6 minute read

EntrEvista Paulo BEtti

Éum dos artistas mais queridos do público brasileiro, com 48 anos de atuação nos palcos, teatro, televisão e cinema, Paulo Betti também se adaptou aos novos tempos, devido à pandemia da Covid-19, e passou a fazer teatro pela internet.

Apresenta o monólogo Autobiografia Autorizada, escrito pelo próprio ator, inspirado em sua trajetória, no qual representa pessoas da sua família de origem italiana. É emocionante! Passa para o público a importância da empatia, do trabalho social e da valorização do ser humano.

Advertisement

Determinado e bem-humorado com o seu trabalho, Paulo Betti

Foto: Mauro Khouri

nos conta um pouco mais sobre sua carreira e essa nova experiência online em um bate-papo gostoso.

Vamos lá!

➢ Paulo, nos conte um pouco sobre o seu amor por Sorocaba.

Nasci em Rafard (interior de São Paulo), vivi lá numa casa de senzala, no meio de um canavial, até os 3 anos, então nos mudamos para Sorocaba. Fomos para a Vila Leão, que na época, por volta de 1955, era uma espécie de quilombo, com quatro ruas de terra, como num jogo da velha. Era um lugar mágico, vendedores de amendoim, benzedeiros, escolas

de samba, batuque, festas de São João. A vila ficava numa baixada, e nossa casa no lugar mais baixo, sempre tínhamos que olhar pra cima quando batiam palmas no portão. Minha mãe era benzedeira e vendia verduras da horta que tínhamos no quintal. Ela foi trabalhar como empregada doméstica na casa de uma família que tinha alguns livros. Fui matriculado numa excelente escola pública, aos 5 anos, fui sendo educado em tempo integral, sortudo. Daí vem minha paixão por Sorocaba, por terem me proporcionado excelente educação gratuita.

➢ Como surgiu a oportunidade para ingressar no teatro amador?

Ao mesmo tempo em que frequentava essa excelente escola pública, nos finais dos dias eu ia ao Projeto Social dos Salesianos, eles incentivavam o esporte com futebol, tênis de mesa, e também o teatro, que já era minha paixão. Desde pequeno, fiz teatro no quintal, usava bonecos, cobrava ingresso. Nos padres, tínhamos espaço para ensaio e mimeógrafo pra imprimir os textos, uma mão na roda. Eles tinham um Cine Clube. Assisti O Pagador de Promessas (1962) e me apaixonei pelo cinema.

➢ Qual foi a sua primeira peça profissional?

Foi Victor ou As Crianças no Poder, do francês Roger Vitrac, montagem do grupo Pessoal do Victor, nossa peça de formatura da EAD-USP (Escola de Arte Dramática, da Universidade de São Paulo), saímos da escola com a peça direto para o teatro profissional.

➢ Após sua formação na Escola de Arte Dramática, em 1975, além de atuar, você também se tornou professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Comente um pouquinho sobre essa experiência.

Quando nos formamos na EAD, permanecemos unidos, pois saímos com um grupo e uma peça montada. Isso foi muito importante, a escola, e principalmente o Celso Nunes, grande professor, que nos ajudaram nessa transição para o emprego, um grupo. Então, o Celso Nunes foi contratado pra formar o Departamento de Teatro da Unicamp e nos levou. Ele tinha verba pra contratar três doutores,

mas preferiu levar o grupo todo. Dedicamo-nos com afinco e criamos o curso da Unicamp, baseados na experiência que tínhamos acabado de vivenciar como alunos da EAD-USP. Qual o curso ideal que queríamos montar? Foi fascinante!

➢ Cinema, teatro e televisão: dos três formatos, qual você tem preferência em trabalhar?

Gosto de atuar, representar, pesquisar, estudar. Em qualquer desses espaços é possível fazer isso e eu gosto muito, sem distinção. Sempre é bom quando envolve bons temas e os colegas são bons. A televisão tem resposta imediata do público. O cinema tem a espera, a convivência, o teatro é onde afiamos nosso instrumento de trabalho, ou seja, nosso próprio corpo e voz.

➢ Você gosta mais de fazer comédia ou drama?

Quando posso fazer comédia é o que mais gosto. Nada é mais prazeroso do que fazer as pessoas darem risadas.

➢ Dos personagens que você já representou nos seus mais de 40 anos de trajetória artística, tem algum (ou alguns) que te cativou (cativaram) mais?

Sempre me apaixono pelos meus personagens. O último foi na novela Órfãos da Terra, era um filho de emigrante libanês. Eu adorava o Miguel Nasser. Lamarca, Ed Mort, Mauá, foram papéis que gostei muito de fazer no cinema. E Timóteo e Téo Pereira foram muito populares na TV.

➢ O filme CAFUNDÓ (2006) é espetacular! Traz para o público a história do líder espiritual João de Camargo. Como surgiu a ideia para a produção e direção deste longa-metragem? Conte-nos sobre o processo.

A igreja dedicada ao líder João de Camargo ficava no caminho da roça do meu avô! Ele me levava para aquele lugar encantador, misterioso, sincrético. Eu me apaixonei. O processo foi longo, riquíssimo. Muita pesquisa. Foram de extrema valia os trabalhos de Florestan Fernandes e José Carlos de Campos Sobrinho, e seus escritos sobre o tema!

➢ Agora, dando um salto para a atualidade: Paulo, como surgiu a ideia da criação do monólogo Autobiografia Autorizada?

Eu queria ter um monólogo para viajar, fazer debates. Pensei em montar um de um amigo meu, quando comecei a ensaiar, percebi que devia escrever sobre meus tempos de menino e adolescente. Fui buscar as memórias, falei com minhas irmãs e irmãos, tinha muita coisa anotada. Escrevi uma coluna semanal para o jornal Cruzeiro do Sul durante 25 anos! Estava tudo escrito. Eu era um escritor e não sabia, ou pelo menos não me considerava. O texto saiu rapidamente, o difícil foi cortar, enxugar. Em cinco anos, o monólogo que tinha 2 horas passou para 50 minutos.

➢ Poder dividir com o público as próprias memórias é delicioso e emocionante. Em cena, ao falar dos seus familiares que já não estão entre nós, você sente a presença carinhosa deles ao seu lado no palco?

Sim! É uma homenagem aos meus ancestrais, aos meus parentes mais próximos. Eu os recebo, os reencarno. Sem misticismo. É teatro!

➢ Nesse período de isolamento social devido à pandemia da Covid-19, semanalmente você apresenta Autobiografia Autorizada, com transmissão online do Teatro Pedra Gold. Qual é a sensação de atuar sem a presença das pessoas na plateia?

É como se eu estivesse entubado, respirando por aparelhos. Os câmeras que me filmam são os controladores do oxigênio.

➢ Você gostou dessa experiência no formato online? Faria novamente?

Estou fazendo. Essa forma veio pra ficar, é o que podemos fazer no momento.

➢ Como sentiu o feedback do público virtual?

Muito forte! Gente dos lugares mais remotos, e do exterior também. Todos dizem que querem ver também ao vivo, presencial. Acho que o teatro vai ganhar público com isso.

➢ Você pretende transformar a peça em livro? Sim, estou escrevendo. Tudo que cortei pra peça,volta no livro. ▄

Foto: Mauro Khouri

Atriz e Apresentadora de TV Destaque da edição de dezembro da EBC

► Minissérie Iaiá Garcia (1982), TV Cultura

Com diversos trabalhos realizados na televisão, teatro e espetáculos, silvana

tEixEira

tem um baú de histórias, por isso, será a nossa entrevistada especial na edição de dezembro. Foi apresentadora do Bambalalão, ao lado de Gigi Anhelli, na TV Cultura, sucesso nos anos 80. Outro destaque foi o programa BambaLeão & Silvana... e... muito mais curiosidades, Silvana nos contará. Não perca! ☺☺☺

This article is from: