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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

JOAQUIM OLIVEIRA Sócio Gerente do grupo Bordados Oliveira

FOTO: RUI APOLINÁRIO

“NUNCA DEMOS UM PASSO MAIOR QUE A PERNA” 20 A 22

DOIS CAFÉS & A CONTA

PARA JÚLIA PETIZ AS CAUSAS SÃO O SEU COMBUSTÍVEL P6

PERGUNTA DO MÊS

QUAL O IMPACTO DA COVID-19 NO NEGÓCIO TEXTIL? P4E5

EMERGENTE

OPINIÃO

MARIA FURTADO TEVE UM SONHO COMO UMA FOTOGRAFIA

O QUE SALVA EMPREGOS É O APOIO AO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS

P 33

P 35

ACABAMENTOS

KATTY DESAFIA A CRIAR UM FATO PARA OS QUE NÃO PODEM FICAR EM CASA P 37

MUNDO VERDE

AFINAL, O QUE SIGNIFICA SUSTENTABILIDADE? P 26


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Marรงo 2020

CONCRETO.PT TRICOTHIUS LDA.|LINHA APOIO AO CLIENTE: (+351) 253 850/1/6 | SALES.CONCRETO@TRICOTHIUS.PT


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Posição da ATP

Medidas de apoio a empresas e trabalhadores

n EDITORIAL Por: Manuel Serrão

Exmos. Senhores Associados,

No âmbito das medidas que foram lançadas pelo Governo para apoio às empresas e trabalhadores, todas elas importantes e bem vindas neste momento difícil, mas também sabendo que as mesmas não estão a dar resposta às necessidades das empresas, a ATP tem estado, juntamente com a CIP (tendo em conta que os nossos problemas e preocupações são partilhados por outros setores), em contacto com o Governo, solicitando esclarecimentos adicionais a algumas medidas que suscitam dúvidas, mas também a transmitir aquelas que são as principais preocupações das empresas.

Partilhamos convosco algumas das preocupações já transmitidas ao Governo:

Linha de Crédito A exigência de uma “quebra de vendas em pelo menos 20% nos últimos 60 dias” é excessiva e retarda injustificadamente o acesso das empresas a esta linha; É necessária a flexibilização das condições de acesso, o reforço da linha de crédito, de acordo com a procura e bonificação de taxas de juro.

Moratória no cumprimento de obrigações fiscais É necessária a suspensão temporária dos prazos para o cumprimento de todas as obrigações fiscais e contributivas, para além da prorrogação dos prazos relativos ao IRC.

Aceleração do cumprimento de pagamentos pela administração É necessário acelerar os pagamentos às empresas por parte de todas as entidades públicas e de regularizar com particular urgência todos os que se encontram em atraso.

Trabalho e Segurança Social É fundamental corrigir a diferenciação injustificada entre o setor público e o setor privado no que respeita às condições de pagamento de faltas por motivo de isolamento profilático.

Regime Lay-off Não é razoável nem admissível exigir-se uma quebra de 40% no volume de faturação (trata-se de uma quebra que deixa as empresas numa situação demasiado dramática em termos de sobrevivência) nem um período homólogo de 3 meses. A comparação não pode ser superior, em termos homólogos, a 1 (um) mês e nunca com uma quebra, em termos de profundidade e impacto, de 40%.

SOLIDARIEDADE E SOBREVIVÊNCIA Sinceramente não esperava outra coisa desta indústria e deste setor que acompanho há mais de 30 anos. A ITV tem sido um bom exemplo de solidariedade e está a preparar-se afincadamente para se tornar também um excelente exemplo de sobrevivência. É da sua natureza, ou faz parte do seu ADN como agora se diz, nunca baixar os braços nem desistir perante as maiores adversidades. Sem nunca enterrar a cabeça como as avestruzes, nem se por em bicos de pês como as girafas, a nossa ITV tem sabido ajudar como pode e a deixam, e está a trabalhar como é preciso e é possível nestes tempos de contingências várias, para que não seja apanhada a dormir quando tudo voltar à normalidade. Aqui no universo do T tínhamos que saber estar à altura do setor com quem e para quem trabalhamos. No nosso site e nas nossas redes sociais a adesão tem sido exponencial e era só o que mais faltava que cá não estivéssemos para dar resposta a este momento. Toda a equipa do T está solidária com as dificuldades existentes e apostada em tudo fazer para poder colaborar no esforço de sobrevivência. Também por isso esta edição de Março sai em Março! Muita saúde e muito trabalho são os nossos votos. t

A operacionalidade e eficácia da medida também se encontra fortemente condicionada pela sua duração – um mês –, excecionalmente, prorrogável mensalmente, até um máximo de 6 meses, mas apenas “quando os trabalhadores da empresa tenham gozado o limite máximo de férias anuais e quando a entidade empregadora tenha adotado os mecanismos de flexibilidade dos horários de trabalho previstos na lei.”. É necessário clarificar as dúvidas e inconsistências já identificadas e regulamentar a medida o mais rapidamente possível.

O regime do Lay-off é uma das medidas mais importantes para o nosso setor, sendo necessário a sua simplificação e operacionalização de forma a que a empresas que necessitem possam já beneficiar desta medida.

Estas foram algumas das preocupações que a ATP e a CIP partilharam com o Governo.

Continuamos muito atentos a todas as medidas que vão saindo e às questões e problemas que vão sendo reportados pelos associados de forma a dar o devido encaminhamento.

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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030

Aproveitamos para partilhar convosco nota emitida pela CIP (mais abaixo) sobre a informação transmitida ao Governo e medidas hoje anunciadas.

Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa

18 de março de 2020 Ao vosso dispor, Mário Jorge Machado | Presidente da ATP

Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Moreira Gonçalves Ilustração: Cristina Sampaio

QUAL O IMPACTO DA COVID-19 NO NEGÓCIO TÊXTIL? É uma ameaça sem rosto que em poucas semanas deixou o mundo em sobressalto. O novo coronavírus espalhouse pela Europa como fogo em erva seca, criando a maior crise epidemiológica da história. A economia travou às quatro rodas e o negócio têxtil não foi exceção. As lojas fechadas traduzemse em encomendas adiadas ou canceladas e as empresas enfrentam agora um grande ponto de interrogação. Em resposta, os empresários do setor afirmam a necessidade de medidas adequadas ao novo paradigma, acreditam no incremento das vendas online, fazem da perseverança a grande palavra de ordem e colocam os olhos no horizonte pós-crise.

é

uma situação indita e de contornos imprevisíveis. Depois da Ásia, o surto do novo coronavírus chegou ao mundo ocidental com toda a força, espalhando-se por todos os países no espaço de poucas semanas. A contenção da epidemia tornou-se a primeira necessidade, obrigando a forte condicionamento na movimentação das pessoas. Mesmo decretando o Estado de Emergência, o Presidente da República foi claro: “Só se salvam vidas e saúde se, entretanto, a economia não morrer. Em tempo de guerra, as economias não podem morrer”. Se dentro das fábricas é possível continuar a laborar, mesmo que com constrangimentos – muitos colaboradores em teletrabalho e medidas de maior higienização e espaçamento social – fora de portas há muitos contactos que ficam em suspenso. As feiras foram interrompidas pelo menos até junho e com as lojas fechadas muitos clientes começam a adiar encomendas e pagamentos. O efeito coronavírus começa já a afetar o negócio têxtil, mas os empresários prevêem que o grande impacto se verifique a partir de abril. “Para já continuamos a trabalhar, mas o mundo dos negócios é um ciclo. Mesmo que não estejamos a ser muito afetados é uma

questão de tempo e será necessário um grande esforço para minimizar o impacto do vírus”, afirma Paulo Melo, administrador da Somelos. Num primeiro momento, o grupo têxtil reduziu ao mínimo o número de reuniões e colocou algumas pessoas a trabalhar a partir de casa, mas o grosso do trabalho mantém-se, dentro do possível, nos moldes habituais. No entanto, Paulo Melo não tem dúvidas que o impacto do surto de coronavírus se vai fazer sentir. “Se as medidas certas não forem tomadas, aquilo que foi construído nos últimos anos pode ser destruído em semanas”, afirma, prevendo tempos difíceis para todo o setor. “Esta situação não vem nos livros nem em nenhuma aula de gestão. É uma situação inédita e que não sabemos quanto tempo vai demorar”, discorre. Miguel Pedrosa Rodrigues, administrador da Pedrosa & Rodrigues, também prevê que o maior impacto se venha a sentir em abril e maio. Com mais de 100 colaboradores, a gestão ativou um plano de contingência alinhado com as orientações da Direção Geral de Saúde. “Para além de termos algumas pessoas a trabalhar em casa, temos a sorte de ter boas condições físicas que nos permitem garantir um maior espaçamento entre todos”, ressalva o gestor. Com a produção deste mês já

alocada, a empresa continua a laborar, mas para os próximos meses prevê uma diminuição nas encomendas. “Estamos à espera de um encolhimento, que vai atravessar todo o setor. Dependendo dos mercados a que cada empresa está exposta, penso que no melhor dos cenários vamos sentir uma redução na ordem dos 30%”. Na Orfama, o impacto já se faz sentir. A produtora de Braga, especializada em vestuário de malha, regista um clima de grande incerteza entre os clientes. “Os clientes estão muito apreensivos e ninguém sabe como serão os próximos meses. Já se notam algumas anulações de encomendas”, explica António Cunha, Sales Manager da empresa. Para o gestor, o momento traduz-se num difícil equilíbrio para todo o setor, em que as receitas serão invariavelmente afectadas. “Cada dia que passa há um agravamento da situação. Temos tentado manter o máximo de atividade, mas neste momento a prioridade está em respeitar as orientações e salvaguardar as pessoas”, relembra. A trabalhar diretamente com as lojas, a marca Cristina Barros viu a sua atividade abrandar de forma abrupta. “Está tudo em suspenso, 95% das lojas estão fechadas e isso conduz ao adiamento de encomendas”, afirma Marco Costa, diretor comercial


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“Esta situação não vem nos livros nem nas aulas de gestão. As empresas vão ter de adaptar-se porque ninguém sabe quanto tempo vai demorar” PAULO MELO ADMINISTRADOR DA SOMELOS

da marca de vestuário feminino. Com Espanha e França entre os seus principais mercados, a empresa da Trofa prevê dificuldades para as próximas semanas. “Temos alguma almofada financeira, mas tudo depende do tempo que a situação se prolongar”, adianta o representante da empresa. Com o epicentro do surto europeu em Itália, a Inarbel sentiu com especial impacto o surgimento da pandemia – a Dr.Kid, marca de vestuário infantil da empresa, tem uma forte presença no mercado italiano, com vários agentes a atuar no local. “A grande maioria dos nossos clientes em Itália, e também em Espanha, já estão fechados, e estão a fazer uma prorrogação dos pagamentos”, adianta José Armindo Ferraz, CEO da empresa. No grupo Moretextile, a Covid-19 ganha contornos semelhantes: “Os clientes pedem o adiamento de entregas e existem casos de cancelamento de encomendas. A degradação das condições foi dramática nos últimos dias”, resume o CEO Artur Soutinho. O grupo tem procurado manter os contactos comerciais, substituindo as feiras e reuniões por um serviço de apresentação virtual, mas muitas das marcas com que trabalha, como a Zara Home, têm as lojas de portas fechadas. A interrupção das vendas ao público leva os empresários a preverem problemas de tesoura-

ria, sobretudo para os próximos meses. Razão pela qual afirmam a necessidade de medidas adequadas ao novo contexto. “A legislação não se adapta às atuais necessidades da indústria, neste contexto é necessário flexibilizar o lay-off”, afirma Artur Soutinho. “São precisas medidas e linhas de apoio já para proteger as empresas e os postos de trabalho. A velocidade da indústria não tem nada a ver com a velocidade dos governos”, acrescenta Paulo Melo. Preocupação reiterada pelo presidente da ATP. “As cadeias de abastecimento vão parar e a consequência de tudo isto é que o emprego vai ser colocado em causa. Os empregos não estão garantidos, mas têm de ser garantidos e a via mais adequada para isso é a flexibilização do lay-off. Não faz sentido uma empresa ter de esperar para chegar a uma situação de falência para finalmente poder aplicar-se o lay-off”, afirma Mário Jorge Machado. Em comunicação com o Governo, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal fez questão de logo fazer chegar estas preocupações aos governantes. Entretanto, muitos empresários colocam já os olhos no horizonte pós-crise. “Estamos com um grande ponto de interrogação, mas temos de ter força e continuar a lutar, não podemos baixar os braços”, diz José Armindo Ferraz, salientando que a “economia não pode parar”.

Mas a maior incógnita é o que vai ficar depois de controlada a epidemia, aquilo que vai mudar nos mercados de forma definitiva. “Não nos vamos esquecer disto tão cedo, daqui por anos ainda se vão sentir as diferenças”, afirma Artur Soutinho, prevendo novos hábitos, tanto nas empresas como no público. “O teletrabalho e as conference call vieram para ficar e a longo prazo as vendas online vão crescer, as pessoas vão habituar-se a comprar em marketplaces”. “Tenho a certeza absoluta que o mundo será totalmente diferente nos hábitos de consumo e de convivência. Esta situação vai ficar na memória”, acrescenta Paulo Melo. “Isto vai criar novas oportunidades de negócio, as pessoas estão a construir novas rotinas. As vendas online já estavam a crescer mas agora vão ter um impulso”, concorda António Cunha. Já Marco Costa acredita que no vestuário o negócio manterá o seu perfil actual. “As vendas online vão-se sentir em bens essenciais mas não na moda, talvez apenas com algumas adaptações, mas acredito que vai voltar ao normal”, explica. “O online está a crescer, mas quando a crise passar as pessoas vão procurar o comércio tradicional, vão querer tocar nas peças. Neste momento as pessoas precisam de se sentirem vivas de novo”, concorda José Armindo Ferraz. t

“As cadeias de abastecimento vão parar. Os empregos não estão garantidos, mas têm de ser garantidos”

“As lojas estão fechadas e isso vai ter um impacto muito forte. A longo prazo as vendas online vão crescer, as pessoas vão habituar-se a comprar em marketplaces”

MÁRIO JORGE MACHADO PRESIDENTE DA ATP

ARTUR SOUTINHO CEO DO GRUPO MORETEXTILE

“Estamos com um grande ponto de interrogação, mas temos de ter força e continuar a lutar, não podemos baixar os braços” JOSÉ ARMINDO FERRAZ CEO DA INARBEL

“As lojas estão fechadas e isso adia as encomendas. Temos alguma almofada financeira, mas tudo depende do tempo que a situação se prolongar”

“As encomendas que estavam alocadas estão a ser executadas, mas prevemos que o maior impacto seja a partir de abril ou maio”

MARCO COSTA DIRETOR COMERCIAL DA CRISTINA BARROS

MIGUEL PEDROSA RODRIGUES ADMINISTRADOR DA PEDROSA & RODRIGUES

“Ninguém sabe como serão os próximos meses. Mas neste momento a prioridade está em respeitar as orientações e salvaguardar as pessoas” ANTÓNIO CUNHA SALES MANAGER DA ORFAMA


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A DOIS CAFÉS & A CONTA Por: António Moreira Gonçalves

O Tosco

Rua 5 de Outubro, 240 4765-219 Riba d’Ave

Entradas Salada mista, presunto, paio e broa de Avintes Pratos Rojões à minhota e Pescada à Tosco (frita com molho de cebolada) Sobremesa Ananás, Laranja, Melão e Kiwi laminados Bebidas Água, vinho verde branco Vinhas do Vale Amarelo 2018, e um café

JÚLIA PETIZ

Cresceu em Santa Maria da Feira, onde fez toda a escola até rumar a Braga, quando entrou na Universidade do Minho. Licenciada em Relações Internacionais, na juventude nutria o sonho de uma carreira diplomática, mas as aulas na faculdade mudaram-lhe as ideias.“Não sei porquê, senti um grande apelo pelo marketing”, conta. O primeiro emprego foi numa agência de comunicação, onde para além de spots publicitários desenvolveu campanhas autárquicas para alguns candidatos da região. Aos 23 anos entrou para o têxtil, como comercial de exportação na confeção Varela & Macedo. Desde aí manteve-se ligada ao setor, passando por várias empresas até criar a sua marca de puericultura têxtil, a Homogenic. Uma experiência que se revelaria valiosa quando em 2003 foi contratada para assumir o cargo de CEO na Tajiservi. O segredo da liderança, diz, está muitas vezes em “dizer tudo de forma clara”. Júlia tem 49 anos, é casada com um informático e têm um filho (Afonso, 25 anos) que estuda teatro na ESMAE

AS CAUSAS SÃO O SEU COMBUSTÍVEL

FOTO:ANTÓNIO MOREIRA GONÇALVES

49 ANOS CEO DA TAJISERVI

Quando começou a planear a inauguração da nova casa da Tajiservi, Júlia Petiz, CEO da empresa, pensou logo em fazer algo diferente. Em vez da cerimónia tradicional, convidou amigos e parceiros comerciais para dois dias de atividades, um de conferências e outro de Open House, já nas novas instalações e com o tema da sustentabilidade como protagonista. “Todos nós temos a responsabilidade de garantir o futuro, não só do planeta mas da própria humanidade”, explicou ao dar a conhecer a nova Tajiservi, agora sediada em Vila das Aves. Com as questões ambientais na ordem do dia, a iniciativa poderia ser vista mais como uma ação de marketing do que um verdadeiro posicionamento da empresa especializada em máquinas de bordados e consumíveis. Mas não é só isso: “Preocupo-me de forma genuína com esta questão”, sublinha Júlia. Prova maior disso são os hábitos que instituiu no seu dia-a-dia, desde conduzir um carro elétrico a reduzir o consumo de carne e de outros alimentos com maior pegada ecológica. “Foi uma preocupação que surgiu de forma inesperada. Em casa já reciclávamos

e tínhamos algumas práticas estabelecidas, mas quando o meu filho se tornou vegetariano, também por uma questão de sustentabilidade, fui chamada à atenção para este problema”. Apesar de primeiro desconfiar que se tratava de uma mania do jovem Afonso, Júlia tentou perceber as ideias do filho e acabou a sentir o "click". Uma mudança de mentalidade que viria a transportar para a Tajiservi. A frota automóvel começou a ser substituída por eléctricos, os fornecedores de consumíveis foram contactados para garantir a reciclagem de todas as embalagens, e na inauguração da nova fábrica – para onde está pensada a instalação de painéis solares – as marcas que a Tajiservi representa foram convidadas a apresentar as suas inovações mais eco-friendly. Esta não é a primeira vez que Afonso tem uma influência direta nas decisões profissionais da mãe. Em criança, inspirou-a a criar a Homogenic, uma marca de puericultura têxtil e vestuário para bebé. “Com um filho de três anos, apercebi-me da dificuldade que as mães passam em encontrar soluções que ofereçam todas as garantias", lem-

bra. A experiência motivou-a a juntar forças com duas sócias e a apresentar a marca ao público em 1998, ganhando uma experiência em gestão que se viria a revelar fundamental quando foi contratada para assumir a liderança da Tajiservi, em 2003. Ao longo destes 17 anos fez a empresa crescer, obrigando a mudança para as novas instalações. Com o mesmo espírito de causa, Júlia procura agora afirmar a responsabilidade ambiental não só como uma linha identitária da Tajiservi, mas como um desígnio para toda a indústria. “O têxtil é uma das indústrias mais poluentes e temos de ser nós a encontrar uma solução. Por via da digitalização, pela diminuição do desperdício, ou através de outras estratégias, é urgente mudar a realidade”, explica. E nesta revolução, Júlia vê em Portugal um papel determinante: “Podemos ser o maior cluster de sustentabilidade têxtil do mundo. Temos todas as condições para isso, temos o know-how, a experiência e a proximidade com os mercados, só não o seremos se formos muito distraídos. Temos de fazer o nosso caminho antes dos outros”, diz, em jeito de desafio aos players do setor. t


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A N N UA L E U RO P E A N T E X T I L E CO N F E R E N C E

4th iTechStyle Summit & 15th Annual Textile ETP Conference

n o o s s e t new da

Media Partners


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2. NOTÓRIA A BOA DISPOSIÇÃO DE VISITANTES ESTRANGEIROS, QUE NEM PRECISAM DE SAIR DO AEROPORTO PARA VISITAR A FEIRA E VER AS NOVAS COLEÇÕES

FOTOSINTESE

1. LOGO À CHEGADA, NA ZONA DE REGISTO DE VISITANTES E EXPOSITORES, SEMPRE COM GRANDE MOVIMENTO, DESTACAVA-SE A EXPOSIÇÃO COM AS 50 CAPAS DO T

NO PRÓXIMO ANO SERÁ MAIS CEDO

No aeroporto é mesmo especial, um formato que parece agradar a todos e de grande comodidade para os compradores estrangeiros. Desta vez foi ainda mais especial porque marcou a 50ª edição do T, devidamente assinalada com uma exposição composta por quadros com as capas e os protagonistas de todas as edições. Cada vez mais verde e internacional, é já garantido que o MODtissimo voltará no início de 2021 ao arejado e luminoso piso de partidas do aeroporto do Porto para a sua edição número 57. As datas estão ainda por definir mas há a certeza de que será mais cedo do que tem sido habitual, em linha com a antecipação do calendário de feiras como Première Vision, Munich Fabric Start e Milano Unica

7. SEMPRE MUITO CONCORRIDO, NO STAND DA A. SAMPAIO SUCEDIAM-SE AS REUNIÕES E PEDIDOS DE INFORMAÇÃO

6. NO ESPAÇO DO ITECHSTYLE SHOWCASE AS NOVIDADES SUSCITAVAM MUITAS E ANIMADAS CONVERSAS

11. NA TINTEX FOI QUASE SEMPRE PRECISO ESPERAR PARA A NECESSÁRIA CONVERSA COM OS REPRESENTANTES DA EMPRESA

10. UMA DAS GRANDES NOVIDADES DESTA EDIÇÃO FOI O FASHION FÓRUM, REUNINDO TENDÊNCIAS DE TECIDOS, MODA INFANTIL E O ESPAÇO DE LIFESTYLE DESENVOLVIDO PELA ANTARTE


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4. MUITA CURIOSIDADE E CONCENTRAÇÃO NA BUSCA PELAS NOVIDADES DA 6 DIAS

3. TAL COMO NO STAND DA TMG, O AMBIENTE DE NEGÓCIOS E GRANDE DINÂMICA FOI UMA CONSTANTE EM TODAS AS ÁREAS

5. OS QUADROS JÁ COMEÇARAM A SER ENTREGUES AOS RESPETIVOS PROTAGONISTAS MAS HOUVE QUEM NÃO RESISTISSE AO REGISTO FOTOGRÁFICO

9. TODOS OS EXPOSITORES TIVERAM DIREITO À CAMISOLA DO T, MAS NA TESSIMAX LUÍS NINA RECEBEU-A DAS MÃOS DO DIRETOR MANUEL SERRÃO

8. NO ESPAÇO ANTARTE CHAMAVA A ATENÇÃO O DESIGN CUIDADO E A QUALIDADE DAS PEÇAS EM EXPOSIÇÃO

13. MÁRCIA CORTINHAS, À ESQUERDA, DIRETORA COMERCIAL DA LIMA & Cª, OBSERVA A REAÇÃO DOS VISITANTES À QUALIDADE DA SUA CONFEÇÃO

12. AS MUITAS NOVIDADES LEVAVAM A CONVERSAS SEMPRE MUITO ANIMADAS NO ESPAÇO DA LEMAR

14. AS EQUIPAS POR DETRÁS DO SUCESSO DO MODTISSIMO 55. PARA A POSTERIDADE, A FOTO COM AS EQUIPAS DA SELECTIVA MODA E DO AEROPORTO QUE FIZERAM COM QUE TUDO TIVESSE ROLADO NA PERFEIÇÃO


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AS CINCO TENDÊNCIAS DE E-COMMERCE DO FUTURO Pagamentos digitais quase invisíveis, automatização com base nos dados do cliente, inteligência artificial para personalizar a oferta, autogestão com tecnologias que permitam a integração de canais e profissionalização do B2B para a excelência na experiência do utilizador. Estas são as cinco grandes tendências que, de acordo com o estudo da consultora Minsait marcarão o futuro do e-commerce. Intitulado “Cinco pilares para construir o e-commerce do futuro”, o estudo refere que as compras online estão cada vez mais direcionadas para experiências simplificadas, fluídas e homogéneas, não condicionadas pelo canal utilizado.

"Vêm à procura do made in Portugal. É um símbolo de sustentabilidade, de qualidade, de gama média-alta, e de timings cumpridos" Antonieta Barbosa Diretora comercial da Soeiro

GIVACHOICE: UM MILHÃO PARA AMPLIAR FÁBRICA EM 2021 Está quase concluído no papel mas é um projeto que apenas será colocado em prática no próximo ano. A têxtil Givachoice prepara para 2021 uma grande ampliação: um milhão de euros na construção de um armazém e centro de corte, com uma área total de 1.800 m2, e equipado com uma máquina de corte automático topo de gama. “Temos urgentemente de crescer, de ampliar as nossas instalações, e em qualquer projecto há sempre um passo a seguir”, diz Ricardo Almeida, director financeiro da Givachoice, têxtil especializada na confeção de moda para mulher. Em 2019, a empresa registou um crescimento de 13% nas vendas, e o passo a seguir será a ampliação da fábrica, situada em Seroa, Paços de Ferreira, para o terreno ao lado, que já foi adquirido. O projecto prevê a construção de três pisos, com um total de 1.800m2, a somar aos atuais 3.000 m2. O novo espaço será focado na expedição e controlo, no transporte entre setores e na instalação de uma nova máquina de corte. “É uma máquina de corte automático com reconhecimento de padrões e riscas. Queríamos atualizar o corte já neste momento, mas não nos é possível porque não há espaço. É importante para reduzir o custo operacional. Sabe-

UNIFARDAS JÁ É REFERÊNCIA EM ESPANHA

MÖM(E) CHEGA A BROOKLYN, NOVA IORQUE

“Já somos uma boa referência no mercado espanhol!”. Era assim, com grande satisfação, que a Unifardas abordava o último dia da sua participação na Sicur, a feira espanhola que é referência na área de segurança. Especialista em workwear, a empresa da Maia aproveitou os três dias da presença em Madrid para lançar uma nova coleção, marcada pela inovação e pelo arrojo no mundo do vestuário profissional.

“O contacto foi estabelecido na Playtime Paris e brevemente teremos as nossas peças à venda em Brooklyn, Nova Iorque”, revela, Inês Camano Garcia, mentora da marca portuguesa Möm(e). Foi com a coleção Re.pen. sar, que convida a refletir sobre o atual modo de vida e a um regresso à infância a partir de peças em malha e em algodão orgânico, que a marca de moda infantil chegou ao mercado norte-americano.

18 milhões Projeto prevê a construção de três pisos, 1.800m2 no total, que se juntam aos atuais 3 mil

mos que tendencialmente o custo da mão-de-obra vai subir e a prioridade agora é optimizar processos”, explica Ricardo Almeida. O objetivo é manter a competitividade através da inovação e de recursos humanos qualificados. “A confeção é uma arte, e formar uma costureira, por exemplo, demora dois, três anos, até atingir um momento de elevada perfeição técnica”, explica por seu lado Conceição Barbosa, fundadora e diretora de produção da empresa. “Não somos uma empresa

de mão-de-obra barata, somos uma empresa de mão-de-obra cara, pagamos acima da média. Quando o aumento do salário minimo foi anunciado, nós antecipámo-nos e atualizámos os nossos salários em novembro”, diz Conceição Barbosa. Focada na moda de luxo – entre os seus clientes encontram-se grandes casas da moda europeia e norte-americana – a Givachoice procura assim manter a rota ascendente, depois de no último ano ter atingido os oito milhões de euros em facturação. t

de metros de tecido são produzidos por ano em Portugal para a MGC – Acabamentos Têxteis SA

ATP PREPARA RATING PARA A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS A ATP e a Trigon Select prepararam um rating de avaliação para a competitividade das empresas do setor têxtil. O modelo que, depois da Covilhã, foi apresentado durante o MODtissimo. Em tudo idêntico ao que se passa, por exemplo, com o rating das dívidas soberanas, esta iniciativa da Trigon Select, a que a ATP se associou, permite às empresas que aderirem ao sistema inscreverem-se num quadro internacional que as compara com as suas concorrentes e permite aos potenciais clientes avaliarem (apenas pela observação do rating atribuído) quais são as caraterísticas particulares de cada uma.


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PELE VEGETAL DA TINTEX FEITA COM MATERIAIS IMPROVÁVEIS

SONAE FASHION CRESCE 4,9% E AVANÇA 32% NO ONLINE A Sonae Fashion, sub-holding do grupo Sonae para a área da moda, terminou o exercício de 2019 com um total de vendas de 395 milhões de euros, um aumento em termos homólogos de 4,9%. “Vale a pena realçar o desempenho do online, que continua a mostrar fortes taxas de crescimento em todas as marcas, tendo aumentado 32%”, refere o grupo em comunicado enviado à CMVM. O crescimento no trimestre (7,3%) revelou-se essencial para a conclusão de um ano positivo. Todas as marcas apresentaram evoluções positivas no parque de lojas comparável, situando-se acima das referências de mercado.

"Tentamos sempre trazer coisas diferentes, coleções que os clientes não encontram noutros lados e eles reagem sempre muito bem" Ana Pinheiro Administradora da Mundotêxtil

Aposta na sustentabilidade também passa pelo setor automóvel para Mário Jorge Silva, CEO da Tintex

É visualmente igual ao couro de origem animal. Ao tato, é também em tudo semelhante. Mas na realidade a pele vegetal apresentada pela Tintex é feita a partir do aproveitamento de resíduos de outras indústrias. Serrim da madeira e borra de café são alguns dos produtos já testados. Desenvolvida no âmbito do Texboost, o maior consórcio de inovação têxtil nacional que junta 28 empresas e 15 centros de investigação, esta pele vegetal em jersey “incorpora um revestimento feito a partir de serrim da madeira, aproveitando resíduos de outras indústrias”, explica Ricardo Silva, administrador e diretor de operações da Tintex. Para além do serrim da madeira, a empresa está também a trabalhar numa pele feita a partir da borra de café e a testar a incorporação de outros resíduos, como as cascas de amêndoa e de noz. “Incorporámos já esta pele vegetal num sofá que foi apresentado no Open Day da Tintex e

que, entretanto, tem viajado por esse mundo fora com o CITEVE”. Uma dessas viagens teve como destino a Heimtextil, onde o sofá integrou o ItechStyle Green Circle. Maria José Carvalho, responsável pela agenda para a Sustentabilidade e Economia Circular do CITEVE, conta que “os visitantes ficavam espantados quando lhes dizíamos que se tratava de pele vegetal porque, de facto, é muito semelhante à pele animal”. Esta pele vegetal “poderá ser aplicada não só em sofás e poltronas, mas também em acessórios e calçado ou vestuário”, refere Maria José Carvalho. “Também o sector automóvel está nos nossos objetivos, mas mais a longo prazo, uma vez que ainda teremos de otimizar o produto e os processos produtivos para esse efeito”, adianta Ricardo Silva. O novo produto está já em fase de industrialização e o objetivo é avançar com a comercialização ainda este ano. t

CONFETIL CRIA COORDENADO QUE É 100% RECICLÁVEL Foi a pensar no futuro que a Confetil criou um coordenado desenvolvido a partir de materiais 100% reciclados. Assente no princípio do design para a circularidade, este coordenado responde à nova tendência de consumo athleisure, que alia o desporto à moda. O novo produto foi concebido de modo a “que no fim de vida seja separado por cor e por fibra”, explica Dionísia Portela, Sustainability Manager da empresa portuguesa. Este coordenado, composto por sweatshirt e calças, integra nas costas um conjunto de instruções para que o “consumidor final possa cortar e reciclar todas as partes”, descreve Dionísia Portela.

Apesar de, neste momento, a reciclagem de produtos têxteis só ser possível pela via industrial, Dionísia Portela acredita que, no futuro, esta realidade se vai alterar e que “os têxteis serão integrados no circuito da reciclagem feita pelo consumidor final”, explica. Para além de, no futuro, dar possibilidade ao consumidor final de ser parte ativa no processo de sustentabilidade, este coordenado da Confentil é também inovador do ponto de vista técnico. “A maioria das peças que vemos no mercado, mesmo que sejam feitas com recurso a materiais orgânicos, são multifibra e de várias cores o que, à partida, inviabiliza a reci-

clagem”, explica a Sustainabily Manager da empresa da Maia, sustentado o facto deste coordenado ser feito a partir de poliéster e poliamida 100% reciclados. O novo coordenado da Confetil foi uma das peças em exibição no showcase do ItechStyle Green Circle em exposição na ISPO Munich onde, pelo carácter inovador, foi muito elogiado por compradores e visitantes de todo o mundo. A empresa portuguesa não tem marca própria, por isso a sustainabily manager da Confetil aguarda que o coordenado desperte interesse para produção por parte de alguma das marcas de renome com que trabalham. t

VINTAGE FOR A CAUSE DISTINGUIDA PELA FUNDAÇÃO YVES ROCHER Helena Antónia Silva, que lidera o projeto Vintage for a Cause e a sua líder, Helena Antónia Silva, foram distinguidas - um donativo de dez mil euros - na 11ª edição dos prémios Terre de Femmes, da Fundação Yves Rocher, que visam apoiar e dar visibilidade a projetos de mulheres na área do ambiente, com soluções sustentáveis que contribuem para uma pegada ecológica mais positiva. A Vintage For a Cause é uma marca de moda de economia circular que tem o propósito de inclusão social e fortalecimento feminino através do upcycling de roupa.

2,5%

é a percentagem do volume de negócios que a P&R Têxteis investe, em média, em investigação e desenvolvimento

O OUTONO/INVERNO JAPONÊS DE FATIMA LOPES MOSTROU-SE EM PARIS

Foi no Salon Hoche, em Paris, que a estilista Fátima Lopes apresentou a sua 43ª coleção consecutiva na Paris Fashion Week. A estética e cultura japonesa foram a fonte de inspiração da estilista para o Outono/Inverno 2020/21, uma coleção muito feminina, sofisticada e elegante, composta por várias linhas, desde o casual Jeans à alta costura. Como grande novidade, a coleção de denim em calças, saias, jumpsuits e calções, com formas muito próprias e originais.


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DIOGO VAN DER SANDT

CONCURSO NOVOS CRIADORES NO PORTUGAL FASHION

MARIA GAUDENCIO


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X A MINHA EMPRESA Por: Cláudia Azevedo Lopes

João Manuel da Costa Flores, Lda Rua da Boavista, 63 A 4700-416 Braga

O que faz? Camisas de noite, pijamas e robes de senhora Exportações 70% da produção para destinos como México, Líbano, Kuwait e Arábia Saudita, além da Europa Produção 8 mil peças por ano Marca Própria Iora, que representa 95% do volume de negócios Plantel 17 trabalhadores

SOREMA APOSTA NA PRAIA COM MARCA PRÓPRIA BRICINI Bricini é a nova marca própria com que a Sorema quer aumentar a sua quota de mercado no segmento praia. “Já fazíamos toalhas de praia. Agora, a par da criação da marca, alargamos a nossa oferta para este segmento com diferentes qualidades, gramagens e design”, explica Ricardo Relvas, administrador da Sorema. A Bricini junta-se à Graccioza (vocacionada para o segmento luxo) e à Sorema Bath Solutions na carteira de marcas próprias da Sorema, que tem o centro de gravidade em Espinho e emprega 140 trabalhadores.

"Apresentamos aos clientes soluções, não é só apresentar uma malha" Mário Jorge Silva CEO da Tintex

EUROPA RETIRA BENEFÍCIOS TARIFÁRIOS AO CAMBODJA Os benefícios tarifários concedidos pela União Europeia ao Cambodja vão ser suspensos: a Comissão Europeia decidiu retirar parte deles àquele país asiático, depois de Bruxelas ter concluído que as autoridades políticas pretendem impedir a oposição de concorrer em igualdade às eleições. Assim, o país que até agora desfrutava de uma tarifa zero no âmbito do programa Tudo Menos Armas (EBA), terá de pagar a partir de meados de agosto tarifas sobre as exportações de certos tipos de roupa e calçado.

AMAZON LANÇA PLATAFORMA CONCORRENTE COM A FARFETCH

Roupa de sonho para dormir É comum dizer-se que cada homem é um livro. Talvez por isso, Cristina delega no pai a tarefa de contar a história da João Manuel da Costa Flores, a empresa em nome próprio que começou ainda antes de ela ter nascido e criou a marca Iora por associação com a famosa casa de alta-costura francesa. “Dior deu em Iora”, diz o progenitor. Cristina Flores é hoje a diretora-geral da empresa, mas é o pai a abrir o livro: “Quando vim da tropa, quis começar o meu próprio negócio”, conta. A mãe, Maria Teresa Flores, tinha uma fábrica de têxteis-lar, a Arca, e uma loja, a Casa Flores, onde vendia o que produzia. Não espanta que João Manuel seguisse os trilhos da família. “A minha mãe também fabricava cintas e camisas de dormir e foi aí que eu fui buscar a ideia”, diz o empresário agora aposentado. Começou em 1973, a produzir camisas de noite 100% algodão com aplicações em renda, o conforto aliado à qualidade e ao requinte que se mantêm como imagem de marca da empresa. Dez anos depois, nasce a marca Iora, nome que advém da associação à francesa Dior. Com o mercado interno a absorver toda a capacidade de produção (“à volta de 99%”), tudo corria pelo melhor até que aterrou a crise. Estávamos em 2002, o ano em que Cristina se juntou ao pai ao leme da empresa e juntos tiveram de dar uma volta de 180 graus na estratégia de negócio. “Tínhamos tanto trabalho que até recusávamos encomendas. Em 2002 tudo mudou. O consumo baixou imenso e as lojas que eram nossas clientes fecharam. Percebemos que tínhamos de partir para a exportação”, explica a diretora-geral. Começaram pelas feiras – SIL, Unique by Mode City e Curve New York – onde foram conquistando clien-

tes de todas as geografias. “O nosso melhor mercado é o México, mas estamos também presentes, para além da Europa, no Líbano, no Kuwait, na Arábia Saudita, no Japão, no Canadá, e temos também agentes em Espanha, na Alemanha, na Bélgica e na Holanda”, revela. Atualmente, das 8 mil peças que produzem por ano, 70% são para exportação, e 95% da faturação é obtida através da Iora, a marca própria. As duas coleções anuais (verão e inverno) alargaram-se das camisas de noite a pijamas e robes de senhora e são desenhadas entre portas por Cristina, o pai e uma das mais antigas funcionárias (“com o apoio de uma designer para os retoques necessários”), num jogo de mestria onde o know-how e o conhecimento da estética da marca fazem o xeque-mate. “Os nossos artigos são requintados, de gama média-alta, com as melhores matérias-primas. Estamos em lojas como El Corte Inglês, Paris em Lisboa, Teresa Alecrim, Ana Fred, Casa Morgado...”, desfia a empresária. A braços com o boom de encomendas da próxima coleção de inverno (“até nos deixou um pouco atrapalhados em dar resposta”), 2020 vai ser ano de crescimento para a João Manuel da Costa Flores, que sonha em aumentar a capacidade de produção. “Com os novos agentes é quase certo que iremos ter um aumento nas encomendas e teremos que dar resposta. A questão é que no verão diminuem drasticamente e teria de ser feito um investimento grande para algo que não vai gerar retorno durante metade do ano... É algo que ainda estamos a maturar”, discorre Cristina, que tem agora em mãos a tarefa de continuar a história que o pai começou há mais de 45 anos. t

A gigante do comércio eletrónico Amazon está a construir um novo centro de logística no Arizona destinado a gerir uma nova plataforma digital que incluirá marcas no setor de moda de luxo – precisamente o mesmo segmento ocupado pela luso-britânica Farfetch. Numa primeira fase o novo catálogo estará disponível apenas nos EUA e a sua apresentação está prevista para o final do primeiro semestre de 2020.

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toneladas é a capacidade de produção anual da empresa de têxteis-lar B. Sousa Dias

TEARFIL TEM NOVA IDENTIDADE, MAIS COLEÇÕES E MAIS CIRCULARIDADE A Tearfil Textile Yarns acaba de inaugurar a sua nova identidade visual, um elegante ‘T’ torcido, que pretende apelar para a simplicidade do fio que está a montante de toda a produção têxtil. Com mais circularidade e novas coleções, mas principalmente para assinalar uma nova fase da sua história, marcada desde julho de 2019 pela presença de uma nova acionista: Maria de Belém Machado, uma investidora com antecedentes familiares no ramo de fiação, que é também acionista do grupo SMBM.


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ATP E CITEVE COORDENAM FABRICO DE EQUIPAMENTO TÊXTIL HOSPITALAR

SITE DA ATP DÁ-LHE TODA INFORMAÇÃO SOBRE O ESTADO DE EMERGÊNCIA A ATP abriu o seu site a toda a informação relevante sobre a Covid-19, nomeadamente nas matérias que implicam no funcionamento das empresas e nas que têm a ver com os níveis de proteção individual. Também temas como as medidas de proteção social na doença e na parentalidade, de apoio aos trabalhadores independentes ou formas alternativas de teletrabalho, estão disponíveis na plataforma da ATP.

LVMH PRODUZ GEL DESINFECTANTE O grupo LVMH, detentor de marcas de luxo como a Louis Vuitton, Dior, Guerlain e Givenchy, decidiu utilizar três fábricas de cosméticos para produzir gel desinfetante para as mãos. Foram adaptadas as linhas de produção de perfumes Dior e Givenchy para o fabrico deste gel hidroalcoólico. A produção é oferecida à rede de hospitais universitários da capital, a Assistance Publique-Hospitaux de Paris.

120 CITEVE testou os materiais que possam cumprir as exigências do equipamento hospitalar

É em ligação com os ministérios da Saúde e da Economia que ATP e o CITEVE estão a coordenar a bolsa de empresas para dar resposta ao sistema de saúde em termos de equipamentos têxteis hospitalares. Depois dos testes para verificar requisitos específicos dos materiais que podem ser utilizados, foram entregues às empresas os dossiers técnicos de fabrico. É preciso garantir segurança do produto e fazer ponte entre as necessidades e quem pode produzir. É a resposta coordenada e integrada à solicitação da Direção-Geral de Saúde. O equipamento hospitalar obedece a requisitos técnicos específicos que foram avaliados pelos laboratórios do CITEVE para verificar aqueles que podem corresponder a essas exigências específicas. “Tivemos uma grande adesão das empresas, muitas mesmo sem experiência no fabrico destes dispositivos. O problema maior é a penúria de matéria-prima e por isso estivemos a testar os materiais que podem responder aos requisitos técnicos e a preparar dossiers técnicos para fornecer empresas para poderem fabricar, montar linhas de produção”, explica Brás Costa, diretor geral do CITEVE. É o caso específico das máscaras cirúrgicas, que

têm que garantir filtragem e respirabilidade e para ambiente hospitalar são mais exigentes que para o público em geral. “Normalmente a matéria-prima utilizada são não tecidos que por cá pouco se fabricam. Vêm da China e da Índia e agora estamos a ver o que por cá se fabrica de forma a encontrar matérias-primas alternativas com capacidade e condições para serem produzidos todos os equipamentos necessários. Estamos em permanente contacto com os ministérios da Saúde e da Economia. Temos que garantir segurança do produto e fazer a ponte entre as necessidades e quem pode produzir”, conclui o responsável. No caso das máscaras, Brás Costa manifesta mesmo muitas dúvidas face ao voluntarismo manifestado por muitas empresas. “Podem não servir para nada”. Isso mesmo frisou também a diretora geral da saúde, recomendando às pessoas que não façam um uso indiferenciado desse equipamento. “Não protege e em muitos casos não serve para absolutamente nada”, disse Graça Freitas, referindo-se a máscaras de pano. Ou seja sem os tais requisitos técnicos investigados pelos laboratórios do CITEVE para a elaboração dos dossiers técnicos que fornecem às empresas para o fabrico. t

COMO A MORETEXTILE ESTÁ A DAR A VOLTA AO BLOQUEIO DO VÍRUS Apostada na estratégia Join the Loop, a MoreTextile está também a dar a volta às coisas em função dos obstáculos criados pelo bloqueio do vírus. Cancelada a New York Market Week, o grupo têxtil português está a desafiar os seus clientes para uma apresentação virtual da Coleção SS 2021. É preciso saber dar a volta. “Agende um video call e tenha acesso virtual à nossa nova coleção com ‘aplicação zoom”, é o desafio que o grupo de têxteis-

-lar liderado por Artur Soutinho está já a lançar aos seus agentes, potenciais clientes e visitantes com os quais deixou de poder estar em contato na New York Market Week, que estava agendada para os dias 23 a 26 deste mês de março. A solução passou por, em vez do espaço da feira da capital americana, montar nas instalações da empresa o showroom que iria levar a Nova Iorque. Por vídeo, os comerciais e técnicos do grupo

acompanham a visita do cliente, explicando pormenores e esclarecendo todas as dúvidas. O sistema montado permite até analisar pormenores fazendo zoom sobre áreas específicas que o cliente queira ver analisadas com maior detalhe. No mailling que está a distribuir aos agentes, clientes e potenciais visitantes, a MoreTextile disponibiliza já o formulário que os interessados podem preencher para agendar a vídeo-visita. t

jogos de cama e 200 toalhões foram oferecidos pela Lasa à Liga dos Amigos do Hospital de Braga, em resposta ao apelo lançado pela designer Isabel Machado Guimarães para mitigar os efeitos desta crise

EMPRESÁRIO TÊXTIL DOA 10 VENTILADORES AO SISTEMA DE SAÚDE Vítor Magalhães, o líder da Vermis – Confeção de Vestuário, empresa que é também líder na área da camisaria, tornou-se notícia por ter doado 10 ventiladores ao sistema nacional de saúde, através do Hospital de Guimarães. “Esta é a altura de todos ajudarmos. Se eu estou preocupadíssimo com o que se passa no mundo e em Portugal, só tenho de ajudar”, disse o empresário que é presidente do Moreirense, ao mesmo tempo que apelava à iniciativa de outros colegas.

GIORGIO ARMANI DOOU 1,25 MILHÃO A HOSPITAIS ITALIANOS O estilista italiano Giorgio Armani, através do seu grupo de moda, doou 1,25 milhão de euros a quatro hospitais e à Agência de Proteção Civil da Itália para ajudar o país a combater o surto de Codiv-19. Segundo as últimas contas, o grupo sediado em Milão, teve receitas de 2,1 mil milhões de euros em 2018 e a maioria dos seus funcionários está a trabalhar em casa, com as instalações de produção a operar com o mínimo de pessoas.

SONIX ESTÁ A PRODUZIR MÁSCARAS E GEL DESINFETANTE Solicitada por vários hospitais que pediam equipamentos, a Sonix suspendeu a produção normal e começou a fabricar máscaras. Também o departamento de I&D, dedicado à nanotecnologia, está a produzir gel desinfetante. “Recebemos inúmeros pedidos de vários locais a solicitarem ajuda e expondo casos verdadeiramente dramáticos com necessidade de vestuário para as equipas (médicos, enfermeiros, auxiliares e bombeiros)”, informou o grupo através do Facebook, adiantando estar “a contribuir na medida do que nos é possível”.


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PERFF STUDIO INSPIRA-SE NA CALÇADA PORTUGUESA A Perff Studio, a marca portuguesa de moda desportiva de luxo, decidiu criar uma linha de design inspirada na tradição da calçada portuguesa, nos seus detalhes e geometria próprios. O resultado é uma combinação entre a experiência artesanal portuguesa e a inovação e sofisticação, numa linha composta por quatro peças sustentáveis (um crop-top, umas leggings, um top e um casaco) que dão o mote para a nova coleção da marca.

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"Temos cada vez mais de pensar que já não há segredos. Se conseguirmos estar juntos seremos cada vez mais fortes" José Alexandre Oliveira Presidente da Riopele

MIGUEL VIEIRA É PERSONALIDADE DO ANO PARA A LUX Miguel Vieira voltou a ser eleito a personalidade masculina do ano, na categoria de Moda, no âmbito dos prémios da revista Lux 2019. Mais uma vez, este prémio reforça a validação inequívoca de uma carreira de mais de 30 anos em diversas áreas criativas que vão da moda e acessórios até ao design de interiores. Os vencedores de cada categoria são eleitos através de votação pública. Nesta edição, mais de 90 mil pessoas votaram nos vencedores das 14 categorias e elegeram as personalidades que mais se destacaram em 2019.

LAVANDA E GINSENG ENTRE OS NOVOS TRUNFOS DA TRIMALHAS Malhas técnicas com microcápsulas, capazes de incorporar substâncias com um teor perfumado ou até terapêutico, libertando-as de forma continuada e gradual. Esta é uma das mais recentes apostas da Trimalhas, orientada para o mercado do sportswear e loungewear, e que simboliza o investimento crescente da empresa em artigos de um setor mais premium. “Nas amostras que apresentamos temos duas substâncias perfumadas encapsuladas, uma de lavanda e outra de ginseng, e o nosso objetivo é que as pessoas sintam o cheiro e percebam o potencial destas malhas, que podem ir até substâncias com um teor medicinal”, explica Carolina Pinto, gestora de mercados e a segunda geração da Trimalhas, empresa fundada em 2003 pelos irmãos Antonino, Joaquim e Tadeu Pinto (pai de Carolina). A novidade, que se destina ao mercado da roupa desportiva e loungewear e foi apresentada na Première Vision, “é uma malha de primeira camada, pensada para estar em contacto com a pele, o seu efeito é gradual e continuado, e resiste a mais de 20 lavagens”, precisa a representante da empresa. As malhas com microcápsulas são um dos exemplos da aposta

O vestido de Cristina Ferreira foi feito com a malha B.Cork, galardoada como Best Product na ISPO Munique

crescente da empresa em atingir mercados mais maduros e de valor acrescentado. Na feira de Paris, a Trimalhas dividiu o seu catálogo entre uma coleção premium – composta pelas microcápsulas, mas também por artigos em caxemira, lã de merino, mircomodal e seda – e por uma coleção de artigos sustentáveis,

como o poliéster reciclado, o ecovero, o lyocell e o algodão orgânico. Em 2019, a Trimalhas registou um volume de negócios na ordem dos 16 milhões, sendo que 45% das vendas são realizadas aos mercados externos. Espanha, França, Itália e Alemanha são alguns dos principais países de destino dos artigos da Trimalhas. t

DECENIO APONTA PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO Depois de mais de 26 anos a operar exclusivamente no mercado nacional, a marca portuguesa Decenio apontou o ano 2020 para dar os primeiros passos rumo à internacionalização. Espanha é o mercado preferencial e embora ainda numa fase piloto, a marca portuguesa de moda masculina e feminina já deu início à exploração do projeto. “Já estamos a fazer testes apenas com um agente e a aceitação está a ser muito boa”, conta Rui Maia, res-

ponsável internacional da Decenio. Apesar de ser cotada como uma marca de estilo mais clássico, a Decenio quer provar que oferece também “coleções funcionais, confortáveis e fashion, capazes de recriar looks e tendências” que se adaptam às necessidades de públicos mais jovem, adianta Rui Maia. Nessa linha estratégica, a Decenio está a desenvolver “uma coleção cápsula adequada ao mercado espanhol”, resume. De resto, a decisão da marca do grupo Cães de Pedra em abraçar novos

estilos já arrancou no último trimestre do ano passado, quando a Decenio e a designer Alexandra Moura se uniram para criarem uma coleção inédita que toca a novos públicos e linguagens. Os planos de Rui Maia passam pela primeira participação da Decenio numa feira internacional de moda e acessórios, que poderá acontecer na próxima edição da Momad, em Setembro em Madrid, como forma de auscultar a apetência do mercado para as novas produções. t

HOTELARIA DE LUXO É ALVO ESTRATÉGICO DA LAMEIRINHO A Lameirinho está estrategicamente apostada em alargar a carteira de clientes da sua área contract , que equipa hotéis e restaurantes dos segmentos premium e de luxo. “A área contract vale atualmente 1,5 milhões de euros por ano e tem uma grande margem para crescer”, garante Tânia Lima, responsável pelo marketing do grupo – que fechou 2019 com um volume de negócio de cerca de 54 milhões de euros, dos quais 89% correspondem a exportações. A capacidade de produção da Lameirinho é de aproximadamente cinco milhões de peças por ano, com uma variedade muito grande de tecidos: percales, flanelas, fios tintos, jacquards e cetins de alta qualidade. Esta gama de produtos pode ser produzida em 100% algodão, mas também noutras fibras e misturas. No mercado interno, o grupo têxtil de Pevidém fornece navios de cruzeiro - os da Douro Azul, onde se inclui o paquete World Explorer (na foto), preparado para navegar nas águas geladas do Ártico e Antártida-, unidades hoteleiras como o Monumental Palace (Porto), o Dunas Douradas Beach Club, o Quinta do Lago Resort, e ainda cadeias como a Tivoli, Intercontinental, Porto Bay, Marriot, Sana, Anantara ou Avani. Esta aposta na hotelaria de luxo passa muito pelo aumento da sua presença em França, um dos principais mercados de exportação da Lameirinho, que neste segmento já equipou o parisiense Plaza Athenee. t


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"UM DOS SEGREDOS DO GRUPO É A TOTAL CONFIDENCIALIDADE QUE ASSEGURAMOS"

FOTO: RUI APOLINÁRIO

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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa

Joaquim Oliveira Quando descobriu um nicho de mercado com capacidade de crescimento, Joaquim Oliveira não hesitou: convenceu o irmão, José, a apostarem num negócio de bordados que funcionaria a jusante da produção de vestuário e que lhe agregaria valor acrescentado, uma área onde havia falta de resposta. Mais de trinta anos depois, e ao contrário de muitos casamentos, a confiança entre os dois mantém-se indestrutível naquilo que parece ser, mesmo que não seja dito, a verdadeira explicação para o sucesso do grupo

a

grande mais valia do grupo Bordados Oliveira, diz o administrador Joaquim Oliveira, é oferecer todo o conjunto de soluções que permitem a um fabricante de vestuário obter valor acrescentado, sem ter de multiplicar viagens e contactos com vários fornecedores. Porquê o aparecimento da empresa, há 31 anos?

O aparecimento da empresa dá-se numa altura em que o bordado começa a ter uma clara mais valia para as peças de vestuário. Trabalhava numa empresa muito conceituada de Barcelos, onde estava encarregado de acompanhar a fase do bordado. Tinha de me deslocar para Guimarães, Vizela, Fafe, para tentar solucionar o problema das encomendas. Tendo identificado essa necessidade, senti que era o momento certo para dar resposta à procura que aumentava. E começou com o seu irmão?

Sim, ele trabalhava por conta própria no setor da tipografia e decidimos lançar uma empresa em conjunto. Começámos por baixo, comprando uma máquina, e foi assim que a Bordados Oliveira surgiu. Hoje, temos 47 máquinas – mas pelas nossas portas já passaram quase 80, fruto da constante renovação exigida pela evolução do mercado. A empresa converteu-se rapidamente num grupo empresarial.

Em 1995, identificámos outra necessidade do setor: os brilhantes e a sua aplicação no vestuário. Comprámos a primeira máquina, austríaca, de fazer transferes – máquina essa que na altura era digna de se ver. Até 2004 fomos aumentando o parque de máquinas, até que nesse ano criámos a

JSB Oliveira & Oliveira, o que nos permitiu aumentar a qualidade do serviço que prestávamos. Nessa altura trabalhávamos com cristais Swarovski. No entanto, por exigência do mercado, houve necessidade de procurar outros fornecedores. Mas a parceria mantém-se até hoje, pois continuamos a ser representantes exclusivos Swarovski em Portugal, assim como somos o único Centro de Aplicação Recomendado no país. Entretanto, na Bordados Oliveira tínhamos necessidade de recorrer a trabalho externo. Assim, surgiu a oportunidade: com o Manuel Lopes, o nosso braço direito nos bordados, investimos no chamado ponto alto, ou ponto cadeia, que era também uma mais valia para o mercado. Foi assim que surgiu a JMJ. Existe ainda a JSB Impressão Digital…

Que nasceu também em 2012 dentro da JSB Oliveira & Oliveira. A JSB Inovação é onde temos as operações de sublimado e o digital. Qual é o volume de negócios que todas estas empresas agregam?

Passou em 2019 os dez milhões de euros, em linha com o que se passou no exercício anterior – mas com mexidas em termos de cada empresa: 2018 foi um ano excelente para os bordados mas 2019 já não foi tanto; em 2019, a JSB cresceu bastante. Quantos colaboradores tem o grupo neste momento?

Mais de 200 pessoas. Os dois irmãos têm uma posição paritária?

Sim, na Bordados Oliveira e na JSB Oliveira temos uma posição de 50%/50%; na JMJ, com o nosso sócio, temos um terço cada; na JSB Inovação o capital está repartido por quatro: eu e o meu irmão, Manuel Lopes e Cândido Freitas. Quando escolhemos outros sócios para além dos dois irmãos, temos de estar em total sintonia e que seja alguém que salvaguarde os interesses de todos.

"Um fundo de investimento chegou a bater à porta do grupo, mas ninguém a quis abrir"

Já trabalhava na área têxtil antes de enveredar pela criação do que é hoje o grupo Bordados Oliveira. As suas funções deram-lhe a entender que a dispersão e as constantes viagens a que elas o obrigavam eram uma forma de complicar o sistema produtivo e de lhe acrescentar ineficiências e burocracias. Pareceu-lhe claro que uma empresa a funcionar ao contrário disso – onde toda a resposta às demandas dos clientes estivessem concentradas num único local – só poderia ser um sucesso. Entre outras maneiras de o medir, ao sucesso, o grupo funciona hoje num edifício que obrigou a um investimento de mais de dois milhões de euros, mas que lhe permitiu focar-se precisamente na grande mais-valia do grupo. A menos de 500m existe ainda a JMJ. Por cima dos edifícios de ambas, e em vez de telhas, o teto é forrado a painéis fotovoltaicos, o que implicou investimentos de 40 mil euros e indica que a sustentabilidade está, no interior da empresa, na ordem do dia. Joaquim Oliveira teve dificuldade em recordar-se do valor do investimento: a parte financeira é da responsabilidade do irmão e a confiança é de tal ordem que o empresário se limita a olhar para os números para cumprir uma formalidade. Ali, os investimentos só são feitos por imperativo dos negócios e não por capricho de modernidade

A criação de mais subsidiárias está no seu horizonte?

nha [em 12 de março] um único caso identificado?

Depende sempre das condições do mercado. Por outro lado, já temos no interior da empresa a segunda geração da família, que também terá de ser chamada à responsabilidade.

Era isso que ia dizer. São regimes fechados, só saem as informações que eles querem.…

Como antecipa o negócio no final de 2020? A pandemia da Covid-19 vai estragar-lhe o balanço?

Especula-se muito sobre se o que se passa na China será ou não uma oportunidade para algumas empresas portuguesas. Não partilho da opinião dos que dizem que vai ser bom para nós: dependemos muito da China em termos dos acessórios. Já em fevereiro tivemos problemas de fornecimento – sabíamos que o Ano Novo chinês implica sempre com os negócios. Estamos preparados para isso – e estamos agora à espera que a China recomece a trabalhar. Mas como o grupo trabalha em diversas frentes, estamos preparados, trabalhando mais nos bordados ou mais nos acessórios, conforme as solicitações do mercado. A empresa está preparada para fazer o contrabalanço?

Exatamente. A criação das subsidiárias foi precisamente no sentido de que possamos dar uma resposta praticamente a tudo o que seja necessário para concluir uma peça. Mas assusta-o a previsível quebra de consumo?

Sim, a retração pela presença da Covid-19 fará com que as pessoas consumam menos. Quem produz tem sempre receio de estar a fazer uma coisa que pode não conseguir vender. É um problema que se vai colocar. Há encomendas, mas há paralelamente uma grande incerteza que não sabemos onde chegará. Temos países com mais exposição, outros com menos e também temos países onde a verdade não sai de lá – e esses é que, se calhar, estão a aproveitar as atuais condições de mercado. Acha possível que a Turquia te-

O grupo está muito exposto ao mercado italiano?

Sim, trabalhamos muito com marcas italianas. Já no ano passado havia alguma instabilidade, mas a presença da pandemia não pode deixar de se refletir nos negócios. Alguns tipos de acessórios são considerados pouco amigos do ambiente. Tem sentido alguma retração do mercado neste quadro?

Não, não temos sentido isso. No entanto, procuramos que os nossos acessórios sejam o mais ecológico possível, sendo que os Bordados Oliveira têm certificação Oekotex e Gots e a JSB Oliveira está neste momento em processo de certificação Okotex classe 1, Gots e CRS. De qualquer modo, o grupo tem por certo preocupações em termos ambientais.

A sustentabilidade está no interior do grupo. Por exemplo, temos painéis solares, que nos permitiram descer a fatura energética; temos matérias-primas recicladas; os excedentes vão também para reciclagem. A empresa é auto-suficiente em termos de eletricidade?

Não, trabalhamos 24 horas por dia no caso da Bordados Oliveira, ainda não somos auto-suficientes. Coloca a hipótese de investir no aumento do parque de painéis solares?

Sim. Os paínéis são de uma geração que já tem três anos. Estou convencido que, num prazo de um ano ou dois, haverá outra geração, possivelmente mais eficaz. Mas temos de dar um passo de cada vez. Neste momento temos um pavilhão com os painéis no telhado, provavelmente dentro de dois anos outro se seguirá. Quanto mais auto-suficientes formos, melhor.


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Ao sábado à tarde é que é Recreativo de Campo, onde preenche o lugar de ala e cujos órgãos sociais já integrou. O irmão José (64 anos, casado com Maria Celeste) já não se mete nessas aventuras. Os passeios pela montanha, a pé ou de bicicleta, são a sua segunda paixão, e escolhe o Gerês como o cenário certo. A família é, apesar de tudo, a sua grande paixão: Guilherme (30 anos), Rita (26), que trabalham no grupo, e Bárbara Sofia (12) são os filhos de uma casa que partilha com Ana Maria.

A fábrica está em primeiro lugar, mas ao sábado à tarde, mesmo que tenha trabalho, começa uma inquietação a que Joaquim Oliveira, aos 53 anos, não resiste: o dia acaba com um jogo de futebol entre veteranos que tem sempre três partes: a primeira, a segunda e “onde é que vamos agora?”. Mais benfiquista que de outro clube qualquer - “mas almoço bem com todas as cores” - é o campeonato de veteranos do Alto Minho que lhe enche as medidas. Milita no Clube Desportivo e

Quanto investiu no que está já em funcionamento?

Qualquer coisa na ordem dos 70 mil euros. Dava-lhe jeito poder vender a produção em excesso à rede?

Dava, os excedentes vão para a rede mas sem qualquer contributo do seu dono. É uma área em que o Governo deve estar mais atento?

O peso do custo da eletricidade na indústria é enorme, tudo o que puder ser feito na área para favorecer a indústria, seria muito bem-vindo. Está satisfeito com a atuação do Governo? O Portugal 2020 foi um instrumento eficaz?

Participámos numa pequena parte no Portugal 2020, e de uma maneira geral as opções do sistema pareceram justas. Do outro lado também houve melhorias a assinalar: os fundos foram mais bem utilizados que noutras alturas anteriores. O plano Portugal 2030 deslocaliza as suas opções para a formação. Parece-lhe uma opção com pertinência?

É um ponto muito importante. Acho que em termos de formação só há o nome. Quando damos uma formação e o formador nunca viu uma máquina de bordar, está tudo dito. Não há-de ser só nos bordados que esta lacuna se dá. A formação deve ser ministrada em áreas que possam suprir as necessidades das empresas – formação presencial, formação específica. O exemplo da Alemanha, onde a formação se faz nas empresas, devia ser replicado?

Sim, o saber teórico é muito importante mas o conhecimento no terreno é fundamental. No grupo, mas não só, tenho a certeza que haveria disponibilidade para uma solução dessas. Mas insisto, é aos próprios formadores que falta formação. Isto para dizer que me parece bem que o Portugal 2030

"Sabemos o que temos de fazer para chegarmos ao que o cliente pretende" olhe para a formação – não é só de máquinas que se fala quando se fala de indústria. Qual é o nível de investimento anual do grupo?

É muito relativo. Sempre tivemos um investimento muito sustentado: nunca demos um passo maior que a perna. Isso quer dizer que nunca foram à banca buscar dinheiro?

Quando vamos, os planos têm de ser muito bem seguidos. De qualquer maneira, é a necessidade que nos faz ir à procura das coisas – e não qualquer decisão desgarrada da realidade das próprias unidades industriais do grupo. Tentamos, claro, estar no topo do que é tecnologia, mas sempre alavancado num crescimento sustentado pelas necessidades do negócio. A inovação tem um peso importante no grupo – que teve grande destaque nos iTechStyle Awards de 2018.

Sim, ‘comprámos’ quase 50% dos destaques. A vantagem de sermos um grupo onde no seu interior há um grande conjunto de soluções permite-nos concluir trabalhos onde unimos o know-how das quatro empresas. Nos iTechStyle as nossas soluções tinham a ‘mão’ do grupo. É essa ´mão´ que os clientes e as grandes marcas procuram no grupo?

Procuram o saber fazer recorrendo a diversas soluções e a absoluta confidencialidade que garantimos: nunca falamos das marcas que nos procuram ou para as quais sabemos que estamos a trabalhar. Como viram, nem sequer deixamos que sejam

tiradas fotos dos produtos que estão nas máquinas. Sabe-se que são marcas de topo.

Todo o trabalho tem o seu custo. Cada trabalho tem a sua mais valia. Nas nossas empresas, sabemos o que temos de fazer para chegarmos ao que o cliente pretende. Sabemos que há marcas que têm um valor acrescentado mais baixo – que não olham a determinados pormenores. Há outros que sim, que vão ao mais pequeno pormenor e então temos de ter todos os cuidados por forma a que as coisas saiam perfeitas. Consta que andam no terreno interessados em comprar empresas de topo do setor industrial. Já lhe vieram bater à porta?

Por acaso já... Um empresário ou um fundo?

Creio que era um fundo, mas nunca chegámos a mostrar qualquer interesse, nunca nos encontrámos. Não faz parte dos nossos planos. Quer dizer que o setor continua a ser atractivo?

É. Mesmo que por vezes tenha de ser mais bem trabalhado. Há notícias que acabam por desmotivar, nomeadamente no que tem a ver com a mão de obra, que tem algumas reticências em trabalhar nas empresas têxteis. Esse desincentivo não é bom. E o setor não o merece: afinal, tem um peso muito grande na criação de riqueza, nas exportações. Acha que a indústria é genericamente mal-tratada? Mesmo na Europa?

Sim. E a têxtil com a agravante de ser considerada uma indústria dos países pobres. O que não é verdade: a Alemanha, a França, a Itália, têm indústria têxtil. Em Portugal, a têxtil nunca vai acabar – pode ter de se reajustar, mas nunca desaparecerá, mesmo que alguns países emergentes, dos quais destaco Marrocos, possam vir a colocar problemas à nossa indústria. t

As perguntas de

José Morgado Diretor de Departamento Tecnologia e Engenharia do CITEVE De que forma a onda de sustentabilidade está a alterar a estratégia e o posicionamento da empresa?

Para além da questão da energia solar, que já usamos com alguma escala na nossa produção, estamos também a pensar na produção em quantidade, onde é possível que tenhamos que fazer alguns ajustes. A grande questão é não comprar por comprar, ou seja, comprar menos e isso obrigará a reajustamentos na produção. Provavelmente, iremos passar a fazer séries mais pequenas que respondam àquilo que será também o ajustamento do comércio. É também uma forma de combater o desperdício, uma das principais facetas da sustentabilidade. Como olha a importância dos acessórios na valorização das peças de vestuário?

É sempre uma mais-valia muito grande. Por vezes, um pequeno permenor faz toda a diferença. Um acessório pode ter um grande impacto, e isso vai continuar a acontecer. t

Alexandra Oliveira Gerente do grupo Bordados Oliveira O que representa o mercado turco para o setor dos acessórios, quer enquanto concorrente quer como fornecedor?

O mercado turco tem precisamente essas duas vertentes. Por um lado é parceiro, pois fornece muitos acessórios para as diversas empresas do grupo, por outro lado é um concorrente forte, pois tem muitas mais vantagens a nível de apoios governamentais, que são parcos em Portugal. Com as diversas valências, que vantagens oferece o grupo aos seus clientes?

O grupo tem uma vantagem muito grande para os seus clientes: num mesmo espaço, num só local, podem tratar de muitos assuntos que têm a ver diretamente com os seus interesses. Até aqui mostramos a nossa política sustentável e ecológica, pois num só local tem à disposição praticamente tudo o que tem a ver com a criação de mais-valia numa peça de vestuário. E depois, a proximidade tem grandes vantagens em termos da produção. t


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FEIRAS

VIEW: NOVO SALÃO DE MODA EM PARIS SEM LIMITES DE GÉNERO Durante três dias, entre 26 e 28 de junho deste ano, Paris abre um espaço dedicado à moda que promete ser um novo ponto de vista sobre o setor e os seus players. Com o lema United Genders, a View quer afastar os limites de género. Todas as noções encontradas na palavra ‘view’ estarão presentes no lançamento deste novo encontro parisiense que decorrerá no Carreau du Temple, bem no coração do histórico e tradicional bairro parisiense do Marais.

"Saímos do básico e fomos para o produto diferenciado" Rita Ribeiro Business manager da TMG Textiles

ISPO FORMA NOVA EQUIPA AWARDS & INNOVATION A rede ISPO de divulgação das últimas inovações no setor dos artigos desportivos - ISPO Award, ISPO Brandnew e ISPO Textrends - tem uma nova equipa responsável pela divulgação de toda a informação de uma das mais relevantes redes de tendências globais. Franziska Zindl tornou-se Head of Awards & Innovation, depois de ter passado pela função de ISPO Community Manager da área Digitize—Retail & Industry Services e pela gestão de projetos da Messe Berlin.

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do volume de negócios do grupo ERT é feito fora do automóvel

FROM PORTUGAL AFIRMA-SE NA COTERIE NEW YORK Representada pela A-line Clothing, Cristina Barros, Kleed Kimonos e Luizas.co, a moda From Portugal marcou presença na Coterie, a feira de moda feminina que decorreu em Nova Iorque em fevereiro. Acentuar a sua presença no apetecível mercado norte-americano era o objetivo comum, tanto pelo elevado poder de compra como pela enorme margem de crescimento.

A BOA FORMA PORTUGUESA REVELOU-SE NA MOMAD

Para além do aumento significativo das coleções desenvolvidas a partir de materiais e processos sustentáveis, as empresas portuguesas foram ainda elogiadas pelas novas coleções dirigidas a públicos mais jovens. Foi o caso da Lion of Porches, a quem as novas linhas Black e Sport valeram negociações com potenciais clientes gregos e paraguaios. Concreto, Cristina Barros, Christina Félix, Loco Luxo, Kitess, Kalisson|Bagoraz|Le Cabestan, Maloka|Paul Brial|G’OZE, Marita Moreno e Philomena, Scusi e Skulk foram as restantes empresas portuguesas que integraram a comitiva From Portugal presente na edição de Fevereiro da feira de moda madrilena. t

FROM PORTUGAL EM ESTREIA NA WHITE MILANO Foi o momento eleito para dar o pontapé de saída na presença da comitiva portuguesa naquela que é considerada uma das feiras imperdíveis da Semana de Moda Feminina de Milão, em Itália. Bavash, Concreto, Pé de Chumbo, Traces of Me e Kleed Kimonos foram as cinco portuguesas que se juntaram às mais de 550 marcas presentes na feira de moda e acessórios feminina White Milano que, de acordo com a organização do evento, acolheu cerca de 27 mil visitantes ao longo de quatro dias. Com uma forte presença internacional , a Concreto viu aqui uma oportunidade para “reforçar o mercado italiano”, explicou a CEO Teresa Marques Pereira. Para isso a marca do grupo Valérius, com vendas desde o extremo-oriente até à América Central, levou a Milão

uma coleção especializada em malhas para mulher. Quem também se destacou pela criatividade das peças foi a Kleed Kimonos, marca portuguesa de quimonos e pijamas com um estilo urbano e contemporâneo. Já a Traces of Me apresentou a coleção Love&Hate, composta por novos modelos em seda, algodão e em lã, estampados com os padrões exclusivos da marca. Mas não só de moda têxtil se fez a primeira participação lusa na White Milano. A Bavash levou à cidade italiana uma nova coleção de sapatos e clutches desenvolvida à base de veludo. A participação das empresas portuguesas na White Milano esteve enquadrada pelo projeto From Portugal, da Selectiva Moda e ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. t

PREMIÈRE VISION ALARGA PRAZO DE INSCRIÇÕES A pandemia da Covid-19 está a fazer com que a equipa da Première Vision tome medidas de apoio aos potenciais expositores da edição de Setembro deste ano. Num comunicado disponível no site oficial da feira podem ler-se palavras de encorajamento para as empresas e funcionários que marcam presença no certame parisiense. A Première Vision toma ainda uma série de medidas tendo em conta a atual conjuntura e o facto de muitas empresas estarem a adiar ou mesmo a cancelar compromissos profissionais:

decidiu “adiar o lançamento do marketing da edição de setembro até ao início de abril”, garantindo assim que mais empresas participem na feira. Também as "apresentações de informações de moda passarão para um formato online. A apresentação das tendências estará disponível como um webcast que pode ser visualizado em oito idiomas a partir de meados de abril e até junho”. Por último, o comunicado anuncia o acesso ao Première Vision Marketplace -“sem nenhum custo, sem comissão, sem compromisso de tempo

e sem limite de número de produtos”, para assim promover a partilha online de contactos profissionais. Recentemente, a organização da feira havia revelado que o calendário para 2021 das suas duas feiras anuais iria sofrer alterações, nomeadamente na antecipação das datas, de forma a permitir a produção atempada das novas coleções levadas a Paris. Dessa forma, a primeira edição do evento em 2021 acontecerá entre 2 e 4 de fevereiro, enquanto a edição de verão será realizada entre 6 e 8 de julho. t


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a MUNDO VERDE

é quanto a Acatel tem vindo a reduziu no consumo de água desde 2016

"Com o Ecolam recuperamos o nosso próprio desperdício" Paulo Coelho Lima CEO da Lameirinho

CERTIFICAÇÕES GOTS SOBEM 35% EM 2019

Amélia Rute Santos Professora do departamento de Química da Universidade da Beira Interior

AFINAL, O QUE SIGNIFICA SUSTENTABILIDADE? O conceito de sustentabilidade nem sempre é fácil de apreender. Desenvolvimento sustentável designa um modelo de desenvolvimento global, usado pela primeira vez em 1987, no Relatório da Comissão Brundtland. Nesta declaração universal sobre a proteção ambiental e o sustentabilidade, intitulada O Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU), surge uma definição reconhecida internacionalmente: “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.” Nesta altura, o conceito de desenvolvimento sustentável fazia sentido considerando o equilíbrio entre o crescimento económico, a equidade social e o respeito pelo ambiente. Mais recentemente, a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural vem adicionar a diversidade cultural como a quarta área política: "... a diversidade cultural é tão necessária para a humanidade como a biodiversidade é para a natureza" e torna "as raízes do desenvolvimento entendidas não só em termos de crescimento económico mas também como um meio para alcançar um mais satisfatório nível intelectual, emocional, moral e espiritual". Depois da Agenda 21, que incentivava os países a adoptarem estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável, surge a Agenda 2030 e os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, que apresentam uma visão da Evolução Sustentável da Humanidade e também um compromisso entre os líderes mundiais e os povos. Elaborado em 2015, pela ONU, na forma de “uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta” - Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development - é um projeto que aborda as dimensões social, económica e ambiental do desenvolvimento sustentável a nível mundial, promovendo a paz e a justiça, a prosperidade e a solidariedade global, reconhecendo a importância das instituições para a execução desses objectivos. Outro dos valores fulcrais do desenvolvimento sustentável é o da responsabilidade, ou seja, o sentido de responsabilidade pelo impacto que se pode ter, especialmente, a nível global. Todos estes valores estão ligados entre si, e com o reforço de parcerias globais e cooperação, uma vez que é indispensável a consciência da diversidade de consequências que uma acção isolada pode suscitar nas mais diferentes áreas, não sendo possível, equacionar os aspectos ambientais e ecológicos, sociais e políticos, económicos, culturais, ou espirituais, de forma isolada. E parece que continua tudo muito confuso. Tem havido modelos, relatórios, declarações, ações, agendas, estratégias, objectivos, projectos , listas das coisas a fazer... Afinal, o que são estes conceitos cuja referência abrilhanta discursos e intenções públicas e parece inevitável para a aprovação de qualquer projeto de investigação ou inovação industrial? Com que palavras se poderá sintetizar as noções de recursos limitados, consumo responsável, igualdade e equidade, sempre numa óptica de futuro? Na verdade, o conceito de Sustentabilidade está resumido numa pequena frase vista num cartaz durante a Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo em 2002: Enough for everyone, forever (O suficiente para todos, para sempre). t

O Global Organic Textile Standard, um padrão mundial que certifica empresas têxteis que fabricam com fibras orgânicas, concedeu esta distinção a 7.765 empresas de 75 países diferentes em 2019 – o que revela a importância que este selo específico assume cada vez mais no mundo dos negócios, nomeadamente no que tem a ver com questões de concorrência. Em 2018, as certificações tinham sido concedidas a 5.760 empresas, de onde resulta um crescimento homólogo de cerca de 34% no fnal de 2019.

ADALBERTO NA SMART CREATION DA PV A aposta na inovação da Adalberto Estampados abriu-lhe as portas do espaço Smart Creation na Première Vision Paris, onde apresentou produtos reciclados e técnicas de estamparia que permitem uma grande redução no consumo de água. “A coleção que apresentamos é 100% sustentável, usando apenas matérias primas recicladas e orgânicas”, explicou Susana Serrano, CEO da Adalberto.

"Hoje em dia a palavra de ordem é ecologia" Paulo Coelho Lima CEO da Lameirinho

NÜWA PROMETE POUPAR 1600 LITROS DE ÁGUA POR T-SHIRT O fio utilizado para fazer os produtos NÜWA advem de excedentes têxteis e garrafas de plástico recicladas, poupando a água envolvida na plantação de algodão. “Uma t-shirt de algodão gasta cerca de 2.700 litros de água para ser produzida. Como usamos apenas algodão reciclado conseguimos poupar 1.600 litros”, explica Catarina Lopes, responsável pela marca.


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quality impact arquitetura e soluções de espaços

Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt


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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

ManMood

Rua do Campo Alegre, 1088 4150-173 Porto

Ano de abertura 2005 Produtos Roupa de homem made in Portugal Marcas Todos os produtos são vendidos sob a marca própria ManMood Características Peças únicas e exclusivas, de alta qualidade Outros Serviços Alfaiataria por medida, que permite a personalização de fatos, blazers, calças e camisas

FIOS MOULINE SÃO A NOVA FRENTE DO CATÁLOGO TRIFITROFA Fios que misturam cores diferentes são a mais recente aposta da Trifitrofa para aumentar a sua presença na indústria da moda. Dão pelo nome de Mouline e a empresa está a preparar um catálogo completo que vai oferecer também aos clientes a possibilidade de requisitarem variações. “Não é uma invenção nova, mas é um fio diferente, não é muito visto noutras empresas e oferece grandes possibilidades” explica Ricardo Pinheiro, do departamento de exportação da empresa.

"Obviamente o tema de momento são as fibras sustentáveis: algodões orgânicos e reciclados, poliéster reciclado e fibras como o liocel e modal" João Abreu Administrador da Crispim Abreu

A essência de vestir o homem “Senti que havia falta de roupa de homem diferenciadora”, responde Filipe Cerejeira para explicar porque decidiu lançar a marca de roupa para homem ManMood. Estava em 2015, deixava para trás uma carreira no mundo da têxtil, e queria contrariar a velha máxima de que os homens se vestem todos de que igual e de que a roupa masculina não tem nada que se lhe diga. “Comecei na área da importação de gangas, e vendia em Portugal para as marcas mais importantes, como a Salsa. Depois passei para a importação de vestuário e aí trabalhei com marcas como a Calvin Klein, a Levis, mas sempre em regime de revenda, ou seja, essas marcas tinham os agentes cá mas eu trabalhava à parte. Ia ver as coleções e selecionava o que me interessava, o que fazia com que tivesse disponíveis artigos que mais ninguém tinha em Portugal. Peças diferenciadas, porque os agentes não as escolhiam”, conta Filipe. Depois seguiu-se uma aventura na venda de tecidos, que o pôs a trabalhar com algumas das mais importantes fábricas de confeção do nosso país, até que chegou a crise e o obrigou a procurar novos horizontes. Procurou confecionadores nacionais e começou a estruturar uma coleção, que além dos blazers e calças, inclui polos, pullovers, calças de ganga, cardigans, calçado e múltiplos acessórios, desde lenços e bolsas a pulseiras e gravatas. “Tudo confecionado em Portugal com recurso a tecidos e peles italianas”, precisa. A ideia era fazer roupa de homem de qualidade e com um je ne sais quoi. “Os nossos blazers têm todos pequenos detalhes únicos, quer seja um forro feito com tecido impresso com imagem fotográfica, os botões

em madrepérola natural, ou a ausência de ombreiras, que lhes conferem um ar mais moderno”, conta Filipe. Algo diferente mas que, ao contrário das grandes marcas, não custa os olhos da cara. “Quando lancei a ManMood, a minha ideia era apenas trabalhar para revenda, mas depois descobrimos esta loja, que para além de um armazém enorme tem esta frente de loja com duas montras grandes, perfeitas para expor os nossos artigos. E para além disso permite levar a cabo uma das nossas atividades mais diferenciadoras: o feito por medida”. O cliente entra, escolhe o artigo que quer e pode personalizar a gosto: do tecido ao corte, à cor e aos acabamentos, para que tudo lhe assente como uma luva. Tudo feito no prazo de 15 dias – uma semana se a urgência for muita. Quando não há na loja o que o cliente quer, o Filipe trata de encontrar. “Muitas vezes vou procurar tecidos de acordo com as indicações do cliente. É todo este trabalho de fidelização que fazemos aqui. O cliente deixa de ser só um cliente e passa a ser um amigo”, revela satisfeito. O private label é também uma das vertentes exploradas pelo empresário e que ajuda a engrossar os números do negócio. A ambição de Filipe é apostar na revenda e ver a ManMood espalhada por lojas multimarca – já está na WICKETT JONES e Don Lopo (Porto), Antoniu’s (Leiria) e Oficina Mustra (Lisboa). “É sempre difícil implementar marcas em Portugal porque o mercado é pequeno e liga muito à marca. Em Itália, por exemplo, as lojas que vendem as grandes marcas também têm marcas mais pequenas. Dão oportunidade aos emergentes. Em Portugal ainda há um caminho a percorrer nesse sentido”, completa. t

PARLAMENTO EUROPEU FAVORÁVEL AO ACORDO COM O VIETNAME

TROTINETE ACELERA NO WORKWEAR E ULTRAPASSA OS TRÊS MILHÕES

O último passo para a concretização do acordo comerial com o Vietname foi dado pelo Parlamento Europeu, que votou favoravelmente o texto que já tinha sido aprovado pela Comissão. O acordo que elimina quase todas as tarifas aduaneiras entre os dois blocos foi votado favoravelmente com uma grande maioria de 401 votos a favor, 192 contra e 40 abstenções.

A Trotinete, a empresa de Leça do Balio especializada em uniformes, fechou as contas de 2019 com um volume de faturação acima dos três milhões de euros. Um crescimento alavancado sobretudo pela Trot, o setor de vestuário para adultos, que pela primeira vez representa 50% de todo o negócio. Para este ano está previsto o lançamento de uma plataforma de e-commerce para vestuário profissional.

21 mil

quilos por dia é a capacidade produtiva de malhas da Sidónios Malhas

“FROM GRANNY TO TRENDY”, UM DESFILE NO TERMINAL DE LEIXÕES

Mais de 50 modelos com mais de 50 anos levaram ao Terminal de Cruzeiros de Leixões mais uma edição do evento “From Granny to Trendy”, uma iniciativa da marca Vintage for a Cause. Os coordenados a desfile foram o resultado do trabalho desenvolvido no âmbito de um projeto maior de inclusão social e reaproveitamento têxtil, levado a cabo ao longo do ano de 2019 em Gondomar, Guimarães, Esposende e Porto.


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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

Outdoor Jacket

Desenvolvido pela Impetus e nomeado para os iTechStyle Awards

O que é? Um casaco respirável, termoregulador, de secagem rápida e com elevado grau de impermeabilidade, produzido a partir de matérias-primas sustentáveis e desenhado com costuras seladas através de ultrassom e termocolagem Para que serve? Para a prática desportiva outdoor, em ambientes com amplitudes térmicas diversas Estado do projeto? Produto concetual que está a ser apresentado a clientes e pronto a ser adaptado a diferentes projetos

“HÁ CLIENTES QUE JÁ PREFEREM ENCONTRAR-NOS NO MODTISSIMO” “Os clientes gostam de vir ao MODtissimo, vem muita gente de fora e é uma ótima forma de mostrar que o setor está vivo”, afirma José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel, que marcou presença na feira com a marca de moda infantil Dr. Kid. Com quase 200 lojas multimarca no país, e presente em 24 mercados pelo mundo, a marca aproveitou para reunir com os clientes habituais. “Há clientes que já preferem encontrar-nos aqui. Vêm sempre visitar a feira e já se tornou normal marcar reuniões”, destacou o empresário.

2100

painéis fotovoltaicos reduzem em cerca de 80% a conta de energia da Tabel

OS CLIENTES SÃO A MELHOR PUBLICIDADE PARA A LIKE A PEARL Com a exportação a representar já 90% das vendas, a Like a Pearl não tem dúvidas de que são os clientes os responsáveis pela boa reputação da firma a nível internacional. Suécia e Inglaterra são os dois melhores mercados desta confeção portuguesa dedicada ao private label em artigos de senhora, homem e criança. “A nossa estratégia passa apenas por trabalhar bem. Os nossos clientes são a nossa maior publicidade”, considera Domingos Campos, CEO da Like a Pearl, que tem como clientes algumas das mais reputadas marcas de moda europeia.

Um casaco com espírito de lince Como criar o casaco perfeito para o desporto outdoor? Para encontrar resposta a esta pergunta, a Impetus – reconhecida pela marca de underwear – foi procurar inspiração a quem sabe: primeiro questionou caminhantes e montanhistas sobre as suas necessidades, mas depois levou o exercício ainda mais longe e foi procurar resposta ao mundo animal, nomeadamente a uma espécie em risco: o lince ibérico. “Fizemos um exercício de biomimética e percebemos que o lince era uma inspiração excecional, porque vive nestes ambientes a adapta-se a condições muito distintas, seja calor, frio ou até neve”, conta Juliana Cruz, Diretora de Inovação da Impetus. A partir desta pesquisa, a empresa desenvolveu o Outdoor Jacket, um modelo de casaco leve, flexível, ergonómico, respirável e com elevado grau de resistência ao vento e à água. O conceito surgiu no início de 2019, quando a empresa portuguesa começou a preparar a sua presença na ISPO 2020, realizada em janeiro, em Munique. Na maior feira do mundo de artigos e equipamentos para o desporto, a Impetus queria destacar-se entre a concorrência internacional. “Criamos uma equipa multidisciplinar focada em produtos inovadores. A verdade é que já trabalhamos há muitos anos com a área do desporto e segurança, mas queremos ser proactivos e apresentar soluções ao mercado”, explica a responsável pelo projeto. Ao longo de um ano, uma equipa com mais de dez profissionais, entre designers e investigadores, desenvolveu

quatro modelos de vestuário para quatro áreas distintas: urban, outdoor, snow sports e health & fitness. No outdoor, o trabalho da equipa resultou neste casaco constituído por duas camadas: no exterior composto por nanofibras de poliamida e poliéster reciclado, e no interior por lã, PLA, seda e fibras de iaque. “As duas camadas são articuladas uma com a outra, de forma a garantir um elevado grau de termoregulação e impermeabilidade, sobretudo em áreas essenciais como o peito ou o capuz”, explica Juliana Cruz. Em relação às costuras, a Impetus utilizou a sua experiência no underwear e concebeu o casaco apenas com costuras seladas, através de ultrassons e termocolagem, de forma a garantir uma maior consistência da peça. Uma conjugação de fatores que torna o casaco apetecível para os amantes das caminhadas na natureza, do montanhismo ou de qualquer desporto ao ar-livre. “Para além dos testes no nosso laboratório, fornecemos o casaco a grupos de atletas de equipas informais da região, que nos deram um feedback muito positivo”, conta a responsável pelo projeto. Depois da ISPO Munich, onde a empresa introduziu o conceito a alguns dos seus clientes, o Outdoor Jacket convenceu também o júri dos iTechStyle Awards, também ele com “olho de lince” para as caraterísticas técnicas do produto. No último MODtissimo, no Aeroporto do Porto, o casaco foi nomeado para os prémios nacionais de inovação têxtil, estando agora a competir pelo título de produto mais inovador. t

"O maior desafio é conseguir vender ao mesmo preço com a subida que se registou do nível salarial" Orlando Miranda CEO da Olmac

LUÍS BUCHINHO VOLTOU A DESFILAR NA MODALISBOA O regresso de Luís Buchinho, powered by Portugal Fashion, foi uma das grandes novidades da 54ª edição da ModaLisboa, que este ano voltou a ter os desfiles centrados nas Antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército. Foi o protocolo entre as equipas da ModaLisboa e do Portugal Fashion que levou a que Luís Buchinho regressasse às passereles da capital, depois de seis anos sem marcar presença no evento. Um regresso que coincide com as comemorações dos 30 anos de carreira do designer.

SATINSKIN JUNTA-SE À LA ESTAMPA E JÁ VENDE PARA TODO O MUNDO A Satinskin, especializada em estamparia digital, juntou forças com a brasileira La Estampa, um atelier criativo do Rio de Janeiro e especializado em padrões e desenhos. Juntas apresentam-se ao mercado sob a insígnia La Estampa/Le Europe e vendem para toda a Europa e América do Sul. “Nós eramos fortes na parte criativa e a Satinskin na parte industrial”, explica a agente comercial Gabriela Moreira, que se mudou do Rio de Janeiro para Braga, onde a Satinskin tem a sua sede industrial.


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CLOTHIUS LANÇA MARCA PRÓPRIA DE DESPORTO ONLINE Para além de produzir as peças desportivas de marcas de referência nacional e internacional, a Clothius vai lançar uma marca própria para venda exclusiva no canal online. Giorgio Armani, Falke ou a Karl Lagerfeld e a portuguesa Prozis são algumas das marcas que recorrem à empresa de Barcelos para produzir os leggings e os top desportivos que vendem para todo o mundo. Neste momento, a Clothius conta com 65 funcionários e tem uma capacidade de produção de cinco mil peças ao dia.

"Temos uma procura muito grande de peças mais casuais em clientes clássicos, o que há uns tempos acharíamos impensável" Elsa Parente Diretora-geral da RDD

MODATEX ENCHE O PÓDIO NO CAMPEONATO DAS PROFISSÕES

O MODATEX arrecadou os três primeiros lugares no SkillsPortugal 2020 – Campeonato Nacional das Profissões na vertente Tecnologias da Moda, que garante a presença dos formandos da instituição no EuroSkills 2020, na Áustria, e no WorldSkills, em 2021, em Xangai, na China. O primeiro lugar foi conquistado pela equipa Beatriz Julião e Salomão Rosário, Fabiana Teixeira e Niuka Oliveira arrecadaram o segundo lugar, e coube a Inês Sousa e Joana Claro fechar o pódio. t

LUREX E NÉON SÃO OS TRUNFOS DA TEXSER PARA DIVERSIFICAR Aumentar as vendas nos segmentos de mulher e criança é um dos objetivos da Texser – Textil de Serzedelo, que atualmente concentra no vestuário de homem cerca de 70% das vendas. Para isso, a empresa de tecidos camiseiros está a apostar em artigos com um maior apontamento de moda, como é o caso do Lurex, com brilho metálico, e dos acabamentos com cores néon. “Já trabalhávamos com estes materiais, mas este ano decidimos apostar mais neles porque estão nas tendências internacionais e são uma forma de nos aproximarmos da moda de senhora e criança”, afirma Carla Pimenta, CEO da Texser. Com um volume de negócios anual a rondar os cinco milhões de euros, a Texser tem 70% dos seus produtos direcionados para vestuário masculino e apenas 30% para senhora. “Queremos

ser mais abrangentes”, explica a responsável pela empresa. As linhas metálicas Lurex e tecidos com cores néon – que brilham no escuro – são duas das alternativas mais arrojadas que a Texser está a propor aos seus clientes, sobretudo para a moda, mas também para o loungewear. Na coleção de vaielas, dirigidas à produção de pijamas, a empresa conta também com vários padrões xadrez com linhas metálicas. “São artigos que funcionam pelo poder da atratividade e da diferenciação”, explica Carla Pimenta, que vê nestes produtos uma tendência crescente para as próximas estações. “Nas malhas já se nota muito”, acrescenta. Especializada em tecidos camiseiros, a Texser exporta atualmente 70% da sua produção. Espanha, Itália, Inglaterra e Japão estão entre os seus principais mercados de exportação. t

EL CORTE INGLÈS TEM NOVO CEO PARA PORTUGAL

ANJOS & LOURENÇO AMPLIA FÁBRICA

O El Corte Inglés nomeou Enrique Hidalgo Miralles como novo CEO do grupo em Portugal, o único mercado internacional em que o grupo atua com uma rede própria de lojas. O novo responsável, que substitui Juan Ángel Vaca, entrou no grupo em 1989, e era até agora diretor do centro Preciados-Callao, em Madrid.

Um novo showroom, espaço para mais escritórios e um aumento das áreas de produção. A têxtil Anjos & Lourenço vai investir meio milhão de euros na ampliação da sua fábrica em Barcelos. Um novo pavilhão com 1.200m2, orientado para a área comercial, é o investimento da empresa para este ano em que assinala 30 anos de atividade.

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de todo o algodão usado pela Polopique será orgânico, de acordo com o objetivo a que se fixou a empresa liderada por Luís Guimarães

JOÃO PEREIRA GUIMARÃES ESTÁ VIVA E DE BOA SAÚDE

CM SOCKS QUER CRESCER NA AMÉRICA DO NORTE Foi com o estabelecimento, no início de 2019, de uma unidade de distribuição e comercialização no Canadá que a CM Socks partiu à conquista da América do Norte, levando como porta-estandarte as Prevent Sprain, umas meias que previnem as entorses e que receberam a Medalha de Ouro (Prémio Inovação) da Feira Internacional de Havana. “Esta unidade no Canadá ajuda-nos a distribuir e co-

mercializar no mercado norte-americano as meias que produzimos em Portugal, em especial as Prevent Sprain. Os prazos de entrega são muito importantes na nossa área de negócio e com esta unidade – que tem um stock considerável disponível – conseguimos satisfazer em tempo reduzido as encomendas no espaço norte-americano, o que para nós é uma tremenda mais-valia”, revelou ao T o proprietá-

rio da empresa, Carlos Maia. Estados Unidos da América, Canadá e México são os destinos na mira da CM Socks, que produz cerca de 26 milhões de pares de meias por ano e que faz na exportação – essencialmente para o mercado europeu – cerca de 98% da sua faturação. Para além da unidade de distribuição do Canadá, a empresa tem duas unidades de produção – uma em Carreira e outra em Landim, ambas em Famalicão.t

“Regressamos ao MODtissimo para mostrar que estamos vivos e para darmos a conhecer novamente a marca”, explica a administradora da João Pereira Guimarães, Carolina Guimarães, 25 anos, que há cerca de ano e meio assumiu as rédeas da empresa fundada pelo avô, e está a efetuar uma verdadeira revolução. Fundada em 1956 e centrada na produção de malha ketten em fibras artificiais, a empresa tem nas malhas de rede de vários diâmetros, a sua especialidade, mas está agora a direcionar-se também para os têxteis técnicos. Para futuro, os têxteis funcionais e o athleisure estão no horizonte da empresa.


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M EMERGENTE Por: António Freitas de Sousa

Maria Furtado Designer, fundadora da Maria.bodyline Família Vive com um irmão, uma irmã e duas cadelas Formação Licenciatura em Arquitetura Casa Apartamento em Lisboa Carro Não tem Portátil MacBook Telemóvel iPhone Hobbies Passear em Monsanto, viajar sozinha, leitura (precisa de mais tempo para isso) Férias Quando puder ser, vai ao Dubai (um amigo ofereceu-lhe a viajem como prenda do 30º aniversário) Regra de ouro Seguir os sonhos, aceitar as imperfeições e não deixar que ninguém nos tire a liberdade

FOTO: RODRIGO CABRITA

Um sonho como uma fotografia Maria Furtado andava às voltas com o curso de arquitetura quando se deitou a sonhar com uma peça de roupa. Era um hábito que mantinha há muito: desde pequena, na ilha da Madeira, os sonhos resvalavam-lhe sempre para o design de vestuário, como se fosse por ali que o destino estivesse a dizer-lhe que deveria seguir. Mas dessa vez, corria o ano de 2015, Maria teve um sonho como uma fotografia – como só antes tinha sucedido ao poeta (Fernando Pessoa). “Sonhei com um body”, diz numa voz quase sumida, como se fosse inverosímil, “era preto, com um decote de barco, mangas a três quartos”, estava tudo lá. A coisa era tão real, que Maria Furtado foi à procura de encontrar o seu sonho. Não encontrou: “Era tudo com estampagens”, não tinha nada a ver com o sonho. Por isso, a coisa tornava-se evidente: se não há, faz-se – que é o mesmo que dizer que o que era preciso era criar uma marca e desenhar o body. Foi nessa altura que foi para Nova Iorque. Esteve quatro meses na cidade que nunca dorme –como todas as outras – e ali se apercebeu em definitivo como é que alguém lida consigo próprio num ambiente desconhecido: da forma que calhar. Para tomar nota da sua vida nova e das suas transformações, Maria Furtado muniu-se de um caderno que a deveria acompanhar todos os dias até ao Central Park. Uma espécie de diário – que veio de Nova Iorque rigorosamente em branco. Quando regressou, regressou também a evidência de que arquitetura seria uma espécie de erro de casting e que o caminho seria o design de moda. O caderno ainda virgem foi intensamente riscado e as suas páginas enchidas com os rabiscos mais acertados, acomodando ideias que até aí se encontravam dispersas. Expôs no quarto aquilo que considerou o melhor do que produziu e chamou amigos e família para acumular comentários. Isolou os melhores desenhos dos menos melhores, pô-los debaixo do braço e partiu à procura de quem os passasse da vida de boneco à vida de pano. Não encontrou. Ou não encontrou com facilidade: descobriu um atelier no Porto, na fronteira do mundo têxtil que fica lá para cima e atirou-se a um desfile de moda que haveria de lançar a primeira edição das suas peças. Não correu bem! Maria refugiou-se na Madeira – onde nasceu e de onde tinha saído em 2007 – e ali cumpriu um estágio interior de 18 meses que a ajudou a conseguir aquilo que achou que tinha de conseguir. E voltou com as forças renovadas, como se saindo de uma letargia que fosse um benefício para a alma. E de repente surgiu-lhe a evidência do nome: Maria Bodyline. Era por ali! Maria ‘Bodyline’ Furtado regressou em força, cheia de força – a tal ponto que conseguiu um investidor que quis ajudá-la na criação e no lançamento da marca – e, corria já o ano de 2019, atirou-se desmedida ao seu projeto. “Cada body tem uma história para contar”, diz, e é por isso que cada série tem um nome que não é bem um nome: é um substantivo que serve para nomear o body mas também para dar indicações seguras sobre a personalidade da criadora que está por trás dele. Do ponto de vista empresarial, confessa Maria Furtado, “as coisas estão a correr bem: vende nas redes sociais – que por instantes se transformam em redes comerciais – mas também em algumas lojas com existência física, onde pontifica a 39 A, de Raquel Prates, uma concept store lisboeta que se parece mais com uma associação de designers endiabrados. Os bodies foram entretanto evoluindo para formas que, sendo ainda bodies, já parecem outra coisa: “Há bodies reversíveis, de banho, de pijama, de ginásio, de gala, de sair à noite com informalidade” e de outra coisa qualquer que alguém se possa lembrar. Agora, aos 30 anos, Maria Furtado tem pela frente um outro desafio: desenhar aquilo que no seu sonho deve acompanhar um body. Ou seja, o desafio é isolar o body como o centro de uma festa de design, a peça que vai tornar tudo o mais que uma mulher vestir num conjunto coerente e único. E também há esse outro lado do desafio: “exportar, quero vender peças no estrangeiro, que fazer chegar os meus bodies a todo o mundo”. Já não lhe falta tudo: já vendeu peças para o Reino Unido, para a Rússia e até para Singapura – agora só faltam os restantes cento e muitos! t


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COTON COULEUR NA FASE SPREAD OUT DE MERCADOS E CLIENTES Após cinco anos consecutivos com o seu volume de negócios a crescer à velocidade estonteante de dois dígitos/ano, a Coton Couleur começou a estabilizar as vendas, tendo fechado ano passado com uma faturação de aproximadamente 12,3 milhões de euros, uma subida de 6% face ao exercício anterior. Com uma equipa de 19 pessoas e baseada em Guimarães, começou por facturar três milhões de euros em 2013 e tem um modelo de negócios que assenta em exportar 100% de têxteis-lar 100% made in Portugal.

"Portugal é um país em que se pode confiar, tecnologicamente evoluído e com preocupações de sustentabilidade e do que é o futuro do mercado têxtil" Luís Oliveira Administrador da Paulo de Oliveira

Best Models: tudo funciona por ciclos O que começa, acaba, de forma natural ou abrupta. Dependendo do que nos transcende. Nada é para sempre e o que nos faz vibrar é esta constante inconstância. E este nosso mundo é pródigo nesta onda de mudança. Duas vezes por ano, o novo passa a velho e renasce uma nova vida, uma nova aposta, em cada nova coleção. É assim que funciona. É assim que funcionamos. É assim, e só assim, que sabemos trabalhar. E na Best também é assim! Com a mesma idade que a Xana tinha quando fez nascer a Best, entra agora a Cristiana para a renovar, atualizar e fazer crescer. Vivemos um novo tempo, com novas solicitações, com enorme exigência de adaptação, de criação, de inovação e de renovação. Há que reinventar, criar, fazer nascer! É imperativo renovar! E assim, tal como na agência de modelos se está a investir com sangue novo, ideias novas, apostas inovadoras, é também esta página mensal - agora da nossa responsabilidade - um novo desafio, uma nova abordagem a esta história de moda e de modelos. Aqui, no já também nosso Jornal T, que tanto nos aproxima, onde todos lemos, vemos e partilhamos as nossas vivências, experiências e sucessos nesta área de trabalho que temos em comum, a Best le-

vará a cada um de vós algo sempre diferente; tal como a moda: um renovar e reinventar constantes. E para que tudo isto comece a ter uma nova imagem, comunicamos que o nosso novo site, inicia esta nova etapa, é um marco a dar inicio a esta mudança. Mais apelativo, dinâmico, renovado, com novas funcionalidades e uma navegação mais fácil e pensada sobretudo para os smartphones, proporcionaremos a todos os que nos visitem uma perceção rápida e eficaz daquilo que somos, do que fazemos e do que temos para oferecer. Acreditamos que irá facilitar ainda mais a nossa comunicação com todos os nossos clientes, modelos, fornecedores, parceiros e visitantes. A ideia base é conseguirmos comunicar cada vez mais, melhor e mais próximos, prestando sempre o melhor serviço a todos os que nos procuram. São muitas as melhorias que introduzimos pois, exatamente na mesma medida e com a mesma ou ainda maior rapidez com que a moda evolui, também o digital o faz e temos agora muitas mais ferramentas a permitir ter um novo rosto para vos sorrir sempre que clicarem em bestmodelsagency.com. t

INDITEX ACABOU COM LINHA INFANTIL MASSIMO DUTTI A Inditex decidiu concentrar os seus negócios dedicados à moda infantil na Zara Kids e fechar a linha infantil da Massimo Dutti, assumindo uma aposta estratégica numa área que responde por cerca de 20% da receita da Zara – que assegura cerca de 700 lojas distribuídas por 75 países. O grupo galego apostou na marca Massimo Dutti Boys & Girls há precisamente um ano, mas o conceito foi desde o início apresentado como uma experiência, cuja eficácia será avaliada para ser ou não replicada.

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toneladas de fios em anel contínuo e 212 toneladas em open end são a produção mensal da SMBM

NGS MALHAS CRESCE 10% E CHEGA AOS 10 MILHÕES São números redondos que marcaram o ano de 2019 para a NGS. A têxtil de Barcelos especializada em malhas registou um aumento nas vendas na ordem dos 10%, atingindo a meta dos 10 milhões de faturação. As fibras técnicas e sustentáveis assumem um peso cada vez mais preponderante. “Todas as estações desenvolvemos algo novo, e atualmente praticamente todas as novidades se enquadram nos têxteis técnicos ou nos sustentáveis”, explica Nuno Cunha e Silva, CEO da empresa.

NOOGMI JÁ TEM LUGAR NO MUSEU O recurso a matérias-primas como o burel e a cortiça valeu à marca portuguesa Noogmi um lugar no Museu do Calçado, em São João da Madeira, onde um exemplar dos sapatinhos de homewear, a imagem de marca da Noogmi, poderá ser apreciado. Com dois anos de existência, a Noogmi estreou-se internacionalmente no arranque de 2020, na presença na Playtime Paris, e desde então tem dado que falar pela Europa fora. Para além dos sapatos de homewear para criança e adulto desenvolvidos a partir de cortiça (na sola) e burel, a Noogmi lançou recentemente uma linha de sapatos de rua.


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OPINIÃO O DILEMA DO GOVERNO: ECONOMIA VERSUS FINANÇAS Mário Jorge Machado Presidente da ATP

SEM COORDENAÇÃO A RETOMA NÃO SERÁ POSSÍVEL Miguel Pedrosa Rodrigues Vice-presidente da ATP

A epidemia da Covid-19 é um dilema para o governo, por forma a encontrar o ponto de equilíbrio entre medidas de apoio às empresas e famílias e não criar uma dívida com tal dimensão na execução desses programas que a torne ingerível em termos do custo do seu financiamento futuro. O conjunto de medidas promulgadas, na sua maioria, estão muito centradas na concessão de empréstimos ou dilação de pagamentos de alguns impostos e responsabilidades com terceiros. É uma ajuda na resolução do problema de liquidez, mas criando dívida nas empresas. É muito pouco para a dimensão do problema e, verdade seja dita, estas medidas terão um peso reduzido no défice orçamental. A principal medida que salvará empregos é o apoio imediato ao pagamento de salários, obviamente nas empresas que tiveram de reduzir o seu trabalho por força das circunstâncias. Este apoio, contrariamente ao que está regulamentado no lay-off simplificado, deveria ser assumido, quase integralmente pelo Estado, por forma a nenhuma empresa ser impossibilitada de pagar salários ou ter de despedir trabalhadores. Um cenário em que abrange 1.3 milhões de trabalhadores e o custo médio seja de 750 euros por mês durante três meses, totalizaria 3 mil milhões de euros. Se comparado com o cenário atual, em

Quando, em janeiro deste ano, o surto da Covid-19 se desencadeou em Wuhan, toda a nossa atenção se focou na mitigação do impacto sobre as cadeias de fornecimento. É difícil acreditar que em apenas de quatro a seis semanas o coronavírus se tenha disseminado por todo o mundo. Em resultado de ações rápidas e agressivas aplicadas no início do surto (em setores como os transportes e através do isolamento de pessoas e províncias inteiras), o número de infeções na China está em declínio. À data em que escrevo é noticiado o primeiro dia sem qualquer nova infeção, sugerindo que as medidas de contenção terão funcionado, permitindo o restabelecimento de cadeias de fornecimento chinesas e reposição de aproximadamente 75% da capacidade produtiva. Os envios marítimos e aéreos já começaram a mexer desde o início de março, pelo que o pipeline de stock estará novamente operacional. A produção Euro-Mediterrânica - Turquia, Portugal, Marrocos - está em periclitante funcionamento mas, com a situação a mudar tão repentina e drasticamente, a monitorização e planeamento são um exercício

que teremos insolvências e o número de desempregados poderá ultrapassar os quinhentos mil, que ficarão em média um ano a receber subsídio de desemprego o custo no orçamento facilmente ultrapassará os 4.500 milhões de euros, sem contar com o restante prejuízo de não existirem receitas fiscais geradas pelas empresas, bem como todos os graves problemas sociais que tal situação acarreta. A exigência imposta da quebra de 40% no volume de negócios das empresas nos dois meses homólogos do ano anterior terá como consequência serem as empresas a suportar os custos salariais integrais nos dois primeiros meses de paragem e assim o governo escaparia a suportar esse custo. Mas esta decisão é um erro porque uma grande parte das empresas não será capaz de suportar tal encargo. Outra opção para aceder ao lay-off simplificado obriga que as empresas encerrem totalmente a sua laboração. Será uma solução nalgumas empresas mas noutras a continuidade de alguma laboração para poder executar coleções e amostras é crítica para ter encomendas no segundo semestre do ano. O governo não deve ter dilemas, as empresas que não têm trabalho para os seus colaboradores precisam de auxílio para pagar os salários desde já, porque o custo económico, financeiro e social é muito inferior aquele que teremos de suportar ser for mantida a atual versão da lei simplificada do lay-off. t

para os mais corajosos, onde o sangue frio e a racionalidade serão preciosos aliados. De acordo com a OMS, o epicentro da pandemia é agora a Europa, que apresenta mais casos reportados por dia do que a China no pico do surto. As restrições de movimento e fecho de fronteiras são o novo referencial mínimo de contingência. A situação económica em que nos encontramos é difícil, estando à vista de todos o que está a acontecer com a indústria da aviação, a hotelaria e a restauração. O retalho está em vertiginosa desaceleração e o impacto nas vendas será devastador. Impõe-se portanto criar, pensar, re-pensar, re-avaliar e ajustar em contínuo os planos de mitigação que tenhamos para as nossas empresas, tanto na perspetiva das vendas, das operações e finanças, como - e sobretudo - das pessoas. Mais do que uma fotografia clara e nítida da posição atual e projetada das produções, é fundamental planear a paragem, o consequente lay-off, o período de férias que potencialmente ocorrerá logo a seguir e, acima de tudo, a coordenação com a restante cadeia de fornecimento.

Se ponderarmos um cenário em que a economia arranca novamente em setembro, teremos provavelmente que ter malheiros operacionais em junho, tinturarias e estamparias em julho e confeções em agosto. Sem coordenação a retoma não será possível. É essencial que, dentro do planeamento que cada empresa fizer, se assegure a manutenção de uma linha de comunicação com todos os seus parceiros, sejam colaboradores, fornecedores, subcontratados, clientes... Por forma a podermos coordenar um arranque atempado e eficaz das operações no pós-surto. Uma importante nota final relativa às pequenas confeções a feitio, que merecem especial preocupação. Sejamos claros: sem elas dificilmente há setor da ITV em Portugal. Já foi explicado ao Governo vezes sem conta que um lay-off sem qualquer custo para a empresa e de fácil implementação será provavelmente a única forma de sobrevivência.

Nota: Este artigo foi escrito com base na comunicação trocada entre uma marca internacional de renome e uma fábrica em Portugal. t


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João Nuno Oliveira Industry 4.0 and Digital Transformation Manager do CITEVE

Augusto Lima Vereador da Economia, Empreendedorismo e Inovação na Câmara de Vila Nova de Famalicão

TEM DE FALAR DE INDÚSTRIA 4.0 E NÃO SE SENTE SEGURO?

UM NOVO MUNDO

Chega aquele dia em que lhe pedem para falar de Indústria 4.0 (i4.0) e surgem aquelas dúvidas que tornam o chão que pisa mais movediço. É normal, uma vez que os conceitos e as práticas ainda não estão sólidos. Vamos por partes e usar a sua empresa como referência. Vagueia pela sua empresa e deite fora tudo o que são computadores, tablets e telemóveis, websites e os emails. A sua empresa pode continuar a operar e a prosperar? Não (se respondeu sim, há um problema). Chegamos à primeira conclusão: a transformação digital da sua empresa já não é de agora. Bom, mas o que se passa agora é diferente. As tecnologias da i4.0 são mais poderosas e estão acessíveis no mercado. A arte de transformar um custo num investimento é fazer a integração dos processos de negócio com as tecnologias, numa única unidade. Uma vez mais, vagueie pela empresa, pense nos seus colaboradores, nas reuniões e no trabalho das equipas, e identifique alguma mudança recente e pense nas tecnologias de informação que estão na sua base. Encontrou algo? Se sim, a sua empresa está a transformar-se digitalmente. Segunda conclusão: a i4.0 é transformar a forma como a empresa trabalha, é prosperar ao nível dos processos pela adoção de tecnologia. Vamos olhar para o futuro. Reflita e identifique uma ou mais iniciativas de melhoria que estejam em curso na sua empresa. Se identificou pelo menos um atual e um futuro, isso é bom, significa que existe um roadmap ou caminho para a melhoria. Se não lhe ocorreu nenhum, então algo não está bem. Terceira conclusão: para a i4.0 é preciso ter um plano, no qual são identificados as áreas prioritárias e os projetos de melhoria a desenvolver. Se souber descrever as tecnologias que estão nesses projetos, tanto melhor. Poderá ser a utilização de etiquetas RFID ou de tablets junto dos operadores, a recolha e a partilha de indicadores de produtividade, realidade aumentada, novas ferramentas de gestão da produção, entre outras. Vamos agora saltar para o conceito de transformação digital. O que poderia fazer de diferente em várias áreas? Vamos começar pelos colaboradores: as equipas poderiam ser mais autónomas? Há partilha de objetivos e de indicadores com os colaboradores? Os colaboradores contribuem para a melhoria contínua? Passamos ao impacto ambiental: sabe qual é a carga ambiental que a sua operação adiciona? Tem planeado ações para a diminuir? Agora a digitalização: é complicado ter informação precisa sobre o estado de uma ordem de produção? Quanto papel ainda é usado na fábrica? Como é que se liga aos fornecedores e clientes? Máquinas e equipamento: tira partido completo dos equipamentos industriais que tem? Os operadores estão devidamente capacitados? É possível extrair dados das máquinas? Olhando para a produção: todos os colaboradores têm acesso a indicadores da produção em tempo real? Qual o peso da não qualidade na empresa? Tempo para a engenharia: qual o grau de conflito entre os departamentos de design/comercial e a produção? Cometem-se erros antigos nas novas encomendas? Por último, ecossistema: que parcerias tem com escolas, entidades de I&D ou fabricantes de equipamento? Conhece os clientes dos seus clientes? Resumindo: selecione duas áreas que mais importância têm e envolva na discussão os seus colaboradores. Última conclusão: a tecnologia é um potenciador na transformação, em todas as áreas. Muito provavelmente, a resposta para cada pergunta implica adotar tecnologias de informação, as da i4.0. É assim a transformação digital. t

Estamos a viver um novo mundo. Incerto, desconhecido e inseguro. Ninguém sabe o que vai acontecer, ninguém sabe o caminho certo, ninguém conhece o futuro. Ouvimos várias opiniões. Em termos económicos, de reconhecidos especialistas a comentadores, várias previsões têm sido apontadas: crise económica profunda, pior do que 2008-2009; crise económica profunda mas com recuperação mais rápida; tsunami no crescimento e no emprego. Não tendo a pretensão de entrar nesta discussão, mais ou menos fundamentada, quero apenas passar a visão de um território que se autodenomina Cidade Têxtil, que possui mais de 15 mil empresas (85% das quais pequenas e micro), contabiliza mais de 50 mil trabalhadores e exporta mais de 2 mil milhões de euros. Focando então a análise na Cidade Têxtil que é Famalicão, o desafio é brutal. Nada a que este setor não esteja habituado, vários que foram já os momentos em que foi posto à prova, tendo sempre, felizmente, sabido sobreviver e ajustar-se. Neste momento, a palavra de ordem é incerteza. A maioria das empresas continua a procurar laborar, mas com grande indefinição relativamente ao futuro. Mas já se verificam situações em que as encomendas começam a diminuir ou a ser canceladas, provocando angústia e indefinição relativamente ao futuro a curto prazo. Não se pode esquecer que a maioria das empresas exporta e, sendo este um problema global, não chega apenas controlar o surto a nível nacional. É preciso que o controlo seja europeu e mundial. Algumas empresas estão a reconverter os seus processos produtivos para equipamentos de proteção individual, de modo a contribuírem para acudir às necessidades imediatas do Sistema Nacional de Saúde e das instituições de solidariedade social. Sendo a este nível uma oportunidade, é de saudar a iniciativa das associações setoriais e do CITEVE, que estão a constituir uma bolsa de empresas que, de uma forma agregada e integrada, possa dar rápida resposta às falhas de mercado existentes. O tecido empresarial está a reagir com alguma inquietação às medidas que estão a ser anunciadas pelo Governo. Dúvidas são muitas. Questões laborais, de acesso ao crédito, de financiamento por parte do Estado e de obrigações fiscais são alguns. Restam poucas dúvidas que serão necessárias mais medidas. A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através do Gabinete Famalicão Made IN, e no âmbito das suas competências, criou uma linha de apoio, constituindo um verdadeiro e forte front office para fazer face às inúmeras dúvidas que assolam as empresas. Está também a servir de plataforma de contacto entre empresas para dar respostas às necessidades produtivas urgentes. No âmbito do seu ecossistema económico, estudam-se ainda medidas ao nível do emprego, novos modelos de negócio, qualificação, inovação e financiamento, que complementem as medidas nacionais e respondam às caraterísticas específicas do território. O novo mundo está a chegar. Com determinação, coragem e criatividade, certamente conseguiremos ultrapassar este enorme desafio. A Cidade Têxtil vai ser diferente, mas, com a união e articulação entre todos os agentes, vai saber resistir e reinventar-se. Estamos certos que Famalicão continuará a ser o lugar do têxtil.t


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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Neste momento difícil, Katty deixa-se de escárnios e zombarias e quer homenagear. Todos os que ficam em casa, mas sobretudo aqueles que não podem ficar em casa. Para os que cuidam da nossa saúde deixa a ideia de um fato de proteção reutilizável, simbólico e utópico, mas que é também um desafio à I&D e capacidade de inovação do nosso setor. E porque não?

Para os que não podem ficar em casa Sendo a Covid-19 um tema inevitável, o alvo mais fácil para estampar nesta página seria a Ministra da Saúde, Marta Temido, que diariamente atualiza, em voz tremida, os números crescentes da conquista desta pandemia. Ela seria de facto a vítima perfeita, mas penso que a nossa ministra já tem material suficiente para se elaborar um longo dossiê e, embora até possa concordar com algumas, acredito sinceramente que este não é o melhor momento para desmoralizar. Necessitamos, pelo contrário, de encorajar, de dar força e de ajudar. E a ajuda que nos pedem é a mais fácil de sempre. Não fazer nada! Não mexer em nada e, essencialmente, não visitar nada e ficar em casa. Nesta edição não vou pelos escárnios e zombarias, prefiro homenagear. E penso que o posso fazer em nome do T Jornal, em nome do setor têxtil, em nome da moda e, porque não, em nome de todos os portugueses. Porque sei que todos queremos agradecer, agradecer a todos aqueles que ficam em casa, mas ainda mais a todos aqueles que não ficam em casa, porque deles depende o funcionamento das nossas vidas. Graças a eles ainda temos luz, água, gás, comunicações e principalmente medicamentos, bens essenciais e alimentos. Queremos também oferecer o maior dos agradecimentos, em tom de canto, de aplauso - e neste caso de desenho e palavras - aos nossos profissionais de saúde que se desdobram para nos acudir. Hoje são eles o alvo desta crónica que num ato tão simples como simbólico lhes agradece, embora com imenso desgosto por não passar de uma ideia no papel, algo utópico e improvável… Talvez a génese desta ideia possa ser levada a sério e mobilize as capacidades do nosso setor têxtil e de investigação em prol de uma proposta real e autêntica. Pensamos assim num fato de proteção reutilizável, que para se desinfetar deverá ser colocado um minuto no micro-ondas, ficando de imediato pronto para uma próxima utilização. Fazemo-lo acompanhar de um potente capacete com pequenos aspersores de solução hidro-alcoólica e um compacto pack de luvas de silicone ultrafino, sendo que cada par incorpora mais 11 pares, todos eles encaixados na primeira colocação, para evitar a exposição contínua do corpo às balas desta guerra vírica. Esta fatiota é sem dúvida mais uma ideia futurista do que realista, mas nasceu em casa… nas máscaras que uso para ir ao supermercado, feitas com restos de tecidos e lavadas com água a ferver e sabão. Atenção, isto não é um conselho, pois não sei se de facto é fiável, mas assim evito consumir máscaras que são mais urgentes para outros, e no mínimo, tranquiliza-me. Estamos a vivenciar um episódio sem precedentes na era moderna. A Covid-19 surpreendeu a nossa sociedade tão pouco habituada ao verdadeiro caos mundial. Acreditamos tão pouco nas calamidades, que mesmo após cenários tão drásticos, ainda tentamos desmistificar a velocidade do vírus e desvalorizar as medidas impostas pelos distintos países. O que sugere, que esta dura lição nos deixará apenas um pequeno amargo de boca, pois a necessidade urgente de que tudo volte a ser o que era nos fará esquecer sem apreender. Obrigada a todos os portugueses que não podem ficar em casa! t


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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Casa da Ínsua Hotel Parador Casa da Ínsua 3550-126 Penalva do Castelo

A ÍNSUA DOS AMORES O restaurante da Casa da Ínsua é um bom exemplo e uma boa propaganda da ideia de que nos hotéis de Charme em Portugal a restauração acompanha o alto nível dos restantes serviços. Nem todos? Neste, seguramente! Pode ser difícil de encontrar, mas é um bom achado. Se já conseguiu chegar a Penalva do Castelo,é muito simples. Se ainda deambula pela A25, entre Viseu e Guarda, também o que tem a fazer é deixá-la na saída para Penalva e depois ter os sentidos atentos às placas que indicam o caminho. Se tivesse sido o ex-marido de Fernanda Serrano a baptizá-lo, podíamos estar a falar de um Amo-te Ínsua. Tendo sido o famoso Grupo Visabeira a assumir a responsabilidade histórica da recuperação deste monumento, para além do bom gosto e rigor esperados, encontramos um charme indescritível e um savoir faire próprios de quem sabe que há negócios que alguns mercados demoram mais tempo a perceber. Havendo outros, que não estando no target afinado, nunca perceberão. Ainda bem, há que dizê-lo. A referência ao Pedro Miguel Ramos tem apenas a ver com o nome que ele escolheu para a sua cadeia, porque em termos conceptuais não podíamos estar a falar de conceitos mais opostos. O que se passa aqui é que estamos num ambiente romântico, onde é possível amar muito mais do que a comida que nos servem no restaurante, que foi o que lá me

TENTAÇÃO: ESTE PECADO É FRESCO E DE SABOR LIMONADO

levou de volta. Na Casa da Ínsua, mesmo em pleno Inverno, há um fogo que arde sem se ver, que não nos deixa saber se estamos perante um caso de amor ou um amor de Casa. Romântico mas não trôpego, o jardim hipercuidado divide-se a meio entre a nostalgia inglesa e o rendilhado francês, mas para um português irrevogável como eu, é a chegada do bacalhau com broa, grelos e puré de castanha, que me traz à terra. Terra boa esta onde ficarei a assistir a um desfile de sabores, mas também de elegância, em que deu entrada a seguir um tornedó de novilho com batata apalpadeira. Também para a comida se aplica a nossa definição de charme: o que é antigo não incomoda e o que é moderno não interfere. Das magníficas entradas e das sublimes sobremesas vou guardar segredo. Apenas direi que nos sentimos ainda mais em casa, graças aos queijos e às compotas. Para não falar do vinho que nos acompanhou ou do espumante que nos recebeu. Tudo isto muito bem combinado com o serviço que nos atendeu. Tudo feito em casa com a marca da Casa! Hoje está na moda gostar de coisas "fora da caixa", como se diz, para referir situações menos vulgares. A Casa da Ínsua é um desses casos raros que não nos sai da cabeça, porque foi capaz de sair de todas as nossas melhores expetativas. Ultrapassando-as. Ficando além enquanto nos deixa aquém! t

PECADO CAPITAL / VINHO VERDE BRANCO É mesmo feito de uvas – Loureiro, Alvarinho e Trajadura – mas de uma vinha com raízes na têxtil. O produtor é José Armindo Ferraz, o CEO da Inarbel, homem que a par das muitas virtudes como empresário criou também este Pecado Capital, “um vinho imaculado, verde na natureza e branco na cor, mas vermelho de pecado”. Uma tentação de prazer, que elabora nas vinhas e adega de Vila Boa de Quires, Marco de Canavezes, a curta distância das fábricas onde também faz crescer a marca de moda infantil Dr. Kid. E mesmo que não tenha a mesma notoriedade, o vinho vai também arrecadando prémios e distinções nos concursos por onde passa


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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes

Nuno Almeida, 45 anos, vive no Porto mas é em S. João da Madeira, onde nasceu, que trabalha como coordenador de vendas e gestor de produto na Idepa. Está na têxtil há mais de 15 anos, e o que o move são os projetos ligados à internacionalização e à inovação. Casado com a Carla há 14 anos, têm três filhos: a Beatriz, o José António e o Miguel

SOUVENIR

O QUE NOS DIZ UM CASACO

Gosta

Não gosta

Legos Starwars Meus filhos (Beatriz,

Esperar Falsa modéstia Brócolos Chegar

José e Miguel) Sporting Cozido à

atrasado Filas de trânsito Radares

Portuguesa Coleções Mochilas Gadgets

Acampar Vermelhos Má disposição Favas

Conduzir Cidade do Porto S. João

Estar sem wi-fi Discursos longos Estar

da Madeira Pessoas bem dispostas

sem telemóvel Birras Filmes de terror

Feiras Profissionais Jantaradas Viajar

Pepsi Reuniões de condomínio Chuva

Honestidade Pontualidade RTP memória

Ir ao dentista Estar doente Fanatismo

Política Indústrias Têxtil Jazz Leitura

Injustiças Inveja Má comida Burocracias

Tripas à moda do Porto Coca-cola zero

Reality-shows Ter sono Restaurantes

Reuniões produtivas Mar EUA Equipas

vegetarianos Nortada Sushi Perder o

focadas Francesinhas Aviões Pesca Boas

controlo Dietas Arrogância Lampreia

Tertúlias Leitão Séries História e Estórias

Cheirar a fritos Guarda-chuvas Meias

Porsche Fatos Elogios Marvel Pink Floyd

brancas

Amigos Sorrisos O meu trabalho

Há uma peça de roupa que pode salvar a dignidade, mesmo de quem não tem bom gosto. E o que é o bom gosto? É a inteligência dos estéticos. Ninguém se considera pessoa de mau gosto assim como ninguém se considera pouco esperto. Para mim, e para poupar apupos, tudo isto pode ser disfarçado com um bom casaco. Seja ele mais extravagante, mais sóbrio, mais kitsch, deve ser bom. Deve destacar-se. O resto do vestuário pode ser descuidado. Se for defendido com um bom casaco, temos gente e não maltrapilhos! Um bom casaco cobre vergonhas, dores de alma, apertos no peito e nas finanças. Dura uma vida, já dizia a avó de alguém - nunca conheci as minhas. Posso dizer, sem pejo nem vergonha, que tenho mais casacos do que aqueles que preciso. Mas deixe-me falar do meu casaco de estimação. Raramente o visto. É de um criador português e adquiri-o a preço de saldo. O tamanho é aquele feito à medida, ou seja, dois acima do meu, como se quisesse ser maior e só o conseguisse quando estou com ele vestido. Talvez não consiga, talvez seja só caricato e se note ainda mais a minha pequenez submersa nesse imenso tecido grosso com enormes botões e gracioso bordado. Por estes dias, está pendurado num armário? Não! Não sou louca ao ponto de esconder obras de arte. Está à vista, no quarto, para ser das primeiras coisas que vejo mas não visto. Estamos todos em casa, não precisamos de bom gosto, não precisamos de casacos, só precisamos de paciência e esperança. Esta peça de roupa, que só usava quando queria dar tudo e receber muito pouco, só tem um defeito. Não sei dizer a sua cor. Um dia ainda faço um daqueles desafios da internet – qual a cor do casaco? O problema é se me dizem que é cor-de-rosa. Morreria de desgosto. t Joana Azevedo Rádio Comercial


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