedade de títulos - 22,7% Preços mais acessíveis - 58,8% Espaço para novos desenhistas - 3,4% Segmentação de mercado - 3,4% Não sabe - 4,2% Outros - 22,7%
QUEREM DE VOLTA Entre os leitores mais antigos que já presenciaram diversas fases das publicações e vários títulos que surgiram e desapareceram ao longo dos anos, Mister No lidera a lista com 23% dos pedidos, seguido por Dylan Dog (19%) - que voltou às bancas recentemente pela Mythos Editora. Ken Parker é uma surpresa, por já ter sido editado no Brasil em diversas oportunidades e ser uma série encerrada. Sinal de que história boa merece sempre ser revisitada e republicada com cada vez mais qualidade. Outros personagens, mesmo os que não são da Bonelli, foram mencionados, mas eles, isoladamente, não tinham percentual superior a 1%. Contudo, todas as citações para que alguma HQ específica voltasse a ser publicada chegaram a 17% do total.
Martin Mystery em anime Por Luiz Henrique Cecanecchia Baseado no fumetti Martin Mystère, criado em 1982 pelo italiano Alfredo Castelli, conhecido também como o Detetive do impossível, Mystère investiga casos bizarros ao redor do mundo. A adaptação do quadrinho italiano foi realizada por uma co-produção França-Canadá em estilo japonês. Essa salada de culturas gera um desenho animado único e bem divertido. A animação alterou o nome para Martin Mystery para que houvesse maior aceitação do público estadunidense. Feito em 2004 pelo mesmo grupo (marathon) responsável por, também em estilo anime, “Três Espiãs Demais” e sua continuação “Os incríveis Espiões”. A ideia de produzir uma série animada européia nesse estilo pode surpreender alguns, mas o público francês é ávido consumidor de mangás e animes. Além de produzir material próprio, o país possui uma das maiores bases de fãs ocidentais de Cavaleiros do Zodíaco (houve até uma tentativa de compra do seriado japonês, há 15 anos por um estúdio francês, para gerar uma continuação própria). Mesmo na Itália, lar de Mystery, existem duas produções locais feitas no mesmo estilo: O Clube das Winx e Witch. Apesar de ser inspirado no quadrinho, o desenho possui uma lógica própria e altera alguns conceitos ligados aos personagens. Aqui, Martin é um adolescente que - junto de sua irmã Diana (a cética), do homem das caverna Java (o forte) e do alienígena Billy (o medroso) trabalha para o grupo secreto chamado Centro, responsável por localizar e destruir ameaças paranormais espalhadas pelo mundo. O grupo utiliza portais (teletransporte) para enviar suas equipes em missões. Um sistema simplificado e reduzido desse sistema possibilita Martin - por meio de um mecanismo de pulso chamado “Relógio” - materializar equipamentos vindo da
base, como o Analisador de Gosma, o Legendex (uma agenda eletrônica sobre lendas no mesmo estilo da Pokedex, de Pokemon) e uma faca laser. Diferente de outros seriados, Martin Mystery tem um episódio final (o episódio duplo ”Está vivo”) em que uma agência rival ao Centro surge na caça aos monstros, mas com um objetivo mais sombrio em mente. O seriado durou 3 anos, totalizando 66 episódios. Foi uma série divertida, com sua própria mitologia. Vale a pena para quem gosta deste estilo de animação ou é fã do personagem! Curiosidade: Há um episódio em Três Espiãs Demais que reúne os personagens das duas séries. No capítulo “Mistério Total”, apenas Martin aparece, mas todos os outros personagens do seriado são mencionados. Além dos inúmeros flertes, existe uma certa rivalidade entre eles para ver quem é o “melhor herói” em uma história envolvendo o Abominável Homem das neves.
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Criado em 2000 por Mauro Boselli e Maurizio Colombo, Dampyr é o filho nascido da união entre uma mulher e um vampiro. Meio humano e metade criatura mística, é o único que pode matar o Arquivampiro - ou Mestres da Noite (espécie de vampiros superiores) -, sua corte de mortos-vivos e outras criaturas das trevas que infestam nosso mundo.
A obra foi, inicialmente, inspirada nas lendas do leste europeu, mas foi além, a capacidade de andar sob o sol sem sofrer danos e o sangue tóxico para os vampiros são conceitos mais ricos e elaborados do que aqueles tradicionais explorados à exaustão pelo cinema hollywoodiano. Um exemplo interessante é a capacidade que Harlan possui de absorver os poderes dos vampiros anciões, algo que ele descobre na prática. Logo nas primeiras edições, somos apresentados aos dois coadjuvantes que, mais tarde, tornar-se-ão grandes amigos: Kurjak e Tesla, parceiros de Dampyr. O modo como se conhecem é, definitivamente, o menos usual possível. Kurjak tem sua aldeia e seus soldados são mortos por um bando de vampiros a mando do
maligno Gorka (vilão da história); enquanto Tesla Dubcek é uma vampira (pura) transformada pelo bando de Gorka, o que motiva sua vingança. Não é necessário dizer que ela tem razões de sobra para se juntar ao grupo. Embora a convivência pareça difícil, a história flui de maneira interessante. Como todo personagem Bonelliano, Dampyr foi inspirado em algum ator ou personagem famoso. Suas feições foram emprestadas do ator Ralph Fiennes (O Paciente Inglês, A Lista de Schindler e Estranhos Prazeres, um dos filmes que Maurizio Colombo mais gostou). Outro traço marcante da publicação é a continuidade entre as histórias. Podemos ler cada edição de forma independente, mas existe um fio condutor ao longo do desenvolvimento que amarra toda a trama. A série é recheada por referências históricas e geográficas, outra tradição Bonelliana, na qual os escritores e desenhistas são mestres em construir ambientes e enredos fiéis aos lugares e suas lendas.
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Inicialmente, o título foi lançado, como minissérie, para a Revista Zona X - publicada pela Sergio Bonelli Editore, na Itália. Mauro Boselli e Maurizio Colombo criaram um personagem que representava a face do horror tanto no aspecto natural quanto sobrenatural. A história trazia, de um lado, diversas guerras humanas (Segunda Grande Guerra e Guerra dos Balcãs, por exemplo) e, de outro, vampiros, lobisomens e toda gama de seres míticos. A iniciativa deu tão certo que Dampyr virou série regular e é sucesso na Itália até hoje.
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Harlan Draka não se chama Dampyr, ele é um dampyr. No começo, ele não sabe o que é e nem conhece sua origem. Sabe apenas que nasceu durante a última guerra mundial e que, por razões desconhecidas pela ciência médica, seu corpo envelhece muito lentamente: Harlan aparenta ter, no máximo, vinte e cinco anos. Os detalhes de sua origem são revelados ao longo da leitura, sem muitos preparativos. Harlan descobre aos poucos sua história e descendência, e traça suas convicções durante sua busca.
QUANDO MUNDOS COLIDEM Dois personagens que enfrentam o mal à sua maneira em uma história que mistura ação, humor e mal-entendidos. Dylan Dog, o investigador pesadelo, deve unir forças com o Harlan Draka o Dampyr, quando Londres está ameaçada por vampiros às ordens de Lodbrok, líder Viking lendário e o Mestre Noite, evitando que armas de destruição em massa caiam nas mãos dos vilões frustrando os planos de vingança contra a Inglaterra. Temos que ter cuidado quando definimos o que é um crossover. Na verdade o que queremos definir aqui é uma história que reúne dois protagonistas de publicações diferentes, mundos separados e os envolve em uma trama e não uma oportunidade em que um dos dois aparece na história do outro (como Mister No aparece em uma das histórias de Martin Mystère). É uma equipe, como o que aconteceu em nos dois encontros entre Martyn Mistere e Dylan Dog. E se essa não é a primeira vez que vemos uma união entre os protagonistas de duas revistas diferentes da Editora Bonelli, com certeza é a primeira vez que acontece um encontro entre duas séries regulares, um desafio editorial longe de ser simples.O encontro começa no n. 371 de Dylan Dog e termina em n. 209 de Dampyr, saindo alguns dias depois um do outro - lá na Itália.
A história é um caldeirão pop para citar o próprio Dylan “Parece um cruzamento entre James Bond, Blade e Buffy”, com vampiros, conspirações nas sombras e intriga internacional. Isso para não mencionar que tudo gira em torno de algumas figuras que a série de TV Vikings tornou populares ao público em geral, mas que têm suas raízes na verdadeira mitologia Viking. Porém o sucesso de um crossover não reside apenas na construção de uma história que envolva os protagonistas das diferentes séries e nem na logística de publicação. Consiste acima de tudo na interação entre os personagens. Por exemplo, nas equipes acima mencionadas, entre Dylan e Mystère, o encontro entre os dois personagens foi o gatilho para o elemento sobrenatural ser tratado. Os protagonistas interagiram ao longo de todo o caso com o consequente aprofundamento de toda a carga emocional que isso acarretava.
Aqui, ao contrário, é o elemento sobrenatural que faz com que o encontro entre Dylan e Harlan aconteça. A aventura e o componente fantástico, no entanto, assumem muito a importância no desdobramento da história, em relação ao relacionamento entre Dylan e Harlan, que permanece muito superficial e ocasional.Os componentes típicos de um crossover estão todos lá, algumas páginas icônicas, cartuns onde os protagonistas e seus coadjuvantes estão em espaços igualmente divididos. Piadas enfáticas; a trama dos elementos mitológicos dos dois anti-heróis, a briga inevitável e inofensiva e a equipe disfuncional entre os vilões. A colocação cirúrgica de todos estes componentes, inevitavelmente é um delicioso serviço para os fãs, mas também dá a sensação de um produto ensaiado ou artificial, uma vez que muitos leitores Bonelli não estão habituados a encontros de heróis no melhor estilo Marvel/DC.. Por esta razão, a parte mais bem sucedida do crossover é definitivamente o confronto final em que os escritores se deixam levar por uma dinâmica mais divertida e despretensiosa. E talvez os leitores dos dois heróis possam aproveitar a oportunidade para ler algo verdadeiramente novo.
Boselli pode ser considerado o Homem forte da Bonelli atualmente, está na editora desde 1984, envolvido sempre em diversos setores da casa, passando pelas traduções, revisões, layouts, correções, elaboração de artigos e “folhetos” anexados aos especiais, ultrapassando mais de 30 mil páginas escritas! Foi por 10 anos editor de Zagor e em 2000 criou o Caça-vampiros Dampyr, que já ultrapassou a marca de 200 edições. Em 1994 se juntou a equipe editorial de Tex e desde 2012 é seu editor chefe.
Mauro Boselli Entrevista concedida ao site badcomics.it que republicamos com exclusividade. Olá, Mauro seja bem-vindo! Não há como fugir da tradicional pergunta inicial: como surgiu a ideia desta HQ? Então, a ideia veio quando eu e Maurizio Colombo trabalhávamos no Almanaque do Medo, o precursor da Revista Dylan Dog. Nós tínhamos escrito um manual do caçador de fantasmas e depois o do caçador de vampiros. Isso nos levou a descobrir que realmente havia tal figura no folclore e na história dos Bálcãs, chamada “dampyr”, o filho de um vampiro e uma mulher mortal. Encontramos documentos e evidências sobre um dampyr operando na Sérvia e na Bósnia e Herzegovina até a década de 50 do século passado. Esta é razão do cenário inicial e das origens do protagonista, certo? Exatamente. Além disso, houve uma guerra civil naquela área geográfica. Foi a oportunidade ideal para construir nossa criatura pessoal, o Mestre da Noite: um arqui-vampiro, um superpredador que consegue permanecer escondido dos olhos dos mais aguçados através das desgraças das guerras. Nós então misturamos nos juntamos e escrevemos a história de estreia a quatro mãos, então desenhados por Majo. Você pensou imediatamente em criar uma série regular? Não, na verdade Dampyr nasceu como uma minissérie dentro da Revista Zona X. No entanto, lendo os primeiros números, na editora, vimos imediatamente que nossa história em quadrinhos se desviava do gênero da série mais de ficção científica e da fantasi . Nosso Dampyr era muito mais sombrio, cru e realista. Sergio Bonelli imediatamente pensou em torná-lo um título independente e, desde então, foi contra a minissérie, tivemos sorte [risos] e surgia ali uma nova série regular.
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Você já tinha em mente todo o universo, ou melhor, o multiverso de Dampyr, feito não apenas de vampiros, mas também de demônios, anjos e fantasmas? Tivemos que expandir e enriquecer as possibilidades e soluções narrativas para garantir certa longevidade ao título. Nós fundamos a ideia central de Dampyr com a de outra revista em quadrinhos na qual Maurizio e eu estávamos trabalhando, focando no anjo caído que deu origem à figura de Caleb Lost. Ele é o mentor dos nossos heróis que vive em Praga, uma cidade mágica que já existe em si. E como sua casa, escolhemos um teatro imaginário, perdido no tempo localizado na bela cidade tcheca. O antagonista, que já mencionamos antes, é o Mestre da Noite, essencial e fundamental que desde as primeiras edições causou um grande impacto sobre os leitores. De onde você tirou inspiração para cria-lo? Em primeiro lugar, a figura do vampiro clássico, a do século XIX, é inspirada na famosa epidemia de vampiros balcânicos – sempre lá - do século XVIII. Voltaire, outros estudiosos e intelectuais do século XVIII também falaram sobre isso. No século seguinte, tornou-se personagem literário graças a Lord Byron e seu médico italiano-britânico, John Polidori, que escreveu Il Vampiro. A partir daí começou uma série de romances sobre o assunto, até o famoso Drácula de Bram Stoker. Todos esses vampiros clássicos vivem muito bem durante o dia, eles não têm problemas com a luz do sol. A luz natural torna-se um perigo apenas com a chegada de filmes de Hollywood, começando com Nosferatu de Murnau e o Dracula de Bela Lugosi em diante. Então, para os Mestres da Noite, nossos super vampiros, estamos de volta à tradição. É uma espécie diferente da humana, mais pode-
rosa, que vive calmamente à luz do sol. Também são transmorfos: podem se transfor em outros seres e monstruosidades.
guerras, mas para uma série mensal arriscaria cair em repetitividade e monotonia. Portanto, fundimos os vários elementos mais uma vez.
Para não renunciar à imensa tradição cinematográfica que está presente em todos nós, pensamos no conceito de morto-vivo, ou a transformação gerada em um humano por um Mestre da Noite. Os mortos-vivos são vampiros, se alimentam de sangue, são totalmente subservientes ao seu mestre e morrem à luz do sol. Mas apenas um Mestre da Noite pode criar um vampiro, um morto-vivo.
Eu sou fã de quadrinhos de aventura ao redor do mundo, como Tintin e Martin Mystère. Com Maurizio concebemos Dampyr como “uma série itinerante” com um herói errante que nos deu a oportunidade de investigar os costumes, mitologia, paisagens, literatura, cinema - e assim por diante - dos vários países do nosso planeta.
A possibilidade de uma epidemia de vampiros não existe em nossas histórias; decidimos que isso não aconteceria para não desgastar o assunto e as narrativas. Então, em nossa série, como você sabe, existem dois tipos de vampiros: os Mestres – em torno de cem - e os mortos-vivos, que são o bando de algum Mestre. Acima dos Mestres da Noite e dos protagonistas, há dois campos muito maiores, que poderíamos identificar como Bem e Mal, lutando neste e em outros universos. O que realmente sabemos sobre eles? Como eu disse, temos várias partes desse assunto que não desenvolvemos totalmente, especialmente ligados a este anjo caído, Caleb Lost, que lutou contra entidades demoníacas. Desde o princípio, pensamos em dois tipos de seres superiores que disputavam o multiverso. Caleb Lost frequentemente pede ajuda de Harlan e seus amigos para lutar; não apenas contra os vampiros, mas também contra seus inimigos, poderes sombrios que em nosso universo ou nosso espaço-tempo, identificamos como criaturas infernais.
CAPAS ICÔNICAS DE DAMPYR podemos destacar a do meio, que finaliza o encontro entre Dampyr e Dylan Dog, além de aventuras que queremos ver por aqui!
Seja o Bassa Padana (a planície das províncias de Piacenza, Cremona, Parma, Modena, Bolonha e algumas outras regiões da Itália), o Sul dos Estados Unidos ou uma época histórica, através dos vários eventos, vamos à descoberta do que eu chamo de “Genius Loci”, ou seja, o espírito do lugar onde o episódio acontece. Quando temos fontes e documentação disponíveis, tentamos ser o mais fiel possível; quando faltam, confiamos na imaginação. A luta multidimensional entre facções opostas, o que chamamos Bem e Mal em nossa realidade, em sua concepção é infinita, ou mais cedo ou mais tarde veremos uma prevalecer sobre a outra? Não. A luta já dura muito tempo e é infinita. Acontece em múltiplos universos e nossa Terra é apenas uma migalha, na verdade deveria ser um campo neutro. Os eventos que testemunhamos aqui só podem ser chamados de “escaramuças”. A história não acaba. Os personagens envolvidos sim, incluindo os nossos heróis.
Como na mitologia e nas lendas da humanidade, os Mestres da Noite deram lugar a divindades e cultos particulares, de modo que esses poderes foram associados aos nossos demônios. Eles são diferentes, mas na Terra eles concordam que são associados com os demônios do Inferno. Desde os primeiros números, em nossa mente perversa, Dampyr seria uma série extremamente complexa. Podemos destacar a conexão que os enredos costumam ter com episódios históricos, ou curiosidades do folclore de todo o mundo. Você planejou assuntos tão abrangentes desde o começo? Dizemos que a jornada diacrônica através dos séculos foi inerente à série do anjo, enquanto a sincrônica nos vários países do mundo presente esteve presente desde o princípio em Dampyr. Inicialmente teria que seguir um caminho geográfico ditado pelas
Na edição #4 da fumetti (abril 2018) fizemos uma resenha de DAMPYR lançado recentemente pela EDITORA 85.
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Parte integrante da revista fumetti #5 maio 2018 - não pode ser vendido ou repruduzido sem autorização - arte de Anilton Freires
Pasquale Frisenda
Com exclusividade o desenhista que parece ter o Western no Sangue, conversou conosco. Por Thadeu Fayad Conte-nos um pouco sobre você: como Pasquale Frisenda nasceu artisticamente? Desde criança, sempre tive vontade de desenhar e bastante interesse em pintura. Duas coisas que, com o tempo, se desenvolveram em paralelo ao longo da minha vida. A história em quadrinhos foi uma descoberta importante para mim nesse sentido e, para aprofundar o conhecimento sobre o assunto, em 1986 matriculei-me em um curso da Escola de Artes Aplicadas do Castello Sforzesco, em Milão. Após esse compromisso, pouco tempo depois encontrei os primeiros espaços de trabalho: em “Cyborg” , uma revista de ficção científica presente naqueles anos, e, especialmente, na “Ken Parker magazine”, a segunda série dedicada ao anti-herói de Berardi e Milazzo. Quais foram suas principais influências? Eu tento prestar atenção em todas as imagens que estão à minha volta: cinema, ilustração, pintura e fotografia - especialmente os grandes fotógrafos que se destacaram ao longo do tempo. Tudo pode ser uma fonte preciosas de conhecimento e ideias. Seu primeiro trabalho na Sergio Bonelli Editore foi com a revista “Ken Parker”. Como você se lembra daquele período do ponto de vista profissional e qual foi sua abordagem em relação ao personagem? Significou uma etapa muito importante para minha carreira porque, se não estivesse lá, eu provavelmente teria perdido a chance definitivamente. “Ken Parker” não é apenas uma série de quadrinhos canônica, ela necessita de um trabalho de pesquisa longo até à realização dos desenhos reais, porque o mundo no qual o personagem se move é muito realista e, portanto, a tarefa dos desenhistas é conseguir transmitir esse sentimento aos leitores. Cada personagem é pensado para se ter personalidade e tridimensionalidade, a caracterização vai além do rosto e da roupa. Essa pesquisa fornece detalhes para a atuação, expressão e movimentos dos personagens. Em resumo, o trabalho feito na série KP foi, para mim, uma extraordinária escola sobre histórias em quadrinhos que permitiu entender, pela primeira vez, o que significava ser um artista do gênero e um narrador de imagens.
Você se estabeleceu na Bonelli com o “Mágico Vento”, de Gianfranco Manfredi, um personagem muito popular aqui no Brasil. Como lidou com essa releitura do gênero Western, um sensível entrelaçamento entre as tradições sobrenaturais dos nativos americanos, a trágica história da Fronteira e o Gótico-Lovecraftiano? Os elementos que compunham a série MV foram fundamentais para o sucesso do projeto, pois, em cada um deles, encontrei interesse e desejo para representá-lo melhor no papel. Sob esse viés, o mix de elementos que caracterizaram a série foi verdadeiramente notável. “Mágico Vento” foi um título fantástico para se trabalhar. Permitiu grande liberdade criativa artisticamente e para sugerir ideias ─ o que, por parte do autor (Gianfranco Manfredi), havia interesse em ouvir, o que não é muito comum. Permaneci amarrado em muitos livros da série, por várias razões, entre eles está “Windigo”, com o qual me senti realmente íntimo do personagem e das possibilidades oferecidas pela série; “A mão esquerda do diabo”, uma história muito bonita para a qual eu tentei aderir ao máximo possível; e “O monstro de Hogan” (que será publicado em breve nos Estados Unidos com título original: “Vultur”), na qual cada proposta gráfica foi aceita sem problemas e até fui encorajado a fazer mais. Qual é a diferença (artisticamente) em trabalhar com Mágico Vento em comparação a Ken Parker? Entre os dois personagens existem muitas diferenças, especialmente as relacionadas à personalidade de ambos (KP mais ponderada, MV mais impulsiva), mas há também muitas afinidades. O trabalho desenvolvido nas páginas de KP me permitiu encarar a série MV com maior conscientização, tanto do próprio trabalho quanto do gênero em si (western), um mundo que, mesmo confinado em poucas décadas da história americana, não deixa de ser uma fonte de infinitas histórias e inspirações. “Patagonia” é, definitivamente, um dos melhores texianos (foi reimpresso aqui no Brasil meses atrás e também a primeira aventura de Tex que li), graças aos seus desenhos e ao roteiro de Mauro Boselli, é um livro muito admirado. Você não pode dizer que não demonstrou coragem ao lidar com o monstro sagrado dos quadrinhos italianos com esse re-
gistro especial. O desafio foi grande e confirmado com testes sucessivos na série regular. Como você desenha Tex? Como mencionado anteriormente, as diferenças entre Ken Parker e Magico Vento (isso vale para Tex também - tanto o personagem quanto a série) estão nas necessidades narrativas muito realistas e isso deve ser levado em conta porque, como o personagem evoluiu ao longo do tempo, são essas características que fizeram sucesso. Tex precisa ser representado de uma certa maneira, sempre dando-lhe espaço nas mesas e tentando dar a ele a atitude certa, a que compete como protagonista (ao contrário do que aconteceu em outras séries, como “Ken Parker” ou “ Magico Vento “, por exemplo). As interpretações gráficas de Tex têm sido muitas, mas ele é a personificação do herói (positivo) e do homem de ação, e a quintessência de uma figura assim deve, para além do traço individual do artista, emergir nas histórias. Ser capaz de confrontar esse monumento dos quadrinhos italianos e desenhá-lo foi certamente envolvente e, tanto quanto pude, tentei encontrar meu caminho para representá-lo (que, na época da “Patagônia”, era o que Sergio Bonelli havia me pedido). “Patagônia” foi um projeto muito estimulante, apesar das dificuldades. A história se passava na Argentina do final do século XIX, anulando assim todo o conhecimento sobre o Oeste americano que eu possuía. Era difícil focar nos ambientes, naturais ou não, nos uniformes e armas dos soldados, bem como nos figurinos e instrumentos dos gaúchos. Além da documentação disponibilizada pelo próprio Sergio Bonelli (que acompanhou o desenvol-
vimento do volume passo a passo), do apoio de Mauro Boselli, da busca intensa durante toda a produção do volume (que durou três anos), alguns filmes me ajudaram bastante. Outra fonte importante foi a descoberta da obra do pintor argentino Juan Manuel Blanes que, para mim, foi uma verdadeira bíblia para extrair informações e detalhes. O desenvolvimento do livro me consumiu muito e, apesar dos anos que passaram entre uma e outra, tentei manter um nível estável de qualidade da primeira até a última página. Houve muito esforço, é verdade, mas depois de ter recebido a aprovação de Sergio Bonelli, o retorno reconfortante dos leitores e dos colegas percebi que valeu a pena ter dedicado tanto ao livro. De modo particular, fiquei impressionado com a opinião, inesperada, que recebi de Sergio Toppi (considerar-me um colega de alguém como ele ainda me soa estranho...), que enfatizou a eficácia com que, segundo ele, “foram representadas as tribos de nativos dessas áreas, que eram muito pobres e, portanto, complicados de repre-
sentar, dando-lhes dignidade e charme para seus trajes, o que teria sido mais fácil se eles tivessem sido os incas”. Dito por um autor como Toppi, um mestre em retratar “os povos do mundo”, foi um presente enorme para mim! Há um livro da série “Le Storie” (inédito no Brasil), publicada em 2016 com roteiro de Tito Faraci. Uma aventura alienante em que os limites entre o que é real e o que não é desaparecem graças ao seu meio-tom e a um particular uso do vermelho. Conte-nos sobre essa experiência. O projeto para “Fogo e Gelo” teve uma gênese bastante longa. Ele nasceu por volta de 2004, depois de uma conversa, no trem, com Tito Faraci sobre um artigo que vimos em uma revista. O maior problema era fazer com que o editor em potencial aceitasse a escolha gráfica que queríamos usar para a história: representar o mundo inteiro na metade da cor, destacar melhor a sensação de frio e trabalhar com uma ênfase particular na materialidade dos ambientes; todos os outros elementos de calor (do menor, como o fogão de uma boca até o maior, como o fogo de uma fogueira ou uma fonte de energia), foram destacados com vários tons de vermelho. Tentamos propor isso ao mercado francês, convencidos de que era a melhor opção para uma proposta semelhante; mas só mais tarde, com a criação da série “Le Storie”, que o projeto viu a
luz, no verão de 2016. Um trabalho que não foi fácil por causa dos muitos componentes narrativos que o compunham, mas eu tive grande liberdade de criação. Como leitor, você acompanha algum dos títulos da Bonelli hoje? E quem são seus artistas de quadrinhos favoritos? Eu leio muito menos por falta de tempo. Ainda tento me manter atualizado sobre as novidades e sigo os autores que gosto. As referências no decorrer do tempo foram muitas e ainda tenho outros como leitor e desenhista, mas para citar alguns: Hugo Pratt, Gino D’Antonio, Aldo Di Gennaro, Dino Battaglia, Sergio Toppi, Gianni de Luca, Giovanni Ticci, Roberto Diso, Magnus, Attilio Micheluzzi, Vittorio Giardino, Ferdinando Tacconi, Renzo Calegari e, obviamente, Ivo Milazzo. Depois, Hermann, Jean Giraud (Moebius), Jean-Claude Mezieres, Caza, François Boucq, François Bourgeon, André Juillard, Jordi Bernet, Alfonso Font, Carlos Gimenez, Frank Quitely, e isto em relação, pelo menos, aos quadrinhos Italianos e europeu (mas ainda assim estou deixando de fora muitos nomes), não posso deixar de mencionar mesmo Alberto e Enrique Breccia, Arturo Del Castillo Jose Munoz, Jorge Zaffino, Juan Giménez, Domingo Mandrafina, Horacio Altuna, e até mesmo Richard Corben, Jose Luis Garcia-Lopez, Michael Golden, David Mazzucchelli e John Buscema. Todos eles foram fontes inesgotáveis de inspiração, idéias e soluções a fim de prosseguir meu caminho tentando, como pude, encontrar minha própria síntese nas lições aprendidas com o trabalho de todos eles. Você pode revelar algo sobre seus projetos futuros? Estou trabalhando em um novo projeto da Sergio Bonelli Editore, um western muito especial tanto em narrativa quanto em estilo gráfico, duro e realista baseado em algumas histórias de Joe Lansdale, que visa expandir o tamanho do Ocidente, contado nas muitas coleções Bonelli ao longo dos anos. O lançamento está previsto para 2018.
Cores incríveis, visuais fantásticos e aventuras que irão te conquistar!
www.reddragonpublisher.com
disponíveis, também, em formato digital
VALE A PENA VER DE NOVO
O Pequeno Ranger Kit Teller, ou O Pequeno Ranger (Il Piccolo Ranger, no original Italiano), é um personagem criado em 1958 por Andrea Lavezzolo (roteiros) e Francesco Gamba (desenhos). Apesar de pouco conhecido no Brasil, ele é considerado, ao lado Zagor, um dos personagens da segunda geração da Editora Bonelli – de forma bem similar às eras de prata e bronze da Marvel e DC, em que outros personagens foram surgindo na esteira do sucesso. Inicialmente publicado em tiras, em 1958, o Pequeno Ranger durou até fevereiro de 1985, tendo, no total, 255 álbuns lançados. Devido ao sucesso daquele estilo de personagem - época em que heróis adolescentes estavam em evidência -, a Editora Bonelli também queria um protagonista jovem para suas histórias. Assim nasceu o Pequeno Ranger. Os eventos acontecem, claro, no velho oeste, dentro de um forte do Regimentos dos Rangers, construído na divisa com territórios indígenas. No entanto, os adversários de Kit não serão apenas índios, ele enfrentará perigos de todos os tipos, antigos guerreiros vikings e até... alienígenas! Tudo envolto em uma atmosfera e ambientação bastante ingênuas e pueris, como algumas das características do Pequeno Ranger. Podemos destacar como exemplo desse cenário o fato de que, nos tradicionais saloons, em vez do clássico uísque, típico dos cowboys, era com um copo de leite fresco que se “limpava a poeira da garganta”!
Acima, a edição #1 ainda em formato de tirinhas. a imagem do meio mostra o desenhista brasileiro Wilson Vieira (único brasileiro a desenhar o personagem) no cartaz de procurado. Ao lado o elenco completo da HQ e uma das capas clássicas do Pequeno Ranger.
Filho de imigrantes que vieram do País de Gales em busca de uma nova vida (e fortuna) nos Estados Unidos, acabaram se alojando nos territórios da fronteira selvagem. Foi durante esta jornada, na fronteira entre Missouri e Illinois, que Kit nasceu, em 1861. Oito meses depois, sua mãe falece e o pequeno Kit fica doente. Salvo pelos índios da tribo dos Bisontes Vermelhos, a criança e seu pai permanecem por quase um ano com os índios para, em seguida, se juntarem aos Rangers. Moses, Pai de Kit, torna-se um Ranger e recebe permissão do comandante para manter seu pequeno filho no forte até que o garoto alcance a idade suficiente para ficar em um internato. A série, então, decola a partir deste momento. Durante uma missão, o Pai de Kit deserta e desaparece. Indo morar com os índios ele passa a ser considerado um traidor. Os demais Rangers mantém o fato escondido do pequeno Kit, que é bem visto e querido por todos.
O Pequeno Ranger no traço do brasileiro Wilson Vieira
Edição original italiana onde a história desenhada por Wilson foi publicada.
Apesar das aventuras vividas fora dos muros do Forte Ranger, é do lado de dentro que o jovem Ranger encontra a tranquilidade e a companhia de seus amigos ao final de cada dia. Em 2012, todo esse material começou a ser reeditado na Itália pela Ediziones IF em livros bimestrais com 272 páginas e com capas de Massimo Rotundo e Corrado Mastantuono. Aqui no Brasil, a primeira aparição de Kit Teller foi na extinta revista Coleção Reis do Faroeste n° 1 - da Editora Ebal, em março de 1980 - que trazia a origem do herói. E, para nós brasileiros, temos o orgulho de ter, entre os que trabalharam com a personagem, o Mestre Wilson Vieira - do qual temos a felicidade de tê-lo como nosso consultor e entrevistado na Edição #02 da Fumetti -, único artista brasileiro a ter desenhado o Pequeno Ranger e o primeiro a ter trabalhado para a Sergio Bonelli Editore. Ao longo desta saga de 27 anos, encontramos uma variedade de personagens excepcionais: do engraçado companheiro de aventura ao sargento extremamente durão, mas adorado pelas tropas. Não podemos esquecer o Chef Cin Lao, sempre pronto para comemorar a chegada de Kit no forte com seus fogos de artifício, desencadeando a ira do antigo comandante do lugar. Um microcosmo muito variado onde o amálgama entre os personagens é bem dosado graças aos impressionantes desenhos de Francesco Gamba que, com o seu traço suave e caricatural, tornou as aventuras do Pequeno Ranger verdadeiramente únicas em seu gênero e um prato cheio para os fãs não só de personagens Bonellianos - de faroeste como um todo.
Adeus ao maestro
Aos 60 anos, Pino Rinaldi (cartunista da Sergio Bonelli Editore e da Marvel Comics) faleceu no último dia 18 de Abril. A notícia foi dada por sua filha por meio de um post na página pessoal de Rinaldi, no facebook.
Apaixonado pelo o estilo de John Buscema e Neal Adams, Rinaldi começou a trabalhar com quadrinhos em meados dos anos 1970. Colaborou entre 1980 e 1983 com Eura Editoriale (junto com seu irmão, Rino) e, em 1989, juntou-se a Sergio Bonelli Editore, onde desenhou algumas aventuras de Martin Mystère e Nathan Never. Na década de 1990, ele se juntou à equipe da Marvel UK - divisão britânica da editora - como desenhista da minissérie Wild Angels, escrita por Nick Vance. Este trabalho permitiu-lhe estrear na Marvel americana onde trabalhou em alguns dos álbuns da série Fantastic Force, spin-off do Quarteto Fantástico, antes de herdar a série Clã Destino, de Alan Davis. Antes de deixar a Marvel, desenhou ainda algumas histórias do Capitão América (com Mark Waid) e Thor (com roteiro de Warren Ellis). De volta à Itália, desenhou capas e pin-ups de Diabolik e voltou a colaborar com a Editora Eura, onde concebeu a série Agenzia X (2000) e outras séries mais curtas como Twee-Van-poor (2002). Conversamos com ele em uma curta entrevista, publicada em nossa segunda edição, que, para homenageá-lo, republicamos a seguir.
Um artista multipremiado:
Pino Rinaldi: Pino, você já tem muitos anos de carreira, conte-nos como tudo começou? Seu primeiro contato com os quadrinhos e um pouco de sua trajetória. Meu primeiro emprego como profissional foi aos 18 anos com um cartaz de um famoso jogador de futebol do time de futebol de Roma para uma revista esportiva: “GIALLO ROSSI”. Imediatamente depois, comecei uma série de quadrinhos, novamente para esta revista, em uma equipe de futebol juvenil (meus textos e desenhos, meu irmão Rino chine). Ganhei o prémio Ostia como estreante e publiquei para o “Paese Sera”, um importante jornal diário romano, tirinhas de um dos meus personagens: “Steve Burton”. Trabalhei em um projeto de publicidade para Baush e Lomb (o fabricante dos famosos óculos Ray Ban). Criando um personagem de quadrinhos vestindo lentes de contato “Soflens” tornou-se um super-herói. 10 páginas em cores publicadas nos EUA Em 1979, juntamente com o meu irmão Rino, ele começou a colaborar com a Eura Editoriale, uma editora famosa de quadrinhos que publicou duas revistas de contêineres: Lancio Story e Skorpio (ele importou a historieta argentina para a Itália). Nós desenhamos muitas histórias gratuitas (sem um personagem fixo). Também colaboramos para Rizzoli em “Boy Music” e como autor com a revista de ficção científica “1984” com dois quadrinhos: “À minha imagem e semelhança” e “L’alea”. “Omega” foi uma criação para uma história de 62 páginas de ficção científica, mas ainda não estava maduro o suficiente e apenas em 2010 (26 anos depois) que publiquei. Fui chamado por Sergio Bonelli Editore para repaginar “Martin Mystère”, e a associação com o meu irmão Rino terminou ali. Desenhei 2 histórias de MM. O número 92/93 “Caccia alla strega” e o 191 “O caso Maiorana”. Então fui para Nathan Never. Por cerca de vinte anos, projetei capas para o “Max Bunker Press” em personagens como Kriminal, Satanik, Daniel, Kerry Kross etc. Conheci STAN LEE que me pediu para trabalhar para a Marvel. Em 2000, resolvi voltar à minha antiga paixão, escrever as histórias: a X-Agency, a Twee-Wan-Poor Saga e a série WILLARD WITCH nasceram. Também trabalhei em publicidade e como músico.
Você também trabalhou para Sergio Bonelli Editore, com Martin Mystère e Nathan Never, gostaria de ter desenhado algum outro? Meu personagem favorito de Bonelli é Martin Mystère, mas não me incomodaria de colocar as mãos em Zagor.
Como surgiu a chance de trabalhar com o Diabo-
Gostaria de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros que apreciam o seu trabalho? Não sei quanto do meu trabalho foi publicado no Brasil, mas eu gostaria muitos de ter os trabalhos que me representam, meus personagens, impressos em seu país.
lik?
Para Diabolik, me pediram alguns pin-ups para vários edições do personagem, dos quais eles também usaram como capas. Existe um projeto para um cross-over entre minha Agência X e Diabolik.
1975 - Premio Ostia – Esordienti 1995 - YELLOW KID – Miglior disegnatore 1995 - “TARGA GRAN MAESTRO FALCONARA M.ma” 2008 - “PREMIO CRIMILDE” 2012 - “LEONE alla CARRIERA” NARNIA FUMETTO 2015 -Premio speciale Diabolik Club 2015 - Premio alla Carriera- Torre Spaccata Comics
Martin Mystère ou Nathan Never? E por quê? (Seu trabalho em Martin Mystère ainda não chegou no Brasil, onde a última edição publicada equivale a de n. 72 italiana) Martin Mystère, lida com temas que eu acho atraentes, sua única falha (para mim) é que ele fala demais. Em Nathan Never eu acho pouca ficção científica (que eu amo muito).
As intervenções editoriais nos trabalhos foram decisivos para sua saída do SBE? A opção pela saída foi deles e não minha. Na época, a SBE (Sergio Bonelli Editore) não gostava que seus colaboradores trabalhassem para outras editoras, eu fazia capas para o M.B.P. (Max Bunker Press) e fui desligado então. Depois de um ano, entrei na Marvel. As correções da SBE eram irritantes para mim, mas não consegui fazer nada, é a maneira de trabalhar com quadrinhos. Como é trabalhar para as grandes editoras americanas? Em quais personagens você gostava de trabalhar? Eu me divertia, eles me deram muita liberdade artística. Dr. Estranho é fantástico em todos os sentidos!!!! Quais trabalhos está fazendo agora? Além dos meus personagens anteriormente mencionados: The X-Agency, The Saga of Twee-Wan-Poor e Willard the Witch, colaborei com o mercado francês em uma de suas figuras de ação: OSS117. E os planos futuros? Mais tarde, voltarei a estudar minhas novas séries de quadrinhos, já tenho 2 ou 3 idéias na cabeça.
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HQ INDEPENDENTE DO MÊS
AUTOR: DÉCIO RAMÍREZ - HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/DECIORAMIRES
ENTREVISTA ESPECIAL
A diversidade de títulos só comprova a versatilidade desse grande artista brasileiro, multipremiado diversas vezes, já teve seu trabalho citado nos principais jornais e revistas do Brasil, e também na França. Sua obra já esteve presente em catálogos de literatura das feiras de Frankfurt, na Alemanha, e Bolonha, na Itália.
Ao mestre com carinho Com grande honra entrevistamos um dos principais expoentes das nossas tradições literárias. Por Thadeu Fayad Rouxinol do Rinaré (nome artístico de Antonio Carlos da Silva) nasceu em 1966 no sertão central do Ceará. Fundou a SOCIARTE e os periódicos literários A Porta Cultural dos Aletófilos e O Benemérito, com a colaboração de outros amigos e poetas. Figura entre os membros da ABC (Academia Brasileira de Cordel) e da Sociarte (Sociedade dos Amigos de Rodolpho Theóphilo). Poeta cordelista, com dezenas de títulos publicados, entre cordéis e livros. Premiado várias vezes, já teve seu trabalho citado nos principais jornais e revistas do Brasil, e também na França. Seu livro O Alienista em cordel (Nova Alexandria - SP) foi adotado em projetos da Biblioteca Nacional e das escolas de Belo Horizonte e, em 2013, fez parte do catálogo de literatura das feiras de Frankfurt, na Alemanha, e Bolonha, na Itália. Sua obra é citada em mais de 10 trabalhos acadêmicos, entre teses e monografias. Rouxinol do Rinaré atua também como revisor e ministrante de oficinas de Cordel.
Antônio Carlos, bem-vindo a Revista fumetti. E pra começar não podemos fugir do clássico: Quem é Rouxinol do Rinaré? É nome artístico que adotei para lembrar o pássaro que me inspirou à infância e o lugar onde nasci (Rinaré, hoje distrito de Banabuiú, sertão central do Ceará). Rouxinol do Rinaré é como assino meus livros há quase 20 anos. Como a literatura de cordel entrou em sua vida? Na minha infância tinha um irmão repentista que costumava ler cordéis pra família, como era costume nos lares nordestinos na época. Fui ouvinte, leitor e mais tarde comecei a escrever De onde vem a inspiração para escrever? Das vivências e das leituras.
Qual foi sua primeira obra publicada? Em cordel (formatinho de folheto) foi “O valentão Chico Tromba” e em livro (cordel ilustrado, infantil) foi “Um curumim, um pajé e a lenda do Ceará”, adaptação de Iracema (romance de José de Alencar). Como está hoje o reconhecimento do cordel como uma cultura genuína da arte popular do Brasil? Que autores podemos destacar atualmente, além de você? O cordel está cada dia mais em seu devido lugar: nas grandes livrarias, na sala de aula; publicado por grandes editoras do país e adotado em projetos de governo em âmbito nacional. Atualmente é também incluído nos concursos literários, ao ponto de recentemente dois colegas serem agraciados com o prêmio Jabuti, o maior prêmio de literatura do Brasil. Da minha geração eu destacaria os poetas Marco Haurélio, Klévisson Viana, Arievaldo, Evaristo Geraldo, Paiva Neves, entre outros (tem muita gente boa, risos). Como é feito o trabalho de pesquisa após a escolha do tema? Livros, filmes, internet, enfim, a depender do tipo de trabalho a ser desenvolvido. Você é um dos poucos cordelistas que escrevem histórias de aventuras. Como surgiu a ideia de unir o cordel e os personagens Bonelli? Coleciono Tex há quase 40 anos e sempre tive vontade de transformar em cordel uma aventura do ranger. Aliás, comecei a adaptar um enredo clássico de Gianluigi Bonelli (ainda escrevi mais de 100 estrofes), mas perdi o estímulo após submeter o texto à SBE e ser negado a liberação. O primeiro texto (mini-cordel) sobre Tex escrevi em exclusivo para minha entrevista concedida ao Zeca, no blogue português do Tex (http://texwillerblog.com/wordpress/?p=7840). O referido texto foi mais tarde publicado no Correio do Tex pela Mythos na Tex mensal #504. Já o cordel “Leituras de Dylan Dog” surgiu pelo entusiasmo e paixão por esse novo personagem Bonelli (novo pra mim, rs).
Tomei gosto, os pards também gostaram, então pretendo continuar com outros personagens. Vale ressaltar que tenho tido a colaboração indispensável da Joana Rosa Russo, que assina textos complementares. A ideia dessa série e contribuir, junto à Confraria Bonelli, na divulgação dos heróis bonellianos – trabalho totalmente sem fins lucrativos, deixamos isso bem claro nas publicações onde imprimimos com o selo “venda proibida”. Além de Dylan Dog, que outros personagens Bonelli podemos esperar? Já publicamos, na sequência, “Nas pegadas de Dampyr” e pretendemos, ainda este ano, lançar mais dois: um referente aos 40 anos de Zagor no Brasil e, é claro, outro para comemorar os 70 anos de Tex, meu herói favorito. Sua filha também é cordelista, como o cordel surgiu na vida dela e como é o coração de Pai ao ver a filha seguir seus passos? Tenho três filhas: Joana, Jamille e Julie Ane. A Julie é a primeira filha e é a cordelista, já com vários trabalhos publicados. Ela sempre me via lendo e escrevendo, então acho que o “vírus” pegou, rsrs. Fico feliz por ela seguir as trilhas da poesia. Para nos despedir, podemos pedir que deixe aos nossos leitores uma palavra fiandeira? Sim, claro. Segue em versos: Cordéis, livros e quadrinhos Sempre amei, a vida inteira. E aos leitores da fumetti A palavra fiandeira É que, não sendo bairrista, Cá no meu ponto de vista Cultura não tem fronteira!
O Eternauta O Eternauta (El Eternauta, Ed Martins Fontes 2012 - 360 págs.), história em quadrinhos de altíssima qualidade, demorou mais de 50 anos para chegar oficialmente ao Brasil, o que é estranho já que ela foi criada em um país próximo ao nosso (Argentina). A HQ, que foi roteirizada por Héctor Germán Oesterheld (1919-1977) e desenhada por Francisco Solano Lopez (1928-2011), apresenta o personagem que se tornaria um dos mais famosos e iconográficos do país. A trama surgiu quando Héctor Oesterheld decidiu fundar sua própria revista semanal, Hora Cero Semanal, e levou consigo vários colaboradores, entre eles Lopez que, em 1957, recebeu a proposta para desenhar a HQ. A história deveria ser uma ficção científica realista e contemporânea com personagens de fácil identificação com o leitor. Ela começa com a visita de um homem vindo do futuro à casa de um quadrinista (alter ego do próprio Oesterheld). Este homem, Juan Salvo, narra a história dos estranhos eventos pelos quais passou. Uma nevasca mortífera cai sobre Buenos Aires e toda a região metropolitana, eliminando toda a vida em poucas horas. Juan Salvo, junto com alguns amigos (Favalli, Lucas e Polski), sua esposa e sua filha ficam a salvo graças à proteção da casa de Salvo e à engenhosidade de Favalli. Eles se organizam para sobreviver ao fenômeno confeccionando roupas especiais para poderem sair de casa e coletar provisões. Em uma destas viagens percebem que os sobreviventes desesperados podem ser uma ameaça tão grande quanto a própria neve. Em O Eternauta não há um único herói, mas um grupo de homens lutando pela sobrevivência deles, de seus companheiros e familiares. É, basicamente, a história de indivíduos normais colocados numa situação extrema, lutando contra algo muito maior do que eles individualmente. Por esses elementos, não é de se estranhar o motivo que tenha tornado a HQ um símbolo argentino, uma vez que agrega tantos valores ao povo portenho em um momento necessário. Vale lembrar que, na época da publicação, o país acabava de sair de uma ditadura que havia
REVIEW
Dado como desaparecido em 1977, Oesterheld foi vítima da ditadura Argentina após se unir ao grupo guerrilheiro Montoneros por conta de seus ideais esquerdistas. Fato que se repetiu com suas quatro filhas adultas e aproximadamente 30 mil pessoas enquanto os militares estavam no poder. Tudo o que sobrou do autor foram suas obras (nas HQs), sua esposa e um dos netos para contarem sua história. Talvez, o mistério em torno do desaparecimento do autor tenha contribuído para o sucesso do título que, depois de várias republicações, tornou o protagonista um símbolo da resistência Argentina frente a qualquer tipo de crise. Sendo lembrado recentemente em diversas pichações feitas nos muros de Buenos Aires.
derrubado o então presidente Juan Domingo Perón, em 1955, e que viria a passar por outros golpes militares nas décadas seguintes - sendo o principal deles o que desencadeou o regime de exceção que durou sete anos (março de 1976 a outubro de 1983). Fora a ideologia do contexto, a arte de Solano López realiza um trabalho estupendo, retratando não só rostos, expressões e sentimentos, mas locais famosos da capital Argentina. Dentre os que ocorrem a ação da história estão o Estádio Monumental, casa do River Plate, que é a base de operações da resistência; a Praça do Congresso, onde ficam instalados os invasores; e as “Barrancas de Belgrano”. Todos cartões postais da capital federal. Com narrativa densa, um grande roteiro e uma arte precisa, O Eternauta merecia maior destaque e divulgação por parte da editora brasileira.
Massimo Rossi O r o t e i r i s t a e c o - c r i a d o r d e D a r k F r o n t i e r, c o n v e r s o u conosco sobre o recente lançamento da HQ no Brasil. Por Thadeu Fayad Dark Frontier é um “western de ficção científica” ambientado em um mundo pós-apocalíptico clássico, no qual somos apresentados a Lucreline e Maximov, dois párias, artífices da rebelião conhecida como Black Mountain Ghosts. Eles lutavam para proteger as reservas naturais no sul do país, mas o governo americano parece estar levando a melhor. Com os últimos recursos próximos do fim, os rebeldes defendem as reservas verdes das indústrias e do governo, em meio as muitas mortes o cenário se torna cada vez mais caótico. Ninguém pode deixar os Estados Unidos, pelo menos não vivo. Maximov está mortalmente ferido e desprovido de qualquer raciocínio lógico, seu instinto o guia a proteger Lucreline a qualquer custo, que continua a lutar contra tudo e todos, buscando encontrar uma cura para o amado e ao mesmo tempo uma forma de deixar aquele país infernal. A história tem como uma de suas inspirações o polêmico muro de Donald Trump, para defender o país de invasores e imigrantes. Além de outras referências a filmes como Mad Max e Fuga de Nova York. Um roteiro que nos faz lembrar de Garth Ennis e Tarantino em seus melhores momentos. A esperança deste futuro distópico está nas mãos do inusitado casal rebelde.
“Dark Frontier # 1 é uma história brutal, sombria e apocalíptica misturando muitos dos gêneros precedentes, ao mesmo tempo em que apresenta muitas idéias próprias, juntando também a aspectos do gênero Western. Os personagens são interessantes, a ação é ótima, e a arte é sólida como uma rocha. Realmente recomendo!”
- Joshua Davison Bleeding Cool
Olá Massimo, primeiro obrigado por falar conosco e não podemos fugir do básico, como surgiu o desejo de escrever e criar HQs? Conta um pouco da sua carreira. Eu que agradeço por esta entrevista. Meu amor pelos quadrinhos nasceu quando eu era criança, meu avô era caricaturista e ele sempre me estimulou, fazendo-me ler quadrinhos e ver desenhos animados. Eu lembro de começar primeiro a desenhar, depois contar histórias do jardim de infância. Vamos dizer que eu não posso ficar sem isso, eu sofro de “desordem hipergráfica” (LOL). Eu amo escrever, contando e criando histórias e mundos. No momento, escrevo quadrinhos, histórias, romances e, por enquanto, um curta-metragem. Qual foi seu primeiro trabalho publicado? Meu primeiro trabalho eu publiquei sozinho aos 19 anos, foi uma série de fantasia urbana ambientada nos subúrbios de Moscou. Enquanto o que eu considero minha primeira publicação profissional, aconteceu em 2012 com Cheyenne para a Titanium Comics nos EUA. Para eles, escrevi Death Raye, uma aventura de ficção científica estrelada por uma garota desajustada socialmente. Dark Frontier é seu primeiro trabalho publicado no Brasil? Qual a sensação de chegar num País apaixonado por quadrinhos? Exatamente! Você sabe, eu venho da Itália, mas nunca ouvi um autor italiano pelo simples fato de que aqui é muito difícil publicar fora de certos círculos e nunca gostei de fazer parte deles. Eu me sinto como um dos personagens de Dark Frontier, um pouco “nômade” ... e a recepção imediata que recebi de
Acima, as duas primeiras páginas de dark frontier, na arte impactante de luca panciroli. Abaixo a capa da edição brasileira, já disponível em campanha no catarse.
vocês brasileiros foi tão confortável, eu imediatamente me senti em casa, e é uma ótima sensação. Ainda em Dark Frontier, é verdade que sua esposa é uma das personagens da HQ? Como surgiu isso? Ela aprovou ou só descobriu depois? Quais são as inspirações pra criar suas histórias? Hahaha! Lucrezia e eu ainda não somos casados ... colocá-la na série foi um presente que eu queria fazer e Dark Frontier é uma carta de amor bizarra para ela ... você vai descobrir lendo. Para me inspirar, eu sempre tento ler muito, não paro de estudar, mas vamos dizer que a inspiração muitas vezes vem sozinha: de uma notícia, de algo que me faz sofrer ou que eu sinto a necessidade de não guardar dentro de mim. Por exemplo, Dark Frontier foi inspirado tanto pela história de amor bizarra que se manifestou em minha mente, mas também ao mesmo tempo da situação política dos EUA e as declarações de Donald Trump sobre o muro na fronteira com o México, que eu levei ao extremo me permitindo ca-
racterizar como um cenário pós-apocalíptico. A Weird Comics é um coletivo de artistas (escritores e desenhistas), como é essa experiência? Como surgem os trabalhos, vocês ficam todos juntos ou cada um em seu estúdio? Nós nascemos como um coletivo, demos o nome de Leviathan Labs. Nossa ideia inicial era produzir aqui na Itália, nossos títulos próprios que eram publicados no exterior . Então eu tive a sorte de conhecer Luigi Boccia, dono do Weird Book / Comics, que se ofereceu para publicar todo o nosso catálogo. A partir daí a união fez a força, agora trabalho como Diretor de Arte e editor de toda a série de quadrinhos e como Talent Scout. Cada um de nós trabalha em diferentes cidades, por exemplo, moro e trabalho em Florença e Luigi em Roma, enquanto Mattia, nosso Designer Gráfico em Pisa. Praticamente todos os dias nos falamos para coordenar, estamos próximos, porém distantes. Quanto à Weird Comics, em geral, quando encontro novas propostas e
editoras, como as publicações da Red Dragon, as envio para Luigi que, quase sempre, as aceita; então assim, também, é o meu trabalho. Aqui no Brasil as grandes editoras não costumam investir, publicando apenas o que vem do mainstream, como Bonelli, Marvel e DC. É mais fácil publicar quadrinhos independentes na Europa? O que a internet pode ajudar na divulgação? Normal, isso acontece aqui também. Eu acho que o Weird Book é um caso excepcional, na verdade o Luigi vem do mundo do cinema e não daquele dos quadrinhos. Os EUA são o melhor lugar para os quadrinhos independentes, existem realidades como Action Lab, Scout Comics ou Caliber, que dão muita visibilidade aos autores indie. Com a internet você pode certamente criar canais de contato, por exemplo, através da internet eu conheci Alex Magnos e o Juan El Torres (meu atual editor da Amigo Comics). A internet pode nos permitir conquistar o mundo se nós cooperarmos como o Weird começou a fazer com a Red Dragon... Considero isso um ótimo começo. Qual seu trabalho que mais agradou os leitores? E o Brasil é o primeiro país fora da Itália a ter um trabalho seu publicado? GRAVELAND da Scout Comics teve críticas muito boas, desde Bleeding Cool até Comic Bastards, que falaram muito bem. Eu também conheci os fãs na Comicon de Nova York durante minha sessão de autógrafos e foi muito legal. Não, o Brasil não é meu primeiro país estrangeiro. Como eu lhe disse, comecei nos EUA com o Titanium, depois mudei para a Scout Comics, Caliber e Action Lab, enquanto nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha eu estou com a Amigo Comics, uma editora esplêndida. Depois, com a Yil Editions na França e a Aces Weekly na Inglaterra. Na Itália, em vez disso, além do trabalho do Weird Book com a Shockdom. Se tivesse um convite pra escrever qualquer HQ, qual seria? Quais HQs você costuma ler atualmente? Eu amo o BPRD e escrever para Mignola seria um sonho. No momento estou relendo o Eternauta porque estou escrevendo uma histó-
ria agonizante chamada Locust para o desenhista Vincenzo Federici. Então eu tenho “Jojo’s Bizarre
Adventures” na mesa de cabeceira.
É ano de copa do mundo, sei que a Itália não foi ao mundial, mas você acompanha futebol? Torce por algum time? E no Mundial, torcerá por qual equipe? Eu não gosto de futebol... de vez em quando aos domingos eu assisto a WWE enquanto tomo café da manhã. Acho que para a copa do mundo neste caso vou torcer para o Brasil como sou nômade :D Para encerrarmos, agradeço novamente a gentileza, que recado gostaria de enviar aos Brasileiros que estão prestes a conhecer seu trabalho? Sou metaleiro, sempre vi no Brasil um país onde as bandas são tratadas da melhor maneira do mundo. Eu acho que os brasileiros são grandes amantes e conhecedores de entretenimento. Espero que o meu trabalho possa agradar e ser amado e que um dia eu possa curtir umas boas férias no seu belo país. Obrigado, você foi muito gentil, espero não desapontá-lo com minhas histórias.
HQ INDEPENDENTE NACIONAL
A batalha final começa! ACOMPANHE A TRAJETÓRIA DE BURIED E OS ÚLTIMOS NA BUSCA PELA REDENÇÃO DA RAÇA HUMANA. ANTES QUE SEJAMOS EXTINTOS
No ano de 2015 a radiação resultante da Grande Guerra não trouxe apenas a destruição, mas o iminente fim da raça Humana que está presa numa roda viva de caos e destruição. Não existe governo, as cidades foram destruídas e pessoas escravizadas para atender as poucas pessoas que ainda tem poder e influência. Os seres humanos remanescentes não podem mais ter filhos. A última geração de bebês continua vivo e agora tem por volta dos 30 anos de idade. Eles são conhecidos como Os Últimos. Humanos com habilidades fantásticas, graças ao seu DNA alterado. Em um mundo de caos, Buried e Os Últimos buscam redenção para a raça humana, antes que todos sejamos apenas uma lembrança. Inspirada nos clássicos futuristas dos anos 80, como Blade Runner, Mad Max, Fuga de Nova York e Exterminador do Futuro entre outros. O resultado é uma HQ cheia de ação e drama em um futuro devastado onde a humanidade luta não só contra sua extinção, como também para se ver livre do Necromante e seu exército. Escrita e colorizada por Raphael Duarte, Buried tem arte de Ron C. Williams e foi lançada em Abril de 2018. Você pode comprar seu exemplar usando o seguinte link: https://bit.ly/2wcDsW0
Explosivo e Pioneiro A edição do Zine CABAL n° 9 marca a estréia do novo projeto visual, entrevista com o quadrinista Rom Freire e diversas HQs estão entres os destaques da edição
Já está disponível a 9° edição do fanzine CABAL, publicação bimestral colaborativa que reúne trabalhos autorais de artistas consagrados e iniciantes do cenário de quadrinhos nacional. Editado na cidade de Jaboticabal/SP, por Clodoaldo Cruz - que também assina alguns dos roteiros das histórias apresentadas na revista, o Fanzine CABAL tem como característica marcante o Universo “Cats City”, um quadrinho dark noir policial que se passa em um mundo ficcional de felinos urbanos antropomorfizados. Entre os destaques desta edição, que apresenta um novo projeto gráfico criado pelo Estúdio Lápis Russo, está a entrevista com o quadrinista Rom Freire e as HQs de Chris Ciuffi, Henry Jaepelt,
Márcio Sennes, Airton Marcelino, Calazans, Luiz Iório, Leônidas Greco e Gazy Andraus e ilustrações de Júlio Shimamoto, Carlos Reno, Hélcio Rogério, Flávio Gonçalves e capa de Rom Freire, com cores de Bruna Costa. A publicação tem 44 páginas, formato 14x20cm, capa, contra capa e entre capas coloridas, com impressão em couchê, e miolo PB, em offset. A versão impressa custa R$ 10,00 (impressão e postagem) – interessados podem entrar em contato no e-mail: zinecabal@gmail.com.
FANZINES
Na efervescente década zineira de 1990 os fanzines de quadrinhos estavam espalhados por todo o país, alguns deles tinham periodicidade regular e muito cuidado na seleção de material e editoração gráfica. Fanzine ou zine é a aglutinação de fanatic magazine (expressão da língua inglesa que significa “revista de fanático”). É, portanto, uma revista editada por um fã. Trata-se de uma publicação despretensiosa, eventualmente sofisticada no aspecto gráfico, podendo enfocar assuntos como histórias em quadrinhos (banda desenhada), ficção científica, poesia, música, feminismo, vegetarianismo, veganismo, cinema, jogos de computador, jogos eletrônicos, etc. Embora essa manifestação midiática seja comumente relacionada aos jovens, há produtores e leitores de fanzines em quase todas as faixas etárias.
Parte integrante da revista fumetti #5 maio 2018 - não pode ser vendido ou repruduzido sem autorização - arte de Rom Freire