GOIÂNIA•BRASIL- 2015 ANO III •N° 5 14R$
GARON MAIA Entrevistamos em Rondônia o exboiadeiro, irmão de Tião Maia
THE BOOK CITIES
Miami é tema de estreia do nosso caderno de cidades
COMER & VIVER
Novo caderno de gastronomia nacional e internacional
HELENA RIBEIRO
A todo-poderosa do RH brasileiro abre sua bela casa e o coração
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THE BOOK A REVISTA PARA VOCÊ LER DEPOIS.
SILÊNCIO. Diminuir os ruídos externos nos capacita a combater o maior dos males deste século: o estresse. A quietude nos reconecta com o nosso interior, aumenta a nossa capacidade criativa e produtiva e regula o nosso equilíbrio. Encontrar a felicidade sem fazer alarde dela é a contra-tendência que nos abre para o essencial
VIVA BEM. Promova o digital-detox, mantenha distância da poluição visual, sonora, de informações, mensagens, notificações e curtidas. Vá para a cama sem levar o celular; não fotografe o seu prato; faça exercícios sem ouvir música, aproveite os momentos de paz absoluta; seja mono-tarefa, faça uma coisa de cada vez; tenha menos razão; aproveite o tempo para ler conteúdos de qualidade
Editorial
CAPA
Helena Ribeiro, empresária Fotografia | Edgard Soares
Além-fronteiras por Adevania Silveira Voar alto e cada vez mais longe é um dos preceitos que procuramos exercitar na The Book. Nos esforçamos para vencer barreiras, físicas e imaginárias – estas, talvez, as mais resistentes –, para, a cada edição, oferecer algo criativo, fresco e diferente. O leitor já deve saber que somos uma revista com vocação para contar boas histórias. E o mundo está repleto delas. Seja de gente famosa ou anônima. Cada universo tem as suas cores, os seus atrativos, as suas nuances, a sua verdade e a sua memória. Como a vida do ex-boiadeiro e ex-aviador Garon Maia, que reside hoje em uma fazenda no Sul de Rondônia, em plena Amazônia Legal. Nossa equipe foi até lá para conhecer a história deste homem de sobrenome poderoso no mercado pecuarista brasileiro, mas que nos ensina muito sobre simplicidade, discrição e, por que não, negócios. Uma delícia de reportagem que conseguimos realizar graças ao empenho do empresário Marcos Caramuru, de Vilhena (RO), que cuidou de toda a logística da nossa viagem até a fazenda. Tão inspiradora quanto, trazemos a emocio-
nante história da empresária da moda Ivana Menezes. Prepare o seu coração, eu adianto. Novidades? Muitas, entre elas dois cadernos que estreamos de uma vez só: o The Book Cities e o Comer & Viver, sobre gastronomia nacional e internacional – olha aí de novo a gente cruzando fronteiras! Tudo do jeito que sempre fazemos para você, com muita qualidade e honestidade.
Marcos Caramuru, Garon Maia, o nosso entrevistado, e eu, na Fazenda Ivyporã, no Sul de Rondônia
Maria Thereza A. Veiga
Leandro Pires
Roberta Brum
Adevania Silveira
Report
Patrícia Moraes Quinan
Bruno Bizerra
Rimene Amaral
Edgard Soares
Kleyson Bastos
Marília Flaury
Guilherme Venditti Lucíola Correa
Roberta Klein
Kai Kreutzfeldt
Mr. Book
EDIÇÃO GERAL MARKETING CONSELHO EDITORIAL REPORTAGEM COLUNISTAS FOTOGRAFIA COLABORAÇÃO
DESIGN GRÁFICO E ILUSTRAÇÃO REVISÃO JORNALISTA RESPONSÁVEL DEPARTAMENTO COMERCIAL PROJETO GRÁFICO REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIAS
Adevania Silveira | adevania@thebook.is Roberta Brum | roberta@thebook.is Adevania Silveira, Roberta Brum, Leandro Pires, Edgard Soares e Rimene Amaral Adevania Silveira, Branca Simpson, Cristina Xavier de Almeida, Kai Kreutzfeldt, Leandro Pires, Mr. Book, Marília Fleury, Patrícia Moraes Quinan e Rimene Amaral Bruno Bizerra, Guilherme Venditti, Lucíola Correa, Maria Thereza Alencastro Veiga, Roberta Brum e Roberta Klein Bruno Contin, David Paul Vargas, Edgard Soares, Enio Tavares, Ebert Calaça, Junior Moritz, Johnathan Mateus, Lufe Gomes, Marcus Camargo, Rimene Amaral e Wellington Nunes Ana Simiema, Betânia Dourado (Mega Model), Branca Simpson, Bruno Bizerra, David Paul Vargas, Edgard Soares, Enio Tavares, Guilherme Venditti, Junior Moritz, Johnathan Mateus, Kleyson Bastos, Kai Kreutzfeldt, Lufe Gomes, Leandro Pires, Lucíola Correa, Marcus Camargo, Marília Fleury, Maria Thereza Alencastro Veiga, Patrícia Moraes Quinan, Roberta Klein, Roberta Brum e Rimene Amaral Wendel Reis Fátima Tolêdo | mftcomunicacao.toledo@gmail.com Adevania Silveira | 964JP-GO comercial@thebook.is Zebrabold Rua Prudente de Moraes, Qd. 43, Lt. 5, Parque Anhanguera, Goiânia, GO, CEP 74 340-025 | 62 30 87- 7980 | 62 9972-1772 | adevania@thebook.is
“Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” | João 14:6 The Book é uma publicação da Celeiro Editora Eireli. The Book não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam no expediente não têm autorização para falar em nome da The Book ou retirar qualquer tipo de material
Enio Tavares
Arte
O menino multimídia por Marília Freury
No quarto de Hector Ângelo, a arte ganha pernas, sobe pela parede e alcança o teto. Nas estantes, uma infinidade de bonecos e de carrinhos faz imaginar que eles aguardam o momento de se transformarem em personagens de suas histórias. Lápis de cor, canetinhas e outros itens utilizados pelo artista/escritor estão organizados em copos e cestos de papel personalizados com seus desenhos expressivos e vibrantes. O desenho na parede representa um menino pensando na vida. A vida é a figura de uma mulher bonita e tem coisas tristes e alegres, como ele já aprendeu nos seus sensíveis 12 anos. Os desenhos escapam pelo corredor em varais com sacos plásticos, alcançam a sala em almofadas e o hall num desenho emoldurado. Garoto prodígio, escreveu e ilustrou seu primeiro livro, A Girafa que foi ao Espaço, em menos de 30 minutos, aos 7 anos. Decidido, pediu aos pais para que fossem feitas 100 cópias para lançar o livro e colocá-lo à venda. Daí para cá, segundo a mãe, a publicitária Isadora Soares de Melo, “ele só foi piorando”. Aos 8, escreveu Maricota à Procura de Sapatos, que inspirou uma peça de marionetes; aos 10, veio A Transformação de Joca e, aos 11, 4 Stars – Um Fenômeno Pop, acompanhado de clipe da música Fama, feita por ele para as personagens. O personagem do livro A Transformação de Joca e as cantoras de 4 Stars já se transformaram em bonecos na empresa paulista Atelier de Brinquedos. Hector criou o projeto Arteiro do Bem, que pretende espalhar pelo Brasil; foi aluno de uma oficina de roteiros; já fez palestras e sessões de autógrafos em feiras literárias, escolas, universidade e livrarias; estrelou campanhas publicitárias; faz cursos de animação e teatro; cursa o 8º ano do ensino fundamental; escreve no blog dele (escritorhectorangelo.blogspot.com) e
no blog do site Digestivo Cultural e (ufa!) ainda assina uma linha de produtos do Espaço Lucas Adorno, no Shopping Bougainville. Ah, esqueci: ele também desenha nas páginas Criative Desenhos e Criative Croquetes. Sessão relax e fissura atual: assistir à série Once Upon a Time e os filmes Frozen e Maleficent. Mais observador que falador, Hector cria situações e vai juntando tudo até virar um personagem ou história. Desse mix, surgem as cantoras virtuais, os personagens dos contos de fadas e das histórias em quadrinhos, tratando de questões atuais em lugares imaginários. E os desenhos, muitas vezes inspirados em livros, atrizes e quadros de pintores famosos. Para ele, ilustração e escrita se complementam. O escritor Hector precisa desenhar seus personagens para que eles ganhem vida em histórias originais, como Depois do Final Feliz, seu próximo livro, que retratará a vida das princesas após o encontro com o príncipe encantado. Talento como estilista? Ele também tem. Reparem nos modelitos de seus personagens. E crise criativa, nem pensar! Hector desconhece esta expressão. Tranquilo e seguro, acha fácil o fazer criativo, quer ver Goiânia transformada em capital cultural do Brasil, engatilha uma exposição de sacolas e, aos 20, espera já ter realizado um filme, feito uma exposição em alguma galeria ou museu importante e estar escrevendo uma novela para uma emissora de TV. Viver da arte. Alguma dúvida de que ele consegue?
Hector Ângelo exibe a coleção de bonecos criada por ele e produzida pela empresa paulista Atelier de Brinquedos
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Neste NĂşmero
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Marcus Camargo
News
Arte para sentir
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Chove sem parar
Maria Célia Siqueira
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A inquietude do designer Marcus Camargo costuma produzir ótimos frutos. Foi ela que o levou, recentemente, a expandir a base do seu trabalho – desenho manual estampado em tela, papel, tecido e parede - para um novo suporte que resultou em uma série de desenhos táteis. O processo se inicia de forma natural, com desenho no papel, depois é transformado em arquivo digital para ser reproduzido na técnica do recorte a laser, feito em laminado de papel metálico. Para esta primeira série, o designer elegeu dois desenhos que, posteriormente, recebem molduras. A tiragem é limitada em 15 pares, numerados e assinados. Mas se você ficou interessado(a), terá de aguardar novas tiragens. O trabalho fez tanto sucesso que se esgotou em pouco tempo. Marcus Camargo prepara novas experiências visuais com essa técnica inusitada para o seu desenho. Os trabalhos podem ser adquiridos diretamente com o artista, que também vende peças autorais de design e telas na AZDecor.
Lançada em março na loja da Decameron, em São Paulo, a coleção Chuva, do arquiteto e designer Leo Romano, foi um sucesso. Com desenho autoral e delicado, Leo se inspirou em gotas de chuva para criar um conjunto de mesas laterais, de centro e de jantar, aparadores, bancos e espelhos. Os pés, que remetem às gotas d’água, são produzidos por meio de torno manual. “Os tampos são laminados de maneira a parecerem o mais fino possível e se unem aos pés por linhas contínuas, dando a impressão de se tratar de monoblocos esculpidos”, explica Leo, que em maio participa pela primeira vez da Casa Cor São Paulo. A diversidade natural da madeira e a mão de obra aplicada tornam cada peça única, um objeto vivo. Em breve, a coleção estará nas vitrines das grandes concept stores do País.
Júnior Moritz
O blood pop da BASTOS
Blog da MT está no ar Escrever, para a advogada Maria Thereza Alencastro Veiga, é tão vital quanto respirar. Sobre qualquer assunto e a qualquer hora. Antes de contar com a tecnologia a seu favor, escrevia em caderninhos, dezenas deles, que iam ganhando a gaveta. Mais recentemente, descobriu “por acaso” o Instagram e, intuitivamente, deu novo sentido à rede social destinada originalmente a postagens de fotos, publicando textos enxutos e deliciosos. As curtidas e comentários se multiplicaram instantaneamente e, em pouco tempo, o número de seguidores, todos rendidos pelo estilo solto de suas crônicas, que podem falar tanto do convívio com os netos quanto da política brasileira, vida a dois, separação ou temas jurídicos. A The Book também, apaixonada por seus escritos, convidou-a para colaborar com o site e a revista. Em março, MT, como a trata os amigos, ganhou mais um espaço para expressar suas ideias, o Blog da MT, que, é claro, já é sucesso absoluto. Espia lá: blogdamt.com.br.
Divulgação
A marca masculina BASTOS buscou inspiração nos relacionamentos amorosos turbulentos, no ego exaltado e na loucura de reis e rainhas da pop music para criar a sua coleção Inverno 2015 e, assim, vestir “anônimos famosos” do mundo real. Com estamparia digital exclusiva, a grife traz o colorido, as repetições da pop art de Andy Warhol e a estética da colagem. Com o conceito de misturar alfaiataria e streetwear, apresenta modelagens amplas e recortadas, possibilitando vestir também as meninas, segundo o diretor criativo Kleyson Bastos. A marca ganhou projeção nacional ao vestir gente famosa como o repórter Caio Braz, do GNT Fashion, e os cantores Mateus Carrilho e Davi Sabbag, da Banda Uó. A BASTOS também foi referência de estilo na revista Moda, de Joyce Pascowitch.
Ponto de Vista
O homem cordial por Maria Thereza Alencastro Veiga
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O “homem cordial” é um conceito desenvolvido pelo historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil, publicada no ano de 1936, por meio do qual o autor destaca a importância da herança cultural da colonização lusitana no Brasil, reforçada por traços das culturas negra e indígena. Acontece que muitos que ouviram falar do livro se confundiram: tomaram como elogio a qualificação, quando na verdade era uma alcunha que terminaria por traçar o destino deste País de tantas possibilidades e tão poucas realizações. Como já bem acentuou Oscar Pilagallo, jornalista e escritor, o “homem cordial” descrito por Buarque na verdade designa um homem individualista, afeito ao paternalismo e ao compadrio, que é arredio à disciplina e que desobedece às regras sociais, ou seja, um homem com características avessas ao perfil adequado para a vida civilizada numa sociedade democrática. “Cordial”, como usado por Buarque, referia-se a “coração” (referente a ou próprio do coração) e não a polidez. Mais que isso, Buarque, no livro, aponta a extensão da equivocadamente louvada cordialidade da vida privada para a vida pública como o fator que desmantela as possibilidades de construção de uma sociedade organizada em direção ao benefício do público e não em benefício do privado. Segundo Pilagallo, a atitude se manifesta até na linguística, “com o nosso pendor acentuado para o emprego de diminutivos”. Ele arremata dizendo que se tal expressão já existisse em 1936, Buarque de Holanda certamente teria falado no “jeitinho brasileiro”. Mas me lembrei de mais: lembrei-me de Thomas Jefferson, Niall Ferguson (Civilização – Ocidente x Oriente) e Zygmunt Bauman (Europa: Uma Aventura Inacabada).
Lembrei-me de Thomas Jefferson e de seu profético temor de que o futuro da América Latina, papista e dogmática, fosse constituído de uma sucessão de fracassos políticos, já que nós jamais conhecemos a tradição anglo-saxônica de viver em liberdade, inclusive porque sequer fomos obrigados a escolher, conscientemente, nem mesmo entre várias denominações religiosas, enquanto é exatamente o poder de escolha o fundamento da democracia. Ferguson e Bauman, por seu turno, discutem a influência da igreja protestante no extraordinário avanço dos Estados Unidos como potência mundial e creditam tal situação a esta doutrina e à atribuição de responsabilidades individuais e obrigações aos que a seguem. Eles não o fazem, mas eu completaria dizendo que atribuição de responsabilidades é algo muito diferente da simples “culpa” que se exime com penitências simples e não com mudança de atitude. Pensei isso quando subi a Rua 85 em direção à Polícia Federal, na diminuída manifestação do dia 12 de abril: o problema do Brasil não é falta de potencialidades, muito menos a corrupção, que é endêmica desde 1500, ou a péssima qualidade de nossos governantes. O problema do Brasil é o povo brasileiro, que insiste em “deixar como está para ver como fica” e, se não ficar bom, se dá um “jeitinho”. Nós já perdemos o trem da história? Ainda tem jeito?
*Maria Thereza Alencastro Veiga é advogada e nas horas vagas faz programas divertidos com os netos. Você também pode lê-la no site www.thebook.is
Fazendo parte da sua vida! Av. T-12, nยบ20, Setor Bueno -
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O artista goiano Mårcio Mendanha de Queiroz, o Kboco, imprime sua marca em Goiânia
E o cerrado virou Kboco Na árida paisagem de Goiânia, a arte de Márcio Mendanha de Queiroz surpreende com suas formas geométricas, linhas arquitetônicas e curvas sinuosas, fazendo fluir um rio de poesia na sua cidade de origem por Marília Fleury
O cerrado é assim: meio vazio, árido, quente. E cheio de surpresas, de espécies variadas de vegetação, de árvores retorcidas de folhas duras, rascantes ao tato. E de abundantes tons de verde, muitos marrons e sedutores ipêsamarelos, rosas, brancos, roxos... Goiânia é uma capital de história recente, construções mais modernas, construções antigas que ainda não sucumbiram ao mercado imobiliário, muitos, muitos prédios e, por vezes, uma impactante arte urbana. Você vem andando/dirigindo pelo Centro ou pelo Setor Sul e, de repente, se surpreende com murais de formas geométricas, linhas arquitetônicas, elementos de culturas ancestrais, curvas sinuosas, cores contidas e terrosas quebradas por um ensolarado amarelo, um dramático preto ou um pulsante azul cobalto. Se espanta também com um poético rosa. E com uma sobriedade, um esmero técnico não habitual na arte que se vê no espaço urbano. É o Kboco, que imprime sua marca particularíssima na sua cidade de origem, por meio do projeto Base Central, realizado com o parceiro de longa data, Santhiago Selon. Há
um rigor formal ali e, ao mesmo tempo, uma impressão de facilidade, de leveza, de água corrente que desliza mundo afora. Fluidez. Márcio Mendanha de Queiroz, o Kboco, não por acaso, utiliza palavras como fluxo vital, processo natural, espontaneidade, equilíbrio, para falar de sua arte e trajetória como artista plástico, profissão escolhida com lucidez e intensidade e que significou também muita batalha, muita experimentação, muita pesquisa. O fato de Márcio Mendanha de Queiroz se transformar no Kboco, com participação em Bienais, individual na Art Basel, na Suíça, exposições em Nova York, Portugal, Inglaterra, França, México e Espanha, objeto de artigo científico e personagem real do livro Sertão Nômade, da crítica de arte Maria Hirszman (Goiânia: Editora UFG, 2013, 236 p.), no entanto, aconteceu como um processo natural da vida. “Tudo foi muito espontâneo e, sem grandes planejamentos, foi fluindo e, quando me dei conta, já era um Kboco”, diz o artista, que há uma década vive em São Paulo. Na capital paulista, onde desembarcou aos 26 anos, integrou o grupo da Choque Cultural até chegar à tradicional Galeria Marília Razuk.
Edgard Soares
Base Central
22 23 O conhecimento técnico inicial se deu em Goiânia, num curso de desenho que incluía história da arte. O espaço urbano, segundo ele, era vitrine, sala de reunião, lugar onde as coisas efetivamente aconteciam, o que significava também reconhecimento e fonte de renda. O nomadismo que o levou a Olinda, Porto Alegre, São Paulo e Santiago, no Chile, entre outros lugares do planeta aguçou sua percepção de que, dentro da arte, existem muitas ramificações e que algumas expressões artísticas são vendáveis; outras, não. E que, para fazer da arte também uma fonte de renda, é fundamental um apuro técnico constante, resultante da necessidade de expressar uma sensibilidade estética urgente e incontrolável, com a convicção de que está tudo interligado no universo, ligação essa que se reflete também no fluxo de ideias e no fluxo vital de tudo o que está vivo. Afinal, quem é Kboco? Um cara que humaniza a geometria e usa um número reduzido de cores aliado a tonalidades impuras? Que usa arabescos, círculos, linhas retas, curvas suaves, engrenagens, num mix cheio de minúcia e argúcia? Que aglutina, com precisão, ancestralidade e modernidade? Que cria um abstracionismo
concreto e decifrável? Que percebeu a potência de fazer um trabalho à margem do circuito de arte e de usar todos os suportes e todas as referências de seu(s) universo(s) para chegar a uma linguagem única, em ininterrupta e inevitável mutação? Por que não? Caboclo esperto, Kboco recusa rótulos, diz que tudo está em constante diálogo e que é possível usar vários suportes para a sua arte, desde muros, pistas de skate, papéis, telas e até uma tenda de umbanda, um espaço tão nobre quanto qualquer outro. O fato de se considerar um ser “livre e solto pelo sertão” pode explicar o caráter múltiplo de sua obra, plena de ícones de culturas diversas. Instalações, paisagismo, fotografia? Tudo é continuação, ligação, expressão e registro. Veredas. Sabedor de que quebrar padrões nunca é simples em nenhuma atividade humana, mas que é possível fazer arte dentro e fora do circuito, Kboco tem a convicção de que é preciso fazer muito, muito mesmo, além de possuir uma visão um pouco além do alcance, “para poder enxergar melhor mais para frente”. E de forma contínua, pois, como ele diz, “sertão e mundo estão sempre interligados e se abastecendo”, assim como ele se abastece e reabastece nesses universos. Livremente. E se não é possível etiquetar o mundo, também a arte de Kboco escapa dos estereótipos e se derrama por aí, numa organização transgressora, usando suportes que se complementam e se alternam em constante retroalimentação. Se inicialmente a rua era o lugar de experimentação sagrada e de relaxamento, atualmente esse lugar é o estúdio, o que não exclui a vontade de concretizar outros projetos ligados ao espaço público, como o Base Central, apoiado pelo Fundo Estadual de Arte e Cultura e patrocinado pela empresa Mills, encerrado com exposição de 18 fotos clicadas por ele, Ebert Calaça e Iago Xavier, na Livraria Fnac, em dezembro passado. Para Kboco, os murais dessa intervenção urbana, cuja essência ele pretende levar para lugares remotos do Brasil e do mundo, foram uma espécie de presente para a cidade e seus habitantes. Um desejo do Kboco? Pintar muito pelo sertão. O sertão vai virar mar? Ah, periga mesmo é o sertão virar Kboco.
Nas duas páginas, obras do projeto Base Central executadas nas ruas da capital goiana por Kboco e Santhiago Selon. Imagens captadas por Ebert Calaça integraram exposição na Fnac Goiânia Fotos: Ebert Calaça
UM DESEJO DE KBOCO? PINTAR MUITO PELO SERTÃO
Medicina
O observador da arte doente
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Professor e neurocirurgião Ledismar José da Silva tem o curioso hábito de pesquisar patologias por meio das obras de grandes mestres da pintura e dos personagens de desenhos animados 24 25
por Mr. Book
O que faz um apreciador de arte em um museu, além de observar atentamente o jogo de luz e sombra, os traços realistas e a perfeição de pinceladas de mestres irretocáveis do Renascimento? Se o visitante de ocasião for o neurocirurgião goiano Ledismar José da Silva, ele está procurando doença sobre tela – ou madeira. Isso mesmo! Ele faz périplos pelos mais importantes museus da Europa e dos Estados Unidos para identificar nas obras de arte doenças que há séculos já desafiavam a medicina, mas muitas ainda não haviam sido classificadas. O exemplo mais clássico que Ledismar relata é a tela As três graças (1639), do pintor alemão Paul Rubens, na qual ele retrata sua mulher e irmãs com a Síndrome da Hipermobilidade – distúrbio hereditário caracterizado pelo aumento anormal das articulações, incluindo a coluna em forma de S, claro sintoma de escoliose. “Os pintores retratavam a realidade e eram fiéis aos modelos. Isso permite, após tanto tempo, que façamos diagnósticos de patologias que na época não eram conhecidas”, diz o neurocirurgião.
O interesse de Ledismar em procurar doença na arte se manifestou durante a realização de seu mestrado em gerontologia, ao elaborar a dissertação Reflexões sobre o envelhecimento e os processos criativos na maturidade a partir dos autorretratos do pintor holandês Rembrandt. A partir de então, não mais parou. “Além da aprendizagem pessoal, utilizo os exemplos para ministrar minhas aulas na universidade.” O médico afirma que em todo período da história da humanidade (neolítico até o nosso século), existem trabalhos relacionando arte e medicina, mas a Renascença é o mais rico e dramático deles – por isso seu preferido. É também de Rembrandt O banho de Betsabé (1654). Acervo do Louvre, o óleo sobre tela retrata Betsabé nua – na verdade, a modelo Hendrickje Stoffels, mulher do pintor –, em profundo momento de tristeza em função do câncer na mama, diagnosticado (por um cirurgião italiano) na obra pela retração da pele,
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Enio Tavares
assimetria e alteração de cor. Além do holandês, o italiano e representante maior do Barroco, Caravaggio, é outro artista que chama a atenção do médico. É dele a obra A conversão de São Paulo, na qual o personagem da tela estaria tendo um ataque epilético. E os estudos de Ledismar não estão concentrados somente entre as paredes de museus como o Metropolitan, de Nova York; o Prado, de Madri; o Louvre, de Paris, ou o Rijksmuseum, de Amsterdã. Os desenhos animados são também fonte de observação do médico. Por exemplo, quem acha que Bob Esponja, personagem do desenho animado homônimo – criado em 1986 pelo biólogo marinho e animador americano Stephen Hillenburg –, é chato, não sabe, na verdade, que o coitado é doente. Pegajoso, e na maioria das vezes inconveniente, ele é portador da Síndrome de Williams, patologia descrita pelo cardiologista neozelandês John Williams, em 1961, como uma desordem genética caracterizada pela facilidade exagerada de se relacionar com outras pessoas, excesso de simpatia e intensidade emocional. Assim como a personalidade, o biotipo da cansativa esponja amarela também apresenta os sinais da disfunção: a face achatada, as grandes íris azuis, nariz curto, grosso e arrebitado e dentição escassa, porém exageradamente grande, em boca igualmente avantajada. Outro personagem considerado herói pela sua incansável disposição em socorrer a amada Olivia Palito das garras do troglodita Brutus, padece de um mal. Popeye, criação do escritor Elzie Crisler Segar, inspirado em um amigo, adquire forma descomunal ao ingerir espinafre. A hipertrofia na região anterior do braço deu
origem ao termo Sinal de Popeye: o aspecto morfológico advindo da rotura do tendão da cabeça longa do bíceps propicia a ocorrência de tendinite e degeneração tecidual. Em mais de 70% das roturas totais do tendão originado da cabeça longa do bíceps braquial, o paciente apresenta um “caroço” na superfície anterior do braço. Além de utilizar suas pesquisas, desenvolvidas a partir de literatura especializada, em sala de aula, Ledismar as publica em suas redes sociais. Por exemplo, a obra de Oppenheim, Nascimento de Atenas (1618), representação do primeiro procedimento neurocirúrgico de que se tem registro, narrado na Teogonia de Hesíodo (séc. VIII a.C). Zeus, acometido de violentíssima dor de cabeça, rogou a Hefesto que lhe fendesse a cabeça com o machado. Mal recebeu o golpe, saiu-lhe do cérebro, armada de todas as suas peças, a filha Atena, nova encarnação da sabedoria e razão. (Neurologia e Neurocirugia na Arte, Sebastião Gusmão).
Acima, o médico Ledismar José da Silva; as obras A conversão de São Paulo, de Caravaggio (E), e As três graças (1639), de Paul Rubens (D)
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A supertasker do Cerrado Conectada a um poderoso grupo nacional de lideranças femininas, a empresária goiana Helena Ribeiro quer ter mais tempo para si, sem perder de vista a ousada meta de faturar R$ 1 bilhão até 2020 26 27
por Adevania Silveira
No final de janeiro, ao reunir os amigos em sua cobertura, no Setor Marista, para celebrar os 55 anos, Helena Barbosa Machado Ribeiro aproveitou para contar a eles seu projeto pessoal para 2015: iria desacelerar. À frente da maior empresa brasileira de RH em faturamento – o Grupo Empreza, fundado e presidido por ela há 26 anos, com 28 filiais no País e escritório em Miami –, o desejo da empresária é conciliar mais tempo para si e a família. Os sinais do empenho em adotar um estilo de vida mais light podiam ser notados no seu perfil do Instagram desde dezembro passado, onde Helena apareceu em posts de absoluto dolce far niente. A empresária diminuiu a carga horária na empresa, aceitou convite da colunista social Ivone Silva para integrar uma confraria de mulheres com as quais se diverte falando só sobre “assuntos de mulherzinha”, pretende se submeter a tratamentos estéticos, que sempre adiou, e planeja reunir os amigos com mais frequência em sua chácara no município goiano de Anápolis para cantar no karaokê. “Sonho ter mais tempo
para mim e a minha família”, revela a empresária, casada, mãe de dois filhos, que adora interpretar canções de Elis Regina. Para uma mulher como Helena, tirar o pé do acelerador faz muito sentido. Com perfil de supertasker, profissional capaz de executar diversas funções ao mesmo tempo, delega a si mesma uma agenda bastante apertada. Além do Grupo Empreza, preside o Comitê Estratégico Business Affairs Committee-Amchan Goiânia, a Oqualif-OSCIP, que qualifica jovens no primeiro emprego; é conselheira do Winning Women Amcham – Brasil; diretora da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás; e presidente da Mantenedora da Faculdade Esup, conveniada FGV em Goiás, e do Lide Mulher Goiás.
Fotografia Edgard Soares
Helena relaxa na varanda de sua cobertura, onde costuma receber os amigos
28 29 Se ainda fosse pouco, integra o Mulheres do Brasil, grupo que reúne 120 executivas e empreendedoras de todas as partes do País, que tem à frente a todo-poderosa Luiza Helena Trajano, dona da rede varejista Magazine Luiza. Mensalmente, Helena tem encontros com empresárias do calibre de Ana Claudia Giardini, do JP Morgan; Andrea Chamma, do Bank of America Merril Lynch; Andrea Figueiredo Teixeira Álvares, da Pepsico Brasil; Claudia Sender, da Tam; Denise Pauli Pavarina, do Bradesco; Maria Lilian Leandro, do Itaú; Chieko Aoki, da rede de hotéis Blue Tree; e Janete Vaz e Sandra Costa, fundadoras do Laboratório Sabin. No final do ano passado, a convite da presidente Dilma Rousseff, que tentava uma reaproximação com o setor empresarial, o grupo almoçou no Palácio da Alvorada. Especializado em prover soluções em executive search, mão de obra temporária, terceirização de processos de serviços e educação executiva, o Grupo Empreza movimenta 106 mil funcionários diretos e indiretos, com salários que variam de R$ 800 a R$ 1.500, o que totaliza uma folha de pagamento de R$ 17 milhões. Helena e os sócios Sayonara Bro-
Disposta a ter mais tempo para si e a família, Helena diminuiu o ritmo do trabalho. Seu desejo é aproveitar mais a vida
therhood e Luiz Antônio Ribeiro, seu marido, comandam o negócio, que tem como clientes empresas como Vivo, Oi, Apple Store, Pão de Açúcar, C&A, Walmart, Leroy Merlin, Kraft Foods, entre outras gigantes. Entre 2012 e 2013, o grupo ocupou o primeiro lugar no ranking das 250 pequenas e médias empresas que mais crescem no País nas regiões Centro-Oeste e Norte e nono lugar no ranking nacional, em pesquisa realizada pela Deloitte e revista Exame PME. Desde 2012, mantém parceria com a Allegis Group Services (AGS), uma das líderes mundiais em gestão da força do trabalho. Helena quer diminuir o compasso, mas não pensa em aposentadoria tão cedo, ao contrário, diz ter muito trabalho pela frente. Sua próxima meta é audaciosa: até 2020, elevar o faturamento a R$ 1 bilhão. Os ventos sopram a favor. Ano passado, faturou R$ 354 milhões, R$ 4 milhões a mais do previsto. “Acertamos na mosca”, comemorou a empresária dias antes de viajar para Cancún, no México, na companhia de executivos da empresa, para semanas de lazer. Para atingir o objetivo, Helena estuda distintos caminhos: a abertura do
“MINHAS IRMÃS TINHAM HERANÇA. EU NÃO, ERA FILHA DO FORASTEIRO POBRE” grupo para a Bolsa de Valores (que já obteve sinal verde do Bovespa Mais), vender um pedaço da empresa ou mesmo adquirir outros negócios. Que ninguém duvide da força da executiva. Helena tinha apenas 29 anos quando criou o Grupo Empreza. Formada em Psicologia, ainda na faculdade, iniciou estágio no Departamento de Recursos Humanos do jornal Diário da Manhã. A partir dessa experiência, teve certeza do que iria fazer. Aos 23 anos, como coordenadora de Recursos Humanos de uma empresa de tecnologia e informática, acabou desenvolvendo uma espécie de escola modelo de formação de profissionais. O passo decisivo veio em seguida: Helena concorreu à vaga e foi escolhida entre 30 candidatos para contratar e treinar os futuros funcionários do
“SÓ TIRO O SALTO PARA CORRER PARA A FELICIDADE” Castro’s Park Hotel, que na época estava sendo levantado em Goiânia. Paralelamente ao trabalho no Castro’s, fez pós-graduação em gestão de RH, na Fundação Getúlio Vargas, de Brasília. Para o projeto final, entrevistou donos e gerentes de hotéis de luxo de todo o País para saber como treinavam os funcionários e terminou desenvolvendo um modelo de gestão para o setor hoteleiro. A experiência levou-a ao que é hoje o Grupo Empreza, com o “z” inspirado no livro de motivação pessoal Zapp!, muito popular entre os profissionais de RH. Helena é casada pela segunda vez com Luiz Antônio, que conheceu durante a fase no Castro’s, e com ele teve Isadora, 16, que em agosto próximo vai para a Suíça estudar Gestão em Empresas Familiares. Do primeiro casamento, a empresária tem João Pedro, 22, que acabou de concluir os estudos em empreendedorismo na Stanford University, nos Estados Unidos, e está sendo preparado para a sucessão da empresa. A empresária costuma repetir que “foi cunhada para não dar certo”. Explica: nasceu em uma fazenda no município goiano de Carmo do Rio Verde, filha de um “forasteiro pobre” e uma jovem mãe viúva com quatro filhos pequenos. Aos três anos, Helena, os pais e a irmã mais nova do primeiro casamento se transferiram para Teresópolis, no Rio de Janeiro, onde ela viveu até os 11 anos. Lá frequentou a escola e adquiriu o gosto pela leitura e matemática. “Aprendi a ler aos 5 anos. Meu pai sempre me dizia que eu tinha de estudar.” Após a separação dos pais, mãe e filhas se mudaram para Goiânia, onde Helena continuou os estudos. “Minhas irmãs tinham herança, eu não. Era filha do ‘forasteiro pobre’. Então, decidi que tinha de construir. Hoje, cuido de todos”, afirma. Erguer uma empresa líder de mercado, reconhecida como um dos maiores players nacionais no seu segmento, sem perder de vista
Na página ao lado, Helena no Helena descansa living decorado apoiada na banqueta comdemobiliário Stone, Philippe renomados Starck,de para Kartell: designers; “Aqui é onde gosto dee relaxando na ficar para ler meus varanda livros e revistas”
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Na outra página, a empresária exibe a coleção de sapatos, sua paixão; sentada no banco Marquesa, de Oscar Niemeyer, da Etel para Armazém da Decoração; nesta página, Helena aprecia a vista da varada da cobertura
a criação dos filhos, os cuidados diretos com a casa e a vida conjugal, é motivo de orgulho para a empresária. Para ela, vencer em um ambiente ainda predominantemente masculino não foi fácil, mas benéfico. Deu-lhe mais segurança para enfrentar outros desafios. Em casa, Helena faz questão de comandar as atividades da cozinha, supervisionando o cardápio e as compras e encomendando flores para decorar os ambientes. “A cozinha é meu território”, avisa sempre ao marido, que considera um “grande companheiro”. A Luiz Antônio procurou delegar as tarefas relacionadas aos filhos, especialmente quando ainda eram pequenos. Só não abria mão, por exemplo, de acompanhar a filha às idas ao médico, que vê como um papel exclusivo da mãe. “Hoje estou mais relaxada porque meus filhos cresceram, estão independentes.” O segredo para conquistar essa harmonia, segundo Helena, foi compartilhar bem os papéis, sem medir forças. “Sou muito prática e delego aquilo que é mais fácil ao homem executar”, ensina. Quando está em casa, à noite, gosta de ler e tomar vinho na companhia do marido. Adora ir a bons restaurantes e costuma atender
a maioria dos convites para eventos culturais na cidade. Vaidosa, agora que pretende reservar mais tempo para si, espera poder fazer suas compras sem a correria de antes. “Compro roupas quando estou em Miami, que é quando tenho mais tempo”, conta. Para vestir, é bastante eclética. Combina artigos de grandes maisons com outros de lojas de departamento – como a norte-americana White House Black Market, uma de suas preferidas – e caftans comprados na Indonésia. Das grifes nacionais, coleciona peças de Patrícia Bonaldi, Iódice e Martha Medeiros, de cuja dona é amiga pessoal. Já os sapatos, uma de suas paixões, Helena os exibe como troféus em seu closet. Com pouco mais de 1,50 metro de altura, dá preferência às plataformas, que considera confortáveis e compensam a baixa estatura. “Só tiro o salto para correr para a felicidade”, diz, bem-humorada, a gigante do RH brasileiro.
Promobook
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Wellington Nunes
Prêmio Sebrae
Bordados que inspiram A bordadeira Milena Curado de Barros, 40, fundadora da Cabocla Criações, no município turístico Cidade de Goiás, mais conhecido como Goiás Velho (GO), espera que o trabalho social que a levou a ganhar, em março, o prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria Microempreendedora Individual, inspire outras pessoas de que vale a pena investir na mão de obra de detentos. O projeto Cabocla - Bordando Cidadania contempla 20 detentos que trabalham na produção de bordados, que são transformados em peças de vestuário e decoração criadas pela empreendedora. Semanalmente, a bordadeira vai à cadeia ensinar a arte do bordado aos participantes do projeto e, com base na Lei nº 7.210/1984, que regula o funcionamento dos presídios e o trabalho dos presos, e na Lei de Execução Penal (nº 12.433/2011), cada um deles decide a quantidade de peças que bordará. O pagamento é feito por produção, à vista, e varia conforme o tamanho e complexidade do desenho. Os detentos têm também a remissão da pena com o trabalho (três dias de serviço equivalem a um a menos na reclusão). Formada em Gestão Pública, Milena aprendeu a bordar com a avó materna, Wanda, aos 8 anos. Em 2005, ao enfrentar uma crise financeira, ela e a mãe passaram a fazer roupas de algodão cru com a aplicação dos bordados para complementar a renda. A produção era vendida em lojas da cidade em sistema de consignação. Dois anos mais tarde, Milena decidiu largar o emprego em um cartório e apostar no novo negócio. Abriu a loja-ateliê numa antiga residência de estilo colonial no centro histórico da cidade. No começo, a mãe e a avó ajudavam no empreendimento, mas surgiu a necessidade de aumentar a produção. Foi quando Milena decidiu aliar o novo trabalho às suas convicções sociais, o que resultou no projeto Cabocla – Bordando Cidadania. “O Sebrae foi fundamental para o meu negócio. Tanto na montagem da loja, embalagem, criação
da marca, quanto nas vendas”, afirma Milena. Mensalmente, a Cabocla Criações produz, em média, 100 peças, que são vendidas na loja em Goiás Velho, em dois pontos fixos de revenda em Pirenópolis e na Chapada dos Guimarães e em feiras de todo o Brasil. A história de Milena acaba de ser retratada em um curta-metragem dirigido pelo amigo e parceiro de trabalho, Pedro Otto. Cabocla tem participação do ator Roberto Bonfim e trilha original interpretada pelo músico Almir Pessoa. O filme tem apoio do governo do Estado de Goiás, por meio da primeira-dama, Valéria Perillo, e será lançado durante o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que ocorre em junho, na Cidade de Goiás.
Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
2015
Há 11 anos, a gente faz histórias de sucesso como a sua inspirarem ainda mais mulheres a serem donas do seu próprio negócio.
INSCRIÇÕES DE 8 DE MARÇO A 31 DE JULHO DE 2015.
Acesse mulherdenegocios.sebrae.com.br ou procure o Sebrae no seu estado. CATEGORIAS
Microempreendedora Individual
Par a q u em tr ab al h a p o r co n ta p r ó p r i a e se fo r m al i zo u .
Produtora Rural
Mulheres que exploram atividades agrícolas, pecuárias e/ou pesqueiras.
Pequenos Negócios
Proprietárias de micro e pequenas empresas.
Especialistas em pequenos negócios / 0800 570 0800 / sebraego.com.br
História de Vida
Forjada pela fé Empresária bem-sucedida, dona de multimarca que acaba de comemorar 20 anos, Ivana Menezes tem uma comovente história de superação por Adevania Silveira
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Em março passado, na contramão de prognósticos econômicos pouco favoráveis para 2015, a empresária da moda Ivana Menezes bateu o pé e decidiu seguir em frente com o plano de comemorar em grande estilo os 20 anos da sua multimarca homônima. Fez o redesign da logomarca, deu um up no layout das lojas, encomendou uma supervitrina ao requisitadíssimo Nilson Portuguez, de Brasília, e armou coquetel para 350 convidados – entre eles, representantes de grandes grifes nacionais que integram o seu mix fashion. Dois dias depois, linda, leve e solta, embarcava para a Europa, onde participaria das semanas de moda de Paris e Milão. Quem conhece a trajetória de vida da empresária sabe que não é qualquer abalo que a tira do prumo. Por trás das araras luxuosas de suas boutiques e do glamourizado mundo da moda por onde a empresária habitualmente circula, existe uma história comovente de superação. Até chegar ao dia de festejar as duas décadas do seu negócio, Ivana Menezes viveu dolorosas perdas, como a morte de dois filhos recém-nascidos e o assassinato do pai. Filha mais velha de um pequeno arrendatário de terras no município de Campestre de Goiás, sua cidade natal, Ivana vendeu queijo na rua, durante a infância, e trabalhou em um frigorífico para complementar a renda familiar. Nas férias, ela e os três irmãos ajudavam o pai
na lavoura. “Meu pai não tinha como contratar gente para trabalhar”, conta. O serviço era tão árduo que, muitas vezes, ela planejou fugir para se empregar de doméstica na Capital. Ivana casou-se muito jovem, aos 16 anos, e passou a morar em Goiânia, onde nasceu a primeira filha, Jhennifer, e montou um pit-dog com o marido. A rotina ainda era pesada. Estudava de manhã, cuidava da casa à tarde e trabalhava à noite. Um ano depois, Ivana quis vender o negócio. Sem nenhuma formação, foi trabalhar como estoquista na Liberté, uma confecção de roupas femininas. O dono, o “senhor Luiz”, ensinou tudo para Ivana, que logo ganhou o posto de vendedora e, em seguida, de supervisora. Foi nesta época que despertou na empresária a paixão pela moda. “Percebi que era com isso que queria trabalhar.” A primeira grande prova, a mais dolorosa delas, veio a seguir. Ivana passou seis meses em um hospital de Brasília, com o segundo filho recém-nascido internado. Jonathan teve atresia biliar, um distúrbio raro causado por um processo inflamatório destrutivo das vias biliares. Foi submetido a três cirurgias, mas nenhuma capaz de salvar a vida do bebê. “Nunca sofri tanto. Fiquei abalada e angustiada”, relembra. O calvário levou-a a buscar força em Deus. “Foi quando conheci Jesus.” Um dia antes de o filho morrer, Ivana conta que fez uma oração de entrega. “Levantei meu filho nos braços e pedi
Edgard Soares
“A MORTE DO MEU FILHO ME LEVOU A CONHECER JESUS” para Deus fazer a vontade d’Ele, depois de seis meses pedindo que o curasse. Senti a presença d’Ele, foi maravilhoso. Hoje sei que, naquele dia, também me entreguei a Ele”, afirma convicta. Ainda sem ter se recuperado totalmente da perda, Ivana enfrentou a primeira crise no casamento, mas o casal conseguiu superar e seguir em frente. Sentindo necessidade de estar mais próxima da filha pequena, preferiu não retomar o trabalho na confecção, mas atuar como sacoleira, revendendo camiseta e calça jeans. Vendia de porta em porta, a bordo de um Chevette 76 que conseguira comprar com o acerto trabalhista. As clientes que vinham até ela, recebia em uma pequena estrutura montada na garagem de casa. Em seguida, veio a terceira filha, Jacqueline. Ainda grávida, sofreu um novo baque: o pai foi assassinado por um vizinho ao reclamar de uma invasão de gado. Ivana prosseguiu, buscando o crescimento profissional. Certa vez, viu na Galeria do Cinema Um, em Goiânia, uma loja equipada para alugar. “Ouvi a voz de Deus me falando que ela seria minha.” Não deu outra. Com peças consignadas na arara e viajando a cada 15 dias de ônibus “bate-volta” para comprar roupas em São Paulo, iniciou o negócio. Neste período, ficou grávida do quarto filho, Fernandinho, e novamente reviveu a dor da perda. Aos 28 dias de nascido, o bebê teve morte súbita por infecção generalizada. “Entrei numa tristeza profunda e tive depressão”, relembra. Não demorou muito e veio a separação definitiva do marido. Com as filhas ainda pequenas, foi morar com a mãe. Ivana não voltou a se casar, sua vida foi dedicada ao trabalho e às filhas, que se tornaram seu braço direito na loja. Jhennifer Menezes, 27, formada em Fisioterapia, atua hoje como coordenadora administrativo-financeira das duas lojas. Jacqueline Menezes, 19, que está cursando Design de Moda, cuida do marketing e da divulgação da marca nas redes sociais. “Elas são minhas companheiras, amigas e parceiras”, afirma, orgulhosa, a empresária. A vasta experiência como lojista não impediu, porém, que em 2005 o negócio entrasse em declínio e, pela primeira vez, Ivana pensasse
em desistir. A paixão pela profissão, no entanto, falou mais alto, levando Ivana a reagir com determinação. Vendeu o apartamento onde morava para injetar o dinheiro em uma nova loja. Alugou uma casa no Setor Marista – onde atualmente funciona a Ivana Menezes Casual – e foi morar nos fundos. Não satisfeita, decidiu cursar Administração com a finalidade de gerir com mais segurança o negócio. “Amo demais o meu trabalho”, diz Ivana, que demonstra uma habilidade natural para o ramo. “Tenho feeling para comprar”, crê a empresária. As clientes, a quem chama de “amigas”, não poupam elogios, destacando a sua espontaneidade e carisma. Em poucos anos, Ivana conseguiu multiplicar seus bens. “Deus me honrou. Tenho certeza de que Ele está comigo e que tudo foi providência d’Ele”, afirma a empresária, que diz olhar para os momentos difíceis com gratidão. “Tudo é dádiva de Deus. Ele me curou e hoje tenho um coração alegre.” Para breve, Ivana planeja um novo salto: a construção da sede própria da multimarca. Determinada, não há quem duvide de que esta mulher nasceu para o sucesso.
Empresária Ivana Menezes, que comemorou recentemente os 20 anos de sua multimarca homônima, atribui à fé em Deus as conquistas e a superação dos momentos difíceis
Moda
Cherry bomb
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Mergulhe na força do glam rock, com influências de personalidades da música, como David Bowie, Debbie Harry e The Runaways. Recortes, couro e volumes estratégicos desenham uma silhueta feminina, leve e delicada dentro da rebeldia do rock
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Styling | Kleyson Bastos Fotografia | Junior Moritz Beleza | Ana Simiema Modelo | Betânia Dourado (Mega Model)
Vestido rosa Reinaldo Lourenรงo para Ivana Menezes
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Blusa de couro bicolor Iorane para Ivana Menezes; Saia INSP e sand谩lias Tufi Duek para Skandall么
Jaqueta Tempo 4 para Skandall么; camiseta bordada BASTOS; saia de couro bicolor Iorane para Ivana Menezes
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Body Skazi para Ivana Menezes; bermuda de couro Iorane para Ivana Menezes; scarpin UZN por Lala Rudge para Skandall么
Macac茫o Afghan para Skandall么; scarpin UZN por Lala Rudge para Skandall么
Collect
Inverno nada óbvio por Roberta Klein
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Nosso fall/winter ameno pede mangas compridas e leves, como na malha destroyed do primeiro look, em tricô total. As botinhas de onça têm um leve sombreado preto, para não ficar tão onça assim. A dupla lenço e cinto traz uma pegada Velho Oeste, dissolvida pelo detalhe delicado da bolsa com textura de croco. As estampas na segunda produção pedem acessórios caramelo. As open boots de franjas e os brincos foscos devem ser usados com moderação. Apesar da barra da pantalona cobrir a botinha, aqui sugiro não usar o casaco, pois ao se sentar, as franjas crescem no look. Para os brincos gigantes vale o mesmo raciocínio. Saia midi lisa e uma “combinação descombinada” em tons fortes na camisa e no lenço da terceira produção. Repare na cor fúcsia na camisa, na aba da bolsa e no avesso da saia. Achou muito? Não é não, pois o detalhe da fenda só aparecerá sutilmente, com o movimento do caminhar. Olhe a ideia de usar um colar mais fechado junto ao lenço. Nos pés, scarpin bicolor com toque western. O gostoso do clima cinzento são os complementos. Independente do seu estilo, está valendo se divertir com estampas, que sejam duas. Sair um pouco do óbvio da zona de conforto faz bem.
Colar étnico Rorkc Acessórios; saia, blusa de tricot e cinto western, tudo Alícia; lenço de seda com algodão Anunciação; botas Carmim para Ivana Menezes; bolsa crocodilo Nathália Tolentino
Fotografia Edgard Soares
Brincos, pantalona losango, blusa trevo e casaqueto florido com pássaros, tudo Anunciação; carteira envelope com fecho dourado Larissa Romano; mocassim vernizado Cavage e open boots de franjas Carmim, ambos para Ivana Menezes; bolsa clássica Nathália Tolentino
Colar prata, dourado e maxi pérola Rorkc Acessórios; saia de crepe Caroline Egues; camisa e lenço de seda com algodão Anunciação; scarpin p&b Animale para Ivana Menezes; bolsa fúcsia, off white e marinho Nathália Tolentino
Toilette
por Guilherme Venditti
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Quando meu editor sugeriu que escrevesse sobre lavanda, tive um bloqueio. Mas como isso é possível? Falar de lavanda é tão fácil, afinal, na nossa cultura crescemos com esse aroma ao nosso redor, permeando nossas histórias. É a lavanda da vovó, do sabonete, do produto de limpeza, do spray de ambiente, do sachê de gaveta, etc. Todo mundo tem, ou já teve, um affair com ela. É um perfume versátil, democrático, podendo ser elegante e simples. Na aromaterapia, a lavanda é conhecida como “S.O.S.”, porque é usada tanto para acalmar os ânimos quanto para elevar o espírito. Algumas gotinhas de seu óleo essencial no travesseiro ajudam a enfrentar uma noite insone ou a chacoalhar a poeira após um coração partido. Há relatos de seu uso associado à desinfecção de hospitais durante a I Guerra Mundial e antigas receitas, como medicamentos para picadas e queimaduras. Hoje podemos, inclusive, apreciá-la na culinária, como no famoso sorvete de lavanda com mel que a personagem de Meryl Streep prepara no filme Simplesmente Complicado; nos delicados macarons de cor lilás; ou no precioso mel de lavanda. Esta planta, da família da menta e de origem mediterrânea, pode ser a sua melhor amiga, entender você e dar-lhe o que precisa. E essa foi a minha situação. Depois de um começo de ano conturbado, era a pedida certa. Os aromaterapeutas dizem que quanto mais rejeitamos um odor, mais precisamos dele. Eu não conseguia escrever sobre ela, mas era isso que eu precisava: equilibrar e lavar a alma. E é uma feliz coincidência porque a palavra “lavanda” vem do latim “lavare”, o que explica por si só. Aqui no Brasil, acredito que uma das águas de colônia mais emblemáticas do início de nossa perfumaria seja a famosa Seiva de Alfazema, uma lavanda super-refrescante com base ama-
Fotos: Divulgação
Um caso, uma lavanda
deirada e almiscarada, lançada em 1943, que tem um forte vínculo familiar, religioso e que, até hoje, tem muita saída no mercado, principalmente no Nordeste. Para se ter uma ideia da importância de sua tradição, a lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, é feita com uma mistura dela com Água de Flores. Outra fragrância famosa é a colônia Thaty, de O Boticário, que marcou a vida de muitas meninas na década de 90. Seu frescor adocicado fazia dela a fragrância preferida para enfrentar um dia de aula na escola. Aliás, isso é outro ponto interessante de como as fragrâncias são vistas: no Brasil, lavanda é associada a perfumes femininos, enquanto que, na Europa, acontece o contrário. Na verdade, uma família olfativa classicamente masculina é a conhecida como fougère (samambaia em francês), que é caracterizada por uma mistura de lavanda com musgo-de-carvalho e fava tonka. Aqui, nada mais emblemático do que o clássico English Fern, da tradicional casa inglesa Penhaligon’s, com notas de gerânio, cravo e sândalo. Na nossa região, Leonora Rocha Lima Nogueira é fã incondicional dessa pequena flor roxa e, inspirada por memórias de sua mãe, criou o Eau de Leonora. Nele, a lavanda é elegantemente misturada ao almíscar para deixá-la menos pontiaguda e mais arredondada e suave. E, por último, cito a Eau de Lavande, da casa francesa Annick Goutal, pela qual sou obcecado. Por algum infortúnio, já não é produzida mais e viciados como eu devem procurá-la como loucos pelo mundo. Annick criou um pedestal de baunilha e especiarias para fazer a lavanda brilhar ainda mais divinamente. E só. Simples e atemporal. Será que agora consegui convencê-los de que todo mundo tem um caso com a lavanda? Qual é o de vocês? O meu, estou vivendo agora. Obrigado, Rimene...
Beauty
Cesta básica por Roberta Brum
Dos inúmeros lançamentos que ocorreram desde o início do ano, garimpamos alguns produtos incríveis para você. Maquiagens, perfumes e cosméticos que as marcas lançam simultaneamente em todo o mundo e que prometem conquistar homens e mulheres. Em uma passada na Sephora, em Roma, para checar as últimas novidades das lojas europeias, anotei o que já está na lista de preferência mundial, inclusive a minha. Veja: Primer Step1 Skin Equalizer, da Make Up for Ever; máscara Roller Lash, da Benefit; base Miracle Cushion, da Lancôme; Serum Nude Air, da Dior; batons Etourdie e Désinvolte, da Chanel; Genius Serum, da Algenist; Sublimage Serum, da Chanel; perfume Love, da Jimmy Choo (exclusiva); e o perfume masculino Finish, da Armani.
Fotos: Divulgação
Omnia Indian Garnet, da Bulgari, é floral amadeirado, com mandarina e açafrão, como uma viagem à magia da Índia, suas cores deslumbrantes e ricos sabores. Preço médio sugerido: R$ 386 (40ml)
Custom-Repair Serum, da Clinique, age de acordo com a necessidade de cada pele para reduzir linhas e rugas e trazer firmeza. Indicado para todas as idades. Preço sugerido: R$ 249. SAC: 0800-8921694
Batom Ultra Hidratante com FPS 15, da Dermage, é rico em princípios ativos, como Green Tea, Vitamina E e Manteiga de Cacau, e evita o ressecamento e envelhecimento precoce da pele. Preço sugerido: R$ 51,90. SAC: 0800-0241064
Para homens de personalidade forte, o Noir Extreme de Tom Ford apresenta uma dose extrema de âmbar amadeirado que ‘abraça’ os outros ingredientes suntuosos – a baunilha, cítricos e florais orientais doces. www.tomford.com. Custa US$ 100 (50 ml)
Cleanance Solar FPS 30, da Avène. O filtro solar com tripla proteção traz água termal, compensa a perda de Vitamina E e é indicado para peles oleosas e com acne. Preço sugerido: R$ 59,90. SAC: 08007021037
Os efeitos metalizados e os tons de prata acabam de aterrissar na nova coleção de O Boticário. A Make B Universe Collection traz 19 itens, nas cores prata, azul cobalto e roxo vinho. Preços sugeridos: Baton Metallic Cosmic, R$ 34,90; Quarteto de Sombras Baked, R$ 66,99
Beauty
Gata do frio No inverno, os cuidados com a pele devem ser redobrados para manter a cútis saudável e livre do ressecamento. The Book traz os conselhos de uma especialista para você saber o que fazer 48 49
por Branca Simpson
Durante o inverno, a umidade do ar fica menor e as temperaturas mais baixas levam à diminuição na transpiração corporal. Esses fatores fazem com que a pele fique mais seca e mais propícia ao surgimento de dermatites, por exemplo. A dermatologista Carolina Borges Basílio Guimarães, do Espaço Clínico e Estético Afeto, garante, porém, que com alguns cuidados é possível manter-se bela no frio. Explica também que o inverno é uma boa época para realizar alguns tratamentos dermatológicos que requerem que o paciente evite a exposição ao sol. Na entrevista a seguir, Carolina esclarece dúvidas sobre cuidados e procedimentos dermatológicos e indica produtos que podem auxiliar na reposição de água e nutrientes da pele. O inverno é um período propício a realizar procedimentos dermatológicos? Sim, inclusive é um dos melhores, já que neste período a exposição ao sol é menor e é ideal para iniciarmos os tratamentos faciais e corporais, a fim de deixar a pele mais bonita para o verão.
Edgard Soares
Quais procedimentos são indicados para realizar no inverno? Qualquer tipo de procedimento pode ser realizado no inverno, principalmente peelings e tratamentos a laser, pois, estes, exigem que o paciente tenha uma menor exposição solar. Mas todos os outros tratamentos dermatológicos também podem ser realizados nesta época, como a aplicação de toxina botulínica e preenchedores, que são usados no tratamento de rugas e sulcos. Como manter a pele hidratada no frio? Ingerir muito líquido (pelo menos 2 litros de água por dia), evitar banhos muito quentes e demorados com uso excessivo de sabonetes. Usar hidratante após o banho e protetor solar adequados ao seu tipo de pele. É necessário trocar os produtos para a pele quando chega o frio? Como o inverno é um período seco, em alguns casos existe a necessidade de usar hidratantes mais potentes. Quais cuidados devemos ter com o corpo? Manter uma alimentação saudável, ingerir bastante água, fazer atividades físicas. No inverno, devemos ter um maior cuidado com a hidratação da pele, intensificando o uso de hidratantes. Que tipos de doenças surgem neste período? O que fazer para evitá-las? Algumas doenças pioram nesse período devido ao ressecamento da pele, como, por exemplo, a dermatite atópica, psoríase, ictiose. A melhor prevenção, na maioria destas doenças, é manter uma boa hidratação da pele. Devemos manter o uso do protetor solar? É preciso mudar o fator de proteção? Sim, devemos sempre usar o protetor solar, independente da estação do ano, da temperatura ou das condições climáticas. Não é preciso mudar o fator de proteção, o indicado é no mínimo 30. Que tipo de sabonete para o corpo é mais adequado a este período? Podemos usar esponjas vegetais? O tipo de sabonete vai depender do tipo de pele de cada pessoa. As esponjas, mesmo as vegetais, devem ser evitadas, pois elas favorecem o ressecamento da pele.
O uso oral de óleo de borragem, que tem em sua composição o ácido gamalinoleico, ajuda a atenuar os sintomas do ressecamento da pele? Qualquer pessoa pode usar? Alguns estudos mostram que o óleo de borragem tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, podendo contribuir no tratamento de doenças como psoríase e dermatite atópica. Mas ainda existem poucos estudos sobre o assunto. Como a limpeza da pele deve ser feita antes de dormir? Lavar o rosto com sabonete ou loção de limpeza adequados para cada tipo de pele. Os demaquilantes devem ser usados para remover maquiagem e também certos tônicos podem ser utilizados como coadjuvantes da limpeza. Quais são as últimas novidades da dermatologia para peles muito ressecadas? Existem alguns lançamentos no mercado de hidratantes/umectantes mais potentes para pacientes com pele sensível, dermatite atópica e outras doenças que alteram a barreira hidrolipídica da pele. Além de anti-inflamatórios tópicos, que muitas vezes são necessários para esses pacientes, principalmente nesta época do ano.
Dermatologista Carolina Borges Basílio Guimarães afirma que o inverno é uma boa época para procedimentos dermatológicos
Personagem
Um boiadeiro na Amazônia The Book entrevistou Garon Maia, um dos maiores criadores de gado do País, irmão do lendário Tião Maia. Aos 89 anos, vive em uma fazenda no Sul de Rondônia, onde acorda às cinco da manhã para trabalhar
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por Adevania Silveira, de Corumbiara (RO)
51 Três horas de voo separam Goiânia de Vilhena, a cidade que dá boas-vindas ao Estado de Rondônia. De lá até o município de Corumbiara, ao Sul do Estado, são mais duas horas percorrendo o asfalto em caminhonete. Depois de cruzar a cidade de 8.500 habitantes, é preciso vencer a última meia hora em estrada de chão até chegar à guarita que autoriza o acesso à Fazenda Ivyporã. No caminho até a sede, a paisagem se desdobra em extensas plantações de soja e pastos verde-escuros salpicados de bois, os dois negócios mais prósperos da região. A casa de 1.100 metros em forma de asa de avião, cor de terracota, se destaca na imensidão do gramado recém-aparado que circunda a propriedade. Canteiros de ixoras vermelhas emolduram imponentes toras de mogno colocadas como esculturas no jardim. Do lado oposto, uma fileira de mussaenda-rosa demarca a pista de pouso, em meticulosa simetria. É manhã, horário das duas araras do mato pousarem para comer as frutas que lhes são oferecidas diariamente. Um espetáculo da natureza muito comum na Amazônia Legal.
A fazenda com pinta de cenário de novela foi o lugar que o ex-boiadeiro e ex-aviador Garon Maia, 89, escolheu para ser o que considera seu “refúgio final”. Natural de Passos (MG), comanda com os três filhos – Porthos, D’Artagnan e Garon Maia, o Garonzinho – e o neto Rodrigo Jacinto (filho de Carminha Maia, já falecida) um grupo com forte atuação no setor agropecuário rondoniense e com presença em diversos Estados brasileiros. A sede do grupo fica no município paulista de Araçatuba, onde morou por 50 anos, antes de seguir para o Norte do País. Pioneiro em Rondônia, chegou na década de 80 atraído pela terra de boa qualidade, clima quente e úmido, ótima topografia, e preço ainda muito baixo. Nas últimas três décadas, entre compra e venda de propriedades nas regiões que formam o chamado Cone Sul, mantém três grandes fazendas que somam 42,5 mil hectares, destinadas à criação de gado para corte, em sistema extensivo (o gado fica livre no pasto natural), alternada com lavouras de soja, milho e
Fotografia Fotografia David David Paul Paul Vargas Vargas
Garon Maia, 89 anos, acorda todos os dias Ă s 5 horas da manhĂŁ para trabalhar
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Garon Maia em frente à sede da Fazenda Ivyporã, no Sul de Rondônia, lugar que escolheu como “refúgio final”
“AQUI É COMPLETO. NÃO IA ENCONTRAR NADA MELHOR DO QUE EM RONDÔNIA” arroz, em arrendamentos que têm o objetivo de reformar os pastos. “Aqui é completo, não ia encontrar nada melhor do que em Rondônia”, afirma Garon, cujo nome de batismo é o mesmo do pai, Braulino Basílio Maia Filho. Em Mato Grosso, mantém outras duas grandes propriedades, dedicadas às mesmas atividades. Somadas às de Rondônia, formam mais de 60 mil hectares. A vocação para a criação de gado vem de berço. Assim como o pai, Garon começou a vida comprando e vendendo bois, saindo em comitivas do interior de Minas em direção a Araçatuba. É irmão caçula do lendário pecuarista Sebastião Ferreira Maia, o Tião Maia, que na década de 70, ao se ver perseguido pelo regime militar, fechou as porteiras de suas fazendas no País e recomeçou a vida na Austrália, onde novamente prosperou, tornando-se dono de 1 milhão de hectares e 65 mil cabeças de gado. Ao retornar ao Brasil, doente e sem filhos, o “barão do gado australiano” delegou ao sobrinho Aramis Patti Maia o comando de seu império. Morreu em 2005, deixando como herdeiros diretos os cinco irmãos: dois homens e três mulheres. Era janeiro pós-festas quando Garon Maia recebeu The Book em seu paraíso particular. Viúvo há 8 anos de Neuza Mariene Pádua Maia, com quem esteve casado por 60 anos, raramente deixa a fazenda, embora mantenha duas aeronaves estacionadas no hangar. Preferiu passar o Natal e a virada do ano na fazenda, na companhia dos empregados, entre eles Ana Batista de Almeida, que trabalha para a família há 22 anos. A rotina também não foi alterada. Como de costume, acordou às cinco da manhã e, depois de tomar café, saiu para vistoriar os pastos. Os filhos, porém, não se ausentam por longos períodos, se revezando nas visitas à fazenda para fazer companhia ao pai e tocar os negócios. O mesmo acontece com os netos Garon Filho, Antônio e Rafael Maia, que seguem os passos do pai, Garonzinho, e os do avô.
Na outra página, troncos de mogno enfeitam o jardim; abaixo, a sala exibe obras de arte, móveis antigos e o piano; nesta página, Garon descansa no banco esculpido em tronco de pequi; na parede do escritório, a fotografia do irmão Tião Maia
“SEMPRE PREFERI FICAR MAIS RECLUSO. VELHO GOSTA DE ISOLAMENTO” Diferente de Tião, cuja vida pessoal esteve cercada de glamour, poder, mulheres e festas, Garon Maia cultivou uma vida discreta, dedicando-se exclusivamente aos negócios e à família, e mantendo-se a uma distância segura do terreno político. Embora dono de um dos maiores rebanhos do País e de longas extensões de terra, se recusa a ser chamado de “pecuarista” que, a seu ver, é a tradução da classe “mais elitizada” do ramo, de gente que gosta de frequentar leilões e exposições agropecuárias e de aparecer nas colunas sociais. Garon prefere o título de “boiadeiro”, ainda que, segundo ele, para muitos seja sinônimo de atraso. “Sempre preferi ficar mais recluso. E velho gosta de isolamento”, diz convicto. Garon é um homem de hábitos simples. Nos estudos, completou somente o que equivale hoje ao ensino fundamental, mas demonstra ter vasta cultura. Tem o hábito de ler e ouvir
“AS OPORTUNIDADES VINHAM PARA MIM MAIS DO QUE EU IA ATRÁS DELAS”
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concertos musicais. A decoração da casa revela o gosto apurado do dono. Na sala principal conserva um piano, obras de arte e muitas antiguidades. Entre o mobiliário rústico criado por um artesão local, estão valiosas peças em jacarandá-da-baía arrematadas da família do influente político e pecuarista mineiro Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, famoso também por ter desenvolvido a raça manga-larga. O precioso acervo inclui um retrato do barão pintado em óleo sobre tela, que divide a parede do escritório com uma grande fotografia do irmão Tião Maia. Garon Maia nasceu com tino para os negócios. Aos 9 anos, ao ver um menino vendendo vidros, percebeu que podia ganhar dinheiro fazendo o mesmo. Aprendeu cedo o que hoje os manuais de empreendedorismo pregam como regra de ouro: facilitar ao máximo o negócio para o parceiro, oferecendo-lhe vantagens. Jamais perdia uma chance de negócio. Vendeu crina de boi para selaria, lenha para rede de ferrovia e porcos, numa época em que se usava a banha para cozinhar. “As oportunidades vinham para mim mais do que eu ia atrás delas”, revela. A seriedade que imprimiu aos negócios obteve reconhecimento dos parceiros. “Ouvi muitas vezes que preferiam vender fiado para mim do que a dinheiro para outros”, orgulha-se. Também pioneiro em Rondônia, o fazendeiro Adelmo Alves dos Santos, 70, confirma a admiração dos seus pares pelo ex-boiadeiro. “É impressionante a gana pelo trabalho que ele tem até hoje e o amor por tudo o que faz”, afirma. Garon interrompeu o estudo convencional para trabalhar, mas aprendeu a pilotar ainda muito jovem, antes dos 20 anos, por incentivo do pai. Aos 24 anos comprou, nos Estados Unidos, o primeiro avião – um Cessna 140 – e aos 30 tornou-se dono de uma empresa de táxi-aéreo. Com fazendeiros cada vez mais interessados em comprar avião, na época, chegou a ter 12 unidades encomendadas e vendidas, o que acabou por torná-lo representante da empresa
Em sentido horário: rede esculpida em madeira feita por um artesão local; plantação de soja na Fazenda Ivyporã; silo com as iniciais dos nomes dos netos Antônio, Garon Filho e Rafael Maia; e os aviões estacionados no hangar da fazenda
no Brasil, sem jamais ter pleiteado o cargo. E isso sem falar uma palavra em inglês. Em 1958 experimentou a maior aventura de sua vida, que hoje considera ter sido embalada por “audácia e ignorância juntas”. Garon decidiu ele próprio fazer o traslado de um dos aviões dos Estados Unidos para o Brasil. Foram 15 dias de viagem e 56 horas de voo entre Wichita, no Estado do Kansas, e a Fazenda São Francisco, em Andradina (SP), onde a família o esperava. O trajeto foi todo feito costeando as Américas, incluindo a arriscada travessia dos Andes. Este e outros momentos marcantes da trajetória do ex-boiadeiro e ex-aviador foram recentemente relatados no livro Garon Maia - Memórias, escrito em primeira pessoa e organizado pelos netos Eduardo Maia e Maria Carolina Maia Villela de Andrade. “Não se trata de autobiografia, mas de um caderno de memórias”, avisa. A obra ganhou encadernação de luxo, com capa de linho e a marca com as iniciais GM – a mesma que usa para identificar sua boiada – impressa em baixo relevo. O nome Garon era como originalmente seria registrado. Mas o escrivão achou-o muito estranho. O pai então deu-lhe seu nome, mas Garon foi o que prevaleceu. Além de contar fatos relevantes do início em Minas à chegada em Rondônia, o livro traz uma
curiosa lista das propriedades adquiridas pela Família Maia e para quem as mesmas foram vendidas, 52 ao todo. Além das fazendas, estão relacionados imóveis e frigoríficos negociados com gigantes, como a multinacional Cargill e a brasileira Marfrig Global Foods. O livro fecha com uma segunda lista, onde nomeia e agradece as pessoas com as quais negociou e acabou tornando-se amigo. Nela consta um nome muito familiar no meio agropecuário goiano e entre os torcedores do Vila Nova Futebol Clube: Antônio Inácio da Silva, o folclórico Tonico Toqueiro, um dos maiores criadores de gado de Goiás e ex-presidente do clube vilaboense, morto em 2010. Com Tião Maia, Toqueiro formava o panteão dos pecuaristas legendários. Ao folhear o livro, Garon não contém a emoção ao se deparar com a fotografia da mulher, Neuza, sua fiel companheira, que teve morte trágica e acidental por engasgo, há oito anos. Na imagem, Neuza está no centro de um acampamento em Rondônia, rodeado pela floresta. De chapéu e roupas claras, a elegância em contraste com a rusticidade do lugar chama a atenção. O ex-boiadeiro enche os olhos d’água. É a dor da saudade, sentimento com o qual jamais aprendeu a negociar. Em seu paraíso verde, Garon segue a vida cumprindo a sina na mesma toada da canção que diz: Como um velho boiadeiro/ Levando a boiada/Eu vou tocando os dias.
Ponto de Vista
Falando de rock and roll, ou: qualquer linha de baixo de Paul McCartney por Bruno Bizerra
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Outro dia assisti, no YouTube, a uma nada recente produção de tevê sobre Nevermind, o conhecidíssimo segundo álbum do Nirvana. Smells like teen spirit. Lithium. Come as you are. In bloom. Como foram gravadas, em 1991. Mais de duas décadas. O tempo credencia já a obra e ela merece, sim, ser reconhecida como um clássico, que eu sou testemunha. Qualquer uma daquelas canções, ouvidas hoje, soa nova, fresca. E, no entanto, carregada do zeitgeist irrepetível. Não saberia dizer quando ouvi Nirvana pela primeira vez. Provavelmente eu o vi uma primeira vez na MTV. O vídeo de Smells like teen spirit: o ginásio, a banda tocando, adolescentes num crescendo de euforia ou fúria, cheerleaders (sobretudo aquela cheerleader com o braço tatuado). Desde o comecinho, não tem como escapar. A repetição circular do riff, dois ou três compassos, a guitarra praticamente limpa de efeitos. Aí, a explosão: o baixo estourado – meio atrasado, fora do tempo? – e a bateria acompanhando o mesmo riff tocado na guitarra agora toda suja, distorcida. Aí vai. Todo mundo conhece, todo mundo gosta. Naquela época, pobre de mim, achei que os 20 ou 40 milhões de cópias vendidas eram fato que desabonava o disco, que o aproximava, sei lá, do U2 ou de coisa pior. Hoje, tanto tempo depois, escuto muito mais esse álbum do que naquela época e já não me lembro tanto do Pearl Jam, ou do Soundgarden, ou do Alice in Chains, enfim, das outras bandas que fizeram do grunge um fenômeno planetário. Tenho ouvido rock and roll, todos os dias, desde muito antes daquele tempo em que era um estudante conhecendo o som de Seattle. Gosto de pensar que esse fato, de alguma forma, ajudou a me definir. Sou, entre outras coisas, um sujeito que curte rock. Devo admitir, dito isso, que já se foi o tempo em que ouvir rock music
era visto como sintoma de transgressão, alienação, entreguismo. O som e a estética rock, como todo mundo sabe, entraram no mainstream e, portanto, se tornaram mais palatáveis a gostos, digamos, medianos. A indústria cultural incorporou mais esse território, e ele tem sido explorado quase à exaustão. Não se vê, de fato, muita novidade interessante num ambiente que parece cada vez mais estéril. Dizem alguns que o rock nunca vai morrer. Uma declaração e também um refrão conhecido. No que me diz respeito, não reclamo do fato de que a música eletrônica é que acabou se tornando, no século XXI, sinônimo de música para jovens, afinal, já não sou mais um garoto. Também não me queixo de todo o lixo que foi produzido ao longo de décadas, das bandas fracas, dos discos horríveis, dos hits insuportáveis. Esse é o preço, talvez, de ter o rock se tornado um fenômeno cultural de massa. É certo que, no meio da confusão, vai aparecer coisa boa. Tem sido assim ao longo das últimas cinco décadas. Sempre surge algum negócio surpreendente, estimulante. De todo modo, se a fonte secar, podemos sempre olhar para trás: lá onde estão as linhas de baixo de Paul McCartney, os riffs de Keith Richards, a batida de John Bonham, as canções de Ray Davies, a voz de Joe Strummer e de Johnny Cash e de Debbie Harry e de David Bowie e de Kurt Cobain etc, etc.
*Bruno Bizerra é advogado, professor e aficionado por livros e literatura. Você também pode lê-lo no site www.thebook.is
DESEJO PELA CAPITAL DO SOL Cada vez mais os goianos querem viver ou fazer neg贸cios no balne谩rio americano
Bússola
Miami do mundo A cidade das compras, da ostentação e do kitsch cresceu. Cosmopolita, combina natureza exuberante, lojas e hotéis luxuosos a uma recente e estimulante rota de arte, cultura e negócios
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por Patricia Moraes Quinan, especial para The Book
A capital da Flórida há muito deixou de ser atraente apenas pelo clima agradável e a cultura latina. A nova Miami é totalmente contemporânea, cosmopolita e super cool, com programas culturais de altíssimo nível, restaurantes estrelados, feiras e congressos, festivais de música e turnês mundiais. É palco de semana de moda internacional e da Art Basel, uma das maiores e mais importantes feiras de arte do mundo. No ensolarado balneário os bairros são incríveis, cada qual com uma peculiaridade que acaba personalizando suas áreas e representando o jeito de ser dos seus moradores e frequentadores. É fácil perceber estas diferenças como, por exemplo, na Miami Beach dos turistas e no Arts District, em Midtown Miami, região que acabou de entrar na rota dos visitantes. São estas particularidades de cada neighborhood que, na minha opinião, deixam Miami tão interessante e nos permitem surpresas muito agradáveis. No passado, o balneário atraía apenas turistas interessados em compras devido à presença de muitos outlets, shoppings, lojas de eletrônicos, farmácias e supermercados que fazem
tanto sucesso com os consumidores ávidos por novidades e mercadorias com desconto. Atualmente, a cidade chama atenção pela descoberta de suas praias, hotéis cinco estrelas que oferecem todo tipo de atrações glamourosas, baladas e restaurantes luxuosos com seus chefs famosos. Isso sem falar nas atrações tradicionais que ainda exercem poder sobre o visitante. South Beach, por exemplo, continua sendo um passeio imprenscindível, assim como apreciar as construções em estilo art déco e os neons que brilham nas agitadas noites da icônica Ocean Drive, must go em Miami. Para quem gosta de curtir a noite, é só escolher um dos inúmeros night clubs ou uma balada num rooftop de hotel bacana. Minhas sugestões são o Area31Bar, no Epic, em Biscayne Boulevard Way; e o Fiftty Bar, do Viceroy, na Brickell Avenue. Outras ótimas opções são o bar do restaurante Eoke, no Four Seasons, também na Brickell Avenue; e o Drawing Room, do Shelborne Wyndham Grand. A Liv, Bigstockphoto
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Uma das tĂpicas casinhas coloridas dos salvavidas, que se encontram espalhadas pelas areias de Miami Beach
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no Fontainebleau, é uma casa que mistura lounge e a energia de um clube noturno; a Mansion, na Washington Avenue, uma das maiores boates de Miami, tem sempre uma grande atração, como Justin Timberlake, J.Lo ou David Guetta, e há também a Mynt Lounge, na Collins Avenue, que existe há mais de dez anos e faz muito sucesso até hoje. Amantes da gastronomia podem escolher entre os lugares mais famosos ou os mais discretos, frequentados apenas por moradores. Os hot spots são concorridos e comandados por estrelas, como o hors concours Daniel Boulud, chef francês que abriu seu DB Bistro no hotel JW Marriott Marquis, na Biscayne Boulevard Way, ou ainda o consagrado Gastón Acúrio, que inaugurou a filial do La Mar, de comida peruana, no Mandarin Oriental, na Brickell Key Drive. Quer mais must eat in Miami? Vá ao Edge Steak Bar no Four Seasons, com seu conceito farm to table; ao Atrio, no Conrad, com vista panorâmica da cidade e excelente carta de vinhos; e ao Zuma, no Epic, melhor restau-
rante japonês, na minha opinião. Também aprecio o Morimoto e Carpaccio, ambos no Bal Harbour Mall. Para fechar minha lista, destaco o Juvia, na Lincoln Road, que tem vista maravilhosa, comida deliciosa e ambiente muito agradável; o Hillstone, no elegante Coral Gables; e o Michael’s Genuine Food & Drinks, no Miami Design District. Uma dica bacana é ficar de olho nos festivais que sempre estão acontecendo na cidade. Em agosto e setembro, ocorre o Festival Miami Spice e, nesta época, muitos restaurantes famosos têm menu fechado – incluindo entrada, prato principal e sobremesa –, com preço bem atrativo. Conhecer Downtown e seus arranha-céus nos dá a dimensão da cidade e nos mostra que atualmente Miami é um importante centro mundial de negócios. A economia da Flórida está em pleno crescimento e a cidade em profunda transformação. São inúmeros empreendimentos imobiliários em construção e várias oportunidades de business. Brickell é o melhor exemplo de como a cidade cresce em alta velocidade: são mais de 70 novos empreendimentos em uma região construída e sonhada para ser referência mundial nessa área. Em Midtown Miami, o forte é o design, que tempera todos os seus movimentos e deixa a região cheia de opções de arte, música e cultura. Lá está o Miami Design District e o Wynwood, com sua street art, grafites do mundo inteiro, exposições, galerias, restaurantes descolados e lojas de decoração cheias de estilo. A dica é conhecer cada pedacinho a pé ou de bike. Existem também alternativas de passeios guiados superinteressantes. No Wynwood Walls, temos o prazer de ver obras de artistas brasileiros, como Os Gêmeos. Miami não precisa mais provar que ultrapassou a fronteira do destino tropical. A cena cultural investe alto em arte e hoje está sendo considerada a “capital das artes e do design” por
Fotos: Art Basel/Divulgação
Na outra página, o famoso chef francês Daniel Boulud, que abriu o seu DB Bistro, no JW Marriott Marquis; acima, exposição da galeria Blum & Poe, de Los Angeles, na Art Basel 2014; ao lado, escultura Eva, da artista paulistana Ana Luiza Dias Batista, grande atração na mostra Public, da Art Basel 2014; abaixo, a culinária sofisticada de Daniel Boulud
Em sentido horário, a arquitetura em estilo art déco e os neons da agitada e icônica Ocean Drive; fim de tarde no centro financeiro de Brickell; e o skyline em Miami Downtown, com o grande e moderno iate em Biscayne Bay
Bigstockphoto
“VER MIAMI DA ÁGUA É PASSEIO OBRIGATÓRIO PARA CONTEMPLAR O SKYLINE” sediar a Art Basel, uma das feiras de arte mais importantes da atualidade e que reúne cerca de 250 galerias do mundo todo. Outro marco histórico cultural da cidade foi a revitalização da área onde hoje é o Arts District, feita pelo empresário Tony Golgman. A cidade abriga ainda muitos museus maravilhosos, como o Museum of Contemporary Art (Moca), o Historical Museum, o Vizcaya - em Coral Gables, e o Pérez Art Museum (PAMM), com excelente coleção permanente e ótimas mostras temporárias. Sunny Isles é a melhor faixa de areia de Bal Harbour, elegante distrito que, na minha opinião, tem o shopping mais bacana da cidade. Todas as brands internacionais, com suas vitrines lindas e criativas, estão presentes. É verdade que algumas marcas que amamos agora estão no Design District, mas o lugar não perdeu o seu charme e oferece gastronomia de alto nível num lugar superagradável e extremamente chique. A sensação é de relax com o beach vibe de Miami.
Recomendo andar a pé por South Beach, de bike em Miami Beach, e de metromover, em Downtown e Brickell. Os ônibus trolleys são bem charmosos e os cruises, muito divertidos. Ver Miami da água é passeio obrigatório para desfrutar de cenários lindos e contemplar o skyline, que ao entardecer fica ainda mais especial, à medida que as luzes vão iluminando este fantástico lugar. Muitos passeios partem do Bayside Marketplace, na Biscayne Boulevard. Ah, já ia me esquecendo. Para compras ao ar livre, conheça o Lincoln Road Mall, Mary Brickell Village e CocoWalk, na Grand Avenue, ou, se preferir, se jogue nos malls tradicionais, como o Aventura, queridinho dos brasileiros, ou outlets, como o Sawgrass Mills, nos subúrbios de Fort Lauderdale, a 50 quilômetros de Miami, o maior centro de compras off price dos EUA. It’s up to you.
The Book Cities
Você também vai querer O sonho de morar e trabalhar na capital do sol dos Estados Unidos também é dos goianos. Conheça a história de três empresários que hoje dividem a vida e os negócios entre Goiânia e Miami 66 67
por Adevania Silveira
Não sei se acontece com você, mas frequentemente ouço nas reuniões sociais, durante papo informal sobre viagens e afins, alguém contar que um certo fulano ou quer, ou vai ou está morando em Miami. Pode reparar, é batata (chips, please)! Ninguém mais sonha com Paris, Madri, Londres, mas com o ensolarado e latino balneário. Esta simples constatação, é claro, está amparada em dados oficiais. Cerca de 250 mil brasileiros vivem atualmente na Flórida, especialmente em Miami. E o goiano não ia ficar de fora, não é mesmo? As razões para escolher a cidade como destino de moradia nos Estados Unidos são muitas, mas as mais comuns são o fato de o balneário ser o lugar mais próximo da realidade cultural do nosso País, clima ameno e beleza natural, com praias de areia branca e mar azul e, para quem não fala inglês, a opção do segundo idioma, o espanhol. Ok, isso tudo pode ser encontrado em outros lugares, mas a diferença é que lá existem adicionais inegociáveis: a segurança – embora nesse quesito esteja longe dos melhores índices norte-americanos –, a grande oferta de
serviços, a facilidade de ir às compras, e o que é melhor: para os padrões brasileiros, tudo a preços baixíssimos, às vezes um terço a menos. Agora, até para quem reclamava da maior deficiência de Miami, sua vida cultural irrelevante, cabem argumentos. O cenário é outro desde que desembarcaram na cidade eventos importantes como a Art Basel e a Maison & Objet. Miami está na rota de se transformar em centro cosmopolita, a exemplo de Nova York e outras capitais. “A cidade não é mais somente destino de compras. Hoje, ela oferece arte, cultura e grandes oportunidades de negócios”, explica a empresária Patrícia Moraes Quinan, que mantém negócios na cidade (veja box). Assim como Patrícia, os goianos Flora Lopes Moretto e Gláucio Rocha também sucumbiram às vantagens oferecidas pelo balneário. Ela, chef de cozinha, vive há quatro ano na cidade. Já o empresário Gláucio estendeu para Miami os negócios da loja de cine e áudio que mantém em Goiânia, atendendo conterrâneos que montaram casas lá e empresas americanas. (veja box).
Fotos: Edgard Soares
Fé e amor
Chance de negócio Acostumado a atender clientes endinheirados – especialmente cantores sertanejos, atores e apresentadores famosos, como Gustavo Lima, Luciano Huck e Glória Pires –, o empresário goiano Gláucio Rocha, 40, iniciou há três anos relações comerciais com Miami. Dono da GR Cine Áudio, com 18 anos no mercado, foi levado a Miami pelas mãos de um cliente que necessitava de consultoria na compra de som para sua casa. Gláucio viu potencial no negócio e, assim, passou a atender clientes que estavam montando casas por lá ou que desejavam comprar equipamentos nos Estados Unidos e trazer para o Brasil. “Muita gente está montando sua segunda casa em Miami”, afirma. Com idas quinzenais à cidade, os negócios se diversificaram. Parceiro da Piquet Realty, Gláucio se enveredou pelo setor imobiliário. Recentemente, tornou-se representante de uma famosa marca de eletrodomésticos que vende em sua loja em Goiânia. Os negócios em som e automação só crescem no balneário, segundo o empresário, que sonorizou espaços da brasileira Osklen e da Absolut, além da cobertura triplex do Hotel Edition, avaliada em US$ 50 milhões.
Há quatro anos, enquanto arrumava as malas e partia em direção a Miami para um ano sabático, a chef de cozinha Flora Lopes Moretto, 43, não planejava rasgar o bilhete de volta e ficar por lá. O projeto era dedicar-se durante uma temporada à obra cristã da Videira Flórida, base missionária da Igreja Videira de Goiânia estabelecida em Pompano Beach. Mas, no sexto mês vivendo em Miami, tudo mudou . “Já estava desencantada com a vida em Goiânia. Decidi ficar”, afirmou à The Book, em um dos rasantes à cidade natal para visitar a família. Flora retornou ao Brasil somente para vender a sua parte no restaurante Contemporane, do qual era sócia com o irmão. Solteira, um mês depois de desembarcar na cidade conheceu o amor da sua vida, o brasileiro André Moretto, administrador de hotel residente há 17 anos em Miami. Hoje estão casados e moram em Coconut Creek. Flora, agora com o green card, trabalha em um restaurante, na parte de sobremesas e saladas – que descobriu gostar de fazer –, enquanto acalanta o sonho de abrir o seu, nos mesmos moldes do Contemporane. “Em Miami, faltam restaurantes que ofereçam refeições executivas”, afirma a chef de cozinha, que em pouco tempo espera completar o seu sonho na capital do sol dos Estados Unidos.
Oportunidade
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Outra vantagem que os brasileiros observam são os serviços públicos, que em Miami funcionam muito bem, especialmente o trânsito. As pessoas que vivem no centro podem fazer tudo a pé ou de bike, pois o pedestre é respeitado. As escolas públicas funcionam em período integral, o que pode resultar em economia de babá e mensalidades. A única exigência é que a opção deve ser por uma escola do bairro onde se vive. Logo depois de Dilma Rousseff ser confirmada nas urnas, em outubro do ano passado, foi registrada uma verdadeira fuga em massa de brasileiros endinheirados para Miami. O fato, inclusive, mereceu reportagem no jornal americano Wall Street Journal. Mas o crescente interesse pela cidade já podia ser detectado antes da reeleição. Segundo a Miami Realtor Association, no ano de 2014, o Brasil foi o terceiro maior
Depois de uma temporada de estudos na Flórida, a dentista e empresária goiana Patrícia Moraes Quinan, 43, retornou ao Brasil convencida a se mudar com o marido, o empresário Christiano Quinan, 38, e o filho Enzo, 6, para Miami. Encantada com a segurança que a cidade oferece e a possibilidade de o filho frequentar uma escola americana, Paty, como é conhecida, começou a pesquisar o processo de transferência. No meio do caminho, descobriu que muita gente buscava as mesmas informações, visualizando uma oportunidade de negócio. Assim, há cinco anos, fundou com o marido e a sócia, Valdirene Rossetto, a The1, empresa de consultoria e representação de produtos, de planos de saúde e seguros a software para mercado de turismo. Há dois anos, abriu novo braço da empresa, a The1 Investing, dedicada a soluções para investimentos. Hoje, contam com equipes no Brasil e nos EUA de orientação jurídica para abertura de empresas e participação em projetos específicos por meio do visto IB5. A mudança definitiva ainda não aconteceu, mas virá no tempo certo. “Nosso maior objetivo é fomentar negócios através da Flórida Chamber of Commerce, com o apoio do governo do Estado de Goiás, da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (Acieg) e da Amcham Goiânia”, explica Paty, que, por conhecer Miami como a palma da mão, foi convidada por nós a assinar a coluna Bússola desta edição, que traz um roteiro especial, com lugares para ir, comer e passear, filtrado pelo olhar apurado da nossa personagem.
comprador internacional de imóveis em Miami, representando 8% do total, somente atrás dos venezuelanos e argentinos. Por outro lado, os Estados Unidos facilitaram a entrada de brasileiros no país. Atualmente, um dos caminhos mais procurados para conseguir um visto para residência fixa tem sido o programa de investimento EB5, que assegura o green card para quem investir em negócios com potencial para geração de emprego nos EUA. O aporte mínimo é de US$ 500 mil (há bem pouco tempo era US$ 1 milhão), para a geração de pelo menos dez empregos em território norte-americano. De olho em mais um nicho de serviço, surgiram várias empresas de consultoria, especializadas em facilitar transações comerciais. Muitas delas, de brasileiros com experiência de vida e negócios por lá.
A vida é um “vir a luz” e é um viver à luz do sol ou a ser guiado na noite pela luz da lua e das estrelas.
Luz Azul PAXDOMINI - 2015 | Ano Internacional da Luz
A PAXDOMINI é apoiadora da AEFEGO no projeto de requalificação Sant’Ana, Cemiério Arte Déco
Funerária 24h Conheça nossos Planos Funerários. Mais informações 62. 3531-6800 Rua P-16 esq. c/ P-17, nº 593 Setor dos Funcionários, Goiânia-GO www.paxdomini.com.br
Cultura
Museu a céu aberto Patrimônio Histórico de Goiânia, o Cemitério Santana ganha projeto de revitalização que pretende colocálo no roteiro turístico da Capital, a exemplo de outras necrópoles do Brasil e do mundo 70 71
por Branca Simpson
O Cemitério Santana, no bairro de Campinas, em Goiânia, está a caminho de se transformar em atração turística e cultural da Capital. O projeto de revitalização, idealizado pelo consultor de empresas Leandro Pires e o empresário Omar Layunta, em curso desde outubro do ano passado, já conta com diversas parcerias, entre elas, a Prefeitura Municipal de Goiânia, Câmara de Vereadores, Goiás Criativo – projeto do Ministério da Cultura e Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte –, dentre outras instituições públicas e privadas. O objetivo do projeto Santana - Cemitério Art Déco é resgatar e divulgar a história e a cultura, fortalecendo a cidade como uma das principais do mundo com maior patrimônio art déco, além de colocar o local na rota turística, a exemplo de outros cemitérios, como o Père-Lachaise, em Paris; o da Recoleta, em Buenos Aires; e o Consolação, em São Paulo. Para isso, estão previstas reformas, ações culturais com o intuito de sensibilizar a sociedade para a importância do projeto e a criação de um site e um aplicativo como ferramenta
para visitas guiadas. “O projeto pretende desmitificar o funeral como sendo o fim e trazer o goianiense para perto de um acontecimento natural, que é a morte”, argumenta Layunta, que é secretário-geral do Sindicato das Empresas Funerárias, Cemitérios e Crematórios de Goiânia e Região Metropolitana (Sefec) e diretor da Associação das Empresas Funerárias do Estado de Goiás (Aefego), entidade realizadora do projeto. O Cemitério Santana deverá passar por uma readequação completa, com a finalidade de promover melhorias à acessibilidade, oferecer conforto aos visitantes e torná-lo esteticamente mais agradável. Para a execução do projeto de arquitetura, a dupla convidou o arquiteto Leo Romano, conhecido por criar ambientes arrojados e inspiradores, que por sua vez aceitou de prontidão o novo desafio. A professora doutora em Estudos Cemiterais, Maria Elízia Borges, vai auxiliar no levantamento dos dados históricos e patrimoniais do comitério.
Fotografia Enio Tavares
Empresário Omar Layunta; arquiteto Leo Romano e o consultor Leandro Pires: valorização da história de Goiás
No final de março ocorreu a primeira ação cultural em torno do projeto, com a realização de missa na Igreja Matriz de Campinas, seguida da apresentação da Orquestra Sinfônica de Goiânia, abrindo a tradicional Semana Santa. O fotógrafo paulista Caio Gallucci também esteve em Goiânia para fotografar o cemitério. As imagens farão parte de uma exposição com data ainda a definir. “Várias ações serão divulgadas ao longo do ano”, explica Leandro Pires. O Cemitério Santana é administrado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), uma das parceiras do projeto. Segundo a titular, Maristela Alencar, o Santana deverá se transformar em um importante ponto de pesquisa para estudantes, uma vez que no local estão sepultadas personalidades de destaque na história de Goiás (leia box). Também já manifestaram apoio à ideia a Companhia de Urbanização de Goiânia, Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer de Goiânia, a Secretaria Municipal de Cultura e Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte. “Além destes apoios, vamos participar de editais de fundo de cultura e incentivos federais”, afirma Leandro Pires.
História Necrópole mais antiga de Goiânia, o Cemitério Santana foi construído em 1940 e completa 75 anos em 2015. Nos seus 290 mil metros quadrados, estão sepultadas personalidades importantes da história local, entre elas, o fundador da Capital, Pedro Ludovico Teixeira, e sua esposa, Gercina Borges; o primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges; o empresário Jaime Câmara; o ex-senador Alfredo Nasser; o apresentador de programa de TV coronel Hipopota, considerado o “Chacrinha goiano”, e o padre Pelágio Sauter. Em 2000, o Cemitério Santana foi tombado como Patrimônio Histórico do município.
Design
Lugar de boas obras Gregory Kravchenko inaugura sua Krav Design já com a grande missão de reeditar os móveis icônicos do premiado arquiteto e designer Maurício Azeredo
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por Adevania Silveira
73 Há seis meses, o designer de produto Gregory Kravchenko, 37, conseguiu concretizar o projeto dos seus sonhos: inaugurar a Krav Design, um centro de pesquisa, inovação e desenvolvimento do design, aliado à produção. Como todo sonho que parte para a realidade, necessitou de muito tempo, trabalho e dedicação para colocar tudo no ponto para iniciar a melhor parte do plano, que guardava a sete chaves. Gregory havia adquirido a infraestrutura, incluindo maquinário, para dar início à reedição de peças do mobiliário criado pelo premiado arquiteto e designer carioca, radicado em Goiânia, Maurício Azeredo, 64. Desde 2008, quando encerrou as atividades do ateliê que mantinha em Pirenópolis, a 123 qilômetros de Goiânia, o arquiteto não produzia seus icônicos móveis. No final do ano passado, a primeira peça, o famoso banco Ressaquinha, uma das mais emblemáticas da coleção, de 1988, nascia na bem estruturada marcenaria que integra o complexo de 700 metros quadrados que construiu numa antiga chácara da família, na BR-153, próximo ao Condomínio Aldeia do Vale. “Os primeiros meses foram de intenso treinamen-
to da mão de obra. Trata-se de uma produção de alta complexidade”, explica Gregory, que, durante o processo, submeteu as peças ao crivo minucioso do criador. O laborioso trabalho envolve técnicas antigas de marcenaria e encaixes precisos de juntas tridimensionais, um sistema patenteado pelo arquiteto, que exclui o uso de qualquer fixador convencional, como prego e parafuso. Inicialmente, Gregory dará vida a 15 peças de distintas coleções de Azeredo, incluindo cinco móveis-ícones premiados. Os móveis reeditados continuarão recebendo uma numeração e contando com o certificado de autenticidade e garantia permanente, que sempre acompanhou cada produto, mantendo o conceito artesanal e a dimensão artística da obra do arquiteto, toda ela centralizada em pesquisas e projetos fundamentados na aplicabilidade de madeiras nativas brasileiras, de identidade e cultura brasileira e sistemas estruturais. “Os móveis do Maurício são como obras de arte, com linhas de baixa produção, que equivalem a peças de ateliê”, compara Gregory.
Fotografia Edgard Soares
Gregory na marcenaria da recém-inaugurada Krav Design, que está reeditando peças do mobiliário de Maurício Azeredo
A escada que interliga os três pavimentos fica na área central da construção, dividindo os dois blocos principais do prédio
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Acima, o trabalho na marcenaria; showroom da Krav Design, com a mesa Ubá (1988) em primeiro plano
O lançamento oficial do conjunto a ser produzido pela Krav Design, de acordo com Gregory, deverá ocorrer no próximo semestre. Há também a possibilidade de o mobiliário ser exposto em outras capitais brasileiras. O trabalho de ambos os designers tem muitos pontos em comum. Se para Maurício, de quem Gregory já foi aluno, os objetivos principais, desde o início, foram a divulgação da aplicabilidade de cerca de 50 espécies e a confirmação da dimensão do design como produto cultural, Gregory quer dar ênfase aos princípios da ecologia industrial na Krav Design. “Nosso resíduo é aproveitado como matéria-prima pré-beneficiada. Visualizamos a fábrica como um organismo vivo, como espaço autossuficiente”, aponta. Pós-graduado em Design Estratégico pelo Istituto Europeo di Design e mestre em Engenharia de Produção, Gregory diz que a Krav nasceu para ser uma espécie de manjedoura de projetos
“TEMOS TECNOLOGIA PARA PRODUZIR QUALQUER PEÇA DE MADEIRA” e pesquisas de cunho ambiental, do design e da produção industrial, utilizando as amplas salas do complexo para a realização de cursos e workshops. “Temos tecnologia para produzir qualquer peça de madeira, seja utensílio ou mobiliário”, afirma Gregory, orgulhoso por comandar hoje o único centro nestes moldes, fora dos limites das universidades, em Goiás. “A ideia é que outros designers produzam na Krav ou venham para desenvolver seus projetos de design”, informa.
No alto, banquinho Palha (1996), feito de fitas de madeira resultantes de cortes em serra, que são coladas e agregadas por colagem e prensagem; banco Ressaquinha (1988), um dos móveisícones. Com ele, Maurício conquistou a primeira premiação no Museu da Casa Brasileira
Design
Obrigada, Maurício Depois de uma pausa de sete anos para reflexão e recondução da carreira, Maurício Azeredo retoma produção do seu premiado mobiliário e prepara lançamento de peças inéditas 76 77
por Adevania Silveira
Para um nome cuja obra passa necessariamente pela história do mobiliário brasileiro, um hiato de sete anos sem produzir pode representar perdas significativas. Ainda mais quando está em jogo o rigor, tão arrefecido em dias atuais, com o qual o arquiteto, designer e acadêmico Maurício Azeredo imprime à trajetória de criador. Por outro lado, em se tratando de um profissional coerente, que não faz absolutamente nada sem que haja sentido, e fundamenta sua criação sui generis em estudos e pesquisas sobre a aplicabilidade de madeiras nativas, a cultura e a identidade brasileiras, não é de se estranhar que haja pausas reflexivas. Ao contrário, podem ser até profícuas. Maurício Azeredo está de volta (leia matéria anterior) e o design brasileiro agradece. Desde 2008, quando encerrou as atividades do ateliê em Pirenópolis, o arquiteto não produzia seus premiados móveis, embora nunca o tenha feito em escala comercial. Mas isso não quer dizer que estivesse longe do seu ofício, ainda que tenha dedicado os últimos anos a dar aulas na Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
“Apenas me dei um descanso, uma pausa para recondução do trabalho”, resume Azeredo, que detém até hoje o recorde individual em prêmios concedidos pelo Museu da Casa Brasileira de São Paulo, a principal premiação de design do País, em que recebeu três prêmios de uma só vez. Com uma parceria formalizada com a recém-chegada ao mercado Krav Design, do designer de produto Gregory Kravchenko, 15 peças de distintas séries – entre elas, móveis-ícones premiados, como o banco Ressaquinha, as mesas Ubá, Babanlá e Ibeiji –, ainda este ano será possível rever, e até adquirir, parte do mobiliário desenhado pelo arquiteto. “Tudo na permanência da minha coerência, buscando a confirmação do design como cultura, dialogando com o momento presente”, ressalta o zeloso Maurício. Sem que houvesse qualquer plane-
Fotografia Edgard Soares
Maurício Azeredo diante da valiosa coleção de 87 réplicas em miniatura dos seus móveis, exibida em exposições dentro e fora do Brasil
Acima, Maurício Azeredo exibe a valiosa coleção; miniatura da cadeira Colombina, de 1998: composição construtivista, em madeiras contrastantes, lembra as roupas dos palhaços
O ARQUITETO ESTÁ PREPARANDO O DESDOBRAMENTO DA SÉRIE AVESSO jamento, a retomada veio justamente em uma data bastante simbólica para Maurício. Este ano, o arquiteto chega aos 40 anos da sua primeira série completa, batizada de Auto-construção I, de 1975. À ótima notícia da reedição de parte do seu acervo, Maurício nos presenteia com outra novidade, tão boa quanto a primeira: o arquiteto está preparando o desdobramento da série Avesso – criada em 2005 e mostrada pela primeira vez em uma exposição em Paris –, e pretende criar subprodutos para uso wresidencial da série Isó, cujo projeto desenvolveu para a Igreja São Lourenço dos Índios, em Niterói, no Rio de Janeiro. Maurício Azeredo nasceu em Macaé, no Rio, mas foi criado em São Paulo, onde cursou Arquitetura na Universidade Mackenzie e iniciou as pesquisas e projetos tendo como fundamento a aplicabilidade de cerca de 50 espécies de madeiras nativas e a confirmação da dimensão do design como produto cultural. Em 1985, desenvolveu um sistema estrutural denominado Junta Tridimensional, executado exclusivamente com encaixes de madeira, sem o uso de fixadores convencionais, como prego e parafuso. O invento foi patenteado em 1990. Foi o designer pioneiro no uso sistemático da diversidade em seus projetos e produtos, muitas vezes associando em um mesmo objeto 18 espécies de madeiras, em suas cores e tons naturais.Ao longo da carreira, Maurício produziu 430 projetos – ou seja, sistemas estruturais que por sua vez se desdobraram em mais de 3 mil peças. A este vasto acervo, acrescente-se a preciosa coleção de 87 miniaturas idênticas aos móveis originais, exibidas em dezenas de exposições nacionais e internacionais. Em 1977, o arquiteto foi convidado a integrar o corpo docente do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, que acabou lhe aproximando de Pirenópolis, onde instalou seu ateliê e permaneceu por 23 anos.
Ao encerrar as atividades na cidade, Maurício se transferiu para Goiânia, onde permanece como professor adjunto da PUC Goiás. O mobiliário de Maurício já foi exibido em várias galerias e museus do Brasil e do exterior. Hoje, suas peças integram importantes acervos, como o Sítio Burle Marx, no Rio, Museu da Casa Brasileira, Instituto Itaú Cultural, Palácio da Alvorada de Brasília e Fundação Mário Soares, em Lisboa.
Miniaturas do banco Ressaquinha (1988) e mesa Cambogê, de 1991, uma referência ao costume africano de fazer aberturas reticuladas nas construções
Vitrine
Milão made in Brasil por Lucíola Correa
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A força do design brasileiro marcou presença na Semana do Móvel de Milão 2015 com quase uma dezena de exposições em eventos como Good News From Brazil, Rio + Design, Tributo a Sergio Rodrigues, Made – feira paulistana que ganhou pela primeira vez uma versão internacional –, Brazil S/A e Mostra Jovens Designers, no Salone Satellite. Com um processo criativo único e bastante peculiar, traduzido por uma produção que reflete a tradição do artesanato à indústria, nossos profissionais têm ganhado cada vez mais reconhecimento no mercado internacional. No principal evento, o Salão Internacional do Móvel, participaram quatro marcas nacionais: Saccaro, Butzke, A Lot Of Brasil e Moora Mobília Brasileira. Veja algumas peças que chamaram a atenção do público.
Revestido com escamas feitas de bucha vegetal, o armário Bucha Soberana é uma criação do estúdio mineiro Cultivado em Casa e ganhou destaque pelo ineditismo
As delicadas luminárias de Jader Almeida também tiveram destaque em Milão, onde expôs pela segunda vez. Na imagem, luminária pendente Mush, com estrutura de latão e cúpula de vidro
O designer e arquiteto catarinense Jader Almeida também apostou na estética dourada. Fã do estilo minimalista, apresentou a poltrona de balanço Licce com estrutura de latão
Lançamento em Milão, a poltrona Zózimo, criada pelo designer Ronald Scliar Sasson, é uma peça exclusiva, executada em cobre e latão, e dedicada ao jornalista carioca e colunista social Zózimo Barrozo do Amaral. Para o designer, a peça também representa uma volta às suas origens da arte plena e criativa
Com inspiração nas peças aramadas das décadas de 1950 e 1960, a versátil poltrona Leque, do designer Fernando Jaeger, tem uma paleta de cores ampla e pode ser utilizada em ambientes internos ou externos
O banco Tamanduá, de Sergio Fahrer, é inspirado no animal que habita o Cerrado brasileiro. A técnica de curvar a madeira, traço característico do designer, se mostra presente. O mesmo molde serve para inverter os sentimentos das linhas e estruturar o banco. A montagem é feita manualmente por encaixe
O lançamento de Zanini de Zanine na Euroluce é a nova linha da consagrada luminária Flora, inspirada na planta monstera. A peça, feita em parceria com a marca Slamp, é fabricada agora na versão coluna
Fotos: Divulgação
Formada por cabaças, a luminária Ouriço é equipada com LEDs, plástico e tubos de aço. Os difusores foram feitos à mão. A peça foi mostrada na Rio + Design, em Milão, que este ano focou no tema da tecnologia e sustentabilidade, especialmente no reaproveitamento de materiais
Rodrigo Almeida levou a Milão cadeiras da série Construtivista, com influências da Bauhaus e do modernismo brasileiro, produzidas com madeiras nobres recuperadas
Casas Reais
O essencial como luxo Uma joia da arquitetura modernista dos anos 1960, este sobrado no Setor Sul, em Goiânia, abriga uma família que valoriza o convívio, o canto dos pássaros e o sossego
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por Adevania Silveira
83 Um pedaço do patrimônio arquitetônico de uma cidade é salvo quando um imóvel que representa uma época cai nas mãos de alguém que valoriza o seu tempo e a sua história. Afinal, sem memória não saberíamos quem somos nem para onde vamos. É o caso desta residência, cujo projeto tem a assinatura de Raul Naves Filó, o talentoso arquiteto e urbanista que, na década de 1960, integrou o importante time de profissionais responsável por materializar o estilo modernista em Goiânia, rompendo o padrão estético dominante da época e produzindo uma arquitetura original e contemporânea. Há sete anos, a arquiteta e empresária Virgínia Maria Naves Caiado estava prestes a iniciar a construção de uma casa num condomínio fechado, quando decidiu rever os planos de viver distante do centro urbano. Após pesquisar inúmeros imóveis, se deparou com a casa onde reside há quatro anos com o marido, o médico Roberto Ramos Caiado, e o filho Pedro, de 9 anos. “Não queria desistir de continuar morando na cidade, de ter tempo para levar meu filho à escola, mas também queria um lugar que fosse sossegado”, conta.
O sobrado de 540 metros quadrados, com três suítes, piscina e jardim, localizado em uma tranquila viela do Setor Sul, bairro central da cidade, onde o único ruído é produzido pelos passarinhos, encantou a moradora, que acabou convencendo o marido a comprá-la. A reforma consumiu um ano e meio e foi tocada a quatro mãos. Virgínia, que também é dona da Illuminato, loja conceito em iluminação, ponderou a necessidade de ter a opinião de outra profissional intermediando os desejos do casal e para isso contratou a arquiteta Myrian Penna. Com intervenções pontuais, a pérola modernista concebida em 1969, de geometria pura e linhas retas, teve 80% do projeto original preservado pelos novos donos. “As maiores mudanças foram realizadas no piso superior”, explica Virgínia, que prolongou a laje da varanda para ampliar a suíte máster e dar lugar à sacada com vista para o jardim, com entradas para o seu quarto e o do filho. “O
Fotografia Edgard Soares
VirgĂnia Naves e o filho, Pedro, 9, leem Ă tarde, na varanda
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O living de 80 metros quadrados está inteiramente conectado com o exterior da casa; destaque para as poltronas Sérgio Rodrigues; sofás Via Condotti; luminária Tolomeo (canto direito), e sobre o aparador, abajur Glo Ball Basic 1 da Flos (à esquerda)
térreo era amplo e transparente, ao contrário do nível superior, muito confinado”, explica Myrian, que destaca como ponto positivo no projeto a localização da escada, que dá acesso direto à ala de serviços, sem a necessidade de transitar pela área social. “Antigamente as casas eram mais visitadas e por isso havia a necessidade de se preservar a privacidade dos moradores”, pontua Myrian. O toque de modernidade à escada foi dado com a substituição do guarda-corpo de alvenaria por blindex, abrindo passagem para a entrada de mais luz. A configuração da residência expõe o estilo de Filó de trabalhar somente com o essencial. A sala ampla e com grandes aberturas interage com a varanda, a área da piscina, o solarium e o jardim, formado basicamente por palmeiras imperiais e orquídeas engastadas nos troncos. A antiga sauna foi desativada para dar lugar ao escritório. Os caixilhos e as portas de correr foram substituídos e uma falsa parede foi levantada para embuti-las quando abertas.
“O TÉRREO É TODO DEDICADO AO CONVÍVIO. NÃO HÁ UM LUGAR QUE NÃO USAMOS” Na decoração assinada pela dona da casa, o living foi dividido em dois ambientes, com tapetes demarcando as áreas. Virgínia usou dois sofás idênticos, criando variações com mesas de centro e laterais, poltronas e banquetas. A cartela de cores é neutra para dar suporte a objetos e obras de arte carregadas de cor. O efeito final é clean, sofisticado, com uma atmosfera de aconchego e descanso. “A parte térrea é toda dedicada ao convívio. Não quis fazer divisão entre sala de jantar e estar, é tudo junto mesmo. Não há um lugar que não usamos”, explica Virgínia. O filho Pedro é o maior beneficiado com o projeto de interior que valoriza o essencial. “Ele costuma apos-
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Em sentido horário: poltrona Charles Eames faz companhia às banquetas Sérgio Rodrigues; escada que interliga o social à ala íntima ganhou corrimão de blindex; na parede, o mosaico de diferentes obras de arte, entre elas uma xilogravura de Siron Franco
“É UMA CASA QUE AINDA ESTÁ EM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO”
Na reforma, a piscina ganhou formato retangular. A fileira de palmeira-ráfia emoldura o banco de ripas; abaixo, escultura em fibra de vidro do artista Siron Franco
tar corrida com o patinete cruzando toda a extensão da sala e da varanda”, conta rindo. No térreo, tanto na parte interna como na externa, Virgínia manteve o revestimento do piso original da casa, feito com pedra São Tomé, outro sinal do vanguardismo de Filó. Na reforma, foi necessária somente a troca de algumas unidades da pedra mineira, bastante usada nos dias atuais. Para o piso do nível superior, Virgínia optou por um revestimento de réguas de madeira cumaru, trazendo aconchego aos ambientes. A decoração da ala íntima segue o estilo de optar apenas pelo essencial. “É uma casa que ainda está em processo de construção”, afirma Virgínia, que pretende fazer novas intervenções no projeto, especialmente no living. A grande piscina revestida de pastilhas azuis ganhou um novo formato na reforma. As arquitetas eliminaram os recortes originais, deixando-a retangular. Próxima a ela, o paisagismo foi completado por uma fileira de palmeira-ráfia arrematada por um banco de ripas. O solarium de concreto, original do projeto, aguarda o crescimento das mudas de jade laranja. Recentemente, o jardim ganhou mais uma espécie, uma muda de ipê-amarelo, plantada próxima à varanda. “Um amigo nos presenteou. Ele a trouxe e a plantou enquanto estávamos fora”, conta Virgínia. Nada mais apropriado para coroar este precioso projeto de arquitetura.
Abaixo, o solarium de concreto abriga mesa e cadeiras Tamanduá Bandeira; Virgínia Naves desfruta da companhia do filho, Pedro, 9, sentada na poltrona Carlos Motta; na copa, o lustre Light Shade Shade, da Moooi, reflete o ambiente ao seu redor, mesa com base dos anos 50, cadeiras Lúcio, de Sérgio Rodrigues, e carrinho bar Teca, de Jader Almeida; na parede, obras de Siron Franco
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A vida de Filó O arquiteto e urbanista Raul Naves Filó nasceu no município goiano de Corumbaíba, a 220 quilômetros de Goiânia. O sobrenome Filó veio originalmente de “Filho” que, por erro do escrivão, ficou registrado como tal. Os pais, Maria e Raul Naves, mineiros e pioneiros em Goiás, se transferiram para Goiânia na década de 1930 e implantaram, no bairro de Campinas, o Palace Hotel, hoje tombado pelo Patrimônio Histórico. Os pais enviaram Raul Filó para cursar Arquitetura na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Filó foi colega de turma de Paulo Mendes da Rocha e aluno de Carlos Millan, de quem recebeu muita influência. Ao formar-se, em 1960, retornou a Goiânia, onde montou um escritório em sociedade com o colega Ariel Costa Campos. Foi dono da Taba Móveis, que trabalhava com móveis assinados e que, por se tratar de um conceito muito à frente do mercado local, não durou muito tempo. Filó foi quem organizou o concurso para a sede social do Jóquei Clube, que inseriu Paulo Mendes da Rocha no cenário da arquitetura local; trabalhou na Universidade Federal de Goiás (UFG) e foi fundador da Escola de Engenharia da UFG e primeiro-secretário de Planejamento do Brasil. Projetou diversas obras em Goiânia, desde edifícios comerciais a residências, com grande repercussão.
A ONDA GOURMET
Na mesa, o tema da comida vestida de gala
JANTAR ÀS ESCURAS
As emoções de um comensal em um inusitado restaurante na Alemanha
Consumo
Cardápio engomadinho Febre gastronômica de transformar receitas triviais em produtos gourmet divide a opinião de chefs e donos de negócios que faturam alto com pratos vestidos de gala
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por Rimene Amaral
91 Há receitas que são exatamente as mesmas desde que foram inventadas. Uma delas, a de brigadeiro, sempre foi feita com uma lata de leite condensado, quatro colheres de chocolate em pó e duas colheres de manteiga. Não tem erro. Coloca tudo numa panela e leva ao fogo, mexendo sem parar até desgrudar. Outra simplicidade unânime é a pipoca. Sem contar aquela de micro-ondas. Basta colocar o óleo, milho, sal e uma pequena mandinga para que todos os grãos virem pipoca e não sobre piruá sobre piruá. O sanduíche do pit-dog da esquina também pode-se dizer que é o mesmo de sempre, assim como os picolés coloridos, que nada mais são do que suco de fruta congelado no palito. Acontece que, de um tempo pra cá, todas essas iguarias foram submetidas ao recém-criado ‘raio gourmetizador’. Os efeitos energizantes desse raio variam entre o uso de produtos de melhor qualidade, acréscimo de ingredientes e uma frescurinha básica, interferindo diretamente no valor. A gourmetização agrega um custo significativo imposto por um detalhe ou outro ao produto que, no frigir dos ovos – e que seja em azeite trufado gourmet –, conti-
nua sendo o mesmo, só que vestido de gala. Dando asas à imaginação, seria o mesmo que uma coxinha do boteco da esquina trajar-se de smoking para ir a um evento black tie, entendeu? Mas há controvérsias sobre o assunto. O chef de cozinha Ian Baiocchi, que se projeta com uma cozinha contemporânea autoral, levada pela inspiração, afirma que gourmetização é trazer, de maneira diferente e mais sofisticada, algo que soe familiar. “Faço uma coxinha (olha ela aí!) que pode ser chamada de gourmet, porque uso todas as técnicas de uma receita convencional, só que com alguns ingredientes na massa, como agrião, espinafre e taioba. Os recheios podem ser de frutos do mar, cordeiro, rabada e galinha d’angola”, exemplifica. Processos como o de confitar (cozinhar em gordura, sem fritar, lentamente e em baixa temperatura), reduzir (método de concentração de sabores e espessamento de um caldo ou molho, por meio de uma ebulição lenta), acidificar (juntar algum ácido, como vinagre ou
Os sabores são variados e inusitados, como coco e noz pecan; caramelo e flor de sal; e canela cristalizada. Têm ainda as salgadas de curry e mostarda; trufa branca; e lemon peper. Uma latinha de 50 gramas custa entre R$ 29,90 e R$ 35,90, enquanto a do carrinho do parque custa em média R$ 2. O efeito atingiu também os picolés que, rebatizados de “paletas”, levam pedaços de frutas (R$ 6) e recheios de cremes (R$ 7). Picolés convencionais não passam de R$ 2, quase 300% menos que os que estão sob efeito do fenômeno. Até o final deste ano, o ‘raio gourmetizador’ vai atingir a água, com investimentos de R$ 30 milhões. A ideia é de um grupo de empresários do município de Barcelos, a 399 quilômetros de Manaus. A Amazon Air Water é
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suco de limão, a algum líquido), banho-maria invertido (resfriar rapidamente um alimento em uma mistura de água e gelo) e tantos outros recursos da cozinha gourmet ganharam roupagem fashion desde que a glamourização da culinária atracou por essas bandas. Ficou tão chique falar disso que até banalizou. As redes sociais tiveram um peso enorme na difusão disso tudo. Postar um prato bem-feito e decorado, com nome rebuscado, virou sinônimo de status. Inspirada na história da Maria Brigadeiro, de São Paulo, a paulista residente em Goiânia Fernanda Duarte, 28, abriu uma boutique do mesmo doce, buscando incrementar o que muita gente acha que não pode ser melhor. “Usamos o Callebaut, um chocolate belga em barra”, conta. Para a empresária, o produto gourmet tem outra qualidade. “É um produto diferente do que a gente faz em casa”, revela. A loja oferece 40 tipos de brigadeiro. Cada docinho pesa 17 gramas e custa R$ 3. Por mês, vende, em média, 17 mil brigadeiros. Na contramão, Ney Martins se apresenta como um chef, digamos, conservador. Ele se enveredou pelas caçarolas ainda na infância, vendo as avós cozinharem. A vivência gastronômica fez com que Ney abrisse um ateliê gourmet, onde prepara receitas de forma rudimentar e original. “Um espaço rústico, com fogão à lenha, destinado à produção de geleias e outras iguarias”, explica o chef, orgulhoso de ter aprendido o que ele define como “cozinha de raiz” ou “cozinha pé no chão”. As geleias são feitas em tacho de cobre, tudo de forma artesanal. Ney crê que a palavra gourmet carrega um peso enorme, principalmente para leigos, indicando sinônimo de qualidade e ostentação. “Precisamos saber reconhecer um produto gourmet pela essência, métodos de preparação e as técnicas usadas”, diz. Pipoca gourmet é outra simplicidade que ganhou os empórios mais requintados do Brasil.
Alfredo Souza
FAROFA DE OVO CONVENCIONAL, SEM A INFLUÊNCIA DO RAIO, É BEM MAIS SIMPLES Edgard Soares
O chef Ian Baiocchi criou a coxinha gourmet, com produtos diferentes na massa; o chef mineiro Ney Martins, que prepara “receitas gourmet” de forma rudimentar; e Fernanda Duarte, que vende 17 mil brigadeiros gourmet por mês
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a primeira marca de água gourmet obtida da umidade do ar da Amazônia, que será comercializada inicialmente na Europa. A garrafa de 500ml será vendida a 75 euros, algo em torno de R$ 270. No caso deste produto, há outros elementos que elevam seu custo e o colocam na categoria gourmet. A tampa, por exemplo, é feita de amido de milho e se decompõe em cerca de 150 dias. A garrafa de vidro pode ser reciclada infinitamente. Mas quando este assunto vem à tona em rodas de amigos, não há como fugir de exemplos divertidos de receitas gourmetizadas, como esta de farofa de ovo: aqueça quatro colheres de azeite extravirgem grego, misturadas a duas colheres de azeite trufado francês. Desmaie duas colheres de cebola roxa picada em cubos minúsculos, mergulhados anteriormente em água com açúcar de beterraba (para perder a acidez), no azeite aquecido. Espera-se que, neste momento, os ovos de galinhas albanesas, colhidos pelas freiras descalças das colinas de Yerevan, já estejam vigorosamente batidos com quatro colheres
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de creme de leite fresco feito com leite de búfala proveniente de Botsuana, uma pitada de sal de guérande e duas pitadas de sal negro da Cordilheira do Himalaia, amêndoas libanesas laminadas e levemente torradas em forno de barro com lenha de carvalho francês, flocos de alho negro da Prússia, um pistilo crocus sativus (também conhecido como açafrão espanhol medieval) e 17 folícolas de tomilho fresco cultivado na Costa Amalfitana. Despeje a mistura à cebola já desmaiada. Mexa sem parar, até que estejam firmes, porém aerados. Um sopro de noz-moscada irlandesa e, por último, farinha de mandioca feita pelos índios Ianomâmis da Venezuela. A farofa de ovo convencional, sem a influência do raio, é bem mais simples: aqueça a manteiga, quebre o ovo, acrescente sal e farinha de Guapó.
Viva Goiânia
A chef de cozinha e empresária Waléria Noleto inaugurou o ano de 2015 decidida a aplicar novos conceitos ao seu negócio que está completando 22 anos. Dona do Buffet Imperial, dos restaurantes industriais Gran Chef e do premiado restaurante Victória Gourmet (Veja Revelação 2012 e Melhores da Gastronomia 2014 - Sobremesa e Salada), Waléria acaba de lançar um serviço de buffet com atendimento exclusivo, levando seus sabores para festas sociais e corporativas de maneira personalizada. O Buffet Imperial, que até o início do ano atendeu dentro do espaço Mansão Jaó, agora oferece um serviço especial para comemorar os melhores momentos, que vão desde café da manhã, aniversários, festas, eventos corporativos e casamentos, realizando cardápios exclusivos, com menus contemporâneos, especiais e únicos, de acordo com o perfil do evento e do cliente. “Estamos atendendo um cliente por dia, para darmos total atenção à sua festa”, explica a empresária que já chegou a realizar seis festas no mesmo dia, servindo cerca de oito mil convidados. Waléria já comandou os espaços de festa do Jóquei Clube, antigo La Fontaine, Mega Place e, por último, Mansão Jaó. Na linha industrial, a empresária comemora o crescimento do Gran Chef, que atende grandes empresas, entre elas, Creme e Mel, Feijão Barão, Tecnoseg, Centercom e Luztol. Para que tudo saia a contento, Waléria supervisiona as cozinhas de perto e conta com uma equipe de nutricionistas que acompanha todos os procedimentos. “Somos bastante elogiados, inclusive pelos donos das empresas”, diz Waléria. Formada em Gastronomia, em 2005, a chef de cozinha começou a lidar com as panelas ainda muito jovem. Hoje, com sua culinária centrada no respeito aos ingredientes, na simplicidade e no sabor, Waléria constantemente busca se reciclar, viajando para a Europa para pesquisas gastronômicas com o objetivo oferecer cada vez mais qualidade e exclusividade.
Verissa Noleto
Buffet Imperial com novo conceito
VICTÓRIA GOURMET Endereço: Rua 137, nº 90 Setor Marista (62)3432-7727 BUFFET IMPERIAL Endereço: Rua 1.142, Qd.260 Lt. 05 Casa 01, St. Marista (62) 3997-6800 | (62) 8310-2666 site: www.buffetimperial.com.br e-mail: orcamento@buffetimperial.com.br
A chef Waléria Noleto: novo conceito para o seu negócio; abaixo, a famosa paella do seu cardápio
Viva Floripa
Lendo cervejas, comendo livros
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Encontrar em um mesmo ambiente cervejas especiais, boa comida e livros pode parecer inusitado, mas, em Florianópolis, a união destes três prazeres é a receita de sucesso do Books & Beers, um bar cervejeiro cheio de personalidade, na Lagoa da Conceição. A proposta é do empresário paulistano Leandro Aversa, que se mudou para lá, trabalhou um tempo em bares e depois decidiu abrir o próprio negócio. Os livros ficam espalhados pelo bar, assim como vários objetos interessantes. Você escolhe um dos 530 títulos de autores nacionais e estrangeiros, escolhe um lugar confortável para se sentar e então peregrina por uma carta de cervejas com mais de 130 rótulos. Os cardápios são uma atração à parte: em formato de livro, têm visual estilizado e criativo, e títulos alusivos a grandes obras, como Memórias Póstumas de Bruschetas, em referência à
Fotos: Bruno Contin
por Leandro Pires, de Florianópolis
conhecida obra do escritor Machado de Assis; Moby Drink, O Velho e o Bar, Dom Queshots, O Apanhador no Campo de Cevada, e assim vai. “A proposta é resgatar a cultura da leitura, por meio da experiência da boa gastronomia, e se possível deixar o celular um pouco de lado”, explica Aversa. Os livros são disponibilizados para leitura no local ou compra, mas também existe o “carrinho sebo”, onde você leva um livro e troca por outro. Os preços são atrativos e o carro-chefe da casa são os mini-hambúrgueres de picanha e/ou linguiça Blumenau. Fica a dica do atum selado, que também é espetacular. Se possível, escolha sentar-se no terraço, onde poderá observar a vista da lagoa sentindo o frescor da noite. Rua Senador Ivo D’Aquino, 103, Lagoa da Conceição, Florianópolis - SC Fone: (48) 3206-6664 www.booksbeers.com
Misto de livraria e bar, o Books & Beers encanta com sua decoração aconchegante, boa comida, cervejas artesanais
Fotos Divulgação
Viva Goiânia
Winiká brasileiríssimo Um dos restaurantes mais jovens da cidade — menos de um ano —, o Winiká Gastro conquistou, com sua alta gastronomia aplicada a pratos tipicamente brasileiros, o Prêmio Restaurante Revelação 2014, concedido pela Veja Goiânia Comer e Beber. Combina um cardápio enxuto e bem elaborado pelo chef carioca Marco Soares, ex-Dona Onça, de São Paulo, com ambiente moderno e informal — o menu do dia é grafado na parede com giz escolar — e preços convidativos. A casa prioriza produtos que tenham DNA brasileiro, como, por exemplo, o queijo da Serra da Canastra, de Minas Gerais, em substituição ao grana padano e parmesão. “No cardápio atual, temos também o queijo Arupiara da Fazenda Carnaúba, na Paraíba, bastante artesanal, de receita brasileira, e mais: é uma herança da família de Ariano Suassuna, que dá um charme a mais ao produto”, afirma a dona do restaurante, Isabel Araújo, que conseguiu inverter alguns valores da gastronomia local, introduzindo a fraldinha ao cardápio. Da cozinha do Winiká, saem pratos populares totalmente revisitados e personalizados com novos aromas e técnicas de manipulação, como Rabada com polenta e agrião, Arroz de galinha caipira com ovo frito, Carne de panela com legumes e arroz, Risoto de açafrão, Ravioli de mortadela ou de galinha caipira, Arroz da roça com porco, Talharim de espinafre com ragu de linguiça. Dos petiscos, a Coxinha de rabada é uma das mais apreciadas. Do leque de sobremesas, que inclui Merengue com creme de champagne e morangos e Rabanada com especiarias, servida com sorvete de paçoca e caramelo de café, o preferido é o Bolo da vovó, feito com chocolate meio amargo, recheado com mousse de chocolate e servido com ganache de chocolate e sorvete de coco. Com um cardápio mutante que proporciona agradáveis surpresas no menu, o Winiká não deixou de fora o tradicional hambúrguer, que tem as quartas-feiras consagradas às versões artesanais do sanduíche.
Acima, ambiente moderno e informal do Winiká; ao lado, Rabada com polenta e agrião; abaixo, Bolo da vovó, sobremesa preferida dos clientes
Winiká Gastro Endereço: Esq. da Av. T-13 c/ Rua T-36, nº 711, Edifício Santorini, Loja 1, Setor Bueno. Aberto de terça a sábado, das 12h à 0h; domingo, das 12h30 às 16h30; Contatos: (62) 4018-4680 (62) 4016-8026 winikagastro@ gmail.com
Viva Colônia
Banquete às cegas por Kai Kreutzfeldt, de Köln, Alemanha
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Em uma experiência gastronômica, todos os sentidos trabalham a nosso favor. Mas, e se ao entrar em um restaurante você fosse privado de um dos sentidos, a visão por exemplo, como seria? O Dinner in the Dark – um jantar no escuro total, é uma vivência sensorial oferecida em diversos países, desde 2001, e hoje é uma franquia com restaurantes na Alemanha (em Colônia, Hamburgo e Berlim), na Holanda, em Pequim e nos Estados Unidos. Seu fundador, Axel Rudolph, vê o Dinner in the Dark como um evento de arte e achava, à época, que teria pouca duração, mas 14 anos depois ainda lota salões às escuras para um jantar nada convencional, que, apesar de escuro, faz com que qualquer um saia de lá se conhecendo mais. Em Colônia, na Alemanha, o Unsicht-Bar – um trocadilho em alemão que poderia ser traduzido como bar da não-visão – acontece no restaurante Mehring. A palavra unsicht-bar significa invisível. A verdade é que no Bar da Não-Visão, a comida é invisível, já que o comensal terá um jantar na escuridão total. A ideia é o cliente vivenciar a mesma situação de um deficiente visual, e por algumas horas depender de terceiros para fazer coisas banais, como alimentar-se. Mas tem também a intenção de aguçar os demais sentidos: tato, olfato, audição e paladar. No Mehring, a reserva é feita antecipadamente. Fui acompanhado de um amigo, Ricardo, e tivemos sorte em conseguir dois lugares para sexta-feira à noite, quando são oferecidos dois jantares, um às 18 horas e outro às 20h30. Paga-se antes do jantar o valor de 35€ por pessoa, excluindo bebidas. O ambiente permanece na penumbra, com pequenas velas acesas em algumas mesas, até que os clientes entrem e se acomodem. Cada lugar nas mesas tem talheres e um guardanapo grande. Não há
toalha de mesa e nem flores, já que adereços assim não teriam qualquer efeito decorativo na ausência da luz. O garçom Arthur, cego de nascença, nos atende junto com o colega Felisberto, um moçambicano que chegou à Alemanha em 1987. Ele perdeu a visão em um acidente de carro e trabalha no Unsicht-Bar desde que foi fundado. Arthur pede para desligarmos os celulares, guardar os relógios digitais ou qualquer acessório que possa produzir luz, por mínimo que seja. Diz que, a partir daquele momento, a comunicação será verbal, já que não irá adiantar acenar aos garçons. Quem precisar ir ao toalete ou quiser sair do restaurante por não suportar ficar no escuro, basta chamá-lo e esperar até que ele busque na mesa. Andar sozinho pela sala escura é arriscado. Pode-se esbarrar em outras mesas ou nos garçons que carregam os pratos de comida. Por instantes, não acho nada especial ficar sentado no escuro. Um segundo depois, percebo que o meu coração bate mais forte e meu rosto fica quente. Perco totalmente a noção do espaço. Sinto os talheres, o guardanapo e a superfície lisa da madeira. A escuridão nos aperta. De novo passo a mão pelos talheres como se quisesse verificar se houve alguma mudança.
Fotos: Kai Kreutzfeldt
Com o tempo, desaparece aquela sensação de pânico. Esperando pela bebida, me observo e faço experimentos. Fico de olhos abertos e fechados, sem sentir diferença alguma. Mas deixo os olhos abertos, mesmo que isso não mude muita coisa, afinal, estou acordado. A minha percepção de espaço não volta, não sei dizer se a sala é grande ou pequena e quantos metros nos separam da mesa vizinha. Felisberto chega para servir o vinho. Pede que Ricardo lhe dê a mão para entregar a taça com segurança. Pedi uma cerveja, que me é servida na garrafa. Fico mais tranquilo, já que o meu medo era derrubar o copo no decorrer do jantar. Mas quem derruba o copo é uma mulher, em algum lugar no salão. Derrama a Coca-Cola e eu ouço, claramente, o
“O DINNER IN THE DARK MOSTRANOS QUE TEMOS DE NOS CONFIAR AOS OUTROS ”
barulhinho efervescente do refrigerante se espalhando. Que coisa! Realmente, os meus ouvidos pareciam mais sensíveis. Agora entendi a falta de toalha de mesa. Percebemos a chegada dos pratos pelo olfato. Os sapatos dos garçons não fazem barulho algum. De repente, surge uma voz ao seu lado: “Cuidado, vou colocar o prato na mesa.” E, em vez de desejar bom apetite, a voz diz: “Bom sucesso!”. Risadas que trazem mais alívio. Achar a comida no prato é mais um desafio que nos tira a atenção da escuridão. Pego o garfo e a faca e começo a minha expedição pelo prato. A entrada: salada mista ao molho rosado e um champignon frito numa casca de tempura. Uma delícia! O sabor do cogumelo realmente é mais intenso quando só se pode saboreá-lo e senti-lo. O Dinner in the Dark é uma experiência incrível, superinteressante e um evento que recomendo. Mostra-nos que temos de nos confiar aos outros para conseguir vencer coisas banais. Confiar que alguém vai cuidar de você quando precisar e confiar na própria capacidade de se adaptar a uma nova situação. Im Stavenhof 5-7 – (50668) Colônia, Alemanha Tel. 0221/200 59 10 www.unsicht-bar.de
Fachada do Unsicht-Bar e um dos pratos servidos: experiência na total escuridão
Quase Chef
Conforto da alma por Rimene Amaral
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Poucas vezes na vida fiz elogios à comida servida nos voos, principalmente domésticos, hoje pagos e, em muitos casos, resumida a amendoins e barras de cereal. Mas um tempo atrás, uma empresa brasileira fez um agrado aos passageiros e passou a servir o que chamava de Confort Food. Na época, o texto que era lido antes do serviço de bordo falava algo como: “A comida que te faz lembrar casa de avó”. Naquele dia, num voo de Vitória (ES) para São Paulo, comi um picadinho carioca que poucas casas especializadas do Rio de Janeiro servem igual. Entendi da melhor forma o que o termo queria dizer. Assim, The Book pegou carona nesta viagem do Confort Food e convidou três personalidades para prepararem a receita que lembra a infância e proporciona aconchego. A empresária Ângela Sebba, que também guarda ótimas lembranças das receitas da avó libanesa, optou pelo Frango de molho com macarrão preparado pela avó materna brasileira. A designer e empresária Andrea Pinheiro apostou no Caldo verde, receita portuguesa revisitada para confortar o estômago nos dias frios e chuvosos. O cirurgião plástico Nelson Fernandes se recorda de quando a tia Dirce, cozinheira mineira de mão cheia, casada com um italiano, aprendeu com a sogra os segredos da cozinha da Itália. As férias, é claro, não poderiam ser em outro lugar, onde se servia a melhor comida da família. Foi lá, na casa de tia Dirce, que o Risoto de linguiça à moda do Vêneto foi inventado. E para ser ainda mais emblemático, o prato foi também o primeiro que o médico fez para a namorada.
Fotografia Edgard Soares
Fotografia Edgard Soares
# Ângela Sebba, empresária
Frango de molho com macarrão Ingredientes para 8 porções • 1 frango picado • 1 copo de vinagre ou de suco de limão • 5 dentes de alho amassados • sal e pimenta a gosto • 1 colher de sobremesa de açafrão (cúrcuma) • 1 lata de extrato de tomate • 1 cebola picada em rodelas • talharim ou espaguete o quanto necessário Preparo Limpe um frango picado com limão ou vinagre, retirando a pele. Tempere a gosto com sal, alho, pimenta e as ervas de preferência. Ponha o frango para refogar e vá colocando água aos poucos. Acrescente uma colher de sobremesa de açafrão (cúrcuma) e deixe fritar. Adicione uma lata de extrato de tomate e mexa bem. Coloque água até a metade do frango e deixe cozinhar. Quando o frango estiver macio e o molho encorpado, desligue o fogo, acrescente uma cebola picada em rodelas e abafe. Enquanto isso, coloque a massa – talharim ou espaguete – para cozinhar, de acordo com o tempo indicado na embalagem. Escorra e volte a massa para a panela. Acrescente o molho do frango, mexa e sirva quente com o pedaço de frango de sua preferência por cima da massa.
PF Carioquéish Brasileiríssimo
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Moqueca de Pintado Ă Brasileira
# Andrea Pinheiro, designer
Caldo verde português Ingredientes para 2 porções • 150 ml de azeite de oliva extravirgem • 1 cebola grande picada • 2 dentes de alho picados • 5 batatas baroa grandes sem casca e cortadas em cubos • 2 colheres de bacon em cubos • 1 litro de água • 2½ colheres (chá) de sal • pimenta-do-reino a gosto • 1 linguiça calabresa defumada, cortada em fatias • 1 maço de couve-manteiga • 1 pacote de pão de forma de quinoa e castanha-do-pará • manteiga de leite • sálvia fresca Preparo Cozinhe as batatas, amasse e reserve. Refogue o bacon, a cebola e o alho no azeite até dourar. Acrescente a água e deixe ferver. Junte as batatas amassadas, sal e pimenta a gosto e deixe ferver até encorpar. Passe a linguiça em uma frigideira quente (não precisa colocar óleo) até fritar na própria gordura. Junte ao caldo e deixe ferver. Para fazer as torradas, derreta a manteiga de leite na frigideira, acrescente sálvia fresca picada e passe os pães até ficarem morenos e crocantes. Para servir, forre o fundo do prato com couve picada, despeje o caldo e coloque mais couve por cima.
# Nelson Fernandes, cirurgião plástico
Risoto de linguiça à moda do Vêneto Ingredientes para 4 porções • 500 gramas de penne cozido al dente, conforme indicado na embalagem Para o molho • 500 gramas de arroz arbóreo • 1 cebola picada em rodelas • 2 dentes de alho amassados • 250 gramas de manteiga de leite • 1 chávena de salsão picado • 1 alho-poró pequeno inteiro picado em rodelinhas • 600 gramas de linguiça suína caseira picada • 1 abobrinha italiana picada • 5 tomates maduros picados em cubos • 100 gramas de queijo parmesão ralado • tomilho fresco e sal a gosto • cheiro verde
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Preparo Derreta duas colheres generosas de manteiga e refogue, ao mesmo tempo, a cebola, o salsão, o alho e o alho-poró. Espere até que a cebola fique transparente. Acrescente a linguiça e deixe-a cozinhar. Junte os tomates picados em cubos e refogue até que derretam. Coloque o arroz e a abobrinha e já comece a adicionar água e mexer até o ponto (mais ou menos uns 8 copos ou aproximadamente 1,5 litro, aos poucos). Depois do segundo copo, comece a acrescentar, aos poucos, o queijo e o restante da manteiga. Sirva com cheiro verde.
InstaBook
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Fotos: Marcus Camargo
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Todo afeto a Sérgio Rodrigues A família AZDecor abriu no final de março a exposição Sérgio Rodrigues e seus afetos, com a presença do primo-discípulo do designer, Fernando Mendes, e de Gisele Schwartsburd, que apostou na reedição de suas obras e levou o mestre Sérgio Rodrigues para o mundo. Logo depois de os convidados se deliciarem com o sempre esmerado menu preparado pelo Hannas Buffet, todos seguiram para a Sala Conceito para ver a mostra de móveis de Sérgio, em instalação assinada pelo arquiteto Leo Romano. O delicioso bate-papo foi introduzido com uma comovente história contada pelo ator e diretor Marcos Fayad sobre como conheceu o trabalho do designer.
No alto, instalação da mostra Sérgio Rodrigues e seus afetos, assinada pelo arquiteto Leo Romano; Gisele Schwartsburd fala sobre sua relação de trabalho com o designer Sérgio Rodrigues; Leo Romano abre o bate-papo; convidados no bate-papo sobre Sérgio Rodrigues; Maria Abadia Haich com Leo Romano, Fernando Mendes, Daniela Haick Mallard e Vera Santiago; Fernando Mendes e Mariela Romano; Genésio Maranhão com o casal André Brandão e Márcia Varizo; Gisele Schwartsburd, Maria Abadia Haich e Fernando Mendes
Fotos: Johnathan Mateus
Boas-vindas aos novos procuradores
No alto, da esquerda para a direita: vice-presidente da Apeg, Tomaz Aquino; procurador-geral do Estado Alexandre Tocantins e Maria Rita; André Curado e procuradora Paula Pimenta Félix Curado com o jornalista João Camargo Neto; procuradoras Poliana Julião e Bruna Tannús e advogado Dyogo Tinoco; cantora Grace Carvalho; ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde Miranda Arantes, e o marido Aldo Arantes; Ademar Moura, Brunna Miranda e Ênio Almeida; advogadas Liz Marília e Fernanda Terra, e a presidente da Iquego, Andrea Vecci; Renata Vieira e Ana Paula Ramos, da Kasane
Procuradores eleitos para a Procuradoria Geral do Estado de Goiás participaram de almoço de boas-vindas, em março, no Espaço EBM. O evento teve como anfitrião, o jornalista e assessor do segmento João Camargo Neto. A cantora Grace Carvalho animou os convidados com os melhores clássicos do samba e da MPB, enquanto desfrutavam iguarias servidas pelo chef Ian Baiocchi. Intitulado Boteco do João, o menu apresentou releituras de pratos típicos da culinária brasileira de boteco em versões finger food.
Ebert Calaça
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