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Tempestade de Verão Atilio Ciraudo
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“Ai. Saudade é uma coisa azul e amarga, com carne por fora e espinho por dentro”.
Caio Fernando Abreu em carta a Hilda Hilst.
Como uma tempestade de verão, você vem, tumultua todos os meus sentimentos e me enche, como água barrenta, tudo que os anos assentaram cordialmente para que as tristezas não viessem tomar conta do que já é e foi determinado. O tempo levou o que antes ainda estava imaturo e indefinido, que interrompido por impulsos levianos não deixou evoluir o que antes eram doces ilusões, juventude que despertava. Mesmo conflituados os desejos vinham como ânsias do novo, impróprios ou não, eram vividos e sentidos sem consequências externas.
Diversas tempestades vieram e foram, como sempre é. Umas anunciadas outras repentinas.
Mas, o incomodo da última, a atual, não cala a sua intenção; buscar no passado as respostas que num único e simples momento ter sido consequentes para o ato derradeiro: o rompimento definitivo da amizade.
Busquei abrigo e encontrei na saudade, na tristeza e na solidão
aliados que me nutriam, confortando-me e fazendo-me crer que o passado já tão longe ia e que nada traria de volta, restando minúcias do que estava perdido. E perdido me encontro agora, sem abrigo e dúvidas me assaltam. Tenho realmente consciência do que posso encontrar? Buscar somente na impulsividade, o que é fato, é o caminho mais propício? As referências já não existem e não sei qual foi o trato que recebeu da vida, se conserva o doce do olhar, o carinho da entrega, o afeto na compaixão, o afago na dor, o sorriso na alegria de amar, a tudo e a todos. A fúria dos ventos que arrancam minhas raízes desenterra do profundo o que se fazia isolado e esquecido, rompem partes, mantem intactos os mais puros e reais sentimentos que organizados suavemente por uma leve brisa anunciando que esta, por fim, esta tempestade passou. E como diz a canção “...qualquer dia amigo eu volto a te encontrar”. E assim será, mesmo que seja somente em mim, dentro, guardado como já está.
atiliociraudo@gmail.com, apesar dos giros e ausências que a vida dá, o sol sempre volta, brilha e aquece.