Nua E Crua
#2
Eis a segunda edição do fanzine Nua e Crua. Continua com aquela mesma vibe, poemas intimistas e reflexivos. Reuni aqui meus poemas mais antigos e alguns mais recentes, mas tudo é inédito, tendo em vista que nunca tinha os publicado antes.
Está aí! A poesia se despiu para contigo se deitar.
Textos: Thiago Jonas
Negra Maria Negra Maria Mãe de Jesus Pobre esquecida Morreu numa cruz Crucificada À DIREITA de luz Vida usurpada Alegria de uns Negra Maria Que nunca sorriu Pobre, sozinha Nasceu no bRASIL Negra de onde A terra a odiou Sabe que a fonte Do bem, é o amor Negra Maria O que vais fazer? Corre pra longe Não podes morrer Na mão DIREITA Covarde, o ser Se te pegar Não te deixa viver Negra Maria Mãe de Jesus Pobre Esquecida Morreu numa cruz Crucificada À DIREITA de luz Vida usurpada Alegria de uns
Tão punk quanto eu queria ser Como os pulsares da batera do Ramones O som elétrico, frenético, um escarro Bem na cara da sociedade fajuta Que finge todos os dias A sanidade qual não tem Tão punk quanto eu queria ser Vestido de jaqueta de couro preta Calça rasgada Um Chuck Taylor surrado Com o qual chutaria o lixo Que todos os homens são Tão punk quanto eu queria ser Em frente ao palco De punhos cerrados Gritaria “Gaba - Gaba, hey!” Como pela primeira e última vez E cairia extasiado Tão punk quanto eu queria ser Mas nunca fui, Pois sou covarde E já é tarde O show já acabou
Como um morto-vivo Sigo eu, ferido Pela falta tua, Do teu amor fingido Por tão pouco tempo, Oh, moça dos meus sonhos, Tu me amaste E por muito tempo, Oh, moça dos meus pesadelos Tu me maltrataste Feriste tão fácil o meu peito Minha carne arde Tão tola, minh’alma chora Empobrece minha face Cuja alegria disfarçada se desfaz Quando me encontro só, sou capaz De sofrer, de chorar Por você, moça amada Que tão logo me esqueceu Sou como um amigo que morreu, Ou pior... Sou eu aquilo que nunca te pertenceu
Falsa Moral Meu filho não beija homem Bem cedo come as meninas Brincando de esconde-esconde Machão, como eu queria Sou homem E meu filho será Se não for Eu mesmo mato Mato de espírito De corpo e alma Será mesmo Um homem nato E maior desonra não quero Minha filha beijando menina?! Em frente a um cemitério?! Só podia ser bruxaria! Ser gay é pura desonra Pra minha sacra família Mas em casa estupro e mato A inocência de minha filha Ligo a TV e vejo Dois homens se amassando? O mundo está mesmo perdido! O mundo está se acabando!
Se escandalizais? Por que se escandalizais? Com o beijo gay na TV Depois da hora dos jornais? Se escandalizais? Por que se escandalizais? Dizes que isso é um mal Que é obra de Satanás Desejas um mal maior Em prol da sacra família Matando por causa pior A alma de tua filha Teu filho já está morto Aos berros do teu discurso Morreu de tanto desgosto Da vida como um inútil E você está aí Defensor da família fútil O sacro que não é sagrado O saco do teu discurso
Cansei da falsa moral Cansei desse povo vil Cansei da falsa moral Da pátria que me pariu
O poeta vagava pelas covas do seu coração Dos amores que ele havia matado Caminhando pela solidão De não mais ser do amor um escravo Viu-se liberto, mesmo assim infeliz Olhando nos olhos viu o amor que morreu Trouxe nas costas a dor que não quis, Trouxe no peito o que o entristeceu O peito em colapso A dor no seu seio Perdeu-se no espaço Vazio, por inteiro. O que dizer então, oh, pobre poeta? O que carregas no peito é puro rancor Sangrando em tormenta a alma inquieta Vertido na dor, morreu por amor
Como é sábio o poeta! Ele foge, E busca a liberdade. E sua liberdade Está em simplesmente sentir. Sentir com intensidade Tudo o que o rodeia. Ele anseia, Tem medo, Deseja os beijos sinceros da vida, Segue a rotina, Do levantar ao deitar, Se deixa levar, Amar, E a vida somente viver. Se satisfaz com o pouco, O muito divide, E espera sentado O que inspira o seu ser.
Do que tanto dizias temer Tu mesma, fez acontecer. Dizias temer me magoar Me magoou profundamente Dizias ter medo de me perder Me perdeu t達o facilmente Sem nem ao menos sentir dor.
Soldado Nada O Soldado Nada Que de nada vale para o Estado Seu lado humano deve ser apagado Antes mesmo de ser fuzilado O Soldado Nada Que nada mais é que manobra do sistema Salário pago em medalhas e honras Que da sua vida todo sangue drena Este é o honrado Soldado Nada Que não é nada, nem nada seria O único tudo que tem é o pesadelo Do campo minado, de todos os dias Triste é o Soldado Nada A vida ou a morte não significaria Só mesmo o dinheiro dos cofres do Estado Levantando a moral da economia
Poesia Caótica Minha poesia caótica De versos selvagens Urbanos Narra os dias de respiração robótica Da selva de pedra E Homens insanos Muros riscados com gritos de glória Da classe mais baixa A tal classe D Berros sonoros De homens e máquinas E uma frase emblemática Antes de morrer Velhos Jovens Homens Bichos
atravessam a rua que não cedem o lugar que comem com bichos que moram no 12º andar
Numa esquina, drogados Mais em frente, pobres prostitutas Virando à direita, meninos de rua Que cheiram cola, com as costas nuas Jornais rolam pelo chão sujo Junto com os dejetos de todo o caos Um pouco de esmola não resolve tudo No mundo imundo é tudo fatal Camisinhas fora dos cestos de lixo No lixo apenas crianças abortadas Catadores que empurram suas carroças Lamentando ter tido sua chance negada A poesia caótica Não deveria chegar ao fim Sem antes trazer Uma tal solução Mas na cidade do caos O que é bom, ou ruim? O triste é que o mal Não é só ilusão
Thiago Jonas Se julga poeta, principalmente em dias de crise. Gosta de escrever versos para quase tudo, pois quase tudo lhe inspira. 21 anos, potiguar, é aluno do curso de Ciências Sociais da UFRN. Também gosta de desenhar, apesar de não fazer isso muito bem.
NUA E CRUA Nº 2 MAR/2016 EDIÇÃO E MONTAGEM: Thiago Jonas
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