Venceremos Nº 1

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VENCEREMOS! Pare de ver Merda na TV!!


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EDITORIAL

Meu tênis fecha com zíper

Este zine é uma mistura frenética de ideias. O lance surgiu de novo da imensa vontade de produzir algo. Esse lance que bateu assim, de repente, veio num surto e não deu tempo pra planejamento – só chegou assim, cheio de vontade. Resultado: isso que você tem em mãos. Transitando entre política, melancolia, paixões, raivas, loucuras, ou coisas meramente sem pretensão alguma, assim ele se formou. Entrego a você o compilado expressivo de diversos autores que simplesmente sentiram vontade de escrever, desenhar, de expressar como deu, aquilo que veio à mente.

Sempre achei que dias de sol garantiam felicidade, que o café da manhã diário, a benção dos pais e os cadarços bem amarrados eram o suficiente pra me livrar de todo mal e sentimentos ruins que pudessem afligir-me. Eu via o mundo perfeito todas às tardes ao subir no muro do fundo do quintal e ver o sol se pôr no horizonte do Vale. Apesar de ciente do mal do homem, eu insistia para mim mesmo que não me tornaria humano e com o passar dos dias eu seria só eu, somente eu, o pôr do sol, as bênçãos e os cadarços amarrados. Hoje falho desgraçadamente todos os dias em ser eu, somente eu. O tempo passou e não faz diferença o sol ou a tempestade, não há garantia de felicidade, nem de bons sentimentos. Já prefiro dormir mais a acordar cedo para tomar café da manhã sozinho. Não tenho mais a benção diária dos pais, pois já não os vejo todos os dias. Não tenho tempo para cadarços, meu tênis fecha com zíper. Sempre achei que dias de sol garantiam felicidade, estava enganado. Caio Fernandes

Agradeço a todos que participaram desse rolé. Com vocês... Vencermos! número 1! Thiago Jonas

“Tropas de choque, PM's armados Mantêm o povo no seu lugar Mas logo é preso, ideologia marcada Se alguém quiser se rebelar Oposição reprimida, radicais calados Toda angústia do povo é silenciada Tudo pra manter a boa imagem do Estado!” - PLEBE RUDE

- Ione Gonçalves

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TEMER NÃO PODE TER PAZ! O que eu estou por dizer provavelmente já foi dito, mas não me canso de bater na mesma tecla: o Temer não pode ter paz. Não é com um discurso com o intuito de desestabilizar o país (estamos estabilizados desde quando?), mas eu não posso comprar essa ideia de que o momento agora é de paciência. Eu não posso ficar quieto vendo tudo isso acontecer – as atitudes arbitrárias em série tomadas pelo governo [de merda] golpista. Já está claro qual é o jogo deles. É o lance de governar pra rico e o pobre que se foda – na linguagem mais clara possível, porque não escrevo aqui pra uma banca de doutorado - Nem que pra isso eles tenham que instigar a população a se voltar contra ela mesma. Esse é o momento mais que oportuno para unirmos força. Se o governo [de merda] investe na desorganização, desarticulação, da força revolucionária (classe trabalhadora), em contrapartida temos que fazer o inverso. Temos que nos unir para que possamos alcançar os nossos objetivos. Esta é a hora. Esqueçamos todas as nossas diferenças e olhemos somente para o nosso inimigo em comum (este clamor é pela união da esquerda que há tempos não existe). Precisamos ser uma só voz! Agora, o que temos é a prova de que a luta não será breve. Para alcançar nossos objetivos ainda temos muito a trilhar. As fortes investidas da direita não podem nos deixar com as pernas bambas ou atordoados. Temos que estar ligados, sempre atentos para defender os nossos direitos conquistados. Não vamos ceder! Não vamos retroceder! Este país não é de quem o governa! O Temer não pode ter paz! Thiago Jonas


DOCUMENTOS Juca nasceu, foi registrado, catalogado, numerado… Já era considerado alguém perante… Perante a quem? Juca cresceu, continuou acumulando números, papéis, registros e protocolos Ganhou até crachá Um dia Juca morreu Continuaram na busca por certificados, números, registros e oficializações Tudo para Juca ser alguém mesmo depois de morto Nunca poderia deixar de ser alguém Indigente nunca Fez tudo como dizia o manual O mais triste é que Juca se foi sem ao menos saber quem era —————————————————–XX—————————————————– Pegou fila no posto de saúde, conseguiu número e pegou a fila para marcar a consulta. Chegou de madrugada e já era quase de tarde. - Identidade. Deu o documento na mão do rapaz do balcão. - Comprovante de residência. - Como assim? - Alguma conta em seu nome. Luz, telefone, água… - Não tenho. - Como não? Todo mundo recebe pelo menos conta de luz ou água. - Moro em um terreno com várias casinhas e pago essas contas junto com o aluguel. - Mas deve ter uma conta. Ou vocês não têm luz e água lá? - Vem pro dono das casas. Posso pedir para ver se ele me empresta, mas não sei se vai querer. Ele é muito grosseiro. - Tem de ser em seu nome. - Isso vai ser difícil. Com certeza tá com o nome dele. - Ele pode fazer uma declaração em cartório dizendo que você mora lá no terreno de onde vem a conta. - Não sei se ele vai querer. É complicado. E isso de cartório é pago? - Telefone não tem? - Não senhor. - Conta em banco. Documento bancário serve. - Não tenho. - E como recebe salário? - Trabalho fazendo uma coisinha aqui e outra ali. O dinheiro pinga na mão. - Sem comprovante de residência não dá. - Mas tô precisando ir ao médico.


- Vai no pronto socorro então. - Já fui. Disseram que meu caso não era emergência e que tinha de procurar o posto. - Infelizmente não posso ajudar. Dá licença que a fila tá grande atrás do senhor. - Mas… - Próximo. —————————————————–XX—————————————————– - Pra parede. Parado. - Calma aí… Que isso?… - Tá limpo. Vira. O que tem nesse saco? - Latinha que tô catando para… Pera aí… Tá jogando tudo no chão… - Documento. - Não tenho. - Como não? - Fui roubado outro dia enquanto dormia na rua. Levaram minhas coisas. - Quem rouba mendigo? - Não vi quem foi. Quando acordei, sumiu tudo. Não tinha nada lá. - Tá me fazendo de idiota, vagabundo? - Ai… Que isso… Para de me bater… Do outro lado da rua uma senhora passava com uma menina pela mão. - Coitado do moço, vovó. Porque a polícia tá batendo nele? - Esses vagabundos são assim, minha filha. Se não fizer desse jeito, eles não respeitam. Alguma coisa ele deve ter feito. Não deve ser à toa.

- Fábio Silva Barbosa

“O problema é que tudo que as pessoas têm como parâmetro é a mídia de massa, né cara? Ninguém estudou nessa porra desse país. Todo mundo quer levar a sério uma porra de uma televisão ou de uma mídia de massa... foda-se!” - rodrigo lima (dead fish) Trecho retirado de “Do Underground ao Emo”, doc. do Canal Bis.

Contribuição de Marlus Vinícios


FANTASMAS

Suas mãos apertavam o volante com força, fazendo com que os nós dos dedos ficassem brancos. Chegava a doer, mas não importava. Não naquele momento. Tudo o que importava era seguir em frente, em alta velocidade de preferência. Os olhos velozes, mas cansados, subiam para o retrovisor a cada 10 segundos, temendo que eles estivessem à sua cola, mas não estavam. Tinha quase certeza que logo eles viriam, e assim sua paranoia se mostrasse real, e o medo o dominasse. Quando o alcançassem, ele saberia o real significado de terror. Terror do qual passara anos fugindo, mas sabendo que talvez um dia ele chegasse. Um brilho no horizonte a sua frente o fez pular, e quase perder o controle do carro. Mas era apenas mais um viajante solitário. Outro que o fizera pensar que talvez estivesse fugindo na direção errada. O sono estava sobrepondo sua vontade de fugir. Mas não podia parar. Estava tão perto. Perto de quê, nem ele mesmo conseguia saber. Saberia quando chegasse lá. O fim sempre se mostra, mesmo que seja confuso todos sabem que é o fim quando se deparam com ele. Os olhos estavam tão cansados, tão enganosos, que seria melhor parar, mas não podia. Eles o alcançariam. E se o pegassem, tirariam tudo dele, e o lançariam para fora da estrada que há muito conhecia, não toda, mas o suficiente para pegar o caminho certo quase sempre. Então, algo o fez parar. Um entendimento mudo. Encostou o carro no acostamento e começou a rir. Riu como o louco que era. Era um riso tão alto e estranho que teria com certeza assustado, caso alguém o visse naquele momento. De súbito percebeu que ninguém viria. Não importava quantas vezes olhasse, ninguém surgiria atrás dele. Nem mesmo se esperasse, ninguém o alcançaria. Avançou com o carro, não precisava ir tão depressa, apenas seguiu seu caminho como muitas vezes antes o fizera. Naquela estrada nada podia tocá-lo, nada podia detê-lo, senão ele mesmo. Não precisava mais fugir, e agora que entendia o que de fato era, não precisaria fugir nunca mais. Ele era apenas um viajante solitário. Estavam todos mortos naquele momento. E mortos não perseguem ninguém. Estivera fugindo de fantasmas. E bem, todos sabem que fantasmas não existem. - Yves Lincoln


PORTA TRANCADA A porta está trancada Desde a última embriaguez, não tenho saído Tenho lido poucos livros E com outras mulheres não tenho estado A porta ainda está trancada Desde a última vez em que te vi O sorriso era o mesmo O discreto que saía da minha boca O tão solto que saía da tua Era mesmo visível que não sentíamos o mesmo Eu sofria E você ria Você me contou da vida fantástica que agora tinha Mas não citou o teu novo namorado Aquele carinha simpático, carismático, lindo... Tão tudo, bem mais que eu Era isso que suas amigas diziam E eu, já conformado com a inconfortável situação De te ver, assim tão de repente Apenas balançava a cabeça E abria a boca de um sorriso quadrado amarelo Como quem quer a todo custo simplesmente sumir Você finalmente vai embora Me dá um daqueles velhos abraços apertados Eu volto pra casa de mãos dadas comigo mesmo Escalo com bastante esforço aquela velha janela Que pulo Pois a porta ainda está trancada Desde a última embriaguez de amor Que bebi com você Thiago Jonas


Ela era tão linda que dava vontade de morrer. Mas logo mudei de ideia, preferi ficar observando os seus olhos nervosos. Isso nunca aconteceu antes, não sei como reagir, não consigo falar com ela; mesmo que tão próxima, ela estava distante, eu podia sentir. Meus olhos estavam acompanhando cada passo dado por ela. Meus olhos acompanhavam os dela que sempre cruzavam os meus, eu poderia ver a minha alma refletida. Não precisamos conversar, o contato visual foi mais íntimo do que qualquer conversa de 30 minutos; nenhuma palavra foi dita. Meu corpo começou a reagir estranhamente a essa situação: minhas mãos tremiam desesperadamente, dentro do peito, ao invés de um coração, batia um atabaque e minha boca sentia sede que nem água poderia saciar. Eu procurava não demostrar, porém era impossível. Quem pudesse parar e observar meus olhos saberia que eles não hesitavam em seguir cada passo por ela dado. Apesar de tudo, eu não sentia medo. Era ela, era eu. Não precisei de nada além de 30 minutos para ficar completamente apaixonada. É uma pena, mas ela nunca saberá. - B'Flor

OUÇA AÍ! É o mais recente trabalho musical da cantora baiana/pernambucana Karina Buhr. Como sempre, com uma característica multiforme na sonoridade, Karina mais uma vez se reinventa e se reencontra ao mesmo tempo. A melhor subversão feminista revolucionária da artista se encontra aqui. Destaco do álbum as músicas “Eu sou um monstro”, “Conta-gotas de lágrimas” (amo o arranjo de trompete) e a faixa título “Selvática”. Sonoridade e acima de tudo poesia. SELVÁTICA/2015

NÃO JOGUE ESTE ZINE NO LIXO, PASSE ADIANTE! VENCEREMOS! Nº1 Nov/2016 Edição, capa, diagramação e outras coisas: Thiago Jonas

ACESSE E SIGA! PUBLIQUE COM A GENTE! Envie seu material para: neuralzine@gmail.com

Underart1.tumblr.com


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