GOIÂNIA•BRASIL MARÇO /ABRIL•2013•N° 1 12R$
1 PB
100 anos de VinÍcIus
Chega de saudade
Marcelo solá Universo paralelo
Entrevista
Paco Peregrín: a vez do fotógrafo espanhol
DESIGN
As incríveis joias da alemã Nora Rochel
EDITORIAL
CAPA
Marcelo Solá Fotografia | Edgard Soares
SONHOS QUE GANHAM VIDA Os sonhos muitas vezes doem. Doem na carne que pede arrego vencida pelo cansaço, na mente que ameaça desfalecer perante os obstáculos, no tempo que vai ficando miúdo para o tanto que há por fazer. E doem, também, naqueles que estão envolvidos no seu sonho, porque não se sonha sozinho. Pode reparar: por menos engenhosos que sejam, os sonhos vão sempre requerer um punhado de gente caminhando junto. O filho, a mãe, o pai, o marido, a esposa, o namorado, o amigo, a faxineira, o vizinho e mais um tanto de santos desavisados, desconhecidos, que nunca tínhamos visto antes nem na feira vendendo bananas, que vão tomando seus lugares no sonho que era só seu. Eu não sei, só sei que é assim que se sonha, como diria Chicó, o amigo de João Grilo, em O Auto da Compadecida, quando inquirido sobre o porquê das coisas. Sonhos são caprichosos, e não adianta querer mandar neles. Têm vida própria e, quando nos damos conta, estão crescidos e andando com as próprias pernas. Sonho é fé que a gente coloca em ação. Foi assim com a The Book. Ela era um sonho e agora está em suas mãos. Não foi fácil chegar até aqui. Queríamos que fosse perfeita como são todos os sonhos. A The Book busca a excelência,
o texto benfeito e a imagem incrível. Ela deseja fazer parte da sua vida, da cidade, do País e do mundo (lembra-se que sonhos têm vida própria?). Inauguramos o primeiro número com uma deliciosa entrevista com Marcelo Solá, estrela no céu da arte contemporânea brasileira que abriu o ano com exposição nos Estados Unidos. Em Zurique, Suíça, a correspondente Cejana Di Guimarães entrevistou Nora Rochel, designer alemã com cara de menina que faz joias como obras de arte e as vende em galerias de toda a Europa. Outra figuraça que está nesta edição, entrevistada por mim, é o fotógrafo Paco Peregrín, assíduo em editoriais de moda para Vogue, Harper’s Bazaar, Elle, entre outras revistas importantes de todos os quadrantes do planeta. Da Europa também trouxemos a paisagem paradisíaca do Cabo da Roca, em Portugal, em texto e imagens de Rimene Amaral. Este é só o começo. Convidamos você a viajar pela The Book e a desfrutar de muitas outras reportagens interessantes. Antes de decolar, aperte o cinto, peça uma caneca de café e boa leitura. Por Adevania Silveira
REPORT
DIRETORES EXECUTIVOS PROJETO EDITORIAL E EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO CONSELHO EDITORIAL REPORTAGEM FOTOGRAFIA COLABORADORES
DESIGNERS REVISÃO JORNALISTAS RESPONSÁVEIS
Adevania Silveira e Rimene Amaral Adevania Silveira Zebrabold Cristina Xavier Almeida, Edgard Soares, Rodolfo Brasil, Rafael Paranaíba, Gabriel Godinho, Rimene Amaral e Adevania Silveira Adevania Silveira, Rimene Amaral, Cejana Di Guimarães e Mr. Book Edgard Soares e Rimene Amaral Cejana Di Guimarães, Cássia Fernandes, Edgard Soares, Izabelle Capuzzo, Fernando Rodrigues, Rafael Manson, Evando Filho, Wadih Elkadi, Paulo Santos, Rodolfo Brasil e Ana Paula Ribeiro. Victor Leal Pontes e Rodolfo Brasil Ana Paula Ribeiro | apribeirocarvalho@bol.com.br Rimene Amaral (1088JP-GO) e Adevania Silveira (964JP-GO)
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The Book não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados por seus colaboradores.
NESTE NÚMERO
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Vinícius de Moraes Festa o ano inteiro para o Poetinha
fotografia Imagens noturnas desnudam a face real de Goiânia
28-32 Bússula Cabo da Roca, em Portugal, onde a terra acaba e o mar começa
42-44 34-41
perfume O curioso caminho para se criar um nova fragrância
46-53 marcelo solá Influenciado pelo universo do motoboy Chanterclayson
casas reais Um apartamento feito de criatividade, poesia e delicadezas
60-65 54-58
Editorial Combinações que você pode fazer com as democráticas calças
66-69
70-71 direto de madri The Book entrevistou o fotógrafo de moda da hora
72-75 quase chef Cinco receitas para matar a fome fora de hora
detox delivery Upgrade na dieta leva nutricionista à sua casa
NORA ROCHEL Jardins e corais em forma de joias
76-77
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Júnior Durski O chef que se gaba de fazer o melhor hambúrguer do mundo
crônica As constatações sobre o que dizem as crianças, por Cássia Fernandes
PromoBook Castro’s Park Hotel
TEMPO DE FESTA Com plano de revitalização em curso, o único cinco estrelas de Goiânia deseja reviver o glamour dos grandes eventos sociais que passaram por seu salões
Para isso a direção do hotel planejou uma série de iniciativas, como a revitalização dos espaços até meados do ano, reestruturação do cardápio e treinamento da equipe de atendimento. A ideia também é investir na modernização de alguns itens, a exemplo do projeto luminotécnico que irá adequar a iluminação dos espaços que abrigam tanto recepções de casamentos quanto meetings empresariais. A atmosfera familiar e a forma acolhedora de recepcionar, patrimônios dos quais o Castro’s se orgulha, serão ainda mais ressaltados nessa nova fase, engrandecida pelo fato de o hotel ter sido o primeiro – e continua sendo o único – cinco estrelas de Goiânia a ter a chancela do Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass) do Ministério do Turismo. Os espaços destinados aos eventos se dividem em 11 salas e mais o Restaurante Bougainvillea que, se somados, resultam em 1.800 metros quadrados de área. Os salões dispõem de estrutura móvel
que possibilita a realização de casamento, aniversário, boda, formatura, batizado, entre outros gêneros, para até 260 convidados. Ou seja, permitem adaptações ao tamanho exato da festa que o cliente deseja. Para as festas de casamento, o Castro’s tem ainda como opção o Restaurante Bougainvillea, espaço privativo que conta com três ambientes: american bar, pista de dança e área da cascata.
Adriano Reis
O Castro’s Park Hotel quer reviver a época dos grandes eventos que movimentaram a sociedade goiana, especialmente festas de casamentos memoráveis como a do médico cirurgião Raimundo Nonato Miranda com a empresária Cláudia Ribeiro de Moraes Miranda, na década de 80, realizada antes mesmo da inauguração do empreendimento.
HISTÓRIA Adriano Reis
Comporta até 90 pessoas com a montagem usual e pista de dança. Também pode se estender para 120 pessoas utilizando a Sala Antúrius como anexo. Na Sala Rio Tocantins é possível montar uma estrutura maior, adicionando pista de dança e diferentes ambientes para cerca de 250 pessoas. O Castro’s oferece ainda serviço de segurança e equipamentos de áudio e vídeo para qualquer evento. A gastronomia do Castro’s Park Hotel é reconhecida pela qualidade, diversidade e sofisticação. No menu constam alguns ícones consagrados pelos clientes, e que se tornaram marcas registradas do hotel, como a torta Baião de Dois, feita de chocolate e baba de moça; a torta de chocolate amargo; a Delícia de Banana e o famoso Petit Four de Coco, servidos nos cafés e buffets de eventos. O serviço de comidas e bebidas inclui 29 cardápios de buffet e empratados e 12 cardápios para coquetéis. O buffet dispõe de dez entradas, entre pães, saladas e frios, sete pratos quentes, cinco sobremesas e seis tipos bebidas. Nos cardápios para coquetéis são seis entradas, nove pratos quentes, cinco sobremesas e seis tipos de bebidas. Todos são facilmente adaptados aos desejos e necessidades de quem quer fazer uma festa inesquecível. Além das festas privadas que marcaram época na história do hotel, o Castro’s construiu sua reputação de host de primeira linha com um calendário de eventos que são sempre sucesso de público, como a Feijoada dos Castro’s; o Jogo de Palavras – competição entre equipes que tem como objetivo testar os conhecimentos com perguntas e respostas sobre diversos temas; Dia dos Pais e Dia das Mães, com almoço diferenciado e música ao vivo; o Valentine’s Day, jantar com música ao vivo; o Estrelas Goianas – show musical com artistas goianos; o Dia dos Namorados, com pacotes de hospedagens para casais e jantar completo; o Luau Reggae, realizado na pérgula da piscina do hotel sempre com um show e grandes atrações de reggae e DJs e, por fim, Natal e Réveillon.
O Castro’s Park Hotel é o primeiro e único hotel cinco estrelas de Goiânia. Fundado em 1986, a partir do sonho e do idealismo do casal mineiro Olavo de Castro e Norma Cunha de Castro, foi totalmente construído com recursos próprios. A edificação do melhor hotel de Goiás consumiu seis anos de muito trabalho. Em junho de 1986, o Castro’s Park Hotel abriu suas portas com o soft openning, mas foi em 7 de Novembro que ele foi realmente inaugurado. Com uma arquitetura exuberante e serviço de qualidade invejável, o Castro’s Park Hotel logo se tornou referência e local para realização de grandes eventos. O restaurante Ipê, o lobby, áreas de eventos e acomodações já passaram por grandes modernizações para deixar o primeiro hotel cinco estrelas de Goiânia cada vez mais aconchegante. As premiações recebidas aos longo dos anos são uma prova de reconhecimento da qualidade das instalações e dos serviços, tais como o Prêmio Caio Jacaré de Bronze, categoria Hotel com Espaço para Eventos de Grande Porte; de Os Mais Admirados da Gastronomia em Goiás 2012; de Os Mais Admirados do Turismo em Goiás 2012; e o Certificado de Excelência Winner 2012 do TripAdvisor.
O que você faria se tivesse R$ 353 mil na conta bancária? Essa quantia dá para comprar dois apartamentos modestos ou 15 carros populares. Com esse valor, também é possível pagar, entre idas e voltas, mais de 200 passagens aéreas para Paris, em classe econômica, é claro! Daria para comprar uma infinidade de roupas de grife, jantar nos melhores restaurantes do mundo e, até, tomar um vinho. Mas, só uma garrafa! Isso mesmo. U$ 168 mil dólares, ou R$ 353 mil reais, é o valor de um Penfolds Block Kalimna 42 Cabernet Sauvignon, safra 2004. Ele é considerado o vinho mais caro do mundo e isso inclui os vinhos raros e antigos que são vendidos em leilões.
Elas estão presentes na vida de muita gente, fazem parte de muitas histórias, são cobiçadas por crianças e adultos. As canecas saíram do armário e ganharam status de objetos de arte. Ninguém tem uma caneca apenas para tomar café ou chá. Elas expõem a personalidade de seus donos e da decoração do ambiente. Foi pensando nes-
O preço astronômico tem um motivo: a raridade. A vinha Cabernet Sauvignon, da qual é feito o produto, é a mais antiga do planeta e foi levada para a Austrália em 1830 e, por isso mesmo, a produtividade é pequena. Na última safra, apenas 12 garrafas foram produzidas e a negociação e reserva são feitas diretamente com o produtor, a vinícola Penfolds. Para quem aprecia vinhos e tem muito dinheiro para gastar com eles, vale lembrar que depois de tomá-lo ainda sobra um souvenir. O produtor faz questão de informar que “a embalagem é extremamente especial”. Mas, claro, não pode ser bebida.
sa ascendência das canecas que a marca Ilustríssima fez uma parceria com um time de mais de 20 ilustradores e estúdios de design de vários cantos do País. Os artistas se inspiram e se expressam por meio desse trabalho-arte que, no fim das contas, são mais que simples canecas. Os ilustradores criam desenhos personalizados e exclusivos que valorizam o produto, agregando também uma expressão pessoal a cada uma delas. A Ilustríssima trabalha com a curadoria desses artistas, que são convidados a desenvolver ilustrações para a marca, valorizando seus trabalhos e ganhando mais reconhecimento. O artista recebe 10% sobre a margem de lucro do produto e o ilustrador cede à marca apenas os direitos de comercialização do seu trabalho, mantendo para si os direitos autorais. Conheça mais acessando o site: www.ilustrissima.com
BEM-VINDO,
MR. BOOK
A The Book já se rendeu ao encanto do mais novo integrante da sua equipe, o simpático Mr. Book. Metade robô, metade livro, o intrépido repórter vai assinar reportagens superinteressantes, para quem ama conhecimento: tudo sobre ciência, tecnologia, cultura pop, curiosidades e tendências. Mr. Book é uma criação do designer, ilustrador e animador 2D Paulo Henrique Almeida dos Santos, um aficionado por animação em geral. Autodidata, Paulão, como é conhecido no meio, afirma que gastou menos de um minuto para conceber Mr. Book. Ele conta que se inspirou no steampunk, subgênero da ficção científica que ganhou fama no final dos anos 80 e início dos anos
90. Os anime Steamboy e Full Metal Alchemist, e os filmes De Volta para o Futuro III, A Liga Extraordinária e Van Helsing são os exemplos mais populares do gênero. Paulão também agregou ao Mr. Book traços da personalidade do Homem de Lata, do clássico O Mágico de Oz. “Minhas maiores inspirações são a cultura pop. Adoro quadrinhos, animações e a sétima arte”, explica.
MASP O MAIS QUERIDINHO Entre os inúmeros pontos turísticos da capital paulista, o Masp (Museu de Arte de São Paulo) foi o mais visitado no ano passado, segundo pesquisa das Centrais de Informações Turísticas (CIT) do Observatório de Turismo, SPTuris (São Paulo Turismo). O mais importante museu de arte do Hemisfério Sul, com um acervo de 8 mil peças, entre elas obras de Monet, Cézanne, Van Gogh, Goya, Velázquez, Rafael, Ticiano e El Greco, teve preferência de 14% dos estrangeiros e 26% dos brasileiros entre os 4,8 mil turistas entrevistados. O museu se destacou dentre lugares bem conhecidos e visitados da cidade, como o Parque Ibirapuera, o Mercado Municipal, a Avenida Paulista e o Museu da
Língua Portuguesa. Nem locais com expressivo apelo comercial, como a Rua 25 de Março, conseguiram sobressair dentre os mais dedicados à cultura e à arte. Em segundo lugar na pesquisa aparece o Parque do Ibirapuera e, em terceiro, a Avenida Paulista entre os locais mais visitados por estrangeiros. Para os brasileiros, o Mercado Municipal ficou em segundo e o Parque do Ibirapuera, na terceira colocação. No ano passado, as CITs foram procuradas por 49,9 mil turistas, sendo 29,3 mil internacionais.
Ilustração Rodolfo Brasil
100 anos de Vinícius
por Mr. Book
Sente-se num banquinho e prepare o coração para uma temporada inspiradora. A literatura brasileira celebra, neste ano, o centenário de nascimento de Vinícius de Moraes, um dos seus mais importantes expoentes. Para festejar a data, inúmeros tributos e homenagens ao poeta, compositor, escritor, jornalista e diplomata estão programados em todo o País e no exterior. Vinícius nasceu no dia 19 de outubro de 1913, mas a contagem regressiva começou em 2012, com a realização de shows, musicais, exposições. A União da Ilha abriu os trabalhos este ano e cruzou a Marquês da Sapucaí cantando Onde anda você, poetinha? Saudade mandou te buscar! A escola da Ilha do Governador, bairro onde os pais de Vinícius moravam, levou para a avenida a vida e a obra do poeta carioca, com a presença do parceiro Toquinho e a musa inspiradora de Garota de Ipanema, Helô Pinheiro. No calendário de celebrações, uma das mais esperadas é a montagem, na Broadway, do musical Orfeu Negro, baseado na peça Orfeu da Conceição, na qual Vinícius recriou a tragédia grega de Orfeu e Eurídice em uma favela carioca. A versão internacional terá adaptação e direção de Cláudio Botelho e
Charles Möeller, convidados pelo produtor americano Stephen C. Byrd. As celebrações oficiais em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia estarão a cargo da Geo Eventos, que iniciará as ações com um grande show em que artistas da MPB interpretarão as canções mais conhecidas do poeta fluminense. O espetáculo infantil Arca de Noé será reeditado nos palcos e ganhará uma edição fonográfica de luxo. Já o Museu da Língua Portuguesa apresentará uma exposição audiovisual − com publicações, vídeos, fotografias e documentos pessoais – que, depois, seguirá para o Rio de Janeiro. Boêmio inveterado, Vinícius de Moraes escreveu poemas, livros, peças, letras e participou de filmes. Relacionou-se com todas as esferas culturais e ousou misturar poesia e música. Foi amigo de Mário de Andrade e Manuel Bandeira, compôs com Tom Jobim – de quem recebeu o apelido de Poetinha −, Pixinguinha, Baden Powell, Antonio Maria, Chico Buarque, Carlos Lyra e Toquinho, o seu último parceiro. Compositor de canções antológicas, como Garota de Ipanema, a segunda mais executada no mundo, perdendo apenas para o single Yesterday, dos Beatles, deixou um legado de 400 poesias, reconhecidas no mundo todo.
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Poeta maior do amor e da paixão, casou-se nove vezes e teve sua vida amorosa sempre misturada à sua obra. Gostava das mulheres e sempre falava sobre elas. A célebre declaração em que pedia desculpas às feias por considerar que “beleza é fundamental” se explicou mais tarde, mas de um jeito que só ele, um multiarticulador de palavras, sabia fazer: “A beleza para mim é importante. Eu amei feias lindas, feias interessantes. Namorei muita mulher que eu considero esteticamente de nenhuma beleza, mas eram mulheres interessantes, mulheres que tinham alguma coisa”.
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De alma complexa e poesia simples, na opinião da crítica, Vinícius trouxe a poesia mais formal para a popular, misturou ritmos brancos e negros, uniu religiões e crenças. Se fosse nos dias atuais, poderíamos dizer que o poeta era o tipo de sujeito que gostava de tudo junto e misturado. Por isso foi e é tão constantemente exaltado pelos seus pares. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade o elogiava: “O Vinícius é uma extensão de sua poesia culta, chegando até às camadas populares. Eu o acho extraordinário e um grande exemplo para os poetas mais novos”. Como se vê, as homenagens pelos 100 anos de Vinícius de Moraes são mais que merecidas. Para quem deseja conhecer mais sobre a vida do poeta, o documentário Vinícius, dirigido por Miguel Faria Jr., de 2005, é bastante elucidativo. Com depoimentos comoventes e curiosos de amigos e grandes personalidades brasileiras, como Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tônia Carrero, Toquinho, Carlos Lyra, Antônio Candido, Edu Lobo, Francis Hime e Miúcha, o longa traz interpretações dos atores Camila Morgado e Ricardo Blat.
SE EU MORRER ANTES DE VOCÊ Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: ‘ Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!’ Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas? Sim? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe por que? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele.
PromoBook Valéria Estrela - Dermatologista
A LUZ DA JUVENTUDE Laser de CO2 fracionado é o que há de mais eficaz no combate ao envelhecimento da pele
O laser de CO2 fracionado age por meio de micropontos e é aplicado em sessões seriadas que duram de 20 a 40 minutos, com anestesia tópica. O intervalo deve ser de quatro a seis semanas entre uma sessão e outra. A luz penetra a pele, deixando áreas de pele normal entremeadas por pele agredida com o laser. O resultado é o rejuvenescimento com recuperação mais rápida e que pode ser visto logo na primeira sessão, mas, em média, o tratamento chega ao final entre quatro e seis sessões. “O laser de CO2 fracionado é usado para estimular a produção de colágeno e para amenizar rugas, envelhecimento facial, fotoenvelhecimento de áreas expostas, rugosidade fina da pele, aspereza e cicatrizes de acne”, enumera a dermatologista Valéria Estrela, especialista em tratamentos de rejuvenescimento. Ao surgirem as primeiras marcas de expressão, começa também o corre-corre em busca da fonte da juventude. E sabe quem são os vilões? O cigarro e sol são os piores deles. Os raios ultravioleta são cumulativos e o excesso pode causar danos irreversíveis à pele, como rugas, envelhecimento precoce e até câncer. A dermatologista lembra que o filtro solar é a melhor forma de prevenção. “Claro que tudo
depende da carga genética. Mas, proteger a pele é um cuidado que deve começar já aos seis meses de vida”. E, se prevenir ainda continua sendo a melhor forma de manter a saúde e a jovialidade da pele, que tal começar com os cuidados na hora certa? Existem antioxidantes via oral que podem somar força no processo, mas são apenas coadjuvantes. Aos 20 anos já é indicada a vitamina C de uso tópico, como preventivo, que ajuda a manter a saúde da pele por mais tempo. A partir dos 30 anos, os tratamentos passam a ser um tanto mais invasivos, com ácidos e toxina botulínica. “Isso não é uma lei. É apenas uma forma de prevenir e retardar o envelhecimento da pele”, explica. Aceitar a idade também ajuda a pessoa a manter a jovialidade e a qualidade de vida. É claro que, enquanto houver métodos de retardar o envelhecimento, vale a pena tentar. O que não faz bem à saúde da alma e do corpo é a eterna preocupação com a juventude, e preocupação é mais um fator de envelhecimento. “A medicina e a tecnologia estão ao nosso alcance para fazermos maravilhas, não milagres”, alerta Valéria. Todos estes benefícios devem ser usados sem exageros e com acompanhamento médico. “Assim, manteremos o rosto bonito, a alma em paz e uma cabeça ainda mais jovem que pode transformar a aparência de qualquer pessoa”.
Dermatologista Valéria Estrela: cuidados com a pele devem iniciar aos seis meses de vida
Foto Rimene Amaral
Toda mulher sonha com uma pele lisinha e livre de rugas. E, com tantos tratamentos de rejuvenescimento disponíveis, como escolher o mais eficiente e de recuperação mais rápida? A dermatologia avançou e a tecnologia já chegou aos consultórios com o uso do laser. Associado ao gás carbônico – conhecido como CO2 fracionado – é hoje um dos métodos de rejuvenescimento não-cirúrgicos mais eficazes para melhorar a aparência e a saúde da pele de quem tem mais de 40 anos, sendo possível adiar, temporariamente, a ideia de uma cirurgia plástica.
Fotografia Cena
ENQUANTO VOCÊ DORMIA
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Goiânia não é uma só. É uma cidade que se mostra ao mesmo tempo plácida e pulsante. Mas somente à noite, quando o trânsito infernal já não serpenteia ruas e avenidas é que podemos notar sua face real. Convidados pela The Book para registrar a capital goiana entre 2 e 6 horas da manhã, cinco fotógrafos apresentam os encantos desta dualidade
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Eros de Sousa JĂşnior Mercado Popular, Rua 74 , Centro
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HĂŠlio Neto Feira livre da T-1 com T-6, Setor Coimbra
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Regina Esteves Feira Hippie, Praรงa do Trabalhador, Centro
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Paulo Rezende Avenida 85, Setor Marista
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Igor Leonardo Praรงa do Bandeirante, Avenida Goiรกs com Avenida Anhanguera, Centro
Bússola
ONDE O VENTO FAZ A CURVA The Book visitou em Portugal o lugar onde a terra acaba e o mar começa. Cabo da Roca tem espetacular pôr do sol e uma gastronomia que leva até os fortes ao pecado da gula Por Rimene Amaral
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Fica logo ali, numa pontinha de terra próxima a Sintra, a 40 quilômetros a oeste de Lisboa. “Nadando, chega-se à terra do Tio Sam”, brinca Pedro, o rechonchudo guia com cara de líder de excursão, que nos acompanha pela região enquanto narra, com seu português carregadíssimo, a história do lugar. Chama-se Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa, imortalizado por Luís de Camões no Canto VIII de Os Lusíadas. “Donde a Terra acaba e o mar começa”, escreveu o poeta. Antes de explorar a falésia que se ergue até cerca de 140 metros sobre o mar, onde estão um dos faróis mais antigos de Portugal e uma loja para turistas, escolhemos experimentar as especialidades do famoso Refúgio da Roca, restaurante que há 40 anos centra seu cardápio no que o mar pode oferecer. O lugar não poderia ser mais acolhedor, com rústicas paredes de pedra e teto de madeira. Não tive dúvida quanto à escolha do prato. Para começar, lulas e camarões assados na brasa, acompanhado de refrescante vinho verde. Pedro sugeriu-me que aguardasse o “churrasco luso” saboreando um inigualável queijo azeitão, da Serra da Estrela, de textura cremosa, com pão de casca dura, extremante
saboroso, e antepastos de anchovas e de ervas, azeitonas pretas miúdas mergulhadas em azeite, tradicionais alheiras servidas generosamente numa travessa de terracota e um prato de sardinhas assadas. A maneira peculiar de servir o prato principal desvenda o mistério do nome: lulas na telha. Acima da mesa de madeira, um gancho sustenta os espetos enquanto se come. Prático e tentador. Um marketing medieval que funciona muito bem até os dias de hoje. Os clientes quase nunca ficam na primeira rodada. Pedi a conta, mas não sem antes cometer o pecado da gula, provando um travesseiro, tradicional doce da região. A comelança saiu em torno de 50 euros. Para uma possível segunda experiência gastronômica no Refúgio, anotei a sopa rica do mar, robalos grelhados, arroz de marisco, parrilhadas, espetos de carnes mistas e cabrito grelhado, excelentes sugestões da casa.
Cabo da Roca foi imortalizado em poema de Os Lusíadas, de Luís de Camões
Fotografia Rimene Amaral
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Contemplação: turistas passam horas apenas olhando mar e sentindo a brisa
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A poucos passos dali, o cenário se abre para um descampado coberto de flores coloridas e de diferentes perfumes. Acredite, é possível definir cada fragrância de acordo com as cores. Tudo isso, como dizem os lusitanos, “a rodear” o imponente farol do século XVIII à beira do Atlântico. O silêncio barulhento do vento forte traz o cheiro da maresia. As ondas que se quebram contra as rochas abafam o ruído dos pássaros que habitam o lugar. Debruçar-se sobre o guarda-corpo de madeira e encarar a imensidão do horizonte é qualquer coisa como sentir a liberdade invadir a alma. Há grande risco de abraçar essa sensação e achar que se pode planar como as gaivotas que voam sustentadas pelo vento que faz a curva.
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a melhor hora do dia é ao entardecer Por causa da diversidade de iguarias marinhas e da ligação que os nativos têm com elas, o Cabo da Roca também é conhecido como Focinho da Roca, ou ainda Promontório da Lua. Nada mais poético. A melhor hora para visitar o local é ao entardecer, de onde se pode assistir ao espetacular pôr do sol sobre o Oceano Atlântico. Por integrar o Parque Natural de Sintra-Cascais, o lugar encanta fotógrafos e apaixonados por mergulho, surf, escaladas e trilhas. Aliás, empreender longas caminhadas pelos campos floridos é mais do que recomendável, especialmente para quem afunda o pé na jaca, ops, nas lulas na telha.
Cabo da Roca também é conhecido como Focinho da Roca
Refúgio da Roca: nada mais poético.
COMO CHEGAR, A PARTIR DE LISBOA 32 PB
A melhor forma de visitar lugares como o Cabo da Roca é contando com quem conhece e dispondo de tempo suficiente para explorá-los. Empresas de guias turísticos são ótimas opções. Geralmente, as que são encontradas em sites de busca têm a avaliação dos serviços, que costumam ser muito baratos. Um furgão, com toda comodidade, pode passar o dia por conta de quatro a cinco pessoas por módicos 80 Euros para cada um. Vale a pena, já que, além do conforto, os guias informam, falam da história e apresentam os melhores lugares, longe do tumulto de turistas deslumbrados. Para quem gosta de independência, pode ir por conta própria. Partindo de Lisboa, vá até a estação de metrô (metro) Cais do Sodré, na linha verde, e na mesma estação pegue o trem (comboio) em direção a Cascais. Chegando a Cascais, pegue o ônibus (autocarro) número 403, Scotturb, que tem uma parada (paragem) no Cabo da Roca. Restaurante Refúgio da Roca Endereço: Estrada do Cabo da Roca 27, 2705 Sintra Portugal Fone: +351 219 289 682
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Fotografia Rimene Amaral & Edgard Soares
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Edgard Soares
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Capa
MUITO PRAZER, CHANTERCLAYSON
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Nome de destaque na arte contemporânea brasileira, Marcelo Solá colhe os frutos da mudança de vida que começou há cinco anos. Abandonou as baladas, mudou-se para um condomínio fora de Goiânia, retomou as cores e abriu 2013 com uma mostra nos Estados Unidos. Em seu Hidrolands Grafisch Atelier, acorda bem cedo para criar o mundo onde habita seu heterônimo
por Adevania Silveira
Uma dúzia de e-mails e ligações telefônicas, quatro encontros desmarcados e as dores de cabeça por conta de uma big infiltração que inundou o recém-construído ateliê separam Marcelo Solá da entrevista para a capa de lançamento da The Book. Apesar da demora, tivemos sorte. Era véspera do Natal, Marcelo estava às voltas com os preparativos para a próxima exposição e só viajaria novamente no feriado de Carnaval. É cada vez mais raro o artista permanecer por longas temporadas em Goiânia e, em 2012, não foi diferente. A movimentada agenda de exposições o levou a Brasília, ao Rio Janeiro, a São Paulo e Florianópolis. No total foram dez viagens. Era final de novembro quando finalmente conseguimos nos reunir em seu apartamento do Edifício Bemosa, no centro da cidade. Solá acabara de chegar do Recife, onde havia inaugurado Pharmacia Deluxe, ao lado do mineiro Célio Braga, a última exibição do ano.
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Solá expõe com regularidade no Brasil e no exterior e já fez mostras em Buenos Aires, Nova York, na Bélgica e em Madri. Em 2002, participou da Bienal Internacional de São Paulo e faz mostras individuais nas principais capitais do País: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. No entanto, no dia da entrevista, não conseguia esconder o entusiasmo pela mostra que estava por vir, a segunda em solo americano. Desde 23 de janeiro, o Krannert Art Museum, em Champaign, Estados Unidos, apresenta seis trabalhos do artista na coletiva Blind Field (Campo Cego), sob curadoria de Tumelo Mosaka e Irene Small.
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O KRANNERT ART MUSEUM MOSTRA DESDE JANEIRO SEIS OBRAS DO ARTISTA
Centrada na nova geração de artistas brasileiros, a mostra irá percorrer outros museus no País. “Passaram um ano pesquisando os artistas. É o que há de mais fresco na arte contemporânea brasileira”, pontuou Solá sobre a exposição que exibe obras de Cao Guimarães, assim como trabalhos de Jonathas de Andrade, Tatiana Blass, Marcelo Cidade, Carolina Cordeiro, Marilá Dardot, Marcius Galan, André Komatsu, Graziela Kunsch, Cinthia Marcelle, Lais Myrrha, Nicolás Robbio, Daniel Steegman Mangrané, Rodrigo Matheus, Carlos Mélo, Matheus Rocha Pitta, Thiago Rocha Pitta e Héctor Zamora (quatro deles não são brasileiros, mas vivem e trabalham no País). A mostra permanece em Illinois até 31 de março, depois segue para o Eli Michigan State University e o Museu de Arte Edythe Broad. A primeira vez de Solá nos Estados Unidos foi em 2001, onde mostrou uma série de desenhos pretos, feita com tinta a óleo sobre papel e com frases em inglês, no Drawing Center de Nova York. A exposição foi considerada o divisor de águas na sua carreira, projetando-o no cenário artístico contemporâneo brasileiro. Abrir o ano com a exposição nos Estados Unidos é apenas o prenúncio do que o goianiense de 41 anos promete para 2013. Duas mostras individuais, uma em São Paulo e outra em Belo Horizonte, já estão acertadas. “Marcelo está sempre nos surpreendendo pelo lado bom. Quem acompanha o seu trabalho consegue detectar a sua inquietude. É um artista que sabe superar a si mesmo com propriedade e talento”, afirma o marchand Marcos Caiado sobre o artista que estreou no circuito de exposições há menos de uma década e meia.
Rimene Amaral
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EM NOVA FASE DA VIDA, SOLÁ REDESCOBRIU AS CORES E O PRAZER DE DESENHAR O bom momento do artista não se deve apenas ao reconhecimento e ao amadurecimento de uma produção que transita na área limítrofe do desenho, do desenho-pintura e do desenho-instalação. É preciso dar crédito à nova disciplina de vida que o artista se impôs há cerca de cinco anos. Uma delas − a que provocou as mudanças mais profundas −, a decisão de abandonar as baladas regadas a muita bebida e otras cositas más para se converter em um quase pacato cidadão, disposto a seguir a disciplina de acordar bem cedo para se dedicar de corpo e alma ao desenho. A casa-ateliê de 400 metros quadrados que construiu em um condomínio na cidade vizinha de Hidrolândia, a 30 quilômetros de Goiânia, ajudou-o a conquistar a tranquilidade e o equilíbrio que tanto ansiava. “Agora só falta praticar exercícios físicos”, brinca o artista sobre a nova fase.
Marcelo Solá em seu apartamento, no edifício Bemosa, em Goiânia: mudança de vida trouxe disciplina e tranquilidade
Parece contraditório que um artista, cujo trabalho dialoga diretamente com a arquitetura em decomposição das cidades, os muros grafitados e as camadas de pôsteres pregados com goma, tenha escolhido o reservado convívio com o campo ao invés de sons de buzina e a cinza fumaça da poluição. Para Solá, não há nenhum mistério nisso pelo fato de passar metade do ano transitando entre os grandes centros, onde se reabastece de matéria-prima para o trabalho. Os amigos também não permitem longos períodos de isolamento. É comum, nos finais de semana em que está em Goiânia, receber hóspedes no ateliê. Nesses momentos Solá aproveita para cultivar hábitos como tomar vinho, conversar e ouvir música. Ultimamente tem ouvido muito jazz africano, mas adora trilhas sonoras. Outra paixão são os discos de vinil antigos que coleciona.
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Em sentido horário, serigrafia sobre papel (70X50cm); serigrafia sobre mapa (70X50cm); e desenho técnica mista sobre papel (60X42cm)
“ATÉ HOJE ACHO QUE SOU AMADOR”
“O MERCADO QUER SABER DE MATERIAL. E EU PRODUZO MUITO ” O novo estilo de vida refletiu grandemente no trabalho do artista, que resgatou o colorido da fase inicial depois de um largo ciclo monocromático. Um exemplo clássico dessa época foi a sua participação na XXV Bienal de São Paulo, em 2002, quando apresentou uma instalação composta por escultura, desenhos e um desenho-pintura mural. Um ambiente pesadamente sombrio, integralmente realizado em preto e branco, no qual, ao lado de um mural composto por um enorme plano preto recortado por camadas de túneis e palavras enterradas, havia uma espécie de avião formado por carrinhos funerários. A individual de Marcelo Solá, realizada na Galeria Luciana Caravello, no Rio de Janeiro, ano passado, talvez seja uma das mais representativas desse novo estágio de expressão do artista. Casa das Primas + Hidrolands Grafisch Atelier Chanterclayson/Dusted Souls, que apresentou desenhos em técnica mista − esmalte sintético, bastão de giz, pastel seco, aquarela, lápis, spray e tinta a óleo sobre papel fabriano de algodão, fabricado na Itália, e canson, de origem francesa –, explora um mundo imaginário, habitado pelo motoboy Chanterclayson. O negro recorrente é agora transfigurado por uma explosão de cores, e os traços ganham a liberdade de uma criança, da mesma que um dia recebeu o incentivo dos pais para pintar as paredes da casa onde moravam. “Bem no começo na minha carreira tinha a questão, e ainda tem isso, de desenhar por um prazer intenso, de construir uma carreira através do desenho, de construir uma vida a partir do desenho, de falar da história do desenho. Isso ainda está muito presente no meu trabalho”,
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afirma Solá. Para ele, sua obra não estaciona em um determinado momento, nem se modifica de maneira radical, mas se transforma lentamente, ora subtraindo, ora acrescentando elementos.
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Hoje a história é outra. Solá está bem estabelecido no mercado de arte contemporânea, que por sua vez lhe imputa um valor considerável. Obras no formato de 2x1,70m custam, em média, R$ 23 mil. “Solá é um artista consistente. Tem uma forte noção de equilíbrio e sabe muito bem integrar o desenho, a cor e os espaços vazios. Sua obra é bem elaborada, aguça as possibilidades do olhar e nos convida a leituras tridimensionais, a inusitadas reorganizações espaciais. Da sua geração, aqui no Centro-Oeste do Brasil, talvez, o de maior destaque junto à critica especializada”, analisa Marcos Caiado.
Marcelo Solá: obra do artísta não estaciona, mas se transforma lentamente
Edgard Soares
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Da fase inicial do artista, que começou ainda muito jovem, aos 18 anos, a empresária Vânia Abrão fala com propriedade. A ela pertence boa parte dos trabalhos inciais do artista. A primeira vez que se deparou com os desenhos de Solá, na extinta Galeria Multiarte, do marchand PX Silveira, Vânia se impressionou com o grau de sofisticação dos desenhos ainda sobre papel comum. De admiradora a empresária passou a incentivadora e colecionadora. “Solá tem forte noção de equilíbrio e cores”, diz a colecionadora. “É provável que Vânia tenha sido a primeira a comprar um trabalho meu”, atesta Solá, que lembra ter recebido regularmente a empresária em seu primeiro ateliê no Setor Bueno. “Ela acreditava no meu trabalho, dizia para eu continuar e isso me fazia ter vontade de fazer as coisas acontecerem”, lembra. Outras duas figuras fundamentais no início da carreira do artista, segundo o próprio Solá, foram o empresário e colecionador Sebastião Aires e o jornalista Sebastião Vilela, que produziu e bancou vários dos seus portfólios em uma época em que o dinheiro era bem escasso.
Riscos, palavras, frases inarticuladas, tenso, obsessivo, desconexo, dramático e coisas que flutuam são expressões que a crítica utiliza reiteradamente para apresentar o trabalho de Solá. Mas, ao que parece, o artista não se detém a estas análises e prefere seguir produzindo à exaustão. “O mercado quer saber de material. E eu produzo muito, então não me preocupo. Para mim ainda é diversão. Quando não estou desenhando estou amadurecendo a ideia, viajando, pensando no que vou fazer amanhã. Estou aqui com você, mas continuo pensando no vermelho ou como seria uma sobreposição”, revela. A pergunta que encerrou a entrevista foi se sonha em ocupar um lugar mais alto no pódio das artes plásticas. Solá escorrega pela tangente e diz que nem ao menos se considera profissional. “Até hoje acho que sou amador”, diz, tentando disfarçar. Quanta modéstia, Chanterclayson.
Toilette
A ALMA PERFUMES DOS
por Rimene Amaral
Perfumista desvenda o intrincado caminho para se criar uma nova essência e as emoções e sensações que as fragrâncias despertam Os aromas possuem o duplo poder de atrair e afastar as pessoas. Existem histórias de amor que foram marcadas especialmente por um perfume. Certa vez conheci uma moça em um free shop desesperada para encontrar a mesma fragrância do italiano que se sentara na poltrona à sua frente em um voo internacional e que tanto lhe havia seduzido. Depois de testar em vão todos os frascos da prateleira, entregou-se à frustração. A felicidade veio dois meses mais tarde. Pelo cheiro do perfume, reencontrou o homem na sala de embarque de um aeroporto. Hoje estão casados e têm três filhos. Mas, é possível também que você já tenha sentido náusea, dor de cabeça ou vontade de espirrar por causa de um perfume que não agradou o seu olfato. Conheço a história de um casal que chegou ao ato extremo de por fim ao casamento de 12 anos, oito meses e 15 dias por incompatibilidade, vamos dizer, olfativa. Um não tolerava o cheiro do outro! A gota d’água, ou da essência, foi quando o marido, após o habitual banho antes de deitar-se, aplicou duas gotas do maldito perfume em cada lado do pescoço. Foi a última noite juntos, quer dizer, os derradeiros 40 minutos da relação.
Seja uma fragrância amadeirada, doce ou cítrica, o perfume desperta emoções, marca presença e chama a atenção, criando uma identidade. Usando desde séculos receitas dos boticários e com o auxílio da tecnologia, os cheiros puderam ser criados para o nosso deleite pelo perfumista ou nariz, como é conhecido o responsável pela mistura de óleos essenciais aromáticos na construção de um novo perfume. Estes profissionais são capazes de distinguir cerca de 500 notas (cheiros) diferentes. Basicamente, são três anos de muita dedicação, estudos e treinos, mas, para se tornar um perfumista de excelência, são necessários pelo menos 10 anos de prática, vivências e acompanhamento. O perfumista César Veiga, coordenador do Núcleo de Avaliação de Fragrâncias de O Boticário, com 16 anos de experiência, diz que o perfume vai além de um cheiro bom borrifado no corpo. “Mais do que um cuidado do dia a dia, o perfume se torna marca registrada de uma personalidade. É a forma invisível de transmitir nossas emoções e intenções. Uma pessoa bem perfumada será sempre o centro das atenções”, define.
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O perfumista explica que pessoas mais tímidas tendem a gostar de notas menos invasivas, como o musk e florais delicados. Já as aventureiras e esportivas procuram notas que sejam energéticas e explosivas, como os cítricos, as lavandas, notas verdes herbais ou frescas, que combinam com o estilo mais ativo. As mais clássicas preferem notas amadeiradas ou florais, como a rosa e o jasmim, que denotam sofisticação e bom gosto. As mais jovens se deliciam com notas frutais vermelhas, como a framboesa, o morango e a cereja, ou gustativas, como o caramelo e o chocolate. Pessoas de personalidade mais sedutoras procuram notas quentes e sensuais, como a baunilha, o âmbar, resinas misteriosas e de especiarias quentes, como o cravo e a canela. Apesar de todas essas tendências, o gosto individual é que determina a escolha de uma fragrância. O consumidor brasileiro, por exemplo, valoriza o frescor e a sensualidade que um perfume proporciona, sem deixar de lado a qualidade. As mulheres agradam muito dos perfumes florais com modernização de notas clássicas, como a rosa e o jasmim. Florais frutais também têm grande participação nesse mercado, seguidos pelos florientais, que conferem calor e sensualidade a um perfume. Já os homens preferem fragrâncias amadeiradas e fougére, aroma constituído de notas de lavanda e de cumarina, nas quais se adicionaram notas cítricas, aromáticas e amadeiradas (patchuli, musgo de carvalho). A originalidade está em utilizar acordes diferenciados e adequados ao consumidor.
O perfume também é considerado um fator relevante no convívio social e profissional e, para escolhê-lo, é preciso levar em consideração as emoções, o estado de espírito e o estilo de vida. “É um meio de comunicação entre as pessoas, uma forma de se fazer notar. Por isso, também é válido poder contar com perfumes para diferentes ocasiões”, explica o perfumista, que também derruba algumas regras estabelecidas para uso de fragrâncias específicas em ocasiões ou períodos do dia. “O gosto pessoal é que define. Além disso, as pessoas gostam de variar de acordo com o estado de espírito, então é comum alguém usar mais de um perfume”. O perfume tem a capacidade de despertar lembranças. Por isso, os cheiros remetem a sensações e fatos já vividos. E essas memórias olfativas podem ser despertadas na escolha das fragrâncias com base em determinadas essências. O cedro, por exemplo, remete ao cheiro de “lápis apontado na escola”; a baunilha, aos “bolos da casa da avó”; cheiros ozônicos, com frescor do ar e da água, podem remeter à “brisa do mar”, lembrando férias, dias de verão. Enfim, todas essas lembranças sempre vêm com um significado muito grande.
“O brasileiro valoriza o frescor e a sensualidade que um perfume proporciona”
Perfumista César Veiga: “perfume é a forma invisível de transmitir nossas emoções e intenções”
Foto Divulgação
No entanto, como saber qual o perfume combina mais para cada pessoa e ocasião? Não existe receita pronta, esclarece Veiga. Em geral, os perfumes seguem os traços da personalidade de quem o usa. “É certo que as fragrâncias envolvem uma história e podem representar o estilo de vida de cada um”.
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Casas Reais
FEITA DE POEMA The Book visitou o apartamento da empresária e artista plástica Claúdia Ducatti e descobriu que o lugar é um campo aberto para ideias, delicadezas e memórias
por Adevania Silveira
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Objetos ganham novas funções pelas mãos da proprietária
Fincado em uma tranquila travessa do Setor Marista, o apartamento da empresária e artista plástica paulista Cláudia Ducatti, 49, é um poema dedicado à vida, à família e aos amigos. Cada objeto ocupa um lugar na memória da moradora, que divide o espaço de 220 metros quadrados com o marido, Ricardo Pina, 50, os dois filhos, Henrique, 23, e Fernando, 21, e o dachshund Biriba. Obras de arte, vasos, bibelôs, delicadas porcelanas de família, cachepôs com plantas, lembranças de viagens, artesanato e muitos, mas muitos objetos, que ganharam nova função pelas mãos criativas da proprietária, convivem harmoniosamente em todos os cantos da moradia. Cláudia é dona de duas grandes lojas de decoração em Goiânia, Casa Mix e Bossa, e a sua casa acabou se transformando em um agradável laboratório de ideias e de expressão.
Ao cruzar a porta de entrada, o amplo living de cores neutras dá as boas-vindas. O ambiente é dividido por duas estantes de ferro e madeira que abrigam a coleção de cachorrinhos de cerâmica, revistas de decoração e livros. De um lado está o grande sofá, uma chaise Augusta Doimo e poltronas e, do lado oposto, a mesa para 14 lugares. Na parede acima do sofá, uma grade de proteção de ferro antiga ganhou status de obra de arte. Ao lado da chaise de couro preto, a luminária de chão abandonada pelos ex-donos do galpão onde passou a funcionar a primeira loja da empresária, tem seu lugar de honra. “Também nos deparamos com muitos móveis que foram deixados lá e, durante muito tempo, fabriquei bancos e mesas utilizando a madeira deles”, diz Cláudia, que tem verdadeira compulsão por restauração e reciclagem, dando aos objetos novas formas, significados e funções. Para aumentar o espaço e garantir a entrada de mais luz, Cláudia mandou unificar os pisos da sala e da varanda com o granito Exótico Verde Pantanal e, ao invés de fazer o fechamento da sacada com vidro temperado como normalmente ocorre, instalou persianas rolôs com proteção solar que não bloqueiam a vista da cidade. Em dias de chuva forte, Cláudia
Fotos Edgard Soares
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Quando não está sendo usada, a sala de jantar também funciona como local de trabalho para a dona da casa
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A junção de duas mesas iguais oferecem 14 lugares e facilita na hora de afastá-las para fechar a porta-camarão nos dias de chuva forte
Casas Reais
Abaixo, detalhe da luminária de chão que Claudia encontrou abandonada em um galpão; na foto maior, a porta-camarão que separa sacada e living
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desloca a mesa para o centro do living e fecha a porta-camarão de vidro. Já nas noites quentes, é ali que o casal costuma se reunir quando tem convidados em casa. “Sempre nos sentamos aqui para jantar, conversar ou tomar vinho”, diz Cláudia. O apartamento ainda possui sala de jantar e home teather, antes de chegar ao pequeno hall que se abre para os três dormitórios. Mas, como tudo na casa está sempre em mutação, nem sempre a sala de jantar é usada para... jantar. Embora disponha de mesa de trabalho em outro canto da casa, Cláudia prefere se sentar ali para pesquisar, estudar, desenhar e navegar na internet. O home teather segue o mesmo modelo: o que menos se faz ali é ver TV, pois é lá que o marido ouve música na antiga, mas conservada, aparelhagem de som com amplificadores.
Acima, o amplo e confortável living: na parede, grade de proteção ganha status de obra de arte; ao lado, Cláudia e o dachshund Biriba
Liberdade de expressão nas paredes e teto do quarto do filho Henrique; ao lado, na outra página, poltrona, almofada com imagem de Jesus Cristo e abajur retrô, na suíte da empresária
DESDE QUE SE CASOU, HÁ 25 ANOS, CLÁUDIA MOROU EM 11 ENDEREÇOS DIFERENTES. SE ALGUÉM SE INTERESSA PELO IMÓVEL, A EMPRESÁRIA VENDE 52 53
Relíquias têm lugar de destaque na casa: o telefone Cláudia recebeu como parte do acerto de uma empresa na qual trabalhou
53 PB Apesar de trabalhar com decoração e adorar o seu apartamento com jeitão de casa, Cláudia jamais se apega ao lugar em que vive. Prova disso é que, nos 25 anos de casada, morou em 11 imóveis diferentes. Se colocar na ponta do lápis, a família não permaneceu mais de 2 anos e 3 meses na mesma casa. Mas isso tem uma explicação: Cláudia sempre recebe propostas irrecusáveis para vender a casa em que mora e nunca diz não. Simples assim! Vende o imóvel, a maior parte do mobiliário, os tapetes, as obras de arte e até eletrodomésticos. “Não é todo mundo que sabe decorar e muitas vezes querem comprar um imóvel, mas não querem perder tempo com reformas”, justifica. “Da venda só escapam mesmo os objetos e as obras de valor afetivo”, completa a moradora. Portanto, é possível que, ao ler esta reportagem, outros moradores poderão estar habitando a casa feita de poemas escritos por Cláudia Ducatti.
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O trabalho autoral de Paco PeregrĂn encanta por recriar fantasias e propor uma estĂŠtica de mistĂŠrio e surrealismo
Entrevista
O FOTÓGRAFO DAS
SENSAÇÕES por Adevania Silveira
Se você é leitor da Vogue, Harper’s Bazaar, Vanity Fair ou Elle, é muito provável que já tenha sido impactado pelas imagens de Paco Peregrín, o fotógrafo de moda cuja ascensão nem de longe foi abalada pela atual crise que assola a Europa, especialmente na Espanha, seu país natal. Reverenciado pelo trabalho autoral, Paco espalha seu talento pela Europa, América e Ásia em editoriais de moda, anúncios e exposições. Sua alentada carteira de clientes − entre eles Chanel, L’Oréal Paris, Adidas, Nike, Mazda, Toyota e EMI Music, só para citar alguns − é reflexo de um estilo inconfundível que foge do óbvio. Fora do circuito comercial, Paco é visto em galerias de diferentes países, onde expõe fotos artísticas que podem ser adquiridas por valores que variam entre 900 e 25 mil Euros. Paco não só faz fotos, como as explica. A seção News do seu site www.pacoperegrin.com traz uma vasta agenda de workshops e conferências que realiza anualmente, especialmente em escolas de fotografia. A habilidade artística de Paco é reconhecida por prestigiadas instituições, como o International Center of Photography (NYC), o Central Saint Martins College of Art and Design (Londres) e o Centro Andaluz de Arte Contemporânea (Sevilha). Em 2008, recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia Profissional LUX em Moda e Beleza.
Suas fotos, geralmente com modelos de peles alvíssimas, recriam fantasias, passeiam entre o real e o irreal, exploram o mistério e navegam pelo surrealismo. Há quem o compare a outro mestre da fotografia de moda, o controverso francês Guy Bourdin, discípulo de Man Ray, que trabalhou para a Vogue durante três décadas, entre 1955 e 1987. Assim como Bourdin, Paco persegue a perfeição técnica e a beleza que transcendem os padrões tradicionais. As experiências acumuladas em campos como o design, a comunicação, o teatro e a pintura possibilitam a Peregrín o controle de todo o processo da foto, do clique ao tratamento final. Assim, Paco garante que suas fotos têm muito menos retoques do que pode parecer. Trabalhar quase sempre com a mesma equipe de assistentes é também um dos artifícios do fotógrafo para garantir a excelência das imagens. Paco nasceu em Almería, às margens do Mediterrâneo, mas estabeleceu sua base de vida e trabalho em Madri. Simpático e solícito, atendeu prontamente ao pedido da The Book para a entrevista, não sem antes pedir para conhecer o projeto da revista. Depois da troca de meia dúzia de e-mails, Paco respondeu a todas as perguntas e ainda se ofereceu para produzir um editorial de moda para a revista. Bem, nem precisamos dizer que este passou a ser o nosso sonho de consumo para as próximas edições. A seguir, a entrevista na qual revela mais detalhes sobre a carreira e como produz suas espetaculares imagens.
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Capas das principais revistas internacionais que adoram trabalhar com o fot贸grafo espanhol
O que gosta mais de fazer: editorial de moda ou publicidade?
O que deve prevalecer em seu trabalho acima de tudo?
Gosto das duas coisas, já que a publicidade que costumo fazer está relacionada em geral com moda e beleza. Na publicidade, os orçamentos são muito altos, o que nos possibilita fazer coisas muito interessantes. Mas, claro, é no campo editorial que os fotógrafos têm mais liberdade criativa dentro da fotografia comercial.
Pretendo sempre fazer um trabalho profissional, correto, que satisfaça minhas exigências e gostos pessoais, mas que vá mais além, que tenha um toque de ousadia, de mistério, que seja um trabalho belo, mas ao mesmo tempo interessante e que transmita sensações. O que nunca pode faltar em um trabalho?
Fotografia de moda é arte? O envolvimento em cada projeto que realizo.
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Quais os passos você segue na hora de planejar um novo trabalho? O que predomina: os critérios comerciais ou os artísticos? Para mim, os artísticos são fundamentais, ainda que por respeito ao cliente tenha de considerar certas características objetivas da marca, o cliente em potencial etc. Antes de cada sessão de fotos, há um grande trabalho prévio. É preciso pensar o conceito, desenvolver a proposta, a estética, a forma de executar, buscar a melhor equipe para realizá-lo e coordenar o grande número de pessoas que participa. A crise econômica que afeta a Europa mudou sua forma de trabalhar? Em que aspecto? Os orçamentos são menores e está-se fazendo menos projetos arriscados, por isso estou projetando meu trabalho em nível internacional para poder ampliar a clientela e a rede de profissionais. Por outro lado, a carência de meios faz com que tenhamos de quebrar a cabeça para realizar as sessões de fotos com um orçamento menor que o desejável. Também buscamos mais parceiros e patrocinadores que facilitem a produção.
Até que ponto você tem liberdade criativa em um trabalho? Geralmente tenho muita liberdade criativa. Enfrento somente as limitações próprias dos formatos e do meio, e de não cair no vulgar. Mas tenho a sorte de que os clientes que me chamam o fazem porque gostam do meu estilo e querem que interprete suas marcas e, com isso, me dão muita liberdade. Quais são as suas principais referências? A arte, a pintura, a música, o dia a dia. Qualquer momento, pessoa, coisa ou emoção pode inspirar uma obra fotográfica.
“na minha fotografia procuro criar imagens que transcendam o belo” Paco Peregrín, fotógrafo espanhol reverenciado pelo trabalho autoral
Foto Divulgação
Creio que a fotografia de moda deixou de ter somente um caráter documental e promocional para ter um caráter artístico onde prevalecem a expressão e a personalidade do fotógrafo.
Como equilibrar sucesso comercial e reconhecimento artístico? Sempre dei prioridade à criatividade. O sucesso comercial chega ou não, dependendo de muitos fatores, às vezes alheios ao fotógrafo. A moda também influencia, assim como o estilo e confiabilidade em meu trabalho. A verdade é que, para se ter sucesso, creio que o fundamental é ter personalidade e fazer o que se gosta, envolver-se muito com o trabalho e esforçar-se em cada projeto. Qual é o seu conceito de beleza? O que é para você o bonito e o feio? Os conceitos do que é bonito e feio são muito subjetivos. Na minha fotografia procuro criar imagens que transcendam o belo. Procuro mostrar minha visão pessoal, mais do que algo simplesmente bonito.
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Suas fotos comunicam uma beleza peculiar que vai mais além dos estereótipos clássicos. É um estilo ou uma crítica? Ambas as coisas. Pessoalmente sempre me identifiquei com as minorias. Creio que seu ponto de vista é mais interessante, enquanto a beleza é sempre a mesma. Prefiro uma beleza original, com raridades. Gosto de destacar o que nos diferencia dos demais e o que nos faz único. Nos meus castings, fujo das belezas mais comerciais para centrar-me nas mais especiais. Do que gosta mais, arte ou moda?
“A MELHOR ESCOLA É A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA” moda. Minhas maiores referências não são fotográficas, mas provêm do mundo da arte. Tenho interesse por vanguardas como o futurismo, a arte contemporânea, o Art Déco, o modernismo, a pintura flamenca, o barroco, a dança, a escultura. Em que momento da sua carreira percebeu que o seu trabalho estava sendo reconhecido em todo o mundo? É muito difícil determinar um momento concreto porque minha carreira foi sendo construída sem pressa, mas sem pausa. Fui subindo degrau por degrau e cada pequena conquista supunha um reconhecimento importante para mim. A primeira publicação em uma revista, a primeira capa, a primeira publicação internacional e a primeira campanha de publicidade foram momentos decisivos e importantes na minha carreira. Como está sua agenda para 2013? Tem novas exposições marcadas? Tenho várias exposições previstas em Madri e Paris, e tenho outros projetos muito interessantes para serem concretizados. Ficaria encantado de ter a possibilidade de mostrar meu trabalho em muitos lugares. No momento, tenho viagens a trabalho marcadas para o México e Londres.
Gosto igualmente de ambas. O que não gosto é do mercado de arte porque está bastante contaminado e obedece a fatores aleatórios e alheios ao talento.
Podemos crer que os fotógrafos de moda são bem pagos?
Qual foi sua maior escola de fotografia? Em sua ampla formação, quais artistas e movimentos foram decisivos para a formação do estilo que te caracteriza?
Me sinto afortunado por poder viver do meu trabalho, que é minha paixão, mas é certo que o mundo editorial está passando por um momento complicado e os orçamentos são muito baixos. É na publicidade que os fotógrafos são mais bem pagos.
A melhor escola é a própria experiência. Ainda que tenha estudado muito, me considero, em parte, autodidata, já que na minha época não havia escolas nem cursos especializados em fotografia de
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Moda
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Amplas, sequinhas, curtas, lisas ou estampadas, as calças são democráticas e podem ser usadas em produções de diferentes estilos e combinações. Caem bem para modernas, urbanas, clássicas, românticas, ousadas e elegantes
Fotografia | Rafael Manson Edição de Moda | Plie Design Modelo | Larissa Motta (Mega Model) Beleza | Evando Filho
Camisa, blazer e scarpins Pactus; calça Ivana Menezes; colar Plie Design
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Camisa, blazer e scarpins Pactus; calรงa Ivana Menezes
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Blusa e calça Café Coreto; scarpins Pactus; braceletes acervo
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Legging CafĂŠ Coreto; camisa Ivana Menezes; blazer acervo; scarpins Pactus
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Blazer e camisa Ivana Menezes; calรงa Pactus; scarpins Pactus; colar Plie Design
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Camisa e calรงa Ivana Menezes; colar Plie Design; scarpins Pactus; braceletes acervo
Design
O CANTEIRO MÁGICO de NORA ROCHEL Inspirada em formas da botânica e seres subaquáticos, a premiada designer alemã produz peças únicas e originais, que são vendidas exclusivamente em galerias de arte
por Cejana Di Guimarães, de Zurique, Suíça
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Jardins secretos em forma de anéis, braceletes, colares, revelando ou escondendo formas, muitas flores − rosas, margaridas − grandes, mínimas, entrelaçadas, pétalas, corola, pistilo, cálice, entre a delicadeza e o espanto. Pesados anéis de prata com leves estigmas de ouro, minúsculas pedras preciosas ou cavidades trabalhadas em porcelana, pequenos buquês, formas ocultas. O trabalho da designer alemã Nora Rochel surpreende e emociona.
Norma Rochel nasceu em 1979, na Alemanha, filha de um casal binacional − mãe coreana, pai alemão. Estudou Design de Joias na Alemanha e na Coreia do Sul e acostumou-se desde cedo a ganhar prêmios. Antes mesmo de terminar os estudos, recebeu o prêmio New Tradicional Jewelry, em Amsterdam, em 2007, e o primeiro lugar da International Craft Biennale em Cheongju, na Coreia. “Foi uma grande surpresa ganhar o primeiro lugar. Tiveram de ligar várias vezes pro meu tio na Coreia, pra minha mãe e para mim; ninguém queria acreditar”.
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“ME INSPIRO NA NATUREZA, ATRAVÉS DA OBSERVAÇÃO DOS DETALHES”
Delicadas flores compõem o anel de prata e pedras preciosas; na outra página, formas que lembram recifes marítimos, corais e seres subaquáticos
Nora costuma modelar em cera cada joia, pessoalmente, antes de mandar fundir
Com exposições individuais em vários países − Itália, Holanda, Tailândia, Coreia, Bélgica e Suíça − Nora prefere vender seu trabalho somente através de galerias, pois cada peça é um exemplar único e original. “Para as peças maiores, como colares e braceletes, posso precisar até de uma semana inteira de trabalho.” Ela costuma modelar em cera cada joia, pessoalmente, antes de mandar fundir. Depois trabalha os metais, clareando ou escurecendo a prata, dando-lhe uma pátina especial, usando ácidos e oxidantes. Hoje, afirma a designer, o trabalho com as joias tornou-se tão volumoso que não tem mais tempo para desenhar, pintar ou criar vasos de porcelana, atividade que iniciou também em 2006.
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As peças assinadas por Nora Rochel são vendidas exclusivamente em galerias de arte; na outra página, colar e anel inspirados em formas da botânica
Considera seu estilo pairando entre o tradicional e o moderno, pois suas peças são feitas sempre para serem usadas, e utiliza materiais clássicos como ouro, prata, cobre e pedras preciosas, além de alguns detalhes em porcelana. Ao contrário, outros designers contemporâneos, seus colegas, empregam materiais inusitados como plástico, tecido, sucata, vidro e até papel de balinha. Os anéis e colares de Rochel são para serem usados no dia a dia, não apenas admirados como uma obra de arte, um objeto de exposição. A característica mais marcante do seu trabalho é a presença de formas orgânicas, inspiradas não só na botânica, mas também em formas que lembram recifes marítimos, corais, seres subaquáticos. “Eu me inspiro na natureza, através da observação dos detalhes, mas minhas criações são fantasias”. É um mundo mágico que celebra sua paixão pelas plantas, herdada da família e guardada através das lembranças de infância. “Minha mãe gostava muito de plantar e tinha um imenso jardim. Quando éramos crianças, passávamos o dia brincando no meio da vegetação. Meu pai também se engajava em campanhas de proteção da natureza”. Seu trabalho é emocional, e não intelectual. Ao conhecermos Norma Rochel, percebemos o olhar da criança curiosa, deitada no chão, enxergando o mundo através dos olhos de uma formiga, criando canteiros mágicos, divagando, colecionando pedrinhas, conchas, flores, tecendo descobertas. É um universo mágico, com uma textura de sonho que, de alguma forma, todos nós temos.
“QUANDO ÉRAMOS CRIANÇAS PASSÁVAMOS O DIA BRINCANDO NO MEIO DA VEGETAÇÃO” A premiada designer alemã, Nora Rochel
Fotos Divulgação
A designer utiliza materiais clássicos, como ouro, prata, cobre, pedras preciosas e porcelana
Saúde & Beleza
Fotos Rimene Amaral
ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR Para dar um upgrade na dieta, nutricionista se hospeda na casa do cliente por cinco dias, refaz cardápio diário e ainda ensina a preparar pratos saudáveis por Rimene Amaral
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Jennifer Aniston, Sara Jessica Parker, Beyoncé, Giovanna Antonelli, Adriana Esteves, Juliana Paes e Luiza Brunet são algumas das celebridades que já recorreram à detoxificação – mais conhecida como detox – para enxugar a silhueta e dar novo fôlego ao corpo. Com tanta gente famosa falando maravilhas sobre seus efeitos, o programa de saúde não só se tornou o mais queridinho dos últimos tempos como ganhou inúmeras versões nas mãos de especialistas. Tudo para adequar a mais nova técnica da nutrição funcional ao modo de vida de seus adeptos.
rãozinho à força de vontade dos clientes e estimulá-los a preparar pratos saudáveis à base de ingredientes orgânicos que, há pouco mais de um ano, a nutricionista goiana Carol Morais decidiu radicalizar. Fechou o consultório, trocou o jaleco pelo avental e criou o programa Detox Delivery Gourmet. Para estar mais bem preparada, somou ao currículo de personal diet e especialista em fitoterapia e nutrição esportiva funcional o curso de culinária com o chef mais famoso da Inglaterra, Jamie Olivier.
O objetivo principal da dieta é ajudar o organismo a eliminar toxinas e outras substâncias prejudiciais. Para isso, é preciso tirar de cena alimentos industrializados, corantes, conservantes, refrigerantes (inclusive as versões diet e light), álcool, açúcar, adoçantes, laticínios, frituras e carne vermelha, e eleger um cardápio composto de frutas, vegetais, sucos, água de coco, chás, sementes como linhaça e oleaginosas como as nozes. Tudo o mais natural possível, de preferência, orgânico. Parece muito simples, mas é preciso muita determinação para levar a cabo uma sessão detox, especialmente nos cinco primeiros dias. Foi pensando exatamente em dar um empur-
Durante cinco dias Carol se hospeda na casa do cliente, arregaça as mangas e começa a por em prática um plano de mudança de hábitos alimentares, de acordo com o perfil e estilo de vida da pessoa. Refaz todo o cardápio diário, desde o café da manhã, passando pelos lanches que intercalam as refeições e o jantar. “Os pratos são muito saborosos e normalmente a pessoa se surpreende ao comer algo que antes pensava não gostar”, diz empolgada. O programa completo dura de 21 dias a seis meses, mas, no período de estadia, anota todas as orientações e ainda deixa o cliente livre para sanar dúvidas por e-mail ou telefone. Atualmente, além de Goiânia, Carol atende clientes em São Paulo, Brasília, Recife, Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Programa funciona como um upgrade na dieta
Detox: nova técnica da nutrição funcional que ajuda o organismo a eliminar toxinas e outras substâncias prejudiciais
SUCO VERDE
•1 colher de sopa de chia hidratada; •1 rodelinha de gengibre fresco; •1folha de couve orgânica sem o talo; •suco de 1/2 limão; •150 ml de água de coco natural; •1 banana.
MODO DE PREPARO Bata todos os ingredientes no liquidificador e tome sem coar. Pode-se acrescentar outros sabores e propriedades, como hortelã, por exemplo, e variar as frutas conforme a sazonalidade e suas preferências.
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TORTA DA KINHA
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A nutricionista Carol Morais, que criou o programa Detox Delivery Gourmet, em ação na cozinha
O detox tem como objetivo fazer com que as toxinas acumuladas, principalmente no fígado e intestinos, tornem-se hidrossolúveis para que sejam eliminadas por meio da urina, bílis, do suor e das lágrimas. Segundo Carol Morais, não são só os alimentos industrializados que ingerimos que podem causar prejuízos à saúde. Produtos que temos contato diariamente, como cremes para a pele, perfumes, desodorantes, além da própria poluição, também resultam em mais toxinas acumuladas no organismo. Em curto prazo, o detox apresenta benefícios, como emagrecimento, redução e até eliminação das dores de cabeça e enxaquecas causadas por hipersensibilidade e excesso de toxinas, mais energia e bem-estar ao acordar e, no final da tarde, sono tranquilo e de qualidade, redução de celulite e acne, melhora na alimentação com a introdução de novos alimentos e receitas saborosas e saudáveis, além, é claro, de ter uma melhora significativa nas funções orgânicas, já nos primeiros dias. “Entregando-se ao programa, não há quem não sinta os benefícios logo nos primeiros dias”, atesta Carol.
Para uma porção pequena
•½ banana fatiada finamente; •½ maçã ralada; •1colher de sobremesa de uva-passa; •cacau em pó e canela a gosto; •farofa de castanhas variadas; •mel.
MODO DE FAZER Em um ramequim (refratário de louça), coloque as fatias de banana polvilhadas com cacau. Misture a maçã ralada com uva-passa e canela e coloque por cima. Leve ao forno médio até cozinhar e dourar. Retire e adicione a farofa de castanhas com um fio de mel e leve ao forno para tostar. Pode ser servida quente ou gelada.
Quase Chef
Fotos Rimene Amaral
fominha fora de hora
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A fome que bate no meio da madrugada não tem quem a segure. Mas tem quem a encare como um ótimo momento de preparar pratos ligeiros e deliciosos. The Book convidou quatro sujeitos metidos a chef para inaugurar nossa seção de gastronomia e ensinar a preparar receitas para fazer uma boquinha antes de entregar-se ao sono dos justos. O designer de produto Gregory Kravchenko, que ama cozinhar para os amigos, escolheu um prato francês sofisticado, mas muito simples de fazer. O artista plástico Rodrigo Flávio, inspirado no sanduíche de filé, criou a
versão de fígado com rúcula. Já o especialista em Marketing Sérgio Paiva, que já foi dono de restaurante, preparou uma omelete para lá de especial. Por fim, o banquete proporcionado pelo arquiteto Ricardo Braudes que, sem se importar com os ponteiros do relógio, ensinou a receita de uma suculenta polenta, capaz de matar a fome da madrugada e a do café da manhã também.
Oeufs em Cocotte (Ovos em Cocotte) Por Gregory Kravchenko (Para uma porção)
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5 tomates-cereja cortados em quatro partes; 8 folhas de manjericão fresco; 2 bolas pequenas de muçarela de búfala; 2 claras de ovo; 2 colheres (sopa) de creme de leite fresco; Sal, pimenta do reino e noz-moscada a gosto.
MODO DE PREPARO Em um recipiente refratário pequeno, coloque os tomates picados, o manjericão, a muçarela picada, cubra com as claras, coloque o creme de leite por cima e, para encerrar, sal, pimenta e noz-moscada a gosto. Leve ao forno de microondas por três minutos em potência média. Sirva com torradas ou pão fresco e uma taça de vinho.
Sanduíche de fígado com rúcula Por Rodrigo Flávio (Para 1 sanduíche)
• 1 pão francês; • 100g de fígado bovino picadinho; • 2 colheres de azeite; • Suco de meia laranja; • ½ cebola roxa; • 1 limão; • 10 folhas de rúcula; • Sal e pimenta a gosto. MODO DE PREPARO Corte a cebola em rodelas e deixe-as no suco de limão. Reserve. Refogue o fígado picadinho, em tiras finas, em azeite, temperado com sal e pimenta do reino a gosto, por dois minutos. Acrescente o caldo de meia laranja e deixe refogar por mais um minuto. Abra um pão francês, retire o miolo e recheie com o fígado, as rodelas de cebola marinadas no limão e as folhas de rúcula.
Polenta com calabresa e hortelã Por Ricardo Braudes (Para você e mais quatro amigos)
Molho • 2 colheres de azeite • 250g de linguiça fina e defumada fatiada • 2 dentes de alho em lâminas finas • 1/2 cebola picada em cubinhos • 6 tomates grandes maduros sem pele e sem sementes cortados em cubos grandes • 1 lata de molho de tomate pronto • 3 pimentas de cheiro verdes sem sementes fatiadas
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Polenta • 250 g de preparo instantâneo para polenta • 1 litro de água fervente • 2 colheres de azeite • Sal a gosto • 250g de muçarela de búfala picada em cubos grandes • 1/2 maço de hortelã PREPARO Molho: Em uma panela antiaderente, fritar sem óleo ou com pouco azeite a linguiça fatiada e o alho. Junte a cebola e refogue até murchar. Na mesma panela adicione os tomates e refogue até que comecem a derreter. Acrescente o molho de tomate. Reserve. Polenta: Em uma panela ferva um litro d’água com duas colheres de azeite e duas pitadas de sal. Adicione lentamente o pó da polenta mexendo sempre para não formar caroços. Cozinhe por cerca de três minutos. MONTAGEM No fundo de uma travessa coloque a muçarela e as folhas de hortelã e cubra com a polenta ainda quente para derreter o queijo. Cubra com o molho e a pimenta de cheiro. A hortelã pode ser substituída por folhas frescas de manjericão, alecrim ou escarola.
Omelete do Sérgio Por Sérgio Paiva (Para uma omelete)
• 2 ovos; • 100g de queijo minas (temperado é melhor); • 1 tomate picado em tiras e sem semente; • 1 colher (chá) de manjerona seca; • 1 colher (sopa) de queijo parmesão ralado; • 2 colheres (sopa) de azeite; • 2 colheres (sopa) cream cheese; • Salsa picada; • Sal a gosto. PREPARO Bata os ovos com o sal, a manjerona e o queijo provolone ralado. Acrescente o queijo minas e o tomate picado. Aqueça uma frigideira antiaderente com o azeite. Despeje a mistura e vire assim que estiver firme. Acrescente as duas colheres de cream cheese, feche a omelete e sirva com salsa picada por cima.
Consumo
O TOPETUDO QUE REINVENTOU O hambúrguer O chef Júnior Durski gastou três anos para conceber a sua versão do sanduíche mais consumido nos Estados Unidos e hoje se gaba de fazer o melhor hambúrguer do mundo
Por Rimene Amaral
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Para os norte-americanos, reinventar o hambúrguer é equivalente à heresia de alguém se atrever a mudar a brasileiríssima feijoada. Mas, um brasileiro não só se meteu na empreitada de produzir a versão gourmet do sanduíche mais consumido nos Estados Unidos, como propaga aos quatro ventos de vender o melhor hambúrguer do mundo. O nome do topetudo é Júnior Durski, um paranaense de Prudentópolis que muito cedo abandonou a carreira de Direito para se tornar madeireiro em Rondônia e que, mais tarde, se desobrigou da profissão de madeireiro para se tornar chef de cozinha e dono da rede de restaurantes Madero. A cruzada de Durski para dar o upgrade no sanduba feito à base de queijo, carne e molho especial demorou três anos e começou, é claro, pelos Estados Unidos, onde visitou mais 70 restaurantes. De volta ao Brasil, botou a mão na massa até chegar à fórmula que hoje é sucesso inclusive entre os mais exigentes comensais. “Concluí que o melhor pão seria feito com a massa de pão francês, assado em forno com chão de pedra para deixá-lo mais crocante”, conta. Para o hambúrguer, combinou fraldinha, contrafilé e gordura, na proporção de 87% e 13%, respectivamente. Para dar mais sabor, a carne é grelhada, e não feita na chapa, como se faz os hambúrgueres convencionais. O queijo utilizado é o Joseph Heller’s, importado da Inglaterra. Já para o molho, elegeu a receita caseira feita pela avó, com gemas cruas e cozidas, batidas com garfo para manter o processo de aeração. O resultado? Bom, o resultado são as permanentes filas de clientes à espera de uma mesa nos 18 restaurantes Madero existentes no Brasil, dois deles em Goiânia.
Júnior Durski, em sua cozinha-laboratório em Curitiba (PR): “O futuro da gastronomia está na saudabilidade”
O nome do restaurante se refere aos tempos da profissão de madeireiro. Aos 20 anos, Júnior desistiu do Direito para trabalhar com o pai numa madeireira. Entrou para a política e se elegeu vereador. Mas segundo o próprio, a política deu a ele duas alegrias: uma quando se elegeu e outra quando renunciou, dois anos mais tarde. Nessa época, o ciclo da madeira já havia se encerrado. Foi quando o governo João Figueiredo começou a incentivar uma nova marcha para a Amazônia. “Enchi-me de coragem e fui sozinho”, lembra Durski. “Pri-
meiro fui para o Mato Grosso e, depois, para Rondônia, em 1984, na cidade de Ouro Preto do Oeste. O incentivo era tanto que fiquei por lá durante 15 anos”. Filho de pai polonês e mãe ucraniana, Durski desde pequeno desfrutou da boa mesa e amava as delícias preparadas pela avó. Com ela aprendeu segredos culinários que, no tempo em que passou na Amazônia, salvaram sua pele. Obrigado a se virar com a comida, Durski foi para a cozinha, adquiriu habilidades e descobriu a paixão pelas caçarolas. “Fui o primeiro exportador de madeira de Rondônia. Eu tinha o mundo inteiro para exportar, mas escolhi a França e a Itália, porque havia comida boa”, lembra. O contato com a “comida boa” aguçou ainda mais a curiosidade do jovem madeireiro. “Aprendi estudando em livros, por conta própria, praticando, viajando e comendo coisas diferentes”. De volta ao sul, em 1999, abriu o Durski, em Curitiba, restaurante internacional que servia comida típica polonesa. Foi o primeiro dos 18 restaurantes hoje espalhados por Londrina, Balneário Camboriú, Curitiba e Goiânia. Além de monitorar religiosamente as unidades e gastar tempo na cozinha do restaurante Durski, que se tornou seu “laboratório”, Júnior dá aulas nos cursos de graduação e pós-graduação em Gastronomia, na Universidade Positivo, em Curitiba. Adepto da cozinha à moda antiga, o chef acredita que, quanto menos tecnologia estiver envolvida no produto, melhor ele será. “O futuro da gastronomia está em uma palavra: saudabilidade”, crê. A fórmula tem dado certo e foi o que fez
“SE TIVER DE REFAZER MIL VEZES, EU FAREI” o Madero se destacar. Talento, inteligência e sorte são apenas meros coadjuvantes para o chef. “Só acredito em muito trabalho. E trabalhar muito é não cansar de corrigir o que precisa ser corrigido para que se tenha excelência. Se tiver de refazer mil vezes, eu o farei”, ensina. Quanto ao futuro dos restaurantes, Durski é categórico: “O crescimento é inimigo da excelência. Por isso, não pretendo crescer tanto”, revela mais uma de suas receitas de sucesso.
Crônica
TUDO O QUE SE DIZ É VERDADE, SÓ QUE NÃO!
Quem tem filho pequeno decerto já passou por uma daquelas situações constrangedoras. Fascinado com as novidades do mundo e ignorando ainda as regras de civilidade que tornam possível a vida em sociedade, mas que ao mesmo tempo cerceiam nossa livre expressão, ele soltou algum comentário inconveniente. “Mamãe, olha como aquele homem anda engra-
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çado”. Ou “esse rapaz tem cabelo de mulher”. Ou “olha o tamanho da barriga daquela ali”. E lá vai você se desculpar, sorriso amarelo, pela boca grande do seu filho, que não tem papas, nem papá, mas caca na língua, que ignora o politicamente correto, não sabe que é preciso tratar com cuidado as minorias, mesmo que elas já sejam majoritárias em número e poder. Você explica que não se pode falar assim das características de pessoas, de seus defeitos ou predileções. Tenta ensinar-lhe discrição e algo ainda mais delicado, denominado compaixão. Mas o pior é que lá no compartimento secreto do seu derretido coração materno esconde-se um discretíssimo risinho de satisfação, pois para a mãe, toda ela, qualquer gugu dadá é pérola. No fundo você também considera que muitas das bobagens que seu filho fala nada mais são do que meras constatações, verdades genuínas, ditas com ingenuidade, estando os miúdos naquele estado primitivo da natureza, que se não é puro como o idealizado bom selvagem de Rousseau, é ainda destituído de malícia. Se ainda não aprenderam a ser bons, tampouco aprenderam a ser cruéis. E não há apenas as simples e óbvias constatações, mas aquelas frases que os pequenos dizem no processo de experimentação e construção da linguagem, e que nos parecem luminosas, verdadeiras revelações, como que sopradas por anjos ou fadas. De repente, sem mais nem menos, fazem certa afirmação ou pergunta que nos deixam intrigados, desconcertados ou perplexos.
Não me esqueço da ocasião em que meu filho, então com dois anos, acordou-me dizendo: mamãe, você é muito feliz. O fato é que tentara fazer, não uma afirmação, mas uma pergunta, como eu sempre costumava indagar a ele: você está feliz? No entanto, por não diferenciar os verbos ser e estar, e por não conseguir dar à voz a correta inflexão de uma pergunta, acabou afirmando algo que, sim, me levou a pensar na vida, a desmanchar em lágrimas as nuvenzinhas negras concentradas sobre a fronte. A felicidade não deveria ser, pois, um estado transitório de ânimo que dependesse de circunstâncias, mas sensação permanente que não se condicionasse a conjunturas – parecia revelar ele, como um pequeno sábio budista. Outra vez, depois que eu, em meloso arroubo materno, o abracei e declarei que era muito feliz por ser sua mãe, ele fixou meus olhos algum tempo, pensativo, e se esforçando por escolher a melhor forma de retribuir o elogio, disse: “você tem uma testinha tão bonita”. Percebi já ali, com graça mas também melancolia, que à medida que se socializam e adquirem maior domínio da linguagem, as crianças vão perdendo muito de sua originalidade e espontaneidade, aprendendo que as palavras devem ser ditas, não para expressar a verdade, mas para agradar e servir às convenções. Há poucos dias, olhando uma pessoa na rua, meu filho, hoje com quatro anos, mais uma vez me deixou intrigada ao afirmar: “eu acho todas as pessoas bonitas, só que algumas não são.” Ou seja, ainda que não as considere bonitas, já aprendeu que deve dizer que são. Ou estaria ele nos avisando que as pessoas por fora são belas, mas no fundo balela; ou mesmo que tudo o que dizem é verdade, só que não? * Cássia Fernandes é mãe do Fernando, quatro, e nas horas vagas é jornalista e escritora
Rodolfo Brasil
Por Cássia Fernandes
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