T24 - Setembro 2017

Page 1

JOSÉ MANUEL VILAS BOAS FERREIRA

T

N Ú M E RO 2 4 S ET E M B RO 2 01 7

Presidente Valérius

“NÃO VENDEMOS ROUPA. VENDEMOS SONHOS!” P 22 A 24

FOTO: RUI APOLINÁRIO

DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

EMERGENTE

MESSE FRANKFURT

DANIELA PAIS: A DESIGNER DE ROUPAS MUTANTES

O PENSAMENTO DE OLAF SCHMIDT EM 18 TÓPICOS

P 37

P 20

PERGUNTA DO MÊS

COMO SE RESOLVE A FALTA DE COSTUREIRAS?

P4E5

DOIS CAFÉS E A CONTA

O ARROJADO ALBERTINO DA SEDACOR P6

ESTRATÉGIA

PURE COTTON: O IMPORTANTE SÃO AS MARCAS P 18

80% TÉCNICO EM 2020

A MINHA EMPRESA

GRUPO FALCÃO JÁ ESTÁ NA ERA DA COMUNICAÇÃO

O TRIO DA TMR CLOTHING É O MÁXIMO

P 14

P 12


02

T

Setembro 2017

50 MUITO OBRIGADA

AOS QUE NOS AJUDAM A FAZER A FESTA

www.modtissimo.com


Setembro 2017

T

03

3

n

CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Júlio Magalhães

Por: Manuel Serrão

Júlia Soares 35 anos Espécie de faz tudo na Engraved (é comercial mas também se ocupa da produção), nasceu em Foz Côa, estudou em Famalicão e trabalha na Maia. Até agora conseguiu o milagre de se manter solteira. Está na têxtil há uma dúzia de anos. Jogar voleibol de praia, com os amigos, é o seu hobby preferido

O CAPITAL HUMANO Aqui está o verdadeiro grande capital! Quando o presidente da Valérius diz ao T que o capital humano é o grande património da nossa ITV, não está só a pôr o dedo na ferida das necessidades atuais de mão-de-obra especializada. Está sobretudo a afirmar uma grande verdade que ajuda a explicar e muito, porque falharam as previsões dos gurus americanos que há 25 anos passaram a certidão de óbito à indústria têxtil e vestuário portuguesa. Este capital humano enaltecido pelo comendador da Valérius é um capital abrangente que começa em empresários como ele (ainda agora justamente agraciado pelo município local) e chega ao mais humilde operário têxtil, passando por toda a cadeia da fileira, sem esquecer o importantíssimo contingente de técnicos que trabalham nas áreas da inovação e investigação. Nem os pontas de lança comerciais que passam a metade da sua vida a vender por esse mundo fora, o que tão bem produzimos ou valorizamos e acabamos dentro de portas. Foi este capital humano que não baixou os braços, não deixou de acreditar nas nossas potencialidades e não fechou os olhos à urgência da reconversão e renovação de processos e mentalidades que trouxe a ITV ao colo até onde ela brilha hoje. Portugal só pode aplaudir! t

Engraved? Para começar, explique-nos o nome em apenas cinco linhas … Já trabalhamos há muitos anos nesta indústria, saímos e voltamos. Isto está gravado em nós e queremos transmitir isso - daí surgiu o nome. Também queremos deixar o nosso cunho em cada cliente que entramos. Em inglês, porque o nosso objetivo sempre foi a exportação. Estar na Maia também lhe dá a sensação de estar no coração de uma grande região têxtil nacional? Ou é só porque é mais perto do aeroporto? Sim, aliás toda esta região está cheia de fábricas. Claro que há sítios onde há um maior foco, mas escolhemos este pela localização, sem dúvida. Temos excelentes acessos e como estamos focados para exportação, nada melhor que estar perto do aeroporto. Como é que se combinam as soluções que a Engraved tem, com a boa “malha” que as exportações têxteis nacionais têm conseguido? A Engraved apostou desde o início em qualidade de artigo, preços competitivos e na preocupação com o cliente (que nos olha como uma extensão da sua empresa), que se preocupa e se entrega em cada produção realizada. Só assim teremos sucesso. Não nos podemos limitar a

produzir. Temos de analisar, levar o cliente sempre pelo melhor caminho. Outra coisa que nos caracteriza é sermos verdadeiros “problem solvers” - não há impossíveis, há sempre uma solução.

T

Qual é a importância das exportações e o mercado atualmente mais relevante? A Engraved vive da exportação e hoje o mercado mais relevante é o espanhol. Temos de nos expandir para outros mercados e para isso apostamos na participação em feiras.

- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil

A participação em feiras internacionais foi só uma experiência ou é uma aposta para continuar? É uma aposta e extremamente importante. Mesmo que não se tenha logo o retorno pretendido, estamos no mercado, vemos e somos vistos!! É fundamental ter a perceção de como anda o mercado e para isso nada melhor do que as feiras, porque em dois dias conseguimos conversar com vários tipos de potenciais clientes e perceber como nos podemos posicionar. Sem dúvida vamos continuar! Se pudesse escolher, qual era o mercado mais longínquo em que gostava de ter clientes? América do Sul e Austrália, são os dois mercados mais longínquos que gostaria de trabalhar, quem sabe!! t

e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Paulo Vaz Diretor: Manuel Serrão Sede: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Juliana Duque Telefone: 927 508 927 - mail: jd.tdetextil@atp.pt Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 PROMOTOR

CO-FINANCIADO


04

n PERGUNTA DO MÊS Textos de Carolina Guimarães e Jorge Fiel Ilustração: Cristina Sampaio

COMO SE RESOLVE O DRAMA DA FALTA DE COSTUREIRAS? Chegou a hora de dar respostas. A mais engenhosa, deixada em cima da mesa por Paulo Melo, consiste em deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças produzidas pelo valor acrescentado do detalhe e trabalho especializado que incorporam. Mas não há uma única solução milagrosa, capaz de por si só resolver o drama aflitivo da escassez de costureiras. O cocktail de propostas aqui apresentado contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar salários, ampliar a oferta de formação, deslocalizar produção e por que não? - importar mão-de-obra...

“Na têxtil, a mão-deobra é fundamental. Não sobrevivemos sem costureiras. Não somos um setor robotizável” PAULO MELO PRESIDENTE DA ATP

T

Setembro 2017

“Daqui a dez anos não vamos ter gente para trabalhar. Não sei como vai ser”

“Temos ampliado a nossa oferta formativa, levando-a às instalações das empresas”

CONCEIÇÃO DIAS CEO DO GRUPO SONIX/ DIASTÊXTIL

SÓNIA PINTO DIRETORA GERAL DO MODATEX

D

aqui a dez anos não vamos ter gente para trabalhar. Não sei como vai ser”, desabafa Conceição Dias. Preocupada com a falta aflitiva de mão-de-obra especializada, a CEO do grupo Sonix/DiasTêxtil, organizou um curso interno de formação de costureiras. Começaram 23 raparigas, acabaram três. Pelo sim pelo não, até porque mulher prevenida vale por duas, têm andado a comprar pequenas confeções de que era cliente, para que passem a trabalhar a 100%. Os SOS vêm de quase todo o lado. “Se quiser hoje uma costureira a saber trabalhar não a consigo encontrar”, garante Alberto Sousa, da Shirtlife. “Basta ligar para qualquer empresa de confeções que logo confirmam que há vagas para costureiras”, refere Paulo Vaz, diretor-geral da ATP. “Nestes últimos dois anos, registou-se uma procura crescente de mão-de-obra na indústria têxtil, sobretudo de costureiras, e a resposta é insuficiente. É cada vez mais difícil encontrar pessoas para trabalhar”, concorda João Costa, vice-presidente da ATP. “Começamos a ter um problema que é o da falta de pessoas para trabalhar”, lamenta Rui Carneiro, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira, dando como exemplo uma ação de formação com 20 costureiras, em que ficaram 30 vagas por preencher. A única voz dissonante neste coro, é de José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel (Marco de Canaveses) : “Há três ou quatro anos sentia dificuldades em arranjar costureiras. Agora não. Resolvi o problema com formações internas e aliando-me a outras entidades para aliciar as pessoas a virem trabalhar para a têxtil”. O setor ainda tem um problema de imagem, que prejudica a sua capacidade de atração de mão-de-obra. “Deixamos

denegrir a nossa imagem a tal ponto que ela deixou de ser apelativa para os jovens”, lamenta Isabel Furtado. Artur Soutinho, CEO do grupo MoreTextile, assina por baixo. A ITV é muito competitiva e tecnologicamente avançada, mas não é essa a perceção que têm do setor a maioria da população, em particular os jovens, o que explica a fraca procura do curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, apesar da pressão existente do lado da oferta, já que as empresas precisam deles como de pão para a boca. Sónia Pinto, diretora-geral do Modatex, sabe que há um problema cultural subjacente a este fenómeno: “Um dos fatores que está na origem do desinteresse pelo trabalho em indústrias como a têxtil é a possibilidade de arranjarem emprego em áreas, com outro estatuto. Muita gente prefere o comércio, mesmo com horários difíceis.”. José Armindo apresenta uma visão mais otimista do assunto: “Há 10 ou 15 anos, trabalhar na têxtil era a última solução, o último escape. Hoje sinto que os meus colaboradores já têm orgulho em trabalhar numa fábrica”. A diretora-geral do Modatex reconhece que o crescimento das exportações, o aumento das encomendas e as exigências crescentes de qualidade acentuaram a dimensão do problema da falta de mão-de-obra particularmente notória em relação às costureiras. “Temos ampliado a oferta formativa, levando-a às instalações das empresas, através do programa Formar para Empregar, ou criando extensões de formação em locais onde a ITV tem maior implantação”, explica Sónia que dá pistas para a desdramatização do fenómeno do elevado número de desistências dos cursos de costureiras. “Há formandas que deixam os cursos antes de os concluírem porque no entretanto re-

ceberam propostas de trabalho financeiramente mais vantajosas”, diz Sónia Pinto chamando ainda a atenção para o facto de a maior parte destas ofertas virem de empresas têxteis: “Ou seja, nem sempre o facto de desistirem é sinónimo de que não são aproveitadas pela ITV”. Soluções? Não há uma só, milagrosa, que resolva tudo. Mas há várias, como, por exemplo, tornar mais glamoroso trabalhar na têxtil. Um exemplo? Os jeans Aly John, da Lamosa, levam na etiqueta a assinatura da costureira que os produziu mais a data em que os concluiu... Virgínia Abreu, CEO da Crispim Abreu, põe a tónica na necessidade de melhorar o ambiente de trabalho nas empresas - organizando piqueniques, jogos de futebol, atividades ao ar livre -, criando momentos de descontração para libertar o stress do dia. “O trabalho tem de ser uma coisa boa, as pessoas têm de gostar do que fazem e sentirem-se bem no seu local de trabalho. Senão entram numa rotina negativa e tudo piora, tanto a nível pessoal como profissional”, afirma Virgínia. Uma maior dignificação da profissão de costureira é uma das soluções avançadas pela CEO da Crispim Abreu: “Ainda há um estigma muito negativo à volta das confeções. É necessário valorizar as pessoas. Devia ser possível atribuir um grau a pessoas, que embora não tenham um curso superior, são artesãos e sabem fazer muito bem uma coisa. E, gradualmente, os salários têm de melhorar. No futuro, uma boa costureira deveria ganhar tanto como um professor em início de carreira”. João Costa está de acordo: “As remunerações vão ter de melhorar. De nada serve termos formações se não há pessoas interessadas em aprender ou trabalhar no setor. Há obviamente os constrangimentos dos mercados e dos preços, mas, na medida dos possíveis, é necessário aumentar os salários”.


Setembro 2017

“No futuro, uma boa costureira deveria ganhar tanto como um professor em início de carreira” VIRGÍNIA ABREU CEO DA CRISPIM ABREU

“A solução passa também por fazer com que o setor seja mais atrativo, nomeadamente ao nível salarial. Trata-se de remunerar justamente os trabalhadores e compensá-los consoante a formação e as responsabilidades que têm”, reconhece Paulo Melo. O presidente da ATP deixa em cima da mesa uma sugestão engenhosa: “Em alguns casos, vamos ter de deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças fabricadas, porque hoje em dia, em Portugal, produzimos com valor acrescentado, onde há muito detalhe e trabalho especializado envolvido, e é isso que é valorizado”. O recurso à deslocalização é uma das hipóteses elencadas por Paulo Melo: “Não podemos deixar de olhar para o passado e ver o que fizeram países, como a Itália, que foi deslocar a produção. O ideal seria albergar tudo, mas nem sempre isso é possível e o setor ressente-se, principalmente com o crescimento dos últimos anos”. “A mentalidade das costureiras também tem de mudar. Elas têm de perceber as mudanças. Mas os empresários têm de as acarinhar, porque este setor não sobrevive sem elas. Na têxtil, a mão-de-obra é fundamental. Não somos um setor robotizável”, conclui Paulo Melo. O cocktail de soluções apresentado para desatar este nó contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar os salários, ampliar a oferta de formação, deslocalizar parte da produção, reconverter jovens com formações sem procura no mercado (os alemães estão a fazer cursos de seis meses com bastante sucesso) e, por que não, importar mão-de-obra especializada? “O país está a envelhecer. A população está a diminuir. Com este inverno demográfico interno, se o país quer continuar a crescer tem de ir buscar gente a qualquer lado...”, resume Artur Soutinho, da MoreTextile. t

T

05

“As remunerações vão ter de melhorar. Na medida dos possíveis, é necessário aumentar salários” JOÃO COSTA VICE- PRESIDENTE DA ATP


T

06

Setembro 2017

A

DOIS CAFÉS & A CONTA Por: Jorge Fiel

Lago

Europarque Santa Maria da Feira

FOTO: RUI APOLINÁRIO

Entradas: Gambas crocantes e polvo à galega, com espumante Dalva (Porto Cruz) bruto Peixe: Arroz caldoso de robalo selvagem e gambas, com Tiara (Dirk Niepoort) branco 2015 Carne: Posta de carne arouquesa, com Post Scriptum (Symington) tinto, de 2013 Sobremesa: Petit gateau de caramelo com bola de gelado de frutos vermelhos, dois cafés Digestivo: Licor de uísque flamejado com frutos secos e pepitas de chocolate branco

OTIMISTA E ARROJADO Aborrecido com Adão e Eva, Deus virou-se para o mais antigo dos nossos antepassados e disse-lhe: “Tu és pó e a pó da terra tornarás”. O pó de cortiça, desperdício do fabrico de rolhas no grupo JPS, também voltará a ser pó, mas antes de cumprir esse destino vai conhecer uma nova vida, por obra e graça do arrojo tecnológico da parceria entre a sua participada Sedacor com a Têxteis Penedo, CITEVE e a FEUP - que venceu o prémio Inovatêxtil 2015, com o projecto cork-a-tex, criou um fio ino-

vador e natural, juntando resíduos de cortiça e algodão. Este consórcio continua agora com o projeto cork-a-tex yarn, que vai entrar em fase de industrialização em Setembro, um investimento de 390 mil euros que inclui a aquisição de uma máquina, instalada no CITEVE, para produzir fio que será transformado em tecido na Penedo. “Faremos fio suficiente fino para produzir camisas, lençóis ou malhas”, garante Albertino Oliveira, diretor co-

ALBERTINO OLIVEIRA

51 ANOS DIRETOR MARKETING DA SEDACOR Nasceu, cresceu e vive em Paços de Brandão, numa família com tradição no negócio do papel - o bisavô foi pioneiro no fabrico de papel selado. Sonhou ser advogado (a até fazer carreira na política) mas um ano em Direito (Católica do Porto) chegou para lhe tirar a ideia da cabeça. Mudou a agulha para Marketing e Gestão. Fez o bacharelato no IPAM, a licenciatura em Marketing na Fernando Pessoa, que complementou com um mestrado em Gestão na UMinho. O primeiro dinheiro ganhou-o ainda adolescente, nas férias grandes, a descarregar camiões de cortiça e a limpar as florestas. Em 1989, debutou no grupo Amorim uma carreira profissional com escalas nos laticínios (Mimosa), filmes/vídeojogos (Ecovídeo/ Sega) e madeiras (Vicaima) até que há quatro anos a Sedacor lhe proporcionou o regresso à cortiça. Casado, tem dois filhos: um rapaz que estuda Engenharia Mecânica (FEUP), e uma rapariga, que está em Medicina (Nova de Lisboa)

mercial e de marketing da Sedacor, que já investiu 1,5 milhões de euros em i&d na área têxtil. Têxteis-lar e confecionados são um dos mercados privilegiados dos tecidos feitos com cork-a-tex, mas estão muito longe de serem os únicos. “A cortiça é a nossa especiaria, o nosso ouro, o único produto em que somos líderes mundiais, que tem características únicas e pode alavancar outras indústrias - a têxtil mas também o calçado, construção, mobiliário, automóvel, etc. - e ser um fator decisivo na criação de valor para Portugal”, diz Albertino, que tem debaixo de olho a indústria automóvel, antes de se virar para a aeroespacial e a construção naval. O cork-a-tex é apenas um dos projetos disruptivos da Sedacor, criada em 1975 para usar o desperdício do fabrico de rolhas no fabrico de rolhas recicladas - e que com os 18 milhões de euros que fatura (2016) já é a mais importante empresa do grupo JPS, fundado em 1924 para o fabrico de rolhas naturais e que faz um volume de negócios global de 28 milhões) . Este avant la lettre da economia circular foi evoluindo e invadindo outros setores. Primeiro, foram os aglomerados de cortiça para isolamento na construção. Depois foi a vez da têxtil, através de um processo inovador de laminagem que lhe permitiu chegar a um tecido de cortiça, lavável, resistente à tensão (aguenta mais de 50 mil ciclos de resistência à abrasão), impermeável, respirável e bastante flexível. Foi com base neste tecido, desenvolvido internamente, a que a Sedacor não pára de fazer upgrades (“Retirámos os materiais não sustentáveis que entravam no processo de fabrico”), que ganhou o Inovatextil 2016, com um casaco confecionado pela Twintex. “Com a sua capacidade de resiliência, adaptação à mudança e proatividade, a têxtil está a dar lições a toda a gente. Nós, os portugueses, já somos os melhores no produto e na tecnologia. Só falta sermos assim tão bons no marketing”, conclui Albertino, que está a negociar o tecido de cortiça com um gigante francês da moda, e a preparar o desenvolvimento de um couro 100% vegetal. Mas isso já são outras histórias... t


Setembro 2017

T

07

protextil Software Solution For Textile Industries

Nova imagem. Nova plataforma tecnológica. Uma solução ainda mais flexivel e intuitiva.

SETORES DE ATIVIDADE

Confeção e vestuário

Tecelagem de malhas

Texturização de fios

Meias e collants

Tinturaria e acabamentos

Laboratório de análises

Desenvolvimento do Produto

Gestão de Stocks

Packing-List (Exportação)

Registo de encomendas de clientes

Ferramentas de Controle da Produção

Gestão de Separação e Logística

Planeamento

Gestão de Subcontratos

Faturação

Gestão de Corte

Gestão da Produção Interna

Gestão de Tesouraria Análise de custos e Rentabilidade

www.inforcavado.com

mail@inforcavado.com

Tel: 253 826 030

/inforcavado


08

T

Setembro 2017

6

2. O EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM BOGOTÁ, JOÃO RIBEIRO DE ALMEIDA, E PAULO BORGES (AICEP) COM A EQUIPA DA BOW

FOTOSINTESE Por: Manuel Serrão

COLOMBIAMODA É UMA FESTA! A moda contou com o reforço da gastronomia, o que permitiu a Portugal jogar em todo terreno, na Colômbia. Primeiro, foram os negócios, em Medellin, com a venturosa participação de dez empresas portuguesas na 28ª ColombiaModa, a melhor plataforma para a América Latina, visitada por 56 380 pessoas, dos quais 12 394 compradores oriundos de 56 países, com destaque para o México, Estados Unidos, Equador, Perú e Panamá. Depois, em Bogotá, com uma pitada de moda à mistura, foi a vez da gastronomia, a melhor sobremesa que se podia arranjar para a festa que foi a ColombiaModa

1. A EXIBIÇÃO DE FREE NAPS, UM DOS VÍDEOS VIRAIS DA CAMPANHA FASHION FROM PORTUGAL, ATRAIU A ATENÇÃO DOS VISITANTES DA COLOMBIAMODA

6. O REGRESSO A MEDELLIN, APÓS UM ANO DE INTERVALO, REVELOU-SE AUSPICIOSO PARA A FS BABY. RODNEY DUARTE ESTAVA SATISFEITÍSSIMO COM A AGENTE QUE ARRANJOU

5. ANTES DO DESFILE EM BOGOTÁ, AINDA HOUVE TEMPO PARA KATTY FAZER NEGÓCIOS EM MEDELLIN

11. O EMBAIXADOR JOÃO RIBEIRO DE ALMEIDA CHEFIOU A EMBAIXADA PORTUGUESA DE MODA E GASTRONOMIA

A embaixada portuguesa que esteve em Medellin na 28ª ColombiaModa: Bow, Dr Kid, FS Baby, Katty Xiomara, Lemar, NST Apparel, Têxteis Penedo (estas sete com o apoio da Seletiva Moda), Dielmar, Rarial e Orfama/Montagut O projeto From Portugal é co-financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Compete 2020

10. A VISITA DA JOVEM MISS COLÔMBIA (LAURA GONZALEZ OSPINA, 17 ANOS) CAUSOU UM ENORME FRISSON, COMO É BOM DE VER…


Setembro 2017

T

09

4. À TERCEIRA FOI DE VEZ. JÁ COM AGENTE NA COLÔMBIA, A DIELMAR VEIO DE MEDELLIN COM MUITOS NEGÓCIOS EM PERSPETIVA

3. COM A COLABORAÇÃO DE CRISTINA OSPINA, A SUA AGENTE NA COLÔMBIA, A DR KID NÃO TEVE MÃOS A MEDIR

8. ADMINISTRADOR E SÓCIO DA PARTNER PORTUGUESA DA MULTINACIONAL NST, LUÍS ALBUQUERQUE, ESTAVA FELIZ COM A ESTADIA NA COLOMBIAMODA E OS NEGÓCIOS QUE TROUXE NA BAGAGEM

7. O STAND DA LEMAR ESTEVE SEMPRE NUMA RODA VIVA. ALFREDO ARAÚJO (À DIREITA), A AGENTE E CLIENTES FIZERAM, UMA PAUSA NOS NEGÓCIOS E POSARAM PARA O T

9. OS NOSSOS TÊXTEIS-LAR NÃO PODIAM FALTAR À CHAMADA. ESTIVERAM MUITO BEM REPRESENTADOS PELA TÊXTEIS PENEDO

13. ALMOÇO MEMORÁVEL NO RESTAURANTE GALO, EM BOGOTÁ, COM A ASSINATURA DO PROTOCOLO COMERCIAL ENTRE A AGAVI E A ASSOCIAÇÃO COLOMBO-PORTUGUESA. NA FOTO: CHEF HÉLIO LOUREIRO, PAULO BORGES (AICEP), LUÍS MATOS (DONO DO GALO), ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO (PRESIDENTE DE AGAVI) E LINA MATOS NA CERIMÓNIA DA ASSINATURA DO PROTOCOLO

12. KATTY XIOMARA REPRESENTOU A MODA PORTUGUESA NA GRANDE CIMEIRA LUSO-COLOMBIANA REALIZADA NA CÂMARA DE COMÉRCIO, EM BOGOTÁ

14. A COLOMBIAMODA É NEGÓCIOS, MAS TAMBÉM É FEITA DE MUITA COR E ALEGRIA, COMO É HABITUAL DA AMÉRICA LATINA. PARA O ANO HÁ MAIS!


10

T

Setembro2017

ANA RIBEIRO É A DIRETORA EXECUTIVA DO CLUSTER TÊXTIL Ana Ribeiro, ex-business developer do CeNTI, assumiu a função de diretora-executiva do Cluster Têxtil. Licenciada em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela FEUP, com especialização em Engenharia de Polímeros, Ana começou como investigadora nos 3B’s Research Group (área da regeneração do osso). Foi responsável pela Qualidade numa empresa de cordoaria e redes, em Cortegaça (99-02) e diretora de Qualidade do CITEVE até, em 2005, integrar a comissão instaladora do CeNTI.

A BELEZA DA TÊXTIL EM WORKSHOP DA ATP A TMG Automotive ganhou o concurso para o fornecimento do novo modelo que a Mercedes vai começar a fabricar em 2019 e estará em produção até 2026. Se Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, tem encomendas para 2026, já Conceição Dias não sabe o que vai fazer no mês que vem - ou melhor, em Agosto e Setembro, sabe, corrigiu logo, mas para Outubro não faz a mínima. “Vou estar de férias e ter os clientes a telefonaram-me a pedir orçamentos e preços. É sempre assim...”, desabafou a fundadora do grupo Sonix/Dias Têxtil. Artur Soutinho, CEO da MoreTextile, está entre este estado permanente de frenesim de Conceição e a calma planificação de Isabel. O lead time no grupo líder dos têxteis-lar no nosso país, anda entre os nove meses e um ano. Por isso ainda não conseguiu tirar uma conclusão definitiva sobre o impacto que terão nas nossas exportações de têxteis-lar para a política protecionista anunciada nos tweets de Trump. Os EUA valem 15% do volume de negócios da MoreTextile e são um mercado bom, em que o valor médio da peça exportada é o dobro das que são vendidas para a Europa e resto do mundo. Motivos suficientes para Soutinho estar preocupado por, na última visita a Nova Iorque, ter-se deparado com muitas lojas fechadas em zonas nobres de Manhattan, e com a queda na venda de viaturas, um indicador avançado que prenuncia nuvens negras no horizonte para a economia norte-americana. Isabel Furtado, Conceição Dias e Artur Soutinho foram o elenco de luxo do workshop com o tema Os têxteis portugueses pelo Mundo, promovido pela ATP a 18 de Julho, no CITEVE, em Famalicão, e que faz parte de um programa mais vasto desenvolvido em parceira com a Magellan. Isabel, Conceição e Artur foram ainda testemunhos vivos não só da diversidade mas também da beleza e vitalidade de uma indústria a que muitos, num passado

não muito longínquo, se apressaram a passar uma certificação de óbito. Nestas conversas os temas são como as cerejas, puxa-se por um e vem logo outro atrás. Quem fala em internacionalização fala em competitividade. Quem fala em competitividade fala em custos de contexto. Quem fala em custos de contexto fala, inevitavelmente, em custos de energia. E quando se fala em custos de energia quando está na sala o ex-ministro da Indústria e Energia Mira Amaral corre-se o sério risco da discussão descambar para esse lado e se tornar muito interessante e elucidativo. "Só 40% da fatura de energia que pago corresponde ao que efetivamente gasto, o resto são taxas e taxinhas" - desabafou Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive. Não era preciso ser um Einstein para adivinhar que a queixa de Isabel Furtado iria motivar uma intervenção de Mira Amaral, que começou por informar que apesar do consumo de energia no nosso país não ter aumentado nos últimos anos, as receitas das tais taxas e taxinhas, de que falou a CEO da TMG Automotive, “ditas de interesse económico geral”, multiplicaram-se por cinco, saltando dos 500 milhões/ano para os 2 500 milhões! Estas taxas, no entender do ex-ministro, subsidiam os contratos de energia eólica, que em Portugal têm um custo médio 90 euros de megawatt/hora - energia que nos períodos de excesso chega a ser vendida para Espanha abaixo dos 10 euros. “As torres eólicas são máquinas muito caras. Equipamentos de capital intensivo que no nosso país só funcionam 25% do dia, quando há vento”, denuncia Mira Amaral, que denunciou o facto dos custos energéticos, superarem em muitas empresas, os custos laborais, prejudicando seriamente a sua competitividade - e se queixou de que, por exprimir livremente as suas opiniões sobre esta matéria, é alvo recorrente “de ameaças pessoais do lobby chavista/venezuelano da energia”. t

"Até nos tecidos comuns a tendência será incorporar cada vez mais acabamentos funcionais, da regulação de temperatura à proteção UV, passando pelo repelente de nódoas e antimosquito" Antóno Teixeira administrador da Penteadora

FARFETCH VAI CONTRATAR MAIS 500 PESSOAS A Farfetch planeia contratar até ao final do ano 500 trabalhadores e investiu um milhão de euros em novas instalações em Lisboa, com capacidade para 300 pessoas. As novas instalações ficam no Edifício D. Luís I, na zona de Santos. Neste espaço, vão estar equipas de trabalho sobretudo dedicadas ao desenvolvimento tecnológico, mas também das áreas de Customer Service, People Team e Office Management.

ENDUTEX PENSA NOS BEDUÍNOS MAS VENDE NA HOLANDA E BÉLGICA A Endutex desenvolveu um novo material para tendas de beduínos, com resistência UV e que é impermeável, não deforma, é de fácil limpeza e tem elasticidade com memória. O produto está a ser bem acolhido na Europa Holanda e Bélgica são os principais principais mercados.

42 %

foi o peso das exportações no PIB português de 2016, o que constitui a terceira pior performance quando comparada com 18 países da UE com dimensão idêntica à nossa. Apenas na Finlândia (40%) e Grécia (31%) as exportações registaram um peso inferior. A Roménia (44%) é o país que está imediatamente à nossa frente


Setembro 2017

T

11


12

T

Setembro 2017

X

A MINHA EMPRESA Por: Jorge Fiel

TMR Clothing

Lugar da Pedreira, lote 14 Parque Industrial de Azurém 4800-057 Guimarães

Trabalhadores 20 Volume de negócios 980 mil euros (2016) Exportação 100% da produção é exportada para Holanda (35%), Alemanha (35%), Espanha, Suíça, Islândia Máximas do trio de Máximos ”Build a strong base and stay focused and true to yourself” (Margarida); “Start small, focus, get it right, and then let the growth come” (Mariana); “From very humble beginnings you can go places and be successful” (Miguel)

Este trio é o Máximo Margarida Máximo nunca na vida esquecerá o regresso de férias em 2009. O agente inglês que ficava com toda a produção da TMR Clothing comunicou-lhe que ia redirecionar as suas compras para o Oriente. Por outras palavras, a fábrica que ela fundara em 1998 ficava sem encomendas. Zero absoluto! Durante todo o ano de 2010, a TMR esteve no corredor da morte. “Passei muitas noites sem pregar olho a pensar como haveria arranjar clientes e convencer a banca e a Segurança Social a renegociarem prazos de pagamentos”, confessa Margarida, a CEO da empresa onde tem como braços direitos dois outros Máximos, a filha Mariana (Product & Sales manager, com o curso de costureira feito no Cenatex) e o sobrinho Miguel (Quality manager) - o trio Máximo. A travessia do deserto foi dura, mas os Máximo nunca atiraram a toalha ao chão e a recompensa pela persistência acabou por chegar. Os holandeses da Humanoid acharam interessante a proposta da TMR, ao ponto de se meteram ao caminho, vieram cá, gostaram do que viram e colocaram um encomenda boa. “Foi a nossa salvação. Forneceram a matéria-prima nós não tínhamos dinheiro para a comprar - e pagaram logo”, recorda Margarida. Os holandeses foram o ponto de viragem não apenas pela encomenda em si mas também por serem um cartão de visita. Começaram logo a entrar novos clientes, marcas de moda holandesas e alemãs, pois quem trabalha para a exigente Humanoid tem de ser bom. Do annus horribilis de 2010, em que balouçou à beira do abismo da falência, Margarida aprendeu uma grande lição: “É impossível concorrer pelo preço com quem trabalha 14 a 15 horas por dia, sá-

bados incluídos”. A TMR elevou a mira para o segmento médio/alto, onde não há tanta concorrência, apostando na qualidade e valor acrescentado. As vendas caíram de um pico de 3,5 milhões para o milhão atual, mas a TMR sobreviveu e segue o seu caminho com a cabeça bem fora de água. “Não estamos vocacionados para quantidades. O corte automático permite-nos ter flexibilidade para satisfazer pequenas encomendas”, explica Margarida. A TMR contratou um designer e pôs as fichas todas na sofisticação da sua oferta de private label. “Não estamos dependentes das coleções dos clientes. Alimentamo-los com design. Todos os anos apresentamos-lhes seis diferentes coleções. O segredo do sucesso é estar sempre a acrescentar”, diz Margarida, que nasceu em Guimarães, numa família numerosa (cinco irmãs e um irmão) e tinha 14 anos quando começou a trabalhar numa fábrica têxtil. Ambiciosa, mal atingiu a maioridade foi para Londres, trabalhar au pair na casa de uma família alemã, com a ideia fixa de aprender inglês. Dois anos volvidos, regressou à pátria e a fluência em inglês valeu-lhe um emprego num agente têxtil, onde se demorou uma dúzia de anos, em que não cessou a dar de beber à sua sede de conhecimento, fazendo nas horas livres e aos fins-de-semana, cursos de modelismo, controlo do tempo, planificação, método e tempo, etc, no CITEVE. Irrequieta, em 1998 conclui que a única forma de tinha de dar um bom produto aos seus clientes era ser ela a fabricá-lo. E apesar de ter uma filha para criar, aventurou-se a atravessar o Rubicão. Com cinco costureiras e máquinas compradas a prestações, criou a TMR Clothing. Nascia uma empresária. t

RODRIGO SIZA DIRIGE LECTRA EM TODA A PENÍNSULA IBÉRICA Rodrigo Siza foi promovido de managing director da Lectra em Portugal a diretor regional para a Península Ibérica. “O Rodrigo tem vindo a estabelecer de forma muito eficiente parcerias de longo termo com os nossos de clientes de moda, automóvel e decoração em Portugal. Ele ajudou-os a sair ainda mais fortes da crise mundial que os atingiu. Depois de 10 anos de sucesso à frente da Lectra Portugal, está agora também encarregue de chegar às expectativas dos nossos clientes espanhóis”, diz Daniel Harari, CEO e chairman da Lectra.

HELIOTEXTIL E DAMEL FAZEM CASACO QUE AQUECE O CORPO

MICHAEL KORS DÁ MIL MILHÕES PELA JIMMY CHOO

A Heliotextil e a Damel desenvolveram um casaco para ser usado em câmaras frigoríficas que tem uma banda de aquecimento com sensores para medir e regular a temperatura do corpo. Além de garantir o bem-estar do utilizador, o casaco dá alertas em caso da temperatura do corpo atingir valores previamente definidos.

A Michael Kors vai comprar a Jimmy Choo por cerca de mil milhões de euros, num negócio que é mais um capítulo na fase de consolidação que atravessa o setor do retalho de luxo, depois da fabricante de carteiras e acessórios Coach ter adquirido a Kate Spade, em Maio, por dois mil milhões de euros.

"O objetivo tem de ser sempre ter os clientes satisfeitos" Miguel Mendes diretor comercial da A. Sampaio

INE ALERTA EM BOLETIM PARA OS PERIGOS DO BREXIT “O eventual estabelecimento de tarifas alfandegárias nas transações de bens entre o Reino Unido e a UE, a desvalorização da libra face ao euro, o clima de incerteza, assim como a possível contração da economia e do consumo britânico, poderão afetar as exportações portuguesas”, alerta o INE no seu boletim. Paulo Vaz considera que “as observações do INE têm a sua pertinência”, mas não acredita na criação de direitos aduaneiros. “O histórico do Reino Unido é o da defesa da liberdade de comércio e não o da criação de entraves”, afirma o diretor-geral da ATP.

40 milhões

de euros foi quanto a MoreTextile pagou de impostos nos últimos cinco anos, período em que entregou à banca 25 milhões de euros


Setembro 2017

T

13


14

ANDAR AO OMBRO COM A BRANCA DE NEVE

T

Setembro 2017

"Não queremos crescer em volumes muito grandes. O que procuramos é cada vez mais trabalhar com produtos de valor acrescentado, onde possamos ter margens confortáveis"

Numa parceria entre a Disney e a estilista Daniella Nicole, a marca criou 34 diferentes malas (clutches, mochilas, shopping bags, etc) que farão as delícias dos fãs da Cinderela, Branca de Neve ou dos sete anões. Os preços variam entre os 50 e os 100 euros e podem ser compradas online com entregas em Portugal.

Miguel Barros administrador da Bovi

ENDUTEX COMPRA TORRE DE OEIRAS O grupo Endutex comprou, por sete milhões de euros, a Torre de Oeiras, um edifício inacabado de 13 andares que vai recuperar e transformar num centro empresarial e de lazer. A construção da torre - um edifício com 6 400 m2 localizado junto ao Oeiras Parque suspensa há quatro anos por falência do anterior proprietário, será retomada este mês.

GRUPO FALCÃO 80% TÉCNICO EM 2020 Elevar para 80% o peso nas vendas dos produtos técnicos de alto valor acrescentado é a meta fixada para 2020 por António Falcão, o líder do grupo homónimo que produz fios e collants na Fitexar e TAF. Em 2016, ano em que faturou 13 milhões, os produtos técnicos pesavam cerca de 25% no volume de negócios. Mas o grupo de Barcelos está seriamente empenhado em crescer subindo na escala de valor e por isso impôs-se o objetivo ambicioso de vender 20 milhões de euros em 2020. “A nossa estratégia de crescimento não assenta no aumento da capacidade instalada, mas sim no investimento em tecnologia que nos permita desenvolver produtos cada vez mais técnicos e inteligentes”, explica António Falcão, 62 anos, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e com estágio de advocacia feito num escritório do Porto. O empresário sabe que segue na direção certa mas não desconhece que há perigos no caminho, pois o desenvolvimento de novos produtos implica investimentos significativos sem garantia de retorno. “Fomos os primeiros em Portugal a fazer fios reciclados usando como matéria-prima desperdícios de plástico. Nestes tempos em que está na moda ser sustentável e amigo do ambiente, o fio reciclado é aparentemente um produto vencedor. O problema é que custa o dobro...”, explica. O desenvolvimento de um novo produto tem muitos custos associados - tes-

"A nossa estratégia de crescimento não assenta no aumento da capacidade instalada, mas sim no investimentos em tecnologia", diz António Falcão

tes, ensaios, amostras para clientes, satisfazer as pequenas encomendas iniciais... - e o resultado final deste esforço é sempre uma incógnita. No final do dia, uns têm procura, mas outros não. Um risco que não desmobiliza Falcão da busca incessante de produtos inovadores com mais valor acrescentado. “Demora sempre algum tempo até co-

meçar a haver procura que dê retorno ao investimento”, reconhece o empresário, que mesmo no escuro não desiste de pôr as fichas todas no verde e no novo. Novos produtos significa também novas máquinas. Este ano, o grupo Falcão investiu 500 mil euros em equipamentos para fazer produtos com novas aplicações técnicas. Apesar disso, o investimento

não foi considerado elegível para financiamento no âmbito do Portugal 2020. “Foi com muita mágoa que recebi a notícia de que o projeto tinha sido chumbado. A minha razão não é aumentar a capacidade mas acrescentar valor. Mas não é por isso que vou desistir de investir e de fazer o que tem de ser feito”, conclui Falcão. t

Os collants para a peregrinação a Fátima António Falcão andava cansado de ouvir a frase: “Ai vocês também fazem isso?!? Não sabia…”. Por isso mesmo, já tinha chegado à conclusão que de muito pouco serve ser pioneiro se não dermos a conhecer as coisas boas e inovadoras que produzimos. Mas a gota que fez transbordar o copo e o levou a desencadear uma campanha de comunicação externa e interna foi um pequeno episódio doméstico, passado à mesa de jantar da sua casa em Barcelos. Estávamos nos primeiros dias de Maio, nas vésperas da visita do papa Francisco, e a mulher e irmã de Falcão ultimavam os preparativos para uma peregrinação a pé a Fátima. Às páginas tantas, Patrícia conta ao marido António que essa tarde tinha comprado, numa loja de uma multina-

cional de artigos de desporto, uns collants ótimos, especialmente concebidos para proteger as pernas durante grandes caminhadas, com efeito compressão, massagem e tratamento antibacteriano. “Mas, Patrícia, nós fazemos lá na fábrica collants exactamente iguais a esses!”, desabafou António Falcão, que logo ali decidiu planear uma campanha de comunicação, com reuniões nas diferentes zonas do país, para comunicar interna e externamente, urbi et orbi, as mil e uma maravilhas que o seu grupo desenvolveu e produz, não só no capítulo de fios (Fitexar) mas também de meias de senhora (TAF-Têxtil António Falcão). Quando se fala de fios técnicos, na oferta do grupo Falcão há de tudo, como na farmácia. “Fo-

mos os primeiros, em Portugal, a fazer fios estampados e fios reciclados, a partir de desperdício de garrafas e sacos de plástico”, conta António, que se entusiasma a descrever a alargada gama de fios especiais em poliéster e poliamidas que as fábricas do seu grupo desenvolvem e produzem - fios impermeáveis, fios para roupa de trabalho, fios fosforescentes, fios para a indústria automóvel etc, etc. A larga gama de produtos de valor acrescentado que o grupo Falcão disponibiliza aos clientes começa a montante nos fios e prossegue nos collants da TAF, que tem uma carteira de produtos onde encontramos collants indesmalháveis (ou seja que não fazem foguetes), push up, perfumados, antibacterianos, anti-celulite, de trabalho, e por aí adiante. t


Setembro 2017

T

15


16

T

Setembro 2017

PARA A PURE COTTON O IMPORTANTE SÃO AS MARCAS Dominar toda a cadeia de produção é o objetivo do investimento industrial de 1,5 milhões de euros que a Pure Cotton tem em curso em Vila Frescaínha, Barcelos. A primeira fase, já concluída, contemplou um investimento de 700 mil euros, entre obras e maquinaria, numa linha de produção onde trabalham 16 pessoas e está dedicada ao fabrico de protótipos e coleções, sendo também usada para satisfazer pequenas encomendas. Na segunda fase, será acrescentada estamparia à tecelagem - e a logística e o departamento comercial mudam-se para as instalações industriais, que serão ampliadas para o efeito. Concluído este investimento industrial, o essencial dos recursos e esforços da Pure Cotton vão ser canalizados para a construção e expansão das suas marcas próprias - Inimigo Clothing e French Kick. “Não queremos crescer mais na produção. Crescer vai ser nas marcas. Com a atual estrutura vamos multiplicar três ou quatro vezes o volume de negócios”, prevê Hélder Brito, um dos três sócios (os outros são Rui Costa e Rickie Madsen) da Pure Cotton. Fundada em 2011, em plena crise das dívidas soberanas e com a troika em Lisboa, a Pure Cotton começou com o pé esquerdo, sendo obrigada a ficar com a marca (Chico Clothing, uma marca antiga de streetwear, com boa presença online) de um cliente alemão de Colónia que ficou sem dinheiro para pagar as coleções que a empresa portuguesa já lhe fornecera. Mas no ano seguinte a Pure Cotton já estava cheia de trabalho e saía da crise a todo o vapor, com a faturação a quase triplicar, dos 800 mil euros, em 2012, para 2,1 milhões, em 2013. No final do corrente exercício, o grupo deverá atingir um volume de negócios de 9,5 milhões de euros, sendo que deste montante as vendas de marcas próprias deverão rondar os dois milhões de euros, ou seja um pouco mais de 20% do total. “O nosso objetivo é fazer 50% da faturação nas marcas. Sabemos que vai demorar algum tempo a acontecer, mas não temos dúvidas de que estamos no caminho certo.”, explica Hélder, 35 anos. A Inimigo Clothing nasceu em 2013, como uma evolução na-

CANADÁ MAIS FÁCIL O Acordo Económico e Comercial Global (CETA) entre a UE e o Canadá entra em aplicação provisória no próximo dia 21. O acordo, cuja aprovação não foi pacífica no Parlamento Europeu, prevê a eliminação de barreiras alfandegárias que se afiguram particularmente benéficas para os produtos portugueses, sobretudo nos setores dos têxteis e do calçado, onde existem picos tarifários que chegam aos 18%.

JULIANA VENCE

"O meu pai foi muito esperto" Tinha apenas 14 anos quando começou a acompanhar o pai, Joaquim Carvalho Brito, para todo o lado, nas viagens à Première Vision ou aos fabricantes alemães de máquinas. Lá mais para o final da adolescência, nas tardes que as aulas lhe deixavam livres, começou um curso prático de empresário têxtil na tecelagem do pai (J.A. Brito & Araújo). Primeiro, aprendeu a afinar os teares. Depois foi para a contabilidade conferir documentos. E assim sucessivamente até ficar a conhecer os segredos do negócio, por dentro e por fora. “O meu pai foi muito esperto. Se em vez de me ter seduzido com as viagens, tivesse começado por me meter a a afinar teares, neste momento havia um economista a mais e um empresário a menos” graceja Hélder Brito. No ano 2000, o pai vendeu a fábrica. Como tinha de fazer alguma coisa, aos 20 anos começou a trabalhar por conta própria, com clientes mas sem teares. Até que em 2009, no auge da crise, para garantir que cumpria o que prometia aos clientes, se decidiu a montar em Barcelos, uma confeção de vão de escada (no sentido literal) com quatro máquinas de costura, uma mesa de corte e três secretárias. Era a Pré-História da Pure Cotton. tural da coleção mostruário que a Pure Cotton fazia para apresentar aos clientes de private label. Ao contrário da mãe (Pure Cotton), a Inimigo nasceu com o rabo virado para a lua. Logo na primeira feira em que esteve, a Magic, em Las Vegas, apesar da má localização do stand (“Estávamos quase dentro da casa de banho”) Hélder trouxe 100 mil US dólares de encomendas. “Os Estados Unidos são um mercado com um enorme potencial, onde a Inimigo já faz 60% das suas vendas”, reconhece Hélder, acrescentando: “A Inimigo Clothing é uma marca para o segmento médio/alto e por isso não

é barata, mas mesmo nas peças básicas usamos malhas de algodão supima, o melhor que há no mercado, fazemos estampados a 12 cores e caprichamos em todos os detalhes, como as etiquetas metálicas. Pomos lá tudo!”. A Inimigo tem uma loja própria em Braga, que é encarada como um investimento em marketing - uma montra onde tem exposta toda a coleção da marca. “Nestes quatro anos, fizemos os erros todos de seguida. Aprendemos que não chega fazer feiras. É preciso escolher criteriosamente os alvos, disparar tiro a tiro e não de rajada. Com a Inimigo, além dos EUA, estamos na

Holanda, França e Portugal. Há mercados onde ainda não entramos, como o italiano, onde, apesar dos tradicionais problemas de pagamentos, achamos que a marca vai resultar bem. Quando formos para lá é para ser a sério. É para ficar”, afirma o administrador da Pure Cotton. Apesar da aposta nas marcas, em particular na Inimigo, a Pure Cotton não vai negligenciar o private label - apenas vai ser mais exigente. “Vamos escolher os clientes. Há cinco anos não tínhamos mínimos. Há dois anos os nossos mínimos eram 300 peças por cor. Agora são 500”, conclui Hélder Brito. t

Juliana Antunes foi a vencedora da 2ª edição dos Jovens Criadores de Braga, que teve como tema o Bom Jesus do Monte. Cassandra Silva e Mariana Pinto foram as 2ª e 3ª classificadas do concurso que teve como júri a vereadora Sameiro Araújo, a estilista Elsa Barreto, Manuel Serrão, Varico Pereira (Confraria do Bom Jesus) e Zaira Costa (Esprominho).

MOREIRA INAUGURA Luís Onofre abriu uma loja própria no edifício Aviz, no Porto, um espaço distinto e decorado pela Boca do Lobo. “Era um sonho antigo, mas foi preciso esperar até encontrar o local ideal numa cidade onde todos os dias surgem coisas novas por todo o lado e que tem tido um crescimento incrível. Acho que estamos no ponto certo”, disse o presidente das APICCAPS. Rui Moreira esteve na inauguração.

MARSHOPPING REFORÇA Gant, Mike Davis e Kiabi são as novas marcas que se juntaram a outras apostas recentes (Algodão Doce, Sergent Major e Blue Kids, El Ganso, Extreme, Mr. Blue e Suits Inc.) do Mar Shopping, que está empenhado em reforçar a sua oferta em moda.


Setembro 2017

T

17


18

T

Setembro 2017

24 milhões

de pares de meias foram produzidas em 2016 pela MFA-Manuel Fernando Azevedo, que fechou o ano passado com um volume de negócios de 17 milhões de euros

HEIMTEXTIL APRESENTA TENDÊNCIAS EM GUIMARÃES

O PROGRAMA DE FESTAS DO MODTISSIMO 50 A Associação Selectiva Moda está a comemorar um quarto de século de vida (25 anos, por outras palavras) organizando a edição 50 do Modtissimo (3 a 4 de Outubro, na Alfândega do Porto, com 400 expositores, e em simultâneo com a 10ª edição do ITechStyle, organizada em parceria com o CITEVE, bem como o emergente concurso Porto Fashion Wine), âncora da 10ª Porto Fashion Week - tudo número redondos, o que justifica um programa rijo, diversificado e completo de comemorações. O pontapé de saída das festas foi dado a 2 de Junho, com um Arraial Minhoto, na Quinta da Malafaia (na foto), em que participaram 500 pessoas de algumas das mais de mil empresas que já expuseram no Modtissimo. As festas prosseguem a 28 de Setembro, com o 3o Fashion Night Out, que inaugura a 10ª Porto Fashion Week com um recorde de adesão de mais de 100 lojas, numa área geográfica mais alargada que se estende desde a Baixa até às ruas das Flores e Sá da Bandeira, ao Fashion District (Batalha) e à Boavista. Segue-se o 4ª Fashion Film Festival (desta feita apadrinhado pelo FFF de Copenhague), que será apresentado pela dupla Fernanda Serrano/Rui Massena e estreia nestas andanças da moda o Museu do Carro Eléctrico - numa itinerância que debutou no Rivoli (1ª edição, que teve como padrinho o mais antigo Fashion Film Festival, o de La Jolla, de Los Angeles), e prosseguiu no CEIIA, em Matosinhos (2ª edição, apadrinhada pelo festival de Berlim) e no novo Terminal de Cruzeiros de Leixões (3ª edição). De realçar que o FFF do Porto coleciona este mês a sua primeira internacionalização ao apadrinhar

a 1ª edição do FFF brasileiro, que se realiza em São Paulo. Atendendo ao facto de estar integrado na 10ª Porto Fashion Week, o 4o Concurso Fotográfico Fashion People atribui um prémio extra a todos os concorrentes que tenham captado uma foto que represente o número 10 de forma original e criativa. “Vês moda em todo o lado?” é a pergunta que os participantes tiveram de responder, usando um smartphone ou um tablet. O/a vencedor/a ganha uma viagem a Madrid com estadia incluída, assim como um telemóvel Huawei, entre outros prémios. Para o/a segundo/a há também um smartphone. O último lugar do pódio dá direito, entre outras coisas, a uma Instax Fujifilm. O vencedor do prémio especial dos 10 anos da PFW, ganha ainda uma impressora portátil HP Sprocket para smartphones. O júri é constituído por várias figuras do mundo da moda: Cassiano Ferraz (fotógrafo de moda e vencedor da edição 2016), Francisca Perez (modelo); Fernanda Soares (diretora da Revista Máxima), Paulo Vaz (diretor-geral da ATP) e Raquel Strada (blogger e apresentadora de televisão). A Confederação Europeia da Indústria Têxtil e Vestuário, com sede em Bruxelas, associa-se às festas, realizando pela primeira vez em Portugal a Convenção Internacional Euratex, que trará ao Porto Palácio, a 3 de Outubro, 150 participantes de todas as associações que a compõem. Be competitive in the new global order é o tema da 6ª Convenção Euratex, que será aberta às dez da manhã com intervenções de uma troika de peso, constituída por Pau-

lo Melo, presidente da ATP, Fernando Freire de Sousa, presidente da CCDRN, e Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia. O milagre da ressurreição da ITV portuguesa será o tema da primeira comunicação da manhã, a cargo de Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, seguida da apresentação de Klaus Huneke, presidente da Euratex. A seguir ao almoço, há dois painéis. No primeiro (14h00), estarão em cima da mesa os factos, causas e soluções para os problemas de competitividade que a UE enfrenta. Jorge Vasconcelos e Sá é o key note speaker, numa sessão moderada por Francesco Marchi (Euratex) e que conta com a participação de Vital Moreira, Gonçalo Lobo Xavier (vice-presidente da EESC) e Robert Autoshack (Olah Inc.). A competitividade industrial à luz dos novos paradigmas da inovação e tecnologia é o tema do 2o painel (15h00), em que o inesgotável Braz Costa desempenhará o duplo papel de key note speaker e moderador, num debate em que participarão Mário Jorge Machado (Estamparia Adalberto), Hélder Rosendo (PR Têxteis) e Christian Dalsgaard (Ohmatex). Antes da convenção ser encerrada com a apresentação das conclusões, por João Peres Guimarães, membro da administração da Euratex, haverá ainda uma intervenção de Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC Portugal. O salão da Alfândega do Porto, recuperado e modernizado para receber a Cimeira Ibero-Americana, será o palco do Jantar de Gala conjunto do Modtissimo 50 e da Euratex. No final de Novembro, o ponto final das comemorações será uma Gala Espetáculo no Casino da Póvoa de Varzim. t

A designer Anne Marie Commandeur e a Meike Kern (Messe Frankfurt) apresentam em primeira mão as tendências Heimtextil para 2018/2019, no próximo dia 14, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

RUBEN LANÇA LINHA DE MALAS COM A RUFEL Ruben Rua desenhou uma coleção de 18 malas de homem (carteiras, porta-moedas, porta-cartões, malas de viagem e mochilas) que vai lançar este mês, em parceria com a Rufel, e será apresentada na MICAM (Milão).

“Há muitos anos que, até por dificuldades na contratação de mão-de-obra, apostamos muito na automatização. Diria que a nossa produção, dentro daquilo que é possível, está praticamente toda automatizada” Jorge Pereira CEO da Lipaco

TÊXTIL CRIOU EM FAMALICÃO 533 NOVOS EMPREGOS Uma em cada cinco das novas empresas criadas com o apoio do Famalicão Made IN é do setor têxtil e do vestuário. Entre Outubro de 2014 e Junho de 2017 foram criadas no concelho 87 novas empresas, das quais 18 da ITV. A têxtil foi quem mais empregos diretos gerou: 533, quase metade do total (1 128).

MARIANA CAMPINHO VAI À FINAL DO THE LINK, EM CANNES Mariana Campinho é uma das finalistas do concurso The Link, que se realiza de 7 a 9 de Novembro, no Palais des Festivals, em Cannes: Ex-aluna da ESAD, foi distinguida no Innovative Apparel Show, de Techtextil, e ficou em 2º lugar numa das últimas edições do concurso Jovens Criadores PFN. O The Link é uma rampa de lançamento para jovens designers na área da lingerie e fatos-de-banho.

VENDAS DA DECENIO CRESCEM 11% A Lion of Porches registou no ano passado um crescimento de 7% do seu volume de negócios, para cerca de 24 milhões de euros, enquanto a Decenio, que também pertence ao grupo Cães de Pedra, faturou 11 milhões (mais 11% que em 2015).


Setembro 2017

T

19


20

África.

T

Setembro 2017

O PENSAMENTO DE OLAF SCHMIDT

Mais um passo na globalização. A feira que vamos organizar em Outubro na Etiópia - a primeira que promovemos no continente - revela que estamos atentos ao fenómeno. Com o aumento dos salários na China, as marcas começaram à procura de locais mais baratos para fabricarem produtos básicos e de fast fashion . O resultado desta busca é que estão a fazer da têxtil a principal indústria africana.

Pessoas.

Brexit.

Pontos fortes.

Preços razoáveis, boa reputação, design e qualidade são os pontos fortes que fazem o sucesso da vossa ITV.

Pontos fracos.

Falando francamente, não estou a ver pontos fracos na vossa indústria têxtil e de vestuário...

Porto.

A primeira vez foi há muito tempo, já não me lembro exatamente quando. Estive lá com um amigo. Ficámos cinco dias. Tenho voltado lá com frequência. É uma cidade diferente, que me agrada muito.

China.

Tem subido na cadeia de produção. Continuará a ser o principal produto mundial de têxtil e vestuário. A nossa grande aposta para o 2 o semestre é a Intertextile de Xangai, em Outubro.

Estados Unidos.

Um mercado com marcas muito fortes mas muito complicado para promover feiras. Os efeitos da presidência Trump? Ninguém sabe ao certo ou ousa prever o que vai acontecer nos Estados Unidos...

Exportações.

Com um pequeno mercado doméstico, a ITV portuguesa estava condenada a exportar. Competir num mercado aberto é difícil e fez muitas vítimas: empresas que fecharam e pessoas que perderam o emprego. Mas no fim do dia só podia fortalecer o setor.

Feiras.

São - e continuarão a ser, no futuro - um ponto de encontro da comunidade têxtil, uma plataforma internacional onde as pessoas afluem para saber quais são as tendências do negócio e falarem com os seus parceiros de outros países.

Portugal.

FOTO: Holger Peters

Douro.

Peixe.

A possibilidade de comer peixe e mariscos frescos, grelhados na hora, é uma das coisas que mais me atrai em Portugal. Os portugueses são pessoas de relacionamento fácil. É um prazer falar e negociar convosco.

Ainda não notamos o impacto nos nossos negócios. As empresas inglesas vão ter de continuar a estar nos mercados internacionais, independentemente de haver ou não Brexit. Mas, claro, como international traders somos claramente favoráveis à manutenção do Reino Unido como membro de pleno direito da União Europeia.

Adoro os vinhos tintos do Douro, muito fortes e únicos no Mundo. Compro-os regularmente. As marcas que mais me agradam? Não as revelo para não fazer subir o preço... :-).

quer tangibilidade e o toque na peça. Não nos podemos nunca esquecer que têxtil é conforto.

Em miúdo ainda sonhou ser condutor de locomotivas (durante gerações a fio, os comboios fascinaram os jovens rapazes), mas estava escrito nas estrelas que sim, que a sua vida profissional lhe iria proporcionar muitas viagens, mas não passaria pelo caminho de ferro - antes pelos trapos. Muito provavelmente o destino têxtil de Olaf Schmidt estava escrito nas estrelas porque ele nasceu e cresceu em Krefeld (região da Renânia Vestfália), conhecida desde o século XVIII como a cidade da seda e do veludo - e o centro de gravidade da indústria alemã de têxtil e vestuário. Vice-Presidente da Messe Frankfurt, com o pelouro da têxtil e tecnologia têxteis, Olaf tem 50 anos e licenciou-se em Engenharia Têxtil em Monchengladbach (que dista uns escassos 33 quilómetros da sua Krefeld natal), formação que completou com um MBA feito na bávara Universidade de Ciências Aplicadas de Landshut. Concluído o MBA, deixou-se ficar pelo sul da Alemanha, debutando na área de Marketing e Vendas numa fábrica nos arredores de Munique, que fornecia interiores para os aviões da

Guimarães.

Tem um centro histórico maravilhoso, muito justamente proclamado Património da Humanidade pela Unesco, e um dos meus restaurantes portugueses pre-

Lufthansa, onde chegou a desempenhar funções de administrador, até aceitar o cargo de membro do conselho de administração de uma fiação em Kaiserslautern, uma sociedade anónima que trabalhava com fios especiais de altíssima qualidade. Em 2006, a Messe Frankfurt bateu-lhe à porta. Precisavam de alguém que viesse da indústria para se ocupar das feiras têxteis. E o perfil dele ajustava-se como uma luva ao que pretendiam. Olaf aceitou, mas recorda que ficou intrigado. Sabia que organizavam a Heimtextil, que devia dar imenso trabalho, mas não pôde deixar de se interrogar: “O que é que eles farão durante o resto do ano?” Não tardou a conhecer a resposta a essa pergunta. À época, a Messe Frankfurt já organizava 20 eventos/ano na área têxtil. Agora, com ele a conduzir essa locomotiva, esse número de realizações mais do que duplicou. Num intervalo da última Techtextil/Texprocess, o T esteve durante uma hora à conversa com Olaf Schmidt, cujo pensamento resumimos aqui, organizado por 18 tópicos, apresentados por ordem alfabética para facilitar a consulta.

feridos: A Cozinha, do chef António Loureiro.

Internet.

A internet trouxe benefícios adicionais óbvios ao comércio têxtil e de vestuário. Mas

da mesma maneira que o Facebook não dispensa o f ace look , a internet não substitui o contacto pessoal, principalmente num negócio como o da roupa, um produto emocional que re-

O que mais me seduz em Portugal é a combinação entre o moderno e o antigo, bem como um estilo de vida irresistível, que vos permite sentar à mesa para jantar às dez da noite ;-).

Private label.

O vosso país tem todas a condições para ser bem sucedido como produtor de private label para marcas de classe high end, pois tem muitas empresas altamente competitivas neste segmento, por saberem combinar design, preço e entrega rápida.

Têxteis-lar.

Portugal é um dos mais importantes fabricantes de têxteis-lar do mundo e isso vê-se na Heimtextil, onde têm sempre uma participação grande e qualificada – com uma cuidadosa apresentação dos produtos.

Têxteis técnicos.

Não é só nos têxteis-lar que a ITV portuguesa tem crescido. Não nos podiam passar desapercebidos os enormes progressos que têm feito nos têxteis técnicos, um segmento onde Portugal é cada vez mais importante e regista um magnífico desenvolvimento industrial. t


Setembro 2017

T

21


T

Setembro 2017

“O CAPITAL HUMANO É O GRANDE PATRIMÓNIO DA NOSSA ITV”

FOTO: RUI APOLINÁRIO

22


Setembro 2017

T

23

n ENTREVISTA Por: Carolina Guimarães e Jorge Fiel

José Manuel Vilas Boas Ferreira 51 anos, nasceu em Barcelinhos, o irmão do meio dos três filhos do casamento entre uma empregada doméstica e um cozinheiro. Fez o 9º ano em Barcelos, 12º ano nas Novas Oportunidades (2011) frequentou Contabilidade (Tecla) e em 2016 conclui o Curso de Gestão Avançada na Porto Business School. Em 1987, após ter feito a tropa, na Polícia do Exército, foi, durante dois dias, empregado de escritório, antes de ir parar à têxtil onde debutou como cronometrista na Araújo & Irmão. Casado, tem dois filhos - Patrícia, 24 anos, licenciada em Economia, e Pedro, 20 anos, estudante de Gestão

A

Consegue sinergias entre os dois setores?

Do automóvel para a têxtil, trouxemos o rigor e a planificação. Da têxtil para o automóvel levamos a flexibilidade e a capacidade de adaptação permanente à mudança.

ndamos há dez anos a tornar-nos diferentes da nossa concorrência - conta José Manuel Ferreira, 51 anos, o presidente da Valérius, empresa de Barcelos que tem como core business a produção de vestuário em malha circular. Comendador da Ordem do Mérito Industrial, além da sua presença na têxtil é também acionista da Ambar, Camport (ex-Campeão Português) e de duas empresas que fabricam componentes para automóveis.

Em 2007, dois anos depois de investir no automóvel, com receio do futuro da têxtil, compra a Valérius e despede-se da Araújo & Irmão. Já não tinha dúvidas sobre o futuro da nossa ITV?

Porque é que diversificou para a indústria automóvel, no início do século?

Quando surgiu a oportunidade de comprar a Valérius já tinha acumulado capital suficiente para financiar a operação?

Eu ainda trabalhava na Araújo & Irmão quando, no início do século, fomos atingidos pelo choque brutal da liberalização do comércio mundial e os compradores fugiram para Oriente. Aí vimos a têxtil a definhar e achamos prudente investir noutro setor. Diferente da têxtil como a água do vinho...

Completamente diferente. Fomos da mão-de-obra intensiva para a tecnologia. O setor automóvel é muito mais complexo e exigente em certificações, garantia de qualidade e prazos de entrega. Em contrapartida, oferece muita estabilidade, com contratos de fornecimento que podem ir até sete anos.

Já tínhamos comido terra. Aprendemos a aguentar a crise – só não sabíamos quando íamos sair. Mas sabíamos que o tempo das certezas tinha acabado. A única certeza era a incerteza. E tratamos de arranjar uma estratégia adequada a estes novos tempos.

Não tinha dinheiro, mas tinha credibilidade e confiança. Eu era aquele que tinha ajudado a recuperar uma empresa de um buraco de cinco milhões deixado por um cliente alemão. Era um bom cartão-de-visita. As coisas começaram logo a correr bem?

Nem por isso. Ao fim de um ano, fui a Milão visitar um cliente importante - que valia quase metade da nossa faturação e nos devia 1,1 milhões de euros - e ele anunciou-me que não tinha dinheiro para nos pagar e ia abrir falência.

O que o deixa satisfeito...

Foi como lhe dessem um murro no estômago...

As duas empresas - Inoveplastika e Henfilgon - fazem um volume de negócios de 20 milhões de euros. Exportamos para a Alemanha, França, Itália, China, Brasil, etc.

Nós sabíamos que aquela situação era uma bomba relógio, que não podíamos ter uma exposição tão grande a um único cliente. Foi um momento muitíssimo difícil.

"Não é passando o dia todo fechado na fábrica que se ganha dinheiro"

A tropa foi um momento de viragem. Não só ganhou mundo (fez a recruta em Lisboa e esteve um ano no Porto) mas também disciplina. Antes a mãe estava sempre a chamar-lhe preguiçoso. Hoje admite que ela tinha razão. Os 20 anos (1987-2007) que passou na Araújo & Irmão, equivaleram a uma licenciatura, MBA e doutoramento em Gestão de Empresas, com especialização na ITV. Foi lá que conheceu Lucinda (o seu braço direito na Valérius) e aprendeu a evitar o naufrágio de uma empresa vítima da falência do seu principal cliente. No entretanto, por altura da viragem do século, ainda lhe sobrou tempo para debutar como empresário, não só na têxtil mas também no fabrico de componentes para a indústria automóvel. Até que, em 2007, o dono da TexAmérica foi oferecer a Valérius - e o Zé Manel agarrou a oportunidade.

Como reagiu?

Reuni o meu staff, disse-lhes que tínhamos um problema e tínhamos de ser pragmáticos e definir um plano para o atacar e ultrapassar. Enterrar os mortos e cuidar dos vivos, como fez o Marquês do Pombal após o Terramoto de 1755?

Mais ou menos isso :-). Chamamos os fornecedores, expusemos-lhes a situação e acordamos com eles um plano de pagamentos, de modo a nunca nos faltar matéria-prima. Estivemos atentos e ativos no processo de falência do cliente

italiano, e ainda conseguimos recuperar parte do dinheiro em dívida, penhorando um imóvel que valia 200 mil euros e no final recuperamos 50% da dívida. E a jusante?

Fomos para o mercado em busca de novos clientes. Naquele momento de aflição não podíamos estar só no segmento premium. Começamos a trabalhar com o grupo Inditex. Aumentamos a agressividade, colocando comerciais avançados à porta dos clientes - quando eles abrissem a porta, à procura de algo, nós já lá tínhamos que estar. E apostamos no serviço, serviço, serviço. Qual foi a grande lição que aprendeu com a crise da falência do cliente italiano?

Que nunca mais iria fornecer um cliente sem antes conhecer bem a sua estratégia. E quando a estratégia me parece errada, digo logo ao comercial para desacelerar dele. Em resumo, passamos a escolher os clientes. Em 2010 fizeram a primeira incursão no mundo das marcas, com a Onara. Porque é que a descontinuaram?

Analisamos detalhadamente a Onara e concluímos que estava no caminho errado porque estava a ser desenvolvida com o coração e não com a razão. Ora como o meu órgão mais sensível é o bolso... (risos) Foi um mau movimento?

Não. Entre 2008 e 2009, quando, no meio da crise global, tivemos de sobreviver à falência do cliente italiano, lutamos pelo preço e descemos até ao low-cost para arranjar encomendas e a produção não parar. Entre 2009 e 2010, as vendas da Valerius cresceram 50%, - de quatro para seis milhões de euros. No início desta década precisávamos de voltar a subir na cadeia de valor, de propor coleções aos nossos clientes e a Onara deu uma ajuda nesse processo de reajustamento.

Como?

Nós éramos industriais puros. Sabíamos fazer muito bem o que o cliente queria, mas não tínhamos design nem o know-how de desenvolvimento de produto que a Onara tinha e era indispensável na nova visão que tínhamos para a Valérius. Em que consiste essa nova visão?

Em primeiro lugar, perceber que os fornecedores são nossos parceiros e não os podemos estrangular. Se estabelecermos boas parcerias com os fornecedores teremos bons clientes. O que faz o preço é o que o consumidor final está disposto a pagar por uma determinada peça e por isso percebemos também que no novo paradigma era necessário obter certificações. E estabelecemos um novo modelo de gestão. Como funciona?

Temos seis células, com uma enorme autonomia, que são centros de custos, com recursos próprios, que vão desde a produção até ao cliente. E uma equipa de controlo de gestão que anda pela fábrica toda e intervém se se acende uma luz vermelha. É um sistema horizontal, em rede, muito diferente do esquema tradicional em pirâmide. Qual é o seu papel?

Supervisiono, aconselho e faço acontecer. Claro que mantenho contacto com os clientes, que encaramos como parceiros e com quem tenho uma relação de verdade e absoluta franqueza. Nunca escondo o que penso nas minhas conversas com fornecedores e clientes. Se acho que estão no caminho errado aviso-os: “Cuidado, olha que a parede está muito próxima...” Passa muito tempo fora da empresa?

Não é passando o dia todo fechado na fábrica que os projetos se desenvolvem. É preciso andar no mundo, atento ao que se está a passar.


24

360 O que é decisivo para fidelizar um cliente?

Ter uma relação de confiança e lealdade. Sentirmo-nos bem um com o outro. É absolutamente essencial entregar-lhes o produto que ele comprou com a qualidade acordada e a tempo e horas. O respeito pelos prazos de entrega faz parte do valor acrescentado. É mesmo um fator essencial de competitividade?

Se excluirmos alguns produtos alimentares, a moda é um dos produtos que mais rapidamente se deteriora. Desde que chega à loja, o seu prazo de validade é muito curto, entre seis a oito semanas. Se o produto não chega na data prevista está logo a depreciar-se. Esta velocidade é muito boa para a nós. Porquê?

Porque nós, em Portugal, ao sermos flexíveis conseguimos ir de encontro aos prazos de entrega exigidos pelos nossos clientes e estamos próximos dos grandes mercados e das principais cadeias mundiais de distribuição. Esse é um dos pontos fortes da nossa ITV. Quais são os outros?

A flexibilidade e o espírito de sacrifício e know-how dos nossos trabalhadores. O capital humano é o grande património da têxtil portuguesa. Os sucessos da Valérius devem-se à excelência de uma equipa que luta destemidamente e da certeza de que nada seria possível sem a sabedoria, dedicação e paixão de cada um dos nossos 134 colaboradores. E os pontos fracos?

O marketing é o nosso calcanhar de Aquiles. Não somos comerciantes. Somos industriais. Somos muito bons a produzir mas depois não sabemos vender-nos. Outro dos nossos pontos fracos é o excesso de individualismo. Ao contrário de

T

Setembro 2017

Dez anos é o prazo que a Valérius fixou para ter no terreno o seu ambicioso projeto 360, que consiste na aplicação perfeita dos princípios da economia circular - ou seja, todas as roupas que saírem da sua fábrica em Barcelos a ela retornarão para serem reciclados e terem uma nova vida. “Queremos ser a primeira empresa europeia a pôr em prática os princípios da economia circular. Sabemos que a nossa indústria é poluidora mas estamos empenhados em reverter a nossa pegada ecológica”, afirma o presidente da Valérius.

"O respeito pelo prazo de entrega faz parte do valor acrescentado"

outros países, nós, portugueses andamos demasiado preocupados com os nossos concorrentes em detrimento de reforçarmos a nossa estratégia concertada.

capacidade de desenvolvimento de produto. A que corresponde cada marca?

A Sucre et Sel é uma marca criada para o mercado italiano, desenhada por italianos, que agora vamos levar para o retalho no Reino Unido, onde já estamos com a Ballentina. A Green Wish é uma marca belga com uma identidade fortemente ligada às questões da sustentabilidade e do respeito pelo ambiente. E a Concreto?

Quatro semanas para repetições. Oito semanas para um produto novo e até 12 semanas para produtos que tenham componentes externos. Mas vamos melhorar, encurtando prazos.

É mais uma marca que também funciona como mostra para os clientes de private label. Vale dois milhões de vendas/ano. Não tem uma grande expressão no volume de negócios da Valerius, que anda nos 30 milhões de euros, quase todo exportado.

Como?

Para onde exporta?

Dou-lhe um exemplo. Investimos meio milhão de euros num laboratório, que nos permite fazer internamente testes que dantes tínhamos de enviar para o laboratório externo. Aqui estamos a ganhar tempo.

Cerca de 99% da produção para a Europa. Trabalhamos na proximidade. O mercado natural da nossa ITV é o europeu. Os mercados emergentes não são para nós.

Qual é o lead time da Valérius?

A grande aposta da Valérius é no private label ou nas marcas próprias?

Temos cerca de 60 clientes de private label high cost, marcas como a Max Mara, Moschino ou Cos. As marcas próprias são uma mostra para os clientes. Os especialistas em marketing gostam muito de marcas. Mas eu sou um industrial. Digo sempre o mesmo aos nossos clientes: preocupem-se em vender, entreguem aqui a vossa produção, que nós encarregamo-nos do resto. Deixou cair a Onara, mas no entretanto está a construir outras marcas, como a Sucre et Sel, Ballentina, Green Wish ou Concreto...

Usamos as marcas como mostruário e para aumentar a nossa

Quais são as grandes tendências no mercado da moda?

A crise mexeu com as pessoas. A emoção não ultrapassa a razão. O consumidor final está cada vez mais exigente e quer encontrar no fitting, qualidade da matéria-prima e corte da peça o valor do preço que pagou por ela. Como é que encara o futuro?

Andamos há dez anos a tornar-nos diferentes dos nossos concorrentes e a identificar os clientes, que transformamos em parceiros. Não há presente sem passado. E sem futuro o presente é muito curto. Vamos continuar neste caminho. Sabemos perfeitamente o que andamos a fazer. Não vendemos roupa. Vendemos moda e sonhos. E queremos continuar a vender muitos sonhos. t

As perguntas de

Lucinda Barbosa CEO da Valérius O que é para ti mais aliciante, Zé Manel, gerir a parte têxtil ou automóvel?

Gosto muito da visão de futuro que é preciso ter para estar na indústria automóvel, mas o meu ADN é têxtil. São setores muito diferentes. O meu sócio no negócio automóvel costuma dizer que se tivesse de viver da têxtil morria todos os dias (risos). Na têxtil todos os dias somos confrontados com dez situações novas e diversas para resolver. Nestes 30 anos, tiveste de tomar decisões difíceis. Se fosse possível voltar atrás as opções seriam as mesmas?

Faria algumas coisas diferentes. Ao longo deste 30 anos, os meus negócios tiveram os seus altos e baixos. O paradigma da têxtil mudou umas dez ou 15 vezes. Aprendi a adaptar-me rapidamente à mudança. Tornei-me um híbrido, que funciona com qualquer tipo de combustível. As minhas maiores vantagens são a capacidade que tenho de me pôr no lugar do outro - de virar o tabuleiro para ver o jogo do outro lado - e de gerir a partir do chão de fábrica, em vez de chamar as pessoas ao meu gabinete para perceber o que se está a passar. t

Teresa Marques Pereira Brands Development Manager da Valérius Como encara o futuro?

Vivemos numa época marcada pela incerteza, por isso é natural que eu tenha medo de falhar e que a minha principal preocupação seja a de não defraudar os nossos parceiros e os nossos colaboradores, mas estou firmemente convencido que estamos no caminho certo e que as pessoas que trabalham connosco acreditam no projeto. No dia-a-dia foco-me sempre no que é importante e nos problemas que estão ao meu alcance resolver. Os outros, espero que o movimento de rotação da Terra os solucione... : -). Em meio século de vida já realizou muita coisa. Ainda tem algum sonho que lhe falte concretizar?

Gostava de ter um restaurante, que fosse também um centro de negócios. É um sonho que tenho desde miúdo, que pode não se tornar uma realidade e deve ter a ver com o facto do meu pai ter sido cozinheiro. Na indústria, a minha ambição é deixar um legado, uma marca de qualidade, o que penso estarmos a conseguir. Acredito muito e sinceramente no futuro da nossa indústria têxtil. t


Setembro 2017

T

25


26

T

Setembro 2017

6

FEIRAS

A

AGENDA DAS FEIRAS MOMAD 01 a 03 Setembro - Madrid Blackspider by Cristina Barros, Collove, Concreto, Cristina Barros, Givec, Toperla, Litel, Maloka, Vandoma, VB Creations, Averse, Lion of Porches, Copmoda 1836 MUNICH FABRIC START 05 a 07 Setembro - Munique A. Sampaio & Filhos, Albano Morgado, Conquista, Gierlings Velpor, Familitex, Imprimis by Gulbena, J. Areal, João & Feliciano, Luís Azevedo & Filhos, M.M.R.A., Paulo de Oliveira, Penteadora, Riopele, Sanmartin, Sidónios Knitwear, Somelos, Teias de Lona, Tessimax, Texser, TMG MUNICH APPAREL SOURCE 05 a 07 Setembro - Munique Bergand, Consifex, Febratex, Filaments, JTrade, Lopes & Carvalho, SM Senra, Top Trends POZNAN FASHION FAIR 05 a 07 Setembro - Polónia Cristina Barros, Kallisson, Bagoraz et Le Cabesta, BUIG MAISON & OBJET 08 a 12 Setembro - Paris Burel, Byfly, Carapau Portuguese Products, Devilla, Ditto, Fábrica de Tecidos Carvalho, Laboratório D'Estórias, Maria Paperdolls, Têxteis Iris, TM Collection WHO'S NEXT 08 a 11 Setembro - Paris Averse, Concreto, Kalisson, Litel, Luís Buchinho, Maloka, Pé de Chumbo, TA RHO Trading Europe PREMIÈRE VISION 19 a 21 Setembro - Paris A. Sampaio, Acatel, Albano Morgado, Familitex, Joaps, Lemar, LMA, Luís Azevedo, Lurdes Sampaio, NGS Malhas, Tojal, Sidónios Malhas, Tintex, Troficolor, Adalberto Estamparia, Gierlings Velpor, Paulo Oliveira, Penteadora, Riopele, Somelos, Tessimax, TMG Yarns: MAF, SMBM Accessories: Idepa Knitwear: A. Ferreira & Filhos, Malhas Carjor, Orfama Manufacturing: A.J. Gonçalves, Custoitex, J. Caetano, Raith, Soeiro, Squarcione, Triwool INTERGIFT 20 a 24 Setembro - Madrid Dilina, Filipe Nogueira, Dolcecasa, Lordelo, Têxteis Íris, Rio Sul, Sun City Ibérica

FROM PORTUGAL ESTREIA-SE EM COPENHAGA

O projeto From Portugal foi pela primeira vez à CIFF, em Copenhaga. A capital dinamarquesa recebeu cinco empresas portuguesas: a Misci e a Averse, presentes no pavilhão principal da CIFF, e a Blake, a Miel à Moi e a RAP, que participaram na CIFF Kids. Maria Fernandes, da Miel à Moi, diz ter dado um passo importante na conquista dos mercados do norte da Europa: “Não falamos com muitos clientes finais, mas em princípio conseguimos um agente local, que era aquilo que estávamos à procura”, refere. t

TINTEX MOSTROU-SE NA PV EM NY Foi na Premiére Vision nova-iorquina que a Tintex escolheu mostrar ao mundo a sua nova imagem. Para além da empresa de Vila Nova de Cerveira, a comitiva portuguesa no certame era composta por Albano Morgado, A Têxtil de Serzedelo, Idepa, Lemar, Orfama, Sidónios Malhas e Triwool. Ricardo Silva, head of operations na Tintex, faz um balanço muito positivo da participação. “Foi sem

dúvida uma aposta ganha – as pessoas passavam, adoravam a imagem e não contavam que tivéssemos certo tipo de produtos. Não sabiam que havia empresas têxteis tão avançadas em Portugal”, diz. O grande evento de apresentação da nova imagem, mais clean e objetiva que a anterior, está reservado para a “feira mãe”: a Premiére Vision em Paris, marcada de 19 a 21 de Setembro. t

INIMIGO É SEMPRE FELIZ EM LAS VEGAS A Beppi, a Inimigo Clothing, a Xisocho/Katty Xiomara e a !WHY BLACK? foram as quatro marcas que, com o apoio da Selectiva Moda, foram à Magic, em Las Vegas, a par da Averse, que também marcou presença no certame.

A participação contínua nesta feira - a maior do mundo da moda nos Estados Unidos da América - tem como objetivo a afirmação destas marcas no outro lado do Atlântico. “O mercado americano já representa para nós cerca de

50% do volume da faturação, sendo que poderá a curto prazo passar para números mais elevados”, refere Simão Soares, o sales manager da Inimigo Clothing – empresa que participou, pela sexta vez, neste certame. t

A 8a VEZ DA SANMARTIN NA MILANO MODA Aconteceu em Julho a 25ª edição da Milano Moda, que contou com meia dúzia de empresas portuguesas, quatro delas apoiadas pela Associação Selectiva Moda: a Albano Morgado, a J. Areal, a Lemar e a Sanmartin. A Sanmartin foi pela oitava vez ao salão, com o objetivo de encontrar novos clientes e impor-se como um player importante no setor da moda e da alta-costura internacional; na mala levou rendas, bordados com

pedrarias, tules bordados, guiupures, jacquards, aplicações e estampados que já a caracterizam, numa coleção “cosmopolita”. Já a Lemar mostrou aos italianos uma coleção mais descontraída, recheada de tecidos laminados, com colagens, novos acabamentos e estampados, com riscas pesadas que irão encher as praias no próximo ano. O objetivo, segundo Fátima Silva, passou por angariar novos contactos e aumentar o volume de negócios dos atuais clientes. t


Setembro 2017

T

27


28

T

Setembro 2017

LOUIS VUITTON SÃO MAIS BARATAS EM LONDRES POR CULPA DO BREXIT A Inglaterra é o país do mundo onde fica mais barato comprar uma Louis Vuitton, de acordo com um estudo da Delloite, que atribui ao Brexit a responsabilidade pela pechincha, devido à queda da libra. Comparando o preço da Speedy 30, verifica-se que em Londres esta mala custa 680 euros, que comparam com os 721 euros pagos em Paris, 822 em Nova Iorque e 946 na China.

“Não temos de ser humildes para sempre. Por que é que nós, se produzimos bem, temos receio de colocar um preço como deve ser no mercado? Se não somos colocados entre os turcos e os italianos. E o que queremos? Subir, ultrapassar ou ficar neste limbo?” Paulo Melo presidente da ATP

O Fashion From Portugal teve um espaço próprio na Formex, em Estocolmo, onde expôs produtos nacionais de lifestyle

O AGOSTO TRANSATLÂNTICO DO FASHION FROM PORTUGAL O programa Fashion From Portugal (FFP) fez, em Agosto, duas ações de charme no âmbito dos têxteis-lar e decoração – a primeira foi na NY Now, que decorreu entre 20 e 23 de Agosto, em Nova Iorque, e a segunda em Estocolmo, na Formex, de 23 a 26 desse mês. Acompanhando a Bovi, a Freitas&Dores, a Graccioza e a Burel Mountain Originals até Nova Iorque e a Mèzë, a Little Nothing, a Nieta Atelier e a Burel Mountain Originals em Estocolmo, todas apoiadas pelo projeto From Portugal, o FFP quis transmitir a ambos os mercados que a têxtil portuguesa está boa e recomenda-se. Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, explica que estas ações têm como objetivo “expressar aos outros mercados que o setor têxtil nacional está forte e ativo,

mais assente na moda e na tecnologia”. Para isso, realizaram-se fóruns de apresentação de produtos portugueses e ações mais formais, com direito a cocktail, a porto tónico e ao típico pastel de nada, aliando a moda à gastronomia. Na Suécia, tal como explicou Paulo Vaz, o objetivo passa por voltar a conquistar os mercado do norte da Europa: “Nós já tivemos uma forte presença nos mercados nórdicos e, neste momento, temos potencial para crescer. O grande objetivo é a reconquista da quota que tínhamos antigamente, agora lutando de uma forma diferente: antes competíamos pelo preço, agora pelo valor”. A próxima ação do Fashion From Portugal faz-se agora em terras lusas, no Modtissimo, nos dias 3 e 4 de Outubro. t

BREXIT?!?! MAS O QUE É ISSO...? Brexit ?!? Que é isso? No início do verão, um número recorde de 28 exportadoras fez uma ofensiva no mercado britânico, apresentando os seus produtos em três diferentes certames na capital britânica: a London Textile Fair, Pure London e Bubble. Na London Textile Fair, perante um público maioritariamente britânico (80% dos visitantes), estiveram 14 empresas portuguesas. Para a Albano Morgado, uma das habitués na comitiva From Portugal, o balanço final foi muito positivo: “Para além da grande animação e elevado número de visitantes, sub-

linho a excelente qualidade de visitantes”, realça o empresário, acrescentando ainda que o Brexit não parece estar a trazer consequências negativas para o negócio, admitindo até um potencial aumento no futuro. Foi com um sorriso de orelha a orelha que as seis empresas portuguesas saíram da Pure London. Porquê? “Um número de visitantes nunca antes registado e, como já referenciado pela organização, a melhor feira dos últimos anos”, responde Joaquim Cunha, da Blackspider by Cristina Barros, acrescentando que o resultado

final esteve “acima das expectativas”. Cristina Barros, Dinamic Mancha, Litel, Misci e Vandoma foram as restantes empresas lusas presentes. A Bubble London recebeu oito marcas infantis portuguesas: Blake, Bo Bell, Bogoleta Couture, Chua, Dot, Dr Kid, Phiclothing e Rap. “Aliamos a irreverência das nossas peças à marca de qualidade dos têxteis do norte de Portugal. A nossa primeira preocupação é garantir a qualidade dos materiais utilizados e a unicidade de cada peça”, explica Mariana Santiago, da Blake, uma estreante na Bubble. t

PREMIADOS NO PFN NO MUSEU DO TRAJE As peças de criadores premiados no concurso PFN (Portuguese Fashion News) integram a exposição “2 em 1: Jovens e Criadores” que está patente até 1 de Outubro no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, e se integra nas comemorações dos 40 anos desta instituição.

LUZ É O TEMA DA PRÓXIMA MODALISBOA A luz é o tema da próxima edição da ModaLisboa agendada para 5, 6 e 7 de Outubro. O segundo dia terá um desfile conjunto de dez de jovens criadores (Alexandre Pereira, Carla Campos, Daniela Pereira, David Pereira, Federico Cina, Filipe Augusto, Ivan Almeida, Rita Afonso, Rita Carvalho e Rita Sá) no âmbito do projeto Sangue Novo.

ASOS E TARGET NÃO APAGAM AS ESTRIAS DAS MANEQUINS A Asos deixou de fazer photoshop e nas fotos onde as manequins estão de lingerie podem ver-se as estrias e marcas dos elásticos das peças, que usualmente são corrigidos depois das sessões fotográficas. A marca britânica não está sozinha. Na sua última campanha, a Target também fugiu dos retoques digitais e assumiu o corpo dos modelos, tal e qual como foram fotografados.

8%

foi a queda verificada em 2016 nas importações europeias de vestuário da China. As importações do Sri Lanka também recuaram 8%. Mas registaram-se crescimentos nas compras noutros países asiáticos, como a Birmânia (+61%), Camboja (+14%), Paquistão (+8%) e Vietname (+7%)


Setembro 2017

T

29

REFIVE DESEMBARCA EM ESPANHA NA PRIMAVERA 2018 vai ser o ano do grande salto em frente da Refive, com a abertura das primeiras lojas próprias “irão vestir os portugueses da cabeça aos pés” promete Rui Silva, responsável pela nova marca de moda, que irá, em certa medida, fazer concorrência à Gant do seu irmão Pedro, o CEO do grupo Ricon, fundado por Américo, o pai de ambos os empresários. As ambições de curto prazo não se vão deter na fronteira. Para a primavera do próximo ano está previsto o desembarque em Espanha da Refive, que Rui Silva define como “uma marca de casual wear com um twist de sofisticação revivalista, que combina design, tendências de moda e qualidade superior com preços médios. Nascida há um ano na freguesia de Vilarinho das Cambas, a Refive Distribuição de Moda, conta com 11 colaboradores e subcontrata toda a produção a empresas portuguesas e, mais precisamente, de Vila Nova de Famalicão. Por detrás desta marca casual chic, para homem e mulher, dos 25 aos 50 anos, estão pessoas que conhecem bem a indústria têxtil e do vestuário e o mercado da moda, não só Rui mas também o seu pai Américo Silva, que fundou a Ricon

em 1973, que dá uma ajuda como consultor estratégico, aportando os conhecimentos e experiência acumulados durante cerca de 40 anos no negócio. A Refive já está presente em 75 pontos de venda multimarca em Portugal continental e ilhas. Ultrapassado o primeiro objetivo, a marca está a dar o segundo passo na sua estratégia, prevendo para Março de 2018 o início da internacionalização, com a entrada em Espanha. “A nossa ambição de ultrapassar fronteiras é clara, fundamental para conseguirmos ganhar dimensão, mas ao mesmo tempo muito pensada e ponderada. Espanha é um prolongamento natural de Portugal e depois avançaremos para França”, garante Rui Silva. “Sendo uma marca nova, num mercado altamente competitivo, havia aqui alguns pontos de interrogação que era importante ultrapassar”, referiu o diretor financeiro, Pedro Pinho. “Em Portugal, no que toca a pontos de venda, estaremos a 85% da capacidade limite, não em volume de vendas – havemos de lá chegar –, mas em número de clientes”, conclui. t

A NOVA REALIDADE DA ITV EM 3M10S A nova realidade da ITV portuguesa está resumida num vídeo de 3m10s, em duas versões (português e inglês), que está no You Tube e em todas as redes sociais. “O bem sucedido turn around do nosso setor está a despertar uma grande curiosidade a nível internacional”, explica Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, responsável pelo vídeo, produzido pelo CITEVE e que se insere na campanha internacional de imagem Fashion From Portugal.

CUNHA GUIMARÃES NO MUSEU TÊXTIL Uma exposição homenagem ao industrial Francisco Inácio da Cunha Guimarães (1864-1947) está patente até Abril de 18 no Museu da Indústria Têxtil, em Famalicão, que comemora 30 anos de vida. Comendador da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial, Cunha Guimarães desempenhou um papel fundamental na industrialização da Bacia do Ave, tendo sido dono de várias fábricas entre Guimarães e Famalicão. A entrada na exposição é gratuita (10h00-17h00, de 3ª a 6ª feira, 14h3017h30, sábados e domingos).


30

T

Setembro 2017

A FASHION FORWARD Por: Juliana Cavalcanti

Moda sim, mas sustentável

MEDALHAS PARA BRAZ COSTA E VILA NOVA A Câmara de Famalicão atribuiu a medalha de mérito municipal económico ao empresário António Vila Nova, CEO da Tiffosi, e a Braz Costa, diretor-geral do CITEVE e CEO do CeNTI.

“Na Hermès não há marketing” Alex Dumas CEO da Hermès

NORTENHA: HOMENS COMPRAM MAIS ROUPA O segmento homem é o que menos pesa nos 10 milhões de euros que a Têxtil Nortenha vende, mas é também o que está a crescer mais. “Os homens estão a comprar mais roupa”, explica Inês Branco. Metade do volume de negócios da Nortenha é feito com roupa de senhora e 30% com criança. O vestuário masculino vale os restantes 20%.

Um dos factos mais assustadores que ouvi nos últimos tempos sobre a indústria da Moda ser a segunda indústria mais agressiva para o meio ambiente no mundo – só atrás da indústria do petróleo. Sim, este mercado com o qual trabalho e sou uma apaixonada está a causar danos inimagináveis no mundo. Foi depois de ler sobre alguns destes dados que comecei a pesquisar mais e fiquei mesmo assustada com a dimensão do problema (se tiver interesse em saber mais, veja o filme “The True Cost” – é mesmo um choque de realidade). A questão é que durante toda a cadeia têxtil até chegar ao consumidor final, inúmeros processos extremamente agressivos para o meio ambiente acontecem – desde o uso abusivo de agrotóxicos altamente prejudiciais ao solo e aos seres humanos na plantação das sementes de algodão, o consumo exagerado de água para a produção de uma simples peça, a emissão de inúmeros gases que colaboram para o enorme problema do aquecimento Global, a utilização de matérias primas (tecidos) feitos com fibras plásticas (poliéster, nylon...) que levam mais de 200 anos para se decompor e às custas de muita emissão de gases agressivos ao meio, o excesso de lixo produzido pelo consumo exagerado incentivado pelas grandes casas – especialmente depois do advento das marcas “fast-fashion”... enfim, eu poderia estar aqui a escrever muitas páginas sobre todos os detalhes deste problema que é tão importante nos dias de hoje – quando já chegamos a um ponto quase sem volta se não tomarmos medidas drásticas desde já. Mas não vou me alongar mais na descrição dos problemas – quero trazer coisas boas e positivas para este artigo! Quero incentivar tanto a indústria quanto os consumidores (que tem um peso igual no problema) a tomarem consciência e adotarem medidas possíveis mais sustentáveis! Uma das medidas que uma marca/empresa pode adotar é a busca e utilização de tecidos sustentáveis, ou seja, tecidos que levem fibras naturais orgânicas. Hoje em dia com o desenvolvimento de inúmeras novas

tecnologias neste sector, já é possível encontrar opções com muita qualidade, bom toque e muito bom aspecto! Li alguns artigos há uns dias sobre incríveis tecnologias que conseguiam produzir tecidos cuja matéria prima eram ananás, coco, cana de açúcar e até cogumelos. E sim, o resultado é como se fosse um tecido de muita qualidade feito no usual algodão ou fibras sintéticas. Aquela ideia que moda sustentável tinha aspecto de saco de batata (tudo bege, sem forma e sem glamour) já ficou no passado! Conheço marcas maravilhosas, com peças lindas, que trabalham neste mundo eco-fashion. Cabe a todos nós a tomada de consciência para a mudança de comportamentos que já não cabem no mundo de hoje. O consumo desenfreado sem pensar na origem daquilo que se está a comprar, sem pensar no impacto que aquela peça ou aquela marca tem no meio, sem pensar nas condições de trabalho que foram impostas, sem pensar no pós-vida da peça e quantos anos ela vai levar para se decompor (e a que custo para o mundo), sem pensar se realmente precisa de mais uma blusa de folhos no guarda-roupa ou de mais uma calça de ganga, o consumo sem pensar de todo é que está completamente fora de moda. Não sou apologista de um mundo sem moda! Não é isso de todo! Sou apologista de uma moda justa, de uma moda limpa, consciente e que volta a valorizar a beleza e o ser humano sem precisar causar tanto dano ou sofrimento. Sou apologista da conscientização do consumo – pois poucos sabem que na verdade o poder está deste lado, nas mãos do consumidor. É possível criar e fazer mercado com novos comportamentos. Pode dar algum trabalho extra e exigir algum investimento de tempo e financeiro. Mas já nem digo que vale a pena. Digo que é essencial. Por isso deixo aqui alguns bons exemplos em imagens de peças lindas vindas de marcas altamente sustentáveis – e com muito sucesso no mundo – para mostrar que é possível aliar sustentabilidade ao negócio! Vamos nos inspirar pois amamos moda e queremos continuar nesta relação de forma saudável! t

5,4

milhões de pessoas seguem Sara Sampaio no Instagram

AMR EQUIPA HOTEL ESTELAR DE CARTAGENA DAS ÍNDIAS A AMR forneceu os têxteis-lar para o Estelar de Cartagena das Índias, um hotel com 355 quartos, distribuídos por 56 andares, que fazem dele o maior edifício daquela cidade colombiana celebrizada por Gabriel Garcia Marquez.


Setembro 2017

T

31

TUDO SOBRE MODA, Á DISTÂNCIA DE UM CLIQUE!

WWW.PORTALDEMODA.PT


32

T

Setembro 2017

15 milhões

foi quanto investiu em tecnologia o grupo Paulo de Oliveira nos últimos três anos

A primeira fábrica de fiação do país (Fábrica do Rio de Vizela) vai renascer como centro de logística e distribuição da Hotelar

FÁBRICA DO RIO VIZELA RENASCE COM HOTELAR José Augusto Moreira

A primeira fábrica de fiação do país, a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, fundada em 1845, vai renascer da ruína pela mão da Hotelar Têxteis, que ali vai criar o seu novo centro de logística e distribuição. O projeto de recuperação é da responsabilidade da Ad Quadratum Arquitectos, cuja proposta passa por preservar e valorizar a relevância histórica e arquitetónica do centenário complexo que integra a Rota do Património Industrial. A Hotelar é líder de mercado em Portugal no fornecimento de têxteis para o setor hoteleiro, ginásios, spa e restauração, tendo no ano passado equipado cerca de metade das novas unidades que abriram portas no nosso país. A empresa foi fun-

dada em 1995 e nasceu com o objetivo de consolidar a experiência de outras marcas e empresas, conjugando a tradição e conhecimento acumulados desde meados do século passado. Com o foco na especialização nos têxteis para o setor do turismo, tornou-se nestas duas décadas a maior e mais completa da Península Ibérica nesta área, graças à qualidade e diferenciação dos produtos, prazos de entrega sem concorrência e também preços competitivos. Roupa de banho, com grande variedade de felpos, roupões e chinelos, roupas de mesa com coleções únicas em artigos de linho e as mais diversas soluções em roupas de cama estão armazenados para entrega imediata no atual centro de logística e distribuição da Hotelar, que também recuperou uma velha unidade fabril na outra

margem do rio Ave, em Oliveira Santa Maria, Famalicão. Todos os artigos são também produzidos segundo especificações dos clientes. Quanto às instalações da Rio Vizela, é preciso recuar quase dois séculos até à abertura da “Sociedade de Fiação de Visella”, em Setembro de 1845, em Negrelos, Santo Tirso, junto ao rio Vizela já na zona de confluência com o Ave. Em meados do século passado chegou a ter uma área superior a 9 km2 e mais de 3 mil operários, alimentando 31.624 fusos e cerca de 1.200 teares em funcionamento. A sua atividade chegou a alargar-se às antigas colónias, com feitoria em Angola e contactos em Moçambique, e foi uma da mais emblemáticas da história da têxtil nacional e responsável pela chegada do caminho de ferro até Negrelos. t

FATEBA JÁ VAI EM 28 TEARES A Fateba investiu 250 mil euros em dois novos teares, aumentando assim para 28 o seu parque industrial, especializado em toalhas feitas em jacquard... “As toalhas de mesa jacquard são o nosso principal produto. Chegamos a fazê-las com oito cores, embora o normal seja entre quatro a seis cores“, contou António Leite, export manager e um veterano com 42 anos de empresa, durante uma visita à Fateba, realizada no âmbito do Guimarães Fashion Home Week. Além da unidade industrial de que dispõe em Barreiro, a Fateba, que faz também panos de cozinha e turco atoalhado, trabalha

com mais cinco ou seis fábricas. Com 100 trabalhadores, a empresa fechou 2016 com um volume de negócios superior a cinco milhões de euros, 97% dos quais feito na exportação (89% Europa, e 8% EUA ), sendo que 20% são com marca própria (Fateba). Narciso Pereira Mendes e Herdeiros é o nome original desta empresa, que já tem na administração a terceira geração da família. O nome e a marca Fateba surgiram por uma questão de marketing, resultando da junção das iniciais das palavras Fábrica de Tecidos do Barreiro - o nome do lugar de Guimarães onde se instalou há mais de 60 anos. t

ETIÓPIA É QUEM VAI CRESCER MAIS EM 2017

6 DIAS INVESTE EM ARMAZÉM SUSTENTÁVEL

A Etiópia é o país do mundo que mais vai crescer este ano, de acordo com o Global Economy Prospects, do Banco Mundial. O investimento público em infra-estruturas e um boom no setor da energia explicam a previsão de crescimento de 8,3% do PIN estimado para 2017. A média mundial do crescimento deverá ser 2,7%.

No próximo ano, a 6 Dias vai recuperar um antigo armazém das suas instalações e transformá-lo num armazém auto-sustentável. Fundada há dez anos numa garagem, a empresa fechou 2016 com um volume de negócios de sete milhões de euros, exporta 90% do que produz, e prevê crescer este ano entre 10% a 15%.

PROJETO INTER-TEX LANÇA MARCA MADE IN EUROPE Lançar uma marca conjunta “made in Europe” foi a decisão mais saliente do encontro que reuniu em Guimarães as associações empresariais do setor têxtil e vestuário das regiões da Catalunha, Valência, Galiza, Sudoeste de França e Norte de Portugal envolvidas no projeto Inter-Tex.

"A nível de tecnologia queremos estar sempre na linha da frente" Cristina Galvão administradora da Villafelpos

TEARFIL COMPRA MÁQUINA QUE DETETA DEFEITOS E IMPUREZAS A Tearfil comprou uma máquina que elimina logo à partida todos os defeitos e impurezas do algodão, separando fibras defeituosas e eliminando contaminações. “O novo equipamento permite fazer a separação das fibras estranhas e eliminar as contaminações da matéria-prima. A sua depuração melhora a eficiência nos processos a jusante da fiação e aumenta os padrões de qualidade do fio e dos produtos”, refere um porta-voz do grupo MoreTextile.

HELIOTEXTIL A CAMINHO DE TER DUAS PATENTES Cruzar a eletrónica com os têxteis tradicionais é a receita da Heliotextil para o sucesso, que pode ser medido por ter em processo de registo duas patentes de tecnologias que desenvolveu internamente - diz o Expresso, que dedica uma página do caderno Economia, à história e projetos desta empresa de S. João da Madeira que iniciou a sua vida, em 1964, a fabricar coisas tão triviais como fitas, elásticos e etiquetas.


Setembro 2017

T

33

Agora também pode comprar online! Na nossa loja vai encontrar uma vasta gama de produtos gráficos, com preços muito competitivos e total garantia de qualidade. Cartões, Postais, Monofolhas, Flyers, Cartazes, Desdobráveis, Catálogos, Revistas, Etiquetas, Autocolantes, Displays de Balcão, Porta Folhetos, Quadros em Tela Canvas, Impressão Digital de Grande Formato,...

Verificação de ficheiros grátis Entrega grátis em Portugal Continental Linha de apoio ao Cliente

visite-nos em www.multitemaonline.pt


34

T

Setembro 2017

PETRATEX FORNECE 159 MARCAS DE MODA A NÍVEL MUNDIAL A Petratex fornece 159 marcas de moda a nível mundial, tem 900 máquinas, emprega quase 600 colaboradores e tem um volume de negócios superior a 70,5 milhões de euros - revela a Exame num artigo sobre a empresa de Paços de Ferreira que emergiu do anonimato ao ter sido uma das responsáveis pelo LZR da Speedo que ajudou Phelps a conquistar oito medalhas de ouro nos Jogos de Pequim.

"Acho que a marca Portugal vai valer cada vez mais. Sobretudo quando chegar ao mainstream que os chineses andam a comprar fábricas em Itália" Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, guiou a visita de Paulo Cunha, presidente da Câmara de Famalicão às obras em S. Cosme

TMG AUTOMOTIVE PASSA DOS 100 MILHÕES O volume de negócios da TMG Automotive passará claramente a fasquia dos 100 milhões de euros no próximo ano na sequência da entrada em operação, em Janeiro, da nova linha de recobrimento. Esta nova linha, que está a ser montada em S. Cosme, nas instalações de uma antiga fiação (25 mil m2) do grupo TMG, implica um investimento total de 45,5 milhões de euros e dará emprego a 160 pessoas. Além da nova linha de produção da TMG Automotive, a velha unidade fabril, fundada há 80 anos por Manuel Gonçalves, vai assistir à renovação do parque de máquinas da TMG Tecidos, o que eleva o investimento para 52,2 milhões de euros.

A TMG Automotive tem atualmente 540 trabalhadores e deverá fechar o ano com uma faturação de 98 milhões de euros. Com a nova linha, prevê atingir 130 milhões de euros de volume de negócio em 2020. Entre os seus principais clientes estão a BMW, Mercedes, Toyota, Volvo, Mini, Porsche, Jaguar e Lamborghini, estando o novo investimento diretamente ligado a um novo contrato firmado com a Mercedes no final do ano passado. A TMG Automotive há muito que esgotou a capacidade produtiva instalada na fábrica de Campelos, Guimarães, e com o novo contrato garantiu o fornecimento até 2026 dos componentes plásticos para os modelos que vão sair da nova

plataforma de produção de veículos de tração à frente da construtora alemã, de onde saem os modelos Classe A, B, GLA e CLA. A empresa investe em i&d entre 4% a 6% do seu volume de negócios, sendo que 26% dos produtos da TMG Automotive têm origem em projetos de inovação. Com as novas instalações a empresa prevê o aumento da produção de 15 para 20 milhões de m2. “Em Famalicão vamos produzir 5 milhões de m2 com uma nova linha de recobrimento. Até ao final do ano vamos criar, pelo menos, 160 postos de trabalho, acima dos 151 que constam do projeto de investimento”, explicou a CEO Isabel Furtado. t

PIZARRO RECICLA AS ÁGUAS A Pizarro tem em curso um projeto inovador de reutilização de águas no processo produtivo, que além de respeitar o meio ambiente lhe permitirá fazer grandes poupanças de recursos. “É um projeto do melhor que há no mundo”, garante Vasco Pizarro, acrescentando que se trata de um tratamento especificamente desenhado para águas usadas na lavagem de jeans. O tratamento permite que as mesmas águas serão reutilizadas durante um mês a fio. Numa primeira fase, irá abranger nove das 27 máquinas da Pizarro. A sustentabilidade é uma das preocupações permanentes desta empresa de acabamentos de Guimarães, que foi pioneira ao desenvolver uma lavagem 100% ecológica, batizada Icelite, que combinada com outros dois processo (ozono e laser) resulta numa poupança de 70 litros por peça. Desenvolvida em parceria com um fabricante ita-

liano de máquinas, o Icelite é uma solução de engenharia que permite um processo alternativo ao uso de químicos na obtenção do efeito esbranquiçado na lavagem de jeans. Em concreto, o Icelite consiste na substituição por um jato de gelo seco, a 70 graus negativos, projetado a alta pressão sobre os jeans, de uma solução de água com permanganato, que é nociva para o meio ambiente. “O único inconveniente deste processo ecológico é ser 10% a 15% mais caro que o tradicional, pois o CO2 não é barato. Se o Icellite fosse usado em todas as lavagens pouparíamos 280 milhões de litros de água por ano”, afirma Vasco, acrescentando que a Pizarro tem em cima da mesa um projeto de investimento que permitiria baixar o preço do processo CO2 - que passaria pela instalação de torres de refrigeração nas chaminés da fábrica para reaproveitar o CO2. t

Miguel Pedrosa Rodrigues administrador da Pedrosa & Rodrigues

FILLIPA K ESCOLHE TINTEX

FIFITEX E SUSANA JUNTAS

A marca nórdica de moda Fillipa K escolheu confecionar a sua coleção primavera/verão com lyocell sustentável produzido pela Tintex. “Naturally advance” é a nova assinatura da empresa de Cerveira, que vai estar na Munich Fabric Start, onde o CEO Mário Jorge Silva apresentará a Tintex Collection - que usa um mínimo de 60% de materiais sustentáveis.

A Fifitex é a fornecedora oficial de fios para todas as criações da estilista Susana Bettencourt, uma parceria que, de acordo com a fiação de Guimarães, tem como valores partilhados pelas duas marcas: elevada qualidade, inovação e criatividade. A coleção primavera-verão 2018 (SS18) de Susana Bettencourt, que vai ser apresentada este mês, em Paris, e no Portugal Fashion, em Outubro, já está a ser produzida com fios Fifitex.

REEBOK PROJETA SAPATILHAS COM A SOLA DE MILHO Cotton + Corn é o nome do projeto da Reebok de construir umas sapatilhas 100% recicláveis, com a sola biodegradável feita à base de milho e o tecido em algodão orgânico. “Queremos completar o ciclo natural: do pó ao pó”, explica Bill Mclnnis, o líder da Reebok Future, que está a trabalhar com a DuPont Tate & Lyle Bio, que já produz um composto flexível (tipo borracha) biodegradável a partir do milho, substituindo plásticos e derivados do petróleo.

2A EDIÇÃO DO MODA MAR INAUGURA EDIFÍCIO DA REAL VINÍCOLA As roupas de Katty Xiomara, Júlio Torcato e Alexandra Oliveira (Pé de Chumbo) foram os estrelas da 2ª edição do Moda Mar, que marcou devolução do edifício da Real Vinícola (que vai receber a Casa da Arquitetura) à vida de Matosinhos.


Setembro 2017

T

35


36

T

Setembro 2017

10 milhões

de botões/dia são produzidos pela Louropel, na fábrica em Famalicão

SEAB2 DA DAMEL PATENTEADO NOS ESTADOS UNIDOS A Damel acaba de receber o título de registo de patente nos EUA do SeaB2, um blusão com sistema de insuflação integrado, que recebeu o prémio Inovatêxtil. O blusão insuflável já foi apresentado à NATO e tem diversos mercados - Marinha, vela, pesca, construção naval, montagem de parques eólicos offshore, trabalho em plataformas petrolíferas offshore, etc. “Para cada função e hemisfério, os modelos são adaptados, tanto ao nível do isolamento como das características especiais dos tecidos”, explica Vítor Paiva, CEO da Damel. Vitória foi o tema da primeira coleção de senhora da marca CopModa 1836, que agrupa diversas empresas do concelho

PAÇOS DE FERREIRA NÃO É SÓ MÓVEL Raposo Antunes

Já é conhecida como a capital do móvel. E é. Basta ver os números: mais de cinco mil empresas e um volume de negócios de mil milhões de euros. Agora Paços de Ferreira quer também dar o grande salto em frente no setor têxtil. Com o apoio da autarquia, foi criada uma marca - a CopModa 1836 - comum, para já, a mais de uma dúzia de empresas têxteis ali sediadas, para facilitar a internacionalização do setor. O primeiro passo é a presença em Madrid, no início deste mês, com um stand na Momad. O projeto CopModa 1836, marca comum de peças produzidas por uma dúzia de empresas da fileira da moda do concelho de Paços de Ferreira (Confeções TM, Youngstar, Irmãos Meireles, Crialme, Epinet e Givachoise, entre outras), resulta de uma iniciativa da empresa municipal Moveltex, tendo dado o pontapé de saída com a apresentação da primeira coleção da nova marca de vestuário em Julho numa gala, no Salão Nobre dos Paços de Concelho de Paços de Ferreira. Vitória (um apelo ao romântico e feminino, inspirada na era Vitoriana e interpretada à luz da atualidade), foi o tema da primeira coleção Senhora, da autoria da jovem designer Ana Cunha. A coleção Homem, proposta pelas empresas, segue uma tendência que varia entre o clássico jovem e uma linha ca-

sual chic, com uma maior versatilidade. De salientar ainda a linha de malas e calçado, fabricada em Felgueiras e S.João da Madeira. José Vinha, diretor de imprensa da Câmara de Paços de Ferreira, explica que o objetivo da autarquia com a iniciativa CopModa 1836 é ajudar um setor que no concelho tem 168 empresas, representando 21% do emprego e 1,8% das empresas de vestuário a nível nacional. “Temos aqui o 8 e o 88”, explica. O “88” é a Petratex que emprega 800 pessoas e tem como ícones o trabalho que faz para a NASA e o fato de banho com que competia Michael Phelps, o nadador norte-americano mais medalhado de sempre. Já agora o “8” são empresas de uma outra escala. Executam aquilo que os clientes estrangeiros lhes pedem para fazer. “Dão apenas a mão-de-obra. O tecido e o design também são

CopModa 1836 é a marca comum a peças produzidas por diversas empresas de Paços de Ferreira. estreou-se fora de portas, na Momad, em Madrid

opções dessas marcas estrangeiras”, diz Vinha. A questão que se colocou assim a esta câmara dirigida por Humberto Brito foi esta: “Se nos móveis conseguimos a internacionalização do concelho porque não fazê-lo também com o vestuário?”. Esse upgrade começou pela criação de uma marca própria – a CopModa 1836, sendo que o Cop remete para cooperação e 1836 para o ano da fundação do concelho. Criada a marca, o passo seguinte da autarquia foi registá-la, o que já está também feito. A autarquia, de resto, responsabiliza-se também pelos custos do design dos produtos que venham a ser produzidos e pelo aluguer dos stands para participar nas feiras nacionais e internacionais. “No fundo funcionamos como uma espécie de incubadora municipal que alavanca a marca à qual uma série de empresas, que vão desenvolver e produzir o vestuário, estão associadas”, acrescenta Vinha. A indústria têxtil do concelho produz para marcas de renome internacional, como Burberry, Hugo Boss, Paul Smith, Lion of Porches, Massimo Dutti, Marie Chantal, Givenchy, Louis Vuitton, Max Mara, Golfino, Dior, Nina Ricci, entre muitas outras..., possuindo o know-how, a qualidade e a experiência necessárias para uma afirmação internacional, através da criação de uma marca própria produzida pelas empresas de Paços de Ferreira. t

BELEZA EM CELORICO DE BASTO

OLBO & MEHLER COM ARMAZÉM EM CHARLOTTE

A Confecções Beleza está a investir meio milhão de euros em novas instalações no Parque Industrial de Basto, em Celorico de Basto. “Trabalhamos com malhas e já estava na altura de darmos este salto. É o momento certo.Temos o apoio do município na formação dos trabalhadores, o que é fundamental, uma vez que costureiras formadas há poucas e as que existem estão a trabalhar”, explica Amélia Meireles, gestora da Confecções Beleza.

A Olbo & Mehler quer vender 16 milhões de euros nos EUA até 2020, o que implica duplicar o valor atual (oito milhões de euros). A empresa dirigida por Alberto Tavares abriu em Janeiro um armazém em Charlotte, na Carolina do Norte, que lhe permite distribuir o produto por clientes com encomendas inferiores a um contentor. Os Estados Unidos representam atualmente 15% do volume de negócios da empresa que vendeu 52 milhões de euros em 2016.

"Nem sempre é fácil recrutar o número mínimo de candidatos, mesmo para cursos remunerados" Ana Paula Rafael CEO da Dielmar

CORDEIRO, CAMPOS COM STEP NÍVEL 3

A Cordeiro, Campos & Cª recebeu no CITEVE o nível 3 do certificado STeP by OEKO-TEX®, o nível mais alto desta certificação. O diploma foi entregue por Braz Costa e Maria José Carvalho (CITEVE) e Ana Paula Dinis (ATP), responsável pelo Projeto Green Textile Club. Em nome da empresa estiveram José Augusto Santos, Carolina Campos, Mário Campos, Anabela Carvalho Campos, Gilberto Santos e Laurinda Campos.


Setembro 2017

T

37

M EMERGENTE Por: Jorge Fiel

Daniela Pais Designer e empresária da Elementum Família Casada com o designer holandês David Luxemburg, têm três filhos: Eden, Daan e Tamara Formação Curso de Moda da Faculdade de Arquitetura de Lisboa, mestrado em Design Sustentável e Social pela Academia de Design de Eindhoven Casa Vivenda nas Caldas da Rainha Carro Toyota Aygo (“já não cabemos todos lá dentro…”) Portátil Mac Telemóvel Samsung S6 Hóbis Dança contemporânea (mas desde que nasceu a Tamara escasseia-lhe o tempo…) Férias ”Dantes a rotina era vir a Portugal nas férias, à emigrante. Este ano vamos acampar, não sei ainda bem onde” Regra de ouro “Luxo é ter coisas simples, como tempo e espaço”

FOTO: RODRIGO CABRITA

A designer de roupas mutantes Como é que o design pode contrariar a fast fashion, esse brutal desperdício de recursos e agressão ao meio ambiente que consiste em usar uma peça uma ou duas vezes - meia dúzia de vezes no máximo - antes de a deitar fora? Neste ano da graça de 2017, há na fileira têxtil um montão de gente preocupada (ou que pelo menos aparenta estar...) com o fenómeno fast fashion e empenhada em dar resposta a esta pergunta. Sustentabilidade, respeito pela ambiente, reciclagem, têxteis verdes e economia circular estão agora na ponta da língua de quase toda a gente. Contudo, estas palavras e conceitos estavam ainda muito longe de entrar na moda quando, há um dúzia de anos, Daniela Pais resolveu fazer as malas e montar o seu quartel general em Eindhoven, cidade escolhida a dedo por ser uma das poucas academias europeias a oferecer um mestrado em Design Sustentável. Mas o melhor será talvez contar a história desde o princípio, recuando até 1978, o ano em que Daniela nasceu em Corroios, na Outra Banda, filha única do matrimónio entre a contabilista de uma agência de viagens e um engenheiro metalúrgico que fez carreira entre a Lisnave a Setenave. Daniela, que está agora nos 39 anos, ainda sonhou ser cientista, “para descobrir coisas”, antes de se decidir ser estilista, vocação que pode ter despertado quando tinha 12 anos e participou (sem sucesso) num concurso de desenhos de Carnaval promovido pela RTP. Fez uma data de testes vocacionais (os pais queriam ter a certeza de que isso do estilismo era mesmo uma vocação a sério e não apenas um capricho passageiro), que deram todos Humanidades ou Artes, antes de se matricular em Design de Moda, um curso de onde trouxe muita bagagem conceptual mas poucos conhecimentos práticos. “Em Portugal separa-se muito a teoria da prática. Os cursos são muito teóricos. A prática aprende-se depois. Na Holanda não é assim”, compara Daniela, que foi muito rápida a aprender, pois pouco tempo depois de concluir a licenciatura já estava a montar uma empresa (Krv Kurva) a partir de uma mala, concebida por ela e Jorge Moita, que ganhou o Prémio Nacional de Design em 2002. A mala, batizada La.Ga, teve um imenso sucesso nacional e internacional (esteve em grande destaque no Pavilhão de Portugal da Expo de Tóquio) mas três anos volvidos, por razões que Daniela não se alonga a explicar, deixou o negócio e emigrou para a Holanda. A Elementum, a marca de moda sustentável que ela tem vindo a construir nos últimos dez anos, é o resultado prático dos seus estudos em Design Sustentável, a tese de mestrado e a resposta à pergunta “Como é que o design pode contrariar o enorme desperdício da fast fashion?” . “Escolhi a palavra Elementum porque todas peças que desenho são elementos que se podem mudar. A mesma peça pode, por exemplo, ser usada como vestido, camisola, cachecol ou colete. É uma espécie de roupa em evolução”, conta Daniela que após ter concluído o mestrado, em 2007, ficou a viver em Eindhoven, de onde retornou apenas em Dezembro passado. “A minha coleção é toda ela fabricada em Portugal e eu precisava de estar mais próximo da produção. Essa foi uma das razões para o meu regresso”. Multifuncionalidade é a palavra chave da Elementum. Todas as peças desenhadas por Daniela têm quatro funções - podem ser usadas de quatro formas diferentes. São um quatro em um. “Com roupas multifuncionais, as pessoas consomem menos e o ciclo de vida de uma peça é maior, pois pode ser usada de quatro formas diferentes. É como se tivesse comprado quatro peças diferentes pelo preço de uma”, afirma Daniela que se instalou com a família nas Caldas da Rainha, cidade a que não a ligava qualquer laço, após um processo rigoroso de escolha. “Queríamos uma cidade pequena, onde pudéssemos andar de bicicleta, perto do mar, com tradição no design, e que não ficasse muito longe de Lisboa”, conclui Daniela Pais, a designer de roupas mutantes. t


38

T

Setembro 2017

X O MEU PRODUTO Smart viewer Empresa Heliotextil R Group O que é? Transferes interativos e aplicação móvel para reconhecimento de imagem Aplicações: Proteção de marca e segurança; Interatividade com o produto, catálogo online, ficha técnica ou instruções de uso; Interatividade com o evento, marcas e organização; “engagement” dos utilizadores em jogos e experiências que conduzirão à sua fidelização Prémios: Produto selecionado para o Prémio Inova Têxtil 2018.

COURO 100% VEGETAL INVENTADO NO ÂMBITO DO CLUSTER TÊXTIL O desenvolvimento de um novo couro 100% vegetal, para ser usado na produção de vestuário e calçado vegan, é um dos sete projetos que vão marcar o arranque do Cluster Têxtil, dirigido por Ana Ribeiro, e que serão dados a conhecer em pormenor no início de Outubro, durante a próxima edição do Modtíssimo. CeNTI, o Centro Tecnológico dos couros, Têxteis Penedo e Sedacor constituem o consórcio que vai desenvolver o novo couro artificial.

85 % dos consumidores preferem fazer as compras fisicamente nas lojas, porque dão importância a poderem ver, tocar e experimentar os produtos, garante um estudo da CBRE

Transferes têxteis interagem com pessoas A Heliotextil apresentou no iTechStyle Innovation Business Forum 2017, inserido na edição 49 do Modtissimo, uma solução interativa que se traduz numa app designada Smart Viewer® que interage pela imagem contida nos transferes. Estes transferes têxteis inovadores podem conter qualquer imagem sendo a informação, naquele caso uma ligação a um conteúdo na internet, impercetível ao olho humano. Este resultado consegue-se fruto dos processos e equipamentos industriais de ponta com que a empresa conta. Para testar basta um smartphone com câmara e fazer o download da aplicação Smart Viewer. Basta aproximar o telemóvel do objeto com o transfere e focar a imagem para acionar a ligação a um conteúdo na internet, página web, vídeo, etc. Outro aspeto importante é que esse link ou URL pode ser gerido de forma dinâmica ao longo do tempo. Ou seja, com este sistema pode-se ter e gerir um canal único e exclusivo de comunicação, podendo ser por exemplo a página de um clube que em determinada data passa a apontar para o vídeo streaming de um jogo importante. O Smart Viewer® não é uma simples aplicação para leitura de transferes interativos. Na realidade pretende-se fazer muito mais! A Heliotextil registou a marca Smart Viewer® que será usada como selo de todas as tecnologias, inovações e desenvolvimentos

relacionados com a imagem e seu processamento. "Para fortalecer este conceito queremos também explorar e desenvolver outras tecnologias relacionadas como o reconhecimento de imagem e a realidade aumentada", diz David Macário da Heliotextil. No que toca a este tema, "a estrada a percorrer é longa, mas estamos convictos que iremos conseguir, têxteis mais autênticos, com outro nível de personalização, capazes de estimular emoções e ajudar a resolver necessidades do quotidiano de forma mais simples e até ecológica", acrescenta. E refere ainda que "os estudos estão a acontecer no centro de pesquisa da Heliotextil e são reforçados em parcerias com centros de estudo, outras empresas e as universidades". A Heliotextil-Etiquetas e Passamanarias, S.A. foi fundada em 1964. Especializou-se na produção de etiquetas, passamanarias, transferes e outros acessórios têxteis. Atualmente emprega mais de 100 trabalhadores e ocupa uma área coberta superior a 10.000 metros quadrados, sendo uma unidade industrial moderna e completa. Recentemente a expansão da empresa materializou-se na criação de departamento de I&D com laboratório e recursos qualificados. Resultado da política de expansão e criação de valor, foi a recente criação da subsidiária Mania4.0, destinada à dinamização dos negócios de vertente tecnológica, inovação e criatividade. t

FITOR RECUPERA PRODUÇÃO ENCOMENDAS E TRABALHADORES O regresso da Fitor, após uma descida aos infernos, é o tema de um artigo de página publicado na última edição do Expresso, com o título “As quatro vidas da Fitor: De estrela da bolsa a 20 empregados”. “A empresa está a recuperar produção, encomendas e trabalhadores. Espera crescer 14%”, titula o Expresso, que salienta o ritmo de crescimento do volume de negócios da Fitor - 5 milhões de euros, em 2015, 7 milhões, em 2016, 8 milhões, este ano - que projeta atingir o patamar dos dois dígitos (10 milhões) em 2022.

"Na indústria têxtil, Portugal tem o melhor lead time do mundo. Entre duas a seis semanas" Paulo Vaz diretor-geral da ATP

MUSEU DO TÊXTIL INAUGURADO EM CEBOLAIS DE CIMA O Museu do Têxtil, instalado na antiga fábrica da Corga, foi inaugurado pelo presidente da Câmara de Castelo Branco. Preservar a história dos lanifícios na freguesia de Cebolais de Cima/Retaxo é o objetivo. “As antigas máquinas voltaram a funcionar o que permite a recuperação da memória coletiva”, explica Luís Correia. A Fábrica da Corga, onde era feita a fiação e tecelagem de lãs, cessou atividade nos anos 90. Em 2014 foi comprada pela Câmara.


T

Setembro 2017

39

-

OPINIÃO 1995

Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP e Editor do T

REENTRÉE

CITEVE ENGANOU CAVACO Na inauguração do CITEVE, Cavaco Silva ficou assustado com a dimensão do edifício e confessou ao seu ministro da Indústria, Mira Amaral, ter receio que se tornasse em mais um elefante branco. Cavaco, que raramente se enganava, desta vez enganou-se mesmo - e redondamente. Usando a astúcia do coiote, a leveza da gazela e a manha da raposa, o CITEVE tornou-se um caso de sucesso nacional e internacional. O antigo PM e PR não tinha aprendido com Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, que no Norte tudo é fiável, com a exceção do tempo. t

O ano cronológico e o ano económico normalmente não coincidem; apenas o direito potestativo do Estado, focado no desempenho da máquina fiscal e no cumprimento do respetivo orçamento, cuja idiossincrasia escapa normalmente ao senso comum da maioria dos cidadãos, obriga a essa identificação, e que faz cada vez menos sentido. Não é por acaso que as empresas multinacionais e as grandes consultoras internacionais fecham os exercícios em Setembro, precisamente para fazerem coincidir as contas de exploração com o respetivo período económico, entre as estações de paragem para as férias de Verão. Seguindo este princípio, podemos dizer que estamos na reentrée de um novo ano no setor, no qual se confirmou uma tendência de crescimento, embora moderado, a qual se irá prolongar certamente até final de Dezembro próximo. Isto significa, por outras palavras, que 2017 poderá ser o ano do “regresso ao futuro”, nas felizes palavras da jornalista Margarida Cardoso, do Expresso, ao antecipar, na larga reportagem que consagrou à Indústria Têxtil e Vestuário portuguesa na edição de 26 de Agosto, que o corrente ano poderá eclipsar todos os recordes absolutos: especialmente no volume de negócios e nas exportações. Embora tudo isto seja expectável há que realizar algumas reflexões sobre o tema, que nos distanciem da euforia e evitem a perigosa acomodação. Está a concluir-se um ciclo de crescimento sustentado da Indústria, assente essencialmente nos drives certos: as empresas apostaram na diferenciação pela inovação tecnológica, pela moda e pelo design, pela intensidade do serviço e pelo reforço da presença internacional. Depois de um período de sete anos de declínio, seguiram-se sete de recuperação, que não repuseram apenas o que se perdeu, mas projetou o setor para outros voos, com nova ambição. O ciclo que se segue terá de cumprir esse desígnio e começa agora. Depois de resistir, depois de se reabilitar, está por realizar o objetivo de ganhar margens e tornar o negócio mais rentável e atrativo para as novas gerações. O que aí vem é talvez mais difícil de concretizar do que aquilo que já se fez, por muito que nos pareça. Há muito mercado por conquistar e as empresas da ITV têm fortes argumentos para fazer valer nessa cruzada, contudo é importante não baixar a guarda às dificuldades e aos obstáculos que se apresentam, desde logo, à competitividade. Os custos de contexto continuam relevantes e não se vislumbram melhorias: o quadro jurídico-laboral está ameaçado pela política (partidária), os custos de energia são dos mais elevados da Europa e o acesso ao capital – assim como o seu custo relativo - continuam um quebra-cabeças para a generalidade das empresas. Acresce a isto a dificuldade em contratar pessoal, de qualquer nível, tal como as limitações que o centro protocolar de formação profissional para o setor enfrenta e que constrange a sua ação de qualificação do capital humano, indispensável numa ótica de indispensável crescimento da produtividade, até porque está a deixar de existir mão-de-obra disponível. Estes temas devem ser o foco de mobilização de todo o setor, que, igualmente, não se pode permitir em continuar a ter a sua representatividade dividida por diversas sedes e amarrada, muitas vezes, a interesses que escapam à racionalidade e superior desígnio do setor. Algumas destas coisas estão ainda por perceber, mas são essenciais, se não quisermos olhar para os próximos sete anos com o fatalismo dos ciclos bíblicos da fome e da abundância. t


40

T

Setembro 2017

Joaquim Couto Presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso

Braz Costa Diretor-geral do Citeve

SANTO TIRSO NA LINHA DA FRENTE

DESLOCALIZAÇÃO? MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA

São dados muito positivos os que refletem a conjuntura económica portuguesa nos últimos anos. Os números mais recentes, referentes ao 2o trimestre deste ano, apontam para um crescimento de 2,8% face ao mesmo período de 2016, o que garante mais um passo em frente para as empresas e, consequentemente, para a dinamização económica de que o país necessitava. No que toca à taxa de desemprego, Portugal regista inclusive um resultado melhor do que a média da zona euro: a queda para 9% é a mais baixa desde fevereiro de 2006. É desta forma percetível que de uma fibra dinâmica e de qualidade se faz esta aceleração da economia, cujo tecido vai ganhando resistência. Deste quadro conjuntural faz parte Santo Tirso, que integrado no coração da indústria têxtil, o Vale do Ave, é em 2017 um município economicamente revigorado, com um tecido empresarial atrativo e consistente. O combate ao desemprego e o apoio às empresas têm sido eixos de trabalho prioritários nos últimos quatro anos. Um trabalho árduo, mas que hoje coloca Santo Tirso na linha da frente: desde outubro de 2013, 500 novas empresas instaladas no concelho, criando condições para que 3200 pessoas passassem a ter emprego. Estes valores resultam de um conjunto de medidas desenvolvidas de forma proativa no que toca ao apoio empresarial, nomeadamente a criação do Invest Santo Tirso, um Gabinete de Dinamização Económica que tem vindo a ser exemplo pelo país, destinado a captar o investimento privado e que disponibiliza todo o tipo de apoio tanto às empresas que já se encontram no concelho como àquelas que desejem instalar-se. Nesta linha, levamos ainda a cabo medidas de alívio da carga fiscal, com redução de taxas e impostos para as empresas. Resultado direto da aposta empresarial, o concelho é ainda destaque positivo por registar uma das maiores descidas da taxa de desemprego a nível nacional: menos 52% de desempregados entre 2013 e 2017, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional. Santo Tirso consagra-se assim como um Município economicamente atrativo para os empresários, sendo exemplo de casos individuais de enorme talento e esforço, empreendedorismo e sucesso profissional. E neste crescimento da economia, a combinação de fatores como a projeção turística, também à escala municipal, assume papel privilegiado. Aos espaços verdes e à gastronomia, o Museu Internacional de Escultura Contemporânea juntou-se ao melhor que Santo Tirso tem para oferecer, e projetou a cidade à escala mundial. Trabalhar a economia de um país é também saber “tricotar” novos mercados, novas ideias, apoiar as empresas e, necessariamente as famílias. E no caminho agora trilhado, é assim extraordinário o momento de recuperação que o país atravessa, ideal para uma intervenção ativa na defesa da nossa produção nacional, das nossas empresas, dos nossos trabalhadores. Investimento é palavra-chave, numa temática onde o desafio, continua a ser, manter o nível. Mas nada disto seria possível sem o comprometimento dos nossos empresários que, a determinada altura, perceberam que para resistir teriam que inovar e assumir a qualidade como fator diferenciador. É isso que o têxtil tem vindo a saber fazer. E bem. Sem a capacidade de visão, sem a resiliência e sem a coragem dos empresários, não estaríamos certamente no caminho em que estamos. t

Idos vão os tempos em que as duas palavras porventura mais negras do vocabulário industrial português eram “Vale do Ave” e “Deslocalização”: constituíam uma certa representação de um inferno sem respeito pelas pessoas nem pelo ambiente, onde a ITV seria o diabo. Estes anos passados, já não é comum, nem na capital, ouvir falar em “Vale do Ave” como sinónimo de poluição. E “Deslocalização”? Esta palavra, outrora representando um belzebu gerador de desemprego, caiu em desuso, tendo tido um pico de utilização exatamente quando mais sentido fazia que Portugal tivesse usado esse instrumento para evitar o apodrecimento de instalações e equipamentos que a concorrência internacional não deixou que fossem competitivos a partir de Portugal. Em boa verdade, a não-deslocalização não salvou empregos em Portugal durante a década passada. Chegamos agora a 2017, quase duas décadas passadas sobre o dia em que se soube da inevitável abertura do mercado têxtil e vestuário a países asiáticos de mão-de-obra muito barata, e olhamos para as estatísticas do negócio do setor em 2016. Ora, as linhas representantes da evolução do volume de negócios e da produção nacional são, desde 2000, praticamente paralelas, distando entre si uns regulares 200 milhões de euros. Acontece que em 2016 se afastam notoriamente para distarem uns muito diferentes mil milhões de euros. Não é minha intenção apresentar neste texto uma análise aprofundada desta divergência, mas tão somente desafiar os leitores para a reflexão. Do meu lado, estou em crer que: a) a ITV portuguesa está finalmente a utilizar um instrumento fundamental para a manutenção do negócio têxtil e para o aumento do valor acrescentado em Portugal; b) a “opinião pública” deixou de ver a deslocalização como um papão de empregos e porventura passou a vê-la como uma estratégia fundamental para a consolidação do negócio Têxtil / Moda / Têxteis Técnicos em Portugal. Antes tarde que nunca... t


Setembro 2017

T

41

U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Um bocadinho farta de um mundo em que as aparências iludem (ou as iludências aparudem como diria Dupont, em resposta a Dupond, nas aventuras do Tintin), em que já nada é o que aparenta ser, Katty resolveu desabafar. “É incrível como nos deixamos iludir”, confessa - e mostra-nos como gostaria de vestir (ou, se preferimos, despir) Trump, Putin, Maduro e Kim Jon-un

Katty despe Putin, Trump, Maduro e Kim

O desrespeito por nós próprios na sociedade atual é gigantesco. Tenho de admitir, que alguma coisa quebrou, avariou ou simplesmente foi sempre disfuncional e eu não tinha sequer reparado. A sociedade de modo geral - o que felizmente ainda não quer dizer global, mas simplesmente abrangente... - esqueceu o conceito de se ser autêntico, deixando que o “parecer autêntico” tomasse o seu lugar. A verdade já não é o mais importante, o que conta é ser mais apelativo parecendo verdadeiro. Já nada é, mas aparenta ser; medicamentos, desportistas, rostos, corpos, comida, notícias, política, tudo conta uma história distorcida dos factos, mas mais fascinante, usando com sorte, uma pequena ponta de algo

genuíno. É incrível como nos deixamos iludir, como gostamos de ser iludidos! O músculo vivo da sociedade é o ser humano, mas este músculo envolveu-se num treino movido pela raiva, pelo confronto, pela violência, pelo ódio e pela necessidade de ser o mais forte. Desembocando num comportamento altamente autodestrutivo. Este músculo esqueceu o seu verdadeiro objetivo; construir e assim evoluir. O ser humano olvidou o verdadeiro significado da fé, confundindo-a muitas vezes com esperança. Deixou de ter fé, porque necessita de “ver para crer” e a fé fundamenta-se exatamente no oposto desta premissa. Contudo limitou a sua ação de ver, não observou, limi-

tou-se muitas vezes a ver e acreditar, sem questionar a veracidade dos factos. Os nossos líderes aproveitam; este vício do ser humano pelas histórias bem aditivadas e sedutoras; este músculo verdadeiramente flácido e a falta de fé da sociedade na sociedade. Impondo uma visão umbiguista (centrada no próprio umbigo). Hoje dedico esta minha rubrica ao desabafo e deixo-vos um cheirinho de como gostaria de vestir alguns líderes mundiais. Como David Foster Wallace escreveu; … A pessoa torna-se um cidadão do nada… Nesse caso, a pessoa não passa de um escravo que julga ser livre. A escravidão mais patética… t


T

42

Setembro 2017

O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Lota Ibérica Rua Tenente Veiga Leal, 209 4490-586 Póvoa de Varzim

UMA LOTA QUE DÁ MUITA LUTA Tenho muitos e bons clientes e amigos na zona de Guimarães e alguns também em Braga, para já não falar dos concelhos de Famalicão, Trofa e Barcelos, onde também são aos molhos. Falando com eles, aprendi que no Verão, haja incêndios ou não, uma esmagadora maioria dos residentes "emigra" para o litoral, em busca de paragens mais frescas e outras miragens. O que só fazem bem, na minha modesta opinião. Segundo rezam as crónicas, os de Guimarães vão mais para os lados de Vila do Conde e os bracarenses arri-

bam sobretudo na Póvoa de Varzim e Esposende. Desde o ano passado podem contar nos seus domínios nortenhos de férias com um fenómeno de restaurante que seguramente os fará sentir em casa. Em pleno litoral poveiro, ao lado do edifício do famoso Casino da Póvoa e do castelo, surgiu um espaço magnífico onde vale muito a pena ir todo o ano, mas que nesta época tem outro encanto , como cantaria de certeza um estudante de Coimbra, depois de uma tainada neste Lota Ibérica. Os donos e os petiscos são muito

parecidos com a oferta do Los Ibéricos, em Leça da Palmeira, o que só os recomenda, porque saber copiar bem é sempre um negócio com alma, mesmo desprezando a falta de originalidade. É o que podemos dizer desta Lota Ibérica, que depois de pôr os comes e os bebes na mesa, arrasa qualquer hipótese de comentário menos favorável. Para se diferenciar do "mano" de Leça, o Lota Ibérica tem peixe de algumas maneiras e outras entradas, mais do que muitas. Mas como peixe não puxa carroça, há vários pratos de carne e de botas calçadas. O chuleton

continua a revelar-se imbatível, mas o que não falta são delícias para animar a malta. Se os pratos de presunto do melhor não lhe preencheram já o bandulho desde os aperitivos, poderá ser a hora apropriada para confirmar que o manchego da zona de Rueda, está a postos para ser uma boa forma de se retirar em beleza deste templo têxtil, versão férias de Verão. Ao contrário dos amores de férias que se enterram na areia, o Lota Ibérica é um restaurante a que podemos ser fiéis em todas as estações. t


Setembro 2017

T

43

c MALMEQUER Cristina Machado, 44, anos, nasceu em Lourenço Marques, vive em Guimarães e é administradora da Home Flavours, têxtil-lar que faz um volume de negócios de oito milhões de euros, 100% exportado. Com formação em Design Têxtil, trabalhou no Posto de Turismo de Guimarães e foi comercial na Bordalima e na Borfil até que em 1998 se aventurou a fazer a sua própria empresa. Tem um filho, António, de 11 anos

SOUVENIR

OS VESTIDOS VERMELHOS DE AUGUSTUS

Gosta

Não gosta

Sol praia o sorriso do meu filho cães gin e vodka

Fazer compras em supermercados (odeio!)

beleza no geral (sou uma esteta) cheirar tudo o sorriso do meu pai Itália trabalhar (gosto muito do que faço) chocolate comer fazer compras (adoro) pessoas bem humoradas comida indiana cozido à portuguesa África rojões mimo estar sozinha (preciso) pessoas organizadas e expeditas ser exigente planear férias organização andar de bicicleta desportos radicais que provoquem adrenalina e medo andar descalça ser obstinada jogos de tabuleiro fazer puzzles Vitória de Guimarães (até morrer!) havaianas gargalhadas chá Instagram cor de laranja Art Deco música ler ouvir rádio cheiro a cachimbo ténis hóquei em patins curling

gente mal disposta lampreia enguias aranhas centopeias (é uma fobia) planear a vida mentira maledicência falsidade coscuvilhice fura filas gordura ser obstinada vinho verde fruta almofadas de má qualidade gente pretensiosa comida saudável Nápoles campismo chuva frio insolência reality shows e telenovelas televisão em geral (à excepção de noticiários e filmes) filmes de terror ficção científica cortar as unhas em público toque de telemóvel alto em público sandálias com meias homens com meias brancas wrestling sapatos de má qualidade e desconfortáveis roupa interior que não seja de algodão poliester e afins na roupa submissão mulheres que não gostam de ser mulheres

Era um domingo normal. Na televisão ouvia-se: “morreu o estilista António Augustus”... Senti as lágrimas a cair pela cara abaixo. Era muito jovem quando o António me levou para a Cartagena de Índias, para fotografar uma campanha. Dessa viagem trouxe um vestido, vermelho, que ainda visto. Vi-o numa loja de produtos locais. O Augustus disse-me que era feito à mão e vendo o meu entusiasmo, aconselhou-me a comprá-lo, dizendo que “seria uma peça única e duradoura”. Como era miúda não tinha muito dinheiro comigo, mas ele prontificou-se a avançar os pesos. E assim foi... comprei o vestido. Ainda hoje está impecável, adapta-se a várias situações, é atual, único e não há ninguém que lhe fique indiferente. Nesse ano, o Augustus foi convidado para me vestir na Eurovisão. A ideia era ser um vestido vermelho, com apenas uma alça, que se adequasse à música que iria interpretar: elegante, forte e cheio de Alma Lusa, como o grupo que eu integrava! Mas a diretora do canal vetou a estrutura do vestido e mandou acrescentar uma alça... e apesar de ter ficado chateado, o António adaptou o vestido, que ficou lindo! Recordo vários momentos vividos com ele... há outros estilistas que me têm vindo a vestir ao longo destes 23 anos de carreira... mas António Augustus só houve um e é-me especial. São estes os dois vestidos da minha vida, ambos vermelhos e ambos pela mão do querido Augustus! t Inês Santos


50 44

T

Setembro 2017

03.04-10-2017

alfândega do porto - porto. portugal www.mod ssimo.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.