GOIÂNIA•BRASIL ANO I •N° 2 12R$
1 PB
coisa de nerd A mulher do Rei do YouTube entrega tudo
Entrevista O empresário que quer fazer o Brasil brilhar à luz do LED
marmelada santa luzia O doce preferido de D. Pedro II vai ganhar livro
MaRIA ABADIA HAICH
Dona de concept store revive trajetória e paixão pelo design
Anúncio TCI
EDITORIAL
CAPA
Maria Abadia Haich Fotografia | Edgard Soares
ALEGRIA CONCRETA Se perguntar a qualquer pessoa como eram os seus Natais quando criança é muito provável que irá dizer: “maravilhosos”, “muito diferente dos Natais de hoje”. Mas eram maravilhosos mesmos. Enquanto somos pequenos, tudo é melhor, especialmente nas datas em que os adultos fazem tudo para agradar a meninada. Comigo também foi assim. Mesmo quando assistia da janela ao Papai Noel chegando à meia-noite do dia 24, em uma charrete enfeitada e cheia de presentes, na casa vizinha a da minha avó e não entendia porque ele pulava justamente a casa onde eu estava. Era feliz mesmo no injusto e inexplicável ato daquele Papai Noel. Talvez porque já soubesse que ele era uma invenção, uma ilusão, e que quando meus primos e eu acordássemos, nossos presentes iriam chegar. Não pelas mãos do homem barbudo, mas pelas dos meus tios que saíam procurando pela casa cada um para entregar o pacotinho com o nome escrito. Sim, pacotinho. Não ganhávamos pacotões. Era muito menino. Mas tudo era tão festejado e o coração ficava tão saltitante, que não importava. Os meninos ganhavam vaquinhas, bois e cowboys para montar suas fazendinhas no canteiro de flores da minha avó, com cerquinhas feitas de
palitos de picolé, e, as meninas, pulseirinhas coloridas. Coisas simples assim. E depois de exibir ao outro o que cada um havia ganhado, a gente voltava à correria pela casa, às vezes brincando, noutras brigando com os mais velhos que adoravam importunar os menores. Aqueles dias ficavam ainda melhores quando ouvíamos a música do carrinho de sorvete. À tarde, o moço descia a rua vagarosamente esperando a primaiada consumir todo o estoque de picolés como no dia anterior. Somente a essa hora a paz reinava entre nós. Passávamos o dia inteiro fazendo o que bem entendêssemos, longe da vigilância dos adultos que nem se lembravam que tinham filhos. Preferiam ficar estirados por horas a fio na varanda conversando entre eles depois do demorado almoço. Não tinha hora para tomar banho nem para dormir. Não tinha nem mesmo quarto disponível. Ainda bem. Farra boa eram os colchões espalhados pela sala. Isto, sim, era felicidade! Talvez a mais próxima daquela sobre a qual Jesus Cristo nos fala. A felicidade que brota da gratidão, a que independe das circunstâncias boas ou ruins, ou do que ainda está por vir. Ser feliz é aqui, agora e com o que temos nas mãos. Mesmo que tudo o que temos seja uma fazenda feita de palitos de picolé.
Por Adevania Silveira, diretora de redação
REPORT
Adevania Silveira
Rimene Amaral
Jornalista, estilista e editora da The Book, entre outras pautas, entrevistou nossa personagem da capa, Maria Abadia Haich
Jornalista, fotógrafo e colecionador de relógios, entrevistou a ex-modelo (e amiga) Andréa Mota que andava reclusa
Andrés Fierro
Guilherme Venditti
Patricia Cunha
Jornalista espanhol, adora cinema e fotografia. Nesta edição, escreve sobre o boom de vendas de arte pela internet
Dermatologista, desvenda todas as notas de dois perfumes na coluna que estreia nesta edição
Publicitária, integra a rede de colaboradores que participa desta edição, com opiniões e formatação de parcerias
Mônica Novaes
Edgard Soares
Apaixonada por viagens, vinho e boa mesa, a jornalista escreveu sobre o lugar perfeito para isso: San Sebastián
O top fotógrafo fez bonito nas matérias da marmelada Santa Luzia e, claro, na entrevista da capa
Ana Paula Ribeiro Carvalho
DIRETORES EXECUTIVOS PROJETO EDITORIAL E EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO CONSELHO EDITORIAL DIRETORA DE REDAÇÃO REPORTAGEM FOTOGRAFIA COLABORADORES
DESIGNERS REVISÃO JORNALISTA RESPONSÁVEL REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIAS
CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Maria Thereza Alencastro Veiga Agradável descoberta de The Book, nossa cronista é advogada, mas faz a gente viajar nas histórias que conta
Revisora de todas as horas e salvadora da pátria com a nova ortografia fulminando nossas cabeças
Adevania Silveira e Rimene Amaral Adevania Silveira Zebrabold Cristina Xavier Almeida, Patrícia Cunha, Edgard Soares, Rimene Amaral e Adevania Silveira Adevania Silveira | adevania@thebook.is Adevania Silveira, Rimene Amaral, Andrés Fierro, Mônica Novaes e Mr. Book Edgard Soares e Rimene Amaral Patricia Cunha, Maria Thereza Alencastro Veiga, Edgard Soares, Paulo Santos, Mônica Novaes, Andrés Fierro, Guilherme Venditti, Eliane de Castro, Pelikano, Marcus Camargo, Rosana Natália, Valéria Fleury, Alex Malheiros, Silvio Simões Rodolfo Brasil e Rafael Paranaíba Ana Paula Ribeiro Carvalho | apribeirocarvalho@bol.com.br Adevania Silveira (964JP-GO) Rua Prudente de Moraes, Qd. 43, Lt. 5, Parque Anhanguera, Goiânia, GO, CEP 74 340-025, tel. (62) 30 87- 7980/ (62) 9972-1772 redacao@thebook.is Gráfica Amazonas | graficaamazonas.com.br (62) 3945-4221
The Book é uma publicação da Celeiro Editora Eireli. The Book não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam no expediente não têm autorização para falar em nome da The Book ou retirar qualquer tipo de material.
PERNAS SAUDÁVEIS PARA O VERÃO Com anestesia local e recuperação rápida, Endolaser é o método mais avançado no tratamento das populares varizes As pernas sempre foram um símbolo de sensualidade e beleza. Sharon Stone que o diga, quando deu a cruzada de pernas mais famosa do cinema, em Instinto Selvagem. A iluminação não era propícia, nem o recuo de câmera permitia ver detalhes, mas, certamente, nem mesmo a belíssima atriz norte-americana estivesse livre da doença varicosa, as populares varizes. A Organização Mundial de Saúde afirma que a doença ocupa o quinto lugar de incidência no mundo, chegando a atingir mais de 70% das pessoas acima de 70 anos, a maioria mulheres. A partir da puberdade, existe aumento progressivo da frequência de varizes. Inicialmente, as varizes podem ser tratadas clinicamente, com orientação adequada de atividade física, controle de peso e contenção elástica (meias de compressão) em procedimentos não invasivos; e uso de medicamentos que melhorem o tônus venoso e o retorno do sangue. “Mas, na maioria dos casos, o que é necessário mesmo é o tratamento cirúrgico, que vai desde pequenas cirurgias às mais modernas e eficazes que utilizam o laser”, informa o angiologista e cirurgião vascular Wladimir Gonçalves. O médico se refere ao Endolaser, método pouco invasivo e, muitas vezes, realizado apenas com anestesia local e sob sedação. A boa notícia é o tempo reduzido de internação. “O paciente pode voltar às atividades em até sete dias”, esclarece. Mas o uso do laser tem indicação de maneira criteriosa e individualizada, alerta Wladimir. O tratamento com o laser endovenoso pode ser indicado para retirada de todas as veias varicosas em que há comprometimento das veias safenas com refluxo, que é o retorno
indesejável do sangue, e nas veias perfurantes insuficientes e calibrosas de difícil acesso. “Não há contraindicação em relação à idade. Até pacientes com mais de 70 anos têm grandes benefícios”, informa. Isso se deve à rápida recuperação, por ser um procedimento minimamente invasivo. Wladimir alerta, porém, que a indicação do método é sempre criteriosa e deve ser feita por especialista. Varizes são veias dilatadas e tortuosas de coloração púrpuro-azulada, que surgem com maior frequência nas pernas e podem causar dor e inchaço. As veias das pernas, que reconduzem o sangue ao coração após ter irrigado os membros inferiores, possuem válvulas cuja finalidade é impedir o retorno do sangue aos pés pela ação da gravidade. Às vezes, essas válvulas não funcionam com eficiência e o sangue empoça nas veias provocando deformação, inchaço e alterações na sensibilidade da pele. Nas mulheres, durante a menstruação e na gravidez, principalmente, os sintomas tendem a piorar. Segundo Wladimir, vários fatores estão associados às varizes: idade, sexo, postura, obesidade, uso de contraceptivos, reposição hormonal, gravidez, sedentarismo ou atividade física de impacto, além, é claro, da genética. A doença também acomete homens, mas é mais comum em mulheres, numa proporção de quatro mulheres para cada homem. (62) 3999-3708
Angiologista e cirurgião vascular Wladimir Gonçalves: pacientes se recuperam em até sete dias
Rimene Amaral
Divulgação
PromoBook Dr. Wladimir Gonçalves # Angiologia e Cirurgia Vascular
NESTE NÚMERO
10 fazer o bem Siron Franco cria obras para ajudar Cevam
15
16-17
arquitetura Museu do Cais do Sertão será inaugurado no Recife
Leminski A maior exposição já feita do autor aporta na cidade
22-29 É Marmelada! O doce tradicional de Goiás vai ganhar livro
30-37
38-41 dia COM princesa The Book entrevista a ex-modelo Andréa Mota
maria abadia haicH A empresária e dona de concept store é nossa entrevistada de Capa
48-51
42-46
Coisa de nerd Mulher do Rei dos Games conta como é viver ao lado dele
58-65
52-56 bússula The Book visita San Sebastián, o paraíso da gastronomia
66-69 Na rede O boom nas vendas de arte pela internet na Espanha
economia Fabricante de lâmpadas LED diz como economizar energia
70-74 Quase chef Quatro sanduíches testados (e aprovados) pela The Book
casas reais A incrível sala da casa da nossa personagem de Capa
75 crônica Maria Thereza Alencastro Veiga estreia nas páginas de The Book
Coração Amigo
ARTE pelo bem por Mr. Book
Preocupada com a situação do Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam), a médica e vereadora Cristina Lopes convidou o artista plástico Siron Franco para uma campanha permanente de arrecadação em prol da instituição. Batizada de Ciranda do Bem, a campanha vai vender obras de arte assinadas por Siron e parte da renda será direcionada ao Cevan.
10 11
Acima, protótipos das pulseiras que serão comercializadas pela Omega Dornier; e os exemplares das esculturas em resina
Siron produziu uma série de antas em resina, nas cores da bandeira brasileira, com aproximadamente 50 centímetros de comprimento, numeradas e limitadas ao número de 25 peças para cada cor. As esculturas têm certificação que consiste em um número de registro próprio e é acompanhado de um código QRCode (código criptografado único que pode ser lido por um aplicativo para smartphones). As peças serão comercializadas pelo Estúdio Lateliê, no site: www.estudiolatelie.com.br. Siron criou também modelos de pulseiras em ouro, prata e pedras preciosas que serão vendidas pela joalheria Omega Dornier por um período de dois anos, com o objetivo de angariar recursos para as despesas diárias do Cevam, que vive de contribuições voluntárias.
SAIBA MAIS
www.estudiolatelie.com.br/anta-siron-franco
PromoBook Dr. Rogério Ranulfo # Dermatologia e Laser
SOM RECONSTRUTOR
Entre as novidades da Cosmiatria, o utrassom microfocado é, atualmente, uma das principais armas para combater a flacidez e promover o rejuvenescimento. Esta tecnologia que está revolucionando o tratamento do envelhecimento da pele ao amenizar sinais da flacidez da face e do pescoço, pode ser também aplicada em outras áreas do corpo como colo, umbigo e parte interna de braços e coxas. O tratamento é feito por meio do equipamento Ulthera. O ultrassom microfocado emitido atingirá os diferentes níveis da pele chegando até o sistema fibrótico que a sustenta, localizado imediatamente acima dos músculos da face e pescoço, promovendo a sua retração e, potencializando assim, o resultado rejuvenescedor. Ocorrida a retração deste tecido, observa-se um estímulo contínuo da produção de colágeno, cujo ápice é atingido após três a seis meses, gerando um efeito rejuvenescedor (lifting). O resultado obtido se estende por até 18 meses, variando individualmente. Este tipo de tratamento com o ultrassom pode ser utilizado em todos os tipos de pele, e é indicado para a prevenção e tratamento dos níveis leves de flacidez de pele; para pacientes com níveis moderados de flacidez que querem adiar a cirurgia plástica ou que têm alguma contraindicação à sua realização; para pacientes que simplesmente não querem se submeter ao lifting e desejam melhorar a aparência e a autoestima; ou ainda para pacientes que já fizeram o lifting cirúrgico e querem manter o resultado obtido. Pacientes com flacidez severa, mas com contraindicações cirúrgicas, podem ser beneficiados. E vai além: “Os resultados pós-cirurgia bariátrica, para o tratamento da flacidez da pele também são excelentes”, afirma o dermatologista Rogério Ranulfo.
O procedimento pode ser realizado para pessoas de ambos os sexos, a partir de 30 anos, já como forma de prevenção. A técnica é ambulatorial, dura cerca de 30 minutos após 60 minutos de creme anestésico tópico, não necessitando repouso para a sua recuperação. “Diferente de outros procedimentos, que exigem cuidados especiais para proteção contra o sol, o ultrassom microfocado tem poucos e discretos efeitos colaterais, podendo o paciente sair da sessão e retornar às suas atividades normalmente,” completa o médico. O procedimento pode ser associado a outras técnicas complementares, visando um efeito rejuvenescedor melhor, como o tratamento das rugas de expressão com a toxina botulínica e preenchimentos com ácido hialurônico para reposição de volume das bochechas, lábios e ângulos da face. Rogério Ranulfo recomenda repetir o tratamento após 12 meses do primeiro procedimento. “Isso nos permitirá prolongar continuamente os resultados obtidos, principalmente com a manutenção do tônus da pele”, afirma. (62) 3241-0933
Fotosearch
O utrassom microfocado é a mais recente tecnologia para tratar a flacidez da face e do pescoço, produzindo um efeito lifting imediato
Coração Amigo
Bandeiras da paz Todos nós desejamos paz, não é mesmo? Agora, vestir a camiseta da paz é dar um passo a mais à nossa intenção de conquistar um mundo mais justo, com menos violência e mais feliz.
12 13
Foi pensando nisso que o primeiro Festival Craques da Paz, realizado em setembro no Centro Cultural Oscar Niemeyer de Goiânia, lançou a ação Moda da Paz – Coleção Camisetas Assinadas Eu escolho Paz, na qual 12 profissionais da moda, entre estilistas e designers, foram convidados a criar t-shirts com o tema do evento. Coordenada pelo consultor em fashion business, Leandro Pires, a ação ganhou destaque na abertura do festival, com o desfile das camisetas. A estilista brasileira Thaís Gusmão, reconhecida por sua atuação na moda íntima, foi uma a se juntar ao movimento, não só assinando uma t-shirt, mas também encarnando o papel de madrinha da ação.
Beth Doane
Ludmilla Castro
Rodrigo Balestra
Adevania Silveira
Somou-se ao grupo a estilista internacional da marca Rain Tees, Beth Doane, que veio especialmente ao Brasil para participar do evento. Completam a lista de profissionais a estilista Adevania Silveira, que também é editora executiva da revista The Book; Amanda Guerra, Cacilda Vitória, Fernando Peixoto, Jerônima Baco, Ludmilla Castro, Nadima Challup, Marlúcia Santos, Rodrigo Balestra e Vicki Ribeiro. As t-shirts, confeccionadas nas cores branca e preta, custam R$ 34,90 e a renda será toda revertida para o Instituto Soldados da Paz que trabalha pela cultura da paz no mundo. “O Festival Craques da Paz não se restringe somente a um evento e a uma única data. Temos uma agenda de trabalho, cujo foco é provocar mudanças substancias no modo de agir e pensar de uma comunidade”, afirma Haroldo Menezes, coordenador geral do evento.
Amanda Guerra
Thaís Gusmão
ONDE COMPRAR Loja Ana Paula Menezes Endereço: Avenida 85, nº1969, Setor Marista, Goiânia (GO)
Marlúcia Santos
Fernando Peixoto
Vicki Ribeiro
Nadima Challup Jerônima Baco Cacilda Vitória (62) 41018349
Mural do leitor _Impacto
Danielle Carelli, empresária
_Vida longa
Olá Adevania, Você sempre, sempre nos surpreendendo. Você viverá muito e bem, pois está sempre criando. Parabéns pela sua mais recente criação a The Book. Hoje cheguei ao Sebrae e tenho aqui um exemplar. Maravilha e vida longa! Forte abraço, da amiga. Adriana Lima, Coordenadora de Comunicação da Diretoria Executiva do Sebrae
_Parabéns!
Olá Adevania, fiquei muito feliz quando Pilar me entregou um exemplar de sua revista. Excelente. Gostei muito. Parabenizo você e toda sua equipe e falo em nome da minha. Gostei também das receitas e do texto da Cássia Fernandes, mãe do Fernando. Ótimo texto. Mais uma vez, parabéns!!!! Graça Fleury, diretora da Escola Piaget
_Cheio de ideias
Hoje estive no restaurante Madero e pude conhecer a The Book. Estou encantada pois sou goiana e fico engrandecida com um trabalho cultural deste porte. Foi muito melhor quando li o material divulgado do artista plástico Marcelo Solá que admiro muito.
_Envolvente
Ontem recebi a revista The Book. Literatura tão envolvente que li ontem à noite mesmo, encantada com a qualidade cultural de informações que aprimora conceitos e formula outros. Tenho certeza que o trabalho foi árduo, mas valeu a pena. Parabéns!
GOIÂNIA•BRASIL MARÇO /ABRIL•2013•N° 1 12R$
“The Book é uma revista que queria ser livro”, essa foi a resposta que ouvi quando perguntei o porquê do nome. Mas acho que vocês se superaram, The Book é mais. Mais dinâmica, mais direta, mais interessante que um simples livro. E de uma qualidade de se admirar. Começando pela qualidade do papel e terminando pela poesia visual; poesia sim, porque nos envolve, nos faz querer ir cada vez mais adiante, aproveitar página por página. Personalidade segura, sabe que não vai ser descartada logo, suas páginas nos deixam espaço para anotações, sabe que vai ser guardada.Não é boba. De linguagem direta e sem rodeios, para leitores que não precisam de ideias floreadas, gente que tem opinião, mas que tem interesse na opnião alheia também. Diria, revista pra gente inteligente. Autores e colaboradores estão de parabéns. Aos que se sentiam famintos por qualidade (nós), foram muito bem servidos.
1
Dani Guimarães, blogueira do Enter na Moda
PB
_Encantada 100 ANOS DE VINÍCIUS
Chega de saudade
MARCELO SOLÁ Universo paralelo
ENTREVISTA
Paco Peregrín: a vez do fotógrafo espanhol
DESIGN
As incríveis joias da alemã Nora Rochel
Eu li a revista de vocês e fiquei encantada! Gostaria de elogiar o projeto e dizer que vou acompanhar sempre! Ana Flávia
_Estética Senti à vontade para lhe enviar o e-mail parabenizando e solicitar um contato explicando como poderíamos divulgar uma receita no espaço gastronômico Quase Chef. Leonardo Pimentel lidera uma cozinha orgânica e encheu de ideias quando leu o material de vocês. Desde já, obrigada.
Uma olhadela sem compromisso já surpreende e hipnotiza. A estética não permite o desvio do olhar e provoca o aprofundamento, e aí vem mais impacto: não é só visual. O conteúdo informa, provoca, diverte. Agrada aos olhos e enriquece. Embalagem e recheio se completam. The Book: take a look.
Ana (via e-mail)
Alex Daher, publicitário
_Visual moderno
Caros, nós, do Essência, não recebemos o número de lançamento da revista The Book, mas vi um exemplar na banca do Flamboyant e tive uma agradável surpresa. Capa impactante, papel de qualidade, design de primeira, visual moderno. Não deu tempo de ler os textos. Mas, levando em consideração os nomes envolvidos, só pode ser coisa boa. Longa vida e prosperidade. Sucesso! Adalto Alves, redator do Caderno Essência, do jornal O Hoje
_Sucesso Queridos Rimene Amaral e Adevania Silveira, percebi que a repercussão de The Book, na sociedade goiana, foi muito boa e a divulgação também excelente. O que é bom já nasce sucesso. Li a revista de cabo a rabo... rsrsrs, como dizem. Achei a revista chique, bem escrita, boas matérias, ótimas fotos. Tamanho diferenciado, que se acomoda entre as mãos para uma boa leitura. (...)Parabéns para a dupla Rimene e Adevania, que é forte e competente. Marilena Gomes, jornalista, de Aracaju — SE
_Conteúdo ousado
The Book chegou mostrando a que veio: informar, entreter de forma prazerosa com reportagens e imagens de excelentíssimo bom gosto e com um toque especial de sensibilidade e emoção. (...) Com suas dicas de viagens, moda, culinária, educação, comportamento, entre outros, nos leva a um mundo vasto de conhecimento e interatividade. O que traz a reflexão se realmente seria apenas mais um revista ou o nome faz juz à publicação. Será um livro disfarçado? Bom, seja o que for, veio para marcar uma época e valorizar o contexto da sociedade local e nacional, pois não se prende apenas à regionalidade em que foi concebida. Leandro Carvalho Pimenta, de Vitória – ES
Arquitetura
E o mar virou sertão por Mr. Book
As comemorações do centenário de nascimento do intérprete máximo do Sertão pernambucano serão encerradas no próximo mês de dezembro, no Recife, de forma majestosa. O Governo do Estado inaugura o Centro Cultural e Museu Cais do Sertão Luiz Gonzaga, um edifício que tem como proposta reconectar o porto com a cidade e ser um marco arquitetônico, atraindo visitantes locais, de todo o País e do exterior. Construído no local do antigo Armazém 10 do Porto do Recife, a construção retoma a profecia de Antônio Conselheiro: a união do mar e do Sertão nordestino tendo como moldura um dos projetos arquitetônicos mais arrojados atualmente em curso no País. Assinado pela Brasil Arquitetura, escritório fundado em 1979, em São Paulo, e responsável pelo Museu Rodin (BA) e a Praça das Artes (SP), o projeto do Cais do Sertão está orçado em R$ 97 milhões, recursos do Ministério da Cultura e do Tesouro Estadual. A obra de Luiz Gonzaga é o fio condutor da história contada pelo Cais do Sertão, que se aprofunda na experiência da vida sertaneja, retratada em espaços que mesclam tradição e tecnologia, e nos quais recursos arquitetônicos se incorporam à narrativa. O centro cultural e museu está dividido em duas edificações – Módulo 1 e Módulo 2. No primeiro será instalado o museu. Este edifício possui uma estrutura diferenciada que é uma grande marquise em concreto protendido, formando um vão livre de aproximadamente 25m, com uma abertura circular na sua parte central para permitir o plantio do Juazeiro. A árvore, típica da caatinga, foi transplantada para dar as boas-vindas aos visitantes. “A ideia da arquitetura subordinada ao conteúdo começa na sombra dessa árvore. As pessoas entram no museu passando por ela”, pontua Marcelo Ferraz. No interior do Módulo 1, dividindo os espaços, um sulco tortuoso no
piso, preenchido por seixos e com iluminação especial, representa o Rio São Francisco. Uma estrutura metálica em forma elíptica revestida de chapas de aço, o Útero, chama a atenção pelas suas dimensões. O Módulo 2 tem uma estrutura ainda mais sofisticada. Um vão livre libera a vista para o oceano nos seus 56 metros de extensão, de viga a viga, e seis metros de pé-direito. Dois outros elementos carimbam a personalidade única da obra: o concreto aparente pigmentado, que faz referência a uma pedra do Sertão do Piauí; e uma máscara de cobogós -inventados no Recife-, com linhas livres que representam ao mesmo tempo a renda, a terra trincada e a visão do sertanejo da galhada na caatinga. Serão usadas 2.200 peças de concreto branco; cada uma com 1,0 x 1,0 m e pesando 220 quilos. Até o desenho final, foram quase dois anos de testes.
Na primeira foto, a imponente marquise de concreto protendido e o juazeiro das conções de Luiz Gonzaga; na outra foto, a estrutura sofisticada do Módulo 2 com seu vão de 56 metros que libera a vista para o oceano
Exposição
Todos os LEMINSKIs por Rimene Amaral
O que dizer de uma pessoa que se dispôs a estudar alemão para ler as obras originais do pensador Johann Wolfgang von Goethe? E de alguém que aprendeu japonês para entender a estrutura dos haicais, a forma poética constituída por três versos? Como calcular a paixão pela palavra, seja ela em que língua for, de uma pessoa que traduziu obras do latim, inglês, francês, entre elas poesias egípcias, sem nunca ter cruzado as fronteiras do Brasil?
16 17
O que esperar de alguém que foi jornalista e escreveu contos, ensaios, crônicas e biografias de personalidades tão díspares quanto as de Bashô, Cruz e Souza, Jesus Cristo e Trótski? Esse é Paulo Leminski, autor paranaense que soube se encaixar bem em tudo o que se propôs a fazer e transitou bastante à vontade pela música, poesia, tradução, cinema, grafite, quadrinhos, entre outras vertentes da arte. Toda a riqueza do legado do poeta, morto em 1989, está reunida na exposição itinerante Múltiplo Leminski, que aterrissa este mês de novembro em Goiânia para temporada de quatros meses, no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). Com patrocínio do Programa Petrobras Cultural, que, em 2014, também levará o Múltiplo Leminski para Recife, em Pernambuco, a mostra é a maior de Leminski já feita no Brasil. As duas temporadas anteriores, a primeira em 2012, na terra natal do autor, e a segunda no Ecomuseu de Foz do Iguaçu, juntas, somaram 300 mil expectadores. A montagem em Goiânia ocupará os 750 metros do subsolo do CCON. Por onde passa, a exposição promove uma série de ações paralelas com o intuito de envolver a cidade com a obra do autor. Em Goiânia, serão realizadas visitas monitoradas com as curadoras da mostra; intervenções urbanas, como grafites em espaços públicos; oficinas educativas, mostras audiovisuais e o show Essa Noite Vai Ter Sol, que a cada edição
convida artistas que foram parceiros de Leminski na música ou mesmo se identificam com a obra do artista. O show em Goiânia está marcado para 8 de março de 2014, no Palácio da Música. No repertório, estão previstas composições inéditas e consagradas de Paulo Leminski. Todos os objetos originais presentes na exposição, mais de mil peças, pertencem ao acervo particular da família: a máquina de escrever, livros escritos e traduzidos por ele, obras que faziam parte da biblioteca particular entre elas dicionários em várias línguas, revistas, fotos, cadernos, recortes de jornais, entrevistas, cartas, poesias escritas em guardanapos, originais manuscritos e datilografados, histórias em quadrinhos, vídeos. “Para transformar sua obra numa experiência visual tínhamos que ter algum ponto de partida. No acervo, se por um lado existiam poucos objetos de uso pessoal, por outro havia uma quantidade enorme de originais, anotações, fotos, discos e tudo mais que compunha sua diversificada e rica trajetória profissional”, observa Aurea Leminski, filha de Paulo Leminski, que divide a curadoria coletiva da exposição com a irmã, Estrela, e com a mãe, a poeta Alice Ruiz, em entrevista à The Book. A exposição veio em um período em que a obra do poeta curitibano voltou a chamar atenção no primeiro semestre deste ano, quando o livro Toda Poesia, lançado pela Companhia das Letras, conquistou as listas de mais vendidos, nas quais se manteve por várias semanas, desbancando uma prolongada supremacia da trilogia Cinquenta Tons de Cinza, de E. L. James. Toda Poesia, volume com a trajetória poética completa de Leminski, em falta nas prateleiras das livrarias, reapresentou o poeta ao público, com 55 mil exemplares vendidos. De acordo com o site especializado Publishnews, a obra era, no fim de setembro, a 12ª do gênero ficção mais vendida no Brasil, em 2013.
Fotografia: José Vieira
A exposição Múltiplo Leminski prevê uma série de ações paralelas com o intuito de envolver a cidade com a obra do autor
SAIBA MAIS
ANOTE Exposição Múltiplo Leminski Onde: Centro Cultural Oscar Niemeyer (Av. Dep. Jamel Cecílio, nº 4.490, Setor Fazenda Gameleira) Quando: 29 de novembro de 2013 a 9 de março de 2014 Horário: 10 às 16h Entrada: Franca
http://www.multiploleminski.com.br/
Mineiras em cena A empresária Cláudia Ducatti celebrou a chegada da primavera em suas lojas, Casa Mix e Bossa, apresentando duas importantes artistas do cenário brasileiro, as mineiras Evelyn Tannus e Isabela Vecci, em chique coquetel. De Evelyn a empresária trouxe os famosos cachorros customizados com pinturas e desenhos que usam símbolos do sincretismo, tatuagem, moda e street art. A artista começou pintando mãos e figas em cerâmica. Em 2009, veio a descoberta de tatuar algumas raças de cachorros em cerâmica, criando uma arte bem-humorada e extremamente autoral. Da arquiteta e designer Isabela Vecci, Cláudia apresentou as elogiadas mesas-tigela feitas em pedra sabão. A ideia da coleção foi utilizar o know how dos artesãos de Mariana e Ouro Preto (MG) , que trabalham com esse material há muitas gerações. O desenho dos móveis procurou aproveitar sistemas e técnicas já desenvolvidos por esses artesãos para fabricar panelas de pedra, por exemplo.
Luz própria Um jovem ator goianiense desponta como cometa no universo cinematográfico brasileiro. Lee Taylor, de apenas 28 anos, estreou profissionalmente em 2006, aos 21, mas já caiu nas graças do grande público, assim como da crítica especializada, que o considerou “astro com luz própria”. No primeiro semestre de 2014, quando acontece a estreia nacional de Entre Nós - uma produção da O2 Filmes que tem no elenco nomes como Caio Blat, Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena-, o ator deverá receber a coroa como protagonista do longa-metragem e fazer jus ao nome predestinado – uma homenagem ao ator Lee Majors e a um personagem feito por Charlton Heston. Seu primeiro trabalho foi como protagonista do espetáculo A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e encarnou Rafa, em Salve Geral, filme indicado pelo Ministério da Cultura como representante do Brasil para concorrer a melhor filme estrangeiro no Oscar de 2012.
Perfume para comer As famosas rosas damascenas, um híbrido da rosa gallica e da rosa moschata, conhecida desde a antiguidade e muito usadas para aromatizar bebidas desde os tempos mais remotos, ganhou nova serventia. Uma empresa búlgara inventou um ‘perfume comestível’ em forma de pastilhas. A tecnologia é japonesa. O Deo Perfume Candy - Perfume em pastilhas, já à venda no mercado, muda o cheiro exalado por quem ingere o produto. A descoberta surgiu após estudos demonstrarem que depois de ingerido, o óleo de rosas libera componentes aromáticos para a pele e evapora pelos poros, passando o cheiro da flor para o corpo. É o mesmo que acontece com o organismo quando é ingerido o alho, por exemplo. Quatro pastilhas são suficientes para que uma pessoa de aproximadamente 65 quilogramas fique cheirosa por mais de seis horas. O Deo Perfume Candy pode ser encontrado com ou sem açúcar e ainda nos sabores tangerina e natural. O produto já é vendido na França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e China ao preço equivalente de R$ 15 a embalagem com 18 unidades.
Mobiliário divertido A empresária da moda e desginer de interiores Maria Paula Queiroz agregou ao seu negócio, a Mapi 49, a representação dos produtos da Oficina Itsu, dos cariocas Daniel Olej e Eduardo Moura. A marca já customizava bikes (montando-as com componentes de terceiros - por enquanto, segundo os designers -, selecionados por eles, e aplicando pintura fosca) e desenhava skates e mochilas. A novidade agora é uma linha própria de móveis. Começou criando três peças: o módulo Robô (foto), o gaveteiro #1 e o Rack Vinko, todos disponíveis no showroom da loja, no Setor Sul. A Oficina Itsu também cria mobiliário sob encomenda. O conceito dos rapazes é criar produtos descontraídos e atraentes, com um olhar divertido sobre o cotidiano, atenção aos detalhes e cuidado com os materiais. As peças são fabricadas em compensado de virola folheado de frejó antes do acabamento encerado fosco. O grafismo dá uma poética urbana para os itens que trazem também um perfume retrô. Todos os produtos passam por processo artesanal na fase da estampa gráfica e acabamento. A loja fica numa casa linda e aconchegante na rua 113, nº 49, Setor Sul.
Coletivo que faz moda e história A moda autoral em Goiás está ganhando força e construindo sua identidade por iniciativas como a do Casulo Moda Coletiva, que reuniu um grupo de criadores disposto a gerir suas marcas próprias e de outras labels que hoje integram o negócio. Para isso, alugaram um ponto na rua 1136, do Setor Marista, área nobre da capital goiana, e montaram os dois braços do coletivo: a loja e o bar Retrô Food & Drinks, que mistura música, cultura, arte, gastronomia em um mesmo ambiente. A loja vende principalmente marcas locais - Bastos, Quim, Naya Violeta, My Own, Roch Design, Novelo, Salamandra do Fogo, Ilustríssima e a PRA, esta última infantil - mas reforça o mix com outras grifes nacionais, sem perder o foco da autoralidade. Complementam o acervo da loja a MUV, de Brasília; A Mulher do Padre, de São Paulo; e a Samo, de Porto Alegre, só para citar algumas. Além de vestuário, o coletivo comercializa acessórios, calçados, objetos e obras de arte. Outro ponto interessante do Casulo é que o lugar proporciona troca de informações e experiências, servindo de difusor de novas ideias, realizando mensalmente uma happy hour especial para integrar criadores e público, sempre com um Dj convidado para animar a noite. Além disso, o Casulo tem um perfil itinerante. O trabalho das marcas e dos criadores é levado para vários festivais de música, eventos de moda e cultura em todo o País, como o Goiânia Noise, Festival Vaca Amarela, Bananada, Tattoo Rock Fest, Picnik (DF), Paraty Eco Fashion (RJ), Festival Universo Paralelo (BA) e Festival 303 (BA). Outra vantagem é que o Casulo também funciona no mesmo horário dos shoppings: das 10 às 22h. O bar Retrô abre a partir das 17h. Fone: (62) 3609-6757
Toilette
Moda em frascos Há entre o céu e a terra algo que seduz mais as mulheres do que moda e perfume? Pois o Boticário conseguiu unir as duas paixões femininas em um só produto: o Make B. Eau de Parfum, que marca a entrada da linha de produtos Make B., até então direcionada exclusivamente à maquiagem, e o universo das fragrâncias. Para apresentar os novos lançamentos à jornalistas e blogueiras, Marselha Tinelli, gerente de categoria de perfumaria de O Boticário, e a perfumista Magali Lara, da Casa de Fragrâncias Symrise, parceira da marca para o desenvolvimento de novas fragrâncias, estiveram em Goiânia, onde reuniram também os seus franqueados. O primeiro passo para a criação de uma nova fragrância é dado pela área de marketing. O departamento estuda as últimas tendências do mercado e analisa as oportunidades para um novo produto. “A partir de então, é solicitado o desenvolvimento de uma fragrância exclusiva para o conceito que desejamos lançar”, afirma Marselha. Para criar a nova coleção, O Boticário buscou inspiração no Rio de Janeiro da década de 60, marcada pela atitude, moda e sofisticação.
20 PB
Magali Lara, da Casa de Fragrâncias Symrise e Marselha Tinelli, gerente de perfumaria de O Boticário: inspiração no Rio da década de 60
Com fragrância floriental amadeirada, Make B. Eau de Parfum traduz, em um perfume único, a principal tendência olfativa das capitais da moda, como Nova York, Milão, São Paulo e Paris, onde perfumes femininos com toques amadeirados são adorados por fashionistas. A embalagem também foi muito bem pensada pela marca, que novamente buscou inspiração na moda, desta vez no guarda-roupa feminino. “Toda mulher tem um pretinho básico, não é? Foi assim que chegamos ao frasco todo preto”, revela Marselha. Com linhas arrojadas, design único e com um cristal Swarovski cravejado – o produto apresenta ares de grandes criações de artistas franceses e brasileiros. O Make B. Eau de Parfum é assinado pelo brasileiro Rafael Marano e pela francesa Veronique Nyberg, perfumistas da casa de fragrâncias IFF. Veronique trouxe para Make B. Eau de Parfum a sofisticação do mercado europeu, enquanto Rafael foi o responsável por incluir a sensualidade brasileira. Juntos, Brasil e França realizaram uma criação cheia de história. No Brasil, a indústria de perfumaria vem crescendo e o consumo também. Pesquisas apontam que hoje os brasileiros consomem mais perfumes que os norte-americanos. Goiás representa 40% das vendas de perfumes na região Centro-Oeste. O mercado no Estado cresceu 15,5% no último ano.
Toillete
por Guilherme Venditti
21 PB
BAISER VOLÉ
KOKORICO
Beijo Roubado, em francês
O equivalente ao nosso “cocoricó”
Da Maison Cartier, é um perfume baseado no cheiro dos lírios. Não é o tipo de floral branco, doce e enjoativo, que alguém poderia esperar. Ao invés disso, tem uma abertura toda verde e até meio áspera, como se cheirássemos lírios frescos arrancados com suas folhas e galhos, cobertos de gotas de orvalho. Baiser Volé é jovem e espirituoso como uma fresca manhã de outono guardando as expectativas de um dia que pode ser quente - ou não. Mas não é um perfume para adolescentes – me perdoem, meninas. É simples mas tem algo de apimentado e atrevido, que vai evoluindo para o território da dupla rosa-almíscar. Com um conflito entre o lado escandaloso da saída, quando borrifado, que grita “Olá, é hora do lírio!”, e uma parte limpa, alegre e comedida do “Sou o Almíscar rosado e tenho cheiro de sabonete!”, esta fragrância pode ser definida como “um lírio no afã de seus moldes”. Será que ele consegue?
Da Jean Paul Gaultier, é um perfume masculino, mas com um toque ousado, descrito como “poderoso e explosivo afrodisíaco”. É para aqueles homens que, como eu, não querem usar mais um “perfume-masculino-igual-a-todos-os-outros”. Aliás, esse conceito de “feminino” e “masculino” na perfumaria está em desuso, servindo apenas para fins comerciais. Mas esta discussão fica para outra hora. Kokorico começa com notas terrosas, meio frescas e meio leitosas, de folhas de figo, ornamentadas com o estimulante cacau. Mas não é aquele chocolate doce, artificial e enjoativo. Pelo contrário, é uma nota bem natural que, no coração do perfume, assume um tom, diríamos, alcoólico. Algo como licor de cacau. É isso! Tudo sobre uma base mais seca, amadeirada, com notas de patchouli, vetiver e cedro, expressando masculinidade e poder. Bom, já temos as madeiras e temos o álcool. Alguém risca o fósforo?
Consumo
Ah, se ELA falasse FRANCÊS! Se tivesse sido inventada por um chef francês, amante da cuisini du terroir, é possível que a marmelada Santa Luzia já tivesse sido alçada ao lugar de merecida glória no altar das sobremesas regionais 22 22 PB 23 por Adevania Silveira
No país onde a gastronomia é uma das maiores referências da França no mundo, um doce que fosse fabricado há dois séculos e que estivesse diretamente ligado à história de um povo, jamais permaneceria no ostracismo. Se tivesse nascido petit-gatêau, creme brûlée ou macaron, não resta dúvida de que o lugar da marmelada Santa Luzia fosse à mesa de uma fina pâtisserie. O doce feito artesanalmente de purê de marmelo na região de Luziânia (GO) já teve seus dias de glória no passado. Conta a história que D. Pedro II era louco pela sobremesa originária de Goiás e a recebia regularmente no Rio de Janeiro. A predileção está documentada no livro Viagem no Interior do Brasil – Empreendida nos
Anos de 1817 a 1821 (Ministério da Educação e Saúde-INL, Rio de Janeiro, 1951), de autoria do médico, geólogo e botânico austríaco Johann Baptist Emanuel Pohl.
A marmelada Santa Luzia é um clássico da doceria brasileira, mas jamais obteve o devido reconhecimento. Bem diferente da boa vida da prima rica e famosa, a marmelada branca de Odivelos, cidade portuguesa da região metropolitana de Lisboa. O povo de lá orgulha-se tanto do seu doce exclusivo que criou uma confraria para promovê-lo como patrimônio histórico, cultural e gastronômico, com direito à fanpage no Facebook e embalagens sofisticadas.
23 PB
Se não bastasse tanta injustiça e indiferença, a produção da marmelada Santa Luiza se encontra em declínio. O doce fabricado por pequenos produtores estabelecidos em municípios goianos na divisa com o Distrito Federal, - entre eles famílias de comunidades quilombolas, descendentes de escravos afro-brasileiros do povoado do Mesquita -, é um dos 25 produtos brasileiros ameaçados de extinção, mas com potenciais produtivos e comerciais reais. A sentença de quase morte à marmelada Santa Luzia está anotada no catálogo mundial da Arca do Gosto, um projeto da Fundação Slow Food para a Biodiversidade que busca documentar produtos gastronômicos especiais, que estão em perigo de desaparecer.
O DOCE É UM DOS 25 PRODUTOS BRASILEIROS AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO Mas se por um lado há quem coloque em
24 PB
xeque a sobrevivência da marmelada Santa Luzia, na outra ponta há quem aposte na continuidade da fabricação, assim como a manutenção do mercado consumidor, um tanto tímido, porém fiel. Um deles é Leopoldo Antônio Gonçalves, 53, membro de uma família que há quatro gerações trabalha na fabricação do doce, na Fazenda Pindaibal, localizada na zona rural da Cidade Ocidental, a menos de 50 km do Plano Piloto de Brasília. “A marmelada não está em extinção. Produzimos a mesma quantidade de sempre. Acontece que antes havia muita gente produzindo pequenas quantidades e hoje a fabricação está concentrada em apenas quatro produtores”, justifica Leopoldo, que se tornou a voz dos produtores da região. Como forma de valorizar o doce, que por mais de 200 anos sustenta grande parte das famílias na região, Leopoldo prepara-se para escrever um livro contando a história da marmelada Santa Luzia onde pretende desmistificar, segundo ele, equívocos sobre sua origem. Um deles é a de que a primeira muda de marmeleiro teria sido trazida por boiadeiros de Minas Gerais. “Não existiam boiadeiros nessa época”, contesta Leopoldo. O produtor relata que o marmeleiro de origem portuguesa (Cydonia oblonga Miller) chegou ao Brasil em 1532 pelas mãos do militar português Martim Afonso de Souza e foi introduzido em Goiás no século 18, por volta de 1790, primeiramente na Fazenda Engenho das Palmas, então município de Santa Luzia, hoje
25 PB O modo antigo de cozinhar em fornalha ainda é mantido; o intereior da fábrica onde dois funcionários trabalham na produção; na página ao lado, as caixinhas prontas para a etiquetagem e o grande tacho onde o doce é apurado
26 PB
27 PB No interior da casa da sede, a m達e de Leopoldo, dona Zilda, 77, comanda o fog達o a lenha
Leopoldo com a mulher, Elzilene, e a mãe, Zilda: tradição da marmelada chegou à terceira geração; abaixo, interior da casa da fazenda
28 PB
Luziânia. Vem daí o nome do doce. Bem adaptados ao clima e com reprodução por estaquias, os marmeleiros rapidamente se espalharam, chegando a existir quase mil pés por propriedade. A colheita do marmelo se dá nos meses de dezembro a fevereiro, mas graças a uma câmara fria, Leopoldo consegue produzir a marmelada o ano inteiro, conservando a polpa do fruto, pré-cozida e armazenada em latas de 18 litros, na temperatura de 10 graus centígrados. Parente da pêra, da maça e do pêssego, o marmelo é cozido com a casca, formando um purê que depois é apurado juntamente com a mesma quantidade de açúcar e água. Todo o processo é feito no mesmo modo antigo usando fogo à lenha e tacho de cobre. A receita do doce que vem sendo passada de pai para filho é bem simples e rápida de fazer. Na pequena fábrica de Leopoldo, dois funcionários se revezam no passo-a-passo de ferver o açúcar com a água até o ponto de bala, acrescentar a polpa do marmelo, apurar e, em seguida, vertê-lo nas caixinhas de madeira. O processo dura apenas 40 minutos. Depois de o doce esfriar é a vez de cobri-lo com uma película plástica, fechar a caixa e fixar a etiqueta. O contato direto com a madeira conserva a
marmelada, porém Leopoldo se viu obrigado a mudar a tradição da embalagem para atender especificamente à uma exigência do consumidor brasiliense. A marmelada que segue para a capital federal recebe um invólucro plástico antes de ir para a caixinha. Casado com Elzilene de Carvalho Alves Gonçalves, 53, e pai de um casal de filhos, Leopoldo deposita na filha Andréia, 32, a certeza na continuidade do negócio já que o filho Vandré, biólogo de 30 anos, se dedica à criação de peixes que abastece o zoológico de Brasília e uma peixaria na vizinha Cidade Ocidental. Na Fazenda Pindaibal, além da mulher e dos filhos de Leopoldo, moram os pais Benedito Gonçalves, 80, e Zilda Rodrigues Gonçalves, 77. Em fazendas vizinhas vivem o tio, José Gonçalves Soares e o primo Carlúcio, que igualmente fabricam a marmelada Santa Luzia.
29 PB
D.PEDRO II ERA LOUCO PELA SOBREMESA ORIGINÁRIA DE GOIÁS E A RECEBIA REGULARMENTE NO RIO DE JANEIRO A fábrica de Leopoldo, segundo ele, é a que produz maior quantidade. São 500 caixas de 800 e 400 gramas por semana. Além do mercado de Brasília, a marmelada produzida na Pindaibal chega a Luziânia, Goiânia e algumas localidades no interior goiano. Toda a produção vem da colheita de 500 marmeleiros espalhados pelos oito alqueires da propriedade, inclusive no quintal da casa principal. Uma planta adulta produz até 30 quilogramas de frutas que resulta em 30 de marmelada. A caixa de 800 gramas é vendida por R$ 12 no atacado. Como se vê, o negócio é bastante rentável. No entanto, o fazendeiro não planeja aumentar a produção ou abrir novas frentes de comércio. “O que ganho já dá para pescar e viajar”, desconversa.
A área de cultivo do marmeleiro no Brasil é cada vez menor. Hoje se limita a certas regiões de Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. Goiás produz atualmente 12% da safra nacional de marmelo. Mas já representou muito mais noutros períodos. Muitos produtores abandonaram a atividade pelas dificuldades de cultivo do marmeleiro. A planta foi atacada por uma praga, a entomosporiose ou requeima. A gradativa falta da mão de obra de podadores também desanimou os produtores. “O podadores antigos morreram e os novos não querem saber do trabalho”, explica Leopoldo. Como atividade de subsistência, a produção da marmelada Santa Luzia não conta com qualquer tipo de incentivo oficial. Existem duas associações de produtores na região: a Associação de Produtores do Mesquita e Associação dos Produtores Rurais do Xavier, envolvendo cerca de 30 produtores de marmelo e 10 produtores de marmelada. Mas nenhuma delas tem voz ativa, segundo Leopoldo. O produtor espera que com o livro, ainda sem data para ficar pronto, a marmelada Santa Luzia consiga conquistar o merecido reconhecimento, especialmente por se tratar de um produto que sustentou, e ainda sustenta, a história e a vida de tantas gerações. “Estou conversando com o povo mais antigo, pesquisando documentos, para escrever a verdadeira história da marmelada Santa Luzia”, conta Leopoldo enquanto mostra uma pasta repleta de papéis com informações que já coletou para o livro. O registro da história do doce e a filha do produtor se mantendo à frente do negócio são as duas razões pelas quais Leopoldo está convencido de que, na contramão do que se propaga, a marmelada Santa Luzia está longe de desaparecer.
Fotografia Edgard Soares
30
Edgard Soares
PB
Capa
Basíssima HAICH por Adevania Silveira
31
30
PB
31 Maria Abadia Haich não pisa na terra. Seu habitat natural está localizado a alguns degraus acima do lugar comum. Tem alma de artista, mas raciocina como um comerciante sagaz. É workaholic, mas faz do trabalho um parque de diversões. É exigente e centralizadora – segundo a própria –, mas sabe como ninguém cultivar amigos. Aos 67 anos é vaidosa, mas nunca fez plástica. Pratica yoga e pilates, mas não é nada zen e está sempre ligada nos 220 volts. Tudo isso faz dela um problemão para nós, terráqueos, especialmente quando temos a missão de entrevistá-la. Se descuidar, num piscar muda de lado e passa para o papel de entrevistadora. Mas tem o lado bom. Sabe aquele tipo de pessoa que nunca deixa espaço de silêncio entre a pergunta e a resposta, porque de tão bem resolvida não precisa pensar para falar? Essa é a Bá, e Bá é o apelido pelo qual atende os amigos íntimos, os menos íntimos e a quem quer que acabe de chegar. Nasceu e cresceu em Uberlândia
(MG), mas nem de longe representa a conhecida natureza discreta dos conterrâneos. Filha única de pais árabes, aprendeu com a mãe a ser “dona da própria alma”. A sócia-proprietária da concept store Armazém da Decoração é uma mulher impulsionada pela vida, pelo trabalho, família, amigos e tudo o que é produzido pelo mundo do design, sua maior paixão e centro do seu negócio. Embora sinta-se realizada, cultua sonhos. Um deles é morar uma temporada em Paris. Abadia é uma mulher de superlativos e tem muito a ensinar. “A Bá é um presente que a vida e minha escolha profissioral me deram. Sentimos alegria um no outro. Compartilhamos. E eu, aprendo”, revela o arquiteto Leo Romano, parceiro de trabalho e habitué da vida social da empresária. Na entrevista a seguir, Maria Abadia percorre a sua história e fala sobre trabalho, família, medos, envelhecimento e, sobretudo, sobre a sua maior paixão, o design.
Como foi o início da sua trajetória com o design? Abri o Armazém em 1998. Tinha apenas 100 metros de loja, que era a vitrine. Tive de fazer a opção de importar porque não tinha grandes mobiliários. Comecei a trabalhar dentro de uma linguagem de acessório, que é uma coisa que encanta muito. Devagarzinho, a gente foi crescendo, ampliando a importação porque era um momento propício para importar, o dólar era baixo. Depois comecei a loja dentro de uma perspectiva de design. Era um momento diferente na minha vida e um momento diferente do design na história do Brasil. Você vem de uma formação diferente. Sou assistente social e musicista. E trabalhei no INAMPS (o atual SUS). Estudei música desde os quatro anos. Fui professora de história da música e de piano, durante muitos anos. Tive uma formação ligada à arte e fui aluna do Camargo Guarnieri. Mas não conhecia propriamente o design. Não, era muito ligada à pintura e obras de arte. Quando vim para Goiânia, queria abrir uma galeria. Era um sonho, porque eu era muito ligada aos pintores mineiros. Em 1980 trouxe para Goiânia o consórcio de quadros. Foi uma forma de sobreviver. Naquela época, obra de arte era caríssima. Ou tinha muito dinheiro para comprar ou não comprava. Não existia a facilidade de comprar parcelado. Sempre se interessou pela estética? Sempre tive muita ligação com casa. Uberlândia é uma cidade muito requintada e eu convivi numa época de muito refinamento. Esta convivência abriu meu olhar para a beleza interior da casa. Para ter ideia, as minhas cadeiras de casamento eram do Bernardo Figueiredo. Era uma época muito importante, de evolução cultural. A gente tinha um relacionamento muito bom com os tops do pensamento político. Existia uma efervescência cultural muito grande. Sou fruto dessa época. Você teve uma ligação muito forte com sua mãe, é verdade? Sim, ela foi a transmissora de cultura. Nós éramos como ‘dois bicudos não se beijam’, de personalidades fortes. Ela tinha 42 anos quando nasci. Fui um ícone na vida dela, uma criança fruto de um amor muito grande dela com meu pai. O mundo era pequeno, mas sempre muito livre. Apesar de árabe, meu pai confiava demais e me soltava no mundo.
“O MUNDO ERA PEQUENO, MAS MUITO LIVRE. APESAR DE ÁRABE, MEU PAI CONFIAVA DEMAIS E ME SOLTAVA NO MUNDO”
Seus pais eram donos de um armazém? Chamava Armazém Avenida. O Armazém (AZDecor) é uma homenagem ao meu pai. Era um atacadista de secos e molhados. Foi uma época muito boa, de conhecimento, de abertura, de poder ir para São Paulo todo mês. Com 15 anos ganhei meu primeiro Simca Chambord, que era o ícone de todo mundo, era mais que um BMW. Podia dirigi-lo? Consegui autorização do juiz para dirigir. Você se casou em Uberlândia? Sim, em 1966, aos 19 anos. Tive os dois primeiros filhos (Daniela e Marcela) em Uberlândia e o terceiro (Dener Júnior) em Goiânia. Permaneci em Uberlândia até 1972. Depois me mudei para Goiânia.
33 PB
Nesta época muitas famílias migraram de Minas para Goiás. Goiânia estava ampliando, dando oportunidade, mas tive muita dificuldade, levei um ano para me adaptar. Eu chorei muito, porque saí da proteção absoluta de uma cidade. Depois comecei a crescer pessoalmente e a enxergar o mundo de outra forma. Você veio para dar aulas? Não, eu vim porque, até então, era casada e meu marido teve a oportunidade de trabalhar aqui. Eu trabalhava em casa, dando aula de piano. Então comecei a trabalhar com o consórcio de quadros junto com uma amiga de Belo Horizonte. Depois resolvi voltar para a faculdade. Tinha só a escola de música e queria fazer direito. Cheguei a fazer até o vestibular, mas no meio do caminho quis fazer Serviço Social. Me formei em 1980. Até 85 você trabalhou onde? Trabalhei na Época Decorações, quando ela foi criada em 1981. A Edna (Martins) era muito minha amiga e me chamou para trabalhar lá. Deixei a loja em 1986. Depois, Pilar Blanco, Janete Cecílio e eu abrimos a Era Uma Vez Decorações. Ficamos nessa sociedade até 1997. No ano seguinte abri o Armazém em sociedade com a minha filha Daniela (Haick Mallard). Aí começou uma outra etapa de vida porque o olhar era diferente. Havia passado em um concurso federal, em 1988, mas pedi exoneração. Fiz uma opção radical por empreender.
Aí você quis se dedicar só à loja? Sim. Essa história de ser mercadora está no sangue mesmo. Eu acho que a melhor coisa que eu sei fazer na vida é vender. Dá para ver que você é apaixonada pela empresa. Sou apaixonada principalmente pelo que faço. E depois havia a possibilidade de novas curadorias e o mundo mudando. Na década de 90 mudou demais. Acontecia muita coisa ao mesmo tempo. O design estava começando. A casa tinha saído daquele patamar de coisa mais fechada, separada do dia-a-dia. Apareceram os Campana, o Sérgio Rodrigues, em 2000. Em, 2002 o Sérgio (Rodrigues) começou a ser reeditado. Ia ser a revolução de novo do design, um pensamento novo.
38 39
E houve a mostra do Sérgio Rodrigues... Em 2002. Fui a primeira no Brasil a fazer uma mostra dele. Reinaugurei o Armazém com a fachada nova, com o Sérgio Rodrigues. E aí veio uma pesquisa incessante, alucinada, pelo design brasileiro. Quais foram as mostras brasileiras que você trouxe? Sérgio Rodrigues, Carlos Motta, Decameron, Marcenaria Baraúna, Pedro de Castro, os irmaõs Campana com o lançamento dos livros. Trouxe o Ronaldo Fraga quando fizemos a relação de Minas (Gerais) antiga com a moderna. Aí começou uma série de instalações. Aprendi a ter esse olhar de cenografia quando comecei a ir para Milão. Entendi que existiam produtos maravilhosos e que eles precisavam ser apresentados de forma performática. Foi quando comecei a juntar as linguagens. Depois vieram outras pesquisas pelo mundo: Marrocos, Tunísia, Índia, Croácia, Europa, Estados Unidos. A partir daí o mundo perdeu as fronteiras. Como já tinha uma ligação muito grande com artesanato, fiz essa ligação do design com o artesanato. Também teve a Maria Helena (Estrada), que eu trouxe em 2000 para explicar para todo mundo o que era a feira de Milão, porque eu ia trazer coisas de lá. Então você alinhavou tudo isso: o artesanato, a nova estética que começou na década de 90, a reedição do Sérgio Rodrigues, a ida para Milão...
Maria Abadia foi a primeira no Brasil a organizar uma mostra de Sérgio Rodrigues, depois de ele começar a ser reeditado
Isso educou meu olhar. Foi um processo, uma educação constante. E a forma com que eu sempre apresentei era muito mais um show de apresentação. Sempre apostei em alguma coisa de vanguarda. O Armazém teve esta função em Goiânia, de abrir o caminho para o design. Isso é real. Qual foi a primeira mostra que você fez? A do Genésio Maranhão. Antes dela foi a apresentação do cenógrafo Márcio Colaferro. Vi a instalação dele no SESC de São Paulo. Aos poucos, fui comprando a exposição. Demorei seis meses para comprar as peças. Quando acabei de pagar eu o chamei para fazer a instalação. Calaferro fez a curadoria dos produtos e montou a exposição. Você consegue determinar um designer que goste mais? Tenho paixão pelo Sérgio Rodrigues, incondicional! Para mim, ele é genial. Amo o Carlos Motta também. Não desmerecendo nenhum outro, mas é uma opção radical. O Sérgio para mim é ícone. Eu tenho paixão por tudo que ele faz. Ele realmente foi um grande precursor e me ensinou demais. Fora a pessoa maravilhosa que ele é. Sérgio Rodrigues e Carlos Motta criaram uma nova linguagem. Qual a sua opinião sobre o equipamento urbano de Goiânia? Acho que tudo que é coletivo ainda é pouco ofertado. O olhar coletivo ainda não foi desenvolvido por quem comanda a cidade e o Estado. Existe uma tentativa, mas é tudo muito pobre. A gente merecia muito mais. O que acha dos vasos de flores que foram colocados em algumas praças da cidade? Aqueles vasos não têm explicação. É de uma pobreza estética absurda. É pobreza cultural, é um olhar sem poesia, seco. O que falta à cidade? A cidade é linda, tem muita vegetação, mas tem de ser olhada com mais refinamento e rigor. Porque quando se oferta, a população sabe respeitar. As flores transformaram a cidade, porque não com equipamento urbano de alta qualidade? Poderia haver concursos, incentivos às escolas de arquitetura e de design para poder interferir na cidade. Gente com gabarito nós temos, só que não se contrata. Isso é um absurdo. É uma questão política.
Se te dessem um espaço na cidade para fazer o que quisesse, o que faria? Por exemplo, uma praça? Faria algo pela convivência. Adoro coreto. Adoro ver crianças brincando com segurança. Além dos filhos, seu ex-marido trabalha na AZ. Funciona bem? Funciona. Ele tem um respeito absurdo. É o financeiro da loja. Tenho um respeito enorme pela experiência de vida dele, como profissional liberal, uma pessoa de confiança. Também tem outra pessoa muito importante, que trabalha comigo desde 1988. É a Sandra, uma comadre minha, que já fez de tudo e hoje é nossa pós-venda. Chiquérrima! É a pessoa mais refinada que conheço. Eu a conheci quando a Dani tinha um ano de idade. Tenho um carinho enorme por ela. É um grupo bastante ligado a você. Muito ligado afetivamente e na luta pelo sonho. Todos são desse grupo de sonhadores, que quer fazer acontecer. Minha nora também trabalha aqui. A Saula, minha sobrinha, é gerente. Você comentou que nunca fez plástica e que não tem intenção de fazer. Não, mas posso mudar de idéia algum dia. Sou muito medrosa em relação a médico, porque sou muito alérgica. Não me acho nem melhor nem pior na autoestima. Tenho uma coisa muito segura dentro de mim, que foi passada pela minha mãe. Mas não tenho nada contra quem faz. Não tenho medo de envelhecer. A alma não envelhece.
“AQUELES VASOS NAS PRAÇAS NÃO TÊM EXPLICAÇÃO. É DE UMA POBREZA ESTÉTICA ABSURDA. É UM OLHAR SEM POESIA, SECO”
36 PB
E como cuida do corpo? Faço pilates, musculação e caminhada. Tudo que fala que é para o meu bem-estar, eu faço. Sou muito perseverante. Até às 10h30 me dedico a estas coisas. Só chego à loja depois das 10h30. Sou muito disciplinada e isso aprendi com a minha mãe e com as aulas de piano. Isso me ajudou a ter foco. Não tenho medo de correr atrás daquilo que eu acredito e meu coração precisa bater sempre. Obedeço muito a minha intuição. Sei ouvir lá dentro. Não é o dinheiro que me mobiliza, mas a forma de fazer as coisas.
37 PB
Você falou que é espiritualista, mas freqüenta alguma igreja? Gosto de um rito, mas gosto de ser livre. Já fui muito católica, de comunhão diária. Com o tempo fui ampliando minha visão. Sou de ouvir todo mundo. Acho que tem gente muito interessante para te dar recado. Fico muito atenta às falas de pessoas interessantes. Gosto de rezar, me concentro para poder focar, porque às vezes vem o medo de alguma coisa, e quando bate a insegurança tento resgatar fazendo um pouco de meditação e seguro a onda. Você tem dias de baixo astral? Tenho alguns dias de medos. Quando esses medos humanos aparecem, lembro da minha mãe, rezo. Faço tudo aquilo que possa me fazer voltar para o eixo. Acho que a minha preocupação é não sair do eixo. Mas que tenho medo, claro que tenho. Mas tento não deixar me dominar. Luta contra algum defeito? Sim, sou muito impetuosa. Já melhorei muito. Era terrível. O que eu pensava eu falava. Hoje tenho mais requinte. Mas isso sempre foi minha luta. Sou ariana, custosa. É uma luta constante, eterna. Às vezes, até o jeito que tenho de falar as coisas é perigoso. Tem de ter muita força de vontade. Já teve algum momento de crise, por exemplo, aos 30, 40 ou 50? Não, a única época que eu tive medo, foi aos 42 anos. Meu corpo era perfeito até os 42, depois com as mudanças hormonais, levei um choque enorme. Foi a única vez, depois acomodou. Mas eu tive horror.
O que aconteceu, engordou? Não, era essa coisa de repor. Mas depois isso passou, vi que era normal. Fui ficando ligada a esse negócio de alimentação. Tenho nutricionista, busco equilibrar essa parte, que é importante. Isso tem a ver com a saúde, mas é claro que quero colocar uma roupa e ficar bonita. Essa foi a mudança mais radical? Sim. Foi quando percebi que havia essa deficiência hormonal, e a libido diminuiu. Você tem de fazer reposição e isso é difícil. Vai mudando até sua forma de se aproximar. Entendi que a sexualidade está em tudo. Não está só na parte de sexo. Onde tem poder de transformação tem sexualidade. Tive a impressão que sumiu toda a minha força. Não quis se casar novamente? Tive um segundo companheiro durante 17 anos. Depois que me separei em 1980, conheci essa pessoa e em 1985 começamos a ficar juntos. Acabamos em 2000. Desgastou a relação. Não quero citar o nome, mas foi importantíssimo na minha história. Foi um referencial muito importante na vida do meu filho. Nunca mais o vi. E em relação à moda, você consome muito? Sou muito ligada aos designers mundiais de roupa. Esse é um luxo que eu tenho. Tem um grande sonho que queira realizar? Viajar, que eu amo. Conhecer o mundo. Preciso ser mais persistente, aprimorar o inglês e o francês, que são o passaporte da liberdade. Eu já estudei muito, mas essa é uma timidez que tenho: vergonha de falar. Como gosto muito de viajar, sempre fico encostada na Daniela. Tenho vontade de morar seis meses em Paris. Não mais que isso porque não suporto inverno.
Personagem
PRINCESA reinventada por Rimene Amaral
Andréa Mota vai muito bem, obrigado. Uma década e meia depois de protagonizar um conto de fadas sem final feliz, a ex-modelo só pensa nos negócios, na família e em se manter longe de badalação
38 39
Fotografia: Edgard Soares
Há 15 anos longe dos flashes que a perseguiram noite e dia após conhecer e se casar, aos 19 anos, com Leandro, um dos maiores astros da música sertaneja juntamente com o irmão Leonardo, a ex-modelo e empresária Andréa Cristina Mota Marques Costa Carmo, 40, baixou a guarda e consentiu em falar à The Book. A menina de longuíssima cabeleira loira e grandes olhos azuis-violeta que conquistaram instantaneamente o cantor durante uma sessão fotos, cresceu. Hoje, é uma bem-sucedida empresária, expert em conciliar a rotina da casa, a criação dos filhos e o comando de um pool de negócios que envolve quase 100 funcionários diretos. Chegar à maturidade, no entanto, custou a Andréa um longo período de dor, incertezas, perdas e muito espírito de superação. Atualmente casada com o empresário Fernando Alves Carmo, o Samaúma, 40, com quem tem dois filhos - Fernando Filho, 5, e Felipe, 2 -, além de Lyandra, 18, e Leandro, 15, da união com o cantor, Andréa preserva a beleza que a levou a trabalhar como modelo, aos 13 anos, em importantes campanhas publicitárias nos anos 90. Avessa à badalação, adotou um lifestyle de reclusão como forma de proteger a si mesma e aos filhos. “Não gosto de aparecer. Eu me isolei mesmo. Existem pessoas maldosas”, diz a empresária que reduziu o convívio social a um pequeno círculo de amigos e a raríssimas aparições em festas e eventos. “Faço o sacrifício somente quando se trata de pessoas queridas”, entrega Andréa, que nas horas de lazer prefere organizar jantares em casa, pegar sessões de cinema e viajar.
Até conquistar o atual estado de serenidade no trabalho e na família, a ex-modelo passou por uma grande tormenta, fase que considera “a mais escura de sua vida”, incluindo um longo período de depressão. A decisão de afastar-se de tudo que a ligava à fama veio no rastro da crise que sucedeu o anúncio da separação do cantor, em 1998, mas que não chegou a ser oficializada. Logo após o casal se desentender, veio a notícia da gravidez do segundo filho, seguida da triste confirmação da doença de Leandro, um tipo de câncer raro em adultos, e a sua morte apenas 65 dias depois do diagnóstico. Um golpe muito duro para quem até então só pensava em desfrutar de uma vida de princesa. Amadurecida pela força das circunstâncias, Andréa passou a administrar, com a ajuda do pai, o patrimônio deixado pelo marido, que incluía vários veículos e imóveis como casas, apartamentos, chácaras e fazendas em Goiás e no Tocantins, e mais participações na venda de discos, ações e outros. Segundo noticiou a imprensa à época da morte do cantor, o patrimônio construído com o sucesso da dupla fora avaliado entre R$ 15 e R$ 20 milhões.
“NÃO GOSTO DE APARECER. EU ME ISOLEI MESMO”
Formada em Administração de Empresas, com pós-graduação em Marketing e Finanças, Andréa dedica parte do dia ao leque de empresas que incluem fazendas de criação de gado, loteamentos, restaurante, participações em imóveis comerciais e uma empresa de incineração de resíduos. “A minha supervisão é direta em cada negócio. O processo financeiro é todo supervisionado por mim”, orgulha-se.
40 41
A rotina fora de casa começa bem cedo. Trabalha no escritório até por volta de uma da tarde. O resto do dia é dedicado aos filhos, especialmente aos caçulas. Lyandra, a primogênita, mora desde o início do ano em Campinas (SP) onde cursa Medicina. É a primeira vez que a empresária fica longe da filha e revela que não tem sido fácil a separação. “Depois da euforia e da festa a gente sofreu. Na segunda semana de aula, Lyandra quis desistir. Mas decidiu continuar”. Leandro, o segundo filho, demonstra ser mais apegado à família. “Ele já adiantou que não quer fazer faculdade fora de Goiás”. Mesmo com tantas tarefas, Andréa procura dedicar atenção a si mesma. Frequenta religiosamente a academia e recorre a tratamentos estéticos, embora afirme não sofrer com as mudanças promovidas pela idade. “Desde muito nova eu me cuido, e quando alguma coisa está me incomodando, procuro uma clínica. Desde os 24 anos, uma vez por ano ‘faço botox’ e preenchimento. Tinha o rosto magro e as bochechas salientes, o que marcava muito”, justifica. Se em matéria de beleza tem um posicionamento light, o mesmo não acontece quando o assunto é consumo. Não se incomoda em assumir que é consumista ao extremo. Tem queda por joias e equipamentos eletrônicos. “Já fui a Brasília exclusivamente para comprar um celular que tinha acabado de ser lançado”, conta rindo.
“FOI TUDO MUITO RÁPIDO: A GENTE BRIGOU, ELE FICOU DOENTE, MEU FILHO NASCEU E LEANDRO MORREU”
Ao conhecer e se casar com Leandro, Andréa encantou-se com o mundo da fama. “Fiquei bem deslumbrada nos dois primeiros anos”, lembra a ex-modelo. Mas consciente dos seus valores e dos seus sonhos, retomou os estudos. “Voltei para a faculdade, terminei o curso de Administração e já emendei uma pós-graduação. Foi quando comecei a ver que não queria aquela vida pra mim. É bom? É. Mas os próprios artistas sofrem também”, revela. Andréa tornou-se tão avessa à fama que proibiu o tio, o cantor Leonardo, de incentivar Lyandra à carreira de cantora. “Ela canta muito bem, mas pedi a ele que a esperasse terminar a faculdade. Se ela quiser depois, tudo bem”. O casamento com Leandro durou cinco anos e meio. A filha Lyandra veio no mesmo ano do matrimônio, em 1995. Depois, a vida conjugal começou a ficar difícil. “A gente não chegou a se separar. Tivemos uma briga muito feia e não permanecemos na mesma casa. Em seguida, descobri que estava grávida do Leandro e decidimos ficar juntos”. Mas daí veio a trágica notícia: o cantor estava doente. “Não voltamos a morar na mesma casa, mas a gente virou ‘namorido’. Foi tudo muito rápido: a gente brigou, ele ficou doente, meu filho nasceu e Leandro morreu. Não deu tempo de nada”, relembra. Leandrinho, como é conhecido o filho do cantor, nasceu em fevereiro de 1998. Leandro, o pai, morreu em junho do mesmo ano. Com a morte do marido a história tomou um rumo diferente e a princesa do conto de fadas começou a se fechar. “Passei por uma briga que envolveu o início de uma separação, que envolveu traição. Meus sonhos foram para o buraco. Foi aí que descobri que, do fundo do poço onde eu me encontrava, não havia mais para onde eu ir e nem tinha como sair de lá. E quando imaginava que nada de pior poderia acontecer vieram a doença e a morte do Leandro. A gente acreditava na cura, mas a cura não veio. Eu não desejo nada do que eu passei pra ninguém”, relata. Andréa sabia que precisava reagir e cuidar dos filhos. “Busquei ajuda de remédio, psicólogo e até de psiquiatra. Tive muita depressão”.
41 PB
A crise depressiva persistiu por terríveis seis anos. Cair na real foi o mais duro golpe. Andréa tinha uma vida formatada, com família, profissão e felicidade. “Um dia você perde isso tudo. Mas eu ainda tinha os meus pais e meus irmãos, embora fazer isso entrar na minha cabeça tenha sido complicado”. Mesmo ferida na alma, se viu obrigada a assumir parte dos negócios deixada pelo cantor. Encontrou na mãe, Inária, o porto seguro emocional, e no pai, Hernane, a força e a inspiração para começar a se desenvolver profissionalmente. Já pelo lado da família de Leandro, a situação não foi um mar de rosas. Andréa evita falar no assunto, apenas deixa escapar que teve “um lado bom e outro ruim”, se referindo às pessoas de quem “sempre esteve mais afastada”. Não esconde, porém, o imenso apreço pelos sogros, Carmem e Avelino, pais do Leandro, a quem diz ter gratidão e carinho. “São pessoas maravilhosas. Dona Carmem é a sogrinha que pedi a Deus, apesar de eu ter outra hoje. São duas pessoas maravilhosas. Adquiri duas afilhadas na família, que estão sempre na minha casa; e tem todo o elo com os meninos também. É família”, pondera. Andréa tem uma história de superação. Depois de tantas lutas afirma ter encontrado o seu grande amor. Conseguiu voltar a ser feliz e conquistou uma família como sempre sonhou após se casar com Fermando Samaúma. Para este capítulo tem uma explicação mística: “Eu falo que o Fernando foi enviado pelo Leandro. De onde estiver, ele deve ter feito algo, para que os filhos dele também ficassem bem encaminhados. Ele deve ter dado uma força (risos)”. A ex-modelo relembra que quando a família de Leandro percebeu que Fernando e ela estavam se aproximando, passou a visitá-la com mais frequência. “Era uma forma de cuidado. Eu já conhecia o Fernando, mas começamos a namorar quatro anos depois que o Leandro morreu”. Após um ano e meio de namoro, se casaram. Desta vez, com discrição. “Foi rápido, mas muito intenso”. Apesar de se sentir realizada, Andréa ainda sonha. E sonha alto. “Quero ter uma casa em Miami, onde eu possa ir de dois em dois meses, receber os amigos e ficar em paz”. Um belo sonho de princesa, mas com os lindos olhos azuis bem abertos e os pés firmes no chão.
Na primeira página, Andréia posa na sala da sua casa em um condomínio fechado. Nas fotos ao lado, a ex-modelo com os filhos, Leandro, 15, (muito parecido com pai, o cantor Leandro) e Felipe, 2, da união com Fernando Samaúma, além da agitada Babi
Bússola
Fotografia Mônica Novaes
PARAÍSO NA TERRA Incrustada nas verdejantes colinas da costa norte da Espanha, San Sebastián reúne todas as delícias de um roteiro de férias: culinária rica, praias de areias douradas e passeios por imponentes avenidas e edifícios belle époque
por Mônica Novaes
42 43
A primavera já havia chegado, mas apenas no calendário. O vento persistente ainda trazia o frio que surpreendia mesmo os mais acostumados às baixas temperaturas. Deleite para os surfistas. Com seus macacões de neoprene, não se intimidavam com as águas geladas do Atlântico, vindos de todas as partes da Europa em busca das melhores ondas. O mar, as praias de areia fina e dourada e a arquitetura mesclando o clássico e o barroco formaram a minha primeira impressão da capital basca. A visita a San Sebastián (Donostia, em euskera, a língua basca) começava na companhia de amigos ávidos por descobrir os encantos do antigo balneário dos reis da Espanha. O passeio a pé, a partir do antigo mercado central, atravessa praças com flores ainda tímidas, enfeitadas por fontes em forma de anjos e ninfas. No coração da zona antiga da cidade, a Plaza de La Constitución concentra bares, lojinhas e museus. E é nesse período que suas esplanadas ganham a presença de convidativas mesas, verdadeiros camarotes a céu aberto, permitindo admirar a vida que passa leve e sossegada pelo balneário.
San Sebastián convida à mesa. Não à toa o lugar goza de superlativos como “a capital gastronômica da Europa”, “o melhor lugar para se comer no mundo”, e registra a maior concentração de estrelas do Guia Michelin, fato que os próprios bascos adoram lembrar, em euskera, o idioma local. A estação fria e preguiçosa é só um motivo a mais para apreciar um excelente vinho dentro de um acolhedor pub ou café. Melhor ainda se a taça for acompanhada pelos tradicionais pintxos, a versão basca das famosas tapas espanholas. Os recheios podem ser à base de legumes, carne assada, grelhada ou ao molho, peixe, crustáceos ou mariscos. Vem à mesa em pequenas porções, servidas sobre fatias de pão caseiro com um palito espetado. Em alguns casos, os pintxos reproduzem pratos do restaurante em miniatura. Custa de 10 a 20 Euros a porção. O vinho da casa, servido na taça, sai por até módicos 5 Euros, e um bom e caprichado sanduíche à moda exótica dos bascos gira em torno de 15 Euros. Minha experiência gastronômica foi na simpática e estreita rua do centro antigo, no idioma local chamada de Kale Nagusia. A taberna Paco Bueno, à primeira vista, não chama a atenção, mas é uma grata surpresa ao paladar. Os fregueses mais comuns são os próprios moradores da cidade. No entanto,
San Sebastián registra a maior concentração de estrelas do Guia Michelin
San Sebasti谩n convida a longos passeios pela orla de 6,5 quil么metros da Praia de La Concha
No alto, em sentido horĂĄrio, sanduĂche da taberna Paco Bueno; o Peine del Viento, obra de Chilida; pintxo de jamĂłn serrano e os seculares tamarindos que serpenteam as avenidas da cidade
cada vez mais turistas descobrem o lugar, atraídos pelo ambiente descontraído, simples e familiar. Ah, e, claro, pelo aroma que escapa pelas ruas. Funcionários bem-humorados correm em frenesi para atender a casa cheia, supervisionados de perto pelos proprietários, pai e filho, no mais tradicional estilo avental e lenço na cabeça, entre o balcão e a cozinha. O pai, um ex-lutador de boxe, e o filho, um louco por rugby. Então, esqueça a dieta. Entregue-se à santa gula sem peso na consciência. Afinal, onde mais terá a chance de se deliciar com um autêntico sanduíche de bacon, presunto e chorizo com o toque de mestre: um ovo frito na própria crosta recortada do pão. Divino! Uma taça de tinto da casa e, voilà, a magia está feita, e por apenas 13 Euros. Bem pertinho, ainda na Kale Nagusia, a padaria Galparsoro é capaz de deixar qualquer parisiense de queixo caído com os melhores pães, baguetes e brioches da região. A massa leve e saborosa derrete na boca. É uma opção fabulosa para se deliciar enquanto continua a caminhada em busca dos pequenos tesouros da “cidade velha”. Naquela que é considerada a mais francesa das cidades espanholas, o idioma basco, o euskera, se mistura ao castelhano e, até um pouco, ao francês. Mas, não importa a língua. Com um sorriso simpático e a ajuda do menu ilustrado - uma grande ideia -, a refeição estará garantida. E não é por acaso que se diz que “tudo no país basco se resolve à volta da mesa”. Se exagerar no pedido, fique tranquilo. A cidade é um convite às caminhadas. Um calçadão de 6,5 quilômetros à beira mar abraça as três principais praias da cidade e proporciona um passeio, curtindo as belezas do porto e das serras próximas, respirando a maresia. Do calçadão recomendo uma parada para fotografar o Monte Urgull, coberto por mata nativa que exibe no alto uma estátua de Jesus. Você pode ainda se perder pelas ruelas charmosas, onde cada esquina reserva uma surpresa, como as lojinhas de doces e souvenirs. A partir do mercado central, o corredor de ruas exclusivas para pedestres permite uma surpreendente vista da Catedral Neogótica do Bom Pastor de um lado e a Igreja de São Sebastião, do outro.
TUDO NO PAÍS BASCO SE RESOLVE À VOLTA DA MESA Para os amantes do cinema, a dica é visitar a cidade em setembro. Além de aproveitar o clima ameno de começo de outono, nesse mês é realizado o Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, um dos mais prestigiados e famosos do mundo, cuja primeira edição aconteceu em 1953. A Baía de La Concha, junto ao mar Cantábrico, é uma das paradas obrigatórias em San Sebastián. Dizem que caminhar por suas areias é garantia de voltar. Pelo calçadão temos a privilegiada vista do porto. O acesso à praia é feito pelas escadarias adornadas por peitorais estilo belle époque e suas luminárias, marcas registradas da cidade. Se a Baía de La Concha é admirável de pertinho, imagine a vista do alto. Isso é possível através do passeio em funicular, o mais antigo do País Basco. Inaugurado em 1912, coincidiu com a abertura do Parque de Diversões no alto do Monte Igeldo, permitindo ver impressionantes panorâmicas da Praia de La Concha. Ele percorre uma distância de 320 metros, tem capacidade para setenta pessoas, e a viagem, que sai a cada 15 minutos, dura três minutos de contemplação. Antigo refúgio de reis e rainhas, o balneário abriga desde os quarteirões nobres às construções medievais da parte vieja, que resistiram a vários incêndios e ataques séculos atrás. Seja do alto de seus morros com vistas incríveis para o mar ou das pontes e passarelas de seus portos, San Sebastián se impõe, majestosa.
ONDE FICAR Se você é do tipo aventureiro, despachado e quer economizar, pode optar pelos acampamentos nos arredores da cidade. Um deles é o Camping Igueldo, que oferece banheiro, duchas, máquinas de lavar e secar roupas, restaurante e área de bar, além de um parque infantil. Um serviço regular de ônibus está disponível a cada 20 minutos e custa 1,60 Euro. As tarifas variam de 30 a 50 Euros, de acordo com o tipo de ocupação (barraca individual, família, trailler), na baixa temporada. Mas se você procura conforto e ainda assim quer ficar pertinho da praia, uma boa opção é o Silken Amara Plaza. Um quatro estrelas com diárias a partir de R$ 250,00 (quarto duplo por pessoa), na baixa temporada (outubro/novembro), wifi gratuito e a comodidade de check-out tardio, até às 15 horas, permitindo uma saída sem pressa. Outro excelente quatro estrelas no centro de San Sebastián é o Londres y Inglaterra, cujo encanto é o fato de ter quartos debruçados sobre a praia. Alguns o descrevem como um navio encalhado nas areias, de tão próximo que está da linha do mar. Mas há também o aristocrático Maria Cristina, o luxuoso cinco estrelas em estilo belle époque, fincado no coração da cidade, com diárias que variam entre 145 e 570 Euros.
46 PB
FRANÇA
Baía de Biscaia
Biarritz
San Sebastián PORTUGAL
Barcelona Madri ESPANHA Mar Mediterrâneo
Vista da cidade de San Sebastián do alto do Monte Igeldo
A cidade com pouco mais de 183 mil habitantes está localizada no país basco, na fronteira entre a Espanha e a França. A região é cortada pela cadeia montanhosa dos Pireneus e fica na costa atlântica da Europa.
47 PB
Internet
A mulher do cara entrega tudo por Nilce Moretto
A cara metade do videologger Leon Martins revela à The Book como é a vida ao lado do dono de um dos canais de games mais acessados do YouTube 48 49
Como foi o encontro? — — Bacana. Os bombeiros tiveram que vir resgatar a gente da feira... Saímos escoltados. Foi assim que eu fiquei sabendo que meu marido e um amigo tinham sido cercados por duas mil pessoas enquanto visitavam o stand da Sony, na Brasil Games Show, evento especializado em jogos eletrônicos em São Paulo. Na multidão, crianças acompanhadas pelos pais, adolescentes entusiasmados, gente disposta a demonstrar carinho e se aproximar do “nerd legal” que ganha a vida jogando videogame e postando análises e partidas disputadas no YouTube. No canal Coisa de Nerd no YouTube, Leon tem mais de um milhão de inscritos e ganha cerca de três mil novos assinantes todos os dias. Cada vídeo publicado, na maioria das vezes, alcança mais de 100 mil visualizações. Sim, é gente pra caramba interessada não só em jogar, mas em dedicar tempo assistindo ao Leon jogar.
Não vá pensar que me casei com um expert, ou um viciado nos controles. Só fui descobrir o hobby depois de casada. Pra me fisgar, ele lia Nietzsche, dava Tchaikovsky de presente e fazia tipo de menino tímido. Só depois que fui saber dos playstations, psps, nintendos – e do já mencionado efeito que ele causa na meninada. A notícia veio devagarzinho, sussurada ao ouvido, pra não me assustar. Leon joga desde pequeno. Meu sogro, um engenheiro apaixonado por tecnologia, foi quem o introduziu no ‘vício’. Minha sogra conta que, durante as férias da família, Leon não queria saber da areia, passava o dia inteiro em casa, às voltas com os desafios de Mário World, Megaman e outros clássicos dos games. Apesar dos indicativos de que o hobby poderia virar negócio, eu não poderia suspeitar desse futuro quando começamos a namorar.
A jornalista Nilce Moretto com o marido, o vlogger Leon Martins, numa das viagens que fez a Alemanha para visitรก-lo, em 2008
SAIBA MAIS Leon de Oliveira Martins, 30, é o criador do canal Coisa de Nerd, do YouTube. Formado em Relações Internacionais pela PUC-MG, especialista em Filosofia pela UFMG e mestre em Estudos Europeus pela Universidade Flensburg, na Alemanha, o vlogger foi um dos primeiros brasileiros a explorar a área de canais de videogames dentro do YouTube. Segundo o site de tecnologia youPIX, essa categoria é uma das mais populares na rede social em todo o País, com mais de 1,2 milhão de visualizações por dia. Leon é carioca, se mudou para Goiânia em 2010 e, recentemente, se transferiu para Curitiba (PR) em razão da grande presença de profissionais capacitados nas áreas de produção de vídeo e de tecnologia, e da proximidade com o eixo Rio-SãoPaulo. Além de comentar os jogos, Leon grava as viagens que faz para cobrir eventos de games pelo mundo .
Os vídeos, que no início eram feitos pra família, começaram a fazer um sucesso razoável
Conheci o Leon na internet em 2006. Ele deixou um comentário no meu blog e, como não fazia parte do meu já conhecido grupo de leitores –, minha mãe e mais cinco amigos – chamou minha atenção. Não sei de nada mais apaixonante que um leitor atento e, pronto: não relutei a adiciona-lo ao MSN, Orkut, Skype, enfim à vida. Daí, percebe-se que a internet é pilar do nosso namoro desde o início. Enquanto eu trabalhava em Goiânia, ele terminava uma especialização e um mestrado em filosofia em Belo Horizonte. Em 2007, ele já estava na Alemanha pra um mestrado em Estudos Europeus. O Atlântico não impediu que nos casássemos em 2008, mas ficou entre nós por um longo tempo. Só que mar nenhum separa o que a internet uniu e demos o nosso jeito. A forma que ele encontrou de me mostrar a vida lá e de nos aproximarmos mais foi produzindo vídeos e postando no YouTube. E assim, essa loucura toda começou. Os vídeos, que no início eram feitos pra família, começaram a fazer um sucesso razoável. A remuneração do ad sense, o programa de parceirias do YouTube, não era grande coisa, mas a produção o ajudava a suportar a distância de casa. Ele ainda não tratava de games, mostrava a Europa, as coisas que vivia por lá, as reflexões que fazia enquanto a dissertação não fluía – só de tema e de orientador ele mudou umas três vezes, que eu me lembre -, efeito de um déficit de atenção tardio, diagnosticado também à época. A dissertação só engatou quando ele decidiu abordar - adivinhe! - games, claro! Não me pergunte como, mas ele tratou a questão das minorias étnicas usando o jogo Metro 2033. Deu certo. Foi aprovado como o melhor da turma e voltou pra casa para procurar emprego como professor em alguma universidade.
youtube.com/coisadenerd
“NÃO RELUTEI A ADICIONÁ-LO AO MSN, ORKUT, SKYPE, ENFIM À VIDA” Enquanto o emprego não saía, ele jogava e postava no YouTube. Com o ritmo de postagens, a audiência também cresceu. Eu que não era disso, sequer imaginava o poder de atração dos jogos. Antes de qualquer universidade abrir seleção na área dele e quando eu já começava a ficar preocupada com o sustento da família, uma empresa americana ofereceu parceria e dinheiro. Logo, vieram convites para cobrir eventos de games nos Estados Unidos, Europa e China. O sucesso nos vídeos se refletiu em outras redes. Leon tem mais de 200 mil seguidores no Twitter e a página no Facebook já foi curtida mais de 150 mil vezes. No ano passado, o perfil dele foi um dos dois brasileiros finalistas no Shorty Awards, prêmio do Twitter promovido pelo jornal The New York Times. Logo depois, ele foi convidado pela Intel para ser um dos quatro participantes de um web reality show de promoção do computador ultrabook. Viajou para a Rússia e Austrália disputando com um americano, um indonésio e uma indiana – perdeu a competição, mas quem se importa? Não eu, que sou puro orgulho dele. Leon também me encorajou a abrir meu próprio canal. Aplico minha experiência de dez anos como repórter de TV em Goiânia em comentar o mundo para um público jovem, o público dele. Não queremos depender do YouTube e estamos diversificando o negócio. Ele acaba de abrir uma empresa em Curitiba e se instalou por lá, o que significa que nos preparamos para enfrentar mais uma temporada de distância. Se é fácil? Claro que não, mas se uma coisa eu aprendi como mulher de gamer é que, pra cada fase do jogo, surgem sempre as armas necessárias. E valham-me Whatsapp, Skype e Facetime!
Economia
SOB a LUZ do LED por Adevania Silveira
52 53
Se você fosse o prefeito de uma cidade e recebesse a proposta de trocar toda a iluminação pública que o possibilitasse sair de uma conta mensal de R$ 380 mil para uma de R$ 36 mil; e fizesse cair o gasto com manutenção de R$ 600 mil para R$ 50 mil, mas para isso tivesse de desembolsar R$ 7 milhões ao invés de R$ 100 mil reais, o que faria? Este é o desafio a que o empresário mineiro Hiury Gutemberg, 35, se propôs desde que a CE Clean Energy, empresa fundada por ele e outro sócio, na China, desembarcou há seis anos no Brasil: convencer os setores público e privado de que a iluminação por lâmpadas LED pode ser a grande coadjuvante no Plano Nacional de Ação para Eficiência Energética, lançado em 2012, que pretende reduzir em cerca de 30% o consumo até 2030. Belo Horizonte foi a primeira capital a aderir à proposta da CE Clean Energy e a trocar toda a rede semafórica por lâmpadas LED. No setor privado, empresas como a Pif Paf Alimentos, Ricardo Eletro, Drogaria Araújo, Grupo Saint-Gobain, shoppings de Minas Gerais e São Paulo e Pharlab Indústria Farmacêutica estão na lista de clientes de Gutemberg. Ainda sem concorrentes no País, o empresário nada sozinho em um mar de necessidades no setor elétrico, que se vê obrigado a tomar medidas para evitar o desperdício -- que chega a 10% da carga total (419.016 GWh), de acordo com estudos do Ministério das Minas e Energia --, e possibilitar a expansão econômica do Brasil.
Em um dos rasantes que fez a Goiânia para atender a compromissos com empresários, concedeu à The Book a entrevista a seguir, em que revela, entre outros pontos, que a Claen Energy espera fechar o ano com faturamento de R$ 150 milhões. Porque escolheu estabelecer a empresa fora do Brasil? Porque o berço da tecnologia de iluminação a LED está na China. O LED existe desde 1940, mas o aprimoramento disso foi feito na China. O custo trabalhista somado na operação é mais viável por lá. Torna mais competitivo em qualquer mercado. E meu sócio já morava havia dois anos na China. A Clean Energy tem o melhor preço aqui no Brasil? Não digo o melhor preço no Brasil. Tenho alguns concorrentes que são importadores. Eles chegam a uma feira e importam de qualquer fábrica fundo-de-quintal e trazem para o Brasil. Então você tem uma gama maior de produtos a oferecer? Tenho. Estou bebendo água limpa porque comecei a operação em 2007. É o único motivo. Brigar com a General Eletric não é brincadeira. Creio que a gente tenha mais um ano e meio ou dois anos de vida sem uma interferência. Depois entramos em uma guerra de preço.
Fotografia: Edgard Soares
53 PB
O empresário mineiro Hiury Gutemberg espera faturar até final de 2013 R$ 150 milhões com a venda de equipamentos de iluminação a LED
Como surgiu a ideia de atender esse mercado específico de LED? Ao me formar, abri a Trade Company, empresa apta a importar e exportar produtos de qualquer lugar do mundo. Em 2005 fiz uma aliança com o meu sócio na China. Ele era meu fornecedor. Estava vendo algo para despontar na China e tinha esse projeto engavetado. Via as coisas acontecerem lá, sabia qual era o potencial, onde poderia chegar, mas estava esperando uma oportunidade de investimento. Em 2005 me convenceu de, inicialmente, colocarmos U$ 200 mil dólares na operação de engenharia. Não existia produto. Cerca de seis meses depois tínhamos uma lâmpada de iluminação pública, a IP30.
54 55
A empresa visava o comércio convencional? Visávamos apenas fazer uma gama de produtos que atendessem ao mercado. De 2005 a 2009, quando começamos a vender, colocamos U$ 4 milhões de dólares na operação. Com este investimento, em 2009 já tínhamos uma planta industrial de 2.000 metros quadrados, oito linhas de produção automatizadas, 150 funcionários, 17 produtos em linha, e já estávamos prontos para atender todo o mercado público na área de iluminação semafórica e todo o mercado institucional e de empresas. Em novembro de 2009, vencemos a primeira licitação. Em 2010, fizemos Belo Horizonte, com os 33 mil pontos de semáforos iluminados a LED. Em 2010 começamos a atender a Pif Paf Alimentos, Ricardo Eletro, Drogaria Araújo, Grupo SaintGobain, alguns shoppings de Minas Gerais e São Paulo, redes hoteleiras, Pharlab Indústria Farmacêutica, entre outros clientes. No setor de iluminação pública o que vocês já fizeram? Em Belo Horizonte já começamos, fomos contratados pela prefeitura. Existe uma questão técnica que tinha que ser observada: os municípios eram acometidos por um erro da administração pública. As concessionárias antigamente eram de energia pública e, ao longo do tempo, foi se modificando e passaram a ser privadas. Vieram novas formas de geração de energia, que passaram a ser de concessionárias privadas. Alguns Estados, por exemplo, não têm concessionária pública gerindo o sistema atual de distribuição de energia nem geração. A lei antiga determinava que a gestão da
compra de material e de sua instalação fosse feita pela concessionária. O município comprava o material, como um bem público, e doava para o ente privado. Isso era uma discrepância monumental em virtude do poder que a administração pública tem de exercer. Isso deveria ser leiloado ou ter outra forma de fazer. O STF decidiu em 2012 que a gestão disso volte para os municípios e os ativos que foram doados retornem a eles. Foi determinado que as concessionárias devolvessem tudo no prazo de janeiro desse ano até 14 de janeiro do ano que vem. Até então a gente enfrentava um problema de ordem pública. Em que ponto o entrave prejudicava a negociação? Tínhamos de passar por uma fase de aprovação do nosso equipamento pelas concessionárias. Por exemplo, somos auditados pela Semig de seis em seis meses. Ela vai à planta industrial, audita o processo de produção e dá um atestado técnico. Mas se viesse para Goiás, teria de começar o processo do zero. Isso acabou e já estamos trabalhando em quatroze municípios no Brasil, inclusive em duas grandes capitais. A CE Clean Energy oferece um equipamento com maior durabilidade, menos manutenção, mas em compensação o valor é maior. Em quanto tempo é possível gerar economia? O melhor exemplo que temos é da iluminação semafórica em Belo Horizonte. A cidade pagava R$ 380 mil de energia elétrica por mês para deixar o parque semafórico funcionando noite e dia. Tinha um contrato com base mínima de R$ 50 mil, e a cada acesso. além daquele dispositivo que está dentro dos R$ 50 mil, vamos supor duzentos acessos, pagaria um valor fixo por troca de equipamento. Antes, queimavam em média dois mil equipamentos por mês, totalizando um gasto de R$ 600 mil, o dobro do valor da energia. Como ficaram as contas? Onde havia uma lâmpada de 100 watts, o meu equipamento agora gasta 7,52 watts, uma economia de 92,8% em energia elétrica. Saímos de uma conta de R$ 380 mil para uma de R$ 36 mil em energia elétrica. Em três anos de garantia foram queimados apenas 16 equipamentos. Assim, a prefeitura pagou o mínimo do contrato, que é R$ 50 mil, pelo o período, porque não o acessou acima dos 200 equipamentos.
É uma economia muito significativa. A matemática é simples. Para trocar 33 mil pontos de equipamentos incandescentes a prefeitura gastaria R$ 100 mil de produto. Com LED isso custaria R$ 7 milhões. Mas com o equipamento incandescente a troca ocorre de seis em seis meses e requer uma mão-de-obra gigantesca. É um número muito grotesco, mas quando colocamos em um projeto os problemas que a iluminação pública dá, comprova-se que com LED é muito mais viável. Uma informação interessante é que, se trocarmos por LED todas as lâmpadas de iluminação pública de todas as capitais do Brasil e as cidades com mais de 500 mil habitantes, economizaríamos uma Belo Monte, que é a usina hidrelétrica que está sendo montada no Pará. A diferença é que gastaríamos 20% do efetivo da Belo Monte. Então, se lá está custando R$ 60 bilhões, nós gastaríamos 20%.
55 PB
Se todas as cidades com mais de 500 mil habitantes comprassem esse projeto, a empresa teria condição de atender a todas elas? Com certeza. A minha produção é por demanda. Mas para ter uma ideia, produzimos 33 mil equipamentos, a operação inteira de BH, em 30 dias, sem mexer na planta de funcionários. Creio que o grande diferencial da China para o Brasil é que é possível triplicar uma planta industrial em 30 dias. Não falta mão-de-obra, não falta insumo, não falta lugar. O governo está sempre te incentivando a produzir mais. Qual a capacidade da planta industrial? Duzentos mil equipamentos por mês. Para ter uma ideia de valor, São Paulo hoje está com 180 mil semáforos instalados. Eu produziria em um mês, trabalhando em três turnos. Para uma cidade como Goiânia, que deve ter 60 mil postes, produzo em dois meses. Se trabalhar em três turnos produzo 180 mil equipamentos. Como fica a questão ambiental? Existem duas agências no mundo que dão uma certificação chamada Selo Verde, uma em Londres e a outra na China. Estamos tentando virar um braço dessa certificadora para poder entregar um projeto carimbado com o Selo Verde para o cliente. Porque nosso produto pode ser descartado no meio ambiente. Não tem mercúrio ou gases nocivos. A CE Clean Energy tem parceria com alguma empresa de reciclagem? Ainda não. Estamos dentro da fase de três anos de garantia. Nessa fase recolhemos o equipamento e o reaproveitamos. É lógico que quando o Selo Verde for implementado, teremos de ter, obrigatoriamente, uma forma de recolhimento desses produtos no mercado.
O Brasil já paralisou a fabricação de lâmpadas incandescentes, pelo menos duas foram banidas do mercado. Na Europa já está vigorando desde 2011, e no Brasil tem uma previsão de paralisação para 2014. Mas ainda encontramos lâmpadas incandescentes no mercado. Não é igual à troca de tomadas no Brasil, que saiu uma lei e no mês seguinte já haviam saído do mercado.
56 57
O Brasil é o décimo país que mais investe em energia limpa. O potencial brasileiro é estimado em 143 gigawatts, equivalente a dez Itaipus. Sim. O problema de energia é que não pode ser guardada. Então é preciso gerar a todo momento para poder abastecer a base instalada. A eficiência energética hoje é a forma mais barata de gerar energia, aproveitar o que está instalado. Estamos trabalhando para uma montadora de veículos de Minas Gerais onde, se crescer 1%, a companhia energética não consegue mais fornecer energia. Essa empresa é obrigada a continuar fabricando o mesmo número de carros anualmente para não extrapolar a quantidade de energia disponibilizada. O modelo que estamos fazendo para a substituição da iluminação em toda a planta da montadora deverá gerar entre 10% a 15% de economia de energia e, consequentemente, lhe possibilitará aumentar a operação de fabricação de veículos. Se o LED é mais eficiente que a lâmpada comum, por que os governantes não estão como mariposa em busca de luz? Todo produto com alta tecnologia tem um custo que o acompanha. Quando é feita para ter durabilidade, existe o preço que acompanha a tecnologia. O Brasil não está acostumado a qualidade. Depois, somos muito imediatistas. Estive com um empresário que disse que, para o projeto compensar, o custo/benefício era seis meses. Não tem como, é irreal. Seria leviano, da minha parte, dizer que algum projeto meu tenha dado retorno em menos de 24 meses. Na administração pública, o segundo entrave são os projetos de alto cunho financeiro, alto valor agregado, que foram feitos para durar mais que um mandato. O administrador público tem de ter uma cabeça muito boa a ponto de deixar um legado, uma marca na sua administração. O governo pretende reduzir em 30% os gastos com energia e tem o Fundo de Eficiência Energética destinado para este fim. Isso. Este fundo hoje é um dos nossos principais financiadores. Mas nós também temos um projeto de caixa própria. O BNDES também tem uma linha chamada Procer. Qual é a perspectiva de venda da Clean Energy para 2013? Qual a meta de trocas lâmpadas no País? Isso é muito difícil de calcular, mas imagino faturar esse ano R$ 150 milhões de reais.
Baseada na China, a Clean Energy, do empresário mineiro Hiury Gutemberg, foi responsável pela troca por lâmpadas LED de todo o parque semafórico de Belo Horizonte (MG)
PERGOLADOS | DECKS | VASOS | JARDINS VERTICAIS | PAISAGISMO | Mテ天EIS OUTDOOR
GO 020 (atrテ。s do Alpha Mall) | www.inplant.com.br
Casas Reais
Na SALA com a... A dona da concept store AZ Decor abre sua casa para The Book e mostra a coleção de preciosidades do design nacional e internacional garimpada ao longo da vida
por Adevania Silveira
58 59
O buffet de jacarandá é da época em que a empresária se casou, na década de 60
Enquanto seguia para o endereço da casa que íamos fotografar para a coluna Casas Reais desta edição, me entreguei ao exercício mental que costuma anteceder este tipo de reportagem: imaginar como seria o habitat da nossa entrevistada. Em se tratando da sócia-proprietária da AZ Decor, uma das maiores concept stores de Goiânia, com um acervo digno da wishlist de todo grande colecionador de móveis e objetos de design, era bastante natural pensar que iria me deparar com um big apartamento. Grande o bastante, deduzi, para abrigar uma infinidade de móveis assinados que estão ao alcance da mão da dona da casa. Cada mês uma mesa de jantar distinta. Cada semana, objetos diferentes povoando os ambientes. Doce ilusão. Maria Abadia Haich, a Bá (que também é capa dessa edição), 67, é uma mulher prática, mas tão prática ao ponto de dar uma lição de life&style para dias atuais.
Cravado no coração do Setor Bueno, o apartamento de 230 metros quadrados reúne, sim, uma infinidade de obras, objetos e móveis. A maior parte com pedigree, é verdade, mas absolutamente nada está ali com o intuito de apenas decorar. Tudo tem a sua história e cada peça parece ter passado por uma espécie de “curadoria do coração” antes de ganhar seu lugar de honra na ampla sala. Como o majestoso buffet de jacarandá conservado desde a época em que Bá se casou, na década de 60. O móvel divide a atenção com a obra O Tempo e o Vento, da artista gaúcha Heloísa Crocco, e o vaso de resina de poliuretano do genial designer e arquiteto italiano Gaetano Pesce. Separada e com os três filhos casados, Maria Abadia optou por um apartamento pela comodidade e segurança. Está próxima dos locais para onde tem de se mover no dia-a-dia e sente-se tranquila ao sair para as quase dez viagens que faz anualmente. Bá é a única moradora, mas não vá pensando que por isso a vida por ali é calma. Não. A casa da Bá é ruidosa. Como boa descendente árabe, a empresária cultiva a hospitalidade. Está sempre cercada dos filhos, dos seis netos e de amigos que são convidados para almoços e jantares de longa duração. “Sou muito aberta, minha casa é muito aberta também”, sentencia. A nossa sessão de fotos, por exemplo, só começou após servir café, suco e bolo caseiro.
Fotografia: Edgard Soares
59 PB
61 PB
No centro da sala, o sofĂĄ desenhado por Leo Romano ganha mais cor com as almofadas Missoni; banco de madeira revestido de lĂŁ natural das designers Tina Moura e Lui lo Pumo
Casas Reais
Abaixo, pendentes Tom Dixon iluminam a mesa de jantar e cadeiras Alvar Aalto. Sobre esta, jogos de cestaria africana feita de fios de telefone; ao fundo, tapeçaria chilena, presente de Leo Romano
62 63
O imóvel passou por uma reforma radical, com muito quebra-quebra para unir ambientes adjacentes. O designer de interiores Genésio Maranhão, juntamente com Neide Moreira, responsável pela execução da obra, conseguiram realizar o que a dona da casa tanto queria: fazer a sala de quase 100 metros reinar absoluta. Nela está exposta o acervo de uma vida e a representação do que há de melhor no design brasileiro, a grande paixão de Maria Abadia. A decoração do apartamento ficou à cargo da filha e sócia Daniela Haick Mallard. A sala tem distribuição circular, com o espaçoso sofá assinado pelo arquiteto Leo Romano ocupando o centro. Assim, foi possível acomodar diferentes nichos nos quatro cantos do ambiente. Ao lado dos janelões tomados pela vegetação, a mesa de jantar e as cadeiras Alvar Aalto são iluminadas por pendentes Tom Dixon. “Meus netos fazem a festa quando estão aqui”, conta Bá, acrescentando que na reforma do apartamento unificou as salas de TV e estar para dar lugar a um espaço de convivência. “Aqui vejo TV, leio e recebo visitas”, conta.
Estante Sapiens, do italiano Bruno Rainaldi, divide a atenção com o pinguim de resina Daniela Ktenas, mesa Pitágoras e obras de Kboco, Mateus Dutra e Marcelo Solá
Poltrona Chifruda de Sérgio Rodrigues, poltrona Panton editada pela Vitra, mesa irmãos Campana e tela de Leo Romano
Sobre o aparador feito de prancha esculpida pelo artesão Ulisses Ferreira, mesa Pinocchio de Luigi Baroli e Enrico Baleri, e pedra de socar quibe, herança do avô, faz a vez de cachepô; sob o móvel, anta de Siron Franco, banquetas Elephant de Sori Yanagi, mesa Ovo e cachorro da Slide Design; tela de Christiane Brandão
Em sentido horário, instalação da artista Hortência dá boas-vindas; miniatura da Penépole Charmosa; bolsa que pertenceu à sogra; escultura “O Tempo e o Vento”, de Heloisa Crocco e vaso Gaetano Pesce sobre o buffet de jacarandá dos anos 60
TUDO TEM A SUA HISTÓRIA E, AO QUE PARECE, CADA PEÇA PASSOU POR UMA ESPÉCIE DE “CURADORIA DO CORAÇÃO” ANTES DE GANHAR LUGAR DE HONRA NA AMPLA SALA
Sobre a mesa de Porfírio Valladares, objetos garimpados em viagens como a Santa Ceia do artesanato paraibano; cachepôs de Biblos, tábua de carne da Tunísia; esculturas de músicos de Olinda; vaso da Ilha de Páscoa e miniaturas de mobiliário australiano; cadeiras Girafa, de Lina Bo Bardi, da Marcenaria Baraúna
Do design brasileiro, Bá garimpou peças de grandes autores pelos quais revela paixão incondicional, como o carioca Sérgio Rodrigues. Estão lá três exemplares da Mole e a famosa Chifruda, a mais rara e espetacular poltrona do arquiteto e designer, criada em 1962, reeditada em série limitada e numerada, o sonho de qualquer colecionador. Da precisosa coleção de objetos, um deles não leva a assinatura de ninguém famoso, mas é guardado como um tesouro pela empresária: uma bolsa de pele de crocodilo de 1930, que pertenceu à sogra. A maior prova de que quem manda no pedaço é mesmo o coração da dona da casa.
Internacional
ARTE NA REDE Compelidos a buscar novas atividades profissionais para driblar a crise econômica que assola a Europa, espanhóis se lançam no movimento handmade e descobrem no e-commerce o jeito de fazer os negócios crescerem
por Andrés Fierro, Madri, Espanha
66 67
Enquanto o lado menos rico da Europa – Espanha, Itália, Portugal e Grécia – padece com uma das maiores crises econômicas de sua história e os políticos buscam respostas e fórmulas mágicas, dizem, para encontrar uma solução, um grupo de pessoas sonhadoras e com iniciativa tem conseguido converter sua habilidade em meio de vida. O movimento handmade (feito à mão) cresce em todo o mundo. Espanha não é exceção. Primeiro porque, em um país com mais de 6,2 milhões de desempregados, traNós, os balhos autônomos são praticamente a única consumidores, alternativa para a população. Segundo, pordesejamos cada que permite transformar um hobby em uma vez mais produtos forma de ganhar a vida, o que se conhece originais e também como DIY, o “do it yorself”, ou “faça exclusivos você mesmo”. Terceiro, porque nós, os consumidores, desejamos cada vez mais produtos originais, exclusivos e que venham diretamente do artesão ou do designer. E quarto, porque Internet colocou em nossas mãos as ferramentas necessárias para que, com um mínimo investimento, os produtos fabricados a mão possam viajar por todo o planeta.
Cristina López Santos, 38, é licenciada em Imagem e Som – o equivalente a estudar Cinema, na Espanha–, que deixou seu trabalho em uma agência de publicidade para dar vazão à mania por trabalhos manuais. Começou com um broche para a mãe. “Algumas pessoas o viram e gostaram. Imediatamente pensei em fazer uma pequena coleção”, conta. Em seguida, criou casquetes para os casamentos das amigas. Daí o nome, Olula se Casa, marca própria que hoje comercializa, além de broches e casquetes, bolsas, carteiras, colares, almofadas, sacolas, pulseiras, toys e objetos para casa. Em 2006, Cristina iniciou uma maratona pelas lojas de Madri para tentar vender suas criações. Trata-se de uma tarefa comercial nem sempre agradável, mas inevitável para quem deseja tornar seus produtos conhecidos. A designer começou antes da crise,
antes inclusive do boom dos blogs. Para ela, as feirinhas foram fundamentais. “Vinham aqui donos de lojas, inclusive de fora de Madri, para descobrir novas marcas e tive sorte de coincidir com um momento de grande atividade. Agora os mercados já não apostam mais nesse modelo”. Por isso, decidiu abrir sua primeira loja online. O lugar eleito foi Etsy.com, portal pioneiro na venda de artesanato, criado em 2005, pelo pintor e marceneiro Rob Kalin, atualmente o número um dos Estados Unidos, com mais de 800 mil lojas ativas e 15 milhões de produtos. Para Cristina foi uma decisão fundamental. “Em 2010 as lojas começaram a fechar. Felizmente o comércio online começou a superar a queda das vendas em lojas físicas”. Isso foi o que também animou a Dawanda a iniciar sua loja online, outro dos grandes em e-commerce, neste caso na Europa, com sede em Berlim e com uma potente sucursal na Espanha focada no mercado hispânico. Em 2011, Celia conheceu Pepe, um cachorro salsicha abandonado em pleno inverno. Assim que o viu, o adotou. Inspirada pelo novo amigo, começou a confeccionar suéteres e a fabricar coleiras para o bichinho.
No final desse mesmo ano, Celia Jerez Peláez, 28, editora de formação e diretora de uma livraria de arte e design, ficou desempregada. Mas Blondie, uma huskie de olhos claros e seu novo companheiro, Pepe, lhe trouxeram boa sorte. Muitos amigos começaram a encomendar as roupinhas e coleiras que fazia para os seus cachorros. O que era uma diversão se converteu em uma pequena empresa dedicada a fabricar suéteres, peitorais, bolsas, gravatas borboletas e todo tipo de complementos para cães. Em homenagem a Pepe, Celia batizou a marca de PepitoandCo. de PepitoandCo. O investimento inicial foi zero, já que em nenhum momento foi planejado como negócio. Uma enorme vantagem já que a PepitoandCo foi crescendo de forma auto-sustentável: lentamente, mas de forma segura. Igualmente à Olula, também abriu um ateliê e showroom no centro de Madri. E ainda
O QUE ERA DIVERSÃO SE CONVERTEU EM UMA PEQUENA EMPRESA
Alberto Lorente, diretor geral da Dawanda Espanha: dez funcionários para gerenciar 2.500 lojas online
Tanto Olula quanto PepitoandCo conseguiram chegar muito mais longe graças a portais como Etsy e Dawanda
68 69
que tenha sua loja online apostou em abrir seu espaço no portal Dawanda. “Em nosso caso, além de proporcionar uma loja online, a equipe de Dawanda nos ajudou muito a tornar a nossa marca conhecida por meio da mídia e de diferentes eventos”. Tanto Olula quanto PepitoandCo conseguiram chegar muito mais longe graças a portais como Etsy e Dawanda. Mas quem está por trás deste tipo de negócio? Antes do Facebook, antes inclusive do My Space dos alemães, Claudia Helming e Michael Pütz lançaram Pasado, uma das primeiras redes sociais dedicadas, como o nome indica, a encontrar parceiros e amigos do passado. Venderam a empresa dois anos depois para seguir trabalhando juntos em outros projetos. Em 2006, ao tentar encontrar produtos originais, se deram conta de que não existia na Internet um market place onde pudessem encontrar artigos feitos à mão. Assim, enquanto Claudia se dedicava a vender uma idéia que nem mesmo a sua família acreditava, Michael se encarregou de desenhar a parte técnica da web.
No princípio foram os pequenos investidores e os próprios vendedores da comunidade quem os animaram a continuar. Seis anos depois, a página de Dawanda registra 13 milhões de visitas diárias, 2,5 milhões de usuários e três milhões de produtos. A maioria na Alemanha, mas também na Suíça, Áustria, Polônia, França, Inglaterra, Itália e, há um ano, na Espanha. Alberto Lorente, diretor geral da Dawanda Espanha e um forte defensor de tudo o que tenha a ver com estimular designers e artistas, explica a escolha: “A cultura criativa e artesanal é muito grande na Espanha. Além disso, existe a necessidade de buscar trabalhos autônomos. As pessoas estão buscando outras atividades. Por um lado a economia não está indo bem e por outro estamos em um processo de mudanças. Na Espanha somente 6% vende seus produtos online, o que resulta em um mercado potencial muito grande. E o mais importante, apesar da crise, o e-commerce segue crescendo, perto de 25% nos últimos seis anos”, afirma Lorente. A razão principal para que em 2012 este tipo de comércio tenha crescido mais de 20% tem a ver com comodidade – poder comparar e escolher em casa, preço e originalidade. Dawanda conta na Espanha com dez funcionários para gerenciar uma comunidade de mais de 2.500 lojas ativas e abrir espaço em
um mercado praticamente virgem. “Somos como um agente: buscamos uma oportunidade na mídia para que as marcas se destaquem e fazemos eventos específicos para que seus produtos se destaquem, ou as posicionamos diretamente na nossa web. Eles se dedicam a fabricar e nós os ajudamos a vender”. No momento, a equipe atua na Espanha e, no próximo ano, também no Chile e no Brasil. No site da Dawanda são comercializados exclusivamente produtos como joias, acessórios, roupas, artigos para casa, além de todo tipo de matéria-prima para confeccioná-los. Talvez uma das maiores vantagens oferecidas pelo portal é que ele permite aos próprios designers encontrar a matéria-prima de que necessitam que, de outra maneira, seria muito difícil conseguir. “Não há um lugar na Espanha, ou na Europa, onde se possa encontrar tanta gente junta disposta a comprar materiais para confeccionar qualquer tipo de acessório, joias, roupas, etc. Os fornecedores sabem disso e então montam suas próprias lojas em Dawanda. A única exceção aos produtos feitos à mão é a matéria-prima para estes produtos”. É uma comunidade que se autoalimenta. Cristina e Celia vendem seus produtos nela, mas também podem conseguir as matérias-primas, naturais e ecológicas para criar. Olula e PepitoandCo fazem parte das 200 mil lojas do portal e suas almofadas, carteiras, colares e seus suéteres fazem parte dos mais de 100 mil produtos diferentes que se podem encontrar no portal espanhol.
Acima, colar e porta-níquel Olula se Casa, marca criada pela espanhola Cristina (abaixo), sucesso de venda pela internet; na página ao lado, gravatas-borboleta para cães da também espanhola PepitoandCo, outro caso de êxito de vendas nos portais
SAIBA MAIS
etsy.com es.dawanda.com olula.net pepitoandco.com
Quase Chef
Entre pães
70 71
Foi durante uma das intermináveis rodadas de bridge, no século 18, que o aristocrata inglês John Montagu teve a brilhante ideia de pedir aos serviçais que colocassem uma porção de rosbife entre duas fatias de pão. Jogo longo, o conde de Sandwich inventou uma maneira bem rápida de fazer a famosa “boquinha”, sem sujar as mãos ou abandonar a mesa. Mais de dois séculos e meio depois, é inadmissível imaginar um ser humano na face da Terra que nunca tenha provado um sanduíche. Tem gente que vive de sanduba. E tem gente que inventa o seu. Por exemplo, os “quase chefs” que The Book convenceu de revelarem as suas receitas. A enfermeira e legítima gaúcha, Adriane Deutsch Las Casas, apresenta seu sanduíche de churrasco. O empresário e gourmet Rodrigo Ramos, o Reizão, preparou o sanduíche do Rei, não apenas uma alusão ao apelido, mas porque a ‘engenharia’ do mesmo é coisa de realeza. O jornalista Handerson Pancieri ensina a fazer o sanduba gratinado com variantes que permitiriam a Montagu jogar um mês de carteado sem repetir o recheio. E a pedagoga Silvia Melo Borges Crosara trouxe a rusticidade e o sabor nordestino com seu Virgulino Ferreira, sanduíche que deixaria qualquer Maria Bonita de joelhos, sem se preocupar com as calorias.
Fotografia Edgard Soares
# por Rodrigo Ramos, o Reizão
Sanduíche do Rei • 1 pão ciabatta • 1 fatia generosa de salmão fresco • fatia generosa de queijo gruyère • gergelim negro • folhas de agrião baby • dill fresco • sal e pimenta do reino branca Molho Redução de meio vidro de aceto balsâmico com cinco colheres de açúcar mascavo. MONTAGEM DO SANDUÍCHE Tempere o salmão com sal e pimenta moídos na hora. Pressione-o no gergelim negro para fazer uma crosta e coloque-o para grelhar por, aproximadamente, 15 minutos, virando-o a cada três minutos. Ponha a fatia de queijo gruyère sobre do salmão para aquecer. Abra o pão ao meio e aqueça-o na chapa ou no forno. Prepare, dentro dele, uma cama de agrião baby. Deposite o salmão grelhado com a crosta de gergelim e o queijo e sobre ele coloque as folhas de dill. Regue com o molho. A cerveja para acompanhar precisa ter presença. As belgas vermelhas são perfeitas.
Sanduíche Gaúcho • 2 pães ciabatta (pode ser substituído por francês, de nozes, amanteigado) • 200 gramas de coração de galinha assado (pode substituir por churrasco de alcatra picadinho) • cheiro verde • salada de alface e tomate (opcional). • maionese caseira Maionese • 2 ovos • 1 xícara de óleo • sal • gotas de vinagre • cheiro verde a gosto • gotas de limão
# por Adriene Deutsch Las Casas
Modo de fazer Bata no liquidificador em velocidade baixa os dois ovos por cerca de três minutos. Ainda batendo, acrescente óleo de soja aos poucos. Coloque sal a gosto, cheiro verde e gotas de limão. MONTAGEM DO SANDUÍCHE Abra o pão e coloque uma generosa camada de maionese, os corações (ou a carne assada), acrescente um pouco mais de maionese e finalize com cheiro verde em abundância. Se preferir, pode acrescentar salada, como alface e tomate. Os gaúchos comem o sanduba acompanhado de vinho ou cerveja.
Sanduíche Virgulino Ferreira • Pão francês ou semi-italiano • purê temperado a gosto feito com 100g de batatas cozidas, 100g de cenouras cozidas e 100g de abóbora cozida • 200g de carne de sol ou charque desalgado e desfiado • 1 cebola em pétalas passada no azeite quente • fatias de queijo minas ou queijo coalho
# por Silvia Melo Borges Crosara
MONTAGEM DO SANDUÍCHE Coloque uma camada generosa do purê de batata, cenoura e abóbora no pão aberto, uma camada de carne desfiada, uma camada de cebolas e, por último, as fatias de queijo e molho.
Sanduíche Gratinado • Pão de forma sem casca • molho branco pronto (pode ser substituído por creme de leite temperado) • presunto, peito de peru e muçarela fatiados • requeijão cremoso • ½ cebola roxa • 10 folhas de rúcula • tomates e cebola cortados em rodelas.
# por Handerson Pancieri
MONTAGEM DO SANDUÍCHE Numa refratária, coloque o molho branco. Cubra o fundo com o pão sem casca e siga com as seguintes camadas: requeijão, presunto, muçarela, molho branco, cebola, tomate, requeijão, pão, molho branco, peito de peru, muçarela, molho branco, pão, molho branco e muçarela. Leve ao forno pré-aquecido por aproximadamente 20 minutos até dourar a muçarela. Sirva acompanhado de batata palha.
Crônica
HÁ FASES PARA TUDO
Já dormi na casa de todas as minhas BFFs, fiz confidências sobre paixões avassaladoras, troquei roupa com elas, fui madrinha de casamento de muitas, as visitei quando os filhos nasceram, as defendi em separações e divórcios e, agora, perto dos sessenta, quando é tempo de exercer toda a nossa sabedoria, de contar sobre as gracinhas dos netos, de viver intensamente, mas com outro paradigma e sob outra perspectiva, me surpreendo, às vezes, levando tempo para reconhecer uma ‘old friend’ embaixo de enormes bochechas, bocas à la bico de pato, seios apontando para a lua e derriéres avantajados. Envelhecer. Saber que está envelhecendo. Deixar saberem que você está envelhecendo, como se fosse possível não mostrar. Mãos não mentem jamais. Já passei por esta reflexão. Exatamente quando meu neto mais velho nasceu e – tudo junto, acredite! – me propuseram a reposição, já que os meus hormônios naturais haviam gentilmente cedido espaço para a tal menopausa. Para que? Dentre outras coisas que me disseram, para estar sexualmente mais disponível, digamos assim. “Para que?”, pensei eu. Quero não. Bom é ser quem de fato se é e se tem autoridade para ser. E que não é ser, necessariamente, obrigatoriamente, dois quilos mais magra, dez anos mais jovem ou sexualmente ativa como aos vinte. Não é isto o que estão dizendo que você deve ser? E que, fora isto, a única outra opção é estar indo (adoro ‘estar indo’) para Caldas Novas de ônibus, fazer exercício na piscina e dançar forró, tudo para parecer que esta é mesmo a melhor idade? Definitivamente, não. Aos cinquenta e nove vivo plenamente o século XXI: trabalho como nunca, compreendo tudo e todos muito melhor que antes, vivo rodeada de amigos, leio bons livros, tomo uma cerveja de quando em quando (não gosto de vinho e jamais vou ter sensibilidade suficiente para apreciar ‘uma nota distante de carvalho americano’), ouço boas músicas… e até volto à infância – mas com
Paulo Santos
por Maria Thereza Alencastro Veiga
talão de cheques, cartão de crédito e sem ninguém para mandar em mim. Acho uma delícia jogar minecraft online com os netos (a versão survival é a melhor), fazer guerra de travesseiros e passar a semana em resorts com eles. Para mim, de fato, o que serve é exatamente o que estou vivendo agora. Não quero ser nem mais magra, nem mais jovem, nem estar em plena atividade sexual, nem ter bochechas, boca e seios que não sejam exatamente a minha bochecha, a minha boca e os meus seios. De fato, o que quero é bem simples: que minha mão combine com meu pescoço e que meu pescoço combine com a minha conversa. Que inclui netos, já que tenho, sim, idade para tê-los. Não condeno quem está gastando suas energias na busca inútil da eterna juventude. Mas me pergunto: para que? Alguém ousaria contestar a autoridade de Fernanda Montenegro? Já a da Donatella Versace... Manter-se bem na idade que se tem, ótimo. Uma consertadinha aqui e ali é bem-vinda. O problema é querer ter uma idade que já foi. Passou. * Maria Thereza Alencastro Veiga é advogada e nas horas vagas faz programas divertidos com os netos
INSTABOOK Ednara Braga armou coquetel exclusivíssimo na Saccaro para o lançamento da mesa de jantar Mangue, uma edição exclusiva produzida pelo designer Roque Frizzo. Deram rasante a primeira-dama Valéria Perillo, o presidente da marca, João Saccaro, e Roque Frizzo.
Eliane de Castro
O mangue como inspiração
01
04
02 05
03
05
01
02
03
05
06
04
*Alez Malheiros
Patrícia Sepúlveda recebeu convidados vips para a noite de abertura da Mostra Época 2013. A primeira-dama do Estado, Valéria Perillo, percorreu os 22 ambientes elaborados por arquitetos, designers de interiores e paisagistas.
Silvio Simões
Primeira-dama visita mostra
07
1 - Guta Caldas, João Saccaro e Kleber Pio 2 - Ednara Braga e Valéria Perillo 3 - João Saccaro e Roque Frizzo 4 - Anna Paula de Melo, Meire Santos e Pedro Ernesto Gualberto 5 - Ednara Braga e Adevania Silveira. 1 - Valéria Perillo, Patrícia Sepúlveda e Ednara Braga 2 - Patrícia Sepúlveda, Valéria Perillo, Márcia Albiéri e Fátima Mesquita 3 - William Hanna e Edna Martins 4 - Rimene Amaral, Lucíola Correa e Adevania Silveira 5 - Doriselma Mariotto, Alexandre Milhomem e Márcia Simonsen 6 - Fabíola Naoum e Wilker Godói 7- Simone Sebba, Patricia Sepúlveda e Claudimar Pereira.
A festa de inauguração da Kartell, em agosto, comandada por Maria Abadia Haich e Daniela Haick Mallard, parecia não querer acabar. Buffet farto, boa música e animação predominaram no evento que foi destaque em newsletter internacional.
Fotografia: Marcus Camargo
Festa animada abre nova flagship
04
01
02
03
05
06
07
01
02
03
05
06
07
A casa do publicitário Marco Siqueira foi palco de animada festa para festejar o aniversário de Camila Cunha, prima de sua mulher, Cristina Cunha. Os convidados não deram pausa ao DJ Cristiano Caramaschi que animou a pista de dança.
04
Eliane de Castro
Camila Cunha celebra 40 anos
1 - Maria Abadia Haich, Daneila Haick Mallard e Denner Júnior com a representante da Kartell no Brasil, Maria Elisa Figueiredo Nunes, Leo Romano e Pedro Paulo Luna Rego 2 - Maria Abadia Haich com Izabel Jácomo 3 - Jean Bergerot 4 - Simone Lourenço e Fernando Parrode 5 - Lara Valente, Thais Pureza e Ana Augusta Fleury 6 - Fernanda Toledo e Tina Carneiro 7 - Maria Abadia Haich e Marisete Naves. 1 - O casal Hugo Lousa e Camila Cunha 2 - Saida Cunha e Priscilla Cunha 3 - Camila Cunha e Cristina Cunha; 4 - Ludmila Jardim, Camila Cunha e Iardena Helou 5 - André Lousa, Hugo Lousa e Maria Domitilia 6 - Flávia Donádio Jardim, Elke Meirelles e Marco Siqueira 7- Ariane e Geraldo Queiroz
17
O trio de amigas Patricia Diniz Vilela, Lucineli e Gabriela Saback recebeu, na casa da primeira, nos Jardins Paris, um time de happy few para comemorar juntas o aniversário. O animado petit comité foi recebido com delicioso jantar by Piquiras e drinks de todas as cores.
Rosana Natália
Festa para três
01
03
02
04
05
06
07
Os empresários Angelina Carvalho, Ricardo Teixeira e José Humberto Carvalho inauguraram a nova sede de sua imobiliária no Setor Marista e estão conciliando a agenda de negócios com a recepção de amigos e parceiros ao espaço de quase 900 metros quadrados. O espaço é a quarta unidade de atendimento do grupo URBS.
Valéria Fleury
Boas-vindas ao sucesso
01
A Opus Inteligência Construtiva abriu as portas do seu decorado Casa Opus Vaca Brava para empresários e colaboradores da Rede Permanente Pela Paz para comemorar o fechamento das ações em prol da paz e da não violência. Ângela de Castro, presidente da entidade, anfitrionou os convidados.
Pelikano
Noite da paz
01
02
03
1 - Patricia Diniz Vilela, Lucineli de Paula e Gabriela Saback 2 - Patricia Diniz Vilela e Eriberto Clemente 3 - João Unes e Fernanda Toledo 4 - Cleber Vaccari e Lussandra Sardinha Vaccari com Lucineli e Adriano de Paula 5 - Ana Carolina Munhoz, Gabriela Saback, Ana Paula Munhoz e Diogo Fleury 6 - Os irmãos Eriberto, Diogo e Gustavo Clemente 7 - Gabriela Saback e Cristiano Costa. 1 - Angelina Carvalho, Ricardo Teixeira e José Humberto Carvalho. 1 - Professora Sônia França, coordenadora da Rede Permanente pela Paz e a presidente da Oscip, Ângela Castro 2 - Curadora da Galeria Época, Tânia Lopes, e artista plástico Luiz Olinto 3 - Patrícia Cunha ao lado de Sônia Cunha, contemplada com a obra do artista plástico Luiz Olinto, sorteada aos convidados.