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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
DUARTE NUNO PINTO
FOTO: RUI APOLINÁRIO
CEO P&R TÊXTEIS
“NA P&R A INOVAÇÃO É UM DESPORTO COLETIVO” P 20 A 22
EMERGENTE
CRISTINA COSTA EMPREENDEDORA POR AMOR À NATUREZA P 33
PERGUNTA DO MÊS
COMO SE ARTICULAM AS EMPRESAS E O SISTEMA DE ENSINO NA FORMAÇÃO? P 4 E 5
ELEIÇÕES
INOVAÇÃO
MÁRIO JORGE MACHADO À FRENTE DA NOVA DIREÇÃO DA ATP
TÊXTIL ANTÓNIO FALCÃO PRODUZ FIO A PARTIR DE GRÃOS DE MILHO
P 12 E 35
P 32
DOIS CAFÉS & A CONTA
ELSA PARENTE É UMA LAVOISIER À MODA DO MINHO P6
CONFEÇÃO
TWINTEX INVESTE 2,6 MILHÕES PARA REORGANIZAR LAY OUT P 10
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CORTE&COSTURA
EDITORIAL
Por: Júlio Magalhães
Por: Manuel Serrão
Inês Torcato 27 anos Designer, foi uma das mais jovens de sempre a levar a sua coleção à passarela do Portugal Fashion. O reconhecimento começou logo na plataforma Bloom, para jovens criadores, e desde então não mais parou de receber prémios e distinções. Destacada como um dos mais jovens talentos, a moda e criatividade está-lhe colada ao nome de família, mas nem sempre isso constituiu a melhor ajuda
SABER LER OS SINAIS TAMBÉM AJUDA
Que importância teve para ti teres subido a pulso, mesmo com um pai e um nome consagrados no mundo da moda? Toda! Sempre soube que ia ser difícil crescer na área da moda sem estar de alguma forma colada ao nome do meu pai. Desde que comecei a estudar decidi adotar o nome de família da minha mãe, para criar algum distanciamento. Acho que isto me obrigou a fazer um esforço duplo em tudo, para provar que o meu trabalho poderia ter potencial por si só. São raros os designers que se preocupam com os negócios e abrem lojas no início da carreira. Como está a correr? Muito bem. Não só pelos resultados comerciais mas também pelo contacto directo com o consumidor, que é muito importante. Claro que foi um risco, mas o facto de o espaço ser dividido entre mim e o meu pai e ter o apoio e o suporte da família foi muito importante nessa decisão. Já começaste a pensar na internacionalização. Que mercados pensas explorar primeiro? Já tenho dado alguns passos nesse sentido, e este ano estou a consolidar o projeto e a tentar caminhar numa direção mais certeira. Para já fiz ações comerciais, tanto em formato de feira como showroom, em Milão e Paris, porque são as duas capitais com mais visitas de clientes internacionais. Não só da Europa mas de todo o mundo.
Do feedback que tenho tido, o maior interesse vem dos clientes franceses, japoneses, países nórdicos e até russos. Que diferenças mais sentiste quando deixaste o Bloom e acedeste à passarela principal do Portugal Fashion? A responsabilidade e a liberdade. Sempre senti uma grande responsabilidade de estar à altura das expetativas, um peso que o meu nome traz. No Bloom era a oportunidade de começar a transmitir a minha estética. Quando veio o convite para a plataforma principal do Portugal Fashion senti uma responsabilidade ainda maior, já que era um grande voto de confiança no meu trabalho. Mas também uma grande liberdade para transmitir aquilo que quero. É conhecida a tua primeira paixão pela fotografia. Foi só uma fase ou tens planos também nesta área? Continuo a adorar e gostava de me dedicar mais a essa área. Para já, consigo juntar a moda à fotografia e, de vez em quando, ser eu a fotografar o meu trabalho, mas no futuro gostava de fotografar as minhas campanhas. Para quando uma coleção Torcato&Torcato, feita a meias por pai e filha? Pode ser um bom projeto para o futuro! Talvez um dia até surja mesmo um projeto desses : ) t
Nuno Pinto, o CEO da P&R Têxteis que faz a capa desta edição 46 do T, teve esta curiosa e inspirada afirmação (que aliás escolhemos para título) de que na sua empresa a inovação é um desporto coletivo. No duplo sentido que lhe atribuo da inovação ser um foco constante da P&R, mas também ser uma preocupação e um esforço que tem de ser partilhado por todos, dos empresários ao trabalhador mais recente. Todos sabemos, mas nunca é demais repetir, que a inovação é imprescindível num setor que tem apostado em reinventar-se para se manter competitivo num mercado global cada vez mais difícil de conquistar. Acontece que esta inovação não é apenas e só a mera inovação tecnológica, com atenção permanente às novas tecnologias e novos processos produtivos. Como também não se pode reduzir à busca incessante de novidades nos produtos que se apresentam e na aposta crescente nas mais modernas formas de comercialização e distribuição. Convém nunca esquecer o consumidor final, as suas mudanças de humor e de hábitos. Um setor pode estar tecnologicamente bem apetrechado, ser capaz de um poderoso marketing de imagem a nível nacional e internacional, mas se insistir em vender os excelentes produtos que faz a consumidores que já estão há muito noutra onda, vai ter um problema sério para resolver. Até agora nunca foi um problema da ITV e por isso as estatísticas continuam a dar-nos boas notícias. Saber ler os sinais também ajuda.
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Paulo Vaz Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/
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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Freitas de Sousa Ilustração: Cristina Sampaio
FORMAÇÃO: COMO SE ARTICULAM AS EMPRESAS E O SISTEMA DE ENSINO?
Instrumento essencial para que o setor têxtil e da moda tivesse atingido na última década patamares de inovação e de produtividade que são uma referência mundial, a formação – e de uma forma geral a ligação entre a indústria e a academia, escolas e centros de formação – parece estar num momento de renovação. Sem deixar de responder aos requisitos exigidos pela indústria, a formação tem de acompanhar o dinamismo e os avatares constantes do setor, sob pena de, não o fazendo, perder articulação e eficácia
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“A forma como o financiamento está organizado dificulta muito as respostas oportunas e em tempo real”
“Não há uma única licenciatura para engenharia do vestuário e mesmo a formação intermédia de qualidade nesta área é escassa”
JOSÉ MANUEL CASTRO MODATEX
CLEMENTINA FREITAS LATINO
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m tempo de regresso às aulas, temas como o do financiamento e o de um aparente excesso legislativo – que impede uma resposta mais pronta à demanda da indústria – estão em cima da mesa num quadro em que as exigências da formação estão prestes a subir a um novo patamar. A indústria 4.0, que já é uma realidade no interior de tantas empresas do setor, coloca novos desafios ao conhecimento de gestores e colaboradores. Soçobrar face a esses desafios não é opção, pelo que o debate sobre o tema é um imperativo de desenvolvimento. Com o setor a atravessar um período de “claríssima falta de mão-de-obra, a formação é cada vez mais indispensável e, dependendo dos meios dos centros de formação, podia fazer-se mais”, refere Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, para referir o problema central: “o Orçamento do Estado e as cativações têm limitado a atividade dos centros de formação”. Mas também o próprio Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) está, pela mesma via, coartado na sua ação, o que, para Paulo Vaz é uma situação que imperativamente tem de ser ultrapassada, “até porque o Instituto não está a fazer nenhum favor à indústria: uma parte da TSU deve servir para financiar a formação”. O diretor-geral da ATP deixa um repto: “coloquem os recursos à disposição e deixem que os centros de formação, em contacto com a indústria e com as associações, ajam estrategicamente e liderem a formação da forma mais eficaz”. José Manuel Castro, diretor executivo do Modatex, afirma que “o problerma é a forma como o financiamento está organizado, que obriga à constituição de grupos homogéneos. O centro tem muita dificuldade em ter 15 pessoas na mesma condição”. A dificuldade é, portanto, na sua ótica, “a de os centros organizarem atividades que encaixem nas regras de financiamento. Isso dificulta muito respostas oportunas e em tempo
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“Deixem que os centros de formação, em contacto com a indústria e com as associações setoriais, liderem a formação da forma mais eficaz”
“Não houve ainda nenhum Politécnico a promover formação póssecundária ou cursos superiores de curta duração na área técnica têxtil”
“Com base em protocolos com o Modatex, o IEFP e a Universidade da Beira Interior temos uma escola dentro da fábrica que está sempre a formar e a requalificar”
“Temos núcleos de investigação criados dentro das empresas. É uma lógica que tem vindo a funcionar”
PAULO VAZ ATP
BRAZ COSTA CITEVE
BRUNO MINEIRO TWINTEX
FERNANDO FERREIRA UMINHO
real”, considera o responsável. E dá um exemplo concreto: “estamos a arrancar com uma formação para uma grande empresa da Covilhã em que temos 15 pessoas identificadas, mas quando as convocamos aparecem 10, porque cinco ou arranjaram emprego ou mudaram de ideias. Quando voltamos a chamar, passamos a ter sete – é um sistema completamente sem sentido, que as empresas podem nem perceber”. O problema é, portanto, a não aderência “do sistema de financiamento à nova realidade socio-económica portuguesa”. O CITEVE, como indicou Braz Costa, diretor-geral, não tem esse problema: “a formação que fazemos são as empresas que pagam, não recebemos do Orçamento do Estado. No passado, tínhamos financiamento público para oferecer formação às empresas, mas neste momento não temos”, o que fica a dever-se a uma espécie de ‘concorrência’ dos institutos politécni-
cos. Mas deixa um aviso: “até este momento não houve nenhum Politécnico que se chegasse à frente para promover formação pós-secundária ou cursos superiores de curta duração na área técnica têxtil”, o que pode a prazo ser um problema de considerável dimensão. E a indústria está à espera. Miguel Pedrosa Rodrigues, administrador da Pedrosa & Rodrigues, considera que “à medida que a investigação e desenvolvimento assume cada vez mais importância nas empresas, as escolas vão ganhar cada vez mais importância. Talvez não tenha havido a proximidade necessária, mas vai existir mais ligação” entre os dois mundos. Até porque “é sabido que o negócio vai mudar [por via da indústria 4.0] e as mudanças que aí vêm vão ser mais agressivas e mais intensas, o que quer dizer que os modelos tradicionais de adaptação não vão chegar”. Clementina Freitas, CEO da Latino Group, afirma que “o principal fator que afeta a competitividade do grupo é a falta de recursos humanos especializados na área técnica. Noto uma falta de visão estratégica para o futuro por parte de quem formata o nosso sistema de ensino. Não há uma única licenciatura para engenharia do vestuário e mesmo a formação intermédia de qualidade nesta área é escassa”. Sentindo este problema, a Twintex decidiu inventar, como refere o seu administrador, Bruno Mineiro: “Precisávamos de modelistas e havia falta deles. Em vez de irmos recrutar noutras empresas, resolvemos formá-los internamente. Com base em protocolos com o Modatex, o IEFP e a Universidade da Beira Interior (UBI) temos uma escola dentro da fábrica que está sempre a formar e a requalificar”. Ora, Rui Miguel, presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI, refere que “há algum trabalho a fazer ao nível do estreitar de conversa entre as universidades e as empresas e também as associações empresariais – que é o que temos tentado fazer, uma vez que estamos sempre muito perto dos empresários.
Na tentativa de percebermos o que é efetivamente necessário para as empresas. Seria muito importante, e nós estamos com vontade de fazer isso, ter conversas organizadas – uma vez que o que tem havido são situações mais informais”. “Existe a aproximação entre as universidades e as empresas, ela tem apenas de ser mais organizada”, refere. Para Fernando Ferreira, docente na Universidade do Minho e diretor do Centro de Ciências e Tecnologia Têxtil – 2C2T, as empresas que procuram o centro acabam por revelar necessidades de formação que induzem a criação de cursos para dar resposta direta às lacunas detetadas, normalmente “cursos curtos, muito dirigidos”. Para Fernando Ferreira “há um entrosamento entre as universidades e as empresas e, nessa lógica, temos o exemplo de núcleos de investigação criados dentro das empresas, que passa por uma parceria entre quem, no seu interior, cumpre rotinas de inovação, com um grupo na universidade, e dessa forma repartir recursos humanos e físicos. É uma lógica que tem vindo a funcionar”. Para o investigador, o que não existe são doutoramentos que obedeçam à lógica das necessidades das empresas e das indústrias: “o doutoramento em empresa, enquadrado numa lógica de parceria com a indústria, é algo que infelizmente não tem sido aproveitado”. Nada disto será fácil, diz Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive e atual presidente da COTEC – que recordou que “apenas uma em cada quatro empresas portuguesas” tem as bases para empreender o salto qualitativo e lançar-se na economia digital e na indústria 4.0. Para Isabel Furtado “a gestão não pode continuar agarrada ao curto prazo. As empresas têm de investir na qualificação dos seus empregados”. É esse o desafio, e o início de mais um ano letivo é sempre a altura certa para fazer regressar o tema à agenda política – por muito que ela esteja por estes dias prisioneira das eleições legislativas que se aproximam. t
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A DOIS CAFÉS & A CONTA Hamilton
Avenida Santana, 395 4910-225 Moledo
Prato Meio quilo de vazia na tábua, com cogumelos salteados e arroz basmati Bebidas Bohemia clássica, um copo e meio de tinto (Valle Longo, Douro, 2017) e dois cafés
ELSA PARENTE
Nasceu em Viana do Castelo, licenciou-se em Química em Braga (Universidade do Minho, 1998) e trabalhou durante 18 anos em Vila Nova de Cerveira, na Tintex, onde debutou como assistente de laboratório e saiu quando era diretora comercial. Vive em Moledo e trabalha em Barcelos, onde dirige a RDD-Research, Design & Development, a empresa laboratório do grupo Valérius, que criou há três anos, a partir do zero. Quando chegou a hora de ir para a faculdade, a primeira escolha foi Farmácia. É a mais nova das três filhas resultantes do matrimónio entre uma doméstica e um emigrante no Canadá – o pai trabalhou durante muitos anos em Montreal numa grande fábrica têxtil vertical. Casada com Gil, alto quadro de uma fábrica portuguesa de componentes para a indústria automóvel de capitais japoneses, têm dois filhos: Constança, oito anos, e Lourenço, nove meses
UMA LAVOISIER À MODA DO MINHO
FOTO:RUI APOLINÁRIO
42 ANOS CEO DA RDD
A conjuntura não é famosa, mas a vida corre-lhe bem. No final do 1O semestre já tinha vendido tanto (dois milhões de euros), como em todo o ano passado, o primeiro exercício completo da RDD, a empresa de i&d do grupo Valerius, que prevê fechar 2019 com um volume de negócios de quatro milhões de euros. “O dobro é sempre bom”, diz, com um sorriso de orelha a orelha, a minhota que criou de raiz a RDD e dirige uma equipa multidisciplinar de 17 pessoas, que integra especialistas de formações tão diversas como a microbiologia, a engenharia têxtil, a saúde pública, o marketing, o design de moda ou a engenharia de confeções. “O ambiente é de expetativa. Nota-se bastante receio. Há a ideia de que os próximos anos não vão ser muito bons”, reconhece Elsa Parente, que escolheu almoçarmos ao pé de casa, num restaurante que frequenta e onde pediu o prato que costuma partilhar com o marido (meio quilo de carne da vazia mal passada e fatiada) e a bebida do costume (a Bohemia clássica) – a inovação fica-se pelas malhas, não chega à mesa :-) Apesar do céu da ITV estar nublado e a incerteza ser o sentimento domi-
nante, Elsa tem todas as razões para estar satisfeita, porque a RDD (a ponta de lança do Projeto 360 da Valérius), está a fazer surf em cima da tendência dominante – a economia circular, a reformulação que a moda fez no séc. XXI da teoria formulada por Lavoisier no séc. XVIII de que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. “Nas feiras, a primeira pergunta que os clientes fazem é se temos produto sustentável, ecológico, reciclado ou bio...”, conta Elsa, que apresentou na Milano Unica, em antestreia mundial, as primeiras peças da gama 360: 12 malhas feitas a partir de uma mistura de tencel com fios de algodão reciclados a partir de desperdícios pré-consumo. “A nossa coleção de outono/inverno 20/21 é maioritariamente sustentável, com fibras recicladas, orgânicas e naturais. Além da gama 360 temos outras novidades, como a gama de orgânicos mercerizados com certificação GOTS. A nossa tecnologia e conhecimento permitem-nos usar processos que reduzem imenso o consumo de água e produtos químicos”, afirma a CEO da RDD. A gama 360 continuará em car-
taz este mês, entre Munique (Fabric Start) e Paris (Première Vision), mas ainda em regime de soft opening, com amostras apresentadas com o objetivo de fazer crescer água na boca dos clientes e lhes possibilitar fazerem os primeiros testes. Os equipamentos ainda estão a ser montados no Mindelo, na fábrica 360 da Valérius, que deverá começar a laborar no final do verão, mas que só a partir de janeiro estará em condições operacionais para responder a encomendas com dimensão. “Desde o início que trabalhamos com uma meta: atingir os 10 milhões de euros de vendas em 2024, tendo como principal produto malhas feitas a partir de fio com fibras recicladas pela 360”, diz Elsa, que se viciou na sensação de andar numa montanha russa que significa trabalhar na ITV. “Tem de ser gostar muito da têxtil para estar numa indústria como esta, em que todos os dias surgem problemas novos para resolver. Lá em casa ao jantar só se fala da têxtil, pois no automóvel nunca há novidades – é um dia a dia rotineiro”, conclui. t
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2. EDUARDO BOTERO, PRESIDENTE DA INEXMODA E DA COLOMBIAMODA, FEZ QUESTÃO DE SE FOTOGRAFAR LADEADO PELO PRESIDENTE DA SELECTIVA MODA, JOÃO COSTA, E DO DIRETOR-GERAL DA ATP, PAULO VAZ
FOTOSINTESE
1. COLOCADO EM LUGAR ESTRATÉGICO, O STAND DO FASHION FROM PORTUGAL DESTACAVA O NOSSO PAÍS COMO O NOVO CRIADOR DE TENDÊNCIAS NO TÊXTIL E NA MODA
TRÊS DIAS SEM MÃOS A MEDIR A provar que o mundo olha cada vez com mais atenção para o made in Portugal, a comitiva nacional esteve no centro das atenções na ColombiaModa. Dos diretos para as televisões, às múltiplas entrevistas e curiosidade pelas marcas e produtores nacionais, foram três dias sem mãos a medir e a mostrar que também na América do Sul o têxtil e a moda portugueses estão em alta. Uma excelente jornada promocional, sobretudo tendo em conta que vêm aí ótimas oportunidades de negócios na região, depois dos acordos de livre comércio assinados pela UE com os países do Mercosul e da Aliança do Pacífico
7. O DELEGADO DA AICEP EM BOGOTÁ, ANTÓNIO AROSO, ATENTO ÀS EXPLICAÇÕES DA REPRESENTANTE DA WEDOBLE
6. A SELFIE DA PRAXE, A REGISTAR O AMBIENTE DE ENTUSIASMO E BOA DISPOSIÇÃO DA SEÇÃO FEMININA DA COMITIVA LUSA
11. EM ESTREIA NA FEIRA, A PURETÉ DU BÉBE REGRESSOU COM BOAS PERSPETIVAS DEPOIS DESTE PRIMEIRO APPROACH AO MERCADO SUL-AMERICANO
10. O EVENTO DO FASHION FROM PORTUGAL, QUE CONTOU COM A PRESENÇA DE COMPRADORES E MEDIA INTERNACIONAIS DURANTE OS TRÊS DIAS DE FEIRA, FOI UM EXITO
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4. NA BABY GI, TAMBÉM A ALEGRIA E BOA DISPOSIÇÃO SE DESTACARAM COMO IMAGEM DE MARCA
5. OS MATERIAIS PROMOCIONAIS DO FASHION FROM PORTUGAL FORAM SEMPRE DESTACADOS PELAS HÔTESSES DE SERVIÇO
3. NO STAND DA DR. KID SUCEDIAM-SE AS QUESTÕES E ESCLARECIMENTOS SOBRE PRODUTOS, COLEÇÕES E POSSÍVEIS NEGÓCIOS
8. NA NOSDIL FAZIAM-SE CÁLCULOS E CONTAS DE MODO A AVALIAR A ESTRUTURA DE NOVAS PONTES COMERCIAIS
9. BEATRIZ ARANGO E JUAN CARLOS GIRALDO, OS APRESENTADORES DE MAIOR SUCESSO DA COLÔMBIA, TAMBEM FIZERAM QUESTÃO DE MARCAR PRESENÇA NO CERTAME
13. À PORTA DA SALA DE IMPRENSA, O NOSSO DIRETOR FOI APRESENTAR O T INTERNACIONAL
12. PARTICIPAÇÃO EM DIRETO DO DIRETOR GERAL DA ATP, PAULO VAZ, NO PROGRAMA MAÑANAS LEGERAS, DA TELE ANTIOQUIA, O PRINCIPAL CANAL DE MEDELLIN E DA REGIÃO ANTIOQUIA
14. EM REGISTO PARA A POSTERIDADE, UM GRUPO DE EMPRESÁRIOS PORTUGUESES EM POSE JUNTO À ENTRADA DO RECINTO DA FEIRA
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GRUPO VILA NOVA CARNEIRO FAZ CENTRO LOGÍSTICO NA TROFA Detentor de marcas como a Tiffosi, TiffosiKids e Vila Nova Accessories – o Grupo Vila Nova Carneiro está a construir um novo centro logístico na Trofa, com o objetivo de potenciar a eficiência desse processo, que permitirá abastecer todas as lojas. O projeto inclui a edificação de um outro armazém, localizado num terreno contíguo às atuais instalações, bem como o desenvolvimento do exterior envolvente ao complexo produtivo. O novo centro logístico destina-se a armazenamento e distribuição dos produtos têxteis das marcas do grupo.
"A maior dificuldade que estamos a ter na confeção é o preço, não conseguir ter preço. A Turquia está a estragar um bocadinho o nosso mercado" Joaquim Sacramento Administrador da Samofil
TWINTEX INVESTE 2,6 MILHÕES PARA REORGANIZAR LAY OUT A Twintex investiu 2,6 milhões de euros numa profunda reorganização do seu layout, que deverá estar completamente operacional em outubro e lhe permitirá aumentar em cerca de 1/3 a capacidade instalada. “Sentíamos algumas entropias e perdas de eficiência derivadas da maneira como os nossos processos estavam organizados”, explica Mico Mineiro administrador da Twintex e o mais novo dos dois filhos de António Mineiro, 74 anos, fundador e presidente deste grupo de confeções que tem o seu centro de gravidade no Fundão. A primeira fase desta reorganização ficou concluída a 27 de março último (o dia em que Mico fez 39 anos) com a inauguração, em Vales do Rio (Fundão), do Centro Logístico da Twintex, que conta com seis cais de entrada e uma área de quatro mil m2, onde concentrou toda a operação de corte, bem como um armazém de tecidos e acessórios, escritórios e um armazém de dependurados 100% dinâmico. O investimento reforçou a área de corte, que passou a ter cinco mesas de corte (mais três), quatro carros de estender tecido (mais dois) e três máquinas de corte (mais duas). "Com esta reorganização
RITA SÁ VENCE PRÉMIO NO REBELPIN AWARDS
SEIS LUSAS NO NOVO HALL DA MUNICH FABRIC START
Finalista do Rebelpin Fashion Awards pelo segundo ano consecutivo, Rita Sá foi a mais votada pelo público no concurso de moda organizado pela ACTE, com o objetivo de apoiar os jovens criadores na transição para a indústria da moda. Também outra jovem designer portuguesa, Mónica Gonçalves, marcou presença entre os dez finalistas e no desfile final, que decorreu em Roma, no âmbito da Rome Fashion Week.
É por considerar o private label como uma área estratégica que a Munich Fabric Start (3 a 5 de Setembro), a mais importante feira alemã de tecidos, tem agora uma área exclusiva dedicada ao sourcing de vestuário, que já conta com a adesão de seis empresas portuguesas. Bergand by Gulbena, Orfama, SM Senra, Top Trends, Valerius e Vandoma marcarão presença neste novo espaço, localizado em frente à entrada do salão dos tecidos.
800 Mico Mineiro defende que um layout mais eficiente aumentará a produtividade
dobrámos o espaço disponível para a produção e aumentámos os níveis de conforto e eficiência. Temos elevadas esperanças que este investimento potencie aumentos significativos de produtividade e qualidade”, afirma Mico Mineiro, que após se ter licenciado em Engenharia Automóvel em Inglaterra, se juntou ao pai e ao irmão Bruno na administração da Twintex. A concentração do corte em Vales do Rio libertou espaço na fábrica da Twintex da Aldeia de Joanes (Fundão) para aí instalar a linha de vestidos de senhora e
casacos da sua participada MK. A partir de outubro, estarão a laborar em pleno, nos seis mil m2 de área coberta da fábrica da Twintex na aldeia de Joanes, cinco linhas de produção: a já referida da MK, mais duas linhas de casacos, uma de calças e outra de saias. O grupo fundado há 40 anos por António Mineiro dedica-se à produção de vestuário clássico para homem e senhora, emprega 400 pessoas e fechou 2018 com um volume de negócios de cerca de 30 milhões de euros, 100% feito na exportação. t
pessoas trabalham no grupo Cordex, que tem três fábricas: em Esmoriz (cordoaria e fios sintéticos) Ovar (espumas) e Salvador da Baía (cordoaria de sisal)
MORETEXTILE VENDE TEARFIL A MARIA DE BELÉM MACHADO O Grupo MoreTextile, líder no setor do têxtil lar na Europa, estabeleceu um acordo com a empresária vimaranense Maria de Belém Machado (acionista da SMBM) para alienar a sua atividade de fiação concentrada na Tearfil, numa decisão que está em linha com o objetivo estabelecido de focagem na produção de felpos e roupa de cama. A Tearfil Textile Yarns dedica-se à produção e comercialização de fios têxteis desde a sua fundação, em 1973, e está dotada de capacidades técnicas e know-how avançados. Com cerca de 300 clientes e 200 colaboradores, a empresa gera um volume de negócios de 12 milhões de euros, dos quais 12% resultantes de exportações.
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HR GROUP CRUZA DESIGN E MODA COM VESTUÁRIO PROFISSIONAL Cruzar a moda com o A gama AntartidA vestuário profissional Plus, de vestuário é uma das apostas da profissional para pesHR, um grupo espesoas que trabalham cializado em roupa de em câmaras frigoríproteção e segurança, ficas é a mais técnica com base em Manda oferta da HR, que gualde, que fechou integra ainda gamas 2018 com vendas conde alta visibilidade, solidadas de 7,6 micalor e chama (para lhões de euros. ser usada, por exem“Planeamos proplo, no transporte de mover um concurso matérias perigosas), junto das escolas de de combate a incênmoda, com o objetivo dios e anti-estática. de incorporar design “O fato-macaco e moda no vestuário AntartidA Plus está técnico de proteção A HR Group apostou também em novas instalações, um investimento de três milhões de euros certificado pelo CIe segurança”, explica TEVE como permiFernando Mateus, CEO do HR Group, um antigo profestindo ao seu utilizador desenvolver um trabalho de sor do Politécnico de Viseu que se dedicou a tempo inteiintensidade média durante uma hora, em temperaturo à vida empresarial. ras de 41 graus negativos. Se o trabalho for leve e a Aumentar a oferta de produtos reciclados e cada vez temperatura média de -26oC, a proteção está garantimais técnicos são outras preocupações deste grupo, que da durante oito horas”, afirma o CEO da HR Group. no início do outono vai concentrar toda a sua operação em No próximo ano, o grupo fundado por Hermínio novas instalações industriais, localizadas a menos de um Rodrigues vai retocar a gama AntartidA Plus, aprequilómetro das atuais, que implicaram um investimento sentando com novo design e uma melhoria nas prode três milhões de euros, em construção e tecnologia. priedades técnicas do produto. t
ALUGAR É RECICLAR? PARECE QUE SIM! “Aluguer é reciclagem. Bem-vindo ao verdadeiro movimento da moda sustentável”. É esta a mensagem da Rent the Runway, uma start-up que nasceu em 2009 para alugar roupas e que, após uma década, vale pelo menos mil milhões de dólares. A empresa surgiu por iniciativa de Jennifer Hyman e Jennifer Fleiss, duas estudantes da Harvard Business School.
200 mil
euros é quanto a Piscatextil prevê investir este ano na modernização do seu parque de máquinas
ATP PROMOVE ENCONTROS COM EMPRESÁRIOS DA INDÍA Uma delegação de produtores indianos de fios, tecidos e têxteis-lar esteve no CITEVE em reuniões B2B, com o objetivo de estabelecer contactos e possíveis negócios com empresas portuguesas, numa iniciativa conjunta da ATP e da Embaixada da Índia em Lisboa. A Índia é uma das principais produtoras têxteis à escala mundial, sendo também um dos mercados de consumo com maior potencial de crescimento.
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MÁRIO JORGE MACHADO O NOVO PRESIDENTE DA ATP Mário Jorge Machado, 57 anos, administrador da Adalberto Estampados, foi eleito o novo presidente da direção da ATP para o triénio 2019-21, à frente de uma lista única, que mantém os anteriores presidentes dos outros dois órgãos sociais – Eduardo Moura Sá (Idepa), na Assembleia Geral, e António Falcão (Têxtil António Falcão), no Conselho Fiscal. Como vice-presidentes para o novo mandado foram eleitos Miguel Pedrosa (Pedrosa & Rodrigues) e Isabel Furtado (TMG). Vice-presidente na direção cessante, liderada por Paulo Melo, Mário Jorge (na foto no momento da votação) é o representante português no board da Euratex. Nasceu e cresceu em Braga, onde os pais tinham um negócio de mobiliário. Engenheiro de Polímeros pela Universidade do Minho, mal acabou o curso deitou mãos à tarefa de relançar a Adalberto Estampados. O grande desígnio do mandato será a regeneração do tecido empresarial, preparando-o para os desafios da próxima década. Numa conjuntura marcada por novos
fenómenos – como a digitalização, automação e economia circular – não se pode confiar nas soluções do presente e do passado para responder aos problemas do futuro. O manifesto programático dos novos órgãos sociais, cujo sentido geral o presidente resume em artigo de opinião neste jornal (pág. 35), contempla também a elaboração de um Plano Estratégico para o setor com os olhos postos em 2030. Para Mário Jorge Machado, “a têxtil é a mais completa das indús-
trias. Tem mais variáveis. Só consegue sobreviver quem estiver sempre a inovar e investir”, resume o novo presidente , que em jovem jogou xadrez a nível federado, o que tem ajudado a ser melhor gestor. “Normalmente somos bons a interpretar o passado. No xadrez, habituei-me a antecipar o que vai acontecer três ou quatro jogadas à frente se eu mover uma peça numa determinada direção”, explica, olhando para os desafios que a nossa ITV tem pela frente.
SALSA QUER VENDER 220 MILHÕES, DOS QUAIS 15% ONLINE José António Ramos, o novo CEO da Salsa (grupo Sonae), deu uma entrevista ao jornal Dinheiro Vivo, durante a qual estabeleceu as metas da marca a curto e médio prazos, onde avulta atingir os 15% do total da faturação através do canal online – para um volume de negócios estimado de 220 milhões de euros no final de 2019. A questão que se coloca é se “vamos fazê-lo com ou sem lojas”, uma vez que “o mundo é cada vez mais omnicanal e a Salsa tem uma posição fantástica a esse nível, com uma operação online que está ao nível das melhores marcas”, explicou o novo CEO.
"Estamos a vender muito bem para Portugal, porque as grandes marcas estão a confecionar no país" Manuela Araújo CEO da Lemar
LOJISTAS DESAFIADOS A ADERIR À PORTO FASHION WEEK NIGHT OUT O desafio é fazer mais e melhor, de forma a que a próxima edição da Nigth Out da Porto Fashion Week seja ainda mais memorável. “Já estamos a todo o gás a preparar mais uma Late Night Shopping a 27 de Setembro. Com um novo modelo e diversas atividades novas que vão fazer parte do circuito PFWNO”, revela a organização. Associada, como de costume, ao salão MODtissimo, o desafio à adesão por parte das lojas do Porto conta com parceria do Porto Canal e do JN, entre outros meios, com divulgação através de diretos na zona do evento e comunicação antecipada e posteriores reportagens.
OS ÓRGÃOS SOCIAIS PARA O MANDATO 2019/2021 DIREÇÃO
ASSEMBLEIA GERAL
CONSELHO FISCAL
PRESIDENTE Mário Jorge Machado (Estamparia Adalberto)
PRESIDENTE Eduardo Moura e Sá (Idepa)
PRESIDENTE António Falcão (Têxtil António Falcão)
VICE-PRESIDENTES Miguel Pedrosa Rodrigues (Pedrosa & Rodrigues) Isabel Gonçalves Furtado (TMG)
VICE-PRESIDENTE António Pereira (Fitor)
VOGAIS Ana Júlia Sampaio Furtado (A. Sampaio & Filhos) Pedro Alves Pereira (Alves Pereira Tapeçarias) José Cardoso (O Segredo do Mar) Paulo Santos (Primma)
VOGAIS Noel Ferreira (A. Ferreira & Filhos) José Guimarães (Fortiustex) Paulo Melo (Somelos) Alexandra Abreu (LMA) Honorato de Sousa (Malhas Carjor) João Costa (OLMAC) Manuel Pinheiro (Tinamar) José Manuel Vilas Boas Ferreira (Valérius) SUPLENTES Rui Teixeira (Felpinter) Jorge Pereira (Lipaco)
SECRETÁRIOS Constantino Silva (Lantal) Paulo Faria (Paula Borges) Mário Jorge Silva (Tintex)
10%
foi o crescimento registado em 2018 no volume de negócios da SIT-Seamless Industrial Technologies, que se fixou em quatro milhões de euros
STONE WASH DA SAMPEDRO INSPIRA DESIGNER AMERICANA
SUPLENTES Ricardo Conceição (L’ Atelier des Créateurs) Sofia Ferreira (Longratex)
SUPLENTES Samuel Costa (Malhas Sonix) António Cunha (Orfama)
CONSELHO CONSULTIVO
Alain Picciotto Álvaro Almeida António Amorim Artur Soutinho Carlos Vieira Daniel Agis Daniel Bessa Fernanda Valente, Hélder Rosendo João Peres Guimarães
José Alexandre Oliveira Luís Almeida Luís Mira Amaral Madath Aly Jamal Miguel Coelho Lima Nuno Sousa Pedro Ferraz da Costa Rui Miguel Sérgio Neto Vítor Abreu
Foi a partir do catálogo da Sampedro que a norte-americana Jennifer Adams encontrou inspiração para a sua nova coleção de têxteis-lar de luxo. De visita à fábrica de Lordelo, Guimarães, a designer com marca em nome próprio rendeu-se ao aspeto descontraído que o tratamento stonewash proporciona e decidiu utilizá-lo na produção de toda a sua nova linha de cama. Para além de diferente à vista, o método utilizado pela Sampedro facilita a vida dos clientes já que, por terem sempre engelhas, as peças não necessitam de ser passadas a ferro.
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X A MINHA EMPRESA Traços Singelos
Rua Comendador Alberto Magalhães e Sousa, 80, Fração B 4805-668 Vila Nova Sande
O que faz? Produz e distribui edredões e restante roupa de cama Volume de negócios 3 milhões de euros em 2018, mais 15% que em 2017 Principais clientes Continente, Pingo Doce, Auchan (em Portugal), Alcampo (Espanha), Carrefour (Marrocos), Candando (Angola) Marca própria Inspiring Aposta estratégica Chegar a outros mercados, fazendo meio milhão de euros/ano na exportação, e desenvolver novos produtos Trabalhadores Entre 32, no inverno, e 21, no verão
COTTONANSWER APOSTA NA QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES Com o objetivo de aumentar a qualificação dos seus trabalhadores, a Cottonanswer assinou um protocolo com o Modatex – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confeção e Lanifícios, em parceria com o Centro Qualifica. Este protocolo, no âmbito do Programa Qualifica, engloba cerca de duas dezenas de colaboradores, para desenvolverem um curso de 35 horas semanais, fazendo um total de 700 horas.
"Gostamos de fazer parcerias, trabalhamos com muita gente, somos abertos, somos transparentes" Mário Jorge Silva CEO da Tintex
MONTTRA DIVULGA TECNOLOGIA ANTI-CONTRAFAÇÃO A Monttra, a startup tecnológica oriunda de Famalicão, desenvolveu uma tecnologia assente numa mega-plataforma de dados e numa aplicação digital que garante a autenticidade do produto ao longo de toda a cadeia de distribuição, até chegar ao cliente final – sendo uma forma de combater a contrafação. O sistema, que deverá estar acessível gratuitamente, foi apresentado na conferência “Contrafação: um negócio em que todos perdemos”, organizada pelo Famalicão Made IN.
FASHION FILM FESTIVAL: DRCN/CASA DAS ARTES QUER MANTER LIGAÇÃO
Um novo fôlego com marca própria Em 2011, com a troika a desembarcar em Lisboa, Fátima Silva (à direita na foto) estava numa encruzilhada. Tinha dois filhos a estudar, um já na faculdade e outro a entrar. Tinha também uma experiência profissional larga e polifacetada, acumulada num percurso com escalas na Coelima e Penedo, bem como em passagens pela criação e marketing que lhe revelaram todos os segredos do negócio dos têxteis-lar. Fátima cresceu ao balcão (os pais tinham uma loja de tecidos e retrosaria na rua Pedro Hispano, no Porto) e aos 33 anos já dirigia uma fábrica, a Têxteis Cunha Abreu. Não é pessoa para se atrapalhar quando a vida lhe passa uma rasteira. Por isso, naquele terrível ano de 2011, quando se tratou de fazer escolhas, não hesitou e seguiu em frente. Comprou o parque de máquinas de uma empresa que tinha fechado e arrancou com a Traços Singelos. “Há momentos na vida em que não temos outra hipótese senão reunir toda a nossa força e vontade para seguir em frente. E eu sabia que o meu projeto tinha quase tudo para dar certo. Só faltava o quase...”, graceja, quando invoca o nascimento da sua fábrica, que começou por morar na Maia (só quatro anos depois se mudou para Sande). O arranque não foi fácil. Quase nunca é. “Tive mais amigos do que bancos no financiamento do projeto”, recorda. Além da coisa mais preciosa que há no mundo (os amigos), Fátima tinha ideias claras sobre o que fazer. Focou-se na produção de roupa de cama – em particular nos acolchoados – e na grande distribuição,
fornecendo todas as cadeias de hipermercados que operam no nosso país, clientes que asseguram grandes volumes, mas com margens apertadas. “Fazemos produtos de gama média. Não é o primeiro preço”, esclarece. “Crescemos 15% em 2018. Foi um ano bastante bom a nível de vendas para os clientes existentes, mas não de angariação de novos clientes”, afirma a fundadora da Traços Singelos. Agora que o barco navega em velocidade de cruzeiro, Fátima achou chegada a hora de fazer uma ligeira correção na rota da Traços Singelos, para conquistar novos clientes (também no segmento hoteleiro, onde forneceu toda a roupa de cama do Sana de Luanda) e novos mercados, como a França, Reino Unido (o Brexit não a assusta), a Suécia, Finlândia e Noruega (onde já tem um pé). No âmbito deste novo fôlego, a Traços Singelos mostrou-se ao mundo em janeiro, estreando-se na Heimtextil (“uma surpresa, correu muito melhor do que estava à espera”), está a lançar uma marca própria (Inspiring) e a desenvolver novos produtos, como uma espécie de saco cama acolchoado, com pelo por dentro, para se estar quentinho no sofá nas noites frias de inverno – uma peça que se pode abrir e transformar em manta. “Estamos a preparar novos produtos que vão demonstrar a nossa capacidade para trabalhar em alta qualidade, com materiais nobres, bordados, linhos lavados e novas técnicas de tingimento. Não teria qualquer sentido fazer coisas que os outros já fazem”, conclui Fátima Silva. t
A parceria com a Direção Regional de Cultura do Norte para o lançamento da 6ª edição do Fashion Film Festival foi uma das boas surpresas da programação deste ano da Casa das Artes do Porto, uma ligação que é para manter nas próximas edições daquele que é o único festival do país dedicado a filmes de moda. “Esta parceria foi uma boa surpresa. Foi um gosto e esperamos continuar com esta parceria”, disse Fernanda Araújo, da DRCN/Casa das Artes.
3 milhões
é quanto a MCS Muns Py vai investir na construção de uma nova fábrica em Valongo, que deverá estar operacional no 2º semestre de 2021
GWERY, AS TOALHAS DE PRAIA ORIGINAIS 100% MADE IN GUIMARÃES Foi em 2017 que dois primos, com raízes na indústria têxtil, decidiram pôr mãos à obra e criar uma marca de toalhas de praia 100% portuguesa que chega agora ao mercado. Chama-se Gwery e quer trazer qualidade, design e inovação ao mercado. Todas as toalhas são produzidas em Guimarães e feitas com uma construção 100% algodão, destacando-se ainda a leveza, suavidade e dupla face.
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quality impact arquitetura e soluções de espaços
Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt
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SMART INOVATION REPOSICIONA PATENTE PARA TÊXTEIS TÉCNICOS A tecnologia SI, desenvolvida pela Smart Inovation, está patenteada em 147 países e consiste numa matriz de nanopartículas que transporta substâncias ativas para os materiais têxteis, melhorando-lhes a performance, durabilidade e eficácia. Por estar direcionado a um segmento sofisticado, onde o marketing tem um peso considerável, o SI Bactericida passa a denominar-se SI Bac-Pure, transmitindo de forma mais clara as características do produto. Os têxteis técnicos, em particular o sportswear, medicalwear e workwear, são os targets principais do produto.
"Temos 16 mil painéis solares que produzem energia limpa e satisfazem 1/3 das nossas necessidades" Paulo Augusto de Oliveira Administrador da Paulo de Oliveira
ATP VOLTA A VENCER PRÉMIO DE PROMOÇÃO
A Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal voltou este ano a ser distinguida com o European Enterprise Promotion Award, agora na categoria empreendedorismo, com o projeto Regeneração ITV. No ano passado, a ATP tinha sido premiada na categoria internacionalização, com o Fashion From Portugal. Tratando-se de um dos prémios europeus mais cobiçados, o European Enterprise Promotion Award distinguiu desta vez a iniciativa da ATP destinada a estimular novos projetos e empresas, com o objetivo de regenerar o tecido empresarial do setor têxtil, vestuário e moda. t
MÁQUINA FULL DIGITAL DA S. ROQUE DESTACA-SE NA ITMA Líder mundial no fabrico de máquinas para estamparia têxtil, a S. Roque apresentou na ITMA o novo modelo RoqNow, a sua primeira máquina Full Digital que permite executar a um ritmo industrial peças únicas em que os desenhos não se repetem. A par da grande novidade, a gigante de Famalicão, que fabrica máquinas para estamparia desde 1983, levou também à grande feira de Barcelona mais duas das suas recentes inovações: a RoqNext, a máquina automática de estamparia têxtil que incorpora uma linha de embalamento completa; e a RoqCTS, que imprime diretamente nos quadros de serigrafia. Como o nome indica, a RoqNow utiliza as novas tecnologias digitais para efetuar a impressão e não os tradicionais quadros de estamparia. “Esta nova tecnologia é vocacionada essencialmente para as plataformas digitais de e-commerce, que procuram um perfil de consumidor que, mais que as marcas, querem
ter produtos personalizados; mas também para as marcas de alto valor acrescentado que limitam cada modelo a uma quantidade muito restrita”, descreve a empresa, definindo o segmento de clientes para a nova máquina. A S. Roque explica ainda que a nova máquina tem uma capacidade industrial de produção que pode atingir as 300 peças por hora, podendo efetuar com essa rapidez peças únicas em que os desenhos não se repetem. “Foram três anos de I&D até apresentarmos agora o produto comercializável”, indicou a empresa liderada por Manuel Sá, que nasceu como uma pequena oficina e hoje é líder mundial na produção de máquinas para estamparia têxtil. Com uma faturação que ultrapassa já os 50 milhões de euros, emprega mais de 480 pessoas e exporta as suas máquinas para fábricas têxteis para mais de 40 países espalhados por todos os continentes, incluindo os gigantes China e EUA.t
PÉ ANTE PÉ, FOOT BY FOOT PREPARA SALTO EM FRENTE
LECTRA DEFINE REALISMO DA PROTOTIPAGEM VIRTUAL 3D
Pé ante pé, a Foot by Foot está a preparar um novo grande salto em frente, com produtos diferentes para entrar em novos segmentos de mercado, tendo como objetivo aumentar em 50% o seu volume de negócios, fazendo-o crescer de três milhões para 4,5 milhões de euros, num prazo de dois anos.
A Lectra acaba de lançar o Modaris V8R2, a versão mais recente de sua solução 2D/3D de modelagem, classificação e prototipagem. Esta nova versão do Modaris, a solução de modelagem mais utilizada pelas principais marcas de moda e vestuário, oferece maior velocidade, eficiência e precisão.
3 milhões
de euros é o valor mínimo do programa de investimentos da Fitecom para o biénio 2019/20, montante que pode atingir os quatro milhões e será no seu essencial dirigido para a área de acabamentos
STORYTAILORS AJUDAM TERESA SALGUEIRO A METAMORFOSEAR-SE
INOVAÇÃO TÊXTIL EM DESTAQUE NA MOSTRA TECH@PORTUGAL Alguns dos mais inovadores produtos e projetos da área têxtil foram destacados no evento Tech@Portugal, uma iniciativa promovida pela Agência Nacional de Inovação, que decorreu no Edifício da Alfândega do Porto. Produtos como o iTechcoat, da Coltec, a WYFEET Extreme, a meia de aquecimento ativo que já está
a ser produzida pela Faria da Costa, ou o colete funcional de alta visibilidade Knit Force. A demonstração têxtil levada pelo CITEVE chamou a atenção para os produtos do projeto mobilizador Texboost, como a poltrona revestida com couro vegetal, o vestido com revestimento de resíduos de couro e EVA, e o colete de
proteção para motociclista. Já por parte de projetos que envolvem o CeNTI, a mostra incluiu o iParasol, o guarda-sol da Têxteis Penedo que incorpora tecnologias, ou a integração de sistemas de aquecimento e sensorização em revestimentos têxteis plastificados da TMG Automotive para interior automóvel. t
Teresa Salgueiro vai fazer a tour do novo álbum vestida com criações Storytailors, especialmente concebidas para esta digressão da cantora e que já foram usadas na sua atuação no Festival de Música de Stresa, em Itália. “Esta é uma parceria feita com muita atenção a todos os cambiantes desta personalidade que tem uma presença tão magnética”, explica a marca.
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JOVENS DESIGNERS CRIAM TRAJES DE PAPEL Nuno Lara, do MODATEX, foi o vencedor do I Concurso de Design do Traje de Papel para jovens criadores, uma iniciativa associada ao tradicional cortejo de São Bartolomeu, na Foz do Douro, que teve como tema a obra de Sophia de Melo Breyner Andresen. Respondendo ao desafio, alunos das Escolas de Moda e de Artes do Espectáculo do Porto e de Matosinhos – ACE, EMP, ESAD, ESMAE, MODATEX – apresentaram-se a concurso 16 projetos, avaliados por um júri multidisciplinar, que destacou ainda os trabalhos de Gonçalo Godinho/MODATEX (2º lugar) e Marta Costa/ESAD (3º lugar).
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"O mundo muda a uma grande velocidade. Se não começamos já a preparar essa mudança, daqui a 20 anos estamos fora do negócio" Alberto Tavares CEO da Melher
LANTAL ASSUME A IDENTIDADE NA (AGORA) EX-GIERLINGS VELPOR Depois de no final de 2016 ter assumido o controlo da empresa e de ter concluído um investimento de 2,5 milhões de euros para se tornar líder europeu na produção de tecidos para bancos dos veículos de transportes públicos, o grupo Lantal assume agora a plena identidade na ex-Gierlings Velpor. “Depois de dois anos e meio a trabalhar juntos aproximámo-nos do fim da integração e a partir de 17 de Julho de 2019 a Gierlings Velpor passou a chamar-se Lantal Texteis SA”, anuncia o grupo suíço. Além da mudança do nome, também a imagem e comunicação da empresa passou a apresentar o logótipo da Lantal.
FRANCISCO BATISTA
FOTO: RUI APOLINÁRIO
Há muitos (e bons) treinadores de futebol em Portugal, mas só há um (Vítor Oliveira) que se possa gabar de já ter subido 11 equipas à I divisão. Há muitos (e ótimos) empresários têxteis no nosso país, mas só há um (Francisco Batista) que se possa gabar de na última dúzia de anos ter resgatado cinco empresas às garras da falência. “Dá-me muito gozo pegar numa fábrica falida e sair de lá com ela a PME Líder”, reconhece Francisco Batista, um empresário de Tábua que lidera a partir da CBI, em Mangualde, um grupo de empresas de confeções que fechou 2018 com um volume de negócios próximo dos 30 milhões de euros e conta na sua carteira de clientes com marcas como a Massimo Dutti, Polo Ralph Lauren, Calvin Klein ou Sacoor. “Quando me pedem para dar a volta a uma empresa, a primeira coisa que faço é avaliar o que há ali de capital humano, por exemplo de costureiras com dez a 15 anos de experiência, um ativo intangível que muito pouca gente sabe contabilizar”, explica o CEO da CBI, filho de uma doméstica e de um pedreiro, que mal acabou o 9oº ano começou a trabalhar numa empresa de contabilidade, onde se demorou nove anos, aprendendo a tratar os números por tu, e se tornou TOC. É muito difícil Francisco resistir à tentação de reabilitar capital humano que inevitavelmente se iria perder caso ele não assumisse a tarefa de dar a volta aquela fábrica que balouça à beira do abismo da falência. No momento de fazer o diagnóstico, o fator mais importante a ter em conta é o capital humano. Mas quando toca à prescrição de medidas para ressuscitar uma fábrica moribunda, Francisco não tem dúvidas e é inflexível. Não há que olhar para trás, mas sim pôr os olhos no futuro: “A solução nunca pode estar em dar de comer a um morto, mas antes em alimentar um bebé”. O trabalho de equipa é outra regra escrita na pedra. “Sozinhos não conseguiram fazer nada. A marca de água de uma boa liderança é a capacidade de criar equipas, valorizar os colaboradores e dar-lhes confiança”, afirma Francisco Batista, que debutou como empreendedor em 1987, abrindo o Centro Óptico de Tábua, com uma rede de quatro lojas, em sociedade com um técnico de óptica, a quem venderia a sua participação em 2001. A estreia na têxtil foi também com uma start-up, a Acorfato, nascida a partir
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O VÍTOR OLIVEIRA DAS CONFEÇÕES de um encontro na festa de casamento do irmão mais velho de Francisco, onde conheceu um alfaiate (António Correia) que queria estabelecer-se com um atelier mas precisava de um contabilista – e acabou por sair da festa com um sócio. A pré-história do vício de Francisco em dar a volta a fábricas falidas data de 1997. Sete anos exatos sobre a sua fundação, a Acorfato atravessa um período de crescimento trepidante, em que se via e desejava para atender as encomendas dos clientes, e não des-
perdiçou a hipótese de aumentar a capacidade produtiva tomando conta de uma fabriqueta de confeções em Mangualde que ameaçava naufragar – e não tardaria a ser rebatizada CBI e a ter a cabeça bem fora de água. Curiosamente, a primeira fábrica falida a que Francisco deu a volta não era de trapos mas de ultra-congelados. Apesar de em 2007 estar ocupado a relançar a CBI (com que acabara de ficar a 100%, após uma separação de águas amigável como o alfaiate António Correia, que
ficou com a Acorfato) não resistiu ao apelo de um par de engenheiros alimentares, formados pela Escola Agrária de Coimbra, para lhes dar uma ajuda e salvar uma fábrica falida que produzia salgados, pasteis de nata e folhados ultra-congelados. A operação Frisalgados teve um final feliz, e em 2015, com a missão cumprida, o empresário de Tábua pôde vender a sua posição. 2015 foi também o ano em que Francisco Batista desinvestiu da Azuribérica (antiga HBC), vendendo a sua participação aos dois quadros (Joaquim Pratas e Nuno Cardoso) que o tinham ajudado a dar a volta a esta fábrica que estava insolvente e com os 100 trabalhadores com os contratos suspensos quando ele pegou nela, em Dezembro de 2010, respondendo a um SOS do presidente da Câmara de Oliveira do Hospital. “Em janeiro de 2011 já estava a fazer casacos”, conta o empresário, que reequipou a empresa com máquinas adquiridas à Mateus e Mendes, uma empresa de confeções de Castelo Branco que tinha caído. Seguiu-se em 2013 o bem sucedido turn around da Confeções Pivot, do seu amigo Manuel Fareleiro, a quem vendeu em 2017 a sua participação numa empresa rebatizada Avelmoda e com saúde para dar e vender. A CBI mantém o controlo das duas mais recentes experiências de dar a volta a empresas falidas, ambas iniciadas em 2017, uma em S. Vicente (Cabo Verde) e outra em Arganil. Em Cabo Verde, a AfroPants alargou a sua atividade de produzir calças (1500/ dia) a casacos de senhora, mas ainda não se pode considerar um caso definitivamente arrumado. “O problema é a logística. De vez em quando o barco atrasa-se e os clientes estão a exigir prazos de entrega cada vez mais curtos”, explica. A Amma, em Arganil, dona da marca Carlo Visconti, estava insolvente e os credores vieram bater-lhe à porta, propondo-lhe ficar com os trabalhadores e parque de máquinas. Ele disse que sim e reconhece que neste caso particular teve sorte, porque pouco depois a Ralph Lauren estava a colocar-lhe encomendas na ordem dos 60 a 70 mil peças por ano, que ele não teria capacidade para satisfazer sem a incorporação desta nova capacidade. “Tivemos sorte. Mas a sorte protege os audazes – e dá muito trabalho a conseguir”, conclui Francisco Batista, um empresário que adora ressuscitar empresas moribundas. t
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LIPACO QUER EVITAR CHEGAR TARDE AOS ESTADOS UNIDOS Os Estados Unidos estão fazem lá a confeção. Mas debaixo do olho da Lipaestamos também atentos co, sendo um dos mercaà Rússia e em especial aos dos com que a empresa de Estados Unidos, um país Esposende conta para auenorme onde a indústria mentar rapidamente de têxtil está a crescer – e nós 40% para 50% o peso das queremos evitar chegar tarexportações diretas no de a um mercado tão granseu volume de negócios, de”, afirma Jorge Pereira, que em 2018 rondou os CEO e fundador da Lipaco. 2,6 milhões de euros. As feiras são o meio priNascida há 32 anos, a vilegiado por Jorge Pereira Lipaco começou por faquando se trata de exportar. bricar apenas linhas de “Se numa feira conseguicostura, que vendia exclumos dois ou três clientes sivamente no mercado bons já valeu a pena. Mas interno, mas foi obriga- Jorge Pereira, CEO, quer subir para 50% o peso das exportações no volume de negócios muitas vezes não vendeda a mudar de estratégia mos nada numa feira e o para conseguir sobreviver aos violentos solavancos que afetaretorno aparece anos depois. É preciso ter a paciência de seram a nossa ITV na primeira dúzia de anos deste século, promear hoje para colher mais tarde. Temos muitos clientes que vocados pela adesão da China à OMC e pela crise das dividas aproveitam as feiras para reunir connosco. E não há viagem soberanas e consequente intervenção da Troika em Portugal. que eu faça em que não encontre alguém conhecido, no aeCom o mercado interno anémico, a empresa teve de se virar roporto, na feira ou na cidade”, explica o CEO da Lipaco, que para a exportação e para o alargamento da sua carteira de produprofissionalmente ou em lazer, já visitou 42 países diferentes. tos, onde passaram a constar os fios, ao lado das linhas de costura. O mercado externo é a aposta para a empresa de Espo“Devido à proximidade e ao facto de valorizar os produtos mais sende continuar a crescer e cumprir o objetivo de duplicar técnicos, a UE é o nosso principal mercado externo, seguida do a faturação até 2022, fixado na sequência de um investiNorte de África, porque muitos dos nossos clientes tradicionais mento de 1,8 milhões de euros, acabado de concluir. t
ZIPPY TAMBÉM JÁ ESTÁ NA PÓVOA DE VARZIM Apostada em manter o ritmo de crescimento, a Zippy abriu a sua primeira loja na Póvoa de Varzim, com de 180m2, na Praça da República, bem no centro da cidade. A marca reforça assim a sua presença na região norte, onde passou a contar com 20 espaços de venda.
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é o peso das marcas próprias (Collection, Asa, Hierba) nas vendas da Lameirinho
MAIOR CONGRESSO TÊXTIL COM INSCRIÇÕES ABERTAS A Conferência Anual da ITMF tem desta vez a cidade do Porto (20 a 22 de Outubro) como palco e como entidade anfitriã e coorganizadora a ATP, que destaca o significado especial de ser Portugal o país escolhido para esta assembleia magna do têxtil e a grande responsabilidade – a par da honra e distinção – que é promover a ITV portuguesa à escala global, projectando uma imagem de modernidade, dinamismo, criatividade e imaginação.
creora® Power Fit é um elastano desenvolvido para elevados níveis de força e compressão.
creora® Black é um elastano desenvolvido para pretos mais intensos sem visibilidade.
creora® Color+ é um elastano que tinge obtendo-se excelente solidez especialmente em misturas com nylon.
creora® eco-soft é um elastano concebido para termofixação a baixa temperatura o que permite um toque suave e cores claras excepcionais, evitando o amarelecimento.
creora® é uma marca registada da Hyosung Corp. para o seu elastano premium. Contacto em Portugal: Dtexcom Têxtil, Lda – tlf +351 229399360 ou dtexcom@dtexcom.pt
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"SUSTENTABILIDADE NÃO É SÓ RECICLAR MATÉRIAS PRIMAS"
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n ENTREVISTA Duarte Nuno Pinto 64 anos, filho único de Georgette e António – dois professores primários de Braga colocados em Barcelos –, foi fabricado em S. Veríssimo, onde está o centro de gravidade da P&R Têxteis. Concluído o secundário no liceu Sá de Miranda, mudou-se para o Porto, onde se licenciou em Economia. Casado com Maria da Ascensão, uma ex-professora primária que se tornou empresária, têm três filhos: Daniela, 37 anos, médica radiologista no Hospital S. João; Mariana, 33 anos, licenciada em Gestão (Católica) que trabalha numa multinacional; e Nuno, 28 anos, licenciado em Economia (FEP) e com mestrado em Marketing e Gestão, que está na P&R
s
e fosse ministro da Economia, mudava o Ministério para o Porto - afirma Duarte Nuno Pinto, CEO da P&R Têxteis. Os primeiros anos de vida da P&R foram muito duros…
Aguentámos 13 anos a perder dinheiro. A minha família sofreu muito para mantermos a fábrica e os 30 postos de trabalho. Durante dez anos, continuei a trabalhar em Matosinhos, em part time, para ter um salário. Três dias em Matosinhos e dois em Barcelos, depois dois lá e três cá. Enquanto a minha esposa aguentava as pontas a tempo inteiro na P&R. Porque é que foi tão difícil?
Éramos uma empresa pequena, em fase de aprendizagem, a lidar com as vicissitudes do mercado.
know-how numa área de grande tecnicidade, e atrair novos clientes. Mas o importante é que sabíamos para onde íamos. Começámos a trabalhar com a Decathlon e a Reebok, antes de chegarmos à Adidas... Como conseguiram?
Tínhamos um cliente, a Intersport, que também vendia Adidas, e perguntámos se conhecia alguém lá. Ele arranjou-nos uma reunião na sede da marca, em Nuremberga, com um responsável do sourcing. A reunião correu bem?
Levámos umas camisolas de rugby em algodão, como amostra do que fazíamos. Ele mostrou-se interessado e prometeu visitar-nos da próxima vez que viesse a Portugal. Cumpriu?
Não só cumpriu como nos apresentou um tremendo desafio. Disse-me que tinha um projeto para nós de uma responsabilidade enorme. Se aceitássemos e as coisas corressem bem, teríamos as portas da Adidas abertas. Se falhássemos, as portas ficariam fechadas para sempre e ele seria despedido. Qual era o desafio?
É preciso ser muito teimoso para aguentar 13 anos no vermelho…
Não foi teimosia. Foi persistência e fé. Não somos pessoas para desistir. Tínhamos excelentes colaboradores ao nosso lado, a dar o seu melhor para conseguirmos sobreviver. E acreditámos que quem porfia sempre alcança. Como conseguiram dar a volta?
No início dos anos 90, tornou-se claro que a melhor estratégia era sair do casualwear e especializar-nos no desporto, um segmento com potencial de crescimento, de diferenciação, produtos mais tecnológicos e matérias primas mais sofisticadas. Foi a decisão acertada. Não somos iluminados, mas a necessidade aguça o engenho. Os resultados dessa mudança estratégica apareceram logo?
Não. Foi um processo lento, que implicou investirmos em equipamentos, ganharmos experiência e
"Se for difícil, fazemos. Se for impossível pedimos mais um dia"
Produzir a esmagadora maioria dos equipamentos da Adidas para os Jogos Olímpicos do ano seguinte, em Atlanta. Aceitámos o desafio, as coisas correram muito bem e ficámos com as portas da Adidas abertas. De então para cá, fazem aqui a maioria dos equipamentos, para as Olimpíadas de Verão e de Inverno. No vestuário têxtil, somos o mais antigo fornecedor regular da Adidas em todo o mundo. Foi o momento decisivo?
1995 foi o primeiro ano em que ganhámos dinheiro. Daí para cá tem sido sempre a ganhar, após 13 anos a dar prejuízo. Para nós o 13 não representa azar. A empresa foi fundada a 13 de maio. E a minha esposa nasceu a 13 de abril. Somos católicos. Na Bíblia, a travessia do deserto durou 40 anos. A nossa demorou apenas 13 anos. Atlanta 96 foi o ponto de viragem?
Atlanta foi importante porque há
Quando saiu de Barcelos e se instalou num quarto alugado em Arca de Água, no Porto, onde cursou Economia, Duarte Nuno imaginava-se, no futuro, como diretor financeiro de uma empresa de média ou grande dimensão. E a vida dele até parecia encaminhar-se nesse sentido. Após um estágio em Gaia, na Jotocar/Fichet, foi trabalhar para a Vasco da Gama, em Matosinhos, do grupo dos irmãos Fernando (uma referência na indústria e no movimento associativo têxtil) e Manuel Barroso, onde não demorou a tornar-se adjunto da administração. Acabou por tornar-se empresário por um daqueles acasos em que a vida é fértil. Dois amigos de Barcelos encomendaram-lhe um business plan para obter um empréstimo bancário para a criação de uma nova fábrica de malhas. No entretanto, um dos promotores saltou fora. E ele, que era suposto ser remunerado em dinheiro, acabou por ser pago em espécie, com uma quota da nova sociedade, que nasceu em 1982, como Pinto & Ribeiro – razão social que, dois anos volvidos, evoluiu para P&R, após a saída do Ribeiro. “O maior desgosto que dei aos meus pais foi quando, com 26 anos, lhes anunciei que ia ser empresário”, conta Duarte Nuno. Na opinião deles, arriscar o futuro numa “fabriqueta” não era promissor
uma regra de ouro para ter sucesso no mundo dos negócio - People and Reputation, por coincidência as iniciais da P&R. Nós tínhamos as pessoas, uma equipa talentosa e dedicada. Faltava-nos a reputação, que ganhámos nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Estão preparados para dar resposta à procura crescente de produto mais costumizado?
Fabricarmos equipamentos para os atletas olímpicos – da Adidas, mas não só, também fornecemos a Puma nos jogos de Pequim e Londres - dotou-nos de competências fortes no feito por medida. No Tour de France de há dois anos tivemos de fazer em 24 horas um novo fato para o Froome correr o contra-relógio, porque nas etapas dos Alpes tinha perdido cinco quilos. Essa competência é uma enorme vantagem competitiva…
Que está consolidada na nossa empresa e de que temos tirado partido. Fazemos, para várias marcas, produto por medida para uma grande variedade de modalidades – corrida, ciclismo, rugby, triatlo. O cliente encomenda na internet, nós produzimos e enviamos, num prazo muito reduzido. É de atletas!
O negócio da costumização obriga-nos a ter uma estrutura produtiva muito flexível, escorreita e rápida, baseada no trabalho em células, em métodos de gestão industrial avançados e em colaboradores competentes e motivados.
em todas as secções produtivas nucleares, e nas áreas sociais (cantina, etc). Aumentamos qualidade e rapidez, tornando-nos assim ainda mais competitivos. O que faz a vossa fábrica de Esposende?
Era uma unidade subcontratada situada na freguesia de S. Bartolomeu do Mar que adquirimos. É uma confeção excelente, que faz produtos específicos como polos, onde toda gente trabalha com um grande amor à camisola, vai almoçar a casa e tem tempo para tratar dos filhos. Sustentabilidade não é só reciclar matérias primas... Então o que é?
É muito cómodo para as marcas resumirem a sustentabilidade a umas peças feitas em materiais reciclados e assim desviarem a atenção do que é verdadeiramente grave. A nossa primeira preocupação é respeitar os direitos dos trabalhadores, garantir-lhes assistência na doença, não lhes pagar salários miseráveis, nem impor-lhes horários de trabalho desumanos. Reciclar não é importante?
É. E estamos a caminhar para um uso cada vez maior do poliester reciclado, que é mais caro. Mas será que o poliester que nos vendem como reciclado é mesmo reciclado? Não estaremos a comprar gato por lebre? A moda da reciclagem não pode desviar a atenção da responsabilidade social das empresas e dos grandes operadores têxteis. O que quer dizer com isso?
Flexibilidade é a palavra chave?
Somos flexíveis a nível industrial mas também na quantidade de modalidades que fornecemos. Tivemos cá um diretor do Corte Inglès, que exclamou: “Carai!, vosotros solo no fabricais trajes de toreros!” Os investimentos têm sido nesse sentido?
Nos últimos três anos investimos cinco milhões de euros em instalações e equipamentos na fábrica de S. Veríssimo. Estávamos acanhadíssimos. Duplicámos a área industrial e passámos a estar desafogados
As empresas têm de ser factores de criação de riqueza e isso não se esgota no crescimento do EBITDA e vendas. Têm de se inserir nas comunidades, redistribuir parte do lucro que geram. Uma percentagem das nossas receitas é partilhada com bombeiros, voluntariado, deficientes, organizações desportivas, etc. E não só a nível local. Há mais de 20 anos que pagamos estudos e o lanche a 13 crianças moçambicanas através de uma ONG de Barcelinhos-Sopro. O discurso da sustentabilidade
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Viciado em desporto Sempre foi um desportista. No liceu, com 12 anos, já era guarda redes de andebol. No futebol, começou como defesa esquerdo, nos juniores do Gil Vicente, mas um dia, como o guarda redes titular se lesionou e o suplente era um frangueiro, foi para a baliza e acabou por ficar por lá. Mais tarde, já na faculdade, jogou voleibol a nível federado no Óquei de Barcelos. Vítor Damas é a resposta que dá quando lhe perguntamos qual o melhor guarda redes português que viu a atuar. Mas o seu ídolo é Joaquim Agostinho. A paixão antiga de Duarte Nuno pelo ciclismo é documentada por um episódio. Quando fez 18 anos e concluiu com aproveitamento os exames do 1º ano na
pode ser enganador?
Sim, se o reciclar esconder o dumping social e as práticas de fast fashion. O caminho certo para respeitar o ambiente e os recursos do planeta é consumir menos, produzir menos e reutilizar mais. E este caminho não é mau para a nossa ITV, que produz roupa durável de boa qualidade, que compensa manter e reparar... É um céptico relativamente à questão da sustentabilidade?
Não sou céptico relativamente à importância da sustentabilidade – além da ISO 9001, temos certificações como a SA 8000 ou a NP 4457 que falam por nós – mas sim ao aproveitamento que alguns fazem dessa questão. Porquê lançar marcas próprias?
Sempre privilegiámos o desenvolvimento de produto para as marcas dos nossos clientes. Só criámos a Onda porque identificámos a lacuna de num país à beira mar plantado não existir uma marca nacional de surf – e também porque não colidia com os interesses de nenhum dos nossos clientes. No entretanto alargaram o âmbito da Onda ao triatlo…
Criámos um spin off, a CMD, que se encarrega da comercialização das nossas marcas desportivas. No caso do surf, a marca está a ser relançada associada à Praia da Nazaré. E no triatlo fornecemos a federação portuguesa da modalidade. … e criaram a Flynx para o ciclismo…
No caso do ciclismo, não temos coleção, só fornecemos clubes, marcas e instituições. Em Portugal, patrocinamos a equipa da Rádio Popular/Boavista e a Federação Portuguesa de Ciclismo. Na última Tour de France, além de fazermos as camisolas amarela, verde, branca, etc, para a Le Coq Sportif, também equipámos a Education First. Têm planos para estar com marca própria noutras modalidades?
As marcas próprias representam apenas 15% dos 15 milhões de
"Horas extraordinárias deviam ser fiscalmente despenalizadas" euros do volume de negócios da P&R. O nosso negócio essencial são as marcas globais, que têm vários tipos de desportos ou são especialistas numa modalidade. Crescer nas marcas próprias não é estratégico para a P&R?
O nosso objetivo é que a P&R se mantenha rentável e sustentável, prosseguindo uma abordagem centrada nos clientes e apoiada em fortes parcerias com eles. Porquê?
Como economista, sempre estudei a relação entre indústria e marcas. Não há marca que se consiga impor globalmente sem primeiro ser forte no seu mercado doméstico. Portugal é um mercado demasiado estreito e geograficamente marginal para servir como rampa de lançamento de uma marca. O online não veio modificar isso?
O fenómeno do crescimento exponencial do ecommerce a nível internacional poderá alterar esse paradigma. Vamos a ver. Como é que estão nessa frente?
Este ano já investimos 100 mil euros numa nova plataforma de venda online da Onda. Estamos a gastar dinheiro em marketing e contratamos recursos humanos especializados, com competências para esta nova vertente.
FEP, os pais queriam dar-lhe um carro, mas ele preferiu uma bicicleta de corrida, igual à que Alves Barbosa anunciava na TV. Mal a mãe acabou de a pagar em notas (2.550 escudos, mais ou menos o salário mensal de um professor primário), numa loja no Porto, ele montou-se nela e foi logo a pedalar até Barcelos. Tritatleta antes do tempo – “Ia, com um grande amigo meu, de bicicleta de Barcelinhos até à praia, em Ofir, nadávamos no mar e depois, quando saímos da água, dávamos umas corridas no areal para aquecer” – e viciado em desporto, não é de espantar que tenha sido a aposta no desporto que pôs a sua vida empresarial no trilho do sucesso.
é um desporto coletivo, praticado pelos nossos 220 colaboradores. A moda quer incorporar cada vez mais as inovações do desporto. Há aqui uma oportunidade?
Somos uma empresa altamente tecnológica, vocacionada e especializada na produção de vestuário muito técnico para desporto. E não só não estamos a pensar sair daqui, como não temos capacidade produtiva interna para isso. A que temos, está toda tomada. A nossa ITV está sintonizada com a indústria 4.0?
É uma revolução que está em curso e a ser vivida pela generalidade das empresas do setor. É só espreitar as atuais salas de corte e fazer um esforço para nos lembrarmos como eram há dez anos. A indústria portuguesa sempre se adaptou bem às novidades tecnológicas. Não é aí que está o problema. Está aonde?
É bem mais difícil a nossa adaptação à evolução dos mercados, aos novos hábitos de consumo, às novas formas de negociar e comunicar. É isso que o preocupa?
O que é preocupante é saber que recursos humanos vamos ter daqui a uns anos e como o setor têxtil se vai manter atrativo para os jovens. Como se resolve isso?
Dando melhores condições laborais, de conforto e remuneratórias. Na P&R pagamos acima da média. Mas isso não chega. Os políticos europeus não podem ignorar que competimos com países que não respeitam direitos humanos e pagam salários miseráveis. Um problema da globalização …
A inovação é a alma do negócio…
Sabe o que dizemos aos nossos clientes? Se for muito difícil, fazemos. Se for impossível, dêem-nos mais um dia :-) Quantas pessoas têm afetas à i&d?
Temos um departamento com uma dúzia de pessoas, mas, como costumo dizer, na P&R a inovação
As perguntas de
Subscrevo as palavras de Karol Wojtyla - um dos homens do séc. XX que admiro e que foi guarda redes como eu. Sou a favor da globalização, desde que haja justiça social. E não há justiça social quando um operário têxtil no Myanmar ganha 80 dólares por mês e trabalha 60 horas por semana. E poderia dar outros exemplos... t
Alexandra Araújo Administradora da LMA O que é mais desafiante? Ganhar medalhas com os vinhos da Quinta do Montinho ou com os têxteis desenvolvidos pela P&R para os Jogos Olímpicos?
Já ganhamos várias medalhas com esse vinho, produzido na nossa quinta em Vila Verde. O vinho é um hobby, que tenho a veleidade de desenvolver como negócio e me lembra as férias grandes, que, quando era miúdo, passava com os meus avós e ajudava às vindimas. Sabem-me muito bem as duas – as medalhas nos concursos vinícolas, mas também as ganhas por Fernanda Ribeiro, Nelson Évora ou Usain Bolt, com equipamento desenvolvidos e fabricados por nós. Como diz o ditado popular, o segredo é a alma do negócio. Já passou o segredo ao seu filho Nuno?
Nas famílias e nas empresas o segredo é muito simples – é pelo exemplo do trabalho. Uma vez, numa conferência na AIMInho, o ilustre economista e ex-ministro das Finanças Ernâni Lopes disse que o segredo para ter sucesso nos negócios era o somatório de sete ingredientes: estudar, estudar, estudar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar. t
Miguel Pacheco CEO da Heliotextil Que custos de contexto mais afectam a competitividade da P&R?
O peso da carga fiscal nos salários dos trabalhadores. É urgente reduzir o abismo entre o montante dos encargos salariais que uma empresa tem com um trabalhador e o dinheiro que lhe chega efectivamente ao bolso no fim do mês. Já defendi junto do ministro da Economia que a remuneração das horas extraordinárias devia ser fiscalmente despenalizada a 100%. Qual é a receita do sucesso da P&R?
Não me revejo nessa expressão. Ao longo da vida, tenho tido fracassos e sucessos. E face a um fracasso, a atitude certa é adotar a humildade do guarda redes que depois de sofrer um golo vai buscar a bola ao fundo da baliza, levanta a cabeça e continua a competir. Se fosse primeiro-ministro, que medida adotaria para melhorar a competitividade da indústria?
Não tenho a veleidade de me imaginar primeiro ministro. Mas se fosse ministro da Economia, a primeira coisa que faria era mudar o Ministério para o Porto. Era uma medida simbólica. Mas dar sinais é importante. t
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GENDA DAS FEIRAS
SHOWUP 1 e 2 de Setembro – Amesterdão Laboratório D’Estórias, Little Nothing by Paula Castro, Vicara MUNICH FABRIC START 3 a 5 de Setembro – Munique A.Sampaio & Filhos, Albano Morgado, BW Fashion, Crafil - fios e Linhas Têxteis, Carvema Têxtil Fashion Details, Irmãos M. Marques, J. Areal - Artigos Têxteis, José de Abreu & Filhos, La Estampa, Lurdes Sampaio, M.M.R.A., Magma Têxtil, Modelmalhas - Indústria de Malhas, Paulo de Oliveira, Penteadora, RDD – Textiles, Riopele, Sanmartin - Sociedade Têxtil, Satinskin Têxteis, Sidónios Malhas, Somelos Tecidos, Tessimax Lanificio, Tintex Textiles, Trimalhas Munich Fabric Start Sourcing António Manuel de Sousa, Gulbena, Orfama, Top Trends, Valérius CPM 3 a 6 de Setembro – Moscovo Blackspider, Cristina Barros, Litel MAISON & OBJECT 6 a 10 de Setembro – Paris Amanda Dias, 3DCork, Burel Factory, Carapau Portuguese Products, Devilla, Jinja, Laboratório d’Estórias, Maria Portugal Terracota, Patrícia Lobo, Sugo Cork Rugs, Têxteis Iris, Vicara
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TÓQUIO COM MENOS MAS MELHORES COMPRADORES Apesar de uma notada diminuição no número de visitantes, a comitiva From Portugal regressou da Interior Lifestyle Tokyo com boas perspetivas. Os empresários nacionais salientam a qualidade dos contactos estabelecidos, mas sobretudo com um verdadeiro interesse em fechar negócios. “O Japão é um mercado com potencial e mesmo com uma menor afluência de pessoas na feira, fizemos muito bons contactos e negócios bem encaminhados”, resume o gestor comercial da Fábrica Tecidos do Carvalho, Tiago Lopes. Num primeiro balanço, também a comitiva da Lasa corrobora a ideia de que, face a edições anteriores, a menos contactos corresponderam melhores resultados. “Destacava a qualidade dos compradores, embora não na quantidade por nós prevista. Esta foi uma feira que aceitou muito bem a inovação levada pela Lasa e também com reações muito positivas”, resume o export manager da empresa, Casimiro Lemos. “O balanço é positivo e os contactos recebidos são muito interessantes, assegurando o retorno do investimento efetuado”, defende a equipa da têxtil António Salgado, composta por Sandra Marinho, gestora comercial, e Carla Augusta, do departamento de desenvolvimento.
Os representantes portugueses apreciaram também a localização no espaço da feira. “O posicionamento do Pavilhão From Portugal foi muito bom”, destaca o CEO da Apertex, Fernando Pereira, que apenas lamenta a data da feira. “Muito tardia, o que faz com que os desenvolvimentos para o curto prazo caiam por terra, pelo menos na nossa área de negócio”. Mas para além dos contactos estabelecidos, a feira é também vista como uma oportunidade de aprendizagem, dada a reconhecida exigência do mercado japonês. “Foi uma experiência positiva. Só aqui se vê tanto cuidado, tanto no design cono na apresentação. Enquanto criador e promotor do meu trabalho, esta feira é uma verdadeira aprendizagem”, explica Sérgio Malpique, fundador da inVidro Glass Art, um atelier artístico especializado em vitrais, que esteve pela primeira vez em Tóquio. António Salgado, Apertex, Carapau Portuguese Products, Carvalho, Ditto, Invidro Glass Art, Lasa, Little Nothing By Paula Castro, Mantecas, Marias Paperdolls e Vicara foram as empresas que marcaram presença na Interior Lifestyle Tokio, enquadradas em mais uma iniciativa da Selectiva Moda e do From Portugal. t
WHO’S NEXT 6 a 9 de Setembro - Paris Blackspider, Concreto, Faroma / Paul Brial, Flor da Moda, Givec, Gonçalo Peixoto, Lion Of Porches, Luis Buchinho, Monarte, Mr Mood, My Shirt, Nycole INTERGIFT 11 a 15 de Setembro – Madrid Dilina, Dolcecasa, DKT Representações, Planitoi, Rio Sul, Texteis Evaristo Sampaio, Texteis Iris MOMAD 12 a 14 de Setembro - Madrid Blackspider, Carlos Alberto Nicolau Marcos, Cotton Brothers, Concreto, DuneBleue, Faroma, Givec, Kitess, Lion Of Porches, Marita Moreno, Milagrus, Pé de Chumbo, Scusi HOMI MILANO 13 a 16 de Setembro - Milão Little Nothing by Paula Castro, Sorema / Graccioza, Texteis Iris COTERIE 15 a 17 de Setembro - Nova Iorque Blackspider by Cristina Barros, Cristina Barros, Kleed Kimonos, Luizas & Co PREMIÈRE VISION 17 a 19 de Setembro – Paris Fabrics: A Sampaio & Filhos, Acatel, Adalberto Estampados, Albano Morgado, Avelana – Fabrica de Malhas, Burel Factory, Familitex, Gierlings Velpor, Joaps – Malhas, Lemar, LMA, Luis Azevedo & FilhosLurdes Sampaio, NGS Malhas, Otojal, Paulo de Oliveira, Penteadora, RDD, Riopele, Satinskin, Sidónios Knitwear, Somelos Tecidos, Tessimax Lanifício, Texser - Têxtil Serzedelo Tintex, TMG Textiles, Trimalhas, Troficolor Denim Makers, Forum From Portugal Yarns: Fivitex by SMBM, JFA, MAF/Filasa Accessories: Idepa, Solinhas Manufacturing – Knitwear: Malhas Carjor, Montagut Industries – Orfama Manufacturing – Proximity: Faria da Costa, Lima & Companhia, R.Lobo, Raith, Siena - Comércio Internaciona, Soeiro, Temasa, Triwool, WAT KIND + JUGEND 19 a 22 de Setembro – Colónia FS confecções / FS Baby, Bluemedley / Blue Kids, Pinkwave
HEY SOLEIL ABRE NOVOS HORIZONTES A PARTIR DE PARIS
Mafalda Faro Viana, fundadora e designer da Hey Soleil não podia esperar melhor. “Agora vamos estar em vários países europeus como a Bélgica, a Espanha e a Suíça”, revela, depois de ter concretizado na Playtime Paris aquele que era dum dos grandes objetivos da marca. “Fechámos algumas encomendas para o exterior e assim deixámos de estar apenas presentes em Portugal”, regozijava-se a designer no final da segunda presença na importante feira parisiense. Para além da Hey Soleil, também DOT Baby, a Piupiuchick, a Möm(e), a Suuky Bedlinen e a Knot integraram a comitiva From Portugal que expôs em Paris. t
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DENIM E BOMBAZINES COM ESPÍRITO ECO-FRIENDLY
ALERTA: CARTA FRAUDULENTA A EXPOSITORES DO MODTISSIMO O MODtissimo alerta para uma carta fraudulenta que está a ser enviada a alguns expositores, solicitando uma série de dados. Depois de uma primeira tentativa em Abril, os falsários voltaram à carga em Julho com novos contactos. A carta, enviada de uma morada em La Paz, na Costa Rica, é assinada por um alegado International Fairs Directory que diz chamar-se Mulpor, mas uma simples busca no Google logo aciona um alerta sobre fraude. O MODtíssmo alerta que todos os que recebam a missiva – acompanhada de um envelope de resposta – devem abster-se de responder seja de que forma for.
"Os Estados Unidos são o país que mais valoriza o made in Portugal nos têxteis lar" Ricardo Relvas Administrador da Sorema
FROM PORTUGAL COM RECORDE DE EXPOSITORES NA PV
TINTEX LEVA NOVA GAMA DE TECIDOS A MUNIQUE
Um número recorde de 45 expositores From Portugal estará presente na próxima Première Vision (17 a 19 de setembro, em Paris). Naturalmente, a maioria absoluta dos expositores portugueses (28 garantidos) estará no setor Fabrics, numa PV que terá três grandes temas em equação – Desporto, Performance e Moda – com especial destaque para a influência crescente do sportswear nas coleções das grandes marcas.
A Tintex vai apresentar na Munich Fabric Start (3 a 5 de Setembro) uma nova abordagem na criação de têxteis, baseada no ADN da empresa: natureza, inteligência e responsabilidade. O resultado deste processo de inovação são os tecidos da coleção outono/inverno 20/21, que ganha vida com propriedades antimicrobianas, utilizando corantes naturais extraídos de diferentes tipos de recursos vegetais e que não utilizam sal na produção.
Na Colombiamoda, a Troficolor apresentou uma coleção feita com recurso a menos água e energia, e com agentes quimicos limitados
Em Medellín, na ColombiaModa, a comitiva portuguesa deu provas de como o oceano Atlântico e os quilómetros de distância não são um obstáculo para os têxteis nacionais. “Família 31 – Upcycling” foi a grande novidade que a Troficolor apresentou na última edição da The London Textile Fair. Apostada na sua faceta mais sustentável, a empresa da Trofa apresentou as suas novidades em denim, flanelas e bombazines em versão e co-friendly . “Queremos ser parceiros sustentáveis. Pensámos a nossa coleção com responsabilidade ambiental, intensificando preocupações como a diminuição de consumos de água e energia e limitando o uso de agentes químicos”, explicou a representante da Troficolor, Ana Maria Magalhães, que dá conta da recetividade dos visitantes aos seus produtos orgânicos e reciclados. Em destaque também a apostas no upcycling , ou seja, na reutilização de excedentes já presentes no mercado. “Tecidos únicos, muitos deles irreproduzíveis que trazem va-
riedade e proporcionam infinitas possibilidades na criação de estilos únicos e individuais”, como sublinha a Troficolor. Numa feira especialmente orientada para compradores de grandes marcas, a embaixada do From Portugal contou ainda com as empresas Albano Morgado, Brito&Miranda, Burel Factory, José de Abreu&Filhos, Lemar, M.M.R.A&Filhos, Magma Têxtil, Rifel, Vilarinho e 6Dias. Com olho no mercado da alta-costura, a Rifel apostou em novos tecidos, rendas e estampados, de vários materiais. “Um dos nossos produtos é a seda. Os ingleses consomem muitas sedas naturais”, explicou Ricardo Sousa, o representante da empresa. Já no stand da José de Abreu&Filhos destacavam-se as novidades para o setor da cerimónia, que estiveram lado a lado com o sportswear e o workwear . “Temos soluções para todos os mercados, tanto homem e mulher como criança”, disse o sócio-gerente, José António Sousa. t
FLANELA PORTUGUESA PARA ACONCHEGO AMERICANO A pensar nas coleções de inverno e no aconchego dos americanos, o made in Portugal fez-se representar na Première Vision Nova York com uma comitiva formada pelas empresas Albano Morgado, Lemar, Lurdes Sampaio e Texer. “Encontrámos imensos clientes, tanto dos Estados Unidos como do Canadá, dois mercados onde estamos a entrar e que procuram sobretudo artigos mais pesados, mais quentes, como esta nossa flanela que é utilizada em coleções de inverno, tanto em
camisas como overshirts ou pijamas”, regozija-se Carla Pimenta, CEO da Texser, que de regresso a Portugal se mostrou verdadeiramente satisfeita com os contato estabelecidos na capital americana. “Eles gostam imenso da nossa flanela, porque é um produto de qualidade, com um toque agradável. Pode-se dizer que nós, portugueses, somos experts neste produto”, explicou a representante da Têxtil de Serzedelo. Mas a flanela portuguesa não foi o único produto a
atrair as atenções dos visitantes. Com o foco na sustentabilidade, também a nova coleção da Lurdes Sampaio deixou satisfeitos os responsáveis da empresa no final do certame. “Toda a coleção é focada na sustentabilidade, associada aos acabamentos funcionais, também eles maioritariamente ecológicos. Temos malhas com fibras naturais e recicladas, simples ou estruturadas, fibras orgânicas, recicladas, lyocell e caxemira”, explicou o responsável pelos mercados externos, Tiago Costa. t
NEONYNT BERLIM NA ROTA DO BORDADO DE CASTELO BRANCO “O passo seguinte é transformar isto em negócio!”, disse Manuel Serrão, no final da 4ª edição da Castelo Branco Moda 19 (unanimemente considerada “a melhor de sempre”), depois do presidente da Câmara, Luís Correia, ter garantido que a autarquia continuará empenhada em criar as condições para o desenvolvimento deste projeto. A internacionalização do projeto, iniciada em fevereiro na Momad, Madrid, deverá continuar em janeiro, na NeoNynt, em Berlim, a feira coqueluche da nova onda da sustentabilidade e economia circular.
HUGO COSTA LEVOU HAENYEO A PARIS O designer Hugo Costa mostrou a sua coleção SS2020 em Paris, uma apresentação enquadrada no calendário oficial da Semana de Moda de Paris. Chama-se Haenyeo e foi inspirada nas mulheres sul-coreanas que mergulham em apneia e garantem o sustento familiar, marcando iguialmente o regresso do designer à capital francesa.
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A Techtextil de Frankfurt é apenas a maior feira de inovação e investigação têxtil no mundo, e na última três prémios foram para Portugal. Nunca tínhamos recebido um só, de repente vieram três, entre sete possíveis. É obra. A palavra futuro estava em todo o lado na feira. A palavra inteligente também. E não são apenas slogans, são factos. O futuro corre tão depressa que já nos apanhou – e, se não surfarmos a onda, a onda engole-nos. A imagem que a chancela From Portugal dá é: competência, fluidez, inovação. A própria eleição de António Guterres para a ONU é disso sinal: nós somos bons quando somos fluidos e, pelo exemplo, damos lições de adaptação, não de intransigência. Não é só a moda que hoje tem de se adaptar, é toda a indústria. Hoje, inovação não é uma palavra apenas, é a expressão de uma realidade substantiva. O certo é que já não vamos a reboque, na cauda do pelotão. Por vezes, passado tanto século, vamos mesmo na vanguarda, como se viu agora. E não mudámos só de realidade (coisa pouca), mudámos de paradigma. O que é uma mudança de paradigma? É a realidade, que até pode ser a mesma – Portugal, país têxtil –, vista com outros olhos, de outra perspetiva. Vou dar um exemplo: até há pouco éramos o maior produtor de cortiça, mas esta ia sobretudo para rolhas nas garrafas. Agora, a cortiça é a mesma mas já é utilizada para um sem-número de produtos. O prémio para Novo Material foi aliás para o Cork-a-Tex, um fio revestido a cortiça (CITEVE/Secador/Penedo). A sinergia entre empresas e polos de investigação também não é apenas uma palavra, é um facto. CITEVE e CeNTI podem ser acrónimos complicados para investigação, nanotecnologia, etc., mas o entrosamento com os parceiros privados é tão perfeito como uma linha e um fio. Hoje os têxteis estão em todo o lado, e não só nos episódios do CSI, onde a solução está sempre na análise das fibras. E lidam com novas realidades, até aquelas que muitos ainda acham que não existem: as alterações climáticas. As feiras não são ponto de encontro entre parceiros novos e antigos, também têm conferências e mesas-redondas sobre o estado da arte. Uma das palestras que mais prazer tive de assistir foi dedicada ao uso do têxtil contra tufões, tempestades, terramotos. Por exemplo, como proteger um telhado sem que seja a proteção a deitar a casa abaixo? Como lidar com um tempo que pode mudar caprichosa e subitamente? Como, seja
Hoje os têxteis estão em todo o lado, e não só nos episódios do CSI, onde a solução está sempre na análise das fibras
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O futuro corre tão depressa que já nos apanhou. Se não surfarmos a onda, a onda engole-nos mesmo jornal (sim, o T) é prova disso. Num mundo cada vez mais em comunicação, não é só a leveza dos materiais que é importante, e só os néscios confundem ainda leveza com ligeireza. Para dar um exemplo, a Bloomberg falou recentemente do boom internacional do nosso pastel de nata. Este sempre existiu (eu pelo menos como-os há muito tempo), mas agora entrou mundo fora. Como? Não foi mudando a receita, que não precisava, mas mudando o modo de apresentação e promoção. Uns dirão o marketing, outros o storytelling – eu digo a narrativa, mas não é por isto que nos vamos zangar. Uma história desconcertante
RUI ZINK E A INVENÇÃO DO FUTURO no veículo automóvel, seja a pé, seja em edifícios ou afins, estar preparado sem estar excessivamente preparado? Uma história exemplar
Tenho um carinho especial por Frankfurt. Mais que qualquer outra cidade no mundo, ela é uma máquina, o sinónimo mesmo de feira internacional. É uma máquina. E foi ali que ouvi uma história curiosa contada por um dos membros da delegação: a história do suíço interessado no produto de uma empresa portuguesa. O suíço chegou, viu o produto, gostou, marcaram uma reunião, e quando se encontraram de novo, o suíço perguntou: “Qual o preço por X quantidade?” O português disse. Aí o suíço abanou a cabeça: “Esse preço não aceito.” O nosso empresário espantou-se, pois tinha reduzido a margem ao limite do possível: “Como assim, acha caro?” A resposta do interlocutor foi desarmante: “Não, acho demasiado barato, por esse preço não me conseguem assegurar a qualidade de que preciso.”
A história talvez seja embelezada, mas tem uma moral: sermos baratinhos já não compensa. Entrementes, não sou de intrigas mas na banca de jornais grátis do aeroporto não havia o USA Today. Em compensação tinham o China News. Conta-me histórias
As próprias empresas presentes já entenderam que contar uma história é importante. Não no sentido de dar música – embora não haja nada de mal em dar música, até porque a indústria musical casa há muito tempo, da ópera à pop, com o têxtil. Contar uma história no sentido de melhor criar um fio condutor para valorizar um produto. E, afinal, o que formam as palavras quando juntas? Um texto, ora cá está. A criação de uma narrativa ajuda a que ideias complexas possam ser entendidas de forma simples q.b., sem perderem a complexidade. E a que temas sérios possam ser abordados de forma ligeira, sem aligeirar. Este
Não sou despido de preconceitos. Gostaria de me gabar de ser uma pessoa aberta, não sou tanto como julgo. Ora, tenho de confessar, há coisas que me irritam antes mesmo de eu saber o que são. A capa da revista da universidade sueca de Borås enervou-me logo: um jovem esbelto, arrogante, com ar irritantemente bem sucedido, a dar-me lições de vida? Era o que faltava. Se eu tivesse prestado mais atenção, teria visto que as pernas do jovem eram toros de aço, mas o preconceito cega, já se sabe. Voltei a folhear a revista dias depois e percebi que me tinha enganado mais que uma andorinha fora de estação: Christoffer Lindhe podia dar-me lições de vida, sim senhor, porque viveu bem mais coisas desagradáveis do que eu. Num dia era um adolescente que ia ter tudo, um terrível acidente deixou-o sem nada. Foi submetido ao longo dos anos a dezenas de intervenções cirúrgicas. Quando decidiu criar a sua empresa, não precisou de procurar um nicho de mercado: o seu corpo era o seu nicho de mercado. Ele fazia as perguntas certas por uma simples razão: era ele quem precisava das respostas. Lembrei-me, a propósito deste ainda jovem sueco, do período das navegações portuguesas por mares nunca antes conhecidos: também os nossos antepassados iam desenvolvendo ciência e novos produtos à medida que os problemas surgiam. Ou eram antecipados. Christoffer Linde descobriu aos 17 anos que nunca mais teria pernas para andar. Hoje, após fundar a Lindhe Xtend, cujo primeiro objetivo foi criar próteses melhores e mais flexíveis, tem-nas. t
Nós somos bons quando somos fluidos e damos lições de adaptação, não de intransigência
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Com as nossas APPS, a comunicação da sua empresa está acessível na “mão” dos seus clientes, de forma rápida e muito intuitiva.
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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes
Kardo
R. João das Regras, 176 4000-291 Porto
Ano de abertura 2016 Produtos Roupa interior, swimwear e athleisure Estilo Artigos diferenciados e excêntricos orientados para o segmento gay Marcas Addicted, Mister B, Barcode, Andrew Christian, Fist Loja online www.kardo.pt
PORTUGAL ESTÁ A GANHAR O ESTATUTO DE NOVA ITÁLIA Outrora a referência, a Itália está a tornar-se num dos principais compradores do têxtil português. O país transalpino está a ser substituído por Portugal enquanto criador de soluções de serviço e de têxteis inovadores. “Itália foi perdendo a sua fileira estruturada e orientada para a inovação e já não oferece às grandes marcas a lógica de engenharia de produto que encontram em Portugal”, explica o diretor-geral da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal ao jornal Dinheiro Vivo.
60%
das vendas de 5,5 milhões de euros realizadas pela Coltec em 2018 são feitas nos têxteis-lar
Eram Cardos, já são Boxers “Apanharam-nos a meio de uma revolução”, explica Susana Peixoto, a responsável pela Kardo, a loja multimarca fundada em 2016 por Luís Sousa. A secção feminina, que até agora ocupava grande parte do espaço, vai desaparecer por completo para dar lugar à verdadeira estrela da loja – a roupa masculina orientada para o segmento gay, que já representa a maior parte das vendas da Kardo. “Estamos a mudar todo o conceito da loja. Pode parecer estranho, porque a tendência é apostar mais no vestuário feminino, pois as mulheres geralmente consomem mais moda. No entanto, é também um segmento onde é muito mais difícil competir, pois o mercado está saturado e as grandes marcas dominam”, revela Susana. “Começámos a perceber que a roupa feminina não estava a ter grande saída...”, completa. Em contrapartida, o segmento gay prosperava e, garante, é um nicho que ainda têm muito para explorar e apresenta grande rentabilidade. “Neste momento somos a única loja no Porto que se está a dedicar a este segmento, algo que já acontece muito em Lisboa. Os nossos clientes são muito exigentes e procuram marcas com as quais se identificam, que apresentem qualidade, e estão dispostos a pagar por essas caraterísticas, algo que não costuma acontecer no mercado masculino mais tradicional”, esclarece a responsável pelo espaço. A roupa interior e a roupa de banho são os artigos que mais preenchem as prateleiras, mas também calções, camisolas, tops e alguns artigos de athleisure, onde as cores fortes, os cortes atrevidos e os padrões exóticos dominam. A espanhola Addicted, a marca mais procurada e que tem maior expressão na loja, as alemãs Mister B
e Barcode Berlin, a americana Andrew Christian e a colombiana Fist são alguns dos nomes representados na Kardo, que quer aumentar o seu portefólio e anda à procura de acrescentar marcas portuguesas à lista. Todos os artigos – incluindo ainda vestuário feminino das marcas Morgan, Fame, Linú, Celop Woman, Chilirose e Lolito – estão também disponíveis na loja online, que foi o berço da Kardo. “Tudo começou com uma sex-shop online”, conta Luís Sousa, assistente social de formação que andava à procura de novas oportunidades de negócio. Rapidamente percebeu que, por um pouco mais do que pagava pelo armazém e escritório que servia de suporte ao seu negócio online, conseguia encontrar um espaço que também incluísse uma loja. “Até porque se uma loja online tiver também loja física, isso dá muito mais segurança aos clientes”, acrescenta. Chamou Susana para integrar a equipa e começaram na Rua do Almada, com roupa interior de homem e senhora. “Passado algum tempo, pensámos que seria boa ideia introduzir também vestuário”, lembra Luís. Quando as rendas começaram a subir e se tornou incomportável ficar, passaram para a rua João das Regras, a dois passos da estação de metro da Trindade, onde agora se encontram. No início de 2020 a loja deverá já estar totalmente a funcionar sob o novo desígnio. Quanto ao nome, a explicação não podia ser mais simples: “O meu namorado é Ricardo e quando andávamos à procura de um nome ele pensou: Ricardo – Kardo”. E assim foi que Luis Sousa encontrou a designação para o seu negócio. t
FASHION PEOPLE: ESTÁ ABERTA A CAÇA AO ESTILO
LANIFÍCIOS DE SANTA CLARA EM LIVRO
Está lançada a 6ª edição do concurso fotográfico de moda Fashion People, onde a única regra é #usaotelemovel. A iniciativa que integra a Porto Fashion Week aceita participações até 18 de Setembro. Não existe limite de fotografias, a participação é gratuita e os prémios aliciantes. Todas as informações estão disponíveis no site do evento, em portofashionpeople.com.
A história da Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, que viria a fechar portas em 1994, é contada no livro O Fio da memória. Recentemente publicado, o livro dá a conhecer a história da unidade fabril, um dos expoentes máximos da industrialização em Coimbra, numa cronologia que ultrapassa mais de um século e várias gerações de empresários, técnicos e colaboradores.
"Sempre defendi a verticalidade, sempre quis e consegui manter a empresa vertical. Continuamos a ter coisas que outros abandonaram, como a fiação e todo o processo até à peça confecionada" José Alexandre Oliveira CEO da Riopele
UNIFARDAS SEM PLÁSTICOS NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE É através de um gesto simbólico que a Unifardas anuncia o caminho da sustentabilidade ambiental. Decidida a tornar-se mais eco-frendly, a empresa da Maia especializada em workwear começou por reduzir o uso de plásticos dentro de portas disponibilizando garrafas de água reutilizáveis a toda a equipa e instalando fontes de água. “Queremos contribuir ativamente na questão da sustentabilidade ambiental e esta é a primeira medida”, disse a empresa em comunicado.
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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves
Manta Faraday
Desenvolvida por Faraday Go
O que é? Uma manta capaz de reflectir cerca de 95% do calor radiante Para que serve? Para proteção individual em caso de incêndio Estado do Projeto? Já no mercado, integrada no Faradaykit de proteção pessoal
MTEX NS APRESENTOU NOVAS SOLUÇÕES EM BARCELONA A portuguesa MTEX NS, especialista em impressão digital, levou até à ITMA um conjunto de novas ideias para dar a conhecer a empresa, que beneficiou recentemente de uma nova identidade corporativa, e o seu posicionamento. O objetivo passou por “desafiar o status quo da indústria de impressão”, como disse o seu presidente executivo, Elói Ferreira. “Ter soluções completas torna a MTEX NS única no mercado”, singularidade que foi apresentada na importante feira de Barcelona.
"O individualismo doentio é o principal defeito dos nossos empresários" Rui Teixeira CEO do grupo Gulbena
HUUB: STARTUP PORTUGUESA ENTRE AS ‘MAIS SEXY’ DA EUROPA A HUUB, startup tecnológica que opera na área da supply chain para a indústria da moda, foi uma das finalistas do prémio ‘Hottest FashTech Startups’ da Europa, uma nomeação atribuída pelo júri do The Europas Awards, evento patrocinado pela TechCrunch, uma influente publicação norte-americana no segmento da tecnologia. Depois do anúncio do levantamento de uma nova ronda de investimento (no valor de 1,5 milhões de euros), um negócio fechado com a gigante mundial da logística Maersk, a HUUB voltou a virar os holofotes internacionais para Portugal.
Todos os anos o cenário é idêntico. Com os dias mais quentes surgem centenas de incêndios por todo o país, com hectares de floresta a serem consumidos pelas chamas e populações inteiras a temerem pelas suas casas e expostas ao fogo. Foi a pensar nesta tragédia que Ricardo Roque criou uma manta de proteção pessoal, que ao reflectir 95% do calor radiado pelas chamas, é capaz de salvar vidas mesmo nos momentos mais críticos. “O primeiro impulso para fazer algo nesta área surgiu com os incêndios de 2017. Como sou de Leiria, fiquei especialmente chocado com o que aconteceu na região e percebi que tinha de fazer alguma coisa”, lembra o engenheiro, formado em engenharia mecânica e de processos pela Swiss Federal Institute of Technology, de Zurique. Ricardo Roque nunca tinha trabalhado em nada relacionado com incêndios, mas quando as chamas em Pedrogão Grande roubaram a vida a mais de 70 pessoas, decidiu que tinha de dar o seu contributo “para que a tragédia não se voltasse a repetir”. “Comecei a estudar as técnicas que são utilizadas no combate às chamas e na proteção das populações e a ver que equipamentos existiam no mercado”, conta. Não existiam grandes soluções para o cidadão comum. A maior parte das tecnologias eram pensadas para as forças de combate e não para as populações. Precisava de produzir algo eficaz, mas também leve e fácil de usar. A ideia de uma manta protetora surgiu a partir do conceito de gaiola de Faraday, que veio a dar o nome a todo o projeto. “Ao ter uma superfície metalizada, a manta tem elementos condutores, e pelas suas caraterísticas é ca-
paz de isolar completamente a pessoa que a usa. Como reflecte 95% do calor, podem estar até cerca de 500oC, que o corpo apenas sentirá 40oC”, explica o engenheiro. Recorreu ao CITEVE para efetuar os testes de reflexão térmica, para depois certificar e patentear o produto. A manta encontra-se já no mercado, integrada num kit de proteção pessoal, composto também por um par de luvas em aramida e uma máscara para fumos tóxicos. O produto tem criado o interesse não só do público, mas também de profissionais. Atualmente está à venda online, através de uma plataforma própria da Faraday, mas a empresa comercializa-o também em grandes quantidades para organizações de bombeiros, municípios e entidades intermunicipais. “A maior parte do investimento dos bombeiros vai para o material de combate, o que faz com que os operacionais tenham uma grande falta de equipamento de fuga como este”, afirma Ricardo Roque. Em termos de mercado, a entrada na grande distribuição era um objetivo, mas “como a ideia passa também por democratizar esta tecnologia, acabo por trabalhar com margens curtas, o que não me permite entrar para já nas grandes cadeias”, explica o criador da Faraday. Por enquanto, para além de se focar nas vendas online e no contacto com as corporações, a Faraday está já a desenvolver novos kits. A versão mais completa inclui um mini extintor, e no futuro Ricardo Roque espera apresentar uma versão familiar, com a mesma manta num tamanho maior, acompanhada por dois pares de luvas e duas máscaras de respiração. t
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do volume de negócios da Endutex (38 milhões em 2018) é feito na impressão digital
PORTO FASHION WEEK VAI TER MERCADO SEE NOW, BUY NOW É a grande novidade da Porto Fashion Week. Durante os dois dias da 54ª edição do MODtissimo, a 2 e 3 de Outubro, a Alfândega do Porto vai ter também um mercado de compra e venda direta ao público (tecidos, acessórios, roupa, calçado, decoração, joalheria, etc). Chama-se See Now, Buy Now Market e funcionará no piso superior do edifício da Alfândega, entre as 12 e as 21 horas. As inscrições podem ser feitas no sítio da internet e obter mais informações através do mail mariana@portofashionweek.com.
KATTY XIOMARA DESENHA WORKWEAR COM A AJUDA DA 6DIAS Katty Xiomara foi a responsável pelo desenho dos uniformes dos funcionários do novo hotel de charme Tipografia do Conto, inaugurado em meados de Junho. Os tecidos foram fabricados pela 6Dias, segundo o padrão criado pela estilista. Katty criou três uniformes distintos, correspondentes às várias funções – receção, manutenção e café e bar –, num conceito inspirado na estética do edifício que outrora havia sido uma tipografia.
FOTO: SARA BERENGUER
Para que os incêndios não façam mais vitimas
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LATITID E POMPEII TROCAM DE CASA Sempre que se fala em Latitid vem imediatamente à cabeça os seus fatos de banho e biquínis numa paisagem paradisíaca de areia fina e água cristalina. Mas foi a vez de a própria marca fazer uma temporada de férias a Madrid, instalando-se a sua mais recente coleção, inspirada na Cidade do Cabo, na loja da marca de sapatilhas Pompeii. Em contrapartida, a Latitid acomodou nas suas lojas de Lisboa e do Porto o calçado da Pompeii, um switch-off que pretende dar a conhecer os produtos a clientes dos respectivos mercados.
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"Portugal tornou-se competitivo porque segmentou o negócio. Essa especialização foi o trunfo que levou a que o país desse a volta nos últimos anos" José Costa Administrador da Becri
ROSACEL APOSTOU NO VALOR E ABRIU PORTAS AO MUNDO Produzir mais, mas sobretudo com mais qualidade, foi a decisão estratégica da Rosacel nos últimos três anos. Depois de anos a trabalhar com os produtos básicos, especialmente para o mercado espanhol, a têxtil-lar alargou as suas instalações e hoje vende para toda a Europa, Japão, Estados Unidos e Rússia. “Subimos na cadeia. Dantes produzíamos 100% poliéster, hoje trabalhamos com o 100% algodão e investimos em fibras naturais como a caxemira, o bambu, o cânhamo ou a urtiga” diz Helena Machado, representante comercial da empresa.
ISABEL FURTADO DISTINGUIDA COM O PRÉMIO DONA ANTÓNIA Isabel Furtado, presidente da COTEC e CEO da TMG Automotive, foi distinguida na 31ª edição do Prémio Dona Antónia, entregue a 4 de Julho na Espaço Casa Ferreirinha, em Vila Nova de Gaia. O galardão, instituído pela Sogrape, é o mais importante no que se refere ao empreendedorismo e à excelência no feminino. Distinguindo todos os anos duas figuras femininas que, pelas suas “características humanas e capacidades de empreendedorismo”, tenham replicado o exemplo de Dona Antónia – a mais importante empresária da região do Douro – o prémio escolheu este ano, para além de Isabel Furtado, a empreendedora tecnológica e co-fundadora da Talkdesk Cristina Fonseca. Isabel Furtado, distinguida com o prémio Consagração de Carreira, referiu, na sua intervenção quando recebeu o prémio, a sua “gratidão e profunda honra” em fazer parte de uma lista de “notáveis mulheres” distinguidas com o prémio, entre as quais Maria Barroso, Teodora Cardoso, Leonor Beleza, Maria da Purificação Tavares ou Isabel Mota, entre muitas outras. A CEO da TMG Automotive, que é também presidente da CO-
Isabel Furtado, vencedora do prémio Consagração, ao lado de Cristina Fonseca, prémio Revelação
TEC e da Associação Empresarial para a Inovação, destacou o papel da empresária que dá o nome ao prémio como evidência do “papel inquestionável” da mulher na construção de uma “sociedade melhor, uma sociedade moderna, mais justa e digna para todos”. Artur Santos Silva, presidente
do júri, destacou o papel de Isabel Furtado na transformação da Têxtil Manuel Gonçalves (TMG) numa das principais firmas europeias de têxteis técnicos para a indústria automóvel, apontado a sua “grande capacidade de liderança” como uma das certezas mais estáveis da indústria nacional. t
AEP LANÇA CONCURSO PARA QUEM EXPORTA E-BEM É para premiar as melhores PME portuguesas a exportar via e-commerce que a AEP – Associação Empresarial de Portugal lança os 2019 Digital Awards, com prémios que atingem milhares de euros. “Queremos premiar as PME que estão a apostar nas ferramentas digitais e a contribuir para o aumento das exportações portuguesas online”, diz Mónica Machado Moreira, diretora da AEP Internacionalização. “O digital está cada vez mais forte nos mercados internacionais e há muitas empresas
e start-ups portuguesas a fazerem um trabalho excecional nesta área”, justifica a gestora, avançando a conclusão óbvia: “Então, porque não fazer um concurso para premiar quem já o faz e ajudar quem está a começar?”. Dividido em três categorias – Best E-Commerce Digital Experience, Best Digital Marketing Conversion Campaigns e Best Digital Transformation Practices – o concurso vai, numa primeira fase (até 16 de Setembro) selecionar os três finalistas em cada categoria. De entre os nove fina-
listas sairá o Best Portugal Digital Export. A par dos prémios para os quatro vencedores, os nove finalistas beneficiarão também de numa campanha de comunicação internacional, nos EUA, Reino Unido, Macau e Alemanha. O pacote de prémios para cada um dos vencedores incluiu 1.500€ em consultoria e-commerce; isenção de licenciamento do plano Business VTEX, no valor de 40.000€ por ano, durante 3 anos; 500€ em viagens na TAP e 25 horas de Formação do CESAE.t
TÊXTIL ANTÓNIO FALCÃO PRODUZ FIO A PARTIR DE MILHO Pioneiro em Portugal a fazer fios reciclados usando como matéria prima desperdícios de plástico, o Grupo Falcão avança agora para a produção de fios a partir de grãos de milho: o fio biodegradável PLA. “As fibras de PLA representam uma alternativa sustentável às fibras derivadas do petróleo e constituem a base para materiais inteligentes com funções adicionais, novas aplicações e produtos de nicho. Ao fazê-lo, eles são igualmente económicos e eficientes”, refere a empresa. Um dos pilares do grupo, através da Fitexar, é precisamente o desenvolvimento de fios sustentáveis, que, como disse ao T Jornal, António Falcão, um dos administradores, “tem uma forte base de crescimento: já temos grandes clientes que estão a analisar a hipótese de substituir os fios de poliéster por esta nova solução”. O grupo está neste momento numa fase de apresentação ao mercado do novo PLA – pelo que “não é ainda possível ter uma ideia exata do negócio que vai permitir” – respondendo assim à procura por produtos ecológicos. Até porque, como salientou António Falcão, as fibras sintéticas inovadoras podem oferecer soluções que não podem ser obtidas apenas com fibras naturais. O fio biodegradável PLA – que resulta de uma parceria entre o departamento de investigação do grupo e outras empresas exteriores, tanto a montante como a jusante do resultado final – tem algumas vantagens intrínsecas que vale a pena conhecer: é 100% de matérias-primas renováveis; permite até 70% menos emissões de CO2 e até 42% menos uso de energia na fabricação da matéria-prima; é reciclável e até 100% biodegradável; apresenta boa estabilidade UV e boa solidez à luz; regista boa condutibilidade à humidade (importante, por exemplo, para vestuário funcional); tem maior elasticidade do que o PET; e permite poupança de energia no tingimento devido à baixa temperatura de tingimento de 110 °C. O fio PLA tem certificado ISEGA para tipos de fibras específicas na área de aplicações com filtragem de água quente, bem como para materiais de embalagem para contato com alimentos. t
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M EMERGENTE Por: António Moreira Gonçalves
Cristiana Costa Designer e fundadora da Näz Família Na Covilhã, vive com a Sardinha, a sua gata. Os pais estão em Lisboa e tem ainda família na Guarda Formação Licenciatura e Pós-graduação em Design de Moda (com o crescimento da marca, a tese de mestrado entrou em standby) Casa T1 no centro histórico da Covilhã (com uma horta) Carro Dacia Sandero Stepway (a GPL) Portátil Asus Telemóvel Xiaomi Redmi 5 Hobbies Ler e Viajar Férias Normalmente viaja pela Europa (nas últimas férias esteve nos Alpes suíços e agora está a planear uma roadtrip pela costa espanhola ou italiana) Regra de Ouro “Não me chatear com as coisas que não posso controlar”
FOTO: ANTÓNIO MOREIRA GONÇALVES
Empreendedora por natureza Aos 24 anos, Cristiana Costa tem já um percurso cheio de histórias. Formada pela UBI, a designer de moda faz da sustentabilidade um modo de vida e, sobretudo, uma inspiração para todos os seus trabalhos. Há três anos fundou a Näz, uma marca totalmente produzida em Portugal, que utiliza excedentes da nossa indústria para criar novas peças de vestuário. O projeto é um exemplo do seu espírito inquieto, onde a criatividade vive lado a lado com o sonho de tornar a indústria da moda mais justa e sustentável. Mas foi a veia de empreendedora que lhe suscitou a paixão pela moda. Natural de Lisboa, Cristiana estudava humanidades no liceu quando a vontade de ter o seu dinheiro impulsionou o primeiro projeto. “Juntei-me a uma amiga e criamos a Knutsy, um projecto de upcycling. Mas na altura nem lhe dávamos este nome fancy, para nós era apenas ir à feira da ladra comprar calças e casacos vintage, modificávamo-los e depois íamos a mercados de produtos em segunda mão para os vender”, lembra. A experiência mudou-lhe o destino. Chegou a ter uma bolsa da Gulbenkian para estudar História, mas acabou por escolher Design de Moda na UBI. Na Covilhã viria a descobrir duas novas paixões: o prazer de viver longe das grandes cidades e a arte de criar novos produtos. “Gosto do processo criativo, não só pelo lado estético, mas pela possibilidade de criar objetos práticos, confortáveis e úteis para as pessoas”, confessa. Durante a licenciatura, conjugou os estudos com trabalhos em part-time, como dar explicações, mas quando entrou no mestrado percebeu que tinha de criar algo novo. Decidiu voltar aos mercados lisboetas, mas com uma nova marca. “Dei-lhe o nome de Näz, é uma palavra que vem do urdo e significa algo como ter orgulho em saber que somos amados, mas não tem uma tradução direta”, explica. O conceito passava por criar novas peças de vestuário de uma forma justa para toda a cadeia de produção. A faculdade tinha-a aproximado da indústria têxtil e estava agora mais consciente dos verdadeiros custos – sociais e humanos – da produção em países menos desenvolvidos. Decide que todas as peças são feitas em Portugal e às questões laborais sucedem-se as ambientais. “Que sentido faz preocuparmo-nos se as pessoas estão ou não a ser exploradas, se continuamos a prejudicar o ambiente onde estas mesmas pessoas vivem e os seus filhos crescem?”, questiona. Fica então definida a estratégia: produzir novas coleções com excedentes da indústria têxtil. “O facto de utilizar restos de stock significa que não estou a produzir novos tecidos, e não há nada mais ecológico que isso. É bom para as empresas, que não têm lá monos parados, é bom para nós, que não precisamos de encomendar grandes quantidades, e é óptimo para o ambiente”. Sem qualquer fundo de maneio, Cristiana começa a ir de fábrica em fábrica, a perguntar pelo que estava esquecido em stock. Se algumas lhe fechavam as portas, outras mostraram uma maior abertura. Conta o caso da Riopele, que apesar da sua dimensão, desde o primeiro momento se mostrou disponível a vender 10, 20 ou 30 metros de tecido. As peças eram depois confecionadas durante a noite. Cristiana pediu autorização à UBI para utilizar as máquinas de costura do departamento. Quando a colecção estava terminada, ia a Lisboa vendê-la em espaços como o mercado da Vogue ou a feira das Almas. A Näz foi crescendo e em 2018 vence o Terre de Femmes, um prémio da Fundação Yves Rocher que distingue projetos amigos do ambiente com assinatura no feminino. Foram-se abrindo novas portas. As coleções que actualmente desenvolve – no seu novo atelier no Parque Industrial do Tortosendo – são vendidas não só em lojas como a Feeting Room, no Porto e em Lisboa, mas também em retailers na Bélgica, Holanda, Suiça e Japão. Cerca de 80% da produção da marca é destinada aos mercados externos. Entretanto vai criando novas ideias, sempre com a natureza e sustentabilidade como pano de fundo. Uma das mais recentes novidades é a coleção de criança, que surge a partir dos restos da colecção de adulto. Em cada novo produto, Cristiana espera deixar o seu contributo para uma indústria em mudança. “Uma marca pequena não tem a capacidade de mudar o mundo, mas pode criar a perceção no público de que existem alternativas”, sentencia. t
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COMPONENTES PARA AUTOMÓVEL E TÊXTIL SÃO DÍNAMO DE FAMALICÃO É na indústria automóvel que assenta a principal fatia do desempenho económico de Vila Nova de Famalicão, e empresas como a TMG Automotive, a Coindu, a Olbo&Mehler e a Injex, fazem desta fileira o principal dínamo exportador do concelho. Em 2017, o volume de negócios cresceu para os 1.066 milhões (9,4% do total nacional) e as vendas para mercados internacionais atingiram os 920 milhões de euros (8,9% do total nacional), de acordo com o INE. A indústria associada ao automóvel representa 46% das exportações e 22% do volume de negócios do concelho, dá emprego a 5.206 pessoas, contabiliza 40 empresas e 473 milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto.
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves
WiseHS – Helthcare Solutions, Lda R. Guilhermina Suggia 224, 1º andar - S8 4200-318 Porto
O que faz? É um assistente pessoal para a área da saúde, que presta consultadoria clínica a empresários e às suas famílias Áreas Marcação de consultas, apoio nas doenças graves, acompanhamento em procedimentos clínicos, entre outros Fundação 2016 Equipa Conta com uma rede de mais de 100 colaboradores, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais de saúde Escritórios Porto
"Quem vem ter com a Artefita não anda à procura do produto mais barato do mercado" Gonzaga Oliveira CEO da Artefita
FOTO: ANTÓNIO MOREIRA GONÇALVES
DIEP, O CENTRO DE INTELIGÊNCIA DA OLDTRADING Apresenta-se ao mundo como uma empresa “especialista na investigação têxtil”, mas esta aposta na inovação não é apenas um cartão de visita: está bem patente na estratégia da Oldtrading, têxtil de Famalicão especializada em seamless. No centro deste impulso inovador está o DIEP – Departamento de Inovação e Engenharia do Produto, o cérebro das soluções que a empresa tem criado para diferentes setores, desde o desporto de alta competição aos cuidados pré-mamã.
T-SHIRTS DA HAVAIANAS SÃO PRODUZIDAS EM PORTUGAL
Um Concierge para manter a doença longe dos negócios
Além de acessórios, a Havaianas lançou-se no têxtil produzindo moda de praia, cujas t-shirts estão a ser produzidas com o selo made in Portugal. Apesar de “o grosso da produção têxtil estar no Brasil e no Peru”, a Havaianas encontrou “parceiros no norte de Portugal para as produções de muita qualidade e de proximidade ao mercado”, referiu o CEO do grupo, Guillaume Prou, em entrevista ao Jornal Económico.
“Penso que é um projeto único no mundo e tem-se revelado um verdadeiro privilégio para quem apostou em nós”. É assim que Filomena Frazão Aguiar, diretora geral da WiseHS, começa por descrever o Concierge, um cartão-serviço criado pela empresa de consultadoria clínica para apoiar os empresários nacionais a enfrentar qualquer problema de saúde, seja em Portugal ou em viagem. “Estamos a falar de pessoas muito ocupadas, que trabalham e viajam muito, e por vezes acabam por colocar os compromissos profissionais à frente da própria saúde. Este serviço traz uma ajuda especializada”, explica. Desenhado especialmente para empresários, o Concierge garante assim um acompanhamento personalizado, não só na doença, mas também na prevenção. A primeira responsabilidade que o serviço assume é organizar a agenda dos seus associados. Por telefone, e-mail ou através da app, alerta-os para as consultas de rotina, exames ou ações de prevenção, e tenta coordenar cada serviço clínico com a sua vida profissional. “Se sabemos que aquela pessoa trabalha normalmente até tarde ou tem uma agenda com muitas reuniões, tentamos encontrar uma forma de coordenar tudo”, exemplifica a diretora geral da WiseHS. Mas é nos momentos de imprevisto que o serviço se revela mais útil. Para situações de urgência, o Concierge garante uma ajuda especializada, dis-
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ponível 24 horas por dia. Quando é acionada, a WiseHS coloca um dos seus profissionais – médico, enfermeiro ou psicólogo, consoante as necessidades – a acompanhar todos os procedimentos. “Temos sempre a ideia de que os problemas só acontecem aos outros, mas é nestas alturas que damos mais valor a uma ajuda especializada, porque a maior parte de nós não sabe o que fazer, nem que respostas dar numa urgência de hospital”, sublinha a responsável do projeto, salientando que este serviço abrange não só os titulares mas também o seu núcleo familiar. Quando o problema se revela mais grave do que o previsto, o Concierge atua de forma a apresentar todas as alternativas aos seus associados. A consulta de segunda opinião é um dos serviços mais procurados.Através de uma rede de especialistas, construída nacional e internacionalmente, a WiseHS procura confirmar o diagnóstico, esclarecer qualquer dúvida e encontrar os tratamentos com maior probabilidade de sucesso. Por fim, o serviço também acompanha o doente durante qualquer tratamento. Responsabiliza-se pelas questões burocráticas, contacta com a família e fornece todas informações. “O que prestamos é um serviço de apoio, às vezes basta esclarecer uma pequena dúvida para reacender a esperança, e nestes casos isso é fundamental”, conclui a diretora geral da WiseHS. t
de euros é quanto a Sorema está a investir num novo armazém
PORTO INSPIRA REINVENÇÃO DA BOXER SHORTS É em tons de azul, cinza e vermelho que a Oporto Collection quer conquistar um lugar privilegiado no dia-a-dia dos homens portugueses. Uma aposta de António Archer, o jovem de 25 anos que reinventou a marca nascida nos anos 90. A nova linha integra 17 peças, como os boxers Muse, inspirados na contemporaneidade de Serralves, e os Arrábida, em tons de cinza esverdeado e branco – em alusão ao traço da icónica ponte.
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OPINIÃO GANHAR O FUTURO Mário Jorge Machado Presidente da ATP
O CONSUMIDOR E O NEGÓCIO DA MODA Paulo Vaz Diretor-Geral da ATP e Editor do T
Depois de 10 anos de contínuo crescimento, a ITV portuguesa parece estar a chegar ao fim de um ciclo. Interna e externamente, a mudança está em curso e um novo paradigma para o negócio do têxtil e da moda está a formar-se com grande rapidez, exigindo uma atenção redobrada de modo que as ameaças possam ser transformadas em oportunidades - e estas encontrem condições na generalidade (ou pelo menos na maioria) das empresas do nosso setor para serem plenamente aproveitadas. O fenómeno da globalização, que aparentemente parecia estar a sofrer uma travagem sob a égide das novas políticas protecionistas norte-americanas, continua em enchimento, multiplicando-se a realização de acordos de livre comércio de iniciativa europeia – Canadá, Japão e Mercosur, entre outros –, espaço político e comercial onde estamos integrados, promovendo-se assim uma crescente abertura das trocas comerciais, o exponencial aumento da concorrência internacional e a multiplicação de possibilidades de desenvolver novos mercados e novas clientelas, como nunca antes na história do nosso setor. Por outro lado, novas e poderosas tendências estão a definir o que será a indústria têxtil e de moda nos próximos anos. À inovação – tecnologia e criatividade, essencialmente expressa no design -, junta-se a digitalização, impondo novos canais de comunicação e de realização de trocas, e a sustentabilidade, numa aceção lata que toca as vertentes do económico, do ambiental e da responsabilidade social. O consumidor contemporâneo é informado e
O negócio da moda é o maior à escala global. Gera mais de 3 triliões de dólares e garante mais de 75 milhões de empregos. Possivelmente, estes números pecam por defeito, mas já de si impressionam. Além disso é a única atividade económica que praticamente cresceu sempre, desde que há registos históricos, com exceção do ano de 2009, no rescaldo da crise económica e financeira global, que teve impactos diretos e dramáticos no consumo planetário de produtos de moda, mas que depressa se recompôs, evidenciando crescimentos subsequentes que mais que compensaram a tendência até aí verificada. O que aí vem é uma enorme incógnita, todavia. Não necessariamente negativa, mas plena de incerteza. O jogo está a mudar. Há quem o esteja a mudar, quem compreenda a mudança de regras e se mantenha nele e quem esteja a ser vítima dessa mudança, por incapacidade cognitiva, por teimosia na apreciação conservadora da situação ou por puro nega-
tem uma consciência mais ativista, recusando os velhos paradigmas que fizeram o sucesso da fast fashion mas com elevados custos em muitas geografias menos desenvolvidas, cada vez menos tolerados, cada vez mais inaceitáveis. Se combinarmos valores, tecnologia e economia circular, estaremos certamente perante um mundo diverso, radicalmente distinto ao que sempre conhecemos e altamente exigente. É esse também um desafio que está colocado à nossa ITV, que não pode confiar nas soluções do presente e menos ainda nas do passado para responder aos problemas que o futuro já nos está a colocar. Importa, contudo, sublinhar que a ITV portuguesa continua a evidenciar uma extraordinária resistência e capacidade de adaptação face aos desafios mais extremos a que vem sendo submetida, mantendo-se como um cluster estruturado, integrado e dinâmico, continuando a subir na cadeia de valor e apresentando um constante crescimento na sua produtividade. Enfrentamos uma conjuntura particularmente difícil e desafiante. Não deve haver ilusões quanto às dificuldades que o setor e o país poderão ainda enfrentar, numa lógica de transformação e incerteza da realidade que hoje vivemos, sendo que, mais do que nunca, se impõe juntar esforços, procurar consensos e convergência nas estratégias coletivas a seguir, e usar sempre do indispensável bom senso para garantir a sobrevivência, consolidar a regeneração e ganhar o futuro. t
cionismo. Neste cenário de transformação, os vencedores e perdedores serão os que situarem na ordem que atrás referimos. O que está a mudar então de forma estrutural, criando uma nova realidade? Essencialmente o consumo. Quem não souber ler os sinais do consumidor, afinal o grande ditador da indústria da moda, está a condenar-se a prazo, mais cedo que tarde. A verdade é que, numa indústria transformadora, em que a cadeia de valor afasta quem produz de quem compra o produto final, há a tendência de ignorar esta realidade, alegando que esse não é o seu negócio. Nada mais errado, nada mais fatal. As empresas da ITV portuguesa estão historicamente vocacionadas a trabalhar com outras empresas e não com o cliente final. É esta a nossa especialização, construída em décadas de trabalho focado na atividade produtiva, aperfeiçoando a sua eficiência, a engenharia do produto e a inovação tecnológica, como forma de a qualificar e a diferenciar. Nada há de er-
rado. Fizemos o que sabíamos fazer e com os meios que tínhamos à disposição. Resta saber agora se isso é suficiente para garantirmos um lugar no futuro, pelo menos tão luminoso como o que tivemos ao longo da última década. A indústria da moda será o que o consumidor quiser que seja. Se não o conhecermos suficientemente não teremos argumentos para lhe responder, mesmo que seja por interpostas entidades, numa lógica de private label, antecipando produtos, processos e soluções. Não sei como vai ser a ITV do futuro. Julgo que ninguém pode saber. Tenho, contudo, a certeza que será mais instável, mais complexa e exigente, forçando uma abordagem holística do negócio que obriga a conhecer o consumidor final muito melhor do que até agora parecia ser necessário. Será que a nossa indústria tem disso consciência e está a investir nesse domínio? As minhas fundadas dúvidas são simultaneamente o maior receio e o risco definitivo. t
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Paulo Pereira Diretor Geral da Singular Têxteis
Francisco Mesquita Docente e co-autor, com Madeleine Müller, do livro “Admirável Moda Sustentável – Vestindo um Mundo Novo”
TRADIÇÃO E SABER FAZER
SUSTENTABILIDADE: TENDÊNCIA E ESSÊNCIA NA ITV
Num tempo em que todos querem ser os campeões da sustentabilidade e da responsabilidade social, há que lembrar que a têxtil sempre teve em ambas uma péssima reputação. De certa forma injusta, já que o operário têxtil sempre foi alguém que se sacrificou pelo futuro dos filhos e dos netos e sempre lutou contra as injustiças sociais. Ao mesmo tempo valorizava a competência técnica, a vontade irresoluta de lutar pela empresa, a capacidade de aprender e superar e o orgulho no trabalho bem feito. E foi este espírito que permitiu, e vai continuar a permitir, que a têxtil supere as sucessivas crises, incluindo as políticas, que a certa altura pretenderam ditar a sua extinção. Um dos maiores desafios do momento está no entusiasmo com que se embarca em sound bites verdes, mas se os problemas do planeta não se resolvem com estratégias de markting, os mercados não se compadecem também com falsas afirmações. Veja-se, por exemplo, o que se passou com a utilização da fibra de ‘bambu’, que levou a Food and Drug Administration (EUA) a intervir, com multas pesadas e esclarecimentos. A realidade completa é que existem dois tipos diferentes: a fibra de bambu retirada da planta e com características próximas do linho, e uma viscose que utiliza, em substituição da madeira de eucalipto, madeira de bambu. Esta viscose tem de ser marcada como viscose nas etiquetas de composição e vendida como tal. Fibra que sendo uma viscose é altamente poluente. Existem alternativas melhores no mercado e ao ser vendida como sustentável diz tudo acerca do produtor e dos seus reais propósitos. Outra questão que lança confusão e desinformação é o algodão orgânico e a iniciativa Better Cotton. O cultivo maciço de algodão tem gerado alguns dos maiores desastres ambientais, mas a solução não pode passar pela destruição da diversidade genética. Patentear as sementes, impedir os agricultores de utilizarem parte da colheita para continuarem a produzir e fomentar a polinização cruzada de algodões orgânicos com algodões modificados é uma irresponsabilidade. Que seria do Douro, orgulho nacional, se durante a crise da filoxera apenas houvesse uma casta? A diversidade genética é um bem que tem de ser acarinhado e reforçado. O contrário apenas serve os interesses das grandes empresas da agroquímica. Temos de manter o foco no cultivo sustentável de algodão não modificado geneticamente e sem utilização de pesticidas e fertilizantes nocivos. Os maias tinham as três irmãs, milho, feijão e abóbora, que plantavam em conjunto e que permitiam uma regeneração dos solos e um maior aproveitamento da terra. Em Portugal também houve alturas em que se plantava feijão juntamente com o milho. Não nos podemos esquecer desses tempos e manter as tradições. A têxtil tem sabido fazer isso e Portugal é reconhecido por saber fazer, saber esse que vem do passado e do orgulho de fazer bem. t
A Indústria Têxtil e do Vestuário (ITV) é dinâmica, competitiva e plural, tendo sido desde sempre uma das principais atividades desenvolvidas pelo homem. Para além de cumprir o importante papel de vestir, adornar e construir significados, é transversal a várias áreas, na medida em que são testadas e colocadas em prática ideias, sonhos, tendências, materiais, saberes e tecnologias. É, na realidade, uma indústria continuamente à procura das melhores soluções que satisfaçam um consumidor sempre ávido por novidades funcionais, estéticas e simbólicas. O dinamismo da ITV, a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas na produção, os novos materiais, nomeadamente fibras sintéticas introduzidas em meados do século passado, o aumento do consumo e a globalização, na última década do século XX, configuraram uma sociedade de abundância, onde a noção geral de bem-estar social ficou equiparada à acumulação de bens materiais. Movimentou somas astronómicas em investimento gerando mudanças profundas relacionadas com a produção e o consumo de massa. Entre 2000 e 2015, a produção de roupa e respetiva venda duplicou, enquanto que o fator de utilização durante esse mesmo período desceu consideravelmente [Ellen MacArthur Foundation]. Concomitantemente, a ITV tornou-se a segunda indústria mais poluidora, fruto do consumo excessivo, dos químicos utilizados no tratamento e beneficiamento das fibras, além dos tingimentos, lavagens e todos os processos durante a sua complexa cadeia. Emissões atmosféricas que contribuem para o efeito estufa derivam de muitas formas, tais como o transporte, a criação de animais (caso da lã e do couro), o tipo de fibra usada (se for poliéster a origem é o petróleo), o gasto de água e energia, a fase de uso onde já entra a responsabilidade dos consumidores e, em especial, o descarte da roupa ainda em estado de utilização, pela obsolescência estética, própria da essência efémera da moda, como já pontuou Lipovetsky. Chegados a um ponto de quase não retorno, como alguns advogam, a reinvenção desta indústria tem vindo a acontecer nos últimos anos. Ou seja, a orientação do mercado para uma moda mais sustentável e, com ela, a necessidade no cumprimento de metodologias amigas do ambiente, socialmente justas e culturalmente aceites, já que esse novo pilar do desenvolvimento sustentável acarreta a mudança de valores da sociedade ao lidar com questões que envolvem ética e estética. Ambas estão (ou deveriam estar) indelevelmente associadas. Não resta outro caminho se não através de práticas de produção e consumo adequadas. Ou, dito de forma complementar, as opções das marcas e do consumidor devem sedimentar esse caminho. A marca, enquanto entidade responsável e ambientalmente engajada nas suas dinâmicas de produção; o consumidor, atento, exigente e consciente que as suas opções de compra contribuem para a construção de um mundo mais equilibrado. O que se pede a todos os agentes envolvidos – marcas e consumidores – é que no binómio produção/compra, o ambiente, as pessoas e o custo associado, numa proporção justa, sejam as variáveis determinantes. Se o fizermos, e os sinais parecem ir nesse sentido, o legado para as gerações futuras será mais promissor. t
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
Mulher inspiradora e exemplo para a juventude, Telma Monteiro fez com que Katty Xiomara esquecesse, desta vez, a essência trocista. A nossa porta-estandarte soma já 13 medalhas e Katty homenageia-a com a criação de um inovador Judogi. Mesmo sabendo que nunca será aceite em competição
Um Judogi para Telma Monteiro Felizmente o meu editor permite que esta rubrica, esporadicamente, vitimize outras figuras que não políticas e se desvie da sua essência trocista. Tendo em conta esta abertura, decidi que esta edição teria de ser dedicada a uma pessoa inspiradora. Em meu entender, esta é a melhor forma de fechar o capítulo das férias e iniciar o capítulo do regresso à vida dita normal. Todos nós, especialmente os jovens, precisamos de ver, ouvir, sentir e perceber que existem bons exemplos. Gostava, por isso, de usar esta pequena montra mediática para prestar tributo a todos os desportistas que nestas participações europeias encheram de medalhas o cofre da nação. Mas como não tenho espaço para aqui estampar os rostos de todos eles, decretei um representante deste tributo, transformando assim, mais uma vez, a Telma Monteiro na nossa porta-estandarte. Ela que em Minsk conseguiu arrecadar a sua 13ª medalha, colorida de bronze, mas com brilho de ouro. Um exemplo de persistência, eficácia e força! Vestimos assim a nossa judoca com um inovador Judogi e embora saibamos que nunca será aceite numa competição temos esperança que sirva de homenagem. O Judogi destaca-se primeiramente pela sua palete cromática, que mimetiza os tons metálicos das medalhas. Começamos em dourado, descemos para a prata e fechamos com o bronze nos pés. O segundo atrativo deste Judogi é o material: é todo feito numa fina mas estruturada organza de seda que cobre de transparência o corpo musculado da Telma. O terceiro, mas não menos impactante ponto é o elegante conjunto de lingerie em renda preta que as sobreposições destas transparências deixam assomar. Claro que as medalhas estão lá, não no regaço, mas enleadas no braço como pulseiras gigantes e, por mais que nos custe, deixamos também a marca da sua casa, o Benfica, em duas riscas vermelhas que abraçam os seus tornozelos – as clássicas meias de desporto que desaparecem dentro de umas nada menos clássicas Converse em pele. E assim fechamos o verão inspirados pelas conquistas dos nossos medalhados e desejando-lhes um caminho tranquilo e seguro para os Jogos Olímpicos de Tóquio. t
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Setembro 2019
O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
Restaurante Chuva Avenida de S. João, 900 4755-065 Barcelos
CHUVA ABENÇOADA Em tempo de seca o bom povo português costuma falar da chuva abençoada quando ela cai depois de uma desesperada espera. Outro tipo de chuva, não menos abençoada, é aquela que dá um insuspeito nome a um restaurante de Barcelos que acabei de conhecer e devo reconhecer que perdi muito por causa do tempo que esperei por lá ir. Resta-me esperar agora por perdão. Devo agradecer ao meu estimado amigo e cliente Nuno Pinto, alma mater da P&R Têxteis, esse indelével dia em que lá me levou a reboque do Jorge Fiel por causa da capa deste nosso T. O Restaurante Chuva não foi uma descoberta porque nunca esteve escondido, eu é que andei arredio e distraído e acho que só vou ser capaz de me perdoar voltando lá a partir de agora sempre que puder. O restaurante Chuva é mesmo como eu gosto: não pretende ser pretensioso mas tem tudo o que é preciso... menos essa vontade. Tanto quanto percebi, anuncia-se como churrasqueira, mas essa fasquia mais baixa é só para surpreender os comensais. O Chuva é muito mais que uma churrasqueira, mas não quer que o julguem acima disso. Logo na entrada o aquário dos mariscos, a banca do peixe e a vitrina das carnes maturadas mostram-nos o tempo que faz e o que podemos fazer ao tempo que lá pudermos estar. No melhor dos sentidos, se de um lado chove, do outro troveja! O nosso anfitrião e os manda-chuvas da casa queriam mesmo que nós saíssemos de lá convencidos que Barcelos pode estar mais longe do mar... que da perfeição com que fazem os pratos marinhos. Quando eu pensava que ia comer galo, tive a sorte de provar um arroz de lavagante que não ficou a dever nada aos melhores que já comi em restaurantes com vista para o nosso oceano. Antes dele, já as amêijoas à Bulhão Pato tinham sido um bom prenúncio e se vos revelar esse segredo de que foi tudo acompanhado com um verde loureiro e outro alvarinho da mesma Quinta do Montinho do nosso convidado... que nos convidou, já podem imaginar qual é a receita que recomendo para a próxima oportunidade que tiverem para se abrigarem da fome no Chuva.t
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c MALMEQUER Alexandrine Cadilhe, 50 anos. A sua arte é transformar ideias em marcas, o que faz através do atelier Logo System Design. Nascida e formada em França e filha de pai português, logo viu que “Portugal tem um potencial enorne” e decidiu ficar por cá. Ajudar é a sua especialidade. Gosta, por isso, de auxiliar as empresas a darem os passos certos quando decidem criar uma marca, e gostava também que a tivessem ajudado mais em certas ocasiões
SOUVENIR
GRAVATA PARA QUE TE QUERO!
Gosta Persistência Honestidade De me rir De fazer as outras pessoas felizes De ajudar Pessoas Simples De Viver Ousadia Chuveiro (quente no inverno e frio no verão) Gente bem educada Anéis Pessoas tolerantes Sorrisos Perfume Lenços no pescoço Guarda-chuvas Dormir de janela aberta Rádio Cante alentejano Comédias inglesas e francesas Brad Pitt Sophie Marceau Musicais Livros policiais Da manhã Roxo iPhone Noites quentes de verão Iogurtes de soja naturais Gin tónico Natal Ioga Andar de bicicleta Colares Jennifer Lawrence iPad Pilates Pessoas gratas pelo que têm Jazz
Não gosta Teimosia Jogos de poder De quem vive só pelo estatuto social De choramingas Tripas à moda do Porto Cheiro a fumo Cortar as unhas em público Toques de telemóvel Piercings Francesinha Bigodes Cheiro a suor Banho de imersão Moscas, mosquitos e melgas Reality-shows Amália (sorry!!!) De cowboys Da noite Acordar tarde Cobardes Auricular Alturas Corpo suado Pés frios Nortada Campismo Lampreia Picante Dióspiros Cerveja sem álcool Conduzir à noite Correr Tricotar Dos que estão sempre a queixar-se Unhas sujas Conduzir ao telemóvel
Escrever sobre uma peça de vestuário é um problema , até porque nunca pensei verdadeiramente no assunto. No entanto, se há peça de vestuário de eleição para mim é claramente a gravata. Não uma em especial, mas a gravata em si porque tanto pode ser formal como informal, mas acaba sempre por mostrar muito de quem a usa, seja pelo bom ou mau gosto, pela atualidade ou por estar fora de moda. A gravata diz tudo sobre uma pessoa. Ao longo da minha vida cedo me cruzei com a gravata, mas foi na universidade que começou a saga e logo no primeiro exame oral. O rigor formal do Professor de Economia Política passara de geração em geração e o conselho dos mais velhos dizia tudo, “vai de fato senão chumbas”. Assim foi. Nem descrevo a pobre da gravata . Se fosse pela gravata creio que não teria passado, mas passei e acho até que a gravata do Professor era parecida com a minha, que de si já era parecida com as do meu avô. Reconheço que quando chega a hora de escolher a gravata, compreendo melhor as mulheres quando têm de escolher o vestido . Não que tenha o receio de encontrar alguém com uma gravata igual, porque isso é, completamente indiferente , mas porque a escolha deve ser apropriada ao momento, ao evento ou ao dia em especial. Confesso que a gravata que gosto de usar no inverno dispenso no verão e, numa sociedade que explora cada vez mais os seus cúmulos, alguém se lembrou de “dispensar” o uso das gravatas para se poupar em ar condicionado, e de repente a ausência de gravata passou a marcar um estilo, o sem gravata . Seja como for, a ausência da gravata é cada vez mais aceite no mundo dos negócios e no verão sabe bem. Já agora, pensará o leitor, com tantos emojis, seria eu capaz de usar uma gravata cheia deles? Não, claro que não, mas também não encontrei emojis com gravatas. t Celso Ferreira
CEO da Rendimo
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Date the jury. It may be love at first sight.
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