Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 17 - Novembro/2020

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Gramado, primavera de MMXIX. Cara amiga distraída, Esse ímpeto teleguiado pela emoção, não pronunciada, nem escrita, sentida, cujo significado provém do chamego puro e sublime, comandado pelo coração cativado e por uma fascinada dedução, que alguns dão a alcunha de Amor é um sentimento que distrai o pensamento e leva a emoção para os misteriosos e secretos refúgios da razão. Esse ímpeto, que alguns chamam de Amor, espeta e bombeia o coração com tanta força que o transverti em um combativo órgão, capaz de vestir-se e desvestir-se de paixão, conforme o comando da orquestra dos hormônios; se na adolescência vem como touro bravo e decidido, rende por inteiro o corpo, a alma, como nunca se viu ou experimentou em tempos de lucidez monótona. O

Ilha de Paquetá, verão de MMXVIII. Escreva sempre Ápis querida, Foi uma surpresa muito agradável receber a sua carta e os comentários sobre meus livros. Esse meio de comunicação que usou me emocionou, a julgar por tantos outros recursos disponíveis pela atual tecnologia. Saber que você está bem e de sua vontade de Paquetear qualquer dia desses aumentou a minha alegria. Ao receber a sua correspondência, pelo correio, escrevi uma breve crônica sobre essa prática preterida. Será um bom pretexto para uma nova carta. Nessa, responderei à indagação que faz sobre nós, os autores que leu: se ao comporem seus textos, em suas obras, os redigiram a partir de fatos e sentimentos de sua vida real. Deixarei aqui, parte de um capítulo do meu último livro

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der enorme de revelação. Cheias de significados, alegram, entristecem, modificam, expressam os nossos desejos, nossos medos e nos caracterizam através de nossas escolhas e usos, tanto na fala quanto na escrita. Usando desse atributo de revelação da palavra e de seu uso democrático, partilho esses dois textos numa tipologia pouco usada, atualmente, mas que me encanta, além de me trazer boas recordações.

dia a dia gira em torno dele e sob a sua direção, nenhum momento de distração tira-lhe o foco do sentir absoluto e pleno. Querer brecar esse ímpeto...é chover no molhado, e como criar empecilhos em meio à areia movediça. Ela carrega o discernimento, as justificativas, as tolerâncias e deixa a razão ao léu, em papos de aranha, perdida e desconectada da sua coerência. Com chamego, Glaphira

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As palavras têm um po-

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