Venceremos 4

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Abril de 2017

#4


EDITORIAL Venceremos! É com este grito que quero começar esta edição que você tem em mãos. Não lembro de ter explicado o porquê de esse ser o título desse zine, mas vamos lá. “Zine Venceremos!” é uma menção honrosa a uma música da banda de hardcore melódico, lá de Vitória-ES, Dead Fish, e a razão disso tudo é pelo seu próprio nome e conteúdo. Lutemos sempre com a ideia de que vamos vencer. Bom, é isso! Leiam, curtam e repassem – ou guardem com carinho – esta quarta edição! Zine VENCEREMOS #4 Abril/2017 Na capa: Minha amiga querida do meu coração, Ione Gonçalves, ou simplesmente, “Ioiô”. Edição, capa, diagramação e outras coisas: tudo feito por mim, eu mesmo, Thiago Jonas. CONTATO neuralzine@gmail.com SIGA O TUMBLR: Underart1.tumblr.com NUNCA JOGUE UM ZINE NO LIXO, SEMPRE PASSE ADIANTE.

“Veja, eles ainda Acreditam Em se unir, Lutar, ganhar poder” Venceremos – DEAD FISH


(Arte: Ione Gonçalves)

Ione Gonçalves é uma artista piauiense de 21 anos que cursa Artes Visuais na UFPI. Apaixonada por Star Wars, faz disso uma de suas inspirações. Ultimamente tem estado muito atarefada com o curso, mas nunca perde a alegria em inventar de fazer um monte de coisa ao mesmo tempo – algo que admiro muito. Dá pra conferir um pouco mais do seu trabalho em seu Instagram. Siga lá e saque! IG: @ionegs


Bea(quase por um)triz Morena, que de longe olho De perto tenho o abraço Apertado, como tanto queria Nela sempre estar Morena, que de longe olho Nos lábios que me desfaço Desejo o que não posso ter A boca que não vou beijar Morena És confusão de corpo e alma Mas tu'alma não é pequena Intensidade que me acalma Como noite fria e serena Sinto teu cheiro quando me afaga Que cola em mim, não quer me deixar Parto sozinho, rumando pra casa E com teu cheiro vou me deitar Já que teu corpo comigo não tenho De ti carrego só a lembrança Sentir teu seio de fronte a meu peito E morrer sozinho de desesperança Thiago Jonas


Febre e Conceitos Inúteis A felicidade não é algo tátil e facilmente reconhecível, afirmo sem provas. Eu mesmo não saberia dizer agora se estou feliz ou triste, se sinto dor ou alívio, se as lágrimas que tenho são de euforia ou disforia, até mesmo se estou vivo ou morto. É provável que tudo isso, a felicidade, tristeza, o bem e mal, sejam apenas títulos das formas que precisamos ser vistos. Hoje é um dia quente e as pessoas estão sorrindo rua afora, enquanto eu, o pobre eu ao afirmar isso consigo esboçar um sorriso, estando envolto em lençóis tentando discernir conceitos inúteis. Minha garganta dói, tenho febre de 38,5 e minha mãe acredita ser meus últimos momentos em vida. Desconfio que sofro de excesso de drama hereditário, o que de certa forma me é bastante útil para escrever e abandonar a praticidade. Sim, é necessário deixar de ser prático, é necessário ser confuso ao ponto de não reconhecer os padrões criados e não aprender a ser humano pela cartilha original. Pode parecer complicado e muito profundo ser eu, ser o louco descompassado que cheira o próprio pé enquanto dorme, o que faz todo sentido ou talvez nenhum. O cerne da existência está circunscrito por aqui, em nada que escrevi. Porque ser desumano é complicado, leva tempo e tem muitas vias, mas se criar humano e louco é fácil e tem segredos, logo todos o sabem. Andar descalço até a praça matriz faz bem para vida, seja lá o que sua vida for, não que vá resolver muitas coisas, mas nada mais se resolve. As pessoas estranhas me olham como se me faltasse um membro, me pergunto se meu pé é profano ou puro demais para tocar o asfalto e o barro, se meu corpo é pesado demais para a cama de folhas secas do outono. São tantas coisas que acontecem em uma única rotação, toda sorte de loucuras, drogas e amores. Sei como alguém possa conceber a morte e a ciência alucinante e perfeitamente descrita nos dias fabris desde que a felicidade se tornou algo não tátil e facilmente reconhecível, mas não é compreensível. Eu mesmo não saberia dizer agora se estou feliz ou triste e assim será ainda amanhã. Gostaria de dizer em último lugar que não faço ideia do que nada disso significa. A destruição criativa de nos ainda não foi muito longe, ao ponto que minhas alucinações agora a 40 graus são mais convincentes que os artigos que escrevi “são” sem mencionar o cheiro de meus pés. 01 de Abril de 2017

Caio Fernandes


DESPERTENCER Eu estava nervoso. Eu não sentia nenhum dos toques e meus pés pareciam não tocar o chão. Estava suspenso. Eu não vivia. Todos os sonhos, todas as vontades, as esperanças, tudo ruía na minha frente. De fronte a um beijo que me confrontava – maldita imagem! Maldito seja aquele dia para sempre! O dia em que eu morri. Desde então, sou uma constante antecipação da morte. Antecipação vazia e tão cheia de tudo. Sou um poço eterno de melancolia e a ocasião banal, mundana, me aniquilou. Eu não estou preparado para viver e daqui a três breves dias quero estar preparado para morrer de vez. Preciso ter o fim concretizado. Preciso não ter mais que lutar contra minha própria mente, contra esse sentimento desgraçado de não pertencer a lugar nenhum. Enquanto isso, vago nesse desconforto eterno de despertencimento. Esse mundo não é para mim. - Rafael, 13/12/1997 “Três dias após sua suposta carta de despedida, Rafael pôs seu plano em ação e acabou com a própria vida. Seu corpo foi encontrado por seus vizinhos que estranharam o silêncio total em seu apartamento, e sua ausência pelos corredores. O corpo estava suspenso, assim como a sensação que ele relatara ter. Seus pés não tocavam o chão. Um banco caído e cordas presas a seu pescoço. Era 16 de Dezembro de 1997.” Diário Atual, 1997 (Thiago Jonas)



Esse sou eu por mim mesmo.


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