T44 Junho 19

Page 1

ISABEL COSTA

EMERGENTE

SINOPSIS É O SONHO EM CONSTRUÇÃO DE CRISTIANA TEIXEIRA

Proud Founder & Owner Burel Factory

“APOSTAMOS NO BUREL PARA VALORIZAR O QUE É NOSSO”

P 33

N Ú M E R O 4 4 J U N H O 2 01 9

P 20 A 22

DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

FOTOSÍNTESE

A MINHA EMPRESA

CHUVA DE PRÉMIOS PARA PORTUGAL NA TECHTEXTIL

A OLDTRADING É UM LABORATÓRIO SEM COSTURAS

P8E9

P 14

DOIS CAFÉS E A CONTA

A MÁQUINA QUE MUDOU A VIDA DE JORGE PEREIRA

PERGUNTA DO MÊS

INDÚSTRIA

QUE IMPACTO TÊM OS PRÉMIOS NOS NEGÓCIOS DAS EMPRESAS?

ANTÓNIO FALCÃO CRIA ETIQUETA QUE CERTIFICA OS FIOS RECICLADOS

P4E5

P 16

FOTO: RUI APOLINÁRIO

P6


02

T

Junho 2019


Junho 2019

T

03

3

n

CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Júlio Magalhães

Por: Manuel Serrão

Sílvia Camarinha 36 anos A jornalista do Fashion Film Factory é a cara da produtora Farol de Ideias praticamente desde os primórdios. A paixão pela dança – “jazz, funk e hip-hop, sobretudo” - só é superada pelo amor caseiro, do Carlos (marido) e da Maria Rita (3 anos, a filha de ambos). Por entre as filmagens em feiras, fábricas e desfiles de moda, perde-se também com as séries e programas de história na TV.

DOS PRÉMIOS E DOS VELHOS DO RESTELO Nesta edição do T falamos muito de prémios e cuidamos também muito de dar os merecidos parabéns aos premiados. Mas para além de noticiar esses prémios e distinguir justamente os premiados, quisemos ouvir vários agentes e entidades sobre o real interesse dessas distinções e o seu impacto nos negócios da ITV. As respostas confirmaram a nossa opinião. As nossas empresas e as nossas entidades responsáveis pela investigação e inovação tecnológica do setor, universidades e CITEVE, têm sido distinguidas com sucessivos prémios de design e inovação em vários certames e fóruns internacionais de elevado prestígio. Devo confessar que não eram precisos os prémios para que aqui no T já tivéssemos plena consciência do seu valor e do seu enorme reconhecimento para lá das nossas fronteiras. Os prémios e a sua divulgação pública são especialmente importantes é para acabar de vez com a cultura da incredulidade daqueles Velhos do Restelo que andam a defender há mais de 20 anos que a ITV portuguesa está condenada a desaparecer por falta de competitividade na nova ordem do mercado global. O que é que o Fashion Film Factory veio trazer de novo à moda e aos têxteis nacionais? Sobretudo espaço de antena a uma indústria que está em transformação e reinvenção. Habituámo-nos a associar a têxtil aos despedimentos e às vigílias à porta das fábricas e este magazine televisivo vem mostrar que o setor soube dar a volta e reinterpretar o que o mercado pedia. Produtos que só podem ser feitos por empresas inovadoras, de valor acrescentado, que valorizam os seus trabalhadores. Tem contactado com muitas das novas realidades da têxtil e moda portuguesa. O que é que mais a surpreendeu? Desde logo o empenho e coragem com que muitas empresas souberam aguentar as crises. Há muita resiliência no setor. A grande surpresa foi perceber que ganhamos imensos prémios em feiras internacionais. É incrível! Também as condições de trabalho que vou agora encontrando. Empresas que pagam creche aos filhos dos funcionários ou seguro de saúde e que potenciam formações avançadas e salários acima da média. E isso é notável. Também tem feito muitas reportagens nas feiras internacionais onde vão empresas portuguesas. Como sente o reconhecimento internacional da moda e da têxtil nacionais? Os estrangeiros estão fascinados, nunca pensaram que

Portugal pudesse ser tão inovador. Na última Techtextil tive a oportunidade de conversar com o diretor da feira e a forma empolgada com que ele falou dos produtos feitos com cortiça que Portugal levou à feira foi assinalável. Também tem um fraquinho pela moda de autor. Que opinião tem dos novos criadores da moda portuguesa? Também o design português está a descobrir novos caminhos. É interessante ver os jovens criadores apresentarem peças inovadoras mas vestíveis, algo que há alguns anos não era tão comum. Estão a encontrar formas de não comprometer a sua criatividade, enquanto criam produtos que são comerciais em mercados específicos. Vê-se isso com a Inês Torcato, o Hugo Sousa ou mesmo a marca Duarte.

T

- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Paulo Vaz

Acaba de ser lançada a sexta edição de outro FFF, o Fashion Film Festival. Como vê a evolução deste certame? O festival tem sido uma alavanca para realizadores e marcas, mas tem sido sobretudo uma oportunidade para as empresas olharem para si mesmas com outros olhos. Muitas estavam habituadas a pensar em filmes institucionais, mas o exercício de transpor para um filme com alto valor estético a imagem de uma marca, os produtos que desenvolve ou os seus valores, tem sido fabuloso para as empresas. Muitas descobriram uma nova forma de se apresentar ao mundo. t

Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


04

n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Freitas de Sousa

T

Junho 2019

“Motivam as empresas com o reconhecimento que lhes é dado, mas se se traduz em termos de negócios? Em muitos casos sim, noutros é um colateral” MIGUEL PACHECO HELIOTÊXTIL

QUE IMPACTO TÊM OS PRÉMIOS DE INOVAÇÃO NOS NEGÓCIOS DAS EMPRESAS? Os múltiplos prémios que as empresas e a investigação nacionais têm acumulado induzem negócio e alavancam a reputação de toda a fileira. Mas o recado dos empresários é claro: é necessário que a comunicação seja suficientemente eficaz para que o cliente final, nomeadamente o estrangeiro, interiorize a perceção de que o têxtil e o vestuário portugueses são em larga escala a vanguarda do que de melhor se faz no mundo.


Junho 2019

T

05

“As margens são sempre controladas mas um produto mais inovador permite à empresa ter uma melhor margem”

“A comunicação é fundamental: temos que fazer com que o cliente percecione o nosso real valor e por isso é que os nossos preços médios de venda têm subido”

“Os prémios não são todos iguais, aqueles que são focados nas empresas são os que trazem os resultados mais imediatos”

“São um estímulo reputacional muito grande, o que é muito bom, sob o ponto de vista coletivo, para a imagem do setor”

“Os prémios são uma maisvalia, sem dúvida nenhuma, mas não me parece que seja possível fazer uma indexação direta entre prémios e margens”

AGOSTINHO AFONSO TÊXTEIS PENEDO

MÁRIO JORGE SILVA TINTEX

BRAZ COSTA CITEVE

PAULO VAZ ATP

RUI CASTELAR SIT

gentes (associado ao CITEVE), de que Braz Costa é também responsável, “é a entidade em Portugal que tem um maior número de pedidos de patentes: 110 desde 2010, das quais 16 já concedidas e 40 numa fase avançada de apreciação, o que é assinalável porque o processo é muito moroso” e extremamente minucioso. Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), não tem dúvidas sobre a eficácia dos prémios de inovação em termos da produção de uma imagem geral do setor sem paralelo internacional e com a concorrência a ficar cada vez mais a uma grande distância. “São um estímulo reputacional muito grande – desde logo sob um ponto de vista da comunicação, que as empresas podem aproveitar individualmente – e é muito bom sob o ponto de vista coletivo para a imagem do setor”. Sendo estes prémios de algum modo um drive de diferenciação, eles implicam uma aposta continuada – não nos prémios, mas naquilo que os prémios indicam que é a aposta das empresas. O impacto nas receitas e mesmo nas margens do negócio, “se não for imediato, certamente que se fará sentir a prazo. Não pode ser puro orgulho, têm em vista um objetivo económico”, disse ainda Paulo Vaz, ressalvando que “os prémios que as empresas vêm ganhando não fazem parte daquela ‘indústria de prémios’” que houve noutros tempos e noutros setores. Quanto à possibilidade de as empresas fazerem um alinhamento direto entre os prémios de inovação e as margens do negócio, cada empresa é um caso. Vejam-se dois em sentidos opostos. Para Agostinho Afonso, administrador da Têxteis Penedo, “os prémios de inovação dão uma visibilidade muito

mediática à empresa, o que permite que ela aceda a determinados nichos de negócio que de outra forma não estariam ao seu alcance. As margens são sempre controladas mas um produto mais inovador permite à empresa ter uma melhor margem”. Quanto à reputação, não há dúvida: “é extremamente importante para o setor e para os têxteis portugueses, principalmente a nível internacional”. Já Rui Castelar, responsável da SIT, afirmou que “os prémios são uma mais-valia, sem dúvida nenhuma, mas não me parece que seja possível fazer uma indexação direta entre prémios e margens”. Uma ideia partilhada por Miguel Pacheco, da Heliotêxtil: “se um prémio de ino-

vação não for artificial, acho que motiva as empresas com o reconhecimento que lhes é dado e uma imaterialidade que permite alavancar outros negócios, mas se se traduz em termos de negócios, em muitos casos sim, noutros é um colateral”. De qualquer modo, a importância mantém-se, até porque “são uma forma de consolidar a imagem do setor nos mercados internacionais, pela visibilidade que têm”. Mas Miguel Pacheco acha que o setor está exposto àquilo que se pode chamar a ‘indústria dos prémios’ e chama a atenção para a necessidade da destrinça “entre os que valem mesmo e os valem aquilo que valem”. Paulo Augusto de Oliveira, do Grupo Paulo de Oliveira, entende, por seu turno, que

“em termos de visibilidade, os prémios são sempre positivos, mas a prática do negócio pode não ter uma correspondência, até porque há prémios ganhos por produtos que não têm interesse comercial, mas acabam sempre por gerar sinergias que ajudam a vender outras coisas. Não vejo que haja uma relação direta entre prémios e vendas, mas a imagem de reputação que se espalha a todas as empresas é um aspeto muito positivo”, destaca o administrador da Paulo de Oliveira. Mário Jorge Silva, da Tintex, chama a atenção para um assunto a que os seus pares deram pouca visibilidade: “a dificuldade de as empresas darem a conhecer os prémios” e, por essa via, tendo dificuldade em deles retirar aquilo que de mais importante eles encerram. “A Tintex, ao mesmo tempo que ganha prémios, tem uma campanha de marketing e comunicação muito bem estruturada, o que nos permite fazer perceber aos clientes a nossa valia, e vem culminar o nosso esforço de desenvolvimento. Por esse facto é que os nossos preços médios de venda têm subido. A comunicação é fundamental: temos que fazer com que o cliente percecione o nosso real valor. Não compreendo nem aceito que, se temos um produto melhor, ele seja vendido a menor custo que os dos outros países”. “A inovação tem de ser transformada em resultados, tem de ser um investimento e não um custo”, remata Mário Jorge Silva. A frase do empresário, para além da validade da opinião, é de algum modo um statement para toda a indústria: fechar o círculo virtuoso da inovação só é possível quando o investimento processado estiver devidamente vertido no crescimento das receitas, mas também no aumento das margens e dos lucros. t

a

acumulação de prémios que destacam a inovação que as empresas nacionais da fileira têxtil e da moda apresentam como uma das caraterísticas mais marcantes do seu ADN – e que as transformou num caso de sucesso dentro e fora de portas – é ao mesmo tempo causa e consequência da reputação e da credibilidade da indústria. Sintoma claro do matrimónio virtuoso entre as empresas, universidades e centros de investigação avançada, os prémios são também capazes, mesmo que não para todas as empresas, de contribuir diretamente para o aumento das margens de negócio, acabando por fechar o círculo de desenvolvimento que é, em última análise, a sua razão de ser. “Os prémios não são todos iguais, aqueles que são focados nas empresas são os que trazem os resultados mais imediatos. Quando, por exemplo, num concurso associado a uma feira no estrangeiro uma empresa é premiada e os seus produtos são expostos, isso tem impacto no mercado internacional”, refere Braz Costa, director geral do CITEVE, um dos centros de investigação de topo na Europa. “E há outro tipo de prémios, talvez mais tecnológicos, que não têm influência direta no negócio da empresa, mas têm consequências de médio e longo prazo” em termos reputacionais. “Posicionam o cluster português do têxtil num lugar de enorme destaque e Portugal entre os países inovadores, o que pode não ter um efeito imediato nas encomendas mas tem um efeito extremamente positivo”, sublinha Braz Costa. Ora, para alimentar esse efeito, o CeNTI, instituto que investiga nas áreas de nanotecnologia e materiais inteli-

“Não vejo que haja uma relação direta entre prémios e vendas, mas a imagem de reputação que se espalha é um aspeto muito positivo” PAULO AUGUSTO OLIVEIRA GRUPO PAULO DE OLIVEIRA


T

06

Junho 2019

A DOIS CAFÉS & A CONTA Piazza

Hall 4.1.7 Messe Frankfurt Ludwig Erhard Anlage 1 Frankfurt am Main

Pratos Pizza quatro queijos com rúcula Bebidas Cola-Cola, cerveja Becks e um café

JORGE PEREIRA

Sonhou ser controlador aéreo, mas chumbou no exame. A seguir quis ser piloto, passou em todos os testes, mas, na hora da verdade, desistiu - pressionado pela mãe, que estava sempre a dizer-lhe que era uma má profissão, já que não podia ter família, pois andaria sempre de um lado para o outro. Firmou os pés na terra e inscreveu-se no ano zero do curso de Gestão da Católica no Porto, onde andava (entusiasmado com uma rádio pirata) quando o pai, Adélio, comprou uma máquina de fazer linhas de costura. Estávamos em 1987 e ia nascer a Lipaco. Jorge Pereira nasceu em 1964, em Lourenço Marques (onde o pai trabalhava numa cimenteira do grupo Champalimaud), de onde veio com dois anos e meio. Fez uma escala na Trofa (onde a família da mãe tinha uma mercearia e ele aprendeu com a avó Maria o ofício do comércio), antes de deitar âncora em Esposende. Casado com uma fisoterapeuta, têm uma filha de 21 anos, que fez Gestão na Católica.

A MÁQUINA QUE LHE MUDOU A VIDA

FOTO:RUI APOLINÁRIO

55 ANOS CEO DA LIPACO

Livrem-se de se lhe meter uma ideia na cabeça! A família, que o conhece melhor que ninguém, está sempre a deixar este aviso, urbi et orbi, para que ninguém seja apanhado desprevenido. Se uma ideia se mete na cabeça de Jorge Pereira é certo e sabido que ele não vai parar enquanto não a concretizar. A culpa por a ideia da Lipaco se lhe ter metido na cabeça é do pai, Adélio (de quem ele herdou a irrequietude e o espírito empreendedor), que numa feira comprou uma máquina que achou muito interessante e instalou-a num armazém que tinham junto a casa deles, em Esposende. Coca-bichinhos como é, Jorge não descansou enquanto não pôs a máquina que lhe mudou a vida a fabricar linhas de costura. Foi há 32 anos. Os primeiros 18 anos decorreram suavemente, sem solavancos, com a Lipaco a vender linhas de costura no mercado interno, a uma indústria de confeções que prosperava despreocupada até que, já neste século, foi violentamente sacudida por dois terramotos - a adesão da China à OMC e a crise da divida soberana que trouxe a Troika a Portugal.

“Nessa altura foi para mim muito claro que tínhamos de procurar alternativas, de modificar a oferta de produtos e encontrar novos mercados”, recorda Jorge Pereira, que almoçou connosco num intervalo de uma hora da sua presença como expositor na Techtextil, preferindo a Coca Cola à cerveja para se manter bem desperto durante a tarde – e prescindindo do café para não perturbar uma boa noite de sono após um sempre cansativo dia de feira. Para ultrapassar a crise que atingiu a Lipaco no início da idade adulta, comprou equipamentos para começar a fazer fios (e assim a alargar a oferta), pegou na mala e correu mundo, de feira em feira, à descoberta de novos destinos que substituíssem o exangue mercado doméstico – e também para perceber que tipo de produtos pediam os clientes. “Aprendi que o caminho certo era apostar na exportação e em produtos cada vez mais técnicos”, resume o CEO da Lipaco, que conclui no próximo mês um investimento de 1,8 milhões de euros que duplica a capacidade instalada da fábrica.

Sustentabilidade, a palavra mágica para quem quer ter futuro na têxtil, está no topo da lista de prioridades da Lipaco, com um sucesso que pode ser medido pelo facto da Messe Frankfurt a ter incluído no restrito quadro de honra de 41 empresas (de um total de 1818 presentes na Techtextil) com boas práticas nesta área. Depender cada vez menos de terceiros é outras das preocupações, que levou a Lipaco a investir na tinturaria e em laboratórios. “Percebemos que para reduzir os tempos de entrega aos clientes e garantir a qualidade dos nossos produtos não podíamos recorrer à subcontratação”, explica. A Lipaco está no bom caminho. Exporta 45% das suas vendas de 2,6 milhões de euros, e 30% da produção já é de fios técnicos. Mas tem como objetivo de curto prazo exportar metade do seu volume de negócio e fazer crescer o peso dos fios técnicos. “O que nos interessa é ter cada vez mais produtos com mais-valia e cada vez menos commodities”, diz Jorge Pereira, um empresário que quando se lhe mete uma ideia na cabeça... t


Junho 2019

T

07


08

T

Junho 2019

6

2. JOÃO MENDES, UMA PRESENÇA DUPLA EM FRANKFURT, EM CARNE E OSSO, NO STAND DA A.SAMPAIO, E EM PAPEL, NA CAPA DA EDIÇÃO INTERNACIONAL DO T

FOTOSINTESE

1. A EMBAIXADA FROM PORTUGAL NA TECHTEXTIL/ TEXPROCESS ESPALHAVA-SE POR DUAS ILHAS, UMA NO HALL 3.1 (NA FOTO) E OUTRA NO HALL 4.1

CHUVA DE PRÉMIOS EM FRANKFURT Três prémios em sete, ganhos em Frankfurt, na mais importante feira mundial de têxteis técnicos, são a prova dos nove de que tradição e tecnologia andam de mãos dadas e que a ITV portuguesa está no topo mundial quando se fala de inovação. Nos quatro dias que durou a Techtexil/Texprocess foi possível ver o futuro. E ficamos todos a saber que a têxtil não só tem futuro - como também o futuro é têxtil

No dia de abertura da Techtextil, Detlef Braun, CEO da Messe Frankfurt, mostrou-se satisfeito por ter lido na seção económica do Frankfurter Allgemeine que a Alemanha voltou a ser um país têxtil

7. “A COMPONENTE TECNOLÓGICA É UM SEGMENTO DE MERCADO CADA VEZ MAIS IMPORTANTE”, ALERTOU PAULO MELO, PRESIDENTE DA ATP, NO EVENTO FFP 4.0

6. “PORTUGAL DEVE ESTAR ORGULHOSO DOS PRÉMIOS COM QUE A NOSSA TÊXTIL AQUI FOI DISTINGIDA”, AFIRMOU JOÃO CORREIA NEVES, SECRETÁRIO DE ESTADO DA ECONOMIA, NA ABERTURA DO EVENTO FFP 4.0

12. “AS COLEIRAS PARA CÃES EM FITA SÃO MAIS PRÁTICAS E FÁCEIS DE MANUSEAR”, EXPLICOU NUNO ALMEIDA (IDEPA) A CORREIA NEVES

11. ANTÓNIO FALCÃO FALOU AO SECRETÁRIO DE ESTADO DA APOSTA DA FITEXAR NA MARCA ECOFIBERS PARA FIOS RECICLADOS, PERANTE O OLHAR ATENTO DE CRISTINA MOTTA, A REPRESENTANTE EM PORTUGAL DA MESSE FRANKFURT


Junho 2019

T

09

4. RODEADA PELO SECRETÁRIO DE ESTADO ALEMÃO DA ECONOMIA, O CEO DA MESSE FRANKFURT E O APRESENTADOR DA CERIMÓNIA, CAROLINE LOSS (UBI) RECEBE PRÉMIO DA CATEGORIA NOVA APLICAÇÃO

3. SANDRA VENTURA (PENEDO) E ALBERTINO OLIVEIRA (SEDACOR) RECEBEM O TECHTEXTIL INNOVATION AWARD GANHO PELO CORK-A-TEX NA CATEGORIA DE NOVO MATERIAL

5. O PROCESSO DE TINGIMENTO ECOLÓGICO PICASSO LEVOU AO PALCO ANA SILVA E PEDRO MAGALHÃES (AMBOS DA TINTEX) E ROSA MARIA SILVA (CITEVE)

9. “BASTA HAVER UM BOM CONTACTO PARA JUSTIFICAR A VINDA A ESTA FEIRA”, GARANTIU VÍTOR ABREU, CEO DO GRUPO ENDUTEX

8. ANDRA VENTURA, RESPONSÁVEL PELA I&D DA PENEDO, TINHA UMA DUPLA RAZÃO PARA FESTEJAR. NA VÉSPERA TINHA RECEBIDO UM PRÉMIO, NO DIA DA VISITA DO SECRETÁRIO DE ESTADO COMPLETOU 41 ANOS

10. “NÃO EXPORTAMOS SÓ TREINADORES DE FUTEBOL”, COMENTOU O EMBAIXADOR JOÃO GOMES AO SABER QUE ALBERTO TAVARES É O CEO DA DIVISÃO DE ENGENHARIA DO GRUPO ALEMÃO KAP

14. “CHEGAMOS A TER MAIS DE 20 PESSOAS AO MESMO TEMPO AQUI NO STAND”, CONTOU JOÃO GOMES, COO DO CENTI, AO SECRETÁRIO DE ESTADO

13. “HÁ TRÊS DIAS QUE NÃO ALMOÇAMOS. TEM SIDO SEMPRE A DAR-LHE DESDE AS NOVE DA MANHÔ, CONFESSOU FRANCISCO REIS, SALES MANAGER DA MCS MUNS PY

15. RUI ZINK, ENVIADO ESPECIAL CONJUNTO DO T E DO CORREIO DA MANHÃ, RODEADO DE TECNOLOGIA POR TODOS OS LADOS - CRISTINA CASTRO (CITEVE) E CARLA SILVA (CENTI)


10

T

Junho 2019

SUECOS EQUIPAM TEXLA PORTUGAL COM NOVAS COMPETÊNCIAS Os suecos da Texla vão voltar a investir na sua fábrica portuguesa, em Carregal do Sal, dotando-a de novas competências que lhe permitirão passar a produzir tecidos laminados gravados para a indústria automóvel – designadamente para serem usados nos bancos dos carros. “Portugal é estratégico para o grupo Texla. A equipa da nossa fábrica portuguesa tem um grande know-how e uma excelente capacidade para desenvolver relações de confiança que são muito importantes neste negócio”, explicou Pär Palmgren, presidente do grupo Texla, em conversa com o secretário de Estado da Indústria, João Correia das Neves, durante a última edição da Techtextil.

"A estratégia passa por ter uma empresa que tanto está a produzir encomendas de 100 mil peças como de 100. E a nossa estrutura já está preparada para isso" José Costa Administrador da Becri

TÊXTEIS PENEDO DECLARA FIM ÀS ÚLCERAS DE PRESSÃO

O resguardo de colchão anti-escaras foi apresentado no último iTechstyle Summit por Sandra Ventura, diretora de Inovação da Penedo

António Moreira Gonçalves

A Têxteis Penedo, através do projeto Active Rest, está a criar um inovador resguardo de colchão, capaz de monitorizar e responder às úlceras de pressão, ou escaras, um problema comum entre pessoas acamadas ou em cadeira de rodas. É a prova de que os têxteis-lar podem ter um papel determinante também em questões de saúde. “Este é um produto muito ambicioso, porque as soluções atuais não são capazes de medir e dar uma resposta imediata. O que estamos a desenvolver tem as duas funções” explica Sandra Ventura,

diretora de Inovação da Têxteis Penedo, que apresentou os primeiros desenvolvimentos do projeto no iTechStyle Summit 19. Para além da Penedo, o Active Rest junta também CITEVE, CeNTI, IPCA e uma empresa de cuidados domiciliários, a Confortkeeper. As úlceras de pressão são feridas que surgem em pessoas imobilizadas, tipicamente em zonas do corpo onde os ossos são mais proeminentes, como nos ombros, ancas ou tornozelos. Quando estas lesões aparecem, a solução mais usual é mudar constantemente de posição, por vezes mesmo de hora em hora. “O que estamos a desenvolver é capaz de monitorizar o surgimento

destas úlceras, porque através de sensores vai medindo os valores de humidade, temperatura e pressão do corpo, e ajusta-se às necessidades da pessoa”, esclarece Sandra Ventura. Com base nos valores obtidos, o resguardo de colchão – ou de assento, no caso das cadeiras de rodas – vai alterando as zonas de pressão, de forma a criar um alívio imediato e de evitar o surgimento das lesões. Neste momento, o produto está em fase de testes. “Primeiro estamos a testar com pessoas saudáveis, e depois vamos passar para casos reais”, explica a diretora de inovação da Têxteis Penedo, que conta ter o projecto concluído no prazo de seis meses. t

FARFETCH APOSTA NO MERCADO DE SEGUNDA MÃO

F3M LANÇA SOLUÇÃO TECNOLÓGICA PARA A TÊXTIL

A Farfetch vai entrar no negócio da segunda mão e, sem colocar em causa a sua vocação de luxo, adere assim a um dos segmentos que os analistas consideram ter mais capacidade de crescimento. A nova plataforma do grupo será denominada Farfetch Second Life e permitirá que os proprietários de moda mais sofisticada a vendam, em troca de crédito para gastar no próprio site da Farfetch.

A F3M lançou uma solução tecnológica para o setor têxtil, que permite gerir e controlar todo o processo produtivo da confeção a partir de qualquer lugar e em qualquer momento. Pensada especificamente para o setor têxtil, a solução Produz Com é 100% web-based e garante uma visão 360º do negócio, já que integra as várias áreas da empresa e disponibiliza informação vital para a tomada de decisão.

40

toneladas de linhas de costura é a capacidade de produção mensal da Solinhas, que emprega 21 pessoas e fechou 2018 com um volume de negócios próximo dos quatro milhões de euros, dos quais 40% são feitos no mercado interno

PARFOIS APRESENTA ‘OUR MODEL IS A ROLE MODEL’ ‘Our Model is a Role Model’ é a nova rubrica de conteúdos da Parfois, que visa dar a conhecer histórias de mulheres inspiradoras e para isso usou como modelos mulheres reais com histórias diferentes, como é o caso da cantora Ana Stilwell e da modelo Fanni Weisz. O mundo da moda continua cheio de top models, mas o mundo precisa de mais role models – este foi o ponto de partida para a campanha ‘Our Model is a Role Model’, conceito criado pela Uzina para a Parfois. A nova campanha arrancou nas redes sociais da marca e vai estar presente nos 70 países em que a empresa opera.


Junho 2019

T

11

Exhibitions & Logistics EMPOWER YOUR BRAND

3D & CONSTRUÇÃO | DECORAÇÃO E AMBIENTES | DESIGN & COMUNICAÇÃO | EVENTOS & ACTIVAÇÕES DAMOS FORÇA À SUA MARCA Queremos ajudar a promover o seu negócio e criar valor num contexto nacional e internacional. Concretizamos a sua ideia, com criatividade, com dedicação e com uma experiência multidisciplinar de mais de 20 anos no setor, através de soluções de comunicação , de exposição e eventos em várias partes do globo.

Consulte-nos Acompanhamos as tendências com a sua marca. info@kislog.pt www.kislog.pt

facebook.com/Kislog.create.events www.linkedin.com/company/kislog-logistics-solutions


12

T

Junho 2019

NOVIDADE É A PALAVRA CHAVE NO CATECISMO DA TRAÇOS SINGELOS Novos produtos, novos clientes e novos mercados são os mandamentos da nova rota da Traços Singelos, uma têxtil lar que este ano quer fazer meio milhão de euros na exportação, depois de nos seus primeiros sete anos de vida ter vivido à base do mercado interno, fornecendo as grandes cadeias de hipermercados. Como a grande distribuição garante grandes volumes mas as margens são muito apertadas, Fátima Silva, fundadora da Traços Singelos, aposta agora em diversificar e imprimir um novo fôlego a uma empresa que fechou 2018 com um volume de negócios de três milhões de euros.

"Respondemos a amostras em 48 horas e muitas vezes em apenas oito horas. O cliente entra aqui e já sai com a amostra"

RUMO AO DOURO NOS 30 ANOS DO CITEVE

Pela imagem até se poderia dizer que o têxtil meteu água, mas na verdade foi o vinho, com provas e visita a umas caves de vinhos do Douro e Porto que assinalaram os 30 anos do CITEVE. A equipa completa –130 pessoas – avançou logo de manhã rumo à Régua numa embarcação de cruzeiro e ainda antes do almoço a animação e entusiasmo dominavam o ambiente. Muito espírito de equipa, dinâmica e irreverência, ou seja tudo aquilo com que o CITEVE se tem também destacado ao longo destas três décadas como referência na vanguarda e inovação. t

PAULO DE OLIVEIRA CRESCE 7% NO 1º TRIMESTRE Apesar da incerteza ser a marca de água da conjuntura atual, as vendas da Paulo de Oliveira aumentaram 7% no primeiro trimestre, surpreendendo a gestão de um dos maiores grupos de lanifícios da Europa, que perspetivava tempos difíceis após uma fase de grandes investimentos e de crescimento a dois dígitos. “No final do ano passado sentimos um abrandamento, que nos aconselhava prudência nas perspetivas para 2019. Adequamo-nos aos sinais que fomos lendo. Mas os primeiros meses deste ano correram melhor do que nós pensávamos”, reconhece Luís Miguel Oliveira, 54 anos, o administrador responsável pela produção da Paulo de Oliveira, feliz por estar enganado, “pelo menos por enquanto”. O grupo conclui em 2018 um quinquénio em

que investiu cerca de 20 milhões de euros, melhorando a sua eficiência energética e competitividade, renovando o parque de máquinas (designadamente as secções de tecelagem, totalmente renovada, e de acabamentos) por forma a aumentar a flexibilidade e velocidade de resposta. “Nos últimos anos investimos muito, porque houve uma alteração estrutural no nosso modelo de negócio. Investimos em máquinas que nos permitem produzir séries mais pequenas de produtos, com mais qualidade e costumizados, bem como melhorar o serviço que prestamos aos clientes”, resume Luís Oliveira, que trabalha na empresa fundada pelo avô desde que terminou o curso de Gestão na Católica (Lisboa). t

José Manuel Vilas Boas Ferreira CEO do grupo Valerius

AICEP APRESENTOU A AMAZON ÀS EMPRESAS PORTUGUESAS O potencial de negócio e a forma de funcionamento da Amazon, a maior plataforma de comércio online do mundo, deram o mote ao seminário que a AICEP organizou no dia 9 de maio no terminal de Cruzeiros do porto de Leixões. Ryan Frank, diretor europeu da Amazon, explicou às empresas portuguesas como funciona a plataforma, para além de abordar outros temas, como as diferenças entre o retalho e o marketplace, as ferramentas disponíveis para melhorar as vendas e quais as formas de alcançar os milhões de clientes da Amazon.

3 milhões

de euros foi quanto a Acatel investiu em estamparia digital, em duas máquinas e num novo pavilhão

GIO RODRIGUES COM NOVA COLEÇÃO PARA NOIVOS

TÊXTEIS VÃO MONITORIZAR PEÇAS DOS AUTOMÓVEIS Novos têxteis que combinem fios de carbono com fios termoplásticos e a incorporação de fios sensoriais em estruturas têxteis são as vertentes de inovação que estão a ser desenvolvidas pelo INEGI no âmbito do TexBoost do Cluster Têxtil, o projeto mobilizador da transformação continuada da Indústria Têxtil e do Vestuário que reúne 43 parceiros. “A equipa do INEGI está a desenvolver os semi-produtos que combinam fios de carbono com fios termoplásticos. Espera-se que a utilização desta nova matéria-

-prima, na forma de um fio homogéneo, diminua o risco de defeitos no produto final, melhorando o seu desempenho e reduzindo custos de produção”, explica Marta Martins, a responsável pelo projeto no INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial. Já quanto à incorporação de fios sensoriais em estruturas têxteis, a investigadora avança que “o INEGI é responsável pela obtenção de materiais compósitos, com base em tecidos de carbono que contêm fios sensoriais”.

O objetivo é que estes novos têxteis técnicos permitam no futuro “monitorizar o desempenho mecânico de peças estruturais do automóvel”, e quando utilizados, por exemplo, na base de uma bagageira vão permitir monitorizar a respetiva carga. Envolvendo 28 empresas e 15 entidades do sistema científico e tecnológico, o projeto TexBoost prevê dar à luz 17 novas soluções nas áreas da I&D para a indústria têxtil em cinco áreas estratégicas, que devem estar concluídas até junho de 2020. t

Da sensorial Bombaim, ao requinte de Monte Carlo e à energia de Lima, a nova coleção para noivos de Gio Rodrigues é inspirada na diversidade e beleza de várias cidades do mundo. O designer quer oferecer vestidos de casamento únicos, seguindo os pilares basilares de elegância e cosmopolitismo da marca, ao mesmo tempo que aposta na irreverência e no fator surpresa. O jogo de tonalidades é um dos pontos fortes da coleção, que procura fugir ao clássico vestido de noiva branco, apostando nos tons pastel, rosa e blush.


Junho 2019

T

13


14

T

Junho 2019

A MALA LOUBOUTIN COM TÉCNICAS TÊXTEIS DE PORTUGAL

X

O designer francês Christian Louboutin acaba de criar uma mala que pretende honrar o país que se afigura como uma espécie de segunda casa: Portugal. A mala colorida (chamada Portugaba) resulta da combinação de várias técnicas têxteis artesanais portuguesas. O folclore, o simbolismo e a história de Portugal fazem parte do design da mala, que existe em duas cores e está à venda em exclusivo no site My Theresa por 1.659 euros, sendo que um dos modelos já está esgotado.

A MINHA EMPRESA Por: António Moreira Gonçalves

Oldtrading

Rua D. Afonso Henriques, 97 4770-076 Cabeçudos, Vila Nova de Famalicão

O que faz? Confeciona vestuário seamless para mercados como o underwear, o desporto, a modelação e o pré-mamã Fundação 2008 Trabalhadores 50 Principais Mercados Noruega, Suécia, Holanda, Inglaterra, França e Espanha Volume de negócios 1,5 milhões de euros

"Nunca senti que o facto de ser mulher me prejudicasse ou beneficiasse, em qualquer situação" Alexandra Macedo Diretora Geral da Best Models

FOTO: ANTÓNIO MOREIRA GONÇALVES

ERT DEMONSTRA EM FRANKFURT O GRANDE PODER DO DESPERDÍCIO

Um laboratório sem costuras Rui Gordalina orgulha-se de ver na Oldtrading não apenas uma confeção, mas uma espécie de “empresa-laboratório”, onde inovar se tornou quase tão importante como produzir ou vender. “Quando se fala em inovação, não basta dizer que estamos disponíveis para inovar. Concerteza que todos estão disponíveis, mas é preciso materializar isso”, começa por explicar o fundador e administrador da empresa de Famalicão especializada na tecnologia seamless, o vestuário sem costuras. Quando foi criada, em 2008, o perfil da Oldtrading era, no entanto, bem diferente. No desenho inicial, a empresa era apenas uma célula comercial, e o grosso do negócio estava na revenda de peças básicas em volume para grandes retalhistas, como o grupo Auchan, que ainda hoje integra a carteira de clientes da empresa. Rapidamente a Oldtrading percebeu que para crescer precisava de autonomia e capacidade de produção própria. Assim, em 2011 abre-se à indústria, compra os primeiros teares e cria uma confeção de raiz, com toda a tecnologia orientada para o seamless, cuja procura não parava de aumentar. Mesmo com a crise internacional e a chegada da Troika, as vendas continuaram a crescer a uma média de 20% ao ano. No entanto, o mercado lançava sinais que eram impossíveis de ignorar e em 2013 a empresa decide jogar na antecipação. “Quem trabalha com produtos básicos tem margens muito pequenas, sofre uma pressão enorme e vai agonizando ao longo do tempo. Tí-

nhamos de dar o salto”, relembra o empresário. A Oldtrading virou assim a agulha para os produtos mais técnicos. Para dar esse salto, o primeiro passo consistiu na especialização dos recursos humanos. “Inovar é transformar dinheiro em conhecimento, e isso só é possível com uma equipa qualificada”, explica Rui Gordalina. A maior prova desta mudança é o DIEP - Departamento de Investigação e Engenharia do Produto, um gabinete exclusivamente dedicado a desenvolver novos produtos, onde hoje trabalham seis pessoas, entre designers e técnicos especializados. “Representa 12% da nossa equipa, não é costume uma empresa ter tanta gente dedicada à I&D”, sublinha. Esta estratégia abriu portas a novos mercados, como o sportswear, o vestuário de modelação ou o pré-mamã. Peças de compressão que combatem a fatiga muscular ou modelos adelgaçantes com propriedades anti-celulite são algumas das tecnologias criadas pela empresa, numa aposta que permitiu reduzir o peso das peças mais básicas e aumentar a presença nos mercados externos, que hoje representam 95% de toda a faturação. Agora, com um catálogo cada vez mais variado, a Oldtrading não fecha a porta à possibilidade de saltar do private label para as vendas ao público, mas Rui Gordalina prefere avançar com cautela. “Não excluímos a hipótese de criar uma marca própria, mas não podemos esquecer a nossa vertente industrial. Só colocamos um pé à frente quando já temos o outro bem assente no chão”, assegura. t

O BioEva – um produto feito a partir do desperdício do fabrico anual de um milhão de chinelos e pantufas – é uma das novidades que o grupo ERT levou à edição 2019 da Techtextil. “Com este novo produto, feito a partir dos desperdícios do corte das solas, estamos a corresponder à enorme apetência do mercado de produtos reciclados”, explica Fernando Merino, managing director do grupo, que emprega 1100 pessoas, tem o seu centro de gravidade em S. João da Madeira e fechou 2018 com um volume de negócios de 120 milhões de euros.

MODATEX: ALUNOS DESFILAM MODELOS EM RENDAS DE BILROS O Modatex apresentou em Peniche um desfile invulgar levando à passerelle dois símbolos da cultura nacional: o amor de Pedro e Inês e as tradicionais Rendas de Bilros. A iniciativa enquadrada na Mostra Internacional de Rendas de Bilros da Vila de Serra d’El Rei contou com 14 coordenados desenvolvidos pelos alunos das delegações de Porto e Lisboa.

70

toneladas mensais de fios de poliamida e poliester é a capacidade produtiva mensal da Fitor, que emprega 75 pessoas

KALEIGH, A EMBAIXADORA DA SUSTENTABILIDADE Criadora da marca de roupa sustentável Cleonice e uma das organizadoras da Catalyst, uma plataforma que pretende ligar os agentes nacionais de moda sustentável, Kaleigh Tirone Nunes está-se a afirmar como uma das embaixadoras da moda ética no nosso país. Arquiteta de formação, o seu primeiro projeto têxtil foi a Meggie, uma almofada de praia. Mais tarde, em 2016, surge a Cleonice, uma linha de roupa ecologicamente consciente que exulta a feminilidade das mulheres.


T

15

Os Filmes de Moda Nacionais de Autor,

digital love digital date

de Marca, de Têxteis Técnicos, de Alive Mobile e Internacionais são as categorias desta edição. Use o filme de moda para criar e potenciar a relação emocional com o seu público e submeta-o ao Festival até 20 de set. Fashion Film Festival, um namoro que dura há 6 edições. Inscrições gratuitas | www.portofashionfilmfestival.com | 963724466| fashionfilmfestival@portofashionweek.com

digital love digital date

p o r t o f a shi o nfi lm f est i v a l. c o m

Junho 2019


16

DIVIDENDOS DAVAM PARA ORTEGA COMPRAR 17 AIRBUS 320NEO Os 1,6 mil milhões de euros de dividendos que Amancio Ortega vai receber este ano dariam para comprar uma frota de 17 aviões A320neo e ainda lhe sobravam trocos suficientes para adquirir o passe de Cristiano Ronaldo à Juventus. De acordo com o jornal espanhol Cinco Dias, o empresário galego vai receber 813,1 milhões de euros, correspondentes à primeira distribuição de dividendos aos acionistas da Inditex neste ano. No total, o dono da Zara vai receber 1626 milhões de euros em remunerações pagas aos acionistas pela empresa, cerca de 240 milhões de euros a mais face ao ano passado.

T

Junho 2019

"Estamos a fazer mesa para a Dior Maison. Claro que o objetivo será avançar para outros produtos de casa, mas isso leva o seu tempo" Cristina Machado Diretora Criativa da Home Flavours

LAVORO ALARGA ATIVIDADE PARA O VESTUÁRIO DE PROTEÇÃO A Lavoro, empresa portuguesa de calçado profissional, vai alargar a atividade à produção e representação de vestuário de proteção, prevendo lançar a nova gama de produtos dentro de um ano, revelou Teófilo Leite, presidente da ICC — Indústria de Comércio de Calçado, que detém a empresa. O objetivo é aproveitar a notoriedade da marca para “acrescentar valor à atividade” e complementar a atual oferta de calçado profissional da empresa com equipamentos de proteção individual para algumas profissões específicas.

ETIQUETA DA ANTÓNIO FALCÃO CERTIFICA FIOS RECICLADOS

Portuguese Fashion News. De entre os 20 coordenados, provenientes de 14 escolas de moda e elaborados com matéria prima fornecida por 20 empresas têxteis nacionais, o júri elegeu os seguintes vencedores: Categoria I - Ensino Técnico Profissional: 1º lugar - Catarina Araújo Escola de Moda do Porto (Adalberto) 2º lugar - Eduarda Mota Escola de Moda do Porto (Tessimax) 3º lugar - Ruben Costa Cenatex (João e Feliciano) 4º lugar - Ivo Abreu Escola de Moda do Porto (Teamstone) Categoria II - Ensino Superior/Politécnico 1º lugar - Diogo Van der Santdt Modatex Porto (Paulo de Oliveira) 2º lugar - Francisco Pereira Escola Superior de Artes Aplicadas (Troficolor) 3º lugar - Marcelo Almiscarado Escola Superior de Artes e Design (Model Malhas) 4º lugar - Ana Rita Sousa Modatex Porto (Tintex)

Catarina Araújo e Diogo Van der Santdt, ambos de escolas do Porto, foram os grandes vencedores

UM VENDAVAL DE CRIATIVIDADE A criatividade está em alta nas escolas de moda do país e a 1ª edição deste ano do Concurso Novos Criadores, lançado no âmbito do projeto Portuguese Fashion News, acaba de o confirmar. A indústria não tem de temer qualquer iato nos altos padrões técnicos e criativos a que os designers portugueses já a habituaram. O desfile dos trabalhos candidatos resultou num verdadeiro vendaval de criatividade, onde cada um dos 20 coordenados a concurso podia che-

gar por mérito próprio à condição de vencedor. Precisamente por isso, a escolha dos vencedores, que coube a um juri constituido pelos designers Katty Xiomara e Paulo Cravo (Bloom/Portugal Fashion), por Alexandra Macedo, diretora da Best Models, pelo jornalista António Freitas de Sousa e por Paulo Faria, da têxtil Paula Borges, mostrou-se uma tarefa difícil. Foram ao todo 20 alunos (em representação de 14 escolas de moda na-

cionais) que, usando obrigatoriamente tecidos de 20 empresas nacionais, que foram sorteados pelos participantes, responderam ao desafio criativo que tinha por mote uma Magic Trip. A importância do concurso resulta de “darem aos nossos criadores a possibilidade de brilharem com os produtos fabricados pelas nossas empresas”, disse Manuel Serrão, CEO da Associação Selectiva Moda, responsável, em parceria com a Portuguese Fashion News, pela organização do concurso.t

LMA: A MELHOR AMIGA DOS ACAMADOS Uma cobertura para colchão que é ao mesmo tempo respirável, termo-reguladora (aquece quando está frio, refresca quando está quente) e impermeável foi a grande novidade que a LMA apresentou em Frankfurt, durante a edição 2019 da Techtextil. Thermic é o nome da cobertura de colchão, desenvolvida em parceria com um laboratório inglês em resposta

ao desafio feito à LMA por um cliente nórdico que fornece camas medicinais. “A cobertura garante a um tempo uma forte circulação de ar, o que é essencial para o conforto das pessoas acamadas, e um levado grau de impermeabilidade que protege o colchão da incontinência, o que, à partida, eram fatores contraditórios. Tem ainda uma regulação térmica. Requer alguma engenharia

conjugar estes três fatores no mesmo substrato”, explica Manuel Barros, diretor executivo da LMA. Apesar do produto estar a ter uma excelente receptividade, Manuel Barros admite aditivar ao Thermic novas funções, como por exemplo, propriedades cicatrizantes (para o caso de doentes com chagas), anti-baterianas ou anti-ácaros. t

Ciente de que as preocupações ambientais, que são uma das traves mestras do grupo António Falcão, devem ter consequência ao nível do negócio, a administração decidiu criar novas etiquetas que, por um lado, tornem essas preocupações evidentes ao cliente final e, por outro, cumpram uma função de certificação das peças que passam a ostentá-las. António Falcão, administrador do grupo, disse ao T Jornal que as novas etiquetas acabam por surgir da vontade dos clientes que usam as soluções ambientalmente sustentáveis da empresa em termos de fios em tornar esse uso numa mais-valia. Para além desta vertente de negócio, “a nova etiqueta funciona também como uma certificação de que determinado produto é produzido com o recurso a materiais reciclados”, refere ainda António Falcão. A Falcão Fibras desenvolveu fios de poliamida e poliester reciclados usando as garrafas de água de plástico transparente, ou PET, como matéria-prima. Produzidos com elastano reciclado em cru ou com cores, os novos fios juntam-se ao Amni Doul Eco, poliamida degradável – solução ecológica, um produto de alto desempenho que também respeita o meio ambiente em todo o seu ciclo de vida, contribuindo para uma redução geral do desperdício têxtil. Pioneiro na produção de fios reciclados usando como matéria prima desperdícios de plástico, “as áreas da sustentabilidade são centrais para o grupo”, que investiu na reconversão de algumas máquinas para poderem passar a usar fios reciclados. t


Junho 2019

T

17

Com as nossas APPS, a comunicação da sua empresa está acessível na “mão” dos seus clientes, de forma rápida e muito intuitiva.

Integre numa única aplicação a comunicação digital e a comunicação impressa da sua empresa. Interaja com os seus clientes, enviando notificações a qualquer momento. Direcione os seus públicos para a comunicação da sua empresa já desenvolvida para a web: > sites, > lojas online, > redes sociais, > Google Maps...

Rentabilize os custos inerentes à produção gráfica das suas publicações, aumentando a sua taxa de distribuição, sem condicionantes logísticas.

Vantagens e como funciona. Mantenha atualizada a comunicação da sua empresa e decida a qualquer momento a produção gráfica offset ou offset digital, das quantidades de que efetivamente necessita.

App Multitema Disponível na

DISPONÍVEL NO

www.multitema.pt | 800 203 101


18

T

Junho 2019

PROCHEF: MARTIN BERASATEGUI PERMITIRÁ CRESCER EM ESPANHA A Prochef, empresa especializada em fardas de cozinha personalizadas, assegurou a produção das fardas da equipa do restaurante basco do chef Martín Berasategui, o Lasarte-Oria, acrescentando assim mais um nome sonante à sua cada vez mais extensa lista de clientes famosos. Orquídea Silva, a empresária por trás da Prochef, explicou que impulsionada pelo sucesso da ligação aos chefes cozinheiros, lançou a Prochef Pastry e a Prochef Kids, ao mesmo tempo que os fardamentos para as áreas da saúde, limpeza e spa foram outras apostas. Em simultâneo, lançou uma linha de sapatos adequada à atividade de cozinha, que exige biqueira de aço, solas antiderrapantes e leveza.

NORMAL OR NOT, A NOVA MARCA DAS IRMÃS GOMES

"As empresas que investem continuamente no seu negócio podem ir a jogo. Para as empresas que não investem é a crónica da morte anunciada" Normal (para pessoas comuns), Or Not (moda que marca a diferença), este é o mote das irmãs Maria e Joana Gomes, que ao detetarem que a grande maioria das marcas se direcionam para pessoas com medidas muito reduzidas, quando comparadas com as da população em geral, decidiram direcionar o seu trabalho para pessoas como elas, com corpos normais que gostam de vestir moda. Talvez por isso tenham decidido ser elas mesmas as caras da campanhã desta primeira coleção, disponível no site da marca. t

FÁBRICA CORK-A-TEX COMEÇA A LABORAR JÁ ESTE VERÃO O fio de cortiça premiado na Techtextil 2019 vai começar a ser produzido industrialmente dentro de um mês, prevendo-se que a nova empresa, participada em partes iguais pela Penedo e Sedacor, faça um volume de negócios na ordem dos dois milhões de euros já no próximo ano. “Os resultados deste projeto superaram de longe as nossas melhores expetativas. O prémio veio aumentar ainda mais a procura. Já fomos contactados por todas as grandes marcas mundiais de desporto bem como pelas mais prestigiadas marcas europeias de moda”, confidenciou Xavier Leite, CEO da Têxteis Penedo. Equipada com máquinas feitas expressamente para a produção de fio de cortiça e construídas por empresas portuguesas de metalomecânica, a fábrica Cork-a-Tex está localizada em Guimarães, a cerca de 500 metros de distância da Têxteis Penedo.

No seu conjunto, englobando a I&D do produto bem como as novas instalações e maquinaria, a Cork-a-Tex representa um investimento superior a dois milhões de euros. A Cork-a-Tex fabricará o fio de cortiça, estando a fase seguinte na cadeia de produção a ser segmentada por diversas empresas – a JF Almeida fica com a tecelagem para felpos e a Penedo para tecidos jaquard. Desenvolvido pela Penedo e Sedacor em colaboração com CITEVE e FEUP, o cork.a.yarn foi muito elogiado pelo presidente do júri dos Techtextil Inovation Awards. “Não só se trata de um produto natural, que acrescenta ao fio propriedades de isolamento e térmicas. É ainda é um magnífico exemplo de economia circular, pois aproveita desperdícios da indústria de cortiça e também um belo caso de investigação”, afirmou o belga Jan Delperre na cerimónia de entrega dos prémios. t

Mário Jorge Machado CEO da Adalberto

MO CRESCE EM ESPANHA E ITÁLIA À BOLEIA DA EROSKI, GADIS E COOP A fase experimental foi em 2018, o ano que marca o início do novo fôlego da expansão internacional da MO para Espanha e Itália baseada no modelo de category management, que a levou a fornecer chave na mão os espaços atuais de venda de roupa de 15 lojas das cadeias de hipermercados Eroski e Gadis (Espanha) e Coop (Itália). Como a experiência correu bem, 2019 é o ano em que a marca de pronto a vestir do grupo Sonae se vai abrir ao mundo.

800

mil euros foi quanto a Riopele investiu numa central fotovoltaica para autoconsumo que lhe permitirá poupar 14% em energia eléctrica

MONUMENTAL PALACE TAMBÉM ESCOLHEU LAMEIRINHO PREMIUM

CORDEX CRESCE 12% EM 2018 E FATURA 220 MILHÕES DE EUROS O grupo Cordex continua a crescer a dois dígitos, sendo que em 2018 as suas vendas consolidadas aumentaram cerca de 12%, fixando-se em 220 milhões de euros. “Apesar de estamos tecnologicamente muito bem apetrechados, nunca paramos de investir. Gostamos de ser conhecidos pela qualidade dos nossos produtos”, explica Nuno Vitó, Sales Manager do grupo.

Em média, a Cordex investe anualmente entre três a cinco milhões de euros, não só em substituição de equipamentos mas também em software, novas tecnologias e digitalização de processos, sendo que tem em cima da mesa um aumento da capacidade instalada, para fazer face a uma procura crescente. Com centro de gravidade em Esmoriz – onde nasceu em

1969 (o ano em que o Homem foi à Lua), por força da vontade de Manuel Armando Pereira -, onde está a fábrica que produz todas as cordas e fios sintéticos, o grupo Cordex tem duas outras unidades industriais, uma em Ovar (a Flex 2000), especializada em espumas, e outra em S. Salvador da Baía (a Cordebras), que no seu essencial produz cordoaria de sisal. t

Os hóspedes do Monumental Palace, no Porto, dormem em brilhantes e luminosos lençóis de cetim 100% algodão fabricados pela Lameirinho, tal como os roupões e toalhas que usam após o banho, utilização do SPA ou piscina interior. O luxuoso hotel que recentemente abriu portas na Av. dos Aliados junta-se assim a outros exclusivos hotéis um pouco por todo o mundo, como o parisiense Plaza Athenee ou os estabelecimentos de cadeias como Anantara, Intercontinental, Porto Bay, Marriot, Tivoli e Douro Azul, que igualmente usam os produtos de linha premium da têxtil-lar de Guimarães.


Junho 2019

T

19


20

T

Junho 2019

FOTO: RUI APOLINÁRIO

“ESTAR NO INTERIOR É UMA ENORME DESVANTAGEM COMPETITIVA”


Junho 2019

T

21

n ENTREVISTA Isabel Costa 52 anos, nasceu em Ruivães, no Gerês, bem na fronteira entre o Minho e Trás-os-Montes. Cresceu em Braga e licenciouse no Porto, em Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Católica. O seu primeiro e único emprego, durante 20 anos, foi na Modelo Continente, onde chegou a administradora. A CEO da Burel Factory é casada com um jurista (João Tomás), têm dois filhos, João, 17 anos, que tenciona seguir Direito, e Maria da Estrela, 16 anos, que passou para o 11º ano, ambos excelentes alunos

t

emos de nos ajudar uns aos outros - alerta Isabel Costa, a engenheira que, em contramão com o êxodo do interior para litoral, reinventou o burel, para ajudar a sarar o tecido social de Manteigas dos dramáticos estilhaços que o dilaceraram, provocados pela crise que levou ao encerramento sucessivo das 11 fábricas de lanifícios que eram as fundações da economia da região. O que vos levou a trocar a cidade pela serra?

Gostávamos muito de fazer caminhadas na montanha. Desde o início deste século que se começou a desenhar nas nossas cabeças o projeto de iniciármos uma segunda vida, perto da natureza, e aí recebermos os amigos. A escolha da Serra da Estrela foi do meu marido João. Eu teria optado pelo Gerês. Descobriram a Casa das Penhas Douradas …

As Penhas Douradas foram a primeira estância de montanha no país, concebida por Sousa Martins, na sequência da Expedição Científica de 1880 realizada pela Sociedade de Geographia de Lisboa à Serra da Estrela, que considerou as Penhas Douradas o lugar mais saudável de Portugal pela pureza e frescura do seu ar... A estância tem uma arquitetura senatorial única no país, e mantém-se intacta. Apaixonaram-se por ela e recuperaram-na…

130 anos depois decidimos recuperar um sanatório em ruínas e abrir um hotel de quatro estrelas, a Casa das Penhas Douradas, que tem vindo a retomar uma tradição que quase se perdera nesse local mágico... a nossa Montanha Mágica. Como é que o pequeno projeto hoteleiro ganhou uma dimen-

são industrial?

Manteigas estava profundamente deprimida. Uma vila que tinha sido rica, habitada por imensa gente, e com um nível social e económico elevado, atravessava uma crise gravíssima. Não podíamos ficar indiferentes ao apelo do bispo da Guarda, D. Manuel Felício, e fizemos o que pudemos para sermos parte da solução.

" O que funciona no Japão funciona em todo o mundo"

O que fizeram?

Com a colaboração da comunidade, de amigos e de consultores, foram elaborados projetos de negócios a partir de recursos da região. Nós assumimos dois, um alimentar - a Penhas Douradas Foods, que produz e comercializa produtos gourmet, desde vinagrete de maçã com gengibre a ketchup de abóbora, passando por pesto de urtigas...-, que vendemos anos depois para nos concentrarmos no burel. Qual era a ideia?

Apaixonámo-nos por um parque industrial do século XIX, que incluía teares Porto e estava destinado a ir para a sucata e ser derretido em ferro. A ideia era inventar um negócio para salvar e criar emprego, conhecimento e permitir que aquelas máquinas continuassem a funcionar. Ressuscitar uma empresa falida e o burel foi a resposta a estas três necessidades. Qual foi o primeiro passo?

Alugámos a Sala das Linhas da Lanifícios Império, que estava em processo de insolvência, e começámos a pôr em prática a nossa filosofia que consiste em dar valor ao que é nosso, mantendo o património industrial no lugar onde está. Em vez de musealizar as fábricas, permitindo que elas morram, demos-lhes vida, mantendo-as a trabalhar e a gerar emprego. Foi por isso que apostámos no burel.

Para percebermos por que é que, com 40 anos e filhos pequenos, Isabel abdicou do conforto de um lugar na administração da Modelo Continente para embarcar numa arriscada aventura empresarial na Serra da Estrela, convém saber que ela é católica praticante, recuar à sua infância e compreender as implicações da lógica de ser auto-suficiente inerente à sua costela transmontana. Para a mãe, Custódia, natural de Montalegre, ser independente era saber fazer tudo - e assim ensinou as três filhas a cozinharem todo o tipo de pratos e a confecionarem a própria roupa. “Guardo memórias muito bonitas da minha mãe”, confessa, recordando os tempos da primária, em Vila Nova, em que viviam na escola onde a mãe dava aulas e ela corria livre pelas redondezas. As memórias e recordações desta infância livre ficaram-lhe tatuadas no caráter, o que ajuda a explicar o ziguezague que ela e o marido João deram às suas vidas, ao ousarem, em plena crise mundial, começar esta enorme aventura.

mos no burel e demos-lhe novas cores, formas tridimensionais e utilizações inovadoras. Reinventaram o burel?

Reinterpretámos o burel à medida do presente, conjugando a arte e o saber dos artesãos de Manteigas com o design mais moderno, criando peças, produtos e soluções originais de traço contemporâneo. Combinámos o know-how de uma indústria tradicional com a incorporação permanente de design, inovação e novas funcionalidades. Dito assim parece fácil…

Mas não foi. Os primeiros tempos foram terríveis. Vivíamos um ambiente de crise, crise, crise. Criávamos um novo negócio dando vida a uma empresa falida no momento em que só víamos empresas a fechar, isso diz tudo... Qual é a receita para vencer esses Adamastores?

Se houver paixão e energia, acredito que não é necessário fechar nada. O que é preciso é olhar para isto como uma missão. O que eu digo pode parecer romântico, mas não é. É muito duro. Para ser recuperável, o património tem de ser valorizado, de ser olhado com outros olhos, para lhes darmos novas funcionalidades.

grande grupo como a Sonae para uma startup?

Uma passagem de grandes números, com muito zeros, para pequenos números, com poucos zeros, é sempre violenta :-) Gerir uma estrutura muito reduzida é muito diferente de estar na administração de um grande grupo, com todo o suporte que isso implica. Foi um enorme desafio. Qual foi a sua primeira preocupação como empresária?

Como sou uma sonhadora, esforcei-me por não dar passadas maiores que a perna e não cair em ilusões. E nada disso aconteceu. Felizmente tenho um marido fantástico, que tem sempre os pés bem assentes na terra. Abriram a loja do Chiado em 2012, ainda o projeto dava os primeiros passos, e a do Porto em 2015. Qual foi a pressa?

Tínhamos a Burel Factory - a antiga Lanifícios Império -, as pessoas a trabalharem e as máquinas a funcionarem. Como arranjar clientes demora anos, decidimos ser clientes de nós próprios. Era importante que a marca conseguisse desde o início comunicar os seus valores e isso só era possível através dos nossos próprios espaços. E o que meteram nas lojas?

Como é que conseguiram tornar-se competitivos nos lanifícios?

Isto não é uma indústria de lanifícios. É um projeto de recuperação de património. Somos artesanato. Trabalhamos com máquinas do século XIX. Os nossos teares de lança fazem seis mantas por dia. Isso não existe em mais lado nenhum. Um metro quadrado deste ponto primavera leva 16 horas de trabalho de uma senhora. Nunca podemos ter preço, nunca podemos ter volume.

Porquê?

De onde vem a competitividade?

É um tecido tradicional, 100% lã de ovelha, que além de ser de fácil manutenção, proporciona excelentes isolamentos acústicos e térmicos. Nos países nórdicos e do centro da Europa usam a lã na arquitetura e na decoração. Pegá-

Somos competitivos pelo valor que criamos. Não poderemos nunca ter escala. O nosso objetivo é valorizar o que fazemos - à mão - de tal forma que sejamos percecionados em mercados de arte e de luxo. Como foi a passagem de um

No início eram muito clean, tínhamos poucos produtos, contávamos mais a história. Depois desafiámos designers a criarem produtos que fossem fáceis de vender. Começámos a desenvolver as mantas, a grande aposta do José Luís, diretor da fábrica. E usamos o burel na decoração do hotel das Penhas Douradas e nas próprias lojas. Por que é que investiram logo na exportação?

Quando falamos de produtos de muito valor acrescentado, produzidos para o nicho de um nicho, não podemos estar só num mercado tão estreito como o nosso. Por que é que começaram pelo Japão?

O que funciona no Japão funciona em todo o mundo. É um mercado


22

T

Junho 2019

3 milhões

foi o volume de negócios da Burel Mountain Originals em 2018, o que representa um crescimento de 38% face a 2017. Maior empregador de Manteigas (emprega diretamente 60 pessoas na indústria e 52 na hotelaria), o grupo fundado por Isabel Costa e João Tomás tem crescido sempre, em números e projetos. Começou com o Hotel da Casa das Penhas Douradas, passando para a recuperação de uma fábrica falida, a Burel Factory, até ao recente investimento em hotelaria, a Casa de São Lourenço, um hotel de cinco estrelas que veio dar nova vida à Pousada de São Lourenço.

Isabel Costa e João Tomás, numa caminhada

muito exigente que nos obriga a evoluir. Temos de ter garras para estar nesse mercado, repensar permanentemente os nossos produtos, clientes e negócios. Isso faz-nos adultos à força. Durante muitos anos, o Japão foi o nosso principal mercado, só muito recentemente foi ultrapassado pelo Canadá. Todos os vossos produtos são 100% made in Portugal?

Tudo quanto leva a marca Burel Factory é integralmente feito em Portugal, do fio à confeção, usando lãs provenientes de ovelhas bordaleiras (burel) e Merino (mantas) portuguesas, recorrendo a métodos tradicionais e a um parque industrial antigo que recuperámos. Produzem tudo indoor?

Só não temos a tinturaria, ultimação e acabamentos, que subcontratamos a empresas da Serra da Estrela, nomeadamente à Alçada & Pereira. O resto é feito na fábrica. Encaram a hipótese de verticalizarem mais a vossa produção?

Não, a não ser que não tenhamos solução. Focamos a energia na inovação e criatividade. Temos parceiros na região com quem gostamos de trabalhar. Neste setor, na região da Serra da Estrela, devíamos-nos ajudar mais uns aos outros. Cresceremos mais e seremos melhores, quanto mais os nossos parceiros crescerem e forem melhores. Ser sempre melhor é o objetivo?

O objetivo de fazermos cada vez mais bonito e único é que nos faz crescer. Por isso é que gostamos tanto de trabalhar na arte. Quanto mais perto o nosso negócio estiver da arte, mais belos nos sentimos e tornamos. Até como pessoas. Aproximamo-nos de Deus - porque a beleza aproxima-nos de Deus.

Já estão em velocidade cruzeiro?

"Burel Mountain Originals é 100% feito em Portugal"

Estamos com crescimentos semelhantes nos três segmentos. No entanto, têm pesos diferentes. A arquitetura é o mais inovador e em que temos investido mais, o que nos levou a abrir uma loja especializada.

O que sugere?

E nos tecidos?

Para começar, uma diferenciação positiva em termos de carga fiscal. E depois uma muito maior flexibilidade nas modalidades de apoio à formação e ao investimento, sobretudo quando em causa está a recuperação de empresas e de património relevante no interior.

Ao contrário da decoração, trata-se de um segmento sazonal e muito competitivo. Trabalhamos o baú da Império e da Sotave, produzindo uma gama de tecidos muito diversa, como o tweed, Príncipe de Gales, flanela, pied de poule, melton... Para além do burel, os tecidos que mais vendemos são as flanelas.

Qual é o problema na formação?

Os nossos encargos com pessoal são o dobro do normal, porque temos um antigo a ensinar um novo. O mestre não ensina o aprendiz numa sala de aula. É trabalhando lado a lado com ele. Ora isso não consta dos manuais do IEFP. Compensa o esforço que está a fazer na área da formação?

Não podemos deixar de nos sentir recompensados quando o MIT nos pede para recebermos um seu doutorando, a Universidade de Berlim nos envia dois alunos de doutoramento e diversas escolas de Artes Plásticas nos solicitam estágios profissionais. É muito importante manter a nossa memória industrial viva para estes miúdos jovens, e estarmos abertos a tudo aquilo que eles nos ensinam e às suas perguntas e provocações.

Uma enorme desvantagem competitiva. A maior das injustiças é tratar todos por igual. Não podemos competir com as empresas que estão no litoral ou nas grandes cidades. As portagens, a distribui-

Colaboramos em duas cadeiras, do mestrado em Design Industrial e no curso de Design de Marketing. Participamos em algumas aulas, recebemos visitas, cedemos materiais, acompanhamos projetos e lançamos as peças em cobranding.

As perguntas de

Em que segmento estão a crescer mais? Moda e acessórios, tecido e mantas ou arquitetura?

ção, a comercialização... tudo é muito mais caro. A UPS só vem a Manteigas duas vezes por semana. Para o interior não desaparecer tem de haver discriminação positiva.

Qual é a vossa relação com a UBI? Estar no interior é uma desvantagem competitiva?

Atingimos o break even em 2016. Mas não parámos nunca de investir em crescimento orgânico, na internacionalização e inovação.

E a estratégia para este segmento?

Não é uma área estratégica. Somos pequenos operadores. Produzimos pequenas quantidades, com teares de lançadeira, e os clientes têm de valorizar a qualidade destes tecidos, a sua história. Estamos a aprender e essa é a nossa estratégia para os próximos tempos – aprender. Mais planos para o futuro?

A nossa ambição é continuar a desenvolver este património, de maneira a que equipamentos e conhecimento se perpetuem e sejam transferidos para as gerações vindouras. Queremos comprar mais máquinas e dar-lhes vida. Acho que o vale do desespero já passou e que estamos a subir a montanha. Está feliz com os resultados do vosso esforço?

Em 2018 crescemos a dois dígitos em todas as vertentes - valor, volume de negócios e exportação - e isso é um reconhecimento de estamos a fazer bem. Mas ficamos felizes quando alguém da equipa vai ter um filho, que Manteigas vai ter mais uma criança... Dar vida é isso mesmo – em todos os sentidos! E isso faz-nos muito felizes. t

Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP Como vê a Burel dentro de dez anos?

Daqui a dez anos a Burel Factory será seguramente uma nova Burel. Vamos descobrir novos caminhos, continuar a reinventar a empresa e os nossos produtos, fazer coisas diferentes, criar novas soluções e estar em mais mercados. O nosso modo é a inovação constante e permanente.

Rui Miguel Presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI Em que pilares tem assentado a sua estratégia ao nível dos mercados e do design?

Apostamos em nichos, na exportação para mercados que valorizam o nosso produto, bem como no estabelecimento de parcerias com designers de áreas muito diversas.

O vosso projeto é replicável noutras áreas de negócio e regiões do país?

O storytelling associado à sua marca, para além da ancestral utilização do burel, contempla também as artes e ofícios tradicionais. Quais são as que ainda incorpora nos produtos?

São replicáveis todos os modelos de desenvolvimento que assentem no aproveitamento dos recursos endógenos e em dar uma nova vida às atividades tradicionais, impedindo a morte de um conhecimento acumulado durante gerações a fio. Mas é indispensável compreender que se tem de nascer pequeno e depois ir crescendo de forma sustentável. Small is beautiful. O pequeno tem por vezes um valor superior ao grande. Um país pequeno com uma alma grande, como Portugal, encerra em si uma imensidão de pequenos negócios com potencialidades idênticas ao nosso. t

Temos sido capazes de manter e passar aos mais novos todos os processos tradicionais desde a cardação, fiação, urdissagem até à tecelagem. A maior das dificuldades tem sido o tempo. Para assegurar a perenidade de mão de obra especializada, temos de trabalhar em contra-relógio. Na área das peças bordadas à mão temos uma equipa de costureiras que aportam todo o seu conhecimento, tradição e valor na produção dos pontos tridimensionais que produzimos em grande e pequena escala. São verdadeiras peças de arte. A área da arquitetura está totalmente suportada por esta artesania, que lhe dá o valor que tem. t


Junho 2019

T

23

quality impact arquitetura e soluções de espaços

Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt


24

T

Junho 2019

6

FEIRAS

A

GENDA DAS FEIRAS

OUTDOOR BY ISPO 30 de Junho a 3 de Julho – Munique A. Sampaio & Filhos, Aloft, Arcopedico, CITEVE, Ditchil, Faria da Costa, Lemar, Repeltec, Têxtil Sancar INDX KIDSWEAR 30 de Junho a 1 de Julho – Birmingham B’ Lovely, Dr Kid, Just Lovely, Piccola Speranza FIMI 5 a 7 de Julho – Madrid Baby Gi, És parte de mim, Mimi Chic, Peter Jo Kids, Rodribaby UNIQUE BY MODE CITY / INTERFILIÈRE 6 a 8 de Julho – Paris Beach Mode, Gulbena, João Manuel da Costa Flores / Iora Lingerie, Kitess Clothing, Lemar, Neptune Intuition, Simple Change MILANO UNICA 9 a 11 de Julho – Milão Albano Morgado, Anbievolution International, Brito & Miranda, Familitex, Lemar, RDD, Samofil, Sanmartin, Adalberto, Gierlings Velpor, Riopele

INOVAÇÃO LUSA COM DESTAQUE EM FRANKFURT

A Automotive Interiors Expo, em Frankfurt, serviu para o secretário de Estado da Economia, João Correia Neves (ao centro) ficar a par das mais recentes novidades do setor têxtil para a indústria automóvel. Destaque, claro, para a forte representação da ITV portuguesa, que percorreu com detalhe, ciceroneado pelo diretor-geral do CITEVE, Braz Costa (à direita). Coltec, Fitexar, Inovafil, Lipaco, LMA e PTC Group foram as empresas que integraram a comitiva From Portugal, às quais se juntaram ainda o CITEVE, CeNTI e outras empresas como Endutex, ERT e TMG Automotive. t

OUTDOOR BY ISPO À ESPERA DAS NOVIDADES DA NOSSA ITV

PV NY 16 e 17 de Julho – Nova Iorque A Têxtil Serzedelo, Albano Morgado, Lemar, Lurdes Sampaio, Adalberto THE LONDON TEXTILE FAIR 16 e 17 de Julho – Londres 6dias, Albano Morgado, Brito & Miranda, Burel Factory, F. T. Vilarinho, José Abreu & Filhos, Lemar, Magma Têxtil, Rifel, MMRA, Troficolor, Paulo de oliveira, Riopele INTERIOR LIFESTYLE TOKYO 17 a 19 de Julho – Tóquio Antonio Salgado, Apertex, Carapau Portuguese Products, Fábrica de Tecidos do Carvalho, Ditto, Invidro Glass Art, Lasa Home, Little Nothing, Mantecas / Trendburel, Marias Paperdolls, Vicara / Derivadalinear, Mundotextil PERFORMANCE DAYS 22 e 23 de Julho – Nova Iorque A. Sampaio, LMA, Sidónios Malhas TEXWORLD USA 22 a 24 de Julho – Nova Iorque Dune Bleue, Marjomotex II – Confeções, Olímpio Miranda, Scorecode – Têxteis COLOMBIAMODA 23 a 25 de Julho – Medellin Baby Gi, Fábrica Tecidos do Carvalho, Dielmar, DR. Kid, Meia Pata, Montrasensata, Nosdil, Phi Clothing, Pureté, Wedoble

A comitiva From Portugal marca presença pela primeira vez na Outdoor by ISPO, feira especializada em equipamento desportivo

Alta performance e inovação tecnológica são o selo distintivo para a comitiva From Portugal, que este ano vai marcar presença pela primeira vez em Munique na Outdoor by ISPO. Da simples caminhada à alta competição, muitas novidades em equipamento para a prática desportiva fora de portas e perante qualquer tipo de condições, preenchem a bagagem que os expositores portugueses prometem levar à feira, que decorre de 30 de Junho a 3 de Julho. A. Sampaio & Filhos, Aloft, Ditchil, Easy Walk Experience, Faria da Costa, Lemar, Repeltec e Têxteis Sancar, são as empresas que marcam presença enquadradas pelo projeto From Portugal, ao qual se junta ainda o CITEVE. “Temos agentes e distribuidores que nos querem conhecer pessoalmente, e vamos aproveitar para apresentar a nossa coleção Outono/Inverno 2019 e Primavera/Verão 2020” explica Vânia Cardoso, comercial manager da

Ditchil, uma marca portuguesa de roupa desportiva para mulher. Na feira, a empresa vai apresentar as suas novas peças para fitness, padel e ténis, com as quais espera atrair novos compradores, especialmente do mercado alemão. Também a Repeltec olha para a feira de Munique com as expetativas em alta. “Acreditamos que a nossa tecnologia irá despertar o interesse dos maiores players deste mercado”, afirma Miguel Gomes, COO da empresa, que quer apresentar uma nova gama de produtos repelentes para a indústria têxtil e promete atrair as atenções das marcas de vestuário para desportos de natureza. Já no calçado, um dos destaques da comitiva portuguesa são as “Lolitas”, uma linha de sabrinas desportivas desenvolvida pela Easy Walk Experience. “Com a apresentação deste produto na ISPO, esperamos encontrar compradores do continente europeu, mas também de países asiáticos e latino americanos”, prevê Élio Parodi, CEO da empresa. t


Junho 2019

T

25


26

T

Junho 2019

FASHION FILM FESTIVAL VAI JÁ PARA A 6A EDIÇÃO Começou quando eram ainda raros os filmes de moda nacionais e a 6ª edição do FFF – Fashion Film Festival já ai está. Os filmes para a competição podem ser submetidos até 20 de Setembro e o concurso está aberto a todos os filmes de Moda nacionais e internacionais, com duração máxima de 15 minutos. O FFF integra-se na Porto Fashion WeeK, uma iniciativa da Associação Selectiva Moda que inclui uma série de ações paralelas associadas ao salão MODtíssimo.

"Sempre disse que preciso de ter muita concorrência. Aliás todos nós. Precisamos de ter muita concorrência para nos mantermos muito ativos"

TÊXTIL VITAL MARQUES RODRIGUES DISTINGUIDA

Luís Guimarães Presidente do grupo Polopique Empresa centenária, a Sociedade Têxtil Vital Marques Rodrigues & Filhos foi distinguida pela AICEP pelo seu desempenho no desenvolvimento de estratégias de internacionalização e investimento em 2017. Sendo a única têxtil selecionada entre os quatro finalistas do prémio para a Melhor PME Exportadora, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal justificou a escolha destacando tratar-se de "uma empresa têxtil que, apostando na inovação, procura estar na vanguarda dos concorrentes". t

MCS INVESTE EM FÁBRICA E NA REUTILIZAÇÃO DE ÁGUA A MCS Muns Py está a preparar um investimento de três milhões de euros na construção de uma nova fábrica em Valongo – a implantar num terreno contíguo ao de uma das suas duas unidades industriais (a outra é em Gaia) -, que contempla um projeto de reaproveitamento de 85% a 90% dos 100 mil litros de água/dia consumidos pela sua secção de tinturaria. “Vamos otimizar processos, reduzir custos, preparando-nos para continuarmos a ser mais competitivos nos tempos difíceis que se avizinham”, explica Vítor Castro, CEO e fundador da MCS, acrescentando que a nova fábrica estará em operação o mais tardar na segunda metade de 2021. Com 84 trabalhadores, a MCS Muns Py tem na indústria automóvel o seu principal clien-

te, que absorve cerca de 35% das suas vendas anuais, superiores a cinco milhões de euros. VW, Volvo, Daimler, Renault e BMW são os destinatários finais dos acessórios, designadamente componentes para cintos de segurança, produzidos por esta empresa de soluções têxteis, que tem 10 mil m 2 de área produtiva. “A nossa capacidade produtiva é muito versátil. Trabalhamos em função das necessidades dos clientes. Somos especialistas em soluções tailor-made ”, afirma o CEO desta empresa que também fabrica fitas e passamanarias para a indústria de calçado e de puericultura (designadamente para cadeiras de bebé) – e está a estudar a possibilidade de começar a fazer novos produtos, como, por exemplo, todo o cinto de segurança. t

VENDAS DA LECTRA SÃO UM SINAL ANIMADOR PARA O SETOR Indicador avançado do nível de confiança no futuro do setor, os 10,8 milhões de euros de vendas feitas pela Lectra em Portugal em 2018 representam não só um ligeiro crescimento face a 2017 mas também um sinal razoavelmente animador de que os nossos empresários não pararam de investir e continuam apostados em manter-se competitivos, adaptando os seus processos industriais à revolução em curso nos há-

bitos de consumo. “A personalização, ou seja a produção a pedido, está a impor-se no mundo da moda. O paradigma do consumo está a mudar e a cadeia de valor tem de acompanhar esta mudança. O novo consumidor hiperativo obriga a uma reorganização dos processos industriais”, afirma Rodrigo Siza Vieira, 53 anos, diretor geral da Lectra para a Península Ibérica. De Madrid, onde passa parte da semana, Rodrigo tam-

bém traz boas notícias. No ano passado, a filial espanhola da multinacional francesa registou uma evolução quantitativa grande. “O pipeline cresceu mais em Espanha do que em Portugal. Muito provavelmente vamos conseguir antecipar um ano, para 2020, o objetivo de termos volumes de negócios idênticos nos dois países da Península, que tínhamos previsto atingir em três anos”, conclui Rodrigo Siza Vieira. t

FESTA DE ANIVERSÁRIO DA SIST3RS NO DUKE CLUBE

SPRINGKODE CONQUISTA APOIO DA GULBENKIAN

Nasceu de uma brincadeira entre amigas, mas num ano a Sist3rs afirmou-se como marca de referência. Para celebrar, juntaram amigos, parceiros, clientes e admiradores numa festa que teve lugar no Duke Clube, em V. N. de Famalicão. Sandra Pimenta, Rosa Seara e Ângela Ferreira são as autoras desta marca de cestas, ideais para a mulher contemporânea.

A Springkode, a start-up portuguesa que quer aproximar as têxteis do comércio electrónico, foi selecionada para integrar o Maze X, o novo projeto de empreendedorismo da Fundação Calouste Gulbenkian. A start-up vai poder beneficiar de um programa de aceleração de 9 meses, e terá a possibilidade de apresentar o seu projecto num roadshow europeu.

3 milhões

de euros foi quanto a Sampedro investiu em 2018, não só em equipamentos mas também em software industrial e administrativo

BOM TEMPO À ESPERA DA TUC TUC

Com a chegada do bom tempo, começam as cerimónias com eventos cheios de estilo: festas, almoços… Diversão sem fim! É a altura certa para a coleção Tuc Tuc de festa, que já está disponível para compra. Pode encontrar-se todo um mundo de opções, desde vestidos, conjuntos, boleros, acessórios para o cabelo e até os sapatos perfeitos, para todas as ocasiões, visitando qualquer loja da marca ou em tuctuc.com.


Junho 2019

T

27

100 95 75

25 5 0

Anuncio T Jornal 235x279 mm ER 2019 segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019 10:53:52


28

T

Junho 2019

X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

O Patinho Azul

Rua de Sá da Bandeira, 659 4000-437 Porto

Ano de abertura 1990 Produtos Vestuário e calçado infantil Estilo Clássico com apontamentos contemporâneos Serviços Personalização de peças existentes ou serviço de atelier para criação de peças exclusivas Loja online opatinhoazul.com

GULBENA FORNECE LINHA CORPORATE DE DANIEL RICCIARDO A Gulbena produziu toda a linha de artigos técnico-funcionais e vestuário corporate para o piloto australiano de Fórmula 1 Daniel Ricciardo, que na última época competiu com as cores da Red Bull (ficou em sexto classificado no campeonato, tendo vencido o GP do Canadá) e esta temporada corre pela escuderia Renault. Este negócio com Ricciardo explica porque é que a Austrália aparece (ao lado de outras novas geografias, como Hong Kong ou Emirados Árabes Unidos) na lista dos países para onde o grupo de Fafe exportou directamente em 2018.

2,7 milhões

de euros foi quanto a Samofil investiu em máquinas e eficiência energética: adquiriu quatro teares e uma râmula, automatizou o corte e substituiu equipamentos de tinturaria e acabamentos

A herança da Avó Alda O primeiro trabalho de Paula Mendes, fundadora da loja de moda infantil O Patinho Azul, foi a modelagem. Tinha 9 anos e depois de fazer os deveres da escola, a mãe, Alda Gonçalves, modista de alta-costura que à época vestia algumas das senhoras mais importantes do Porto, incumbia-a de trabalhar os moldes das clientes. O pagamento? “Umas calças ou outra qualquer peça de vestuário das lojas mais cool do momento”. No entanto, a paixão pelo ofício não cresceu, em grande parte, conta Paula, por ser canhota a costurar, o que impediu a mãe Alda de a ensinar convenientemente. Começou uma carreira como secretária de direção, mas a costura voltou rapidamente quando nasceu a Filipa, a sua primeira filha. “Soube desde muito cedo que ia ter uma rapariga e a minha mãe começou logo a fazer vestidos. A primeira neta e ainda por cima menina!” Com o segundo filho vieram as dificuldades com os horários de trabalho e a mãe ditou o futuro: “Não vais conseguir. Abre uma loja e eu ajudo-te”. E assim foi. O ano era 1990 e inaugurava-se, na Maia, O Patinho Azul, uma loja multimarca que só vendia made in Portugal de alta qualidade. Mas se o negócio corria às mil-maravilhas para Paula, o mesmo não se podia dizer das têxteis com quem trabalhava, que começavam a definhar face à invasão de multinacionais com artigos feitos na China. Se a vida te dá limões, faz limonada. E foi o que Paula fez. “Já que não havia ninguém para nos fornecer, começamos nós a produzir. Instalei um atelier na loja e contratei uma modista e duas costureiras". Hoje tem seis colaboradoras - duas da equipa original - e três confecionadores. E ela regressou às origens, à modelagem.

Em 2013, O Patinho Azul deixa a Maia e instala-se no coração do Porto, mas nada muda no modus operandi da loja. “Todos os artigos são desenhados por mim e executados pelas nossas costureiras. É tudo único”, revela a criadora. "A nossa bordadeira tem 90 anos. Quando ela parar, não sei quem nos vai fazer os bordados - já ninguém sabe fazer o que ela faz". São vestidos e camisas, calções e blusas de estilo clássico, mas sempre com um toque actual, que pretendem agradar a um cliente que procura um produto de qualidade e diferente da oferta massificada. “Nas nossas coleções só usamos dois materiais: o algodão para as estações quentes e a lã merino para as estações frias. Depois há os outros pormenores: os vestidos e calções são todos forrados a algodão, os fechos são costurados de forma a ficarem invisíveis, os botões que usamos são de madrepérola porque são achatados e não incomodam a criança se esta estiver deitada sobre eles e os acabamentos das peças são todos feitos à mão”, explica Filipa, a mesma para quem a avó Alda fez os vestidinhos e que agora trabalha na loja junto à mãe. Peças que podem ser personalizadas a gosto ou idealizadas de raiz - um dos serviços mais requisitados - e que também têm um lado sustentável: os tecidos são tão bons que duram vários anos e os modelos são feitos para se adaptarem ao crescimento – as bainhas são altas para poderem ser descidas e os laços dos vestidos servem para cingir à cintura quando se compra um número acima. “São roupas singulares para momentos especiais”, diz Paula. Que é o mesmo que dizer, roupas de todos os dias, porque todos os dias são especiais na vida de uma criança. t

LATINO FAZ VESTUÁRIO PARA TAXISTAS DA ANTRAL

SONAE ADOTA CÓDIGO UNIVERSAL DE CORES

Depois da PSP e da EMEL, a Latino vai também fornecer os fatos para os taxistas da ANTRAL, de uso facultativo, que foram apresentados em conjunto com uma série de medidas de modernização para o sector. A apresentação da nova linha teve lugar na presença do Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes.

A marca Surforma, da Sonae Indústria, e a ColorADD estabeleceram uma parceria para permitir aos daltónicos tomar decisões mais informadas na escolha dos acabamentos das suas casas. A empresa portuguesa é pioneira no setor a adotar o código universal de cores na sua oferta para construção e decoração.

"Há dez anos havia quatro coleções. Hoje já não há. Ou há verão ou há inverno. E mudaram as datas previstas para estas coleções entrarem. O que significa que nós, indústria de confeção, temos de ser mais ágeis" Nuno Sousa Administrador da Flor da Moda

O FUTURO DA TÊXTIL ESTARÁ NAS BANANAS? Numa altura em que a palavra de ordem da indústria da moda e do vestuário é a defesa da sustentabilidade do planeta, as alternativas surgem das proveniências mais inesperadas e as… bananas são disso uma prova. Mais precisamente os caules – onde abundam a fibras – em que os investigadores suíços estão a apostar, em paralelo à análise de outros materiais, como as urtigas (que várias empresas nacionais já usam), a madeira ou o linho. A intenção é a mesma para todos estes novos materiais: poupar água, matéria-prima que o algodão, por exemplo, gasta em doses substanciais.


Junho 2019

T

29


30

T

Junho 2019

X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

E-Caption 2.0 - Smart and Safe Coat

Desenvolvido pela Universidade da Beira Interior, Instituto de Telecomunicações de Aveiro e Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, com a colaboração da Borgstena Equipa responsável: Caroline Loss, Daniel Belo, Pedro Pinho e Rita Salvado

O que é? Casaco inteligente e de proteção para equipas de manutenção de torres de telecomunicações Para que serve? Protege das radiações emitidas pela estação base e dá um alerta quando os níveis estão demasiado altos Estado do projeto? A ser testado no terreno e em processo de patenteamento

HELIOTEXTIL FORNECE SELEÇÕES DO PERU, EQUADOR E BOLÍVIA A Heliotextil forneceu os transferes para 650 mil camisolas da seleção nacional de futebol do Peru, da marca equatoriana de equipamento desportivo Marathon. Deste lote, a empresa portuguesa personalizou um lote de 150, oferecidas pela federação de futebol peruana a VIPs do seu país (presidente da República, membros do Governo e outras figuras públicas), bem como 80 mil destinadas a serem usadas pelos futebolistas em competição. Na próxima Copa América, a Heliotextil está presente não só nos equipamentos do Perú mas também nos do Equador e Bolivia, sendo que fornecerá também os transferes personalizados com bandeiras dos países que estas seleções defrontarem.

"Não podemos parar nunca de aumentar o valor percetível pelos nossos clientes" André Relvas Administrador da Sorema

ALEXANDRA CRUCHINHO TAMBÉM PODE FOTOGRAFAR Tem como título “Posso” a exposição de fotografia de Alexandra Cruchinho patente no Teatro Municipal da Guarda. Um misto de poesia e dança aliado a uma abordagem artística à fotografia. Com carreira ligada ao têxtil, a docente da ESTART (Castelo Branco) e produtora de moda diz que “Posso” é uma exposição que revela múltiplas facetas, quer da autora, quer do “assunto” fotografado, no caso uma bailarina. Pode ser visitada até 21 de Junho e mostra que para lá de especialista de moda, Cruchinho também pode fotografar.

Um casaco que pára-raios e protege vidas É mais uma prova do casamento feliz e futuro promissor para têxteis técnicos e electrónica. Desenvolvido a pensar nos riscos que enfrentam os técnicos de manutenção das torres de telecomunicação, o casaco E-Caption 2.0 é um equipamento de segurança único, capaz de monitorizar e proteger os seus utilizadores dos efeitos das radiações. Foi já um dos grandes protagonistas na Techtextil, ao conquistar o Prémio de Inovação na categoria de Nova Aplicação, mas os criadores deste casaco tecnológico querem levá-lo ainda mais longe. “Na realidade, funciona como um escudo protetor para quem o veste, refletindo as radiações e informando quando o risco ultrapassa os limites”, explica Caroline Loss, investigadora da Universidade da Beira Interior (UBI) e responsável pelo desenvolvimento do projeto. A tecnologia começou a ser desenvolvida ainda em 2014, quando Caroline completava o doutoramento em Engenharia Têxtil. Numa iniciativa anterior, intitulada Proenergy, a UBI tinha já desenvolvido antenas de telecomunicações a partir de materiais têxteis. No entanto, faltava ainda um produto concreto que colocasse a ideia em prática. Nasceu assim o casaco E-Caption. Numa versão inicial, a 1.0, o equipamento continha uma placa rígida integrada, o que o tornava pouco prático. “Depois de termos feito essa primeira versão, em jeito de protótipo, o passo seguinte era a industrialização, um casaco com aplicação real”, conta Caroline. Para a segunda versão, a que foi agora apresentada e

premiada na Techtextil, o projeto contou com a colaboração da Borgstena, a fábrica de Nelas especializada na produção de têxteis para a indústria automóvel. “Criámos ao mesmo tempo um casaco inteligente e um equipamento de proteção”, afirma a investigadora. Para isso foram conjugados dois tecidos diferentes: um pequeno retângulo de poliamida revestida a cobre, que serve de antena, e uma malha especial com duas faces diferentes. Por fora 100% poliéster, parecendo um casaco normal, e por dentro 100% prata, o que torna o tecido condutor. “É esta camada interna que faz com que o casaco reflita as radiações recebidas – absorve até algum excesso – e evite que entrem em contacto com o corpo”, explica Caroline. Para além de isolar o utilizador das radiações, o casaco tem ainda um LED que emite um alerta luminoso caso os níveis a que está exposto sejam demasiado altos. Além da proteção, facilita também a vida dos técnicos, que deixam de carregar os equipamentos de medição. Depois dos testes em laboratório e da apresentação naTechtextil, o E-Caption 2.0 está agora a ser testado no terreno e com o processo de patenteamento em curso. Entretanto, já surgem ideias para uma versão 3.0. “A área da moda, um conceito mais comercial. O mesmo sistema que acende um LED pode ser utilizado para absorver a energia do ambiente e carregar pequenos dispositivos como um Ipod ou um smartwatch”, prevê Caroline Loss. t

40

componentes têxteis são usadas na construção de um automóvel, um número que está a aumentar

TRIFITROFA QUER DUPLICAR ATÉ 2020 AS EXPORTAÇÕES DIRETAS Duplicar de cinco para dez milhões de euros o valor das suas exportações diretas é o objetivo que a Trifitrofa quer cumprir até 2020. “O mercado nacional está tomado, é só manter. Para crescer tem de ser lá fora”, explica Jaime Azevedo, 44 anos, o CEO da empresa da Trofa que se auto-intitula “o maior armazém de fios tintos do mundo”. A Trifitrofa fechou 2018 com um volume de negócios de aproximadamente 31 milhões de euros e tem um stock de 2500 toneladas (60% fios tintos, com uma paleta de mais de 200 cores, e 40% de mesclas) avaliado em dez milhões de euros.

A HISTÓRIA DA HUMANIDADE PELOS TRILHOS DA MODA Inegavelmente, a moda é um sinal dos tempos: acompanhou a evolução tecnológica da humanidade, mas principalmente é um registo do enquadramento sociológico que está por trás das relações humanas. É nessa medida que o livro Histoire des modes et du vêtement, dos historiadores franceses Denis Bruna e Chloé Demey e que retrata a história da moda desde a Idade Média, é muito mais que um mero repositório de desenhos e fotos do que já passou.


Junho 2019

T

31


32

T

Junho 2019

BALLET ROSA MUDA DE CASA E LANÇA LINHA ACADEMY

FOOT BY FOOT ESPREITA TECELAGEM E APOSTA NO SETOR AUTOMÓVEL Enquanto aposta no aumento do peso da indústria automóvel no seu volume de negócios e no início das exportações para os Estados Unidos, a Foot by Foot tem em cima da mesa investir na tecelagem e assim se tornar mais vertical. “Atualmente compramos o fio, subcontratamos a tricotagem ou tecelagem, e depois trabalhamos as malhas ou tecidos, damos-lhe o revestimento ou fazemos a laminação, e vendemos em rolos ou à peça”, explica António Oliveira Pereira, administrador responsável pela área financeira desta empresa de Felgueiras especializada no fabrico de estruturas têxteis.

"Temos um tingimento, em parceria com uma lavandaria, que reduz o consumo de água em 86%, quando comparado com o processo normal" Carlos Carvalho CEO da Coton Couleur

O lançamento da Academy, a nova linha que usa matérias primas mais técnicas, coincide com a mudança da Ballet Rosa para Pevidém

A Ballet Rosa investiu cerca de meio milhão de euros na mudança de casa, de Pevidém para Ronfe, enquanto diversifica e alarga a sua oferta, com o lançamento de nova linha – a Academy – de fatos de ballet e de novos produtos para usar não só antes e depois das aulas (sacos, collants, mochilas, camisolas, guarda chuvas...), mas também durante (sabrinas e sapatos de ponta). “A nova linha de moda Academy, destinada a escolas, usa matérias primas mais técnicas. Tem mais design, maior valor acrescentado e uma grande elasticidade”, descreve Luís Guimarães, 50 anos, um dos dois sócios (o outro é Abel Coelho) que no início da década se aventuraram a criar uma empresa especializada no desenho e produção de fatos e acessórios para ballet que comercializa com marca própria e é vendida exclusivamente em lojas da especialidade. A Academy vem-se juntar na oferta da Ballet Rosa a outras três linhas – Essentiels, Crèateur

(mais moda) e Bamboo (mais casual, usando como matéria prima viscosa de bambu que confere aso fatos um toque sedoso). “O nosso foco está na diferenciação, através de um corte original – que torna as pernas maiores e realça as linhas do corpo – e matérias primas diferentes”, explica Luís Guimarães. Com apenas nove anos de idade, a Ballet Rosa orgulha-se de exportar 95% da sua produção, para um total de 23 países. Os Estados Unidos (onde tem uma base comercial em Chicago) são o seu principal mercado, mas a principal aposta estratégica da empresa para crescer é na China. A espanhola Lucia Lacarra (diretora do Bayerisches Staatballet), a argentina Marianela Nuñez (dançarina principal do The Royal Ballet, Londres) e a norte americana Sophie Miklosovic (BalletMet e vencedora do YAGP 2014) são algumas das bailarinas internacionais que usam fatos concebidos e fabricados pela Ballet Rosa. t

GOVERNO QUER SOLUÇÃO PARA CORRIGIR PREÇOS DA TRATAVE O problema é bicudo para as empresas, mas o Governo mostra-se empenhado em quebrar os ângulos ao triângulo contratual que forma com a Tratave e a Águas do Norte e que tornou insuportáveis os preços do tratamento de águas. Ministro do Ambiente, empresas e Câmara de Guimarães estiveram reunidos à procura de uma solução. Além do ministro Matos Fernandes, que convocou o secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde, e o presidente da Águas do Norte, José Luis

Vale, o encontro contou com a presença dos administradores da Somelos, Paulo Melo – também presidente da ATP –, e da JF Almeida, Joaquim de Almeida, do representante da Lameirinho, Paulo Sarrico, e do vereador das atividades económicas da Câmara de Guimarães, Ricardo Costa, representando também empresas como a Endutex, Polopique, Tabel ou Tintojal. “Além de reconhecer que os preços estão muito altos – cerca de 35% acima do cus-

to real -, o Sr. Ministro disse que é preciso encontrar um entendimento com a Tratave e Águas do Norte, de forma a que possam ultrapassar os condicionalismos do contrato de concessão que assinaram com o Governo. É isso que vai procurar fazer e ficamos de voltar a falar a ver se o acordo se concretiza”, explicou Ricardo Costa ao T. “Não vamos deixar passar muito tempo, dentro de duas a três semanas voltamos à carga”, advertiu o autarca vimaranense. t

FALCONERI ABRE PRIMEIRA LOJA NO PORTO

NO.ID, A MARCA DA NORTENHA JÁ ANDA POR AI

A Falconeri, marca italiana especializada na criação de peças de malha e caxemira, versáteis e intemporais, já abriu a sua primeira loja na cidade do Porto. Localizada numa das históricas ruas da cidade, a Rua de Santa Catarina, a nova loja da Falconeri tem mais de 162 m² divididos em três pisos, que refletem na perfeição tudo o que caracteriza a marca.

Anunciada desde janeiro, a primeira coleção da NO.ID, a marca desenvolvida pela Têxtil Nortenha em parceria com a designer Francisca Veiga, teve festa de lançamento no dia 3 de maio. A primeira coleção da NO.ID (cuja tradução significa “Sem Identidade”) é totalmente unissexo, uma resposta à tendência atual da procura de roupa gender-fluid.

70%

das vendas serem com marcas próprias foi o objetivo fixado pela Impetus para este exercício

MARIA REVERBERADA: A CAPA TRÊS EM UM DE KATTY XIOMARA Chama-se Maria Reverberada e é a mais recente ideia luminosa de Katty Xiomara: uma capa que pode ser usada de três formas diferentes – ou mais, dependendo da criatividade do utilizador – e que pretende ser um dos primeiros passos de um paradigma de slow fashion que a estilista está a abraçar. Para ser ainda mais sustentável, o processo de corte desta capa permite aproveitar todo o tecido, sendo a única sobra utilizada para fazer o cinto. “Ficamos com um desperdício zero”, diz a designer, acrescentando tratar-se de um projeto tão inovador que pode até ser patenteado.


T

Junho 2019

33

M EMERGENTE Cristiana Teixeira Fundadora da Sinopsis Família Solteira, vive com os pais e os avós maternos Formação Frequência do curso do Citex (atural Modatex) Casa Moradia em Valongo do Vouga Carro Renault Clio comercial, branco Portátil Mac Notebook Telemóvel iPhone Hóbis Desporto, viagens – muitas vezes na autocaravana do namorado Férias Quase sempre no país mas fora das estradas, à procura das aventuras que se escondem nos caminhos menos percorridos Regra de ouro “Onde estiveres, o que fizeres, que seja a 100%”, quando me proponho a fazer algo é para dar o meu máximo e para fazer isso resultar!

FOTO: RUI APOLINÁRIO

Sinopse de um sonho em construção Há a música, claro, as viagens em autocaravana à procura do que o asfalto não consegue oferecer, as saídas com os amigos, as gargalhadas, há o tempo que será o da família e dos filhos, há o conforto da casa de sempre que não se perde, há tudo isso, mas não agora. Cristiana, designer porque não quis ser outra coisa qualquer, ganha uma luz e os olhos dizem coisas antes das palavras: “se soubesse como é difícil, talvez nem tivesse começado”. Mas sabe que isso não é verdade: passou os primeiros anos, filha única, em redor das lãs e das malhas, nos ouvidos o barulho das máquinas de tricotar da mãe, a primeira música, com elas aprendeu a soletrar as cores, a ficar quieta para compreender o mundo e percebeu que era ali que queria crescer. A viagem do ensino secundário até às portas do Citex (atual Modatex) foi tão natural como crescer e tão amedrontante como de repente ficar sozinha no Porto, a grande cidade onde os perigos não se aprendem senão olhando para eles. “A minha mãe dizia que eu não conseguiria entrar, que a concorrência era muita, e entrei mesmo” – mesmo que nunca chegasse a sair com o curso acabado, por via de um precalço que lhe tirou várias semanas de estudo e lhe colou ao corpo um medo que prefere calar. Mesmo sem o ‘canudo’, fez a sua primeira coleção de cordenados para uma mostra com que, juntamente com os alunos seus colegas, atravancou os corredores estreitos do bar Maus Hábitos e desse hábito não haveria de livrar-se. Corria o ano de 2009 e, dizem os jornais da época, o Portugal de então corria para um precipício previamente identificado e o empreendedorismo era olhado com uma reserva que antecipava a queda. Cristiana optou por aceitar um emprego que a Lanidor, logo ali perto de casa, lhe oferecia, depois de lhe ter batido à porta com um curriculo. Nos oito anos seguintes “fiz de tudo: descrição de coleções, apoio a sessões fotográficas, até cheguei a ir a Alenquer, onde a Lanidor tem o gabinete de design” – cuja porta nunca lhe foi franqueada, mas isso não é importante: “aprendi muito naqueles oito anos na Lanidor”. Aprendeu principalmente “a lidar com as pessoas”, perdeu a timidez que é sempre um impeditivo sério, aprendeu que “não podemos estar à espera que nos venham bater à porta” e percebeu, num repente, “que me faltava qualquer coisa”. E depois de aprender isso tudo, percebeu que estava pronta para o sonho – que, entre outras coisas mais prosaicas (mas que costumam constar de folhas de excel e tomam o nome de ‘plano de negócios’), a obrigaria a criar. Era isso que lhe faltava. “Estava a cair na rotina” e isso era o pior de tudo. Cristiana comprou uma máquina de corte e costura – que haverá sempre de lhe recordar a que usava como brinquedo na casa da avó – e começou a fazer coisas em casa, como se fosse num desespero para fugir dessa rotina. Para seu espanto, começou a vender o que fazia – e isso fê-la chegar à pergunta óbvia: “porque não registo uma marca e passo a fazer aquilo que quero mesmo?” Quase a fazer 30 anos, era aquela a altura: registou a marca em agosto de 2017 (o mês em que fez 29 anos), em dezembro desse ano saiu da Lanidor e em janeiro do ano seguinte estava sozinha, como está sempre quem quer conquistar o seu próprio mundo. Regressou aos corredores da universidade, a de Aveiro, onde encontrou uma incubadora (o empreendedorismo, dizem os jornais, passou a ser uma moda) e todo o apoio de que precisou para se convencer que estava certa. Mais perto de casa, em Albergaria-a-Velha, o apoio manteve-se: conseguiu um escritório – que serve também de armazém, de atelier, de showroom, de despensa e de zona de contacto com os ‘media’ – na incubadora de empresa camarária IERA e é a partir daí que desenha e produz a marca Sinopsis. O princípio é sempre difícil e as dores de crescimento são uma obrigação por que Cristiana sabe que tem de passar. Mas – principalmente depois de ter encontrado três locais de venda ao público (em Aveiro e Porto) e de ter inaugurado as vendas online – “e é aí que eu quero apostar” – já começou a sentir os efeitos dos primeiros bálsamos. E o que vier adiante terá de ficar para outra crónica, sendo certo que nos olhos de Cristiana há a convicção de que uma sinopse que não envolva uma longa caminhada não vale a pena. t


34

T

Junho 2019

B

GRUPO TMG DISTINGUIDO NOS 170 ANOS DA AEP O Grupo Têxtil Manuel Gonçalves (TMG) foi distinguido durante a cerimónia de comemoração dos 170 anos da Associação Empresarial de Portugal (AEP), pela sua ação em defesa do associativismo empresarial e por uma presença ininterrupta naquele órgão associativo ao longo dos últimos 75 anos. A CEO da TMG Automotive e atual presidente da COTEC, Isabel Furtado, subiu ao palco para receber o galardão das mãos de Paulo Nunes de Almeida, o 30º presidente da AEP.

SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves

Unis Textile Design Studio

Edifício CAAA Rua Padre Augusto Borges de Sá, 4810-523 Guimarães

O que fazem? Ajudam empresas a criar novas coleções e a explorarem matérias-primas mais sustentáveis Áreas Design e Desenvolvimento de Produto Ano de fundação 2014 Alguns parceiros Fifitex, Rosacel, Têxteis Giestal Estúdio Edifício CAAA, Guimarães

"Já não estamos focados na indústria 4.0, mas sim no que podemos fazer com ela. A nova buzzword é o Impacto 4.0" Elgar Straub Diretor geral da VDMA

FOTO: ANTÓNIO MOREIRA GONÇALVES

ESCOLHIDOS OS FINALISTAS PARA DESFILE COM RENDAS DAS LÉRIAS

À descoberta das novas cores da ecologia Quando o assunto é sustentabilidade, o verde é sempre a cor mais badalada, talvez apenas seguida, ainda que a alguma distância, do azul dos oceanos. Mas Sónia Lopes e Nídia Campos, as fundadoras do Unis Textile Design Studio, estão decididas a provar que a defesa do ambiente está longe de ser monocromática. No seu atelier, no centro de Guimarães, ensinam empresas têxteis a darem asas à imaginação, sem sobrecarregarem o planeta. “Fala-se muito na sustentabilidade, mas quando se vão ver os tecidos são sempre básicos e pouco apelativos. Como muitas das fibras recicladas não são muito resistentes, há uma tendência para se fazerem produções mais simples. O nosso passo é ligar a sustentabilidade a algo mais rico”, explica Nídia Campos sobre o trabalho que o Unis Studio Design tem realizado ao longo dos anos, primeiro no mercado dos têxteis-lar e mais recentemente também na moda e vestuário. O projeto arrancou em 2014, quando se aperceberam que tinham reunido um conhecimento cada vez mais raro no mercado. Designers de formação – foram colegas no Cenatex, em Guimarães – Nídia e Sónia fizeram carreira em diferentes têxteis da região, como a extinta Fábrica do Castanheiro, onde aprenderam os aspetos mais técnicos da arte da tecelagem, especialmente nos artigos em jacquard. “O jacquard é uma tecelagem muito própria, que tem um leque de possibilidades gigante, e nós demos

conta que muitas empresas apenas aproveitavam os teares para um ou outro artigo”, conta Nídia. “Começámos a transformar tecelagens pequenas em empresas com produtos muito diferenciados”, acrescenta Sónia. A partir das têxteis-lar da região, foram criando uma rede de parceiros, desde os fios aos acabamentos, passando por todo o processo industrial. Um conhecimento que lhes permitiu dar o passo seguinte e abordar de uma forma definitiva a questão da sustentabilidade. “No último MODtissimo e na Heimtextil apresentámos pela primeira vez o Eco Trend Book, um catálogo com 60 referências, todas elas focadas na sustentabilidade”, afirma Nídia. Com este projeto, o estúdio quer apresentar soluções concretas às empresas que mostrem maior sensibilidade às questões ambientais. “Um exemplo disso mesmo é um tecido em tencel linho, criado totalmente por nós, mas temos também artigos em cânhamo e noutras fibras biodegradáveis”, explica Nídia. Desde a apresentação do catálogo, as duas designers têm recebido contactos, não só de empresas de têxteis-lar mas também de moda e vestuário. Agora, o próximo objetivo é levar a sustentabilidade ainda mais longe. “Queremos apresentar um tecido sustentável e 100% nacional. Existe tanta matéria-prima no nosso país e não queremos que continue a ser desperdiçada”, adianta Sónia Campos. “O nosso objetivo é inspirar as empresas”, conclui. t

A apresentação final realiza-se a 6 de Julho, mas o júri escolheu já os 16 finalistas do concurso que visa a integração das rendas das Lérias em vestuário de adulto e têxteis-lar. A par das propostas dos estudantes das instituições de ensino superior parceiras – ESART/IPCB e UBI –, o desfile final vai contar também com coordenados dos estilistas Júlio Torcato e Carlos Gil e a participação dos manequins Ruben Rua e Isabel Valadeiro, entre outros da Best Models Agency. A produção é assegurada pela professora Alexandra Cruchinho, do IPCB/ESART.

31%

foi o crescimento registado em 2018 nas vendas de fios da JF Almeida, uma área que valeu 12% (6,5 milhões) da faturação total do grupo

UNIFARDAS APOSTA NA EXPORTAÇÃO PARA DUPLICAR FACURAÇÃO Exportar para crescer é o novo lema da Unifardas, a empresa especializada em vestuário de trabalho que fechou 2018 com um milhão de euros em faturação, valor que pretende duplicar nos próximos dois anos com um ataque aos mercados externos. Depois de ter reforçado a equipa comercial e renovado a imagem corporativa, a empresa avançou agora com um ciclo de visitas a potenciais clientes, sobretudo em Espanha e França, onde já está presente mas acredita poder crescer.

LACOSTE PRESTA HOMENAGEM A KEITH HARING Enquanto algumas pessoas seguem os códigos, outras quebram-nos, como Rene Lacoste quando cortou as mangas de uma camisa para criar um polo. Já as ruas de East Village em Nova Iorque ainda se lembram de Keith Hering, o homem que pintava as suas paredes enquanto os outros pintavam telas. A Lacoste presta homenagem ao artista e lançou uma coleção associada a um dos maiores ícones pop do século XX.


T

Junho 2019

35

-

OPINIÃO FALEMOS DE NÓS José Cardoso Membro do Conselho Fiscal da ATP

A INDÚSTRIA DA MODA ESTÁ A ABRANDAR Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP e Editor do T

Nos últimos tempos as notícias sobre a progressão do setor de retail trazem indicadores e alertas face a mudanças muito profundas que estão a acontecer. As alterações dos hábitos de consumo são hoje uma certeza mas a nossa atenção vai para as diferentes formas como o setor de retalho se está a adaptar. Por um lado para sobreviver e por outro para manter os índices de crescimento que continuam a ter um peso enorme na economia mundial. No ano passado, nos EUA, mais 27 mil milhões de m2 de espaços comerciais que ficaram vazios de inquilinos – no ano anterior, o número terá sido ainda maior –, mas as vendas dos grandes gigantes de distribuição online, teoricamente os grande substitutos, não crescem com uma proporção inversa a esta tendência. As explicações são inúmeras, desde o espaço de armazenamento nas novas casas se estar a reduzir, associada a uma convergência para o arrendamento que permite uma maior mobilidade e menos compromissos de largo prazo, até à tendência de opção por experiências memoráveis em detrimento de objetos. E do outro lado do Atlântico chegam-nos outros dois indicadores importantes: um mostra que no ranking dos 10 maiores retalhistas nos EUA está um operador online (e podemos dizer só ou já); o outro prediz que o retalho tradicional terá 80% do mercado em 2020, mesmo sabendo que os grandes operadores apostarão numa distribuição híbrida. Existe uma lenta progressão nesta mudança, que não é tão radical como se pode fazer parecer, mas que está a acontecer.

Os sinais que o mercado global da moda enviou, no último trimestre do ano passado e que se têm vindo a intensificar nos primeiros meses de 2019, obrigam-nos a fazer uma reflexão mais profunda sobre o que está a suceder, mas, sobretudo, o que pode estar aí para vir. A generalidade das marcas está confrontada com uma estagnação do consumo, quando não mesmo com uma quebra de vendas. As lojas acumulam stocks e parecem andar sempre dessincronizadas com as estações. A explicação de que o consumo está a migrar para o comércio eletrónico é apenas válida em parte, pois o somatório do que se vende online e offline não é superior àquilo que se realizou nos anos precedentes. De igual modo, as alterações climáticas e os acontecimentos esporádicos permitem justificar conjunturalmente alterações no comportamento dos consumidores, mas resultam insuficientes. Algo está a mudar no negócio da moda e, de uma maneira geral, não existem explicações cabais. As próprias marcas, em particular aquelas com implantação global e que se dis-

Mas é no meio deste ruído que está a verdadeira questão. Ou seja, saber onde está o público deste show de propostas que se montam globalmente. Certo que tudo será fruto de receios ou otimismos, das tentativas de bloqueio de novos e velhos conceitos, de estratégias em face de resultados bolsistas e com poucas certezas quanto a sua objectividade a longo prazo, mas não deixa de ser curioso entender para quem está montado todo este grande espaço cénico. E quem, afinal, criará verdadeiras estórias de sucesso. Destaco, neste contexto, observações que nos alertam para o facto de estarmos a dar demasiada importância ao desenvolvimento das ferramentas de análise em detrimento das emoções e da sensibilidade das pessoas. Criam-se softwares para entender os padrões comportamentais, mas esquecemos como se padronizam as ações não previsíveis que são resultado da condição humana. Tudo isto não deixa de ser um enorme desafio à tentativa de padronizar a inteligência emocional, mas sem conseguirem este repto, será que existe um padrão comportamental fiável que sirva como garante dos planos estratégicos que se anunciam? Aguardemos pelas respostas que ainda não temos, sem nos escondermos nos medos do que nos é desconhecido nem nas ficções que nos trazem potenciais realidades. Que mais não são que expectativas. Os prognósticos escrevem-se em função dos interesses do momento e está ainda longe a conclusão desta revolução que todos sentimos estar a acontecer. t

tinguiram por implementar modelos de negócio fast fashion parecem andar um pouco à deriva em todo este processo de mutação. Há algo de estrutural nisto tudo e que tem de ser enfrentado. A indústria têxtil e vestuário portuguesa está a ser afetada já pelo fenómeno e tem de saber encontrar argumentos não apenas para resistir, mas, especialmente, para acompanhar a mudança e aproveitar com isso. Importa recordar que acordámos tarde para a globalização e para a abertura dos mercados internacionais, subestimando o impacto que a China teria no panorama do negócio da moda à escala planetária, e muitas empresas nacionais pagaram por essa distração ou pela incapacidade que tiveram em reagir e adaptar-se. Não foi por falta de avisos. O que está a acontecer hoje é algo semelhante. A indústria de moda vai encolher, especialmente nos mercados desenvolvidos para os quais vendemos. A chegada das gerações mais jovens, mais sensíveis e empenhadas nos temas da sustentabilidade e responsabilidade social, vai privilegiar o uso mais alargado das peças de vestuário, a sua reuti-

lização e a sua reciclagem, minando assim os fundamentos daquilo que é hoje o motor da indústria de moda e que é a fast fashion. Estamos a começar um tempo de travagem nos ciclos rápidos, na produção e no consumo, um slow down que vai ter profundos impactos nos sistemas produtivos criados para servir modelos que não serão mais sustentáveis. A indústria da moda está a abrandar e vai abrandar mais ainda. Não sabemos o que vai suceder a seguir, mas sabemos que, daqui a dez ou quinze anos, nenhuma das empresas que fizeram o seu sucesso a criar coleções de moda para usar e deitar fora, em cada estação que passa, serão relevantes no panorama da moda que há de vir. A indústria têxtil e vestuário nacional fez da adaptação ao fast fashion a razão da sua sobrevivência e desenvolvimento na última década, mas terá de se enquadrar no mundo em que a slow fashion, a digitalização, a tecnologia, a circularidade e a sustentabilidade serão a sua matriz caracterizadora. É preciso primeiro ter plena consciência disso e depois trabalhar na sua consequência. t


36

T

Junho 2019

Ana Roncha Diretora do mestrado em Strategic Fashion Marketing no London College of Fashion

Rui Faria Co-fundador e director-geral da Kortex

AS MUDANÇAS SISTÉMICAS DA INDÚSTRIA DA MODA

COMO TORNAR O TÊXTIL PORTUGUÊS MAIS SEXY?

A indústria da moda pauta-se hoje em dia pela abertura de novos mercados e segmentos, e acima de tudo pela existência de ecossistemas que originam novas formas de gerir, criar valor e dialogar. Globalmente assistimos a um universo cada vez mais competitivo, com novos players a surgir todos os dias e onde o poder é dado a um ‘novo consumidor’ com características muito diferentes das anteriores gerações. A grande mudança dos tempos em que vivemos é talvez a consciencialização de que este consumidor é uma entidade criadora de valor para as marcas com que interage. Os grandes drivers da mudança assentam em três fatores fulcrais: mudanças comportamentais, crescente inovação tecnológica e mudanças sociais. Estas mudanças deram lugar a modelos de negócios disruptivos, mas acima de tudo future proof – preparados para novos contextos e realidades. Relativamente às mudanças comportamentais, podemos destacar expectativas cada vez mais elevadas assim como graus de envolvimento mais acentuados, desde a conceção até à divulgação de marcas e produtos preferidos. Vivemos uma cultura do imediato, em que o consumidor é mais impaciente, o que implica que as marcas operem com timings cada vez mais curtos. Se em 1995 o consumidor considerava esperar cerca de nove dias pela entrega de um produto na Amazon, em 2018 esse tempo encurtou para escassas 24 horas. Estas expectativas elevadas de qualidade e rapidez transmitem-se para todos os setores e segmentos. Esta impaciência manifesta-se também na cultura da novidade e da antecipação, assente em novas formas de distribuição e comunicação - caso da cultura drop que abrange do streetwear às marcas de luxo. O ritmo crescente das inovações tecnológicas e a adoção de ferramentas disruptivas têm vindo a alterar a dinâmica da indústria moda. É necessário perceber as mudanças que estas tecnologias trazem e o que permitem atingir. A tecnologia abre inúmeras potencialidades para personalizar a experiência de compra e acelera a capacidade de oferecer um serviço mais personalizado. Dentro das mudanças sociais podemos englobar aspetos relacionados com as preocupações ambientais, com a responsabilidade social e a sustentabilidade, a cada vez mais instável situação política à escala global ou questões ligadas aos recursos humanos e a novas formas de trabalhar. O fator de maior destaque, no entanto, passa sem dúvida pelas preocupações éticas e de sustentabilidade. A crescente transparência é um fator decisivo nesta mudança. Numa indústria que sempre se pautou por ser altamente secretiva, é refrescante ver marcas a divulgar as margens utilizadas na construção do preço, assim como a divulgar informação sobre os seus fornecedores. Ética e sustentabilidade são parte integrante do novo mindset de consumo, em que o respeito pelas pessoas e pelo planeta são tao importantes quanto a oferta estética da marca em questão. Precisamos de soluções transformativas e inovadoras, modelos de negócio que tenham como foco não só a sustentabilidade financeira mas a busca de relevância, de um propósito social. As marcas com mais potencial de serem bem-sucedidas são as que não têm medo da inovação, de se tornarem disruptivas, de se questionarem e de adotarem novas capacidades, que lhes permitam estar preparadas para esta nova era de consumo onde a transparência impera. t

Era já a reta final da edição 2019 iTechStyle Summit e estava eu a disfrutar dos últimos insights sobre as tendências que juntam a moda e a tecnologia, trazidas por Robin Caudwell, da Fédération de la Haute Couture et de la Mode, quando uma pergunta da audiência, bem como uma inaudita resposta, me trouxe no caminho a pensar na têxtil portuguesa. Quando questionado do porquê do projeto Levi’s Commuter X Jacquard By Google, um casaco inteligente com múltiplas funções, não ter tido o retumbante sucesso que muitos esperariam, a sua resposta foi basicamente que os engenheiros da Google não são designers. São muito bons, tudo funcionou, mas simplesmente, não souberam tornar o casaco suficientemente sexy. Como engenheiro, ainda por cima do estilo Google, senti-me provocado. Estas ligações entre o mundo da tecnologia e do têxtil nem sempre são pacíficas, tem sempre que haver algum sangue derramado como é da praxe, mas sempre achei que nesta questão dos wearables, a junção dos dois colossos de cada mundo iria fazer faísca. E não fez... E quem ficou mal na fotografia foram os homens do hardware e do software. Permitam-me uma apologia da classe, pois uma coisa eu sei: os tipos da Google aprendem rápido. Eles vão voltar em força e ter sucesso, podem disso ter a certeza. Questiono-me, pois, se o nosso têxtil português será suficientemente ágil e visionário para se apresentar ao mundo de forma mais sexy. Reconheço muitas qualidades abundantemente trazidas a lume nos fóruns da especialidade. Mas falta-lhe ainda aquele je ne sais quois... Pois bem, juntando transparência, inovação e storytelling, surge aquele toque absolutamente irresistível. Transparência – Os consumidores, principalmente os Millennials, tornaram-se mais preocupados com a saúde e o bem-estar. Exigem mais informações e responsabilidade das marcas. Os governos responderam com regulamentos mais rigorosos, forçando mais divulgação de informações sobre produtos e fornecedores. Gerir a transparência da cadeia de fornecimento torna-se fundamental. Inovação – Existe uma velha máxima que diz “Não é sensato transpor um abismo com dois saltos”. Pois vejo amiúde respeitáveis organizações, com vasta experiência, ficarem nesta matéria titubeantes, dando pequenos passos, por vezes dispersos e erráticos. Estou tentado a dizer que as hesitações vão ser pagas com um preço elevado. Storytelling – É sabido que as pessoas nutrem um carinho especial por aquilo em que acreditam ou defendem. Já reconhecemos nalgumas empresas portuguesas o interesse genuíno no respeito pela utilização dos recursos. Outras, porém, ainda abordam a Sustentabilidade e a Economia Circular de uma forma incipiente e superficial. Na Kortex acreditamos que a tecnologia terá um papel primordial na afirmação de um setor que não pode ter medo de estar na passerelle. Transparência, inovação e comunicação são elementos chave de uma peça que temos vindo a urdir laboriosamente, e que merece ser apreciada e tocada pelo mundo. t


Junho 2019

T

37

U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Literalmente vestido com as suas obras de arte, Joe Berardo pode continuar ligado de corpo e alma à sua famosa coleção de arte, graças à generosidade e criatividade das propostas da nossa Katty. Em modo mais privado e recatado, oferece-lhe ainda uma rica tanga, ideal para umas férias intimistas na sua única e exclusiva propriedade - a garagem do Funchal.

Duas confortáveis indumentárias para Joe Berardo Para este número não temos uma grande surpresa, optamos pela vítima mais óbvia de sempre. Não existe homem mais falado no Portugal atual do que o Joe Berardo. Sentimos, assim, o dever cívico de vestir este homem cheio de arte e engenho, exímio jogador económico, sempre a passar a bola, enquanto ouve os rugidos fanáticos de um… olé!... atrás de outro olé!... e mais um olé!… até chegar a uns bons 980 milhões de passes de bola… e de olés! O golo mais robusto de que há memória e um colossal buraco na baliza da banca portuguesa. Queremos acreditar na justiça, mas há quem diga que ela só funciona com os pequeninos e pode ser usada facilmente a favor dos grandes, e assim preparamos duas indumentárias para o ilustre Comendador, seja qual for o desfecho. Na primeira proposta quisemos vesti-lo literalmente com a sua arte, pronto para abdicar das suas obras do coração e fugir para a sua segunda pátria, Africa do Sul. Projetamos um fato nanotecnológico que permite reproduzir todas as obras de arte da coleção Berardo sobre uma tela de micro leds. Assim poderá continuar ligado à sua grandiosa coleção e livrar-se de ser ele próprio o exemplar exposto. Na segunda proposta, deixando quase tudo a descoberto. Quase… porque tivemos pudor - mais pelo leitor do que pela vítima - e tapamos o essencial com uma fina cota de malha feita de ouro. Para controlar os possíveis estragos colocamos um delicioso arnês com incrustações de ouro e diamantes. Como podem ver, não o deixamos “descalço” até o acomodamos nuns slippers de veludo bordados a fio de ouro e uma finas meias de seda com suspensórios. Com isto, penso que conseguimos deixar o pequeno Joe pronto para umas férias intimistas na sua única e exclusiva propriedade - a garagem do Funchal. Talvez assim o celebre autor da frase …. A mim não! possa, ao invés de ver-se obrigado a desculpar-se por ela, tirar o melhor partido, embora em outro contexto. t


T

38

Junho 2019

O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Restaurante Pena Rua da Pena, 342 4600-787 Vila Caiz Amarante

VALE MUITO A PENA Um bom restaurante não tem que ser um segredo bem escondido, mas não raro encontro segredos bem escondidos que são restaurantes fantásticos. Eis um caso paradigmático do que acabo de afirmar: o restaurante Pena, na quinta com o mesmo nome, localizado no meio da floresta entre Amarante e a Lixa. Agora que o revi recentemente por obra e graça da amizade que o meu amigo Luís Miguel Ribeiro tem com o dono da casa Miguel Cardoso, mantenho a opinião com que fiquei no dia

em que o conheci, há alguns anos atrás. No Pena, sentimo-nos em casa como se de uma casa de família se tratasse. Na verdade, até se trata, mas não é a nossa, nem a família, nem a casa... e é pena. Lá está, pena nossa, que não do restaurante Pena, onde vale a pena ir, antes que estas pérolas familiares fiquem mesmo longe de tudo. Longe de tudo em que se está a tornar a nossa vida. Se o estimado leitor destas cantinas está em dia de querer comer “a despachar” qualquer coisa que lhe mate a fome, agradeço que siga o meu conse-

lho de escolher outro restaurante que não este Pena. Acredite que é mesmo uma pena que alguém siga o meu conselho de ir lá almoçar ou jantar sem levar consigo o espírito e a calma que este templo da gastronomia regional exige, porque o merece. Se o ambiente chega a ser familiar, a comida está familiarizada com algumas das melhores propostas da gastronomia regional desta região amarantina. Dito por outras palavras, existem sabores regionais tratados com o desvelo de sempre mas com a criatividade

que os tempos modernos aconselham. Do que lá já provei, recordo e recomendo o risoto de cogumelos selvagens, o bacalhau lascado com migas, a bochecha de porco preto super tenra e o polvo com batata doce. Mas o que recomendo mesmo é que usem a belíssima esplanada, sobretudo se as noites deste Verão estiverem à altura de algumas das noites de Maio em que eu reclamei com o Céu por causa da pena que senti deste restaurante não ficar a cinco minutos da minha casa ou do meu local de trabalho.t


Junho 2019

T

39

c MALMEQUER Susana Costa, 46 anos, é a responsável de marketing da Lectra Portugal, onde trabalha há 21 anos. Nascida no Porto, trocou a invicta pela Praia da Aguda, mas o trânsito na Arrábida voltou a empurrá-la para Norte. Agora está na Maia, bem pertinho do aeroporto e a 10 minutos do trabalho. Formada em Gestão de Marketing no IPAM, é casada e tem três filhos - Márcia, 17 anos; Tiago, 9; e Alexandre, 7 –, um cão (o Happy), e uma gata (a Crazy), que fazem jus aos nomes. Nos tempos livres, é fã de sol, de música e das churrascadas com os amigos.

SOUVENIR

O PESO DOS BRINCOS DE OURO DA TRISAVÓ

Gosta De tomar conta dos meus Honestidade Queijo Acessórios Humildade Vinho tinto do Douro Moelas puxadinhas Soul, jazz & blues Receber flores “Love Actually”, o meu filme Preto Lanches ajantarados Sol e calor Olhares que falam Ovos escalfados Dióspiros Vinho do Porto Jeans e salto alto Festas populares e arraiais Conversas até altas horas Disputa de opiniões Esplanadas Fazer as pazes Ovos moles, mousse de chocolate e chantilly Café Caminhar de mão dada Bicicleta para ir ao pão Uvas americanas Azeitonas e pão com azeite Tranquilidade Milho Churros Jardins Mãos Leite creme queimado Bebés WhatsApp Rugas de expressão Abraços apertados Canja e caldo verde Prata Caipirinhas Organizar Rotinas Segundas oportunidades Pele bronzeada Cheiro a Nivea Quimonos

Não gosta Duas-caras Meias-palavras Cobardes Jogos, nem de jogar Auriculares e tampões Fígado Injustiças Pés frios Nortada Bigodes Chuva tocada a vento De ir dormir zangada Birras e amuos Sinais debaixo da mesa Ostentação Horas no cabeleireiro Trânsito Ginásio Politiquices Desavenças Diminutivos Comida fria Fala-baratos Caracóis Migalhas no chão Insetos Perder o controlo “Depois falamos” Insegurança Excessos “Ouvi dizer que” Couve-de-bruxelas Longos discursos Falsa modéstia Dobrar peúgas Cortar alho e cebola Wi-fi lento Passwords Ficar acuada Sensacionalismo Beterraba Tatuagens Mar alto Apitos Velocidade Críticas destrutivas Falhar Maquilhagem Engolir sapos Cheiro a mofo

Sou muito de guardar coisas antigas, jóias, peças e objetos, pelo que não é mesmo nada fácil escolher uma em particular. Uma há, no entanto, que quando uso me transmite um peso e uma emoção muito especiais: um par de brincos que eram da minha trisavó. Uma jóia de família, portanto, que além da sua beleza, carrega em si o peso da tradição e da responsabilidade de os usar. São também mesmo pesados em sentido literal. Brincos em ouro maciço trabalhado – não é filigrana –, daqueles que rasgam mesmo a orelha. Lembro-me que da primeira vez que os usei tive que passar a noite anterior com dois brincos em cada orelha para alargar o furo. São peças alongadas, compostas por três elementos e espigão que aperta por detrás da orelha. Foi para celebrar os meus 21 anos, a emancipação plena como era de tradição, que a minha mãe mos entregou pela primeira vez. Fui-me apoderando, já estão do meu lado. Às vezes ainda mos pede, mas vou fazendo de conta que me esqueço. Uso-os apenas em eventos e circunstâncias muito especiais. Nas festas de família com maior significado, como foi o batizado do meu filho, mas também em momentos profissionais de maior importância, como são algumas das cerimónias vínicas na Feitoria Inglesa. São histórias e momentos especiais que lhes ficam ligados e que assim passam igualmente de geração em geração. É como se contassem a história da família que vem já desde os tempos da minha trisavó. E sempre pela via materna. Além da vaidade e do orgulho familiar que sinto ao usá-los, gosto de pensar que são como as pontes romanas, testemunho do passado que estabelecem a ligação com a linhagem familiar e que igualmente nos hão-de prolongar pelas gerações vindouras. É por isso que o que mais gostava é que um dia a minha trineta venha a sentir o mesmo peso da responsabilidade e o mesmo orgulho em contar que os herdou da trisavó. t Beatriz Machado

Diretora de Vinhos da The Fladgate Partnership


T

PARIS SEPT.

17 >19 2019 YARNS FABRICS LEATHER DESIGNS ACCESSORIES MANUFACTURING

PremiereVisionParis_T-JORNAL_235x318.indd 1

29/05/2019 17:14


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.