The Book #6

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GOIÂNIA•BRASIL- 2015 ANO III •N° 6 14R$

THE BOOK NA ITÁLIA

Visitamos a famosa vinícola de Josko Gravner, em Oslavia

ESPECIAL MODA

Mercado ganha incentivos e se fortalece

CONTO DE FADAS O exclusivo roteiro da Eslovênia e Croácia

SIRON FRANCO O artista na idade do ouro


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Editorial

CAPA

GOIÂNIA•BRASIL- 2015 ANO III •N° 6 15R$

Siron Franco, artista plástico, e a logomarca especial concebida por ele Fotografia | Edgard Soares Dezembro 2015 | Janeiro 2016

THE BOOK NA ITÁLIA

Visitamos a famosa vinícola de Josko Gravner, em Oslavia

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ESPECIAL MODA

Mercado ganha incentivos e se fortalece

CONTO DE FADAS O exclusivo roteiro da Eslovênia e Croácia

SIRON FRANCO O artista na idade do ouro

Felizes desventuras por Adevania Silveira, editora-geral Desde pequenos somos incentivados e ensinados a valorizar a vitória e a evitar, a todo custo, o amargo da derrota. Mesmo nas coisas mais banais, inconscientemente aplicamos o conceito do ganhar e perder e sofremos se o resultado não for favorável. Até quando o pão cai no chão com o lado da manteiga virado para baixo. É ótimo e prazeroso vencer; é doído à beça fracassar. As redes sociais estão aí para provar com seus selfies coloridos e saltitantes. Todo mundo é a cara da vitória. É uma pena porque ao supervalorizar o êxito, passamos batidos pelos infortúnios e, inadvertidamente, perdemos a chance de aprender com eles. As desventuras, por mais cortantes que sejam, produzem sabedoria, uma matéria que não está disponível nos livros. Nesse terreno de areia movediça, somos testados, desafiados e amadurecidos. E não adianta fingir de morto, todo mundo tem sua cota de dissabores. A vida caminha pela linha dos próprios mistérios, às vezes produzindo fluidez e em outras provocando sacolejos que nos tiram o

chão. E dessa verdade indelével, cara-pálida, ninguém escapa. Seja você ou eu, rico ou miserável, branco, rosa, amarelo, alto, magro, vesgo ou com nariz de Gisele Bündchen. Todos somos submetidos à insondável força da existência. Não adianta espernear. Um novo ano se avizinha e com ele a oportunidade de fazer diferente, de transformar cascalho em ouro, com a simples medida da aceitação e da reflexão. Te convido a exercitar a condescendência pelo que não deu certo, pela derrota que te tirou do prumo, pelo sonho que não despertou. Vizualize-os por outros ângulos. Deposite-os no altar das experiências que te ensinam. Suba na cadeira e olhe-os lá de cima, se preciso. Destranque o coração e aplique toda a sua gratidão e verá que nada foi por acaso. Então, abra seu vinho preferido e brinde a alegria que invadirá a sua alma. Felizes desventuras para você! P.S.: A presente edição está uma delícia! Entre e fique à vontade.


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6 7 Mônica Zanon

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Adevania Silveira | adevania@thebook.is Roberta Brum | roberta@thebook.is | Leandro Pires | comercial@thebook.is Adevania Silveira, Roberta Brum, Leandro Pires, Edgard Soares e Rimene Amaral Adevania Silveira, Cristina Xavier de Almeida, Leandro Pires, Mr. Book, Marília Fleury, Roberta Brum e Rimene Amaral Auriane Rissi, Bruno Bizerra, Guilherme Venditti, Roberta Brum e Roberta Klein Adrijan Pregelj, Cristina Cabral, Elton Rocha, ImageBuzz, Johny Cândido, Edgard Soares, Felipe Gabriel Silva, Mônica Zanon e Rimene Amaral Auriane Rissi, Cristina Xavier de Almeida, Edgard Soares, Guilherme Venditti, Leandro Pires, Marília Fleury, Roberta Klein, Roberta Brum e Rimene Amaral Wendel Reis Fátima Tolêdo | mftcomunicacao.toledo@gmail.com Adevania Silveira | 964JP-GO comercial@thebook.is Zebrabold Rua Prudente de Moraes, Qd. 43, Lt. 5, Parque Anhanguera, Goiânia, GO CEP 74 340-025 | 62 30 87- 7980 | 62 9972-1772 | adevania@thebook.is

“Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” | João 14:6 The Book é uma publicação da Celeiro Editora Eireli. The Book não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam no expediente não têm autorização para falar em nome da The Book ou retirar qualquer tipo de material


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Ponto Literário

Sonho com Rubem Braga por Bruno Bizerra

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Dizem que a crônica é uma forma de expressão literária tipicamente brasileira. Os temas em geral relacionados ao cotidiano mais ordinário, a pequeníssima extensão do texto, a publicação feita em jornais e revistas são algumas características que conferem ao gênero a nota do efêmero, do perecível. Ao longo do século XX, alguns dos mais amados escritores do País se tornaram também grandes cronistas. Buscaram se consagrar no romance, no conto, no poema. A crônica não passava muito de uma forma de ganhar a vida. A exceção foi Rubem Braga. Esse filho menos famoso de Cachoeiro do Itapemirim – Roberto Carlos também veio de lá – produziu uma obra extensa e variada nos temas, no tom, no estilo, exclusivamente na forma brevíssima da crônica. Muitos lamentam o fato, por considerarem que um escritor da qualidade dele deveria ter buscado gêneros mais apropriados à imortalização. Nas coisas de Rubem Braga, algo que me encanta é essa qualidade inefável da voz do sujeito que vê as coisas como se fosse o primeiro a testemunhá-las. O cronista fala como se viesse dar a boa-nova, mas a sua boa-nova não é do outro mundo, é deste; ela está na beleza, na relevância do prosaico, do regular, do usual. Um nadador no mar, visto de um terraço em Ipanema. Um cajueiro à beira do rio. Uma travessia numa embarcação qualquer. Tudo tem qualidade dramática, transcendente, e merece ser narrado. Não sei. No que me diz respeito, Rubem Braga bem poderia ter sido um dos autores do Velho Testamento. É isso. Há nele essa voz meio profética, rouca e grave, como a do narrador bíblico. Eu sinto falta dele, não por ser nostálgico ou saudosista. Careço até de idade para isso. Mas é que atualmente parece que têm falta-

do, aos cronistas e aos leitores, duas qualidades que sobejavam no cachoeirense: paciência e generosidade. A paciência infinita de contemplar, de esperar e observar, de nunca se exasperar, nem com a burrice, nem com a estupidez. A generosidade de ver o homem e a mulher sob a luz honesta que nada busca senão a verdade em cada um. Às vezes me divirto imaginando como seria se Rubem Braga estivesse ainda por aí. O que ele diria sobre o hedonismo apatetado das escravas dos blogs de moda, dos fanáticos da última onda fitness. Sobre o Fausto Silva, a Ana Maria Braga e o Galvão Bueno. Sobre o sertanejo universitário. Sobre a falta de educação no trânsito. Sobre a nova cruzada ultraconservadora. Sigo no devaneio, tentando encontrar outros assuntos com que testar a paciência e a generosidade dele. Política, economia, futebol, religião. É aí que sinto uma mão sobre o meu ombro e ouço a delicada advertência: “Por que te exasperas, rapaz? Melhor seria se corresses a ver o sol nascer a leste da cama em que se deita a mulher que amas, se cuidasses de ouvir os passarinhos que teimam em vir à tua janela, se atentasses mais para o que é belo e de fato tem importância.” Enquanto observo a figura do velho se dissipar na bruma, percebo que aprendi uma lição importante. É. Sobre equilíbrio, tolerância e tudo o mais. Acho, enfim, que vou me tornar um novo homem, menos suscetível, menos irritado. Sinto que a paz e a tranquilidade invadem o meu espírito e, enquanto me inebrio com as emanações desses novos sentimentos, percebo que a onda vai durar exatamente até a próxima vez em que algum cretino quiser me cortar pela direita. *Bruno Bizerra é advogado, professor e aficionado por livros e literatura


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Ponto de vista

Laços virtuais por Auriane Rissi

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Com quantas pessoas você teve contato hoje em tempo real, sem sair do lugar? O desenvolvimento de novas tecnologias mudou a maneira de como nos relacionamos. A comunicação resultou progressivamente no envolvimento de um número crescente de pessoas de todas as idades e localidades. A capacidade de encontrar amigos, colegas ou conhecidos que tínhamos simplesmente perdido de vista com a passagem dos anos e com a distância geográfica é facilitada pelo uso das redes sociais, aplicativos de smartphones e tablets. A possibilidade de fazer novos amigos por meio da web também cresceu vertiginosamente. Você já refletiu sobre o número de pessoas que reencontrou depois desse recurso? E o número de novos contatos que resultaram em amizades depois de fazer parte de um grupo virtual? Podemos conhecer uma pessoa na livraria, conversar rapidamente, perceber afinidades e, por alguma razão, o papo findar por aí; é nesse momento que o mundo dos bits e bytes oferece meios para iniciar uma nova amizade. Online, você pode ‘procurar’ aquela pessoa, adicioná-la e prosseguir o diálogo interrompido. A web não impede as pessoas de fazerem amigos. Ela realmente faz com que isso seja mais fácil: pode até ser com uma conotação diferente, é verdade, mas, como na vida real, muitas pessoas têm uma quantidade de amigos que suplanta a qualidade. É sabido que o preconceito com os relacionamentos virtuais é consequência da celeuma causada, provavelmente, nos primórdios da internet, com o “mito da destruição” (Castells, 2000/2003). O novo, o desconhecido e o desconhecimento sobre essa nova tecnologia – e sobre como os usuários de fato se relacionariam – ocasionaram muita confusão, atribuindo às relações

caráter passageiro, frágil e descartável, o que é passível de acontecer também com interações presenciais, por vezes igualmente passageiras. Mas a realidade vem comprovando o contrário. Tudo bem que, com os grupos sociais e as redes, o próprio conceito de amizade parece ter sido alterado. Enquanto que, para construir uma amizade presencial, é necessário que haja um desejo mútuo de conhecer o outro na partilha de momentos que vão reforçando a cumplicidade, nas redes e nos grupos, basta um clique e torna-se possível saber mais sobre e abreviar o acesso à intimidade. O que faz o vínculo é a convivência, e até nisso os recursos da web facilitam, pois há possibilidade de maior interação em tempo real e informações que levariam maior tempo para serem desvendadas estarão ali, à disposição. Nos próprios grupos, as pessoas se apresentam – algumas representam –, mas a agilidade no compartilhamento de informações sobre si é dinâmica; e a revisão da literatura sobre o assunto atesta que diferentes tipos de contato interpessoal a distância em tempo real têm ocorrido graças à tecnologia. Se há uma nova linguagem – comunicação por códigos, emoticons, novo vocabulário, o ‘internetês’ etc. –, isso é resultado da adaptação de uma geração que se destaca pela inventividade e pela criatividade, no sentido de facilitar a interação. A influência das redes sociais na construção de amizades é inegável, sim. Ao contrário do mito apocalíptico, os laços são duradouros, reais e transcendem na maioria das vezes a esfera virtual, firmando-se no mundo presencial. *Auriane Rissi é psicóloga, psicoterapeuta, psicodramatista, especialista em Psicologia Jurídica, escritora e pesquisadora. Site: www.eueapsicologia.com.br



Beauty

Você também vai querer por Roberta Brum

Garimpamos produtos incríveis para você, leitora, como o Better Than False Lashes Extreme, da Too Faced, o rímel que contém fibras de nylon branco que grudam nos cílios, aumentando-os pelo a pelo e criando o mesmo efeito dos postiços. Outra novidade é a revolucionária esponja em forma de gota que economiza maquiagem e ainda produz um ótimo resultado. Boas compras!

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O Better Than False Lashes Extreme, da Too Faced, não é fácil de encontrar nas lojas de departamento pelo mundo. Mas todo esforço será recompensado com esta máscara que, como o nome diz, é melhor do que cílios postiços. O kit vem com duas embalagens: na primeira, o rímel selante, e na segunda, fibras de nylon branco que grudam nos cílios, aumentando-os pelo a pelo. Um último toque da máscara garante um resultado inacreditável. Não achei no Brasil, mas custa US$ 35 no site internacional da Sephora.

Fotos: Divulgação

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Para os alucinados por esmaltes, nada mais exclusivo e original que as tonalidades do kit Outono/Inverno 2015 da Burberry. Ainda indisponível no Brasil, cada tom foi inspirado na bolsa camuflagem da coleção 2015, apresentada no último desfile de inverno da marca. O conjunto com três vem numa caixinha e tem preço de US$ 66.

Algo bem refrescante? Água de coco. Esta é a sensação do novo hidratante Paradise Calling da Mary Kay, um dos lançamentos mais comentados da marca nos últimos tempos e que está vendendo igual água! Por R$ 62, o hidratante em spray – portanto, superfácil de aplicar – deixa a pele hidratada, mas sem a sensação pegajosa.

A revolucionária esponja em forma de gota da BeautyBlender, além do bom resultado, economiza comésticos ao reter a água em seu interior, evitando que, como uma esponja normal, absorva a maquiagem, deixando-a somente na extremidade. Usada para aplicar primer, base, pó, bb cream e até blush. Disponível no site da marca e em lojas especializadas por US$ 20.

Como sei o quanto é difícil controlar as olheiras – e achar um bom corretivo –, não poderia deixar de dividir a experiência da Erase Paste, da Benefit. Em forma de creme e em três tonalidades, vem com uma miniespátula e corrige olhos cansados que é uma beleza. Por R$ 130, na Sephora.

Para quem sempre procurou um bom protetor-base para facilitar o ritual da beleza matinal, a dica é a nova versão do Episol Color FPS 70 (além do já existente FPS 30), lançado pela Mantecorp Skincare. Superindicado para peles não uniformes, está disponível em duas tonalidades – pele clara e pele morena. O grande diferencial do produto é a textura foundant, que facilita a aplicação e potencializa o resultado com um efeito mate e antibrilho. Fácil de encontrar em farmácias, por cerca de R$ 58.



Toilette

Nenhum de nós por Guilherme Venditti

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Fotos: Divulgação

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Perfume masculino. Perfume feminino. Perfume unissex. E se eu disser para você que nada disso existe? Que é tudo uma estratégia de marketing para elevar as vendas de fragrâncias? Pois é, querido leitor, eis a verdade. Desde que nascemos, somos bombardeados com conceitos de masculino e feminino em roupas, brinquedos, brincadeiras, tudo. Com os perfumes – e até cosméticos –, não é diferente. Tudo bem, concordo que algumas das essências tenham uma tendência mais para o lado feminino e outras para o masculino, mas acredito que isso seja devido a uma causa realmente cultural. No Brasil, por exemplo, costumamos ver a rosa e o jasmim como notas femininas. No Oriente Médio é o contrário. O mesmo acontece com a lavanda, que é muito usada pelas mulheres aqui e, ao mesmo tempo, cai como luva para os senhores ingleses. Hoje a perfumaria de nicho está cada vez maior. Como já disse anteriormente, esse tipo de mercado atende uma porção menor dos perfumados, que buscam fragrâncias ousadas e diferenciadas, criadas com mais liberdade artística, sem prender-se a pesquisas de opinião e marketing. Se notarmos como é feita a publicidade dessas linhas, veremos que em momento algum é traçada a divisão de gêneros. Uma fragrância, depois de colorida (rosa, azul etc.), envasada (frascos cada vez mais trabalhados), encaixotada (caixas coloridas e chamativas) e comercializada (propagandas com modelos estonteantes em vídeos e fotos incríveis), exerce uma influência inimaginável em nós consumidores. Todo esse processo é pensado para comunicar uma mensagem e é assim que ela chega até nós, carregada de (pré)conceitos. Deixe as fragrâncias “nuas”, faça como as crianças e recupere a ingenuidade em relação aos perfumes.

Faça um teste e peça para alguém borrifar fragrâncias diferentes em fitas de papel, cheire e tente dizer se são masculinas ou femininas, só por diversão. Mas insisto que os perfumes não têm sexo. Use aqueles que falem ao seu coração, que tragam bem-estar e que comuniquem quem você é. Essa é a mensagem que importa. Sendo assim, bons perfumes masculinos para mulheres: Spicebomb, de Viktor & Rolf – uma saída cítrica, com bergamota e um coração extremamente apimentado, como o nome sugere, com notas de pimenta rosa, pimenta preta e canela no corpo e uma base amadeirada, arredondada com toques de fava tonka, que deixam o perfume macio e sensualmente acolhedor. Déclaration, de Cartier, um dos best-sellers da marca, com uma explosão de notas hesperídicas e especiadas, como gengibre, cardamomo e cominho, que dá um toque quase “sujo” ao perfume, enchendo a mistura com sensualidade. Bons perfumes femininos para homens: Eau des Merveilles, da Hermés. Este é incrível. Uma mistura de laranja-amarga com notas amadeiradas e ambaradas, este perfume é a materialização líquida de passar um dia de inverno na praia. Outros: Shalimar, da Guerlain, com 30% de bergamota e o restante composto por algumas flores e resinas adocicadas e levemente atalcadas, é o primeiro perfume oriental do mundo. Lançado em 1925, numa época em que sua identidade olfativa era tão ousada que somente prostitutas se atreviam a usá-lo; e Tommy Girl, de Tommy Hilfiger, floral-frutado com notas de cassis, flor de macieira, toranja e notas provenientes de diversos Estados americanos, este perfume permanece fresco durante toda a sua evolução, que é bem longa. Portanto, a palavra é ‘experimentar’. Solte as amarras e cheire o mundo!



Moda

Shopping day Fazer compras, pegar cinema, tomar um drink ou jantar a dois, o shopping oferece múltiplas possibilidades e abraça todos os estilos

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Larissa de Melo, designer de acessórios Calça de alfaiataria e camisa de viscose Le Lis Blanc; colar Rosa Chá; sapato e bolsa Emporium Mix

Styling | Estela Daia Produção | Roberta Klein Beleza | One Beauté Fotografia | Edgard Soares Assistente Fotografia | Eduardo Amorim Agradecimentos | Shopping Flamboyant


Beatriz Lobo, advogada

Calรงa Le Lis Blanc; blusa e colar Rosa Chรก; colete de couro Animale; sandรกlia Bobstore

Valentina Borges Lobo, 8 meses

Vestido, sapato e laรงo Tyrol

Vestido rosa Reinaldo Lourenรงo para Ivana Menezes


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Iza Testa CecĂ­lio, pedagoga e psicopedagoga

Saia de bandagem, blusa e brinco Thelure; blazer Cori; sapato Emporium Mix


Victor TomĂŠ, arquiteto e empresĂĄrio

Camisa Armani e bermuda Ricardo Almeida, ambas para Uomo; bolsa Diesel


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Luiz Otávio Vargas Dumont, empresário

Calça, camiseta, blazer, cinto e sapatênis Diesel

Mônica Quinan, psicóloga

Saia estampada e camisa de seda Bobstore; jaqueta jeans Diesel; colar Bobstore; anéis Eleonora Hsiung; bolsa e sandália Emporium Mix


Letícia Cunha, designer gráfico

Consulte endereços na página 92

Top, saia de renda, hot pant e soutien Intimissimi; colete e brinco Animale; bolsa e sandália Emporium Mix


Business

Força fashion O mercado de moda goiano se fortalece com incentivos públicos e ganha identidade com a chegada dos coletivos, a criação de novos cursos superiores e o trabalho inovador de designers 26 27

por Marília Fleury

A moda em Goiás vai muito bem, obrigada. Com inovações como a aquisição de máquinas de corte de última geração, por meio dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) coordenados pela iniciativa pública, a criação de novos cursos de Design de Moda, coletivos que reúnem várias marcas locais em espaços bacanas, apoio governamental e de entidades privadas e estilistas originalíssimos, o Estado ganha identidade, imprime seu DNA em território nacional e conquista espaço no mercado externo. “Goiás tem vocação para a confecção”, destaca José Divino Arruda, presidente do Sindicato do Vestuário do Estado de Goiás (Sinvest), enumerando as oito mil indústrias registradas do segmento, numa economia em que há mais contratações que demissões, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), e um crescimento de mercado, favorecido desde 2010, com a redução do ICMS para empresas que vendem internamente seus produtos e com a isenção deste imposto para empresas que exportam. O otimismo de Arruda o leva a crer também que as recentes

mudanças na economia do País podem levar o consumidor a substituir os eletrodomésticos por peças de vestuário ao comprar presentes, consolidando ainda mais o negócio. Foi de olho neste setor de economia dos municípios que a Universidade Estadual de Goiás (UEG) criou, em 2015, o curso de Design de Moda em Jaraguá – um dos maiores polos de confecções do Estado, com 431 empresas da cadeia produtiva, segundo dados da Junta Comercial de Goiás (Juceg)–, com o intuito de formar profissionais que possam contribuir para a criação de uma identidade própria nas empresas de vestuário. A Universidade Estácio de Sá, também motivada pelo mercado em ascensão, passou a oferecer este ano o curso de Design de Moda em Goiânia.


Fotografia Edgard Soares

Maria Elvira Crosara, dona da marca Anunciação, há 17 anos no mercado: moda autoral e reconhecimento no exterior


“A CRISE PODE TER UM REFLEXO POSITIVO, LEVANDO A UM CONSUMO MAIS CONSCIENTE” 28 29

Coletivos, como o Centopéia, que surgiram da necessidade de juntar profissionais de áreas diversas e ideias semelhantes dispersos pela cidade, no objetivo de reduzir custos, fortalecer a produção local e criar uma identidade, também incentivam a moda goiana, com cursos para os profissionais do setor, organização de feiras e bazares e apoio na produção de desfiles, traçando o desenvolvimento de negócios criativos e utilizando planejamento estratégico de comunicação e inovação. O coletivo abriga também a Moderia, uma empresa de comunicação voltada para a moda, focada na estrutura do negócio e na potencialização de marcas. Paula Del Bianco, designer de moda e gestora de planejamento estratégico do coletivo, diz que a moda autoral em Goiás está em desenvolvimento, com profissionais que já estão tendo reconhecimento e alcançando outros mercados fora de Goiânia, mesmo esbarrando em dificuldades como atingir uma produção de custo competitivo, neste período de recessão. “A crise econômica atual pode ter um reflexo positivo na moda, levando a um consumo mais consciente, com uma preocupação maior com a durabilidade e a qualidade”, afirma. E quando se fala em coletivos, chega-se à Casulo Moda Coletiva, que fica num espaço amplo e moderno, onde abriga loja, ateliê de moda

unissex e salão de beleza. A loja trabalha com 30 marcas, daqui e de outros Estados. Maiene Horbylon, 26, coordenadora de projetos e ações da Casulo, reforça o foco na exclusividade, considerando que já existe um mercado em construção para a moda autoral, formado por um público jovem, atualizado, interessado no consumo consciente e na valorização da produção local. “A curadoria da Casulo nas marcas comercializadas cria um vínculo entre elas, gerando uma identidade e garantindo a qualidade dos produtos”, explica ela. A Casulo participa do Projeto Indústria do Vestuário Regional Metropolitano e do Projeto Economia Criativa, do Sebrae, e assina cursos de moda em parceria com o Coletivo Centopéia. A venda e a divulgação da Casulo são feitas via redes sociais e pelo site. Com participação em eventos na Capital, como Bananada, Vaca Amarela, Picnik, Morar Mais Por Menos, e em outros Estados, a Casulo é um exemplo do bom resultado de parcerias e inteirações no fortalecimento da moda goiana. Parceria também é a palavra-chave para Eduardo Alcântara, gerente do Sebrae, que informa um aporte de R$ 2,7 milhões em investimentos nos projetos de desenvolvimento da moda em Goiás, com ações de capacitação em gestão, capacitação e adequações tecnológicas, missões de prospecção e conhecimento nacional e internacional, consultoria e participação em feiras de moda, considerando a existência de 13,8 mil pequenos negócios, englobando gemas e joias, couro e calçados e têxtil e confecções. “A união de empresas num objetivo comum é fator indispensável no desenvolvimento da moda goiana, assim como as negociações entre grandes e pequenas empresas, para viabilizar a ampliação e participação dos pequenos negócios nas cadeias de valor das grandes empresas e novos mercados”, avalia. Dentre as ações de desenvolvimento da moda goiana, o Sebrae tem projetos para


a moda íntima em Taquaral e Pontalina – municípios que já participaram de feira de moda na França, apoiada pela instituição–, projetos focados nas empresas da região metropolitana, desenvolvimento dos APLs – que permitem aos confeccionistas utilizarem máquinas de corte adquiridas pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação–, com verba do governo federal em Jaraguá e região, e projetos de encadeamento de produção da Hering, que tem mais de 80% de sua produção executada em Goiás. Na promoção e desenvolvimento da cadeia da indústria da moda, o Sebrae ainda realiza e apoia iniciativas como o Inova Moda, em parceria com o Senai; o Fórum de Inspirações, com a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal); além de participar do São Paulo Fashion Week, com o In-Mod. A instituição também tem projeto para um futuro bem próximo. “A meta é fazer com que os negócios de moda sejam inovadores e competitivos, para alcançar uma fatia mais expressiva do mercado nacional e se firmar no mercado internacional”, afirma. Para marcar ainda mais a identidade da moda goiana, Eduardo sugere a iconografia de Goiás, descrita e ilustrada em manual aplicativo editado pelo Sebrae, disponível aos criadores. A identidade da moda goiana caminha a passos largos, tanto nas peças quanto nos acessórios. Kleyson Bastos, designer de moda, 33, é um grande nome dessa nova geração de estilistas autorais. No mercado desde 2008, ele começou fazendo moda feminina, com a inclusão de uma ou outra peça masculina. Em 2012, depois de cinco coleções, reduziu o nome da marca para Bastos e apostou numa moda com um olhar mais apurado para tendências, lançando a primeira coleção masculina com estampas de lenços, acompanhada de vídeo e vendida na Casulo Moda Coletiva.


“O DESIGN AUTORAL CRIA UM LAÇO DE AFETIVIDADE COM O CONSUMIDOR ”

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Fernanda Manço cria acessórios inspirados na cultura brasileira, nas formas da natureza, que “pousam” delicadamente no corpo

O fato de Caio Braz, apresentador do GNT Fashion, usar uma roupa da coleção chamou a atenção para o seu nome e, no mesmo ano, foi convidado para a primeira edição do GoFashion, participando do evento também em 2013. Em 2014, a adesão ao e-commerce levou a um aumento nas vendas, conquistando clientes de São Paulo e Porto Alegre. “A construção da marca Bastos criou uma identificação com um consumidor interessado em conforto, durabilidade e exclusividade”, diz o designer. Com base nesses princípios, Kleyson aposta na estamparia exclusiva e em tecidos como algodão, linho e viscose, num estilo que combina street wear, alfaiataria e cortes minimalistas. Na próxima coleção a novidade será uma moda não gênero, com peças que podem ser usadas indistintamente por homens e mulheres, estampadas pelo artista Ritchelly Oliveira. Listada no Atlas Of Fashion Designers, que reúne grandes designers do mundo todo, a designer de moda Maria Elvira Crosara lançou a marca Anunciação em 1998, com a proposta de uma roupa feminina original, durável, confortável e atemporal. Com estamparia exclusiva da ilustradora colombiana, radicada em Barcelona, Catalina Estrada – que também estampa para o estilista britânico Paul Smith–, as peças têm acabamento impecável e podem receber detalhes delicados, como o bordado richelieu em cores variadas e o crochê, em tecidos como linho, seda e algodão. Com clientes como a cantora Fernanda Takai, da banda Pato Fu, e integrantes da companhia de dança Quasar, a marca é vendida para o Brasil e exterior por meio do e-commerce e também na loja-ateliê, um prédio charmoso e antiguinho no Setor Sul, onde também


Eleonora Hsiung em seu ateliê-showroom, em Goiânia: destaque nacional em acessórios impactantes feitos com materiais não convencionais

são realizados os dois bazares anuais. “A Anunciação deixa a mulher especial”, afirma Maria Elvira, que, depois do sucesso da última coleção, vendida na loja antes de chegar à internet, fará novo lançamento com 40 estampas e 40 modelos em 30 looks diferentes. Frutos de rigoroso estudo de dimensões e ergonomia e de pesquisa contínua do universo cultural brasileiro e de formas da natureza, os acessórios de Fernanda Manço, 36, parecem “pousar” delicadamente no corpo. Formada em Design, Fernanda já desenhava acessórios de moda há muitos anos, mas só em 2012 lançou a marca que leva seu nome, sistematizando as pesquisas e introduzindo novos materiais, como couro bovino texturizado e metais banhados a ouro, sem níquel, numa produção de técnicas arrojadas, como o corte a laser e a jato d’água, alcançando um resultado de alta qualidade nos acessórios, acompanhados por Certificado de Autenticidade. O curso de Análise de Ciclo de Vida do Produto, realizado em São Paulo e centrado em questões ambientais, apurou ainda mais seu

olhar do produto como um todo. Na execução das peças, os cortes são pensados de modo a não gerar resíduos inúteis, sendo reaproveitados em outro produto. Com a brasileiríssima linha Plumária, feita com retalhos de chita, recebeu menção honrosa na 4ª edição do Prêmio Design da Terra, em 2010. “O design autoral, livre de tendências, possui mais identidade, criando um laço de afetividade entre produto e consumidor”, explica Fernanda, que foi selecionada pelo Sebrae para participar do São Paulo Fashion Week deste ano. No momento, os acessórios de Fernanda Manço são comercializados em seu ateliê, na Casulo Moda Coletiva, em sua página do Facebook e no Instagram.


“CADA VESTIDO TEM O STATUS DE UMA JOIA, POR SER ARTESANAL, DURÁVEL E ÚNICO”

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Alzira Vieira cria vestidos de crochê em fio de seda para a marca homônima lançada em 2011. Luana Piovani se casou com um vestido assinado pela designer

Formada em Direito, com pós-graduação em Fashion Design pelo Istituto Europeo Di Design, Eleonora Hsiung, 35, cria acessórios impactantes com materiais não convencionais, como brita, madeira de demolição, fio encerado, couro e latão banhado a ouro ou prata. No sofisticado ateliê – que também comporta escritório, oficina e showroom–, aberto em 2009, a liberdade na escolha de materiais, no formato, na apresentação e no relacionamento com o cliente configura o que ela denomina de joalheria contemporânea. “Já existe um consumidor em formação, com a percepção de que o acessório não se reduz a apenas um ornamento, mas contém uma série de significados construídos ao longo do processo criativo”, avalia Eleonora, cuja produção ganhou fama nacional e está presente no closet de muitas celebridades. As peças de suas coleções, que se desdobram em pockets collections, não saem de linha, e um brinco de uma pode ser usado com um colar ou um bracelete de outra, em perfeita e harmoniosa interação. Ou partes de peças de coleções anteriores podem se juntar para formar um novo acessório. As vendas se dão no ateliê, por e-mail, nas redes sociais, lojas virtuais, como a Farfetch e, em breve, inaugura loja no Shopping Flamboyant. Com trabalhos executados para a Schutz, Acquastudio e Alcaçuz e participação em eventos como o Vogue Fashion Nigth Out, Eleonora recusa o fasf fashion e batiza suas coleções com nomes expressivos, como Tour de Force e Ceci n’est pas. A estilista goiana Alzira Vieira é outra representante desta safra de criadores autorais que aposta no desejo de exclusividade do consumidor ao confeccionar vestidos e outras peças de crochê em fio de seda. A marca homônima, criada em 2011, tem sua produção executada por crocheteiras habilidosas e é comercializada por meio do site, de redes sociais e em eventos de moda. Sem investimentos em marketing, de forma espontânea, a marca já

conquistou celebridades como Patrícia Poeta, Marina Lima, Guilhermina Guinle, Camila Rodrigues e Luana Piovani – que se casou com um vestido Alzira Vieira–, e é citada com entusiasmo no blog de Lalá Noleto. “Cada vestido tem o status de uma joia, por se tratar de uma peça totalmente artesanal, única, durável e indiscutivelmente bela”, afirma a estilista. Com participação confirmada este ano em pop-up store no Fashion Mall, no Rio, Alzira planeja a instalação de um ateliê com showroom, para atender a clientela. Santo de casa não faz milagre? Faz mesmo, não. Santo de casa esbanja talento, acredita no que faz, abre as asas e alcança voos cada vez mais altos.



Fotos: Divulgação

News

Arqueologia urbana por Adevania Silveira

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A Galeria Stella Isaac, em Goiânia, apresenta até 1º de janeiro a individual Arqueologia de Restos de uma Cidade, do artista Rodrigo Flávio, que está comemorando 20 anos de carreira. A mostra é resultado da temporada de residência do artista em Buenos Aires e reúne 21 pinturas em óleo sobre tela e óleo sobre papel, em várias dimensões, e cinco objetos, com curadoria de Carolina Isaac. Rodrigo Flávio permaneceu quatro meses na capital argentina e se deparou com uma cidade em ruínas. Em suas incursões, descobriu uma espécie de “sítio arqueológico” à margem do Río de la Plata, onde há cerca de 35 anos foi despejado o entulho oriundo da demolição de

casarões antigos que deram lugar ao alargamento da famosa Avenida 9 de Julho, a principal via da cidade, construída entre as décadas de 1920 e 1930. “Estes restos estão em um local onde as pessoas costumam caminhar. Ao descobrir, coletei vários fragmentos e com eles construí os objetos”, afirma Rodrigo. Estas pequenas esculturas, segundo o artista, estabelecem uma reflexão sobre o uso da cidade, sobre a interferência que descaracteriza a história e as pessoas que nela vivem. “Parece outra cidade”, critica Rodrigo, ao se referir à paisagem ultramoderna de Puerto Madero. Nas pinturas, o artista trabalha várias camadas de tintas, e dessas sobreposições realiza suas próprias descobertas, assim como ocorre na construção dos objetos, ao juntar as peças como se fossem um quebra-cabeça. No encontro das cores, outras formas começam a surgir, como personagens da história da arte, pessoas, animais, índios e tudo o mais que o espectador imaginar. Local: Tabriz Stella Isaac Escritório de Arte Endereço: Rua 135, esquina com Av. Ricardo Paranhos, 1.327, Setor Marista, Goiânia Horário: das 8 às 19 horas Fone: 62 3281-0763

Trabalhos de Rodrigo Flávio, em óleo sobre tela, integram exposição aberta na Galeria Stella Isaac: fragmentos de uma cidade


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Especial

O lenço que celebra a vida

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The Book se uniu à marca Bellavivasse para produzir o lenço Árvore da Vida, cuja estampa foi desenvolvida a partir da obra de mesmo nome do artista plástico Siron Franco, capa desta edição (leia reportagem na página 44). A obra original, de 1m x 1.30cm, faz parte da série que o artista está criando para a sua próxima exposição. Com produção limitada, o lenço é um presente para parceiros e colaboradores da revista. Em breve, a peça também fará parte de uma campanha a ser lançada pelo site thebook.is. O empresário da moda Edivaldo Pinheiro da Mota, dono e diretor criativo da Bellavivasse, marca de roupa feminina há 10 anos no mercado, não pensou duas vezes ao aceitar o convite para produzir a peça. A ideia de trabalhar uma estampa a partir da obra de um dos mais importantes artistas brasileiros encantou Edivaldo, que desde 2010 propõe para as suas estampas exclusivas o conceito de brasilidade. “Trabalhamos para levar à marca os valores nacionais e temos especial interesse pela arte brasileira”, afirma o empresário que, para a coleção Verão 2015/2016, trouxe as cores vibrantes da obra da artista Beatriz Milhazes. A estamparia da Bellavivasse, assim como a do lenço Árvore da Vida, foi desenvolvida pela designer Carolina Horta, também especialista em Visual Merchandising. “Estamos muito felizes com o resultado desta parceria. O lenço ficou lindo, uma peça para ser conservada. Tanto é que já estamos pensando em usá-lo para novos projetos e ações do site da revista”, afirma a jornalista Adevania Silveira, editora-geral da revista e do site. A equipe The Book já está trabalhando em um novo projeto que envolverá uma ação social e o lenço Árvore da Vida. “Logo vamos anunciar ao público como será o nosso projeto”, afirma o booker Leandro Pires, que trabalhou na parceria com a Bellavivasse.

Obra Árvore da Vida, do artista Siron Franco, na qual foi inspirada a estampa do lenço; o empresário Edivaldo Pinheiro da Mota, dono da Bellavivasse, produziu a peça



Business

Sotaque interiorano por Leandro Pires

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Em pleno cenário de crise, recessão e desvalorização da moeda brasileira, a Chilli Beans, maior rede de óculos de sol e acessórios da América Latina, não recuou no seu projeto de expansão e, nem sequer, reconsiderou as metas audaciosas e ações arrojadas para cumprir até 2017, quando a marca completará 18 anos. Dono de 655 pontos de venda espalhados por oito países, Caito Maia, 45, CEO fundador da grife, prevê encerrar 2015 com 700 lojas e, até 2017, completar mil unidades com mais 300 pontos de venda em lojas, quiosques e flagships. A principal estratégia de crescimento para os próximos anos é levar moda, informação e design para cidades do interior brasileiro, mercado potencial de consumo da marca Chilli Beans. Isso sem abandonar a fórmula que levou a companhia a ganhar espaço dentro e fora do Brasil — vender produtos que custam até metade do preço cobrado pelas marcas mais famosas. Claro que, para ganhar terreno, a Chilli Beans ganhou reforço extra. Maia tem como sócio o fundo de investimento Gávea, que pagou estimados R$ 100 milhões por 30% da companhia — avaliada em cerca de R$ 300 milhões. A sociedade com a Gávea ocorreu depois que a concorrência começou a ameaçar pesadamente a liderança da empresa, a partir de 2011. Em entrevista à The Book, via skype, o empresário não escondeu a satisfação com o projeto Chilli Beans Fashion Cruise, que reuniu em um navio, no início deste ano, moda, música, arte, diversão e negócios, durante cruzeiro pela costa brasileira. Tanto que pretende repetir a dose. “Adoramos a experiência de viver moda em alto-mar, com estilistas e profissionais do setor. Vamos encarar o desafio da próxima edição e já estamos trabalhando a todo vapor”, adianta Caito entusiasmado. O


Fotografia Mônica Zanon

“A RECEITA DO SUCESSO É FAZER O QUE SE AMA E ESTAR RODEADO DE PESSOAS DO BEM”

Caito Maia em seu escritório, em São Paulo: lançamento de novos produtos com a marca Chilli Beans

começo da Chilli Beans foi literalmente dentro de uma mala. Caito trazia óculos escuros dos Estados Unidos, onde morou por sete anos, enquanto estudava música. Vendia a mercadoria pelo preço médio de R$ 50. Ex-roqueiro da banda Las Chicas Tienen Fuego, decidiu levar a sério o negócio de óculos depois de várias tentativas frustradas de emplacar a carreira de músico. Em seguida, passou a desenhar os óculos, que eram importados da China e vendidos no atacado. Foi quando dois de seus principais clientes lhe “deram o cano”. Falido, se viu diante da oportunidade de ele próprio investir no varejo de acessórios. Começou no lendário Mercado Mundo Mix, em São Paulo, no final dos anos 90. Conhecida por aliar design, qualidade e preço abaixo das grandes marcas, a Chilli Beans inovou o mercado brasileiro criando o conceito de óculos self-service, onde o cliente pode manusear e experimentar os acessórios. Também adotou em sua gestão o estilo fast fashion, apresentando semanalmente mais de 15 novos produtos distribuídos em óculos de sol, óculos de grau e relógios. Outra aposta foi a parceria com grandes nomes da moda brasileira, como Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga, Isabela Capeto e Thais Gusmão, para assinarem coleções exclusivas. Alicerçada no tripé moda, música e arte, e faturamento anual acima de R$ 500 milhões, a empresa recebeu em 2015 o prêmio de Melhor Franqueadora do Ano. O empresário planeja lançar novos produtos com a marca Chilli Beans, expandindo ainda mais os negócios. Casado e pai de dois filhos, ele afirma que sua receita para o sucesso é “fazer aquilo que se ama e estar rodeado de pessoas do bem e que também amam o que fazem”.


Coffee Break

9 perguntas para Sylvia Demetresco por Leandro Pires, de Paris

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O inverno parisiense estava um pouco mais rigoroso na última viagem a Paris. Ótimo pretexto para reencontrar Sylvia Demetresco em um café da Cidade Luz. Escritora, acadêmica e doutora em Visual Merchandising e Semiótica, Sylvia divide a vida e o trabalho entre a capital francesa e São Paulo. Nosso encontro rendeu um delicioso papo sobre sua trajetória internacional com a moda e trabalho para grandes marcas, como Rolex, Dupont, Basf, Moinho Santista, Ford, Yamaha, Nestlé, Natura, entre outras. Como a sua carreira teve início? Comecei por acaso, quando fui chamada para montar o atelier da Rolex, em 1972. Naquele período, ainda estava na Faap. Acabaram me pedindo para tentar montar algo artístico enquanto não tinham ninguém. Naquela época, a Omega tinha uma senhora que montava os displays e queriam chamála Não deu certo. Me treinaram na Suíça e em Buenos Aires e depois de quatro meses estava eu criando vitrinas e displays. Por que escolheu trabalhar com Visual Merchandising? Como queria ser artista plástica, estava sempre à procura de materiais, imagens e informações para criar objetos e acabei criando cenografias. Para criar algo de novo é preciso criatividade e pesquisa. No meu processo criativo devo trazer soluções diferenciadas, trabalhar com o imprevisto e ter muita habilidade na prática. Hoje, o VM é algo presente em todas as empresas. Fazemos parte da equipe do marketing e devemos estar sempre em evolução, pois uma das suas principais funções é gerar venda de modo estésico e estético.

Você lançou, em março, um livro contando a história de São Paulo por meio das vitrinas. Como foi a experiência? Foi o livro dos meus sonhos. Sempre quis escrever algo mais histórico, que mostrasse o que acontecia no passado e no presente. Foi fabuloso, pois este caminhou como eu queria. Dentre 700 imagens que eu tinha, lançamos com 180, tanto por medidas econômicas quanto pela dificuldade de conseguir autorizações de uso. Com quais grandes marcas você teve oportunidade de trabalhar? Trabalhei para muitas empresas multinacionais, principalmente em feiras como Dupont, Basf, Moinho Santista, Ford, Yamaha. Chocolates Lacta e Nestlé, vidros Santa Marina e Saint Gobain, maquiagem, cosméticos, aparelhos de fotografia. E sempre me diverti, virando noites em pavilhões, tanto em São Paulo como no Rio e Recife. Como foi a experiência de montar a loja de uma marca brasileira de cosméticos em Paris, referência mundial nessa área? Foram quase dez anos de projeto e negociação. Participei dos primeiros passos em como abrir uma loja da Natura até a venda de produtos específicos para o mercado francês. Meu foco eram só a vitrina e a exposição dos produtos na ambientação da loja. Foram anos de pesquisa de materiais e acabei encontrando coisas muito diferentes, profissionais interessantes e novos modos de fazer. Foi algo fantástico, mesmo quando trabalhávamos de sábado à tarde até segunda de manhã. Foi muito trabalho braçal, porque não existe ajuda lá fora.


Divulgação

Fotografia Mônica Zanon

Existem tendências de vitrinas? O melhor para se ver tendências é passear fora do País e ler tudo sobre os últimos acontecimentos. As tendências estão em grandes feiras americanas, como a National Retail Federation (NRF), e Euroshop, na Alemanha. O que pensa sobre as vitrinas brasileiras? As empresas investem em vitrinas e em profissionais especialistas? Hoje, finalmente existem empresas especializadas e muita gente pode fazer VM. Claro que a concorrência é grande, mas, como tudo, há os bons e há os medíocres. As vitrinas aqui são mais criativas e trabalham com orçamentos mais justos. Fora, o orçamento é maior, mas a criatividade é mais calma. Em quais escolas no Brasil e no exterior você lecionou? No Brasil, foram universidades diversas: PucSP, Anhembi Morumbi, IBModa, Senac, IED,

Unip e Uninovafapi, em Teresina. No exterior, lecionei em Portugal, na Universidade Fernando Pessoa, e no Porto, na Universidade Veritas. Em São José, na Costa Rica, na Faculdade de Design Lasalle, e em Shanghai. Também na Istec, em Paris, que é a escola de marketing do luxo. Mas a escola que mais tempo fiquei foi a Ecole Supérieure de Design e VM, em Vevey, na Suíça, de 2004 a 2013. O que devemos priorizar em uma vitrina para comunicar melhor? O consumidor hoje é ator nas marcas. Comprar passa a ser uma ação agradável, complementar ao passeio, como tomar um café, caminhar e ter uma sacola de tal marca no braço. É preciso verificar quem é realmente o tipo de consumidor que transita. Quem são as pessoas durante os dias da semana? Quem, no fim de semana? O que querem? E o que compram? Como compram? Essas são as dicas para quem quer criar vitrinas.

Sylvia Demetresco, em seu apartamento em São Paulo, lançou em março deste ano o 12º livro, que fala sobre as vitrinas da capital paulista


Depoimento

Um convite para você por Marie Proffit

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Quero te fazer um convite: me ajude a mobilizar mulheres a respeito da necessidade de prevenção do câncer de mama? Mas, antes, quero contar um pouco da minha história para lembrar a todas sobre a importância do autoexame, da mamografia anual a partir dos 40 anos e demais procedimentos de prevenção que os ginecologistas recomendam e que, muitas vezes, não damos ouvidos e deixamos de fazer. Mas por quê? Por que deixamos de lado algo tão fundamental? A falta de tempo é uma das nossas desculpas preferidas e, há ainda a pior a de supormos que não pertencemos ao grupo de risco. Me encaixei em ambas! Muito dedicada a uma franquia de acessórios Francesca Romana Diana, o empenho em conduzir minha atividade profissional sempre foi intenso e prioritário em minha rotina. Sobrava pouquíssimo tempo para cuidar de outros aspectos da vida, como a espiritualidade e as amizades. Almoço com as amigas no meio da semana? Somente em raríssimas ocasiões. A exceção para a falta de tempo era só para a prática de atividade física. Para isso, nunca havia restrição de horário. Corredora amadora, mantinha uma rotina de treinamentos diários e seguia com empenho o calendário de corridas de rua e de aventura. Somando a desculpa da falta de tempo e a crença de que praticar exercícios, não fumar, me alimentar corretamente e ter amamentado meus filhos, ambos por mais de 15 meses, me excluiriam do grupo de risco – que ilusão! –, não dei a devida atenção ao assunto. Faltando um mês para completar 40 anos, ao terminar uma corrida de montanha e enxugar o suor no busto, percebi um carocinho. Imediatamente fiz toda a bateria de exames, porém, o nódulo não foi diagnosticado como

tumor maligno. Chamo atenção aqui para a necessidade de se investigar a fundo a natureza dos nódulos para que o diagnóstico seja o mais rápido e correto possível. Também é muito importante seguir os prazos estipulados, no caso de acompanhamento periódico. Passaram-se sete meses até chegar o diagnóstico definitivo de câncer de mama. A partir daí, começou a primeira maratona da minha vida – afinal, nas corridas ainda não havia percorrido a dos 42km. Aliás, estava treinando para fazê-lo neste outubro, quando, em março passado, me vi obrigada a adiar meus planos. Minha atual maratona está sendo contra a doença e, assim, como todas as corridas, é com muita energia, otimismo e alegria que tenho agido. O diagnóstico me trouxe uma oportunidade de mudança que imediatamente agarrei: minha família e amigas queridas fizeram-se muito presentes e me reaproximaram da minha fé. Fechei a loja e passei a me dedicar exclusivamente à minha cura, sempre falando e compartilhando meu diagnóstico, tratamento e sentimentos, pessoalmente ou pelas redes sociais. Essa transparência mostrada nas mensagens deu voz a muitas mulheres, especialmente às que passam pela mesma enfermidade. Tenho recebido muito retorno de pessoas com este ou com outros problemas,

“A PIOR DESCULPA É SUPORMOS QUE NÃO PERTENCEMOS AO GRUPO DE RISCO”


Fotografia Edgard Soares Marie Proffit, diagnosticada com câncer de mama: alerta às mulheres sobre a mamografia anual a partir dos 40 anos

que dizem se sensibilizar com minha forma de abordar e encarar o câncer de mama. Por mais forte que eu esteja, emocional e fisicamente, o quadro muda de um minuto para o outro. Passei então a relatar nos posts as sensações e impressões desses momentos, assim como a hora de cortar o cabelo, a hora de raspá-lo no zero, as visitas ao oncologista, infinitos exames, festas beneficentes e novos projetos sociais, reuniões do grupo de orações e o enfrentamento da doença pelos meus filhos e marido. Também passei a postar imagens dos looks que uso nas sessões de quimioterapia, com o objetivo de manter a autoestima em alta. Essa atitude transformou a minha luta em uma espécie de desafio coletivo. Durante o tratamento quimioterápico que venho fazendo e que ainda farei por cerca de três meses, quando menos espero, vem a baixa da imunidade e suas consequências. Daí é hora de dar uma pausa e desacelerar. Quando não, mantenho minha rotina de treino, inclusive por orientação médica, para melhor enfrentar o tratamento. É claro que fiz algumas adaptações na hora de praticar o esporte. Por exemplo, agora, a única meta é pôr o tênis e conseguir caminhar ou correr. Se consigo? Claro que sim! E devo isso ao imprescindível incentivo que recebo todos os dias. Há momentos muito difíceis e cada um tem sua própria batalha, mas acredito que todos podemos ter domínio na forma como encaramos as adversidades. Procuro, onde houver, força e otimismo para vencer a doença. Essa busca, quando estendida e compartilhada com outras pessoas, torna-se gratificante e nos estimula a continuar seguindo em frente. Daí o convite feito no início. Abrace esta causa comigo, siga as orientações de prevenção e estimule as amigas a fazê-lo também.


Capa

Siron na era do ouro O consagrado artista prepara série que vai integrar exposição retrospectiva em 2017, quando completa 70 anos. Conjunto de obras é composto por nove pinturas e uma escultura, todas feitas com o metal nobre 44 45

por Adevania Silveira

Uma nuvem de terra vermelha envolve o carro enquanto percorre a estreita rua que separa a avenida asfaltada e a entrada da chácara, no Jardim Buriti Sereno, em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana de Goiânia. A longa estiagem que transformou o barro em uma camada espessa de pó muito fino é também a responsável pela sequidão do capim que cresceu rente ao muro. Na próxima temporada de chuva, é possível que volte a brotar, assim como a vegetação que cobre toda a área externa do galpão de 525 metros quadrados que abriga o ateliê do artista plástico Siron Franco. Em frente à construção, a grande piscina com água esverdeada reforça o cenário de quase abandono, com o mato teimando em vencer o cimento da borda. Me lembrei da tela impressionista Le Bassin aux Nymphéas, de Claude Monet, da famosa série Nenúfares. Só que sem os lírios-d’água. Aqui e ali se vê obras de arte, ou parte delas, sob as árvores, encostadas ao muro ou penduradas no teto, criando a ideia de uma exposição permanente a céu aberto.

Da única janela aberta, Siron nos recepciona efusivamente, desculpando-se por haver desmarcado nosso primeiro encontro, na semana anterior. O artista estava às voltas com a sua mais recente contribuição à cidade, a instalação O Espelho de Goiânia – uma estrutura de aço inoxidável, com três metros de altura por 11 de comprimento, na qual projeta passado e futuro por meio de totens em forma de ancestrais karajás e figuras humanas. A obra, encomendada pela Prefeitura Municipal, ganhou lugar na Praça Cívica, que acabou de ser revitalizada.


Fotografia Edgard Soares

Siron Franco posa na piscina da chácara onde mantém o seu ateliê: dedicação à série feita com ouro 24 quilates


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Ao contrário do exterior, lá dentro reina uma certa ordem. A parede com pé direito alto apoia uma infinidade de telas empilhadas. A maior parte delas terá como destino o futuro Instituto Siron Franco, que o artista pretende construir e deixar como legado à cidade de Goiânia. A geladeira e a tevê são os únicos sinais do conforto de uma casa. Ao centro, uma barraca de acampamento permanece armada. É ali que o artista costuma terminar as noites de trabalho estendidas madrugada adentro. “Eu venho para cá todo dia e não sei a hora que saio. De dia, respondo e-mails e faço algum trabalho que tenho de fazer no computador, mas é no silêncio da noite que gosto de trabalhar”, revela. Artista premiado e reconhecido internacionalmente, com várias exposições no exterior e obras espalhadas na Europa e nas Américas, aos 68 anos e com fôlego de fazer inveja a qualquer jovenzinho, Siron mantém-se em contínuo e intenso exercício de criação, muitas vezes envolvido em mais de três projetos simultâneos. “Sempre trabalhei muito. Se você chegar domingo, eu estou aqui, ligado”, conta o artista. Atualmente está mergulhado na gestação da série que integrará uma grande exposição retrospectiva de sua carreira, marcada para 2017, quando completa 70 anos. Muito ligado às questões sociais, recentemente aceitou o convite da direção do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) para criar, voluntariamente, a sua versão da Árvore da Vida, um memorial para homenagear doadores de órgãos, semelhante ao que é feito em hospitais norte-americanos. Cada doador tem seu nome inscrito numa folha e o do receptor, em uma borboleta. Siron, claro, deu toque de goianidade ao projeto, usando a imagem de um pequizeiro. Dentro de cada fruto, serão colocados a foto e o nome do doador. “A árvore vai ficar em uma parede com espelho, dando a impressão de ser tridimensional, mas ela não é, só terá a metade”, descreve animado. Siron também fala com entusiasmo da segunda retrospectiva de sua carreira – a primeira foi em 1998, aos 50 anos –, que está sendo organizada por “dois loucos”, nas palavras do artista, cujos nomes prefere, por enquanto, não revelar. O pintor adianta, porém, em primeira mão, que a série que está produzindo, ainda sem título, será composta por nove

“SEMPRE TRABALHEI MUITO. SE CHEGAR DOMINGO, EU ESTOU AQUI, LIGADO ” pinturas e uma escultura, e que está usando como matéria-prima principal ouro 24 quilates. Para a escultura, utilizou a ossada de um bezerro e revestiu-a com as folhas do metal. “É o bezerro de ouro, a morte do mito”, explica o artista ao mostrar o impactante esqueleto do animal inteiramente dourado. A escultura repousará sobre uma superfície de aço inox polido, a 30 centímetros do chão, e, segundo Siron, ficará posicionada no centro de uma sala totalmente escura, com foco de luz direcionado a ela e às pinturas. Estas, na verdade, serão quadros com colagens de ouro sobre cartas, uma delas a versão em braile do histórico documento escrito por Pero Vaz de Caminha, escrivão de Pedro Álvares de Cabral, onde relata suas primeiras impressões ao chegar ao Brasil. Para os demais trabalhos, Siron pretende utilizar imagens das mãos de chefes de Estado que compareceram à cerimônia de celebração do cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1998. O pintor, convidado para a cerimônia, não pôde comparecer, então pôs, de certa forma, os participantes para trabalhar: pediu-lhes que imprimissem suas mãos, pintassem com cores primárias e assinassem. O material estava guardado e, agora, será usado na produção das telas.


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Siron diante da instalação criada com galhos secos e espelho, fixada na parede externa do ateliê: exercícios de criação


“O OURO TRAZ DENTRO DELE ESTÉTICA, MORTE E TODA A HISTÓRIA DA HUMANIDADE” A decisão de usar ouro na coleção foi bastante natural para Siron, que vê nisso a continuação do que fazia nos anos 1970. “Sempre tinha alguma coisa em que eu usava um ponto de ouro, como algumas madonas que fiz”, afirma. Junte-se a isso o fato de o artista ter revisitado o Peru recentemente e ter se encantado com tudo o que viu por lá. “Foi uma retomada muito importante para o meu trabalho, de ter o olhar voltado para essas formas, esse conceito pré-cabralino, pré-colombiano. É uma estética antropológica muito interessante, porque tem uma coisa mágica”, revela. Ao voltar, Siron pintou um quadro usando ouro para cobrir os relevos de escritas automáticas. A obra, comprada pelo falecido empresário Walterci de Melo, acabou disparando a série que está produzindo. Trabalhar com o metal também o fez retornar às próprias origens. A histórica Cidade de Goiás, sua terra natal, surgida no século XVIII, foi uma vila mineradora. “Não era para eu fazer esta série. Mas estudei a fundo e soube de um certo ouro rosa que saiu de Goiás, que falam ser uma das partes da coroa da Rainha Elizabeth. Não sei se é lenda, mas comecei a pensar nesta história. Quando era garoto, se chovia, a gente pegava pepitas de ouro em frente à porta da Cora Coralina. Tudo isso foi me pegando. Foi um negócio muito louco”, relata.


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“EM DETERMINADO MOMENTO, ACHEI QUE ERA UM PINTOR SEM PERSONALIDADE” A série se aproxima também de temas religiosos, já por diversas vezes configurados no trabalho do artista. “Fui estudar também os bezerros de ouro. Estou mexendo em um mito mundial”, afirma o artista, numa referência à passagem bíblica na qual seus personagens criam a estátua de um bezerro para substituir Deus. “O ouro traz dentro dele estética, morte e toda a história da humanidade. Nele está toda a violência da humanidade e, também, toda a beleza. Tudo que é fascinante e mortal está relacionado ao ouro”, destaca. Protagonista no cenário artístico brasileiro, é de se esperar que a retrospectiva remonte a multiplicidade da obra de Siron,

algo muito caro para o artista, que já chegou a questionar a qualidade de seu trabalho. “Em um determinado momento, fiquei muito preocupado porque estava achando que era um pintor sem personalidade, porque a cada dia entrava em um caminho. Com o tempo descobri que não tenho mesmo, e isso é o que me faz um sobrevivente. Estas várias personalidades são, na verdade, o interesse que eu tenho de aprender. Eu tenho essa coisa de aprender desde que nasci, sempre gostei”, afirma o pintor, que já se comparou a Picasso, não na pintura, mas na sua liberdade de criação. Naturalmente curioso, Siron já passeou por diversos campos da arte, fruto de sua intensa busca e aprendizado desde garoto, quando frequentou o ateliê de D. J. Oliveira, Cleber Gouvêa e Frei Confaloni, em Goiânia, e mais tarde os de Bernardo Cid e Walter Levy, em São Paulo. Com eles e também como aluno-ouvinte da Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiás, aprendeu a pintar, esculpir, ilustrar, desenhar, gravar e dirigir projetos de arte. Começou a ganhar a vida fazendo e vendendo retratos.


Na outra página, câmera Super 8 usada pelo artista quando jovem; Siron Franco durante ensaio e o coração de bananeira apanhado na chácara


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Acervo de obras de Siron, no ateliĂŞ; na outra pĂĄgina, maquete do Memorial do CĂŠsio que o artista luta para sair do papel


Sem nunca ter pertencido a grupos ou movimentos teóricos, sua criação nasce de um processo emocional, sob o ponto de vista da execução, e da voracidade com que observa o cotidiano e participa com voz ativa das questões sociais que envolvem a sua cidade e o seu País. Foi movido por esta emoção incontida perante as cenas chocantes do acidente com o Césio 137, ocorrido na capital goiana, em 1987, que Siron produziu a série Césio - Goiânia Rua 57, composta por 23 telas pintadas com terra, tinta automotiva prateada e tinta fosforescente azul, uma das mais emblemáticas de seu extenso portfólio de trabalhos com apelo social. Esta intensidade pode ser medida também pelo fato de o artista ter uma ligação pessoal com o Bairro Popular, local do acidente. Foi para lá que Siron se mudou aos 2 anos. Três décadas após o ocorrido, Siron luta para que o governo do Estado tire do papel o Museu do Césio, criado por ele e cuja pedra fundamental foi lançada em 2009, na gestão do ex-governador Alcides Rodrigues. O artista, que deseja trocar o nome do local para Memorial do Césio – por entender que, além de contar a história do acidente, se trata de homenagem às vítimas –, afirma que o governador Marconi Perillo prometeu dar início em breve à sua construção. “O memorial vai tirar o estigma daquele local. Será um lugar para mostrar o drama do acidente e também o que a ciência fez depois disso”, defende o artista, que usou no projeto de arquitetura a transparência da resina, de modo a dispensar o uso da energia elétrica durante todo o dia. No ateliê, outros trabalhos do artista permanecem engavetados, como a obra Praça do Amor é Cego, a primeira destinada a portadores de necessidades visuais e auditivas no Brasil, criada para proporcionar novas experiências e sensações dos cinco sentidos. O projeto, desenvolvido pela arquiteta Simone Borges, chegou a ser apresentado em Brasília, onde seria instalado, mas depois “de tudo certo” acabou esbarrando no problema de sempre

quando se trata de contribuições artístico-culturais no Brasil: sem orçamento, o projeto é empurrado para dentro da gaveta. Siron, por sua vez, não perde o otimismo e comemora antecipadamente o fato de chegar aos 70 anos produzindo intensamente. “Nunca tive esse negócio de crise de idade. Tive a sorte de fazer sempre a mesma coisa. Me sinto como um cara que nasceu no circo, filho de palhaço. Então, o tempo tem outra conotação. A única coisa que sinto, que é maravilhoso, é que não sou mais ansioso”, afirma. A videoinstalação sensorial Brasil Cerrado, montada no Museu de Arte Moderna do Rio durante os debates da Rio+20, em 2012, foi a última exposição de Siron. Criada em resposta a um convite do Ministério do Meio Ambiente, foi a primeira a utilizar conexão via satélite apresentando queimadas em tempo real, atraindo para o evento mais de 40 mil visitantes em 11 dias. Por aí é possível perceber a dimensão e a grandeza do que deverá representar a retrospectiva de uma carreira de mais de 50 anos dedicados à arte.


Fotografia Edgard Soares

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Oscar Martins, o requisitado produtor de baladas VIPs: festa para lançar cachaça o fez famoso no País


Gente

Um troféu para Oscar O goiano Oscar Martins virou sinônimo de grife de balada VIP no País depois de produzir uma festa para lançar sua marca de cachaça. Antes de chegar ao topo, fracassou em oito tentativas diferentes de negócios por Roberta Brum

A acertada escolha do nome é a cereja do bolo da história de um dos maiores e mais recentes sucessos da indústria de festas no Brasil. A mítica Óscar Party — ou Festa Óscar, fazendo trocadilho com a premiação mundial do cinema — consagrou seu idealizador, o goiano Oscar Martins, no concorrido espaço de produtores mais cobiçados do circuito de baladas VIPs. O start na carreira foi em 2014, depois de promover a primeira edição da Óscar Party, que arrastou cerca de quatro mil jovens de todo o País para o Golf Club de Goiânia. Oscar – até então “ator desconhecido” – se transformou em astro do mundo do entretenimento. Instantaneamente foi convidado a assinar os mais hypados eventos nacionais voltados para o público AA, como a festa pré-réveillon O Cacau, em Trancoso, Bahia, e a Sunrise Party, em São Paulo, associado às agências Haute e Patrão Eventos. “Depois da minha festa, não houve uma só empresa do ramo que não tenha me procurado com alguma proposta de parceria”, conta. Até chegar ao topo, porém, o rapaz amargou uma escalada de fracassos empresariais. Oscar

não esconde que desejava fazer algo grande, ganhar dinheiro rápido e ser conhecido. Tentou quase tudo, de candidato a vereador a investidor na bolsa de valores. Na certidão de nascimento, Oscar é mineiro de Uberlândia, mas se diz goiano por ter crescido na fazenda do pai, pecuarista e produtor de cana-de-açúcar, no município de Quirinópolis, a 293 quilômetros de Goiânia. Aos 10 anos mudou-se com a mãe para a capital, a fim de estudar. A indecisão profissional começou na época de escolher o curso universitário. Prestou vestibular para Agronomia, depois para Administração, com segunda opção para Direito. Fez Direito e Engenharia de Produção por um tempo, transferiu para Engenharia Civil, continuou cursando os dois por um ano e meio, trancou Direito, depois trancou Engenharia e, ufa!, terminou Direito. Nunca exerceu. Tampouco fez as provas obrigatórias da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).


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Em 2008, Oscar lançou-se candidato a vereador em Quirinópolis pelo DEM e obteve menos de 100 votos. “Graças a Deus perdi, senão minha vida teria tomado um rumo diferente”, afirma, rindo. De volta a Goiânia, atuou na bolsa de valores. “Ganhei muito dinheiro e depois perdi tudo e mais um pouco”, confessa. O próximo investimento foi uma empresa de pré-moldados, também em Quirinópolis, que durou somente oito meses. “Eu queria empreender algo. Queria tudo grande, nada de começar pequeno”, admite. A esta altura, o pai, que o apoiava financeiramente, desistiu de bancá-lo. Oscar então vendeu o carro e montou uma factoring em Goiânia. Meses mais tarde e muitas noites insones, o produtor deu por encerrada a atividade no mercado financeiro. Retornou à cidade dos pais para iniciar uma nova frente de trabalho, desta vez como prestador de serviço com maquinário agrícola às usinas da região. O negócio não passou dos seis meses. A crise que abalou o mercado à época o fez desistir.

“FAÇO A FESTA COMO CONSUMIDOR, COM A MINHA CARA. E NÃO ECONOMIZO” Sem saber que rumo profissional tomar, viajou à China. Na Feira do Cantão, esperava encontrar algum produto que fosse inédito no Brasil e o fizesse milionário. Retornou de mãos vazias e ainda por cima recebeu do pai um ultimato, juntamente com o aviso da suspensão dos cartões de crédito: “Ou roça ou OAB.” A princípio, escolheu ir para a fazenda, mas acabou matriculando-se em um cursinho em Goiânia. Nesse meio tempo, conheceu em São Paulo uma cachaça diferenciada, feita com mel e limão, e teve a ideia de produzir a sua versão da bebida no alambique da família, ocioso na fazenda. Oscar, que deu seu nome à cachaça, obteve novamente o apoio do pai.


Acostumado a frequentar as baladas mais exclusivas do Brasil, decidiu introduzir sua bebida neste mercado de público jovem e adepto de novidades. Juntou dois mais dois e pensou em uma festa para lançar o produto para 600 pessoas. Quando se deu conta, o evento já tinha 1.500 convites vendidos, chegando finalmente a 4.200. “Os amigos do Oscar se sentiram ‘donos’ da festa e fizeram um fortíssimo boca a boca”, explica o empresário e produtor da festa Wurm, Rodrigo Salles, que se tornou parceiro de Oscar na segunda edição do evento. A festa, no entanto, acabou acontecendo sem a presença da protagonista. Por falta das licenças necessárias a tempo, a bebida não pôde ser lançada. Na segunda edição, no início de 2015, a Festa Óscar repetiu o sucesso, reunindo um invejável público de seis mil pessoas. Os ingressos se esgotaram 50 dias antes do evento, e chegaram a ser vendidos por até R$ 1.800 nas redes sociais. A hashtag #oscarparty foi usada por salões de beleza, bares e lojas de roupa para se comunicar diretamente com o público da Óscar. Mais de 50% dele era oriundo de outras partes do País, o que levou à lotação dos hotéis da cidade. O badalado estilista Sergio K produziu camisetas exclusivas inspiradas na festa.

A superprodução na Estância JC, na saída de Senador Canedo, a 18 quilômetros da Capital, demandou até a ampliação da estrada de chão para aumentar a capacidade de acesso ao local. Isso para os que foram de carro ou van. Os VIPs dos VIPs mesmo chegaram à festa de helicóptero. Uma área à beira do lago foi reservada somente como pista de pouso das aeronaves que transportavam convidados. Segundo os organizadores, foram realizados 62 pousos durante a noite. Cerca de 600 pessoas trabalharam na festa, a maioria garçons e seguranças. Oscar afirma que o diferencial dos seus eventos é não visar somente o lucro. “Faço a festa como consumidor, com a minha cara, e não economizo”, explica. Além de trazer DJs que estão no topo da lista, importa para Goiânia as últimas novidades em som, pirotecnia e decoração, atraindo um público composto por jovens ricos, blogueiras e políticos. A cachaça também não foi lançada na segunda edição, mas Oscar garante que a bebida vai ser, sim, colocada muito em breve no mercado. Pelo menos a terceira edição da festa já está marcada: 11 de junho.

Oscar Martins com Rodrigo Salles, que participou da produção da segunda edição da Óscar Party; na outra página, Oscar, no dia seguinte à festa, observa operário trabalhando


Bússola

Azul da cor do lago Com cenários de contos de fadas, o roteiro entre Eslovênia e Croácia é marcado pela exuberância de lagos, colinas e castelos medievais. The Book percorreu de carro o destino pouco explorado por brasileiros

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por Roberta Brum, de Liubliana, Eslovênia

A chegada ao lago Bled foi feita por um acesso não convencional – daquelas coisas que a gente faz quando tem fome de conhecer e ignora o GPS. Parei o carro e cruzei, a pé, um parque repleto de árvores altas e muitos pássaros, até me deparar com suas incríveis águas azul-turquesa. No topo de uma colina está um majestoso castelo medieval e, no meio do lago, a pequena ilha sustenta a antiga Igreja de Sv Marika Bozja. Descobri que estava no hotel Vila Bled, lugar exclusivo, que foi a antiga residência de verão do ex-presidente iugoslavo, general Josip Tito. Depois de longa e descompromissada caminhada na margem do Bled, parei no restaurante do Vila Preseren, um pequeno hotel com apenas oito quartos, de frente ao lago, com ótima gastronomia, incrível carta de vinhos e doces caseiros irresistíveis, além de ótimo ambiente e boa música. Bled é um dos pontos turísticos mais conhecidos da Eslovênia, país onde os Alpes encontram o Mediterrâneo e da Europa Central se avista os Bálcãs. Curiosamente é um destino

pouco visitado. No ano passado, por exemplo, foram cerca de 3,5 milhões de turistas contra 12,9 milhões da vizinha Croácia, que, com costa abundante, se tornou um destino imensamente popular, principalmente entre os europeus. Estes somam cerca de 88% dos que chegam. Quem vem de mais longe acaba esticando até a Eslovênia. A somente 30 quilômetros de Bled está uma das joias locais que quase passa despercebida pelos turistas: outro lago glorioso, de natureza intacta, o Bohinj. É de doer os olhos o azul que reflete das suas águas. Desde ali é possível pegar um teleférico até a montanha de Vogel e na volta ver a famosa garganta Vintgar, talhada nas pedras pelo rio.

Franci Ferjan

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No centro do Lago Bled, a antiga Igreja de Sv Marika Bozla é uma das grandes atrações do lugar, que lembra o cenário de um conto de fadas


B. Kladnik

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61 Matej Vranic


Klemen Kunaver

Em sentido horário, o glorioso lago Bohinj, uma das joias locais; o castelo de Bled, no alto da colina; um dos inúmeros cafés no centro histórico da capital, Liubliana; o rio Liublianica, que cruza o centro histórico

Fiz a viagem de carro. As estradas são ótimas, o aluguel, barato e as distâncias, curtíssimas. Com dois milhões de habitantes, a Eslovênia tem área menor que o Estado brasileiro de Sergipe. Antes de embarcar, uma observação: o país é um destino com vocação para a vida ao ar livre. Apelidada de Europa em Miniatura, a Eslovênia surpreende pela diversidade. Tem metade do território coberto de florestas e ainda um pedacinho de mar de 43 quilômetros de extensão. É um lugar que possibilita fazer uma coisa em um dia e algo completamente diferente no outro. Paraíso para quem gosta de caminhar, são dez mil quilômetros de trilhas demarcadas por dentro das florestas. Na borda austríaca, ficam os Alpes Julianos, o Monte Triglav, ponto mais alto dali, com 2.864 metros. Membro da União Europeia desde 2004, a Eslovênia foi parte do Império Austríaco e da ex-Iugoslávia até 1991, sendo o primeiro a se separar. Faz divisa, além da Croácia, com a Áustria, Itália e Hungria. Os eslovenos são os mais europeus e mais abertos “iugoslavos”, extremamente simpáticos, e não têm dificuldade em falar inglês. Liubliana, fundada no ano 1º a.C., no tempo da dominação romana, fica bem no meio do país e parece mais uma média cidade a uma Capital. O centro histórico é uma charmosa zona de pedestres ao longo do Rio Liublianica, repleta de restaurantes, bares, cafés e galerias de arte. Também é palco para o grande protagonista – o belo castelo do século XV, com degraus para uma torre pentagonal. Rodeada por uma floresta alpina, a vista panorâmica é de tirar o fôlego. Tranquilo e seguro, o centro histórico flui sem pressa. Como a circulação de carros é

proibida, o lugar pode ser explorado somente a pé ou de bicicleta, com um sistema gratuito oferecido pela prefeitura e uma rede de ciclovias de 145 quilômetros. Talvez por isso os dias tenham cara de final de semana. A gastronomia local tem o delicioso sabor “emprestado” dos países vizinhos, com um pouco de influência dos Bálcãs, ao mesmo tempo que apresenta combinações com toque esloveno. No centro, recomendo o restaurante As Aperitivo, bom para almoço, café, jantar e até drinks com DJ. É um must go de todas as horas. Tem uma cozinha moderna, com tábuas de frios sensacionais e o melhor Aperol Spritz que já tomei na Europa. A 40 minutos de Liubliana está a Caverna Postojna, passeio imperdível com direito a excursão de chineses e souvenirs. Trata-se de uma caverna com extensão de 21 quilômetros com belíssimas estalactites e estalagmites. O acesso é feito a bordo de um confortável trenzinho.


Barbara Kazar

Nesta página, a parte superior do farol de Punta se assemelha a uma coroa, uma reminiscência do século 7, quando Piran estava sob o domínio bizantino; a Caverna Postojna Postojnska é passeio imperdível. Na outra página, em terras croatas, o Parque Nacional Plitvice

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Medja Postojnsk

63 A 120 quilômetros a sudoeste da capital se encontra Piran, cidade fortaleza durante a era bizantina, bem conservada e com inúmeros edifícios históricos, e uma península rodeada pelo mar Adriático. Desde cima, a Catedral de São Jorge proporciona vistas maravilhosas de Trieste, na costa italiana, e da costa croata. O centro tem ruas estreitas, casinhas coladas umas às outras e roupas dependuradas para fora das casas, influência da vizinha Trieste, que também empresta o italiano como segunda língua oficial na cidadezinha. Dividindo a costa, a somente sete minutos, encontramos a cidade-resort de Portoroz, com spas, bares, restaurantes e cassinos. O lugar para se hospedar na região é, sem dúvida, o The Palace, agora sob bandeira Kempinski, com um spa de tirar o stress de uma vida inteira, praia privada, salões e restaurantes que são pura arte e café da manhã estendido até o meio-dia. Em baixa temporada, há ofertas sensacionais com quartos desde 90 euros. Neste pontinho de mar, a Itália está a oeste e a Croácia, ao leste. Seguindo em direção ao lado italiano, passamos pelo Rio Soca – de cor verde-esmeralda única e um dos mais limpos do mundo – até chegarmos à região vinícola


de Goriška Brda. A cerca de uma hora e meia a oeste de Liubliana e a uma hora a noroeste de Piran, a vinícola é reduto das uvas brancas Beli Pinot e Rebula (tema da reportagem ‘O vinho que sai da terra’, desta edição). Em Portoroz, estamos a poucos passos da fronteira da Croácia. O controle pode ser algumas vezes rigoroso – creio que depende do humor do guarda – e é preciso pagar pedágio na moeda local. Eles até aceitam euros, mas em notas pequenas, com troco em Kunas, a moeda local. São 75 quilômetros pela estrada costeira até Rovinj, considerada por muitos a mais bonita cidade da Península Ístria, um povoado pesqueiro com cerca de 14 mil habitantes, ares medievais e cheiro de mar, onde o mais gostoso é perder-se pela arquitetura e cores do seu centro histórico. Voltando ao carro, mais 40 minutos pela estrada principal ou 50 pela extrema costa – recomendado! –, chegamos a Pula, que guarda um “coliseu” próprio de impressionar, conhecido como Pula Arena. Aliás, a cidade é para quem

“PIRAN, CIDADE FORTALEZA NA ERA BIZANTINA, É RODEADA PELO MAR ADRIÁTICO” gosta de história – e com licença para a comparação, uma pequena Roma, com inúmeros monumentos espalhados pelas ruas do centro. Caminhando, você se depara com uma surpresa arquitetônica em cada esquina, como os Arcos de Sergius, Templo de Augustus, Porta de Hércules, o prédio da prefeitura e mosaicos pelo chão. Em outro momento, cruzei a Eslovênia pelo lado leste, desde Liubliana até Zagreb, a capital croata. A cidade é pulsante, cheia de vida, de gente nas ruas e bares lotados. As mulheres capricham nas produções. Com vocação para a vida boêmia, ainda tolera-se fumar dentro de bares e casas noturnas.


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Bigstockphoto

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sommelier têm uma harmonia sem igual, vista do alto para a cidade e jazz. Pedi um risoto de parmesão com foie gras e trufas frescas que até hoje me faz querer voltar ao lugar. Fechamos o roteiro descendo de Zagreb cerca de 130 quilômetros – ou seguindo 258 quilômetros a leste de Pula –, até chegar ao Parque Nacional Plitvice, que se estende por 20 mil hectares, no coração dos Bálcãs, onde se encontram os lagos considerados um dos destinos naturais mais bonitos da Europa. São 16 lagos interligados, em distintas tonalidades de celeste, verde, turquesa e cinza. Nesse ponto, o cartão de memória da câmera já estava no fim, o que é de se esperar quando estamos diante de incríveis cenários de conto de fadas.

Dicas Acima, a pulsante capital da Croácia, Zagreb, onde os bares estão sempre lotados; abaixo, o Museum of Broken Relationships com sua coleção de objetos que remetem a alguma relação de amor desfeita

Nos arredores, vale perder-se numa manhã pelo parque Zrinjevac, coberto de perfumadas magnólias. Acrescente à lista de visitas o inusitado Museum of Broken Relationships, premiado como o mais inovador da Europa e que, devido ao sucesso, se transformou em exposições itinerantes por todo o mundo. Consiste numa coleção de objetos que remetem a alguma relação de amor desfeita doados por pessoas de todo o mundo. A ideia é que, ao doarem estas peças, poderiam ser libertas mais facilmente da dor de cotovelo. Antes de entrar, prepare os lenços: são histórias de guerra, traição, suicídio e de amores não correspondidos. Lugar para comer? Um restaurante extraordinário no bairro imponente e residencial das embaixadas: o Bistrô Apetit. Com jeito de casa-clube, o serviço é impecável, a adega e o

Aluguel de carro: www.atet.si – empresa eslovena, com escritório no aeroporto e em várias cidades. Extremamente atentos e bastante flexíveis com os horários. Os preços são módicos, desde 25 euros/ dia, e a frota, nova. Faça a opção do seguro total para não deixar depósito de franquia. Telefone: compre um chip local da empresa KPN e, colocando 20 euros de crédito, você terá acesso ilimitado à internet e ligações locais. Uma opção mais barata que possibilita usar o GPS no telefone em vez de alugar um.


News

A riqueza do agreste

A riqueza cultural de Caruaru inspirou os 12 objetos que compõem a coleção Turbulência que o designer gráfico Fábio Melo, pernambucano radicado em Goiânia, acaba de lançar em sua estreia como designer de produto. Fábio é formado pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e estudou arte e desenho publicitário no Atelier Blaise Rossetti, em Paris. Versátil, é ocasional chef de cozinha e cria cães da família dos Galgos. Os objetos misturam barro, acrílico, madeira, ferro, fibra e até peças de Lego. Entre eles estão a luminária Rabo de Galo – produzida com pena de galo desidratada –, vasos e candelabros, que traduzem a riqueza natural e cultural do agreste pernambucano, como a Caatinga, os pífanos e, principalmente, Caruaru, a terra natal de Fábio. As peças vêm nas cores primárias: branco, preto, amarelo e vermelho. A coleção está disponível na loja ID+D Identidade do Design, em Goiânia. Turbulência surgiu com o convite da Zanatta Casa, a consagrada marca paulista de cerâmica, para produzir uma coleção de objetos. Meticuloso, após concluir os desenhos, Fábio foi até a fábrica em Quintana, São Paulo, para acompanhar o desenvolvimento dos protótipos. Chegando lá, tudo foi descartado. “Vimos que não seria possível produzir as peças tendo o barro como matéria-prima e elas não eram exatamente o que eu queria”, afirma o designer. Mas ao se deparar com dezenas de galos no jardim da fábrica, Fábio reviveu a infância em Caruaru e teve a certeza do que realmente desejava fazer. A primeira peça materializada foi a luminária Rabo de Galo. “A inspiração é de raiz, mas os objetos são absolutamente contemporâneos”, enfatiza.

Fotos: Michelle Barzotto

por Adevania Silveira

No alto, a luminária Rabo de Galo, a primeira peça da coleção a ser criada; acima,vaso com referências de Caruaru


Edgard Soares

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Marcus Camargo, 23, com a cachorrinha Lua: ajuda do porteiro para instalar o chuveiro


Comportamento

Até que a solidão te separe A experiência de morar sozinho é rica e produz crescimento, dependendo de como se encara a nova rotina, repleta de liberdade, mas também de muitos desafios por Rimene Amaral

Marcus me recebeu pontualmente às 5 da tarde de uma sexta-feira, em seu apartamento, no Setor Sul, em Goiânia. Assim que abriu a porta, pude sentir o aroma de incenso. Na pequena sala, a poltrona Led RGB iluminada é a primeira a chamar a atenção. Parece coisa de desenho animado. As paredes são repletas de obras de arte, a maioria assinada pelo próprio morador. A estante branca abriga objetos de arte e a tevê. Artista multifacetado, Marcus Camargo, 23, é fotógrafo, bailarino, artista visual e designer. Deixou a casa dos pais, na Cidade de Goiás, aos 17, para fazer faculdade na Capital. Antes de morar só, passou uma temporada na casa dos padrinhos, até ganhar um pouco de independência. O artista faz parte do universo de jovens que encaram a vida longe da casa dos pais, sem alguém ao lado para dividir as alegrias e frustrações cotidianas e aprendendo a fazê-lo de forma cada vez mais prática. Mas junto vem uma série de responsabilidades: contas fixas, alimentação e a manutenção do novo lar. “Foi legal, mas deu um pouco de medo de não conseguir manter tudo. Tinha

acabado de sair da faculdade”, conta Marcus, relembrando o dia em que se mudou. A casa foi montada aos poucos, a princípio, com a ajuda da mãe e do irmão. Plantas e bichos de estimação ficaram só na vontade. Marcus mantém apenas um cacto, que não precisa de tanto cuidado assim. Mas, às vezes, morre. Somente alguns dias depois dessa entrevista, o designer ganhou a cachorrinha Lua, para lhe fazer companhia. Para manter a responsabilidade com a casa, Marcus vai driblando como pode e já aprendeu a pedir ajuda, como quando precisou instalar o chuveiro. O porteiro do prédio deu uma mão e tudo se resolveu. Antes, tentou fazer sozinho, pesquisando na internet, mas temeu provocar um acidente fatal. Aliás, medo é um sentimento que parece não abandonar nem mesmo quem se acha muito independente. Quando adoece, então, a mãe é a primeira a ser acionada.


Rimene Amaral

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“SE A VIBE NÃO ERA BOA, EU ME MUDAVA. MOREI EM QUASE TODA GOIÂNIA” A jataiense Aline Jajah Franco, 35, é outra representante deste grupo de jovens que moram sozinhos. Saiu da casa dos pais aos 17 anos para iniciar a faculdade de Letras. Primeiro, encarou a rotina coletiva de uma república, mas não teve muito sucesso. “Todo dia eu chegava e tinha alguém novo morando lá. Dormia muita gente no mesmo quarto”, lembra ela, que decidiu morar com a avó até conquistar novamente a tão sonhada independência.

Aline não sabe contabilizar quantas vezes trocou de casa. Dividiu moradia com inúmeras amigas, numa espécie de “test drive”, como ela mesma costuma dizer. “Eu me mudava e, se a vibe não era boa, mudava para outro lugar. Morei em quase toda Goiânia”, conta, rindo. Hoje, divide o apartamento de dois quartos, sala, cozinha e sacada com Cosmo, um shitzu carinhoso que lhe faz companhia. No espaço, também consegue manter dois vasos de antúrios floridos, uma samambaia e outra de dinheiro-em-penca. Trabalha em casa e, acredite, não tem tevê. O negócio dela é música e internet. Aline é empresária da área de comunicação e tecnologia. A independendência a ensinou a gostar de cozinhar e a se alimentar de forma saudável. Não começa o dia sem um suco verde e deixou de lado o fast-food. Aprendeu a fazer as refeições com dicas de nutricionistas e recei-

Aline Jajah fez muito test drive dividindo moradia com as amigas. Hoje, só o cãozinho Cosmo lhe faz companhia


tinhas que tira da internet. Melhorou a saúde e a disposição, mas não dispensa uma pizza – símbolo de quem mora só –, vez ou outra, ou uma comidinha japonesa entregue em casa. Diz ser cadastrada em quase todos os restaurantes delivery da Capital. A diarista vai uma vez por semana apenas para faxinar. Durante a semana, quando a louça suja acumula, decide o que fazer só depois de realizar uma rápida inspeção. “Avalio pelas minhas unhas. Se estiverem ‘boas’, eu não lavo. A bagunça fica. Já se estiverem estragadas, eu encaro”, diverte-se Aline. Na hora do aperto, medita e consegue sair do caos, partindo para a espiritualidade. Talvez,

por isso, o quadro com o desenho da emblemática Mulher Maravilha, pendurado ao lado da porta de entrada do apartamento, seja um bom exemplo – ou, quem sabe, venha do inconsciente – da personalidade da pessoa que vive ali. Mesmo quando enfrenta trancos e barrancos, o saldo para quem toma a decisão de encarar a vida sozinho é sempre positivo. Quem já aprendeu esta arte sem escola sabe que o baixo-astral que às vezes “pega” é normal e dura somente até a hora do jantarzinho marcado com os amigos. A seguir, confira a lista de conselhos úteis que The Book preparou, baseada em experiências de moradores solitários.

Conselhos infalíveis Alimentação – Não queira se meter a chef se você mal sabe cozinhar um ovo. Faça o trivial e não faça comida demais. Se sobrar, congele. Desperdício te empobrece. Não tenha vergonha de ter uma tupperware para o caso de ser convidado para uma refeição na casa de parente ou amigo. Faça sua matula e garanta o almoço e/ou jantar do dia seguinte. Cozinha – O segredo para manter organizado esse mundo paralelo da casa de quem mora só é simples: não o deixe só. E não deixe as coisas se acumularem. Sujou, lava! Que seja um mísero copo. Acredite: se deixar passar um dia que seja sem agir, vai perder o controle. Ah! A geladeira conserva os alimentos por algum tempo. Não para a eternidade. Quarto e escritório – Dizem que as pessoas que não arrumam a cama ao se levantar são mais felizes. Mas quarto e escritório precisam de manutenção diária para que você não se perca numa dimensão para onde vão todas as coisas que somem de casa. Portanto, faça faxinas periódicas. Seguro – O chuveiro queimou? O blindex explodiu? A persiana não fecha? Problemas corriqueiros se resolvem facilmente com seguro residencial. Quem tem seguro de carro, pode tê-lo acoplado. Mas pode ser feito no seu banco. É barato e tudo se resolve com uma única ligação.

Água e luz – Economia é fundamental. Aprenda a viver com menos e lembre-se de quando seus pais viviam pedindo para você apagar a luz e fechar a torneira enquanto escovava os dentes. É isso aí. O bolso agora é seu. Só seu. Ócio – Aproveite o tempo livre para cuidar do que precisa. Capriche no banheiro. Use o aspirador – fundamental para quem mora só – e lave o que puder: roupas, tênis, toalhas. E pense bem antes de dar uma festa em casa. Nem sempre é uma boa ideia. Solidão – Planeje seu dia com ou sem amigos e aprenda, acima de tudo, a gostar da sua própria companhia. Filmes e livros, um bom vinho e até a tentativa de fazer um prato que você provou em algum lugar pode ser uma boa. Internet – Essa é quase uma mãe virtual, um oráculo. É lá que se pode encontrar quase tudo para sanar as dificuldades diárias de um solitário convicto. De comida delivery a diarista. Site necessário: o http://sossolteiros.bol. uol.com.br/tag/vida-de-solteiro/ é quase uma bíblia para quem mora só. Desde a escolha certa do arroz, passando por lanchinhos básicos e até brinquedos para animais podem ser encontrados por lá. Também tem uma infinidade de dicas para alimentação, truques para fazer a vida de um solitário mais fácil.


Lifestyle

O vinho que sai da terra The Book visitou na Itália a vinícola de Josko Gravner, uma das mais respeitadas do mundo e pioneira em produzir vinho de modo ancestral, fermentado em ânforas de barro, como há cinco mil anos

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por Roberta Brum, de Oslavia, Itália

71 Era uma manhã de quarta-feira fria, marcada por névoa e garoa, quando chegamos a um dos mais espetaculares vinhedos da região de Oslavia, extremo noroeste da Itália, a 410 quilômetros de Milão e a 110 de Liubliana, a capital eslovena. A região foi anexada pela Itália depois de conflitos com a Iugoslávia na Segunda Guerra Mundial. Há ali uma certa dificuldade de pertencer. São eslovenos para os italianos e italianos para os eslovenos. The Book viajou até lá para conhecer Josko Gravner, vinicultor pioneiro no resgate da técnica milenar de produção de vinhos em ânforas e embaixador de uma nova filosofia no mundo desta bebida tão simbólica. Josko – pronuncia-se Iosco – é considerado gênio revolucionário mitificado por críticos, jornalistas especializados e wine lovers. Recentemente, foi homenageado com o livro Gravner – Coltivare il vino – escrito por Stefano Caffari, com fotografias de Alvise Barsani, editado por Il Cucchiaio d’Argento–, dedicado à sua história e ao jeito exclusivo de produzir vinho. Nossa equipe foi recepcionada pela filha do enólogo, Mateja Gravner. Depois da trági-

ca morte do irmão em um acidente, tornou-se braço direito do pai. Mateja nos avisa que Gravner estaria por mais alguns minutos nos vinhedos. Era tempo de trabalho intenso, faltando uma semana para prensar o vinho. Enquanto o aguardávamos, nos mostrou detalhes da produção e apresentou a propriedade de 18 hectares fundada pela família em 1901. As ânforas são as maiores aliadas da família na elaboração de vinhos únicos, de cor âmbar e produção limitadíssima de cerca de 30 mil garrafas por ano, consumidas pelos donos dos mais requintados paladares. “Faço para meu consumo, o restante eu vendo. Meu pai dizia que é preciso fazer pouco vinho para fazer com qualidade. Antigamente achava que poderia conseguir as duas coisas, mas não é possível”, explica Josko ao iniciar a nossa conversa.


Fotografia Adrijan Pregelj

Local onde as ânforas que guardam o vinho são enterradas lembra uma instalação de arte contemporânea


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Josko Gravner, o revolucionário vinicultor: “O vinho é uma coisa viva”

A sala onde são enterradas as ânforas lembra uma instalação de arte contemporânea, altamente organizada e com pontos de luz estratégicos. Uma cadeira colocada no centro da sala revela que durante o tempo em que as ânforas permanecem enterradas, elas são acompanhadas de perto pelos Gravner. Genial e humilde, Josko não se envaidece com títulos e reconhecimento. Fala pausadamente, com declarações carregadas de idealismo e metáforas quase sempre associadas aos fenômenos da natureza. Sua retórica é natural, nada ensaiada, e emociona o ouvinte por demonstrar ser, acima de tudo, sincero e comprometido com os próprios valores. Se Gravner dá lugar à simplicidade do camponês, o mesmo acontece com o vinho que brota de suas terras. Quase artesanal, a produção é feita com longas macerações com suas cascas e amadurecimentos em madeira e, depois, fermentada em ânforas de barro, como faziam os antigos romanos, há cinco mil anos. “A ânfora é a maneira mais antiga de produzir vinho”, revela Josko. Segundo o vinicultor, estes recipientes enterrados no solo proporcionam as perfeitas condições de temperatura para a fermentação e permitem que o vinho “respire”. Importadas da Geórgia, ao custo de 3 mil euros cada – ele tem cerca de 50 –, as ânforas são feitas com uma terracota especial, sem chumbo, e esmaltadas com cera de abelha. Gravner é forte defensor de que a tecnologia não é necessária quando o assunto é vinho. Mas nem sempre foi assim. Nos anos 1980 e 90, seus vinhos eram dos mais premiados do mercado e seu chardonnay considerado o melhor da Itália. Era, para muitos, o rei do vinho, reconhecido por implementar constantemente modernas técnicas e observar tendências. O rumo mudou com uma viagem à Califórnia, onde percebeu que a direção estava equivocada. “O mundo estava produzindo vinhos sintéticos manipulados para satisfazer o mercado e que funcionavam por não mais que cinco anos. Vi que isso eu não queria fazer e achei que era hora de voltar ao passado e limpar


“O BOM VINHO VEM DA TERRA E VOLTA PARA A TERRA. O SER HUMANO É SÓ UM MEDIADOR”

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os passos errados nesta evolução”, relembra. Gravner, então, vendeu todos os equipamentos modernos, as prensas hidráulicas e os controles de temperatura para se aventurar na antiga técnica de produção. Mascarar qualquer coisa desobedece completamente os valores de Gravner. “O bom vinho vem da terra e volta para a terra. O ser humano é só um mediador e observa de longe. Tentar fazer um bom vinho é como tentar fazer boa água. Você não pode. Os dois acontecem naturalmente”, diz Josko, revelando um dos seus princípios. Citando o pai mais uma vez, o vinicultor conta que aprendeu com ele uma grande lição: “O vinho é uma coisa viva.” Os seus são, portanto, produtos naturais e sem receita. “Não dá para ensinar. A intuição é fundamental. Em vinho, às vezes, o não fazer algo é mais importante que o fazer”, ensina. Josko não esconde sua paixão pela uva e pelo vinho e sua única preocupação é de que ele mesmo goste. “O produtor não pode pensar no lucro financeiro. O produto final expressa essa preocupação. Neste caso, melhor contratar outra pessoa para fazê-lo”, afirma. Gravner revela que já tomou vinhos muito caros, mas que o preço não significa que sejam bons. “Muitas pessoas que não entendem de vinho são as que tomam estas garrafas.” Na Itália, seus vinhos são encontrados de 50 a 275 euros. No Brasil, a importadora oficial Decanter vende em seu site três versões: os brancos Ribolla Gialla e Breg, ambos 2006, a R$ 485; e o tinto Breg Reserva 2004, a R$ 985. Essa mudança de paradigma que o conduziu às ânforas, levou-o também a sofrer pesadas críticas por sua posição e à perda de clientes que já não acreditavam nele. Essas críticas duraram até os primeiros vinhos serem lançados, hoje reconhecidos com três Bicchieri – pontuação máxima do Gambero Rosso, guia de vinhos da Itália, o mais completo e reputado trabalho



“NÃO HÁ MODELO MELHOR. ESTE MODO DE FAZER VINHO ESTÁ MUITO PERTO DA PUREZA”

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sobre vinhos no mundo. Gravner é o nome principal de uma linhagem de vinhos com esta característica âmbar e outros já o seguem, entretanto, de maneira menos ousada. Foram dez anos de trabalho e somente em 2007 ele chegou à combinação usada hoje: um ano nas ânforas e mais sete em tonéis de madeira eslovena. Os vinhos “brancos” que ele faz são de longa maceração, densos, ricos em sabor e feitos quase como vinhos tintos. São produtos sofisticados diferenciados, gastronômicos e “bronzeados”. Gravner os fermenta lentamente em contato com as cascas, o que produz a cor âmbar da bebida. O aroma é diferenciado devido a uma colheita mais tardia das uvas, a fim de esperar um desejado equilíbrio de açúcar e acidez. A única coisa que se adiciona ao vinho – assim como faziam antigamente os romanos – é meio grama de enxofre por hectolitro para impedir que vire vinagre. “Eu não mexo no vinho, não interfiro”, ressalta. Ele explica que, uma vez na ânfora não se pode corrigir. “O que é bom ou ruim é amplificado”, afirma. Curiosa do quão convencido sobre o método ele estava, arrisquei perguntar-lhe se mudaria de novo se percebesse que estava indo por um caminho equivocado. “Se descobrisse que há um modelo melhor do que estou fazendo, certamente mudaria. Entretanto, neste momento, creio que não há modelo melhor porque este modo de fazer o vinho está muito perto da pureza.” Aliás, as mudanças é que vão reforçando a direção. Em 2012, Gravner parou a produção de outros tipos de uva para dedicar-se somente a duas variedades do Friulli, a branca ribolla e a tinta pignolo, sendo que o tinto representa ape-

nas 10% dos vinhedos. “O vinho branco como produto é superior ao tinto, já que não leva a casca. Sua produção é muito mais difícil porque não há muito como mascará-lo”, afirma. A Ribolla, marca registrada de Gravner, existe há mais de mil anos na região e se adaptou bem ao clima, tem uma casca resistente que a protege da chuva e do sol por mais tempo. “Seu principal diferencial é que ela é a primeira a dar os brotos e a última a dar frutos, por isso a uva fica mais tempo na árvore e isso resulta em um vinho superior”, explica. Há mais de 25 anos, nenhum produto químico é usado no vinhedo. “É preciso adaptar cada momento para conseguir ter boa safra mesmo com condições desfavoráveis”, explica o vinicultor.


Tonéis de madeira eslovena são usados para guardar o vinho; a propriedade centenária dos Gravner, em Oslavia; e Josko com a filha Mateja, seu braço direito


Consumo

Sal com grife Mais delicados e apreciados que os comuns, os sais gourmet são encontrados em cores, sabores e texturas diferentes e a preços astronômicos. O mais nobre deles é extraído apenas numa região da França

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por Rimene Amaral

79 Há mais de cinco mil anos, o sal já era usado no Egito, na Babilônia, na China e em civilizações pré-colombianas. Mas era ainda minguado para quem não vivia em regiões costeiras e vendido a preço de ouro. A importância do sal é tanta que o produto foi citado até nas escrituras sagradas. No Antigo Testamento, uma mulher virou um bloco de sal: A mulher de Ló, em desobediência aos mensageiros de Deus, olhou para trás e se tornou uma estátua de sal. (Gn 19:17,26). E no Novo Testamento: Vocês são o sal da terra. Mas, se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. (Mt 5:13). Só na Idade Média, a tecnologia da mineração começou a ser desenvolvida e o sal se tornou ainda mais importante, permitindo a conservação e a difusão de vários alimentos, como queijo, carne, azeitona e outros. De lá para cá, muita coisa mudou, mas o sal continua tendo a mesma finalidade, com status de tempero essencial. E agora, proveniente de várias nacionalidades e com várias propriedades, o pó, antes branco, ganhou cores, sabores,

texturas diferenciadas e grife. Como na Idade Média, alguns tipos de sal são vendidos hoje a preços astronômicos. Flor de sal, sal defumado da Normandia, sal negro – da Índia e do Havaí –, sal de Guérande e tantos outros com nomes que parecem ter saído de contos de fadas e valores idem. Do nosso salzinho usado na batata frita do bar da esquina aos sais mais raros, os preços variam inacreditavelmente. O toque de Midas foi dado ao sel de mer fumés, uma flor de sal defumada extraída apenas na região da Normandia, na França. O quilograma da preciosidade pode ultrapassar os R$ 500. A especiaria é defumada em barris de carvalho usados para envelhecer vinhos e assume o aroma da bebida. Já o sal negro do Havaí, de origem vulcânica, tem sabor forte e marcante e custa a bagatela de R$ 435 o quilograma. E como todo produto com grife, esses sais não são vendidos em saquinhos plásticos, mas em recipientes especiais e apropriados, com etiqueta que garante a sua origem e qualidade.


Sais grifados têm cores, sabores e texturas diferenciados. O preço pode chegar a R$ 500 o quilo


Tipos de sal comestível De mesa ou refinado – O mais comum e o mais usado no preparo de alimentos. É dissolvido e recristalizado. Preço médio do quilo: R$ 1,80. Grosso – Produto não refinado usado na forma bruta. É usado no churrasco, assados de forno e peixes. Preço médio do quilo: R$ 3. Marinho – Há diversos tipos, dependendo de sua procedência. A cor dos cristais pode variar. É muito usado na cozinha macrobiótica. Preço médio do quilo: R$ 4,50.

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Light – Produto com reduzido teor de sódio, fruto da mistura de partes iguais de cloreto de sódio e cloreto de potássio. Ideal para pessoas com dietas restritivas ao sal. Preço médio do quilo: R$ 15. Gersal – Utilizado na cozinha macrobiótica. É o sal misturado com sementes de gergelim tostadas e amassadas. Preço médio do quilo: R$ 45. De aipo – Sal de mesa misturado com grãos de aipo secos. É moído e utilizado para dar sabor aos grelhados de peixe ou de carnes e em caldos e consommés. Preço médio do quilo: R$ 160. Guérande – Considerado o melhor do mundo, tem produção artesanal. Extraído na cidade de Guérande, na Bretanha, França, é um produto caro. A versão especial é a chamada fleur du sel, ainda mais rara. Preço médio do quilo: R$ 264. Negro – É um tipo de sal vulcânico e pode ser preto ou rosa. Tem um sabor muito forte, devido ao alto teor de enxofre. Preço médio do quilo: R$ 435. Flor de Sal defumada – Tem sabor e aroma peculiares que dão toque especial às preparações. Agrega os sabores dos minerais e das algas de onde é retirado, na Normandia, França. Os cristais são defumados em barris de carvalho que foram usados para envelhecer vinho, incluindo os aromas da bebida em seu buquê. Preço médio do quilo: R$ 500.


“A CROCÂNCIA DAS ESCAMAS DO SAL DÁ UM TOQUE DIFERENTE” Na cozinha, ele está sempre à mão. Praticamente tudo o que é preparado para as refeições tem, pelo menos, uma pitada de sal, até as sobremesas. Mundo afora, não há um chef de cozinha – ou metidos a cozinheiros chiques – que abra mão do produto, agora com pedigree. A chef de cozinha Tatiana Mendes tem uma pequena coleção de sais aromatizados. Gengibre, baunilha e trufa são os preferidos. Mas garante que usa com parcimônia. “Uso sal como brincadeira. É um complemento. Coloco só para realçar”, diz ela. Tatiana explica que prefere a flor de sal, que são cristais de sal formados na superfície da água durante a produção de sal marinho nas salinas. “A crocância das escamas de sal dá um toque diferente. Elas são delicadas e têm uma textura marcante”, explica a chef, que usa o produto em finalizações de vários pratos, inclusive sobremesas. Nada exótico. Apenas para realçar mais os sabores. No campo da saúde, o cloreto de sódio (NaCl), ou sal de cozinha, tem o poder de amenizar dores, reduzir inchaços, estimular a circulação, aumentar a pressão arterial e combater inflamações. No organismo, também tem seus efeitos diretos. O sódio e o cloro, além do potássio, cálcio e magnésio, são eletrólitos, minerais que conduzem eletricidade nos fluidos e tecidos. Os rins controlam a quantidade de eletrólitos e água, regulando os fluidos que ingerimos e expelimos do corpo. Se essa quantidade estiver alterada, os músculos, nervos e órgãos não irão funcionar corretamente porque as células não conseguem gerar contrações musculares e impulsos nervosos. O sal também é responsável pela troca de água das células com o seu meio externo, ajudando-as a absorver nutrientes e eliminar resíduos. Quando há muito sódio no organismo, é preciso de mais água para diluí-lo. “A retenção de água leva ao aumento do volume do sangue circulante sem que haja relaxamento proporcional das artérias, causando o aumento da pressão arterial”, explica o médico cardiologista Alberto Almeida Las Casas Júnior.

Com a pressão mais alta, o coração precisa fazer mais força e o sangue bate com mais intensidade na parede das artérias. “Esses acontecimentos, em longo prazo, levam ao aparecimento das placas de colesterol, principal responsável pelos entupimentos arteriais, que causam derrame e infarto. A pressão alta também pode levar ao enfraquecimento da parede das artérias, ocasionando dilatações e aneurismas, que podem romper, causando sangramento”, sintetiza Las Casas. No fim das contas, a ingestão diária de sal deve ser de uma colher de chá, ou 2,4 gramas de sódio. Uma pitada a mais pode ser a gota d’água para problemas graves.

Chef de cozinha Tatiana Mendes: “Uso sal como brincadeira, só para realçar”


Lufe Gomes

Viva São Paulo

Um casarão para Madame Lili por Cristina Xavier de Almeida

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Madame Lili Wong, uma chinesa à frente de seu tempo e nascida em Xangai, trouxe a boemia e a cultura para a cidade de São Paulo nos anos 1920. Uma artista de muitos talentos, Lili é pintora, atriz e poetisa. Casada com um alemão, ao chegar no Brasil se instalou em uma casa estilo cottage de influência germânica na Rua Florisbela. A história, no entanto, não passa de imaginação. Ela é fruto da mente criativa da empresária Lilian Varella, proprietária do Drosophyla Madame Lili, que em janeiro abriu suas portas na Rua Nestor Pestana, 163, Consolação, em São Paulo, depois de 12 anos instalado na Rua Pedro Taques, também Consolação. A trajetória de Madame Lili, uma brincadeira com o nome da empresária, inspirou a decoração e o clima do bar, que mescla móveis antigos, souvenirs e objetos orientais que remetem à China dos anos 1920, em todos os cômodos dos dois andares. “Gosto de tudo em abundância”, afirma Lilian à The Book. A história de Madame Lili, de tão bem contada no site e nos flyers, convenceu muita gente de que era real. O novo endereço é também uma contribuição para a revitalização do Centro, segundo a dona do espaço. O sobrado restaurado ocupa o lugar que já foi do Velódromo Paulista e promete movimentar a região. O antigo Drosophyla foi classificado entre os 100 melhores bares do mundo pelo World’s Best Bars e ajudou a consagrar o badalado Baixo Augusta. O bar nasceu em Belo Horizonte, em 1986, e ainda atrai a clientela descolada por lá. O estilista mineiro Ronaldo Fraga é habitué do lugar com ares de “cabaret berlinense”, como descreve. Não satisfeito com a fascinante história de Madame Wong, criou a sua própria versão da trajetória da Lili real e confundiu muita gente – inclusive esta jornalista

– com suas fantasias nas redes sociais. Não deixe de provar os drinques restaurativos, com ingredientes que têm, por exemplo, propriedades analgésica e digestiva, como o Jasmineiro, feito com vodca, aperol, cardamomo, chá de jasmim e limão siciliano. Para petiscar, experimente palitos de abobrinha assados em crosta de parmesão ao molho de limão bem azedinho. Drosophyla Madame Lili Endereço: Rua Nestor Pestana, 163, Consolação, São Paulo Fone: 55 11 3120-5535 drosophyla@drosophyla.com.br

A decoração do Drosophyla Madame Lili mescla móveis antigos e objetos orientais que remetem à China dos anos 1920


Felipe Gabriel Silva

Viva São Paulo

Nino Piacere di conoscerlo por Roberta Brum, de São Paulo

Quem conhece o Nino se sente íntimo, fala dele e quer repetir o encontro. Se, de fato, Nino Cucina fosse uma pessoa, ele seria o amigo popular de espírito familiar, que recebe em casa, com ambiente aconchegante, drinks, vinho e serviria excelente comida clássica italiana. Entrar na já movimentada casa, no Itaim, em São Paulo, requer paciência. Inaugurado em setembro, o restaurante tem trabalhado com lotação máxima das suas 13 mesas e 42 lugares. O ambiente é caseiro-rústico com toque de requinte: paredes de cimento e mesas de madeira que dispensam toalhas. A cozinha se une ao bar e à sala, que tem até sofá e lareira. A experiência descontraída de comer em uma residência é a proposta dos sócios Rodolfo de Santis, chef italiano com passagem em renomados restaurantes na Itália, França e Suíça e há quatro anos no Brasil; e Renato Calixto, foodlover goiano com master em cultura gastronômica no norte da Itália. “É uma recordação dos almoços de família que tive na minha infância em Goiânia e que acontecem muito na Itália também”, comenta Renato, que reve-

la estudar para o futuro a possível abertura da casa na terra do pequi. O Nino tem ainda uma sala íntima para oito pessoas, onde acontecem reuniões, aniversários, confrarias e algumas degustações fora da carta. O apreciado chef Rodolfo (ex-Tappo Tratoria) oferece entradas irresistíveis, como berinjela à parmegiana, uma carta concisa de sete massas verdadeiramente al dente e quatro carnes com pratos clássicos e sem muito invencionismo deliciosamente executados. O carbonara, por exemplo, é estrela e já conquista cerca de 20% dos pedidos. Nas carnes, a queridinha é a vitela, que é assada no osso. A carta de vinho traz 70 rótulos com sotaque predominantemente italiano, assim como os drinks clássicos do país, como negroni, bellini, godfather e spritz. A casa recebe amigos e clientes de terça-feira a sábado para almoço e jantar, além de almoço aos domingos. O preço para três courses fica em torno de R$ 90. Grande parte dos vinhos sai, em média, a R$ 150. Almoço executivo, por R$ 44. Nino Cucina Endereço: Rua Jerônimo da Veiga, 30 Itaim, São Paulo Fone: 55 11 3368-6863 www.ninocucina.com.br

No alto, o aconchego de uma residência é o traço mais forte da decoração do Nino; abaixo, lotação máxima desde a inauguração


Quase Chef

Divina carne por Rimene Amaral

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Quando a civilização ainda usava uma clava como arma e os primeiros objetos cortantes eram fabricados de rocha, uma das funções do homem era correr atrás da caça para alimentar a família. A carne, juntamente com brotos e tubérculos, era a base da refeição do homo sapiens. Mais de 300 mil anos depois, continua sendo uma das principais iguarias que compõem a alimentação humana. Do churrasco à almôndega, do bife à brachola, do assado de caça com molhos finos ao fondue, a carne comparece em quase todas as refeições. Atrás dessa criatividade e desse paladar, The Book convidou três personalidades para preparar um prato à base de carne. A empresária da moda Cida Lobo, que comanda um fogão como poucos mortais, preparou um filé com nhoque ao molho ferrugem que fez os olhos enxergarem o paraíso. Economista, administrador e sommelier José Luis Pinheiro, idealista de comidinhas inventadas, preparou um hot de filé à moda oriental e surpreendeu tanto pela montagem do prato quanto pelo sabor inexplicável. Já o oftalmologista e especialista do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos, Henrique Rocha, reviveu os sabores de um ossobuco alla milanese que comeu no restaurante do chef Jamie Oliver, em Londres, e jamais esqueceu. Já reproduziu a receita algumas vezes para a família e, agora, para a nossa coluna. E comprovamos: é di-vi-na!


Fotografia Edgard Soares

# Cida Lobo, empresária da moda

Filé com nhoque ao molho ferrugem Ingredientes para 8 porções • 1 peça de filé • 2 cebolas • 6 pimentas de cheiro • 1 cabeça de alho amassada • 1 colher de pimenta-doreino moída na hora • 10 folhas de manjericão Preparo Primeiro, limpe o filé. Pique todos os ingredientes, misture-os, passe-os por cima do filé e leve-o à geladeira para marinar por seis horas. Depois disso, em uma panela grande, coloque 2 colheres grandes de manteiga e 1 concha de banha de porco e clarifique (deixe-a fritar). Com a manteiga quente, coloque o filé e frite-o de todos os lados. A carne deve ficar malpassada. Retire da panela e reserve. No suco da carne que sobrou na panela, jogue brócolis, couve-flor e vagem picados grosseiramente. Saltei-os com mais cebola, alho e cheiro verde. Reserve. Molho ferrugem Cozinhe sem tempero 1 kg de costela dianteira com 2 copos d’água. São seis horas cozinhando no fogão à lenha sem tampar a panela. Depois disso, desfie a carne, junte-a ao próprio caldo e misture aos legumes salteados. Montagem De volta ao filé, fatie-o com cerca de 2 centímetros de largura e acrescente molho em abundância. Acompanha nhoque de batata baroa, com o mesmo molho, e cebolas caramelizadas.


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# Henrique Rocha, oftalmologista

Ossobuco alla milanese Ingredientes para 6 porções 6 pedaços de ossobucos • 2 cenouras cortadas em cubinhos • 2 hastes de salsão cortados em cubinhos • 200 ml de vinho branco ou rosé • 1 colher de polpa de tomate • 1 litro de caldo de galinha • 2 colheres de chá de manteiga sem sal • azeite • 2 cebolas picadas • 2 dentes de alho • sal, pimenta-do-reino, noz-moscada para ralar, folhas de louro, alecrim e orégano frescos • farinha de trigo Preparo Tempere o ossobuco com pimenta-do-reino, sal, noz-moscada ralada, louro e orégano frescos. Passe os pedaços na farinha de trigo e frite-os por 15 minutos numa panela com azeite e manteiga, virando de um lado ao outro. Reserve. Na mesma panela (uma que também vá ao forno), coloque as cenouras, os salsões, as cebolas, os dentes de alho e adicione sal, pimenta-do-reino e alecrim para temperar e deixe cozinhar por 15 minutos, mexendo regularmente. Acrescente o vinho branco e deixe evaporar. Acrescente a polpa de tomate e o caldo de galinha. Retorne os pedaços de ossobuco à panela. Vede-a com papel alumínio e leve-a ao forno. Verifique durante o cozimento se haverá necessidade de adicionar mais caldo de galinha. Finalização e montagem Comece o risoto 25 minutos antes de finalizar o cozimento do ossobuco (consulte receita do risoto alla milanese no site www.thebook.is). Para servir, coloque uma porção de risoto no centro do prato, acomode sobre o risoto um pedaço de ossobuco com o caldo e sobre ele polvilhe gremolata (uma mistura de salsinha e alho frescos bem picadinhos e raspas de limão siciliano). Sirva com vinho tinto encorpado.


# José Luis Pinheiro, economista e sommelier

Hot de filé à moda oriental Ingredientes: • ½ abobrinha • 100 g de filé mignon • 10 g de manteiga • 40 g de cebola • Molho shogayaki (gengibre, shoyo e laranja) • 150 g de cream creese • 1 punhado de cebolinha Massa Farinha de trigo • Massa de tempura (feito com 4 xícaras de chá de farinha de trigo, 1 ovo e 1 litro de água gelada) • Panko (farinha de empanar) Complementos Molho vermelho • Tarê (1 medida de shoyo, 1 de sakê e 1 de açúcar) • 5 g de geleia de pimenta • Molho de ervas

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Modo de preparo Fatie a abobrinha em tiras finas e passe-as na manteiga quente rapidamente. Reserve. Pique o filé em cubos maiores e passe-os na frigideira com manteiga, cebola em tiras e molho shogayaki. Puxar na manteiga até ficar ao ponto. Bata o filé e o cream cheese e cebolinha (ou nirá) com uma faca, quase ponto de patê. Enrole esse recheio numa fatia de abobrinha, passe o enrolado na farinha de trigo, depois na massa de tempura e finaliza com a farinha de panko. Frite em óleo quente. Montagem Uma linha de molho tarê, depois molho de sete pimentas japonesas com molho de tomate. Disponha as peças, geleia de pimenta por cima, molho de ervas e finalização com tarê. Obs.: todos os ingredientes podem ser encontrados em supermercados que vendem produtos japoneses.



InstaBook Noite de lançamento

Fotos: ImageBuzz

Primeira a trazer a nova tecnologia a Goiás, a dermatologista Paula Azevedo Costa armou coquetel na Fêmina Day Clinic para lançar o aparelho de criofrequência, novidade nas clínicas de estética brasileiras. O aparelho combina duas das principais tecnologias atuais: criolipólise (congelamento das células de gordura) e radiofrequência, além de ultracavitação e eletroporação. Imprensa e convidados conheceram a máquina e ainda participaram de vários sorteios e dos momentos dedicados ao movimento popular Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama.

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No alto, Mykaelle Resende, Paula Azevedo Costa, Jéssika Campos e Elisa Carreiro; à esquerda, Paula Azevedo Costa e a blogueira Duda Jock; a dermatologista Paula Azevedo Costa com os pais, Iberê Azevedo Costa e Lúcia Leonel

Fotos: Cristina Cabral

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Palácio abre para desfile do bem A primeira-dama do Estado, Valéria Perillo, abriu o Palácio das Esmeraldas para desfile da estilista alagoana Martha Medeiros e da joalheira Silvia Furmanovich, em uma promoção da Organização das Voluntárias de Goiás e a empresária da moda Ivana Menezes. A estilista apresentou a coleção Flores, com o seu luxuoso trabalho de renda renascença. O Núcleo Social Dona Judith, que atende mais de 300 pessoas em Aparecida de Goiânia, foi o beneficiado com a renda de R$ 80 mil, arrecadada com a venda dos convites. O governador Marconi Perillo prestigiou a noite solidária e assistiu o desfile ao lado da mulher. Após a apresentação, os convidados foram recepcionados com coquetel assinado pela banqueteira Liliane Lobo, sob as famosas jabuticabeiras do palácio.

No alto, em sentido horário, o casal Marconi e Valéria Perillo com a estilista Martha Medeiros e a empresária Ivana Menezes; Isadora Dantas, Flávia Teles e Rosângela Pedrosa; Ivana Menezes, Valéria Perillo, Silvia Furmanovich, Martha Medeiros e Liliane Mota; Ana Elizabeth Picollo e Ana Luiza Frota


Intimissimi chega a Goiânia

Cláudia Ducatti com Marcelo Rosenbaum: palestra de sucesso para 100 convidados

Elton Rocha

Foi em clima de superprodução que os empresários Cristina e Cláudia Souza Leandro e Alex Rocha receberam convidados para a inauguração da Intimissimi Italian Lingerie, no Shopping Flamboyant. Representantes do Grupo Calzedonia, detentora da marca, vieram especialmente para o evento, que teve a presença da atriz Monique Alfradique e da blogueira Anna Fasano. Após a abertura, os convidados assistiram no lounge exclusivo da Intimissimi ao animado show da cantora Maria Rita, no projeto Flamboyant In Concert.

Fotos: Johny Cândido

Marcelo Rosenbaum na Casa Mix A empresária Cláudia Ducatti abriu a Casa Mix a uma palestra para 100 convidados com o designer Marcelo Rosenbaum. Nome forte do design, Rosenbaum é reconhecido por inserir a identidade cultural popular em tudo o que faz. Um exemplo é o projeto A Gente Transforma, de valorização das comunidades brasileiras por meio do design, que se tornou um Negócio Social pela Yunus Social Business. O concorrido evento aconteceu no segundo dia da Feira na Rosenbaum, organizado por Cris Rosenbaum, também nas dependências da loja, e que reuniu produtos de design assinado de várias partes do Brasil, como também de Goiânia. Por lá passaram cerca de 500 pessoas, segundo contabilizou Cláudia.

No alto, em sentido horário, Alessandra e Emmanuele Louza, do grupo Flamboyant; os sócios Cláudia Leandro, Alex Rocha e Cristina Leandro, com a atriz Monique Alfradique; a atriz Monique Alfradique e a blogueira Anna Fasano; Cláudia Leandro com Lucilene de Pádua Dutra


Edgard Soares

Onde Encontrar ANIMALE Av. Deputado Jamel Cecílio, 3300 Jardim Goiás Goiânia GO www.animale.com.br flamboyant@animale.com.br +55(62) 3594-3934 ANUNCIAÇÃO www.anunciacao.com Instagram: @mundoanunciacao Goiânia GO (62) 3213-2407 BOBSTORE Shopping Flamboyant Av. Deputado Jamel Cecílio, 3300 Jardim Goiás Goiânia GO +55(62) 3095-1587 BASTOS www.bastosmoda.com contato@bastosmoda.com +55(62) 9211-2498 BELLAVIVASSE Av. 136, nº 96 St. Marista Goiânia GO +55(62) 3251-9915

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CORI Shopping Flamboyant Av. Deputado Jamel Cecílio, 3300 Jardim Goiás Goiânia GO www.cori.com.br goiania@cori.com.br +55(62) 9687-3170 DIESEL Shopping Flamboyant Piso 3 Av. Deputado Jamel Cecílio, 3.300 Jardim Goiás Goiânia GO +55(62) 3110-5281 EMPORIUM MIX SAPATARIA Shopping Flamboyant Av. Deputado Jamel Cecílio, 3300 Jardim Goiás Goiânia GO +55(62) 3942-1758 ELEONORA HSIUNG contato@eleonorahsiung.com.br Rua 1142, n°233 Setor Marista Goiânia GO +55.62.39428400 FERNANDA MANÇO ACESSÓRIOS Facebook: fernandamancoacessorios contatofernandamancoacessorios.com +55(62) 9661-3999 FÊMINA DAY CLINIC www.feminadayclinic.com Rua 15, 1370 Setor Marista Goiânia GO +55(62) 3093-5658 | 3942-3573 | 3945-4658 GRUTA MÁRMORES E GRANITOS Av. T-9, nº 20, Jardim América, Goiânia GO +55(62) 3285-5500

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