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Izak Dahora e Nicette Bruno, no aniversário da atriz em 7/1/2020

nIcette SeRÁ SeMpRe UMa InSpIRaçãO e UMa SaUdade

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Sobre o falecimento de Nicette, Izak escreveu nas suas redes sociais: “Localizei aqui em casa, nas minhas estantes, esta delicada e generosa dedicatória, típica da queridíssima Nicette Bruno. Sempre guardei, com especial afeto, estas palavras dela como um símbolo daqueles anos nossos de “Sítio do Picapau Amarelo”. Durante o “Sítio”, estudei uma época no @teatrotablado e, após uma aula, encontrei este livro em uma das estantes da livraria Ponte de Tábuas (se não me engano era este o nome da livraria). Trata-se de “A máquina de repetir e a fábrica de estrelas: Teatro dos sete”, da crítica, professora e querida Tania Brandão. No Teatro dos Sete, importante companhia, trabalharam (ainda em início de carreira) fundamentais atores e atrizes (que eram os seus organizadores): Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Britto... Todos sob o signo da encenação moderna, tão fortemente encarnada em Gianni Ratto, diretor italiano que viera para o Brasil.

Nicette esteve em um dos primórdios desse grupo e da modernização do teatro brasileiro (em montagem ainda de jovens estudantes, em 1951): “As alegres canções nas montanhas”, de Luchaire, direção de Maria Jacintha, com

Dedicatória feita por Nicette Bruno, em 2003, para Izak Dahora

também com Fernando Torres, Fernanda Montenegro e Beatriz Segal no elenco. Que elenco.

Por conta do registro, pedi, na ocasião, a Nicette que autografasse para mim esta publicação da querida Tânia Brandão. Era uma alegria pra mim reconstatar a importância da atriz com quem eu, menino, tinha a honra de dividir a cena. Importante registrar o protagonismo feminino no teatro brasileiro moderno, do qual Nicette fez parte. Diversas das grandes atrizes do período (estou “falando” da geração que ganha a cena nos anos de 1940) foram donas de companhia e/ ou de teatros. Enquanto a profissão era ainda fortemente estigmatizada e marginalizada, e mulher apagada socialmente, via-se no teatro um forte empreendedorismo vital pra renovação da nossa cena teatral. Assim o fizeram Dulcina, Maria Della Costa, Nydia Lícia, Nicette... até Marieta Severo e Andrea Beltrão. ... e outras bravas.

A emoção de nossa amizade está para sempre registrada, querida Nicette. Você é uma das referências fundamentais que me forjam como ator, artista.

Izak dahORa

@izakdahoraartista

nIcette bRUnO e SeU

eMpReendedORISMO nO teatRO de SãO paUlO nOS anOS 1950

Por Thais Matarazzo

A atriz Nicette Bruno foi uma das grandes personalidades do teatro brasileiro. Mulher de fibra, coragem, criatividade, de grande sensibilidade, empatia pelo próximo, e amor à arte. Faleceu no último dia 20 de dezembro, aos 87 anos, vítima de Covid-19, no Rio de Janeiro.

Querida pelos paulistas, deixou sua marca artística e empreendedora na Pauliceia da década de 1950, em dois projetos: o Teatro de Alumínio e o Teatro Íntimo Nicette Bruno, TINB. Nascida em Niterói, RJ, a 7 de janeiro de 1933, desde pequena teve contato com as artes: nos saraus promovidos por sua avó materna, nas apresentações na Rádio Guanabara, nos estudos de piano no Conservatório Nacional, no grupo de teatro da Associação Cristã de Moços, e no Teatro do Estudante, dirigido por Pascoal Carlos Magno e Maria Jacintha.

Desde menina teve o apoio, o incentivo e a companhia de sua mãe, Norma Bruno, que viria a se tornar atriz por causa da filha talentosa.

Em 1947, aos 14 anos, Nicette tornou-se profissional ao estrear na companhia Dulcina-Odilon, da atriz Dulcina de Morais. Sua atuação valeu-lhe a medalha de ouro de atriz revelação pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT. Daí em diante, só fez trabalhos de destaque e foi se tornando conhecida.

A companhia de Dulcina estreou sua temporada nos palcos paulistas em janeiro de 1950, no Teatro Santana, na Rua 24 de Maio. A peça apresentada foi Sorriso da

Gioconda, no escritor inglês Aldous Huxley, além de Nicette integravam o elenco, Graça Melo, Suzana Negri, Jorge Diniz e Eleonor Bruno - contemplada com um prêmio revelação 1950.

O Teatro de Alumínio foi um em-

Nicette Bruno em 1949, revista A Cigarra

preendimento idealizado pelo “fotógrafo das estrelas”, Halfeld. Convidou a jovem Nicette para tornar-se sua sócia. Eles tinha planos de instalar o teatro desmontável no Passeio Público, no Rio de Janeiro. Entretanto, as negociações não avançaram. Em 1952, recebeu um aval da Prefeitura de São Paulo para armar a estrutura de alumínio, madeira e alvenaria do teatro na Praça da Bandeira, após grande burocracia.

Em maio daquele ano estreava a peça de De amor também se morre, original de Margareth Kennedy, tradução de Maria Jacinta, direção de Turkow, cenários de Edgard Loefleur, guarda-roupa de Pascoal Bruno, direção geral da “estrela”. No elenco, além de Nicette, estavam, entre outros, Eleonor Bruno, Fernando Villar, Sérgio de Oliveira, Margarida Rey, Regina Aragão, Ângela Belmar e Kleber Macedo.

Foi um sucesso! O teatro com capacidade para 500 pessoas fiocu apinhado! A imprensa paulistana se referia à artista como “jovem estrela do Teatro de Alumínio”.

Sobre a estreia do espetáculo, Nicette contou ao Correio Paulistano na edição de 8/6/1952. “Quando comecei a organizar a companhia, De amor também se morre já estava escolhida, apesar de exigir um elenco numerosíssimo. A peça me foi cedida pela tradutora. Aliás, foi Maria Jacintha que me mostrou

a peça, ainda quando iniciava a minha carreira artística, sob a orientação segura e proveitosa de Dulcina. Este teatro é como um filho. Custou tanto a nascer, mas desde que apareceu só tem nos dado alegria. E apesar dos percalços, uns inerentes ao próprio teatro, outros procedentes de fora, é verdade que nos sentimos duplamente felizes por tê-lo podido realizar: primeiro, porque assim estamos fazendo teatro, e fazer teatro é o máximo objetivo do ator dramático; e segundo, porque estamos trabalhando concretamente pela arte cênica nacional.” Ainda comentou sobre o público paulistano. “Estou satisfeita com a reação do público. Nunca pensei que os paulistas recebessem a peça da forma como receberam. (...) Não deixam escapar nada! A reação é imediata e geral. A proclamada frieza do paulista caiu completamente por terra”, finaliza a atriz.

Antes da segunda peça ser levada à cena, Halfeld resolveu abandonar a parceria. Nicette ficou à frente do seu elenco, mostrou a força do sonho e a evidência do empenho. Teve o apoio da mãe e do tio Pascoal. Sobre o assunto, ela revelou no livro Tudo em família1 de Elaine Guerini. “Halfeld foi embora assim que percebeu que eu não queria mais namorá-lo. Houve sim um início de romance, mas, no fundo, nunca gostei dele.

1 Nicette Bruno e Paulo Goulart: tudo em família. Elaine Guerini. Coleção Aplauso, série Perfis, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.

Vemos, à esquerda, o Teatro de Alumínio, montado na Praça da Bandeira, 1952. Foto: reprodução

Nicette Bruno, década de 1950. Foto: reprodução

Estava apenas sendo grata por tudo que ele havia feito para me ajudar profissionalmente. Halfeld mostrou que todo o seu esforço, no sentido de montar um teatro, era apenas para me conquistar. Com o orgulho ferido, nos abandonou, deixando vários pepinos para trás. De repente, eu me vi sozinha, com a responsabilidade de manter ou não o emprego de 22 pessoas que trabalhavam conosco. Eu e Abelardo Figueiredo, meu amigo e secretário da Companhia, não tínhamos noção de como manter um teatro. Só entendíamos do aspecto artístico. Na falta de um administrador, Abelardo teve de assumir o cargo e pedimos reforço financeiro a meus parentes, que, reunindo suas economias, nos ajudaram a terminar a temporada. A partir da segunda peça, porém, nós sabíamos que teríamos de nos virar sozinhos. Sem falar que, diante das dificuldades econômicas, tivemos vários desfalques no elenco da Companhia. Como a maioria dos atores era do Rio, eles quiseram voltar para casa. Inclusive o galã, Fernando Villar, que fazia par romântico comigo. Enquanto nós lutávamos para montar a segunda peça, Ruggero Jacobbi, diretor da TV Paulista, se encantou pelo meu dinamismo, ao ver uma jovem tão devotada ao teatro. Ele se associou à Companhia, assumindo a direção do segundo espetáculo. Eu estava inclinada a montar A Rainha do Ferro Velho, de Garson Kanin, mas a peça pedia muitos cenários e figurinos e não tínhamos dinheiro. Ruggero sugeriu Senhorita minha mãe, de Louis Verneuil, mencionando que conhecia um jovem ator, interessante e bonito, que poderia ser o nosso galã. Era Paulo Goulart, que atuava na novela Helena, de Machado de Assis, na TV Paulista.”

A segunda première da companhia aconteceu em 31 de julho de 1952, com Senhorita minha mãe, comédia em três atos, com tradução de Bandeira Duarte. Nicette atuou e dirigiu, os cenários foram de Lino Fernandes, guarda-roupa de Pascoal Bruno; no elenco, Wallace Viana, Kleber Macedo, Nicete, Paulo Goulart, Paulo Navarro, Eleonor Bruno e Nelson Mota.

O próximo espetáculo apresentado foi Amor versos casamento.

Foi nessa época que Nicette e Paulo se conheceram e que “deu mel

na sopa!”. Desde então, ele esteve ao lado da sua amada namorada.

Aos 19 anos a “estrela” sofreu um grande drama: a 19 de setembro de 1952, às 12 horas, uma ação judicial determinou a busca e apreensão de todas as poltronas do Teatro de Alumínio, o motivo foi o fato daqueles móveis terem sido adquiridos sob o regime de reserva de domínio por Halfeld, proprietário do teatro desmontável. Ele não quitou as parcelas do mobiliário. Aquela lamentável cena foi assistida por Nicette e seus colegas, um advogado e um representante da empresa. Levaram todos os assentos, inclusive os do escritório da companhia. A operação durou cerca de duas horas. Sem experiência em administração e sem empresário, a atriz não se fez de rogada e foi à luta: pediu ao público que morava próximo para trazer cadeiras de casa, e o comércio local também colaborou. Ela contoucom a solidariedade dos paulistanos.

Alguns dias depois, nova decepção: a Prefeitura resolveu fechar o teatro e enviou uma intimação, pois a companhia não tinha alvará de funcionamento para manter o teatro sem poltronas.

Ainda no segundo semestre de 1952, a companhia foi contratada para encenar espetáculos patrocinados pela Prefeitura de São Paulo a fim de levar as artes cênicas aos bairros longínquos, em teatros da municipalidade recém contruídos, como o “Arthur Azevedo”, na Mooca, e o “Alfredo Mesquita”, na Vila Mariana. Em seguida, excursionaram com os espetáculos pelo interior de São Paulo. No início de 1953, a companhia estreou com a peça infantil O casamento da Branca de Neve, de Fernando Fortarel, no teatro “Leopoldo Fróes”, na Vila Buarque.

Em 7 janeiro de 1953, natalício de Nicette Bruno, surgiu uma luz no fim do túnel: estava acompanhada da mãe e do amigo Ruggero Ja- cobbi, no Teatro Santana, assistiam a uma peça da companhia de Dulcina de Moraes, quando o industrial Carlos Alberto Baccini, do Paraná, a procurou na frisa do teatro para lhe fazer uma proposta.

Baccini havia lido uma crônica no Diário de São Paulo, assinada por Arruda Dantas, a explicar sobre a luta da jovem atriz para manter o seu ideal e todas as aflições que vinha passando. O homem ficou sensibilizado e propôs uma parceria para Nicette. Foi um belo presente de aniversário! Em breve nasceria o Teatro Íntimo Nicette Bruno, TINB.

Abelardo Figueiredo tornou-se o secretário do TINB. Ele, Nicette e Paulo Goulart visitaram diversos condomínios para encontrarem um espaço ideal para montar um teatro. Conversaram com os mais variados proprietários, tiveram a perspectiva de construir um auditório ao lado do

Claridge Hotel, na Av. 9 de Julho, esquina com a Praça da Bandeira. Porém, os ventos sopraram para o bairro de Santa Ifigênia. Em uma reunião, Sérgio Cardoso falou de um salão vazio que havia na Rua Vitória, 653. O edifício chamase José Oswalld, nome do pai do escritor Oswald de Andrade, proprietário do imóvel.

Nicette passou a planejar as instalações do seu teatro. Logo após o Carnaval de 1953, foram iniciadas as obras de adaptação dos baixos do prédio 653. Clóvis Garcia fez a decoração interna. Em um tempo em que os teatros eram enormes, com cerca de 2000 poltronas, a nova casa de espetáculos da cidade contava com apenas 240 lugares, por isso, foi batizada como “Teatro Íntimo”.

Após vários adiamentos, finalmente, em 14 de julho de 1953, houve o coquetel à imprensa e à classe teatral paulista, Abelardo Figueiredo cuidou de tudo. Ruggero Jacobbi fez um discurso e falou em nome dos artistas, desejando sucesso ao auditório batizado simbolicamente com champanhe.

A estreia do TINB aconteceu na segunda-feira, 20 de julho de 1953, às 20 horas, uma noite fria do inverno paulistano, mas o calor esquentava os corações de todos. Foi levada à cena a peça Ingênua até certo ponto, do norte-americano Hugh Herbert, com tradução de Raimundo Magalhães Júnior, e direção de Armando Couto. A plateia lotou, muitas palmas e flores recebeu a “estrela”, que, gentilmente, compartilhou toda aquela felicidade com a sua equipe e amigos.

A imprensa registrou diversas felicitações à atuação de Nicette. Sobre Paulo Goulart o crítico Oscar Nimtzovitch destacou em sua crônica no Correio Paulistano. “Não esperávamos. Contracenando com Nicette de uma maneira tão viva e precisa que nos espanta. Paulo tem apenas um ano de arte cênica, iniciada na própria companhia de Nicette Bruno, porém, sem nunca nos haver proporcionado uma interpretação mais favorável.”

Acerca de Eleonor Bruno, o mesmo cronista registrou. “É a primeira atriz da companhia, muito embora muitos não acreditem, é progenitora de Nicette Bruno, também faz parte da homogênea equipe. Eleonor já nos proporcionou algumas facetas de sua notada carreira artística, dando-nos cabal demonstração de que a arte teatral conta na família Bruno duas das mais representativas atrizes”.

Na Rua Vitória Nicette teve sua vitória!

Grandemente elogiada pela crítica pelo seu hercúleo esforço em prol do teatro, deve ter causado melindre entre outros atores que não conseguiram alcançar o seu feito.

Weekend de Noel Coward, com direção do jovem Antunes Filho, foi o segundo espetáculo em cartaz, estrou no princípio de outubro de 1953.

“Nicette Bruno, que há menos de dois anos chegava a São Paulo para experimentar justamente com seus companheiros as mais amargas decepções, soube refazer o seu grupo como um general hábil e quando a derrota já parecia inevitável, de um golpe, conquistou a Vitória. Do Teatro de Alumínio ela foi para a Rua Vitória e ali triunfou com elenco novo, novo diretor

► Prédio 653 da Rua Vitória. No térreo funcionou o TIBN

e novo programa. Agora temos a companhia reorganizada lançando na peça de hoje de uma vez, um diretor profissional estreante, Antunes Filho, atual assistente do TBC, o cenógrafo Rubem Rey, e o desenhista Pascoal Bruno”, publicou o Diário de São Paulo, de 2/10/1953.

“Enfim... Nicette Bruno conseguiu um teatro próprio e Maria de Della Costa também. Só assim realmente, é que se pode formar uma companhia e trabalhar.”, foi a anotação do crítico teatral do suplemento cultural do Correio Paulistano, em 22/11/1953. A matéria ainda ressalta as dificuldades de montar uma companhia e alugar espaço para ensaios e alugar um teatro. O jornalista censura a Prefeitura paulistana por não construir teatros no centro e sim nas periferias: “locais onde ninguém consegue se manter senão alguns dias da semana”.

Em janeiro de 1954 estreou É proibido suicidar-se na Primavera,

de Alejandro Casona, tradução de Nair Lacerda, com Nicette, Eleonor Bruno, Paulo Goulart, Kleber Macedo, Guilherme Corrêa, Walmor Chagas, Elísio Albuquerque, Rubens Costa, e como atriz convidada Elisabeth Henreide, direção de Ruy Affonso, cenários e figurinos Darcy Penteado.

No mês seguinte, no dia 26, logo após o Carnaval, Nicette e Paulo se casaram no civil e em uma linda cerimônia na paróquia de Santa Cecília. O vestido da noiva era deslumbrante! Dali os pombinhos e seus convidados rumaram para uma recepção no TINB. Tudo foi transmitido pela TV Paulista, canal 5, onde a companhia de Nicette vinha se apresentando regularmente. A respeito do casamento, eis a pequena crônica de Oscar Nimtzovitch para o Correio Paulistano de 27 de fevereiro. “Casados, sim! – ontem foi o casamento. Quanta gente de teatro! Quantos admiradores do jovem par! Nicette Bruno e Paulo Goulart passaram para a fileira dos casados com uma deliciosa festa, com muitos parabéns, bastante felicidades. Primeiro a cerimônia religiosa na igreja de Santa Cecília. Depois uma reunião no Timbinho. E o casal, sra. Nicette, sr. Paulo, com aquela simpatia de sempre, ia recebendo um por um,

de amigos e amigos, os votos sinceros para uma vida feliz, repleta de auspiciosas novidades.”

O ano teatral paulista de 1953 foi considerado bom e com o aparecimento de diversas companhias e diretores nacionais.

De volta da lua de mel, a companhia começou a ensaiar Ingenuidade, de John Van. Duas semanas após a estreia, o casal precisou desistir do TINB por problemas financeiros. Uma pena!

Então, a companhia foi convidada a levar as peças já encenadas em uma excursão em Porto Alegre. Era preciso ganhar dinheiro!

Com muita garra e perseverança, Nicette Bruno legou às memórias teatrais paulistanas dois empreendimentos que valeram o seu esforço e ideal, sempre junto dos amigos e colegas fiéis, sua querida mãe, sua família, e seu amado Paulo Goulart.

Casamento de Nicette e Paulo, 1954. Foto: internet / reprodução

▼ Notícia do casamento dos artistas

no Correio Paulistano, 27/2/1954

aSSUMIndO a Re-vIda RecOMeçaR

SandRa ReGIna alveS

Numa fuga desenfreada. Saio de mim.

Isso acontece quando o novo chega e me surpreende, e com ele: o medo, as incertezas, as perguntas sem respostas... Lá vou eu, tentando me esconder disso tudo. Porém, ao ouvir o ecoar do meu coração encavernado. Sigo a estrela guia, e saio em busca. Encontrei-me onde sempre vou, quando preciso de um abrigo; ou uma maternal resposta. Lá estava eu, em posição fetal, protegida no caloroso ventre negro e todo dourado, da minha amada mãe. Vi a minha vida sendo regerada. Um novo corpo negro de mulher, sendo tecido, para abrigar minh’alma carente e desprotegida. Senti afeto, amor, acalanto e sabedoria para enfrentar o que vier. Desta vez, com um outro tom, com a voz firme e impostada, pois já me conhecia, minha mãe disse: - Olhe aqui, volte lá e recomece. Faça tudo diferente. Você pode... Chore menos, sorria mais, estude, trabalhe, batalhe, crie... Dependa mais de você, sem esquecer de quem ama. Revida sem medo, é o que veio buscar. Encontre-se feliz, nos entremeios das suas procuras. Nas pausas dos seus versos, mesmo sem rima. Permita-se, desafie-se, aceite-se, proseie mais, ame-se mais, doe-se mais, pra não sentir mais a sua falta, em algum momento da sua revida. Prepare-se para as mudanças, desse novo desafio, que o ano preparou para todos os sobreviventes dessa grande nave. Enfrente-o, e de frente, não olhe para trás. Recomece falando do sentimento maior. O AMOR, com fé e esperança, é preciso viver a mudança que novo traz para não estagnar. Agora vai... Assuma sua vida. Recomece.

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