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lição dE vida

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de todos os tempos

GeRaldO nUneS

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Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

COnheça OS nOMeS daS lInhaS de bOnde qUe CIRCUlaRaM eM SãO PaUlO

De vez em quando bate uma nostalgia e recentemente, no dia do aniversário de São Paulo, passei a tarde recordando os bondes elétricos da minha infância. Sair de casa para andar de bonde era muito mais gostoso que viajar de ônibus. O bonde andava mais devagar e dava para observar a movimentação do povo nas ruas. Por isso, ainda me lembro do itinerário de algumas linhas e do ponto final dos bondes na Praça Clóvis, em frente à antiga Drogaria do Farto. Naquele tempo as pessoas saiam dos bairros para irem à cidade e não ao centro. Sé, Rua Direita, República; era tudo cidade. Isso ajuda a explicar um pouco a decadência do centro hoje.

Essas lembranças que me vieram no dia em que São Paulo completou 467 anos, fizeram com que eu vasculhasse uma gaveta para achar uma pesquisa que realizei em 1994, sobre a história do transporte coletivo em São Paulo. Na ocasião entrevistei dois senhores que sabiam tudo sobre bondes: Abelias Rodrigues da Silva e Waldemar Pinto Sampaio, que já não estão mais entre nós. Deles vieram histórias como a do Bailarino, que contarei mais adiante e ainda os nomes e os números de todas as linhas de bonde. Fui mais além, a

pesquisa remonta a 1875 quando a capital paulista implantou o serviço de bondes puxados por burros.

A tração animal trazia seus inconvenientes, a cidade ficou mal cheirosa. Preciso explicar os motivos? Jornais da época, como o Correio Paulistano, noticiavam a formação de imensas nuvens de mosquitos pela demora das autoridades em remover a sujeira deixada nas vias públicas pelos animais.

Por volta de 1900 surgiram os primeiros bondes elétricos circulando nas ruas do triângulo, como a São Bento, que vemos na foto acima quando os trilhos ainda estavam sendo implantados. No dia da inauguração, o povo não cabia em si de tanta alegria e a aglomeração foi geral.

Os bondes elétricos eram largos demais para ruas tão estreitas como as do centro e a situação se tornou perigosa para os pedestres. Naquele tempo as pessoas não tinham o costume de olhar o trânsito antes de atravessar as ruas e muita gente morreu atropelada. Por outro lado, a cidade saiu ganhando porque obteve um transporte limpo, eficiente e que não poluía o ar. A eletricidade passou a fazer parte da vida do paulistano e muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade no século 20. Os anos seguiram e o bonde antes herói, foi transforma-

do em vilão, quando os ônibus começaram surgir em maior número. Mais velozes, obtiveram em curto espaço de tempo a preferência da população. Nessa época ninguém se preocupou com a poluição dos motores dos ônibus porque nem todos sabiam o significado da palavra monóxido de carbono.

Os bondes não tinham motoristas, quem dirigia era chamado de motorneiro. O mais famoso deles foi Augusto Barbosa, o Bailarino. Titular da linha 43 Santana-São Bento, ficou conhecido pela solidariedade com os mais velhos e as crianças. Ele descia da cabine para ajudar as passageiras idosas atravessarem a rua após o desembarque. Habituado em ver todos os dias os mesmos usuários, costumava parar nos pontos e aguardá-los quando estavam atrasados.

O apelido Bailarino veio dos tempos em que jogava futebol na várzea. Quando marcava um gol comemorava fazendo dancinhas como alguns jogadores de hoje. Determinado dia, quebrou um caminhão sobre os trilhos e o bonde ficou retido. Algumas meninas estudantes do Colégio Santana desceram para comprar sorvete e depois retornaram sem pagar nova passagem, em plena Rua Voluntários da Pátria, com a permissão do Bailarino. Um fiscal assistiu a cena e quis demitir o motorneiro, mas a população saiu em defesa dele.

Ao se aposentar virou entregador dos jornais Gazeta da Zona

Norte e sua história ali foi publicada pela primeira vez. Em 28 de outubro de 1984 a Gazeta da Norte noticiou: “Morreu Augusto Barbosa, o motorneiro Bailarino, amigo dos idosos e das crianças”.

Nos áureos tempos do bonde, São Paulo chegou a ter 60 linhas para atender a demanda de passageiros de quase todos os bairros. Sua desativação pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos - CMTC, começou em 1957 e se completou em 1968.

Conheça as últimas linhas de bonde extintas pela prefeitura*

Linha Data de extinção

42- Duarte de Azevedo – São Bento 24/02/1957 43- Santana – São Bento 24/02/1957 9 – Duque de Caxias 25/11/1961 12 - Barra Funda 25/11/1961 13 – Barra Funda 25/11/1961 14 – Vila Buarque 25/11/1961 32 – Vila Prudente 25/11/1961 33 – Sorocabanos 25/11/1961 1 – Jaraguá 09/04/1962 6 – Penha 15/03/1962 11 – Bresser 15/03/1962 17 – Vila Pompeia 11/02/1962 27 – Vila Mariana 25/01/1962 30 – Bosque da Saúde 15/04/1962 30 A – Praça da Árvore – Bosque 15/04/1962 47 – Vila Clementino 15/04/1962 53 – Oriente 09/04/1962 63 – V. Clementino – V. Madalena 01/03/1962 65 – Casa Verde – Fábrica 20/07/1963

26 – Pq. São Jorge 20/07/1963 64 – São Judas – Lapa 13/01/1963 102 – Indianópolis 24/02/1963 104 – São Judas – Santo Amaro 24/02/1963 5 – Bela Vista 01/05/1964 23 – Domingos de Morais 16/11/1964 3 – Avenida 01/10/1965 40 – Jardim Paulista 01/10/1965 7 – Penha 26/03/1966 19 – Perdizes 12/08/1966 24 – Belém 10/03/1966 28 – Vila Madalena 08/07/1966 29 – Pinheiros 12/08/1966 35 – Lapa 12/08/1966 36 – Avenida Angélica 15/07/1966 49 – Canindé 10/03/1966 51 – Rubino de Oliveira 10/03/1966 55 – Casa Verde 12/08/1966 60 – Penha – Lapa 10/03/1966 66 – São Judas Tadeu 30/06/1966 4 – Ipiranga 14/01/1967 20 – Fábrica 14/01/1967 34 – Vila Maria 21/01/1967 41 – Belém Auxiliar 21/07/1967 61 – Vila Maria – Casa Verde 21/01/1967 67 – Alto da Vila Maria 21/01/1967 103 – Brooklin Paulista 25/01/1967 101 – Santo Amaro – Biológico 27/03/1968

* Fontes: Abelias Rodrigues da Silva e Waldemar Pinto Sampaio.

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