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cartas Glafira Menezes Corti
As palavras têm um poder enorme de revelação. Cheias de significados, alegram, entristecem, modificam, expressam os nossos desejos, nossos medos e nos caracterizam através de nossas escolhas e usos, tanto na fala quanto na escrita. Usando desse atributo de revelação da palavra e de seu uso democrático, partilho esses dois textos numa tipologia pouco usada, atualmente, mas que me encanta, além de me trazer boas recordações.
Gramado, primavera de MMXIX. Cara amiga distraída, Esse ímpeto teleguiado pela emoção, não pronunciada, nem escrita, sentida, cujo significado provém do chamego puro e sublime, comandado pelo coração cativado e por uma fascinada dedução, que alguns dão a alcunha de Amor é um sentimento que distrai o pensamento e leva a emoção para os misteriosos e secretos refúgios da razão. Esse ímpeto, que alguns chamam de Amor, espeta e bombeia o coração com tanta força que o transverti em um combativo órgão, capaz de vestir-se e desvestir-se de paixão, conforme o comando da orquestra dos hormônios; se na adolescência vem como touro bravo e decidido, rende por inteiro o corpo, a alma, como nunca se viu ou experimentou em tempos de lucidez monótona. O dia a dia gira em torno dele e sob a sua direção, nenhum momento de distração tira-lhe o foco do sentir absoluto e pleno. Querer brecar esse ímpeto...é chover no molhado, e como criar empecilhos em meio à areia movediça. Ela carrega o discernimento, as justificativas, as tolerâncias e deixa a razão ao léu, em papos de aranha, perdida e desconectada da sua coerência. Com chamego, Glaphira
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Ilha de Paquetá, verão de MMXVIII. Escreva sempre Ápis querida, Foi uma surpresa muito agradável receber a sua carta e os comentários sobre meus livros. Esse meio de comunicação que usou me emocionou, a julgar por tantos outros recursos disponíveis pela atual tecnologia. Saber que você está bem e de sua vontade de Paquetear qualquer dia desses aumentou a minha alegria. Ao receber a sua correspondência, pelo correio, escrevi uma breve crônica sobre essa prática preterida. Será um bom pretexto para uma nova carta. Nessa, responderei à indagação que faz sobre nós, os autores que leu: se ao comporem seus textos, em suas obras, os redigiram a partir de fatos e sentimentos de sua vida real. Deixarei aqui, parte de um capítulo do meu último livro
“A pulsação da palavra solta”. Espero com ela colaborar para a sua reflexão, nesse quesito. “...O escritor, como um ardoroso apaixonado pela palavra, cria intimidade com ela, toma posse de cada significante, para explorar o seu significado e expressar, fielmente, a sua imaginação criadora no contexto textual escolhido, de maneira sui generis. Diz Machado de Assis que as palavras têm sexo, amam-se umas às outras, casam-se. O casamento delas é o que se chama estilo. O escritor reinventa a realidade e transforma-a livremente em sua obra. Seu compromisso com o leitor extrapola o julgamento do real ou irreal. Esse artista, em seu ofício, se beneficia de sopros de inspiração, para compor o seu trabalho artesanal, cujo objetivo não é o de revelar-se ao leitor, mas o de entretê -lo...” Ápis, teremos um debate sobre esse assunto, aqui, na Ilha de Paquetá, no próximo final de semana. Caso tenha interesse posso inscrevê-la. Com apreço, Glaphira
E.T. Mandarei esse meu livro para a sua apreciação, juntamente com a crônica.
Glafira Menezes Corti
Sou avó, paulistana, borboleta catadora de palavras. Gosto de dar novos significados às palavras, que me seduzem a revelar o meu jeito de pensar a comunicação social. Sou a palhaça Pitanga para as crianças e para os idosos, durante o meu trabalho voluntário. Como contadora de história minha imaginação viaja, sempre que fizio e quizio a narrativa contagiar.
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