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ANDRÉ RELVAS
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Administrador da Sorema
“CONSTRUIR UMA MARCA É UM CAMINHO DIFÍCIL MAS QUE TEMOS DE SEGUIR” P 20 A 22
DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
PERGUNTA DO MÊS
FOTO: RUI APOLINÁRIO
O QUE ANDAM OS CHINESES A COMPRAR À NOSSA ITV? P4E5 SUSTENTABILIDADE
A MINHA EMPRESA
TMG E SCOOP EMBAIXADORAS DO TÊXTIL NA ONU
SASIA ESTÁ NA MODA HÁ 66 ANOS
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INOVAÇÃO
MARCAS
FERNANDO FERREIRA O MAESTRO DO EXCELENTE 2C2T
A SUPERMALHA QUE RECICLA O CALOR HUMANO
DECÉNIO CELEBRA 25 ANOS COM NOVAS LOJAS
TÂNIA NICOLE A DESIGNER QUE ODEIA ROTINAS
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DOIS CAFÉS E A CONTA
EMERGENTE
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quality impact arquitetura e soluções de espaços
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CORTE&COSTURA
EDITORIAL
Por: Júlio Magalhães
Por: Manuel Serrão
Francisca Miguel 24 anos Como modelo, a vida saudável faz parte da profissão. Não come carnes vermelhas, evita os carboidratos e passa horas no ginásio. O único pecado são os doces, que compensa com os passeios à beira-mar. Não dispensa a companhia do Snow (o seu cão) enquanto vê filmes e séries na TV. Fez o curso de Comunicação mas as prioridades, para já, concentram-se na moda.
GUEST NATION NA PITTI UOMO
Algumas pessoas gostam de dizer que os manequins na passerelle são cabides ambulantes. Concordas? Acho que essa expressão, quando dita sem um vínculo humorístico, está completamente ultrapassada. Cada vez há mais consciência de que o trabalho de um manequim é bem mais do que isso. Os manequins são seres humanos que dão vida e valorizam as peças de roupa, seja com as suas características físicas, seja com a sua atitude... Fizeste uma produção de moda muito arriscada pendurada num guindaste no centro do Porto. Foi um trabalho marcante ou desafios destes são o pão nosso de cada dia? Já tive diversos desafios improváveis, mas confesso que esse foi o meu trabalho mais marcante em termos de adrenalina. Estar em volta de um arco a vários metros do chão e presa por um guindaste foi uma sensação muito libertadora. Tinha de estar com as mãos e os pés bem presos no arco para não cair mas quando dei por mim já estava com uma perna ou um braço no ar para conseguir uma maior variação de poses. Foi sem dúvida inesquecível. Como é que a tua geração de modelos vê o atual estado da moda portuguesa? A moda portuguesa atravessa uma fase de otimismo e de evolução criativa. Há uma necessidade constante de evoluir, de voar mais alto, e podemos verificar a projeção que se tem vindo a ganhar em diversos contextos.
Como consumidora gostas e compras made in Portugal ou só as marcas com sotaque estrangeiro é que te seduzem? Sempre que posso faço questão de comprar made in Portugal. Não apenas porque me sinto bem mas também porque temos uma qualidade de excelência que tem vindo a ganhar posicionamento e a confiança dos consumidores portugueses e além fronteiras. A ideia pré-concebida de que só o que vem de fora é bom é completamente absurda. Existe muito talento cá. Sara Sampaio é uma exceção que confirma a regra, ou são as modelos portuguesas que têm pouco espírito de aventura para arriscar sair da sua zona de conforto? Aliado a todo o seu mérito, a Sara alcançou o mediatismo e soube mantê-lo. Somos um mercado pequeno mas temos vindo a ganhar espaço e recentemente vários manequins portugueses têm vindo a atingir excelentes metas internacionais. Nem todos os manequins têm espírito de sacrifício para sair da sua zona de conforto, mas isso não é suficiente, não é um processo assim tão fácil. São necessárias muitas bases e oportunidades que nem sempre chegam.
A Pitti Uomo é internacionalmente considerada como o evento profissional mais importante e o mais trendy para a moda e vestuário masculino. Ninguém deve esquecer que até há poucos anos os italianos, mas não só, achavam que a moda masculina era um exclusivo seu, desde que estivesse associada a qualidade e extremo bom gosto. O made in Italy era o cartão de visita mais poderoso neste subsetor em todo o mundo. Entretanto o mundo mudou, como já sabemos que acontece sempre, mas ainda nem todos se aperceberam da velocidade com que esse fenómeno se dá, e a enorme subida em percentagem das exportações portuguesas para Itália é só mais um exemplo da inexorabilidade dessas mudanças. Na Pitti Uomo, não andam a dormir nem deixaram de querer que a moda de homem italiana deixe de estar na vanguarda. Mas perceberam que esta mudança obriga a novas parcerias, porque já nem os italianos podem vencer sozinhos todas as batalhas. O convite para Portugal ser a Guest Nation na próxima Pitti Uomo, a decorrer este mês, é um sinal exterior de inteligência que o From Portugal (Selectiva Moda/ATP ) não podia deixar de aceitar. t
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Paulo Vaz Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/
Se pudesses escolher, por que marca, nacional ou internacional, é que gostavas de dar a cara? Philipp Plein. Por ser uma marca de referência com que me identifico. t
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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Freitas de Sousa Ilustração: Cristina Sampaio
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“Sendo um mercado com grandes qualidades, não há uma reciprocidade que reclamamos há muito tempo”
“Estamos lá há quatro anos e de certeza que os próximos quatro serão ainda melhores. Temos atingido os objetivos traçados e estamos satisfeitos”
JOSÉ ROBALO PRESIDENTE DA ANIL
JOSÉ ALEXANDRE OLIVEIRA CEO DA RIOPELE
O QUE ANDAM OS CHINESES A COMPRAR À NOSSA ITV? 40 anos depois de surpreender o mundo com uma mistura nunca antes testada (nem mesmo nos livros!) entre comunismo e capitalismo, a China é um lugar incontornável para um número crescente de empresários e de setores de atividade. Nos últimos tempos não tem parado o aumento das exportações da ITV para o gigantesco mercado chinês, que no final do ano deverão crescer a três dígitos quando comparadas com 2017. Mas, ao contrário do otimismo que por vezes ‘floresce’ nas páginas dos jornais, a China não é para todos nem para tudo – e, nesse quadro, é por certo também um mercado capaz de promover acidentes indesejáveis. Uma mistura entre otimismo e prudência parece ser o blend certo para uma abordagem a um mercado que está em franco crescimento, mas que não se deixa conhecer, e muito menos dominar, à primeira abordagem
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aumento das exportações da ITV para o gigantesco mercado chinês – que no final do ano deverão crescer a três dígitos quando comparadas com 2017 – e o forte poder de atração dos efeitos combinados dos planos chineses conhecidos como a ‘Nova Rota da Seda’ e o Made in China 2025 são matéria suficiente para que antigo Império do Meio mereça um olhar atento e ao mesmo tempo desapaixonado por parte dos empresários. “Prefiro ser mais prudente que a maioria, porque já vi muitas euforias que depois não dão em coisa nenhuma. Não podemos fazer grandes extrapolações dos crescimentos quando a base [das exportações] é muito baixa. Isso não me impressiona.
O que poderá impressionar é a permanência de um ritmo de crescimento a dois dígitos, de uma forma constante e sustentada. Há que esperar para ver se é uma tendência que se consolida e se confirma e não apenas um episódio sem seguimento”, observa Paulo Vaz, diretor-geral da ATP. Aquele responsável considera que, apesar dessa prudência, “penso que o mercado chinês vai consolidar-se, porque estamos a falar de têxteis técnicos, com vendas com estrutura e estabilidade – para alimentar, por exemplo, a cadeia de valor automóvel, aeronáutica -, com contratos a longo prazo. Aí, encontramos estabilidade, pelo menos numa parte importante do que para ali se vende”. Mas nem tudo o que tem a ver com a China pode sustentar uma perspetiva de otimismo –
é preciso não esquecer que um número crescente de economias nacionais e de setores está a confluir para aquele mercado – que, apesar da sua imensa dimensão, não vai ‘absorver o mundo’. Neste quadro, Paulo Vaz ressalva que, “no que tem a ver com o vestuário, eu diria que é quase como vender areia para o deserto. Mas é uma lança em África: boa parte das vendas são matérias-primas de alta qualidade que depois são incorporadas na confeção chinesa”. E recorda que foi por alguma razão que “a primeira feira internacional da Seletiva Moda foi precisamente em Xangai, para onde levámos tecidos e malhas de alta qualidade”. Do outro lado da equação está “vender à China produto final: não é impossível, mas as hipóteses são inferiores. Mas é
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“É uma cultura muito diferente, mas não há dúvida que nos próximos anos é um mercado onde é preciso estar”
“A primeira feira internacional da Seletiva Moda foi precisamente em Xangai, para onde levámos tecidos e malhas de alta qualidade”
“Há uns anos estivemos na China com a nossa marca, mas aquilo é um mercado muito difícil e não temos nenhuma estratégia para regressar”
“Temos uma empresa nossa na China, já chegámos aos grandes department stores em Pequim e de Xangai, e a lojas de luxo em Hong Kong”
PAULO MELO CEO DO GRUPO SOMELOS
PAULO VAZ DIRETOR-GERAL DA ATP
ARTUR SOUTINHO CEO DA MORETEXTILE
PIERRE DE LEMOS GRUPO ABYSS & HABIDECOR
importante olharmos para os mercados alternativos e emergentes, até porque os tradicionais, nomeadamente na Europa, estão a passar por uma fase de estagnação, senão mesmo de retração do consumo de produtos de moda – que tem a ver com a divergência do consumo para outro tipo de bens que não a moda (cultura, viagens)”. Ao contrário, nos próximos 10 a 20 anos o consumo na China vai disparar. “Terá de ser um dos destinos prioritários de algum, não de todo, o têxtil português. Os têxteis de alto valor-acrescentado, a alta qualidade, o serviço, a tecnologia, a criatividade, aquilo que é diferenciado, vão ter lugar ali”, refere Paulo Vaz. Mas nem tudo está feito. José Alberto Robalo, presidente da ANIL, recorda que, “sendo um mercado com grandes qualida-
des, é pena que a China continue a proteger o mercado de tal maneira que é muito difícil as nossas empresas ali entrarem”. “Taxas, a imposição unilateral de certas regras”, fazem parte do rol das dificuldade, que levam aquele responsável a concluir que “não há uma reciprocidade que reclamamos há muito tempo”. “São um conjunto de regras que foram negociadas a quando da adesão da China à OMC, e que escancararam as portas da Europa às exportações chinesas". José Alberto Robalo considera que a próxima visita de Estado do presidente Marcelo Rebelo de Sousa à China é uma excelente ocasião para os empresários darem a conhecer as suas reivindicações e insistirem com o poder político para que se envolva na sua defesa. Até porque, recorda, as
relações bilaterais parecem estar num momento de grande afinidade – o que determina que a defesa da reciprocidade de que fala o dirigente associativo tem neste momento uma ‘janela de oportunidade’ que importa não perder. Tal como Paulo Vaz, José Alberto Robalo aponta também os têxteis técnicos e de alta qualidade como aqueles que assumem preponderância no desenvolvimento de estratégias empresariais que permitam à ITV nacional atingir um quadro de desenvolvimento dos negócios para com o mercado chinês que seja ao mesmo tempo sustentável e consideravelmente perene. Tudo isto sem deixar de ter em perspetiva as dificuldades que lhe são inerentes. Artur Soutinho, CEO da Moretextile, conhece-as bem. “Há uns
anos estivemos na China com a nossa marca, mas aquilo é um mercado muito difícil: não se conseguem impor marcas. Vamos por isso manter o foco nos mercados core – Europa, Estados Unidos e Japão – e não temos nenhuma estratégia para regressar à China”. Quem de lá não conta sair é o grupo Abyss & Habidecor. Pierre de Lemos, diretor comercial, afirmou que “a China ainda não é um grande mercado para nós, mas estamos a desenvolver a nossa posição. É um mercado muito interessante, mas há muito que fazer: é um mercado como todos os outros. Temos um mercado de nicho cuja marca precisa de mais reconhecimento. Precisamos de bater às portas, mas como a China é um grande país, acontece que demora mais tempo”. A abordagem do grupo pode
ser a grande diferença: “temos uma empresa nossa na China, já chegámos aos grandes ‘department stores’ em Pequim e de Xangai, e a lojas de luxo em Hong Kong”, num mercado que já vale cerca de 10% do volume de negócios do grupo. O grupo Somelos também tem já um acumulado de conhecimento (com mais de dez anos) imprescindível para o sucesso. Paulo Melo, CEO do grupo, faz uma ressalva que importa levar em consideração: “é um mercado com uma cultura muito diferente daquilo a que estamos habituados, que tem princípios e fórmulas diferentes, sendo um país com conceitos muito particulares e muito próprios, com exigências muito grandes ao nível dos serviços”. Para aquele responsável, “as marcas têm que se ajustar ao conceito” se quiserem assumir um lugar de relevo na China. “Mas não há dúvida que nos próximos anos é um mercado onde é preciso estar”. Visão semelhante tem José Alexandre Oliveira, CEO da Riopele – grupo que está numa fase de balanço: “estamos lá há quatro anos e vamos observar o que se vai lá passar nos próximos quatro, que de certeza serão ainda melhores. Temos atingido os objetivos traçados e estamos satisfeitos”. Mas chama a atenção que “foi preciso partir muita pedra, encontrar os interlocutores. Agora é tempo de consolidação”. A pergunta que parecia óbvia era a de se o grupo estará interessado em acrescentar à China presença industrial. “É muito cedo para fazer essa avaliação, mas tudo é possível”, disse José Alexandre Oliveira. Na China, o cenário é mesmo esse: tudo é possível. Principalmente porque um país que está a ‘construir’ uma classe média gigantesca em termos quer do número que de poder de compra é sempre um lugar onde as empresas precisam de estar. t
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DOIS CAFÉS & A CONTA Grill da UMinho
Campus de Azurém 4804-533 Guimarães
Entradas Chamuças, croquetes e rissóis Prato Vitela assada com arroz de ervilhas e espinafres, chocos com batata cozida e molho verde Sobremesa Fruta laminada e bolo de ananás Bebidas Água, vinho verde (Largo do Paço) e dois cafés
FERNANDO FERREIRA
Nasceu em Riba de Ave, filho de uma doméstica e um contabilista - que em determinada fase da vida foi dono de uma fábrica que reciclava desperdícios têxteis. Mal concluiu a 4ª classe, mudou-se para Guimarães, onde completou o Secundário, vivendo em regime de internato no Lar do Estudante até ter idade para fazer de moto o percurso entre casa e o liceu. Os primeiros dinheiros ganhou-os a dar aulas de Matemática na Francisco de Holanda, enquanto fazia o curso de Engenharia Têxtil na Universidade do Minho, que acabou em 1984. Ficou logo como monitor, enquanto fazia o estágio na Riopele, onde se demorou mais de um ano. Doutorou-se em Leeds (onde viveu três anos), em 1994, com uma tese sobre a automatização da costura. Professor associado no Departamento de Engenharia Têxtil da UMinho, é casado com uma engenheira têxtil e tem uma filha, Beatriz, estudante de Engenharia Têxtil.
O DIRETOR DE UM CENTRO EXCELENTE
FOTO: DIOGO CUNHA
57 ANOS DIRETOR DO 2C2T DA UMINHO
O Centro de Ciências e Tecnologia Têxteis da UMinho (2C2T ) é a porta onde as empresas vão bater quando têm um problema cabeludo para resolver - ou estão desertas de ideias para fazer algo diferente que lhes confira um extra de competitividade. “Não nos limitamos a esperar que nos venham pedir ajuda. Também somos proativos e propomos projetos às empresas”, explica Fernando Ferreira, o diretor de um centro de I&D em que estão envolvidos cerca de uma centena de investigadores, desde doutorados da casa até técnicos, passando por bolseiros e alunos de mestrado ou doutoramento. Quando a Somelos ficou alarmada com a elevada percentagem de defeito que estava a ter no fabrico de um fio elástico muito fino, revestido a algodão e com elastano e lycra dentro, foram ter com o 2C2T e em conjunto arranjaram uma solução que optimizou o processo de fabrico, reduzindo o desperdício e tornando-o energeticamente mais eficiente. Melhor era impossível. O fato de bombeiro que, através de sensores embebidos na estrutura têxtil (ou seja, não são cosidos nem laminados), fornece informações sobre a localização e
sinais vitais do utilizador - ritmo cardíaco, temperatura exterior e do corpo, transpiração, etc - que a Latino está a apresentar no mercado (e deu origem a uma patente europeia), é fruto da colaboração da empresa com o 2C2T. Os airbags para os Audi autónomos, que está a desenvolver com os alemães da ZF, que têm fábrica em Ponte de Lima, são um dos cerca de 40 projetos, de dimensão e maturidade variadas, que a 2C2T tem em mãos. “Estamos com vários projectos na área automóvel”, confessa Fernando Ferreira, que escolheu a vitela, excepcionalmente acompanhada por um copo de vinho (por norma bebe água, para evitar que à tarde lhe dê a preguiça), um dos dois pratos do dia no Grill da Universidade, onde almoça todos os dias da semana e a que não poupa elogios: “Fazem o melhor salmão grelhado do mundo”, garante. Transformar os problemas em negócios é uma das especialidades do Departamento de Engenharia Têxtil (DET) da Universidade do Minho. E foi com esta atitude descomplicada que ultrapassou a desesperante escassez da procura por par-
te dos estudantes, quando na viragem no milénio se instalou a perniciosa ideia que a têxtil era um indústria sem futuro no nosso país - ideia que a prova dos nove do tempo acabou por demonstrar ser errada. “A publicidade negativa à volta da têxtil tornou extremamente difícil a nossa tarefa de captar alunos. Mas apesar das pressões da Reitoria para fecharmos o curso de Engenharia Têxtil, nós resistimos, lutámos contra a maré, diversificando a oferta, e hoje ninguém duvida de que tivemos razão”, afirma Fernando Ferreira. Com cerca de 500 alunos, nos três ciclos (licenciatura, mestrado e doutoramento), de uma oferta alargada a áreas como Design e Marketing de Moda, Comunicação de Moda e Química Têxtil, o DET da UMinho defronta-se agora com um problema completamente diferente - o de não conseguir satisfazer as solicitações das empresas. “Os alunos que formamos não chegam para as encomendas. Ninguém sai daqui para o desemprego”, conclui o diretor do 2C2T, um centro de investigação que desde 2003 tem sido sucessivamente avaliado como Excelente por um painel de peritos internacionais. t
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GUIMARÃES ULTRAPASSA FASQUIA DOS MIL MILHÕES NAS EXPORTAÇÕES O concelho de Guimarães – onde a ITV assegura 70% da atividade e responde por cerca de 66% das exportações – registou 1,1 mil milhões de euros em exportações de bens até ao final de setembro de 2018, de acordo com os dados do INE divulgados pela Câmara Municipal. Comparativamente com o ano de 2017, o município de Guimarães aumentou em 167,51 milhões de euros as suas vendas (eram de 942,84 no final de setembro do ano passado) e só no que se refere ao mês de setembro de 2018, as exportações de bens aumentaram dos 103,23 milhões para os 113,97 milhões de euros (9,4%).
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foi o crescimento registado pela Barcelcom no 1º semestre de 2018
O HOMEM QUE PÕE CR7 A DORMIR VAI FALAR NA HEIMTEXTIL
AS CORES DO FUTURO ESCOLHIDAS NO PORTO
FASHION SVP DESTACA VEIA SUSTENTÁVEL DA TRIWOOL
Especialistas de moda, design, vestuário e têxtil de três continentes juntaram-se no Porto para mais um encontro anual da Intercolor. A principal missão consistiu em definir as tendências de cor que irão influenciar as coleções para a estação fria dentro de dois anos.
A organização da Fashion SVP destaca a capacidade de resposta da Triwool na antevisão da sua 11ª edição. A marca portuguesa é descrita como uma produtora especializada em roupas de tricô e Jersey que responde às exigências cada vez sérias de um código de conduta sustentável.
"Há uma grande tendência para o denim, incluindo no pronto-a-vestir mais formal" Sebastião Nogueira CEO da One Way Tex
UNIFARDAS CRIA NOVA IMAGEM E AVANÇA PARA ESPANHA E FRANÇA A Unifardas entra em 2019 com uma nova estratégia internacional, pautada pela reestruturação da sua imagem institucional e pelo lançamento de uma nova plataforma digital. Um novo logótipo, um novo site e catálogos renovados são os ingredientes principais com que a Unifardas espera atingir um posicionamento mais elevado nos mercados externos, com especial destaque para a Espanha e França .
O futuro do sono será um dos temas em debate na próxima edição da Heimtextil, que irá decorrer de 8 a 11 de janeiro, na Messe Frankfurt. Um assunto com interesse para os têxteis lar, uma vez que a boa escolha de lençóis, almofadas, cobertores e colchões é determinante para a qualidade do sono. “Numerosos estudos indicam que se está a dormir cada vez pior”, afirma Alfred Wlinter, ex-presidente da Sociedade Alemã para a Investigação e Medicina do Sono,
citando um inquérito que concluiu que um em cada três adultos alemães dorme mal ou muito mal. Fazer regularmente exercício físico e ter uma cama adequada podem não chegar para garantir um bom descanso noturno, que é amiúde perturbado por fatores como o excesso de luz, demasiado barulho, bem como a dificuldade em relaxar e desligar devido ao crescente estado de excitação em que vivemos por causa da digitalização. Especialistas em quatro áreas
– Ciência & Digital, Desporto, Hotelaria e Sustentabilidade – vão participar no fórum da Heimtextil dedicado ao futuro do sono, entre os quais Nick Littlehales, o sleep coach de Cristiano Ronaldo e Lewis Hamilton. “A maioria das almofadas são demasiado altas e o apoio para o pélvis demasiado macio”, explica Markus Kamps, um perito em sono que assegurará na Heimtextil a First Aid Sleep Consultation Hour. t
MAGIC LAS VEGAS SAYS: “YES … PORTUGAL!” Portugal estará no pelotão da frente na Magic Las Vegas. A feira norte-americana de moda e vestuário, agendada de 4 a 7 de fevereiro, tem reservado um espaço de destaque para as cores nacionais, na frente do pavilhão de sourcing, onde será promovida a imagem do nosso país através de uma “representação em bloco” das empresas portuguesas. “Yes….Portugal!” é o título do espaço onde será evidenciada a imagem de país produtor de qualidade, inovador e prestador de serviços.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS INDUSTRIAIS DE LANIFÍCIOS
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AFINAL, O BREXIT VAI OU NÃO AFETAR O NEGÓCIO DO VESTUÁRIO? O negócio da moda está avaliado, no Reino Unido, em mais de 60 mil milhões de euros por ano e são ainda muitas as dúvidas sobre o real impacto do Brexit. Segundo os jornais mais importantes do Reino Unido, as cadeias de grande retalho afirmam que estão a antever possíveis quebras de fornecimento e também as associações retalhistas se têm queixado de que o executivo tem descurado as consequências do Brexit em termos do setor.
"A ITV nacional é uma indústria de nicho, reputada pela qualidade, pelo serviço, pela engenharia de produto, pela inovação tecnológica e pelo design, não pela produção massificada e menos ainda pelo baixo preço competitivo"
CASOU MARTA, A HERDEIRA DA INDITEX
Marta Ortega Pérez, filha do fundador da Inditex, Amancio Ortega, e considerada a herdeira natural do império têxtil, casou com Carlos Torretta, filho do desenhador argentino Roberto Torretta. Marta, que nasceu em Vigo em 1983, é a filha mais nova de Amancio Ortega e Flora Pérez, a segunda mulher do empresário. Amancio tem mais dois filhos (Sandra e Marcos) do seu primeiro casamento com Rosalía Mera. t
CENTI: 12 ANOS NA VANGUARDA DA NANOTECNOLOGIA Soluções têxteis capazes de promover efeitos de luz através da integração de LEDs, rodapés que detetam inundações ou fios de pesca industrial com filamentos luminosos parecem ideias de um futuro distante, mas na realidade são apenas alguns dos inovadores produtos que incorporam nanotecnologia, produzidos por empresas do norte de Portugal e que os investigadores do CeNTI, Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes, têm ajudado a desenvolver. Intimamente ligado ao tecido empresarial e à indústria, o CeNTI tem vindo a desenvolver, ao longo dos seus 12 anos de vida, projetos de nanotecnologia e a transferir para a indústria os resultados da investigação, dando resposta a necessidades do mercado e dotando as empresas com soluções inovadoras.
Fundado em 2006, conta atualmente com cerca de 80 colaboradores e resulta de uma parceira entre três universidades – Aveiro, Minho e Porto – e três entidades tecnológicas: o CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, o CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, e o CEIIA – Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel. Neste percurso de 12 anos de atividade, o CeNTI já colaborou em mais de 170 projetos com a indústria, 20 projetos europeus, 111 projetos financiados a nível nacional, 30 projetos diretos e nove projetos em investigação fundamental, apoiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Atualmente, encontram-se em desenvolvimento 90 projetos nas mais diversas áreas de aplicação. t
Paulo Melo Presidente da ATP
SONAE REFORÇA POSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA ATRAVÉS DA LOSAN A cadeia de lojas Losan, adquirida pelo grupo Sonae em 2015, está no centro do projeto de expansão do grupo português para a América Latina. Numa estratégia delineada para 2019, a empresa planeia a entrada no Equador e o reforço da sua presença no México e na Colômbia. Presente em mais de 40 países, com lojas próprias e espaços multimarca, e com uma faturação na ordem dos 60 milhões de euros, a Losan tem um plano internacional que pretende a expansão para a América do Sul, Estados Unidos, Canadá e Índia.
25 toneladas de malhas é quanto está a vender em média por dia a Familitex
DOLCE & GABANNA DESFAZEM REPUTAÇÃO NA CHINA
LION OF PORCHES JÁ CHEGOU AO LUXEMBURGO A Lion of Porches continua a alargar a sua rede comercial ao nível internacional e chega agora também ao Luxemburgo. A primeira loja da marca do grupo Cães de Pedra abriu no centro comercial City Concorde em Bertrange, sendo a quarta abertura do ano numa geografia alargada que passa ainda pela Rússia, Suécia e Geórgia. O crescimento, no entanto, não se verifica unicamente
ao nível internacional, já que a marca contou também com mais cinco aberturas nacionais, nas cidades de Coimbra, Guarda, Aveiro, Lisboa e Faro. As lojas atuais também têm sofrido remodelações, para além da reabertura da loja do Braga Parque. A Lion of Porches conta já com 37 lojas monomarca, dois corners no El Corte Inglês e está presente em cerca de 150 lojas multimarca. Para além das lojas de primei-
ra linha, a marca conta também com cinco lojas Outlet. Em território estrangeiro, é comercializada em Inglaterra, Irlanda, Espanha, Suécia, Geórgia, Luxemburgo, Suíça, Malta, Irão, Rússia, Líbano, Marrocos, África do Sul, Angola, Moçambique e República Dominicana. Para além dos espaços físicos, a Lion of Porches tem também uma loja online disponível em cerca de 100 países. t
A Dolce & Gabbana pode estar de saída do poderoso mercado da moda na China, depois de ter lançado uma campanha publicitária que foi recebida como racista e desrespeitadora para com as mulheres. Nos vídeos publicados pela Dolce & Gabbana, uma modelo chinesa tenta, com assinalável dificuldade, comer massa e pizza com os tradicionais pauzinhos chineses, ao mesmo tempo que um narrador faz várias intervenções, entre elas a pergunta ‘é muito grande para ti?
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A MINHA EMPRESA Sasia
Rua Escola da Portela, 50 4760-731 Ribeirão
O que faz? Reciclagem de fibras têxteis Fundação 1 de setembro de 1952 Trabalhadores 30 (trabalham a três turnos) Exportação 50% da produção é vendida no mercado externo Clientes Fiações, mas também indústrias automóvel, farmacêutica, colchões, construção civil e obras públicas Certificação ISO 9001 Volume de negócios Cinco milhões de euros
ANA MARTINS FAZ ARTE PÚBLICA COM PONTO CRUZ Pelas mãos dela, o ponto cruz ganha uma nova dimensão. A artista portuguesa Ana Martins intitula-se como “bordadeira gráfica” e, sob o nome artístico “Aheneah”, assina obras que conjugam os bordados tradicionais com o design gráfico mais contemporâneo. O seu objetivo é “desconstruir, descontextualizar e transformar uma técnica tradicional numa expressão gráfica moderna” e o resultado é a reinvenção do ponto de cruz, elevado a uma forma de arte urbana.
"Tão depressa faço um fato de laboratório anti-estático como um fato militar anti-bala, uma peça escolar ou uma peça de restauração" Clementina Freitas CEO do grupo Latino
INBICTUM LANÇA CROWDFUNDING PARA PRODUZIR A INPOCKET PRO A Inbictum, marca de fashion-tech, avança com o seu primeiro produto comercial na plataforma de crowdfunding Indiegogo – as meias de futebol inPocket Pro, que prometem revolucionar o mercado do equipamento desportivo para futebol. Funcionalmente, estas meias sem costuras são compostas por uma camada interna, que funciona como bolso para a caneleira e que fica segura à perna pela ação da compressão exercida pela camada mais externa.
Há 66 anos na moda Aos 18 anos e munido com um curso comercial, feito na Póvoa de Varzim, Libório Ribeiro da Silva mostrou ser um rapaz muito à frente do seu tempo ao fundar a Sasia, uma fábrica que se dedica à reciclagem de desperdício têxtil. Estávamos em 1952, a guerra fria apenas começava a aquecer, e a reciclagem, economia circular, respeito pelo ambiente e sustentabilidade ainda iriam demorar bem mais de meio século a tornarem-se buzzwords. “Estamos na moda há 66 anos”, sentencia (meio a brincar mas também meio a sério) Miguel Ribeiro da Silva, o gestor de 51 anos que sucedeu ao pai no leme desta empresa verde avant la lettre. A Sasia começou por limpar o algodão que vinha das colónias, tendo como clientes as fiações, mas à medida que o mercado mudava ela soube ajustar-se e não demorou a tornar-se uma pioneira na economia circular e a reciclar os desperdícios de tecelagens e confeções. “Importamos de todo o mundo - América Latina e Ásia incluídas - resíduos pré-consumo de algodão ou fibras artificiais que desfibramos e reciclamos em ramas destinadas a segmentos de mercado muito diferentes. Tanto podem ser usadas na construção de pisos de auto-estradas, no fabrico de algodão hidrófilo e colchões, ou ainda como matéria prima pelas fiações”, explica o administrador da Sasia.
Apesar de praticamente só trabalhar por encomenda, a Sasia ocupa uma área coberta de 15 mil metros quadrados, pois precisa de espaço para armazenar o desperdício que é a sua matéria-prima e está disperso por vários locais, para minimizar os efeitos de um incêndio, como aquele que há sete anos destruiu quase 70% da fábrica. A mais moderna das cinco linhas de produção começou a laborar no final de 2018, implicando um investimento de cerca dois milhões de euros, que aumentou em cerca de 20% a capacidade instalada da Sasia, ao mesmo tempo que melhorou a sua eficiência energética. “Não tivemos qualquer tipo de apoio neste investimento. Alegaram que não era inovação. Ora nós, na reciclagem, inovamos todos os dias, nos processos tecnológicos e na automatização”, protesta o administrador da Sasia, que foi uma das parceiras do projcto Tenowa da Riopele, que ganhou o Prémio Produto Inovação 2018 atribuído pela Cotec. “Temos sido muito solicitados a colaborar com o nosso know-how em projetos sustentáveis. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a escassez de recursos e as empresas procuram corresponder a essa preocupação. A economia circular está na moda. Mas nós já somos sustentáveis desde 1952”, conclui Miguel. t
75%
das vendas da marca Bovi são feitas no estrangeiro, em lojas multimarca do segmento médio/alto de 30 países
APERTEX EM DESTAQUE NA MONTRA GUIMARÃES MARCA
Especializada no fabrico de colchas e atoalhados, a Apertex esteve em destaque na Pop-up Store Guimarães Marca, o espaço da Plataforma das Artes e Criatividade que serve de montra para o melhor da indústria vimaranense. Fundada em 1928, e agora aos 90 anos, a Apertex tem um volume de negócios que já ultrapassa os quatro milhões de euros e exporta a quase totalidade dos seus artigos para mais de 60 países espalhados por todo o mundo.
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DECENIO CELEBRA 25 ANOS COM RENOVAÇÃO DE LOJAS
Para assinalar os seus 25 anos, a Decenio apostou na renovação e abertura de novas lojas. Depois de há quatro anos ter passado a integrar o grupo Cães de Pedra, a marca deu um salto em termos de dimensão e perspetivas de crescimento e continua focada no seu estilo inovador e elegante, para tornar a moda de luxo acessível. “De norte a sul de Portugal é possível perceber que as lojas Decenio estão a mudar, estão a ficar mais frescas e acolhedoras, estão mais charmosas. Luz, tons neutros, móveis de linhas retas e simples e um espaço de exposição feito para permitir que as peças estejam visíveis e acessíveis. Entrar é um início de uma experiência que merece ser vivida”, refere Ricardo Fernandes, administrador do grupo Cães de Pedra. Para uma reestruturação capaz, a marca reformulou ideias, imagem e equipas, e aproveita também a celebração dos 25 anos para renovar o conceito de loja, com diferentes desa-
fios de forma a cativar quem tem prazer em se vestir bem a qualquer hora do dia, em qualquer ocasião e sempre em português. Recuando 25 anos, a marca surge no panorama nacional em 1993. No entanto, as exigências também evoluíram e o consumidor ficou mais opinativo e consciente do que queria vestir. No final de 2014, o grupo Cães de Pedra assume as diretrizes da marca, na certeza de que o novo percurso iria ter grandes desafios. Uma nova história começa e dela faz parte o seu novo conceito – Decenio Mediterrano – onde os clientes, homem e mulher, podem encontrar um estilo continuadamente de inspiração mediterrânica, focado no sul europeu, fomentador de uma forma de estar na vida que passa pelo lazer, a elegância, a sofisticação e, obviamente, a credibilização de que esta marca está a crescer para um novo rumo que se pretende que seja de valorização. t
SIRAJ SALIH, O REFUGIADO QUE SE FORMOU NO MODATEX Siraj Ibrahim Salih é um caso de orgulho para o Modatex da Covilhã. Nascido na Eritreia, chegou a Portugal em 2016, com apenas 19 anos, sem saber português e com o estatuto de refugiado. Passados dois anos terminou a formação no Modatex, assinou o seu primeiro contrato de trabalho e dá início a uma carreira na indústria têxtil. Quando chegou a Portugal, os horizontes pareciam fechados: deslocado do seu país e sem laços familiares, o jovem foi acolhido pela Santa Casa da Misericórdia da Covilhã. Aí teve o primeiro contato com o nosso país e veio a conhecer a
oferta formativa do Modatex, onde acabaria por ingressar, em Julho de 2017, no curso de Operador de Tecelagem. Durante a formação, as dificuldades linguísticas revela-
ram-se o principal obstáculo e os primeiros ensinamentos de tecelagem acabaram por ser transmitidos através de linguagem gestual e “ao ver como se fazia”, com a permanente ajuda de colegas e professores. Assíduo e pontual, o jovem viria a ultrapassar todos os obstáculos ao dar provas do mais importante: motivação para aprender e aptidões técnicas para ingressar na profissão. No final do curso viu o seu esforço premiado com uma oferta de trabalho na têxtil Paulo Oliveira, depois de aí ter completado o módulo de Formação em Contexto de Trabalho. t
JF ALMEIDA PREPARA ENTRADA NO MERCADO DA NIGÉRIA O grupo JF Almeida está a dar-se bem com os ares de África: depois de consolidar a sua posição no mercado argelino, a empresa oriunda de Moreira de Cónegos está-se a preparar para abrir mais um canal para as suas exportações, desta vez para a Nigéria. “Seremos um dos primeiros a chegar, sendo que é um mercado restrito, um mercado que nunca trabalhámos e que vamos abordar em 2019, onde já estamos a fazer prospeção”, diz o CEO Joaquim Almeida.
SOUTIENS QUE SE ABREM COM PALMAS OU COM A VOZ
ALEXANDRA MOURA FOCADA NOS MERCADOS DO ORIENTE
A empresa norte-americana Biometric Lingerie patenteou um sistema que permite a abertura de um soutien apenas com o recurso à voz ou ao bater de palmas. Os promotores do invento afirmam que o sistema pode ser usado com outras finalidades – por exemplo a abertura de um cinto ou de umas calças – mas preferem exemplificar com o recurso a um soutien.
Alexandra Moura está cada vez mais próxima dos mercados orientais: “Há uma atração entre nós e a Ásia, desde a silhueta à sobreposição das peças”, disse a criadora, para quem os mercados internacionais são cada vez mais importantes no negócio. Atualmente, Alexandra vende em três lojas no Japão, duas na China, uma no Kuawait, uma em Espanha e outra em Portugal.
"O sucesso não está no ser mais inteligente, mais trabalhador ou mais perspicaz, mas sim naquele que mais facilmente é capaz de se adaptar à mudança" João Carvalho CEO da Fitecom
KATTY XIOMARA TAMBÉM VAI LANÇAR UM LIVRO Depois da coleção de Primavera/Verão 19 que lançou no Portugal Fashion, Katty Xiomara lança também um livro. Reflexo é o título e, a par dos textos, as ilustrações e o design da obra são igualmente da autoria da estilista. E tal como a nova coleção de moda, batizada BeBold, a obra pretende também ser um estímulo para o poder feminino e encorajar as mulheres a sentirem-se inspiradas e seguras ao arrojar e dar nas vistas.
CRIADAS 427 NOVAS EMPRESAS EM GUIMARÃES ATÉ SETEMBRO Até setembro do ano passado, o concelho de Guimarães – onde a ITV assegura 70% da atividade e responde por 66% das exportações – ganhou 189 empresas, uma média de cinco por semana, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística analisados pela Câmara de Guimarães. Os dados indicam que no período em referência foram criadas no concelho 427 empresas, ao mesmo tempo que 238 fecharam as portas.
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MOMAD É SÓ UMA E JUNTA TÊXTIL E CALÇADO Momad, Moda em Madrid: assim se passa a chamar o evento onde a Ifema vai juntar têxtil e calçado, associando as duas feiras – Momad Metrópolis e Momad Shoes – que até agora se realizavam em paralelo. A próxima edição está marcada para de 8 a 10 de fevereiro, e para além de associar têxtil e calçado, faz coincidir a Momad com a Bisutex, a MadridJoya e a Intergift, os salões de bijuteria, joalharia e de decoração.
60 milhões
de euros é o volume de negócios do grupo Somelos, que emprega 1079 trabalhadores em 12 empresas
SPRINGKODE LANÇA PLATAFORMA PARA AS TÊXTEIS TRADICIONAIS
OS CLÁSSICOS NA NOVA COLEÇÃO DA BARBOUR
A Barbour, fundada em 1894 e reconhecida pelo seu tartan, assume como peça-chave da nova coleção o casaco Hagart, um corta vento curto com dois bolsos de chapa com pala e entrada lateral - uma característica habitual em muitos casacos da marca. O modelo tem ainda um acabamento com forro em tartan preto de algodão escovado. Os icónicos verdes e vermelhos do tartan clássico da Barbour, introduzidos pela primeira vez em 1998, contrastam com um novo tartan de Merlot em vermelho quente e azul marinho. t
PORTUGAL E GALIZA SÃO COMPLEMENTARES NA ITV O norte de Portugal e a Galiza juntaram forças para se tornarem num case study do setor têxtil, uma realidade destacada pelo canal Euronews em reportagem especial. Apesar da fronteira entre si, a ITV nacional é o maior fornecedor de marcas espanholas mundialmente conhecidas e o intercâmbio entre os dois lados da linha imaginária criou um poderoso cluster com todos os ingredientes para ser um caso de sucesso. “Portugal tem sido uma das vantagens competitivas da Galiza e acredito que a Galiza tem sido também uma vantagem para Portugal, que se têm complementado. Temos caminhado em paralelo, especializando-se cada um de nós no que podemos fazer melhor”, realçou
Alberto Rocha, secretário-geral da Cointega Confederación de Industrias Textiles de Galicia, à Euronews. “Até agora, a nossa relação tem sempre avançado nos níveis de complementaridade e estou convencido que neste momento há um ponto de inflexão em que já há níveis de competição. Em Portugal, muitas empresas, que já atingiram um certo nível de massa crítica e o fizeram muito bem, estão a desenvolver atividades que os clientes costumavam fazer aqui, pelo que vai ser um incentivo também para todos. Vamos encontrar-nos possivelmente com uma nova realidade dentro de poucos anos”, disse ainda Alberto Rocha. t
A Springkode, uma plataforma lançada por três empreendedores portugueses – Reinaldo Moreira, Francisco Pimentel e Miguel Pinto – está a garantir compras eletrónicas nas ‘tradicionais’ lojas de fábricas de têxteis do Norte e tem planos para alcançar 10 parceiros e uma faturação de 350 mil euros em 2019. A premissa é simples: aproveitar a tendência cada vez mais predominante das compras online para fazer chegar aos consumidores a qualidade da roupa made in Portugal a preços mais acessíveis. Isto é conseguido através do corte do intermediário e da redução dos custos associados a uma loja física.
BERG OUTDOOR RECEBE PARCEIROS EUROPEUS EM PORTUGAL A BERG Outdoor quer reforçar a sua presença a nível global e trouxe até ao Porto 26 agentes internacionais para apresentar as suas propostas para a primavera/verão 2019. Oriundos de países como Espanha, Andorra, França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Grécia, Turquia, Eslováquia e Eslovénia, os agentes tomaram contato com a coleção ‘Future Nature’, produzida com fibras ecológicas, com a qual a marca quer reforçar a aposta na sustentabilidade e economia circular.
NIKE PREPARA RUNNERS CONTRA TODAS AS INTEMPÉRIES
WESTMISTER COMEÇOU PELOS PÉS MAS JÁ VAI NOS BOXERS A WestMister começou pelos pés mas tem uma estratégia de ir subindo pelo corpo do homem acima, que começa a ser concretizada já nesta edição da Pitti Immagine Uomo (8 a 11 de janeiro), com a apresentação de uma coleção de boxer shorts. “Ao longo do ano vamos complementar a nossa oferta de meias com boxers, luvas e chapéus”, afirma Luís Campos, fundador e CEO
da WestMister. Com o centro de gravidade em Famalicão, a empresa de Luís Campos e Vanessa Marques perspetiva fechar o seu segundo ano de vida com vendas na ordem dos 100 mil euros, 20% das quais no mercado externo – Europa, Estados Unidos e Canadá. “A nossa ideia é inverter essas percentagens e chegarmos aos 80% exportados”, esclare-
ce o fundador da WestMister, acrescentando que um quinto das vendas são feitas online, canal onde já obtiveram sinais evidentes de fidelização dados por clientes que já vão na terceira ou quarta compra. Presentes nos El Corte Ingles de Gaia e Lisboa, a WestMister está a negociar a colocação dos seus produtos na rede espanhola de armazéns daquela cadeia. t
Com o equipamento certo, não existem dias muito frios para ir correr. O guia Nike inclui tudo o que é preciso, da cabeça aos pés, para combater os elementos do inverno. O chapéu Nike AeroBill Running protege a cabeça e o rosto da chuva e do vento, o top Nike Sphere Transform é resistente ao vento e repele a água, e ainda se pode aquecer, sem ficar com muito calor durante uma corrida, com o colete Nike AeroLoft.
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SCOOP E TMG: EMBAIXADORAS DO TÊXTIL NA ONU
RECORDE DE ALUNOS ATESTA SUCESSO DA PPP ENTRE UBI E IADE O número recorde de 35 alunos, dos quais mais de metade estrangeiros, que se inscreveram em 2018 no mestrado em Branding e Design de Moda que a UBI dá em parceria com o IADE, é uma das faces visíveis do sucesso da aposta estratégica do Departamento de Ciências e Tecnologia Têxteis da Universidade da Beira Interior, dirigido por Rui Miguel. “É um curso único em Portugal, porque conjuga o desenho das coleções com a componente do marketing, o que resulta numa aplicação muito prática e orientada para o empreendedorismo”, explica Madalena Pereira, docente e coordenadora do mestrado.
"Não estamos obcecados com números. Para nós, o importante é o serviço ao cliente e a rentabilidade" Carlos Serra CEO da Troficolor
Isabel Furtado, a mulher ao volante da TMG Automotive, reitera que os valores da ONU fazem parte do ADN da empresa que lidera
Apontadas como exemplos de sucesso comercial e de uma atitude responsável e ecológica, a Scoop e a TMG Automotive são as representantes da indústria têxtil no ONU Global Compact, uma iniciativa das Nações Unidas que junta empresas com uma presença forte na defesa do ambiente e dos direitos humanos. Trata-se de um reconhecimento ímpar e que vem dar uma força renovada à estratégia assumida por estas duas têxteis. A presença no comité é reservada exclusivamente a empresas com provas dadas na luta por uma sociedade mais justa e sustentável. Até ao momento, com candidaturas vindas de todo o mundo, apenas nove mil empresas cumpriram os critérios estabelecidos pela ONU. Para serem aceites, Scoop e TMG Automotive tiveram de fazer uma descrição completa das suas ações e de mostrar como integram os valores das Nações Unidas na sua política. “Temos o compromisso de incluir os princípios da
ONU na nossa estratégia, na nossa cultura e no dia-a-dia da empresa” escreveu Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive na sua carta de candidatura, endereçada a António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas. Também Mafalda Pinto, CEO da Scoop, fez acompanhar a apresentação da empresa de um compromisso renovado: “assumimos uma política de responsabilidade pública e de transparência, alinhada com os princípios do ONU Global Compact”, escreveu na sua carta de candidatura. O reconhecimento significa também um maior nível de exigência. A partir de agora, a presença das duas empresas no comité será reavaliada todos os anos, com base nos 10 princípios universais do Global Compact. Com esta iniciativa, criada este ano, a ONU espera vir a mudar o mundo empresarial e ganhar uma força renovada na preservação ambiental e na luta por uma sociedade mais equilibrada.t
VIETNAME CRESCE E TURQUIA ENCOLHE NO FIO DE ALGODÃO As grandes potências da indústria do fio de algodão estão a registar tendências contrastantes. Enquanto o Vietname cresce a todo o vapor, muito à custa do gigante chinês, a Turquia enfrenta as primeiras quebras desde 2011. Atualmente, a Turquia é o oitavo maior produtor de fio a nível mundial e um dos principais fornecedores da indústria têxtil europeia. A sua produção, que representa cerca de 4% de toda a fiação mundial, estagnou um
pouco acima do milhão (1,150) de toneladas, das quais 154 mil de destinam à exportação, com especial destaque para Portugal, que representa 15% do volume exportado. Um valor que subiu quatro pontos percentuais, em contraste com a tendência internacional. Em sentido inverso, o Vietname, terceiro maior produtor de fio do mundo, registou novos máximos, com um crescimento de 15% desde 2014. Devido aos baixos custos de produção, as fábricas vietna-
mitas atraem cada vez mais investidores e o país afirma-se como um dos principais fornecedores das indústrias têxteis asiáticas, com especial destaque para a China, o maior importador de fios do mundo. Desde 2012/13, as exportações de fios de algodão do Vietname para China praticamente quintuplicaram e o país ocupa agora o lugar de principal fornecedor da indústria chinesa, ultrapassando o Paquistão e a Índia. t
MONTEPIO TAMBÉM QUER APOIAR O TÊXTIL
H&M JÁ ABRIU NO ALAMEDA SHOP & SPOT
Estão em curso as inscrições para o Concurso Montepio Acredita Portugal, o maior concurso de empreendedorismo de Portugal e o segundo maior a nível mundial, e que tem como objetivos identificar e premiar ideias e projetos de diferentes setores, aceitando ideias de qualquer área – inclusive da têxtil. As inscrições podem ser submetidas, gratuitamente, até dia 20 de janeiro de 2019.
O Alameda Shop & Spot, no Porto, reforçou o seu mix comercial com a inauguração de uma loja H&M. Composta por dois mil m2, distribuídos por dois pisos, a loja acolhe as coleções de mulher, homem, criança, pré-mamã e acessórios. O objetivo da nova gestão do espaço é recriar um centro comercial com personalidade que traduza o espírito da cidade e se adapte ao estilo de vida dos clientes.
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do valor da fatura da energia corresponde a taxas
LAMEIRINHO E MODATEX APOIAM CRIANÇAS DA GUINÉ-BISSAU
A Lameirinho forneceu o tecido, o MODATEX a mão-de-obra e o resultado é uma gama de produtos infantis – que inclui fraldas, lençóis e babetes – que promete pôr um sorriso na cara das crianças da Casa Emanuel, uma instituição humanitária de acolhimento de crianças na Guiné-Bissau. Foram ao todo 16 conjuntos de lençóis com almofada, 16 fraldas e 36 babetes os artigos confecionados pelas formandas da Ação de Formação de Costureira Modista, que decorreu em Celorico da Beira.
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CASSIANO FERRAZ [CASSIANO FERRAZ] www.cassianoferraz.com
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“APOSTAMOS MUITO NA CUSTOMIZAÇÃO”
FOTO: RUI APOLINÁRIO
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n ENTREVISTA André Relvas Nasceu em 1974, o ano em que o seu avô Ramiro, o pai Duarte e o amigo Henrique Soares, desembraiaram o projeto Sorema, pensado para fornecer a indústria automóvel e que apenas engrenou dois anos volvidos a fabricar tapetes de casa de banho. Cresceu em Paços de Brandão e até ao 12º ano estudou no Colégio dos Carvalhos, onde conheceu a rapariga com quem casou (Ana Palmira) e jogou na equipa de voleibol, evidenciando o gosto pelo desporto, que mantém. Licenciado em Gestão (UMinho), tem dois filhos: André, 18 anos, a estudar Medicina, e Beatriz, oito anos, que quando for grande “quer fazer o que o pai faz”
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e numa reunião com um cliente o nosso argumento for o preço há alguma coisa que está muito mal: ou somos nós que não fizemos o trabalho de casa ou então estamos no cliente errado", explica André Relvas, administrador da Sorema. Foi com a chegada da terceira geração que a Sorema deu o grande salto em frente?
Não se pode pôr a questão nesses termos. Quando esta nova geração foi embarcando, encontrou uma empresa muito bem alicerçada tecnológica e financeiramente, apoiada por uma equipa de trabalho com uma excecional cultura perfecionista em termos produtivos. O trabalho mais difícil e arrojado já tinha sido preparado pelo nosso pai e avô. O vosso pai continua no ativo?
Aos 69 anos, ele continua ligado à parte produtiva. É a grande mais valia e referência da Sorema, e um privilégio para nós podermos continuar a contar com o seu apoio, com uma liderança que se impõe pelo seu conhecimento, fruto de uma vida ligada a este setor. Ao longo destes 44 anos, o caminho não tem sido sempre em linha reta...
Começou logo atribulado quando, dois meses antes do 25 de Abril, a empresa foi criada com o objetivo de fornecer a indústria automóvel. Só que, alarmados com a instabilidade pós Revolução, os potenciais clientes deslocalizaram a produção. Os tapetes para casa de banho foram a alternativa, pois utilizavam uma tecnologia similar à dos revestimentos para carros. Quando é que deixaram de ser monoproduto?
A primeira diversificação foi nos
anos 80, o meu pai entendeu ser imprescindível iniciar alguma complementaridade de produto e iniciou uma confeção de cortinas para banho. Nessa altura viviam só do mercado doméstico?
Embora existisse já alguma exportação para a Europa, designadamente Espanha, Alemanha e Noruega, o essencial das vendas concentrava-se em Portugal. O início da aposta nas exportações só veio mais tarde nos anos 90. Foi aí que alargaram a vossa oferta a toda a linha de banho?
Identificámos a necessidade de ter uma coleção estruturada com toda a gama têxtil para o segmento de banho quando começámos a participar em feiras, como a Textil Hogar, em Valência, ou a Casa Têxtil, na Exponor. E essa necessidade acentuou-se à medida que fomos criando as marcas... Quando aconteceu isso?
Começámos a expor em feiras nos anos 90. A nossa primeira Heimtextil foi em 1998 e nessa altura o conceito de coordenados já era para nós muito claro - e sabíamos que para sustentar as marcas tínhamos de complementar os tapetes com toalhas e outros acessórios para banho. Nos primeiros anos deste século, sofreram muito com o choque da concorrência asiática?
Não muito. Nessa altura estávamos com uma forte dinâmica de crescimento, uma coleção estruturada e uma oferta diferenciadora. E em 2005 criámos a marca Graccioza. Temos uma cultura perfecionista, focada no serviço e satisfação do cliente, que nos foi abrindo portas nos segmentos mais altos do mercado e nos preparou para fazer face à invasão de produtos asiáticos baratos. O que é preciso para construir uma marca?
É fundamental saber-se o que se quer - para não andar perdido, a desperdiçar recursos e energia - e ter muito espírito de sacrifício e
persistência. É como correr uma maratona.
"O Villa Joya e o Ritz de Madrid usam os nossos tapetes e toalhas de banho"
Era quase tão fatal como o destino que os três filhos de Duarte Relvas, licenciado em Economia na FEP, acabariam por desaguar na Sorema. Duarte, o mais velho, atualmente com 46 anos, fez primeiro um estágio na Irlanda (numa fábrica com quem a empresa tinha uma parceria), logo após ter concluído Engenharia Têxtil na Universidade do Minho. Mas André e Ricardo (o mais novo, com 38 anos, que fez Gestão na FEP e uma pós-graduação em Marketing na Católica) foram directos da faculdade para a fábrica. “Desde miúdos que nos habituámos a vir para aqui brincar, andar de skate ou de bicicleta. Mais tarde, nas férias e já adolescentes, vínhamos trabalhar, mas se calhar às vezes atrapalhávamos mais do que ajudávamos...", graceja André, que fez um pouco de tudo na empresa até assumir a administração em parceria com os irmãos.
Qual é o peso das marcas próprias nas vossas vendas?
Representam um pouco mais de metade das vendas. A Graccioza é a marca que mais tem crescido - é na que identificamos maior potencial e onde temos investido mais. Qual é a meta?
O objectivo que temos traçado é alcançar 75% da faturação com as nossas marcas, mas sem perder obviamente volume. Ou seja, mantendo o atual nível de vendas em regime de private label.
cas, já que iríamos ser a plataforma de distribuição para toda a Europa dos artigos da Welspun. Quais foram os primeiros sinais de alarme?
A conjuntura económica não era nada favorável e contrastava amplamente com a estratégia de crescimento traçada. Não demorou muito até percebermos que havia uma grande divergência a nível de posicionamento. Eles estavam muito focados no mercado americano, na venda de grandes volumes, uma estratégia que não era adequada à Europa. Porquê?
Qual foi o período mais difícil da Sorema?
A indefinição, nos últimos dois anos em que estivemos associados ao grupo Welspun, que só se resolveu em finais de 2012 quando acordamos a recompra dos 76% que lhes tínhamos anteriormente vendido. Os dois anos seguintes foram igualmente difíceis, pela necessidade de reorganização e alteração da estratégia da empresa.
O mercado europeu está muito mais dividido e segmentado do que o norte-americano. Além de que é mais exigente. Percebemos que a nossa identidade, construída com base na criatividade, flexibilidade e serviço, era incompatível com a visão e estratégia dos indianos. As coisas começaram a correr mal...
À partida parecia uma excelente oportunidade para as duas partes, começando pela complementaridade dos produtos. Na altura, a voz corrente era de que a indústria têxtil não tinha futuro em Portugal, pelo que estabeler uma parceria com um grupo da região para onde a produção ia ser deslocalizada trazia-nos uma segurança acrescida.
O investimento na distribuição começava a não ter retorno e originou uma degradação dos resultados. As divergências agravaram-se quando mudou o nosso interlocutor no grupo. Os maus resultados fora da Índia precipitaram igualmente uma intenção apressada de concentrar lá toda a fabricação. Isso era incompatível com a qualidade, flexibilidade e serviço que se impunham para a manutenção do negócio.
Um negócio win-win...
O divórcio foi fácil?
Nós esperávamos beneficiar da associação a um parceiro de referência, com uma dimensão equivalente a todo o setor português de têxtil lar. Eles precisavam de uma porta de entrada na Europa e do nosso know-how para uma fábrica de tapetes de banho que planeavam construir na Índia.
Bastante simples, mas também inevitável. Eles são pragmáticos, e muito bem preparados ao nível das chefias de topo. Acertámos tudo numa tarde em Londres, no outono de 2012.
O que vos atraiu na Welspun?
Quais foram os termos do acordo?
Como estão a correr as coisas nos Estados Unidos onde há dois anos têm uma parceria inédita com a Bovi?
Nós ficámos com 24% do capital e, por exigência deles, mantivemos a gestão da Sorema. Fizemos, em parceria, um grande investimento em estruturas comerciais e logísti-
O trabalho de construção de uma marca é sempre demorado, as coisas estão a correr conforme o planeado e a apresentar um crescimento continuado.
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O futuro da nossa ITV? Vejo ventos favoráveis! Comecei a trabalhar há um pouco mais de 20 anos e cansei-me de ouvir falar na crise da industria têxtil. Este setor é um exemplo do que é ter que competir à escala global. Esta contingência criou na indústria uma resiliência extraordinária, uma enorme capacidade de adaptação, sendo inquestionável que o setor passou e sobreviveu a um processo de seleção muito exigente. Uma qualquer empresa com 30 ou mais anos de atividade neste setor terá que
ser de excelência. Atendendo à preparação que a indústria necessitou para aqui chegar, vejo agora ventos favoráveis. Acredito que o fabrico se vai manter em Portugal à escala atual e até que haja alguma relocalização da produção. O facto de a competitividade exigir uma cada vez maior componente de serviço, conspira também a nosso favor. Bem como o aumento de custo de vida nos países nossos concorrentes e a tendência para uma cada vez maior flexibi-
de cores e dimensões na oferta.
Como é que a parceria funciona?
Partilhámos a estrutura comercial e de marketing. Esta parceria é restringida ao mercado norteamericano e para a distribuição das marcas, não abrange o private label. Pode ser replicada noutros mercados?
Contanto que se verifiquem os mesmos pressupostos. Estamos muito contentes com a nossa relação com a Bovi. Falamos entre nós de uma forma bastante aberta e partilhamos também informação sobre outros mercados. Entretanto, por cá estão a preparar-se para mudar de casa...
Mudar de casa não, planeamos aumentar as instalações. Ao longo destes 44 anos de crescimento faseado, o layout ficou um bocado confuso e sentimos a necessidade de mais espaço. Precisamos agora de reorganizar um pouco melhor o processo produtivo. Em que fase está o processo?
Já temos a localização definida, aqui em Silvalde, e o projeto e orçamentação estão em curso. Planeamos um investimento próximo de dois milhões de euros na construção do edifício e em alguns equipamentos. Gostávamos de ter este processo terminado até 2021.
"Estamos muito contentes com a nossa relação com a Bovi" O que há de novo relativamente a inovação?
A última grande inovação são os tapetes My Cotton Cloud que têm um recheio almofadado de espuma que se pode tirar, o que faz com que sejam laváveis. Mas estamos sempre a procurar introduzir pequenas inovações, que nos permitam alavancar o valor perceptível dos nossos produtos. Esse esforço compensa?
Compensa, e é imperativo no segmento em que nos posicionamos. Investimos muito nas coleções e no desenvolvimento de produto, porque é aí que vamos buscar os nossos argumentos. Se estou numa reunião e o nosso argumento for reduzido ao preço, há alguma coisa que está muito mal: ou não fizemos o nosso trabalho de casa, ou estamos no cliente errado... Qual é a vosso ponto forte?
Vão aumentar a capacidade?
O principal objetivo não é de todo esse. Os ganhos fundamentais vão ser ao nível da eficiência industrial, permitindo ainda libertar espaço nas instalações actuais para pequenos projetos, bem como alguma diversificação de equipamentos para alcançar uma maior capacidade ao nível do design. O design é importante mesmo quando se está a falar de tapetes de banho?
Design e criatividade são fundamentos da proposta de valor que apresentamos ao cliente, para além do serviço. Temos um gabinete próprio, com três designers. A administração está também bastante envolvida nestas áreas, bem como na inovação.
lidade e customização da produção. Ultrapassado o conceito fatalista da têxtil, julgo que nos devemos concentrar em divulgar esta mensagem, de forma a manter o setor atrativo às novas gerações, o que ainda não acontece e acarreta dificuldades de recrutamento para funções operacionais e técnicas. Por outro lado, não nos podemos esquecer do que aprendemos num passado recente: de saber que o nosso alvo devem ser
A nossa maior força é a nossa equipa, com um know-how acumulado de 40 anos de trabalho e uma cultura perfecionista que potencia a qualidade dos nossos produtos. Por outro lado, há o investimento em criatividade, serviço e flexibilidade que se impõe neste negócio de pequenos volumes. Como é que vão conseguir manter uma oferta diferenciada e subir na cadeia de valor?
As empresas industriais têm cada vez mais uma forte componente de serviços. Apostamos muito na customização: as novas oportunidades passam por aí. Temos diferentes soluções de personalização, que vão do monograma aos bordados, ao fabrico por medida, passando por uma maior variedade
Não é uma tarefa fácil construir uma marca a partir de Portugal e nos têxteis lar...
É sobretudo um caminho moroso, mas que há muito traçámos. Trabalhamos para um segmento de mercado diminuto, em que a notoriedade é difícil de alcançar. Dificilmente alguém chega ao ponto de ir a uma loja pedir um tapete Graccioza. A estratégia que seguimos é muito de sementeira de marca, baseada no design, criatividade e posicionamento em alguns lugares de destaque. Um trabalho ingrato...
A notoriedade que precisamos é mais junto dos nossos clientes profissionais do que do consumidor final. Além de que fazemos um produto de luxo que não se pode exibir como um automóvel, uma mala ou fato. O que vendemos são tapetes e toalhas que vão para a casa de banho lá de casa, a que muito pouca gente tem acesso. Como está a correr a vossa aposta na hotelaria?
Não é propriamente uma nova aposta. É um segmento que de momento vale 3% a 4% do nosso negócio. Não competimos em volumes nem em preço. Temos uma coleção dirigida a hotéis boutique e de luxo que está, por exemplo, no Villa Joya e no Ritz de Madrid. Quais são as grandes preocupações que tem de momento?
Estar muito atento a tudo quanto se passa ao nível de sustentabilidade, economia circular e digitalização, de modo a tirar o máximo partido dessas tendências - e não perder esses comboios. Têm projectos em curso nessas áreas?
Vamos reforçar a nossa presença no online. Até agora estávamos só no B2B. A partir do início deste ano estaremos também no B2C, a vender os produtos da Graciozza directamente aos consumidores finais de todo o mundo. t
sempre nichos de mercado, explorando as oportunidades para as quais estamos melhor preparados e levamos larga vantagem, como a criatividade, serviço, inovação e preocupação com a sustentabilidade. Contornando assim a comparabilidade baseada no preço, não podemos parar nunca de aumentar o valor percetível pelos nossos clientes, o que nos obrigará à difícil tarefa de estar permanentemente na vanguarda do têxtil.
As perguntas de
Ana Maria Rocha Diretora adjunta do 2C2T da Universidade do Minho Portugal ocupa internacionalmente um lugar de relevo nos têxteis-lar. Qual a estratégia da Sorema para garantir este posicionamento no futuro?
Num contexto de globalização crescente ao nível do conhecimento e know-how, a necessidade de diferenciação será ainda mais notória. Os desafios da economia digital vão criar novas necessidades de serviços, que associados a uma tendência de customização de produto, irão potenciar oportunidades por proximidade geográfica que devemos explorar. A sustentabilidade será também um caminho de passagem obrigatória. Qual é a importância da colaboração com entidades do SCT no processo de I&d?
A Sorema está atenta a esta realidade. No âmbito de uma programada certificação na área da Inovação pela NP 4457, criámos uma matriz de interfaces com diversos interlocutores do SCT, ajudando a alcançar os seus objetivos de inovação. A norma baseia-se num modelo de inovação, suportado por interfaces e interações entre o conhecimento científico e tecnológico, o conhecimento sobre a organização e o seu funcionamento, o mercado ou a sociedade em geral. t
Ricardo Relvas Irmão e administrador da Sorema, responsável pela marca Graccioza O que melhor nos descreve enquanto empresa ?
A nossa maior força é a equipa que conseguimos reunir, bem como a cultura e o conhecimento que acumularam. Podemos sempre substituir um ou outro elemento, mas nunca o conjunto. A nossa principal preocupação deverá ser sempre potenciar o seu melhor desempenho, investindo na formação e acrescentando novos talentos. O que nos vai permitir continuar a diferenciar?
A base do sucesso será sempre a resiliência e capacidade de adaptação do nosso capital humano. O nosso posicionamento será continuadamente uma tarefa por terminar. Temos de estar permanentemente a ajustar-nos à evolução do mercado e da concorrência. Temos de procurar o nosso pequeno espaço diferenciador a cada momento, apostando na inovação de produtos e serviços, na sustentabilidade e customização. Ao nível das marcas, temos de manter a sua identidade, incrementando a notoriedade pelo rigor e seriedade com que trabalhamos ao nível da qualidade e criatividade, proporcionando um elevado valor intrínseco do produto, percetível e gerador de confiança aos nossos clientes. t
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POLOPIQUE É UMA DAS PME QUE INSPIRAM A EUROPA
O CEO Luís Guimarães, à esquerda, com o presidente da Câmara de Guimarães e o vereador da Economia durante uma visita à fabrica
A análise é da London Stock Exchange e a Polopique está entre as empresas mais dinâmicas e de crescimento rápido na Europa. Mil empresas para inspirar a Europa, assim se denomina a lista que inclui dez PME portuguesas e é anualmente elaborada pela Bolsa de Valores de Londres. Com uma faturação anual que ultrapassa já os 110 milhões de euros, a Polopique é uma das principais referências no setor têxtil nacional e uma das raras unidades verticais completas existentes no país. Tem uma capacidade de produção diária superior a 100 mil peças e exporta quase a 100%, destacando-se por ser o principal fornecedor de polos para o grupo Inditex. Números que mesmo assim não param de cres-
cer. A têxtil com sede em Vizela investiu em 2018 mais de 10 milhões na recuperação de uma antiga fábrica em Moreira de Cónegos, criando mais uma unidade de fiação que reforça o império da Polopique. A empresa. que começou com meia dúzia de funcionários em meados da década de 90, conta hoje com mais de mil colaboradores e vê agora a sua estratégia de crescimento plenamente validada pelo reconhecimento da Bolsa de Valores de Londres. A Polopique é a única representante da ITV entre as dez PME que inspiram a Europa – o ano passado estava a Parfois -, numa lista que inclui a Simoldes Plásticos, Sogrape Vinhos, Perfumes & Companhia, Nabeiro Group, Riberalves, Pestana Hotel, Cerealis, Couro Azul e EGEO. t
ESTÁ A INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO A REGRESSAR AO OCIDENTE? Vivem-se tempos de mudança e incerteza mas parece sobrar a certeza de que a corrida para a Ásia e pela mão-de-obra barata são estratégias do passado. O futuro, diz a consultora Mackinsey, é marcado pelas novas exigências do público, que prometem alterar as prioridades da indústria e trazer as fábricas e confeções de regresso ao ocidente. É com base na resposta de 188 gestores e empresários da indústria têxtil e vestuário que a maior consultora empresarial do mundo lança a questão: “Está a indústria do vestuário de volta a casa?". A conclusão é a de que estamos na vertigem de uma nova era,
que será definida por três tendências fundamentais: a sustentabilidade, a automação e a subcontratação em mercados mais próximos. Olhando para trás, os consultores da Mackinsey vêm que há duas décadas as marcas de vestuário procuravam diminuir os custos de produção, mas hoje uma resposta rápida e atual pode compensar um custo marginal acrescido. Na necessidade de repor os stocks cada vez mais rápido e de lançar coleções com maior frequência, as principais marcas internacionais procuram produção e design em mercados mais próximos, quer a nível geográfico como cultural.
Poupam dias de transporte e ganham uma grande margem de flexibilidade. Numa primeira fase, aponta o estudo, esta tendência privilegia as fábricas locais, mas acima de tudo alguns países vizinhos. O México em relação ao mercado dos Estados Unidos, e a Turquia e Marrocos em relação à Europa. Para o aumento do custo de mão-de-obra, inerente a esta mudança geográfica, a resposta estará na automação como forma de aumentar os níveis de eficiência e evitar aumentos nos preços, mas o estudo não termina sem deixar um aviso: o futuro é agora e as medidas eram para ontem. t
CENTROS COMERCIAIS PORTUGUESES ESTÃO PARA DURAR Os centros comerciais portugueses estão bem e recomendam-se (por enquanto), segundo um estudo da consultora CBRE sobre o “Fim dos centros comerciais ou início de uma nova geração?”, feito na sequência do encerramento em massa de centros comerciais nos EUA. De acordo com a consultora, não só o caso norte-americano “é muito distinto do europeu” como o mercado nacional mostra mesmo uma tendência oposta: “Em 2017, as vendas registaram um acréscimo de 8,4% e o número de visitantes (“footfall”) aumentou 0,5%, após três anos de queda”.
GLAM TO GLAM: DE MIM PARA TI
ZIPPY ABRE DUAS LOJAS NO BRASIL
“Sabias que, em média, só usamos cerca de 20% do que temos no roupeiro?” Foi com esta pergunta que a Glam to Glam, a primeira plataforma de vendas online dedicada à moda em segunda mão, se deu a conhecer ao mundo. O marketplace foi criado por Catarina Nogueira e Sara Couto, que aliaram o gosto pela moda com a necessidade de gastarem menos dinheiro a comprar roupa.
A ZIPPY reforçou a sua presença internacional com a abertura das suas primeiras lojas no Brasil. As duas novas aberturas, no Morumbi Shopping e no Shopping Tamboré, reforçam a aposta da marca na internacionalização e em especial no mercado da América Latina, onde passa agora a contar com nove lojas distribuídas por Brasil, Venezuela e República Dominicana.
"Parece que já está tudo inventado, mas temos de explorar coisas novas, de ir ao encontro do mercado. O que funcionou há 20 anos, deixou de funcionar há dez anos. E o que funcionava há dez anos, já não funciona agora" Fernando Pereira CEO da Apertex
UM INVERNO EM TONS NEUTROS PELAS MÃOS DA CONCRETO
O branco pérola, o bege toupeira e o preto são as cores que saltam à vista da nova coleção de Inverno da portuguesa Concreto. Especializada em malhas, a marca de vestuário do grupo Valérius apresenta para a próxima estação uma coleção que conjuga looks descontraídos com peças arrojadas, de onde se destacam as aplicações em pelo, os brilhantes e os pormenores chamativos como laços e molas.
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DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes
Flores Concept Store R. das Flores 268, 4050-264 Porto
Ano de abertura da loja 2015 Produtos Roupa, calçado, têxtil lar e acessórios totalmente portugueses Sócios Márcio e Nelma Nogueira Clientes Orientado para turistas (que representam 90% das vendas) à procura de produtos tipicamente portugueses
MARIA GAMBINA ABRAÇA PROJETO SOCIAL EM MATOSINHOS A estilista Maria Gambina, juntamente com o MAR Shopping e a Câmara de Matosinhos, uniram-se à Associação Rumo à Vida na criação de bonecas artesanais que representam as peixeiras, com as suas camisas, saias, aventais e lenços coloridos, tão tradicionais naquela cidade. “Foi uma honra incluírem-me neste projeto incrível. Vou dar tudo por tudo para que seja um sucesso!”, promete a criadora.
15 novos clientes por ano é o objetivo definido pela Valerius, que emprega 135 trabalhadores e fechou 2017 com um volume de negócios de 38 milhões de euros
FIMI ANTECIPA DATAS PARA INICIO DE FEVEREIRO A próxima edição da Feira Internacional de Moda Infantil e Juvenil (FIMI), que já vai na sua 88ª edição, surge cheia de novidades: nova estratégia e novas datas e localização, com o objetivo claro de se tornar o evento mais importante do mundo da moda infantil espanhola. A mudança de datas para 1, 2 e 3 de fevereiro de 2019 facilitará a visita de profissionais de outros países, uma opção orientada a 100% para captar a atenção dos compradores que buscam o selo made in Spain.
PAULO VAZ E MÁRIO JORGE MACHADO À CONVERSA COM MARROCOS
Um produto, uma estória Sempre que passavam pela rua das Flores, no Porto, Márcio e Nelma Nogueira não conseguiam deixar de olhar para o prédio do no 270. Os dois irmãos, provenientes de Paredes, queriam aproveitar a explosão de turistas que andava (e ainda anda) a invadir a Baixa do Porto e os seus planos passavam por abrir um alojamento local nessa mesma rua. No entanto, aquela pequena loja não lhes saía do pensamento. Ele da área do Direito e ela da das Antiguidades, nunca tinham trabalhado no comércio, mas tinham uma imensa vontade de mudar de vida. Lentamente, a ideia do alojamento local foi sendo esquecida e, em 2015, o tal no 270 da rua das Flores ganhou nova vida e transformou-se na Flores Concept Store, uma loja que só vende produtos totalmente portugueses, com especial incidência no têxtil. Habituados a viajar, Márcio e Nelma conheciam bem o drama de procurar, nos diferentes países que visitavam, uma lembrança que expressasse verdadeiramente a essência do lugar e que fugisse aos tradicionais “I Love” souvenirs. No Porto, a realidade não era diferente. “Agora já existem muitas lojas onde podemos encontrar artigos portugueses de qualidade mas na altura não. Por esta ser também uma zona muito turística, pensámos que seria uma boa oportunidade de ter artigos portugueses com qualidade para as pessoas poderem levar como uma lembrança do tempo que cá passaram”, explica Márcio. As dificuldades surgiram, no entanto, quando foi altura de começar a procurar produtores para fornecer a loja. “Muita da nossa indústria têxtil,
por ter tanta qualidade e ser muito reconhecida por isso, só trabalha para o exterior e em grandes quantidades, o que para uma loja pequena como a nossa é incomportável. Nas meias, por exemplo, tínhamos empresas que nos diziam que a encomenda tinha de ser no mínimo de 1000 pares, de cada cor! Para nós não dá, e isso obriga-nos a andar sempre a ver se descobrimos novos produtores para alargar o nosso portefólio”, confessa Márcio. As mantas da Chicoração, as carteiras da Wetheknot, os bonés da Galgo, as gravatas da Vandoma, as meias da Bó Micas, as bolsas da Joana Candeias e as boinas da White Horse são alguns dos produtos e marcas que podem ser encontrados nesta loja, e muitos deles, como é o caso das meias, das capas e das mantas, vêm mesmo a calhar para conseguir enfrentar a estação fria com um pouco mais de conforto e aconchego. E porque cada produto traz consigo uma estória, o cliente não leva consigo apenas um bem material mas também um pouco da história do nosso país. “Tentamos sempre contar ao cliente a estória que envolve o produto, ou seja, quem o fez, qual é a fábrica, o local onde foi fabricado e, nas peças mais tradicionais, a influência que têm na nossa cultura. Temos, por exemplo, o caso das mantas alentejanas, que normalmente todos nós temos em casa. Então explico-lhes isso, que quando se casavam, todas as noivas levavam no enxoval uma manta destas, e que, por esse motivo, para além de ser made in Portugal, aquela manta é também um pouco da nossa história coletiva”, descreve Márcio.t
A indústria têxtil e de vestuário, representada pela ATP, esteve em destaque no Fórum Económico Portugal-Marrocos, uma organização conjunta entre a CIP – Confederação Empresarial de Portugal e a CGEM – Confédération Générale des Entreprises du Maroc. A par da ATP, representada pelo vice-presidente Mário Jorge Machado e pelo diretor geral Paulo Vaz, o fórum contou com a presença de Karim Tazi, presidente da Moroccan Association of Textile and Clothing Industry (AMITH).
"Temo-nos apercebido que aquilo que apresentamos na Heimtextil só um ano depois é que começa a ter alguma procura" Carlos Barroso Administrador da Alda Têxteis
ELISABETTA FRANCHI CELEBRA 20O ANIVERSÁRIO Para celebrar o 20º aniversário da marca, Elisabetta Franchi lança uma coleção cápsula que incorpora peças icónicas, representativas dos modelos mais famosos da marca. A coleção é representada exclusivamente na cor mais característica da marca – o vermelho. No interior das peças, existe uma estampagem que representa Elisabetta rodeada pelos seus colegas, pela cadela Cherie e ainda um bolo como chapéu, como referências à celebração do 20º aniversário da marca.
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GENDA DAS FEIRAS
FIMI 1 a 3 de fevereiro – Madrid Baby Gi, Beppi, Dreampassion Baby Clothes, És parte de mim, FS Baby, Mary Tale, Mimi Chic, Ponto por Ponto ISPO 3 a 6 de fevereiro – Munique 4 Teams, A. Fiúza, A.Sampaio & Filhos, Barcelcom, Bergand by Gulbena, Carvema Têxtil, CeNTI - Centre for Nanotechnology and Smart Materials, CITEVE, Clothius, Dune Bleue, Faria da Costa, Fiorima, FLM Textil, Fradelsport, Heliotextil, IDEPA, Impetus Portugal, J.Caetano & Filhas, Lemar, Lipaco, LMA, NGS Malhas, Oldtrading, Olmac, Onda, P&R Têxteis, Ropar, Sidónios Seamless Tech, Sit – Seamless Industrial Technologies, Smart Inovation, Tapa Costuras, Têxtil António Falcão, Têxtil Sancar, Wat, Identity FC MAGIC 4 a 7 de fevereiro – Las Vegas Adalberto Estampados, Becri, Silva & Irmãos, Trendymystery, My Shirt MILANO ÚNICA 5 a 7 de fevereiro – Milão Albano Morgado, Familitex, Lemar, Otojal, RDD, Sanmartin, Adalberto Estampados, Riopele INTERGIFT 6 a 10 de fevereiro – Madrid Dilina Têxteis, DKT – OPIBRANDS, DolceCasa, Rio Sul CIC, Têxteis Lar S. José, Têxteis Iris MOMAD 8 a 10 de fevereiro – Madrid Averse, Blackspider, Concreto / Valérius, Cotton Brothers, Faroma/Maloka, Givec, Karlek, Lion of Porches, Loco Luxo, Lovely Arcade, Luis Buchinho, Pé de Chumbo, Scripta, Scusi, Simple Change/Sal de Pipa, South Fashion Brands INDX 10 e 11 de fevereiro – Birmingham FS Baby, Just Lovely, Mom(e) PURE LONDON 10 a 12 de fevereiro – Londres Boon Clothes, Little Nothing, Beppi, Orfama, Temasa PREMIÈRE VISION 12 a 14 fevereiro – Paris Fabrics - A Sampaio, A Textil Serzedelo / Texser , Acatel, Adalberto Estampados, Albano Morgado, Avelana, Etexba, Familitex, Gierlings Velpor, Joaps, Lemar, LMA, Luis Azevedo, Lurdes Sampaio, NGS Malhas, Otojal, Paulo de Oliveira, Penteadora, RDD, Riopele, Sidónios, Somelos, Tessimax Tintex, TMG, Trimalhas, Troficolor Accessories - Bordados Oliveira, Envicorte, Idepar Yarns - Fifitrofa, J.F.Almeida, MAF/Filasa, SMBM, Têxtil António Falcão Manufacturing - J. Caetano & filhas, R.Lobo, Siena, Soeiro Centro Têxtil, Toddler Portugal, Triwool Knitwear - Orfama CPM MOSCOVO 25 a 28 de fevereiro – Moscovo Cristina Barros, Blackspider by Cristina Barros, Beppi Co-financiado
PERFORMANCE DAYS ATRIBUI-NOS 5 PRÉMIOS
Cinco tecidos portugueses (dois Tintex, dois LMA e um A. Sampaio) estiveram na galeria dos 24 produtos mais sustentáveis da Performance Days que se realizou em Munique, a 28 e 29 de novembro. O júri, constituído por especialistas da indústria, universidades locais e marcas, premiou assim os esforços das nossas empresas em usarem matérias-primas mais sustentáveis (como tencel, cânhamo e lã de merino) e tratamentos com baixo consumo de água, como o tingimento Colorau. t
A.SAMPAIO COM 11 PRÉMIOS NA ISPO TEXTRENDS 22 DISTINÇÕES A Tintex, com um Best ra mundial de artigos para Product, e a A. Sampaio & A. SAMPAIO & FILHOS desporto, que se realiza em Munique, de 3 a 6 de Filhos, com 11 amostras 11 AMOSTRAS - Duas Top 10 (um Base Layer e fevereiro de 2019. premiadas (das quais duas um Outer Layer) e nove seleções ( três AcceleA Sport Textile Village Top 10), são os maiores rated Eco, uma Base Layer, uma Outer Layer, From Portugal, organizada destaques nacionais nas uma Second Layer e três Street Sports). pela Selectiva Moda com o escolhas feitas pelo júri do LMA apoio do CITEVE, estará noconcurso ISPO Textrends, 5 AMOSTRAS - Uma Top 10 (Soft Equipment) que distinguiu um total de e quatro seleções (duas Soft Equipment, uma vamente situada no centro 22 amostras, apresentadas Membranes&Coating e uma Accelerated Eco) do pavilhão têxtil, mesmo por cinco empresas portuem frente ao fórum ISPO Textrends, o que garante um guesas, entre um total su- GULBENA bom fluxo de visitantes para perior a 500 candidaturas. QUATRO AMOSTRAS - Uma Top 10 (Second Layer) e três seleções (uma Accelerated Eco, uma as empresas portuguesas A LMA recebeu cinco Outer Layer e uma Street Sport) presentes no stand coletivo. distinções (uma Top 10), a Gulbena quatro (uma Top TINTEX Até ao momento, 43 10) e a NGS Malhas teve 1 AMOSTRA - Best Product (Base layer) expositores portugueses uma amostra selecionada. estão inscritos na próxima NGS MALHAS Desta forma, as cores 1 AMOSTRA - Selecção (Second Layer) edição da ISPO Munich, de Portugal voltarão a sendo que 35 destas embrilhar no Fórum ISPO Textrends, da maior feipresas participam com o apoio da Selectiva Moda. t
UMA BOA ESTREIA NA PV DENIM Compradores, designers e empresários das mais variadas geografias puderam apreciar as novas coleções da Crafil, Lisama e Troficolor na estreia portuguesa na Denim Première Vision, que se realizou em Londres, a 5 e 6 de dezembro. “Logo no primeiro dia houve muito movimento e alguns contatos bem interessantes, maioritariamente ingleses, mas também franceses, italianos, suecos e turcos”, conta Patrícia Maga-
lhães, representante da Troficolor, a especialista em denim que apresentou em Londres um portefólio abrangente, da moda ao vestuário de trabalho. Visitadas por clientes dos mais diversos mercados, as três empresas lusas destacaram-se pela aposta em artigos sustentáveis e inovadores, mas também pelas propostas de flexibilidade no serviço que é uma das principais vantagens competitivas de Portugal em rela-
ção a mercados mais distantes. “A nossa coleção é baseada em duas premissas, para nós fundamentais: a preservação do meio ambiente e a tecnologia”, explica Abraão Fertuzinhos, gerente da Lisama, Com múltiplos contatos em carteira e a perspetiva de entrada em novos mercados, o balanço é bem positivo para as representantes do denim português nesta primeira participação na Denim Première Vision.t
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NASCEM 34 NOVAS EMPRESAS POR MÊS EM FAMALICÃO CidadeTêxtil e coração palpitante da ITV nacional, o concelho de Vila Nova de Famalicão destaca-se também a nível nacional pelo seu ímpeto empreendedor. Isso mesmo está demonstrado com os mais recentes dados do INE, segundo os quais nos primeiros nove meses de 2018, o concelho viu nascer 309 empresas, ou seja, uma média de 34 por cada mês.
KIABI DO DOLCE VITA TEJO BATE RECORDE DE VENDAS DO GRUPO Logo nos dias de abertura, a loja da Kiabi do Dolce Vita Tejo foi aquela que mais faturou entre todo universo das 500 lojas que a marca tem em todo o mundo. Só nos primeiros quatro dias, foram vendidos 30 mil artigos e mais de seis mil pessoas aderiram ao cartão de fidelidade da marca. No top de vendas estão artigos de bebé, criança e mulher.
José Alexandre Oliveira, CEO da Riopele, nas instalações da empresa, localizada em Castelões, Famalicão
RIOPELE, O LUMINOSO EXEMPLO VERDE Nasceu associada à cor verde em 1927 e continua verde ao apostar nos princípios da sustentabilidade e economia circular. A Riopele, um dos gigantes da têxtil portuguesa, foi escolhida como emblema do encontro Famalicão Circular – novas fronteiras para a indústria, onde a responsável pelas áreas de inovação da empresa, Albertina Reis, destacou os muitos produtos criados e patenteados pela empresa ao longo de quase um século de actividade, destacando a estreita cooperação com centros tecnológicos e universidades. Citou os recentes projectos Nano Smart e R4Textiles, que em colaboração com o CITEVE, CeNTI e Universidade Católica, permitiram o desenvolvimento de novos têxteis. Como exemplos aparecem os Çeramica Cleen – respiráveis, capazes de absorver energia estática, e com acabamentos que repelem nódoas – ou o recente Tenowa, um têxtil sustentável
produzido com base no aproveitamento de resíduos alimentares e que já está em comercialização. E mesmo que seja um produto ainda em desenvolvimento, Albertina Reis disse que este ano deve representar já um negócio de meio milhão de euros, mas que o objetivo é que represente 7% da facturação da Riopele em 2022. No entanto, a empresa não se fica por aqui e está igualmente a investir um milhão de euros na construção de uma central solar fotovoltaica, reforçando assim a sua política de produção sustentável e de responsabilidade ambiental. A obra vai permitir poupar 14% na fatura de energia e uma redução anual de 689 toneladas na emissão de CO2. Localizada em Castelões, Famalicão, a central vai produzir uma percentagem significativa da energia elétrica necessária ao funcionamento de uma das unidades produtivas de fiação do grupo. t
ITECHSTYLE SUMMIT DE 2019 JÁ ARRANCOU A organização do iTechstyle Summit, que está a preparar a 3ª Conferência Internacional de Têxteis e Confeções e que se realizará de 2 a 4 de abril de 2019 no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, acaba de lançar uma convocatória para os interessados em apresentar palestras e intervenções no âmbito dos trabalhos que vão ocupar os três dias da conferência. Desta vez, os temas em destaque serão a digitalização e desmaterialização de manu-
fatura têxtil; a sustentabilidade e a Economia Circular; os novos materiais avançados, fibras e estruturas; e as novas aplicações de materiais baseados em têxteis. Considerada uma das mais importantes reuniões globais do mundo têxtil, tanto em termos de lançamento dos novos desafios do futuro como de enquadramento do setor com a envolvente económica, a iTechstyle Summit é organizada pelo CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil
e do Vestuário de Portugal, e conta com a colaboração da Associação Selectiva Moda. O objetivo global da conferência mantém-se: a consolidação do encontro como uma importante plataforma de debate e reflexão sobre o conhecimento científico e tecnológico atual. Na edição do ano passado, que decorreu de 28 de fevereiro a 2 de março, estiveram presentes empresários e investigadores de 21 países, com cerca de 720 inscritos, e dos 48 speeches 20 foram portugueses. t
POÈTE APOSTA NAS LOJAS FÍSICAS
ALTRONIX QUER LEVAR A TÊXTIL PARA O FUTURO
A marca espanhola Poète – que produz em Portugal todos os seus tricôs e bordados – quer manter o foco nas lojas físicas e prevê que a versão online para compras não irá ultrapassar essa tradição, considerando o negócio da plataforma como complementar. A Poète conta com 18 lojas próprias, além de cem pontos de venda multimarca, fatura cinco milhões de euros e emprega mais de 60 pessoas.
São já duas as têxteis portuguesas que aderiram à tecnologia da Altronix, composta por passadeiras automáticas e leitores de RFID que facilitam a leitura de informação e a inserção de dados num software interoperacional com os sistemas informáticos das empresas. Pensada especificamente para o setor têxtil, esta solução tecnológica é mais um passo em direção à Indústria 4.0.
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é o peso da região das Beiras e Serra da Estrela no conjunto das exportações portuguesas de têxtil e vestuário
BIZTURI QUER JUNTAR DESIGNERS E CLIENTES
João Andrade e Rafael Vaz criaram a Chromatikborn, uma startup ligada ao desenvolvimento de software para a indústria da moda que ambiciona ser um ponto de encontro para estilistas e clientes. O primeiro produto desenvolvido pela empresa chama-se Bizturi, um marketplace que tem como objetivo vender artigos de moda que estejam nos segmentos premium e de luxo, e que trabalha diretamente com marcas e com designers de moda.
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ENDUTEX INVESTE 2,75 MILHÕES NO CENTRO DE GUIMARÃES Com bases sólidas na produção de vestuário técnico e na impressão digital, o grupo Endutex tem vindo a diversificar a sua atividade para os setores do imobiliário e da hotelaria. A última novidade é a aquisição do Monte Cavalinho, um terreno com 110 mil m2 no centro de Guimarães e um projeto urbanístico para construção de cerca de 300 habitações. O terreno foi comprado por 2,75 milhões de euros, em hasta pública, e está enquadrado por um plano de ordenamento definido pela Câmara de Guimarães.
RAFAELA ENSINA A CRIAR MODA PARA TODOS
Criatividade e responsabilidade social dão as mãos no “Xi-coração Little Project”, uma iniciativa da professora Rafaela Norogrando, da Universidade da Beira Interior, que mostra aos alunos como a moda tem de estar consciente das dificuldades do seu público. Já na sua terceira edição, o projeto tem levado as suas turmas a criar peças de vestuário únicas, que depois de expostas ao público são doadas para causas de solidariedade. t
OS SETE PASSOS A DAR PARA A MODA SER SUSTENTÁVEL A eficiência no uso de água, energia e produtos químicos é uma das sete prioridades para se alcançar uma moda sustentável, de acordo com o relatório divulgado pelo fórum Global Fashion Agenda. O relatório, com diagnóstico e recomendações sobre como melhor produzir roupas e calçado, surge no âmbito do Copenhagen Fashion Summit, o evento mundial sobre sustentabilidade na moda que se reuniu na capital dinamarquesa. O documento do Global Fashion Agenda refere que atualmente a indústria conta apenas com um pequeno grupo de “campeões da sustentabilidade” (que não chega a valer 3% do valor do mercado mundial), e lamenta o “nível preocupante de inércia” representado pelo facto de quase metade das empresas do setor não incorporarem qualquer medida de avanço ambiental ou social nas suas estratégias. Transparência na cadeia de fornecimento. As empresas
devem rastrear e identificar os fornecedores de primeiro e segundo nível, para controlar onde são feitos os seus produtos, além de conhecer a origem da matéria-prima empregada nessa produção. O relatório recomenda mesmo que marcas e retalhistas divulguem, pelo me-
nos anualmente, a lista dos seus fornecedores, uma vez que “a rastreabilidade é um pré-requisito para identificar e melhorar o impacto ambiental, social e ético da produção de moda”. Uso eficiente de água, energia e produtos químicos. As
empresas devem adoptar programas que visem a redução do consumo de água, energia e
15%
das roupas são recolhidas para reciclagem, segundo o relatório divulgado pele Global Fashion Agenda
produtos químicos através da utilização mais eficaz destes recursos. Bom ambiente nas relações de trabalho em toda a cadeia
A preocupação com a existência de um bom ambiente nas relações de trabalho não deve limitar-se ao interior da empresa mas estender-se a toda a cadeia, pelo que devem ser adotadas políticas específicas neste sentido. Ampliar o mix da matéria-prima. As empresas devem
comprometer-se a proceder a uma busca incessante de novos materiais mais sustentáveis, obtidos com métodos de fabrico
menos poluentes ou que consumam menos recursos naturais, que sejam biodegradáveis e desenvolvidos para facilitar o processo de reciclagem. Criar um ciclo sustentável. Evitar o desperdício, numa escala industrial, é outra das prioridades, de modo a que a indústria de moda seja capaz de produzir peças inovadoras susceptíveis de serem recicladas ou reutilizadas. Segundo o relatório, atualmente menos de 15% das roupas são recolhidas para reciclagem e menos de 1% do material usado é reciclado em roupas novas. Melhorar os salários. Apesar das marcas e retalhistas não terem poder para definir os salários pagos a montante, o relatório recomenda que elas exijam aos seus fornecedores que cumpram as legislação dos seus países bem como as boas práticas, não só a nível social mas também ambiental.
MARQUES SOARES INVESTE 200 MIL EUROS NO ONLINE
ZIPPY ABRIU LOJA DE RUA EM BRAGANÇA
Os conhecidos armazéns Marques Soares têm em curso um investimento de 200 mil euros no desenvolvimento de uma nova plataforma eletrónica, com a qual projetam potenciar o peso das vendas online. A empresa estima que as vendas por e-commerce venham a pesar cerca de 10% da faturação no fecho das contas de 2019 (cerca de 7% no ano passado), mas espera um salto significativo para os próximos exercícios com o novo investimento.
A ZIPPY abriu ao público a sua primeira loja em Bragança, localizada na Avenida Sá Carneiro, no centro da cidade. A abertura de mais este espaço de rua reforça a presença da ZIPPY em território nacional, onde conta já com mais de 40 lojas. Com o novo espaço, a marca passou a contar com duas lojas na região de Trás-os-Montes, depois da que já tinha no Centro Comercial Nosso Shopping em Vila Real.
"Os têxteis nacionais não competem com a China. Se competíssemos com a China já não teríamos sequer indústria" Paulo Vaz Diretor geral da ATP
MODATEX RECEBE VISITA DE ESCOLA DE MODA FRANCESA
Acertar o relógio pela 4ª Revolução Industrial. As empresas
não podem perder o comboio da 4ª Revolução Industrial (aka Indústria 4.0) e, para além de colherem os benefícios do avanço da tecnologia digital, devem também estudar como minimizar os impactos negativos da digitalização da produção, como, por exemplo, a redução do volume de emprego. t
Uma equipa da Escola de Moda Francesa Lycée Adrien Testud, de Lyon, visitou o Modatex Porto, no âmbito do projeto ERASMUS+ – “TMCD – Textile Mode Cuir Design” – do qual o Modatex é parceiro. A iniciativa decorreu graças a um acordo de cooperação existente entre as duas entidades, que abarca a visita aos estabelecimentos de ensino dos parceiros estratégicos. Este mês, será a vez do Modatex e do CITEVE visitarem as instalações desta escola de Lyon, bem como outras instituições e empresas do setor.
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M EMERGENTE Tânia Nicole Designer de moda (marca Nycole) Família Os pais estão em Leiria, a irmã Elsa trabalha na Remax em Lisboa, ela vive no Porto, com Ariel, uma gata persa de pelo branco Formação Curso de Design de Moda, na ESAD, onde também fez o mestrado Casa Apartamento na Baixa do Porto Carro Carrinha BMW Portátil Mac Telemóvel iPhone 7 Hóbis Música (Antena 3) e quando tem tempo livre (o que é raro), ir e vir, de casa à Ribeira, a correr Férias No verão, gosta de ficar por cá e ir aos festivais, no resto do ano viaja para fora, misturando prazer e trabalho Regra de ouro “Estar sempre em cima dos acontecimentos, para saber em que mundo as pessoas estão”
FOTO: RIU APOLINÁRIO
Uma rapariga tipo mata-borrão No tempo em que se escrevia com uma caneta de tinta permanente era indispensável o uso de um mata-borrão que absorvia a tinta fresca, impedindo que a escrita ficasse borratada - e por isso ilegível. A invenção e popularização das esferográficas, simbolizada pela Bic, passou a certidão de óbito ao objeto mata-borrão — mas não à atitude mata-borrão. “O mais importante é manter-me sempre informada. Ir a uma exposição ou a um concerto. Viajar para ouvir um DJ. Saber o mundo em que as pessoas estão”, resume Tânia Nicole Fonseca, 27 anos, que há dois anos se despediu da empresa onde trabalhava para embarcar na aventura de construir a sua própria marca (Nycole). Tânia é uma designer tipo mata-borrão, que faz questão de estar sempre com todos os seus sentidos bem abertos, a absorver e metabolizar tudo quanto se passa à sua volta, que mais tarde traduz nas roupas que desenha. Nasceu em Leiria, em 1991, filha mais nova de um casal que tem uma empresa de distribuição de bacalhau. A queda para as artes adivinhava-se, pois aprendeu a ler, escrever e dançar ao mesmo tempo. Foi bailarina durante dez anos, até que, a meio da adolescência, a disciplina e exigência da dança se tornaram incompatíveis com o seu desejo de conhecer e viver o mundo. Aos 15 anos, insatisfeita com o curso de Artes que frequentava, emigrou para Lisboa, instalando-se em casa da irmã Elsa, na Costa da Caparica, para estudar Design de Moda numa escola profissional (Magestil), uma opção que a mãe, que tinha sido costureira em solteira, desaconselhou vivamente. “Ela tinha razão numa coisa. A moda dá muito trabalho. Mas é como tudo. Ou se gosta do que se faz e não custa, ou não se gosta e então é uma grande seca”, reconhece Tânia, que tirou ainda um curso de Produção de Moda na ETIC, enquanto fazia o inventário de figurinos e adereços no Dona Maria II. “Já dava para pagar as contas. Nunca fui de estar muito tempo parada”, explica. Até aos 20 anos, fez uma formação transversal na moda, petiscando desde a fotografia até à preparação de desfiles, passando pelo styling, edição de revistas, etc. Até que em 2011, resolveu fazer Design de Moda da ESAD. “Já sabia o que queria. Vinha super-focada, não andava a ver o que ia acontecer. Queria ser designer de moda”, conta Tânia. O tempo não demorou a dar-lhe razão, sob a forma de uma chuva de distinções - 3ª classificada no Nespresso Designers Contest (outubro 2013), Melhor Coordenado Feminino no Acrobactic (junho 2014) e 1o prémio no ACTE (julho 2015) -, que lhe deram força (e dinheiro) para prosseguir, mostrando as suas coleções no Sangue Novo e no Bloom. Completou a formação já a trabalhar como designer de moda na Extent, que lhe abriu portas e conhecimentos a montante e jusante - nas fábricas de malhas, tecidos e confecionadores, nas marcas como a Ralph Lauren, Barbour e Jigsaw, e também em feiras, como a Premiére Vision Paris, a Milano Unica ou a Pitti Uomo, onde vai estar este mês pela primeira vez como expositora. Há dois anos exatos tomou a decisão mais difícil da sua ainda curta vida, a de se despedir da Extent para apostar na construção da sua marca. Um passo arriscado (“na moda o retorno é muito complicado”), dado com uma rede (os pais prometeram dar-lhe apoio financeiro) que acabou por não ser necessária pois no entretanto ela foi convidada para dar aulas na ESAD e no IPCA. A vida tem-lhe corrido bem. Vendeu para o Japão logo no seu primeiro showroom em Paris. Promoveram-na à passarela principal do Portugal Fashion. Uma presença pop-up na Wrong Weather foi o passaporte para vender na Farfetch. E aposta na moda masculina revelou-se acertada (“há mais espaço no mercado, mais caminho para explorar”). “O homem é mais clássico. Gosto de trabalhar pequenos detalhes, de misturar muitas coisas, como de fazer um blazer com riscas desportivas de lado”, diz Tânia, uma designer tipo mata-borrão e com estilo próprio (o de acrescentar pormenores desportivos e de streetwear a peças clássicas) que odeia rotinas (“Não consigo estar muito tempo estagnada. Quando sinto que não estou a aprender nada de novo começa a ficar aborrecida”) e sonha apresentar a sua colecção na Semana de Moda de Paris. t
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X O MEU PRODUTO Por: António Gonçalves
Celliant Jersey
Desenvolvido pela Joaps em parceria com a Celliant
O que é? Uma malha que absorve o calor emitido pelo corpo e transforma-o em energia infravermelha Para que serve? Criada para vestuário técnico, acelera o fluxo sanguíneo e aumenta os níveis de oxigénio do corpo, o rendimento, a força e resistência do atleta Estado do projeto? Certificado por vários laboratórios norte-americanos e em comercialização.
BERNARDO SILVA, O FORA DA MODA Mesmo com os nossos estilistas no centro das atenções do mundo da Moda, nem todos parecem seguir as tendência. É o caso do futebolista Bernardo Silva, apontado pelos colegas do Manchester City como o mais mal vestido da equipa. “O fail da moda, o que se veste pior? É fácil, é o Bernardo”, disse em tom de galhofa o colega Kevin de Bruyn, em entrevista à Sky Sports. “É simplesmente horrível. O Bernardo usa sempre o mesmo e nós estamos sempre a dizer para ele comprar coisas novas. E até tem dinheiro para isso”, ironizou o internacional belga, revelando que Bernardo é gozado no balneário pelo modo fora de moda como se veste.
"A Tintex nasceu para fazer produtos diferenciados " Mário Jorge Silva CEO da Tintex
DESIGNERS E EXECUTIVOS DE MODA DESTACAM CRIALME E P&R TÊXTEIS Foi a propósito do congresso da Associação Internacional de Designers e Executivos de Moda que a JSN International, a revista da indústria de costura, destacou a Crialme e a P&R Têxteis como exemplos do desenvolvimento da ITV portuguesa. A reportagem surge nas páginas da revista – sendo que a capa é ocupada por uma foto de Nuno Pinto, presidente da P&R Têxteis, acompanhado por Paolo Cartabbia, CEO da Macpi Group, a propósito da convenção internacional da IACDE – Associação Internacional de Designers e Executivos de Moda, de que Cartabbia é dirigente e que decorreu em Abril de 2018, no Porto.
A supermalha que recicla o calor humano Parece uma ideia digna de um livro de ficção científica ou de um filme de super heróis, mas trata-se de um produto real e fabricado em Portugal. A Joaps, empresa têxtil de Famalicão, reuniu forças com a norte-americana Celliante, e juntas criaram uma malha capaz de absorver o calor libertado pelo corpo, transformá-lo em energia infravermelha e devolvê-la aos músculos, num processo que aumenta o rendimento desportivo e acelera a recuperação física. A tecnologia, que promete revolucionar o setor do vestuário desportivo, resulta de uma mistura de poliéster, lyocel e elastano, numa composição que inclui 13 minerais com características termo-reativas. Esta conjugação de elementos faz com que o tecido seja capaz de reutilizar a energia libertada pelo corpo, que seria desperdiçada e é assim redirecionada para os músculos. Quando é de novo absorvida pelo corpo, a energia infravermelha acelera o fluxo sanguíneo localizado e aumenta os níveis de oxigénio em 7%, numa ação com vários benefícios para o atleta: aumenta os níveis de força e resistência, diminui o impacto da fadiga muscular e, em casos de recuperação, acelera a cicatrização natural e reduz a dor durante os exercícios. O vestuário torna-se assim num aliado cada vez mais preponderante para o rendimento desportivo. Para além dos vários benefícios que propor-
ciona, a empresa de Joane, Vila Nova de Famalicão, destaca também a importância de ter uma componente renovadora ao reaproveitar a energia do próprio corpo. “Num momento em que a economia circular se afirma como uma tendência de futuro e quando cada vez mais consumidores demonstram preocupações ambientais e funcionais, não será de admirar que esta solução esteja rapidamente a conquistar o mercado” afirma Carla Araújo, responsável de desenvolvimento de produto e marketing da Joaps. Para além de figurar entre os finalistas dos ItechStyle Awards e de estar certificada por vários laboratórios norte-americanos, a malha começa agora a conquistar o setor do vestuário de desporto e de alto rendimento, um mercado que é estratégico nos planos de crescimento da Joaps. Com mais de três mil malhas em catálogo, a empresa de Vila Nova de Famalicão aposta cada vez mais nos tecidos técnicos, numa estratégia que visa cimentar a sua posição no segmento do vestuário desportivo, um mercado em constante expansão ao longo dos últimos anos. Atualmente, mais de 100 milhões de americanos praticam desporto e estima-se que 43% dos europeus tenha uma actividade física regular, números que tornam o mercado dos tecidos técnicos cada vez mais apetecível para a indústria nacional. t
60%
do catálogo da Lurdes Sampaio é composto por malhas construídas a partir de materiais sustentáveis
CLARA AJUDA DESIGNERS DE MODA A FAZEREM O SEU CAMINHO
“The Fashion Design Entrepreneur: skills and solutions to create a fashion-related business” foi o tema do doutoramento da professora na UBI Clara Fernandes, de 29 anos. Uma tese que já teve como consequência virtuosa a criação da plataforma Hoop que ajuda os jovens designers a encontrarem o seu caminho profissional. Partindo das alterações que se têm verificado na área do Design de Moda, Clara concluiu pela necessidade da criação de uma plataforma empreendedora, que deve ser entendida enquanto modelo.
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OPINIÃO SUSTENTABILIDADE É SINÓNIMO DE FUTURO Paulo Melo Presidente da ATP
UM BOM ANO DE 2019! Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP e Editor do T
A estratégia de desenvolvimento da Indústria Têxtil e de Vestuário portuguesa até 2030 está assente em quatro pilares fundamentais: a inovação (tecnológica e não tecnológica, ou seja a criatividade e o design), a internacionalização, a digitalização e a sustentabilidade. Serão estes os drives que formatarão aquilo que será a fileira da moda em Portugal na próxima década, de modo a esta permanecer, simultaneamente, moderna e competitiva, o que é o mesmo que dizer concorrencial à escala global. Todos eles estão interligados, de forma mais ou menos explícita, mas nem por isso menos complexa e intencional. Desenhar, conceber e fabricar produtos novos significa estar a projetar propostas diferenciadas ao nível do design e da moda, num quadro sempre presente de sustentabilidade holística e privilegiando os novos canais de relacionamento nos negócios, seja entre empresas, seja com o consumidor final, que está a eleger o digital como a principal plataforma de consumo, obrigando a reinventar os espaços físicos de venda. Contudo, se tivéssemos de eleger um motor para o crescimento futuro do setor, não hesitaríamos em escolher a sustentabilidade. Na verdade, estes valores enformam cada vez a cadeia de valor da indústria têxtil e de vestuário, e da moda em geral, à escala global, da produção das matérias-primas à fabricação e ao consumo.
Já o tenho dito em editoriais anteriores: o ciclo está a mudar e com mais velocidade do que prevíamos. Depois de 10 anos de expansão, o mais longo período de que há registo, criou-se a falsa sensação que o crescimento seria exponencial e eterno. Quem já está no setor há mais de 30 anos, como eu, sabe que esta é uma perigosa ilusão, que cede passo à acomodação e à complacência, que é o mesmo que dizer ao erro e ao desastre. Se há coisa que não se pode ser nesta indústria é confiante em excesso, julgando que se comprou a tranquilidade com a transitória prosperidade. Pelo contrário, foi sempre o permanente sobressalto, o constante estado de alerta e a predisposição para mudar, sempre que necessário, que criaram o instinto de sobrevivência que está no ADN do setor têxtil e de vestuário nacional. Uma insólita mistura de conjuntura política, social e económica que se degrada, no país e no exterior, alterações
As novas gerações interiorizaram esses valores, em que a sustentabilidade ambiental, social e económica são centrais, retirando-a da esfera da alternativa e do ativismo, e tornando-a verdadeiro “mainstream” que tudo influencia. A começar na exigência do consumidor por produtos de nulo impacto no meio ambiente, cujo processo respeitou direitos humanos e sociais mínimos, a começar pela matérias-primas e em todas as fases da transformação, fabrico e transporte. Um novo paradigma está a nascer, em que a economia circular terá um papel determinante, obrigando a indústria a compreendê-lo plenamente e a adotá-lo como seu. Trata-se de um caminho que está a começar a ser feito, pleno de dificuldades e desafios, mas igualmente de oportunidades, em que novas tecnologias serão aplicadas, incluindo as que garantam a traçabilidade e a veracidade das certificações que os produtos ostentam, pois essas serão exigências inquebrantáveis dos consumidores, que a Indústria Têxtil e de Vestuário portuguesa apoia vivamente, pois está preparada para as satisfazer integralmente. É esse compromisso com o futuro, com um futuro melhor para todos nós, que queremos também aqui testemunhar, fazendo a nossa parte e fazendo-a de forma excelente. Sustentabilidade é, afinal, sinónimo de futuro.
na sourcing policy de alguns clientes, que foram cruciais no passado para a ITV nacional e que agora buscam geografias onde o custo operativo é mais baixo, para ganharem margens, sem esquecer as mudanças estruturais no comportamento do consumidor, que, no ocidente, o nosso principal mercado, vai tendencialmente comprar menos artigos de vestuário. Factores que vão estar na base do próximo ajustamento que o setor terá de enfrentar. Neste contexto exigente que se prepara, é de admitir que o tecido empresarial se venha a redefinir, até porque as dependências de alguns mercados e clientes poderão ser fatais, caso as organizações não sejam suficientemente fortes na reação, procurando diversificar mercados, oferecer produtos e serviços diferenciados ou desenvolver novos modelos de negócio mais ajustados ao perfil do consumo que hoje está em enchimento e que amanhã será dominante.
Não tenho dúvidas que a Têxtil e Vestuário portuguesa se sairá novamente bem desta prova, depurada e reforçada com novas capacidades e competências, como tantas vezes o fez no passado, mais ou menos recente. Contudo, não posso deixar de exortar para que não se hesite na reestruturação e nas reformas que as empresas e a integridade do setor - terão de fazer com a necessária rapidez para poderem resistir e prevalecer: mais produtividade, mais agressividade comercial, mais presença internacional, mais diversificação de mercados e clientes, mais valor acrescentado e menos capacidade produtiva oferecida, mais foco e gestão mais criteriosa, o que significa que o desafio da “servitização” da indústria terá de ser vencido, pois estará aqui, no aumento das margens do negócio, a chave do sucesso. Para tornar o ano de 2019 um bom ano e todos os seguintes também.
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Ana Ribeiro Diretora Executiva do Cluster Têxtil
A ADVERSIDADE TRAZ SABEDORIA Será sempre um setor em mudança, disse alguém um dia! São desafios constantes que nos colocam num patamar de agilidade onde a tática e a experiência fazem claramente a diferença. E é assim o Setor Têxtil e de Vestuário (STV) português, repleto de desafios, constantes mudanças e adaptação ao contexto nacional e mundial respondendo de forma clara e inequívoca a todas as solicitações. E quais serão os próximos desafios ou paradigmas que giram em torno deste negócio? Será que estamos conscientes que estão bem próximas várias mudanças às quais teremos de responder de forma ágil e célere? Então vejamos, na Global Fashion Agenda, assinada por mais de 90 empresas que representam várias e conceituadas marcas de vestuário (Adidas, Decathlon, Gap, Inc, H&M, Hugo Boss, Inditex, Kering, Lacoste, Nike, Tommy Hilfiger, entre outras), estão definidas metas muito concretas a atingir em 2020. Estamos a falar de um acordo que representa 12,5% do mercado global da moda e que determina um conjunto de medidas para a circularidade. As linhas mestras desde acordo regem-se por quatro pontos de ação: 1. Implementação de estratégias de design para a circularidade; 2. Aumento do volume de recolha de vestuário e calçado; 3. Aumento do volume de vestuário e calçado usado (re)vendido; 4. Aumento da produção de vestuário e calçado com material reciclado. Será que o STV português está preparado para responder aos desafios que os clientes irão colocar num curto espaço de tempo? Analisemos agora outro paradigma: digitalização da manufatura, virtualização, robótica, indústria 4.0, blockchain e novos modelos de negócio. Que compromisso temos num futuro próximo? Tecnologias de produção avançadas, realidade aumentada, simulação e virtualização de processos e produtos, gestão e análise de dados, cibersegurança... São novos e arrojados passos para podermos ser mais competitivos, flexíveis, produtivos, eficientes e respondermos às questões de transparência e rastreabilidade que se tornam cada vez mais importantes nestes novos paradigmas. A somar a tudo isto temos ainda a questão das competências. Que novos perfis se antevêem para o Setor Têxtil e de Vestuário, que novas profissões e quais as alterações e reestruturações nas funções e profissões atuais? Teremos de ser mais “digitais”? Mais “circulares” e “sustentáveis”? Mais químicos, físicos, mecânicos, eletrónicos, mecatrónicos? Se calhar, é uma equipa multidisciplinar com todas estas e outras competências e valências que irá dar resposta a todos estes desafios. Um outro vetor, não menos importante, terá de ser reforçado. Refiro-me às parcerias estratégicas, ao trabalho colaborativo e à criação de novas cadeias de valor em torno do Setor Têxtil e de Vestuário de forma a fortalecermos a excelência que nos distingue. Realço, em particular, os centros de competência, universidades, clusters, associações, entidades publicas, bem como outros atores que gravitam em torno deste setor. Em jeito de conclusão: será em cenários constantes de mudança que seremos claramente estimulados a encontrar respostas para os desafios que aí se avizinham - pois “a adversidade traz sabedoria”, como bem adverte o provérbio popular vietnamita. t
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Ana Rita Ferreira Sociedade de Advogados Nuno Cerejeira Namora, Pedro Marinho Falcão & Associados
SERÁ QUE POSSO DEVOLVER A CAMISOLA? “(...) o consumidor é titular do denominado direito ao arrependimento, podendo proceder à devolução do bem no prazo de 14 dias (…)
Está aí a época que muitos anseiam: os saldos. É altura de encher os carrinhos de compra online e esperar pela meia-noite para realizar a compra daquele produto que já há tanto tempo namoramos. Mas e se nós não formos o par perfeito para aquela peça de roupa? Que direitos nos assistem? Contrariamente à convicção detida pela maioria das pessoas, nem sempre a troca ou devolução de um produto é um direito absoluto que as entidades comerciais não se podem recusar a satisfazer. Efectivamente, a imperatividade dos organismos comerciais aceitarem a devolução de um bem apenas existe se este possuir algum defeito, não tiver a aparência ou não funcionar conforme era publicitado. Neste caso, o comprador pode exigir a reparação do bem, a sua substituição, a redução do preço ou, eventualmente, devolvê-lo, sendo-lhe restituída a quantia que havia sido paga. Estes direitos devem ser exercidos no prazo de dois meses no caso de bens móveis, e no prazo de um ano tratando-se de bens imóveis, sendo tal período contado a partir da data do conhecimento do defeito. Se, porventura, pelo contrário, o produto adquirido não possui qualquer defeito ou desconformidade com o que havia sido anunciado, o vendedor não é obrigado a aceitar a devolução do mesmo. Apesar de não ser esta a realidade prática a que assistimos no nosso quotidiano, a verdade é que a maioria das lojas apenas o faz por delicadeza, com o fito de agradar aos seus clientes, incentivando assim também ao consumo, sem o medo de não existir a possibilidade de voltarem atrás na sua compra ainda que não gostem do bem adquirido. De facto, é por esse motivo que cada entidade decide o modo como a devolução pode ser efectuada, bem como os respetivos prazos, exigindo-se apenas, na maioria dos casos, que seja apresentado o comprovativo de aquisição e que o artigo esteja em pleno estado de conformidade com aquele em que foi adquirido. Este regime é, contudo, excecionado quando estamos a falar de aquisições realizadas em linha ou fora de um estabelecimento comercial, como acontece nas vendas online. Nesta situação, o consumidor é titular do denominado direito ao arrependimento, podendo proceder à devolução do bem no prazo de 14 dias, ainda que o mesmo não detenha qualquer defeito e, inclusive, sem ter que apresentar justificação.t
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
Depois da coleção de calçado que levou à passarela do Portugal Fashion, Cristina Ferreira bem pode voltar a surpreender já na Heimtextil, agora em modo homewear. Sempre perspicaz, Katty Xiomara já lhe vislumbra a nova coleção, que bem pode colher a inspiração no amigo Manuel Luís Goucha. É, pois, em modo íntimo que nos mostra a popular apresentadora, com uma camisa de dormir em musseline, pompons de penas e abertura nos slippers.
Cristina Ferreira em modo íntimo Nos corredores da moda ouvimos mensagens contraditórias sobre marcas novas com caras que todos conhecemos, surpresas interessantes e inauditas. Assim, tentamos adivinhar… pensamos, indagamos, perguntamos e depois imaginamos. A última edição do Portugal Fashion mostrou-nos uma Cristina Ferreira embrenhada no calçado, cogitamos se não seria interessante imaginá-la num meio mais íntimo e surgiu a ideia do homewear. Até porque a Heimtextil é a primeira feira do ano. Neste sentido, recolhemos algumas ideias e pensamos que a coleção poderá, porque não, ser inspirada no seu mentor Manuel Luis Goucha. Talvez como forma de despedida, agora que já nada como peixe na água no seu novo cargo como Consultora Executiva da Direção Geral de Entretenimento da SIC. Vestimos assim a Cristina com uma reveladora camisa de dormir em musseline de seda transparente que reproduz um micro padrão de flores e deixa adivinhar uma leve capa salpicada de brilho com pequenos pompons de penas na abertura e nos slippers . Depois temos um elegante roupão em cetim de seda com cores vibrantes e padrões tropicais. Esperemos que as cores e a elegância com que a Cristina orgulhosamente nos presenteia sejam também um bom augúrio trazido pelos Reis para este novo ano de 2019! t
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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
A Tulha Rua Formosa, nº 4 4990-117 Ponte de Lima
OS ROJÕES E O PAPA O Restaurante A Tulha, instalado num antigo celeiro no centro histórico de Ponte de Lima, tem dois registos que importa conhecer: durante a semana funciona mais com grelhados de peixe ou carne, mas ao fim-de-semana serve a boa comida regional. Não são só os restaurantes como A Tulha que mudam de registo ao fim -de-semana em Ponte de Lima. Naquela que se orgulha de ser a vila mais antiga de Portugal, uma coisa são os dias de semana e outra, bem diferente, são os dois dias do fim-de-semana. Onde a terra que Daniel Campelo pôs no mapa fica atulhada de gente. Sobretudo quando o tempo aquece, de maio em diante, mas também na quadra natalícia, o fim-de-semana em Ponte de Lima é o fim do mundo. O leito seco do rio transforma-se num gigantesco parque de estacionamento e o centro histórico da vila enche-se de visitantes, com sotaques vários, com destaque para o espanhol. Nestes dias onde a reserva é obrigatória, A Tulha tem os célebres Rojões com Arroz de Sarrabulho, que serve em grande escala. Já nos dias de
semana, o que é obrigatório é a encomenda, porque a escala é outra. Como o meu amigo Rogério gosta de dizer, o seu restaurante trabalha com peixe sempre fresco e carnes para grelhar. Percebe-se que numa terra onde há rojões e sarrabulho em cada esquina, exista vontade de diferenciar. Mas também em Ponte de Lima é o povo quem mais ordena e os pratos regionais que parecem ter sido postos na ementa quase por obrigação, recolhem os favores principais, sem precisarem de "cunha". Continuando na saga das encomendas, lembremo-nos do Arroz de Bacalhau à moda da casa e dessa especialidade recomendada que é o arroz de peixe. Mas isso é o que pode pedir quem já se atulhou por lá várias vezes, nas feiras novas ou na vaca das cordas. Quem demanda Ponte de Lima pela primeira vez e sobe a rampa que nos leva ao Tulha, é rojões que tem de pedir e já se sabe que o arroz de sarrabulho tem que constar da encomenda. Agora que as nossas exportações para Itália estão a crescer, até fica oportuno dizer que senão é como ir a Roma e não ver o Papa. t
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c Por: Cláudia Azevedo Lopes
MALMEQUER Ângela Ferreira, 41 anos e uma das criadoras da Sist3rs, nasceu, estudou e trabalha em Vila Nova de Famalicão. Em 1998 começou a trabalhar na banca, atividade que adora e que combina, desde maio de 2018, com as Sist3rs, um projeto de criação e decoração de cestas artesanais que partilha com duas das melhores amigas de infância. Um sonho feito realidade e que já desfilou no Portugal Fashion.
SOUVENIR
CASACO VERDE DE BOAS MEMÓRIAS
Gosta
Não gosta
De amar o filho Da família Fotografia Recordar a avó “Lula” Maçã com marmelada Saltos altos Trabalhar Maquilhagem simples Rezar à sua maneira Sair com amigos Massagens Calças boca de sino Das amigas Pessoas verdadeiras Sushi Arroz de cabidela Conhecer pessoas novas Rúcula Guardar recordações Rir até doer a barriga Francesinhas Ir à praia Maracujá Aletria Gratidão Caminhar Viajar Ser uma mulher de fé Pessoas que vivem com o coração Da “camisola” que veste Encontros de família e amigos Ajudar quem mais precisa Fado Sist3rs Lealdade Cerveja Reciprocidade Decoração George Michael Carteiras Conduzir Música Dançar Chocolate After Eight Voluntariado Festas Óculos de sol Tomar o pequeno-almoço no café Crepes Dos seus olhos
De ser alérgica a camarão De mentiras Discussões Pessoas choramingas Arrogância Chuva Rotina Cobardia Usar fato de treino Passar a ferro Violência Mosquitos Cabelo sujo Crianças tristes Racismo Falta de humildade Pessoas insensíveis Quando a cadela lhe morde a roupa Tarefas domésticas Futilidade Conduzir com chuva Ficar em casa sem fazer nada Frustração Sentir qualquer tipo de dor Tristeza Morte Ser ansiosa Desilusões Amarelo Meias brancas Heavy metal Terrorismo Café sem açúcar Ir ao cabeleireiro Sentir medo Falsas aparências Rivalidade Ingratidão Desmotivação Nortada Trânsito De pessoas muito calmas Estar “parada” Pratos cheios Chávenas quentes Água gelada De falhar Alcachofra Do nariz Que existam pessoas que passam fome
Se há roupas que são sempre únicas na nossa vida, esta tem também uma história pessoal e um significado muito particular. Desde logo por se tratar de um casaco que vinha do meu pai. Que só eu tinha, que não havia à venda e me identificava. Um casaco de pele verde de oficial do Exército, que usei religiosamente durante praticamente toda a adolescência e juventude. Era aquela peça de fardamento que o meu pai tinha usado enquanto capitão nas campanhas em África da guerra colonial, que fazia parte da minha identidade e que me acompanhou nas múltiplas vivências daqueles tempos de escola em Mangualde e Viseu. Recorda-me, por isso, aqueles tempos de grande amizade e de muita solidariedade entre um grupo de jovens, rapazes e raparigas, que ainda hoje perduram. E vestia-o com tanto gosto e afeição que o comecei a usar ainda antes de me servir e até quando não me servia: quando era ainda grande para o meu corpo e quando já era muito pequeno. Além do carinho e afeto e da ligação estreita com o meu pai que representava, vestia-o também com uma grande vaidade. Se ajudou ou não nas conquistas e namoricos desse tempo, não posso garantir. Mas que com ele vestido era sempre um rapaz mais seguro e confiante, disso não tenho dúvida. Era um casaco muito bonito, com um forro muito macio, os botões dos punhos também verdes, fecho de correr e uma gola de pele que gostava de usar levantada. Uma peça com uma história bonita e que recordo com muita saudade e carinho. t João Azevedo Presidente da Câmara de Mangualde
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